Mestrado Psicologia Clínica
Mestrado Psicologia Clínica
Mestrado Psicologia Clínica
À minha família. Ao meu pai, ao meu mestre do saber aprender. Ao meu porto seguro,
mesmo que a sua âncora hoje more nos céus. Ensinou-me que mesmo do avesso se vive, esboçando
um sorriso de lágrima no chão. À minha mãe, que faz dos seus braços aço, para que as paredes do
meu mundo sejam fortes o suficiente para enfrentar a realidade. Às minhas irmãs, que são a alegria
e juvenilidade de quem procura sempre o pote de ouro no fim do arco-íris. À minha tia e padrinho,
que são o trampolim para poder ver as estrelas, para lá das nuvens baixas e escuras.
Aos meus amigos, por serem o comprimido natural de dias em que a única coisa que se
ouve, é o zumbido de uma dor de cabeça. Por serem colo e abraço quente que suporta a angústia e
o estigma de quem não acredita em si.
i
Espelho meu, espelho meu, quem é mais Psicólogo do que eu? Um estudo
sobre a influência do estágio curricular na Identidade Profissional nos
estudantes de Psicologia
Resumo
Évora. A amostra compreende idades entre os 22 e os 43 anos, todos do sexo feminino. Através
Palavras-chave
Identidade Profissional, Estágio Curricular, Psicologia.
ii
Mirror, mirror on the wall, who is the best psychologist of them all? A study
on the influence of the curricular intership on the Professional Identity of the
Psychology students
Abstract
The curricular internship is a key period of time in the acquisition and establishment of new and
important skills in the training of a future psychologist. Thus, this dissertation aims to understand
the influence of the curricular internship in the construction of the professional identity of a future
psychologist, through the interview of 8 students who finished this year the curricular internship,
and integrate the master in Clinical Psychology at the University of Évora. The sample is composed
by 22 to 43 years old, all of them female. Through the interview, it was possible to conclude the
importance of the curricular internship in demystifying the practice and the representation of the
psychologist, the maturation of the intern at personal and professional levels, and a growth in their
professional skills.
Keywords
iii
Índice
1. Introdução ............................................................................................................................... 1
4. Método ...................................................................................................................................... 26
Referências .................................................................................................................................... 56
iv
Índice dos Anexos
Anexos
Anexo A. Mapas............................................................................................................................63
v
“One day, in retrospect, the years of struggle will strike you as the most beautiful”
- Sigmund Freud
vi
1. Introdução
campos da literatura e teoria, desenvolvendo inúmeras competências necessárias para a sua prática,
para o seu intelecto, crescendo não só a nível teórico e profissional, como a nível pessoal. Este
três e dois anos, respetivamente. Incluído no último ano de mestrado, encontra-se a primeira
longo do tempo sobre o ambicionado estágio curricular. As aulas que ocorrem dentro do percurso
que poderá advir do período que remete para o estágio (Oliveira-Monteiro & Nunes, 2008; Dell
Prette, Dell Prette & Meyer, 2007). Noutra vertente, os possíveis relatos visuais disponíveis na
Internet ou da experiência de outros profissionais, são outros exemplos que ajudam ao discente
história de vida, o contexto, a família e amigos, como outros exemplos influenciadores desta
O estágio é um elemento essencial para a transição entre a vida académica notada por uma
extensa variedade de teoria oferecida aos estudantes e o mundo profissional, de onde passam a
exercer a teoria oferecida. Este é visto como um elemento que colmata as dificuldades que muitos
1
estudantes sentem, entre o mundo dentro da sala de aula, para o mundo onde se exerce a profissão
(Kuzmic, 1994; Ludke, 1996; Ryan et al., 1996; Toohey. 1996 cit. in Caires & Almeida, 2000).
como pela própria prática direta. A partir deste, o discente enfrenta diversas exigências que o fazem
desenvolver diversas ferramentas para o seu futuro profissional. É a gestão dessas dificuldades e
o surgimento de estratégias que dão o conhecimento fundamental para as suas práticas futuras
(Monteiro, 2010).
Os estudantes são colocados à prova através de novos desafios, novas tarefas e funções,
onde a programação passa a ter o seu cunho profissional, e assente-se assim como parte do
processo direto. Há uma nova forma de gerir os seus horários, que passam das salas de aula onde
estudam o comportamento humano, para a prática com o comportamento humano. A própria forma
de se ver, a presença que assumem perante os novos desafios são relatados como uma ótima
Mas não só de crescimento e aspetos positivos se faz o estágio. Advém deste período
tempos e momentos mais complexos, refletindo algumas dificuldades vividas. Destas é possível
demais até agora vivenciados pelos estudantes, onde o período é dividido entre o tempo passado
Em Évora, os discentes frequentam a Universidade num período semanal. O tempo é divido para
2
que o estagiário possa cumprir as horas estipuladas para a permanência na instituição do estágio e
Para além dos elementos referidos e presentes no estágio, os estudantes possuem ainda
tempo para a discussão das suas práticas, através da partilha das suas experiências e reflexão sobre
as mesmas (Caires & Almeida, 2000). O tempo de orientação que ocorre fora do local de estágio,
encontro entre a prática e a teoria, onde há sempre lugar para palavras que acalmam (Barbosa,
Laurenti, Silva, 2013). Um confronto que se traduz numa construção profissional e fomentando a
vivências do estágio curricular nos estudantes de Universidade de Évora, o impacto das mesmas
na sua vida pessoal e profissional, assim como estas estão relacionadas com a sua identidade
profissional.
A profissão de um psicólogo remete para um trabalho no auxílio que presta ao outro. O seu
exercício compreende um entendimento sobre o cliente, que permite ao mesmo conhecer-se, ver-
envolve, é entender a complexidade do seu exercício (Campezatto & Nunes, 2007). É através desta
perspetiva que o presente estudo ganha espaço. Apesar de ser apenas um capítulo da vida
o estilhaçar de estigmas sobre a profissão, e uma montanha russa de emoções. E é daqui que que
Este estudo está dividido em seis capítulos. Primeiramente, a presente introdução, através
de uma breve abreviação das temáticas discutidas. Em seguida, dois capítulos de fundamentação
3
teórica dos temas predominantes da investigação - o estágio curricular e a identidade profissional,
fazem parte o objetivo do estudo, método, participantes e a análise e discussão dos resultados. Por
4
2. Capítulo 1 - Estágio
durante um ano letivo. O estágio, em concordância com o exigido pelo Europsy, visa proporcionar
um contacto direto dos discentes com a prática psicológica em contexto profissional, promovendo
Este primeiro tempo de contacto com a prática profissional, detém-se como uma ferramenta
de trabalho e experiência inigualáveis, tanto para o discente como para a instituição que os recebe.
As universidades integram nos seus planos curriculares estágios que promovam o contacto direto
É neste primeiro passo que o discente enfrenta a realidade profissional escolhida, entre as dúvidas
pensar e atuar diferentes que possam influenciar positivamente as próprias práticas nas instituições
(Fernandes, 2003).
“Neste período de intensa exploração e descoberta de si próprio, dos outros e dos contextos
afetos que, pela sua diversidade, riqueza e intensidade, fazem do estágio um dos momentos mais
ricos e interessantes do percurso dos alunos do Ensino Superior, também sob o ponto de vista
sócio-emocional” (Fernandes, 2003, p.137). Durante este período e mesmo antes de ele começar,
5
angústia ou de realização. Para Abeledo e González Sanmamed (1995) os sentimentos que os
estagiários enfrentam, momentos antes de iniciar o estágio, são semelhantes à perceção de uma
“prova de fogo”, onde deixam de ser alunos, com meras responsabilidades e assumem-se como
adultos, uma transição vivida de forma intensa e expectante (Abeledo e González Sanmamed, 1995
A transição entre o mundo teórico e a vivência na prática, exige uma mudança na própria
forma de estar do aluno em relação a várias áreas da sua vida: a forma como se vê, enquanto
Para além das ricas aprendizagens de competências técnicas e pessoais, o estágio tem uma
forte influência na forma como o aluno é modelado, conforme a instituição e as relações sociais
inerentes. Através deste importante período, o estagiário adquire códigos de valores e normas de
Para além disso, pode também ser sentido como uma divisão do mundo familiar que o
amparou durante o seu percurso, e é agora colocado em situações de ambiguidade. Diversos medos
podem emergir, tornando esta experiência inicial difícil de enfrentar. A casa que o havia abrigado
deixa de existir, assim como os seus pontos habituais de referência que o confortavam e o
ajudavam a conhecer o seu caminho, o seu futuro, o seu “eu”. O abrigo onde outrora podia ser
fonte de calor dos invernos das suas ações, permanece fora do seu alcance, tendo de procurar em
si outras fontes que o façam continuar. Todavia, esta primeira etapa chegará ao fim, e
6
capacidade necessária para prosseguir caminho, encontrando novas referências que tornem o lugar
(Aguirre, 2000; Scorsolini-Comin, Souza & Santos, 2008). Para Vigotski (2007), não é necessário
tomar lugar. Pelo contrário, é através da aprendizagem e do contacto com a mesma que o
desenvolvimento ocorre. Deste modo, é no contacto com o outro, através da significação que o
individuo dá ao mundo social, que este constrói o seu mundo de aprendizagens (cit. in Santos,
2017). Dentro desta linha, é fundamental compreender a importância que o estágio curricular, as
Vários autores assumem a prática, no contexto real, como um dos componentes formativos
mais significativos e com um impacto mais duradouro para os alunos (Knowles, 1980; Kolb, 1984;
Schön, 1987, 1995; Brown, Collins & Duguid, 1989; Lave & Wenger, 1991; Glickman, cit. in
Fernandes, 2003). É neste contacto que ocorre o desenvolvimento do conhecimento da prática, das
fontes exercidas que no contexto profissional estão emersos, quais as rotinas adotadas e os
elementos fundamentais adotados do exercício profissional inerente (Lave & Wenger, 1991 cit. in
Fernandes, 2003).
