Relatorio Educacao Ambiental
Relatorio Educacao Ambiental
Relatorio Educacao Ambiental
em Resíduos Sólidos
Relatório de Pesquisa
Diagnóstico de Educação Ambiental
em Resíduos Sólidos
Relatório de Pesquisa
Governo Federal
Presidente
Marcelo Côrtes Neri
Chefe de Gabinete
Sergei Suarez Dillon Soares
Assessor-chefe de Imprensa
e Comunicação, Substituto
João Cláudio Garcia Rodrigues Lima
Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
URL: http://www.ipea.gov.br
Diagnóstico de Educação Ambiental
em Resíduos Sólidos
Relatório de Pesquisa
Brasília, 2012
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2012
FICHA TÉCNICA
Este relatório de pesquisa foi produzido no âmbito dos estudos que subsidiaram a elaboração do Plano
Nacional de Resíduos Sólidos, coordenados no Ipea por José Aroudo Mota e Albino Rodrigues Alvarez.
Autora
Maria Lucia Barciotte
Supervisor
Nilo Luiz Saccaro Junior
Este material foi elaborado pelo Ipea como subsídio ao processo de discussão e elaboração do Plano
Nacional de Resíduos Sólidos e coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. Dado seu caráter pre-
liminar, o conteúdo dos textos e demais dados contidos nesta publicação poderão sofrer alterações em
edições posteriores.
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não
exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou da
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções
para fins comerciais são proibidas.
SUMÁRIO
LISTA DE BOXES........................................................................................................................................................... 7
LISTA DE FIGURAS....................................................................................................................................................... 7
LISTA DE QUADROS.................................................................................................................................................... .7
LISTA DE TABELAS........................................................................................................................................................ 7
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................... 9
2 APRESENTAÇÃO . ................................................................................................................................................... 10
3 CONCLUSÕES ........................................................................................................................................................ 52
REFERÊNCIAS............................................................................................................................................................ 55
APÊNDICE.................................................................................................................................................................. 60
LISTA DE BOXES
Box 1 – Respostas de internautas à questão ligada ao encaminhamento dos materiais para coleta seletiva e reciclagem
Box 2 – Informações contidas em site especializado em sustentabilidade
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Disseminação de informações do portal Minas sem lixôes
Figura 2 – Portal Rota da Reciclagem
Figura 3 – Ilustração da Pesquisa Geração 5, da TV a cabo Nickelodeon
Figura 4 – Ilustração dos tipos de separação de resíduos
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – C
lassificação, segundo tipologia desenvolvida na pesquisa, dos estudos e pesquisas de educação ambiental
e resíduos analisados
Quadro 2 – Conexões entre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e as prioridades do PPCS
Quadro 3 – Diferentes caracterizações dos 5 Rs encontradas em projetos de educação ambiental
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Temas de interesse ou alto interesse de jovens
Tabela 2 – Impacto do lixo nas várias áreas
1 INTRODUÇÃO
O mundo não vai superar sua crise atual usando o
mesmo pensamento que criou esta situação.
Albert Einstein
2 APRESENTAÇÃO
O primeiro passo para a construção deste trabalho foi levantar textos acadêmicos entre
dissertações, teses e artigos científicos, bem como conteúdos pertinentes às prefeituras mu-
nicipais de pequeno, médio e grande porte.
Por meio de textos iniciais, são dadas diretrizes ao princípio desta estruturação do
campo de estudo e pesquisa, escopo orientador de todo o trabalho a ser desenvolvido.
A Política Nacional de Educação Ambiental, de 1999, estabelece um primeiro parâmetro:
Uma definição de educação ambiental é postulada por Ab’Saber (1996), que coloca
a educação ambiental como “o conhecimento da estrutura, da composição e da funcio-
nalidade da natureza, das interferências que o homem produziu sobre esta estrutura, esta
composição e esta funcionalidade” (Ab’Saber, 1996).
