Proposta de metodologia para monitoramento do
mercado de trabalho formal do Brasil assumindo
mercados competitivos e em equilíbrio nas bases de
dados oficiais do governo
Luiz Honorato da Silva Junior
Doutor em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Recife, PE - Brasil. Professor da
Universidade de Brasília (UnB) - Brasília, DF - Brasil.
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E-mail: lula_honorato@hotmail.com
Danilo Nolasco Cortes Marinho
Pós-Doutorado pela Universiteit van Amsterdam (UvA) - Holanda. Pós-Doutorado pela
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - Campinas, SP - Brasil. Doutor em Sociologia pela
Universidade de Brasília (UnB) - Brasília, DF - Brasil. Professor da Universidade de Brasília (UnB) Brasília, DF - Brasil.
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E-mail: nolascounb@gmail.com
Antonio Carlos Ferreira de Souza Leal
Mestre em Estruturas e Construção Civil pela Universidade de Brasília (UnB) - Brasília, DF - Brasil.
Assistente de Direção do Centro de Pesquisas de Opinião Pública da Universidade de Brasília (UnB) Brasília, DF - Brasil.
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José Angelo Belloni
Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis,
SC - Brasil. Professor da Universidade de Brasília (UnB) - Brasília, DF - Brasil.
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Claudete Ruas
Mestre em Estatística e Métodos Quantitativos pela Universidade de Brasília (UnB) - Brasília, DF - Brasil.
Professora da Universidade de Brasília (UnB) - Brasília, DF - Brasil.
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E-mail: ruasclau1@gmail.com
RESUMO
O objetivo deste trabalho é propor uma metodologia para monitoramento do mercado de trabalho formal
do Brasil. Assumido o pressuposto de competição no mercado de trabalho brasileiro e a disponibilidade de
informações nas bases de dados oficiais do governo como Rais e Caged, uma metodologia de monitoramento
é apresentada. Admitindo que os salários médios das ocupações CBO disponibilizadas no Caged, assim como
o estoque de trabalhadores são resultados da interação dos agentes em um mercado livre e competitivo,
propõe-se acompanhar a dinâmica dessa combinação de informações. Assim, serão verificados os quatro
possíveis movimentos de equilíbrio no tempo, a saber: redução da demanda; redução da oferta, expansão da
oferta; e expansão da demanda. A metodologia apresentada tem resultado potencial de atingir dois objetivos
sempre propostos em políticas públicas: o da eficiência e o da indução. Pode ainda ser também muito útil na
proposição de caminhos para a formação profissional.
Palavras-Chave: Proposta de metodologia. Monitoramento. Equilíbrio de mercado. Mercado de trabalho.
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José Angelo Belloni / Claudete Ruas
Proposal of methodology for monitoring the formal labor market
of Brazil assuming competitive and balanced markets in official
government databases
ABSTRACT
The objective of this paper is to propose a methodology for monitoring the formal labor market in Brazil.
Assuming the competition assumption in the Brazilian labor market and the availability of information in
official government databases such as Relação Anual de Informações Sociais (Rais) and Cadastro Geral
de Empregados e Desempregados (Caged), a monitoring methodology is presented. Assuming that the
average salaries of Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) occupations available in Caged, as well as
the stock of workers are the result of the interaction of agents in a free and competitive market, we propose
following the dynamics of this combination of information. Thus, the four possible equilibrium movements in
time will be verified, namely: Reduction of Demand; Reduction of Supply, Expansion of Supply; and Expansion
of Demand. The methodology presented can potentially achieve two objectives always proposed in public
policies: efficiency and induction. It can also be very useful in proposing paths to professional qualification.
Keywords: Methodology proposal. Monitoring. Market equilibrium. Labor market.
Propuesta de metodología para monitoreo del mercado de trabajo
formal de Brasil asumiendo mercados competitivos y en equilibrio en
las bases de datos oficiales del gobierno
RESUMEN
El objetivo de este trabajo es proponer una metodología para el monitoreo del mercado de trabajo formal
en Brasil. Asumido el supuesto de competencia en el mercado de trabajo brasileño y la disponibilidad de
informaciones en las bases de datos oficiales del gobierno como Relação Anual de Informações Sociais (Rais)
y Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), se presenta una metodología de monitoreo.
Reconociendo que los salarios medios de las ocupaciones del Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)
disponibles en el Caged, así como la reserva de trabajadores son resultado de la interacción de los agentes en
un mercado libre y competitivo, se propone acompañar la dinámica de la combinación de ambas variables. Por
lo tanto, se verificarán los cuatro posibles movimientos de equilibrio en el tiempo: Reducción de la Demanda,
Reducción de la Oferta, Expansión de la Oferta y Expansión de la Demanda. La metodología presentada
posee la capacidad de alcanzar dos de los objetivos propuestos en las políticas públicas: el de la eficiencia
y el de la inducción. También podría ser útil en la propuesta de posibilidades para la formación profesional.
Palabras Clave: Propuesta de metodología. Monitoreo. Equilibrio de mercado. Mercado de trabajo.
