A Evolução 1 A 5
A Evolução 1 A 5
A Evolução 1 A 5
São Paulo, 1878-1879. Biblioteca Central da PUCRS. Coleção Pessoal Júlio Petersen.
Publicação editada em São Paulo quando os autores eram estudantes na Faculdade de Direito
de São Paulo.
Ann» fl S. P a u l o , 1K d c A b r i l «lc I H 1 »
do Christo 1 Irrisãu 1 escarneo lançado á face do '
A EVOLUÇÃO mundo, lançado á face de Deus!
E estes dous exemplos bastam.
S . P A U L O , LÕ DE A B R I L DE 1 8 7 9
Perante isto, o. que nós, os moços, devemos fa-
Existe latente no seio (la Natureza uma lei que zer para honrar o presente e felicitar talvez as gera-
impelle fatalmente para diante os mundos physico e ções porvindas ? Trabalhar desassombradamente,
moral; mais ou menos, confórme as forças de cada urn, para
O mundo physico—pelas continuas transforma- que os velhos ídolos, as estatuas feitas de barro, os
ções da matéria, tendendo sempre para o maie per- antigos prejuízos, os antigos erros, rolem por terra,
feito; y» f»I \ desappareçam aos reverberas do grande sol da ||
O mundo moral—pelo desdobramento persisten- razão.
te dos espíritos, operado na acquisição de idéfisVa-, E' preciso que ninguém tenha a fronte voltada
verdades cada vez mais largas. CRaítí£ às alvoradas do porvir com a alma presa, em-
A'parte o que lia de fatal neste movimento indefi- brenhada nas negruras do passado; que todos se I
nido, a livre indagação, apoiada no critério seguro da compenetrem de que a humanidade não vegeta; vive, '
rasão e da experiencia, descobre verdades, classifica- caminha e .caminha sempre, a despeito de todas as
as, expõe-nas, dirigindo, animando, metbodisando o tyrannias, atravez de todos os obstáculos, pois que os |
progresso. destinos do mundo, como das alturas da tribuna jà
Gyrando sob o influxo desta grande lei, na estrei- o disse um grande espirite, saltam por cima dos ca-
ta esphera da fragilidade de suas forças, a EVOLUÇÃO fa- valletes e das guilhotinas.
rá delia, no caminho do jornalismo, o seu bordão de Senão véde: depois daquelle primeiro bater de
viagem ; azas de condores para a Reforma, depois dos sacri-
Derramará os princípios da Democracia pura, co- fícios de João Huss e Jeronymo de Praga, surge além^
mo supremo ideal das sociedades actuaes; illuminado pelos clarões dos mesmos princípios, o
Comprehenderá as questões litterarias na altura monge de Eisleben ; depois dos assassinatos de Rus-
da civilisação; sell e Sidney, relampeja no solo de Inglaterra o sa-
bre de Cromwell; depois de Voltaire pleiteando a
Consagrar-se-á, emfím, com ardor, ao serviço
causa de dous desgraçados, Calas e Labarre, a causa
da eterna Justiça.
da justiça, troveja o verbo de Mirabeau.
Grande tarefa, para a qual conta unicamente com
a sua boa vontade e com a benevolencia dos c o n t e n - Assim, nem as infamias do concilio de Constan-
p o r a n o . ça, nem os desvarios infelizes de Carlos I, nem o des-
potismo dos reis de França, impediram a Victoria das
idéas
A EVOLUÇÃO não menciona estas lutas olyrapicas
( SYSTHESE )
na vida dos povos, para accordar aquellas paixões
As duas grandes revoluções, a revolução religio- largas e generosas que por tantas vezes têm anima-
sa encarnada em Martinho Luthero e a revolução do, em explosões electricas, os lúcidos batalhões dos ,
franceza de 89, fizeram muito a bem dos povos, mas filhos do porvir. Não; ella reconhece que,sempre que j
não fizeram tudo. fôr possível, devem-se evitar as revoluções armadas,
Nem era possível. as revoluções sangrentas; tanto mais quando todas
Existem ainda muitos axiomas, muitos dogmas as reformas, todas as transformações possíveis no
que não tem sua razão de ser, que é preciso refutar mundo moral podem-se operar naturalmente nos la-
á luz da justiça, á luz da consciência. bora to ri os pacíficos da idéa.
Hoje ainda, mesmo em paizes considerados li- Mas, para que isto aconteça, o que é preciso? Que
vres, a pessoa do rei é inviolável e sagrada; não pô- &quel'es a quem mais competir, ouçam religiosa-
de o monarcha responder nunca pelos crimes que mente os gritos e as lamentações que vêm do fundo
commetter. da historia; gritos e lamentações que são avisos, que
Seja como fôr, é este um absurdo insustentável: resumem conselhos.
perante a philosophia não se concebe que um homem Os padres e os príncipes que notem bem isto ;
possa ser criminoso impunemente; perante a moral e os primeiros, se quizerem continuar a dirigir o re_
1 equidade, é immoral e iníquo (1). banho christão,que sejam simples e bons,e os outros,
O papa é infallivel, porque é um inspirado, por- s e desejarem reinar por mais algum tempo sobre os
que é o successor de S. Pedro, pirque 6 o successor povos, que atirem ao monturo todos os fal sos ouro-
PUCRS/BCE
peis com que os adornou a ignorância do pas- Aquelles que lêm as inseri peões seculares que
sado. margeam o grande abysmo do passado, nfto o igno-
Foi-se o tempo dos assassinos, dos bandidos e ram.
dos monstros como Jacques Clement e Ravaillac, OH governos mal intencionados tem-se aprovei-
Alexandre VI e Torquemada; dos déspotas como tado desta fraqueza que não é fraqueza, desta irreso-
Henrique VIII e Philippe II. luçfio apparente para fazerem prevalecer a sua von-
E, se esta é uma luminosa verdade, aquelles que tade, os seus raprichos.
hoje tentarem imital-os, mesmo muito de longe, po- Deixem muito embora cahir pelo caminho as se-
derio ser esmagados pelas rodas do carro da liberda- mentes que tem produzido as mais assombrosas heea-
de e apressar de um modo funestíssimo a realisa- tombes.
cáo do que estava reservado para sel-o mais tarde, Sé lhes faltar a intruccfto, da parte daquelles que
seguindo o curso natural, logico e providencial dos amam o direito e a justiça, taes naçòcs encaminhar-se.
acontecimentos humanos. hão necessariamente para este estado desolador; por-
M o precisa ser um optimo observador para notar q u e se é certo que as escravidões auxiliain-sc até domi-
que aquella nuvem borrascosa, acastellada n o c é o de narem completamente a consciência publica, é tam-
bém certo que os povos não resistem eternamente
França, ha noventa annos, ainda não passou de
á pressão tyrunnica dos governos que se desmandam
todo.
0 povo na sua sagrada aspiração de verdade e de P. C.
B g ^ ^ p j M ^ ^ M irr '1
Bfcií-itíiÁífávf-bQ3
B M B W í » ni «fia tfiTy
A g e n t e do m o s t e i r o Elle deve. ser o primeiro a prevenir esta desgra-
ça enorme, e h a de prevenil-n, si não perder o bom
POR SILVA JARDIM - S. PAULO — < 8 7 9 senso que até aqui tein manifestado.
Entretanto, a n t e s que o homem perca-se n a s
.4 EVOLUÇÃO considera um dever de honra para si nuvens, como um deus, a EVOLCÍJÃO vaeencaral-o do
i a apreciação imparcial, rigorosa e j u s t a d a s obras da perto, n um rápido relance, porque mais não aspira»
mocidade do seu tempo. e procurar gravar nas suas columnas as feições mais
Sem altas pretenções a impôr conselhos, ella nilo pronunciadamente características do joven aiictor,
;
admitte, entretanto, que se lhe negue o direito d e que acaba de offerecer-lhe o seu sympathico retrato
i dizer, como sente, o que sente. com este r o t u l o : A gente do Mosteiro.
Neste proposito, prestará a todos um grande
*
i serviço, porque inquestionavelmente a franqueza da
sinceridade é sempre um poderoso incentivo-aos pro- A Gente do Mosteiro é a chronica da academia de
duetos da actividade humana. S Paulo, no anno de 1S78.
E ninguém mais do que nós precisa desse g r a n - O espirito analytico do auctor p e n e t r a n a s e n -
t r a n h a s de todo o movimento acadêmico, e, n'uns.as
de motor.
Um preconceito horrível, gerado M a l m e n t e n a s 40 paginasinhas m u i t o elegantes e muito bem i m "
f entranhas da nossa organisação social, tem por tal pressas, percorre toda a historia desse malfadado a n -
! fôrma centralisado, aristocratísado o mérito l i t t e r a - no que. « foi u m eclipse. Melhor d i s s é r a m o s : u m a
!i rio, que a justa admiração transformou-se em idola- decepção ». Anno em que « d o r m i a m os t a l e n t o s ; p a -
!
tria cega e exclusivista. reciam ter fugido a s boas disposições. A alma colle-
Nesta academia o phenomeno manifesta-se mais ctiva da mocidade como que se fraccionara. »
accentuado do que em parte a l g u m a . Silva Jardim começa dizendo o q u e somos nós
Temos, por exemplo, dois poetas, inspirados, n a «o s a n t e l m o onde a p a t r i a fita olhares d e agonia » ;
' verdade, doces, fluentes, bons artistas, cujas p r o d u c - diz o que foram os clubs acadêmicos com seus res-
cões agradam o ouvido e deleitam a a l m a ; t e m o s pectivos j o r n a e s , q u e « e r g u i a m - s e alli,não como quatro
! um joven orador, verboso, eloquente, sympathico n a atalaias, q u e deviam ser, da Luz, m a s como quatro
tribuna, possuindo u m a belíssima voz h a r m o - atalaias da Treva, que e r a m »; falia d a s lettras, ly-
I niosa. ras e direito e diz o que f o r a m A, Celso, Theopliilo
E estes poetas e este orador são logo proclama- Dias e V. Magalhães, « o s t r e s mais sérios cultores
dos os primeiros e únicos. Ha os bons e o resto. d a lvra acadêmica», diz o que foi o dia 11 de Agosto,
A. EVOLUÇÃO nunca lançará p e d r a s c o n t r a os « o M a r a t h o n a d a mocidade », d e g e n e r a d o n ' « u m es-
I méritos de n i n g u é m ; muito menos contra os d e cândalo, n ' u r á descalabro, n ' u m baque doloroso d a s
Theopliilo Dias, A. Celso e Magalhães Castro. Mas, nossas g l o r i a s » , diz o que foi o dia 9 de S e t e m b r o ,
por isso mesmo que lhes presta a j u s t a h o m e n a g e m , e m que « a mocidade, repellindo h e r o i c a m e n t e o ata-
os quer vèr reduzidos ás verdadeiras proporções, que q u e dos esbirros, como q u e ensaiou rehabilitar-se
sãò grandes de si. d a s misérias d e 11 de A g o s t o » ; e põe o ponto jinal,
E o que mais é para admirar-se é que esta s u b - a n n u n c i a n d o que « ahi vem u m a epocha nova acabar
serviência litteraria nasceu expontaneamente, mesmo com a transicção e n t r e a velha e a nova idéa, e n t r e o
contra a vontade d a q u e l l e s a quem é t r i b u t a d a , q u e velho e o novo r e g i m e n » .
são prudentes e sensatos bastante para preferirem Satisfeito com e s t a prophecia e com a s e g u r a n ç a
ser cidadãos da republica do t a l e n t o , a idolos d e de t e r c u m p r i d o u m dever de consciência, • p r o m e t -
barro.
te aos s e u s collegas—A G E N T E DO MOSTEIRO EM 1879.
