As Novas Manifestações Na Cultura Cabo-Verdiana Interferência Estrangeira
As Novas Manifestações Na Cultura Cabo-Verdiana Interferência Estrangeira
As Novas Manifestações Na Cultura Cabo-Verdiana Interferência Estrangeira
ISE, 2006
Ana Maria Amarante Lopes
2
O Júri:
_____________________________________________
_____________________________________________
______________________________________________
3
«A cultura para ser fecunda e rica em humanismo deve estar aberta ao
diálogo de culturas. De outro modo reduz-se ao ostracismo»
Manuel Veiga
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família pelo apoio prestado ao longo de todos
esses anos:
Aos meus pais Daniel Lopes e Rita Amarante;
Aos meus irmãos Analito, Manuel, Paulo, Cláudio, Fernanda, Isabel,
Jonas, Elias e Maria;
À minha Filha Dailene Amarante;
Ao meu marido Pedro Segredo.
Aos meus sobrinhos Dorise, Cristie, Danisio, Davidsom, Rodrigo, Nicole e
Daniel.
5
AGRADECIMENTOS
À Dr. Antonieta Lopes empréstimo das bibliografias, e pela forma amável que se
disponibilizou para ler o trabalho.
A Autora
6
ÍNDICE
INTRODUÇÃO...................................................................................... 9
1. Origem……………...…………………………………………... 20
CONCLUSÃO …………………………………………………… 59
BIBLIOGRAFIA ………………………………………………… 62
ANEXOS…………………………………………………………. 65
8
INTRODUÇÃO
9
Da mesma forma, essa escolha relaciona-se com a pertinência do assunto em questão,
podendo assim dar uma contribuição favorável em prol da nossa cultura.
O objectivo da escolha deste trabalho é investigar até que ponto a cultura cabo-verdiana
tem recebido influências de outras culturas a ponto de originar novas manifestações. Pretende-
se ainda verificar o impacto dessas manifestações no desenvolvimento e enriquecimento da
cultura cabo-verdiana bem como as repercussões negativas advindas das mesmas.
Atendendo à nossa origem e aos estreitos contactos que temos com o estrangeiro, pois
somos um país com fracos recursos económicos, sempre sentiremos a necessidade enquanto
país de diáspora e forte dependência económica do exterior, sentiremos sempre a necessidade
de ligações com o estrangeiro, e neste sentido é natural que nos sintamos interessados em
fazer um estudo sobre a dinâmica da nossa sociedade face ao que vem do exterior e que seja
novidade.
No segundo capítulo, faremos uma abordagem sobre a cultura cabo-verdiana desde a sua
origem, como também um resumo de alguns elementos que fazem parte da nossa identidade
cultural.
Naturalmente que não se indicam todos os elementos uma vez que seria impossível, até
porque a nossa cultura tem particularidades de ilha para ilha, o que tornaria exaustivo para o
assunto em questão. Foi nossa intenção dar mais realce aos aspectos aparentemente mais
sujeitos à mudanças.
10
Para a elaboração do presente trabalho recorremos a várias pesquisas, incluindo obras da
especialidade, Boletins Oficiais e artigos de jornais, para além de sites na Internet. Da mesma
forma recorremos a entrevistas à elementos da população, nomeadamente alguns estudiosos
na matéria como é o caso de Manuel Veiga, Zelinda Cohen entre outros.
Durante as entrevistas constatamos uma certa coesão entre as respostas. Quase todas são
de opinião que as interferências estrangeiras na cultura cabo-verdiana sempre aconteceram, e
cada vez mais, se nota uma certa intensificação. Como principal factor apontam a emigração,
bem como a abertura de Cabo Verde ao mundo.
Também estão conscientes que muitas vezes as imitações acontecem devido aos fracos
recursos económicos que possuímos e mesmo as nossas condições geográficas, como também
a falta de maturação para uma absorção de forma crítica.
Da mesma forma verificamos que alguns acham que muitos desses novos elementos na
nossa cultura começam como uma espécie de “postiço”, é o caso de um emigrante que envia
ao seu familiar um frigorifico sem ter a energia eléctrica em casa.
No entanto não deixam de referir que, se esses novos elementos forem canalizados de
uma forma crítica, podem ajudar no desenvolvimento e enriquecimento da nossa cultura.
1
VEIGA, Manuel.Identidade Especifica e Global. In CORREIA E SILVA,Filinto Elísio( Coord.) Cabo Verde
30 Anos de Cultura -1975- 2005. Praia.Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.2005. p.15.
11
Estamos cientes que não é possível transmitir certezas absolutas sobre o assunto em
questão, pelo que aceitamos sugestões construtivas que possam contribuir para melhorar este
trabalho. De igual modo, estaremos abertos a qualquer discussão que este vier a suscitar.
Vários estudos têm sido feitos no sentido de se formular uma definição mais concisa
sobre a cultura.
No entanto, desses estudos têm resultado várias definições, todas diferentes, mas
sempre com o mesmo propósito ou conteúdo. Para comprovar o dito anteriormente
apresentamos alguns conceitos de cultura:
Cultura – “ Património literário, artístico e científico de um grupo social, de um povo
(…) conjunto de conhecimentos adquiridos por alguém, de experiências que permitem o
enriquecimento do espírito e desenvolvimento de capacidades intelectuais.” 2
Cultura – “conjunto de conhecimentos, informações, saberes adquiridos e que
ilustram (individuo, grupo social, sociedade) segundo uma perspectiva evolutiva; concerne ao
conjunto de conhecimentos e valores da cultura tradicional de determinados grupos”.3
2
A. C.L. (Academia das ciências de Lisboa). Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea. Vol I.A-F.
Lisboa. 2001.
12
Tudo isto mostra que a palavra cultura tem sido usada em diferentes contextos fazendo
com que ela tenha interpretações conforme as diversas percepções, pois a cultura não significa
somente aquilo que se adquire através do contacto, mas também aquilo que criamos ou
modificamos.
O Homem perante certas dificuldades vai realizando aprendizagens para satisfazer as
suas necessidades através de modificações ou criações.
“O Homem enquanto faz a aprendizagem nunca fica apático em relação ao somatório
de elementos que vai adquirindo. Modificando-os frequentemente, acrescenta, diminui e
inventa novos elementos.”4
Esta citação explica claramente o referido anteriormente, e ainda mostra que o homem é
um ser em constante aprendizagem e sempre que recebe novos conhecimentos não fica
indiferente a eles, aproveita o que neles há de positivo para o enriquecimento da sua cultura, e
que tem capacidade de modificá-los tornando-os em algo pertencente ao meio envolvente,
pois cultura é tudo aquilo que existe mas que tem sentido numa determinada sociedade.
Neste sentido, um determinado elemento só passa a pertencer à cultura de uma sociedade
se ela for reconhecida pelos elementos da mesma sociedade como acréscimo para a sua
sobrevivência.
Os homens ao fazerem esse acréscimo para o seu bem, não o fazem da mesma maneira,
de modo que em cada sociedade ou mesmo cada grupo tenham culturas distintas. Cada cultura
é traduzida pela sua identidade e manifestações semelhantes fazendo com que grupos
pertencentes a uma mesma sociedade tenham a mesma cultura, ou seja, os mesmos hábitos,
costumes e tradições, crenças e valores.
Perante isto podemos dizer que a cultura é tudo aquilo que identifica uma sociedade em
relação à outras, ou seja cada cultura possui traços distintos desde o modo de vida, artes, letras,
a forma de pensar, de sentir, de agir e de crer, fazendo com que ela seja reconhecida e distinta
perante outras culturas.
Neste sentido cada cultura representa um bem ou um valor para aqueles que
compartilham. O indivíduo estando inserido numa determinada sociedade é obrigado a pensar
3
I. H. L.P. (Instituto António Houaiss de Lexicografia). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Lisboa.
2003. p.1152.
4
LIMA, Augusto Mesquitela, et Al. Introdução a Antropologia Cultural. Lisboa. Editorial Presença. S/d.p..38
13
e agir conforme as regras determinadas pela sociedade formando assim uma identidade
cultural.
Essa identidade cultural é formada por elementos tais como a língua que é o meio de
comunicação; a religião e crenças, pois cada sociedade ou mesmo dentro de uma mesma
sociedade encontramos várias religiões; a forma de organização da sociedade desde a vida
politica, a hierarquização social, a economia, as ideologias, etc; ainda pode-se falar das
tradições orais e escritas que, muitas vezes, servem para traduzir a vivência histórica dos
antepassados de uma determinada sociedade; as festas, os jogos, a forma de vestir, os hábitos
alimentares, os modelos para construção das habitações, a música, as danças, de igual modo
fazem parte dos elementos que caracterizam uma cultura, definindo a sua identidade.
É necessário apontar que sem sociedade não existe cultura, pois para que haja a
implementação dos costumes e hábitos o homem tem que estar inserido numa sociedade com
suas regras próprias que devem ser cumpridas e executadas, permitindo o desenvolvimento de
todo o apetrechamento necessário à sua sobrevivência, bem como fixação de regras que serão
transmitidas de geração em geração.
Essas regras são inventadas pelo próprio Homem como forma de satisfação das suas
necessidades e uma melhor organização da sociedade onde estiver inserido, ou seja o Homem
aproveita-se da Natureza e modifica-a em seu benefício próprio.
É neste sentido que se afirma que as pessoas ao nascerem não têm nenhuma cultura, mas
vão construindo-a de forma gradual. Esta construção é repetida em todas as gerações de
acordo com as características de cada sociedade.