Segundo a Unesco:
a Educação Ambiental pode ser considerada como parte de um processo permanente, no qual
os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu ambiente e adquirem conhecimentos,
valores, habilidades e experiências que os tornem aptos a agir e resolver a problemas ambientais
presentes e futuros (Unesco, 1987).
há diversas e variadas formas de conceber e praticar, tanto a pesquisa quanto ações em educação
ambiental. De fato, as concepções de educação ambiental são diversas e variadas, pois dependem
das concepções que seus praticantes têm de educação, de ambiente e de sociedade. De outra
forma, podemos dizer que as concepções de educação ambiental sofrem as mais variadas inter-
ferências (e, portanto, assumem diferentes matizes) das diversas condições de sua produção, em
especial, das propostas produzidas e veiculadas, principalmente, pelas instâncias: organizações
governamentais (OGs), organizações não governamentais (ONGs), mídia, empresas, legislação
e normas etc.(Garcia Muñoz, 2002; Sato e Passos, 2002; Levy, 2004).
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 11
2.1 Tipologia das ações de educação ambiental em resíduos
Optou-se por categorizar algumas formas e olhares sobre o tema, a partir de trabalhos que
foram considerados significativos entre aqueles levantados e analisados primeiramente. Foi
possível, portanto, dizer que, para a área de resíduos sólidos, há várias possibilidades de
trabalho. Encontrando, no mínimo, quatro tipos diferentes de ações caracterizadas a seguir.
Entre estes, podemos citar o professor Emílio Eigenheer, um dos pioneiros dos estu-
dos de coleta seletiva e gestão integrada do Brasil:
Assim, quando falamos em educação ambiental na área de resíduos sólidos, é necessário primeira-
mente que se saiba, e se repasse, quais são as possibilidades e as dificuldades do setor, e qual a exe-
quibilidade das ações propostas e mesmo incentivadas. É importante ter bem claro o que realmente
se pode realizar no contexto atual dos municípios brasileiros. O educador ambiental voltado para a
questão de resíduos sólidos municipais precisa entender o que é e como deve funcionar um sistema
de limpeza urbana em toda a sua complexidade.
É fundamental desenvolver atividades de educação ambiental no sentido de motivar uma maior par-
ticipação do cidadão no sistema de limpeza municipal, mostrando-lhe as consequências ambientais,
econômicas e sociais de atos simples e diários como o correto acondicionamento de nossos resíduos, a
observância dos horários de coleta, o não jogar lixo nas ruas, o varrer e conservar limpas as calçadas –
medidas que há décadas são incentivadas, sem grande sucesso. Sabemos que isso seria decisivo para
uma eficiente gestão municipal de resíduos. A síntese desta linha de trabalho de educação pode ser
encontrada no clássico mote “cidade limpa, cidade civilizada” (Eigenheer, 2009).
Entretanto, mesmo estas informações, em tese simples, devem ser trabalhadas com
cuidado, clareza e criatividade, uma vez que são fundamentais para o sucesso de qualquer
plano, ação ou projeto.
de resíduos, coleta e destinação (por exemplo: dias de coleta seletiva versus dias de coleta
convencional, formas e locais adequados para o recolhimento de óleo de cozinha, lâm-
padas, pilhas, medicamentos em desuso, entre outros). No entanto sabe-se também que
muitos programas e projetos não alcançam êxito pela falta de participação de uma comu-
nidade pouco sensibilizada para o tema ambiental e que não entende a lógica destes novos
sistemas, que incorporam inclusive um novo olhar ético sobre os direitos, responsabilidades
e limites de cada pessoa, seja ela física ou mesmo jurídica.
A questão do lixo vem sendo apontada pelos ambientalistas como um dos mais graves problemas
ambientais urbanos da atualidade, a ponto de ter-se tornado objeto de proposições técnicas para
seu enfrentamento e alvo privilegiado de programas de educação ambiental na escola brasileira.
A compreensão da necessidade do gerenciamento integrado dos resíduos sólidos propiciou a for-
mulação da chamada política ou pedagogia dos 3Rs, que inspira técnica e pedagogicamente os
meios de enfrentamento da questão do lixo. No entanto, apesar da complexidade do tema, muitos
programas de educação ambiental são implementados de modo reducionista, já que, em função da
reciclagem, desenvolvem apenas a coleta seletiva de lixo, em detrimento de uma reflexão crítica e
abrangente a respeito dos valores culturais da sociedade de consumo, do consumismo, do indus-
trialismo, do modo de produção capitalista e dos aspectos políticos e econômicos da questão do
lixo (Layargues, 2002).