E' contra esta centralisaçilo desesperançadora
que a EVOLUÇÃO ha de clamar s e m p r e .
Si conseguir, pelo menos, abalar-lhes o falso pe-
destal, t^rá prestado um notável serviço e satisfeito a Eis ahi, d e s e n h a d o tão rápido q u a n t o possível, o
I sua consciência. espirito g e r a l d e s t e livrinho, o primeiro que nos a p -
parece este a n n o .
A Evor.uçX.0 não o a c o m p a n h a r á no largo percur-
Appnrece-nos agora Silva J a r d i m .
so do seu d e s e n v o l v i m e n t o ; porque criticar a critica
E' uin moço que. tem muito talento e m u i t o p o u -
e t r a b a l h o para u m volume maior do que o criticado.
co dinheiro.
Por isso é estudioso, trabalhador, persistente e *
honrado.
Por isso, sempre que apparece, appareee b e m .
T e m dito m u i t a g e n t e , e m u i t a g e n t e boa, que
Os idolatras receberam-n'o com meia dúzia d e
Silva J a r d i m é u m a vocação esplendida para a criti-
pedradas, a que elle resistiu, e vai resistindo victo- ca. Afflrmam outros que o nosso auctor ó j á u m cri-
riosamente. tico c o n s u m m a d o .
Finalmente o seu mérito real se ha de impôr a
A E V O L U Ç X C não lhe roubará esses méritos e até
todos I temos então o perigo de passar também S. o felicita pela lisongeira opinião que delle se faz.
Jardim a ser moldado em barro, iara adoração dos Deve ter o critico um golpe de vista seguro e rá-
parvos. pido p a r a a p a n h a r a h a r m o n i a na variedade da obra
d'arte, condensar os differentes elementos que nVlla Mas esta macula é de quasi todos ou novos es- I
actuam e tirar esse conjuncto que se chama syfithese. ëriptores acadêmicos.
Precisa do gênio indagador e minucioso, que dis- Manifesta o auctor, neste livro, uma pronunciada
seca a obra até as entranhas, e, desligando, assim, sympathia pela descompostura : sympathía que lhe foi
delia todas as nuanças, classificando-as e agrupan- de certo, inspirada por Castello Branco, mesmo por
do-as, conliecendo-as e comprehendendo-as, obtenha Luciano Cordeiro, e principalmente por Silva Pinto,
o que se chama—analyse. um moço portuguez com tendencias a louco c com
pretenções a critico -
Si a EVOLUÇÃO reconhece esta ultima qualidade
A descompus lura fica muito bem em sociedades I
grandemente, naturalmente desenvolvida em Silva
gastas, em caracteres decompostos ; não em S. Jardim, |
Jardim, sente declarar que a primeira llic équasiex- que è uma alma de donzella n'uina cabeca de pensa- 1
tranha. dor.
E' deste defeito, de não apanhar perfeitamente
Não se confunda, por amor do bom senso, s lin- 1
o todo, que nasce para o auctor outro defeito fatal:
guagem desbragada e descosida dos novos portugue- 1
' deinorar-se extraordinariamente na analyse de certos
zes com a phrase severamente rude de A. Hercu- ]
I pontos, gastando palavras, com prejuízo de outros, lano, ou coin o látego ardente da ironia voltaireana.
I fazendo, assim, manquejar a obra, por falta de equi-
li librio. A EVOLUÇÃO não faz uma critica; cumpre um
Entretanto, estas faltas, que mais claramente se dever. Por isso, não leva mais longe esta serie de
revelam nas suas obras anteriores, na tíetile do Mos- pequenas notas. Ella podia, em alguns pontos, dis-
teiro são raras. Prova de que o auctor t e m progre- cordar também das opiniões emittidas pelo auctor; !
dido e dá esperanças. mas j á declarou que não entrava isto no seu plano.
Por motivo idêntico, deixa intactos dois pequenos se-
O critico deve ser um sábio, principalmente em
nões grammaticaes que se econtrainno final dapagina
matéria d'arte, para poder com segurança apontar os
27, querendo antes attribuil-os ao typographo.
erros, mostrar as suas causas e os seus remedios : e
S. Jardim, que é muito moço, não tem nem pode ter »
metade dessa sabedoria.
0 critico deve ter um padrão, um systhema, u m a
escóla á cuja luz affira o mérito, não para condem- Esta quadra nos corre cheia de odiosidades, de
nar o que não fôr de tal escola, mas para que tenha parvos ciúmes litterarios, de calumniosa má fé.
ordem e metliodo no trabalho e coherencia n a s idéas
A EVOLUÇÃO não pisará esse terreno.
e opiniões; e este systhema não o possue J a r d i m , e
parece que nem t r a t a d'isso, porque é a única coisa Dirá sempre desapaixonadamente o que lhe
em que ainda não fez progresso. parecer verdade.
Por todas estas razões,e por outras ainda, a EVO- E, quando, como agora, se tratar d'um talen-
LUÇÃO não lhe dará, por ora, o nome de critico, a elle to real e proinettedor, será inexorável.
que é, entretanto, um feliz principiante.
Nós não temos critica. Entre os poucos que, de
quando em quando, escrevem sobre tal assumpto,
*
Silva Jardim não é de certo dos da ultima fileira.
Espirito inquebrável, talento alevantado, grande
O estylo de Silva Jardim é firme, áspero e ener- patriotismo e grande honradez—que também na re-
gico ; porém, a p a r destas excellentes qualidades, é publica das lettres lia honrados e deshonrados—são
gongorico em extremo. Este ultimo defeito é tanto qualidades que ninguém justamente lhe negará.
mais lastimavel quando vè-se que o auctor força a
A E V O L U Ç Ã O não cede, pois, á lei da praxe, pro-
imaginação e força o tropo, para não dizer as coisas
phetisando para o auctor da Gente d•> Mosteiro, em
por linhas direitas. tempos muito proximos, um dos primeiros, sinão o
A Gente do Mosteiro não teria mais de vinte pa- primeiro lugar, na critica litteraria do paiz.
ginas, isto é, metade das que contem, si lhe tiras-
sem os gongorismos e epithetos e antitheses supér- A. B.
fluos que encerra.
•lULIü OK C A S T I L H O S P E R E I R A 1>A C O S T A
ASSIS B B A / J L
S . P a u l » , : I » «1« A b r i l d e 1 8 ? » V '£
A Evolução nfto cita estes nomes ao acaso, como Ora, estes acontecimentos, como já fleou dito « 9
se ha de ver. « como ninguém nega hoje, succedem-g». fatalmen- I
te, pela força do que se chama evolução histórica.
*
Mas esta força, que é uma lei e que se manifesta
pelo desdobramento ascendente das civili «ações, não
Ha ainda aqui um facto importantíssimo a re- pode de maneira alguma ser arbitraria e anaichiea,
li gistr.tr:— toda a idéa nova, toda a nova doutrina ella que faz a constante c assombrosa harmonia das
I que se apresenta com caracter universal, trazida coisas.
J pela força das circumstancias, em uma dada opocha, Nas grandes epochas históricas, na successão do» 1
|| —tríumpha necessariamente. grandes acontecimentos historicos, ha, pois, neces- I
Moysés não pisa a terra promettida ; mas o sariamente, um movimento harmônico e ineon- i
I Decálogo, o Pentateuco sSo a inspiração de um trastavel, que a observação pôde recolher e applicar ao
D povo inteiro durante mais de dez séculos; futuro.
Bouddha deixa-se morrer asceticamento nos ra- Para não ir mais longe, a Evolução vae encarar
| mos d'uma arvore; mas o Oriente regeita os livros esses mesmos factos que ahi ficaram expostos.
I dos Vedas e o Bouddhismo ganha incontestável pre- O que nelles chama primeiro a attenção é a dif-
ponderância sobre os sacerdotes b rali ma nicos ; ferença das datas.
Christo morre pregado a uma c r u z ; mas a F é Dos primeiros ensaios de reforma religiosa e so- J
a Esperança e a Charidade, estas trez armas bran- ciai, sem fallar em Manou e na longa serie de re-
cas do mais sublime dos combatentes, dirigem os ligiões orientaes — das duas reformas mais sig-
nificativas de Moysés e Bouddha, decorrem—termo
destinos de grande parte do m u n d o ;
médio—até Christo,—14 séculos ;
Attila morre embriagado e louco ; mas dos res-
tos do seu broquel, dos estilhaços da lança de A lari- A contar de Christo e das correrias de Attila e
co, de Radagazio e de todos aquelles homens ferozes Mahomet a t é a reforma de Luthero, ha—termo mé-
e carniceiros, forma-se o cadiah >, onde mais tarde dio—12 séculos ;
se vão fundir as nacionalidades modernas; Eutre Luthero e a Revolução Franceza contam-se
Mahomet interrompe os seus gigantescos pla- 3 séculos;
nos, surprehendido pela morte; mas o povo muçul-
mano arroja-se contra o mundo, brandindo a espida E n t r e a Revolução Franceza e os progressos ma-
da conquista, e, depois das scenas de sangue, inau- gestosos dos nossos tempos, que parecem destinados
gura as scenas de paz nos kalifados de Cordova e a assistir & grande liquidação social,—medeia menos
Bagdad; de um século.
Luthcro sucumbe antes das discussões do conci- Não vem fóra de propósito a eloquencia consola-
lio de Trento; mas a consciência humana fica ba- dora destes algarismos.
tendo palmas de alegria,—rotos, emflm, os laçus da E' digna sem duvida de notar-se a acceleração
escravidão, refreados a devassidão e o escândalo da prodigiosa com que os grandes acontecimentos his-
côrte romana ; toricos se produzem.
A Revolução Franceza é desprestigiada pelo bri- E' que, à medida que as sociedades se vão despren-
lho falso da espada conquistadora do bandido Napo- dendo do elemento do passado, se vão tornando tam-
leão ; mas a liberdade vence, e, extravasando no bém mais aptas para receber o Progresso.
solo da França, derrama-se pelo mundo inteiro;
Quando es«e elemento tiver de todo desapparecido e
Augusto Comte, finalmente, quenào foi nem re- as sociedades só se guiarem pelas inspirações do pre-
formador theologico, nem conquistador, nem innova- sente e pelas previsões seguras do futuro,—lerão ellas
dor de religião, mas que foi tudo isso ao mesmo t e m - entrado na sua marcha normal. Será chegado o regimen
po,—ainda hontem morria desgraçadamente; m a s da paz e do progredir harmonico e natural.
venceu, comtudo, porque arrancou o homem aos jo-
gos pueris da metaphysica e apresentou-o em face de
si mesmo, no mundo positivo da verdade.
*
Paremos aqui.
Depois das premissas que ahi ficam, a Evolução esta
A Evolução podia,desde já, deduzir as consequên- habilitada para tirar as seguintes conclusões :
cias que a lógica auctorisa a tirar destes factos; mas a) A única idéa fixa, a idéa primordial da Huma-
antes d isso, fará uma ultima observação. nidade tem sido e ha de ser sempre—a liberdade. Como
O advento dos grandes homens e das grandos epo- o sol, que fecunda, produz, anima e conserva, por meio
chas históricas—não é mais do que o resultadi fatal do calor e da luz de sens raios, a vida de todo o syslema,
de um» necessidade geralmente sentida, como é lacil —assim esta idéi-iuiter lança milhares d'outras idéas,
de verificar q ( ie não são, entretanto, mais do que raios seus. Assim
O progresso tem intermittencias, mas não tem so- tainbem a arvore enterra milhares de raízes no solo, es-
uçõea de continuidade. galha milhares de ramos no ar, e, entretanto, todas as
Os homens são grandes, somente quando a força raízes e todos os ramos não são mais do que braços aber-
dos acontecimentos os faz toes. tos do mesmo tronco.
ai
Ann» 1 S . P a u l » , 1 5 d e M a i o d e 1H7!»
