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Revista Internacional Do Espiritismo v12 N 10 Nov.1936
Revista Internacional Do Espiritismo v12 N 10 Nov.1936
Revista Internacional Do Espiritismo v12 N 10 Nov.1936
1C
CAIRBAR SCHUTEL
\
SUMMMRIO
Os Horisontes da Vida
A psychologia espirita
Tributo de Gratidão
O Espirito no espaço
Litteratura de ultra-tumba \
/ O sabio Dr. William Stekel e o ^
' Espiritismo ,
» Uma bella photo espirita 'i
’ O Espiritismo — Sua Historia
Basta de lagrimas
Notas Espiritas — «Antes, o que?»
Chronica Extrangeira
Ecos e Noticias
Notas e Factos
Espiritismo no Brasil
Topicos de «The Two Worlds»
Photo Espirita
__Z&iK
ANNO XII — E. S. Paulo — Mattão. 15 de Novembro de 1936 - NUM. 10
ReDista Internacional f
i
do Cspiritúmo
PUBLICAÇÃO MENSAL DE ESTUDOS ANÍMICOS E ESPIRITAS
DiRECTOR : CAIRBAR SCHUTEL x collaboradores : DIVERSOS
0(5
OS HORISONTES da yida
S concepções scientificas e Virlualmente os nossos «Guias»
religiosas dos detentores permanecem nos princípios de Plolo-
dos poderes intellectual e meu, gue assignala a terra como
espiritual não abrangem «Centro do Universo», e na doutrina
senão um limitado cyclo anthropocentrica, gue faz do corpo hu¬
de conhecimentos. mano o centro da vida.
A Vida para estes senhores está Vamos concordar gue esse mo¬
absolutamente restricta ao campo de do de vêr é a causa de todos os ma¬
sua acanhada visão e dos seus sen¬ les moraes porgue passa a humani¬
tidos deficientes e falliveis a todos os dade, São essas duas crenças me-
momentos. dieváes as dornas onde fermentam o
À vesania do orthodoxismo reli¬ orgulho e o egoismo, as ambições
gioso e scientifico chegou ao auge pegueninas, e os interesses bastardos
de classificar de loucura o guerer gue originam as contendas e o des¬
augmentar os horisontes da Vida além amor entre os povos e as nações.
dos limites de suas idéas preconce¬ Limitada a exislencia á terra, e
bidas ; não ha guem os possa con¬ a vida do berço ao tumulo, não se
vencer de gue detidos em lobregos pode esperar outra cousa senão o
antros, elles não poderão mesmo com- desencadeamento das paixões e lo¬
prehender a Vida tal como ella é dos esses desregramentos gue origi¬
com suas maravilhas e esplendores. nam a crise gue atravessamos.
Acham gue a Vida não passa de phe- O Espiritismo veio demonstrar-
nomenos eléctricos e chimicos (hypo- nos gue essas iheorias são por de¬
these mecanicista), ou então é o re¬ mais errôneas, são proposições fal-
sultado de uma força occulla (theo- sissimas em seus princípios e preju-
ria vitalista). Não se lhes pode falar dicialissimas em suas finalidades ni-
de alma, de espirito, expressão gue, hilislas.
guando acceita por alguns, não pas¬ O Espiritismo veio nos dar uma
sa do resultado do conflicto das for¬ Ideologia nobre, grandiosa e digna
ças gue o engendram. dos atiributos divinos.
Presos á sua pírronice, os van¬ Proclamando o Espirito como
guardeiros da civilisação resumiram autor de todos os phenomenos intel-
o Universo ao nosso insignificante lectuaes e moraes gue observamos, o
planeta e, semelhantes á rã do brejo Espiritismo dá a razão clara e lógi¬
gue não admittia a existência de ou¬ ca da existência terrestre e mostra a
tros brejos, também elles não admit- Vida desdobrando-se sob múltiplos
tem outros meios de vida, outros mun¬ aspectos em todo o Universo. Os
dos senão o nosso. seus phenomenos irrefi agaveis, incon-
292 — Revista internacional do Espiritismo
ooooooooooooooooooooooooooooooo
o A PSYCHOLOGM ESPIRITO :=
O Edifício da Psychologia que os sábios materialistas ergueram
sob as bases do principio de Lavoisier, leria forçosamenle que se desmo¬
ronar com o conhecimen/o do Mundo Espiritual.
Nós somos felizes por presenciarmos a derrocada desse carco¬
mido edifício e ainda mais por sermos conlados entre os obreiros do
Grande Monumento Psychologico delineado por Allan-Kardec, que em
breve abrigará a humanidade Ioda.
A nossa Psychologia não só abrange as espheras da Vida phy-
sica e psychica na Terra, como lambem dos mundos que inierpenelram-
n'a e rodeiam-ifa.
Sob os seus auspícios a humanidade passará por completa trans¬
formação. — X.
Kcvlstg mternaclonai do Espiritismo — 293 —
nos mostram que esse corpo é rigo¬ respeito das verdadeiras proporções
rosamente idêntico ao que o Espirito do Universo.
tinha na terra. Quando a sciencia, com a inexo¬
Uma simples analogia pode, se rável lógica dos factos abriu aos nos¬
não explicar, ao menos ajudar a com- sos olhos attonitos e deslumbrados
prehender o que se dá em tal caso : as perspectivas illimitadas do infinito,
O perispirito pode ser asseme¬ quando a astronomia projectou o seu
lhado a um electro iman; o corpo ao telescópio sobre os espaços sideraes,
espectro magnético ; e a vida á elee- as velhas legendas se evaporaram ao
tricididade. sopro da realidade. Os mundos que
Emquanto o fluido electrico não povoam o universo, são terras como
circula, não ha espectro, o electro- a nossa, sobre as quaes palpita a vi¬
iman fica indifferente : eis um estado da universal, e o homem moderno ri
analogo ao do perispirito no Espaço ; das pretenções infantis dos nossos
elle contem virtualmente em si, to¬ antepassados que quizeram limitar a
das as linhas que formam o organis¬ este imperceptível grão de areia, cha¬
mo, mas não as dispõe. Logo que a mado terra, as manifestações da for¬
corrente circula no electro-iman, a li- ça infinita, increada e eterna, a que
magem se accomoda seguindo uma se dá o nome de Deus.
certa ordem, e forma esse desenho a Se, porém, o céo não existe no
que chamamos espectro-magnetico ; logar em que o indicavam, para onde
do mesmo modo succede com o pe¬ foi elle transportado ? Em que regiões
rispirito : sob a influencia do fluido do immenso Universo devemos collo-
vital subtrahido do médium, elle ac¬ car o éden de delicias promettido ás
comoda a matéria conforme o dese¬ almas que cumpriram dignamente a
nho do organismo, e reproduz o cor¬ sua missão? Eis o que nenhuma reli¬
po humano, como este era na vida gião indica, e somente o Espiritismo,
terrena. demonstrando o verdadeiro destino
O perispirito, bem que formado do homem, nos põe no estado de com-
de matéria primitiva, é mais ou me¬ prehender o progresso indefinido do
nos puro de misturas, conforme o Espirito, por transmigrações successi-
mundo habitado pelo Espirito. Essa vas. Tomando por ponto de partida a
observação nos conduz ao assignala- natureza do homem e os attributos
mento do verdadeiro logar que occu- de Deus, Allan Kardec mostrou qual
pamos no Universo. devia ser o nosso futuro espiritual.
