Sociology">
Resistencia Como Ruptura
Resistencia Como Ruptura
Resistencia Como Ruptura
ABSTRACT It is very present in the current sociological literature the statement that
the new generations resist the appropriation of a significant part of the world
constituted by the generations that preceded them, questioning the legitimacy of the
significant aspects of the socio-cultural references that have received an inheritance.
This is expressed in erms of generational opposition to a set of behavior
patterns established historically by different socializing agencies, including family
and school. The issue of indiscipline appears as the clearest expression of
opposition to the juvenile adult power in the school environment, which is why we
focus on teacher-student conflicts through acts and words of teenagers in order
to identify how they understand their oppositional behavior and what or
whom they are related to. Based on the theoretical and methodological
assumptions of cultural resistance by authors such as Giroux, Apple and McLaren
and the school interactionist approach , this paper focuses on
the issue of discipline and opposition to it by two teenage students from public
schools in Joao del Rei, Minas Gerais. We made a field survey consisting
of: observations of two classrooms and extracurricular environment, weekly
workshops and individual interviews with adolescents with the average age of 14
years old. Among other things, the research indicated that teenagers oscillate
between resistance and accommodation, between denial and the affirmation of
authoritarianism, and in this way, they can bear the bad aspects of everyday school
life. Thus, we find that adolescents frequently resort to forms of resistance as an
attempt to break from the routine of the classroom, as an experience of liberation and
the creation of situations that require them to be heard and understood in
their wishes and rights, while participant subjects in the educational process as well
as society.
Keywords: Resistance; Generation; Students; Discipline, Psychosocial Processes;
Public schools.
INTRODUÇÃO
1
Os autores deste artigo são vinculados ao LAPIP (Laboratório de Pesquisa e Intervenção
Psicossocial) da Universidade Federal de São João del-Rei. Este artigo é oriundo de uma pesquisa
desenvolvida por Marcela Goulart Fontes, bolsista PIBIC/CNPq, e orientado pela professora Ruth
Bernardes de Sant`Ana, nos anos 2009 e 2010. A versão aqui apresentada sofreu alterações teóricas
e de análise, e faz parte da pesquisa intitulada “A Experiência geracional na fala de alunos de escola
pública”. Esta se insere em uma pesquisa longitudinal em desenvolvimento desde 2001, que se volta
para o acompanhamento das trajetórias escolares de um grupo de estudantes, desde a pré-escola.
ATOS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO - PPGE/ME FURB 754
ISSN 1809-0354 v. 6, n. 3, p. 751-778, set./dez. 2011
3
Nesse ponto, o conceito de disciplina deve ser entendido no sentido lato, concebido como ordem,
respeito, obediência às leis e às autoridades por parte daquele que obedece. Antes do nascimento da
sociedade moderna, a humanidade já havia constituído práticas disciplinadoras, porém, há uma
mudança na forma e na abrangência da disciplina, a partir do século XVIII, que leva Foucault a falar
em nascimento de uma sociedade disciplinar no classicismo (FOUCAULT, 1993).
ATOS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO - PPGE/ME FURB 759
ISSN 1809-0354 v. 6, n. 3, p. 751-778, set./dez. 2011
MÉTODO
5
Entrevista Individual.
6
Todos os nomes dos sujeitos apresentados neste trabalho são fictícios.
ATOS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO - PPGE/ME FURB 766
ISSN 1809-0354 v. 6, n. 3, p. 751-778, set./dez. 2011
7
Este conceito, popularizado pelo sociologista francês Pierre Bourdieu, refere-se aos diferentes
conjuntos de competências lingüísticas e culturais que os indivíduos herdam por conta dos limites de
classe de suas famílias. Em termos mais específicos “os adolescentes herdam de suas famílias
conjuntos de significados, qualidade de estilo, modos de pensamento e tipos de disposição que
recebem certo valor social e status, como resultado do que as classes ou a classe dominante rotulam
como capital cultural mais valorizado. As escolas desempenham um papel importante na legitimação
e reprodução da cultura dominante, pois encarnam interesses de classe e ideologias que valorizam
um tipo de familiaridade e habilidades que apenas alguns alunos receberam através de sua
experiência de classe” (GIROUX, 1986, p.122).
ATOS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO - PPGE/ME FURB 770
ISSN 1809-0354 v. 6, n. 3, p. 751-778, set./dez. 2011
Pesq.: Qual é a intenção do aluno quando ele não faz a tarefa proposta pelo
professor? Qual seria seu interesse?
Larissa: Tem aluno que faz isso porque ele quer chamar atenção, ele quer
mostrar para o povo que o professor não manda nele de jeito nenhum. Ele ta
com a fama de que o professor não consegue controlar ele. E às vezes ele
faz isso por só pra irritar, só pra causar “muvuca” na sala.
aula observada, por exemplo, o tempo reservado para a execução de exercício foi
utilizado, por um aluno, para desenhar na contracapa do caderno. Por sua vez, outro
aluno usou o tempo para conversar com os colegas. As atividades só cessaram
quando surgiu algo supostamente mais interessante: o intervalo do recreio.
Percebemos que grande parte do tempo dos adolescentes que emitem
comportamentos de resistência e oposição é gasto em encontrar formas de matar o
tempo, de tornar as aulas mais interessantes, e até de obter algum grau de controle
sobre as atividades padronizadas no cotidiano da sala de aula. Neste sentido,
compreendemos que alguns estudantes emitem comportamentos de resistência
para atenuar a rotina enfadonha da sala de aula e fazer sobressair a cultura
informal, diminuindo a força de autoridade que as representações veiculadas pela
escola têm em relação aos estudantes. Eles fazem resistência à distinção entre a
cultura vivida informalmente nas ruas e aquela formal e dominante da sala de aula,
na tentativa de realizar uma ruptura do sistema social da sala de aula, e de tornar
este espaço mais agradável, como é possível observar na fala de alguns
adolescentes entrevistados:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
8
Oficina de Grupo
ATOS DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO - PPGE/ME FURB 775
ISSN 1809-0354 v. 6, n. 3, p. 751-778, set./dez. 2011
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
______. A Vida nas Escolas: uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos
da educação. 2º ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
STHIEL, N. A. O riso como denúncia social. Artigo final do programa PDE, 2007.
Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/900-
4.pdf>. Acesso em: 29 de ago. 2010.