Tudo isto porque a cultura não é transmitida geneticamente, mas sim através do
processo de endoculturação, em que à criança, logo ao nascer, é imposta valores da cultura de
forma a ajustar a realidade da sociedade onde ela se encontra. Nessa fase ela recebe-os de
forma passiva não havendo nenhuma rejeição, pois caso contrário teria de rejeitar o meio onde
está inserida. Por exemplo, uma criança chinesa criada em Cabo Verde adquire os costumes
da nossa cultura e não as do país de onde ela é oriunda. Mesmo que os seus pais, em casa, lhe
transmitam traços da cultura chinesa, a sociedade vai exigir dela, como uma forma de
adaptação e de convivência sadia, fazendo com que a sua cultura seja o resultado da
adaptação num determinado ambiente e neste caso, o ambiente de Cabo Verde.
14
Outro aspecto a considerar é que a cultura não é estática, mas sim sofre várias
transformações ao longo dos tempos, ou mesmo aculturações por parte dos seus elementos
como uma forma de integração em outras sociedades acabando por transportá-las para as suas
sociedades de origem. Desta forma provocam interferências tanto positivas como negativas na
sociedade. É o caso de Cabo verde que tem vindo a sofrer várias interferências de culturas
estrangeiras tanto pela via da emigração, como também pelos meios de comunicação que
ultimamente tem invadido o nosso país. Sobre este assunto falaremos com mais pormenores
no III capítulo do trabalho.
Pensando neste sentido Bernardo Bernardi apontou quatro valores essenciais da cultura:
● Anthopos – “que é o contributo que cada pessoa dá na formação da cultura pois a
cultura é constituída por “traços psíquicos do ser humano como o temperamento, as
tendências, necessidades, aptidões, atitudes, interesses, marcas, experiências anteriores, etc,
cuja disposição compõe um todo estruturado. ” 5
Isto mostra-nos que o Homem como um ser social faz sempre interferências no sentido de
obter conhecimentos, desde o nascimento até a morte, uma vez que há necessidade de
aquisição de costumes próprios da sociedade em que vive fazendo com que estas se
mantenham vivas.
● Etnos - quer dizer comunidade ou povo. Diz respeito ao Homem como um ser
individual pertencente a uma comunidade em que a principal preocupação é preservar os
traços da cultura dessa comunidade.
5
BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos Etno- antropológicos, Perspectivas do Homem. Lisboa.
Edições 70. 1992. Pp. 49
15
Podemos dizer que é deste ambiente que o Homem retira o seu próprio sustento.
“A cultura fornece a matéria-prima que o indivíduo faz a sua vida. Se ela é pobre, o
indivíduo sofre; se é rica, o indivíduo tem a probabilidade de aproveitar as oportunidades que
se lhe oferecem.”6
Essa transcrição mostra-nos que a cultura influencia a vida do Homem, dando-lhe mais
ou menos oportunidades conforme a sua variedade.
Neste sentido, a satisfação do Homem está ligado às condições impostas pela cultura
fazendo com que as suas necessidades sejam hierarquizadas conforme o grau de necessidades.
A tendência é, em primeiro lugar, satisfazer as necessidades alimentares e higiénicas e só
depois as outras.
Tomando como referência esses quatros elementos podemos ver que a cultura é o
alicerce da afirmação do indivíduo numa sociedade. É a cultura que o ajuda a traçar o rumo a
seguir de forma que o indivíduo se sinta integrado e distinguido do ambiente onde vive de
outras diferentes da sua.
Mas tudo isto é possível se houver consciência da importância da cultura e ela for
protegida e conservada.
Todos nós devemos encarar a cultura como o nosso património, um meio para a nossa
cultura ser reconhecida e uma forma de manter viva a história do nosso povo. A protecção do
património de um povo deve ser uma tarefa de todos nós, com a finalidade de não deixar a
nossa cultura morrer.
6
LOPES FILHO, J. Introdução à Cultura Cabo-Verdiana. Praia. ISE. 2003.pp.16
16
2- Protecção e Preservação do Património Cultural
Este património pode ser tanto material que são todos os bens materiais produzidos pelo
Homem (construções arquitectónicas, trabalhos do artesanato etc), e imaterial que são os bens
expressos através de atitudes, comportamentos, princípios e valores reconhecidos dentro de
uma comunidade como música, religião, dança, rituais, língua etc.
17
Muitas vezes é difícil explicar para uma pessoa o valor da preservação da integridade e
autenticidade de uma construção arquitectónica, pois falta o suporte jurídico que mostra que a
determinada construção pertence ao património e que só é reconhecida se pelo menos a
fachada mantiver os traços originais.
Em Cabo-verde existe uma lei que protege o nosso património 7 (Anexo 2), mas de
acordo com os entrevistados, ela precisa ser reformulada e regulamentada adequando-a mais à
realidade social que estamos vivendo hoje, principalmente com a preparação de alguns
elementos da nossa cultura à categoria de património mundial.
É necessário afirmar que toda a história evolui, fazendo com que haja novos elementos,
como é o caso de Cabo Verde onde tem aparecido novas manifestações de que falaremos em
outros capítulos. Essa introdução deve acontecer sem ruptura ou quebra com o existente,
evitando a perda de valores marcantes da própria cultura. Deve haver uma integração de tudo
o que já existe, caso contrário corremos o risco de perder a nossa identidade.
A destruição de uma cultura pode abalar as bases que a constituem, transformando o
povo na cópia de outra cultura, pois só é cultura de um povo o que ele construiu através da
sua maneira de ser.
7
Boletim Oficial nº 52.3º suplemento.29/!2/90.pp13-21.
8
ALMEIDA Germano. Internacionalização da Cultura. In Jornal – A Semana nº 718 de 17/06 2005. Praia.
2005.
18
“O Património é cartão de visita de um povo, diz quem ele é, e sendo assim, oferece o
selo de como ele pode e deve apresentar – se no e para o mundo. ”9
Isso mostra-nos que a protecção do património cultural é também uma forma de integrar
com os outros, trocando ideias, difundindo-as mostrando realmente o que é.
9
www. Micoa. Gof. Ms/ MICOA/ ambiente/ Moçambie/numero 21/ povo hotmail
19
CAPITULO II – A CULTURA CABO-VERDIANA E AS SUAS
DIFERENTES DIMENSÕES
1 - Origem
20
Também, durante muito tempo, devido à sua posição geo-estratégica, Cabo Verde vai
permitir o cruzamento das grandes rotas do comércio triângular e do tráfico de escravos,
possibilitando contactos de diversos povos com culturas diferentes.
Os escravos ao serem trazidos para Cabo Verde eram usados como moedas de troca e no
povoamento das ilhas. Desta forma haverá aculturações devido ao cruzamento da cultura
europeia com a das diversas etnias africanas.
Apesar de cada grupo tentar preservar a sua cultura vai haver alienações motivadas pela
forma como se deu o povoamento e pelo próprio espaço físico.
Devido ao referido anteriormente, muitas práticas tanto europeias como africanas,
tornam-se de difícil realização por estarem longe do seu ambiente. Por exemplo os
portugueses tinham os seus próprios hábitos alimentares, e mesmo que mandassem vir os
alimentos do reino quem os preparavam eram as mulheres africanas, à moda delas. Mesmo
que o branco se revoltasse era obrigado a adaptar-se.
Apesar de haver essa convivência cultural, o grupo menos coercivo vai ser os africanos,
uma vez que eram constituídos por grupos de etnias diferentes (Jalofos, Mendingas, Balantas,
Beafares, Bijagós, etc), espalhados por várias localidades, perdendo assim a ligação com o seu
ambiente, e consequentemente os seus hábitos e costumes.
Para eles era uma perda da identidade, visto que estando longe e em número reduzido seria
difícil uma resistência para manter viva as suas tradições culturais.
Nos séculos XVI e XVIII nota-se uma afluência dos colonos das ilhas para os rios da
Guiné em serviço dos interesses económicos da metrópole, permitindo a ascensão social dos
21
mestiços. Isto provoca uma diminuição de choques entre as duas comunidades, até que pouco
a pouco, os poucos brancos foram crioulizando-se, assimilando os hábitos e comportamentos
do africano.
Segundo Dulce Almada “o facto de não termos sido uma colónia de povoamento, mas
um entreposto de escravos não permitiu uma concentração muito grande de escravos da
mesma etnia nas ilhas. Daí que o continente africano não tenha deixado aqui esse”apport”
cultural maciço e palpável (...). Da mesma forma tão pouco a cultura portuguesa pode marcar
entre nós uma presença suficientemente forte para se impor à sociedade como padrão.”10
Podemos concluir das palavras de Dulce Almada que a cultura Cabo-verdiana formou-se
da fusão da cultura africana com a europeia.
10
ALMADA, Dulce. Identidade Cultural cabo-verdiana.In ANDRADE, Elisa. Antologia de Textos de
Cultura Cabo-Verdiana. Praia. ISE S/d. p.
11
ALMADA, Dulce. Identidade Cultural cabo-verdiana. In op.Cit.
22
A língua crioula torna-se assim no primeiro elemento dessa nova cultura que facilita o
contacto entre os brancos e os negros.
Para o historiador António Carreira, “a língua crioula é o principal elemento que desde
muito cedo melhor definiu a identidade cultural do cabo-verdiano.”12
Pretende-se neste capítulo apresentar de forma breve vários domínios da cultura cabo-
verdiana, com destaque para as manifestações em que se têm verificado mais influências nos
últimos tempos.