Ü.3
ÊSSsit
IS
O eclipse vai cessar, a escuridão vai desfazer-se, As monarchias barbaras, o feudalismo, as com
Quem o trouxe ? A monarchia. munas e, finalmente, as grandes monarchias absolu-
A monarchia, portanto, vai cair. tas vão apparecendo gradativamente na Europa,
Do seio da desillusão que penetra os corações sin- Emquanto,por outro lado, o génio do progresso cami-
ceramente brasileiros, brota uma robusta, uma pu- nha silenciosamente, inspirando os pregadores da
jante crença, — que sem ella não podem viver as so- fraternidade humana.
ciedades, — a crença n'um novo principio, n'uma A idade média pode-se comparar a um vasto
Idéa Nova, que traz em si para transmittir ao corpo subterrâneo, nonde se tivesse,porventuraprecipitado
social deteriorado e cadaveroso a seiva do Futuro. a grande locomotiva que conduz os povos para a
Approxima-se o grande dia, que pôde ser, ou o
perfectibilidade.
Dies Pacis ou o Dies Iroe, ou a victoria tranquilla e
Naquella escuridão travaram-se as lutas mais
serena da Justiça,ou as explosões flammivomas da Re-
porfiadas que menciona a historia.
volução,—esse cáustico para destruir essa chaga —
Prepararam-se dentro daquellas paredes pavoro-
a monarchia.
sas, dentro daquelle sinistro recinto, onde a cada
Esperemos, pois. os clarões da grande a u r o r a ;
passo levantavam-se patíbulos,acendiarn-se fogueiras,
esperemos, que não tardará muito que a Patria feche
com uma mão a porta do Passado, emquanto que com inventavam-se as mais atrozes torturas para os fracos
a outra descerre as portas do Pantheon dos povos c opprimidos,—as grandes revoluções que deviam re"
livres, cortejando o Futuro em épico enthusiasmo ! bentar mais tarde n'uma explosão de luz.
A actividade humana, que não descança nunca,
j.c. não descançou naquella quadra tormentosa. Pelo con-
trario, parece ter trabalhado com mais energia, com
mais ardor.
Brilharam alli os primeiros lampejos da liberda-
O Ensaio Lillerario é o r g a m de uma associação de philosophica com Abailard ; os prelúdios da Re-
de estudantes de preparatórios e está já no seu 2° forma,diante da consciência humana escravisada,com
numero. - W i c l e f ; os primeiros arrancos d a liberdade politica
Tudo ha a esperar da bôa vontade, estudo e in- com as communas.
telligencia dos jovens redactores d este sympathico E, quem ignora ? todas as verdades proclamadas
então pelos martyres da civilisaçâo, como verdades
periodico.
incontrastaveis, que eram, foram triumpliando no de
A Ev •loção fraternalmente o s a ú d a , e espera vel-o
correr dos séculos.
sempre luctando pelos sagrados princípios da Demo- Depois da revolução religiosa, vem a revolução
cracia, cuja causa parece abraçar;, a j u l g a r pelos dois philosophica;depois seguem-se as revoluções politicas
números publicados. que, «como um echo prolongado, continuo, vai do
cadafalso de Padilla ao cadafalso de Egmont, do ca-
A. B .
dafalso de Egmont ao cadafalso de Danton. »
Povos e goverr.es
Considerando aqui algumas idéas que ahi ficaram
esparsas, lançando um olhar retrospeclivo sobre o
O POVO
longo período que se estende desde a invasão dos
II barbaros até o fim dos tempos modernos,encontramo-
nos com duas grandes entidades,que dirigem o m u n -
Osbarbaros arrojam-se sobre o império, a s s i g n a -
do e governam os p o v o s : a Igreja e a s monarchias
lando sinistramente a sua passagem por t o d a a p a r t e
absolutas.
Os muros da grande capital cedem d i a n t e d a s
hordas commandadas por Alarico. Para conter o furor selvagem dos povos barbaros^
E, do seio das ruinas f u m e g a n t e s , do meio dos havia necessidade de uma força que, como a da Igreja,
destroços gigantescos da magnifica cidade dos Ceza- moderasse e dirigisse os ímpetos da barbaria.
res, o anjo da civilisaçâo, que parecia acorrentado Por isso, é justo assignalar aqui: — mesmo depois
dentro de suas ameias de ferro,despre nde o vôo, e vai de transviada do caminho traçado pelos apostolo«
derramando de longe em longe scintillações a u g u s - para a propagação da fé,mesmo depois de collocar-se
tas. na cúspide da jerarebia social q u e inventou, mesmo
Serenada de todo aquella tremenda tempestade depois de u m a serie interminável de erros,—a Igreja
que abalou a face da terra, a theocracia incumbe-se prestou elevados serviços. No e n t r e t a n t o , por maio-
de organisar a Europa, depois de ter formado com os res que tenham sido esses serviços, j a m a i s poderão
despojos da antiga Roma u m a Roma nova, depois d e escurecer os crimes assombrosos que perpetrou nos
t e r construído com os fragmentos das instituições a n - últimos séculos do seu domínio, em nome d a religião
teriores um universo jerarchico, do qual devia ser o A EVOLUÇÃO declara com magua esta verdade»
ponto culminante o sacerdocio. m a s declara francamente, porque será sempre um
=1
IO
eclio débil dos brados de indignação levantados pela
historia, contra os tyrannos e oppressores de todos 'V* I
desorganisada, começaram a constituir-se na Europa,
as grandes monarchias absolutas que no século XVI e
os tempos.
XVII attingiram ao apogeu da grandeza e do poder.
A ambição insensata dos papas para o domínio
Constituída« solidamente as nações, começam
universal, não mais pela persuaç&o e pela doçura,
com mais ardor as lutas da liberdade.
mas pela força e pelo despotismo, manifestou-se
Assim é que, emquanto a força dictava leis, een-
abertamente do século VIII em diante, quando então
quanto os reis, confiando no seu illiinitado poder,
estava a seu lado a espada gloriosa de Carlos Magno.
Pode-se mesmo dizer que no dia em que o illustre julgavam legar um patrimonio eterno ás suas dynaa-
guerreiro colloccu a corôa sobre a cabeça, diante do tias, nas regiões do pensamento apparelhava-se a
papa Estevam II, tocaram ao zenith as duas grandes grande conflagração que devia desabar sobre a
instituições da idade média — o pontificado c o i m - França, illuminando o mundo.
pério. Nos fins do século X V I I I uma legião de pensado
res tinha estabelecido definitivamente as bases de
Desde então, a força auctoritaria dos papas loi se uma completa reorganisação social, exigida pelo im-
alargando cada vez mais, e attingiu a tal ponto, nos pulso da civilisação.
fins do século XI, que é absolutamente impossível Isto era inevitável. A velha Europa dynastica quíz,
fazer uma idéa approximada da auctoridade que a no entretanto, oppor diques ás aspirações populares.
Igreja exercia promiscuamente sobre reis e povos. Desencadeou-se então aquellc furacão ardente ;
Por toda a parte, na phrase de Victor Hugo, sente- rebentou aquella luta cyclopica, chamada —revolução
se a auctoridade, a unidade, o impenetrável, o abso- franceza.que devia terminar pelo triumplio definitivo
luto — Gregorio VII. do direito.
Entretanto, cedendo ao impulso d a clvilisação, E o povo ,que nada era, começou a ser tudo.
aquella auctoridade está prestes a abalar-se ;Roma
acorda-se espantada, ao rumor que faziam os povos __ ^ _ P.C.
para libertar-se.
E que medida toma para assegurar o poder q u e
Trez livros
lhe escapava ? — Crea a Inquisição.
O doutor Lopes Trovão faz parte dos mujto pou-
O espirito revolta-se, e, preso de um pavor extra-
cos h o m e n s do bem deste paiz.
nho, tem m u i t a s vezes vontade de d e s m e n t i r a histo-
Milita desde os seus tempos acadêmicos no pe-
ria, ao n a r r a r as atrocidades desta instituição l u g u -
queno, porém brilhante, exercito republicano, que se
bre e s a n g r e n t a . tem formado na adversidade e que se occupa em
Porém, mesmo d i a n t e dos batalhões i n f e r n a e s cavar, pela palavra e pela acção, ao redor da monar-
dos seus inquisidores, o poder papal se vai e n f r a - chia, o fosso que ha de infallivelmente sorvel-a.
quecendo, ao e m b a t e dos e l e m e n t o s a n t a g o n i c o s . A sua palavra é constantemente ouvida nas con-
Escriptores, philosophos distiuctos p r o c l a m a m , ferencias publicas do Rio de Janeiro, e o nome do
nos paizes m a i s a d i a n t a d o s , a reforma, depois q u e dÍ8tinctissimo orador não precisou da mão officiai
Wiclef, e m face d a consciência a m o r d a ç a d a , e s t a b e - p a r a erguer-se d a obscuridade, para a qual não nas-
lece o principio d e q u e : « t o d a s a s consciências ceu.
sendo iguaes,Deusse revela d i r e c t a m e n t e a cada u m a , I n t e n t a agora o doutor Lopes Trovão dar publi-
por sua g r a ç a , e, por c o n s e g u i n t e , n a I g r e j a dos fieis cidade a todas as suas conferencias. Começou j á pela
não deve haver -senhor n e m a r b i t r o . > q u e occupa o primeiro lugar na ordem chronologica
Assim, pois, as c a r a v a n a s revolucionarias vão e que t r a t a da COMPATIBILIDADE OÜ INCOMPATIBILIDADE
n u m a marcha a u d a c i o s a , t r i u m p h a n t e , de Wiclef a DOS REPUBLICANOS COM OS CARGOS PÚBLICOS, da qual
que diz respeito ao governo está podre ; aquelles que não poder enviar mais algumas palavras, por falta de
delle se aproximarem serão contaminados, portanto. espaço.
Alem disso, a grande tarefado partido republica-
no actualmente é lutar por todos os modos licitos pe-
rante a moral, lutar abertamente ; ora, o emprega-
do, seja elle de que categoria fôr ( a menos que não
Appareceu finalmente o proclamado li vro —Frei I
queira demittir-se, e, nesse caso, reconhece a incom-
Caetano de IUessina,obra de Estevam Leão Bourroul, o
patibilidade) está subjeito ao governo; por conseguin-
mais esforçado e audaz soldado do ultramontanismo,
te, impossibilitado para a luta, para o magno de-
na academia de S. Paulo.
ver.
Este livro era aguardado com grande anciedade
Isto, é claro, não se entende com os cargos de
Os precedentes do auctor auctorisavam a esperar-se
[ eleição popular. Quem está com o Povo está com a uma obra d e l o n g o folego, de d o u t r i n a , d e propagan
Republica. da, de combate.
Estas idéas são, entretanto, individuaes d e Mas as causas mortas têm por si soldados mori-
quem estas linhas escreve. bundos.
