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Tese Jacob 2024 FINAL

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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO/HUÍLA

ISCED-HUÍLA

O Papel das Autoridades Tradicionais na Preservação da


Cultura. Um Estudo de Caso na Comuna do Quê, Município de
Chicomba.

Trabalho apresentado para obtenção do Grau


de Licenciado no Ensino de História

Autor: Jacob Miguel Canuela

Lubango, 2024
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO/HUÍLA
ISCED-HUÍLA

O Papel das Autoridades Tradicionais na Preservação da


Cultura. Um Estudo de Caso na Comuna do Quê, Município de
Chicomba.

Autor: Jacob Miguel Canuela


Orientador: Manuel Morais Sita, MsC.

Lubango, 2024
Dedicatória
Profundamente, dedico este trabalho aos meus pais (André Canuela em feliz
memória e Helena Francisca) por me darem a vida e cuidarem-me,
incondicionalmente.

i
Agradecimento

Agradeço a Deus o todo-poderoso omnisciente omnipotente omnipresente,


pela vida e sapiência durante a minha formação;

Pela minha mãe Helena Francisca ter dado boa educação do berço;

Aos meus familiares Jacob Ezequiel, Madalena Zacarias, Manuel Sita, Luísa
Isaias, Linda Chilepa, Alcides Sita, Angelina Benudia, Isabel Ngongo, Minha
esposa Alice Hendjengo e aos meus filhos, pelo cuidado, carinho e apoio
durante a minha formação e a realização do trabalho;

(os meus agradecimentos também estendem-se aos meus patrões, Dawit


Wolderufael, Efrem Kflon, pelo apoio econômico e psicológico, quanto aos
meus colegas Joel Joaquim Adriano, Valentino Tchissaluquila, Jaquim Abílio,
Maria Francisco, Catarina Chimuco o meu muito obrigado);

Ao meu grande homem e também tutor Manuel Morais Sita pelo grande apoio e
sábia orientação do trabalho;

Aos professores, Job Upale, Manuel Morais Sita, Luís Adriano, Inara da Cruz e
Francisco Ricardo Monteiro por terem marcado positivamente a minha
formação e por serem excelente professor;

A todos aquele que directa ou indirectamente contribuíram positivamente para


a realização deste trabalho.

A Todos, O Meu Muito Obrigado

ii
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO DA HUÍLA
ISCED-HUÍLA

DECLARAÇÃO DE AUTORIA DO TRABALHO DE AUTORIA


Tenho consciência que a cópia ou o plágio, além de poderem gerar
responsabilidade civil, criminal e disciplinar, bem como reprovação ou retirada
do grau, constituem uma grave violação da ética académica.

Nesta base, eu Jacob Miguel Canuela, estudante finalista do Instituto Superior


de Ciências de Educação da Huíla (ISCED-Huíla) do Curso de História, do
Departamento de Ciências Sociais, declaro, por minha honra, ter elaborado
este trabalho, só e somente com o auxílio da bibliografia que tive acesso e dos
conhecimentos adquiridos durante a minha carreira estudantil e profissional.

Lubango, 17 de Abril de 2024

O Autor
_________________________
Jacob Miguel Canuela

iii
RESUMO

As autoridades tradicionais representam a reserva dos padrões culturais.


Porém, actualmente regista-se um grande fenómeno no que tange ao processo
de degradação dos valores, o que de certa maneira coloca em risco a
identidade do povo. Pensa-se conveniente que todas as forças vivas da
sociedade como a Família, Igrejas, Estado, Organizações Sociais Filantrópicas
e Outras) possam promover acções concrectas no sentido de valorização da
cultura. Nas comunidades rurais e na vida das populações, é urgente o uso do
otchoto, sendo um lugar privilegiado para o processo de transmissão valores
relacionados e educação informal no que se refere aos usos e costumes da
comunidade. Contudo, os factores ligados a globalização, tendem a acelerar o
processo de degradação destes valores. Para a concretização da nossa
investigação, formulamos um objectivo geral, do qual extraímos os objectivos
específicos. O objectivo Geral: Compreender o Papel das Autoridades
Tradicionais da Comuna do Quê-Chicomba na Preservação da Cultura. Em
função do objectivo geral, almejamos, com o presente trabalho, atingir os
seguintes objectivos específicos: Desatacar alguns traços culturais dos
diferentes grupos étnicos; Descrever sobre origem e a organização política das
populações da comuna do Quê e suas lutas ao longo dos tempos; Identificar as
principais actividades ritualísticas comunitárias na Comuna do Quê; Perceber a
intervenção das autoridades tradicionais no processo da preservação e
divulgação da cultura na comunidade; Destacar os meandros de cooperação
entre as autoridades tradicionais e outras franjas da sociedade. O Designer da
investigação é descritivo interpretativo. Fez-se recurso aos métodos: Histórico
para melhor compreensão do percurso histórico da região em estudo,
Comparativo que permitiu buscar elementos em comum entre os Nyaneka-
Humbi e outros grupos vizinhos, Pesquisa Bibliográfica, tendente a leitura de
vários autores, buscando ideias dos clássicos sobre o mesmo assunto ou
semelhante e Levantamento que permitiu fazer perguntas directas à pessoas
idóneas sobre o assunto.

Palavras Chaves: Papel; Autoridades tradicionais; Património cultural; Poder;


Cultura e Tradição

iv
Abstract

Traditional authorities represent the reserve of cultural standards. However,


there is currently a major phenomenon regarding the process of degradation of
values, which in a certain way puts the identity of the people at risk. It is
considered convenient that all the living forces of society such as the Family,
Churches, State, Philanthropic Social Organizations and Others) can promote
concrete actions towards the appreciation of culture. In rural communities and in
the lives of populations, the use of otchoto is urgent, as it is a privileged place
for the process of transmitting related values and informal education regarding
the uses and customs of the community. However, factors linked to
globalization tend to accelerate the process of degradation of these values. To
carry out our research, we formulated a general objective, from which we
extracted the specific objectives. The General objective: Understand the Role of
the Traditional Authorities of the Quê-Chicomba Commune in the Preservation
of Culture. Depending on the general objective, we aim, with this work, to
achieve the following specific objectives: Highlight some cultural traits of
different ethnic groups; Describe the origin and political organization of the
populations of the Quê commune and their struggles over time; Identify the
main community ritual activities in Comuna do Quê; Understand the intervention
of traditional authorities in the process of preserving and disseminating culture
in the community; Highlight the intricacies of cooperation between traditional
authorities and other fringes of society. The Research Designer is descriptive,
interpretive. The following methods were used: Historical for a better
understanding of the historical path of the region under study, Comparative that
allowed us to search for elements in common between the Nyaneka-Humbi and
other neighboring groups, Bibliographical Research, tending to read several
authors, seeking ideas from the classics on the same or similar subject and
Survey that allowed direct questions to be asked of reputable people on the
subject.

v
Keywords: Paper; Traditional authorities; Cultural heritage; Power; Culture and
Tradition

Índice

Dedicatória ……………………………………………………………………………. i
Agradecimento ………………………………………………………………………. ii
DECLARAÇÃO DE AUTORIA DO TRABALHO DE AUTORIA ……………….. iii
RESUMO …………………………………………………………………………… iv
Abstract ……………………………………………………………………………… v
Introdução ………………………………………………………………………… 2
Motivação da Escolha do Tema ..……………………………………………………3
Importância Teórica e Prática …………………………………………………… 3
Revisão da Literatura ……………………………………………………………… 4
Definição de Conceitos-Chave …………………………………………………… 6
Identificação do Problema ………………………………………………………… 7
Delimitação do Tema ……………………………………………………………… 8
Formulação de Hipóteses ………………………………………………………… 8
População …………………………………………………………………………… 8
Objectivos da Investigação ………………………………………………………… 8
Objectivo Geral ……………………………………………………………………… 8
Objectivos Específicos ……………………………………………………………… 8
Quadro Metodológico …………………………………………………………………9
Métodos e Técnicas de Trabalho a Usados na Investigação ………………… 9
Técnicas ………………………………………………………………………………10
Estrutura do trabalho ……………………………………………………………… 10
CAPITÚTLO I- O CONTEXTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-CULTURAL DE
CHICOMBA ………………………………………………………………………… 12
1.1- Localização Geográfica e Limites ………………………………………… 12
1.1.1- O Clima …………………………………………………………………… 12
1.2- Cultura e Religião ………………………………………………………… 14
1.2.1- Cultura ……………………………………………………………………… 14
1.2.2- Religião …………………………………………………………………… 16
vi
1.3- O Atavio (Indumentária Especifica) dos Ovanyaneka ………………… 18
CAPÍTULO II: AS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA COMUNA DO QUÊ E
SEUS DESAFIOS NO RESGATE DA CULTURA ……………………………… 22
2.1- Valores Culturais …………………………………………………………… 22
2.2- O Papel da Família na Conservação da Cultura ………………………… 23
2.3- A Cultura Angolana E Suas Implicações ……………………….………… 25
2.4- Resenha Histórica Sobre o Surgimento da Comuna do Quê …………. 29
2.5- Principais Ritos Comunitários Realizados na Comuna do Quê …………
29
2.5.1- Nascimento …………………………………………………………………31
2.5.2- Rituais de Iniciação ……………………………………………………… 31
2.5.2.1- O Ekwendje ………………………………………………………………31
2.5.2.2- O Efiko …………………………………………………………………… 32
2.5.3- Alambamento ……………………………………………………………… 33
2.5.4- Casamento ………………………………………………………………… 33
2.5.5- O Envolvimento Das Autoridades Tradicionais No Processo De
Resgate Dos Valores Culturais …………………………………………………… 34
Conclusão …………………………………………………………………………… 54
Sugestões …………………………………………………………………………… 55
Bibliografia ……………………………………………………………………………57
Anexos de Imagens ………………………………………………………………… 62

vii
INTRODUÇÃO
Introdução
A preservação e a divulgação dos padrões culturais de diferentes povos,
obedece um conjunto de normas da comunidade, através de uma geração à
outra. Hoje tem sido um grande desafio para todas franjas sociais divulgação e
valorização da cultura Nacional e local de Angola.

No caso particular de Angola e África em Geral, a organização sociopolítica dos


povos estiveram sempre na base das normas consuetudinárias de cada povo,
mas este tecido ficou torcido paulatinamente na medida em que Angola foi
conhecendo a penetração e colonização ou seja invasão europeia, no caso de
Angola os portugueses, que dentre muitos objectivos, o seu plano cultural
consistia em civilizar o homem negro, Chicoadão, (2010, p.59) realça que a
colonização foi um acto de negação cultural, económico-social e político no
nosso país não há sobra de dúvidas que a responsabilidade de restaurar,
resgatar, e reavivar a nossa política cultural é evidente e ali assenta a
passagem politica do Dr. António Agostinho Neto ‘’ havemos de voltar’’.

De acordo com Quintas (2022, p.1), disse que o papel das autoridades
tradicionais, sobretudo em zonas rurais, é importante na preservação e
divulgação dos padrões culturais, passados de geração em geração através da
instituição tradicional designada de otyoto1, ou seja, considerada como escola
ou meio de socialização do individuo, bem como na aquisição de hábitos, de
conhecimentos e na promoção de valores culturais às novas gerações. As
autoridades tradicionais, são chamadas a envidar esforços de modo que os
interesses comunitários estejam salvaguardados, tal como Arjago (2002),
citado por Kanguia, (2019, p.1), disse que ‘’aos poucos começa-se aceitar que
o contexto vai reconhecendo que qualquer perspectiva para este País passa
por um olhar sobre o passado e pela realidade sociocultural dos povos locais o
que durante a colonização em Angola, parecia impossível de imaginar ’’.

1
- É um lugar que serve para tomar refeições da noite (jantar) e educação sobre valores que regem a
comunidade.

2
Motivação da Escolha do Tema

Decidimos levar a cabo esta investigação sob tema O Papel das Autoridades
Tradicionais na Preservação da Cultura. Um estudo de caso na Comuna
do Quê, Município de Chicomba, porque nos dias hodiernos, nota-se um
desleixo da parte das pessoas sem olhar pela faixa etária, a despreocupação
com passagem de experiências do passado para novas gerações, daí ser
importante que as pessoas com idoneidade trace novos meandros que possam
corresponder com novas dinâmicas da sociedade, estas preocupações e outras
estão na mira pela qual motivaram-nos na escolha do tema.

A identidade de um determinado povo passa por assimilar o conjunto de


padrões culturais, hábitos, costumes, lendas e mitos, pelo que estes elementos
constituem o bastião da unidade dos grupos humanos em sociedade.