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Proposta de metodologia para monitoramento do mercado de trabalho formal do Brasil assumindo mercados competitivos e
em equilíbrio nas bases de dados oficiais do governo
O maior conhecimento dessa dinâmica orienta
É sabido que as sociedades estão sempre em constantes as decisões de modernização desses mercados,
movimentos. Novas tecnologias são desenvolvidas inclusive na oferta de cursos com formação na
permanentemente e em velocidade crescente, direção correta.
no intuito de atender a novas demandas sociais. O objetivo deste trabalho é o de propor uma
São novos processos tecnológicos que se inter- metodologia de monitoramento do mercado de
relacionam gerando um mundo complexo, com trabalho formal do Brasil que possa orientar, entre
mercados dinâmicos, exigentes e também complexos. outras coisas, a política de formação profissional.
da
Essa complexidade torna-se sistêmica e perpassa Com base em informações de séries temporais
1
pelos diversos segmentos sociais, inclusive no Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do
mercado de trabalho, e as funções e postos laborais Cadastro2 Geral de Empregados e Desempregados
se tornam parte de complexa cadeia produtiva (Caged) ; e hipótese de equilíbrio nos mercados
de trabalho em concorrência perfeita, identificar
global (MORAIS, 2012).
tendências de emprego e remuneração na
As mudanças observadas no mercado de trabalho Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)3.
podem ser entendidas como uma resposta às
mudanças de hábitos e tecnológicas. A modificação O MERCADO DE TRABALHO
de preferências do consumidor obriga modificações
no mercado de trabalho e em todo o processo de O mercado de trabalho é o lugar onde os agentes
produção para o atendimento dessas alterações. Da econômicos ofertam e demandam trabalho.
mesma maneira, as mudanças tecnológicas trazem É nele que os trabalhadores oferecem a sua
consigo mais mudanças, em um processo contínuo, força do trabalho composta por sua força física,
fazendo com que haja um dinamismo cada vez habilidades e competências para contribuir com
mais frenético em toda a cadeia produtiva global, processos produtivos que visam à geração de bens
e serviços que estarão disponíveis para o mercado
inclusive na concepção do emprego.
de bens e serviços. É também no mercado de
Esse não é um fenômeno novo. A obra de trabalho que aqueles que demandam trabalho
Hubermann (2010) mostra como desde a Idade podem encontrar trabalhadores com qualificações
Média as inovações tecnológicas, entendidas adequadas para as inúmeras funções na produção e
em sentido mais amplo, vêm transformando os nas cadeias produtivas.
processos produtivos e as relações de trabalho de
forma cada vez mais rápida.
1
A Rais é a Relação Anual de Informações Sociais a ser preenchida
INTRODUÇÃO
Sempre há quem questione a velocidade das
mudanças e imagine que se possa desacelerar ou
mesmo impedi-la, mas a história da humanidade
está repleta de exemplos acerca da inutilidade desse
esforço. Entretanto, é possível adotar estratégias
mais proativas no sentido de se adaptar e se preparar
para essas transformações.
Monitorar o funcionamento e as alterações
dos mercados de trabalho é uma importante
política pública de estado. Tentar compreender
o direcionamento que têm tomado os mercados
de trabalho é essencial para orientar políticas de
infraestrutura física e social.
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2
3
pelas empresas, contendo elementos destinados a suprir as
necessidades de controle, estatística e informações das entidades
governamentais da área social.
Segundo o Ministério do Trabalho (1965) o Caged foi criado pelo
Governo Federal, por meio da Lei nº 4923/65, que instituiu o
registro permanente de admissões e desligamentos de empregados
sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Este
registro, que os estabelecimentos informam mensalmente ao
Ministério do Trabalho, é base do Cadastro Geral.
Segundo o Ministério do Trabalho (2002) a Classificação Brasileira
de Ocupações (CBO), instituída por portaria ministerial nº. 397,
de nove de outubro de 2002, tem por finalidade a identificação
das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios
junto aos registros administrativos e domiciliares. Os efeitos
de uniformização pretendida pela Classificação Brasileira de
Ocupações são de ordem administrativa e não se estendem às
relações de trabalho.
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Mas como se dá esse processo? Como se determina
o nível de contratação e remuneração do trabalho?
Quais fatores afetam a determinação da oferta e da
demanda nos diversos setores da economia e nível
de ocupação? Como seria possível, analisando o
funcionamento do mercado de trabalho, propor ações
de governo visando contribuir para a expansão do
emprego e da remuneração?
É difícil imaginar algum mercado em qualquer
lugar do mundo funcionando stricto sensu na
forma apresentada, entretanto, pode-se entender
que boa parte das características apresentadas
se verifica nas relações de trabalho no Brasil.
Portanto,poder-se-ia descartar a possibilidade de
mercado em competição perfeita, mas não haveria
razão para considerar que o mercado de trabalho
brasileiro não seja competitivo.