—Alguns pobres de espirito pretenderam levar em O notável talento de Bourroul amesquinliou-se
conta de reviramento politico a franqueza do auctor. diante da pequenez da causa. Assim também o ho-
Este responde-lhes com o seu passado, e basta isto mem de fortes pulmões sente-se enfraquecer n uma
—A EVOLUÇÃO tinha dezejos de alongar as suas con- atlimosphera mi asm atiça ou rarefeita.
siderações. Vê-se, porém, forçada a fazer o contrario, O auctor põe na frente do seu livro —estudo hislorico
sentindo tanto mais quando reconhece que o illustre religioso.
orador fluminense e a sua obra são dignos de serio Certamente escreveu essas palavras antes de
estudo. concluir a obra, que não é, nem aproximadkmente,
Para as subsequentes publicações disporá de u m estudo religioso e muito menos um estudo his-
mais tempo e de mais espaço. torico.
Para o doutor Lopes Trovão só tem saudações e Limita-se Bourroul em todo o livro a fazer algu-
applausos. m a s transcripçõe8, acompanhadas de muito poucas
palavras suas, em phrase descorada, sem e n t h u s i a s .
mo e sem vigor.
E' verdade que declara no prologo que citou sem-
pre tomo maior gáudio de sua alma. Mas esta confis-
são não é u m a desculpa, tanto mais quando já é
Pedro I I , acostumado a lêr as epistolas bajulato-
proverbial a sua citomania.
rias dos áulicos infames, deveria sentir agora extra-
nhas sensações, si passasse os augustos olhos por u m A Evolução, que carece completamente de dados
pequeno pamphleto que acaba de ser publicado. positivos sobre a vida do capuchinho, quasi nada
pôde dizer da maior ou menor exatidão com que a
CARTA DE SAXTERRE AO SENHOR D. PEDRO I I é o titulo
n a r r a Bourroul.
do pamphleto, que é attribuido a u m acadcmieo de
Frei Caetano não passou também sem os seus >
S. Paulo, reconhecido como fervoroso e forte republi-
cano. milagritos : por sua intervenção com a côrte celeste,
Santerre desenha aos olhos do rei todo o quadro b r o t a r a m d u a s fresquissimas fontes atraz de um con-
negro das desgraças da Patria, na sua mais commi- v e n t o , em Pernambuco. Ainda o mesmo santo varão
seradora hediondez; accusa vigorosa e j u s t a m e n t e a conseguio fazer descer das nuvens"chuva reparado-
monarchia por todos estes males ; previne-o de que ra, por occasião de afftictiva secca, desmentindo, as-
j á se começa a ouvir o tropel dos batalhões republi. sim, certos palavrões modernos, que hereticamente
canos ; aponta-lhe este caminho : — « abdicae, se- proclamam que a chuva não é mais do que um phe_
nhor 1 » nomeno muito natural, produzido pelas correntes do
A verdade se diz neste livrinho com a rudeza das ar, pelo fluido electrico e por outras causas muito
coisas exactas. independentes da s a g r a d a ordem dos franciscanos.
Santerre mostra-se u m digno e util cidadão Os Para conseguir este milagroso eflèito, frei Cae-
soldados da Liberdade devem cobril-o de applausos. tano arrastou o povoa u m a procissão de penitencia,
— Esta obra foi impressa longe das vistas do em que foi s u f i c i e n t e m e n t e castigada a carne mise_
auctor. Não pode ser outra a causa de u m a e n o r m i - ravel.
dade de errosque contém. Entretanto, os inimigos da O. frade proclamava, assim, o funesto principio
Democracia e da verdade, que, n'estes casos, costu- dos antigos ascetas, de que — é preciso matar a Natu-
mam constituir-se, em desespero de causa, acérrimos reza.
defensores da grammatica, farão disso talvez um E n t r e t a n t o , o livro 6 digno da leitura de todos
cavallo de batalha.
porque, quando mais não seja, é, pelo menos, uma
— A Evolução agradece o exemplar com que foi prova de que o terreno do século só produziria uma
obsequiada e aperta a mão a Santerre, a quem sente floresta ultramontana, si esta fosse de cogumellos. I
SI
samente intrépidos.
Espera, porém, da sua firmeza e accentuação de
idéas e da tenacidade com que as propaga, que
Magalhães Castro não se recolha desalentado ao si- Publicou-se o 1* numero do Liberal. A julgar pelo
lencio. O distincto republicano não tem mesmo esse talento de seus redactores, è de esperar que aquelle
direito, quando aquelle ou a indifferença são u m cri- periodico tenha u m a carreira gloriosa nas lutas da
me nos tempos actuaes. imprensa.
Para os combatentes do valor de M. Castro n u n - No artigo inicia!, assignado por Ferreira de No-
ca ha trégua. vaes, não obstante estar bem traçado,a Evolução nota-
Entretanto, a Evolução folga em declarar que a l h e u m defeito : è fallar muito do passado e perder-
se em pomposos elogios, em divagações este reis; e
Democracia não ficou, por isso, sem um representante
c o m referencia ao presente dizer apenas que o pro-
na imprensa académica. N estas columnas,—baluar_ g r a m m a do partido é demais conhecido. Mas actual-
tes frágeis e vacillantes muito embota,—st hasteia m e n t e os mais proeminentes chefes do partido libe-
corajosamente a rútila randeira republicana. ral acham-se divididos em dois grupos que susten-
• J C. t a m ideas inteiramente oppostas : a qual delles per-
tence o illustre articulista ? Vacilla, e não respon-
d e claramente.
Traz ainda o Liberal os seguintes artigos : A si-
Gangão tuação passada por Galeão Carvalhal, Opportxn-inno por-
'peixeira Leite, Fusão das câmaras por V. M., Poder le-
Lá vem, do céo azul rasgando a face, gislativo por H. d'Almeida, poesias por Vieira da Cu-
nha e Pelino Guedes, Folhetim por M Peixoto, e
O bando das Idéas generosas,
u m a chronica phoxphorica.
Como uin rebanho d'aguias luminosas,
A Evolução saúda o Liberal.
Queum tufão no deserto arrebatasse.
Deixai, deixai passar o bando augusto P. c.
Das luhras e candentes Utopias,
Que vêm roetter no leito de Procusto
As l o t a s 1 YtancioF.
• »•">
A Eonluçá» tem de saudar o npparecimento do Não mais, em nosso altar, da crença os lumes santos. I
mais um periódico acadêmico—a Vanguarda, que sc lia em nossas visões só lívidos espantos ;
destina á propaganda catholica, e cuja redacção está, Somos bando espectral; o nada nos conduz...
confiada a Leão Bourroul, o conhecido cx-redactor da —Que se pode esperar dos filhos desta edade? !
Ueacçào.
Em nós, escarneo vil, assenta a mocidade
No artigo de apresentação, depois de ponderar
Como o manto de rei nos liombros de Jesus!!...
que o seu npparecimento, longe de significar um
A F F . CELSO J Ú N I O R .
svmptoma de scissão entre os ultramontanos acade
micos, vem, pelo contrario, attestar a virilidade do
partido cntholico na Academia,—a Vanguarda define U f u t u r o cia p a t r i a
a sua posição na imprensa, dizendo que, superior á
luctas dos partidos, será calholica, apostólica, romana II
sem rcslricções. A historia politica do Brazil é muito triste.
Aecrescenta que não faz questão de fôrmas, acei- Nas suas paginas de bronze estão cinzelados em
tando unicimente o governo que não offender a inde- symbolos terríveis os feitos monstruosos de uma rea
pendência da Igreja ; protesta contra a incompatibi- leza impudente.
lidade do Catholicismo com a Democracia. O cidadão, que lança-lhes um olhar, só vê ne-
Quanto ao primeiro ponto,a Evolução nada oppõe gror. A realeza cobriu-as de um manto escuro, em
ao contemporâneo :—uns caminham para diante, cujas dobras escondeu-se um despotismo feroz.
—procuram o aperfeiçoamento, outros caminham para E este manto de u m a realeza cynica, desdobra-se
traz,—persistem no retrocesso. por toda a nossa historia, abafando os gritos coléricos
Está, pois, a Vanguarda no exercício do seu di- dos cidadãos livres e recolhendo as baj ulaçoes dos
escravos vis.
reito.
E' triste, mas é real.
0 que a Evolução não pôde deixar passar sem um
Ruge indignado o coração dentro do peito, mas
pequeno reparo é a singular contradicção em que é a verdade que lhe subleva as iras. Corre pressuro-
anda Leão Bourroul envolvido. sa a dignidade ofiendida, mas esbarra na realidad £
Pois, si vos dizeis inimigo acérrimo e irrecon- d a Historia.
ciliável da Rovolução, — que é a impiedade, a hydra Os factos são frios, mas d'uma frialdade polar.
etc. si a Democracia moderna,—a que vai batendo em São nús, mas d'uma nudez sangrenta.
fuga precipitada, desnorteados e confusos, os apos- Arrancam um grito de a m a r g u r a e outro de vin-
tolos dc Passado, — nada mais é do que o resultado gança.
das elaborações operadas no seio das sociedades pela A m a r g a r a , que vem dos morticínios do Primei-
Revolução ;—como affirmaes que ella não ó incompatí- ro Império, da hecatombe de patriotas abatidos ante
vel com o catholicismo, como o entendeis e o propa- a Supremacia I m p e r i a l ; vingança, que virá do FuLu-
gaes ? Confessae : é uma afflrmação irreflectida. ro, dessas idéas humanitarias que escaldam todos os
Vosso programara ó o Syllabus,—o mais feroz cerebros.
inimigo de todas as liberdades e de todos os progres- Levados por estas idéas, interrogaremos o nosso
sos. passado politico, examinando os princípios que pre-
Não profaneis, portanto, a Democracia, pensando dominaram n a organisação social do Império.
por um só momento que ellá se pode harmonisar com A Philosophia da Historia affirma que a sobera-
aquelle acervo de erros. nia de u m a nação reside nas forças vivas da mesma
n a ç ã o ; que estas forças são as personalidades livres»
Ou sois das phalanges que trabalham pelo F u t u -
reunidas, unificadas por um pacto social, chamado
ro, ou pertenceis ás que querem conservar o Passado. Carta ou Constituição Politica; que nem um homem
Uma de duas. Escolhei. pode antepôr-se á magestade da nação, sem quebra
J . C. m a n i f e s t a d a s leis naturaes-sociaes.
Estes princípios foram violados na nossa orga-
COLLABORACÀO 9
nisação politica.
O Direito Nacional foi vencido pela vontade in-
dividual-imperial.
Ü têmpora £ o mores 1 Da violação impune do Direito Popular surgiu a
consagração servil do Despotismo.
E' triste a geraçào que exangue surge agora. Exponhamos os factos.
Nos braços sem valor lia musculos sem força ; Quando o povo brasileiro, desprendendo-se da
Seguiu-se a timidez pacifica da corça velha Europa, quiz matricular-se no grande livro das
nacionalidades americanas, apresentou-se-lhe um
Ao nervo dos leões indomitos d'outr'ora.
aventureiro imperial para inscrever esse nome. Tra-
zia nos lábios o tremor do sorriso amigo, no coração
Tornaram-se elegia os cânticos d'aurora...
o palpitar da pulsação trahidora
—Qu'importa que da lucta a víbora se torça
O Povo incauto confiou naquelle sorriso.
E, após, as espiraes, colérica, destorça, A farça—Ipyranga—coròou a D. Pedro com a
Se um peso atroz nos curva e o tédio nos devora? aureola dos libertadores.