Várias são as investigações que se propõem no campo da cultura em Angola,


mas ainda assim são insuficientes porque Angola é um mosaico cultural. Por
outro lado, visa também, a elaboração de uma monografia a ser apresentada
como condição para obtenção do grau de licenciatura em ciências da
educação, opção Ensino da História.

Importância Teórica e Prática

Teórica - A passagem de qualquer conhecimento entre as culturas africanas e


angolanas em particular, foi sempre no otyoto, este lugar tradicional é
considerado como escola, na aquisição de hábitos, habilidades, atitudes, para
preservar os conhecimentos, as experiências e técnicas na promoção de
valores culturais às novas gerações para desenvolver a maturidade na pessoa
humana, pretendemos com isso:

Metodizar ou ordenar os conhecimentos já existentes sobre papel das


autoridades tradicionais na preservação da cultura.

Colher dados ou esclarecimentos relacionados sobre organização de uma


determinada circunscrição territorial de uma autoridade tradicional.

3
Prática - O exercício da prática da cultura passa por incentivar as danças e
cânticos tradicionais nas comunidades, sobretudo nas festividades ritualísticas
de iniciação feminina e masculina, bem como em outros rituais quer os de
natureza nostálgica ou eufórica.

Organizar e apresentar um texto de apoio que possa evidenciar um


determinado conhecimento atinentes as autoridades tradicionais.

Revisão da Literatura

O presente tema, não sendo pioneiro, será desenvolvido tendo por base
estudos realizados por diversos autores, graças as quais nos será possível
analisar e ter referências das características e delimitação do fenómeno; por
outro lado, é pela importância que a abordagem do tema já mereceu.

Assim, procuramos consultar os seguintes autores:

Segundo Mier, (2005), citado pelo Ndala & Gomes, (2008; p.9). Refere que a
educação dos valores constitui um fenómeno que se manifesta de diversas
maneiras, como uma praga social, em níveis sociais completamente diferentes.
Não se limita a determinada época da vida, nem uma única esfera da vida.
Manifesta-se tanto de forma espontânea como de forma institucionalizada e
organizada. A partir deste conceito qualquer análise sobre a educação deve
partir, necessariamente do estudo e caracterização da sociedade em que ela
se desenvolve; dos seus problemas e contradições essenciais que constituem
o fundamento de todo sistema social de educação.

A educação tradicional no meio rural coexiste com a educação oficial e


apresenta as seguintes características: realiza-se de forma espontânea,
informal, por imitação e diferenciada por género; de natureza comunitária, ou
seja, ligada às situações da vida e aos papéis sexuais e sociais futuros; visa
preservar a identidade cultural e capacitar para a vida social/comunitária; inclui
rituais de passagem à vida adulta, a que os/as jovens têm de se submeter;
assegurada pelos adultos, de tal forma que faz sentido o provérbio que refere
que “para educar uma criança é preciso toda uma aldeia (Silva, 2011:5).

4
A educação constitui outro processo central no modo como a cultura é
continuamente produzida e transmitida entre os membros de uma comunidade
ou sociedade. […] Por outras palavras, se qualquer interação permite a
transmissão de elementos culturais entre indivíduos (socialização), algumas
interações são intensionalmente organizadas e levadas a cabo com esse
objectivo. (Abrantes & Katúmua, 2014:128).

De acordo com Pacheco, (2002, p.5), disse que as sociedades a que se


reportam os chamados poderes tradicionais – pela sua diversidade não se
pode falar de um poder tradicional – são sociedades na base de linhagens cuja
organização social é fundada no parentesco e cujo substracto filosófico-
religioso se baseia no culto dos antepassados. Em situações em que uma
comunidade de linhagens se impõe a outras por via da anterioridade da
ocupação do território e das alianças, que vai estabelecendo, gera-se um poder
político que é justificado como um privilégio herdado dos antepassados da
linhagem dominante. Isso favorece a criação de uma “classe” aristocrática cujo
poder político assenta no parentesco e na religião, como sistema de
representações jurídico-ideológicas, mas também nas relações económicas
que se estabelecem principalmente pela gestão do acesso à terra (facilitado
aos membros da linhagem dominante e seus aliados), pelo sistema de trocas a
longa distância e pelo pagamento dos tributos devidos pelas linhagens
subalternas. O culto dos antepassados constitui suporte do poder e é utilizado
para conter reivindicações das gerações mais jovens e com estatutos
desiguais, ou dificultar ou impedir a mobilidade social.

Em Angola as autoridades tradicionais são entidades que personificam e


exercem o poder no seio da respetiva organização política-comunitária
tradicional, de acordo com os valores e normas consuetudinária e no respeito
pela Constituição e pela lei. A elas lhes são atribuídas competência,
organização, regime de controlo, da responsabilidade e do património das
instituições do poder tradicional, as relações institucionais destas com os
órgãos da administração local do Estado e da administração autárquica, bem
como a tipologia das Autoridades Tradicionais, são reguladas por lei (Costa,
2017, p.217).

5
Fazendo jus ao pensamento de Costa, pode-se compreender que as
responsabilidades das autoridades tradicionais em geral, baseiam-se num
conjunto de normativas aceites e respeitadas pela comunidade, aonde que o
cumprimento das mesmas devem ser escrupulosos

Definição de Conceitos-Chave

Papel: é o conjunto de deveres que condicionam o comportamento do


individuo, junto a um grupo ou dentro de uma determinada instituição. Este
papel desenvolvido pelas autoridades tradicionais, no seio da sociedade pode
ser entendido pelo comportamento, a conduta ou função desempenhada pelos
mesmos no interior do grupo, (Estevão, 2020, p.4).

Autoridades tradicionais: são entidades que personificam e exercem o poder


no seio da própria organização, político-comunitário tradicional de acordo com
os valores e normas consuetudinárias e no respeito pela constituição e pela lei,
a elas foram atribuídas competências da organização, regime de controlo da
responsabilidade e do património das instituições do poder tradicional, as
relações institucionais destas com órgãos do Estado e da Administração
pública, a tipologia das autoridades tradicionais são regulares por lei (Lei da
Administração pública, 1990), citado por (Estevão, 2020, p.5).

Património cultural: Herança cultural de uma nação, referente aos ancestrais


(Gourgel, 2000, p.59):

Colonização: Abrange a ocupação, a organização administrativa e a


exploração económica do território, (Altuna, 2006, p.38).

Poder é termo como possibilidade para dispor de influência. Ser capaz.


Autoridade, (Chicoadão, 2010, p.29).

Cultura: é o conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral,


lei, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade (Altuna, 2006, p.59).

6
Tradição: é tudo o que persiste de uma cultura, geralmente é de longa
duração, apesar das mudanças a que esta sujeita fica sempre uma base,
(M.A.T2 2003).

Identificação do Problema

Segundo, Martins (2004, p.74), define que problema é o apontamento das


questões a partir das quais a investigação será efectuada, ou seja, a
problematização aparecerá como meio de leventar questões para o
desenvolvimento da pesquisa e a elaboração do texo. O problema científico,
consiste na formulação da ideia central do tema em pergunta, desta feita temos
o seguinte problema científico:

Qual é o papel das autoridades tradicionais da comuna do Quê-Chicomba na


preservação da cultura?

Porém, é óbvio que em torno dessa temática sejam levantados outros


questionamentos no que tange os aspectos do plano cultural. Assim, a
identificação do problema do presente estudo baseia-se nos seguintes
questionamentos: que posição tem a figura da autoridade tradicional no plano
cultural comunitário? Quais são as estratégias a adoptar para efectivação do
processo de “resgate” de valores culturais? A colonização em Angola alterou os
padrões culturais?

Assim sendo, o problema do nosso trabalho, sustenta-se na busca de mais


informações no plano cultural do grupo etnolinguístico dos Ovanyaneka, na
comuna do Quê.

Nesta perspectiva, reflectimos que o tema proposto pode facultar um contributo


na solução deste problema e, consequentemente, ser gerador de
conhecimentos do assunto.

2
- Ministério da Administração do Território

7
Delimitação do Tema

O presente trabalho, tem como abordagem «papel das autoridades tradicionais


na preservação da cultura. Um estudo de caso na comuna do Quê, município
de Chicomba».

Formulação de Hipóteses

Tratando-se de um trabalho basicamente descritivo não formulamos quais quer


hipóteses.

População

Para o tratamento do tema, contaremos com informações das Autoridades


Tradicionais, da Regedoria da comuna do Quê, de alguns funcionários da
Administração local; para além dos recursos bibliográficos, entre outras fontes
necessárias que temos acesso.

Objectivos da Investigação

Objectivo Geral

Considerando as particularidades do presente estudo e mediante o problema


levantado, é nosso objectivo compreender o papel das autoridades tradicionais
da Comuna do Quê-Chicomba na preservação da cultura.

Objectivos Específicos

Em função do objectivo geral, almejamos, com o presente trabalho, atingir os


seguintes objectivos específicos:

- Destacar alguns traços culturais dos diferentes grupos étnicos;

- Descrever sobre origem e a organização política das populações da comuna


do Quê e suas lutas ao longo dos tempos.

- Identificar as principais actividades ritualísticas comunitárias na Comuna do


Quê.

8
- Perceber a intervenção das autoridades tradicionais no processo da
preservação e divulgação da cultura na comunidade.

-Destacar os meandros de cooperação entre as autoridades tradicionais e


outras franjas da sociedade.

Quadro Metodológico

Métodos e Técnicas de Trabalho a Usados na Investigação

Neste trabalho, para cumprirmos com os objectivos traçados usamos os


seguintes métodos: Histórico, Comparativo, Funcionalista, Pesquisa
Bibliográfica e Levantamento.

Método Histórico: partindo do princípio de as actuais formas de vida social, as


instituições e os costumes têm origem no passado, é importante pesquisar
suas raízes, para compreender sua natureza e função. Assim o método
histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do
passado para verificar sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições
alcançaram sua forma actual por meio de alterações de suas partes
componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular
de cada época (Marconi & Lakatos, 2011). Foi-nos útil, na busca de todas
informações do passado ligadas ao nosso tema para podermos dar melhor
aprofundamento e fácil compreensão naquilo que for necessário.

Método Comparativo: considerando que o estudo das semelhanças e


diferenças entre diversos tipos de grupo, sociedades ou povos, contribui para
uma melhor compreensão do comportamento humano, este método realiza
comparações com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências.
O método em causa é usado tanto para comparações de grupos no presente,
no passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de
desenvolvimento, (Marconi & Lakatos,2011). Este método facilitou fazer
comparações de ponto de vista de organização e funcionamento das
autoridades tradicionais e suas estratégias na promoção da cultura.

9
Método de Pesquisa Bibliográfica: este método permite utilizar o material já
publicado, constituído principalmente de livros e aquele disponível na internet.
(Silva & Menezes, 2005).

Foi através deste meio pelo qual fizemos uma discussão teórica entre vários
autores em torno da temática.

Método de Levantamento: este método permite fazer perguntas directas à


pessoas cujo comportamento se deseja conhecer (Silva & Menezes, 2005).

Através deste método, elaboramos o guião de entrevistas aplicado às pessoas


idóneas na matéria do tema.

Técnicas

Na investigação, usamos as entrevistas e questionários aplicados aos


estudantes do 2º ano de ensino de Historia.

Estrutura do trabalho

O presente trabalho, além de vir a comportar uma introdução, na sua parte


inicial, assim como as conclusões e recomendações na sua parte final, terá a
seguinte estrutura:

Capítulo I- O Contexto Geográfico E Sócio-Cultural de Chicomba, onde se


pretende abordar, situação geográfica, económica, sociocultural e da
população da Comuna.

Capítulo II- As Autoridades Tradicionais Na Comuna Do Quê E Seus Desafios


No Resgate Da Cultura. O panorama sobre a cultura angolana e outros
elementos necessariamente atinentes.

Capitulo III- Apresentação, análise e tratamento de dados preliminares da


investigação.