7
Por outro lado, o estágio curricular é muito mais que a aliança entre a teoria e a prática, ou
aquisição de competências para lidar com as fontes stressoras que futuramente terão que enfrentar.
própria qualidade de vida do individuo. Considera-se que este tempo de crescimento é igualmente
profissional. É através do mesmo que existe o primeiro contacto com o mundo laboral,
primeiro ensaio deste mundo ainda por descobrir vem acrescentar mais conhecimento sobre a
temática escolhida e, por sua vez, diminuir a insegurança profissional. As expetativas de outrora
passam a ser assunções baseadas na realidade. Para além disso, é um importante período de
prática através das suas lentes, onde lhes é permito errar, melhorar, aprender, tirar as suas
conclusões e dúvidas, e onde existe ainda espaço para que possam saber como guiar o seu futuro
É uma importante alavanca para o estudante no seu futuro profissional. Apesar do conteúdo
que se colocam à prova todas as competências adquiridas, e se desenvolvem inúmeras outras. Este
período remete não só para a formação do individuo enquanto profissional, mas como ser
8
O estágio é nomeado por muitos como um contacto de multiplicidade de várias cognições,
2021). É deste modo, um dos elementos de excelência para aprimorar e fornecer as competências
profissionais até então em falta. É a lupa dos espaços que ficaram por preencher, que emergem
agora, e podem ser ocupados por conhecimentos não só da instituição, onde exercem o seu estágio,
como das inúmeras novas pessoas e profissionais que integram esta experiência (Brasil, 2012).
ansiedade ou stress para os estudantes em primeiro estágio. Apesar do desconforto sentido, são
esses desafios que permeiam o salto para níveis mais altos de desenvolvimento. Todavia, é
necessário dosear fontes de apoio que permitam ajudar neste turbilhão de desenvolvimento e
assegurar que o mesmo acontece. É entre o balanço entre as duas componentes que o
desenvolvimento pessoal e profissional ocorre (Serrazina & Oliveira, 2002 cit. in Fernandes,
2003).
potencializar todo o conhecimento até então adquirido, como proporcionar o desenvolvimento das
lacunas académicas. É com base nestas características que o aluno poderá futuramente sentir-se
mais seguro na sua prática, fazer face às exigências eficazmente e possa exercer a profissão
adquiridos, dentro ou fora do ambiente académico até ao momento de estágio, asseguram de igual
forma o sucesso na experiência do mesmo. É numa base solida de teoria previamente bem
9
consolidada que as primeiras práticas podem ser exercidas, o conhecimento ampliado e os degraus
modo, as aprendizagens que cada estudante traz das suas experiências são inerentemente distintas,
não só devido à sua bagagem pessoal, como ao próprio local de estágio (de Freitas, Figueiredo &
Barbosa, 2017).
Transitar do estudo sobre “o outro” para o trabalho na prática com “o outro”, do qual se
vai ser responsável, exige uma mudança e uma reformulação na identidade profissional até agora
construída (Aguirre, 2000). Muitas vezes, pode ocorrer uma crise na própria identidade
profissional, reflexo das primeiras experiências e primeiro contacto com a prática. As vivências
profissional é colocada à prova, numa constante construção e evolução. Deste modo, face às novas
exigências, é construída uma nova perspetiva de olhar o outro, em constante ligação com a ética
vivências de estágio. Todas elas acomodam vivências particulares, idiossincráticas e reflexo não
só do percurso percorrido como da personalidade construída, e dos locais onde ocorrem estes
exigências do próprio papel. Essa barreira é sentida como um bloqueio na criação de relações reais,
10
consigo e com o paciente. Este vazio no ser-se “real” com o outro, autêntico, consoante as suas
identidade profissional, traduzida em vários sentimentos como a frustração (Barbosa, Laurenti &
Silva, 2013).
Num estudo com estudantes que realizaram o seu estágio em contexto hospitalar, os
de inseguranças e inúmeras fantasias sobre este momento. As ações tomadas enquanto estagiário
perante as dificuldades poderão ditar a sua perspetiva mais ou menos positiva sobre o estágio neste
âmbito. O ambiente hospitalar pode ser avassalador para os discentes menos preparados para as
práticas diárias de inúmeros profissionais de saúde. Tal como nos outros locais de estágio, este
deve enfatizar a promoção de condições que vise o acolhimento para o desenvolvimento pessoal,
seja através da apropriação de espaços físicos para o exercício profissional do estagiário, como dos
profissionais que o rodeiam (de Freitas, Figueiredo & Barbosa, 2017; Cella & Sehnem, 2017).
hospitais públicos remetem para as dificuldades que estes sentiram no primeiro contacto com a
O contacto com a própria doença em si, e o estabelecimento de contacto com o “outro” numa
procura de construção de uma relação coesa e ímpar. Nesta vertente, estudantes revelam
dificuldades no entendimento das próprias características limitantes que denotava uma realidade
mais violenta. Com o tempo e diversas consultas, é possível para estes estudantes entrar em
11
Por fim, o estágio curricular é o realizar de um sonho há tanto esperado e idealizado pelos
estudantes durante todo o percurso académico. Esta experiência detém-se como igualmente
significativa nas próprias perceções dos estagiários, mesmo nas dificuldades e medos associados.
limitações enquanto futuro profissional, e o conhecimento mais aproximado do que é ser psicólogo
(Santos & Nobrega, 2017). O sofrimento psicológico que pode estar inerente nestas práticas não
pode deve ser totalmente contido, e assume-se como uma adaptação, e uma nova fase para o
individuo. Excluir esses sentimentos é anestesiar os discentes do sofrimento que por vezes crescer
e amadurecer implica. É através desta adaptação que o próprio estagiário se prepara para a sua
futura prática, e da qual poderá fazer-se companhia no seu próprio caminho profissional,
suportando não só as delícias de ser-se psicólogo, como as amarguras da profissão (Araújo & Boaz,
2013).
2.3. Supervisão
onde o próprio exercício de partilha com os demais elementos do grupo (quando o mesmo acontece
em grupo) ou só com o próprio supervisor (quando a supervisão ocorre apenas para o estudante)
sobre uma área que não dominam, repleta de diversos sentimentos iniciais de desconforto e
ansiedade, tornar-se-á gratificante (Aguirre, 2000; Scorsolini-Comin, et al., 2008). É também nesta
experiência de supervisão que ocorre o pensamento critico sobre as práticas adotadas, e onde se
práticas são indispensáveis nesta construção e evolução do futuro psicólogo. O orientador, que
12
permite ao estagiário a falha e a melhoraria, que orienta o pensamento e a reflexão, e incentiva
nesse sentido o aluno, torna possível construir a identidade profissional do estagiário (Araújo &
Boaz, 2013; Santos & Nobrega, 2017). Os próprios grupos de estágio são um elemento
como essenciais neste elemento intrínseco ao estágio curricular: a discussão dos casos clínicos, a
ressalvar que as aprendizagens sobre as competências teóricas são indispensáveis, mas não são o
elemento fundamental para esta prática. Para além da forte aprendizagem, é na partilha com o
grupo sobre as suas diferentes vivências e perspetivas, sobre os comportamentos acerca de si, como
sobre a atividade comportamental dos colegas, as suas práticas e as dos mesmos que se constrói a
fonte basilar para o maior desenvolvimento. Os erros ou conquistas dos colegas são uma ótima
13
3. Capítulo 2 –Identidade Profissional
A identidade pode ser compreendida através do que é idêntico ao individuo, ou, pelo seu
contraste, através de características que o distinguem dos demais (Woodward, 2014 cit. in
Krawulski, 2004). Deste modo, e assumindo a forte necessidade que os indivíduos possuem na
representação que o sujeito possui de si, assumindo-se como parte de um grupo (Teixeira, 2004).
Esta é moldada de acordo com os elementos presentes numa sociedade, podendo sofrer alterações
inerente das relações sociais que determina o movimento das mesmas. Deste modo, os contextos
que o individuo está integrado, irão ser potencializadores da construção da identidade, podendo
a preferência política ou as associações são alguns dos exemplos de contextos que influenciam a
dinâmica inerente à identidade. Deste modo, este processo estará em constante movimento, em
história, dos seus trajetos, das pessoas com quem privou, das escolhas que praticou, não
sua identidade se transforma de acordo com as suas vivências. Ciampa (1987) apresenta ainda a
identidade como uma articulação entre o que é igual e o que é diferente. Segundo o autor, remete
consoante os conjuntos sociais, a identidade é vista como algo que é dado pelos mesmos e não
como algo temporal que se vai dando (Ciampa, 1987 cit. in de Faria & de Souza, 2011).