« 3
3/1
delegação não s e harmonisa com a da Constituinte; opinião de um douto mestre, que nos parece mais
ó vitalícia. consentânea com o espirito da lei.
Quanto ao argumento fundado no art. 11, de No estudo do» a r t s . 174 a 178, h a uma distíne-
que se serve, j á cal»io pela reputação feita ú opinião cSo a f a z e r : temos a matéria dos a r t s . 164 a 17d. que
refere-se A lei que declara a recessidade da reforma,
de S. Pinheiro.
que manda os eleitores conferiram poderes especiae»
No senado, um distincto Jurisconsulto susten-
aos deputados, e esta passa pelos tramites ordinários-
tou que devem intervir na reforma o senado e a e o que diz respeito propriamente ao exercido do
corda, fundado ein divorsos artigos da Constitui- poder constituinte, e confecção d a lei, art. 177, é
ção. ( 4 ) esta attribuição, este exercicio neha-se completamen-
Diz elle fundado no art. 17:1. te desprendido dos outros poderes.
d 1.° A Assembléa Geral no principio das sessões Assim : « Na seguinte legislatura, c na primeira
examinará si a Constituirão foi exactamente obser- sessão, a r t . 177, será a matéria proposta e discutida,
vada, para prover como for justo.» Ora, si Assembléa e o que se vencef prevalecerá para a mudança ou
Xv
Geral quer dizer senado e camará temporaria, art. 14, addicção á Lei f u n d a m e n t a l , e j u n t a n d o - s e á Consti-
| qualquer providencia deve ser tomada por ambas as tuição, será solemnemente promulgado. »
camarns. Não se pdde, porfconto, conclue elle, excluir Portanto, si os deputados com poderes especiaeg
o senado desta providencia principal — a da refor- propuzerem, discutirem e vencerem n a primeira ses-
ma. são, prevalecerá o resultado como lei, e, juntando-se
Mas não procede : a ) porque o a r t . 173 nada á Constituição, será solemuemente promulgada. In-
tem de commum com os que se referem á reforma ; depende, por corisequencia, pela letíra de nossa lei,
b ) porque examinar si uma Constituição foi bem do concurso de outro qualquer p o d e r verg
observada ou não, não é alterai-a ou reformal-a. Supponha-se, porém, que — o que se vencer — nhai
E accrescenta tomando o art. 117: refira-se ao que se vencer n a e a m a r a , no senado e co-
2." Diz o art. 177 .. « o que se vencer na discus- rôa ; será a*reforma inconstitucional, p o r não se har- seus
são prevalecerá para a mudança ou addicção á Le 1 monisar com a phrase do art. 177 : — o que te vencer — dal
fundamental, e juntando-se a ella, será solemnemen- n a discussão dos d e p u t a d o s com poderes especiaes, elle
t e promulgado. » Ora, a promulgação solemne pelo — seja considerado lei. éa
art. 68 presuppõe a approvação do projecto de lei A d m i t t a - s e ainda a h y p o t h e s e , e que vença-se vits
por ambas as câmaras, e a saneção: a Fazemos saber n a camara, mas não no senado. Ora, q u a n t o ao sena- me:
que a Assembléa geral decretou e nós queremos e t c . ; » do, u m a de duas : ou o projecto é rpgeitado in limine rea
logo, pela ultima plirase do art. 177, a reforma deve ou cm parle. No primeiro caso neutraliza-o comple- cip:
seguir os tramites ordinários. tamente ; no segundo r e s t a o recurso do a r t . 61, que dei
Foi menos feliz n a argumentação : a ) , a promul- dá margem ao sophisma. E em a m b o s os casos não é Ian
gação das leis constitucionaes não se faz pelo processo a interpretação compatível com a p h r a s e — o que se mo
vencer prevalecerá p a r a m u d a n ç a ou addicção á Lei cin
ordinário do art. 98 ( 5 ) ; 6 ) , a pbrase indica tão
fundamental. coi
somente que seria pueril conceber-se lei sem pro-
Concedendo, comtudo, q u e vença-se n a camara e hu
mulgação, seja ella qual f ô r ; c ) é matéria assentada
no senado, m a s que a corôa n e g u e saneção, ainda é
ein Direito Publico que os actos constitutivos só t e m
inadmissível; porque o projecto a q u e se negou sane-
promulgação e independem de saneção (6) ; d) a po
ção não pôde ser mais a p r e s e n t a d o n a m e s m a sessão
phrase não é peculiar de nossa Constituição'; idênti- ini
( a r t s . 64 e 65 ), e isto ó repellido pela l e t t r a do art pa
ca encontra-se n a de Ncw-York, a r t . 8 o . 177—o que se vencer será lei.
O seu ultimo argumento ainda é fundado no Logo, são excluídos o senado e a corôa do poder
aat. 177 princ : nu
constituinte pela nossa Constituição. ( 7 ) po
3." No a r t . 177 princ — diz-se a n a seguinte Uma opinião toda original, , contradictoria em
legislatura...» Ora por legislatura entende-se, pelo uso cu
lógica, e condemnavel em politica, é s u s t e n t a d a pelo to
que faz desta palavra a Constituição, o exercicio de poder a quem estão confiados os d e s t i n o s do paiz. ca
todos os poderes encarregados de confeccionar a lei, M isnão analysal-a h e m o s : t e m sido por dcmai s en
em um certo decurso tempo : logo, pela intelligen- combatida. J a cahio no d o m í n i o d a opinião publica de
cia dada á palavra, devem todos os poderes tomar
que por ella confiscam-se os direitos do Povo, e assas- rii
parte na reforma.
sina-se a Lei.
Este argumento é por de mais fraco :
D
Todos os artigos que dizem respeito a reforma — 30
0. RESENDE
174 a 178—constituem excepções, como j á notámos, e
ao preceito geral do ar-. 15 § 8% e a palavra legislatu- g<
ra é \ima dessas excepções. (7) A doutrina expendida j a foi posta em pratica I es
Provada, como julgamos, pela analyse das opi- em 1832 ; essa lei só fixou os artigos q u e deviam ser i lo
niões contrarias, a exclusão do senado e corôa. é claro reformados, e foi realisada a refqrma só pelo poder o
que só compete a faculdade de reformar a Constitui- especial: V. de Uruguav—Estudoas Práticos—Appen-
ção a um poder especial. Vamos, comtudo, expôr a dice. Dr. Américo Brasiliense :—Os Programmas dos dc
Partidos. ti<
(4; Discursos pronunciados no senado em 1879.
(5) Act. Add. princ:
(6) Hello— Du Régime Constitucionel. pag. 230. Typ. da Tribuna Liberal.
Fá
w r
A EVOLUÇÃO
P^iodico redigido peloji í cadpteog
Julio de Castilhos Pereira da Costa
Assis Brazil
seus fructos, torna-se necessaria u m a o u t r a f ô r m a de Não t e n t e m impedir a marcha das idéas que vão
governo. E i n c o n s c i e n t e m e n t e todos appellam para a b r i n d o passagem para os largos descampados do
a republica. Futuro.
Eis abi, p o r t a n t o , a preparação. Tudo será era vão.
Fel-a a lei da evolução histórica. O carro da Revolução, na sua impetuosidade
doida, sepultará os insensatos que t e n t a r e m travar-
l h e as r o d a s !
Derrotados a i n d a n'esse p o n t o , desamparados J. C.
pela lógica, os m o n a r c h i s t a s t e n t a m a i n d a o u l t i m o
recurso, o recurso d o s que se s e n t e m baquear a n t e
a verdade d o s a c o n t e c i m e n t o s
Assim como é impossível levantar u m edifício Uma resposta
sem fortes esteios que o s u s t e n t e m , t a m b é m é impos-
sível o e s t a b e l e c i m e n t o da republica sem h o m e n s A Evolução vai d e m o n s t r a r «com a Historia em
aptos p a r a i n a u g u r a l - a . punho», r e s p o n d e n d o as contestações d a Vanguarda,
Onde estão e s t e s h o m e n s ? Vós não e n c o n t r a e s , o como foi a Igreja Catholica a creadora da Inquisi-
dizem elles aos d e m o c r a t a s . ção».
Isto, sobre ser irrisorio, é s i m p l e s m e n t e ridículo.
Nem m e s m o podia prescindir disso : j á porque
0 m e s m o que succede n a n a t u r e z a physica s u c -
Leão Bourroul lhe morece toda a consideração, j á
cede n o m u n d o social.
p o r q u e , t r a t a n d o - s e de u m a questão desta o r d e m ,
Bem como n a s g r a n d e s t r a n s f o r m a ç õ e s d a m a t é -
t e m obrigação de s u s t e n t a r o q u e disse.
ria, n a s assombrosas t r a n s f o r m a ç õ e s sociaes s u r g e m
novos produetos, a g e n t e s novos, novas forças i m p u l - Que falle, pois, a historia.
soras,—que são filiações fataes, dcsinvolvímentos « Por q u e m a inquisição foi instituída ? Pelos
logicos. reis ? P a r a j u l g a r crimes políticos ? Foi a Igreja,
Os a c o n t e c i m e n t o s a d v ê m por o u t r a s que não a s q u e m creou este t r i b u n a l ; foi a Igreja, quem creou o
forças m e r a m e n t e h u m a n a s ; elles advém em v i r t u d e c r i m e . Dissemos que a i g r e j a inventou o crime ; ef-
d ' u m a lei i m m a n e n t e que g o v e r n a p o t e n t e m e n t e f e c t i v a m e n t e o crime é imaginario. A heresia que
a H u m a n i d a d e nos seus movimentos s e m p r e a s c e n - conduzio t a n t o s dasgraçados â fogueira não é sinão
d e n t e s , exercendo sobre c i l a a sua acção d ' u m modo . u m a opinião sobre d o g m a s , opinião que a Igreja
fatal e irresistível, p o r é m s a b i a m e n t e , porém concor- declara errônea e que a razão m u i t a s vezes approva.
dantemente. Com que fim a I g r e j a p u n e u m erro dogmático ?
Os g r a n d e s a c o n t e c i m e n t o s é que f o r m a m e pro- P o r q u e a heresia a t a c a seu direito divino, sua infal-
d u z e m os g r a n d e s h o m e n s , que são a p e n a s u m r e - libilidade, isto é, os títulos sobre os quaes repousa
s u l t a d o , q u e s ã o ' m é r o s p r o d u e t o s d o s meios sociaes seu poder. A Inquisição é, pois, u m i n s t r u m e n t o
em que se agitam e vivem.
d o dominio ecclesiastico». Eis ahi a opinião de
A Historia é a d e m o n s t r a ç ã o cabal e incontestá-
L a u r e n t , palavra por palavra (I).
v e l d ' e s t a s v e r d a d e s d e q u e estão d e posse todas a s
intelligencias esclarecidas. « O concilio de L a t r ã o (1215) e o d e Tolosa (1229)
B a s t a a t t e n d e r p a r a o m a g n o exemplo—a Revo- fizeram da Inquisição u m t r i b u n a l permanente (2)».
lução Franceza. « Coube a Innocencio III a h o n r a de t e r estabe-
Aquelles h o m e n s , c u j o s n o m e s f o r m a m o l u m i - lecido a inquisição no m u n d o , isto é, de t e r regula-
noso estribilho que a H u m a n i d a d e r e p e t e enthusias- risado, centralisado, codificado a perseguição (3)».
tícamentc ao som da m u s i c a do progresso, que são P e d r o Larousse diz a i n d a : • E m 1233 Grego-
constellações e s p l e n d i d a s a r u t i l a r e m com brilho rio X conficou a direcção deste terrível tribunal aos
inextinguível n o s p a r a m o s estrellados da Historia, dominicanos (4)».
aquelles h o m e n s d e 89 nasceram com a Revolução, C a n t u , cujas idéas religiosas são m u i t o bem
fizeram-se com ella, f o r a m u m resultado todo seu. conhecidas, accusa a b e r t a m e n t e a Inquisição; mas,
Pouco a n t e s d e 89, q u e m creria n o appareci- procurando defender a I g r e j a , diz que ella não é res-
m e n t o f u t u r o de taes vultos cyclopicos?
ponsável pelos crimes praticados, porque nunca a p -
E é sempre assim.
provou-a em concilio (5).