Como já foi referido anteriormente, a cultura cabo-verdiana nasceu da miscigenação de
várias culturas com tradições, costumes e valores diferentes. Esses elementos vão coabitar
num mesmo espaço fazendo aparecer as manifestações culturais tipicamente cabo-verdianas.
12
CARREIRA, António. O Crioulo de Cabo Verde – Surto e expansão. S/L. Gráfica Europam lda. 1983.
pp.54
23
De entre esses vários elementos, destacam-se alguns considerados mais relevantes neste
trabalho, dado que são mais sensíveis a interferência estrangeira.
Neste sentido são de considerar vários elementos como a língua, a música, as danças, a
literatura, as artes e ainda costumes e tradições que também se afirmaram como parte da
identidade cultural cabo-verdiana.
Cabo Verde sendo um país de emigrantes com uma população no exterior superior aos
residentes, têm na cultura o principal factor de unidade. De facto os cabo-verdianos, onde
quer que estejam, são facilmente identificados por se comunicarem entre si na língua materna,
pela culinária, pela fé religiosa como também pela música e dança.
2.1- Língua
2.2-Música e Dança
13
Idem LOPES FILHO, João. 2003. pp. 238
14
Idem. Ibidem LOPES FILHO. 2003 pp 238
24
Relativamente a música e dança temos vários géneros que ao longo dos tempos têm
caracterizado o povo cabo-verdiano, sobretudo acções quotidiana da sociedade, os hábitos,
costumes, virtudes como também vícios e defeitos.
O cabo-verdiano usa os vários géneros musicais para cantar as suas limitações, os amores e
desamores, a traição, o destino, a má sorte na emigração, etc.
A morna que para muitos nasceu na ilha de Boa Vista, mas no entanto põe a
problemática de ser oriunda do fado português. É um género de melodia suave ligado a
nostalgia em que o cabo-verdiano canta a saudade, o amor, bem como o drama da
sobrevivência e evasão de querer ficar e ter que partir. As primeiras mornas foram feitas por
Eugénio Tavares e cantadas por B. Leza.
Segundo Moacyr Rodrigues, «ela identifica com a própria vida do cabo-verdiano (…); È
uma manifestação cultural das mais importantes para o reconhecimento e identificação das
mutações psíquicas e sociais da sociedade cabo-verdiana.»15
Os instrumentos utilizados nos bailes eram o violão, cavaquinho, rabeca, banjo viola etc.
Segundo uma informante de Santo Antão, de 60 anos de idade, a morna genuína tinha um
ritmo mais lento que era dançado só com os namorados e que exprimia sentimentos de amor,
paixão, saudade e tristeza.
O Funaná – surgiu no meio rural da ilha de Santiago. Possui um ritmo mais acelerado do
que a Coladeira. É um género muito próximo do continente africano que apareceu graças ao
acordeão produzido no país pelos portugueses para acompanhamento nas missas, e apropriado
posteriormente pelos habitantes das ilhas para as suas canções.
15
MOACYR, Rodrigues. Citado por LOPES FILHO, João. Introdução à Cultura Cabo-Verdiana. Praia. ISE.
2003.pp 264
25
As letras do Funaná retratam a vivência da população e tal como a Coladeira critica e
ridiculariza comportamentos e atitudes.
O Batuque – Típico da ilha de Santiago, e ainda hoje a sua presença reduz-se à referida
ilha. É um género que manifesta a presença africana, e retrata as convivências sociais.
O Batuque nasceu com o Homem cabo-verdiano e apesar da tentativa do regime colonial em
proibi-lo, conseguiu resistir e vem sendo praticado cada vez mais com muita força na ilha de
Santiago principalmente em ocasiões comemorativas.
Para essa dança usam-se trajes simples que antigamente eram usados no dia a dia. É
considerada uma dança mais sensível em cabo Verde, em que de acordo com o ritmo e a
música dispõe de dois movimentos. Os dançarinos formam duas filas, frente a frente, com
damas de um lado e cavalheiros do outro lado. A dança é orientada por um Mandador que
16
HUMBERTO, Lima. A Contradança em Cabo Verde. In Fragata. Revista de Bordo dos TACV. nº
12.Dezembro 1996.
26
pronuncia os mandamentos em língua francesa, o que na leva a crer que a Contradança é
mesmo de origem francesa.
A Mazurca, dança de origem Polaca, que evolui especialmente na ilha de Santo Antão
nos primeiros tempos de embarcação em que se tocava gramofone e que as senhoras vestiam
saias compridas. Para tocar mazurca utilizava-se o violino e, só mais tarde outros
instrumentos como a viola, o violão, o cavaquinho, entre outros.
Era muito dançada antigamente nos bailes populares, baptizados, casamentos, guarda
cabeça acompanhada de instrumentos acústicos. Actualmente é usada em noites cabo-
verdianas.
Essas danças de acordo com Danny Spínola «representaram no início uma forma de
diversão e de descontracção, por não haver uma gramática elaborada com fins artísticos.
Ainda segundo o mesmo autor, a tentativa de criação de uma dança moderna é muito recente,
tendo sido iniciada por Daniel Rocha, utilizando como técnica o Ballet clássico, acabou por
protagonizar a formação de várias gerações de dançarinos.»17
Neste sentido foram formados grupos de dança em todas as ilhas, sendo hoje notória a
afluência de vários grupos que até representam o nosso país no estrangeiro. É o caso do grupo
“Raiz di Polon” que tem uma significativa presença e espectáculos dentro e fora do país.
17
SPINOLA, Danny. A Cultura Cabo-verdiana – Breve apontamento. In www. ic. CV. / A % 20 CULTURA.
doc.
27
óptica de pensamento durante muito tempo a oralidade foi a forma mais privilegiada para a
transmissão dos conhecimentos em África. Segundo Birago Diop (…)« é através das histórias
transmitidas de gerações em gerações que muitas vezes, nós descobrimos a sabedoria, a
inteligência, os anseios, as preocupações, as lutas e a grandeza do povo de um país».18
Durante a colonização os colonos debruçavam-se nas tradições orais para melhor conhecerem
a cultura dos africanos. Neste sentido podemos afirmar que a Tradição Oral é uma forma de
transmitir a cultura de um povo.
Cabo Verde é um país com uma rica tradição oral que vem sendo assimilada pelos cabo-
verdianos, talvez devido ao forte analfabetismo da população durante muito tempo.
Desta rica tradição são de realçar as estórias ou contos, os provérbios, adivinhas,
superstições e crendices, cantigas de trabalho, lendas, jogos entre outros.
Provérbios são um modo de transmissão de sabedoria popular e, como tal, dos mais
variados conhecimentos acerca das “coisas” da terra. Além de entretenimento intelectual são
educativos porque exprimem valores e normas teóricas nos quais se baseia a cultura de um
povo. Revelam também a imaginação e o espírito crítico e são formas comparativas de dizer
as coisas, baseando-se em associações de ideias por semelhança, contraste ou contiguidade.
De uma forma geral os provérbios fazem parte da expressão da ideologia de um grupo
dominante na prática quotidiana duma comunidade.
18
KIZERBO, J. Historia Geral da África. Metodologia e pré – história da África.Vol.I. Ática/ Unesco.1980.
19
HUMBERTO, Lima. Tradição Oral Como Património. In. AHN. Praia. AHN. 1998 p. 130
28
Adivinhas Populares são verdadeiros testes de inteligência, colocadas sob forma de
enigmas que resultam de um processo de associar e comparar objectos, factos ou situações.
Para além de constituírem um sistema de ginástica mental, a tentativa de as decifrar
conduz a reflexão e desenvolvimento do espírito das pessoas, ao mesmo tempo que
demonstram o elevado grau de capacidade imaginativa dos “criadores” desses enigmas.
As adivinhas originalmente cabo-verdianas retratam sempre aspectos da nossa sociedade
como é o caso de “tanque de ferro água de madeira (Candeeiro de petróleo”; “Um Homem
com a sua faca na cinta (milheiro com a sua espiga) ”etc.
Os jogos tradicionais têm por fim o prazer lúdico, como também uma forma de ocupar os
tempos livres. Nesses jogos usam-se objectos como dados, cordas, bolas, pedras, piões etc. De
entre esses jogos podemos destacar “jogo de urim”, “saltá corda” “malha” “mata”etc.
Reza – é uma devoção praticada em todas ilhas de Cabo Verde, mas com motivações
específicas por cada ilha. Antigamente era praticada nas igrejas mas com o tempo
popularizou-se.
O objectivo da reza é pedir perdão a Deus pelos pecados cometidos ao longo da vida.
29
Esta situação manteve-se até a independência de Cabo Verde, altura em que o número
de médicos começou a aumentar.
Os europeus ao virem para Cabo Verde traziam algum barbeiro ou outros tipos de
práticos em preparar vomitórios ou outra prática, mas muitas vezes iletrados.
Da África vinham os escravos que certamente ocupavam-se nos seus países da saúde dos
seus compatriotas e que em Cabo Verde continuavam a exercer a mesma actividade.
Os remédios da medicina tradicional eram preparados a partir de partes de algumas
plantas, de animais e mesmo alguns minerais.
É uma prática ainda usada em Cabo Verde principalmente nas zonas do interior, por
acreditarem no poder da cura por meios tradicionais.
A área da superstição é imensa e pode envolver a maneira de viver das pessoas que
acreditam em factos ou seres que dão sorte ou azar, fazem bem ou mal, propiciar vantagens,
polarizar maléficos, os quais variam consoante a imaginação do ser humano.
