Theatro Da Eloquencia
Theatro Da Eloquencia
Theatro Da Eloquencia
Presented to the
LIBRARY of the
UNIVERSITY OF TORONTO
by
Professor
Ralph G. Stanton
,
/)As A
THEATRO DA ELOQUÊNCIA
OU ARTE
RHETORICA.
,
THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
OU AR T E
RHETÕRIC
FUNDADA
A NOS PRECEITOS DOS
melhores Oradores Gregos , e Latinos.
FRANCISCO
DE
DE PINA,
E DE MELLO, SA',
Moço Fidalgo da Cafa de Sua Mageflacíe Fideliffima 9
e Académico da Academia Real da Hijloria
Portugueza.
OFFERECIDA
AO REVERENDÍSSIMO senhor desembargador
JOACHIM S ALTER
DE MENDOÇA,
Prior da Collcgíada de S. Chriílovaõ de Lisboa , Juiz dos Ca
zamentos , e Chancellcr do Patriarchado &c. &c.
POR
ANTÓNIO DA SILVA , E COSTA.
LISBOA:
FRANCISCO BORGES DE SOUSA
Na Officina de
Anno de MDCCLXVI.
REVERENDÍSSIMO senhor.
Fernão
(5) Salaz. de MeRioça Dsgn. 1, 2. c. 5?. Trdles Aííurias illuft.t. i.c.lj.ip, 22 c.
A-krc.l, 4, c> I p. 3 1 5,cqí liftíli Sal 4ç Çafkoy Ca£a de Lara U ijji.a 1 j*p, I <rái
Fernão Furtado de Mendoça que pafjando a efle \
tes , a
Fernando Arraes de Mendoça , que teve o mef-
mo Governo contra o Rey D. Affonfo IV. de Portu-
gal , (5) para onde paffou no anno de 1339. depois
de feita a paz. Eftabeleceo-fe no Algarve , onde ca*
zou , e teve de fua mulher , cujo nome ignoramos , a
Pedro Arraes de Mendoça , que também viveo
no Algarve onde cazou , fegundo dizem alguns , com
,
(5) Monarch Luz. 1.7.!.$ c. if, Europ. Portug. t. 2. c. ?. pag. i6$.n, êf*
cès i
como confia da jua ChancelJaria. (6) Cazou com
D. Ignes Madeira , filha herdeira de Affcnfo Ma-
deira , Fidalgo valido do me/mo Rey , que lhe fez
mercê do Julgado de Fermedo ; e porque ejla doação
nao teve effetto , lhe doou outras terras , e teve , en»
tre outros filhos , a
João Arraes de Mendoça , que foi Cavalleiro
da Ordem de Cbrifio , e da Cafa d E/Rey D. Affon-
fo V. (7) Sérvio em Ceuta , onde cazou com D, Ifa*
bel Nabo , filha de Vafco Nabo , Cavalheiro Fidal-
go , que naquelle tempo era o foro de maior gradua-
ção e Adail da Gente de Guerra na me'Jma Cidade,
,
gtpl
guel Ferreira de Mariz Pinheiro , Fidalgo da Cafa
Real, edeD. Tbereza de Marizplba do Dezembar-
gador Sebaftiaô de Mariz , Cavalleiro da Ordem de
Cbrifio , Fidalgo da Cafa Real. Terceiro neto de Mar-
Um Ferreira da May a , Cavalleiro da Ordem de Cbri-
fio , Fidalgo da Cafa Real , do Confelbo d? EIRey ,
e feuDezembargador do Paço , e dejua fegunda mu-
lher D. Brites Pinheiro. Quarto neto de Gafpar
Ferreira Viegas , Fidalgo da Cafa Real ( que era
quinto neto de D. Álvaro Ferreira , Fidalgo da Cajá
Real, que fe achou com EIRey D» João L na toma*
da de Ceuta , do feu Confelho , e depois de viuvo Bif-
fo de Coimbra, e de fua mulher , e prima D. JLuiza
de Carvajal ) , e de £>. Luiza da May a. Nafceo de-+
fie matrimonio unicamente
Vafco Nabo S alter de Mendoça , Cavalleiro da
Ordem de Cbrijlo , Executor mor , e Tbezoureiro mor
f
do Reyno , e Senhor da Cafa de eus pays. Cazou com
!)• Joanna Leocadia Pimentel , e Sottomayor y filha
herdeira de António Gomes do Álamo Rodriguez de
las Varilhas , e Murga , Cavalleiro da Ordem de
Cbrifto , Fidalgo da Cajá Real , e Senhor de buma
•riquifftma Cafa , e dejua mulher , efobrinba D. The-
reza Maria da Cofia Pimentel , e Sottomayor Neta
:
(I) a.Tím, c. 4» y, ^
ornato tcdoferá tirado da Sagrada Efcriptura, e dou-
trina dos Meílres da Igreja; acabar-fehaõ as citaçcens
dos Àuthores Gentios ; naõ fe verá mais o Púlpito con-
vertido em theatro , a pregação cm eípedaculo; porque
naó deixava de haver também neíla huma eípecie de
divertimento , a que naô faltava a emulação , e par-
tidos ; refledtindo feriamente os que exercitaô eíta
arte, e minifterio fagrado, que o melhor elogio do
Pregador he a compunção do auditório. Toda efta
utilidade, e correcção de intolleraveis abuzos heofím
da prefente obra ; e porque nella nada encontrei . que
ollenda a nofla Fé , e eípirito da Religião Catholica ,
me parece muito digna da licença , que a Voflas Se-
nhorias Illuftriílirras , para imprimir a dita ebra , pe*
de o feu Author. Cala de N. Senhora da Divina Pro-
videncia de Lisboa, em 3. de Dezembro de 1764.
§§ % DO
DO ORDINÁRIO.
CENSURA DO MUITO REFERENDO
Abbach Diogo Bar bofa Machado Académico
,
da Academia Real&c.
EXC. mo £ R, mo SENHOR.
OS elogios
fui
, de que he acredora efía obra
fe
da qual
devem
converter em queixas contra feu eruditiílimo Author,
permittindo que em taõ larga diuturnidade de tempo
eílivefle defraudada a Naçaó Portugueza deita Arte
da Eloquência ; porém como fejaõ inexcrutaveis as
difpoíiçoens da Divina Providencia , decretou que para
inftrucçaõ da Eloquência Ecclefiaítica , que he a mais
nobre, e neceílana , fe pubiicaíle em tempo 3 no qual
nunca nefta Corte fe lamentou taõ abatida e adul- ,
D» J. A. do Lacedemcnia.
DO
\
DO DESEMBARGO DO PAÇO.
CENSURA DO I L LU.S T
R ISS IMO
e ExcdlentilJimoConde de Filiar maycr do Con- 5
SENHOR.
POr ordem deV. Mageftade
Theatro da Eloquência ou \
vi o livro intitulado
Arte de Rhetorica ,
que pertende imprimir Francifco de Pina, de Sá, ede
Mello; e como as muitas, e elegantes producçoens do
feu engenho fejaõ a melhor prova de que o íeu Au-
thor íabe igualmente períuadir com as regras , e com
os exemplos ; podendo eítes bailar para na fua imi-
tação fe alcançar grande aproveitamento, unidos aos
preceitos , e á douta explicação com que os illuftra,
íeraõ da maior utilidade para todo efte Reyno. Pelo
que me parece muito digna de fe imprimir eíta Arte,
em que nada encontrei, que fe oppuzeííè ás Leys de V.
Mageftade. Bellem a 19. de Janeiro de 1765%
SE-
SEGUNDAS LICENÇAS.
EStá conforme com o original. Cafa da Divina
Providencia em 9. de Dezembro de 1766.
Thoreh Lima.
Cofia.
THEA?
, ,
Pag. i
THEATRO DA ELOQUÊNCIA
OU ARTE
RHETORICA.
CAPITULO I.
Mendoça ,
que Rheiorica era das artes inúteis
a
,
porque os homens mais fe perfuàdiaõ hoje com o
pezo das razoens , que com o ornato das palavras.
Naõ obítante o parentefco , que me podia inclinar a
feguir a appreheníaõ deite ílluftre engenho , naó me
atrevo a concordar , com ellê^nefte conceito. Por ven-
tura leremos agora mais advertidos , doqueforaô os
viíinhos de Athenas e de Roma , que deraó á elo*
,
4 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
OU ARTE DE RHETORICA. $
Porem nefles géneros da matéria ha outros gé-
neros ,
que chamaõ de cauías , ou de queftoens; e
laõ três :
Ao Deliberativo ,
perluadir, ou diííiiadir Ao Ju- :
A 3 o gene?
6 THE ATRO DA ELOQUÊNCIA ,
fera o melhor.
CAPITULO II.
§.
HE precizo o conhecermos
ticular.
a cada huma em par-
eflenciaes ,
quando dividimos a idade do homem em
Puerícia , Adoielcencia ?