Um primeiro e importante aspecto a ser considerado
para responder a essas questões refere-se à estrutura
desse mercado, que pode ser classificado como A OFERTA DE TRABALHO
competitivo ou não. Mas o que seria um mercado A oferta de trabalho é caracterizada pelo conjunto
competitivo e que implicações teriam para o nível de de trabalhadores de uma economia que revelam
emprego e remuneração?
a sua disposição de trabalhar, e em contrapartida,
receber um salário.
Não se deve confundir a análise das características de
um mercado competitivo com as características do Uma característica que determina a curva de oferta de
trabalhador para que ele seja competitivo, como trabalho é o chamado salário de reserva do trabalhador.
tem sido tema de alta relevância em debates de Conforme define Borjas (2012), o salário de reserva
especialistas de gestão de carreira, como Bitencourt é o salário que faz o trabalhador ser indiferente
(2002), Gil (2007), Dias (2018) e Chiavenato entre trabalhar e não trabalhar. Uma pessoa entra
(2000, 2004 e 2006).
no mercado de trabalho quando a taxa salarial do
mercado excede o salário de reserva.
Segundo Troster (2006) um mercado competitivo se
caracteriza (hipóteses) pelas seguintes condições:
De modo simplificado, pode-se afirmar que a chamada
curva de oferta de trabalho em uma economia é
1) existe grande número de compradores e vendedores
a combinação dos preços de reserva de todos os
(ofertantes e demandantes) – agentes econômicos são
trabalhadores contidos nesse mercado.
tomadores de preços;
É oportuno ressaltar que a teoria microeconômica
2) os produtos (mão de obra) são homogêneos, isto é
apresenta uma modelagem muito mais complexa
são substitutos perfeitos entre si – homogeneidade da
e completa com a assunção de hipóteses e
mão de obra;
derivando a curva de oferta de trabalho a partir do
3) existe informação completa sobre o preço (salário) do equilíbrio entre as curvas de indiferença e restrição
orçamentária do trabalhador4.
produto (trabalho) – transparência do mercado; e,
4) a entrada e saída das firmas (trabalhadores) no mercado Considere-se uma situação hipotética em que um dado
mercado de trabalho para uma ocupação específica
é livre, não havendo barreiras – livre mobilidade.
apresente os seguintes salários de reserva mensal de 100
Assim, um mercado de trabalho competitivo tem grande trabalhadores que estão dispostos a ofertar a sua força
número de trabalhadores e firmas; em cada mercado os de trabalho, conforme mostra a figura 1. É importante
trabalhadores não se diferenciam (significativamente) apontar que os trabalhadores foram ordenados a partir
em suas habilidades e capacidades; não há assimetrias daqueles que tinham menor salário de reserva até
informacionais acerca de valores salarias; e aqueles que tinham os maiores.
trabalhadores e empresas contratam e demitem
livremente, tornando o mercado dinâmico.
4
Para que se tenha uma noção mais completa da construção
metodológica, ver Borjas (2012).
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Proposta de metodologia para monitoramento do mercado de trabalho formal do Brasil assumindo mercados competitivos e
em equilíbrio nas bases de dados oficiais do governo
Figura 1 ‒ Exemplo de uma curva de oferta de trabalho de uma ocupação qualquer
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
Em geral os trabalhadores não têm motivações
para revelar diretamente seus salários de reservas,
eventualmente tem dificuldades até mesmo de
informá-los. Entretanto, os trabalhadores apontam
seus salários de reserva quando aceitam um trabalho
sob determinado valor de remuneração. Quando
o valor é inferior ao seu salário de reserva, eles
rejeitam a ocupação, mas quando a remuneração
é maior ou igual, a tendência é aceitá-la.
de trabalho, emprego e salários, considerando a
correção de viés de seleção amostral envolvida nas
decisões de participação no mercado de trabalho
e de procura por emprego. Os referidos autores
encontraram evidências de uma relação positiva do
salário de reserva com o nível de escolaridade e faixa
etária dos trabalhadores.
O uso de métodos de regressão pode ser utilizado
para a estimação. Com base em informações
de contratações e estoques de trabalhadores,
assim como os valores de remunerações pagas,
características pessoais e do mercado de trabalho,
pode-se estimar o comportamento esperado dos
sujeitos quanto à disponibilidade para trabalhar.
Mas afinal o que determina ou ao menos
influencia o salário de reserva do trabalhador?
O trabalho é um elemento fundamental na vida
em sociedade. Em geral é o trabalho que garante
o sustento de indivíduos e famílias. Assim, o que
parece determinar de maneira objetiva o salário de
reserva do trabalhador é a sua leitura das condições
do mercado de trabalho e a necessidade de garantir
o próprio sustento, sob condições mínimas.
Monte, Ramalho e Pereira (2011), por exemplo,
estimaram o salário de reserva dos trabalhadores
ocupados, desocupados e inativos no Brasil.
Usando dados da Pnad de 2006, estimaram
um modelo de determinação conjunta da oferta
Quando o trabalhador consegue auferir
alguma renda adicional, como aluguel, lucro,
juros, doações e transferências, essas condições
parecem afetar a decisão sobre salário de reserva
e assim, elevá-lo.