Uma verdade que a astronomia Vamos, resumindo, expôr a sua dou¬
hoje tornou vulgar, é a de não ser o trina.
nosso mundo o centro do universo ; O homem é composto de corpo
segundo e 11 a. a nossa pequena terra e Espirito ; o Espirito é o ser princi¬
é um dos planetas mais pobremente pal, o ser racional e intelligente; o
dotados do systema solar. Nada, em corpo é o involucro material que o
seu volume ou na sua posição eclip- Espirito reveste temporariamente pa¬
tica, da qual resultam as estações, ra o cumprimento da sua missão na
dá-lhe o direito de orgulhar-se do lo¬ terra, e para a execução do trabalho
gar que occupa, e, não muito longe necessário ao seu adiantamento. O
de nós, o planeta Júpiter nos offere- corpo, quando gasto, é destruído, mas
ce o exemplo de condições de habi- a alma sobrevive a essa destruição.
tabilidade preferíveis ás nossas. Com Em summa, o Espirito é tudo, e a
esses conhecimentos, que fazem das matéria não é mais do que um acces-
estrellas sóes como o nosso, em cujo sorio, de modo que a alma, libertada
redor circulam planetas, cahiram os dos laços corporaes, entra no Espa¬
«! erros seculares dos nossos avós, se¬ ço, que é a sua verdadeira patria.
gundo os quaes o inferno achava-se Ha, pois, o mundo corporal, com¬
collocado no centro da terra, e o ter¬ posto de Espíritos incarnados, e o
ceiro céo, aquelle onde foi elevado S. mundo espiritual, formado pelos Es¬
Paulo, distava nos confins da creaçáo. píritos desincarnados. Os seres do
Estes dadps cosmologicos se basea¬ mundo corporal, em virtude do seu
vam na ignorância dos theologos a involucro material, estão presos á
- 296 — Revista irtfemaclorval do Espiritismo
mens tem um dos outros. A vida so¬ insufficiente para que o Espirito pos¬
cial é a pedra de toque das bôas e sa adquirir tudo o que lhe falta de
das más qualidades. A bondade, a bem, e despojar-se de todo o mal que
malvadeza, a doçura, a violência, a em si exista. O selvagem, por exem¬
benevolencia, a caridade, o egoismo, plo, não poderá numa só incarnação
a avareza, o orgulho, a humildade, a attingir o nivel moral do europeu
sinceridade, a franqueza, a lealdade, mais adiantado. Isso lhe é material¬
a má-fé, a hypocrisia, em uma pala¬ mente impossível. Deverá elle, por¬
vra tudo o que constitue o homem tanto, ficar eternamente na ignorân¬
de bem ou o homem perverso, tem cia e na barbarie, privado dos gozos
por movei ou por incentivo as rela¬ que só lhe podem vir com o desen¬
ções do homem com os seus seme¬ volvimento de suas faculdades ? O
lhantes ; aquelle que vivesse só, não simples bom senso repelle uma tal
teria vicios nem virtudes, porque, se supposição, que seria ao mesmo tem¬
pelo isolamento elle se preserva do po a negação da justiça, da bondade
mal, annula com isso o bem. Uma só de Deus e da lei progressiva da na¬
existência corporal é manifestamente tureza.
t
Por Ernesto Bozzano Da «Revne Spirite»
(Continuação)
ara citar alguns dados des¬ cos e confinado na mesma região du¬
ta sorte, eu lembrarei o ter¬ rante a guerra. Eu lhe perguntei dos
mo polylarchia, que não acontecimentos a este respeito ; elle me
existe na «Versão autorisa- declarou que a «descripção que se ti¬
. da» do Novo Testamento» nha feito dos Escriptos era todavia, e-
# e que, nos Escriptos de xacta, e que, em torno da villa de Ico-
Cleophas é empregado co¬ nium, se estende uma planície desolada,
mo uma transcripção no alphabeto totalmente desprovida de agua. (Light,
moderno (transliteração) da palavra 1928, p. 233)»
grega correspondente, empregado nos
Actos dos Aposlolos XVII, 6. O mes¬ Como se poude vêr, o Rev. John
mo acontece com o vocábulo Archon Lamond nota entre outras cousas que
(p. 161), devendo indicar a chave da os Escriplos de Cleophas são escla¬
communidade julgadora em Àntiochia recidos duma nova luz de numerosos
da Syria ; palavra na qual se consta¬ acontecimentos dos quaes os Actos
ta a justeza, porque pode-se assegu¬ dos Aposlolos tocam rapidamente. À
rar que o imperador Augusto, no an- titulo de exemplo, eis um dos acon¬
no 11 de nossa Era, tinha destinado tecimentos.
a recollocar o antigo titulo d’tlhnarck. No cap. VIII dos Aclos dos A-
Mrs. Barbara Mackenzie ajunta postolos lê-se que a multidão lapidou
esta outra coincidência geograohíca a S. Estevão : o versículo 5Ô nos mos¬
que os espertos em questão não ha¬ tra que «os testemunhos depõem seus
viam assignalado : vestidos aos pés dum moço chama¬
do Saulo» — Como não se diz outra
«Nos PIscriptos de Cleophas eu li cousa a respeito pergunta-se : Porque
com o mais vivo interesse o episodio elles fizeram isso? Que significa essa
pitoresco de Barnabé—o descobridor de acção? Quem eia Saulo?»
fontes — na planície arida que envolve Os Escriplos de Cleophas con¬
a villa de Iconium. Pois bem, eu en¬ tam o episodio mais deialhado e en¬
contrei, ha alguns dias, um official que tão se comprehende.