Com uma declaração um pouco menos abrangente que a proposta citada por Layrar-
gues, outro especialista no tema, Reinfeld (1994), cita neste caso:
a maioria das pessoas acredita que a reciclagem é uma boa ideia. Entretanto, nem todos têm dispo-
sição para reciclar, ou melhor, para segregar de forma adequada o material para uma posterior coleta
diferenciada – o hábito de jogar as coisas fora de qualquer jeito é difícil de ser quebrado. As pessoas
precisam perceber boas razões para a reciclagem, ou seja, devem entender completamente o progra-
ma de reciclagem e este deve ser conveniente. Elas devem ser motivadas a superarem suas objeções
ou inércia até que a reciclagem se torne um hábito (Reinfeld, 1994 apud Cortez, 2002, p. 45).
Sabe-se, portanto, que não basta informar para que a participação aconteça. Clara-
mente percebe-se que os projetos que mais conseguiram apoio da população e continuida-
de foram fundamentados em princípios e metodologias de sensibilização e mobilização, o
que fez a diferença. Este é o caso dos municípios de Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte,
entre outros.
Acrescenta-se que, neste segundo tipo, ainda se fala de trabalhos abrangendo toda
comunidade envolvida ou parcela com determinado tipo de proposta ligada ao sistema de
limpeza pública, ou mesmo com alguma forma de coleta diferenciada e inovações para a
população, as quais certamente aparecerão no Plano Nacional de Resíduos Sólidos.
QUADRO 1
Classificação, segundo tipologia desenvolvida na pesquisa, dos estudos e pesquisas de educação
ambiental e resíduos analisados
Tipo Tipo Tipo
Artigo/tese/monografia Ano
1 2 3
FURIAM,S. M.; GUNTHER, W. R. Avaliação da educação ambiental no gerenciamento dos resíduos sólidos no campus
X X X 2006
da Universidade Estadual de Feira de Santana.
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- - - 2009
v.14, n.4, out./dez.
De acordo com a pesquisa Ciclosoft,2 realizada a cada dois anos, 443 municípios brasilei-
ros, 8% do total, apresentam algum tipo de iniciativa envolvendo coleta seletiva institucionali-
zada por suas prefeituras municipais. Tendo ocorrido um aumento de 9% entre 2008 e 2009, a
Para que essas e outras experiências envolvendo processos de gestão integral, compar-
tilhada e de minimização de resíduos deem resultados, são necessários programas e projetos
sustentados por políticas públicas contendo estratégias de educação e comunicação am-
biental eficazes, capazes de realizarem as metas e objetivos propostos. Segundo a pesquisa,
22 milhões de brasileiros têm acesso a programas municipais de coleta seletiva, ou seja,
12% da população total.
Fica claro que trabalhar com este contingente de pessoas é uma excelente oportunidade
de transformação social e de aumento da percepção ambiental da população, assim como
a oportunidade de ampliação dos cuidados com o ambiente urbano e natural. Relevante,
ainda, é o fato de que a Política Nacional de Resíduos Sólidos e os Planos de Resíduos
Sólidos dela decorrentes devem expandir consideravelmente este número, ampliando mais
as possibilidades de atuação junto a um maior número de pessoas na direção de melhorias
contínuas nos serviços de limpeza pública e saneamento ambiental.
Destaca-se, ainda, a importância e a urgência de que esta abordagem, até agora tão
pouco considerada dentro da área de saneamento e destinação de resíduos, passem a ter
destaque e investimentos sérios em recursos humanos e financeiros, assim como em estra-
tégias, metodologias e novas linguagens.
Percebe-se que relevante número de projetos, ações e estudos envolvendo o tema re-
síduos e educação ambiental são prioritariamente realizados apenas em ambientes ligados
às instituições de ensino. Supõe-se que o termo educação ambiental e sua conceituação,
como, por exemplo, a presente no livro introdutório O que é Educação Ambiental, e muito
disseminado entre os interessados no tema, traga certo potencial para equívocos.
educação ambiental, como perspectiva educativa, pode estar presente em todas as disciplinas. Sem
impor limites para seus estudantes, tem caráter de educação permanente. Ela, por si só, não resol-
verá os complexos problemas ambientais planetários, mas pode influir decididamente para isso, ao
formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres (Reigota, 1994).
