Fundação Volkswagen - Guia de Mediação de Leitura Acessível e Inclusiva
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Sumário
Como usar este Guia [p. 4] 6. Pra receber os novos convidados: recursos de
acessibilidade e outras formas de ler [p. 58]
1. Apresentação [p. 6]
7. Quem abre a roda?
2. Introdução: vamos criar oportunidades de leituras O papel do mediador [p. 77]
acessíveis e inclusivas [p. 9]
8. O que está no centro da roda?
3. Era uma vez uma sessão de leitura acessível A leitura acessível e inclusiva [p. 84]
e inclusiva [p. 11]
9. Para fazer a roda girar: sentidos
4. Vamos abrir a roda? da leitura, estratégias e mediações. [p. 104]
A acessibilidade em questão [p.19]
10. Para a Roda Seguir... [p. 126]
5. Tem gente nova na roda: leitores com
deficiência, neoleitores e outros convivas [p. 40]
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Como usar
Audiodescrição: A audiodescrição,
recurso utilizado para incluir as pessoas cegas
na leitura de imagens de diferentes naturezas, pode ser
utilizada em fotografias, produções audiovisuais, ilustrações
este Guia
de livros, no teatro, na dança. Aqui este recurso explicará as
imagens e aparecerá ao longo de todo manual sempre que
houver representação imagética de qualquer tipo. Optamos
por descrevê-las como uma estratégia de mediação, pois elas
servirão de inspiração para o seu trabalho em uma roda para
todos. Este recurso estará representado por um ícone com
Estas orientações são destinadas ao guia impresso as seguintes características: as letras A e D em azul, como
que está disponível também em PDF no http://www. se fossem escritas à mão. À direita delas, três linhas curvas,
plataformadoletramento.org.br/guia-de-mediacao-de-leitura- também em azul, indicam a propagação do som da descrição.
acessivel-e-inclusiva/#. Lá você encontrará também uma
versão audiovisual acessível.
Saiba mais: Um tópico que aparece ao longo dos capítulos,
As próximas páginas deste Guia serão divididas em seções. sempre remetendo a informações complementares que estão
Para que você compreenda melhor essas divisões, seguem no fim dos capítulos. Cada representação está numerada em
alguns direcionamentos: ordem, de modo a facilitar a identificação (Saiba mais 1, Saiba
mais 2, Saiba Mais 3…). Como o nome sugere, apresenta
A estrutura gráfica do Guia é uniforme: páginas brancas com os
informações complementares sobre assuntos trazidos no
textos em letras pretas. Os títulos e os subtítulos dos capítulos,
decorrer do texto. Os ícones que identificam este item têm as
tal qual o título do Guia, parecem ser escritos à mão, em tinta
seguintes características:
preta. Nas páginas, os títulos, textos, imagens e ilustrações são
separados por grossos traços azuis, que também parecem ser
Escrito no mesmo azul aqui já descrito, cortando
feitos à mão, com um pincel marcador.
um fundo branco, um símbolo de mais, em
formato de cruz. Acima e à esquerda, a palavra
Saiba. Mais, por sua vez, mostra-se abaixo e à
direita. Este ícone indica, ao longo dos textos
de cada capítulo, o trecho do Saiba Mais que
possui complemento no final do mesmo capítulo.
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1. Apresentação
Caros Educadores,
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O Guia de Mediação de Leitura Acessível e Inclusiva pretende Porém, temos um longo caminho pela frente. Os índices
colocar a literatura no centro da roda para todos. Por isso, escolhi de leitura dos brasileiros ainda são muito baixos, gerando
iniciar esta apresentação com uma citação de Bartolomeu consequências negativas para toda a sociedade. Sabemos
Campos de Queirós, um escritor, poeta e incansável defensor que garantir a acessibilidade de comunicação e informação é
do livro e da leitura. um dos passos para que pessoas com deficiência possam ter
contato com o universo do livro e da leitura, em igualdade de
É uma felicidade poder disponibilizar para vocês, leitores, oportunidades.
esta publicação produzida por meio de uma parceria entre a
Fundação Volkswagen e a Mais Diferenças, uma organização Esta publicação inaugura o compromisso da Fundação
que trabalha com projetos de educação e cultura inclusivas. Volkswagen em incorporar em seus projetos, de forma
transversal, a acessibilidade e a inclusão. A intenção é de
Um dos compromissos da Fundação Volkswagen é apoiar que todos os Projetos passem a ser acessíveis e inclusivos. É
e fortalecer iniciativas que favoreçam a democratização do sabido que práticas inclusivas demandam mudança de cultura
acesso ao livro e à leitura para todos, contribuindo com as e compromisso de todos na construção de uma sociedade
políticas públicas e os marcos legais de direitos humanos, mais justa e igualitária para todos. Portanto, esta publicação
com ética e responsabilidade social. faz um convite para que vocês “entrem nesta roda”, para
promover mediações de leitura acessíveis e inclusivas em
escolas, bibliotecas, salas de leitura e em outros espaços
formais e não formais.
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Este Guia é composto por um conjunto de materiais É a primeira publicação acessível da Fundação Volkswagen.
complementares em diferentes formatos e suportes. Foram Espero que seja a primeira de muitas e que possa inspirar
produzidos materiais pedagógicos acessíveis para que outros parceiros e iniciativas.
os profissionais enriqueçam sua atuação em prol de uma
mediação de leitura para todos. Convido a todos para lerem, compartilharem e divulgarem o
material.
O Guia de Mediação de Leitura Acessível e Inclusiva conta
com uma tiragem em papel, uma versão digital que pode Boa Leitura e boas mediações!
também ser impressa e uma versão audiovisual acessível
com os seguintes recursos: audiodescrição, narração,
Dr. Eduardo de Azevedo Barros
legenda e janela de Libras, para que profissionais com e sem
deficiência tenham acesso ao mesmo material. Estas versões Superintendente da Fundação Volkswagen e Diretor
poderão ser acessadas na Plataforma do Letramento (www. de Assuntos Jurídicos da Volkswagen do Brasil
plataformadoletramento.org.br).
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Se fizermos um exercício de memória e lembrarmos do nosso espanto, de aflição, de dificuldade, de espera, de procura,
processo de formação como leitores, ou das contribuições apaixonantes, silenciosas, barulhentas, de atenção, de
para o processo de formação de novos leitores ou, ainda, como esquecer do livro, de voltar ao livro, acompanhadas, solitárias.
tem sido a nossa vida atualmente como leitores, podemos
nos deparar com cenas delicadas, emocionadas, lentas, de
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Também não podem comprar ou ganhar um livro de presente Os mediadores de leitura – professores, bibliotecários, agentes
porque não encontram acervos em formatos acessíveis de leitura, entre outros – ajudam a descobrir e percorrer esse
disponíveis nas livrarias, ou não podem escolher um livro na mundo fascinante de narrativas, histórias, alegorias e saberes
biblioteca pública, comunitária ou da escola com temas que acumulados ao longo da experiência humana no mundo,
lhes interessem porque imaginam que a sua capacidade vivida e imaginada. Entretanto, a maioria destes profissionais
leitora não seja suficiente. Às vezes, essas pessoas não têm não está habituada a trabalhar com pessoas com diferentes
acesso à poesia, pois imaginam que é muito metafórica e tipos de deficiência, nem contam com recursos, materiais e
difícil, considerando as suas habilidades e, por isso, nem são metodologias especialmente desenvolvidos para esse fim.
convidadas a participar de conversas sobre livros e escritores.
Nesta publicação, trabalharemos a mediação de leitura
São muitas as situações e marcas que dificultam esta acessível e inclusiva como oportunidade de colocar todos
aproximação ao livro e às suas narrativas, e tantas outras juntos na mesma roda, pessoas com e sem deficiência, sem
cenas que se repetem cotidianamente. Diante disto, como qualquer tipo de discriminação, valorizando a convivência
formaremos estes leitores? entre todos, a diversidade e as diferenças.
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Explicamos para as crianças que tínhamos Muitas formas de traduzir textos em imagens e imagens em
escolhido um livro muito legal para trabalharmos textos.
com as duas turmas, mas que faríamos de um
modo diferente! Que, antes de lermos e contarmos Após a finalização do trabalho pelas crianças, as
a história do livro, as crianças teriam desafios: produções foram lidas e as imagens, mostradas.
Os materiais foram recolhidos e combinamos com
- a turma do 1º ano iria receber em uma folha o texto do livro e as crianças que, no próximo encontro, faríamos
seria responsável por produzir as imagens que correspondiam a junção dos textos e das imagens. As professoras seguiram
ao texto, como entendiam e imaginavam. trabalhando, em suas salas de aula, com os desdobramentos
das atividades.
- a turma do 2º ano receberia somente as imagens do livro
para criarem uma história, um texto para cada imagem. No encontro seguinte, as duas turmas foram reunidas e iniciou-
se o processo de apresentação dos materiais agrupados.
O trabalho foi realizado em pequenos grupos. As salas de aula Expressões de surpresa, concordância, felicidade e dúvida
foram tomadas por um burburinho, por cochichos e sugestões proliferaram na sala de aula, acompanhadas de movimentos
para o processo de produção. Olhos atentos, lápis, lápis de na cadeira, alguns se levantando, outros se aproximando
cor, canetinhas e uma explosão de alegria e concentração. da professora enquanto lia os textos. Ao mesmo tempo,
Discussões sobre o que desenhar e escrever, tendo como os intérpretes traduziam para Libras. Alguns sinais foram
base as orientações para as tarefas. Muitas dúvidas e muitos ensinados para todas as crianças, como lua, estrela, noite.
chamamentos às professoras e aos outros profissionais que
estavam participando da atividade: “Como se escreve isso?”, Aos poucos, começaram comentários de concordância
“É com s ou ç?”, “Tá bonito?”, “Olha o nosso desenho!”. e discordância, alegria de ver qual era o texto da imagem,
desconsolo em ver que a imagem e o texto não dialogavam.
Aos poucos, algumas folhas iam sendo inundadas de imagens Após a leitura, uma conversa longa aconteceu. As crianças
e cores; outros desenhos, mais tímidos ou delicados, ocupavam puderam fazer seus comentários, explicitar suas alegrias,
apenas um pedaço do espaço do papel. Da mesma forma, frustrações, dúvidas. Puderam falar que não gostaram do
os textos tinham muitas características: alguns descreviam que tinha sido escrito para o seu desenho ou do que tinha
a cena, outros inventavam nomes para os personagens e sido desenhado para a sua história. Temas como respeito,
histórias fantásticas. aceitação e diversidade de opiniões foram constantes, em um
processo de elaboração da atividade e dos sentimentos.
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O próximo encontro foi destinado à mediação
Desenho feito por uma criança sobre uma folha sulfite e com de leitura acessível e inclusiva do livro “Estrelas
lápis de cor. No centro, uma pessoa carrega um saco marrom;
acima um céu azul com estrelas amarelas e um sol no canto Maduras”. Desta vez, as duas turmas se
superior direito. Do lado direito, há uma árvore de tronco encontraram em um espaço comum da escola,
marrom e copa verde. Do lado esquerdo, há uma espécie de sendo que outros profissionais da escola e alunos também
casa cor de laranja com porta marrom e janela branca no topo. participaram da atividade. Uma professora foi a responsável
pela mediação de leitura, um dos intérpretes fez a tradução
para Libras. Foram também utilizados objetos tridimensionais,
que faziam parte da história. Olhos atentos e curiosos para
saber se o “livro de verdade” era parecido com o livro produzido
pelos alunos da escola Josafá. As expressões de euforia e de
surpresa foram ainda maiores.