tinha sido feito prisioneiro pelos Tur¬ Saulo era um moço que tinha
— 298 — Revista internacional do Espiritismo
ços nossos, mas do autor da chronica se dirigiu para ter informações á res¬
donde extrahimos as resenhas ; ellas peito do «Mensageiro» que ditava as
eram constituidas por imagens que «chronicas sagradas». O «Espirito-
Cleophas acolheu da grande “Arvore guia» tinha respondido :
das Lembranças”, para as transmittir
em seguida á nós, seus “mensageiros” «Depois de algum tempo, um
encarregados de as transformar em ter¬ grupo collectivo de espíritos trabalha¬
mos accessiveis aos homens de vossa vam para descobrir um sensitivo capaz
geração. De todo o modo, será bom de receber, atravez do mecanismo do
supprimir no texto as palavras de in¬ seu cerebro, a historia das origens do
trodução, afim de evitar toda a confu¬ Christianismo. Os membros deste grupo
são nas pessoas que lerem estas chro- pensavam que não pudesse haver ahi
nicas”. um expediente melhor para combater o
horrível vácuo espiritual que se havia
Miss Gibbes continua dizendo : produzido nas almas da geração actual;
vácuo terrificante, quando se o observa
«Algumas palavras da introdução do mundo espiritual... Cleophas e seus
foram suprimidas no texto que foi pu¬ coadjutores se propuzeram então a der¬
blicado. Notarei que a explicação aci¬ ramar sobre os humanos o remedio de
ma era absolutamente inesperada por que elles careciam lhes revelando a his¬
nós. Entretanto, si se deve julgar pelo toria do periodo apostolico. A meu ver,
immenso material de factos que foi ci¬ elles não se conformam de que os ho-
tado por Mme. Cummins, nós podemos risontes mentaes da humanidade se a-
reconhecer bem fundada a affirmaçâo cham enormemente transformados de¬
segundo a qual se havia mudado de pois da época que elles viveram na ter¬
intenção, desde que se constatou a ra. Nem percebem que na presente so¬
grande capacidade mediumnica do «ins¬ ciedade humana não ha quasi lugar pa¬
trumento» que se empregava ; isto é, ra a fé; a humanidade quer chegar ao
que decidiu-se então ditar ao médium espiritual atravez do material». (Light,
uma historia dos tempos apostolicos in¬ 1928, p. 194).
finitamente mais longa e mais extensa
do que se havia convencionado então. D'onde resalta que o «espirito-
—(Light, 1929, pag. 152.) guia» de Miss Cummins duvida da
nobre tentativa de Cleophas e de
No que concerne aos fins a que seus coadjutores, que se propuzeram
se havia proposto os espíritos que se transmittir ao mundo as chronicas
communicavam, ditando as chronicas authenticas dos tempos apostolicos,
em questão, eis como elles falam : na esperança de salvar assim a pre¬
sente humanidade, reconstituindo a fé
«Nossa intenção é de semear no dos Christãos primitivos no seu Mes¬
coração dos homens de vossa geração, tre. Muitos de meus leitores partilham
o germe da fé no Divino Mestre, de sem duvida do aviso do «espirito-
modo que esta fé possa reflorescer. Es¬ guia» de Miss Cummins. Mas isto ne¬
peramos que o coração dos homens de nhuma importância tem sob o nosso
hoje acolherá a nossa semente ! Entre ponto de vista e serve unicamente
elles ha muitos que creem que Christo para confirmar uma verdade conheci¬
morreu. Absolutamente não ! Ab¬ da ha muito tempo, isto é que não
solutamente não ! Elle vive mais do se fica omnisciente só porque se des-
que nunca e reviverá nos corações, e incarna, mas que se permanece intel-
nos espíritos das gerações futuras com lectualmente no mesmo estado quan¬
mais efficacia que agora !—(Light, 1929, do no momento da morte. Não se tar¬
P. 147)
da a assimilar um grande numero de
conhecimentos concernente ao mundo
Taes são suas intenções, taes espiritual, onde o indivíduo se acha,
são suas esperanças. Agora é curio¬ mas não se despoja senão lentamen¬
so e interessante saber á este res¬ te das concepções intellectuaes que
peito a opinião dum outro «espirito- se possuia e não se entrevê senão
guia» de Miss Cummins, a quem esta vagamente ainda as verdades espiri-
- 300 — Revista internacional do Hsplrltlsmo
tuaes, á respeito das quaes, no Além facto do médium os ter captado nas
como no mundo dos vivos, cada um subconsciencias dos assistentes ou
tem o dever de exercer livremente dos ausentes (clarividência lelepathi-
seu discernimento; o que dá lugar, ca). Não se trata, pois, de «visões
como na terra, a varias opiniões mais psychometricas» em relação com um
ou menos em desaccordo entre si. objecto presente ao sensitivo — e por
Com isto, eu iulgo ter citado e consequência circumscriptos pelas «in¬
commentado sufficientemente o caso fluencias» existentes em estado laten¬
de que se trata, para fazer resaltar o te mesmo no objecto, mas trata-se,
grande valor lheorico em favor da ao contrario, de chronicas organicas,
interpretação espirita dos factos. O isto é, de uma narração ordenada de
caso é, entretanto, analogo ao de Pa- occorrencias, com numerosas noções
tience Worth, e em nada lhe é infe¬ geographicas, topographicas, históri¬
rior pela natureza maravilhosa do cas, philologicas ignoradas do mé¬
texto obtido mediumnicamente. À dif- dium e da qual se tem em seguida
ferença entre os dois casos é de na¬ constatado a authenticidade. Trata-se
tureza secundaria, e consiste na cir- finalmente em grande parte de episó¬
cumstancia de que nas communica- dios, aos quaes se tinha já feito al-
ções de Patience Worth se encontram lusão duma maneira obscura nos 4c-
dados—sobretudo sua linguagem per¬ los dos Aposíolos, e que, por outro
sistente em dialeclo archaico — gue lado, são relatados de uma maneira
podem servir indirectamente, mas ef- detalhada nos tscnplos de Cleophas,
ficazmente, para provar a indepen¬ tornando pela primeira vez intelligi-
dência espiritual, e, sob certo ponto vel o texto evangélico. Em summa,
de vista, mesmo a identificação pes¬ trata-se de uma obra histórica orde¬
soal da entidade gue se communi- nada, completa, vital, que está já
cava; emquanto que, no caso de composta de tres grossos volumes e
Cleophas, se vê apparecer dados no¬ não está acabada ainda. Não é, cer-
táveis desta natureza. Em todo o ca¬ tamenfe na sub-consciencia do mé¬
so, isto não representa uma impor¬ dium gue se deve procurar a genese
tância theorica apreciável, porque nos de uma obra de real importância his¬
dois casos a efficacia demonstrativa tórica e religiosa e na qual se en¬
dos factos nada ha a fazer com a contra dados, resenhas, detalhes que
questão da identificação pessoal, pa¬ não se saberia controlar sem se es¬
ra se limitar unicamente na natureza tar especialisado nas sciencias histó¬
intrínseca do material psychographico ricas, geographicas, theologicas, phi¬
obtido, cuja proveniência é explicável lologicas. Nestas condições não resta
por toda a hypothese naturalista. De senão uma cousa : acolher, esta vez
facto, mesmo no caso de Cleophas, ainda, em nome da lógica e do bom
as hypotheses da telepathia, da cryp- senso, as explicações dadas pelas
tomnesia, não chegam de maneira personalidades mediumnicas que dic-
nenhuma a dar conta de semelhantes taram a obra de que se trata: isto é,
factos, sobretudo si o se considera que as personalidades são entidades
que não se trata de resenhas isola¬ de defuntos que relaiam acontecimen¬
das, ou acontecimentos fragmentários tos aos quaes ellas assistiram, ou que
susceptíveis de serem attribuidos a se verificaram na época e na região
emergencias da subconsciencia do em que ellas viveram.