Varonilmade e Velhice:
,
§.
OU ARTE DE RHETORICA. n
Porém alguns tem inquirido o principio das dic-
çoens com tanta fantaíia, e impertinência, qi:e íc
,
E em outra parte :
ro Amor
,
e Roma Doroihea e Tbeodora
, Ni-
: , :
ze e Inez
, Natércia e Caterina. Naõ íó fe faz
: ,
O
qne hi de mais engenho nefte género he aqueU
le famofo Tetraftychon , que lendo-fe de cima para
baixo , e de baixo para cima conferva em todas as
dicçoens hum perfeito Anagramma.
O gene*
OU ARTE DE RHETORICA. 13
A
elles
Semelhança he communicaçaô de dousobje-
dos d iffe rentes
a
ou quando íe defcobre entre
,
OU ARTE DE REETCRIGA, 15
de eflremada gallardia ;
y en ir delante tan bella ,
dei alva, forma una perla tan unido que en los dòs ,
,
OU ARTE DE RHETORICA; 17
§.
NA a
Oppofiçao há quatro géneros de Oppoítos ,
que fe dá o nome de t= repugnantes , reTa*
tivos , privativos , e contradiâlorios. Os repugnan-
tes íaó os que tem entre fi huma grande diveríida-
de , e irreconciliaçaõ , como a virtude ? e o vicio ;
a guerra , e a paz. Defte género de Oppofiçao ufou
Cicero quando diíle
32 Se fugimos da eílulticia , figamos a fabedoria :
B Virtus
x8 THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
Virtus efl vitium fugere , & Japientia prima
Stulútia caruiffe. . .
Os
contradiâlorios fe verificaó quando íe nega ,
e fe affirma huma coufa ao meímo tempo , e huma
delias há de fer falfa , ou verdadeira. Eis-aqui o ex-
emplo.
es vejo com Ticio em algumas con-
Quando me
verfaçoens , elle diz muito mal , e eu muito bem de
vós a elle todos o acreditaõ , a mim ninguém me
:
§•. ,
,'
como a gentileza ou
, a deformidade , a força , ou
a fraqueza , a doença , ou a difpofiçaõ : outrosdo
animo , como os vicios , e as virtudes : em fim podem
reputar-fe como adjuntos quantos accidentes occor-
rem aoeítado das acçoens, dos fucceííòs , dos fogei-
tos , ou depois , ou no mefmo tempo,
ou dantes ,
§.
QUatro géneros de cauías tomarão os Rhetoricos
dos Phiiofophos. Caufa eficiente ^ material , for*
mal , final.
A caufa efficiente heaquelh, pela qual alguma cou-
fa fe executa : O
Sol he caufa efficiente do dia.
A caufa material he a que delia , e por ella as mef-
mas coufas exiílem : Os bronzes , e os mármores laó
a caufa material daseítatuas.
A caufa formal he a razaó, fignal , ou cara Ser,
por onde humas coufas fe diftinguem das outras ; e
efta he natural , ou artificial. A
primeira fe verifica
nos génios, com que fedifferençaõ os homens: a fe-
gunda na fymmetria de diverfas fabricas , filhas da ar-
te , ou do engenho,
OU ARTE DE RtíETORICA. 2j
§.
A Comparação
gares intrinfecos
tas coufas convém em
,
que
no ultimo lugar dos lu-
eftá
fefaz quando duas , ou mui»
,
OU ARTE DE RHETORICA. 2$
Ji de ezentarje de amar
bazen vanidad los Diojes !
§.
§.
SEOrador
fama eíH
a
que
do aflumpto , pode dizer o
a favor
deíle confenfo popular heque di(íeraõ
muitos Authores , que a voz do povo era a voz de
Deos ^ e ie aproveitará do conceito de Ovidio :
com Ovidio
O Orador fe valerá
a fua authoridade
das Efcripturas ponderando
, e juntamente
a fé, que íe deve
dar aos monumentos , aos contratos, ás eftipulações,
aos telta mentos &c.
Se for neceílario contrariá-las, difputará a fua va-
lidade moftrando que fe naõ conformarão com as Leis,
ç
OU ARTE DE RHETORICA. 27
O Juramento ,
que he a affirmaçaó
, ou negação
O Tormento
verdade
hoje naõ eítá
;
íe applica aos
porem
em
efte
réos para confeíTarem a
modo de
a conhecer já
ufo , fenaõ nos crimes mais atro-
zes : Baila para aqui efte lugar de Séneca :
§.
A certa
28 THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
A certa fciencia do cafo , o que fó pode fer fen-
do as ttjletnunhas de vifta Que tudo o quedepuze-
:
CAPITULO III.
NO útil , e no bon-
deleitavel conflitue
dade dos Eferiptores; poremos Rhetoricos af-
Horácio a
na figura de Medea :
Video y
; ::
OU ARTE DE RHETCRICA. 29
fc Video me Hora ,
proboque ,
Deteriora fequor.
Todos
3o THE ATRO DA ELOQUENCÍ A
Todos quatro comprendeo Virgílio em menos de hum
hexametro
Gaudia pelle ,
pelle timorem ,
fpemque fuga to ,
nec dolor adfit.
ss Amor,
ódio, medo, efperança , oufadia, la.
ftima , indignação , manfidaó , emulação. =s
ira ,
Tercei-
OU ARTE DE RHETORICA. 31
Terceira ,
que o amor deve fer menos extremofo
pela própria utilidade, que pela do òbje&o, que íe
ama.
tu Se para nós, (dizCicero)e naô para o ama-
do for o írudlo das noílas acçcens , if to já naó fera
amor, porém ufura , ou conveniência. :=:
E por eíla caufa fe nota entre o amor , e a ami-
zade huma grande difterença ; porque o amor naó af-
pira á fatisfaçaõ, e a amizade neceífita de ler corres-
pondida,
O amor ferve na Rbetorica de fer bem acceito ,
naó fó o Orador, mas o aífumpto da Oraçaó aos ou-
vintes.
Hum ,dos maiores triumphos da eloquerxta de Cí-
cero foi deílruir os projedlos deRulo, que com o
efpeciofo pretexto das leis agrarias pemndia paílar
de Tribuno da Plebe a Diclador da Republica \ e to-
da eíla vi&oria fe deveo ao amor , que tinha a M.
Tullio o Povo Romano : Para mais o conciliar diíle
ailim na fegunda Oraçaó contra o Tribuno.
55 Eu leu o primeiro homem novo do noílo tem-
po, que vós fízeíieis Coníul , e com a minha eleição
confeguiíleis o privilegio de que a Nobreza havia tan-
tos annos , que eílava de poífe , e que fempre defen-
deo com todas as fuás forças. Vós me elevalreis a eíla
dignidade., com hum concurfo taõ univerfal do voílo
applaufo, que atégora nenhum Patriciano o alcançou,
com mais efplendor , nem Plebeo algum com maior
gloria. Augmenta mais a minha divida o ver , que na
minha eteiçaõ defprez^fteis aquelies eferutinios , que
fuftentaó a liberdade dos pareceres , pois me fubiíteis
ao Confulado pelo meio das acclamaçoens, edosfuf-
fragios públicos , que me feraò fempre mais eftima-
veis , e gloriofos , que o Magiflrado , com que me
tendes engrandecido. ,
Sendo
$i THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
j
Tu
: :
OU ARTE DE RHETORICA. 33
.
Sed cuvMis altior ihat
Anc bifes ; mihi meti s juvemli arde bat amore
Compellare Virum,& dextra conjimgere dextram.
E com
, pouca differença , Ovidio :
O do
Medo he huma
perigo ; os
perturbação do animo , nafeida
modos de o concitar faõ três
Primeiro, pronoíticar , com reprefentaçoens eviden-
:
O
fegundo modo he moftrar que a calamidade ef-
imminente , porque naó coftumaó os homens
tá quafi
temer tanto o damno remoto , como o viíinho Te- :
O
terceiro modo he quando fe moftra que a ca-
lamidade naó fó ha de fer commua , mas particular ;
porque recebemos , com maior íufto , os males pró-
prios, do que os públicos. Pôde lèrvir de exemplo o
que ponderava Júlia a feu marido Pompeo na Phar-
lalia de Lucano :
íoris. ——- 4.
,
Cj AEfi
38 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
Occurratnus ad uvdam
Dum trepidi , egreffifque labant vejligia prima
Au dentes fortuna juvat.
Fortuna
Ji atrevimientos amparas ,
mnguno ès mayor ,
que el mio :
§.