14
Dubar (1997) refere que a identidade é concebida através de dois pressupostos
de acordo com os membros dos grupos onde estão inseridos -, e o biográfico – constando o
percurso do individuo, as suas competências e ambições (Dubar, 1997 cit. in de Faria & de Souza,
2011). Para este autor, a identidade que se constrói à cerca de si é inseparável da identidade para
o outro. Todavia, as experiências de vida são idiossincráticas e como tal não se pode viver dentro
da realidade do outro. Acrescenta ainda que a construção de identidade é baseada na tensão entre
os atos de atribuição, que acomodam o que os outros dizem à cerca do individuo, e os atos de
pertença, que corresponde às características que lhe são dadas e que o individuo aprova. Na
primeira – atribuição – diz respeito à identidade para o outro; a segunda – pertença – equivale à
identidade para si. Esta dualidade entre o outro e o “eu” corresponde à tensão derivada da oposição
identidade que é sua e a identidade que o outro criou. Dubar simplifica esta construção através de
dois processos, nomeadamente o relacional – identidade para o outro, numa assunção de caracter
mais objetivo e genérico – e o biográfico – identidade para si onde as transações são subjetivas,
assumindo as identidades herdadas e visadas. Deste modo, ambos os processos assumem um papel
Uma das Teorias sobre a formação da identidade, nomeadamente a Teoria dos Estudos
Culturais, assume duas visões: essencialista e não essencialista. A essencialista considera que na
partilhado por todos os membros de um determinado grupo e são imutáveis ao longo do tempo. A
segunda perspetiva – não essencialista – foca nas analogias ou distinções entre os membros do
grupo e para com outros grupos, podendo sofrer alterações. É a partir da segunda vertente que o
15
ser humano é capaz de assumir diferentes posições de identidade, conforme o seu percurso de vida
categorias, nomeadamente a social, onde consta a política e a cultural, e a pessoal. É nesta linha
consensual que podemos ainda albergar a competência para se ajustar a diferentes ambientes e
A identidade profissional integra uma das inúmeras identidades sociais presentes na vida
do individuo, através do campo profissional, das suas práticas laborais, e do contexto de vida
Por outro lado, a perspetiva sobre si é representada pelo que assume como sendo a sua
reconhecimento que estes possuem acerca da sua atividade (Dubar, 2003 cit. in Borges, 2007).
Para Gravé (2003), a identidade profissional para os outros remete para a identificação em
determinada situação e contexto das aptidões profissionais através da posição enquanto trabalhador
e renumeração. Este autor afirma ainda que a identidade para o próprio individuo está intimamente
relacionada com os seus ambientes sociais, escolares e profissionais (Gravé, 2003 cit. in Borges,
2007).
Para Galindo (2004), a identidade é entendida como o comportamento que o próprio sujeito
caracterizado pelo outro no ambiente social. Deste modo, ocorre uma dualidade de perspetivas
16
individuo tem si e como se reconhece, e o do alter reconhecimento, de acordo com o que os outros
Para outro autor, a identidade profissional pode ser caracterizada pela forma como o
individuo se define, como pretende agir e age, pelas suas escolhas de crenças, as suas
características do “eu”, sendo mais condicionada por experiências na prática. Como tal,
2021). Pode ser concebida através de um processo dinâmico, entre o meio sociocultural e o sujeito
(Carretero & Borrelli, cit. in Kullasepp, 2006). Para Kullasepp (2006), a identidade profissional
e externos, sociais. Assim, as alterações na identidade são o produto entre diversos processos,
sente que está mais capaz do que considera ser um psicólogo, uma vez que possui mais
conhecimento sobre o comportamento humano –, e o nível dos processos pessoais. Neste sentido,
para este autor, a identidade profissional é um regime aberto, em constante mudança, onde constam
2006).
Assim, também se assume a importância que o papel do próprio contexto laboral possui na
profissional. Os profissionais que a integram terão uma própria identidade coletiva de acordo com
17
os meios históricos e culturais (Dubar, 2000 cit. in Santos, 2005). Quanto mais esta identidade
coletiva for desenvolvida, mais sentimento de pertença por parte dos indivíduos sentirão. Através
das atividades formais ou informais em grupo, é possível a construção de uma representação mais
otimizada à cerca de si, dos outros membros do grupo de trabalho ou dos membros com cargos de
Por outro lado, os diferentes papeis que o individuo exerce ao longo da sua vida têm
impacto nesta construção (Bock, 1999; Vozniak, Mesquita & Batista, 2016). É nesta perspetiva
que é possível entender a identidade profissional, através de um conjunto de vários ambientes que
das relações, ou até de estilos de vida (Freund, 1979 cit. in Borges, 2007). Compreendendo o
Para Habermas (1987), o caminho na construção de identidades deve ser entendido por
relações com os outros sujeitos. Contudo, esta visão sobre a identidade profissional torna-se
18
– e assumindo a ideia de identidade profissional pelo autor Kullasepp (2006), apesar de se assumir
como um sistema aberto, onde constam vários constituintes, que estão em inter-relação entre si e
assume-se onde o mesmo estado pode ser obtido, através de diferentes trajetórias e condições
iniciais, com o decorrer do tempo. Apesar dos distintos trajetos iniciais dos sistemas abertos que
podem afluir entre si no ponto de equifinalidade, podem igualmente separar-se após passagem
neste ponto. Deste modo, as metamorfoses podem ser idênticas, mas nunca serão as mesmas
(Kullasepp, 2006).
É possível assumir, após este modelo que, apesar de todos os discentes possuírem
formações em psicologia, esta escolha pode ser permeada por diferentes ideologias e práticas
anteriores, e apesar da sua escolha pós formação convergir na mesma vertente em Psicologia –
Clínica, Educação ou Organizacional, por exemplo – todos eles irão escolher por base a motivos
pessoais ou representações pessoais, que maleiam entre si, de acordo com os anos que lhes
anteviram. Deste modo, a identidade profissional possui um caracter pessoal, e o ser-se psicólogo
assume-se igualmente através de diversas formas, de acordo com o sujeito (Santos, 2013).
e a sua independência (Kullasepp, 2006). Através desta relação dos componentes, é possível a
impacto dos fatores externos. Através deste pressuposto, entende-se que o desenvolvimento e
crescimento do sujeito está interligado aos processos de construção de identidade, orientado por
19
Tomando como exemplo os estudantes de Psicologia. Inicialmente, a compreensão que o
emergem as suas próprias representações. A universidade é o meio para tal – que orienta assentos
básicos na forma de agir, sentir e atuar (Valsiner, 2001 cit. in Kullasepp, 2006).
na própria formação do individuo seja enquanto psicólogo, seja em qualquer área de formação.
homogeneidade inerente, que ocorre no início do percurso, com o decorrer do tempo e adaptações
(Kullasepp, 2006).
diárias em que o individuo se vai envolvendo. Para além disso, é indispensável o ambiente laboral
profissão escolhida. É mais que um produto do Self, sendo um processo que ocorre socialmente,
próprio individuo, e como tal, nunca estará estagnada. A própria formação do psicólogo, concede
a cada individuo a sua distinta identidade profissional, de acordo com as necessidades da sociedade
20
A identidade de um estudante em psicologia nasce no interesse em seguir psicologia no seu
futuro profissional. A representação que possui sobre a profissão em si, sobre a sua prática,
constituem-se como uma importante fonte basilar para a construção do que é ser psicólogo. A
preferência por um futuro como psicólogo, consagra as idealizações e expetativas do próprio curso
académico, assim como do papel que irá exercer na profissão como psicólogo (Krawulski &
responsabilidade nesta própria criação de identidade, e por sua vez identidade profissional. É deste
percurso que decorrem as avaliações que fazem o individuo atribuir significados à sua vida, e por
sua vez, à sua escolha profissional futura. É o conjunto de diferentes experiências que o individuo
internalizou, o próprio entendimento sobre o mundo ao seu redor, a preferência por determinados
valores e crenças, até ao processo de escolha e as suas ações. Destes significados e atribuições
exemplificam-se, a ideia de profissão ideal, a forma como um psicólogo age ou como o psicólogo
se comporta (Aguirre, Herzberg, Pinto, Becker, Carmo & Santiago, 2000; de Espírito & de Castro,
2012). Desde a infância, os professores com quem privou, os amigos, ou familiares, os pais,
possuindo cada um deles opiniões e saberes, e aprendizagens dadas ao individuo que iriam
influenciar a própria identidade do individuo enquanto ser individual e a sua visão sobre a escolha
une todas as identificações, surgindo desse conhecimento as pedras no caminho para o que deseja
Por outro lado, a história pessoal, as habilidades ou capacidades que possuía – ouvir,
21
características que se autoatribuem, possuem alicerces motivadores para a escolha do curso
(Magalhães, 2001).
Como já foi referido, também o percurso académico molda não só a identidade pessoal
própria conceção de valores sobre as suas atividades profissionais, correspondem a um dos maiores
palcos de formação de identidade profissional (Haverkamp, Robertson, Cairns & Bedi, 2011). O
no que diz respeito a si enquanto ser individual, único e unipessoal, enquanto profissional, e
enquanto parte integrante em diferentes grupos sociais. As vivências teóricas e práticas, durante o
tempo académico, constrói e reconstrói o sujeito nos seus valores e práticas particulares,
Camargo, 2012). Salienta-se mudanças sentidas com um carater positivo, as perceções de melhoria
Vasconcelos, 2017).
modificação, os contextos onde exerce a sua profissão contribuirá como outro ponto fulcral para a
componentes que a estes contextos se atribuem, sejam eles coletivos ou individuais, são alguns
O psicólogo nasce com o outro, na relação, nos vínculos criados a partir da/das
22
profissional que ocorrem novas identidades, sendo um caminho considerado pelos estudantes
profissional. O que para o individuo, enquanto discente, significa ser psicólogo, o que identifica
na profissão que lhe agrada, aquilo que o próprio se auto atribui enquanto profissional, e o que os
outros lhe atribuem, são exemplos de representações criadas pelo mesmo. As representações são
em diferentes campos da sua vida – social, cultural e histórico, de acordo com o seu percurso
(Bettoi, 2003 cit. in Santos, 2013). As representações são componentes fulcrais e elementares na
vida de um individuo, tanto a nível cognitivo como afetivo. São componentes organizadores do
1984 cit in. Soczka, 1988). O ser humano determina a informação consoante a realidade, que lhe
permite antever situações e dirigir os seus comportamentos e a tomada de decisão de acordo com
Assim, as representações entendem-se como meios que dão significado ao mundo, e como
longo do percurso do individuo, e conforme as mesmas, o individuo escolhe a sua futura profissão.