médium (cryptomnésia), ou bem ao (Continua)
M AL concluíramos a leitura
da entrevista do sabio aus¬
je, a doutrina do sr. Freud, sentenciar
sobre uma ciência. E ciência das mais
tríaco, dr. William Stekel, belas, das mais importantes, porque
sobre o Rio de Janeiro e, é ciência da alma. «O Espiritismo —
muito particularmente, sobre o Espi¬ diz o seu codificador—será cientifico
ritismo, inserta em «O Jornal» de 12, ou não será nada.» Estudando-o com
aflorou-nos, para logo, á memória, a- absoluto critério de um verdadeiro
quela assertiva de Montaigne : «Cada sabio, sem empirismos psicanalistas,
um deve escrever sobre o que sabe e concluiu Maxwell: «Pelo que me diz
quanto sabe». respeito, acho extremo interesse nes¬
Com muito maiores razões, se sas reuniões (espiritas) e sinto a im¬
esse cada um fôr um sabio. Ser-lhe á pressão de assistir ao nascimento de
profundamente risivel e ridículo falar um movimento religioso fadado a
sobre o que ignora absolutamente ... grandes destinos. O espiritismo vem
Um sabio houve, e bem maior a seu tempo, e corresponde a uma
do que o austríaco e psicanalista, que necessidade geral. A extensão que
nos honra com a sua visita — Cesar esta doutrina está tomando é um dos
Lombroso — que dissera coisas pio¬ fenomenos mais curiosos da época
res do Espiritismo. Estudando-o, po¬ atual».
rém, com o rigoroso critério dos sᬠEssa extensão é que apavora ao
bios e a honestidade dos consciencio¬ sabio Stekel e a outros, do mesmo
sos, retratou-se, depois, de mil mo¬ coturno. Apavorou se o sabio psica¬
dos. Aqui está uma de suas retrata¬ nalista «com a verdadeira epidemia
ções, que talvez aproveite a alguém : de espiritismo, que grassa em certos
«Só qualifica o Espiritismo de supers¬ meios». Em todos os meios, poderia
tição, o que não o tem reflexionado dizer—porque estamos no século das
como êle merece. Eu me envergonho luzes —se houvesse menos preconcei¬
de ter combatido a possibilidade dos tos e mais amor á Verdade da parte
fenomenos espiritas». de quantos se recorrem dele. Se o
O sabio psicanalista e austríaco, conhecesse bem. através de todos os
esquecido do judicioso conceito de seus aspectos, veria o sabio leviano
Sócrates, que diz «é sabedoria não se que essa epidemia é o unico reme-
querer saber o que se não sabe», foi dio capaz de curar a humanidade tris¬
mais longe: julgou o Espiritismo uma temente contaminada de falsas reli¬
superstição, uma coisa própria de es¬ giões, falsas doutrinas sociais e filo¬
píritos fracos, uma enfermidade. Com sóficas. teorias cientificas falsissimas.
que autoridade ? Em nome de que ? «São pessoas cerebramente fracas, ás
Com a autoridade de seu nome ? E’ que se socorrem ao espiritismo» afir¬
pouco. Deve ela valer tanto para as ma, ajustando á afirmativa que «en¬
pessoas criteriosas, que conheçam o fermos, por exemplo, que tendo per¬
espiritismo de perto, quanto valeria dido toda a esperança de recuperar a
a nossa, que nada sabemos de grego, saúde, se dirigem a espiritas, e veri¬
sobre a lingua grega. E essa autori¬ ficam, por coincidência, que ligeira
dade de sábios que tais, é bem da¬ melhora se registrou em seguida á
quelas de que nos disse Goethe: «Na¬ observação das prescrições espiritas».
da ha que mais retarde a marcha do Porque a medicina oficial, de que é
progresso, do que o respeito ás cha¬ sabio o ilustre doutor, permittiu que
madas autoridades». Em nome da psi¬ esses enfermos perdessem a esperan¬
canálise, tampouco póde êle falar. Não ça de se curarem? Claro que se ela,
póde uma panacéa cientifica, como é, a sua medicina, os curasse, êles não
naquilo que podemos apanhar até ho¬ iriam bater ás portas do Espiritismo,
- 302 — Revista internacional do Espiritismo
gy, assim como com M. Dangy, nos¬ Utilisados os tres chassis, accres-
sas impressões da jornada e nosso centamos mais um para um ensaio.
entretenimento proseguiu sobre a ex¬ Alguns convidados chegaram e
perimentação espirita: havia tanto estavamos em uma reunião de nove
que dizer que alguns dias depois nós pessoas, que se recolhem e esperam
nos reunimos em Charleville. muito que os nossos amigos do outro mun¬
felizes de poder aproveitar algumas do se manifestem, si for possível.
horas e assistir com toda a sympa- Mme. Gall ornou-se de bracele¬
thia a novas manifestações dos nos¬ tes phosphorescentes nos ante-braços
sos amigos do Espaço.
E o nosso intuito de hoje é
vos descrever esta sessão que
foi dada em nossa intenção.
Que nos seja permittido in¬
sistir sobre esta maneira parti¬
cularmente franceza de bom
acolhimento e de fraternidade
que nos foi reservada, porque
nós somos os «amigos belgas»
visitando os irmãos em crença.
Mme. Gall, em ferias entre
seus amigos, queria bem nos
dedicar uma «soirée», e os ex¬
perimentadores que leram o li¬
vro de Raoul Montandon sobre
a «Photographia Transcenden¬
tal» se lembram dos phenome-
nos supra-normaes produzidos
na presença desse médium.
E foi para uma dessas ses¬
sões que fomos convidados e
nos confessamos satisfeitos.
O apparelho photographico
que ia servir á Mme. Gall nos
foi apresentado, e nosso exa¬
me resultou ser um simples ap¬
parelho Kodac do formato 9x12
com lentilhas planas, do mode¬
lo conhecido por todos os tu¬
ristas.
Com o fim de ter um contro¬
le do phenomeno que se pro¬
duziria, M. Dangy pôz á nossa RETRATO DE Mlle. X. — Nossos leitores
disposição seu gabinete escuro constatarão facilmente que os traços cio
e pediu nos carregar nós mes¬ rosto são de uma semelhança flagrante
mos os chassis —o que fizemos. com os da figura da photo espirita na
Uma vez carregados, não os parte inferior do ectoplasma e justificam
perdemos mais de vista, e não plenamente a convicção de M. Pierre Louis.
foi senão no momento da pôse
que um delles foi collocado no appa¬ e se achava sentada entre nós.
relho. Um phono do modelo de «antes
Poderosos reflectores parabóli¬ da guerra», nos convidou a não usar¬
cos, sem possibilidade de sombra, il- mos a nossa vontade... força magi¬
luminaram a pessoa á photographar; ca... e nós nos deixamos acalentar...
a médium concentra-se cinco minutos quando, derepente, se manifesta a pre¬
mais ou menos, e depois passamos sença de uma entidade... o phono
também nós concentrados tres mi¬ foi subtraído e nós percebemos uma
nutos. vóz grave, profunda, mas pouco per-
Revista mTerrvaclonoi do Espiritismo — 305 —
ceptiveis aos ouvidos pouco habitua¬ mais tarde, terminado tudo, nós pas¬
dos. samos no gabinete escuro para ahi
Foi o guia do médium que se desenvolver as placas e vêr se encon¬
manifestou. travamos algum amigo do Espaço.