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Para que possamos abrir a roda, acreditamos que alguns Ao longo da publicação, iremos apresentando algumas
princípios fundamentais precisam ser nossos companheiros. experiências de livros, leituras, mediações inclusivas, recursos
de acessibilidade, sem apresentar necessariamente todos os
Geralmente, quando pensamos nas pessoas com deficiência, conceitos de antemão. Podemos dizer que é uma metáfora
achamos que existe outra aura, como se vivessem em mundos à roda. Quando entramos em uma roda nova para ouvir uma
paralelos, como se fossem estrangeiros. Acreditamos que história, cantar uma música, conversar, muitas vezes, não
precisamos, antes de tudo, pensar em questões específicas. conhecemos a história que vai ser contada, seus personagens
Ressentimo-nos de não termos formação e conhecimento e seus enredos. Entramos na roda justamente para poder
especializado para trabalhar com este público. E tantas outras escutar a história, para descobrir novas formas de viver em
histórias, cenas e imagens que saltam em nossa memória. outros lugares e em outros tempos, para pensar sobre ela,
para nos divertir, para nos emocionar, para compartilhar.
No entanto, em nossa roda, queremos inverter um pouco a
Iremos contando as histórias e, paralelamente, as formas
lógica e propomos que possamos olhar e começar com alguns
e as estratégias que podemos narrar; iremos explicitando
princípios que são universais, que dizem respeito a todos nós.
conceitos, categorias, recursos, princípios enquanto formos
Podemos dizer que são conceitos e princípios fundantes, que
conversando sobre autores e textos que nos emocionam. Ou
dizem respeito ao convívio, à disponibilidade, ao estar juntos, à
seja, a proposta é que possamos fazer como as crianças que
hospitalidade, à diversidade, à heterogeneidade e à diferença,
entram na roda. Elas ficam atentas às histórias, participam,
que são a marca do humano. Dizem respeito à igualdade, à
imaginam, riem, assustam-se, pedem para que contemos a
acessibilidade, ao público e ao comum, possibilitam que
história de novo, contam juntas a história, decoram a história...
a dignidade se faça presente para todos e entre todos,
Vamos, como as crianças, reinventar as histórias e entendê-
independentemente das características de cada um.
las.
Acreditamos que se colocarmos estes ingredientes em
Para trabalhar com alguns conceitos deste capítulo que, como
nossa roda, ela poderá ser uma roda de todos, onde todos
já dissemos, entendemos que são fundamentais, escolhemos
aprendam, participem, envolvam-se, interajam, em igualdade
uma história, um livro, um personagem, um autor, que irão nos
de condições. Além disso, estamos abrindo a roda para que
acompanhar: O Pequeno Príncipe. Ele será nosso companheiro
todos entrem, portanto, não vamos trabalhar com critérios de
de viagem, que nos ajudará a ilustrar, a pensar e a compartilhar
ingresso pré-estabelecidos, com condições mínimas para ter o
alguns conceitos.
direito de entrar na roda, mas na perspectiva de ir construindo e
compartilhando juntos o que estamos estudando, aprendendo,
bem como as maneiras e modos de fazer para que todos
possam estar na roda.
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O público e o comum
Para conversarmos sobre o público e o comum, vamos utilizar O público
algumas categorias desenvolvidas pelo filósofo Jorge Larrosa,
professor da Universidade de Barcelona, a partir de um texto Refere-se ao que comumente são chamados de bens públicos
ainda inédito, que faz parte da publicação, no prelo, Cadernos e aparecem no interior de uma esfera pública. Ou, dito de outra
Laboratório MD de Arte e Cultura Inclusivas - O Público e o forma, sua aparição depende da constituição ou da criação de
Comum, uma iniciativa da OSCIP Mais Diferenças. uma esfera pública, entendida como espaço comum a todos.
As palavras público e comum parecem tão simples, muito as A escola, a educação, a cultura, as artes, a literatura, a leitura,
usamos em nosso cotidiano e, às vezes, temos a sensação de a biblioteca se relacionam com a constituição de esferas
que não dizem muito, que estão desvalorizadas, que não as desse tipo em que algo, como os bens e os produtos culturais,
queremos próximas de nós. Remetem-nos a coisas que não fazem-se públicos, colocam-se em público e em relação ao
têm valor, principalmente neste mundo que cada vez mais público, situam-se entre os homens e, idealmente, entre todos
valoriza o exclusivo, o único, o inédito, o feito sob medida para os homens. Todos os homens, neste caso, significa os homens
nossas necessidades e desejos. No entanto, acreditamos que e as mulheres; os idosos, os adultos, os jovens e as crianças;
público e comum são palavras e conceitos preciosos e que, os cristãos e os ateus; os negros e os brancos; as pessoas
em nosso entendimento, ajudam-nos a compreender por que com e sem deficiência. Todos os homens significa aqui cada
a escola, a biblioteca, o livro e a leitura são de todos e para um de nós, em nossas singularidades e pluralidades, ou seja,
todos. Eles não podem ser bens disponíveis somente para em nossas diferenças.
alguns.
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O comum
Diz respeito ao que podemos chamar de bens comuns, que
somente aparecem como efeitos de um gesto, ou de um Vamos voltar ao livro O Pequeno Príncipe.
acontecimento de comunização. A educação, a arte e a
Ele foi escrito e ilustrado pelo francês Antoine de Saint-Exupéry
cultura, portanto, têm a ver com este gesto de disponibilizar
durante a Segunda Guerra Mundial e foi publicado em 1943.
para todos, ou melhor, de tornar algo público. Mesmo que
O Pequeno Príncipe é considerado um clássico da literatura
um livro seja de uma biblioteca e não de minha propriedade,
universal, é o livro mais vendido em todo o mundo. Ele foi
ou um quadro de Volpi, que está em uma exposição de arte,
traduzido para mais de 220 idiomas e dialetos.
tenha um proprietário, a possibilidade de disponibilizar é o
gesto que faz com que algo seja de todos, de todos por igual O Pequeno Príncipe está na memória de muitos de nós,
e de ninguém em particular, que possamos usufruir do livro da acompanhou-nos por nossa infância e nossa adolescência.
biblioteca e do quadro de Volpi em uma exposição. Contamos, muitas vezes, a história dele para nossos filhos,
para nossos alunos.
O comum se constitui na igualdade, com o acesso e a
disponibilidade igualitária. A categoria disponibilidade Quando vemos alguma imagem do livro ou alguma citação,
pressupõe que garantir o acesso de todos e colocar o mundo sabemos imediatamente que se trata de O Pequeno Príncipe.
à disposição de todos é fundamental. A história segue viva e ainda é uma grande companheira das
crianças de hoje, em todo o mundo.
Portanto, vamos pensar no livro como um bem público e
comum. Um livro que uma determinada pessoa, em um
determinado momento de sua vida, resolve escrever, publicar
e disponibilizar.
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Não podemos esquecer que o livro tem texto, mas tem também
ilustrações que foram feitas pelo próprio Antoine de Saint-
Exupéry e que fazem parte da narrativa do livro. Não é a mesma
coisa ler o livro somente com o texto e ler o livro acompanhado Descrição da imagem
das ilustrações. Quem não se lembra, no livro, do desenho
do chapéu, ou melhor, da cobra que comeu um elefante? Se Uma cobra marrom está no chão. Seu corpo é fininho na cauda e
alguém não descrever as imagens para as crianças cegas, na cabeça. No meio do corpo da cobra tem uma montanha com
elas jamais terão acesso ao conteúdo, à surpresa e à riqueza uma ponta mais alta e outra ponta um pouco menor. Parece até
que as imagens trazem. que a cobra engoliu uma coisa muito grande. Mas quem olha
sem prestar muita atenção pode até pensar que é um chapéu.
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Acessibilidade Atitudinal
A acessibilidade atitudinal, diferentemente das outras, não
demanda recursos, reformas, tecnologias, mas demanda
mudanças nas formas e nas relações com as pessoas.
Demanda ser e estar acessível ao outro. Demanda um exercício
cotidiano de suspender e romper com preconceitos, com
discriminações, com olhares segregadores e estereotipados.
Demanda estar disponível.
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Desenho Universal
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No Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas, Ver O Pequeno Príncipe em Libras, em áudio, em leitura fácil
uma iniciativa do Ministério da Cultura, executado foi concretizar a experiência de que a roda pode ser de todos,
pela Mais Diferenças, foram desenvolvidos de que todos podem entrar e que ela não é só acessível, mas
25 livros de diversos gêneros literários, em também inclusiva.
diferentes formatos acessíveis. Você pode acessá-los no site
Assista a “4. Teaser do Audiovisual Acessível de O
acessibilidadeembibliotecas.culturadigital.br.
Pequeno Príncipe”.
O Pequeno Príncipe, que vem sendo nosso companheiro, foi
produzido levando em conta o Desenho Universal. Foi uma
alegria poder colocar O Pequeno Príncipe na roda para todos. 2 - Flexibilidade no uso: atende a uma ampla gama de
indivíduos, preferências e habilidades. Ao pensar em atividades
Você poderá acessar O Pequeno Príncipe em versão
de livro e leitura, é importante planejar estratégias que possam
audiovisual, que conta com narração do texto, descrição das
atender a todos os públicos.
imagens, legenda, interpretação em Libras.
Em uma mediação de leitura de O Pequeno Príncipe, além do
Além disso, produzimos uma versão para impressão de O
livro em múltiplos formatos, podem-se construir com os alunos
Pequeno Príncipe em Leitura Fácil. Nos próximos capítulos,
os personagens e o cenário do livro, ensinar os principais sinais
apresentaremos detalhadamente o que é Leitura Fácil e suas
em Libras dos personagens, usar fantasias... assim, não só
características.
abrimos a nossa roda, mas disponibilizamos outros elementos
para que O Pequeno Príncipe se faça presente de diferentes
formas.
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3 - Uso simples e intuitivo: o uso é fácil de entender e de No glossário, que faz parte desta publicação, apresentamos
compreender, independentemente de experiência, nível de a mesma palavra por meio de diversos códigos e linguagens:
formação, conhecimento do idioma ou da capacidade de palavra escrita em português (com fonte adequada, letra
concentração do usuário. ampliada, com contraste entre fundo e a letra), o significado
da palavra de forma simples e a escrita em braile. Também
Nas atividades de leitura, é importante que se aparecem a imagem, os sinais em Libras e a descrição da
desenvolvam estratégias complementares, para imagem.
possibilitar o entendimento de todos, por meio
de uma comunicação simples e que traga, por
exemplo, vários códigos e linguagens.
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4 - Informação Perceptível: comunica eficazmente ao usuário Uma placa de sinalização de entrada pode contar com
as informações necessárias, independentemente de sua diferentes recursos: a palavra escrita em português, com
capacidade sensorial ou de condições ambientais. Letra Ampliada, com contraste, em braile, em Libras e em
Comunicação Suplementar e Alternativa - recurso utilizado por
No processo de organização dos diferentes pessoas que apresentam comprometimento na linguagem oral
setores de uma escola ou biblioteca, este -, podendo ser entendida por qualquer pessoa.
princípio é muito importante, pois possibilita criar
estratégias de comunicação que contribuem para
que os usuários possam se localizar e circular pelos espaços,
de maneira autônoma.