10
CAPITÚTLO I- O CONTEXTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-
CULTURAL DE CHICOMBA
CAPITÚTLO I- O CONTEXTO GEOGRÁFICO E SÓCIO-
CULTURAL DE CHICOMBA

1.1- Localização Geográfica e Limites

O Município de Chicomba está situado a Nordeste da Província da Huíla e


confina ao Norte com o Município de Caconda, a Sul com o Município da
Matala, a Sudoeste com o Município da Cacula, a Este com o Município de
Chipindo e ao Município da Jamba e a Noroeste com o Município de
Caluquembe. Compreende quatro (4) comunas de acordo com a divisão que se
pretende adoptar para uma boa gestão politico-administrativa e em
conformidade com os indicativos do Instituto Nacional de Estatística, sendo as
de Chicomba, Kutenda, Quê e Libongue.3 Salientar que o Município foi criado a
luz da portaria Provincial nº 236 de 8 de Dezembro de 1916 como posto de
Chicomba pertencendo no Concelho de Caconda.4

1.1.1- O Clima

A palavra clima origina do grego, que significa ″inclinação″ e refere-se ao raio


solar que atinge as diversas latitudes durante o ano. A quantidade de radiação
que atinge a superfície define as faixas climáticas e a consequente distribuição
dos seres vivos em cada um destes ambientes. (Mattos, 1994; p.137).

Quando falamos de clima, estamos nos referindo a um conjunto de dados


(temperatura, pressão, humidade) a respeito das condições atmosféricas de
um determinado local, durante um período cronológico específico. O tipo de
clima depende de uma série de factores, como a latitude, altitude, relevo e
radiação solar. Até mesmo a presença do ser humano pode alterar o clima
(Cruz, Borba & Abreu, 2010; p.4).

Tal como foi referenciado pelos autores acima, na verdade o desenho climático
de uma determinada localidade vai alterando na medida em que o tempo vai
passando, dando lugar à um novo tipo de clima que certamente nada abona

3
- Perfil Municipal de Chicomba (2016:3)
4
- Perfil Municipal de Chicomba (2016:2)

12
nas condições de habitabilidade dos seres vivos, ou vai obriga-los para novos
paradigmas de vida.

As mudanças nos níveis de energia, que vem ocorrendo em função da poluição


atmosférica, altera o clima de uma região e, como observamos, trazem sérias
perturbações ao meio ambiente. As alterações climáticas modificam as regiões
térmicas e hídricas habituais de uma região, provocando seca ou inundações
trazendo desertificação ao meio, interferindo nos ecossistemas (Mattos, 1994;
p.137).

Estamos de acordo com Mattos, quando fala sobre as mudanças climatéricas.


É um facto, as constantes poluições que se assistem no dia-a-dia, têm causado
uma elevação da temperatura e consequentemente a alteração do clima e a
ameaça de algumas espécies.

Clima é a sequência mais habitual dos diferentes estados de tempo ao longo


dos anos (usualmente 30 anos). (Chova & Sabino, 2008;p.140)

As mudanças climáticas são uma verdade incontestável, visto que, no nosso


quotidiano tem-se notado tal facto que pode ter causas humanas ou naturais e
que têm causado vários constrangimentos na vida animal e vegetal.

Chicomba localiza-se na região intertropical, apresentando duas estações


climáticas, daí a razão de a comuna de Quê apresentar um clima tropical com
chuvas irregulares.

No Município de Chicomba o clima é geralmente tropical, tendo


particularidades de sub-húmido e húmido, oscilando nas temperaturas
extremas que vão de 35º celsius aos 5º celsius. Contudo, existem duas
estações bem diferenciadas: a seca, que vai de Junho até meados de Outubro,
com algumas chuvas fracas em Setembro e a estação de chuva que inicia na
segunda quinzena de Outubro até Maio.5

O Perfil Municipal de Chicomba faz um enquadramento do clima do Município


em causa e como se sabe Angola é um país que está localizado na região
intertropical, com duas estações climáticas, sendo tropical húmido a Norte e
5
-Perfil Municipal de Chicomba (2016:3)

13
tropical seco no Sul. Daí que o clima de Chicomba é tropical seco com
temperaturas extremas muito altas no verão e muito frio no inverno.

1.2- Cultura e Religião

1.2.1- Cultura

[...] Seria impossível abarcar e por debaixo de um único denominador comum


as enormes diferenças que marcam a África Negra. Podemos falar das
legítimas diferenças linguísticas, históricas, geográficas, sociais e políticas,
sem portanto, esquecer a evolução acelerada de cada povo em nossos dias.
(Laagel, 2016; p.52)

Apesar dessas múltiplas diferenças e divisões, reconhece-se unanimemente


uma unidade fundamental da cultura africana, onde a ontologia e a religião se
identificam, ou ao menos são inseparáveis. Assim, por exemplo, fala-se da
“africanidade ou civilização africana” como um conjunto original de valores, de
concepções, de maneiras de ser e de agir, nascido da larga experiência que
múltiplas gerações tiveram sobre a mesma realidade da vida no continente.
(Ibidem; p.52)

Existem muitas definições para a palavra cultura. De um modo geral, fala-se de


cultura como um conhecimento a ser adquirido, ou como o conhecimento
adquirido. Assim, diz-se que uma pessoa é “culta” quando é muito bem
formada, e informada, tem muitos conhecimentos. Um indivíduo nessas
condições segundo o senso comum, é uma pessoa que “tem” cultura. (Oliveira
apud, Branco, Gonçalo e Chiwana, 2007; p.137)

Para as ciências sociais, o conceito de cultura tem um grande significado


diferente: é o conjunto de crenças, regras, manifestações artísticas, técnicas,
tradições, ensinamentos e costumes produzidos e transmitidos no interior de
uma sociedade. (Ibidem; p.137)

O conjunto de acções que realizamos no dia-dia, respeitando os princípios,


normas, ritos, assim como os mitos e tabus de uma determinada sociedade,
consideramos como cultura.

14
O Município de Chicomba, apresenta um mosaico cultural consolidado,
sobretudo, no efiko6 para uma parte do grupo etnolinguístico do Ovanyaneka
que residem na parte sul do Município, ekwendje7, dança, pitapondje8,
indumentárias e outros rituais.

Vale realçar aqui que a iniciação feminina entre os Ovanyaneka, no caso o


vulgar ritual de efiko era realizado numa casa construída pelo mais velho da
aldeia denominada por Ombelo,9 pois que as raparigas eram ou são
submetidas à certos rituais de acordo com os padrões da comunidade recebem
a educação sobre as tarefas principais do lar, no entanto durante este período
frequentam vários desafios para se chegar ao fim do ritual. Essa tarefa é da
responsabilidade da esposa do responsável do Ombelo, denominada “Tembo
Imbo”.

Quando chegam ao local a ser realizado o acto são deitadas no chão, cobertas
com mantas pelas tias que as encaminham para o Ombelo. Estas colocam-nas
missangas a volta do pescoço. Depois de cobertas, já não podem mostrar o
rosto. Dentro do Ombelo ficam sentadas na esteira com a […]. Hina yomona
(são sempre raparigas mais novas) rodeadas por algumas tias, pedindo para
deixar de chorar começar a cantar. (Cruz & António, 2009; p.23)

Antigamente, o Efiko durava meses ou mesmo um ano. Durante o tempo que


permaneciam no acampamento, as raparigas untavam-se de areia todos os
dias, simbolizando o fim da meninice. No penúltimo, untam-se com pó branco
em combinação com várias cores, fazendo desenhos no seu corpo. […] No
último dia, à tarde, a "mufiko" vai ao rio para tomar banho, significando a
transição de uma fase para outra. […] De madrugada os rapazes queimam a
cubata construída por elas e suas amigas. Por outro lado, as pessoas mais
velhas passam a noite no odjango cantando e dançando. (Almeida &
Nkhulwavo, 2014; p.39)

6
-Ritual de iniciação feminina
7
-Ritual de iniciação masculina
8
-Ritual de apresentação a comunidade de um recém-nascido
9
- Lugar onde são colocadas as raparigas durante o processo de ritual de efiko.

15
Para o Ekuendje10,na sua forma original, os meninos que tinham a idade para
serem circuncidados, eram levados para sítios distantes das suas localidades
onde permaneciam durante um tempo não inferior a três meses, sub o controlo
dos ovihengue11.

Há muitos anos, para se fazer o Ekuendje, era necessária uma preparação


prévia. A primeira noite da iniciação era passada no ombelo. No dia seguinte os
rapazes eram transferidos para o ekombo12, no meio da mata, lugar pouco
acessível para os demais membros da comunidade e aí eram circuncidados. A
idade para a iniciação não era tida em conta, sendo bastante abrangente: da
criança de alguns meses ao adulto de 20 anos. A razão é muito simples: a
circuncisão não era realizada todos anos; os intervalos entre uma cerimónia a
outra podiam variar entre 10 a 15 anos. Não existiam muitos segredos, pois
aos rapazes podia dizer-se que ia à circuncisão. (Almeida & Nkhulwavo, 2014;
p.36)

Em verdade, constitui um processo que consolida a cultura, dando mais


respeito e admiração. Hoje, para este ritual é planificado de forma individual
através dos Postos de Saúde ou Hospitais, por formas a garantir melhor
higiene no tratamento face às doenças recentemente proliferadas.

1.2.2- Religião

A história da religião é tão antiga como a história do próprio homem. É isto o


que nos dizem os arqueólogos e os antropólogos. Mesmo entre as civilizações
mais “primitivas”, querendo-se com isso dizer as civilizações não
desenvolvidas, há evidências de algum tipo de adoração. De facto, diz-se que
“até onde os peritos conseguiram descobrir, jamais existiu um povo em
qualquer parte, em qualquer tempo que não fosse de algum modo religioso”.
(Nova Enciclopédia Britânica, 2015).

10
- Ritual de iniciação masculino.
11
- São pessoas idóneas normalmente familiares encarregues no cuidado e ensinamento dos rituais do
Ekuenje.
12
- Acampamento onde os rapazes iniciandos recebem instruções para a vida social.

16
A religião normalmente atribui-se a origem da palavra ao latim, religião, Onis
(cultos prestados aos deuses, religião), possivelmente ao verbo re-ligo, ligar,
ligar por trás, re-ligar, mas também soltar, desligar (libertação). No domínio da
transcendência, religião significa então “voltar a ligar”, o homem a Deus, depois
de uma queda de um pecado original: essa seria a função da religião. Porém,
há outras opiniões sobre o étimo da palavra segundo as quais a religião seria
meditação, o reconhecimento, apontando-se deste modo mais para uma
atitude de religiosidade de escolher de novo. (Mesquitapud; Branco, Gonçalo,
Chinanga, 2005; p.163)

O fenómeno religioso é provavelmente antigo quanto à humanidade, mas a


filosofia da religião só apareceu como disciplina no século XIII como reflexão
sobre este fenómeno religioso. A filosofia da religião é então a tentativa de
compreensão do lugar que o homem ocupa no mundo, o de destino e a
existência de Deus (já amplamente estudado na teologia) como a tentativa de
compressão do lugar que o homem ocupa no mundo em face de Deus, da ideia
do pecado, de misericórdia e da justiça. Antes de se constituir como disciplina a
religião e a filosofia estiveram, ao longo dos tempos integradas. Nas filosofias
orientais essa proximidade existe como existia na filosofia antiga e em certa
medida na medieval. (Ibidem; p.163)

A palavra religião vem precisamente do verbo “religare” e “religari”, que


significa ligar e sentir-se ligado. É o conjunto dos mitos (relatos, textos
sagrados) e dos ritos (orações, acções, sacrifícios) com que o homem exprime
e realiza as suas relações com Deus. A religião é a expressão espontânea,
natural da condição de finitude e criaturalidade do homem. Desenvolvendo a
própria cultura, cada povo cria para si também uma religião (que na maioria
dos casos, historicamente, assume um carácter animista, politeísta, mitológico,
mágico). (Ndafimana, Almeida,Nkhulwavo, 2014; p.18)

Tal como sabemos, o homem tem forças dentro de si que o forçam a assumir e
a seguir certas ideias religiosas e éticas, embora ele não as compreenda bem,
levando-o a pôr em acção essas imposições. A ser assim, religião é uma
atitude de reverente dependência a esse poder na conduta da vida e

17
manifesta-se por meio de actos especiais, como ritos, orações, actos de
misericórdia e entre outros.

Neste município existem sete denominações religiosas cristãs: Igreja Católica


Romana, Igreja Evangélica Sinodal de Angola (IESA), Igreja Adventista do 7º
Dia, Igreja Baptista, Igreja fraternidade de Angola (Bom Deus), Igreja
Evangélica Congregacional em Angola (IECA), Igreja do Nosso Senhor Jesus
Cristo no Mundo (Tocoistas).13

Entretanto, salienta-se que a religiosidade no Município de Chicomba, para


além do Cristianismo, nota-se a manifestação de "Animismo", pelo que em
momentos sobretudo difíceis à título de exemplo a seca, o povo pratica alguns
rituais através dos seus líderes clamando para que os antepassados
intercedam por eles a respeito do seu pedido. Todo este processo
normalmente é realizado no Akokoto14 e em outros lugares sagrados.