Nesta óptica, surgiu “guarda cabeça”ou “noite de sete”, que consistia em guardar o
recém-nascido na noite do sexto para o sétimo dias de vida, para que ele não fosse comido
30
pelas bruxas. Para defender a criança colocavam debaixo do travesseiro tesouras abertas,
debaixo da cama facas e machados e por cima da casa deitava-se sal misturado com enxofre.
A sala ficava cheia de gente que jogava, comia e bebia a vontade.
Hoje em dia ainda se faz o guarda cabeça mas com o propósito de se festejar, uma vez
que dificilmente uma criança morre nos primeiros dias de vida, pois são vacinadas a tempo e
hora e as mães são assistidas nos hospitais no momento do parto, evitando as infecções que
provocavam as mortes, cujas causas desconhecidas, o que levava a procurar explicações em
factores sobrenaturais.
De uma forma geral as superstições e crendices em Cabo Verde estão a cair em desuso,
uma vez que com o desenvolvimento as pessoas acabam por ficar mais informadas, as ruas
quase todas iluminadas, evitando o vaguear pelas noites das almas do outro mundo como
muitos pensavam.
No entanto ainda se acredita em pessoas sábias, que dão bons conselhos e que fazem
medicamentos para doenças complicadas, ou capazes de adivinhar o futuro.
2.6-Festas Tradicionais
Destacam-se algumas dessas festas que são comuns em todas as ilhas mas com algumas
particularidades: Santa Cruz (3 de Maio), Santo António (13 de Junho), São João Baptista
(23de Junho), São Pedro (29 de Junho). Todas elas são acompanhadas de tambores, apitos, e
navios improvisados com espigas, rosários e roscas. A população dança e cola ao som dos
tambores e apitos.
Em algumas ilhas como Santo Antão e Fogo apreciam-se as tradicionais corridas de
cavalo.
31
Uma outra festa de grande envergadura é festa da bandeira ou Nhô São Filipe na ilha do
Fogo. É uma festa profana e religiosa de raiz popular que atrai muitas pessoas todos os anos.
Para além dessas festas mencionadas existe ainda um leque variado entre as diversas ilhas,
aliás quase todos os concelhos tem com padroeira na ilha um santo, onde aproveitam para
comemorar com muita pompa.
Para além dessas festas mencionadas, existe ainda um leque variado, conforme o santo
padroeiro de cada ilha ou mesmo concelho.
2.7-Alimentação
O peixe é também bastante consumido devido a sua abundância nos nossos mares e
sendo assim é vendido a um preço acessível a todos principalmente a cavala, a dobrada,
chicharro etc. No entanto em algumas localidades torna-se difícil o seu consumo devido à
falta de acesso.
Incluída na nossa culinária temos também a doçaria que tem uma forte tradição e função
essencialmente caseira. A batata-doce não é só utilizada no caldo de peixe mas também para
fazer doces, a semelhança da abóbora, da banana, do coco, do caju, do figo, da papaia etc.
32
As bebidas também são bem apreciadas com destaque para o grogue feito a partir do
sumo da cana que chega a substituir as refeições de muitos. A partir do grogue preparam-se
outras bebidas como licores, ponches, etc.
De uma forma geral o cabo-verdiano toma três refeições por dia: de manhã, ao meio-dia
e à noite. As opções religiosas também ditam a dieta alimentar como por em exemplo, os
católicos não comem carne na Sexta-feira durante o período de Quaresma.
2.8-Vestuário
No entanto convêm realçar que hoje em dia o vestuário sofreu muitas modificações não
só pela evolução da nossa sociedade como também devidas as várias interferências de outras
culturas na cultura cabo-verdiana. (ver pag. 47)
2.9- Observação
33
Apesar de termos apresentado somente essas manifestações não quer dizer que não
existem outros, pois seria impossível apresentar de uma forma geral todas as manifestações da
cultura cabo-verdiana, mesmo que existe particularidades entre ilhas e mesmo entre os
concelhos.
Neste sentido apresentamos os mais comuns entre as várias ilhas e que de certa forma têm
apresentado algumas interferências da cultura estrangeira.
Todas as sociedades tanto antigamente como hoje, revelam uma série de manifestações
fáceis de apreender. Pode-se dizer que uma sociedade pode alimentar-se da outra, mas dando
uma interpretação diferente a cada traço assimilado.
«Á primeira vista, uma civilização parece-se como um cais de mercadorias, sempre a
receber e a expedir bagagens heteróclitas»20.
Mostra-se que as sociedades estão sempre abertas à aquisição de novos elementos, mas
também à perda de alguns, isto porque a cultura não é estática, é um elemento vivo que
precisa ser reanimada. Há que haver diálogo entre o passado e o presente.
20
BRAUDEL, Fernand. (1987) Gramática das Civilizações. Paris Editorial Trorema.1989.pp44
34
Muitas vezes esse confronto entre o passado e o presente leva à perda de alguns valores,
pois algo que fez sentido no passado pode não o ter depois devido as conjunturas da própria
sociedade.
Cada sociedade está aberta em aceitar ou não um bem cultural de outro país conforme for
as suas análises sobre o mesmo, pois um mesmo bem pode tornar em algo positivo ou
negativo conforme for a seu encadeamento.
Essa recessão ou exportação de bens culturais pode ser uma técnica, aspectos ligados a
língua, moda, dança, arquitectura etc. Por exemplo «um sociólogo, Gilberto Freyre, divertiu-
se a elaborar a lista do que o seu país, o Brasil, durante os últimos décimos do século XVII e
os cinco ou seis primeiros do século XIX recebeu a granel da Europa (…): a cerveja preta do
Hamburgo, o cottage inglês, a máquina a vapor (…), o fato branco para o verão, os dentes
artificiais (…) Da mesma forma muitos historiadores crêem que a moda chinesa da época dos
T’ang, no século VII d.C. chegou na ilha do Chipre, bem como na corte dos Lusignan (corte
de Carlos V) no século XV, e que mais tarde difundiu-se até chegar em França.»21.
Além desses acreditam ter milhões de exemplos principalmente com as descobertas
marítimas iniciadas no século XV que vão permitir mais circulação de pessoas, bens,
conhecimentos de novas terras e difusão de novas culturas.
É com as viagens marítimas que chega ao arquipélago de Cabo Verde, permitindo o
cruzamento de culturas diferentes e o nascimento de uma nova cultura. Essa cultura no
entanto tal como a de qualquer sociedade continuou a sofrer influências de outras culturas, um
assunto que falaremos mais a frente.
No entanto é bom, realçar que hoje em dia os bens culturais circulam com maior
facilidade do que no inicio das descobertas marítimas, pois com o desenvolvimento dos meios
de comunicação e com a era da globalização todo o mundo ficou mais próximo, permitindo
maiores contactos e consequentemente maiores interacções culturais ao qual Cabo Verde não
pode escapar.
21
Op.cit. BRAUDEL, Fernand 1989.pp 45
35
2-Factores que permitiram as interferências na cultura cabo-verdiana.
Cabo Verde sempre foi um país aberto ao mundo desde o seu povoamento, servindo
como ponto de chegada e de partida contribuindo assim para o cruzamento de diferentes
povos e consequentemente culturas diferentes.
Desde o povoamento tivemos ligações com os continentes europeu, africano e
americano, servindo como porto de escala do tráfico de escravo e mais tarde como porto de
abastecimento de carvão para os navios que faziam a ligação entre a Europa e as Américas
nas suas rotas comerciais.
Neste sentido podemos afirmar que Cabo Verde desde os primórdios da formação da sua
sociedade esteve em contacto com povos de diferentes culturas.
Este encontro de povos continua até hoje, fazendo com que cada vez mais coabitem no
seu território pessoas vindas de vários continentes. A prova real disso foi o desfile que
aconteceu a quando da comemoração do trigésimo aniversário da Independência de Cabo
verde com centenas de imigrantes de países diferentes.
Neste sentido Cabo Verde não foge à regra e devido a esta coabitação de culturas
diferentes temos notado vários elementos na cultura cabo-verdiana resultantes de
interferências estrangeiras.
36
A emigração também permitiu desde muito cedo o contacto dos cabo-verdianos com
outras culturas, pois a emigração é um fenómeno estrutural que remota décadas na sociedade
cabo-verdiana. Foi a única forma que os cabo-verdianos acharam para se escaparem das secas
cíclicas que assolaram as ilhas.
Neste sentido muitos emigram motivados pelas condições socio-económicas e a ambição
de mudar de vida e ascender socialmente uma vez que ao regressarem sonham em comprar
propriedades, trazer carro e fazer uma boa casa.
Segundo José Andrade «Cabo Verde, já no século XV, a priori terra de imigração, deu
origem, após um longo e secular processo de adaptação, aculturação e de afirmação cultural, a
uma sociedade eminentemente emigratória»22.
Isto quer dizer que o cabo-verdiano tem na formação da sua identidade o fenómeno
migratório, pois tendo uma sociedade formada a base de imigrantes de vários países, leva com
que haja na emigração uma forma de vida melhor e de ascensão social.
22
ANDRADE, José. Migrações cabo-verdianas. In AHN. Descoberta das Ilhas de Cabo Verde. A.H.N. Praia.
1998. p.70.
37
e obriga-o a individualizar, na família e nas instituições religiosas, os elementos sociais e os
valores ligados á cultura do lugar de origem.»23
Esses comportamentos e atitudes muitas vezes são trazidos pelos emigrantes ao
regressarem para a terra natal que acabam por ser assimilado pelos nativos.