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5 - Tolerância ao erro: minimiza o risco e as consequências computador. No entanto, existem vários recursos, inclusive
adversas de ações involuntárias ou imprevistas. de baixo custo, que possibilitam um melhor acesso ao
computador, como teclados colmeia, acionadores, ponteiras.
Muitas pessoas com deficiência física podem
ter grande dificuldade de utilizar o computador, Existem ainda possibilidades de adequação de comandos
causando grandes esforços, erros de digitação do computador para diminuir ou aumentar a velocidade de
ou mesmo impossibilidade de utilização do digitação e o tempo para os espaçamentos.
Descrição da imagem
Um teclado de computador
preto tem sobre ele uma capa
transparente acrílica, que se
chama teclado colmeia. A capa é
vazada e tem orifícios para todas
as teclas. Este teclado tem a
função de auxiliar pessoas com
dificuldades motoras a digitar
e não tocar em várias teclas de
uma vez.
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6 - Pouco esforço físico: pode ser utilizado com um mínimo Em contrapartida, as portas com maçanetas de alavanca
de esforço, de forma eficiente e confortável. proporcionam a abertura por pessoas com condições
funcionais diferentes. Possibilita tanto a autonomia de
Para facilitar a autonomia de todos pelos espaços, usuários e funcionários com mobilidade reduzida quanto para
as maçanetas das portas são um requisito profissionais que estejam com as mãos ocupadas com livros,
importante, pois frequentemente impedem a cena comum do cotidiano de escolas e bibliotecas.
livre circulação. Muitas portas têm maçanetas
redondas ou de bolas, impossibilitando, muitas vezes, que
pessoas com mobilidade reduzida dos membros superiores
tenham autonomia.
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Assista a um trecho do “5. Livro Audiovisual - O O governo federal lançou em 2004 o Portal Domínio
Pequeno Príncipe” com diferentes recursos de Público. Propõe compartilhar conhecimentos, colocando à
acessibilidade, pautados no Desenho Universal, no disposição de usuários da Internet uma biblioteca virtual
qual todos podem estar juntos na roda. que deverá se constituir em referência para professores,
alunos, pesquisadores e para a população em geral.
38 Guia de Mediação de Leitura Acessível e Inclusiva Fundação Volkswagen, Mais Diferenças e Plataforma do Letramento
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www.dominiopublico.gov.br
“Operários”
tarsila do Amaral
1933
Óleo sobre tela
105 x 200 cm
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Vamos pensar em uma Quem são esse “todos”? As É lógico que estas falas são
Quantas vezes pensamos pessoas com deficiência, como
conversa com ecos de várias fragmentos de muitas falas
seriamente em como todos já falamos repetidamente,
vozes e diferentes dúvidas e podem ter acesso ao livro, que escutamos ao longo dos
geralmente não estão nesse
compreensões sobre a leitura e à leitura, à informação “todos” e, quando estão, anos, de muitas pessoas
seus usuários. e ao conhecimento? aparecem como “e também”. e não somente de uma
pessoa, mas ainda refletem
muito o pouco convívio e
Por muito tempo, os E para quem mais? o desconhecimento em
livros foram destinados Quais crianças? As crianças que sabiam ler, as que relação às pessoas com
somente para algumas estavam na escola, as de classe deficiência.
crianças. média, as brancas...
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Por isso é que defendemos que as escolas, as bibliotecas, os Todo esse amálgama gera histórias de vida diferentes, ou seja,
espaços de leitura, as mediações e os livros possam ser para saber o que é deficiência intelectual não traz muitos elementos
todos. Que a igualdade seja um valor! para nos ajudar a pensar as formas de fazer, nem as formas
de ler.
No entanto, como o universo das pessoas com deficiência
está tão longe de nós, muitas vezes, quando entramos em Além disso, esta publicação não é um guia sobre deficiência,
contato com as pessoas com deficiência, quando recebemos mas um material que pretende contribuir com a garantia do
os novos leitores, ficamos inseguros e queremos saber os tipos direito à leitura em uma perspectiva acessível e inclusiva.
de deficiência, o que eles podem fazer e o que não podem, o Outra questão é que já existe um material extenso sobre estes
que aprendem, até onde avançam. conceitos, classificações e definições já disponível.
Esta forma de se relacionar com algo tão desconhecido Pretendemos sair da lógica da necessidade e ir para a lógica
é natural e, geralmente, é a primeira busca. Porém, nesta das possibilidades, de todos estarem na roda lendo.
publicação, não trabalharemos com esta perspectiva. Em
primeiro lugar, porque parte-se de uma lógica de classificação Se começarmos a pensar em quais recursos
e esta lógica, geralmente, é reducionista e homogeneizadora. e estratégias podem ser utilizados para que
Muitas vezes, está vinculada a um diagnóstico, com forte todos leiam, teremos uma roda com infinitas
ênfase nas questões da impossibilidade, nas coisas que as possibilidades e combinações de leitura, na qual,
pessoas com deficiência não podem fazer. por exemplo, um audiolivro pode ser lido pelas
pessoas com deficiência visual – público para o qual este
Em segundo lugar, porque poderíamos colocar os conceitos recurso de acessibilidade foi criado –, mas que também pode
e as tipologias das diferentes deficiências: deficiência física, ser para todos. Pode ser disponibilizado para pessoas sem
deficiência auditiva, deficiência intelectual, deficiência visual, deficiência, para pessoas com deficiência intelectual, pessoas
deficiência múltipla, surdocegueira. No entanto, as pessoas com baixo letramento, estrangeiros que estão aprendendo o
com deficiência são plurais, têm várias outras características português.
que as compõem. São crianças, jovens, adultos ou idosos;
nasceram com deficiências ou as adquiriram; foram à escola Vamos apresentar um conto que pode contribuir com a
especial, à escola regular ou não foram à escola; moram em construção de outra relação com as pessoas com deficiência.
uma cidade grande, em uma cidade pequena, em uma aldeia Escolhemos um conto porque acreditamos no poder da
indígena ou no campo; moram no centro ou na periferia... e por literatura. Esperamos que ele represente outra forma de se
aí afora. aproximar e pensar sobre as questões da deficiência, para
que possamos ter gente nova na roda.
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Era uma vez uma escola pública especial voltada a alunos Porém, alguma coisa saiu fora do roteiro… Estas professoras
“deficientes mentais treináveis”. Nesta classificação, entendia- resolveram sair do padrão, resolveram que queriam ser
se que o grupo enquadrado como tal não aprendia, somente professoras, queriam que aquele espaço fosse uma escola, e
podia ser treinado, jamais iria aprender a ler e escrever. O não uma clínica-escola. Queriam ensinar e imaginavam, contra
QI (quociente de inteligência) era entre 36 e 51. O QI é uma tudo o que tinham aprendido em sua faculdade especializada,
medida psicométrica que foi por muito tempo um instrumento que talvez aqueles alunos pudessem ser estudantes, pudessem
de classificação para definir quem tinha deficiência e quem não aprender – e não somente ser treinados.
tinha. Consideram que uma pessoa “normal” tenha QI entre
90 e 110. O QI, como única forma de diagnóstico, fez muitos Mesmo fazendo parte da rede de ensino, aquela escola era tão
estragos por estes mundos de meu Deus. diferente que a Secretaria de Educação não se envolvia muito
na organização dela, nem a escola tinha as mesmas exigências
As professoras desta escola eram professoras especialistas, das “escolas de verdade”: não tinha currículo porque os alunos
também, em “deficiência mental”, e foram formadas não para não aprendiam, o histórico escolar era um eterno zero com
ensinar, mas para cuidar, treinar, modelar o comportamento, a palavra repetente a todo o final de ano... e, com isso, as
“normalizar”, que era um dos princípios da educação especial, professoras foram trabalhando do seu modo.
ou seja, tratar de aproximar ao máximo as pessoas com
deficiência ao padrão de normalidade imposto. As salas de aula Muitas coisas aconteceram na escola, naqueles tempos,
também tinham poucos alunos (entre 6 e 8), o sonho de muitos lá pelos anos 90... Para a história não ficar muito comprida,
professores, uma educação quase individualizada, de acordo como as histórias épicas – porque não se trata disso, trata-se
com as necessidades dos alunos. Ah, também tinham vários simplesmente de um conto de uma escola qualquer –, vamos
profissionais da área clínica – fonoaudiólogos, psicólogos, pular e voltar para o tão falado e desejado diagnóstico. As
terapeutas ocupacionais, que eram os atendimentos nobres e professoras resolveram que a escola receberia qualquer um,
importantes. Uma conquista! Tudo estava dentro da cartilha da não precisava mais ter o laudo de “deficiente mental treinável”.
educação especial, seguindo os moldes que tanto se preconizou O único critério era a faixa etária, porque uma escola não é
e ainda muitos defendem. Pessoas tão raras, difíceis e especiais para toda vida, tem uma época de se ir para escola.
precisavam de todo um aparato especializado!
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Com esta “falta de critério”, começaram a chegar os alunos em seu grupo. A professora voltou para a sala e contou para os
que não tinham sido considerados qualquer um nas outras alunos que chegaria mais uma colega para o grupo.
escolas. Chegaram os alunos que nenhuma escola aceitava,
os que tinham deficiências múltiplas, os que ainda não tinham No dia seguinte, chega uma adolescente negra, muito tímida,
diagnóstico, os que tinham suspeita de “doença mental”... que quase não falava, com um corpo muito desproporcional.
Como a escola já era uma “escola sem critério”, decidiram que Era enorme, com um tronco curto, pernas longas como garça,
não iam mais ler os diagnósticos, saber qual era o CID - Código que se desequilibrava e caia muito, com uma corcova e um
Internacional de Doenças -, pois não precisavam mais saber o olhar assustado. A professora apresentou a adolescente para o
diagnóstico para serem elegíveis para a escola. Além disso, os grupo, conversaram e seguiram o trabalho...
diagnósticos não diziam muito sobre o que era ser estudante
em uma escola. De novo, para não seguir com a ladainha: em três meses, a jovem
“deficiente intelectual profunda” estava lendo e escrevendo.
Resolveram que, se a escola tivesse vagas, os alunos iam
simplesmente ser recebidos em um dos grupos. Neste grupo A pergunta é: será que se a escola e a professora estivessem
iam se conhecer, fazer atividades, exercícios, entrar no trabalho, pautadas nos diagnósticos, a jovem teria sido matriculada
viver o cotidiano da sala de aula e da escola. na escola? Caso tivesse sido matriculada, se a professora
tivesse ficado grudada no diagnóstico e estudado sobre as
Um certo dia, a coordenadora pedagógica da escola chama patologias, teria tido tempo, lugar e atenção para propor
uma das professoras para conversar e diz que tinha recebido atividades escolares? Teria tido tempo para ler e escrever
uma mãe que solicitava a matrícula para sua filha. A professora com a estudante? Teria tido tempo para ficar atenta aos olhos
falou que podia receber mais um aluno em sua sala de aula. No brilhantes e curiosos da menina, enquanto lia uma história para
entanto, a coordenadora pedagógica, preocupada com o que o grupo? Teria percebido o modo como a menina se relacionava
significaria a entrada desta aluna tão “rara”, tinha “escorregado” com os materiais de estudo?
e lido o laudo. Tratava-se de uma adolescente com um
diagnóstico muito grave: deficiência múltipla, nunca tinha Provavelmente não, mas isto é só um conto...
frequentado a escola, “deficiente mental profunda” (portanto
com um QI menor do que 20). A professora reafirmou que não
queria saber do diagnóstico e que a adolescente poderia iniciar
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• As pessoas com deficiência têm os mesmos direitos de beber em um copo, chegar até o ponto do ônibus. Há
todos: falhar, sofrer, desacreditar, chorar, desesperar-se, muitas formas de aprender e criar soluções. Cada pessoa
não entender. encontra a melhor forma dentro das suas possibilidades.