Definições e olhares semelhantes, mesmo corretos, podem ter funcionado como cau-
sadores de equívocos, principalmente entre educadores ou técnicos não especialistas em
minimização de resíduos sólidos ou mesmo em educação ambiental, mas que acabam, no
dia a dia, trabalhando com o tema em prefeituras municipais ou outras instituições, sejam
elas governamentais ou não.
Chama a atenção a forma que experiências, pesquisas ou artigos conduzidos por es-
pecialistas na área, como, por exemplo, as relatadas por Emílio Eigenheer (2008), têm um
investimento focado no público de fato envolvido – população e comunidade com real
acesso aos novos serviços disponíveis – e, consequentemente, maior retorno, eficiência e
eficácia nas ações e processos.
No quadro 1, percebe-se que praticamente 50% dos estudos levantados estavam fo-
cados no público de instituições de ensino, como se este ambiente fosse, por excelência, o
mais adequado ao processo de educação ambiental, esquecendo que o potencial público
participante dos projetos de coleta seletiva (ou outros serviços de limpeza pública diferen-
ciados disponíveis) encontrava-se em suas residências, empresas, áreas de comércio etc.
Percebe-se ainda, neste quesito, extrema dificuldade das prefeituras municipais. As in-
formações nos sites, em sua maioria, são incompletas ou precárias e o material de divulgação
(normalmente folhetos) não tem continuidade ou informações atrativas e claras. Sabe-se
ainda que o retorno deste tipo de ação4 de divulgação (folheto) é normalmente muito baixo.
Deve-se, portanto, buscar e investir em formas de divulgação das informações mais eficazes.
4. Especialistas de mídia colocam que um folheto com falta de precisão para atingir o seu público-alvo pode ter um retorno de mídia de apenas 0,1%.
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 17
A forma de trabalhar os conteúdos (tipo 2) que buscam ampliar o entendimento e
estimular o envolvimento, a partir de uma melhor percepção dos problemas e soluções liga-
dos aos vários aspectos dos resíduos sólidos, constitui talvez o maior desafio a ser superado
por qualquer plano que busque ser efetivo. Segundo Monteiro (2001), a coleta seletiva
Mas mesmo esta sensibilização pode tomar várias formas e seguir vários caminhos, em
busca de objetivos variados. Um deles pode ser, por exemplo, sensibilizar para as consequ-
ências da má disposição ou excesso de geração de resíduos ou ainda repassar dados e infor-
mações sobre as vantagens ambientais da coleta seletiva, ou outras ações de minimização
ou disposição adequadas de resíduos específicos. Neste caso, o objetivo básico seria ampliar
a participação e a eficiência da coleta seletiva.
Por seu turno, outra proposta de sensibilização poderia incluir objetivos mais amplos
e abrangentes. Como diz Figueiredo (1995),
além da coleta seletiva, é necessário que a sociedade reconheça que somente a reciclagem não será a úni-
ca medida para resolver os problemas relacionados à destinação do lixo. Torna-se necessária a redução
do consumo, tendo em vista que, intrínseco à modernidade, os produtos se tornam mais complexos,
face ao seu enorme processo até chegar ao consumidor final, sendo não reincorporados ao ciclo natural
de recomposição dos nutrientes utilizados para a sua confecção, ocasionando perdas ambientais assim
como poluição. Por isso a importância, nestes programas, de que sejam realçadas, a importância da sua
separação na fonte para posterior reciclagem e reutilização dos mesmos e, principalmente, medidas para
redução da geração de lixo. Com a disseminação de informações e estratégias para a conscientização e
sensibilização ambiental, é possível que os usuários da coleta seletiva possam usufruir deste benefício e
alcançar um novo modo de pensar e agir em relação ao consumo e desperdício.