1.3- O Atavio (Indumentária Especifica) dos Ovanyaneka

A população do Município de Chicomba pertence a três grupos etnolinguísticos


que são: Ovimbundu do subgrupo Vacaconda em grande escala na zona Norte,
Este e Oeste, Nhaneka-Humbi a Sul, mais concretamente nas localidades de
Luvando (Quê), Nondumbo, Lusseque e Cherequela e os Cokwe, a leste na
localidade de Tchitapwa e nesta mesma localidade, encontramos uma variante
dos povos Nyemba.15

A cobertura corporal humana teve início já na Pré-História. O Antigo


Testamento da Bíblia Sagrada conta que o homem inicialmente cobriu-se com
folhas vegetais e posteriormente de peles de animais. A movimentação para
isso, segundo a bíblia, foi o carácter de pudor, embora existam diversas outras
interpretações que apontam para o carácter de adorno, magia e também de
protecção. (Silva, 2009; p.3)

13
- Perfil Municipal de Chicomba (2016:3)
14
- Lugar considerado sagrado, onde repousam os restos mortais dos anteriores soberanos.
15
- Perfil Municipal de Chicomba (2016:3)

18
Então, foram abertos os olhos de ambos e conheceram que estavam nus e
cozeram folhas de figueiras e fizeram para si a ventagem. (Géneses,3:7)

Em relação ao adorno, o homem buscou destacar-se e impor-se aos demais


com a exibição de dentes e garras de animais ferozes. Tais adornos
mostravam a bravura de quem os utilizava e além disso, a pele era usada para
cobrir o corpo com tangas e a carne animal aproveitada para alimentação.
(Silva, 2009; p.3)

Os homens das classes mais altas usavam traje típico em forma de uma túnica
de mangas curtas, só que mais longo, chegando até os pés. Quase todos
usavam cintos enfeitados e de acordo com o status de cada pessoa, os trajes
também eram ornamentados e bordados de forma mais ou menos elaborada.
Embora algumas vezes a posição social fosse indicada pela quantidade de
enfeites na veste de corpo inteiro, era mais claramente revelada pelo uso da
estola. Outro símbolo de poder era a barba e o cabelo. Os reis costumavam
usar uma barba postiça, que era cuidadosamente penteada e por fim untar os
cabelos com óleo para evitar o ressecamento e repelir piolhos. (Silva, 2009;
p.6)

Em quase todas as sociedades existem classes altas, médias e baixas e


muitas vezes esse status, sobretudo nas sociedades ditas tradicionais são
identificadas por intermédio do traje que para além da identidade cultural exibe
também o seu poderio económico.

No Grupo etnolinguístico Ovanyaneka de Chicomba, no que diz respeito ao


traje, as mulheres usavam pindali16ou falanela17que servia também como cinto
designado de Uvía we ponda18, na classe baixa servia também para amarrar as
crianças nas costas e nas noites serviria como cobertor, e Tyimoni19, aplicavam
um tipo de trança designado de ankhoka para as mulheres da classe baixa e as
bastardas usavam o mesmo tipo, mas com um designa que se chama de
lulame20.
16
- Tipo de pano
17
- Igualmente tipo de pano
18
- Cinto
19
- Um tipo de roupa que servia para o agasalho
20
- Tipo de linha que as mulheres bastardas ornamentava na cabeça

19
Os homens actaviavam pano numa forma de tchiondo21 e uvía we ponda,
calçavam o oluhaku22os homens da classe alta e os pobres descalços.

No que diz respeito ao vestuário dos sobas, no passado quando fossem para
uma festa vestiam brelém (pano branco), mas actualmente vestem-se de panos
pretos.23

21
- A forma ou feito do actavio do pano pelos homens
22
- Tipo de calçados
23
-Mandela (88 anos, Soba da Ombala), Chicomba, Sexta-Feira, Novembro de 2023 às 09 horas e 20
minutos

20
CAPÍTULO II: AS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA COMUNA
DO QUÊ E SEUS DESAFIOS NO RESGATE DA CULTURA
CAPÍTULO II: AS AUTORIDADES TRADICIONAIS NA COMUNA
DO QUÊ E SEUS DESAFIOS NO RESGATE DA CULTURA

2.1- Valores Culturais

O termo Cultura é de difícil definição. O modo de observar e analisar o


comportamento dos indivíduos tem-se modificado ao longo dos tempos e as
diferentes perspetivas da sua abordagem complicam uma conceituação. Por
cultura, entendemos, muitas vezes, aquilo que nos faz partilhar determinadas
componentes, tais como: a língua, a religião, os hábitos de vida e as
convenções. Mas, de modo geral, podemos dizer que possuímos cultura e é
ela que nos diferencia dos animais, (Eusébio, 2016; p.13).

A cultura é feita no âmbito de usos e costumes, baseando-se nos padrões


culturais da comunidade. E isso passa por um trabalho aturado dos adultos à
novas gerações, o que hodiernamente não se observa, pelo contrário assiste-
se que o tecido cultural foi destorcido, podemos entre outros factores enumerar
a violência doméstica, tendo ressaltado: os individuais, excesso de bebidas
alcoólicas, desempregam, distúrbio de personalidade, instabilidade conjugal.

Angola viveu uma guerra civil violenta por cerca de 30 anos em todas as suas
dimensões, com elevadas perdas materiais e, principalmente, danos físicos e
psíquicos, nas populações rurais como aquelas que viviam em zonas urbanas.
A guerra é um acontecimento atroz e onde quer que ela se instale haverá,
certamente, o rasto da destruição social, da desintegração familiar, da
traumatização sistemática das pessoas, na perda ou mudanças de valores
morais e cívicos, quer por perdas de bens e meios de sobrevivência, como pela
morte de familiares directos e conhecidos. Para ganhar uma guerra, entende-
se que é preciso destruir o máximo possível de objectivos inimigos, sem
distinção entre objectivos militares e objectivos civis (Carvalho, 2002).

Alinhando-se ao pensamento anterior, certamente a guerra é um dos


acontecimentos que causou traumas aos angolanos, vitimando muitas pessoas
e deixando muitas crianças órfãs, viúvas e viúvos, ou seja as famílias tornaram
bastante destruturadas e dispersas. No período que se segue ao fim da guerra,

22
impõe-se a aferição das suas consequências, a fim de serem criadas
condições de estabilidade e normalização da vida das populações expostas à
violência. Por outro lado a situação de guerra com todas as suas
consequências materiais e humanas, tem sido objecto de estudo científico,
tendo-se considerado a guerra um stressor passível de desencadear sequelas
clínicas e interpessoais graves.

A crise de valores se expressa na confusão entre o bem e o mal, o certo e o


errado, o justo e injusto. Em outras palavras, é a confusão entre valor e contra-
valor. Os valores são produtos culturais, sujeitos às variações do tempo e do
espaço. Sempre que uma determinada cultura decide eleger alguma atitude
(porque o campo da ética é o campo das atitudes) como valor, estabelece-se o
contra-ponto com a atitude oposta. Assim, à atitude positiva de respeito à vida,
por exemplo, contrapõem-se a morte e a violência. Quanto mais clara fica a
oposição entre os dois pontos, mais força tem o valor ético estabelecido. Onde
reside, então, a confusão de valores? Parece-nos que ela nasce da
aproximação dos pólos antagônicos: em nosso tempo, por exemplo, vida e
morte convivem numa quase perfeita harmonia. (Oliveira, 2005).

Contudo pode-se concluir que estes factores e outros contribuíram muito no


comportamento actual das pessoas, dando lugar a perca da base cultural
angolana, sendo o seu resgate está a ser um trabalho redobrado para não
colocar em risco as próximas gerações.

2.2- O Papel da Família na Conservação da Cultura

A cultura é um legado colectivo de um povo que se perpetua de geração em


geração na história, e que constitui o património comum, a alma dum povo
unido por objectivos comuns. A cultura molda os hábitos e costumes e faz
reviver os antepassados no presente das novas gerações, pois é com ela que
se forma a mentalidade, se tecem as ideias e se obedecem aos valores que a
sociedade conserva. Sem cultura não existe um povo (Zezano, 2017:74)

Na verdade pode-se entender que a família deve voltar ao seu real papel
através do processo de socialização através da interação com os demais
membros da família. Daí que a família deve, logo nos primeiros anos de vida do

23
indivíduo, transmitir valores que venham possibilitar a inserção do indivíduo na
sociedade, tal como diz a Bíblia em provérbio 22:6 (educa o menino no
caminho em que ele deve andar e quando envelhecer não se desviará dele).

As sociedades produzem as suas próprias identidades na base de uma matriz


de os hábitos e costumes, fazendo ressurgir os predecessores nas novas
gerações, formando mentalidades e produzindo ideias nos jovens com vista a
obedecerem e a perpetuarem os valores culturais que a sociedade preserva.

Se é na família onde as pessoas nascem, crescem biologicamente e


moralmente, Oliveira, (2009; p.3), realça que na realidade, a família é o
primeiro refúgio em que o indivíduo ameaçado se protege durante os períodos
de enfraquecimento do Estado. Mas assim que as instituições políticas lhe
oferecem garantias suficientes, ele se esquiva da opressão da família e os
laços de sangue se afrouxam. A história da linhagem é uma sucessão de
contrações e distensões, cujo ritmo sofre as modificações da ordem política.

A socialização primária consiste na primeira espécie de socialização que o


indivíduo experimenta, e por ser a primeira, traz consigo grande importância.
Essa etapa da vida do indivíduo é o primeiro procedimento de incorporação de
valores que possibilitam a inserção do indivíduo em sociedade (Silva, Almeida,
Lourenço & da Silva, 2015:3).

Portanto, as autoridades tradicionais devem juntar esforços para apelar as


famílias, começando pelo ressurgir os otchoto, como lugar de transmissão de
valores culturais constituindo como unidade basilar da sociedade, simples facto
de compreender que é o conjunto das famílias que fazem as sociedade ou
comunidades, o seu comportamento mau ou bom tem as suas percussões
sociais.

De acordo com Fraga (2013), citado por (Silva, et al, 2015:3) a primeira parte
deste processo é dada já nos primeiros anos de vida, no qual se integram as
regras básicas de convívio necessárias à vida social. Nesta fase, o principal
agente de socialização é a família.

24
Sabemos que o primeiro contacto de aprendizagem da criança é na família
(com os pais ou tutores), onde através da língua assim como de outros hábitos
e costumes de uma determinada família e do seu meio de vivência, a criança
aprende. Por isso é que hoje a boa educação da sociedade está a fracassar
porque muitos pais estão ausentes, relegando a sua responsabilidade aos
trabalhadores domésticos ou à escola.

A família sofreu consideráveis modificações ao longo da história, regulando as


interações sociais e cunhando preceitos morais e éticos, fomentando leis e
normas. No entanto, o conceito de família, independente de suas variações, é
basicamente o mesmo desde os primórdios da humanidade, (Fukunda,
2013:13).

O grupo, através da coesão, arca com a responsabilidade de transferir os


conhecimentos acumulados pela humanidade de geração em geração, criando
condições para que exista uma cooperação entre os membros, o que torna,
teoricamente, a vida em sociedade possível. Portanto, as funções básicas da
família podem ser desempenhadas de várias maneiras, dentro dos mais
diversos sistemas culturais, moldando as personalidades individuais (Fukunda,
2013:15).

Quando a função dos pais ou encarregado de educação, for bem exercida, é


óbvio que se deixará um bom legado para as gerações vindouras, aliás, é
necessário que as novas gerações adaptem os modelos modernamente
padronizados para perspectivar um futuro melhor.

2.3- A Cultura Angolana E Suas Implicações

Angola é dos muitos países africanos organizados antes da chegada dos


portugueses, do ponto de vista político, nesta perspectiva fazia com que a
cultura fosse mais solida possível, embora muitas vezes baseada em mitos e
tabus.

A cultura bantu representa a marca específica das populações da África negra


e tem grande influência na vida comunitária em Angola, em particular no meio
rural. No geral, essa cultura caracteriza-se por: a) regime de patriarcado e

25
gerontocracia, baseado no poder dos anciãos, sendo estes uma fonte
normativa da comunidade; b) papel secundário da mulher nas sociedades
patriarcais, cuja influência se reduz ao contexto doméstico, como esposa, mãe
e educadora, (Sílva, 2011; p.4).