• Muitas vezes, uma pessoa com deficiência não tem • Todos nós aprendemos com as interações e relações
acesso aos mesmos códigos, informações e referências com as outras pessoas. As pessoas com deficiência com
que a maioria das pessoas sem deficiência. Por isso, é frequência são privadas dessas oportunidades, cabendo a
importante estar atento e não ignorar essa realidade, que cada um de nós evitar esse tipo de exclusão.
não diz respeito à deficiência, mas às barreiras socialmente
construídas.
Tem gente nova na roda:
• As pessoas com deficiência têm um potencial ilimitado para
se tornar não o que nós queremos que sejam, mas o que Mais algumas pistas para o trabalho
elas desejam ser, desde que a igualdade de oportunidades
seja uma realidade.
Pessoas com deficiência intelectual
• A pessoa com deficiência pode ter dificuldade para realizar
• Você deve agir naturalmente ao se dirigir às pessoas
algumas atividades e, por outro lado, ter extrema habilidade
com deficiência intelectual. Trate-as considerando as
para fazer outras coisas. Exatamente como todo mundo.
características e os interesses de sua faixa etária: se for
• Para auxiliar uma pessoa com deficiência, é importante uma criança, trate-a como criança; se for adolescente,
perguntar se ela necessita de ajuda e qual seria a forma trate-a como adolescente; se for uma pessoa adulta, trate-a
mais adequada de ajudá-la. Mas não se ofenda se sua como tal.
oferta for recusada, pois nem sempre as pessoas com
• Converse com ela normalmente, como você faria com
deficiência precisam ou querem receber auxílio. Às
qualquer pessoa sem deficiência – nem mais rápido, nem
vezes, uma determinada atividade pode ser bem melhor
mais devagar, nem mais alto, nem utilizando diminutivos ou
desenvolvida sem ajuda.
infantilizando o discurso.
• As pessoas com deficiência devem encontrar sua própria
• Muitas vezes, as pessoas com deficiência intelectual
maneira de fazer as coisas. Impor-lhes nossos padrões
são vistas como passivas ou dependentes das pessoas
pessoais ou culturais é deixá-las sem um lugar de
próximas. Estas atitudes geralmente decorrem da forma
pertencimento. Existem muitas maneiras de cumprir as
como interagimos com elas e das expectativas que temos.
atividades diárias e corriqueiras, desde amarrar os sapatos,
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• As pessoas com deficiência intelectual, em especial as possibilidades de viver tais experiências, tendem a falar
com Síndrome de Down, são muitas vezes incentivadas mais sobre estas vontades, de forma repetitiva. É importante
a sorrir, beijar e abraçar de forma exagerada, reforçando dialogar e pontuar que estas questões são importantes,
estereótipos. mas que as relações e os interesses não se resumem a
isso.
• Não subestime a inteligência de uma pessoa com deficiência
intelectual. Elas têm um ritmo próprio para aprender e • Muitas pessoas com deficiência intelectual tiveram seu
constroem muitas habilidades intelectuais e sociais. processo de escolarização realizado em escolas especiais
e, até pouco tempo, não se investia na sua formação como
• As pessoas com deficiência intelectual podem levar mais
leitores. Essa situação está começando a mudar a partir da
tempo para entender uma pergunta ou uma solicitação,
educação inclusiva.
para compreender um conceito ou para ler um texto. Podem
necessitar que a questão seja explicada novamente, de • É importante conversar com as pessoas com deficiência
outra maneira. Tenha paciência e não desista. intelectual para buscar auxiliá-los nas suas escolhas
de leitura, uma vez que, geralmente, elas têm poucas
• A pessoa com deficiência intelectual desenvolve processos
experiência como leitoras. A ideia é saber quais são seus
de cognição, porém de formas diferentes, por caminhos
interesses, do que gostam.
e meios distintos. É importante fazer a mediação entre
elas, as variáveis do contexto e os temas envolvidos nesta • É importante apresentar diferentes opções de leitura,
relação. explicando de forma simples qual é a temática, o enredo, o
período em que foi escrito.
• Utilize, sempre que necessário, uma linguagem simples,
recursos visuais e concretos para auxiliar a comunicação • Às vezes, como muitas pessoas, as experiências leitoras
com pessoas com deficiência intelectual. delas podem ter sido difíceis e complexas. Portanto,
provavelmente será necessário fazer um trabalho intensivo
• Incentive a pessoa com deficiência intelectual a realizar
e não desistir na primeira vez.
ações com autonomia.
• Caso ocorra um problema com a criança, jovem ou adulto
com deficiência intelectual, a melhor saída é conversar e Pessoas com deficiência auditiva e surdez
orientar a pessoa com deficiência.
• Ao interagir com uma pessoa com deficiência auditiva ou
• As pessoas com deficiência intelectual têm vontade surda, procure perceber qual a forma de comunicação
de namorar, casar, ter filhos, ter uma vida sexual ativa, usada por ela (Libras, gestos, mímica, leitura labial, sinais
como todos, mas, às vezes, por não terem espaços e caseiros, alfabeto manual, escrita).
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• Procure buscar alternativas de comunicação. Se a pessoa • As pessoas surdas ou com deficiência auditiva podem estar
surda ou com deficiência auditiva tiver dificuldade em acompanhadas, seja por um amigo, familiar ou intérprete
entender, ela avisará (usando linguagem verbal ou não). de Libras. Tenha o cuidado de dirigir-se à pessoa surda,
De maneira geral, as tentativas de comunicação serão não ao acompanhante. O intérprete ou familiar, neste caso,
bem-vindas. será o tradutor do diálogo.
• Quando estiver conversando com uma pessoa com • A leitura e a escrita podem ser recursos importantes para
deficiência auditiva ou surda, fale de maneira clara, a comunicação com pessoas com deficiência auditiva ou
pronunciando bem as palavras, mas não exagere. Fale surdas. Neste caso, ao escrever, procure utilizar frases
de frente para ela, naturalmente, sem tensão. Use a sua curtas e claras. Ao ler, esteja atento porque a pessoa
velocidade normal, a não ser que lhe peçam para falar com deficiência auditiva, muitas vezes, escreve com outra
mais devagar. estrutura de texto.
• Use um tom normal de voz, a não ser que a pessoa com • Caso a pessoa com deficiência auditiva ou surda não se
deficiência auditiva lhe peça para falar mais alto. Gritar utilize das formas de comunicação anteriormente descritas,
nunca adianta e pode causar constrangimentos. recorra aos recursos visuais e às mímicas simples, ou seja,
gestos para estabelecer um diálogo. Lembre-se que a
• Quando estiver conversando com alguém com deficiência
pessoa surda ou com deficiência auditiva é essencialmente
auditiva ou surda, evite falar de costas, de lado ou com a
visual.
cabeça baixa. Isto prejudica a leitura labial e também a
leitura das expressões faciais e corporais. • Um dos grandes problemas que podem surgir diz respeito
à comunicação e à falta de informações que as pessoas
• Seja expressivo, pois a expressão facial, os movimentos do
surdas ou com deficiência auditiva enfrentam. Lembre-se de
corpo e gestos auxiliam a comunicação, podendo indicar
incluí-las nas conversas, informar o que está acontecendo,
sutilezas importantes. Lembre-se de que a Libras também
tanto nos momentos informais como nos vinculados aos
utiliza todas estas formas de expressão.
processos de trabalho e aprendizagem. É muito difícil
• Ao perceber que alguma palavra não foi compreendida, a pessoa compreender o que está acontecendo se não
utilize um sinônimo; por exemplo, ao invés de residência, participar.
utilize casa ou palavras que auxiliem o entendimento e a
• Com frequência, as pessoas surdas e com deficiência
ampliação de vocabulário.
auditiva têm baixa proficiência em língua portuguesa e não
• Quando quiser falar com uma pessoa com deficiência são leitoras habituais, porque, geralmente, o português não
auditiva ou surda, se ela não estiver prestando atenção em é sua primeira língua.
você, acene para ela ou toque em seu braço levemente.
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Assista ao vídeo “6. Claro Curtas”. Assista ao documentário História do Movimento Político
das Pessoas com Deficiência no Brasil, que retrata o
Após a exibição, abra a roda para pensar e conversar sobre movimento social pela inclusão, produzido pela OEI -
a temática, a partir do olhar de uma criança. Propomos Organização dos Estados Iberoamericanos - e pela SDH
também que todos possam se colocar um pouco no lugar - Secretaria Especial dos Direitos Humanos, acessando a
do outro, para entender a importância da acessibilidade. playlist do Guia no canal da Plataforma do Letramento no
Youtube.
Você pode começar conversando com as crianças se elas
sabem como as pessoas cegas ou surdas conseguem Para conhecer a Convenção da ONU sobre os direitos das
assistir à televisão, a filmes e a vídeos. pessoas com deficiência,
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Descrição da imagem
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k l m n o
funções mais específicas. No entanto, atualmente têm-se
trabalhado com a perspectiva do Desenho Universal, no qual
os recursos de acessibilidade, mais que garantir o acesso,
devem ampliar as possibilidades de inclusão, para que todos
possam aprender juntos, ler juntos, enfim, para que todos p q r s t
possam estar juntos na roda, conforme já explicitamos no
Capítulo 5.
u v w x y
Vamos iniciar por um recurso de acessibilidade
1 muito antigo e importante para as pessoas
com deficiência visual, o braile. É um sistema z
de leitura e escrita destinado a pessoas cegas,
feito por meio do tato. Sua escrita é baseada na combinação
de 6 pontos, dispostos em duas colunas de 3 pontos, que Descrição da imagem
permite a formação de 63 caracteres diferentes, representando
Grafadas em azul, todas as letras do alfabeto com sua
letras, números, simbologia aritmética, fonética, musicografia
representação em braile ao lado de cada uma delas.
e informática.
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sabem o braile. Neste sentido, se disponibilizarmos um livro Vamos contar uma cena:
em braile e tinta, podem ter acesso a ele tanto as pessoas
cegas que são usuárias do braile como pessoas que não têm Duas pessoas estão assistindo a TV, sendo que uma está de
deficiência visual e não sabem o braile. Todos terão acesso olhos fechados e a outra, de olhos abertos. É um programa
ao mesmo material, poderão conversar, discutir, tirar dúvidas, de cultura e o jornalista inicia uma nova matéria falando
fazer leituras coletivas, interessar-se pelo texto que o colega sobre quatro exposições de artes visuais gratuitas, que estão
está lendo. acontecendo na cidade. A partir daí, começa a soar uma
sequência de quatro trechos de músicas instrumentais. A
pessoa que está de olhos fechados imagina que cada trecho
da música corresponde a imagens de uma exposição diferente
e seu entendimento acaba aí.
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A audiodescrição é um recurso de acessibilidade já É importante lembrar que, por mais que existam algumas
regulamentado pela legislação brasileira e fundamental para regras, normas e padrões, cada descrição dependerá muito
que pessoas cegas e com deficiência visual tenham acesso às do descritor, do público que será beneficiado, do tom que der
informações, ao contexto, às paisagens visuais e cenas. Pode para as informações, do quanto conhece sobre o assunto.
ser utilizada por qualquer pessoa e ajuda bastante aquelas
com deficiência intelectual. O processo de audiodescrição envolve criação, aprendizagem,
estudo, pesquisa, atenção, disponibilidade e sensibilidade.