OU ARTE DE RHETORICA. 45
mo fe os benefícios incentivos da maídcde.
fòfiem
Aqui tens, ó Povo Romano, aquella Opa rozagsnte,
que tantas vezes adoralte na campanha , e na tribu*
na, e que cobrindo, com a íua clemência , as mi fe-
rias da Republica , agora a vês cheia do Isngue do
teu mefmo bemfeitor aqui a tens aberra por diver*
:
A Ira he hum
furor breve , nafcido de alguma in-
juria , e que algumas vezes fe miíhira com o de-
fejo do defaggravo. DiíFere àoOdio , em que eí!e he
huma ira permanente , e inveterada , e aquella huma
paixão inítantanea.
Afllm a ira , como o ódio podem fer culpáveis , e
innocentes Podemos irar-nos , fem deliíio , como nos
:
SL»e
OU ARTE DE RHETCRICA. 47
Que Joninolencia he effà em que defconfas
, ,
E
ainda Nymphas minhas , naõ baflava
,
OU ARTE DE RHETORICA. 49
§.«
__ Romane , memento
Par cere fubjeâlis Q* , debellar e fuperbos*
Settima ,
porque a clemência ainda no conceito
dos Idolatras faz com que os homens íejaô íemelhan-
tes aos Deofes. Claudiano
proveito
r da pátria,
A digr
b
AQui temos
Invenção^
o mais
e íó me refta
fubftancial
dizer que fegundo a dou-
que pertence á
hum filho ,
que difle Séneca :
LI-
SI
LIVRO IL
CAPITULO I
firmação , Peroração.
Com o Exórdio devemos conciliar os ânimos pa* ,
ra fer bem vifta dos ouvintes a matéria, que perten-
demos propor. Expomos com a Narração o que que-
D 3 remos
54 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
O exórdio
legitimo há de ter propriedade , cau-
tella , modeftia , e brevidade. Verifica«íe aproprie*
dade quando o exórdio fe faz peculiar , coherente , e
uniforme á matéria , e mais partes da Oraçaõ co» :
OU ARTE DE RHETORICA. $S
pio da Oração, mó
pode eíperar nella o triumpho
da eloquência. Muito mão Piloto fera aqitelh ? (diz
Quintiliano ) que apenas Jabio do porto foi dar a
travêz com o navio.
Mas naõ fe deve também empregar no exórdio
demafiado artifício , nem fe valha o Orador de pon-
deraçoens muito exquifitas , ou falias, ou de hyper-
boles inveriíimeis , e de portentos de pouco credito»
A modeília no exórdio he taõ precifa aos Ora»
dores , que íem ella nunca confeguiráó a benevolên-
cia do Auditório. Porém há alguns taõ fatisfeitos do
feu magifterio ,
que ainda lhes parece pouco o ca*»
radter de Oráculos. Elles prefumem que tudo o que
dizem lahe pela boca das Sibyllas elles fe efcutaõ
:
ao lu-
nome lhe deo o Mundo: 00 defeníor da Fé,
Hef-
me da Igreja, á maravilha da Itália á honra de Lis- ,
se Donde
ha muito que eieger , naõ pode haver
pouco fobre que duvidar : celebra hoje a noííà devo»
çaô hum Santo , fobre cujo eftado duvidarão os hy-
itoriadores : fobre cuja proíiílaõ duvidou elfe mefmo;
e fobre cujas grandezas , para eleger as maiores , eu
iou o que mais duvido &c. :=2
Univerfal , como eíía de Cicero
tr Muitas vezes difeorri comigo , fe a copia da
facúndia , e a fumma applicaçaõ da eloquência feria
proveitofa, ou nociva aos homens, e ás Cidades, â
Naõ deixará de fer digno o exórdio , quando fe
valer de alguma fentença iiluítre, como o de Salu-
ílio na Oração de Catilina:
t=: Tende por certo , ó Soldados, que as vozes
docilidade do Auditório*
A benevolência procede de quatro princípios :
Da peííòa do Orador , da peílba dos contrários , da
peíloa dos que ouvem , e dos que fentencêaó , e da
pefloa por quem fe faz a Oração.
Da peíloa do Orador, fe he taó modefta no feu
femblante, e na íua fama , como na íua recommen-
daçaó. Ifto naó tira, como j a diílèmos, que elle fe
polia recommendar com a moderação devida.
A benevolência que refpeita á peíloa dos con-
trários he a matéria mais delicada , e difficil para os
Oradores j efpecialmente fe elles faô de approvadas
virtudes , e merecimentos : os Pvhetoricos nos man-
dão imitar a Cicero em femelhante aperto Eftava
:
fukm\ Sem
,
OU ARTE DE RHETORICA. 61
§.
ts De-
;
OU ARTE DE RHETORICÀ. 6$
Deveis fuppor, o Romanos 9 que depois da
í=2
ceííarias. zí
O mefmo fez o Author das Declamaçoens , que
andaó em nome de Quintiliano, tratando do eftra-
go que fez hum rico a hum pobre na criação das
,
fuás abelhas :
Cluentio
s: Eu vos peço que ja que atéqui attentamente
me ouviftéis , me attendais da raefma forte daqui em
diante; porque naó direi coufa, que naó feja digna
defte concurfo , do voíío filencio, dos v-oílòs defe-
jos j e das voflas attençoens* =4
Coníe-
OU ARTE DE RHETORICA. 67
OU ARTE DE RHETORICA. yr
Settimo ,
quando
convoca alguma figura para
fe
melhor ie moverem os ânimos Affim principiou I faias
os feusCapitulos ss Audite Cceli , &* auribus per-
:
COmo o
exórdio he
\ affim de hum , como de outro
officio
propor o aílumpto ., devemos dizer
E 4 algu-
71 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
OU ARTE DE RHETORICA. 73
Com tudo há humas propoftçoens , que parecem
paradoxas , e atrevidas , e fícaõ admiráveis depois de
explicadas. Tal foi a do Padre Vieira no Sermão de
N. Senhora da Graça.
es Todos os Padres, todos os Doutores quaiv
to mais ponderaõ , quanto mais encarecem , e quan-
to mais querem dar a conhecer a Graça da Senhora,
medem-na pela Maternidade de Deos mas com licen-
:
olho ,
fempre cheio de lagrimas , que ejie olho
e efle
andava fempre chorando a morte de feu IrmaÕ pu- :
CAPITULO II.
OU ARTE DE RHETORICA. 7S
De huma Hiftoria , com pouco ornato , diíle Antó-
nio de Sol is £2 Pajja hoje por hl floria verdadeira ,
que
fi novedades no huviera
quedara la admiracion
tnutil ai Mundo. —
Quarto , fe fe expuzerero com individuação as cir-
cunftancias dos acontecimentos , e os adjuntos da peí-
foa .
76 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
OU ARTE DE RHETORICA. 77
OU ARTE DE RHETORICA. 79
PAra a
bufcar
narração
fer breve , fe lhe naõ deve ir
hum
principio remoto , ou inconnexo. O
Padre Colónia adverte que eíle principio naô há de
fer x^abovo^ , e acere ícenta vque Horácio zombou
de hum certo Poeta naquelle verío
OU ARTE DE RHETORICA. 85
CAPI-
OU ARTE DE RHETORICA. g7
CAPITULO III.
OU ARTE DE RHETORICA; 89
Conclu-
90 THE ATRO DA ELOQUÊNCIA,
OU ARTE DE RHETORICA. 91
Dirá
91 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
§•
A
íè tira
Indução he hum argumento
, e diítintamente
coufas difFercntes
,
que de muitas
conciliadas,
provável. Com a Indução con-
huma Conclufao
clue Séneca que no homem he digna ló de louvor a
virtude
?£ Naó fe diz que he boa a náo , que eíU pin-
tada com cores fubidas , nem a que tem o efporaó
de ouro, ou de prata , mas aquella, que helegura ,
e velei-
: :
OU ARTE DE RHETORICA. 9j
e veleira : Naó
dirás que he boa a efpada , que tem
otalabarte dourado, mas a que tern o gume mais aci-
calado , e que he de melhor têmpera e corte naó
5
:
Moveu-
94 THEATRO DA ELOQUÊNCIA
Movendo contra mim o pezo junto
De tanto horror em partes dividido ,
, (j
de matar a Irmaã.
írNegaõ fer digno de vida , e de gozar a luz
do dia aquelle queconfeíTa o homicidio. Em que Ci«
dade diíputaõ efta matéria eftes homens infenfatos ?
Naó menos , que naquella Cidade , que , naõ eftando
ainda livre, vio o primeiro crime capital, executado
pelo fortiffimo Varaó M. Horácio, que fem embar-
go de confeíTar que com as íuas propriaç piaôs ma-
tara fua Irmaã, foi abfoluto por todo o cóneuríò do
Povo Romano. 52
Da me Ima forte provava Juno na Eneida , que lhe
era licito períeguir os Troianos; pois que o fora a
Falias períeguir os Gregos : O
Padre Vieira nos dá
também o exemplo do exemplo no feu Prolegomeno
á Hiíloria do Futuro :
í=s Affim que bem pódc hum homem , menor que
OU ARTE DE RHETORICA. 9?