Segundo Eugénio Tavares «o cabo-verdiano quando regressa não traz só dólares, se não
luzes (…) modifica o seu modo de ser mortal (…) aprende a encarar a vida por um prisma
elevado, cria necessidades que lhe educam a vontade em lutas mais pobres» (…)24
A referência aos dólares recordamos a Brava, terra natal do poeta, ilha de onde «talvez
terão os primeiros emigrantes para os Estados Unidos, no contexto da pesca da baleia.»25
Também Eugénio Tavares retrata as mudanças que o emigrante traz ao regressar. Ele fala
de uma nova mentalidade, uma forma diferente de encarar os problemas da sociedade,
repercutindo-se na vida social e cultural do país, pois trazem uma nova filosofia de vida.
No entanto é bom realçar a pertinência daqueles que nunca distanciam da sua verdadeira
cultura, e mesmo que no trabalho têm de partilhar hábitos diferentes, em casa procuram falar a
língua, confeccionar os pratos tradicionais e transmitir os valores cabo-verdianos aos seus
filhos. É caso para afirmar que são aqueles que conhecem bem a nossa identidade e o valor da
preservação da cultura de um povo e por isso conseguem resistir as influências.
23
MONTEIRO, César Augusto. Comunidade Imigrada Visão Sociológica o Caso da Itália Edição do
autor.S.Vicente.1997.pp58
24
TAVARES, Eugénio. Citado por FURTADO, Cláudio. In A Transformação das Estruturas Agrárias numa
Sociedade em Mudança – Santiago, Cabo Verde. Edição do Instituto Cabo-verdiano do Livro. Praia1993.
25
ANDRADE, José. Migrações cabo-verdianas. In Descoberta das Ilhas de Cabo Verde. A.H.N. Praia. 1998.
P.74
38
As interferências não são causadas somente pela migração, pois a liberalização dos
meios de comunicação, tem contribuído também para o grande fenómeno de aculturação,
principalmente a televisão, revistas, vídeos, cinema e ultimamente a Internet em que o mundo
todo ficou conectado na rede mundial de computadores, e Cabo Verde não fica para trás.
Tudo isto motivado pela era da globalização, permitindo o contacto com várias culturas ou
seja estamos numa era da interculturalidade no qual se cada comunidade não assumir e
preservar a sua identidade corre o risco de ser tragado por grupos mais poderosos, Cabo verde,
país pequeno, e com fracos recursos, fica mais vulnerável a culturas diferentes.
Como referido anteriormente Cabo verde está desde há muito tempo em contacto com
várias partes do mundo, primeiramente porque fomos colonizados por europeus que na
tentativa de explorar as nossas ilhas fez chegar pessoas com nacionalidades diferentes, mesmo
também Cabo Verde durante muito tempo serviu como interposto comercial o que fazia com
que aqui chegassem pessoas de diferentes espaços geográficos e culturais. Primeiramente
portugueses e espanhóis e mais tarde pessoas de outros países como Inglaterra, França,
Holanda etc.
39
Mais tarde Cabo Verde vai continuar os contactos, com o estrangeiro através da
emigração, dos cabo-verdianos que se deslocam para o estrangeiro à procura de uma vida
melhor, como também através de turistas ou comerciantes que se deslocam às nossas ilhas.
Também os «mass mídia» contribuem para a divulgação de novidades, rapidamente adoptadas
pelos cabo-verdianos principalmente os mais jovens, que constituem o grupo mais permeável,
pois hoje em dia, na verdade é difícil encontrar uma família que não tenha um meio de
comunicação, principalmente a televisão, o que contribui muito para a alteração de alguns
hábitos, especialmente na ocupação dos tempos livres. Neste sentido, podemos afirmar que os
programas de televisão, com destaque para novelas e jogos de futebol, foram a pouco e pouco
substituindo espaços tradicionais privilegiados de convivências familiares e entre amigos
(jogos de cartas, conversa entre compadres durante os jogos de carta ou urim, entre as
mulheres na soleira da porta, serões em famílias, brincadeiras de crianças) impondo-se a todas
as faixas etárias.
Essa assimilação de aspectos de outras culturas quer pela migração ou através dos meios
de comunicação acabam por se repercutir nos nossos hábitos, costumes e tradições tanto na
língua música, dança, como a nível da culinária, vestuário, religião, arquitectura, industria,
consumo, entre outros.
a ) Língua
40
«O crioulo cabo-verdiano, como os crioulos em geral, procede de uma fase inicial
bilingue, a que se teria seguido, a breve prazo, uma outra em que o africano haveria já
assimilado uma estrutura gramatical simplificada do português.26
Sendo assim existem em Cabo Verde duas línguas com uma convivência que remota
séculos: a língua crioula que é a nossa língua materna e a língua portuguesa que é a herança
deixada pelos nossos colonizadores, hoje comummente chamado de língua segunda.
A língua materna é a língua do nosso dia a dia, a que dominamos melhor, e a portuguesa
é a língua falada nas escolas e em ocasiões oficiais nosso país.
S em dúvida que a língua é o principal veículo de comunicação entre os povos, mas para
que isso aconteça de forma saudável há que haver um certo entendimento entre o emissor e o
receptor. Nesta óptica os emigrantes ao se fixarem num determinado país sentem a
necessidade de se comunicarem com uma língua diferente da materna para que haja uma boa
convivência principalmente do trabalho que é o principal motivo da partida. Ao regressarem
trazem algumas expressões que acabam por ser transmitidas no seio da nossa sociedade.
De entre as várias expressões usadas temos: Merci, Cheri, Bonjour, Pardon, Nom,
Cheveux, Jamais, argent, entre ouros, importados do francês. Há também expressões inglesas
introduzidas desde o século XVIII no tempo em que os ingleses estiveram instalados em São
Vicente com as companhias carvoeiras que fizeram com que o Porto Grande durante muito
tempo estivesse na rota do Atlântico.27 Os cabo-verdianos ao trabalharem para eles acabam
por assimilar expressões usadas até hoje, caso de half na half, sometime, Something, Sleep
etc.
Essas mesmas expressões eram também assimiladas através da prostituição, em que as
profissionais do sexo contratavam homens (sincerones) que iam buscar os fregueses ao cais e
26
DA SILVA, Baltazar Lopes. Citado por LOPES FILHO, João. In Introdução a Cultura Cabo-Verdiana. p.
234.
27
Com a revolução industrial levado a cabo pela Inglaterra houve a invenção da máquina a vapor, tendo como
combustível o carvão, fez com que os ingleses procurassem espaços onde seria possível a extracção do material
necessário para fazer mover os meios de transporte, bem como as maquinas usadas na industria.
41
leva-los para o Monte (sitio onde elas iam receber os homens). As próprias prostitutas tinham
de aprender certas expressões para viabilizar os encontros.
Como vocábulos oriundos dos Estados Unidos temos: brother, fish, boy, man, kool, okey,
nice, yes, tour, never, bike .Há também expressões brasileiras apreendidos através das novelas
como também pelos estudantes que se deslocam àquele país. Entre várias expressões temos
galera, parada, megera, entre outros.
Achamos que estas expressões acabam por fazer parte do dia a dia de muitos cabo-
verdianos que ao falarem na língua materna vão pronunciando certas expressões de outras
línguas.28
Esses vocábulos de línguas estrangeiras também são introduzidas na nossa língua através
do ensino, principalmente o francês e o inglês. Os alunos ao aprenderem expressões de uma
língua diferente ficam tão empolgados que começam a usa-los fora da escola, até acham que é
uma forma de ser notado perante os outros. Essas expressões de outras línguas são ouvidas
por familiares que começam a usá-las também, e pouco a pouco assimiladas por elevado
número de pessoas.
28
Um exemplo vivo disto foi uma conversa que eu presenciei entre uma emigrante na França e outro cabo-
verdiano que mandava um recado a sua madrinha: «bá bó d’zé nha madrinha, oui, que min bá lá hoje, nom, mas
e’me tá bá fim-de-semana, d’accord.
42
Da mesma forma essas expressões são apreendidas pelos meios de comunicação,
nomeadamente vídeos, filmes e pela televisão.
b) Música e Dança
A interferência estrangeira também está bem patente na nossa música e dança desde a
origem da morna, que segundo muitos estudiosos manifesta a saudade portuguesa e uma
volúpia e sensualidade negra.
Segundo José Lopes “ as teorias da origem Cabo-verdiana da morna, neste caso da
formação da palavra e do género, refere a formação de canções Alentejanas do afro- europeu
chamadas mornas e da existência na Martinica do termo morne29”
Isto mostra que a nossa música está sofrendo influências desde os primórdios da
formação da sociedade cabo-verdiana.
Mas actualmente a nossa morna ultrapassou as fronteiras de Cabo Verde sofrendo
algumas influências, tendo em conta que, os artistas como a Cesária Évora, Bana ,Celina
Pereira entre outros, em muitos dos seus concertos deixam-se levar por alguma influência do
país onde eles residem. Podemos constatar isso principalmente nas interpretações da Celina
Pereira em que parece haver uma certa sonoridade do fado.
Essas interferências do país de residência fazem com que muitas vezes o produto final da
música seja um pouco diferente da tradicional cabo-verdiana, isto porque muitas vezes os
nossos artistas são jovens nascidos ou criados na diáspora.
Temos o caso do grupo Voz de Cabo Verde «formado em 1964 na Holanda que para
além de cantar a Coladeira cantava outros estilos de ritmos Latino-americanos.»30
Ainda segundo Wladmir Monteiro «Nos finais dos anos 80, a revolução do Funaná,
ocorrida em Cabo verde, e os frutos dos movimentos de retorno as fontes dão origem, na
29
RODRIGUES, Moacyr et al –A Morna na Literatura Tradicional. Mindelo. Instituo Cabo-verdiano do
Livro e do Disco. 1996.