A universidade é, como já foi referido, uma fonte de atribuição de significados sobre o futuro
individuo guias fundamentais para a escolha e encaminhamento sobre o seu percurso e futuro
profissional (Kullasepp, 2006). Trata-se de representações sociais, que o discente já traz consigo,
e corrobora ou não dentro da instituição. Quando termina o seu percurso académico, as suas
23
representações serão alteradas conforme as suas vivências e a instituição (Lannaccone, 2006 cit.
in Santos, 2013).
própria construção da sua identidade. Apesar da compreensão sobre o papel das representações
sobre si e sobre o contexto, todo o conjunto das práticas produz importantes ferramentas para a
reconstrução. E porque não só de pacientes se faz uma boa terapia, é importante ressalvar a
ferramenta fulcral no sucesso da terapia, seja através da relação que se cria entre paciente e
terapeuta onde é, de facto, a relação a peça indispensável para que ocorra sucesso, ou, através da
mesma seja possível aplicar técnicas terapêuticas e garantir assim o sucesso da mesma (Abreu,
2003 cit. in Santos, 2013). Todavia, para além de uma boa terapia, a literatura assume a
importância de um bom terapeuta. Um terapeuta com sucesso terapêutico deverá conter algumas
características que irão influenciar positivamente o seu desempenho, como o preservar a aliança
terapêutica de ruturas nas vertentes laços/vínculos, acordos sobre objetivos e/ou tarefas (Bordin,
1979; Safran & Muran, 2000 cit. in Vasco, Santos & Silva, 2003); concordância à cerca do
problema do paciente (Vasco & Conceição, 2002 cit. in Vasco, Santos & Silva, 2003); toma
consciência das diferenças individuais dos seus pacientes para além dos sintomas e sinais do
24
problema (Beutler & Harwood, 2000; Prochaska & Norcross, 2002 cit. in Vasco, Santos & Silva,
diferentes padrões (Benjamim, 2003 cit. Vasco, Santos & Silva, 2003 cit. in Vasco, Santos & Silva,
2003); permitir que o paciente não permaneça nos seus padrões não-adaptativos (Benjamim, 2003
cit. Vasco, Santos & Silva, 2003 cit. in Vasco, Santos & Silva, 2003); fomentar a mudança no
paciente Benjamim, 2003 cit. Vasco, Santos & Silva, 2003); fomentar aprendizagens positivas em
prol de novos padrões (Benjamim, 2003 cit. Vasco, Santos & Silva, 2003); corroborar e enaltecer
as alterações do paciente sobre os seus esforços e acautelar as possíveis dificuldades que poderão
ocorrer; cinge as suas funções e tarefas numa sequência temporal estritamente estratégicos (Vasco
Contudo o sucesso deve permanecer entre os dois alicerces base: o tratamento em si, ou
nos modelos teóricos como das próprias características do terapeuta (Santos, 2013).
25
4. Método
4.1. Objetivo e questões de investigação
investigação:
psicólogo?
futuro psicólogo?
Os participantes deste estudo são 8 estudantes, tendo como critérios de seleção alunos que
tivessem acabado este ano o estágio curricular, no Mestrado de Psicologia Clínica. Os estagiários
realizaram o seu estágio curricular na área geográfica Évora, Portalegre e Reguengos de Monsaraz.
4.2.2. Instrumento:
26
Como instrumento de recolha de dados foi usado uma de entrevista semiestruturada. Foi
Questão 1: Quais eram as suas expetativas sobre ser psicólogo antes do estágio?
psicólogo?
Questão 5: Como é que o estágio contribui para a sua formação enquanto psicólogo?
Tabela 1
entrevista
27
Questão 5: Como é que o estágio contribui para c) Como é que o estágio académico
a sua formação enquanto psicólogo? influência a formação do estagiário enquanto
futuro psicólogo?
O primeiro contacto com os participantes foi realizado via email, explicando-lhes que se
Profissional, nos estagiários. Deste modo, solicitou-se a sua colaboração, informando-lhes que, ao
minutos. Para além disso, garantir-se-ia confidencialidade nos dados recolhidos e destruição das
Dos contactos realizados, todos os que responderam deram uma resposta positiva ao
convite. Deste modo, seguiu-se um agendamento para realização da entrevista, em comum acordo
estudo, assim como a gravação da entrevista, através do consentimento informado (Anexo II). As
entrevistas ocorreram entre Junho e Julho de 2022, após o término dos estágios curriculares, todas
realizadas. Os dados foram analisados através de uma análise temática, uma ferramenta de analise
qualitativa, que procura reduzir os dados obtidos, de forma a extrair apenas os dados relevantes
28
Seguindo o modelo de Attride-Stirling (2001), o material recolhido foi subtido,
seguidamente, a leitura e releitura, procurando reduzir os dados obtidos. A codificação dos dados
teve como critérios os interesses teóricos específicos e as questões que se denotaram salientes e
oportunas para a temática. A conjunção entre estes dois critérios conduziu a 41 códigos que
possuem diretrizes estritas para não levar à repetição dos mesmos e globais o suficiente para irem
de encontro ao objetivo da análise. Os códigos dizem respeito ao elemento mais básico dos dados
específicos. Dos 41 códigos, inicialmente definidos, surgiram 23 temas (ver anexo D). A análise
centrou-se na identificação não só de temas em comum, com dois ou mais dos entrevistados, ou
seja, temas homogéneos e de interesse para a problemática em estudo, como temas que se tornaram
Tabela 2
Temas e subtemas
Subtemas Temas
1. Representação do psicólogo e estigma sobre o exercício profissional Preocupações/Expetativas
2. Receios sobre as suas competências perante o contacto com o
3. Estigmas sobre a aparência jovem estágio
4. Sentimentos de desvalorização do paciente antes de ser estagiário
29
5. Dificuldade no trabalho com equipas multidisciplinares Dificuldades vividas
6. Confronto com as condições físicas do local de estágio durante o estágio
7. Dificuldade em conciliar a exigência de outras atividades
profissionais/académicas
8. Estratégias encontradas através da supervisão e da intervisão Aquisição de estratégias
9. Estratégias idiossincráticas
30
5. Análise e Discussão dos resultados
5. 1. Preocupações/Expetativas anteriores ao início do estágio
Este primeiro tema tem como alicerce as assunções e preocupações antes de contactarem
com a prática profissional: o mundo de espectativas, inseguranças, receios ou até mesmo medos
Antes das expetativas sobre si, enquanto estagiário, e das suas capacidades, é necessário
entende-se o psicólogo como um profissional perfeito, onde não há espaço de erro, mas apenas
atos e palavras corretas, nos momentos certos. Uma perfeição, onde até o silencio era uma dança
infalível, cronometrado naturalmente ao milésimo de segundo, para que não fosse em demasia nem
precário demais.
“Era alguém que tinha lá sempre as respostas certas para as pessoas que tinha de estar
sempre lá para ouvir e que em parte até aparecia que se esquecia que era pessoa.” (P1)
característico do ser humano. Alguém no limiar do excecional, algo que parecia inatingível.
Por outro lado, um agente de promoção de bem-estar no paciente e na equipa onde exerce
o trabalho.
“Era alguém que tirasse uma formação e que depois conseguisse intervir não só no furo
da doença mental, mas também na literacia em saúde. No fundo, às vezes a promover a saúde
mental não tem que só ser intervir na doença, intervir na patologia, mas simplesmente promover
31
a literacia, conversar sobre saúde mental, tecer informações sobre a saúde mental, já estamos a
ajudar a promover. Acho que era isso. O que eu tinha como profissional da psicologia e como
psicólogo antes do estágio era exatamente isso, era fazer a diferença na vida das pessoas que
Um profissional que através de uma formação adequada pudesse exercer a sua prática
profissional, permeando o bem-estar do outro. E mais que permear a saúde mental, promovê-la
através não só do contacto direto com o paciente, mas através de muitas outras ferramentas como
a divulgação de boas práticas, seja em palestras, flyers, ações de sensibilização, entre outros. O
papel do psicólogo passa por atuação para além das quatro paredes dos gabinetes, que em muito
se associam.
“Em determinados contextos penso que marca diferença, bastante diferença em relação
aos outros profissionais com que o psicólogo está conjuntamente a trabalhar porque os psicólogos
são profissionais que podem entender ou têm uma compreensão geral sobre o funcionamento
humano e podem compreender com outra sensibilidade os problemas das pessoas. Por outro lado,
também as competências depois relacionais, a nível de comunicação de certa forma vão sendo
tem também um papel importante nas equipas a esse nível. Penso que pode criar pontos e criar
ambientes onde a comunicação realmente seja usada de uma forma efetiva e ao serviço de ajudar
também os pacientes que estão a ser acompanhados num ambiente multidisciplinar.” (P4)
Para além do papel na promoção, onde existe uma clara sensibilidade, referida pelas
discentes, assentindo uma competência diferente dos restantes profissionais, existe ainda um papel
32
coeso, e eficaz. O profissional cria as posições para que tal ocorra, através de competências que
lhe são mais propensas. Sempre com a intenção de permear o bem-estar do paciente.