útero me o &c=i
Se da applic2çaó fe tira outro conceito , que fe
naó efpera , ainda fica o exemplo mais engenhofo , e
vehemente: Aífim o Padre Vieira, com eíle mefmo
luccelTo.
p Aquella ferpente do Paraizo enrofeou-fe em
Adam , em Chriíto : em Adam , porque
e enrofeou-fe
foi o suthor da culpa em Chrifto , porque tomou
:
OU ARTE DE RHETORICA. 97
temores , de ameaças e defefperaçoens , em que pou«
,
j
Tal andada o tumulto levantado ,
Entre os Deofes , no Olympo confagrado.
§.
OU ARTE DE RHETORICA. 99
mancebo que fenaõ eazafFe , ufou defte dilema : Se a
mulher for feia , fera do teu defagrado : fe formofa,
do agrado dos outros, Antes íe for feia (dizia o man-
cebo) defagradará aos outros ; fe formofa , me agra-
dará a mim*
He muito celebre o dilema de Prcthaqoras, ede
hum Teu difcipulo
: Ajuflou-íe Prothagcras com elle
de lhe enfinar a Rhetonca , com o contrato de lhe
dar huma certa quantia de dinheiro , fe , depois de bem
inftruiao i vencelle o difcipulo a primeira caufa, que
patrocina ffe. Sahindo o difcipulo taó fabio , como a
Meftre , fe negava ao pagamento. Obrigou-o Protha-
goras em Juizo , e levou a caufa ao Areópago e nelle
:
§.
O Crocodilo he
de, ou fe
hum argumento, com qwe íe
embaraça o juizo do contrario. Cha-
G 2 ma-iè
pren-
ioo THEATRO DA ELOQUÊNCIA
ma-fe Crocodilo de hum Apologo ,
que fingirão os
Poetas.
Tinha hum Crocodilo arrebatado a hum menino
para dentro do pedia lhe a Mãi que lhe refti-
rio*:
tuiíle o filho, dizia-lhe a fera que lho reftituiria , fe
ella lhe fallaílè verdade em huma queftaõ , que lhe
queria propor : a queftaõ era íe havia , ou naõ de
reftituir-lhe o filho ? Difle a Mãi que elle lho na6
reftituiria na coníideraçaõ da íua fereza a que o Cro-
:
melhor
OU ARTE DE RHETORICA. 101
Eis aquidaornais
direi
neceíTario ^Confirmação agora
Confutação com ': he que deftrui-
eíta
,
Quarto ,
quando refpondemos aos contrários com
outro argumento, ouqueftaó igual, ou de maior dif-
iculdade. Virgílio na difputa de Alopfo , e de Da-
metas faz dizer a efte Paftor ;
CAPITULO IV.
§.
Ui
109
LIVRO IH.
CAPITULO L
que
no THE ATRO BA ELOQUENCÍA ,
Sylla :
Oh fementida , Oh
arrebatada fortuna Oh cego !
defejo Oh errada
! gratulaçaõ ; que cedo todas aquel-
las caufas de alegria , e de goíto fe paííaraõ para o
luto, e para as lagrimas hsâi
Pode naícer finalmente da alegria, e dos outros
affe&os, de que naõ trago os exemplos , por naõ fer
mais extenfo.
ÉOflífí?
ii* THE ATRO DA ELOQUÊNCIA ,
tem
: : ,
ajudeis ? Adjuvavas,
H Naè
ii 4 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
a caufa , ,Senhor ,
que noíTa , e como
he mai$ voíla
venho a requerer por parte da vofla honra , e gloria
Propter nomentuitm : razaó he que peça fó razap ,
jufto he que peça fó juftiça Sobre efte prefuppoíto
:
OU ARTE DE RHETCRICA; «y
mais próprio ao intento o Author do Tbeatro
E
na fua Conquiíta de Goa , Canto ieltimo.
§.
O
Padre Vieira na quinta Oração do feu Xavier
acordado ufa defta figura com fingular elegância :
sr Tínhamos ganhado Ormus , e era noflo Or-
mus ;quem he Ormus ? Maicate e de quem he
e de :
O Padre
Vieira com a mefma Subjeçaõ no Ser-
,
OU ARTE DE RHETORICÀ. n7
fe-
gundo das Lufiadas
(a) EudiíTera =: Porem morra nas maõs &c, sa para tirar a horrível cacopho»
JJiadoss mas morra.
:
OU ARTE DE RHETORICA. n9
fagrava defpido ao templo da fua maior gloria; can-
fado , roto lenho , que ie arrimava na margem do de-
fengano : Que a lua confuíãô .... mas de que Pheniz
íe arrancará a penna , que poda efcrever com vive-
za os amorofos delíquios daquella alma em huma ac-
ção por íi mefma cheia de ternura ? 53
§.
§•
SEAuditório
o Orador confiado na
,
o que há de
fua caufa , pergunta ao
fazer, então he que ufa da-
quella figura , aque os Rhetoricos chamaõ Cornmu-
nicaçaõ
ò
', como fez Cicero contra o Pretor de Sicília :
e: para me dizeres o que
Agora vos confulto eu
devo fazer Talvez que o voílò filencio íe porá da
?
AO--
:
§.
contra Verres :
A Pre
:
§•
§•
§.
AProfopopea nos dá o atrevimento para introdu-
zirmos a fallar os efpiritos , os defuntos , os
auzentes , e ainda as Províncias , as Cidades , as efta-
tuas , os montes as arvores , &c,
;
Deita
izí THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
§.
CHama-fe Ethopea
á defcripçaô dos coftumes , dos
deiejos
, das acçoens , do engenho , ou da Ín-
dole de qualquer peíloa. Deita figura ufou Saluftio,
fallando de Catilina :
prompto de invenção
, copiofo. Do trato da fua peíloa ,
jamais fe infèrio grandeza, ou fuperioridade mais, :
U
tenças
Samos da Antithefi
quando contrapomos as
ou as (entéricas ás fen-
palavras ás palavras
:
,
Difficilis , facilis ,
jucundas , acerbus es idem
Nec tecum poffum viver e , nec jine te.
„.
Librat in antitbefis .—
~—
——
Crimifiis rafis
§.
:r Todos
deíejaõ a velhice para confeguirem os
feus defejos, e accufaô-na , depois de confeguida :
Tanta he a ineonftancia , a loucura , e a perveríida-
de \\a
Virgílio , depois de narrar os trabalhos da ar-
mada Troiana :
"
'
j
Tanta ve anitnis ccelejlibiis ira !
I 2, E feu
T3i THEATRO DA ELOQUÊNCIA
E feu também o outro :
E eíle também
E o noíTo Camoens :
§.
Milone :
O y
tu Sertório , o nobre Coriolano ,
Catilina, e vdsoutros dos antigos ,
Que contra vofjas pátrias , com profano
Coração , vos fizejleis inimigos :
Se lã no Reino e\curo de Summano
Receberdes gravijjímos caftigos ,
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns traidores houve algumas vezes.
d
O' Júpiter, que fofte conftituido por Rómulo
coMi os melmos aufpicios , com que o foi efta Cida-
de tu , a quem verdadeiramente intitulamos o feu de-
:
§•
5.
&s Tu Rex
magnificatus es , (y invaluijli , &
magnitude* tua pervenit ufque ad Ccelum , potejias &
tua ufque ad términos univerfe terra. ==s
O noflo Camoens no fexto das Lufiadas
mu íe efeurece &c.
E com
OU ARTE DE RHETORICA. 137
Pela humildade ,
pela vileza ^ pela demafiada cu*
fadia : A
humilde he a que condenou Tullio , e
Quintiliano no que chamou aos penhnícos Verru- :
«•
Gal-
140 THEATRO DA ELOQUÊNCIA \
Gallus.
Callis mella dabunt : Hifpanis fpicula figem.
Hifpanus.
Spicula fi figant , emoriuntur apes.
Italus.
Mella dabunt cunâiis : nullifua fpicula figent ;
Spicula nam Princeps figere nefcit apum.
Francez.
Mel aos Francezes darão
as abelhas Bar batinas ,
e aos Hefpanboes o ferrão.
Hefpanhol.
Se forem taô ferinas ,
ellas
que o ferrão queirão metter f
Certamente haõ de morrer.
Italiano.
O mel a todos lhe vem ]
a nenhum a ponta dejlra ;
porque em fim a abelha meflra
nao [abe ferir alguém.
§.
ESpecie àQMetonymiahezMetalepfu ,
pois com
tranfpomos huma dicção daquelle fignifica-
ella
do , que ella devia ter , fegundo as antecedencias
para outro que naõ tinha. Alfim o fez Virgílio quan-
do fignificou pelas efpigas os Eftios , c pelos Eftios os
annos
§.