30
MONTEIRO, Wladmir. Cabo Verde, 30 anos de Música-1975-2005. In CORREIA&SILVA, Filinto Elísio
(Coord.). Cabo Verde 30 anos de Cultura, 1975-2005. Praia. Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. 2005.
43
Europa, a partir da Holanda, a um novo movimento ou estilo (…), mas um estilo diferente
daquilo que se pratica no arquipélago (…), esses jovens cabo-verdianos de Roterdão ou Paris
vão juntar à Coladeira e Funaná toda uma instrumentação e tecnologia, obtendo deste modo
uma nova sonoridade».31
Talvez os avanços técnicos e a necessidade e desejo de gravar nos países de emigração
(Holanda, EUA entre outros), sejam em parte responsáveis por muitas alterações no estilo
musical de vários grupos. Isto é compreensível sobretudo no caso de grupos musicais
nascidos na Diáspora, constituídas por jovens cujas influências musicais mais importantes
radicam nesses países. Exemplificando alguns grupos temos «Livity», Gil and the Perfects,
Splash entre outros. Analisando bem podemos ver que a interferência do estrangeiro nesses
grupos começa mesmo nos nomes em inglês. Mas é necessário realçar que fazem trabalhos de
qualidade e com muita aceitação.
Esta evolução de instrumentos não ficou só na diáspora, mas chegou também às nossas
ilhas, substituindo as antigas orquestras de instrumentos acústicos por instrumentos
electrónicos. Também apareceram as discotecas que vieram substituir os tradicionais bailes
nos terreiros, e contagiam principalmente os mais jovens, e também divulgam novos estilos,
novas músicas, novos ritmos, novas danças e imagens.
Relativamente a esta nova forma de fazer música existem aqueles que preferem cantar
letras crioulas mas com estilos bem diferentes da nossa música. São influências
principalmente do Zouk das Antilhas. Há uma mistura da Coladeira com Zouk que é
denominada de Cola-Dance,Colá-Zouk ou Zouk Love. Sobre Este assunto José Augusto
Timas é de opinião que «a Coladeira tende a desaparecer sufocada pelo Zouk ».32
Dos vários artistas cabo-verdianos que preferem o Zouk-Love, temos o caso da cantora
Suzana Lubrano que faz um grande sucesso dentro e fora do país, principalmente nos países
africanos onde ela foi vencedora do prémio «Cora Word», do cantor Beto Dias, Djonny
Ramos, entre outros.
31
op cit. MONTEIRO, Wladmir. In CORREIA&SILVA, Filinto Elísio (Coord.). Cabo Verde 30 anos de
Cultura, pp 108.
32
TIMAS, José Augusto. Citado por MONTEIRO, Wladmir. In op cit pag 109
44
que é a nossa música. É usar música do outro com letra crioula». Para Dany Silva «em Cabo
Verde há alienação, mas não há mal nenhum em cantar Zouk com letras crioulas». Já Daniel
Rendal acha que «A nossa forma de estar no mundo e de tomar as coisas dos outros faz pensar
mesmo que no futuro teremos ‘Zouk cabo-verdiano’»
Seguindo a mesma linha de pensamento desses músicos somos de opinião que nunca
devemos rejeitar aquilo que serve para o enriquecimento da nossa cultura, mas se queremos
nacionalizar-se temos de afirmar a nossa identidade, ou seja, é bom aproveitar o que vem do
exterior, mas nunca deixar de lado aquilo que é nosso, ou pensar que o que vem de fora é
melhor.
Um aspecto importante que é necessário realçar tem a ver com a existência de fracos
recursos em Cabo Verde, situação que agrava a dependência económica dos artistas, que ao
produzirem qualquer trabalho pensam logo no mercado, fazendo com que haja influências de
acordo com a conjuntura da época.
Actualmente tem aparecido outros grupos na diáspora e mesmo em Cabo Verde que
compõem e cantam letras cabo-verdianas em estilo rap e hip-hop, que para Wladmir Monteiro
«Não se trata de una inovação mas de uma cópia pura e simples do que fazem os jovens
negro-americanos e outros».33
A nível da dança podemos falar da contradança «introduzida em Cabo Verde por volta
do séc. XVIII, por aventureiros franceses que se fixaram residência na ilha de Santo Antão
influenciando até certo ponto a cultura local como é o caso da contadança»34
Da mesma forma é frequente encontrarmos alguns grupos que preferem os estilos
estrangeiros como o caso de samba do Brasil, da “dança do esquema”, da “ passada”,
“Kizumba” vindos de Angola. Outro estilo que não fica para trás é do Deca que é um ritmo
que aparece muito nas nossas discotecas como também tocadas nas nossas rádios.
33
Op. Cit. MONTEIRO Wladimir. .pag 113
34
Lima, Humberto. In Fragata. Revista de Bordo dos Transportes Aéreos de Cabo Verde- TACV. Nº 2.
Dez.1996.
45
Como forma de síntese gostaríamos de afirmar que mesmo recebendo influência de outras
culturas é necessário defendermos as nossas raízes musicais, mas para isso temos de apoiar
naqueles que cantam música genuína da nossa terra, porque se soubermos aproveitar dos
ritmos estrangeiros podem contribuir para o enriquecimento da nossa música, mas não
espelham as nossas raízes musicais.
c) Culinária
Devido aos fracos recursos económicos são importados vários géneros como por
exemplo passam a usar mais batata e arroz do que o milho, e igualmente o óleo vegetal e a
manteiga, também passam a ter mais preferência do que a banha de porco caseira, feita
anteriormente. Também podemos notar algumas semelhanças da gastronomia portuguesa na
Cabo – verdiana, como e o caso da caldeirada. Da mesma forma a introdução de novas
bebidas como whisky, gin, cerveja, vinho e mais recentemente vários tipos de refrigerantes e
sumos.
São notórios também géneros importados de outros países como hambúrguer, ketchup,
cachorro quente, pizza entre outros produtos enlatados. Da Africa chega o «Chuawarma»
comercializado em diversos bares e restaurantes de Cabo verde, aliás a gastronomia
tradicional cabo-verdiana é muito pouco divulgada nos nossos restaurantes, que preferem
servir pratos estrangeiros em detrimento dos nacionais.
Outra influência no hábito dos cabo-verdianos em usarem pão para acompanhar a sopa e
a canja, como também a preferência pelas massas, e o uso do vinho durante as refeições.
Os emigrantes também introduziram o hábito das saladas que antigamente não faziam
parte da ementa cabo-verdiana.
46
A emigração e a abertura económica de Cabo Verde vão permitir alterações na utilização
de alguns utensílios domésticos, especialmente com a introdução de electrodomésticos. Isto
também motivado pela melhoria das possibilidades económicas dos familiares dos emigrantes.
d)Vestuário
Neste sentido tornou-se notório o uso da ganga, roupas unisexo, t-shirts e os enfeites de
metal e plástico bem como o ouro e prata nomeadamente colares, pulseiras, brincos e anéis,
pois é difícil encontrar um cabo-verdiano que tenha um familiar emigrante que não tenha um
objecto de ouro ou prata para o uso pessoal ou para a venda. Há até mesmo rabidantes cujas
vendas se resumem a objectos de ouro e prata. Relativamente a este assunto, basta circular
pelas ruas da capital par ver que é difícil encontrar um cabo-verdiano que não tenha um
objecto de ouro.
47
Unidos da América. Também as calças tornaram-se mais largas e colocadas na abaixo da
cintura. As “tshirts” (camisa) são também compridas e largas. Os sapatos mais usados são
ténis de várias marcas americanas e europeia entre as mulheres nacionalizou-se o uso das
mini-saias, sapatos altos e chinelos importados principalmente do Brasil.
Também tornou-se hábito o uso de roupas tipicamente africanas o que achamos que são
introduzidas pelos vários imigrantes que residem em Cabo Verde, pois a comunidade africana
em cabo verde é cada vez mais elevada.
Com aos vários retornados que tem chegado ao nosso país a introdução dos « gang’s» na
maioria rapazes, quando saem a rua usam sempre roupas com características apresentadas
anteriormente e da mesma cor (geralmente em tons coloridas como rosa, vermelho) e em
alguns casos negro. Um ornamento indispensável para eles é o chapéu também em tons
colorido e curiosamente sem tirar a etiqueta.
48
de oiro (uma espécie de gratificação do ego), que ajudam a distinguir as posições na
hierarquia social (…), através dos tempos (…), no arquipélago a evolução demonstra
influências diversas distinguindo os cuidados para o uso diário ou o dos momentos festivos,
com uma forte tendência para o desaparecimento das diferenças e um nivelamento nos hábitos
de vestir e de cuidar do cabelo em cabo Verde»35
Relativamente a este assunto somos de opinião que tudo isto é graças a abertura de Cabo
Verde ao mundo, permitindo varias relações comerciais, fazendo com que os produtos
chegam á preços acessíveis para todos.
e)Religião
Nesta óptica, podemos referir a Igreja Nova Apostólica introduzida a partir de 1982 e
que se encontra presente em todas as ilhas com um número razoável de fieis.
Há também a Igreja Nazarena que foi introduzida em Cabo Verde nos finais do século
passado através da ilha Brava por emigrantes dos Estados Unidos. Neste momento encontra-
35
LOPES FILHO, J. Manifestações Culturais cabo-verdianas. In Jornal Arte e Letra .nº 74. Dezembro 2005. pag.
VI.