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Outros aspectos, como a formação profissional,
habilidades (inatas ou aprendidas) e o ambiente
econômico em que está inserido – tal como as
condições macroeconômicas ou a região em que
vive – também afetam diretamente o salário de
reserva do trabalhador. Por essa razão os salários
de reserva dos trabalhadores são diferentes entre
grupos distintos de indivíduos, setores da economia
e regiões. É evidente que outros fatores determinam
também a oferta de trabalho como a realização pessoal.
Agora analisemos novamente o exemplo apresentado
na figura 1 e ampliemos esse mercado com apenas
100 trabalhadores, no exemplo, para um mercado
com milhares ou mesmo dezenas de milhares de
trabalhadores, a oferta de trabalho teria um formato
de equivalência com o indicado na figura 2.
É clara a relação positiva entre salários de reserva e
número de trabalhadores dispostos a ofertar trabalho
nessa economia. Nessa simulação, verificam-se
trabalhadores que têm seus salários de reserva mais
elevados, outros mais reduzidos. É importante notar
também que há inúmeras configurações distintas
entre as diferentes ocupações do mercado de trabalho.
As distintas ocupações levarão a formas funcionais e
níveis salariais bastante heterogêneos.
DEMANDA POR TRABALHO
Se a oferta de trabalho é caracterizada pelo conjunto
de trabalhadores de uma economia que revelam
a sua disposição a trabalhar, e em contrapartida,
receber um salário, a demanda de trabalho é
caracterizada por um conjunto de empregadores
(firmas, ONGs, governos, etc.) de uma economia
que procuram trabalhadores para compor seu plano
de produção, e em compensação estão dispostos a
pagar uma remuneração para isso.
É sabido que trabalhadores são diferentes de outros
insumos no processo produtivo. Os determinantes
da demanda por trabalho têm reflexos sociais e
políticos importantes. Ao observar cuidadosamente,
verifica-se que muitas das questões centrais
na política econômica envolvem o número de
trabalhadores que as empresas contratam e o salário
pago. Exatamente por isso, políticas como salários
mínimos, subsídios e restrições na capacidade
de empregadores demitirem são tentativas de
regular alguns aspectos da demanda por trabalho
(BORJAS, 2012).
Figura 2 ‒ Simulação de uma curva de oferta de trabalho
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
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Proposta de metodologia para monitoramento do mercado de trabalho formal do Brasil assumindo mercados competitivos e
em equilíbrio nas bases de dados oficiais do governo
Feitas essas considerações básicas, deve-se atentar
para o fato de que o que determina em última
instância a demanda por trabalhador é a atividade
econômica. Pode-se afirmar que o aquecimento
da atividade econômica favorece o aumento da
demanda por trabalho, e o contrário acontecendo
leva à redução dessa demanda. Essas variações
podem ser vistas no agregado do mercado de
trabalho, assim como, de maneira microeconômica,
observando os setores da economia e ocupações.
A questão pode ser respondida sendo resolvido o
problema de maximização de (3), com relação
ao fator de produção trabalho, de lucro de curto
prazo8.
p PME(E, K) = w
(4)
Assim, o valor do produto marginal (p PME(E, K))
de um fator deve ser igual a seu preço (w), ou, em
outras palavras, o valor do produto marginal do
trabalho deve ser igual ao salário pago ao trabalhador
contratado. Isso quer dizer que há uma combinação
As empresas têm um plano de produção que pode que a empresa busca satisfazer: ela decide o nível
ser expresso como uma função de produção, da de contratação levando em consideração o preço do
seguinte fórmula:
produto que ela produz e vende, a produtividade
q = f (E, K)
(1) do trabalhador que ela contrata e o nível salarial.
em que q é a produção da empresa, E é o número de
(horas dos) trabalhadores contratados pela empresa
e K é o capital empregado como estoque de terras,
máquinas e outros insumos físicos. A função de
produção especifica quanto produto é gerado por
qualquer combinação de trabalho e capital5.
Assim, é fácil perceber que quando o preço sobe
ceteris paribus, a firma está propensa a contratar
mais. Quando a produtividade do trabalhador
aumenta, ceteris paribus, a empresa também ficará
mais propensa a contratar mais. E, por fim, quando
o salário do trabalhador se eleva, ceteris paribus, a
firma ficará propensa a contratar menos ou demitir.
Assumindo a racionalidade dos agentes econômicos6,
as firmas operam objetivando a maximização de seus Considerando que essa dinâmica pode ser observada
lucros. Essa premissa leva as empresas à necessidade em elevada parcela dos mercados de trabalho, por
de otimizar a seguinte função lucro:
simplicidade, cada ocupação poderia ser encarada
como um mercado de trabalho. Ações que
Lucros = pq – wE – rK
(2)
visam aumentar a produtividade do trabalhador
em que p é o preço pelo qual a empresa consegue podem contribuir para a elevação do estoque de
vender a sua produção, w é a taxa salarial – custo trabalhadores contratados e assim, o aumento de
para contratar um trabalhador adicional – e r é o suas remunerações.
custo do capital7.