Virgílio ;
Já do indignado Oceano
as rompentes qy ilhas vofjas
tinhaõ j mais que dividido 5
efcandalizado as ondas.
me fcribite &C.
E
aqui pertence também a vulgar licença de fe
tomar hum
por muitos , como fez Virgílio : Hojiis
habet muros , ou muitos por hum , como Cicero : Nos
populo impofuimus , &
Oratores viji fumus ; e Oví-
dio:
——
Quam multa ghmerantur aves , ubifrigidus atínus
Trans pontum fugat.
Prgdamque ex unguibus
Projicit fiuvio
ales
é
AAntonomafia he huma efpecie da Synedoche \
pois , com ella , em
lugar do próprio nome ,
louvamos , ou vituperamos , com outro. Para louvar
a Cicero lhe chamamos o Príncipe dos Oradores \ e
clle para vituperar a Clodio , lhe chama a fúria, a
apejle da Republica.
Deíla figura fe ufa por três modos Primeiro :
Infeliz puer }
atque impar congrejjus Acbilli.
§.
A Ironia
OU ARTE DE RHETORICA. s 45
§.
K landa
í4 6 THE ATRO DA ELOQUÊNCIA,
landa em fim vos fervirá, e venerará tao religiofa.
mente , como em Amfterdam Meldeburg , e Fliílin-
,
§.
O Sarca fmo
he outra efpecie de Ironia , e fó com
adifferença de conter maior acerbidade , e def-
prezo. Comeile infultavaó os Judeos a Chriíto na
Cruz,
zzVah ! qui deftruis templum Dei ,
&* in tri-
duo illuâ reedificas : Salva temetipjum fi lilius :
Repetição Converfaõ
Anadiploíls Complexaó
Epanalepfis Scheíis
Conduplicaçaó Onomaton
Gradação Paromeon
Synonymia Tradução
Hypozeuxis Polyfyntheton.
$:
gentis cedros.
§.
K 2 A Con-
148 THEATRO DA ELOQUÊNCIA
§.
Nunc 9
num infurgite remis
Heâíorei focii
Me me adfum
, ,
quifeci > in me convertiteferrum >
O Rutuh : mea fraus omnis &c.
E o Cómico Plauto
K 4 A Hy<
15* THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
Om
c com
a
a
Paromeon principiamos
mefma letra j como
diverfas dicçoens
neíle verfo :
Ou neíle :
§.
NA Tradução
os Gregos ,
, ou Polyptoton
fe variaõ os géneros
, como
, ou
a nomeao
os caíòs,
ou 05 modos, ou os tempos > com o meímo vocábu-
lo j
;
Athamafque T boafque , •
E em outra parte :
§.
A
primeira he quando o verbo eftá no princi-
pio da Oração , como neíle lugar de Cicero. fe- A
gunda quando o verbo fica no meio , como no ter-
ceiro da Eneida.
Et volucrum línguas ,
&* prapetts omina pemi<e.
dor à turpitudine ,
, aut metus à periculo > aut ratio
à furor e revocarit. s
§.
O inefmo Cicero:
;=: Eftes defejos das letras alimentaõ à^ mocida-
OCha-
i S6 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
§.
A S figuras verbaes
também
Paronomafia
féis
,
que tocaõ á femelhança , faõ
Prolepfis
Semelhante cadencia Homeoíís
Semelhante decadência „ Metaítaíis.
A Paro-
: ,:
§.
§.
§.
SEmelbante decadência he quando os membros , ou
as partículas do periodo acabaõ domeímomodo:
O mefmo Cicero pro Lege Agraria :
~Ro-
OU ARTE DE RHETORICA. i
S9
^Roma teve dons Reis, que muito a illuítra-
raó : Rómulo na guerra > Numa na paz. z:
Deíla figura uíou humtxoílò Embaixador em Fran-
ça que perguntado, depois d^ Acclamaçaõ , que par-
tido tomaria , fe Portugal cahiííe outra vez no do-
mínio de Caftella , reípondeo :
~Que íeadefgraça folie tanta, que aíílrnfuc-
cedelle , que antes íe havia de entregar aos Turcos,
que aos Caftelhanos ; porque Te na Turquia defender
a Fé, ferei Martyr, fe apoftatar lerei Baxá ; e em
Gaitella , nem Baxá , nem Martyr. ^
i
AMetaflafiS propõem o que eílá para fucceder ,
ou, inda que naó fucceda, fe efperava queíiic-
cedeíTe Camoens introduzindo ao Gigante Adamaílor
:
verfo :
E também neíle
toca trompeta
Envez de (alva yd, ,
con voz màs clara ,
La botajela el monta
, , y la tarara.
zihw.
Alguns Rhctoricos mettem a Tranfiçaó no numero
das figuras por eíla caufa a porei também neíle lu-
:
§•
CAPITULO II.
ou as lyllabas.
Accrefcentando como Mavors em lugar de Mars \
,
L 2 do-íe
X 64 THEATRO DA ELOQUÊNCIA
do-fe o Indicativo pelo Imperativo.
Oitavo , pela mudança dos advérbios , como :
Vbi ducis aftnum ijlum , em lugar de qub ducis \
tomandofe a quietação pelo movimento.
Nono , pela mudança das propofiçoens , comoí
Sub lucetn ibant , em lugar de ante lucem , tomando*
fe a imminencia pela precedência.
Decimo, pela mudança dos gráos , como : Ref-
pondit jfuno faturnia janota Deorum em lugar de
Sanciiljima , tomando fe o poíitivo pelo fuperlativo*
Decimo primeiro, pela mudança das conjugaçoens,
como
At capys
, &
quorum melior Jentetitia menti ,
Aut pélago Danaum infidias , fufpeôiaque dona
Pr<ecipttare jubent rJubjeóiifque urere flammis ,
Aut terebrar* cavas uteri , <y tentar e latebras.
de Nihil unquanu
Decimo terceiro , pela falta deaccentos nasdic-
çoens , quando delles neceflUa a Oração.
Decimo quarto, pela mudança da ordem daspa->
lavras como JEdituufque Sacerdos cantant , em lu-
, :
contrários. A
equivocaçaó deites dous fentidos pode
fer dedous modos, hum viciofo , outro elegante: O
vicioÇo heaquelle, em que íè naõ diftingue o nomi-
nativo àg accufativo, nem o aceufativo do nomina-
tivo. Deitas amphibologias he de que ufavaõ os Orá-
culos Gentílicos , ou proferidos pelo demónio , ou
pela aftucia dos Sacerdotes O de Delphos difte a
:
Pyrrho :
ASynchefts hum
labyrintho de vozes pela ir-
he
regularidade da fua collocaçaõ , qwe faz a Ora-
ção inintelligivel ; aflim como elta doíegundo Imo
da Eneida :
L 3 A com
166 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
Jufto es : &c.
§.
A De (ordem
que fe
da elocução contém varias efpecíes,
podem reduzir a onze
Cacophonia
:
Pleonafmo
Periíiologia Catacbreíis
Macrologia Hyíterologia
Tapinofis Ansftrophe
Efcrologia Tmefis
Meta pia f mo.
A es
Periffohgta lhe he muito femelhante
Eu
quando dizemos
líca-íe
vou para onde poflo
:
, e naó para
, c veri-
onde naó
poflò i
:
§.
i
penitufque cavernas
Ingentes , uterumque armato milite compknt.
Vofiquam
: :
Protheíis Eébfis
Epenthefis Syítole
Paragoge Dierefís
Apherefis Synereíis
Sincope Synalepha
Apocope Eclipfis
Metathefís.
Com
170 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
§.
multa talenta
Gnatis parce tuis
§•
AEpentbefts faz o accrefcentamento da letra no
meio da dicçaó , como : Navita em lugar de
Nauta. Ovidio:
§.
OU ARTE DE RHETORICA. x 7i
Om
c a Syncope fe tira
Vixet eni lugar de fcxiflet.
do meio da dicção
O meimo Virgílio
, como
:
COm
ou
a Apocope
a fyllaba ,
no fim da dicção a letra",
fe tira
como: Tuguri em lugar deí#-
guriu O mefmo Virgílio :
§•
lia*
171 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
§•
COm laba
a Dierefis dividimos
, como : Evoluiffe
em duas huma fó fyl-
em lugar de Evolviffe
Ovidio
A
Synerefis he contraria á Dierefis , pois fa*
zemos de duas huma íó íyllaba , como em aheo y
que tem três , e ie acha em Virgílio com duas :
§.
O f
Curas hominum ! O 1
quantum eft in rebus inane í
Os Verdenegros palmares
de hum trombudo promontório^
para magoa dos luzeiros
romperão em noâlurno aborto,
§-
COm a vogal
a Synalepha fe fupprime , ou fe confunde
,
que acaba , com a outra , que princi-
pia : Virgílio :
$•
Om
c „ gar ,
a Metatbefis fe põem as letras fora do feu lu-
fazendo por efte modo huma diverfa pro-
nunciaçaô , como : Tymhre em lugar de Tymber :
§•
I TfínffSK/9
LI
,
w
LIVRO IV
CAPITULO I.