Entretanto, as dificuldades nessa direção são inúmeras. Pesquisa realizada por Furiam
e Günther (2006), encontrou dificuldades dentro do campus da Universidade Estadual de
Feira de Santana, pois, segundo esta, “alguns protestos sobre este caráter normativo foram
observados nas respostas de alguns alunos quando comentaram que a ‘coleta seletiva não
deve ser imposta’ ou ‘parece ser lavagem cerebral’”. É interessante notar que estudantes uni-
versitários que já deveriam possuir conhecimentos básicos para entenderem as vantagens de
um programa de coleta seletiva coloquem dúvidas com relação à utilidade e oportunidade
da ação, por ser algo a que não estão acostumados.
É esperado, pelos resultados obtidos até agora, nas várias experiências analisadas, que
uma nova política, assim como os planos de resíduos sólidos, não recebam apoio da po-
pulação como um todo de forma imediata. Talvez um adicional de dificuldade seja o fato
de que até agora a participação ter sido considerada optativa ou até uma ação altruísta ou
benemérita, o que na realidade é um contrassenso.
Fica claro, com a PNRS e a consequente nova postura dos gestores públicos e das ou-
tras instituições envolvidas, que as ações de gestão compartilhada, apoio à logística reversa,
coleta seletiva e minimização de resíduos, entre outras, são parte de uma forma ampliada
dos serviços de limpeza pública (assim como de cuidados com os bens públicos, de forma
ampla, envolvendo inclusive os recursos naturais, patrimônio da população brasileira) e
que passam a fazer parte dos direitos e responsabilidades de cada um.
18 Relatório de Pesquisa
Essas duas situações deveriam ser incentivadas, mesmo quando não obrigatórias, nas
parcerias com as instituições empresariais, pois agregam valor aos trabalhos de responsabili-
dade social e às suas ações de sustentabilidade ambiental (contempladas pelas International
Organization Standardization – ISO 26.000 e 14.000, entre outras normas empresariais).
Com relação ao tipo 3 (envolvendo estudantes, espaços e comunidades escolares) acredita-
se que o trabalho pode ser melhor realizado por e a partir de políticas públicas governa-
mentais, sob a responsabilidade, principalmente dos ministérios e secretarias pertinentes
(Educação, Meio Ambiente, entre outros) e dos educadores preparados e capacitados para
esta finalidade específica.
O investimento de setores privados em projetos desta natureza pode, muitas vezes, ser
confundido com a divulgação de um determinado produto ou material em detrimento de
outros, o que poderia configurar uma ação de publicidade para o público infantil, o que
não é pertinente a uma pedagogia autônoma, uma vez que a criança está restrita ao ambien-
te escolar e o poder público e suas políticas devem zelar pelo seu cuidado.
em essência, este não é um plano governamental, ou do Ministério do Meio Ambiente, uma vez
que não se estrutura somente em ações governamentais. É um plano que abriga e agrega também
ações importantes do setor produtivo e da sociedade civil, valorizando esforços que têm por base o
bem público, o princípio da parceria e da responsabilidade compartilhada. Nos anima e fortalece
o Plano atual a recente aprovação e sanção pelo presidente da República da Política Nacional dos
Resíduos Sólidos. Ela embasa, sob muitos aspectos, as definições conceituais e os instrumentos
legais, assim como o delineamento de incentivos para que o Plano ganhe adesão e consistência
(Brasil, 2008).
O PPCS apresenta um leque de seis prioridades entre muitas que caberiam no escopo
de um conjunto de ações direcionadas às mudanças de padrão, tanto na produção quanto
no consumo, todos alinhados ao PNRS, que são:
• aumento da reciclagem;
• educação para o consumo sustentável;
• agenda ambiental na administração pública;
• compras públicas sustentáveis;
• construções sustentáveis; e
• varejo e consumo sustentáveis.
O próprio Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis ressalta a consonância
de ambos os planos:
o PPCS delineia prioridades que estimularão a produção e consumo sustentáveis no país, o que re-
duzirá a geração de resíduos e promoverá o melhor aproveitamento de matérias-primas e materiais
recicláveis. O PNRS, por sua vez, ao redefinir o olhar dos diversos setores sobre os resíduos sóli-
dos, determinando responsabilidades compartilhadas e instrumentos com impactos diretos sobre o
processo produtivo e também sobre os consumidores, favorecendo o cenário para que as ações do
PPCS sejam concretizadas (Brasil, 2008).