49
se em todas as ilhas de Cabo Verde. Também há que referir Igreja Adventista do Sétimo Dia,
igualmente introduzida em Cabo Verde através de emigrantes da ilha Brava nos Estados
Unidos. Essa igreja foi introduzida em Cabo Verde por volta de 1941. Da África podemos
falar do Islão que entrou em Cabo Verde após 1975 por intermédio de imigrantes
muçulmanos. Essa religião tem crentes em quase todas as ilhas de Cabo Verde e já há um
número razoável de cabo-verdianos que aderem a essa confissão religiosa, havendo inclusive
uma casa de oração (mesquita).
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é outra influência dos Estados
Unidos introduzida em Cabo Verde desde 1989. Actualmente encontra-se nas ilhas de
Santiago, Fogo, S. Vicente, Santo Antão, São Nicolau e Sal. Ainda temos a Igreja Universal
do Reino de Deus, e, a igreja a Pentecostal «Deus é Amor» introduzida em Cabo Verde desde
1990 e está presente nas ilhas de Santiago, Fogo, Sal e São Vicente, que são influências do
Brasil. Do continente americano há também as Testemunhas de Jeová.
A Assembleia de Deus tem a sua presença em cabo Verde desde Janeiro de 1989 mais
precisamente na ilha de Santiago.
f ) Arte
A arte em Cabo Verde tem-se desenvolvido em várias facetas, motivadas por grandes
transformações, notando-se uma certa evolução e introdução de novos estilos, principalmente
na arquitectura e na pintura.
A nível da arquitectura os emigrantes ao construírem na terra natal integram os modelos
arquitectónicos europeus existentes em CaboVerde, mas mudam os antigos que foram
trazidos pelos colonos para outros mais modernos.
Também muitas vezes os imigrantes ao fixarem residência no nosso país constroem
habitações de acordo com o estilo das suas origens.
As casas tradicionais estão a ser substituídas por duplex, casas cobertas de telhas e
vivendas. Torna – se difícil ver nos centros urbanos e mesmo rurais casas cobertas de palha ou
50
feitas de lata, todos querem ter uma casa bem arranjada tanto como forma de se adequar mais
a moda como também para o maior conforto.
Quanto a pintura segundo Danny Spínola «não teve uma força e uma presença relevante
no período colonial como aconteceu com a literatura». 36 Neste sentido pode-se afirmar que
nesta época não se pode falar de pintura.
Mas com a evolução da sociedade cabo-verdiana permitindo algumas formações no
exterior a arte ganha novos contornos, principalmente após a independência onde há uma
necessidade de afirmação da nossa cultura. Nesse período aparecem figuras de heróis,
paisagens, cenas de vários tipos de trabalho nomeadamente a escravocrata.
Outra influência tem a ver com o uso de mobiliários feitos em bambu, bem como
decorações de madeiras representando imagens dos países do continente. Esses objectos são
introduzidos em Cabo Verde pelos emigrantes e seus familiares, como também por outras
pessoas que adquiram-nos através dos negociantes.
g ) Meios de Transportes
36
SPINOLA,Danny. Uma Visão Panorâmica Sobre As Artes Plásticas. In CORREIA E SILVA, Filinto
Elísio.( coord.). Cabo Verde 30 anos de Cultura, 1975-2005.Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.Praia
2005.pp.288.
37
Op cit SPINOLA, Danny. In CORREIA E SILVA, Filinto Elísio.( coord.). Cabo Verde 30 anos de Cultura,
pag 290.
51
No tocante ao uso dos meios de transporte é notória uma profunda mudança, pois, as
pessoas já não andam a pé quando se deslocam a grandes distâncias, nem transportam cargas
à cabeça. O uso do burro e do cavalo quase extinguiram-se ninguém já se atreve a deslocar-se
nas estradas de burro ou cavalo pois pode ser motivo de troça principalmente pelos mais
novos, uma vez que todas as pessoas querem obter o seu carro, e se puderem, escolhem
sempre os mais sofisticados.
h) Observação
4– Consequências
38
VEIGA, Manuel. Uma Visão Prospectiva da Cultura. In CORREIA E SILVA,Filinto Elísio (coord.) Cabo
Verde 30 anos de Cultura 1975 – 2005. Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. Praia. Julho 2005. pp16.
52
Devemos ter uma posição crítica: não aceitar nada de forma inconsciente, devemos saber
o que aceitar e o que rejeitar. Há que pensar sempre que temos na nossa cultura algo de valor
capaz de nos dignificar e nunca a ideia que tudo o que vem do estrangeiro é melhor do que o
nosso. Devemos evitar a alienação para não corrermos o risco de adoptar elementos na nossa
cultura que nos encaminham para práticas menos correctas.
Em Cabo Verde, temos notado que algumas interferências têm trazido benefícios para a
sociedade e enriquecimento da nossa cultura, mas outros contribuem para a instabilidade
social desde medo, insegurança entre outros malefícios.
Neste sentido, passamos a exemplificar algumas consequências positivas e negativas
mais visíveis na nossa sociedade com as interferências do estrangeiro.
4.1 – Positivas
39
GOMES, Lourenço. Entrevista nº 7. Praia.
53
livres, praticando vários desportos, visível na proliferação de polivalentes, e outros espaços
desportivos.
Outro aspecto positivo tem a ver com a melhoria no aspecto visual uma vez que o
vestuário se diversificou, há uma linha de cosméticos, uma cultura de ir aos salões de
cabeleireiro pois todos querem estar bem apresentados.
Tudo isto mostra realmente que devemos estar sempre com as portas abertas para
intercâmbios culturais, uma vez que tornarão a nossa cultura mais rica se soubermos
aproveitar delas sem pôr em risco a nossa identidade cultural, uma vez que o tradicional e o
moderno devem andar lado a lado, ou seja inovar sim mas nunca esquecer as nossas raízes
que são a nossa marca, o que nos diferencia de outras culturas, o que nos identifica. Como diz
Manuel Veiga «Pensar que só o que vem de fora tem valor poderá significar alienação e não é
isto que a globalização com um rosto humano exige.» 40
40
Op.Cit. VEIGA, Manuel. . In CORREIA E SILVA,Filinto Elísio (coord.) Cabo Verde 30 anos de
Cultura.pp17
54
Isto mostra que podemos aceitar o que vem de fora mas nunca pensar que é melhor do
que o nacional. Devemos é criar mecanismos para que a tradição e a modernidade possam
caminhar lado a lado sem corrermos o risco de ser absorvidos no internacional, o que
conduziria seria a uma perda dos nossos valores e consequentemente da nossa identidade.
4.2- Negativas
As novidades também podem trazer malefícios para a nossa cultura e sociedade em geral.
Isto acontece quando as técnicas e novidades são absorvidas de forma superficial, sem
nenhum benefício para a nossa cultura. «As influências que nos invadem, que destroem as
nossas particularidades, que não são objecto de uma aceitação ou de uma assimilação critica,
são negativas.»41
Essa assimilação pode levar a choques de valores, normas e princípios como é o caso da
forma como os jovens, principalmente as meninas vestem, como dizem os mais velhos «quase
nua, mostram mais do que escondem», o que para uma sociedade onde antigamente se cobria
quase todo o corpo é por vezes chocante.
De acordo com um dos nossos entrevistados «uma coisa é absorver e outra é importar
modelos e decalca-los na cultura sem entender e interiorizar perdendo a nossa identidade»42,
ou seja podemos sim aproveitar elementos de outras culturas, mas sem correr o risco de
perder a nossa identidade, não devemos diluir, mas sim tentar preservar as nossas raízes, a
nossa história para que as gerações vindouras possam conhece-la.
41
VEIGA, Manuel. Entrevista nº 16. Praia.
42
COHEN, Zelina. Entrevista nº 10.Praia.
55
O que se nota frequentemente na nossa sociedade são o que uma outra entrevistada
chamou de «imitação irreflectida»43, principalmente pelos mais jovens, ou seja reproduzem
traços de outras culturas de carácter marginal, em benefícios próprios e não nas consequências
para a sociedade em geral. É o caso dos chamados «Thug», espécie de gangs, talvez
introduzida por retornados.«A cultura Thug, nasceu nas ruas da Nova Iorque, através de
jovens afro-americanos, estimulados por alguns artistas do hip hop que abordavam temas
alusivos a violência (…)».44 São grupos que têm como objectivo aterrorizar as pessoas, o que
de facto têm conseguido, pois as pessoas já não passeiam com segurança pelas ruas como
antigamente com medo de serem atacadas.
Muitos emigrantes ao verem a vida de luxo nos países de acolhimento acabam por entrar
em vias ilegais dedicando-se ao trafico, e contrabando, metendo-se com a droga, lavagem de
dinheiro, entre outras práticas, tudo para tentarem imitar aquilo que viram no estrangeiro.
Isto tem feito com que o número de consumidores de drogas e o narcotráfico tenha
aumentado em Cabo Verde provocando uma cultura de violência e insegurança.
Se por um lado a Internet encaminha as pessoas para o conhecimento saudável, por outra
influência os jovens a práticas inadequadas como é o caso da pornografia, cenas de violência
que muitas vezes acabam por ser reproduzidas na nossa sociedade.
43
LOPES, Antonieta. Entrevista nº 15 Praia
44
Associação Juvenil para Desenvolvimento de Actividades de Formação e Informação. Minis. Praia. 2006.p 2
56
De uma forma geral as interferências podem confundir alguns aspectos da nossa cultura,
permitindo a introdução de males e desvios de conduta, provocando intolerância, violência,
desrespeito e desvalorização de certos traços da ética, da moral e dos bons costumes, e do
valor cívico próprios da cultura cabo-verdiana.