Entre o mundo da teoria durante quatro anos de universidade, vêem-se pela primeira vez a
dar o passo na caminhada da prática que ambicionaram. E de entre as linhas de tantos artigos,
livros, anotações ou sebentas, e uma infindável cascata de teoria, dentro de quatro paredes
académicas, reluz o receio daquilo que não se aprende entre as capas e contracapas, o “ser”
profissional.
“Tinha muitas inseguranças não sabia se ia ser capaz de estar lá e de saber o que dizer e
ainda por cima o meu maior medo era se a pessoa começasse a chorar ou algo assim, que eu sabia
contacto real com um paciente, a dinâmica que em muito se fantasia e se vai treinando no decorrer
agora, onde não existem mais as saias da universidade, da família, ou de amigos/colegas, que se
confronta com a realidade. É aquele momento, a derradeira prova dos nove que dita muitas vezes
acompanhar alguém que precisa de ajuda psicológica. Via-me como alguém competente a nível
teórico, alguém também com boas noções a nível técnico, mas tinha dúvidas de como depois
33
aplicar no terreno, na prática esses conhecimentos. Dúvidas acerca das habilidades para o fazer.”
(P4)
E vários são os estudantes a quem este sentimento bate à porta. As dúvidas sobre a sua
avaliação sobre se as suas capacidades até então desenvolvidas, e se estas são suficientes para
Por outro lado, e como referido no subtema acima, as discentes idealizavam o psicólogo e
o seu exercício profissional, através da representação de um profissional onde não existe falha ou
corresponder à expetativa idealizada não só de si, mas da representação que possuem sobre a
profissão.
Numa era onde a imagem é um marco importante na vida e na saúde mental de muitos
adolescentes e adultos, surge o estigma sobre a aparência jovem associada ao medo de que o outro
“Via-me com receios. Como eu tenho um ar muito jovem, eu via-me como aquela psicóloga
que não ia ser respeitada porque era muito jovem. Associa-se a juventude à inexperiência. Isso
deixava-me com receios do respeito que os outros iam ter por mim.” (P6)
Mencionado por esta discente, receando que fosse um entrave na sua prática profissional,
e que dificultasse o seu trabalho com os pacientes. E talvez, para além dos pacientes que
34
Como referido, o processo de antever o futuro profissional consagra uma infindável
panóplia de níveis que conduzem aos estigmas ou assunções que os discentes podem ter. Em
qualquer profissional, sendo ele estagiário ou não. O tema da idealização, falado anteriormente, e
o contacto com a realidade, vem desmantelar as expetativas criadas e dar as cores com que se pinta
a prática profissional. E é a forma como se encara o pincel, as cores e a tela, que se cria um bom
artista.
Tal como qualquer estudante possui as suas idealizações sobre a prática, também o outro
as vai criando. O confronto com assunções dos pacientes pode ter um carater por vezes destruidor,
onde se desacredita das suas próprias capacidades de exercer a profissão, especialmente sendo este
“Eu acho que às tantas tive um bocadinho perdida porque também fiquei muito tempo com
um só caso e era uma pessoa que era particularmente difícil. Então era um bocadinho difícil
manter a perspetiva de que de facto as coisas podiam melhorar. Então a fase inicial do estágio
começou por ser muito boa, entrar na prática e tudo era muito giro e havia muita coisa para
explorar com a pessoa. Depois quando as coisas começam a correr um bocadinho pior e eu só
tenho aquela pessoa, todas as semanas a mesma pessoa, aí eu acho que acabei por perder um
35
Como já referido, este é primeiro momento de prática profissional, onde muitos estudantes
colocam à prova as suas próprias capacidades de exercer a profissão. Compreender que por vezes,
os pacientes podem de facto dificultar o trabalho do estagiário, fazendo o mesmo descreditar das
suas capacidades. Deste pensamento pode advir desânimo, stress ou sentimentos de frustração.
“Eu tive muito tempo só com uma pessoa. E esse utente foi muito desafiante porque ele
desvalorizava muito o que nós fazíamos e a mim enquanto terapeuta. Foi muito difícil ao início ir
para além disso, e perceber que esta pessoa simplesmente é assim.” (P2)
vários profissionais, com ideias diferentes, opiniões distintas, vivências opostas, formas de exercer
a sua profissão divergente, podem gerar conflito, e complicar a gestão do exercício profissional
comum.
“Por isso, nesse sentido, também foi um bocadinho complicado e acho que é complicado
depois é muito difícil. São muitos profissionais, e isso pode ser um bocadinho mau. Isso pode se
exercício profissional (Schultz & Cruz, 2009). No entanto, este trabalho não significa
profissional que estavam a realizar, e que o mesmo não se dirigia a si, a nível individual, quando
o trabalho que se realiza é de carater multidisciplinar, a prática pode tornar-se mais difícil.
36
“Depois aquela questão de trabalhar em equipas multidisciplinares, apesar de muitas
vezes me ajudarem, eu acabava por achar que de alguma forma levava com algum antagonismo
que podia estar a acontecer entre os psicólogos e os psiquiatras, por exemplo.” (P5)
São conhecidas as dificuldades que muitas vezes estão ligadas ao exercício profissional de
qualquer profissional no SNS. A resposta que se consegue dar, fica muitas vezes aquém das
necessidades do utente. Apesar dos estagiários serem um bom recurso para fazer face às
dificuldades, estes mesmos enfrentam as dificuldades que muitos dos profissionais se deparam no
Nacional de Saúde – duas no Centro de Saúde de Évora, uma no Hospital de Évora e uma no
Hospital de Portalegre. Desta experiência pode relatar-se o que muitas profissionais vivem no seu
dia-a-dia.
“Houve algumas dificuldades em termos dos recursos mais físicos no local de estágio, com
indisponibilidade às vezes de gabinetes no local de estágio. Isso em alguns momentos foi um tanto
ou quanto desagradável. E penso que é capaz de ter impactado em algumas situações o curso da
consulta porque chegou a acontecer, por exemplo, ser interrompida quando estava a atender
algum paciente. Ou de não poder terminar a consulta no gabinete onde iniciado porque havia esse
problema de várias pessoas precisarem de gabinete para darem consultas, fossem médicas ou não
médicas. Isso foi realmente desagradável, talvez contraprodutivo até, mas não vejo como tendo
37
sido uma catástrofe. Era melhor que não tivesse acontecido, mas penso que não foi catastrófico
também.” (P4)
conduz ao aumento do conforto e auto-estima por parte dos discentes na sua atividade profissional
(Fernandes, 2003). Deste modo, quando existe uma carência nas condições físicas do local de
compromisso com outras tarefas pessoais, académicas ou profissionais das estudantes. Para além
acrescentam aos seus afazeres a realização da dissertação. É o culminar entre estas duas etapas que
Por vezes, a dificuldade na gestão de cumprir a exigência entre estas duas tarefas, deu lugar
a duros sentimentos de frustração, pressão ou até mesmo cansaço extremo por parte das estudantes.
“Não desfrutei tanto do estágio porque tinha de trabalhar para a dissertação e tinha
aquela pressão de entregar coisas a tempo. Acho que me poderia ter-me dedicado muito mais
“No estágio em si eu não sentia muita pressão. Eu sentia pressão no estágio apenas porque
tinha tempo encurtado porque tinha a dissertação para fazer. Com a dissertação, eu tinha de
entregar coisas a tempo, às vezes de um dia para o outro. Às vezes isso atrapalhava-me porque
tinha que fazer o meu trabalho diário do estágio. Eu senti a pressão do estágio porque tinha a
38
dissertação para fazer. Houve momentos em que eu chorava, chorava bastante. Pensava “será
que é mesmo isto que consigo fazer? Será que eu vou conseguir continuar”. Mas o que me levou
sempre a continuar foi gosto que eu tomei pelo que estava a fazer enquanto estagiária de
psicologia. Mas a pressão teve sempre presente. Eu cheguei a um ponto que eu estava a tentar
Por outro lado, a dificuldade que atravessa uma trabalhadora-estudante neste último ano de
estágio. Referido por uma das estagiárias, como um momento de desgaste total das suas
não conteve a realização da dissertação, uma tarefa que permitiu ficar para o próximo ano.
“Eu sou trabalhador-estudante, e isso também acarretou o conciliar com outras vidas,
com outras dimensões da vida. Isso foi particularmente difícil. Isso não foi particularmente
positivo porque efetivamente exigiu durante muitos meses uma ginástica tremenda, e na verdade
exausta mesmo. Estava mesmo exausta. Já não era cansaço, era exaustão. Portanto essa parte aí
não foi propriamente positiva, mas não podia parar. Era algo inevitável e, portanto, tinha que de
alguma maneira superar, conciliar com as restantes responsabilidades e deveres que já tenho.”
(P4).
depressão, exaustão, ou até mesmo o esgotamento. Para além dos mesmos, existem ainda sintomas
físicos como a hipertensão, problemas de sono, perda de peso, entre outros (Fernandes, 2003).
39
Em congruência com o presente estudo, estagiários de psicologia que realizaram a sua
Apesar das dificuldades encontradas serem elevadas fontes de stress sentido pelos
estagiários, estas podem ser igualmente vistas como um confronto positivo para os discentes. Para
Antonovsky (1994), quando este processo ocorre, o jovem vê-se impelido a atingir diferentes
compreende de que forma consegue gerir o obstáculo com sucesso; e por último, a significação,
onde o sujeito atribui um significado pessoal à experiência vivida (cit. in Fernandes, 2003).