Logo, pode-se deduzir, a partir de (4), como se
Ou, substituindo (1) em (2)
comporta a demanda por trabalho. Considerando
Lucros = pf(E, K) – wE – rK
(3) que há heterogeneidade na produtividade do
trabalho, quando o mercado não está aquecido e
Apresentadas essas condições, pode-se fazer o estoque de trabalhador empregado é reduzido, as
a pergunta: quantos trabalhadores a empresa firmas optam por selecionar os trabalhadores que
deveria contratar?
elas entendem como sendo os mais produtivos.
5
6
7
Observe que não interessa aqui definir forma funcional dessa
função. Para maior detalhamento, conferir Borjas (2012).
Racionalidade no sentido microeconômico. Para maiores detalhes,
ver Varian (2012).
Assume-se que a empresa opera de forma perfeitamente
competitiva e assim, com a sua participação limitada no mercado
ela não consegue, com suas decisões, influenciar os preços.
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8
Ver Varian (2012, p. 372).
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À medida que o mercado se expande e os novos
trabalhadores conseguem ocupação no mercado,
por hipótese tendem a entrar aqueles que possuem
produtividade menor, diminuindo a produtividade
PME(E, K). Esse fato tende a pressionar os salários
para baixo, sobretudo daqueles trabalhadores
entendidos como menos produtivos.
Essa dinâmica é mostrada na figura 3, denominada
Exemplo de uma curva de demanda de trabalho de
uma ocupação qualquer. Na figura é apresentada
a forma da demanda por trabalho e a sua relação
negativa entre os níveis salariais o número de
empregados contratados nesse mercado.
Figura 3 ‒ Exemplo de uma curva de demanda de trabalho de uma ocupação qualquer
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
Mas o que aconteceria se, por exemplo, houvesse
aumento nos preços relativos dos bens e serviços
produzidos pelas empresas que contratam
trabalhadores nesses mercados de trabalho? Ou,
alternativamente, o que aconteceria se houvesse
ganhos de produtividade dos trabalhadores?
204
A resposta está na figura 4. A situação
apresentada poderia ser verificada, por
exemplo, em situações nas quais o trabalhador
recebe qualificação profissional eficaz.
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em equilíbrio nas bases de dados oficiais do governo
Figura 4 ‒ Exemplo de aumento na produtividade do trabalho ou no preço do bem produzido pelas firmas na
demanda por trabalho
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
Feitas tais considerações, resta observar como
interagem oferta e demanda por trabalho e quais
resultados produzem. Pode-se ainda indagar a
respeito de que tipos de políticas públicas podem
induzir o crescimento desse mercado e contribuir
para o aumento do emprego e da renda.
O EQUILÍBRIO
Esse equilíbrio, enfim, determina o salário de
equilíbrio, ou de mercado, e a quantidade de
trabalhadores contratados naquele mercado. Esse
resultado é produto da interação entre o salário de
reserva dos indivíduos que ofertam trabalho com o
nível de salário capaz de remunerar dado valor do
produto marginal, ou seja, o produto marginal que
o trabalhador é capaz de oferecer.
A figura 5 traz exemplo de equilíbrio em um
mercado de trabalho competitivo. Ela mostra que
aqueles trabalhadores que têm salários de reserva
menor ou igual ao valor de equilíbrio estarão ativos
no mercado de trabalho e, da mesma maneira, as
empresas que conseguem um valor do produto
A interação entre as preferências e objetivos de marginal maior ou igual ao salário de equilíbrio
trabalhadores e empresas, representados pelas curvas irão ao mercado contratar.
de oferta e demanda, respectivamente, produz o
equilíbrio do mercado de trabalho.
Segundo Borjas (2012), o equilíbrio harmoniza o
querer conflitante entre trabalhadores e empresas:
os trabalhadores preferem trabalhar quando o
salário está alto, e as empresas preferem contratar
quando o salário está baixo.
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Figura 5 ‒ Exemplo de equilíbrio em um mercado competitivo
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
Conforme se verifica na figura 5, nesse exemplo i. redução da demanda;
numérico, esse mercado entra em equilíbrio com
salários em torno de R$ 6.800,00 e a contratação ii. redução da oferta;
de 326 trabalhadores.
iii. expansão da oferta; e
Se, eventualmente, o nível salarial se sobrepõe
ao equilíbrio, essa contingência geraria um
excedente de oferta de trabalho. Em um mercado
competitivo, tal contingência é rapidamente
sanada com a redução de contratações e retorno
ao equilíbrio. Da mesma forma ocorreria se o
nível salarial ficasse aquém do equilíbrio: os
agentes econômicos logo ajustariam as suas
decisões e o mercado retornaria ao equilíbrio.
iv. expansão da demanda.