Na audiodescrição, faz-se a descrição de cenários, Possibilita, também, observar a expressão de uma pessoa
personagens, posições, formas, cores, situações e detalhes escutando uma audiodescrição, conversar sobre como foi a
para que as pessoas cegas e com deficiência visual tenham experiência da audiodescrição. Ou seja, todo esse processo
acesso à narrativa, tanto por meio da voz humana como por contribui para reduzir barreiras de acesso, garantir direitos e
equipamentos de áudio. O conteúdo da audiodescrição, para a construção de uma sociedade mais igualitária.
quando feito para filmes, por exemplo, deve ser inserido entre
as falas do áudio original, sem se sobrepor a elas. São inúmeras as formas de leitura, escrita, interpretação,
tradução e apreensão do mundo. Mostraremos, a seguir,
Em uma contação de histórias, é importante alguns exemplos de diferentes usos da audiodescrição.
descrever o cenário, figurinos, ambientes e objetos.
Caso seja utilizado um livro com ilustrações e
imagens, é importante descrevê-las.
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A audiodescrição tem sido utilizada também, cada vez mais, Tecido algodão, tecido lã, madeira, linha, papelão,
para acessibilizar exposições de arte. Vamos compartilhar plástico, tinta PVA e metal
aqui a experiência de acessibilizar uma exposição chamada
Coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea/
“Os Penélope”, que reuniu obras dos artistas Arthur Bispo do
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Rosário e Leonilson. A exposição foi realizada em 2015 para a
inauguração de uma unidade do Sesc na cidade de Jundiaí, Entre 1925 e 1933, Bispo serviu na marinha do Rio de
no Estado de São Paulo. Janeiro em diversos navios e em diferentes ofícios. Um
veleiro de quatro mastros, de 1 metro e meio de extensão
Veja abaixo a imagem de uma obra chamada “Grande Veleiro”, por 60 centímetros de altura, está apoiado em uma
de Bispo do Rosário. estrutura que contém quatro rodas, semelhante a uma
carreta. Esta carreta foi produzida em madeira, incluindo
as rodas e os seus eixos. O casco do barco, que é a parte
exterior da embarcação, feito em papelão espesso, está
pintado de branco e tem detalhes em tecido de algodão
grosso em tom bege escuro, com pequenas escotilhas,
as janelas da embarcação, pintadas em preto. Um piso
fecha o casco, formando o convés, que é feito de papelão
natural, composto por duas partes costuradas ao centro
no sentido longitudinal, não deixando abertura para o
interior do casco. No convés estão bordadas, com linha
preta e linha azul, várias palavras. Da proa, a parte da
frente de uma embarcação, sai uma haste que aponta para
a frente e segura uma rede entrelaçada nela, pendendo
na horizontal. Logo abaixo da rede, nota-se uma âncora
toda recoberta por fio azul, presa por correntes de ferro.
Um fio grosso sai da ponta da haste, passa pela ponta
do primeiro mastro, seguindo seu percurso por todas
Grande veleiro, sem data as pontas dos demais mastros. Pendem dele inúmeras
Arthur Bispo do Rosário bandeirolas de tecido, em formatos triangulares e
(Japaratuba - SE, 1909 - Rio de Janeiro - RJ, 1988) retangulares, em diferentes tamanhos, desfilando suas
diversas cores e detalhes.
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O processo de descrição de uma obra de um artista reconhecido A Libras – Língua Brasileira de Sinais – é uma língua espacial-
internacionalmente, que viveu a maior parte da sua vida na visual que pessoas surdas e com deficiência auditiva utilizam
Colônia Psiquiátrica Juliano Moreira, sofrendo processos de para se comunicar. É regulamentada como a segunda língua
discriminação e exclusão, é um desafio e um presente. Uma oficial do país, por meio da Lei No 10.436/2002 e do Decreto
oportunidade de se aproximar e admirar um indivíduo que, do No 5.626/2005. Segundo a legislação, entende-se por Libras
seu lugar marginal, construiu uma obra singular e genial, cheia a forma de comunicação e expressão em que o sistema
de referências e simbolismos que nos remetem ao inconsciente linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical
e à realidade, à cultura popular, ao sincretismo religioso, à sua própria, transmite ideias e fatos.
visão do homem na cidade e em contato com a natureza. É
Diferentemente do que muitos acreditam, as
uma obra carregada de detalhes e intensidade.
2 línguas de sinais não são criadas somente
Assista ao vídeo “9. Grande Veleiro”, veja a obra, pela gestualização da língua oral, tampouco
ouça uma proposta de audiodescrição e pense os sinais são formados por meio do alfabeto
como uma pessoa com deficiência visual consegue dactilológico (alfabeto manual). O alfabeto é usado para
imaginar o veleiro a partir da audiodescrição. soletração de palavras que não possuem sinais ou para nomes
próprios.
E para você? A audiodescrição trouxe novas informações ou
elementos que você não tinha percebido ao olhar a imagem? A Libras obedece a uma sintaxe própria, complexa, regida por
uma gramática específica.
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As línguas de sinais se relacionam com a cultura do país. Assista ao vídeo “10. Sinais dos Meses” e conheça
Podemos citar o exemplo do sinal da palavra abril (mês), que os sinais dos meses do ano.
faz referência ao enforcamento de Tiradentes, ocorrido no dia
As línguas de sinais são sistemas dinâmicos, vivos, que se
21 de abril.
refazem no cotidiano dos vários grupos sinalizadores. São,
assim, línguas-rio que correm nas mãos de surdos e ouvintes,
desaguando em formas únicas de arranjar palavras e frases
(idioleto).
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Inserir a Libras no cotidiano escolar é um ganho desde a compreensão de que a oralidade tem uma escrita até
para todos. Poder assistir a uma contação de o auxílio no reconhecimento da estrutura textual, da ortografia,
história bilíngue possibilita ampliar as estratégias da pontuação, do gênero textual, entre outros.
de interação com o texto, de simbolização, por
meio das características gestuais, de movimento e Um exemplo da importância da legenda e como sua supressão
de expressão, tão fortes na língua de sinais, mas que também dificulta o acesso a diferentes bens culturais diz respeito
fazem parte da construção da linguagem das ao cinema nacional, que consideramos outra forma de ler
crianças ouvintes. e entender o mundo, ampliar o repertório, estar inserido na
4
cultura de nosso país. Os filmes, por estarem em língua original,
não contam com legendas, inviabilizando que as pessoas com
deficiência auditiva possam acessá-los.
Assista a um trecho do “11. Caminhos da Inclusão”
no qual uma aluna ouvinte conversa em Libras com Os textos em português referem-se às legendas do texto
um professor surdo. original, sem acréscimo de elementos sonoros, que também
são um importante recurso para ser utilizado, junto a outros
recursos de acessibilidade, nas ações de mediação de leitura
acessível e inclusiva.
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2 4
Conheça o alfabeto manual da Língua Brasileira de Sinais No Blog Cultura Surda é possível encontrar diversas
acessando o documento “Cartaz Sinais.pdf” produções culturais criadas por, para e sobre as
comunidades surdas. Confira a riqueza da cultura surda!
Acesse: www.culturasurda.net
Em meados do século 19, com a chancela de Dom Pedro Que tal propor uma atividade de narração junto a seus
II, foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para alunos? É só escolher uma imagem e começar!
surdos do país: o Collégio Nacional para Surdos-Mudos
(hoje INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos). À Propor que as crianças descrevam uma imagem possibilita
frente da empreitada, o professor francês Huet (ex-diretor a elas observá-la, prestar atenção aos detalhes, escolher a
do Instituto dos Surdos-Mudos de Bourges) não só trouxe forma de narrar. Além disso, é um belo exercício de escrita,
ao Brasil sua experiência com educação de surdos como no qual você, mediador, poderá acompanhar o processo de
também difundiu em nossas terras alguns sinais da Langue redação, a coerência, a imaginação, a sequência.
des Signes Française (Língua de Sinais Francesa), língua
gestual que teve grande influência na formação da Libras. O mais interessante é observar que cada criança fará a
descrição de uma forma. Mesmo que a imagem seja a
Uma referência clara da Língua de Sinais Francesa na mesma, as formas de ver e narrar são infinitas. Caso seus
Libras é o sinal da palavra falar, que é produzido com alunos ainda não escrevam textos, eles podem contar o
a configuração da mão na letra “p”, que vem da palavra que estão vendo e você pode escrever, gravar ou filmar.
parler, cujo significado é falar em francês. Se você tiver alunos com surdez, pode filmar a narração
produzida por eles em Libras.
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Audiodescrição 1 Audiodescrição 2
que de guarda, só tem o sentido, Atravesso a rua deserta protegida pela sombrinha da minha
avó.
pois não bate continência,
Com a câmera na mão procuro pelo endereço da amante
mas sim, uma fotografia. do meu marido.
Reunindo seus pingos em poça, Calor! Vestindo uma roupa fechada, de inverno, me disfarço.
Faz-se espelho, Piso numa linha fina e branca como meu mocassim.
Reparo que há outra faixa, paralela a essa, a um metro de
Invertendo o que já era invertido.
distância.
Que divertido.
Penso neles. Irrito-me e disparo sem querer a câmera.
Pois a poça
Essa é a foto.
Que antes era só chão
Troca as mãos
Audiodescrição 3
Pelos pés
Autorretrato de uma mulher pisando em seu reflexo num
Numa verdadeira brincadeira de “o que é, o que é”. dia de chuva.
Desafiando a razão,
Sobre um suporte quadrado, um piso coberto por uma
O que já foi terra, asfalto, enfim, chão, fina lâmina de água acumulada pela chuva, que ainda cai
suavemente, cria um fundo homogêneo para o reflexo de
No reflexo molhado, traz o céu uma figura de mulher com uma sombrinha. No reflexo,
bem centralizado, a sombrinha aberta ocupa a metade
Fazendo de transeuntes na chuva, superior da imagem. Logo abaixo, e num tom mais escuro,
Caminhando pela pista, a silhueta um tanto indefinida da mulher é interrompida, no
canto inferior, pelo seu pé direito, não mais um reflexo.
Legítimos equilibristas.
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Audiodescrição 4
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Qual o tempo que nos sobra para a leitura? Geralmente Compartilhamos aqui a fala entre uma mãe e o professor de
pouquíssimo, ou nenhum. E o que fazer? Nossa sugestão é: seu filho. Ela pede que ele incentive seu filho a ler poesia.
que tal roubar um tempo?
– O senhor poderia pedir para o meu filho ler poesia? Ele nunca
As coisas que são importantes para nós, mas que não estão lê nenhuma página sequer, acha ruim quando peço para ele
necessariamente nas do dia a dia, da sobrevivência, vão pegar um livro com um versinho que seja. Meu filho te admira
ficando para trás. Infelizmente, passa a semana, passa o mês, tanto! Se o senhor disser “leia poesia”, com seu jeitinho, tenho
passa o ano, passa a vida e não fizemos nem uma pequena certeza que meu filho vai acatar a sugestão.
parte de tudo o que gostamos. Portanto, é preciso estar atento
e roubar tempo. – Pode voltar com seu filho daqui a um mês?
A leitura exige silêncio, atenção, introspecção, tranquilidade – Mas por que um mês, professor? O senhor não pode falar
e tempo. Se não roubarmos o tempo, estaremos perdendo a isso agora?
leitura porque também estamos perdendo estas características,
– Não, não posso.
estes estados de ânimo.