5.3.Aquisição de estratégias
Após as dificuldades encontradas no estágio, as estudantes referiram as estratégias que
foram igualmente desenvolvidas através do mesmo. Deste modo, as estratégias referidas foram
A maioria das estratégias apontadas pelas discentes, remonta para fontes como a supervisão
“Porque nós levávamos as descrições, líamos as transcrições, mas depois ela perguntava
sempre como é que eu me tinha sentido, como é que tinha sido aquele momento. E no início era
um pouco difícil para mim porque eu estava tão concentrada em perceber como é que a pessoa se
40
estava a sentir, como é que a criança se estava a sentir, esquecia como é que eu própria me estava
a sentir” (P1)
“Mas a minha pessoalmente foi muito positiva. Eu acho que também foi muito o conter
das angústias, não na forma terapêutica, mas quando nós conseguimos criar a ligação com o
supervisor, pelo menos eu senti, quando nós conseguimos criar uma certa ligação com o
supervisor, eu acho que eles conseguem conter muitas das nossas angústias de terapeutas
iniciantes. Era chegar e dizer, acho que esta sessão não correu muito bem porque “tal, tal” e
depois ver em conjunto com alguém muito mais experiente do que eu, o que é que eu fiz mal, o que
é que eu podia ter feito melhor, o que é que eu fiz bem, mesmo quando eu própria não consigo ver
isso. Portanto ajudava muito a dar perspetiva sobre aquilo que eu andava a fazer com os utentes.”
(P2)
duas fontes de conhecimento. Uma tradução da prática encaminhada com a teoria, revelando ao
estagiário como pode proceder no futuro. Uma fonte de estratégias inigualável (Santos, 2017).
Estudos apontam que, do ponto de vista dos supervisores, também existe uma opinião
positiva sobre o aumento das capacidades dos estudantes após o estágio. Neste sentido, assente-se
uma adição de conhecimento à cerca do conteúdo das perturbações, das técnicas inerentes, assim
como das possibilidades de tratamento (Simons, Fehr, Blank, Connell, Georganas, Fernandez,
Peterson, 2012).
41
Também a Intervisão remete para um processo evolutivo e fundamental, mencionado pelas
discentes.
“O meu tutor sempre me deixou muito à vontade. Mas dizia-me para escrever os discursos
direitos e ele fazia questão depois de os ler. Dizia-me também para escrever o meu diário. Aquilo
Tem o intuito de facilitar a entrada na prática profissional, permeando uma boa gestão dos
desafios inerentes à prática, assim como a promoção de uma relação de permuta de informações,
“Martirizava-me, primeiro que tudo. Ficava mal. Depois tentava comunicar com a minha
tutora, e ela ajudava-me sempre imenso. Dizia que estava com dificuldades nisto.“ (P3)
Outra importante ferramenta proporcionada pela intervisão diz respeito ao incentivo dado
“E o meu tutor também me ajudou muito nessa contribuição porque ele sempre me fez ter
um papel ativo no estágio. Sempre me fez tentar perceber que ser psicólogo não é só estar ali
sentado a ouvir alguém, era também trabalhar nesse caso em casa e refletir sobre isso depois. Ele
dizia-me para escrever os discursos diretos sobre as consultas. Mas também percebi mais que isso
“Ou seja, o estágio com o meu tutor só me ajudou a evoluir na minha formação porque
tudo o que eu não sabia fazer, ou tudo o que eu achava que estava ou ideias que levava que achava
42
corretas foram todas reformuladas por eles. Ajudou-me a perceber coisas diferentes mesmo no
num conhecimento ampliado sobre a temática exercida, sobre si enquanto ser humano e sobre si
enquanto profissional.
Para além das estratégias que as discentes encontraram no confronto com outros
profissionais, também elas conseguiram encontrar o seu caminho no enfrentar das suas
dificuldades.
“As principais ferramentas foi sobretudo a leitura. Ler. Se bem que fiquei um bocadinho
presa à leitura, mas foi a leitura que me ajudou muitas vezes a desbloquear. Ler autores como
Coimbra de Matos, a Manuela Fleming. Ler autores que fizessem sentido e que falassem sobre
aquela faixa etária ou sobre aquela patologia que podia estar ali inerente, ou sobre aquele
funcionamento psíquico. Isso fez-me desbloquear muito. Depois foi também escrever.” (P7)
A estratégia mais mencionada pelas estagiárias ao longo das entrevistas, remete para a
leitura e a procura pela teoria durante o estágio. As premissas variavam. Umas procuravam autores
funcionamento específicos e com os quais estariam a trabalhar. Apesar de pequenas diferenças que
poderiam conter, é na teoria, - artigos científicos, livros – que as discentes se debruçavam para se
fazer acalmar e continuar a sua prática profissional. Um ato que permaneceu mesmo depois da
43
transição entre a teoria e a prática. Talvez como um porto seguro no qual se viam calmos e com
“Eu acho que foi assim um caminho com muitos retrocessos. Era avançar um bocadinho
depois parecia que já não estava tão bem. Depois lá lia mais umas coisas e sentia que me
ajudava.” (P2)
assim como o contacto com os profissionais dentro do local de estágio. A primeira dar-lhe-ia mais
segurança no seu trabalho e uma visão mais clara do que poderia trabalhar com os seus pacientes.
A segunda estratégia tende para um aproximar e um criar de laços no local de estágio, tornando
“Tentava organizar o meu dia, via que pacientes ia ter. Também pode ser uma
característica minha ter tudo organizado. Depois eu tentei conhecer todas as pessoas que
trabalhavam na instituição. Às vezes ficava só a ler artigos para me envolver mais com o estágio.
Ou simplesmente ia ter com enfermeiros ou segurança, e tentava conhecer mais sobre aquele
serviço através de histórias que me iam contando. Tentar perceber melhor como é que era o
trabalho deles ali, se eles gostavam de estar ali. E desabafava com eles. Eu criei mesmo boas
Por fim, as estratégias de conforto que são íntimas e facultativas de cada aluna e o tempo
social, que permite às mesmas, descentrar os seus pensamentos. Nesta primeira, cada pessoa possui
as suas próprias estratégias que desenvolve ao longo da sua vida, e a acalmam. Ouvir determinado
estilo de música, o desporto, séries ou filmes, são alguns dos exemplos. Por outro lado, a
importância do tempo social. Como fonte de conforto, de abraço que acalma as inseguranças, ou
44
até os medos, através de quem se conhece. Uma fonte imprescindível no combate a todas os
obstáculos da vida.
“Às vezes chegava, já não mexia em coisas do estágio porque já não conseguia. Ouvia
música, ia ver uma série, ia fazer caminhadas, partilhava muito com a minha tutora. (...) também
falava com a minha família e com os meus amigos. Não contavam ao detalhe obviamente, mas
também falava com eles. E acho que a minha própria cabeça foi querendo formatar para isso,
Os pares tornam-se assim um dos apoios mais mencionados na teoria, como fonte de
estratégia mais importante. A partilha das tensões, ou apenas o contacto com alguém vem acalmar
o stress sentido pelos estagiários (Head et al, 1996, cit in. Fernandes,2003).
conhecimentos teóricos até então estudados, e o crescimento teórico que se adquire através deste
período de aprendizagem. O estágio vem não só colocar em prática os conhecimentos até então
estudados, aprimorá-los e encontrar os espaços vazios que ficaram durante os quatro anos teóricos.
O que até então permanecia na imaginação, numa imagem criada por cada estudante sobre
tudo o que estudou, tudo o que apreendeu, tudo o vivenciou, vem agora debater-se com a imagem
real, a cores e ao vivo, com sons dos agudos aos graves, e numa paleta de cores infindáveis. É o
“Foi importante também porque lidei com casos em que efetivamente os problemas
passavam por alguma ordem de condição psicopatológica e portanto isso permitiu-me também
45
adquirir mais conhecimentos, não só em termos de linguagem mais técnica e mais que um tipo de
contexto, hospitalar, como também perceber na prática o que é que eram aqueles conjuntos de
sintomas que tantas vezes foram lidos nos livros e em alguns, em algumas constelações havia
alguma dificuldade de perceber efetivamente o que é que aquilo era, como é que se passava e
como é que vivia a pessoa com aquele tipo de sintomas, com aquele tipo de queixas.” (P4)
“Eu acho que me ajudou consolidar muitas coisas que na teoria tivemos 4 anos ou que nós
estudávamos, mas que depois de alguma forma aquilo não fazia assim tanto sentido. Estás-te a
agarrar mesmo aquilo e à prática e tudo mais, de alguma forma consolidas as ideias que tinhas
anteriormente.” (P5)
A prática vem permitir à estudante saber quem é, enquanto profissional. Permite uma
“Era mais restrita comigo mesma e no geral, acho eu. Acho que com o estágio e também
com mestrado tive que a aprender a soltar-me mais e a ser mais flexível. E, acho que o estágio
também me ensinou muito que isto é uma área imprevisível. Isto aqui foi algo que a teoria, apesar
de referir, eu não tinha bem a perceção até passar por isso. Acho que é uma área muito
imprevisível e por ser imprevisível nós temos que que ser flexíveis e aqui depois também e de testar
também a nossa capacidade de adaptação às situações e às coisas. Acho que ser flexível foi algo
que eu que eu não era tanto e que agora com o estágio acho que mudou. A minha flexibilidade às
46
exigências. Uma parte delas que permaneciam desconhecidas em si. Como um músculo que faz
parte do corpo, mas apenas se sente quando é colocado à prova, se esforça e se dá uso.