Parafraseando Sílva, os jovens eram educados à luz dos rituais, sobretudo


aqueles que refletissem a passagem de diferentes etapas da vida, como por
exemplo de criança para Juventude e para adulto. Em cada fase adquirida
fazia-lhe gozar dos seus direitos, como se pode notar na realização de
iniciação feminina ou masculina, realização de várias tarefas domésticas, a fim
de ter noções básicas sobre a submissão da mulher dentro dos limites legais
pela cultura, o que de certa maneira dá prestígio a família dela. A mulher terá a
sua importância sobretudo quando ela atinge a idade de fertilidade para
procriar, pois que os filhos entre os africanos em particular em Angola, são de
tamanho prestígio social.

De acordo com Silva (2011; p.3), disse que no meio rural, a função social da
mulher liga-se ao casamento, à maternidade, ao lar e à educação dos filhos.
Valoriza-se a sua função de educadora expressa no provérbio que afirma que
“para educar um homem, eduque-se a criança, para educar uma aldeia,
eduque-se a mulher”.

Assimilação dos trabalhos domésticos na mulher e das tarefas inerentes ao


homem, era um aprendizado inadiável, onde a mulher deve realizar trabalhos
na agricultura, ser consciente e responsabilidade como mãe, esposa e mais.
Os homens, aprendem as táticas para caçar, cultivar, cuidar dos animais que
ajudam na lavoura, bem como para outros fins.

Contrariamente ao que acontece no meio urbano onde a mulher encontra


condições para a sua afirmação e emancipação social, no contexto rural
assiste-se à sua subalternização. No meio rural, a condição de mulher adulta é
conquistada mediante os ritos iniciáticos. Nestes, ela prepara-se para assumir
o papel de esposa e mãe, de gestora do lar e da vida familiar, (Sílva, 2009;
p.7).

26
Disse bem Sílva, as crianças eram educadas para adoptar os procedimentos
dos pais, para o efeito o otyoto, jogava um papel muito preponderante sendo
um lugar que servia como refeitório e sobretudo de recepção de visitas e de
educação dos filhos. As tarefas de casa eram distribuídas de acordo com a
idade e género, o cumprimento das normas locais eram de carácter obrigatório,
para as crianças, muita das vezes as réplicas faziam-se em público.

Em Angola, antes da colonização abraçava-se várias culturas, baseadas em


crenças, mitos, lendas, cerimónias ritualísticas especificas como de Ekuendje,
okongo, tchitamba, onomaquela, ovingandji (palhaços), tudo era feito com
frequentemente antes da colonização24.

Concordando com nosso entrevistado, vale dizer que durante e depois a


colonização as realizações ritualísticas anteriores, entraram em desuso e
outros despareceram devido o processo de aculturação, mas ainda assim,
algumas continuam vivas até hoje, precisando apenas de ser preservadas e
incentivar aos fazedores por forma a continuar a divulgar.

Todo que é valores precisa de ser resgatado, porém as diferentes franjas


sociais como escola, igreja, o Estado e principalmente a família, devem envidar
esforços para repor a nossa original identidade, Teixeira (2015; p.36), afirma
que em Angola, tal como em África em geral, o conhecimento era
tradicionalmente transmitido às novas gerações através dos ritos de iniciação e
das diferentes formas de educação tradicional. Esta emissão foi alterada pela
colonização que, com as políticas assimilacionistas, tratou de impor o modo de
vida europeu aos africanos.

Como foi dito acima, que o povo angolano foi imposto a cultura europeia, mas
do que a assimilação de valores estrangeiros caso dos portugueses, procede-
se a guerra civil que de uma ou outra forma, causou nas pessoas uma
mentalidade de espírito agressivo, muitas pessoas ficaram órfãs que bem ainda
podiam apreender dos seus progenitores ou mais velhos, o encontro de muitas
culturas de diferentes povos, isto criou outros princípios versados à
delinquência, a imoralidade e outros males que afligem a sociedade.

24
- Zacarias (68 anos, reformado da Administração Municipal), Chicomba, Novembro de 2023.

27
Os valores perdidos face a colonização, pode-se destacar essencialmente, o
respeito pela vida, respeito entre os membros da família, na sociedade e
outros25.

Segundo Sílva, (2009; p.8), a colonização conduziu à descaracterização da


cultura tradicional e a independência de muitos países africanos, incluindo
Angola, baseada em ideologias marxistas, acabou por exercer pressão no
sentido de a sociedade abraçar a modernidade, o que implicou um combate à
tradição. Deste modo, inicialmente, muitas práticas tradicionais foram quase
eliminadas. As políticas culturais dos novos governos independentes pouco
valorizavam o tradicional.

As línguas nacionais, o respeito, a obediência, humildade, a lealdade,


responsabilidade e tantos outros valores que eram transmitidos no ondjango e
nos ritos de iniciação nomeadamente o efiko, e ekwendje eram verdadeiras
escolas de valores morais e cívicos26.

Parece haver alguma preocupação da parte das autoridades tradicionais em


resgatar os valores perdidos em Angola, desde a educação baseada em
procedimentos tradicionais, o desrespeito pelos mais velhos, entre outros, que
certamente as instituições vocacionadas para educação, caso da escola, deve
conjugar esforços de ver estes valores recuperados27.

Ainda ressaltamos, o factor globalização que tem desencadeado acções de


aculturação, o que faz com que o otyoto, nas sociedades rurais os chefes de
família quase que perderam o controlo para manterem as crianças neste lugar
de grande relevância social, que qualquer processo que promove ao resgate
dos valores culturais, será necessário reatar os otyoto. Os que precisam ser
resgatados com maior urgência, são precisamente o uso das línguas nacionais
e ser ensinadas nas escolas, coesão nos lares, a forma de se vestir, o tipo da
nossa alimentação, e os rituais de casamentos e alambamentos28.

25
- Em conversa com o senhor Matias Cassamba, professor de História, Novembro de 2023
26
- Em conversa com o senhor Matias Cassamba, professor de História, Novembro de 2023
27
- Zacarias (68 anos, reformado da Administração Municipal), Chicomba, Novembro de 2023.

28
- Em conversa com a senhora Francisca Nondjamba Neto, de 65 anos de idade, Reformada
pela área de Repartição dos Assuntos Sociais, Novembro de 2023, pelas 15 horas e 12
minutos

28
Entre o Ovanyaneka do município de Chicomba e outros povos de outras
latitudes, entende-se como um problema conjuntural, daí que é importante
sabermos as causas que estão na base da desvalorização cultural para
consequentemente atacá-las com a finalidade de se implementar actividades
que visam fomentá-la.

Em pleno século XXI, quase toda a sociedade considera que existe uma crise
de valores, ou pelo menos a falência dos tradicionais. Mas desde sempre esta
consciência de crise de valores existiu, numa perspetiva geográfica mais
restrita e sem as dimensões de generalização como sucede hoje (Monteiro,
s/ano:5).

A desvalorização dos valores culturais sobretudo a partir do século XXI, apesar


de que para o Monteiro, esta perda é bastante remota e com dimensões de
generalização menor comparativamente aos dias de hoje, os valores
tradicionais são os que mais têm sofrido influências da globalização.

Muitos fazedores de opinião defendem a ideia de que não há degradação de


valores culturais o que acontece é que a globalização, tornou a sociedade mais
aberta, uma vez que em democracia não existe valores pessoais ou supra
pessoais, cada pessoa escolhe os seus valores. Paradoxalmente a isso, a
verdade é que a cada dia que passa parece-nos que há uma degradação cada
vez pior dos valores culturais entre os citadinos do município de Chicomba,
corroborando com aqueles autores que defendem a ideia de que a crise não é
apenas de valores mais também de referências estáveis e sólidas.

2.4- Resenha Histórica Sobre o Surgimento da Comuna do


Quê

A comuna do Quê tem como seus limites geográficos, a norte com a comuna
Sede de Chicomba, a Sul Comuna do Chitato, município de Cacula, a Oeste
com a comuna da Negola e Este com a comuna do Cutenda, antes era
conhecida de Luvando, o primeiro caçador que vinha do Luceque. Após a

29
instalação dos portugueses a comuna passou para designação de Quê e foi
levada a categoria de comuna em 1886.29

2.5- Principais Ritos Comunitários Realizados na Comuna do


Quê

Os principais ritos realizados nas comunidades são: Tchiwangawanga, Efiko,


Ovindjomba, Ekwendje e Ónhenã30.

De acordo com Santos (2017, p. 14) citando Guilouski e Costa (2012), Rituais
são cerimônias constituídas de gestos simbólicos repetitivos e intencionais que
podem ou não ter conotação religiosa, sendo assim, estão presentes em todas
as culturas. Ritos são gestos simbólicos repetitivos que expressam uma crença
religiosa, um desejo, uma intenção, uma saudação entre outras finalidades.
Logo, os rituais são compostos por ritos e fazem parte do universo simbólico na
organização das sociedades humanas, bem como na sua expressão cultural.

Dentre várias expressões culturais vale dizer que entre os Ovanyaneka, são
tantos ritos começando pelo, nascimento, passagem de diferentes etapas da
vida social, politica, religiosa e bem como na morte. A par de outros povos, os
Nyaneka, realizam com regularidade os seus ritos e tendem a promove-los
para coesão do povo.

Portanto, entre os Nyaneka, os rituais são de tamanha importância baseados


nos usos e costumes tradicionais do povo, as culturas tradicionais dispõem de
uma simbólica e riqueza extraordinária e de uma gama de ritos como iniciação,
a adivinhação, os ritos de passagem (Nascimento, puberdade e morte) e
servem para garantir a ordem, restaurar a harmonia das forças que regem o
mundo. (Gomes e Ndala, 2008; p.18)

Os rituais expressam os usos e costumes, a sua relevância consiste na


interpretação dos mesmos. É com eles que se vai fazendo a história de cada
comunidade, face as suas inspirações, tendências, dificuldades e victórias.

29
- Em conversa com o senhor Luciano Matende Ngunga, a administrador comunal do Quê, Novembro
de 2023.
30
-Em conversa com o senhor Luciano Matende Ngunga, a administrador comunal do Quê, Novembro
de 2023.

30
Ao longo da vida humana, o homem vai passando diferentes etapas da sua
vida, mais acompanhadas com ritos que dão o seu significado, a luz deste
pensamento Fátima (1997; p.34), clarifica que os ritos antecipam
obrigatoriamente o acesso a qualquer estado social graduado, como por
exemplo as sociedades secretas ou fechadas. Assim, toda a iniciação
pressupõe uma transformação que implica o surgimento de um novo homem,
como novo nome e uma nova personalidade, o que pressupõe a exigência de
comportamentos novos que irão integrar o iniciado de maneira definitiva na
sociedade dos adultos e separá-los dos não iniciados.

Sempre que fazer uma abordagem exaustiva sobre os traços culturais, realça-
se as acções ritualísticas entre os Nyaneka os seguintes:

2.5.1- Nascimento

Segundo, Machado e Maurício, (2009; p.22), o nascimento é o primeiro passo


que inicia a pessoa na série de ritos de passagem que marcam e condicionam
a sua existência. Entretanto há rituais que se realizam antes do nascimento da
pessoa. (…) Há casos em que a mulher grávida abstém-se de toda relação
sexual desde o começo da gravidez: noutros casos só no cesto ou no sétimo
mês. A gravidez inicia o momento, «rito de passagem», no qual uma pessoa
entra no mundo e na comunidade. Mas a mulher grávida não altera a sua vida.

Mergulhando no pensamento acima, e fazendo contexto no povo em referência


(os ovanyaneka de Chicomba) o nascimento é o primeiro ritual na vida da
pessoa, seguido de pita-pondje31 é a partir do nascimento, nesta fase um
cuidado especial deve ser dado a parturiente, pelo facto de que, durante o
serviço de parto tenha passando pelas algumas transformações físicas.

2.5.2- Rituais de Iniciação

As realizações ritualísticas, acontecem entre os Ovanyaneka, acontecem tanto


para os rapazes, no caso o Ekwendje bem como para as raparigas designada
de Efiko. Aliás cada grupo etnolinguístico sobretudo de sul de Angola realizam,
diferenciando apenas nas modalidades e procedimentos. Santos (2017, p. 14),
faz-nos entender da melhor forma quando, realçando que a iniciação da
31
- Apresentação do bebé à comunidade

31
puberdade é um dos costumes mais importantes tradicionais de Angola é
conhecido como rito da puberdade. Neste ritual os meninos e as meninas
quando chegam a idade apropriada são iniciados na fase adulta em que ambos
são preparados para os seus respectivos papéis sociais.