– Por que não?
Então ser um mediador de leitura pode ser entendido de duas
maneiras: como mais uma tarefa, uma atividade que vamos – Venha daqui a um mês, por favor.
fazendo, ou como a possibilidade de seguirmos acreditando
que perder este tempo vale a pena, e que talvez este --------
compromisso possa ser uma libertação, um presente, não só
para os outros, mas para nós mesmos. – Leia poesia, meu querido, tenho certeza que você vai gostar.
Te trouxe um livro bem bonito de presente.
Abaixo, segue um trecho de “Mistérios da Educação”, um livro
de poesias, organizado em 5 blocos: Olhar, Ousadia, Escuta, Dizia o educador ao garoto, que abriu com animação o livro
Tempo, Espaço e Consistência. recheado de versos.
– Por que o senhor pediu um mês para dizer uma frase que
poderia ter dito antes, no dia que vim aqui?
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– Porque antes eu não lia poesia. Nesse mês que eu pedi para Alejandro Zambra, um escritor chileno da nova geração, que
vocês esperarem, voltei a ler Drummond e Manoel de Barros. também é professor e foi crítico literário, tem um livro que ainda
Não me senti bem em dar um conselho que não levo a sério. não foi publicado no Brasil, que se chama No leer – Crônicas
y ensayos sobre literatura. Neste livro, escreve sobre seus
André Gravatá e Daniel Ianae autores favoritos, sobre o modo como escrevem, sobre os
motivos que o fazem gostar muito de alguns escritores, sobre
A citação de Gravatá e Ianae exemplifica um pouco o que
o seu processo de formação como leitor e também fala sobre
queremos compartilhar com vocês, leitores e mediadores:
o que não se deve ler. Traduzimos um trecho do espanhol para
para ler com as crianças, é preciso que nós também leiamos e
o português, que compartilhamos aqui:
que tenhamos uma relação honesta com elas, conosco e com
os livros. Este é mais um convite que fazemos! Quando deixei a crítica literária semanal, senti muitas vezes o
prazer de não ler alguns livros. Esta é uma das razões do título
Portanto, vamos arregaçar as mangas e achar este tempo...
deste livro. Não ler. Pois estão claras as imposturas do mundo
Não tem segredo, não tem receita, não tem técnica, é preciso
literário, a tirania das novidades, as desconcertantes listas
começar ou recomeçar…
de leituras obrigatórias, o insólito, mas arraigado costume
de falar de livros sem tê-los lido e também, de certo modo, a
O que lemos e o que não lemos – as leituras do dificuldade em encontrar um livro que se quer muito, mas não
está disponível.
mediador
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Sabemos que esta questão é bastante polêmica, mas achamos Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
que também é importante a colocarmos na “roda”. Achamos
Manoel de Barros
importante que quem abre a “roda” deve pensar nestes pontos.
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Para pensarmos sobre o papel do mediador lê com eles e para eles frequentemente? As pessoas que são
na formação de novos leitores com ou sem referências para eles incentivam e acreditam que eles podem
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deficiência, trazemos um poema de Manoel ser leitores?
de Barros, outro escritor que nos inspira muito.
Manoel, ao longo de sua obra, ensina-nos a ver as coisas de São tantas perguntas que geram infinitas formas de pensar a
outra forma, ler o mundo com outros sentidos, introduz uma formação de novos leitores, mas, independentemente disso,
poética do pequeno, do delicado, inverte a lógica dominante. todas dependem de tempo, espaços, materiais diferentes
Ensina que é importante olhar com calma, demorar-se, ensina disponíveis e mediadores para que, com estes ingredientes,
a ter paciência e prestar atenção. E termina lindamente este possamos gerar interesse, curiosidade, vontade.
poema nos fazendo um convite: “desaprender 8 horas por dia
ensina os princípios”.
O processo de formação de novos leitores demanda uma série Daniel Pennac nasceu no Marrocos em 1944. É professor
de ações, estratégias, recursos que são complementares e de língua francesa em Paris e escritor. Entre seus livros
interdependentes. Não existe uma única maneira de formar publicados no Brasil estão ”Diário da Escola”, “Como um
leitores. Várias questões e fatores interferem neste processo. romance”, “O paraíso dos ogros”, ”A pequena vendedora de
prosa”, ”Senhor Malaussène”, “Frutos da paixão”, “Esses
A formação de novos leitores com deficiência não é diferente, senhores, os meninos”, ”Kamo e a Agência Babel”, ”Kamo
dialoga com estas mesmas questões. Vamos elencar aqui e a ideia do século”, ”O olho do lobo” e “Vira-lata virador”.
alguns pontos: Pennac morou em Fortaleza, por dois anos, na década de
1980.
- Quais são as experiências prévias destes leitores? Que tipo
de contato e de relação estes leitores têm com diferentes
suportes escritos e gêneros literários? Eles têm livros e
materiais escritos disponíveis em casa? Eles convivem com
pessoas que leem em sua casa, na família, na escola? A leitura
e a escrita são um valor? Eles são incentivados a ler? Alguém
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Manoel de Barros
Livros de Alejandro Zambra no Brasil:
Acervo de Manoel de Barros no PNBE - Programa Nacional
Bonsai Biblioteca na Escola:
A Vida Privada das Árvores São quatro livros de Manoel de Barros que fazem parte do
acervo: “Poeminhas pescados numa fala de João” (Editora
Meus Documentos Bertrand Russel), “Memórias Inventadas para Crianças”
(Editora Planeta), ambos de 2005; “Memórias Inventadas
*todos títulos publicados pela Editora Cosac Naify
- A Segunda Infância” (Editora Planeta Jovem) e “Poemas
Rupestres” (Editora Best Seller), ambos de 2006.
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É nosso desejo que no centro da roda estejam livros em papel, Esses livros geralmente são produzidos por organizações
em braile, em tinta e braile, em letra ampliada, em audiolivro, voltadas às pessoas com deficiência, que os disponibilizam
em versão bilíngue (português-Libras), em leitura fácil, em gratuitamente, por financiamento público, para pessoas
Daisy, ou ainda em outras combinações, como por exemplo, com deficiência visual, bibliotecas, escolas, instituições
em versão leitura fácil bilíngue (português-Libras). E sabemos especializadas.
que, quanto mais livros acessíveis estiverem disponíveis no
centro da nossa roda, um número muito maior de pessoas É inegável a importância dessas iniciativas, pois, para um
poderá ter acesso ao livro e à leitura. percentual muito alto da população, essa é a única forma de ter
acesso ao livro. Portanto, esses projetos devem ser ampliados,
Convém ressaltar que a oferta de livros acessíveis ainda é fomentados e divulgados e, além disso, tais programas devem
extremamente restrita em termos de quantidade de títulos, ofertar livros em outros formatos acessíveis.
gêneros e formatos, sendo que a maioria está disponível
em braile ou em audiolivro, formatos que originalmente são Ao mesmo tempo, em nosso país existe uma cadeia produtiva
destinados às pessoas com deficiência visual. do livro consolidada, responsável pela produção, distribuição
e comercialização dessas publicações. Nesse meio, a questão
Os livros em braile e os audiolivros, por já dos livros em diferentes formatos acessíveis está começando
1 estarem mais consolidados, passaram a a aparecer somente agora, muito por força da Lei Brasileira
fazer parte de programas governamentais de de Inclusão e do Tratado de Marraqueche. Em outros países,
incentivo e democratização do acesso ao livro nos quais a literatura, o livro e a leitura são entendidos como
e à leitura como o PNBE – Programa Nacional Biblioteca da fundamentais, existem muitas editoras que produzem e
Escola – , do MEC. comercializam livros em diferentes formatos acessíveis.
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No filme “Palavra (En)cantada”, Ferréz, um sobre os temas que lhes interessam, algumas até falam de
romancista, contista e poeta paulistano, diz alguns autores que gostam e que vão procurar. No entanto,
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que “a literatura tem que ser compartilhada as duas crianças com surdez ficam um pouco deslocadas,
como o pão”. Esta fala de Ferréz nos remete, ainda não sabem o que escolher e também na biblioteca não
novamente, à questão da literatura como bem público e há nenhum livro disponível em Libras. Será que é fácil para
comum e, infelizmente, aponta-nos para uma realidade de elas ficarem interessadas nos livros?
extrema exclusão e desigualdade, pois um grande contingente
de crianças, jovens, adultos e idosos não têm o direito de Podemos também criar uma cena similar:
compartilhar o pão porque simplesmente não têm pão para
- Imaginem se na biblioteca só estivessem disponíveis livros
eles.
em alemão. Será que as crianças ouvintes, mas que são
Queremos novamente convidá-los a pensar em algumas brasileiras, ficariam interessadas? Iam se sentir interessadas
cenas, corriqueiras e permanentes, da vida das pessoas com em retirar o livro para ler, em uma língua que não entendem?
deficiência:
Estas cenas, muitas vezes, acabam gerando um distanciamento
- Imaginem um professor de história, apaixonado por literatura dos livros e do conhecimento. Sentimentos que muitas vezes
brasileira, que está em uma roda de amigos, em que cada passam despercebidos por nós, e que dizem muito do quanto
um está contando sobre suas leituras recentes. Um amigo a equiparação de oportunidades e a igualdade ainda são
fala de um novo livro, que é muito bom, de Benjamin Moser, uma ficção. É muito mais difícil construir uma relação de
chamado “Todos os Contos”, com uma compilação de textos proximidade e de amor com os livros diante desta realidade.
de Clarice Lispector. O professor se interessa e, ao chegar em No centro da roda, ao invés de possibilitarmos sentimentos
casa, decide comprar o livro em um site de livraria. No entanto, de pertencimento e aproximação, ainda temos o vazio e
ele não consegue, devido ao simples fato que deixamos de impedimentos objetivos e simbólicos.
contar: ele é cego e o livro está disponível somente em papel.
Porém, mesmo que de forma minoritária, existem muitas outras
- Agora a cena se passa em uma sala de aula de segundo formas de um livro existir para além do livro de papel. É o que
ano. É sexta-feira e é hora das crianças irem até a biblioteca vamos compartilhar agora, mas queremos deixar claro que
para escolher o livro que levarão para casa para ler no final de um formato não deve inviabilizar a presença do outro. Existem
semana. Nesse grupo há dois alunos com surdez, que estão muitas formas de ler um livro, que podem ser usufruídas e
em início de processo de alfabetização. As crianças saem disponibilizadas para todos. Um mesmo livro pode se abrir e
animadas para escolher o seu livro. Falam sobre os títulos, ser produzido em diferentes formatos e suportes. Todos saem
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Compartilhamos aqui uma citação de Albert Manguel, escritor a obra, o período em que se passa, o local onde o enredo
argentino que, durante um tempo, foi ledor para Jorge Luis acontece, o gênero literário, entre outros. Portanto, a produção
Borges quando o grande autor portenho ficou cego por conta de um audiolivro pode gerar um belo projeto de leitura, além
de uma doença congênita. de garantir que pessoas com deficiência visual, ou que ainda
não sejam leitoras, usufruam do prazer da leitura.
