Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs passaram por fortes altas nesta quinta-feira, em especial entre os vencimentos para janeiro de 2026 e janeiro de 2027, que chegaram a subir mais de 20 pontos-base, com investidores ajustando preços após o comunicado duro do Banco Central na véspera.
O mercado passou a enxergar a necessidade de um ciclo de alta de pelo menos 200 pontos-base da Selic para que a inflação retorne à meta, o que deu força às taxas de 2026 e 2027. A curva a termo também precificava chances majoritárias de alta maior da Selic, de 50 pontos-base, em novembro.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,98%, ante 10,932% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2026 estava em 12,03%, em alta de 27 pontos-base ante o ajuste de 11,765%. O vencimento para janeiro de 2027 marcava 12%, em alta de 19 pontos-base ante os 11,814% do ajuste.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,08%, ante 11,981%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,06%, ante 11,966%.
Na noite de quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa básica Selic em 25 pontos-base, para 10,75% ao ano, como já vinha precificando a curva brasileira. No comunicado da decisão, o colegiado adotou um discurso hawkish (duro com a inflação), reforçando os riscos inflacionários e a intenção de buscar a meta de 3%.
Ao mesmo tempo, em seu cenário de referência, o BC projetou inflação de 4,3% em 2024, de 3,7% em 2025 e de 3,5% no primeiro trimestre de 2026 (atual horizonte relevante).
A constatação de que as projeções do BC estão bem acima da meta, somada à percepção de que o Copom fará o necessário para conduzir a inflação para 3%, abriu espaço para os fortes ajustes desta quinta-feira.
“Esse movimento é uma reação às projeções de inflação do comunicado do BC. Para trazer essa projeção de 3,5% para meta no primeiro trimestre de 2026, o BC tem que dar pelo menos 200 pontos-base de (alta de) juros nesse ciclo”, comentou a analista Laís Costa, da Empiricus Research. “E pelo comunicado, parece que ele está disposto a dar”, acrescentou.
Como o mercado mantinha projeções para a inflação no primeiro trimestre de 2026 próximas dos 3,3%, com algumas casas calculando percentuais ainda maiores, houve um movimento de tomada de juros nos contratos para 2026 e 2027.
Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, a percepção do mercado é de que a política monetária precisará ser mais dura.
“O BC entregou ontem uma alta de apenas 25 pontos-base da Selic. A leitura do mercado é de que, começando assim, ou vai ter que acelerar na próxima reunião ou manter os juros altos por mais tempo”, disse.
Perto do fechamento a curva brasileira precificava 83% de probabilidade de o BC acelerar o ciclo de altas da Selic em novembro, com elevação de 50 pontos-base. Outros 17% apontam para novo aumento de 25 pontos-base.
O avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior, no dia seguinte ao corte de 50 pontos-base dos juros pelo Federal Reserve, e as preocupações em torno do equilíbrio fiscal no Brasil foram outros fatores que, conforme Rostagno, deram suporte às taxas dos DIs, em especial nos contratos de longo prazo.
No exterior, às 16h42 o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 4 pontos-base, a 3,728%.