2.5.2.1- O Ekwendje

Fátima, (1997; p.35), diz que essa cerimónia é o ponto de partida da inclusão
de cada indivíduo do sexo masculino nos grupos de idade. É a partir dos ritos
de iniciação que as fraternidades de idade assumem toda a sua importância.

Realçando o pensamento acima, a realização de iniciação masculina entre os


ovanyaneka, é de caracter obrigatório e acontecem sempre que o reautorizar
sazonalmente, grupo constituído pelas crianças com idade compreendida dos
10 anos até mais ou menos 15 anos.

No acampamento, os rapazes são cuidados e ensinados nas diversas tarefas,


para poderem enfrentar as grandes obrigatoriedades do futuro. Neste local os
adultos cabem-lhes a responsabilidades de preparar os alimentos, bem como
outras tarefas ligadas ao tratamento e ensinamentos dos cânticos e danças.
Tal como diz Fátima, (1997; p.36), existe três pessoas importantes e
responsáveis pelos ovingolongolo32: Ongwe33, Cangola34 e tchipundo35.

No entanto, passar por este processo ritualístico confere aos iniciados um


estatuto socialmente prestigioso entre as comunidades dos Nyaneka, ficando
libados de qualquer descriminação social e posteriormente preparados para
casamento.

2.5.2.2- O Efiko

A realização ritualística feminina (Efiko) entre os Nyaneka, tem um caracter


obrigatório, é um ritual de iniciação feminina onde as meninas aprendem vários
valores e são preparadas para serem donas de casa36.
32
-os circuncidados
33
-o operador
34
-o responsável pela educação e comportamento dos circundados e que ensina as canções e danças
que deverão ser exibidas na cerimónia da saída dos mesmos
35
-uma senhora de idade avançada, na fase de menopausa, que cuida das crianças, velando pela sua
saúde e pela sua alimentação
36
- Em conversa com o soba, da Ombala do Quê, Novembro de 2023

32
Vale salientar que sempre que se realiza este ritual, sacrifica-se um boi ou mais
a depender das condições dos pais, anteriormente foi responsabilidade dos tio
ofertar o boi, mas actualmente ainda observa-se pais a fazerem este papel.

No entanto, nas regras comunitárias dos Ovanyaneka, toda rapariga antes de


casar-se deve passar por educação ou iniciação, pois este ritual, para além de
dignificar a candidata ao casamento, durante este ritual as mais-velhas através
da metodologia adequada inculca suporte basilar sobre gerência do lar.

2.5.3- Alambamento

Segundo Chipembo, et al, (s.d), avizinhando-se a altura do casamento, os pais


do rapaz mandam um portador, o mesmo que levou o testemunho da
aceitação, aos pais da moça para saberem qual é a quantia e a qualidade do
alambamento. Após serem determinados, os pais do rapaz juntam esse valor e
fazem-no chegar através do mesmo portador.

Tal como ficou claro acima, nesta perspectiva, a quantidade e a qualidade vária
muito face a beleza que a moça ostenta. Em geral tem um caracter simbólico, o
moço com apoio dos pais e da família, junta o exigido pela família da noiva,
sendo que isso representará uma forma de gratidão que o rapaz exprime aos
pais da moça, pelo sustento e pela boa educação.

Entre os Nyaneka, o alambamento (Okuchaeka), é um dos procedimentos que


antecede o casamento, onde os familiares do noivo (pais e tios) em resposta
de um pedido da família da noiva criam condições simbólicas como: bebidas
típicas, algumas peças de roupas para o pai e a mãe da noiva, acompanhadas
de algumas peças de panos e cabaças de omacau. Realçar que se a rapariga
não for virgem não se pode encher as cabaças de omacau e alguns panos
furam-se ao meio37.

Ao falar de alambamento tradicional, não se deve esquecer que o parceiro (a) a


escolher deve ser do agrado da família. Quer dizer que não havendo consenso,
por parte dos familiares em relação ao parceiro (a), o alambamento não se
realiza, pois, a família, que, neste caso, devia fazer o pedido, se recusa a
cumprir tal missão. (Bahu, 2013:112).
37
- Tyikunde, Matala, Quarta-feira, 04 de Novembro de 2023 às 7 horas e 45 minutos

33
2.5.4- Casamento

A realização do casamento, reflecte o sentido de continuidade geracional, pelo


que união amorosa de dois indivíduos de sexos opostos, sendo que a intenção
essencial consiste no impulso sexual. Porém, cada povo de acordo com a sua
cultura realiza de forma diferente os casamentos, bem como também existe
diferentes tipos de casamentos, a ter em conta o tipo de cultura de cada
sociedade ou comunidade. Outrossim, alguns são regidos no regime da lei
positiva e outros pela lei consuetudinário.

De acordo com Chavalier (1999) citado por Santos (2017, p. 11) o casamento
simboliza a origem da vida humana (…) é uma cerimônia reconhecida com alto
grau de importância dentro da sociedade. No entanto os elementos simbólicos
presentes no ritual refletem os comportamentos e valores de diferentes grupos
étnicos em que para muitos deles o casamento é tido como algo sagrado.

“ Quem educa uma mulher, educa um povo”

Provérbio africano possui autor desconhecido, mas a partir do qual se revê o contexto
do papel social da mulher africana.

Este provérbio sentencia a centralidade da família através do casamento, sobretudo a


formação da mulher para esse momento tão importante de modo geral, o casamento
na cultura africana provavelmente é uma das instituições sociais mais antigas por isso
o ritual se reveste de grande prestígio constituindo tanto para o homem quanto para a
mulher um rito de passagem, (Santos, 2017, p. 24).

2.5.5-O Envolvimento Das Autoridades Tradicionais No


Processo De Resgate Dos Valores Culturais

Para continuidade, preservação e divulgação dos valores, há muitas formas


que a comunidade expressa-se para ilustrar as formas de transmissão e
resgate dos valores, a fim de enriquecer, consolidar e reavivar a cultura de
qualquer povo.

Rodrigues e Sousa, (S.d; p. 4), apontam que a primeira forma de educação se


dá pelo processo inicial de socialização, pois desde que o individuo nasce, é
submetido a um rigoroso sistema de aprendizagem que só termina com a
morte. Esse processo acontece de forma não sistematizado ou mesmo

34
inconsciente e de forma espontânea. Esse tipo de educação é empírica, casual
e exercido a partir das vivências e com base no bom senso e na sobrevivência
da espécie. Acontece pela apreensão de aprendizagem e comportamentos
exteriores, que em seguida é interiorizado pelo indivíduo, se tornando um
comportamento apreendido e novamente repassado a outros membros do
grupo. Essa é a educação informal, que, por não ser organizada e
sistematizada com a finalidade de ensinar, muito embora em muitas situações
se tenha a intenção de ensinar um comportamento, mas o mesmo não é feito
de forma sistematizado, usando instrumentos que facilitem a aprendizagem.

Quer dizer que, para se poder inculcar valores às novas gerações, é


necessário que as velhas gerações "transbordem" ensinamentos às novas
gerações, devendo estas crescer num ambiente saudável, para que
futuramente consigam preservar e divulgar os valores. Neste diapasão, os
lugares para o efeito para os povos Sul de Angola, normalmente entre os
Ovanyaneka é no Otchoto.

De outro modo, pode-se realçar que em diferentes circunstâncias da vida, a


criança depara-se com os valores decorrentes nas comunidades. Porém, os
meios de comunicação social e sobretudo as redes sociais, têm a missão de
dispor e promover valores socialmente aceites. Mas, contrariamente a isso,
algumas vezes, os valores proporcionados não são de bom senso.

A transmissão de valores morais e cívicos, é feita através das igrejas, palestras


promovidas pelo estado e essencialmente pela família a partir do Otchoto38.

Assis e Lima, (2011, p. 8) dizem que o ambiente familiar é o ponto primário da


relação directa com seus membros, onde a criança cresce, actua, desenvolve e
expõe seus sentimentos, experimenta as primeiras recompensas e punições, a
primeira imagem de si mesma e seus primeiros modelos de comportamentos –
que vão se inscrevendo no interior dela e configurando seu mundo interior. Isto
contribui para a formação de uma “base de personalidade”, além de funcionar
como factor determinante no desenvolvimento da consciência, sujeita a
influências subsequentes.
38
- Em conversa com o senhor Luciano Matende Ngunga, a administrador comunal do Quê, Novembro
de 2023.

35
É através dos otcho que as famílias vão transmitindo conhecimentos
valorativos, para influenciar o homem na construção de uma sociedade sã.
Todo o conhecimento derivado de diferentes fontes desde que não fira os
padrões culturais básicos pode ser incentivado.

A criança só pode conhecer o dever através de seus pais e mestres. É preciso


que estes sejam para ela a encarnação e a personificação do dever. Isto é, que
a autoridade moral seja a qualidade fundamental do educador. A autoridade
não é violenta, ela consiste em certa ascendência moral. Liberdade e
autoridade não são termos excludentes, eles se implicam. A liberdade é filha da
autoridade bem compreendida. Pois, ser livre não consiste em fazer aquilo que
se tem vontade, e sim é ser dono de si próprio, em saber agir segundo a razão
e cumprir com o dever. E justamente, a autoridade de mestre deve ser
empregue em dotar a criança desse domínio sobre si mesma, (Durkheim,
1973, p. 47).

Neste caso, entende-se que Durkheim (1973) apela que na adopção dos
modelos de valores, ou seja, na transmissão sobre valores é necessário que a
criança esteja educada na liberdade. Quer com isto dizer que, é necessário que
antes que as crianças estejam em contacto com valores, devem perceber a
essência de cada valor para que, naturalmente, vivam e consigam transformar
os outros.

Continuando com a visão do autor acima, as crianças bem-educadas e


respeitadas pela sociedade em que estão inseridas, passa pelos encontros no
otchoto onde os mais velhos vão transmitindo o essencial. Por outro, as
crianças precisam de um espaço de lazer onde possam falar de si, de suas
experiências, seus anseios, dificuldades, temores, alegrias, enfim, uma troca
mútua de sentimentos.

Em todas as comunidades ou sociedades, a família, tem um destaque muito


especial, Guebe, (s.d, p.16), explica que pela via familiar, a criança não adquire
todos os padrões culturais da sociedade, mas sim aqueles com os quais pode
ter acesso, de acordo com as exigências do grupo de pertença. O empenho

36
que o grupo de pertença pode exercer sobre a criança não esvazia o papel da
sociedade. Eis a razão de a família se constituir num subsistema.

Os valores são a expressão de princípios gerais, a bússola principal da


vivência individual e colectiva. Em todas as culturas, os objectivos são
determinados pela representação desejável ou colectivamente aceite. Fátima,
(1997, p. 67), entende que todos os valores devem ser divulgados a partir dos
resultados das investigações regionais que deverão ser ministrados nas
escolas. É através da instrução da escola que se pode consolidar a
personalidade cultural dos jovens, evitando assim, a sua aculturação. As
deslocações das populações que se verificam constantemente de regiões
nativas para outras, devido a guerras que assolaram os pais, os jovens
adquiriram e assimilaram novos valores culturais.

Segundo Gomes e Ndala, (2008, p. 9), a educação dos valores constitui um


fenómeno que se manifesta de diversas maneiras, como uma praga social, em
níveis sociais completamente diferentes. Não se limita a determinada época da
vida, nem a uma única esfera da vida. Manifesta-se tanto de forma espontânea
como de forma institucionalizada e organizada. A partir deste conceito,
qualquer análise sobre a educação deve partir necessariamente do estudo e
caracterização da sociedade em que ela se desenvolve, dos seus problemas e
contradições essenciais que constituem o fundamento de todo sistema social
de educação.

A escola deve ter a responsabilidade de garantir a continuação da educação,


alicerçada pela família, adequando aos conteúdos a serem seleccionados e
lecionados, para aquisição de habilidades e capacidades concretas.

Essa educação deve estar em conformidade com os princípios basilares de


cada cultura. Virães, (2013, p. 31), salienta que tradição é seguir as normas
sociais do seu país; respeitar as tradições da sua sociedade. Este valor, assim
como o valor obediência, representa a pré-condição de disciplina no grupo ou
na sociedade como um todo para satisfazer as necessidades. O presente
sugere respeito aos padrões morais seculares e contribui para aumentar a

37
harmonia na sociedade. Os indivíduos precisam respeitar símbolos e padrões
culturais.