O que chama a atenção nos dois planos é o fato de que ambos estão assentados em
uma agenda positiva e necessitam, para sua implantação e sucesso, do envolvimento, par-
ticipação e apoio proativo dos vários setores da sociedade, o que repercute na necessidade
de sensibilização para o problema e mobilização para a ação. Esta necessidade reforça a
importância de programas, projetos e ações de educação e comunicação ambiental, assim
como o investimento em novas linguagens e a elaboração de instrumentos, metodologias
e materiais capazes superar os desafios atuais, como destacado pelo próprio documento:
o PPCS, em muitas dimensões, contribui para o debate das cidades sustentáveis, ao tornar o tema
da reciclagem e da disposição final de lixo um tema central, mas com soluções de curto e médio
prazos. Também contribui com o incentivo ao retrofit e às construções com critérios ambientais.
Além de ter a meta de aumentar a reciclagem – o que não será possível sem um considerável esforço
para obter a cooperação do consumidor, portanto da população – a união da PNRS com o PPCS
pode estruturar uma vigorosa indústria da reciclagem no Brasil, gerando milhares de empregos
além de fortalecer os programas de inclusão dos catadores. O quadro 2 ressalta a sintonia entre a
PNRS e as prioridades do PPCS.
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 21
QUADRO 2
Conexões entre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e as prioridades do PPCS
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo Educação para o consumo sustentável; Agenda Ambiental na Administra-
de bens e serviços; ção Pública (A3P).
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas Inovação e difusão de tecnologias em PCS; fomento à produção e consu-
como forma de minimizar impactos ambientais; mo sustentáveis.
Devem ser igualmente consideradas ações que tenham impacto no sistema cultu-
ral e educacional visando à mudança de comportamentos. O sistema cultural é com-
posto essencialmente pelos próprios indivíduos/consumidores e pelas instituições que
os influenciam, como as escolas e universidades, a mídia, o marketing e a indústria
cultural – com seus fortes apelos no sentido de gerar necessidades, alimentando expec-
tativas de consumo, criando elos entre ser e ter, levando as pessoas a identificarem o
consumo com maior bem-estar ou felicidade.
22 Relatório de Pesquisa
A A3P possui uma página extremamente bem estruturada e ilustrada, com entradas
para apresentação da agenda, manual de implantação com diretrizes passo a passo, além de
cartilha, vídeo e outras informações pertinentes.5
Entre as várias possibilidades e ações realizadas na A3P, serão citadas algumas emble-
máticas, como o Manual da Implantação da Coleta Seletiva Solidaria desenvolvido pela
Advocacia Geral da União (AGU) (Barki, 2009), assim como os vários fóruns, encontros e
ações desenvolvidas, disseminadas pelo portal.
• Circuito Tela Verde e editais curtas de animação ambiental;6 nas Ondas do Am-
biente (Nacional) - atividade de educomunicação pelo rádio - primeira fase do
programa começa este ano com o projeto Nas Ondas do São Francisco, em par-
ceria com a Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério
do Meio Ambiente (SRHU/MMA); e
• Telecentros – programa permanente de apoio a telecentros em áreas protegidas
(Unidades de Conservação – UCs e terras indígenas ) e comunidades tradicionais,
em parceria com o Ministérios do Planejamento (MP), da Ciência e Tecnologia
(MCTI) e das Comunicações (MiniCom). Consolidará espaços educativos onde
será otimizada a participação das populações nas atividades gestão ambiental (pla-
no de uso, manejo comunitário, monitoramento socioambiental, vigilância terri-
torial etc.).
E as ações de educomunicação continuadas e de suporte compreendem:
Neste texto, estão relatadas e descritas as ações emblemáticas desenvolvidas pelo Centro
Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR) em 2010, como demonstração da ampla gama
de possibilidades, realizadas em espaço desta natureza (Estado de Minas Gerais, 2010).
Portas abertas
Consiste na apresentação institucional e dos conceitos e atitudes ambientalmente corretos.
Desenvolve atividades dinâmicas para sensibilizar principalmente a população, principal-
mente a mais jovem, contribuindo, assim, para a formação de adultos conscientes com
relação às questões socioambientais.