“Descobri que afinal tenho uma capacidade muito maior de escuta que aquela que achava
que seria capaz de ter. Descobri que sou capaz de não estar sempre a emitir alguma opinião, ou
ideia. Descobri também por mais difícil que isso se tivesse apresentado, descobri que sou capaz
ficar demasiado inquieta com isso, apesar de preocupada, mas não perturbada ou inquieta.” (P4)
elaboração. Eu não conseguia elaborar assim tantos pensamentos e como, por exemplo, quando
nós comunicamos com o paciente, elaboramos. Isso é sempre um trabalho complicado.” (P6)
Muitos estudantes apontam que para além das competências profissionais que se viram a
adquirir ao longo do processo do estágio, dado o contacto com casos reais e todas as perturbações,
também a nível identidade profissional, onde se viram esclarecidos sobre as suas preferências,
retirando do fruto as respostas que necessitavam para o futuro (Simons, Fehr, Blank, Connell,
onde a estagiária está pela primeira vez a pisar, é deveras um contacto de fortes aprendizagens.
referi era multidisciplinar, e isso fez com que fosse possível eu estar a colocar ideias, ouvir e
também partilhar as minhas próprias ideias com outros profissionais. Disso resulta sempre uma
aprendizagem mais rica. Portanto penso que essa questão de teres escolhido um estágio onde
efetivamente este tipo de interações era possível, foi muito importante e foi muito benéfico porque
47
me ajudou a desenvolver competências a nível multirelacional e depois também pelo interesse na
patologia.” (P4)
stress e incompreensão, é por outro lado, consentida através de uma lente mais positiva. A
constância da sua importância é em muito referida, mas no contacto com a mesma que se detém o
crescimento inerente sobre a temática. Uma das consequências positivas que o estágio e a prática
funciona uma equipa e como é que nós às vezes podemos ter um assunto que queremos debater,
mas há certas coisas que simplesmente temos de concordar. Há assuntos que não podem ser
debatidos, mas há outros podem e que devem. Deve de haver comunicação. A questão da
comunicação foi outra que eu sinto que ajudou muito na minha formação. Desenvolvi muito a
minha comunicação. Nunca considerei que tivesse qualquer dificuldade em termos de comunicar
com os outros ou em comunicar com a equipa. Contudo, sinto que ainda desenvolveu mais, que
“E é muito bom, principalmente a orientação do estágio curricular, pelo menos a minha parte foi
uma experiência muito positiva, quer da parte das orientadoras da instituição, quer da parte da
orientadora da universidade. Acho que é uma segurança que nós temos, ou seja, nós temos essa
novidades inerentes ao estágio. A importância da orientação passa muitas vezes pelo traduzir
48
dessas experiências que se tornam confusas dentro das suas mentes. O encaminhar no percurso
correto, o acalmar, o refletir, o desenvolver ainda mais o espírito critico. Um caminho pela prática,
através de um rigor ético que traduz as experiências vividas e lhes dá sentido (Barletta, Fonseca &
Delabrida, 2012). Um alicerce que permite a evolução do estudante, entre o caminho da prática e
“Eu definia a as reuniões de orientação como uma lufada de ar fresco. Eu depois de uma
“ok agora na próxima consulta por onde é que eu vou iniciar, o que é que a pessoa me deu”.
Porque nas últimas consultas, quinta ou sexta a pessoa já vinha com aquela ideia e começava
logo a falar. Mas antes disso era eu que tinha que introduzir.” (P7)
onde o orientador conduz o discente de acordo com o seu conhecimento (Gauy et al., 2015). Ocorre
partilha e troca, onde não só o orientador e o estagiário, como os restantes elementos do grupo.
Existe uma construção onde todas as partes fazem o cimento de uma casa de conhecimento. Onde
existe espaço para ouvir, para intervir, para dialogar, para partilhar, para ser. Para além do
conhecimento que advém desta partilha e troca, ocorre um conhecimento do seu papel enquanto
estagiário, uma construção desse mesmo ramo, para culminar no produto final, o ser profissional
Para além das competências profissionais que os estudantes levam na mala de bagagem
para o seu futuro profissional, existe o crescimento pessoal que em muito foi mencionado pelas
49
discentes. Novamente, uma redescoberta e desenvolvimento de características que se apreendem
ao longo do exercício profissional e que se levam para fora das instalações. Como ser global que
o estudante é.
local onde realizei o estágio é um sítio que trabalha com comportamentos aditivos e dependências
e muitas vezes tínhamos todo o tipo de pessoas, desde aqueles drogados típicos de estereótipos,
todos degradados a nível físico, contextos familiares, sociais também degradados.” (P3)
Por vezes, apenas o confronto com o sofrimento do outro, com a dor, com a realidade ou a
própria relação terapêutica que se cria, transforma o profissional. Numa troca benéfica entre o
“Acima de tudo tornei-me mais confiante de mim e perceber que isto não é um bicho de
sete cabeças e que todos nós temos as nossas falhas tal como eu tenho as minhas falhas” (P1)
estágio não só a competência como o crescimento pessoal. Foram identificadas como produto do
(Monteiro, 2010).
O confronto com a realidade profissional pode, por vezes, ser avassalador. Por mais que se
inerentes, não há descrição que seja mais fiel que a prática no próprio ambiente.
50
As estudantes de mestrado de psicologia clínica mencionaram as dificuldades que sentiram
nesse confronto com a realidade do seu estágio. A complexidade dos casos, a falta de recursos que
“Mas esta aqui, se calhar muito particular, pela complexidade que tem dada a muitos
confrontos com casos difíceis, complexos e depois quando se é profissional de saúde e se saúde
está numa posição de ajuda, há aquele desejo de querer responder efetivamente às necessidades
do paciente e ajudá-lo a superar essas dificuldades, os seus problemas, as suas queixas, os seus
sintomas.” (P4)
Por outro lado, e numa resposta face a este confronto com pura realidade do exercício
profissional em psicologia, viram-se a enfrentar dilemas entre a qualidade das suas consultas e a
talvez esteja 600 pessoas e então há pessoas à espera há 5, 6 anos (...). Logo aí eu acho que é um
bocadinho frustrante. Nós vamos ficar com 4 pessoas no meio de 600. É aquela gota no oceano,
que fará certamente diferença, mas nunca fará tanta diferença quanto nós gostávamos ou
esperávamos, ou pelo menos quanto eu esperava. Logo ali já mudou muito. Depois, no centro de
saúde, o que a literatura diz é que a intervenção deve ser 5 a 6 sessões e eu pessoalmente acho
que 5 a 6 sessões não dá para nada. Às vezes eu ia na 5 sessão e eu podia definir para mim, só
tenho 7 sessões com esta pessoa, eu só posso explorar a vida dela em 2 sessões. E é claro que não
51
6. Considerações Finais
A presente investigação veio confirmar, na sua maioria, os dados da revisão de literatura. As
futuras psicólogas que terminaram este ano o seu estágio curricular, frequentando o mestrado na
Universidade de Évora, vieram reafirmar a importância desta primeira experiência nas suas vidas,
prática profissional, sobre a sua própria capacidade e sobre a profissão do psicólogo. Como
mencionado, ao longo da nossa vida vão se criando representações de tudo o que nos rodeia e o
futuro profissional não se deixa de lado. Características mencionadas por mais estudantes, em
diferentes investigações.
Contudo, um ponto neste tema que se destaca pelo seu caracter incomum de outras
havendo espaço para erros. Deste modo, a exigência que as discentes possuíam de si sobre as suas
acompanhar a representação por elas criada. Seria benéfico perguntarmo-nos de onde possa advir
esta representação. Será da internet? Dos documentos abordados na Universidade? Será a ideia
que as discentes vão partilhando entre si? Na minha perspetiva, as diferentes fontes que servem
de guias para a prática profissional, onde espelham diálogos ou descrições do que acontece em
consulta, fazem conter sempre profissionais perfeitos. Não existe descrição de falhas, ou não, pelo
menos, nos mais comuns e lidos pelas alunas. Não existe um capítulo que explique o espaço da
falha, do erro, das palavras menos corretas, mas sim de como se age sempre idilicamente. Quais
as técnicas certas a usar. Como se deve comportar em determinados casos ou frente a especificas
perturbações. Talvez pensar sobre como se age quando a técnica falha ou quando as palavras
52
usadas não foram bem introduzidas. Talvez devesse haver mais literatura para que o medo de errar
pela prática profissional, mas pelo exercício de uma estagiária, provocando dificuldade no
trabalho. Nesta linha, também o trabalho com equipas multidisciplinares acrescentou às discentes
uma dificuldade no seu exercício profissional, e, pelo seu contrário, fontes de fortes aprendizagens.
Além disso, refere-se ainda as condições físicas do local de estágio, onde as faltas de gabinetes
uma trabalhadora-estudante. Foi referido a dificuldade no cumprimento das datas previstas para a
entrega da dissertação, enquanto se frequentava e trabalhava para o estágio curricular. Por outro
lado, a gestão da atividade laboral em consonância com a prática do estágio, acarretou níveis de
elevado stress e exaustão. Este tema veio de encontro ao mencionado pela teoria o que pode, por
um lado, dirigir a uma discussão sobre a possibilidade de diminuição desses obstáculos nos
também possuem no amadurecimento do sujeito, seria possível diminuir alguns deles em prol de
a lidarem com diversas fontes de stress no futuro. A supervisão é referida como uma fonte
inigualável de suporte, onde há espaço para a discussão entre o supervisor e a aluna, assim como
53
a partilha de opiniões por parte de outras discentes. A partilha vem não só permitir à estudante
explorar ideias que até então não lhe tinham surgido, como possibilitar o contacto com casos
diferentes que não estão abrangidos no seu contexto de estágio. Uma amplificação de
conhecimentos. Por outro lado, a intervisão, como um guia da prática profissional, que apresenta
o contexto e insere a sua prática nas mais variadas áreas. Este subtema é deveras mencionado não
só pela teoria como pela amostra presente no estudo. Tanto o orientador do local de estágio, como
o orientador da Universidade representam para as discentes uma fonte de suporte e ligação entre a
escrita de reflexões ou das suas práticas diárias, a leitura de livros de temáticas singulares ou
profissionais do local de estágio, como a procura por um ombro amigo ou familiar, que os acolha
e os faça acreditar em si e nas suas possibilidades. Estas estratégias são produto de características
individuais das discentes podendo ser compreendidas como possíveis estratégias para futuros
estagiários.