Alguns instantes de paciência, e No gabinete, onde tudo é mys-
eis que uma voz fluente, clara, argen¬ terio para o não iniciado, mas onde
tina, agradavel e vem dizer o bôa- todos os que têm manipulado á cla¬
noite a cada um dos assistentes ; foi ridade vermelha, as banheiras, os fras¬
a entidade familiar do grupo, a pe¬ cos dos sáes reveladores, etc., conhe¬
quena Liliane, desincarnada com a cem o desejo de ver apparecer na
idade de 4 annos. placa immersa no banho, o que viram
Ella teve uma palavra gentil pa¬ no momento em que photographaram.
ra todos, depois pediu um pouco de Ora aqui, este mesmo sentimen¬
musica para que outros amigos po- to reina, sobre o que nós ignoramos
dessem se manifestar e chegar a pro¬ do que se vai mostrar, mas nossa
duzir os phenomenos luminosos. curiosidade é sem cessar, cada vez
Nós ouvimos, então, no silencio, maior ... uma primeira placa está no
uma conversação astral, e emquanto banho e agitada,... emfim eis que ap-
Mme. Gall se entretinha comnosco, parece a reprodução de um de nós,
os segredinhos continuam mais dis- mas não ha outra cousa; nós passa¬
tinctamente : um amigo espiritual do mos á segunda, a mesma impaciên¬
grupo vem dar alguns conselhos á cia, depois de um momento uma man¬
M. Dangy. cha negra, muito escura, apparece de¬
Mme. Gall pede ás entidades de pois a vista normal do cliché, ha en¬
se mostrarem aos nossos olhos, di¬ tão alguma cousa, mas o que é ?
zendo que ella se punha á disposição Uma terceira é posta com pre¬
de todos, depois, nós vimos um cla¬ caução no mesmo banho, mas ella
rão azul persistente por alguns ins¬ não revela outra cousa que a photo
tantes, depois se dissolvendo em fu¬ da terceira.
maça luminosa e attingindo o gabine¬ Resta a quarta, que está confia¬
te da salla da sessão. Esta luminosi¬ da á banheira no revelador... e eis
dade persiste por certo tempo, depois que apparece uma massa enorme que
desapparece. Estes effeitos se produ¬ se vê nitidamente, mas nós distingui¬
zem e se succedem numerosas vezes mos os detalhes de nossas pessoas
e illuminam á direita e a esquerda, apparecer em baixo na placa.
embaixo e encima, entrecrusando-se,
Ha cabeças na massa fluidica,
parecendo que se assiste a um fogo
em quantidade, mas essas placas de¬
de artificio.
vem ainda passar pela manipulação
Um desprendimento de ozone nos
da fixagem e seccagem antes de po¬
inunda e nossos olhos maravilhados
der-se pronunciar á respeito.
seguem essas evoluções que vão se
fundir na noite. Vê-se que todas as Não é senão no dia seguinte,
entidades que se manifestam se es¬ depois de fixar o cliché no papel sen¬
forçam para nos dar o maximum de sível que o nosso amigo Pierre Louis,
satisfação. no momento em que se lhe apresenta
Algumas phrases de fraternida¬ esta photographia reconhece uma pes¬
de são pronunciadas para nós... nós soa amiga de mocidade, desincarnada
agradecíamos os esforços feitos para em 1914.
obter esses magnificos resultados, de¬ Esta cabeça se sobrepõe á ca¬
pois a sessão foi encerrada com uma beça de M. Louis e é perfeitamente
prece. Não esquecemos o bello exem¬ reconhecível.
plo de amor dado por esse grupo. Uma photographia desta pessôa
Mas havia ainda uma placa que está junta com a photographia supra-
não tinha sido usada e essa nós re¬ normal, afim de se poder constatar a
servamos para o fim da «soirée». similitude dos differentes detalhes da
Mme. Gall quiz então se concen¬ figura.
trar e nos photographar todos tres Uma outra cabeça, a do meio,
em uma só chapa. Alguns minutos nos é totalmente desconhecida e nin-
- 306 — Revista internacional do Espiritismo
guem a poude conhecer até o presen¬ uma placa photographica, sem meios
te. E’ para notar que Mme. Gall não fraudulentos ?
conhece pessoa alguma que teria po¬ Que nos seja permittido, á gui¬
dido pôl-a em relação com os conhe¬ sa de conclusão, annunciar que
cidos desincarnados de M. Louis, por¬ logo poderemos receber entre nós es¬
que foi em Dinant que nós nos en¬ ta excedente pessoa e nós seriamos
contramos pela primeira vez, o pri¬ felizes com todos os espiritas, si Mme.
meiro dia do Congresso e a segunda Gall consentisse dar-nos uma sessão
fez em Charleville, e não se teve tem¬ em homenagem aos espiritas liegenses.
po de falar sobre pessoas, que deixa¬
ram... este planeta, crêde-o !! ! Iwan MATHUS. Armand AL-
E os incrédulos falarão ainda... BERTZ. Pierre LOUÍS.
de suggestão, telepathia, etc. etc., 15 Agosto 1936,
mas elles souberam já suggestionar Grupo Pierre Louis.
ooooooooooooooooooooooooooooooo
BASTA DE LAGRIMA 8
(q Pela mão de Anthol que voltou do Além Q)
Da iRevue Spiritc» ll Trad. para a R. 1. E. 11 Por J. ). PRUDHOM
(Continuação)
cemente: «Não é uma bella cousa, nós sermos exirangeiros dava ao in¬
eu vos dizer, mas, mamãe, eu não te¬ cidente um espectáculo pathetico. Meu
nho tumulo; do meu corpo não ficou filho me murmurou docemente muitas
senão uma perna; enterraram-n’a no cousas intimas, em segredo. Depois,
campo com seis outras; o que restou pedindo aceitar a lembrança affectuo-
foi uma massa informe e eis-rne a- sa de seu pai e sua avó, por quem
qui!» Estes detalhes confirmavam a tinha uma grande affeição, elle bei¬
declaração feita pela clarividente, so¬ jou-me na fronte e retirou-se.»
bre o facto do seu avô o reconduzir O capitulo termina, como se po¬
para mostrar-lhe «alguns átomos re¬ de prever, por vibrantes effusões de
conhecíveis)'. gratidão ao Deus dos vivos, e uma
Em uma outra sessão, um Espi¬ não menos vibrante profissão de fé,
rito se communica e fala longamente. ou antes de negação do que se cha¬
Pelo modo de se exprimir, sobre as ma morte.
cousas ditas, Mme. Stuart reconheceu No seu quarto capitulo, Mine.
seu filho. Mas qual foi a sua emoção Stuart accumula as provas de identi¬
quando, á pedido dum assistente ao dade. Foi esta uma famosa sessão de
Espirito, para declinar seu nome e voz directa com auxilio das cornetas.