Percebendo que a escola é o lugar de resgate de vários valores, ou seja, um


olhar para a convivência multicultural, é necessário que primeiros os assuntos
sejam abordados pelos grupos ou associações comunitárias, tal como
fundamenta, Assis e Lima, (2011, p. 4), a educação cívica é fundamental, não
como uma antecâmara para a vida em sociedade, mas constituindo os
primeiros degraus de uma caminhada que a família e a comunidade se
enquadram. Deve proporcionar a «cultura do outro» como «necessidade de
compreensão de singularidades e diferenças», a responsabilidade pessoal e
comunitária, o conhecimento rigoroso e metódico da vida e das coisas e a
compreensão de culturas, de nações, do mundo.

Angola importou e consumiu muitas ideologias alheias ao seu povo. O que lhe
foi sempre cara é a tendência a imitação de tudo, o que desintegrou
consideravelmente a consciência frágil e volúvel da actual geração que perdeu
paradigmas e modelos educacionais. Isso não admira, porque a colonização e
a guerra civil fizeram questão de criar uma mentalidade agressiva e violenta
(Zezano, 2017:79).

Somos a favor de buscar exemplos de uma cultura de outras latitudes, desde


que não invalidem a essência da nossa cultura, por isso, devemos sempre
recorrer aos modelos de outrem desde que sirvam de uma peneira a nossa e
como limpeza tal qual se assiste em muitos casos, sobretudo, nos jovens da
sociedade actual.

De acordo com o Jornal de Angola, publicado no dia 05 de Dezembro de 2018,


o país está num processo de reconstrução nacional, e essa reconstrução não
se confina somente às infra-esruturas, tem haver também com a reconstrução
do povo e a Igreja sendo a única instituição humana com dimensão divina, a
sua missão deve ser a de encaminhar para Deus os homens e mulheres. Ela
acredita que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontra
no Senhor e Mestre Jesus Cristo morto e ressuscitado para a salvação de
todos.

38
Estamos de acordo com a afirmação do Jornal de Angola, pois que, mais do
que somente a reconstrução do País, também é necessário afinar e acelerar a
"reconstrução" do homem com valores cívicos, morais e éticos para que possa
adequar-se à sociedade.

Fala-se do resgate dos valores morais, mas a ignorância está a favorecer a


proliferação de seitas que ensinam o Deus da prosperidade. Eles formam “
Kamikazes”, fundamentalistas e não religiosos. Vede que Jesus nunca
prometeu bem-estar aos seus seguidores, pelo contrário, sempre os advertiu
do mal que padeceriam (Zezano, 2017:80).

Falamos e escutamos sempre sobre o resgate dos valores. Mas no concreto,


as vezes, não sabemos que valores a resgatar. Em Angola, temos vários
contravalores, que são: corrupção, maternidade e paternidade irresponsável,
crenças na feitiçaria como um valor cultural, proliferação religiosa e seitas com
práticas contrárias ao evangelho de Cristo (permissão da poligamia, acusação
a menores e aos idosos de feitiçaria), o desrespeito do bem público, a falta de
respeito aos mais velhos, estes por exemplo, são uma referência imediata para
o resgate dos valores (Segunda, 2016:4).

É imperioso se não mesmo imperativo o resgate dos valores cívicos, morais e


éticos para o bem-estar da sociedade bem como a formação do homem
enquando ser social, pois que, os valores culturais nos diferenciam de outros
povos.

A Igreja tem consciência da sua missão evangelística e irá sempre contribuir,


sobremaneira, para o resgate dos valores que dignificam a pessoa humana.
Ela sabe perfeitamente que é preciso o apoio e o contributo de todos para
obtermos famílias unidas num único amor que brota de Deus (Silva, 2018).

É necessário que haja envolvimento de todos para o resgate dos valores, pois
que, a Igreja sozinha não será capaz de o fazer. Só assim, teremos famílias
unidas e homens com valores que a sociedade precisa.

Quem ficar atento nas informações diárias, notará uma certa nostalgia marxista
no seio da sociedade angolana, pois, a sociedade ressente as consequências

39
dessa doutrina que por muito tempo vigorou em Angola. Saindo a rua, ou
assistindo a televisão que só sabe entreter, notar-se-á essa nostalgia na
política e até mesmo no modo de pensar de muitos (Zezano, 2017:81).

Somos de opinião que se faça uma grelha televisiva mais aturada, que se
adapta na missão de buscar os princípios morais, cívicos e éticos no passado
(daqueles que constituem como um bom legado). Talvez assim diversifiquemos
a incumbência de inculcar às novas gerações, com vista a incentivar, preservar
e eternizar uma sociedade privilegiada de uma cultura sã.

Se as pessoas desde o ensino primário, em disciplinas como Educação Moral e


Cívica e Língua Portuguesa, lhes forem dadas ferramentas essenciais de como
aplicar e interpretar uma obra artística, desde o texto, drama e a finalidade da
novela, com maior rigor, saberão, aproveitar esta importante forma de veicular
valores e comportamentos (Segunda, 2016:2).

Não admira o esforço quase que geral de se reanimar as línguas nacionais.


Este desiderato pode não alcançar o sucesso que se pretende, mas a intensão
é plausível, pós, só com este esforço é que se poderá revisitar a nossa história
comum e resgatar os valores culturais que se vão abalando no evento da
globalização que estrutura e uniformiza o mundo a partir de uma única cultura
tida como padrão (Zezano, 2017:75).

Concordando com autor acima, romper as grandes vicissitudes que se impõem


no alcance da cultura deve ser a preocupação não só de órgãos afins, mais de
qualquer cidadão que quer ver o seu país a crescer

Quando se trata de família, é importante que […] façamos a nossa declaração


de missão, visão e valores. Estes não precisam ser complicados, mas devem
dar direcção à família (Mfune, s/ano:31).

Entendemos que é a família que está encarregue de "cimentar" a educação


básica dos seus filhos, alias, se ajudarmos a educar uma criança, não teremos
que concertar um adulto no futuro. Ainda Mfune faz lembrar o livro de
Provérbios 22:6 que diz "Educa a criança no caminho em que deve andar; e
até quando envelhecer não se desviará dele".

40
A salvaguarda da cultura passa pela valorização da nossa língua e pelo
conhecimento e aceitação da nossa história, com seus êxitos, fracassos,
virtudes e vícios para orientá-lo no caminho que leve as novas gerações a
melhores estádios da humanidade (Zezano, 2017:75).

Mergulhando na ideia do Zezano, as nossas línguas em, muita das vezes, não
são ensinadas no seio familiar, tudo porque encontramos famílias com "cultura
hibrida", isso faz com que os pais comuniquem-se apenas em língua
portuguesa, onde os filhos acabam aprendendo e mais talvez alguma língua
estranha no caso o calão. Pode haver iniciativa nas escolas, mas se a
aprendizagem não for desenvolvida em casa criará apenas desnorteamento.

A não salvaguarda da cultura condicionou a perda de identidade, e olhando


para o nosso contexto, há pouco a notar sobre a nossa cultura. Porquê? Tudo
porque a base sobre a qual assentava a cultura angolana ruiu. O entrosamento
cultural, a sua homologação, foi um fracasso, onde a nossa cultura se perdeu
devido o ínfimo peso que tem no sistema das relações internacionais (Zezano,
2017:75).

Actualmente os jovens e adolescentes passam mais tempo vendo a TV, pelo


que os lugares tradicionais de educação foram aniquilados. Quando aparece
uma recomendação a resposta é imediata: “… isso foi no vosso tempo, as
coisas mudaram”. Este desenraizamento com o passado promoveu o
desmembramento antropológico, o que levou à crise do humanismo que
desembocou na crise da moral, afectando a confiança nas instituições e
promovendo um certo relativismo e permissivismo; isso originou uma certa
mescla de visões que facilitou a pobreza cultural que se verifica na actual
juventude angolana (Zezano, 2017:76).

Na verdade não tem faltado paciência e o papel dos pais, face as reacções
menos boas dos jovens, cria-se dificuldades neste processo caindo por terra
infértil o pouco que se pretende inculcar.

Segundo a Angop na sua edição do dia 27 de Outubro de 2016, publicado as


18 horas e 25 minutos, citando Victor, vice-presidente da UIESA, “é
efectivamente notório que as novelas no nosso país sobretudo as brasileiras,

41
têm estado a ter uma influência muito negativa no comportamento do angolano
desde a forma menos boa de como a juventude se veste, bem como no agir.
Isto é preocupante”.

Concordamos com Victor quando faz referência às novelas como sendo algo
que tem desencaminhado os jovens, daí que é necessário que os angolanos
em particular os jovens sejam educados a ter um sentido crítico muito apurado
de modo a aproveitar o que de melhor se transmite nas novelas, para a
formação adequada da personalidade.

A apreensão intuitiva do valor, do agradável, do vital, do belo, do bem é


correlativa a própria pessoa humana. No entanto, a independência que ela
manifesta, em relação às circunstâncias concretas da sua expressão, não
transforma os valores em dimensões formais. Os valores seriam objectos
formais se os captasse por raciocínio ou por indução, ou se deles não tivesse
nenhuma intuição (Laagel, 2016:79).

A cultura depende da tradição que é essencialmente oral. Mas hoje quando se


fala de tradição não se pensa em outra coisa se não no feitiço. A tradição,
porém, é a herança de códigos de conduta de valores existenciais que os
nossos maiores deixaram e que temos a obrigação moral de transmiti-la na
íntegra às novas gerações. Sem a tradição, a cultura murcha e acaba (Zezano,
2017:78).

Assistimos muita gente que ao ouvir falar de tradição, entendem-na como se


fosse uma acção estranha e somente para os mais velhos. Mas para nós a
tradição é o processo pelo qual se efectua de forma original os padrões
culturais que sempre constituíram a coesão dos antepassados e sua tangível
identificação social.

Há que recuperar, contudo, o valor perene da Filosofia e da Religião como


disciplina de civilização e humanização; promover espaços de debate
interdisciplinares sobre o valor da vida humana; massificar conferências de
formação sobre direitos humanos, a religião, a vida e o seu valor (Zezano,
2017:82).

42
É urgente que se promovam acções objectivas e concretas, na missão de
implantação dos valores morais, cívicos e éticos, deixando de gritar «resgate
de valores». É preciso realizar colóquios com os líderes religiosos, que através
do ministério da cultura e outros órgãos afins como educação, sejam
promovidos encontros seríssimos com as autoridades, com os responsáveis
das instituições escolares, a fim de traçar um programa que visa facilitar e
educar os valores nesta sociedade bastante complexa.

A juventude Angolana é fruto de uma cultura onde o mal e a falta de respeito


para com as autoridades eram vistos como normais. […] O comportamento que
hoje se verifica na sociedade, remonta a um passado recente onde se acredita
que Deus não existe, onde se pensa que a religião é um meio de ofuscar os
valores terrenos e de beneficiar a ilusão de uma vida utópica no além (Zezano,
2017:79).

A partir do momento em que os portugueses penetraram no nosso país, a


nossa tradição passou a ser ultrapassada, porque fomos forçados a viver de
acordo com os desejos do colonizador. Hoje, temos que acreditar que estamos
numa era em que os jovens actuais, acham que os valores do passado não
têm valor para hoje.39

39
- Em conversa com o senhor Matias Cassamba, professor de História, Novembro de 2023.

43
CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E TRATAMENTO
DE DADOS PRELIMINARES DA INVESTIGAÇÃO
CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E TRATAMENTO
DE DADOS PRELIMINARES DA INVESTIGAÇÃO
Neste capítulo, são apresentados, analisados e discutidos os dados obtidos
através de um inquérito por questionário aplicado aos Estudantes do 2º Ano de
Ensino de História do ISCED-Huíla, nos cursos Regular e Pós-Laboral do ano
Lectivo 2023/2024.

3.1- População e Amostra

3.1.1-Caracterização da População

A População é denominada também de universo da pesquisa, é formada por


todos elementos – pessoas, animais ou objectos – que compõem o todo a ser
pesquisado (Leite, 2008:192-193).

Amostra é qualquer parte de uma população da pesquisa que será realmente


investigada (Leite, 2008:121).

Amostra aleatória ou probabilística é aquela que recorrendo ao acaso, permite


que cada um dos elementos do universo tenha probabilidade igual de integrar a
amostra (Pardal e Lopes, 2011: 56).

Tendo em conta o objectivo da nossa investigação, para que o mesmo fosse


alcançado, trabalhamos com uma população constituída por estudantes do 2º
Ano de Ensino de História do ISCED-Huíla, nos cursos Regular e Pós-Laboral
do ano Lectivo 2023/2024,

3.1.2- Caracterização da Amostra

Caracterizando a amostra constituída aos estudantes do 2º Ano de Ensino de


História do ISCED-Huíla, nos cursos Regular e Pós-Laboral do ano Lectivo
2023/2024.