A fermentação que ahi assombrosamente se vae
U l t i m o recurso. Mas isto é u m a defesa ? Esta
formando n o seio do paiz leva incumbado em si u m
justificação é rigorosamente orthodoxa? Era abso-
portentoso acontecimento, q u e , ao desabar, fará
surgir d este a n t r o pavoroso e tétrico de trevas—uma l u t a m e n t e necessário que a Igreja approvasse a I n -
t u r b a de leões indomitos. quisição em concilio afim d e que fôsse a única enti-
dade responsável pelos seus c r i m e s ?
NSo, certamente. Neste ponto o grande historia- gem de poder ser comprehendida por todos c por
dor, si bem que preste homenagem ás suas crenças, todos verificada.
deixa muito patente a verdade. A historia politica d'este paiz não tem sido es-
Quem creou, pois, a Inquisição? tudada á luz da philosophia
A Igreja, diz Laurent ; a Igreja, diz Pedro La- Tem sido isso de grande atrazo para a causa
rousse ; a Igreja, diz ainda, indirectamente, Cesar democratica. Porém, mais para lamentar ainda é I
Cantu. que os homens, que não tfem pulso e critério para 1
E, effectivamente, quem eram os inqusidores ? explicar o passado, sejam também fracos, ineptos
Alguns legistas, alguns officiaes leigos ? Não ; eram para comprehender o presente.
padres. Entretanto,
De que crimes tomava conta a inquisição ? Não isso ó logico; essa tibieza, essa mvo- II
tomava conta de heresias, de crimes religiosos? pia são naturaes e consequentes.
Ora, uma instituição desta ordem, essencial- Sem premissas estabelecidas, não lia conclusão
possível.
O facto fica, assim, naturalmente explicado.
mente religiosa, e que fulgurou tanto, quem poderia
fundal-a n'uma épocha em que a Igreja era tudo,
em que os papas punham e dispunham ?
Aqui, de duas uma : negar a existencia da histo-
Quem não conhece o caminho andado muito
ria, ou conformar-se com a triste verdade.
menos conhecerá o que resta a percorrer.
* *
*
Desta circumstancia nasce fatalmente um phe-
nomeno, cuja observação, emfrente das leis históri-
No mesmo artigo diz ainda Leão Bpurroul : cas, é da mais palpitante importancia.
«já passou o periodo das balelas e jâ são calumnias
O advento de successos inesperados, de factos
sediças, repetições enfadonhas, os contínuos appel»
não previstos pela politica, de phenomenos não ex-
los a Wiclef, João Huss, a Luthero e a mais a col y tos
plicados—tem produzido naturalmente nos espíritos,
de Satanaz ».
sobretudo nos últimos tempos d'este reinado, um
A isto a Evolução não precisa responder ; pede
certo estado de duvida, de incerteza, de vacillação,
apenas ao articulista o obsequio de 1er os trechos
seguintes : que é para uns a descrença, para outros o apodreci-
« João Huss, prégador da Universidade de Praga, mento do caracter.
tinha já levantado a voz contra a depravação do Divididos em partidos que não são partidos, em
clero, quando Jeronymo de Praga chegou de Oxford, grupos sem unidade, em aggregações cujas moléculas
trazendo os livros de Wiclef : Huss começou a t a - tendem a um continuo affastamento, pela sua fra-
cando primeiramente os abusos, depois as indul- quíssima coliesão,—aquelles que se acham á frente
gências (6)». dos destinos da patria estabeleceram, ha muito, a
« O fogo, que queimou João Huss e Jeronymo, completa anarchia mental.
fez com que se atacasse n a Bohemia u m terrível
Do centro de todos os grupos surgem gritos des-
incêndio (7) ».
compassados e dissonantes, atirados em todos os sen-
De boa fé, p e r g u n t a finalmente, o articulista,
tidos.
quem ocredita hoje no cárcere de Galileo ?
Si para o triumpho da democracia pura bastasse
Pois será mesmo tão evangelico o espirito do
redactor da Vanguarda que não acredite também nos o consenso unanime dos partidos activos, o Brasil
textos de um j u l g a m e n t o , conservado pela historia, seria hoje republicano. Porque, nas circumstancias
que começa assim : « Eu, Galileo, de idade de s e - supremas, a cada golpe novo, vibrado pelo braço do
tenta annos, agrilhoado diante de vós, emminentis- desconhecido,—a monarchia tem sido accusada por
simos cardeaes, etc., etc. » ? u n s e por outros.
Consciente ou inconscientemente, directa ou in-
P. C.
directamente, o que é verdade e o que pôde ser facil-
mente observado — é que a accusação tem partido de
todos.
A crise dos espíritos Os absolutistas desesperam da fraqueza do r e i ;
os constitucionalistas desesperam da fraqueza da
A Evolução não vai demonstrar u m a t h e s e ; vai constituição; os pseudo-democratas desesperam da
observar um facto e tirar-lhe as consequências lógi- fraqueza d*essa chimera—a democracia mixta.
cas e necessarías.
A doutrina que faz partir toda a sciencia, todas •õ-
as deducções unicamente dos dados seguros da ex-
Mas, nem dos descrentes, nem dos desesperan-
periencia, da observação t e m por si a grande v a n t a -
çados se ha de formar o núcleo poderosíssimo a quem
está preservada a grande missão de d á r em terra com
(6) Lenfant, Hist. da guerra dos hussitas. os últimos destroços do phantasma s i n i s t r o .
(7) Cantu, Obr. cit., T. XII, pag. 309. A idéa democratica foi trazida ao espirito h u -
28 A. EVOLUÇÃO
mano unicamente pela força da philosophia. Só a Depois da tempestade—a placidez serena è mansa
philosophia, a analyse calma e serena, poderá, pois, da aurora.
arregimentar os desilludidos—porque estes também Depois da crise—a normalidade.
são philosophos—os pensadores—porque estes são O sol de a m a n h ã ha de fatalmente clarear, com
mais philosophos ainda—e organizar o luminoso luz nova, u m dia novo
exercito.
Esse momento decisivo parece, emfim, ter chega-
do para o Brasil. Não ha, pois, motivo p a r a que o s patriotas sin-
Os partidos decrepitos e rotos cumpriram fatal- ceros descreiam do f u t u r o .
mente, à mingoa de lógica, o seu inglorio fhdario. O f u t u r o pertence á historia j a historia cai no
Chegou-lhes a épocha amarga da decomposição domínio da philosophia ; e esta é decisivamente so-
lenta, porém irresistível, a que estão subjcitas n'este
berana.
mundo todas as coisas que não têm u m destino
A ' s forças activas d a sociedade compete enca-
determinado e logico.
m i n h a r e dirigir o m o v i m e n t o , trazido pela fatalidade
Prova irreplicavel da sua imprestabilidade, diante das leis históricas.
das largas aspirações actuaes, é esse facto por todos
N'isso consiste todo o t r a b a l h o consciente do
sentido, por todos observado, esse facto significativo
que a Evolução constatou, começando este artigo :— progresso.
a anarchia que lavra-lhes no seio, como incêndio A Evolução espera d e m o n s t r a r , no seu proximo
destruidor. n u m e r o , que esse t r a b a l h o só se p o d e r á traduzir na
—Revolução.
Para os partidos, para a politica d'este pniz,
chegou, pois, a épocha que toda a H u m a n i d a d e tem No seu e n t e n d e r , a Revolução não é mais do que
de atravessar. o resultado logico e n a t u r a l d a elaboração evolutiva,
salvo q u a n d o a s sociedades fôrem sabias bastante
A Evolução ehamal-a-á pelo nome : — a crise
p a r a c o n j u r a r o m a l , abrindo l i v r e m e n t e a s valvulas
dos espíritos.
ao progresso.
• E n t r e t a n t o , o q u e , d e s d e j á , n i n g u é m poderá
n e g a r é q u e , p a r a lavar a s m i s é r i a s do presente,
A crise não é a normalidade.
vários p r e n ú n c i o s fazem crêr q u e , n o s laboratórios
A crise é a transição.
do f u t u r o , se está p r e p a r a n d o u m g r a n d e banho de
A transição, n a s sociedades, prenuncia-se s e m -
sarfgue.
pre por u m grande abalo, que as faz apparente ou A. B.
realmente retroceder.
A historia superabunda n'estes g r a n d e s exem-
plos.
Como o homem que t e m de saltar u m precipício
A' «Vanguarda»
aberto, medindo a distancia que lhe separa as a r e s t a s , Está publicado o 3 o n u m e r o d a Vanguarda, perio-
verga-se para traz, sobre si mesmo, afiirf de obter dico u l t r a m o n t a n o .
mais firme tensão em seus nervos,—assim t a m b é m
E m p e n h a - s e o c o n t e m p o r â n e o e m demonstrar a
a sociedade, n a s vesperas de u m g r a n d e passo p a r a
improcedência do p e q u e n o reparo q u e , ao noticiar o
o progresso, recüa por momentos, detem-se à beira
seu a p p a r e c i m e n t o , a Evolução fez acerca d a palpável
do abysmo, e salta por elle depois, coberta de t r i -
contradicção e m q u e càe, affirmando a compatibilida-
u m p h o e coberta de gloria.
de d a Democracia çpm o catholicismo, quando é certo
A historia t e m seus retrocessos. Seus retours, que esta não é sinão o f e c u n d o p r o d u e t o das revolu-
dizia Proudhon ; seus ricorsi, dizia Vico. ções, e q u a n d o a i n d a é certo que elle se diz inimigo
Exactamente n'este ponto acha-se este paiz, i n t r a n s i g e n t e d a s revoluções.
como a Evolução acaba de observar. O que a Evolução esperava ao fazer essa ligeira
O desprestigio dos governos, a corrupção do observação, succedeu. Baldo de lógica, lançado n'uni
poder, a immoralidade que desce sinistramente d a s t e r r e n o resvaladio e perigoso,—porque ousára pene-
alturas, o descalabro das instituições vigentes—são t r a r ás f u r t a d e l a s no a c a m p a m e n t o inimigo para
a consequência n a t u r a l d'este estado excepcional de encobrir com o brilho do a r m a m e n t o d'elle a fer-
coisas. r u g e m do s e u , — o a r t i c u l i s t a u l t r a m o n t a n o nada
Os espíritos vacillam ; as convicções abalam-se ; responde de cabal, de decisivo.
rasgam-se a s bandeiras dos partidos ; os conservado- Para d e f e n d e r - s e , recorreu ás definições de De-
res avançam até os arraiaes libcraes e recúam a t é mocracia e de Revolução, e , formulando-as a seu
os limites do despotismo ; os liberaes avançam até o t a l a n t e , deu-lhes aquelle estylo olympico, auctoritft*
campo republicano e recúam até as raias do aucto- rio, s u p e r i o r m e n t e jactancioso, de que não poderá
ritarismo ; a confusão e a desordem são os p h a n t a s - f u g i r os catholicos, a c o s t u m a d o s a argumentar, a
mas sombrios d e s t a scena monstruosa, apreciar razões c o n t r a r i a s , e a encarar todas as ques-
Mas a solução d'este problema está estabelecida tões que se lhes a p r e s e n t a m , t e n d o por único apoio
a priori. a tal infallibilidade do d o g m a , a fé.