É importante ter em mente que o referido
equilíbrio é bastante dinâmico, apesar de ele
ser denominado na microeconomia equilíbrio
estático. Vários são os fatores que podem afetar os
níveis de oferta e demanda e modificar o lugar do
equilíbrio. Essas mudanças decorrem basicamente
de quatro modos, a saber:
A segunda situação, redução da oferta, ocorre
quando uma parcela dos trabalhadores deixa de
ofertar trabalho. Situações como essas surgem
quando uma parcela dos trabalhadores consegue
auferir renda sem trabalho ou ainda em situações
de desemprego por desalento.
206
A primeira situação, redução da demanda, decorre
de algum choque na demanda que faça com que
as empresas que contratam naquele mercado de
trabalho tomem tal decisão. Redução da atividade
econômica naquele setor, mudanças tecnológicas,
choques regionais, etc., são exemplos comuns que
levam à redução da oferta.
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A terceira situação, expansão da oferta, ocorre A figura 6 representa de forma sintética as quatro
quando a massa de trabalhadores cresce, por situações de mudanças de equilíbrio em um
exemplo, ou quando os trabalhadores perdem mercado competitivo.
benefícios sociais que podem ter algum grau de
substituição à renda do trabalho.
Por fim, a quarta situação, expansão da demanda,
acontece quando o mercado de bens finais aquece,
por exemplo, obrigando a empresa a demandar
mais trabalhadores para atender a seus novos planos
de produção.
Figura 6 ‒ Exemplo de mudanças no equilíbrio em um mercado competitivo
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
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Do ponto de vista do trabalhador, a situação
expansão de demanda sempre é mais desejável,
uma vez que nela o nível de contratação se
eleva, também, com o aumento do salário.
Nessas circunstâncias é sempre importante o
trabalhador se qualificar, tendo em vista que surgem
melhores oportunidades para ele e a economia se
beneficia com os ganhos de oportunidade.
A análise do equilíbrio no tempo pode revelar
tendências. Ao observar uma série histórica dos
equilíbrios de mercados, é possível entender como
tem se comportado esse mercado no longo prazo.
A figura 7 traz um exemplo de mudanças no
equilíbrio de um mercado competitivo de
trabalho no tempo.
Figura 7 ‒ Exemplo de mudanças no equilíbrio de mercado competitivo de trabalho no tempo
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
Na figura é mostrada a série temporal de um
hipotético mercado de trabalho. Cada ponto
plotado representa o equilíbrio representativo
desse mercado no período entre janeiro de 2013
a janeiro de 2018, e o mês de janeiro de cada ano é
destacado no gráfico.
Na sequência, verificam-se todos os outros possíveis
movimentos, a saber:
i. redução do salário de equilíbrio acompanhado
de redução do estoque de trabalhadores;
ii. crescimento do salário de equilíbrio
acompanhado de redução do estoque de
Observando cuidadosamente a figura, é fácil ver
trabalhadores;
que durante o ano de 2013 houve significativo
aumento do salário de equilíbrio, assim como iii. redução do salário de equilíbrio acompanhado
crescimento no número de contratação, que salta
de crescimento do estoque de trabalhadores; e
de 1.759 trabalhadores para 1.836. Igualmente, o
salário de equilíbrio começa em R$ 1.963,58 e vai iv. crescimento do salário de equilíbrio acompanhado
para R$ 2.042,11.
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Proposta de metodologia para monitoramento do mercado de trabalho formal do Brasil assumindo mercados competitivos e
em equilíbrio nas bases de dados oficiais do governo
de crescimento do estoque de trabalhadores.
i. bens públicos: geralmente se verifica quando
alguma atividade laboral não é exclusiva ou
Observe-se ainda que é possível não somente ver
rival, ou seja, quando o resultado do trabalho
para qual direção vai o equilíbrio, assim como o
beneficia toda a sociedade dificultando ou
tamanho das variações.
mesmo impedindo que o trabalhador cobre por
seus serviços em decorrência do comportamento
A obtenção de uma informação tão valiosa como
free rider11 dos agentes econômicos;
essa tem enorme potencial de funcionalidades para a
tomada de decisões seja para os agentes econômicos, ii. regulação no mercado de trabalho: essa é uma
seja para os tomadores de decisões públicas ou mesmo
situação muito comum tendo em vista que
para os think tanks9.
existe uma percepção clara de que as relações
de trabalho geram assimetrias importantes
na relação empregador versus trabalhador.
A mais conhecida regulação é o salário mínimo,
que proíbe a contratação de trabalhadores sob
remuneração inferior ao determinado por lei.
Tal regulação, em alguns mercados, pode gerar
excedentes na oferta.
Do ponto de vista do formulador de políticas públicas
do emprego, tal informação pode ser um poderoso
instrumento para decidir a respeito de formação
profissional, por exemplo.