qualidades, antes de se retirar, o mé¬ Ella recebe o pavilhão do instrumen¬
dium formalisa-se e se finge em po¬ to perto de sua orelha e a vóz de
sição de soldado de guarda, emquan- Athol, jubilosa, lhe lembra uma pra-
io a mão direita faz continência mili¬ messa que elle fez :
tar, exclama numa vóz clara e forte os «Oh, mamãe, diz elle, não é isto
quatro nomes do joven aviador mor¬ maravilhoso ? Nunca feriamos sonha¬
to no campo da honra, accrescentan- do com semelhantes possibilidades !
do immediatamente : E minha promessa, marnãesinha? Eu
«Eu não sou senão um menino. te disse que logo voltaria e recanta-
Eu não tinha senão desoito annos e ria as canções!» E ante vinte e ires
nove mezes quando tombei, viclima testemunhas, a vóz de meu filho re-
da crueldade do homem para o ho¬ soou na sala. Soaram então as pala¬
mem, em Menin, á léste de Àrmen- vras de «A Perfect Day» (O dia per¬
tières. Eu não fui dispersado aos qua¬ feito). À vóz pára. Seguiu um silen¬
tro ventos, mas sim aos quarenta ven¬ cio indescriptivel. Parecia que nos
tos ; eu fui reduzido a migalhas . ..» haviamos transportado ao céo. Ver¬
Houve uma pausa, depois, estenden¬ dadeiramente era o cântico de um
do-me o braço íé a mãi quem fala) anjo, e sua vóz era mais rica e mais
«Eis ahi minha mãi sentada ali em bella como nenhuma outra eu havia
baixo; vem mamãe!» Eu estava pa- ouvido.
ralysada. Duas ou tres pessoas extra- Todos se achavam electnsados
nhas me deram signal para me ap- e eu, me parecia não estar mais na
proximar do médium; eu deixei en¬ terra» ... «O Silencio foi novamente
tão a cadeira, atravessei a sala, para interrompido pela vóz de meu filho.
aquella que havia miraculosamente Desta vez foi o «Let the great hig
se transformado em meu filho. Desde world keep tourning (Que volte o
que aproximei-me do meu menino, grande mundo). Mas quando elle che¬
pois era bem o meu menino, elle me gou ao velho estribilho familiar: «Yon-
disse : «Dá-me um beijo, mamãe que¬ ly Know y Wani you so...» parou
rida, indicando um ponto na sua fron¬ bruscamente e disse : “pois bem, ma¬
te e accrescentou; < Elles deram-me mãe, tu esqueceste o estribilho ? Tu
uma bailada aqui e em seguida me tinhas o habito de cantar comigo.
pulverisaram. Te digo isto, para que Canta!’’ E uma vez ainda nossas vo¬
sempre me reconheças quando me zes se misturaram, emquanto canta¬
communicar comtigo, e saibas que mos, elle em espirito, eu na carne !
sou eu.» Eu era a unica em toda a sala que
«Não houve na sala quem não tinha os olhos seccos, porque eu co¬
chorasse. Não é sempre que se pode nhecia a belleza destas palavras
assistir á reunião de urna mãe com “Vossa tristeza se transformará em
seu filho desapparecido, e o facto de alegria.” Um dos assislentes disse-
- 310 Revista lr\lerr\aclor\al do Espiritismo
me: «pedi ainda ao vosse anjo me¬ fim, um bello dia, sua mulher aca¬
nino para cantar.» bou por vencer sua repugnância e
Elle respondeu vivamente: "Sim, fel-o assistir a uma sessão. À primei¬
eu tenho de cantar uma outra canção, ra palavra do Espirito controle foi ;
mamãe. Deus te entregue a mim (God «Àllô papae !»
send you beack to Me). E elle pôz-se «Meu marido não respondeu. U-
a cantar. Mas desta vez uma coisa ma pausa, depois meu filho voltando-
ainda mais maravilhosa se produziu. se para mim, me disse : «Mamãe, pa¬
Cantando, elle transportava a canção pae não crê que seja eu». Elle voltou-
imteira ao presente : "Deus me entre¬ se para seu pae e disse: «Eu venho
gou á ti!» Tudo num ritmo e numa agora para te dar prova».
métrica perfeita gue nos tornaram ma¬ «Quando meu filho partiu para
ravilhados. Vós vos lembrais gue par¬ a França, meu marido foi só acom-
tindo para a França elle tinha pro- panhal-o e disse-lhe adeus em Fol-
metfido cantar estas fres canções kestone. Eu despedi-me delle em ca¬
guando voltasse dentro de ires me- sa. «Agora, papae, disse meu filho,
zes. Isto era um segredo entre nós. nem uma pessoa na terra ouviu as
Nenhuma engenhosidade humana po¬ ultimas palavras que me dirigistes por
de explicar esses factos concretos. occasião de nossa seoaração : tú to¬
Elles provam até á evidencia gue não mastes minhas duas mãos, uma em
ha morte 1» cada uma das tuas e tu me disseste:
E pois este facto trivial, mais «Deus te abençoe, meu filho; tu ago¬
dum valor muito probante embora se ra és um homem». Não foi preciso
trate duma cousa insignificante. dizer mais nada a meu marido, por¬
«Meu filho, diz Mme. Stuart, que elle banhou-se em lagrimas, di¬
guando era xnuito pegueno tinha pe¬ zendo : «Diante disto, meu pequeno,
na de pronulciar a palavra «cross» eu não posso mais duvidar. Eu sei
(cruz). Elle inventara uma peguena pa¬ que estas palavras são verdadeira-
lavra para elle que era «corky» e um mente tuas». E voltando-se para mim
dia tinha que tinha cahido, elle nos me disse: «Foram bem estas as ulti¬
entristeceu muito, a mim e a meu ma¬ mas palavras que lhe dirigi».
rido, apresentando-se diante de nós, E Àthol contou a seu pae como
dizendo : «Not corky?», (Não corky» ?). elle tinha ensaiado varias vezes cha¬
Elle não tinha 3 annos nessa época. mar a sua attenção, sobre sua pre¬
Outra noite, depois de trinta annos sença no quarto.
passados, elle manifestou-se repentina¬ «Eu te falei no ouvido, te disse :
mente em uma sessão : «Diz, mamãe, Àllô papae ! Impossível foi me fazer
não corky?» Eu fiquei fulminada; elle entender. Então nós nos acariciamos
vinha me despertar a lembrança. Este todos juntos, eu e alguns camaradas
appello de sua infancia me aturdiu. que se achavam commigo. Fizemos
Eu tinha complelamente esquecido o um alvoroço em toda a casa, mas
«não corky ?» de tres annos. Elle vi¬ em vão. Foi então que, antes de par¬
nha bruscamente me lembrar. O que tir, eu gritei com todas as minhas
prova que no Além não ha esqueci¬ forças: «Àllô, papai!» Desta vez eu
mento do passado». feri a vibração que era preciso e tu
No capitulo cinco foi o marido te levantastes julgando ter sido «so¬
de Mme. Stuart que ganhou no Espi¬ nho». Abristes o interruptor, déste u-
ritismo. Elle não acreditava. Uma noi¬ ma volta na casa e no quarto, mas
te elle foi despertado por uma vóz . não podias me vêr, então voltastes a
«Àllô papae !» Elle levantou-se, te deitar e te puzestes a chorar, e
mas julgou haver sonhado, porque no oh! papae, tu me fizeste chorar tam¬
quarto ninguém estava. Isto era bem bém — isto é horrível !»
o que seu filho costumava a dizer
para annunciar a sua presença. Em- íConclúe no p. numeroJ.