Os
Italianos eíiando mais perto deTullio, quê
as outras Naçoens , defconheceraõ também algum
dia
eíta 'differença , e imitarão menos a adoleícencia
, que
a velhice da Oratória Hum ddles foi Joaõ Bocca*
:
Dicolos ao íegundo
\ Trícolos: ao terceiro Tetra-
:
O Pe-
OU ARTE DE RHETORICA. i?|
O
&
Período Dicolos
vras ,
abjline Labore >
:
fe pode fazer com duas pala-
como o
daquelles aphorifmos : Suftine ,
&
conftantia : 8pêro dum piro. f
O
Tricclos com três j como o daquella carta de
:
§.
M 2 Temos
tÇp THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
§.
Membro primeiro.
Membro fegundo.
Membro primeiro.
Membro fegundo.
Membro terceiro.
Membro primeiro*
Membro fegundo.
pultura
Membro terceiro.
Membro quarto.
ramus. si
E em outra parte :
t= Alter um optare crudelitas e/i: alterum con-
fervare clementia. &
§.
A Se*
OU ARTE DE RHETORICA. 183
§.
trecentos. =:
Ou como adeCeftio aomefmo aflumpto :
M 4 Eft
i84 THEATRO DA ELOQUÊNCIA
legimus, | expreffimus ,
adquam
I :
.1
non docti noninftitutij
fed fadli ,
fed imbuti
fumus»
§.
is' Ne-
i86 THE ATRO DA ELOQUÊNCIA,
ts Nenhuma há tanta força , tanta e copia , que
naõ , com o ferro, e com as forças, ler debilitada
quebrada , e polia. 55
E accõmodando a collocaçaó Latina á Portugueza
he que faremos omefmo Período harmónico , e poli-
do ; aflim como
=: Naô há força taõ grande , nera taô grande
abundância ,
que com o ferro, e com as forças , naõ
polia fer debilitada , e infringida, tz
D
breves
Ou por fegunda regra a alternativa das fyllabas
breves com as longas, e a das longas com as
pois o concurfo das breves fazem a Oração
,
33 O
Sol , que fe dilata pelas eípheras como ,
53 O
Sol, que no Ceo he hum mar de luz,
há de vir a fer hum caos no fim do Mundo. sã
Deita meíma diílonancia he aquelle verío de
Ennio ;
ts O
Soberano Planeta produzindo continua-
mente inexhauriveis reíplandores , vê-lo hemos trifte-
mente fubmergido na obícuridade daquellas efpan-
tofas levaredas , deítinadas ao movimento do Uiu>
verlo. sa
a A pre-;
190 THEATRO DA ELOQUÊNCIA t
íà A
prezente fefiividade , álèm daquella revê*
retida ,
que lhe he devida em todos os âmbitos da
terra há
, de íer venerada com eípecia! e própria
í
alegria da nofíà Cidade para que, sonde foi glori-
,
tr Naô ó Juizes
que pelo voílo pare-
lòffrais,
,
—
Mas também naõ he certo que na exteníaõ de
cada vocábulo coníiíta toda a íua fonoridade por- ,
§.
refpon-
he
,
:
*
OU ARTE DE RHETORICA. 193
§.
CAPITULO II,
§•
Omefmo
digo das Éclogas do noílo Camoens;
pois , fem fe fentir , eílá voando continuamente da
humildade das choças para a eminência dolielicona.
Entre
OU ARTE DE RHETORICA. 197
§.
cabroío.
O EJlylo inchado he o que fó fe funda na pom-
pa vazia das palavras.
O EJlylo pueril he o de allufoens incongruen-
tes , agudezas infipidas , redundâncias frívolas.
O EJlylo dejatado he o que naõ tem numero ,
nem claufulas , nem dedução.
O EJlylo fecco he ao que lhe falta o efpirito , e o
adorno.
O
Eftylo violento he o que intenta achar a cuk
tura, fem íuavidade, e o concerto, fem harmonia.
De todos eftes pudera dár baftantes exemplos ,
porém melhor fera paflá-los emfilencio, por naõ mo-
ílrarmos engenho em fadigas alheias.
Alèmdeftes EJlylos há mais três, a que fedeo
o nome de Aftatico, Lacónico, e Rbodio.
O
Afiatico he o que tem huma prolixa verboíl-
dade o Lacónico he breviífimo , agudo e expreífivo ,
: ,
N 4 Phl
200 THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
Philippe de Macedónia declarando a guerra aos
Efpartanos em huma carta cheia de foberba , recebeo
delles efta refpofta :
Para
aot THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
§.
PAra a Atnplificaçiiç
de o exemplo,
àzs confequeticias :Hegrsn»
que nos dá o Padre Vieira:
ir Finjamos, pois ( o que até fingido e imagi- ,
PAra a Amplificação
melhanças e
das comparações , das Se-
, exemplos eítá Marcial cheio de ga-
lantaria nefte Epigramma :
O chei-
lo6 THEATRO DA ELOQUÊNCIA
O cheiro traz perdido , a cor mudada
,
Tal efid morta a pdlltda donzella ,
Seccps do rojío as rozas , e perdida
A branca , e viva cor , c'o a doce vida*
§.
PAra
temos
a Amplificação dos contrários, c oppoílos
a Cicero :
PAra a
Vieira :
Amplificação do incremento , o mefmo
Offrecia a efpeflura
Hum temerofo ejpanto ;
As roucas rans foavaõ
N' bum charco de agoa negra , e ajudava®
Do paffaro noâíurno o trtfte canto ;
O Tejo , com fom grave ,
Corria mais medonho , que fuave.
Como toda a trtfteza
No fikncio conjifte ,
%
PÃra Amplificação
Mercader
a dos byper boles D. Gafpar
, Conde de Cerbelhon , r,o feu Retrato
politico :
•
ouvidos mais infiéis, porque naõ haja eftrondo , que
amis pareça harmonia Os exércitos de V, M, autho-
:
rizaráô
2ô8 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
§.
pelas repetiçoens.
Para a Amplificação das metapboras temos o Pa-
dre Vieira no primeiro Sermaõ do primeiro Tomo.
ES Huma arvore tem raizes , tem tronco , tem
ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, temfru-
£tos;
,
;:
PAra que
zAmplificaçaS dos Synonymos , douaCice^
Ca-
todiíle , ,
para explicar a íua ira contra
tilina ; s= Non firam , 12011 parcam non finam,
,
E
as
para mcítrar a violência , com que foi lançado de
O Roma
2io THE ATRO DA ELOQUÊNCIA
Roma , diíle também : s=s Abiit , eMejJit , evafit , eru*
pit. 3QS
PAra
jires
a ou termos illu*
Amplificação das tos*/
o mefmo Orador contra Verres
,
, :
ANtes devemos
de entrarmos na Amplificação dos
iaber qus o epítetho
eptlhé*
tos , , ao qual
dá Quintiliano o nome de ts appofito z$ he hum adjer
dlivo , com que fica ou mais clara , ou mais enér-
,
epíthetos. Primeira ,
pode nafcer o epítbeto da caufa
eficiente , e com ella chamaremos á meza s: offi-
ciofa. =J
2 Da caufa material , com que diremos que he
fcs marmóreo s o edifício,
3 Da
OU ARTE DE RHETORICA. 211
tigre.
18 Com o habito zzcerdofozz ao javali.
19 Com os dotes do corpo p; ebúrneos 53 aos den*
tes,
pudibundas ás faces , dourados aos cabellos.
20 Com os vicios do corpo £=: deforme ss a Pa-
lyphemo, s=? £0*0 =3 a Vulcano.
21 Coma invenção e=: vulcaneas s ás armas 9 <S7-
byllinos aos verfos.
22 Com a côr 53 nevados 53 aos Cifnes , tenebro*
fos aos corvos.
23 Com a quantidade í=f profundo ?3 ao mar;
24 Com o numero sí infinitos tz aos nefcios.
25 Com o eítrondo ta canoras ás trombetas. $
O 2 26 Com
212 THE1TR0 DA ELOQUÊNCIA;
26 Comi o pretérito zz/cientificazz a Athenas.
27 Com o prezente zi calmo/o zz ao Eítio.
28 Com o futuro zz/erttlzz á íemente.
29 Com as acçoens zz Africano zz a Scipiaô.
30 Com o prodígio ziCorvinozz a Meilalla.
31 Com 0$ Authores das artes Dedaltcazz
:=: í
archite&ura.
32 Com as iníignias t; Caducifero zz a Mercúrio.
3 3 Com o lugar , aonde alguém fe venera s: £p/te-
/?/;# s=í a Diana.