Considerando o fato de que os recursos são escassos
e não se pode errar nessa alocação, conhecer a
dinâmica dos mercados de trabalho pode contribuir
para alocações eficientes na política de formação Depois desses postulados, resta saber quais são os
profissional, na discussão sobre legislação trabalhista pressupostos necessários para que se possa obter
tal instrumento. Qual a viabilidade de se executar
e nas políticas de incentivos e indução econômicos.
o referido monitoramento? Que informações são
É importante ressaltar que as condições de equilíbrio necessárias e como aplicá-la ao caso concreto?
estabelecidas estão sujeitas à estrutura do mercado
de trabalho - no que diz respeito às condições de
A APLICAÇÃO DA METODOLOGIA
competitividade desse mercado – e, também, às
restrições legais impostas. De toda sorte, o equilíbrio PARA MONITORAMENTO DO
será estabelecido depois da definição dessas condições. MERCADO DE TRABALHO FORMAL
DO BRASIL
Quando o mercado falha, e é importante dizer que
não existe mercado em competição perfeita em seu Para se executar uma política pública utilizando a
estado puro, os resultados apresentados aqui são metodologia proposta e assim, monitorar no tempo
os mercados de trabalho do Brasil, faz-se necessário
naturalmente alterados.
ter em mãos a oferta e a demanda por trabalho ou de
Os mercados falham em decorrência de algumas preferência, sendo mais empírico, suas estimativas.
razões, dentre elas, as mais relevantes são
as seguintes:baixa competição no mercado: É sabido que não seria uma tarefa minimamente viável
geralmente em função das diferenciações entre proceder com tais estimativas para, por exemplo,
os ofertantes de trabalho ou pela pequena escala os mais de dois mil códigos CBO.Para se proceder
daquele mercado ou mesmo na formação de às estimações de oferta e demanda seriam necessárias
informações concernentes a salários de reserva dos
monopsônios10 entre os demandantes;
ofertantes e dos valores do produto marginal (p PME(E, K))
9
Faz referência aos centros e institutos de pesquisa independentes, do trabalho para as empresas demandantes.
10
voltados para a produção e disseminação de conhecimento e ideias
sobre temas como política, comércio, indústria, estratégia, ciência,
tecnologia, ou mesmo, assuntos militares.
Estrutura de mercado caracterizada por haver um único comprador
para o produto de vários vendedores (VARIAN, 2012).
Inc.Soc., Brasília, DF, v.12 n.2, p.197-213, jan./jun. 2019
11
A microeconomia define o comportamento free rider como sendo
aquele em que um ou mais agentes econômicos acabam usufruindo
de determinado benefício proveniente de um bem, sem que tenha
havido contribuição para a obtenção de tal (VARIAN, 2012).
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Luiz Honorato da Silva Junior / Danilo Nolasco Cortes Marinho / Antonio Carlos Ferreira de Souza Leal /
José Angelo Belloni / Claudete Ruas
Mas não se pode esquecer que a interação dessas duas UM MODELO DE VERIFICAÇÃO DE
“forças” no mercado competitivo de trabalho, uma TENDÊNCIAS NO MERCADO DE
representando a tomada de decisão de ofertantes do TRABALHO
fator e a outra dos demandantes, gera um equilíbrio
que por sua vez define o salário de mercado e o A observação desses valores no tempo permitirá
monitorar a evolução do mercado de trabalho de
número de mão de obra contratada.
forma relativamente simplificada e ao mesmo tempo
Assim, conhecendo a remuneração média (ou abrangente, uma vez que se pode fazer tal monitoramento
mediana) da ocupação, admitida então como por Ocupações CBO para todo o país, ou até mesmo por
salário de equilíbrio, e o número de empregados Unidades da Federação e municípios.
contratados e registrados, a partir das informações
fornecidas pela Rais e Caged, pode-se facilmente O acompanhamento temporal permitirá encontrar
acreditar que esses números representam o tendências nos mercados de trabalho. Considerando as
tendências da dinâmica econômica do país e isolando
referido equilíbrio.
a sua influência nos mercados de trabalho, podem-se
É importante ressaltar que, conforme já dito encontrar tendências de curto, médio e longo prazo
neste trabalho, para que essa tarefa seja possível, nesses mercados.
deve-se assumir a hipótese de que os diversos
mercados de trabalho os quais as Ocupações A figura 8 apresenta valores reais dos salários médios,
CBO representam devem ser competitivos, e deflacionados para dezembro de 2018, e o estoque
que as regulações impostas nesse mercado não de trabalhadores assistentes administrativos (CBO
interferem de forma significativa no equilíbrio 411010) empregados e registrados no Caged,
desse mercado. É oportuno ainda ter em mente no período de janeiro de 2017 a julho de 2018.
que os valores dos salários de equilíbrio no tempo, É importante notar que essa função, juntamente com
assim como qualquer outra forma monetária a de auxiliar de escritório (CBO 411005), são as que
considerada, devem ser deflacionados para que se mais contratam trabalhadores. Juntas empregam mais de
quatro milhões de trabalhadores, segundo os dados do
evitem distorções advindas de ilusões monetárias.
Caged e da Rais.