Por fim, os inúmeros ganhos associados ao estágio académico referidos pelas estagiárias.
criação de uma nova perspetiva da profissão do psicólogo. Deste contacto advém igualmente um
pessoais, como a nível profissional, onde através do contacto com os pacientes que figuram as
uma panóplia de estratégias mais abrangente. Nesta linha, o contacto com outros profissionais,
54
seja através da equipa onde se inserem – equipas multidisciplinares -, intervisão ou supervisão,
Deste modo, os resultados do presente estudo permite refletir sobre a realidade dos
estagiários de mestrado de psicologia clínica, através das suas vivências. Esta reflexão pode levar
a possíveis melhorias em anos futuros, permitindo a saída de profissionais cada vez mais capazes.
Um ganho para todos. Noutra perspetiva, este estudo pode ser um guia de práticas que acalmem
representações, que permitam aos discentes, que ainda não iniciaram os estágios curriculares,
percorrer os primeiros dias de prática profissional mais calmos e através de experiências verídicas.
limitação. Abranger um número mais elevado de estagiários pode resultar em mais conhecimento
e uma possibilidade de abrangência de mais pessoas, mais contextos, mais vivências. Deste modo,
discentes serem do sexo feminino, todos eles frequentaram a mesma formação académica. Deste
modo, para estudos futuros, igualar o número de estudantes do sexo feminino e masculino assim
55
Referências
Aguirre, A. M. B., Herzberg, E., Pinto, E. B., Becker, E., Carmo, H. M. S., & Santiago, M. D. E.
49-62.
Araújo, L., & Boaz, C. (2013). Sentimentos sobre as primeiras práticas do estagiário na
Attride-Stirling, J. (2001). Thematic networks: an analytic tool for qualitative research. Qualitative
Barbosa, F. D., Laurenti, M. A., & Silva, M. M. (2013). Significados do estágio em psicologia
Barreto, M. C., & Barletta, J. B. (2010). A supervisão de estágio em psicologia clínica sob as óticas
56
BORGES, M. P. A. (2007). Professores: imagens e auto-imagens; Tese de Doutoramento em
Universidade de Lisboa
Brasil, V., Felipe, C., Nora, M. M., & Favretto, R. (2012). Orientação profissional e planejamento
Caires, S., & Almeida, L. S. (2000). Os estágios na formação dos estudantes do ensino superior:
Cella, M., & Sehnem, S. B. (2017). Percepção que os acadêmicos do curso de psicologia da unoesc
Ciampa, A. C. (1999). Identidade. In S. T. M. Lane & W. Codo (Eds.), Psicologia social: o homem
Espírito, Á. C. O., & de Castro, P. F. (2012). Reflexões sobre a formação da identidade profissional
57
Del Prette, G., Del Prette, Z. A. P., & Meyer, S. B. (2007). Psicoterapia com crianças ou adultos:
para a prática no campo da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia, 5(1), 95-
121.
Minho).
Fialho, J. (2017). A construção da identidade social e profissional através da ação das redes de
Gauy, F. V., Fernandes, L. F. B., Silvares, E. F. M., Marinho - Casanova, M. L., & Löhr, S. S.
58
Gonçalves, M. (2004). Identidade e narrativa pessoal. In F. Teixeira. (Eds.), Identidade pessoal
Haverkamp, B. E., Robertson, S. E., Cairns, S. L., & Bedi, R. P. (2011). Professional issues in
Florianópolis.
Krawulski, E., & Patrício, Z. M. (2005). Porque pessoas escolhem a psicologia como profissão?
Kullasepp, K. (2006). Becoming professional: External and intrapsychological level in the service
Mele, E., Español, A., Carvalho, B., & Marsico, G. (2021). Beyond technical learning: Internship
as a liminal zone on the way to become a psychologist. Learning, Culture and Social
59
Monteiro, R. M. (2010). Vivências e percepções de Estágio em Psicologia: estudo comparativo
Nascimento, I., Ferreira, S., & Rodrigues, P. (2019). Keep on Going: Apoio à escolha estratégica
https://www.ordemdospsicologos.pt/pt/noticia/3107
Rudnicki, T., & Carlotto, M. S. (2007). Formação de estudante da área da saúde: reflexões sobre
Santos, Aline Carla dos & Nóbrega, Danielle Oliveira da (2017). Dores e Delícias em ser
515–528
Universidade de Évora).
60
Scorsolini-Comin, F., Souza, L. V., & Santos, M. A. dos. (2008). Tornar-se psicólogo: experiência
Simons, L., Fehr, L., Blank, N., Connell, H., Georganas, D., Fernandez, D., & Peterson, V. (2012).
and Rehabilitation final year students in higher education. South African Journal of
Vasco, A., Santos, O., & Silva, F. (2003). Psicoterapia sim!: Eficácia, efetividade e psicoterapeutas
psicologia”, Lisboa.
Vozniak, L., Mesquita, I., & Batista, P. F. (2016). A Identidade Profissional em análise: um
61
ANEXOS
Anexo A. Mapas
1.3. Estigmas
1.1. Representação
1.2. Receios sobre sobre a
do psicólogo e
as suas aparência
estigma sobre o
competências jovem
exercício
profissional profissionais
63
4. Ganhos resultantes do estágio
64
Anexo B. Guião de Entrevista
Questão 1: Quais eram as suas expetativas sobre ser psicólogo antes do estágio?
Questão 2: Como é que o estágio contribui para a sua representação da profissão do psicólogo?
Questão 5: Como é que o estágio contribui para a sua formação enquanto psicólogo?
65
Anexo C. Consentimento Informado
Consentimento informado
Estagiário(a)
Investigador(a)
66
Anexo D. Tabela 1
67
Sentia-me completamente
insegura
Tinha um ar muito jovem
Associavam a juventude à
inexperiência
Pressão no estágio porque
tinha a dissertação para
entregar
Chorava bastante
Deu-me um ataque de
ansiedade
Tive um esgotamento
Inexperiência
68
- Confronto com diferentes Cresci na forma como vejo 13. Estágio como espaço
desafios as pessoas de confronto com os
-Experiência sobre si Dissolver dúvidas estigmas e assunções
enquanto profissional Desenvolver habilidades 14. Estágio como espaço
-Compreensão da prática Compreendi a dificuldade da de confronto com a
-Aumento de área realidade do exercício
conhecimentos sobre a Compreensão que ainda há profissional
teoria muito para aprender 15.Estágio como fonte
-Aprendizagem sobre o Importância da atualização de aprendizagem em
trabalho em equipas Descobrir competências que equipas
multidisciplinares já possuía multidisciplinares
-Aumento de Importância do trabalho em
conhecimento sobre si equipas multidisciplinares
-Consolidação de Ajudou a tornar-me menos
conhecimentos mecanizada
-Partilha sobre o exercício Ganho de resistência
profissional através do Consolidação de
contacto com diferentes conhecimentos
profissionais Confronto com modelos
- Contacto com diferentes teóricos diferentes
modelos teóricos Aprender a trabalhar no
contexto
Perceber a importância do
equilíbrio profissional
Muito mais crescida
profissionalmente
Consolida ideias
Sinto-me mais segura da
prática
Cresci na forma como vejo
as pessoas
Aquisição de conhecimentos
Abrir perspetivas
Contacto com outros
profissionais
Descobrir novas vertentes
pessoais
Ganho de resistência
Desenvolver competências
de elaboração e reflexão
69
- Espaço de contenção das Aconselhava-me para poder 17.Supervisão, um
emoções melhorar elemento que permite a
- Orientação, suporte, e Comunicava as minhas atividade do estagiário
partilha das atividades dificuldades segundo o rigor ético
realizadas no estágio Desabafava com a minha 18.Intervisão, fonte de
- Espaço de partilha de tutora suporte e guia da prática
estratégias para enfrentar Ajudou-me a perceber como profissional
as dificuldades era estar no mundo do
trabalho
Aquilo dava-me vontade de
trabalhar
É uma segurança
Pensar sobre o outro, a
consulta e sobre nós
Lufada de ar fresco
A opinião de outras colegas
Ler fez-me desbloquear
Perceber se estamos a
conduzir as nossas práticas
segundo o rigor ético
70
Profissional com
multidisciplinariedade
Perceber que posso falhar
Foi um confronto duro
Fazer muito com pouco
Nível pessoal tende a
envolver-se
Ajuda na prática em equipas
multidisciplinares
Tem uma compreensão geral
sobre o funcionamento
humano
Compreende com outra
sensibilidade a outra pessoa
Competências relacionais, a
nível da comunicação
Atende o outro
Recolhe necessidades
Trabalhar para além das
consultas
Trabalhar com várias áreas e
equipas
Muito mais ser humano
O psicólogo vai se
moldando às diferentes
pessoas
Nem sempre consegue
ajudar certas pessoas
Promover a saúde mental
Compreensão da escassez de
recursos
Impotência dos psicólogos
Compaixão pelo sofrimento
humano
Desenvolvi muito a minha
comunicação com os outros
e a com a equipa
Desenvolvimento de
independência
71