31
A IiVOLUÇÃO
lUuminal -o, esclarecel-o, afim de fjuo encare O contracto social, rigorosamente fatiando, n j 0
com olhos d'aguia, sem temor e sem receio, os tem razão de ser : foi uma Chimera methodisada
horisontes incendiados pelo sol da liberdade : eis a pelo cerebro candente de João Jacques, mas existe
grande questão do presente, eis a grande questão do o contracto civil, o contracto politico
futuro. Este contrcto é a lei fundamental que regula o
Esta épocha é a épocha das liquidações, dolorosas modo de ser de cada nacionalidade.
talvez. O governo é o motor que deve pôr em acção
Porque o século presente ou ha de assistir aos esta lei fundamental.
mais assombrosos reviramentos, ou á completa reor- A funeção, o fim do governo é applicar, honesta-
ganisação das sociedades pela justiSa e pela igual- mente, a bem da felicidade de todos, esta lei funda-
dade. mental, este pacto original, que deve ser a expressão
E' bom notar : Napoleão III j á foi precipitado legitima e real das necessidades de todos, da vontade
pela força dos acontecimentos do throno de Luiz de todos.
Phelippe; na Inglaterra o proletariado assombra; Daqui segue-se ainda : quando tractar-se dos in-
no seio da grande Allemanlia o rei vive como que teresses de todos, competirá á todos intervir directa
encarcerado, cuidando talvez enchergar em cada ou indirectamente na questão : eis o direito.
canto as sombras de Hcedel e Nobling; nos gelos Nenhuma reforma será considerada fundamental,
da Rússia j á começou a fumegar ura vulcão im- contribuirá para a felicidade c o m m u m se não basear-
menso. se na vontade de torlos : eis a necessidade da appli-
cação do direito.
E tudo isto o que significa, o que quer dizer ?
Conclusão lógica : os governos não são mais do
Que os governos não podem continuar a ser, como
que delegados da nação.
outr'ora, a encarnação da força, a tyrannia organiza-
da ; que os interesses, que as liberdades individual Porque o principio do governo é a vontade ge-
e social não podem estar sujeitos por mais tempo ao ral, o fim a felicidade geral, e não a vontade de um
só, a felicidade de u m só ou de poucos.
direito divino, ao fanatismo, á iniquidade e aos pri-
vilégios. Rousseau disse : «se houvesse u m povo de deuses,
elle se governaria democraticamente». Pois bem*
A verdade é esta. Entretanto os governos se
Os vinculos sagrados da igualdade e d a fraternida-
obstinam a não seguir os conselhos da historia, da
de tendem a t r a n s f o r m a r cada nação em povo de
experiencia, e, procurando tresloucadamente fechar a deuses.
éra da Revolução, apoiados na força, se annunciam
como verdadeiros e estáveis aos olhos do cidadão
timorato ; mas a miséria que desmoralisa as massas, Muito imperfeita e r a p i d a m e n t e ahi ficou deli-
as más administrações que se succedem ininterrupta-- neada a tendencia dos espíritos.
mente vão espalhando a desharmonia, a cholera, a
Considerando-a, chega-se a conclusão de que não
irritação no seio das sociedades, o germem, emfim,
haverá j a m a i s estabilidade possível p a r a as socie-
de futuras desgraças.
dades, emquanto não se estabelecer u m a equação
E' tempo de que os governos compenetrem-se exacta entre os interesses individuaes e sociaes, equi-
de sua missão civilisadora, e procurem equilibrar librados n a balança d a j u s t i ç a ; emquanto toda
e dirigir as forças sociaes, tomando medidas sabias e organisação politica não repousar sobre estes tres
justas, e não fazendo decretar leis arbitrarias e dra- pontos capitães :
conianas, como o cesarista Bismark : e isto para im-
A ordem, sem a q u a l não pôde haver liberda-
pedir os desvairamentoe populares.
de ;
A liberdade, sem a qual a ordem não será mais
do que a escravidão o r g a n i z a d a ;
Neste estado actual de cousas, qual a base e
A igualdade, sem a q u a l a ordem e a liberdade
a missão dos governos, segundo as tendencias da ci-
não existirão senão em proveito de u m pequeno
vilisação 1 numero.
A base—a soberania do povo. Néstas circumstancias os governos que preten-
A missão—a felicidade e a manutenção da liber- dem permanecer estacionários allegando fúteis pre-
dade de todos pela felicidade e a manutenção da textos, ou cumprirão seus deveres, ou inevitavel-
liberdade de cada u m . mente serão arrastados pela vontade nacional e
A soberania do povo—porque hoje está rigorosa- precipitados ás aguas revoltas desse mar onde já
mente demonstrado que ella não existe, nem pôde sobrenadam mil pedaços de sceptros e de tliiaras.
existir em outra parte senão no seio das sociedades—; Decretem muito embora leis a r b i t r a r i a s ; escra-
é u m attributo, u m predicado seu inalienavel. visem o cidadão pela eleição e pelo vinculo religioso ;
Os governos não podem continuar, mesmo des- lancem mão, finalmente, de todos os recursos pos-
farçadamente, nos paizes civilisados, a apoiarem-se síveis, porque nada resistirá.
neste dogma supremo : — a vontade de um só, que Não ha ninguém que possa exercer uma influen-
engendra o despotismo e repousa sobre uma usurpa- cia directa na organisação social, por mais violenta,
ção vergonhosa. por mais forte que seja essa intervenção.
31
A IiVOLUÇÃO
Assis Braz i1
BH
3i A EVOLUÇÃO
sabins bastante para conjurar o mal, abrindo livre- Virá, portanto, forçosamente o recurso supremo.
mente as valvulas ao progresso ». Virá a Revolução.
Torrente despenhada do alto de uma montanha Virão a carnificina, o assassinato, o sangue, a
enorme,—o progresso ha de rolar-lhe pacifica e bene- conflagração, màu grado os ridículos esforços dos
ficamente pelos empinados flancos, si a prudência velhos partidos gafados e apodrecidos, màu grado
o .deixar rolar e si a sabedoria preparar-lhe o leito ; alguns pobres homens timoratos e inconsequentes
mas, si a temeridade erguer-lhe tropeços e diques que servem a tyrannia porque não se julgam dignos
na passagem, ent5o a torrente deter.-se-á por mo- da liberdade.
mentos, engrossará, e, intumecendo o seio espu- Mas a historia ha de registrar que os revolucio-
mante ha de arrasar as muralhas e leval-as de golpe nários foram elles, que não comprchenderam os des-
pela montanha abaixo. tinos e o caminhar da sua patria, e não nós, os que
Esta imagem, muito repetida, porém muito n o s vamos por ella sacrificar n a praça publica, por-
exacta, é por sl uma demonstraçfio. que não somos mais do que i n s t r u m e n t o s de uma
lei que elles não enchergam e que nós devotada-
m e n t e servimos.
Havia dois meios de salval-a, e esses ahi ficam E, e n t r e t a n t o , a Evolução mais do que n i n g u é m
apontados. deplora que se t e n h a tornado indispensável e fatal
Appellar para o primeiro, appellar para a cha- esse g r a n d e desespero dos povos, que se c h a m a Re-
mada revolução pacifica, seria uma irrisão, no estado volução.
actual das coisas. Deplora q u e , 'nestes t e m p o s de tão a m a r g a s
Nem precisa a Evolução de repetir o que t a n t a s experiencias, que ' n e s t e g r a n d e século XIX—não se
vezes e tão positivamente tem dito por estas col- t e n h a m ainda comprehendido os destinos dos povos,
lumnas. Os pa rtidos constitucionaes, em u m a p a - a o ponto de evitar d'estes extravios fóra da estrada
n a t u r a l , d'estes r o m p i m e n t o s com a ú n i c a lei d i -
lavra, o mechanismo inteiro d'esta infeliz monarchia
rectora de t o d a s a s coisas—a lei da evolução.
está podre e incapaz de agir n o sentido da liber-
A s Revoluções são factos a n o r m a e s n a vida dos
dade compatível com as aspirações da époclia. Ainda
povos. Não são a providencia histórica, na velha
agora o paiz assiste ao escandaloso e dolorosíssimo
p h r a s e , m a s são anormalidades.
espectáculo da queda da sua u l t i m a esperança, de-
A revolução é u m incidente e não u m accidente.
positada no partido que mais sympatliias t i n h a , m a s
H a u m Eu collectivo, u m E u sociologico, assim
que acaba de receber, em troco da trahição, o escarro
como h a u m E u individual, psychologico. A Hu-
soberano do Povo—esse incorruptível tribunal de
m a n i d a d e é u m individuo g r a n d e , disse A u g u s t o
todos os tempos. Comte. E não podia d e i x a r d e ser a s s i m , p o r q u e a
Mas, ainda deixando de p a r t e todas essas misé- H u m a n i d a d e é a s o m m a d o s indivíduos, e a s o m m a
rias, a Evolução pôde afflrmar que a revolução pacifica é da n a t u r e z a d a s parcellas.
seria u m a burla, n a s circumstancias actuaes. Pois este g r a n d e individuo, assim como o pe-
Ha certo ponto Da vida dos povos em que todos queno, está subjeito a e n f e r m i d a d e s , e s t á subjeito a
os esforços são impotentes para suspender a t e m p e s - crises.
tade imminente. A u m corpo g a n g r e n a d o applica-se o ferro em
A avalanche, despenhada do alto, j á vem p e t t o b r a z a ; a u m a sociedade c o r r u p t a , i n v e t e r a d a m e n t e
de mais para que se possa preparar-lhe o caminho, g a n g r e n a d a também—applica-se este o u t r o ferro em
para evitar os destroços que h a de fazer na vertigi- braza—a Revolução.
nosa passagem. Mas, assim t a m b é m como o individuo n u n c a
A transigência com os partidos constitucionaes, e n f e r m a r i a , si evitasse a s causas d a e n f e r m i d a d e , —
a H u m a n i d a d e c a m i n h a r i a pela rota n o r m a l , si não
representantes do passado, é inacceitavel por insi-
p r e t e n d e s s e m d'ella arredal-a.
diosa, inutil por anachronica. De n a d a serviria
Os revolucionários são, pois, os q u e e n t r a v a m -
Leão X transigio, e a Reforma t r i u m p h o u ;
Luiz XVI transigio, e a sua cabeça rolou do alto d a l h e o caminho.
guilhotina revolucionaria; Napoleão transigio, e o
espirito do século XIX quebrou-lhe a espada heroica-
Mas, j á q u e é necessário, j á que é i m p r e s c i n d í -
mente bandida nos campos de Waterloo ; t r a n s i g i - vel, que venha o g r a n d e dia.
r a m Carlos X e Luiz Fellippe, e essa transigência
Esperemol-o com a s e r e n i d a d e do j u s t o e com o
não obstou a que rolassem pelos d e g r a u s abaixo d o nobre heroísmo da consciência.
throno vacillante. Si elle está m u i t o p e r t o , si está m u i t o longe—c
K' ta rde, é m u i t o t a r d e para as t e n t a t i v a s con- o que n i n g u é m pôde prever.
ciliatórias. Falta a confiança no patriotismo, na consciência,
O meio t e r m o e o palliativo t o r n a m - s e , sobre n a vergonha d"este povo, p a r a u m a previsão s e g u r a .
inúteis,—irrisorios. E' dolorosa esta i n c e r t e z a ! fi
Mas, si o estado é de transição, o paiz não pôde Mas, por outro lado, o governo apressa o movi-
permanecer 'nelle. mento, com repetidos escandalos.
r
31
A IiVOLUÇÃO
« A nós, pois, democratas sinceros, toca dar á Mas não morreste, n ã o ; — q u e a sepultura
nossa Patria a forma de governo que. sendo a reali- Tu a sonhaste—mystica ventura
dade pratica da liberdade, igualdade e fraternidade, N a s u p r e m a v o l ú p i a d o NÃO SER.