Figura 8 ‒ Salário médio e estoque de assistentes administrativos no período de janeiro de 2017 a julho de 2018
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
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Inc.Soc., Brasília, DF, v.12 n.2, p.197-213, jan./jun. 2019
Proposta de metodologia para monitoramento do mercado de trabalho formal do Brasil assumindo mercados competitivos e
em equilíbrio nas bases de dados oficiais do governo
Observando a referida figura, verifica-se que no
período de 19 meses houve significativa variação
no nível de remuneração, assim como no estoque
de trabalhadores contratados. Contudo, é fácil
verificar que há uma relação negativa entre salário e
o número de trabalhadores empregados.
A dinâmica da ocupação auxiliar de escritório (CBO
411005) é idêntica, como se poderia imaginar. Essa
informação pode orientar ações públicas, como por
exemplo, a melhor capacitar os trabalhadores desse
setor, objetivando aumento de produtividade e,
consequentemente, remuneração.
Na figura 6 verifica-se ainda que o que tem
caracterizado esse mercado nesse período é
uma expansão de oferta do emprego com
consequente “redução do salário de equilíbrio
acompanhado de crescimento do estoque
de trabalhadores”. Essa dinâmica é muito
comum em períodos de expansão do emprego
na economia entre grupos de ocupação que
requerem menor qualificação do trabalhador.
Da mesma forma, consideram-se os valores reais
dos salários médios, também deflacionados como
no caso anterior, e o estoque de trabalhador
da manutenção de edificações (CBO 514325)
registrado no Caged no período de janeiro de 2017
a julho de 2018. A figura 9 traz essas informações.
Figura 9 ‒ Salário médio e estoque de trabalhadores da manutenção de edificações no período de janeiro de 2017
a julho de 2018
Fonte: Dados hipotéticos e aleatorizados.
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Luiz Honorato da Silva Junior / Danilo Nolasco Cortes Marinho / Antonio Carlos Ferreira de Souza Leal /
José Angelo Belloni / Claudete Ruas
Observando cuidadosamente a referida figura,
verifica-se que houve inversão referente ao caso
anterior. Nesse caso, há uma relação positiva
entre salário médio e estoque de trabalhadores,
no período de 19 meses.
A metodologia apresentada tem resultado potencial
de atingir os dois objetivos propostos – o da
eficiência e o da indução. Assumindo pressupostos
usuais e utilizando informações já disponíveis, a
execução metodológica dessa proposta pode ser
instrumento útil no planejamento e gestão de
Novamente observando a figura 6, verifica-se indução do mercado de trabalho brasileiro. Pode
que o que tem caracterizado esse mercado nesse ainda ser muito útil na proposição de caminhos
período é uma expansão de oferta do emprego, para a formação profissional.
com consequente “crescimento do salário de
equilíbrio acompanhado de crescimento do Pode-se ranquear as ocupações em que mais
estoque de trabalhadores”. Essa dinâmica é crescem a remuneração, o emprego ou ambos.
muito comum em períodos de expansão do Pode-se também ranquear o contrário, os que
emprego na economia entre grupos de ocupação mais se deprimem.
que requerem maior qualificação do trabalhador.
Assim, está proposta uma metodologia de
Considerando o mesmo exercício para todas as monitoramento do mercado de trabalho formal
ocupações CBO, para as Unidades da Federação do Brasil com base em informações de séries
e CBO e, até mesmo, eventualmente, para os temporais da Rais e do Caged; e ainda, assumindo
municípios brasileiros e CBO, ter-se-ia amplo a hipótese de equilíbrio nos mercados de trabalho
panorama do emprego formal no Brasil e em concorrência perfeita, essa metodologia se
poderoso instrumento de planejamento e gestão propõe a identificar tendências de emprego e
do emprego no Brasil.
remuneração na CBO.
Não se pode perder de vista que a construção do
referido painel de monitoramento teria custos
baixíssimos, uma vez que as informações já
estão contidas nas séries históricas da Rais e do
Caged, necessitando apenas dar o tratamento a
esses dados.
A ferramenta pode ser um rico e poderoso
instrumento de planejamento e gestão de governos
estaduais e municipais, além de fonte de consultas
para pesquisadores, setor produtivo e investidores.
Pode ser um instrumento de consulta e validação
para as proposições de think tanks que muitas vezes
se veem com dificuldades de verificação empírica.
CONCLUSÕES
Por fim, a proposta de metodologia para
Uma política pública eficiente é aquela que monitoramento do mercado de trabalho formal
consegue convergir bons resultados para o do Brasil, aqui apresentada, pode contribuir de
aperfeiçoamento da vida social com execução inúmeras maneiras para o aperfeiçoamento da
simples e de baixo custo. Em tempos de disciplina gestão da política do trabalho.
fiscal, esse é um atributo irrefutável para a
governança de um país continental.
De forma semelhante, o planejamento de ações
governamentais que possam ser facilitadoras
e indutoras do crescimento da ocupação
da força de trabalho é absolutamente bemvindo, sobretudo em momentos de recuperação
econômica de um país.
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Inc.Soc., Brasília, DF, v.12 n.2, p.197-213, jan./jun. 2019
Proposta de metodologia para monitoramento do mercado de trabalho formal do Brasil assumindo mercados competitivos e
em equilíbrio nas bases de dados oficiais do governo
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