Revista míernaclonai do Esplrlllsmo - 311
Q.__£>
Notas Espiritas"
1 ”
«Untes, o que ?»
fundo dos Oceanos. E todavia, como balho dos evos. Mas uma vez admit-
a historia de uma folha é apenas um tido que a evolução do Universo pro¬
dia da historia humana, assim a his¬ cede por cyclos, a morte apparece
toria inteira da terra é como um mo¬ tão inevitável como o nascimento,
ver de palpebras deante da historia porque a semente deve germinar,
do Universo.» transformar-se em arvore e morrer,
Seja como fôr, uma cousa é cer¬ para nascer ainda e repetir o cyclo.
ta, e que liga toda a Creação: o A- O caminho é através da cruz. Tam¬
mor. Tudo parece ser a sua manifes¬ bém aquelle que vae em direcção do
tação. A própria morte, por este pon¬ poente alcançará o levante, porque a
to de vista, apparece como uma li¬ terra é redonda. Porém aquelle em¬
bertação, um alcançar dos fins. O pregará muito mais tempo e cansei¬
mundo não seria um valle de lagri¬ ras do que este que vae directamen-
mas, se nós assim não o fizéssemos, te para o Oriente, pois verá surgir o
com o nosso egoismo e a nossa bai¬ sol mais depressa.
xeza. Toda vez que conseguirmos li¬ Mas isto requer Fé, e a Fé ««/-
bertar-nos daquella attitude, apparen- trapassa a razão». Estaes vós pre¬
temente innata, mas na realidade crea- parados para trocar a razão pela Fé?
da pela sociedade humana, que nos
Se sim, vós estaes sobre a estrada
faz chamar «minhas» as cousas, nós
principal que conduz á solução do
percebemos não apenas a paz em nós,
mas que também a infundimos aos mais profundo enigma da Creação:
outros. Antes, o que ?
A nossa vida é curta demais pa¬
ra poder envolver com o olhar o tra¬ Mariano Rango dAragona.
Ghronica Extrangeira
Por W. CAMPELLO
no Rei. a ponto de elle ter dormido o que resolver, se seria melhor divi¬
bem e com indícios de rápido resta¬ dir sua fortuna ou deixai a ao filho,
belecimento e ter sido fixado o dia com a condição de zelar pela irmã.
nove de Agosto para a coroação. O Ella receia deixar dinheiro á moça
Rei restabeleceu-se completamente e devido á sua tendencia de gastar
ainda viveu mais oito annos, atingin¬ prodigamente. Escrevei-lhe, de minha
do o seu sexagésimo nono anniver- parte, que a partilha entre os dois é a
sario. unica coisa justa e o emprego que a
moça der á sua fortuna de modo ne¬
nhum influenciará a mãe. Se o dinhei¬
ro ficar com o filho a irmã não verá
Admirável mensagem um penny.» «Oh», protestou minha
mulher, «isto não é exacto, eu conhe¬
The Two Worlds — Por E. Oaten ço bem o rapaz.» Mr. Whyman repli¬
cou, «não se trata do que elle faria,
porém, elle está mettido em especu¬
E’ eSta a mais admiravel prova lações o que lhe impedirá a fazer o
psychometrica entre as muitas que te¬ que deseja.»
nho tido e obtida ha dois annos. Com Em seguida Mr. Whyman mos¬
surpresa havíamos recebido uma car¬ trou-se muito agitado e disse, «podeis
ta da Italia de uma senhora america¬ escrever-lhe immediatamente, porém,
na, que então suppunhamos estar em a vossa amiga não receberá a carta,
Honolulu. Nós a perdêramos de vista ella estará morta antes de recebel-a.»
ha vinte annos. Ella era velha amiga Rimo-nos. «Oh», proseguiu elle, «po¬
de minha mulher e a carta nos dizia deis rir, porém a vossa amiga está
estar ella, em companhia da mãe e gravemente enferma neste momento
marido, passando uma temporada na- e todo o seu mal está na cabeça. El¬
quelle paiz. Ella nos disse estar a la não viverá para receber a carta.»
mãe bastante desconsolada pelo facto Minha mulher respondeu imme¬
de não ter ainda encontrado um mé¬ diatamente e a carta foi postada na
dium na Italia e remettia um annel mesma tarde. Quinze dias decorridos
de cabellos para, por meu intermédio, recebemos uma carta da Italia. No
ser apresentado a um médium psy- dia anterior á mencionada sessão,
chometra. Naquella occasião Mr. Ar- nossos amigos sofíreram um acciden-
thur Whyman estava de visita a Man- te de automovel. No mesmo momen¬
chester, convidei o para vir á minha to em que realisavamos a sessão,
casa. Depois do chá, sem-lhe dar qual¬ Mrs. James estava recolhido ao hos¬
quer informação, passei lhe o enve- pital com um medonho ferimento na
loppe contendo o annel de cabellos. cabeça. Ella morreu no dia seguinte
Elle o segurou e disse : «Obtenho o e, portanto, não recebeu a nossa car¬
nome James. Penso ser um sobreno¬ ta. O médium ainda havia dado ou¬
me e estou vendo um senhor que me tros detalhes exactos em tudo. Eu es¬
diz chamar se Frederich. Elle affirma crevia cuidadosamente tudo o que o
estar bastante preoccupada a dona do médium dizia e ainda possuo as no¬
cabello, preoccupação proviniente de tas. Não descobri um só detalhe er¬
uma clausula testamentaria. Ella tem rado. São estes os factos positivos,
dois filhos, casal. «Os nomes foram porem substitui os nomes verdadei¬
dados com exactidão.» Ella não sabe ros por outros fictícios.
- <9_Q_
Ecos c Noticias
(3
relatar todas as provas obtidas pelo guns minutos. Mary, conforme a sua
Rev. Reid. Limitemo-nos a estes de¬ promessa, appareceu, o seu rosto es¬
talhes : tava envolto em um halo brilhante, e
«Ernquanto meu pae conversava produzia luzes brilhantes.»
comigo por meio da trombeta, uma Esta demonstração do espiritis¬
moça irrompeu e, por vóz directa, mo pela alta personalidade ecclesias-
deu um alegre bom dia á sua mãe tica, que é o Dr. Mac Kleen, terá uma
atravéz da sala, e iodos os dois se profunda repercussão, cremos, no Ca¬
entretiveram conversando durante al¬ nadá.
ooooooooooooooooooooooooooooooo
ESPIRITISMO NO BRASIL
rante a Sciencia». A segunda no dia
5ãa Paulo 4, na séde da Sociedade União Geral
dos Trabalhadores, sobre : «Os Prin¬
Jaboticabal cípios básicos do Espiritismo.»