Pode-se perceber que ler para alguém gera outras formas de
leitura, que tocam os sujeitos envolvidos de forma singular,
quer seja ele o ledor, quer seja ele o leitor-ouvinte:
As novas tecnologias têm possibilitado e facilitado Lembramos que existe um bom acervo em
a produção de materiais em áudio por meio do uso bibliotecas, escolas e instituições especializadas
de aparelhos celulares. Esta é uma possibilidade que, muitas vezes, são subutilizados. É importante
muito interessante de mediação com diferentes que aumentemos a quantidade de acervos em
grupos de leitores. Gravar um audiolivro envolve braile, mas que também criemos estratégias para
diferentes etapas: escolher o livro, ler o livro, decidir quem que eles circulem, sejam lidos, compartilhados. Lembre-se
será o ledor, preparar a leitura (observando entonação, que promover estratégias para que o livro também esteja no
pontuação, ritmo), gravar, revisar, disponibilizar. Você pode, centro da roda junto com todos os leitores é um dos papéis do
ainda, colocar informações complementares sobre o autor, mediador. Podemos dizer que um não existe e não faz sentido
sem o outro.
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Descrição da imagem Em livros infantis que têm pouco texto, pode-se produzir o
texto em braile nessas impressoras e adicionar a impressão
Fotografia de um aluno da Educação de Jovens e Adultos. Ele às páginas do livro, tomando o cuidado para não sobrepor
é cego e está ajustando, sobre uma mesa, sua máquina de
escrever em braile. ilustrações e palavras. Ainda, pode-se imprimir o braile em
etiquetas transparentes e colocá-las sobre o texto em tinta,
não causando tanta interferência na estrutura original do livro.
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Muitas atividades de leitura e mediações são versa. Cores muito próximas ou em tons pastéis dificultam a
organizadas em grupos. A possibilidade de alunos leitura de quem possui baixa visão.
com e sem deficiência visual lerem o mesmo livro os
coloca em uma situação de interação, igualdade, Ao trabalhar com desenhos e imagens, atente para que sejam
compartilhamento e troca. Inclusão não se faz somente de cores fortes, sem muitos detalhes e com contornos definidos,
com princípios, mas com práticas concretas e trazendo a podendo ser realçados com canetas de ponta grossa, cola
materialidade do que isto significa para o centro da roda. colorida e barbante.
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Livro tátil
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Estes livros contribuem, ainda, com a compreensão Livro audiovisual bilíngue português-libras
da história e de seus elementos, além da ampliação
do repertório dos leitores. Se o livro apresenta a Livro produzido em português e Libras, visando fortalecer
temática das flores, pode-se produzir diferentes o bilinguismo, a identidade linguística da comunidade
flores com os materiais, expandindo a categoria surda, a disseminação da Libras para diferentes públicos
flor para a variedade de flores e as inúmeras possibilidades de e a equiparação de oportunidades. Os livros em Libras
desdobramentos em torno do tema. necessariamente precisam ser audiovisuais, uma vez que
a língua de sinais é gestual e visual, uma língua que tem
movimento.
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Ao longo dos dois últimos anos, temos estudado O livro escolhido para começar foi “Alice no País das
e produzido livros e materiais em leitura fácil. Maravilhas”, de Lewis Carroll. Lemos Alice muitas vezes, em
Neste processo, trabalhamos com pessoas com diferentes línguas e versões.
e sem deficiência, de diferentes faixas etárias, no
processo de experimentação e elaboração dos materiais. Fizemos a primeira versão do primeiro capítulo e precisamos
confessar que foi muito difícil começar. Sempre é um desafio
Precisamos confessar que um novo universo foi aberto e a nossa começar a escrever, ainda mais algo tão diferente. Muitas
relação com a língua, a leitura e a literatura se intensificou. Até vezes, reescrevemos, cortamos, acrescentamos, mudamos
chegarmos à versão final do primeiro livro em leitura fácil, várias as palavras, revisamos. Várias mãos, corações, vontades
estações do ano nos acompanharam e, a cada mudança do e pensamentos produziram o primeiro capítulo. Finalizada
tempo, surgiram novas aprendizagens, descobertas, dúvidas, esta fase, mostramos para várias pessoas, que leram com
erros, espantos, alegrias, leituras e leitores. Certezas caíam carinho e atenção. Mais alterações. E chegou o grande
com as folhas das árvores no outono... Os livros, os dicionários, dia! A apresentação e a leitura conjunta do capítulo com
as imagens, os cadernos, o computador, as pessoas, a roda um grupo de jovens com deficiência, que tinha aceitado o
foram nossos companheiros. desafio de trabalhar conosco. Lemos o primeiro capítulo do
livro, conversamos, lemos novamente. Algumas palavras
foram sendo escritas no quadro, com seus significados, suas
etimologias, tanto em Português como em Libras. Sugestões,
dúvidas, críticas e descobertas foram aparecendo.
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Isto nos acendeu uma enorme luz amarela e a necessidade Durante o processo de trabalho com jovens com
urgente de colocar a leitura fácil no centro da roda, de forma diferentes tipos de deficiência, percebemos que
intensa e variada. uma das grandes dificuldades na leitura dizia
respeito aos diálogos, ou melhor, ao uso do
No decorrer do texto, é importante destacar
travessão para informar quem estava falando. Para tanto,
algumas palavras que possam ser mais difíceis ou
experimentamos colocar antes do travessão uma ilustração ou
pouco usuais e colocar o seu significado também
ícone que representava quem estava falando. Esta estratégia
de forma simples ao lado do texto, se possível com
funcionou quase como poção mágica do bolo da Alice (a
a inserção de imagens.
compreensão aumentou exponencialmente). Uma jovem com
Com isso, estamos colocando um glossário mais interativo, ao deficiência intelectual disse: Nossa, entendi tudinho o que a
longo do texto. Mesmo que o texto esteja escrito e organizado Alice e o Coelho estão falando. Sei quem é cada um. Esta fala
com uma estrutura simplificada, também é muito importante teve o acréscimo de outro complemento de um jovem surdo:
ampliar o repertório, manter o estilo e a narrativa do texto Não acredito, é isso que são os traços antes do texto. Não
original. Não se esqueça de procurar encontrar o tom, o ritmo sabia. Mudou tudo!
e a atmosfera do texto.
Podemos dizer que isto mudou tudo para nós, ou melhor,
fortaleceu o nosso entendimento sobre a importância desta
estratégia. Como uma pessoa com Ensino Médio não tinha
entendido o que era o travessão, seus usos e funções? O que
fizeram com ele? O que fizeram dele?
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As estratégias de mediação de leitura com pessoas O acervo acessível em uma biblioteca, sala de leitura ou escola
surdas podem ser muito ampliadas quando não nos pode ser formado por meio de compras, doações ou produção
fechamos em um único formato ou composição, própria.
ou seja, uma mediação pode iniciar por meio do
Cada instituição possui suas estratégias para a composição e
trabalho com o livro em leitura fácil impresso e, após, trabalhar
ampliação de acervo. Vale destacar que a preocupação com o
com a leitura do livro audiovisual acessível bilíngue em versão
acervo acessível também deve estar presente no planejamento
original. Isto possibilita que possam ter o primeiro contato com
e na organização do trabalho.
o texto por meio de versão escrita e com os recursos da leitura
fácil e, após, ler o texto no original com o suporte da língua de O mercado editorial brasileiro, como comentamos
sinais na versão audiovisual. anteriormente, apresenta uma oferta bastante restrita de livros
em diferentes formatos acessíveis. No entanto, com a entrada
A escolha de formatos e a sequência de leitura podem variar e
de novos marcos legais, há um movimento da cadeia produtiva
dependerão das características do grupo e da intencionalidade
do livro no sentido de se aproximar das questões relativas à
do mediador.
produção, comercialização e distribuição de livros acessíveis,
Para nós é muito evidente que, quanto maior o número de principalmente em meios digitais.
formatos acessíveis aliados a estratégias de mediação de
Assim, caso haja recursos para a aquisição de acervos, é
leitura, mais um mesmo livro gera múltiplas formas de ler,
importante contatar as editoras e solicitar as versões em
acessar o texto, compreender, relacionar-se com a língua,
formatos acessíveis dos títulos a serem incorporados ao
ampliar o repertório, enfim, proporcionar o direito de ser leitor
acervo da biblioteca, tendo como parâmetro o Marco Legal já
e estar na roda com todos.
mencionado. Além disso, há editoras que se especializaram
na produção de livros em formatos acessíveis, tais como a
Editora Arara Azul (http://editora-arara-azul.com.br/) e Editora
WVA (www.wvaeditora.com.br).
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http://palavraencantada.com.br/
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Os livros lidos são moradas emprestadas onde é dos pais de crianças com surdez são ouvintes. Portanto,
possível se sentir protegido e sonhar com outros esta interação é muito fraturada, pois os pais falam e o bebê
futuros, elaborar uma distância, mudar de ponto de não responde, não acompanha, não escuta, diminuindo as
vista. possibilidades de contato. Leva-se um tempo até construir
estratégias de comunicação, linguagem e aquisição da língua.
Michèle Petit Em muitas situações, as crianças irão ter contato com a Libras
e iniciar o processo de aquisição somente quando entram
Iremos, neste capítulo, pensar em como contribuir para que
na escola. Mesmo após adquirirem a língua de sinais, com
os livros possam ser moradas emprestadas para todos e
quantas pessoas conseguem interagir, devido à barreira da
teremos como uma das nossas convidadas, Michèle Petit, uma
língua? Quais são os brinquedos, jogos, filmes e animações
antropóloga francesa que fará o caminho conosco.
que contam com a língua de sinais?
Para fazer a roda girar, é importante que os sentidos da leitura,
Estas situações excludentes seguem por toda a
da palavra, da língua, da linguagem, da oralidade, da escrita,
vida, dificultando a produção de sentidos para
estejam muito presentes, ou seja, as diferentes práticas 1
a leitura. Para entender um pouco mais deste
sociais em que a leitura está inserida e que dela decorrem. Se
universo, assista ao filme francês “Sou surdo e
não compreendemos a pluralidade na qual a leitura está e se
não sabia”, de 2009, baseado em uma história verídica. Você
faz presente, é muito difícil encontrarmos sentidos para ela.
também pode ler o livro “O Voo da Gaivota”, de Emmanuelle
Ela geralmente nos acompanha desde as nossas primeiras
Laborit.
relações com o mundo, fazendo parte das nossas memórias
mais remotas. Outra situação que dificulta a produção de sentidos para a
leitura diz respeito à oferta e disponibilidade de materiais.
No entanto, para muitas pessoas com deficiência, essas
Todos sabemos que o contato intenso e variado com materiais
memórias não existem ou são muito frágeis. São poucas as
em diferentes suportes e gêneros é uma condição fundamental
possibilidades e experiências com este universo, tanto do ponto
para que todos possam estar na roda. No entanto, as pessoas
de vista concreto e objetivo, quanto simbólico. Trazemos aqui
com diferentes tipos de deficiência dificilmente têm acesso a
duas situações muito resumidas, mas que podem nos ajudar a
materiais acessíveis. Em livrarias, feiras de livros e sebos, não
entender o quão exiladas estão das práticas de leitura.
se encontram livros em formatos acessíveis à venda. Como
Quando nasce um bebê com surdez, pode-se levar algum alguém irá criar uma proximidade e intimidade com os livros
tempo até perceber que ele não escuta. Atualmente, a maioria e com a leitura, se não existem livros? O que geramos é um
discurso antagônico, pois de um lado é consenso que a leitura
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Vocês podem discordar de nossa proposta e argumentar que José Arbex Jr: E os pássaros da música “Os homens vão
o dicionário não auxiliará na aproximação dos que estão tão chegar”, você vai falando um monte de pássaros um atrás do
distantes da leitura. Pode-se pensar que ele afastará ainda outro, aqueles nomes todos. Aí você foi pesquisar no dicionário
mais os novos leitores e que será mais um vilão na série de nomes de pássaros todos.
experiências negativas. Chico Buarque: Ali fui, claro, na velha e boa enciclopédia.