34 Com a qualidade do lugar zz a/peros
sss aos
Pynneos.
3J Com a poíleflàõ ps Acbilleazz á lança.
3o Com o officio zz au/ptcantezz a Caflandra.
37 Com os Aícendentes t=á Qitiriteszz aos Ro-
manos.
38 Com o ornato tx laureada ss á cabeça.
39 Comos affèítos es intrépido zz ao guerreiros
40 Com a imitação dos affedtos humanos zz ira-
cundo tz ao raio.
41 Com o modo de obrar zzjediciofo zz a Ca ti*
lina.
42 Com as influencias zz in/elice zz a Hercules.
43 Com
imitação das faculdades d'a)ma sá w*-
a
moráveis zz aos Faltos.
44 Com a imitação da voz , da viíía , e do ou*
vido es murmur adoras =3 ás fontes , vigilantes ás ef-
írellas , /urdos aos penedos.
45 Com a eílimaçaõ S± auri/era zz á virtude.
46 Com a conftancia zi invencível'zz ao Fado.
47 Com a prezença éfc formidáveis zz aos Pla-
netas.
48 Com o eftado zz mercante zz á Cidade.
49 Com a opulência zz fru6íifero~ ao Outono.
50 Com a pobreza ás arvores zz de/ptdas. zz
51 Com
:,
§.
§•
O 4 LI-
zi6
LIVRO V.
CAPITULO I.
_
T i
-A,
Oda aportentoía variedade, de que o Mundo
fe compõem, he huma fucceíliva Imitação ,
ou da Natureza , ou da Arte. A mefma Sa-
bedoria Divina para fahir a luz, com huma
,
Fez os Ceos
, e os elementos em figura circular,
á Imitação da Eternidade : a luz , que fecommunica,
fem deteriorar-fe, á Imitação da fua EfTencia: os brutos
á Imitação àos homens : as plantas á dos brutos \ diítin-
guindo os homens dos brutos pelo raciocínio, eos
brutos das plantas pela fenfaçaõ , fe tanto confenteo*
os Caterfianos*
Ao depois asfegundas caufas foraõ imitando as
obras do feu Soberano Artífice : os campos , com as
fuás flores, imitarão o brilhante jardim do Firmamento:
o curfo das agoas , o das efpheras. PaíTou a Natu-
reza para a Arte , com eítas imitaçoens Imitarão :
e da Terra.
Enós , neto de Adam , imitou ao Avô neíle fo-
berano exercício : de Enós paliou a Sambetha mu- ,
car. ~
Pudera trazer hum innumeravel efquadraó de
Poetas Italianos, porém baítará que ponha na fron-
te o Pajior Ftdo do Cavalheiro Guarini , e de me-
lhor vontade o puzera, fe em lugar dos verfos fol-
tos fe metteílem os rimados nefte dociííimo , e en-
genholo Poema.
Dos Francezes naõ poífo dar muitos exempla-
res , ainda que fejaõ baftantes os Poetas delta Pro-
víncia , pois como amaô mais os frudtos , do que as
flores , naõ íe fabem haver com a elegância Poética.
Depois do Reinado de Francifco I. he que prin-
cipiou eíía Naçaõ a olhar para a altura do Pindo }
ainda que nunca pode vencer a fua eminência. Al-
guns dos noííòs modernos lhes pertendem fazer com-
panhia na raiz do monte ,. ou por moda , ou por lhes
parecer muito diíScil a ladeira» Ainda naõ houve quem
os defenganafle de que nefte lugar nunca paílariaõ de
ferem Sylenos.
Os
220 THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
Os
Poetas de França mais antigos , e conheci-
dos faó Marot , Rabelais , Roníàrd , Malherbe , May-
nard , Voiture, Scarron , Calprenede , e o Marquez
de Racan os menos antigos faõ : De la Motthe le
:
Si
,
E o noíiò Camoens :
s-
Philippicas :
§.
O
tido :
Terceiro
meímos termos
, guardando
, e
as mefmas palavras, ou os
transferindo-as a outro ferir
:
e palavras,
O mefmo
55 Até quando finalmente , ó Catilina , has de
abufar da noíla paciência ? Até quando há de eícar-
necer de nós elTa tua ira ? Até que limites fe há de
precipitar eííe teu atrevimento : Naó te move para o
refreares , nem a nofturna guarda do Palácio , nem
as vigiasda Cidade, nerri o temor do Povo, nem
o fequito de todos os bons , nem hum lugar taô de-
fendido, como aquelle, em que fe ajunta o Senado ,
nem as vozes femblantes dos Senadores ? 53
, e
E pode fer efta a imitação :
tt Até quando finalmente , ó peccador , has de
abufar da paciência divina ? Até quando efearnecerás
da fua piedade ? Até que limites fe há de precipitar
eííe teu atrevimento ? &c. p3
§.
ridade
r 1 :
5.
Gloria
Z2* THE ATRO DA ELOQUÊNCIA,
Gloria vincendí junãa e/l , cum milite , Ç<ejar :
sr
O nono
, :
§•
MAsfempre ferabom que cilas imitaçoens fe adi-
antem aos exemplares , como fez Camoens ne-
° "M
ftZU ° merm0 TUS"Í
d* En^f&Õ X°
P O' lux
%i$ THEATRO DA ELOQUÊNCIA
O 1
E Virgílio :
O lux Dardani*
, fpes ò fidiffima Teucrum;
S.
OU ARTE DE RHETORICA. «7
Univerfo. Por iílò naô ápprovo que diíTelíe Horácio
que nefta parte tinhaô tanta liberdade os Poetas , como
os Pintores ; pois he bem fácil de ver , que aquelles
a tem muito maior do qúe eftes. Couías há ( diíle
Caramuel) que naô cabem na efphera da pintura , e
para iílo nomea a neve, o ouro, eoSol; Quíe nul-
lius Apellis penicillo exprimuntur ; e o Sol , o ouro ,
eneve íàõ muito fáceis á imitação dos Poetas, eOra*
dores. Ficou fem expreflaó a pintura quando os Pin-
tores Mexicanos quizeraô retratar o eftrondo das bom-
bardas ; e vemos confeguidos eftes retratos , naô fó ,
com o cencuríb das dicçoens , mas também das letras :
Com o ;= m =5 , e com o 5= r ss imitou , ou retratou
o nolío Camoens a voz horrifona do feu gigante ,
pois fem fazermos , com a boca , hum fom horrorofo
e corpulento, talvez que naô podamos recitar aquelle
verfo das Luíiadas :
—— ^
magno cum murmure montis
Circum clauftra fremunt \
Pz De
i2g THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
De que fe aproveitou o TaíTo para exprimir o
fom da trombeta Tartarea :
Conjecit. .
CA<
: ,
CAPITULO II.
A agudeza
£=
fegundo os Lógicos , he
Huma
,
Se k và bolviendo tildes
fi paris , paris a
Hefpafía ,
Si nò paris , a Paris.
El Marquez , y fu muger %
: , a ^
Al Marquez le folheio
una mula de las três ;
y mi amigo , que las viò
pergunto : Qtial de e/las es
la mula , que fe muriò*
de piedofo, y prevenido
hazer ai Conde Cupido^
porque no fue/Je JSíarcifò.
O noffo Camoens
Naõ he a gentileza
Do teu rojlo celefle
Fora do natural}
Nao pode a Natureza fazer tal :
LI-
,i,
235"
LIVRO VI.
CAPITULO I.
unidas , &c.
O
mefmo Quintiliano recommenda que fe eílude
a Oraçaô por partes , e he boa advertência , porque
oquedepreila fe aprende, depreda fahe da memoria.
Serve igualmemte para ellaolugar, e o tempo:
O lugar há de fer defoccupado , e diftante do mais
pequeno ruido , aonde fe pofla , com voz clara , efem
receio de fer ouvido , repetir o que íe vai decorando.
O tempo he o melhor odaraanhaã, por eftar oeílo-
mago fem oppreflaõ , e o cérebro fem os vapores
que fobem do cozimento. Eu tenho a experiência , de
que tudo o que o entrego de noite á memoria , o repito
de manhaã , com maior facilidade. Finalmente o me-
lhor modo de ajudar a memoria he o cultivá-la
He
verdade que há memoria taõ infeliz , que fe
pôde comparar á agoa , aonde fe naó imprime figu-
ra , que logo fe naõ apague ; com oimpulfo da cor-
rente.
Há
OU ARTE DE RHETORICA. 239
pirito.
A Plebe commummente avalia a bondade da Ora-
ção , pela frequência dos clamores ; e há alguns , que
enganados , com elte conceito popular , querem an-
tes imitar o eílálo dos trovoens , do que as luzes do
relâmpago , por iíTo ficaõ quafi íempre os ídolos in-
teiros , porque faõ trovoens , qu^ nao deípedem ra»
ios Caníaó os ouvintes , com hum eftrondo fem fru-
:
movimentos da alma.