Ambas as conferencias foram
Os espiritas de Jaboticabal effec- concorridissimas.
tuaram solemnes festejos para com-
memorar o nascimento de Allan Kar- Bury
dec.
No Centro Fé e Caridade, foi of- Esteve nesta localidade uma ca¬
ferecido um almoço aos pobres, no ravana espirita, composta de mais de
qual tornaram parte figuras salientes oitenta pessoas, em serviço de pro¬
da sociedade jaboticabalense. tendo paganda.
falado por essa occasião, o sr. Ma¬ A caravana, que veio de Faxina,
noel Baptista Camargo, que fez, como fez uma conferencia no theatro local,
presidente do Centro, o discurso offi- que esteve litteralmente cheio. Entre
cial, e o nosso companheiro Schutel os presentes se achavam o Prefeito
que falou pelo Microphone da P. R. Municipal e todas as autoridades lo-
G. 4 sobre Allan Kardec e o proble¬ caes.
ma da Vida. Falaram os srs: José Cândido de
Uma commissão de espiritas foi Mello, Maurício Oliveira, Jordão Thi-
á Cadeia local, onde offereceu aos de¬ bes, Emilio Ferreira e Miguel Garcia.
tentos uma bande ja de doces, sendo
na mesma occasião proferidas aos 5. Rita do Paranahyba
mesmos palavras de encorajamento e
A Sociedade Espirita Amor e
de regeneração.
Justiça, desta cidade goyana, inaugu¬
Foi uma bei la festa espiritual na
rou a sua séde, tendo feito um bel-
qual reinou o espirito de fraternidade
lissimo discurso o Sr. Dr. Elias Cha¬
que é o padrão da nossa Doutrina.
ves, que demonstrou as vantagens do
O Clarim foi profusamente dis¬
Espiritismo sobre todas as religiões.
tribuído na cidade.
A assistência foi numerosa. A
sociedade está construindo um hospi¬
Ribeirão Preto tal para cura de obsessões.
Esteve nesta cidade onde fez Do Correspondente.
duas excedentes conferencias o depu¬
tado Campos Vergai. A primeira, a 3 Franca
do corrente, teve lugar na Sociedade
Dopolavoro, antigo Cine Para todos, — Estive em Franca, onde visi¬
sobre o thema: «O Espiritismo pe¬ tei a casa de Saude Allen Kardec, qim
— 320 — Revista internacional do Espiritismo
«Nota«, «Diário de Noticias», «Correio marães, Dr. Mario Costa, Dr. Luiz Au-
da Manhã», «A Vanguarda», «A Pa- tuori, Prof. Jonathas Botelho, membro
tria», “A Nação”, todos os grandes da Academia Fluminense de Lettras,
diários têm actualmente, uma Secção Dr. Henrique de Andrade, Comman-
Diaria, na qual, além de noticias de dante João Torres, Commandante Has-
phenomenos e dos centros, figuram selman, Mario Almeida, Antonio Al¬
substanciosos artigos de fonte espi¬ fredo, Prof. Leopoldo Machado, Ma¬
ritista. noel Quintão, sra. Ancelma Santos Po¬
O Movimento Espirita voa, e dezenas d’outros que não nos
lembramos no momento.
O movimento espirita se accen-
tua em todos os centros do Rio. A
As Obras cie Beneficencia
livraria da FTderação não vence edi¬ — A Cabana Antonio de Aquino
tar obras, muitas das quaes se acham está promovendo uma grande obra,
exgottadas e reclamam uma nova ti¬ um Flospital Espirita.
ragem, como sejam as de Flammarion, — De outro lado nada menos de
de Gabriel Delanne, de Bezerra de sete azylos espiritas se acham em ac-
Menezes, etc. tividade, soccorrendo os desvalidos.
elle falava no caminho de Damasco. Evi¬ Toda a ideia delles era o estabele¬
dentemente Maria não viu o Mestre no cimento de um Reino de Deus neste mun¬
domingo da Rcsurreição e as palavras do e seus escriptos reflectem tanto suas
que o ladrão moribundo ouvira «hoje es¬ opiniões como as manias de inspiração
tarás commigo no Paraizo», deveriam ter divina. Digamos finalmente, é uma sim¬
sido um engano de imaginação ! ples tolice estar a falar de gente morta
a aguardar a Resurreição na sepultura.
Radio Humano Desde que temos mantido conversação
com centenas de espíritos, a nossa expe-
Numa recente demonstração de cla¬ riencia excede em peso, neste assumpto,
rividência em Edmonton, Mr. Cockersell a todas as opiniões dos theologos.
declarou ser elle uma «especie de appa-
relho receptor». Elle «se afina» ao mundo Allocução do Rev. Tys-
espiritual para transmittir as mensagens sul Davis
dos «mortos» aos entes queridos deixa¬
dos para traz. A quasi totalidade das A 2 de agosto realisou se bôa ses¬
mensagens que elle apanha e transmitte são na Associação Espiritualista de Ma*
são notavelmente exactas. Num caso elle rylebone.
descreveu uma ponte de pedra e um moi O orador veio de Bristol ao auditó¬
nho, pouco distantes de uma povoação. rio da Associação.
Uma senhora reconheceu o lugar como «Se o Espiritualismo não é a ver¬
sendo o da sua antiga residência e tam¬ dade, a unica philosophia possível é o
bém reconheceu todos os nomes e des- pessimismo», foi a sentença do Prof. Mac
cripções transmittidos pelo médium. Bride, citada pelo orador. «Qual é o ser¬
viço que os nossos mortos podem pres¬
tar-nos? O facto de poderem elles provar
A Sobrevivência é a
a sua sobrevivência é de grande impor¬
questão real tância».
Um ecclesiastico escrevendo no
Church Times a respeito da sobrevivência
Inscripções Desnecessárias
e agitou este ponto importante: «O ho¬
Visitando um novo cemitério, ha
mem vulgar dá pouco valor á philosophia.
uma semana, elle espantou se com a se¬
Elle quer alguma coisa definitiva e deci¬
guinte inscripção numa lapide : «Aqui el-
siva. Ao homem commum a questão da
la dorme». «E' realmente espantoso», dis¬
immortalidade, differente da sobrevivência,
se elle, «que pessoas religiosas não se en¬
é uma subtileza academ ci que não lhe
vergonha n, no tempo de hoje, de pensar
diz respeito. O que importa á pessoa car¬
que os que morrem pertençim a um deus
regada de lueto é a reunião e reconheci¬
do somno.
mento dos entes que amou e perdeu e se
Antes completamente morto do que
«os rostos angélicos lhe sorrirão de novo».
adormecido naquelle horrivel lugar a es¬
pera de alguma coisa que está para vir .
As experiencias de¬
vem pesar na balança Duplo Scepticismo
Renuta Internacional
da Espiritismo
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