45
Gráfi co nº 1- Distribuição dos Estudantes
por idade
Diurno Pós-Laboral

26
20

20
10
6
4

3
18 à 25 25 à 30 30 à 50 To t al

No gráfico acima, pode-se constatar que a maioria dos alunos inqueridos, são
Diurno, numa amostra de 46 estudantes, sendo que 24 estão no intervalo dos
18 aos 25 anos de idade

GRÁFICO Nº2- DISTRIBUIÇÃO DOS


ALUNOS POR GÉNERO
Diurno Pós-Laboral
100

100
62.75

58.9

41.01
37.25

Masc . Fem . To t al

No gráfico acima, pode-se constatar que a maioria dos estudantes são do


gênero masculino que correspondem a 62,75%, bem como os do Pós-Laboral
a maioria dos inquiridos são do gênero masculino correspondente a 58,9%.

46
3.2- Apresentação e Análise de Dados Resultantes da
Aplicação do Inquérito

Expostos os dados acima, segue-se o momento da análise e discussão dos


resultados adquiridos através do instrumento de pesquisa. Contudo, é
importante destacar que esta actividade foi realizada num quadro problemático,
produzindo para tal, as considerações críticas acerca dos resultados acima
expostos.

Segue-se a apresentação dos dados recolhidos através de um questionário


aplicado aos estudantes do 2º Ano de Ensino de História do ISCED-Huíla, nos
cursos Regular e Pós-Laboral do ano Lectivo 2023/2024.

1 – Achas que o papel das Autoridades Tradicionais contribui para


preservação da cultura na Comuna do Quê?

Gráfi co nº 3- o papel das Autoridades


Tradicionais contribuem para preservação
da cultura
Diurno Pós-Laboral
10000%

100
93%

7%
1

Sim Não To t al

No gráfico nº 3, procuramos saber dos estudantes do 2º Ano na Opção de


Ensino de História sobre: o papel das Autoridades Tradicionais contribui para
preservação da cultura na Comuna do Quê. Nota-se que dos 20 alunos
inqueridos, a maioria correspondente a 93% afirma que sim. O mesmo afirma
os 26 estudantes do Período Pós-laboral inqueridos, correspondendo a 100%.

47
2- Como avalia o nível de actuação das Autoridades Tradicionais.
Contribuem para preservação da cultura na Comuna do Quê?

Gráfico nº 4- o nível de actuação das Autoridades Tradicionais contribuem


para preservação da cultura
120

100

100
100
80

51.28
45.09
60

30.77
29.4
40
13.73

11.76

10.26
7.69

20
0
Muito Bom Bom Razoável Mau Total

Diurno/% Pós-Laboral Classe /%

No gráfico nº 4, perguntamos aos estudantes da Opção de História, sobre o


nível de actuação das Autoridades Tradicionais contribuem para preservação
da cultura Constata-se que a maioria dos estudantes do período Diurno,
correspondentes a 45,09% dos inquiridos, assinala na ordem razoável. O
mesmo afirma a maioria dos alunos do Pós-Laboral que corresponde a
51,28%.

3 - Indique o meio onde tem registado e aprendido sobre os valores


morais, cívicos e éticos?

Gráfico nº 5 - Indique o meio onde tem registado e


apreendidos a preservação da cultura?
120
100
100

100

80

60
33.33

33.33
28.21

29.4

40
21.57
25.6

15.67
12.8

20
0
0

0
0

0
M. Familiar Na Igreja Entre Amigos M. C. Sosial Na Escola Na rua Total

Diurno Pós-Laboral

No gráfico acima, questionamos os estudantes do 2º Ano, na opção de


História, sobre o meio onde têm aprendido a respeitar a Conservação da

48
cultura. Verificamos, com base nos dados recolhidos que, dos 46 estudantes
do período Diurno inquiridos, a maioria correspondente a 33,33% diz que é no
meio familiar, enquanto para os estudantes do Pós-Laboral inqueridos a
maioria afirma que é na escola.

Achamos que os dados apresentados na tabela 5, são preocupantes se


tivermos em conta as percentagens na tabela em referência. Julgamos que é o
momento de estes conhecimentos serem adquiridos na escola, onde o
conhecimento é sistemático.

4- Achas que a Igreja, o Governo e alguns parceiros sociais têm realizado


acçôes que visam a preservação da cultura?

G r á fi c o n º 6 - Ac h a s q u e a I g r e j a , o G o v e r n o e a lg u n s
p a r c e ir o s s o c ia is t ê m r e a liz a d o a c ç ô e s q u e v is a m a
p r e s e r v a ç ã o d a c u lt u r a

Diurno Pós-Laboral

100

100
58.97
54.9
41.03
45.1

Si m Não To t al

No gráfico nº 6 perguntamos aos estudantes se a igreja, o Governo e alguns


parceiros sociais têm realizado acçôes que visam na preservação da cultura.
Com base os dados do gráfico, pode-se aferir que a igreja, o Governo e alguns
parceiros sociais não têm conjugado os esforços neste âmbito, pois que 54,9%
dos inquiridos no período Diurno dizem que não têm notado este esforço e
58,97% dos inquiridos do Pós-Laboral entendem que têm dando alguns
passos, porém ainda precisa-se mais. Os estudantes estão menos informados
sobre a temática, apesar de que o constatado nas entrevistas com algumas
figuras religiosas alega que tem havido um grande esforço das igrejas, do
Governo e de alguns parceiros sociais no que tange a preservação da cultura.

49
5- O intercâmbio entre a Família, Igreja e as Autoridades Tradicionais
contribui na preservação da cultura?

g ráfi c o n º 7 - i n t e rcâm b i o e n t re a F am í l i a, I g re j a e as
A u t o ri d ad e s Trad i c i o n ai s co n t ri b u e m n a p re s e rv aç ão d a
c u l t u ra

Diurno Pós-Laboral

100

100
61.5
43.59
31.37
28.21

28.21
21.57

Sim Não Tal v ez To t al

No gráfico acima, estão expostos dados que fazem referência ao intercâmbio


entre a igreja e a família no que tange a preservação da cultura. Dos 46
estudantes inqueridos, a maioria correspondente a 61,5% apresentam uma
incerteza em relação ao assunto, ao passo que para os estudantes do Pós-
Laboral dos inquiridos dizem não ter havido intercâmbio entre a igreja e a
família no processo de preservação da cultura.

Nota-se que os estudantes não têm notado um forte intercâmbio entre a igreja
e a família no que diz respeito a preservação da cultura. Porém, as
informações que nos foram passadas pelos nossos entrevistados, apontam
para a existência deste intercâmbio.

50
6 - Fazer parte de um elenco das Autoridades Tradicionais é suficiente
para que um individuo paute por uma conduta socialmente aceitável?

g r á fi c o n º 8 - Fa z e r p a r t e d e u m e le n c o d a s Au t o r id a d e s
T r a d ic io n a is é s u fi c ie n t e p a r a q u e u m in d iv id u o p a u t e p o r
u ma c o n d u t a s o c ia lme n t e a c e it á v e l?

Diurno Pós-Laboral

100

100
62.7

53.8

46.2
37.3

Sim Não To t al

No gráfico nº 8, indagamos os estudantes do 2º Ano na Opção de História, se


Fazer parte de um elenco das Autoridades Tradicionais é suficiente para que
um individuo paute por uma conduta socialmente aceitável. Dos 46 estudantes
do período Diurno, 62,7% dos inquiridos afirmaram que sim, o mesmo disse os
estudantes do Pós-Laboral que correspondem a 53,8%.

Da análise dos dados apresentados no gráfico acima, pode-se concluir que tem
havido pouca frequência na abordagem do assunto, porque para eles, fazer
parte do elenco não é factor preponderante neste processo.

7- Há necessidade das Autoridades Tradicionais reforçar a sua actuação


na divulgação da Cultura local?

gr áfi co n º 9 - Há n e ce ssid ad e d as A u t o r id ad e s Tr ad icio n ais


r e fo r çar a su a act u ação n a d ivu lgação d a C u lt u r a lo cal?

Diurno Pós-Laboral
100

100
80.4

76.9

23.1
19.6

Sim Não To t al

51
No gráfico nº 9, inquerimos os estudantes do 2º Ano na Opção de História se
Há necessidade das Autoridades Tradicionais reforçar a sua actuação na
divulgação da Cultura boa. Dos 46 estudantes do 2º Ano Opção de História,
80,4% afirmam que sim, e 76,9% do período Pós-laboral inqueridos também
afirmam o mesmo.

6- De que maneira poderia actuar?

g r á fi c o n º 1 0 - d e q u e m a n e i r a p o d e r i a a c t u a r

Diurno Pós-Laboral

100

100
80

55
40
15

No gráfico nº 10, perguntamos aos estudantes do 2º Ano na Opção de História


a maior parte quer Diurno como Pós-Laboral acham que é através da Conversa
no jango com os jovens e crianças.

52
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Conclusão
Depois de feita a nossa pesquisa e analisados os dados recolhidos, chegamos
as seguintes conclusões:
As autoridades tradicionais devem conjugar esforço com outras forças vivas,
para se poder definir acçoes objectivas e concretas, no processo de resgate
dos valores culturais. Este processo será bastante espinhoso pelo nível de
desvalorização dos valores, sendo que o ponto de partida será em reavivar os
lugares imponentes comunitários designados de otchoto, para que a família
possa valer a sua acção neste processo e que de certo modo se registe
reflexos nas outras forças vivas afins.
A escola, precisa de sincronizar as acçoes de multiculturalismo, mas dentro
dos padrões definidos pelos órgãos reguladores no ministério da educação em
conjugação com regulamento Interno da Escola. Os professores que lecionam
disciplinas afins, devem promover teatros e palestras para despertar atenção
aos alunos da relevância que deve merecer o resgate dos valores culturais.
O estado através do Ministério da cultura e da Educação, devem continuar a
incentivar e premiar aqueles que se destacam aos fazedores da cultura, por
forma a dar privilégio na divulgação e preservação dos valores culturais.
O testemunho deve ser geracional, ressuscitando as instituições vocacionadas
para o efeito caso jangos comunitários, e promoção de festas indispensáveis
para exibição de algumas canções educativas e danças tradicionais, é a
maneira que se acredita pragmatizar-se para o projecto de "resgate dos valores
″. É necessário que as autoridades tradicionais e outras pessoas de opinião
pública nas comunidades rurais, desenvolvam acções filantrópicas que visam
promover eventos de caracter cultural, mormente os músicos e suas respetivas
danças, os artistas plásticos e o incentivo atinentes a realização de vários
rituais.
Por ser uma temática complexa, ainda deixou-se algumas janelas, e linhas a
serem seguidas em uma investigação, por isso, a nossa pesquisa não encerra
este assunto, pois que o nosso interesse foi o de enriquecer os conhecimentos
já existentes e sistematiza-los, bem como contribuir para que as próximas
buscas com temas semelhantes, possam partir desta.

54
Sugestões
Atendendo a dinâmica do sistema educativo nas diferentes esferas da
sociedade, sugerimos que:

 A realização ritualísticas entre os ovanyaneka, deve ser incentivada, para


permitir a melhor exploração dos padrões culturais, para que possa se reavivar
os valores culturais;

 As pessoas idóneas e conservadoras em matéria da cultura dos


Ovanyaneka, devem ser bem identificadas e apeladas em traçar os melhores
meandros que facilitem na busca dos valores esquecidos;

 Que a escola seja um lugar que possa conhecer, colher, acomodar e


selecionar os melhor usos e costumes, fazendo sempre parte dos seus
eventos, para despertar atenção à comunidade escolar

 Que se possa generalizar o Ensino das línguas de Angola, nas escolas em


todos os níveis do Sistema de Ensino.

55
BIBLIOGRAFIA
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60
ANEXOS
Anexos de Imagens

Fg 1-Administração Comunal do Quê, Novembro de 2023. Fotografia tirada


pelo autor.

Fg.2- Em conversa com o Senhor Zacarias, Novembro de 2023.Fotografia


pela Alice.

62
Fg.3- Em conversa com o Senhor Luciano Ngunga, administrador da
comuna do Quê, / Chicomba Novembro de 2023.Fotografia pelo Joaquim.

Fg.4- Em conversa com o Senhor Matias Cassamba, Novembro de 2023.


Fotografia pela Wimbo.
Fg.5- Em conversa com o soba do Embala do Quê, Novembro de
2023.Fotografia pelo Joaquim.

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