O
noílb Camoens introduzindo a orar aquelle
relho , que pertendia apartar os Portuguezes do dei-
cobrimento da índia , deo aos Oradores huma bóa
doutrina, para evitar eftes defeitos ;
Cti Me
344 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
Com tudo
ainda que fe encareçaõ as energias das
Gefticulaçoens he certo que a íua maior efficacia fe
confegue na companhia das vozes; e deixando as que
pertencem aos Pantominos , e as que fó faõ próprias
co theatro , direi agora as que faó convenientes ? e
decorofas aos Oradores.
§.
O Gefio
rhetoriço naô deve infinuar o mais leve in-
dicio de affèctaçaô : Há de fer natural , com»
poílo, íizudo , e efficaz: os Oradores Italianos ge-
íliculaó , com todo o corpo : os Portuguezes , e Ca-
ftelhanos faò menos defaiFogados : os Francezes mais
encolhidos os Inglezes affe&aõ tanto a gravidade,
:
Q. 3 mas
246 THEATRO DA ELOQUÊNCIA )
eonfolaçaó. Quando
levantamos he fignal de admi-
a
ração: quando a abaixamos, de trifteza.
o cas
S olhos levantados ao Ceo pronunciaó as íuppli-
: Virgílio
Os
: ;
Pois
OU ARTE DE RHETORICA~. 249
CAPITULO IL
rativo , Judicial :
com Capitão
a felicidade deite infigne da mefrna íorte :
ímxhm-kmbxaâ&no Pwegyrwo :
Vir*
2$% THEATRO DA ELOQUÊNCIA,
Virgílio naó fe efqueceo deita circunílancia
—
mitllufque recurfat
'
S.
§.
AO das
fegundo tempo pertencem as acçoens , as pren-
e as honras próprias do Heróe.
,
Dcve-fe
-
i ,
—
OU ARTE DE RHETORICA. ? 253
Deve-fe louvar a clemência , a moderação , a ju-
ftiça : Cicero a Cefar :
O
As
Louvor das prendas fe divide em dous géneros ,
porque humas faõ adquiridas * outras naturaes
adquiridas faõ as Artes liberaes, e as fciencias,
:
Si
:
§•
f.
ASem honras ,
para ferem louvadas , devem aíTentar
peflba benemérita : Plinio a *Trajanoé
trAti fó teaconteceo, que, antes que te fizefc
fem , folies digno de te chamarem Pai da Pátria, sf
AS riquezas
condiçoens
fe podem louvar com quatro
também
Primeira, que fejaõ bem adquiridas.
:
tsNaõ te perfuadés ,
que tens coufa alguma íe ,
ceira , que naõ nos dilatemos nas que podem fer com-
muas a outros, mas íó nas que diftingwem o fujéito
do Panegyrico.
§•
Lucrino e Averno
, que faõ ccmo huma pirguiça
,
CAPITULO III.
i
NA fegunda parte fe introduzem os louvores dos
efpoíbs , e dos (eus genitores , parentes, &c. aon-
de ie faz menção dos dotes do corpo , e do animo*
§.
Fitado , e Violantilla ,
a Eftella porque tem excellen-
íes idéas de que o Orador fe pode aproveitar.
, O
Author âoTbeairo tem compofto íeis Epithalamios nas
Vodas mais illuftres" do Reino naô os oftercce para
:
AGenethliaco he aOraçaó,
3
com que feapplaude
o naícimento de algum infaqteillufire; e também
fe pode diftribuir em quatro partes.
A primeira deve comprehender os louvores dos
Pais , e Avós: a fegunda a efperança, que íe pôde
tirar deite nafcimento : a terceira a alegria , e con-
gratulação da prole : a quarta os votos , para que o
menino creíça para ornamento da Pátria , e felicidade
da Família.
A efperança da gloria , edas virtudes do infante ,
que he a parte mais nervofa do Geneíbliaco , fe pode
excitar com o efplendor da origem , com o íèmblante
do nafcido , com o cuidado da fua educação , com o
exemplo dos feus Maiores , e com os prodígios talvez ,
R 2 A Oração
i6o THSATRO DA ELOQUÊNCIA,
§.
A Oração fúnebre
exéquias de
méritas.
,
huma
he
,
a que fe
ou de muitas
coíluma recitar nas
peííoas bene-
§.
CAPITULO IV.
SEtence,
eu houveííe de
ao
faltaria
dizer tudo o que á Hiftoria per-
intento da minha brevidade ; irei
fomente ao mais principal , e para o que deixo em
filencio , remetto o meu Leitor para o Italiano Maf*
cardo , que tratou eíla matéria , com toda a exacçaõ ,
e felicidade.
A
Hiftoria he hum vocábulo Grego, que fig*
nifíca a narração dascouías fuecedidas , aonde fe in-
cluem as acçoens , e confelhos dos Príncipes , e dos
Vardens , e Capitacns infignes, a defcripçaò das Po-
voaçoens , a ordem dos tempos , como fe foííem hu-
ma viva pintura , que fe reprezentaíle aos olhos.
Há vários géneros de Hiftoria : Hiftoria dos
tempos , que fe chama Cbronica : como a de Auber-
to , Libera to , Máximo , Dextro , ou fejaó fuppoftos >
ou verdadeiros eítes Authores.
Hiftoria , que fe chama Annaes , como a de Tá-
cito :Hiftoria univerfal de huma Naçaó , como a de
Livio Hiftoria de alguma guerra particular , como
:
menta*
,
R 4 dades ,
264 THE ATRO DA ELOQUÊNCIA ,
nophonte^
aó6 THEÀTRO DA ELOQUÊNCIA ,
$•
pofa
,
Para
2 7o THE ATRO DA ELOQUÊNCIA ,
§.
vatmiMimiz&a <iu&mjumiMum mm
CAPITULO V.
eícu-
* 72 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
pedida ,
Joôrejcripto.
KJaudaçao he aquellevocativo , que antecede ao
Exórdio , como Meu Senhor , ou Senhor meu.
:
homem ,
que lempre punha ss Cervo de V. nu =5 ,e naó
defdizia o apodo do foffrimento outro querendo mo-
, :
S O So-
174 THEATRO DA ELOQUÊNCIA ,
§.
§.
Cheguei , vi , e venci.
Ou como a de hum filho de Pompeio :
NAs Cartas
terior
ha' dous géneros de Eftylo , hum in~
outro exterior
, interior pertence a
: O
Elocução: efte EJtylo deve fer o infimo , porque íendo
a Carta huma imagem da pra&ica familiar , íeria huma
coufa
,
§.
A Penna há de
te direita
fer teza , lifa , comprida , e da par-
da aza, com ambas as plumas, enaõ
csburgada a modo de ponteiro as melhores faõ as
:
A
9?a,
Tinta deve fer azulada , macia, crefplnndecen-
te , nem muito grcíTa
nem
,
quecuítea iahir aspe?'-
muito liquida, que íefolte maisdonçceflà-
rio todas as receitas, que fe tem inventado para a
:
§.
AS letras
beltas ,
devem fer bem talhadas , iguaes , e ef-
advertindo que nos rafgos da Carta nao
fe permittem filagranas j mas como nem todos apren-
derão bem aefcrever, ecosn aquella perfeição, que
vemos nos Morantes , nos Baratas , e no moderno
Manoel de Andrade , ao menos fe há de trabalhar para
que zsletras fiquem comportas , e quando nem ifto fe
poda confeguir , fejaó íequer intelligiveis as dicçoen^ \
deforte que fe naõ perca o tempo no feu conhecimento.
Aífim eílas , como as letras , devem fer diftintas
em termos que fe nao confundaõ humas com outras
haô de ter virgulas, e pontos, e as lyllabas accen-
tos , para que bem fe conheça o íentido da oração»
Nasmefrnas dicçoens fe há de obfervar a proprie-
dade , e quantidade das letras , e quando devem ler
íingellas, ou dobradas: Efta matéria pertence a Or-
thographia; e ainda que entre nós fenaõ tem aíTen-
tado nas fuás regras, porque cada hum efcreve , con-
forme alua opinião, a minha he que nos vocábulos
devemos ufar das letras da fua origem.
§.
A S regras devem
cifo, que fe a
fer direitas
penna fe
, o que he taó pre*
deímandar, fe há de
ufar
OU ARTE DE RHETORICA, *77
ufar de pauta até naturalizar o coftume. Entre huma i
e outra há de haver huma feparaçaó moderada a me-
:
FIM.
ÁD-
ADVERTÊNCIA.
VEndem-fe ejles Livros 5 e as mais Obras
defie Ãuthor na loja de António da 5/7-
vet da Cojla, mercador de Livros na rua Au-
gujla y junto à traveqa de 5. Nicolao ; e ou-
tros diferentes de varias faculdades em to-
das as matérias zfc.
v>
a