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O trabalho intenso com a leitura em uma perspectiva acessível desde os clássicos, passando pelos de etimologia, os de
e inclusiva também nos aproximou das infinitas relações com o sinônimos, os bilíngues (português-Libras, português-inglês,
texto, com a palavra, com os múltiplos sentidos da leitura, com português-francês) e os temáticos, como os de cultura e artes,
os diferentes gêneros literários, com as práticas sociais da os regionais e os infantis.
leitura, com a palavra, com a tradução, com a imagem, com a
oralidade, com a voz, com os sinais, com os pictogramas, com Também buscamos outros livros inspirados em dicionários,
a gestualidade, com o leitor, com o ledor. E esta aproximação com citações de escritores para palavras, que aparecem ao
tem nos presenteado com inúmeras descobertas, alegrias, longo de sua obra.
composições, combinações e com a vontade de seguir
No dicionário “João Guimarães Rosa – Uma odisseia
estudando, compartilhando e lendo.
brasileira”, na letra “l” buscamos o verbete linguagem, que
Queremos reafirmar aqui que, para nós, o dicionário é compartilhamos aqui:
fundamental para possibilitar que a leitura seja para todos.
[...] a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não
Para isso, é importante que convivamos com este livro, que
fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive;
exploremos as diferentes possibilidades de uso, que seja
e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem
percebido como suporte de leitura e escrita.
também deve evoluir constantemente.
Portanto, é preciso criar estratégias de mediação nas quais ele
Ficção Completa, v. I. Diálogo com Guimarães Rosa,
esteja no centro da roda.
p.47.
Dificilmente, alguém se aproximará de um dicionário, se não
Reunimos a seguir o relato de algumas experimentações que
entender para quê usá-lo. Também não iremos colocar na
realizamos, tanto no processo de planejamento e produção de
roda um dicionário integral da língua portuguesa para grupos
conteúdos para mediações de leituras acessíveis e inclusivas
que não têm proximidade com a língua.
quanto sugestões de algumas atividades voltadas ao “uso do
A partir de agora, compartilharemos os usos que temos feito dicionário”, para os públicos com os quais trabalhamos.
com vários tipos de dicionários, para explorá-los em diferentes
Tais propostas pretendem inspirá-los a desenvolver
aspectos da leitura acessível e inclusiva.
estratégias para reconhecer o que é um dicionário e quais são
Para a produção de materiais acessíveis, nós temos utilizado suas funções, para contribuir com o entendimento da lógica
vários tipos de dicionários, tanto em papel como digitais, dos dicionários no momento de procurar um verbete; para a
ampliação do vocabulário, para a compreensão das diferentes
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Paludismo n.f.
1. (Medicina) Patologia séria, originada por esporozoários, instilada
no indivíduo através de um mosquito; também é designa por
malária.
Descrição da imagem
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Exemplificamos o trabalho realizado a partir de uma única Para este processo, procuramos a palavra nos mesmos
palavra, perdida em um capítulo de um livro. Poderíamos ter dicionários citados anteriormente e também em dicionários
parado no significado disponível na primeira versão online. infantis.
Estava correto, mas a possibilidade de procurar em outros
dicionários mais completos também enriquece o nosso estudo
sobre a língua e sobre as possibilidades de ampliação do
nosso repertório.
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Na produção de materiais bilíngues (português-Libras), como A imagem de quatro livros sobrepostos da esquerda para
os livros audiovisuais, os dicionários são importantes para direita. “Enciclopédia da língua de sinais brasileira”, a capa é
vinho com um faixa cinza no centro. À direita, o próximo livro,
buscarmos os sinônimos das palavras, para que os intérpretes
outro volume da “Enciclopédia da língua de sinais brasileira”
e surdos encontrem o melhor sinal para determinado conceito. com a mesma disposição e com a capa azul. À direita dele,
o “Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue” com a parte
Além disso, também utilizamos muito os dicionários bilíngues de cima cinza, onde está o título e o nome dos autores. Por
(português-Libras) para pesquisa de sinais. Outra questão fim, o “Livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais”, com o
frequente que encontramos no processo de tradução do subtítulo “Desvendando a comunicação usada pelas pessoas
português para a Libras é que muitas vezes o sinal ainda não com surdez”. Nele, sobre o fundo laranja, está a imagem de
dois pares de mãos, um deles, abaixo, faz um “V” e o outro
existe. par se sobrepõe a este com as duas mãos em concha. Os dois
pares juntos formam a imagem de um coração.
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No ano de 2014, produzimos o prólogo e o capítulo com o texto No vídeo “19. Tremores”, veja excertos da versão
Notas sobre a Experiência e o Saber de Experiência, que fazem audiovisual bilíngue e às avaliações de profissionais
parte Livro Tremores - Escritos Sobre Experiência, de Jorge que participaram do processo de tradução.
Larrosa, publicado pela Editora Autêntica em versão bilíngue.
Vocês poderão observar que vários profissionais fizeram a
Foi um processo demorado e longo, que envolveu uma equipe
tradução, tanto intérpretes como instrutores surdos. Optamos
interdisciplinar de profissionais da Mais Diferenças, com mais
por esta metodologia, em primeiro lugar, porque assumimos
de 20 pessoas, entre surdas e ouvintes.
este processo como uma experimentação e, também, para
Este trabalho, para além de produzir o texto em versão bilíngue, compartilhar a riqueza e as diferentes formas de traduzir.
ajudou-nos muito na criação de uma metodologia de tradução Podemos dizer que, assim como os ouvintes têm uma forma
bilíngue de livros e foi um espaço de estudo e formação intenso de falar, um ritmo, um tom, com os usuários de línguas de
para todos os envolvidos. sinais acontece o mesmo. Além disso, o próprio autor do
livro, Jorge Larrosa, leu o Prólogo para que todos pudessem
Vários livros e dicionários foram colocados no centro da roda: também escutar a sua voz, o seu ritmo, a sua gestualidade. O
dicionário de português, dicionário de filosofia, dicionário livro também foi produzido em Daisy para as pessoas cegas
de Libras, bancos de sinais internacionais. Para ampliar a terem acesso ao texto.
dificuldade do processo de tradução, o autor fala do conceito
de experiência em várias línguas, ou seja, experiência em
inglês é that what is happening to us, experiência em alemão
é was mir passiert, e assim por diante. Portanto, buscamos
o sinal de experiência nos idiomas apresentados. Também
foram criados sinais em Libras que ainda não existiam.
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A imagem da capa do Livro “Tremores - Escritos sobre Novamente, para a criação deste glossário não precisamos
experiência”, da contracapa e do CD com recursos acessíveis. dizer que utilizamos vários dicionários como apoio e inspiração.
A capa, a contracapa do livro e o CD são verdes. Na capa, à
direita, há um grafismo em preto e branco.
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Optamos por construir um móvel em madeira, com 25 gavetas.
Outra foto do Dicionário Móvel, na qual a disposição do
Em cada gaveta, colocamos uma letra, com exceção da última alfabeto agora é da esquerda para direita, de cima para baixo,
gaveta que tem as letras y e z. Em cada compartimento, começando na primeira linha e seguindo a lógica da leitura. A
colocamos as letras em madeira, em uma cor forte, além gaveta da letra “B“ está aberta e, sobre ela, há uma borracha
da letra correspondente escrita no código braile e a letra no branca e uma ficha, com um sinal. E a da letra “O” também está
aberta, com um óculos e uma ficha.
alfabeto manual. Se você não puder produzir o móvel em
madeira, ele pode ser desenvolvido com caixas de sapato, de
camisa, caixas plásticas, etc.
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Opção 2: nesta opção colocamos a palavra em português, Opção 3: podem ser produzidas fichas com as imagens dos
a palavra em braile, o sinal de um lado e a imagem e o personagens de uma história, por exemplo, a Branca de Neve,
alfabeto manual do outro. Também dependerá do grupo que os 7 anões e a rainha malvada escritos em português. Em
você tiver e das necessidades dele. No entanto, se as fichas outras fichas, pode-se colocar o nome dos personagens em
forem produzidas com diversos recursos de acessibilidade, Libras, braile e CSA (Comunicação Suplementar Alternativa).
estarão prontas para serem usadas por alunos com diferentes A ideia é que se criem várias estratégias para acessar o
características. É um material para todos. dicionário, que contribuam com o processo de letramento e a
compreensão das práticas leitoras.
Descrição da imagem
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Duas fotos com exemplos de dicionários colaborativos. Na foto Junto à palavra “cachorro” há uma foto de um cachorro
da esquerda há um papel com a letra “C” afixado na parede labrador e junto à palavra “casa” há um desenho. Na imagem
e abaixo uma folha com as palavras “cachorro” e “casa”, da direita, com as mesmas características, está a letra “D” e as
suas definições escritas à mão em uma letra que parece ser palavras “dinossauro” e “dragão”, ambas com fotos juntas às
de uma criança ou de alguém em processo de alfabetização. palavras.
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Outros desdobramentos
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Spreadthesign - www.spreadthesign.com/br
Canais Youtube
Aplicativos
Prodeaf - www.prodeaf.net
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10. Para a Roda Seguir... Este Guia foi apresentado, iniciando por uma citação de
Bartolomeu Campos de Queirós e, para a roda seguir,
escolhemos trazê-lo novamente para o centro da roda. O nosso
desejo desde o início da produção desta publicação era de
trazer muitas vozes para compor a escrita. Vozes de escritores
e livros que nos ensinam e nos fazem pensar, vozes do povo
do livro e da leitura, vozes das diferenças que se fazem na
igualdade, vozes que não pensaram necessariamente nas
A literatura é capaz de abrir um diálogo subjetivo pessoas com deficiência, mas que são preciosas para que
entre o leitor e a obra, entre o vivido e o sonhado, todos estejam na roda, vozes que geralmente não têm voz.
entre o conhecido e o que ainda está por conhecer; Estas vozes também foram produzidas, juntamente com
considerando que esse diálogo entre as diferenças – silêncios, com gestos, com murmúrios, com imagens, com
inerente à literatura – nos confirma como participantes tato, com amor... Colocamos todas estas vozes para compor
de redes de relações; [reconhece] a flexibilidade um mosaico, que pudesse gerar conversas com os leitores
do pensamento, participa da construção de novos deste material e para que, com estas conversas, a roda possa
desafios para a sociedade; (...) por sua configuração, seguir e ser ampliada.
acolhe a todos e convoca para o exercício de um
pensamento crítico, ágil, imaginativo; (...) a metáfora Este material também foi pautado pelos eixos do Plano
literária acolhe as experiências do leitor sem ignorar Nacional do Livro e Leitura (PNLL), um esforço nacional que
suas singularidades. conjuga direitos, dignidade e igualdade, para contribuir com a
democratização do acesso ao livro e à leitura para todos; com
Bartolomeu Campos de Queirós a formação de mediadores para o incentivo à leitura; com a
valorização institucional da leitura e o incremento de seu valor
simbólico; e com o desenvolvimento da economia do livro
como estímulo à produção intelectual e ao desenvolvimento
da economia nacional.
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Ficha técnica
Iniciativa Fundação Volkswagen
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