«É que muitas vezes não se percebe onde começam e onde terminam alguns dos aspectos das
nossas manifestações culturais. Os limites ficam confusos. As gerações mais novas não
conseguem identificar o que é específico da nossa cultura, a nossa originalidade. Também os
mais jovens têm sempre a tendência de assimilar aspectos negativos de outras culturas como é
o caso de roupas com rasgos, cabelos despenteados. Brincos em várias partes do corpo et»c.45
No entanto algo está sendo feito no sentido de se preservar e divulgar a nossa cultura,
permitindo que ela seja um dos veículos transmissores para o reconhecimento do nosso povo,
e que ela seja capaz de ajudar no desenvolvimento do nosso país, uma vez que a cultura é o
cartão de visita de qualquer povo.
5 – Considerações Finais
De uma forma geral pode-se afirmar que a cultura cabo-verdiana sempre teve
interferências estrangeiras, uma vez que sendo um país desabitado a quando da sua descoberta,
torna-se impossível ter com o seu património alguma coisa que não fosse o seu território. O
seu povo nasceu do cruzamento de povos com origens étnicas e culturais diferentes. (africano
e europeu).
45
VIEIRA, Margarida. Entrevista nº14. Praia.
57
O povo cabo-verdiano aproveitou um pouco de cada cultura que coabitou no seu
território transformou-o na cultura cabo-verdiana, uma cultura feita de misturas mas com um
produto final que é só nosso, é a nossa identidade.
46
VEIGA, Manuel. Entrevista nº 16.
58
CONCLUSÃO
Quando Cabo Verde foi descoberto, as ilhas encontravam-se desabitadas, o que veio
permitir no seu território um cruzamento de povos de diferentes raças. Durante muito tempo
os contingentes europeu e africano vão ser forçados a coabitarem no mesmo espaço
provocando uma interculturalidade e dando origem a elementos culturais nem europeus e nem
africanos, mas uma adaptação das duas culturas totalmente diferentes, uma criação.
Como resultado da síntese desses vários elementos culturais vai surgir a cultura cabo-
verdiana. Neste sentido podemos afirmar que somos frutos da diversidade cultural. Formamos
a nossa cultura a partir de elementos de outras culturas que adoptamos e transformamos em
algo que nos identifica, algo que é capaz de nos representar e diferenciar dos outros.
No entanto constatamos que a nossa cultura continua a ser alvo de elementos de outras
culturas fruto da interculturalidade existente entre Cabo verde e os vários países com que ele
mantém relações, pois Cabo Verde é um país que está sempre virado para o mundo
principalmente pela sua situação geográfica.
Também cada vez mais há uma facilidade de entrada e saída do país fazendo com que
nesse vai – vêm fiquem alguns traços de outras culturas.
Neste sentido concluímos que a emigração é a principal causa da interferência
estrangeira na cultura cabo-verdiana, uma vez que o convívio dos emigrantes portadores de
uma cultura diferente leva os cabo-verdianos a assimilar aspectos de outras culturas.
59
A globalização também tem um peso muito forte nesta mudança, porque permite o
contacto mais frequente de Cabo Verde com o resto do mundo, há maiores meios de
divulgação pondo as culturas mais próximas, e maior divulgação de bens e serviços.
A nível da música constatamos que a interferência é mais sentida naquela que é feita
pelos emigrantes que nascem ou se criam na diáspora que acabam por juntar à música
tradicional os elementos electrónicos do país de acolhimento, até porque seria difícil gravar
um CD no exterior usando instrumentos tradicionais de Cabo Verde.
Muitas vezes também as leis do mercado fazem com que os nossos artistas e optam por
aquilo que está na moda e consequentemente com mais saída, pois num país com fracos
recursos como Cabo Verde existe ainda a supremacia do económico em detrimento do
cultural.
No vestuário tal como em vários outros aspectos as mudanças são mais visíveis na
camada mais jovem por estarem numa idade onde são mais vulneráveis as novidades. Os
vestuários chegam pelas mãos dos rabidantes, pelos emigrantes ou pelos bidões que enviam
os familiares. Também fazem cópias através da televisão principalmente pelas novelas ou
através de revistas e ainda pela Internet.
60
familiares de emigrantes e ainda por aqueles que estão em contacto com os imigrantes no
nosso país.
A nível da religião notamos que cada vez mais a entrada no nosso país de novas seitas
religiosas provocando certa perturbação na mente dos cabo-verdianos, que muitas vezes
acabam por deixar a antiga religião para seguir a mais nova que chega.
É claro que toda interferência numa cultura pode ser útil ou prejudicial conforme as
criticas que fizermos ao receber um bem de outra cultura. Nesta óptica concluímos que as
interferências estrangeiras na nossa cultura podem ser tanto positivas como negativas.
Positivas porque vão contribuir para o enriquecimento da mesma, permitindo acesso a
novidades evitando o desfasamento em relação aos países mais avançados.
No entanto essas manifestações podem ser negativas quando contribuem para a
destruição de alguns elementos da nossa cultura, como também introdução de certos
malefícios que podem acabar com a segurança e a estabilidade dos cabo-verdianos.
Para evitar que sejamos atropelados por outras culturas, antes de aceita-las devemos
fazer com que a nossa cultura seja preservada e divulgada para que ela seja reconhecida e
transmitida de geração em geração. Aceitar, é bom porque ajuda na diversidade e
enriquecimento da cultura mas nunca pensar que o que vem de fora é melhor do que o nosso,
porque o que nos identifica é o nacional.
61
BIBLIOGRAFIA
CARREIRA, António. O Crioulo de Cabo Verde – Surto e expansão. Gráfica Europam lda.
1983.
CORREIA E SILVA Filinto (Coord). Cabo Verde 30 anos de Cultura 1975 – 2005. Praia.
Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. 2005.
62
LOPES FILHO, J. Introdução à Cultura Cabo-Verdiana. Praia. ISE. 2003.
Periódicos
Fragata. Revista de Bordo dos Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) Números:
12./1996; 18/1996; 14/1997;1e2, /2003; 7/2004
63
Páginas de Internet consultadas
WWW.Novomilénio.inf.br/santos
www. Micoa. Gof. Ms/ MICOA/ ambiente/ Moçambie/numero 21/ povo htmail
www.vimb.br/ ics
Www.uea.angola.org/artigo
www.ic.cv/A%20CULTURA. Doc.
64
65
66
Instituto Superior da Educação
Departamento de Historia e Filosofia
Licenciatura no Ensino da História
Questionário
Este questionário enquadra-se na investigação para o trabalho do fim de curso com vista
a obtenção do grau de licenciatura no ensino da História.
Tem por objectivo recolher informações dos cabo-verdianos sobre as interferências
estrangeiras na cultura Cabo-verdiana.
Nome_________________________________________________________________
Idade____________________
Profissão _________________
B) Negativas
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
__________________________________
67
3- Acha que devemos fechar a nossa cultura a essas manifestações, ou aproveitar o
positivo para o enriquecimento da nossa cultura?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
____________________________________________________
4- Em que áreas são mais notória essas manifestações?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________________________________
Muito obrigada!
68
69
70
2 3
4 5
7
6
Alguns alimentos que constituem a base da gastronomia cabo-verdiana, bem como
alguns pratos típicos das ilhas de Cabo Verde.
71
72
8
1. Contradança
2. Idem
4. Batuque
5. Idem
6. Tabanca
73
7. Idem
11. Reza
74
75
«Thgug´s» grupos com influência dos Estados Unidos, que ultimamente têm aparecido em
Cabo Verde, principalmente na cidade da Praia. Fonte ( revista minis. nº 5. 2006)
76
Cabo-verdianos residentes na diáspora que interpretam estilos musicais Hip Hop e Reggae.
(Fonte revista Praia IIº série. Julho 2004.pp 26-27)
77
Os avanços técnicos e o desejo de gravar um CD no
estrangeiro, fazem com que os nossos artistas substituem os
tradicionais instrumentos acústicos, por outros mais
modernos, dando a nossa música uma sonorização diferente.
78
O uso de tranças postiças. Uma prática muito usada hoje em dia por muitas mulheres
cabo-verdianas. É uma influência Afro-americana.
79
O Carnaval cabo-verdiano assemelha-se muito ao Carnaval brasileiro nas vestes e nos
carros alegóricos. (fonte –Fragata, revista de bordo dos TACV.nº 2. 2003.)
80
Devido a escassez de produção local, bem como a influência da emigração e os meios de
comunicação, introduziram em Cabo Verde novos hábitos alimentícios.
81
nº0 2003
Idem
Idem
82
Fonte.Fragata. Revista Bordo dos
TACV.nº12.pp 33,34.
Idem
Os cosméticos difundiram-se por todas as partes do arquipélago.
83
Fonte : Ana Amarante
Fonte: Idem
Fonte: Idem
Fonte: Idem
Antigamente na maioria das vezes os meios de transportes utilizados eram os animais, que
pouco à pouco foram substituídos por transportes mais sofisticados.
84
Cada vez mais se nota uma grande intensificação dos meios de transportes. Cada um faz o
possível para adquirir o seu. Há uma cultura de andar somente de carro, pois quase
minguem já se desloca a pé, mesmo que a distância seja curta.
85
Os panos africanos e brasileiro, bem como os lenços usado pelo haper e as fitas na cabeça, são os
preferidos dos mais jovens, durante a ocupação dos tempos livres.
O uso de calças, mini-saia, top entre outros acessórios como os sapatos altos tornaram-se
um hábito entre as mulheres.
86
87