é a ú n i c a c o m p a t í v e l com a n a t u r e z a h u m a n a , c o m
os princípios democráticos. »
C o n c l ú e c o n c i t a n d o á l u t a os s o l d a d o s d a D e m o - O EGYPTO
c r a c i a . « Q u e ella s e j a s e m t r é g u a s , p o r q u e só a s s i m ,
m o r t a a miséria do presente que é esmagador, pode- ( A Valentim Magalhães)
r e m o s c o m o s e u c a d a v e r a t u l h a r p a r a s e m p r e a se"
p u l t u r a do passado q u e é vergonhoso. » M u d o , s o m b r i o , lívido e tranquillo,
O grave sacerdote a lei superna
Eis, m a i s ou menos, tão largamente exposto
Ia gravar nos antros da caverna,
q u a n t o pode sel-o nos acanhados limites d ' u m a sim-
p l e s noticia, — o q u e e n c e r r a o livro d e q u e se falia Onde se arrasta lento o crocodilo.
aqui.
E hoje o que resta j á de t u d o aquillo ?
N o s « Esíudos Políticos», â par da manifestação Resta o silencio q u e a m u d e z governa,
de u m talento robusto e de u m a consciência valoro- O vacno, a solidão, a m ú m i a e t e r n a ,
s a m e n t e i n t r é p i d a , a Evolução, p a r a g u a r d a r a m a x i - No deserto areal d o sacro Nilo.
m a franqueza n a emissão dos seus conceitos, não
pode deixar de declarar que encontra não raras incor- A p a l m e i r a feliz n ã o m a i s a v u l t a
recções de estylo, m u i t o naturaes a quem, como Na curva do horisonte dilatado,
c o n f e s s a o p r o p r i o a u c t o r , p e l a p r i m e i r a vez a r c a c o m Onde a sombra d a morte ora se occulta.
o difficultoso m a n e j o d a p e n n a .
I n c o r r e c ç õ e s , p o r é m , q u e c o m c e r t e z a n ã o se r e - M a s u m a coisa fica—o g ê n i o o u s a d o ,
p r o d u z i r ã o n a s s u b s e q u e n t e s p u b l i c a ç õ e s . D"isso e s t á Que a m o r t a l h a d o s t e m p o s n ã o s e p u l t a ,
c e r t a a Evolução. Na g r i m p a d a s p y r a m i d e s alçado.
Seja como fôr, E d u a r d o Lima bem merece da
Democracia.
N ã o l h e f a l t a r ã o , p o r c e r t o , a elle q u e t ã o d i g n a -
A GRÉCIA
m e n t e se acaba de afíirinar n a s lutas porfiadas do
p e n s a m e n t o , os a p p l a u s o s s i n c e r o s de t o d o s os c o - (A Affonso Celso Júnior)
religionarios.
O s « Es In dos Políticos » são o p r i m e i r o p a s s o d ' u m a M o r r e s t e , ó m ã e ! Na m o r b i d e z a p a t h i o a ,
carreira, que h a de ser b r i l h a n t e m e n t e victoriosa. Colheu-te a mão nervosa a morte esqualidá
A Evolução n ã o receia s e r a c o i m a d a de p a r c i a l , E foste repousar, gelada, estatiea,
prophetisando para o convencido republicano um N o t u m u l o do t e m p o a f r o n t e v á l i d a . '
A IiVOLUÇÃO 31
No Parthenon deserto, u virgem atth-a, No seio dos partidos constit-ueionaes, que pare-
Qual teu m á r m o r e b r a n c o , immovcl, pallida, cem ter j u r a d o nos altares de suas mesquinhas e
Deixou morror no lábio a dor svmputhica ignóbeis ambições a deshonra e a vergonha da Pa-
E rebentar nu peito a libra cálida. tria, que parecem destinados, desde sua formação, a
encherem de paginas negras c infamantes a historia
No silencio da noite, cái funerea
politica deste paiz,—no seio dessas agglomerações
A lagryma do céo na campa rórida,
d e homens corrompidos ainda se pôde distinguir u n s
Onde rolaste d e s g r e n h a d a e flacida.
pobres crentes que por abi andam,—cedros que ain-
da restam da g r a n d e floresta de vontades e de con-
Mas, no t u m u l o e t e r n o , á luz sidérea,
sciências, desapparecida á chamina devoradora do
Inda eu te vejo a f r o n t e bella e flórida,
g r a n d e incêndio que calcinou o caracter da naciona-
N'umn explosão de luz serena e placida.
lidade brazileira
E m n u m e r o muito limitado, esses cidadãos h o n -
rados e p a t r i o t a s ainda ousam lutar para extirpar
AHASWERU8 aquelle poder, que t e m depauperado as energias e a
vitalidade deste povo, e t e n t a m , no t e r r e n o da lega-
(A Silva Jardim ) lidade, fazer e n t r a r a nação na posse de si mesma,
governando-se livremente.
E, e n t r e t a n t o , t u vais, 6 livido precito, T e n t a m ainda isso, i n g e n u a m e n t e crédulos na
Pela róta s e m fim, d o s t e m p o s atravez, cíficacia d ' u m a lei eleitoral que vivifique a vontade
Das g e r a ç õ e s ouvindo o lastimoso g r i t o , nacional, restabelecendo a verdade da representação
Ao virem se q u e b r a r debaixo dos t e u s pés. por meio d ' u m a c a m a r a l e g i t i m a m e n t e eleita, e, por-
t a n t o , livre.
Que d e s t i n o f a t a l ! no c a m i n h a r sopito,
Crèm a i n d a q u e , organisado como está o poder,
Vão te m o r d e n d o os cães, as víboras cruéis.
é possível c o n s e g u i r que a eleição exprima livremen-
E e m b a l d e o raio desce a r d e n t e do infinito,
t e a vontade popular.
—Que u m t u m u l o não h a g r a n d e como t u és.
IIludem-se, e illudem-se perigosamente, porque
Do pó d a s g e r a ç õ e s q u e d o r m e m no passado m a i s e m a i s p r o l o n g a m esse r a s t e j a r pelo lodo da
Nem p o d e s a t t e n d e r ao rouco soluçar m i s é r i a e do a b a t i m e n t o , em que vive este paiz.
Que t e m a n d a d e t e r o p r o g r e d i r o u s a d o ; Não vêm que é de todo vão c inútil lutar c o n t r a
u m a o r d e m de coisas, em q u e a soberania concentra-
Porque t u vais g a l g a n d o o t e m p o , o a b y s m o , o m a r , se n ' u m só individuo, c u j o s poderes são hereditários.
C h a m a s - t o HUMANIDADE, e t e n s e m ti g r a v a d o
P r e t e n d e r l i b e r t a r a nação p o r meio do voto di-
0 d i s t i c o f a t a l : — M A R C H A R ! MAIICITAU ! MARCHAR t recto e universalisado, é impossível q u a n d o elle a b -
Assis BRAZIL. s o l u t a m e n t e não pôde s e r livre. Será, pelo contrario,
u m novo e l e m e n t o para consolidar ainda mais, si é
possível, o p o d e r r e a l
0 inevitável Q u e r e m d e s t r u i r o mal, m a s c o m b a t e m o effeito
cm vez d e c o m b a t e r a causa.
T r a b a l h a e s t e p a i z u m a crise f o r m i d á v e l .
O p o d e r discricionário e t y r a n n i c o do monarcha
Crise da c o n s c i ê n c i a , crise d a i n t e l l i g e n c i a , crise
n ã o lhe vem do a b u s o ; elle nada m a i s faz do que
do c a r a c t e r , c r i s e d a J u s t i ç a , q u e o l a n ç o u n ' u m e.s-
exercer a s f u n e ç õ e s q u e l h e concede a carta consti-
t a d o d e e x t r e m o d e s e s p e r o , preso d a s v e r t i g e n s d a
tucional.
decomposição, t o r n a d a c a d a v e r a s u a d i g n i d a d e pela
A g u e r r a deve s e r dirigida c o n t r a a lei.
gangrena da corrupção.
N'ella está a causa.
E s t e m o d o d e s e r , a n o r m a l i s s i m o n a vida d o s
N'ella e s t á o m a l .
povos, r e c l a m a u r g e n t e m e n t e u m a solução, q u e não
Sinão veja-se.
p o d e v i r sinfio com a d e s t r u i ç ã o da c a u s a q u e o p r o -
duzio. T r a d u z i n d o a índole do g o v e r n o monarchico con-
s t i t u c i o n a l , q u e é a alliança hybrida e n t r e a m o n a r -
T o d o s r e c o n h e c e m q u e h a u m a força d o m i n a d o -
chia e a democracia, a C o n s t i t u i ç ã o p r o c u r o u e s t a -
r a q u e a b s o r v e e m si t o d a s a s forças sociaes, p e a n d o -
belecer e n t r e esses d o u s e l e m e n t o s c o n t r á r i o s , i n i -
l h e s o i m p u l s o , s o p i t a n d o - l h e s os m o v i m e n t o s , i m -
m i g o s , u m equilíbrio, que é impossível s u b s i s t i r e
pedindo e abafando-lhes a expansão, lançando-asi
perdurar.
emtim, n ' u m a impotência desesperadora.
E s s a forca é o p r e d o m í n i o o m n i i c o d o d ' u m p o d e r Ao e l e m e n t o monarchico foi buscar o seu c a r a -
sobre t o d o s os o u t r o s , q u e , e l e m e n t o p e r t u r b a d o r , os c t e r p r i m o r d i a l , o m o n a r c h a por graça de Deus, i r r e s -
r e d u z a g r a v i t a r e m e m t o r n o d e si, t o r n a d o o c e n t r o ponsável, inviolável e s a g r a d o , com a p r e r o g ativa
da g r a v i t a ç ã o ; d u m p o d e r q u e , s u b s t i t u i n d o - s e á a m p l a de dissolver a c a m a r a t e m p o r a r i a , d e e s c o l h e r
n a ç ã o , g o v e r n a - a p o r s u a s próprias i n s p i r a ç õ e s , le- o s m e m b r o s da c a m a r a vitalícia, de n o m e a r e d e m i t t i r
v a n d o - a m a n i e t a d a a o c a r r o de s e u s desvarios. l i v r e m e n t e os m i n i s t r o s , d e d i s t r i b u i r e m p r e g o s a o s
f u n c c i o n a r i o s , de fazer a g u e r r a e a paz, e t c . , accres-
E s s a torça ó a o m n i p o t ê n c i a d o m o u a r c h a .
c e n t a n d o - s e a t u d o isso, para coroar o edifício ei-
E; o poder pessoal.
38 A. EVOLUÇÃO
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