Plano de comunicação
A parceria entre Servas e IBM resultou na elaboração de um plano estratégico de comunica-
ção, que propôs ações que aumentem a visibilidade do CMRR e envolvam novos parceiros.
A ONG francesa Operação Brasil disponibilizou 3 designers que criaram peças gráficas de di-
vulgação do CMRR adotando orientações contidas no Plano Estratégico de Comunicação.
Mídia Espontânea
O CMRR obteve retorno expressivo da imprensa universitária. Neste ano, desenvolveram
reportagens sobre o CMRR: Fumec, Uni-BH, Newton Paiva e PUC; para trabalhos acadê-
micos e/ou a serviço das respectivas TVs universitárias. A mídia em geral também, em varias
ocasiões, acompanhou ou noticiou atividades desenvolvidas neste centro com a população.
Oficinas de compostagem
Nas oficinas, ensina-se a fazer uma composteira caseira, com o objetivo de estimular o
aproveitamento do resíduo orgânico, ao produzir um composto rico em nutrientes, que
pode ser usado como adubo em jardins, hortas, canteiros.
Curso 3RsPCs
O Projeto 3RsPCs realiza, desde 2008, o curso de montagem, manutenção e recondiciona-
mento de computadores, com 105 horas/aula. Este curso é voltado para jovens com idade
entre 16 e 29 anos que estejam cursando ou tenham concluído o ensino médio em escolas
públicas. Os computadores recondicionados ao longo do curso são doados a instituições
carentes. Os resíduos gerados que não podem ser aproveitados são encaminhados para a
destinação ambientalmente adequada. Neste ano, o curso contou com um patrocínio par-
cial da Microsoft Brasil.
Telecentro
O Telecentro Comunitário foi inaugurado em agosto de 2009, resultado de parceria entre
o Tribunal de Justiça (TJMG), o MiniCom e o CMRR que, alinhados ao Programa Opor-
tunidade Legal – Olé, têm o objetivo de promover, por meio de um conjunto de atividades
de educação ambiental, inclusão digital, geração de emprego e renda o desenvolvimento
social e econômico de jovens em situação de risco ou em conflito com a lei. Outras institui-
ções também compõem a parceria: Servas; Feam; Secretaria de Estado de Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável; Empresa de Informática e Informações do Município de
Belo Horizonte (Prodabel); Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-MG);
Associação Profissionalizante do Menor (Assprom); e Associação Municipal de Assistência
Social (Amas).
Série Diálogos
Esta série tem o objetivo de estabelecer o diálogo entre empresas, associações, instituições
acadêmicas e de pesquisas e a população em geral. Realiza exposições e promove a dis-
cussão sobre geração, propriedades técnicas, possibilidades de melhorias ambientais e de
geração de trabalho e renda dos resíduos. Com periodicidade mensal, a Série Diálogos traz
ao CMRR renomados especialistas dos setores de infraestrutura, mineração, industrial e
social, que discutem sobre boas práticas e oportunidades de negócios da gestão de resíduos.
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 27
O público de participante Série Diálogos são estudantes, representantes de ONGs, insti-
tuições de pesquisas e universidades, empresas públicas e privadas e população em geral.
A Série Diálogo trouxe ao CMRR, durante 2010, um público de 13.484 pessoas nas cator-
ze séries realizadas, sendo nove delas no CMRR:
II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
21.5. Em consequência, a estrutura da ação necessária deve apoiar-se em uma hierarquia de obje-
tivos e centrar-se nas quatro principais áreas de programas relacionadas com os resíduos, a saber:
28 Relatório de Pesquisa
Áreas de Programas
Nesta direção, muitos projetos e ações, assim como materiais e textos de educação
ambiental, trabalharam durante vários anos divulgando e sensibilizando para o chamado
3Rs – Reduzir, Reutilizar e Reciclar (Barciotte, 1994). Entretanto, foi registrado em mate-
riais analisados uma ampliação do conceito 3 Rs para o conceito 5 Rs, e o que parecia um
avanço caracterizou-se como confusão para os educadores, técnicos, gestores ou estudantes
interessados ou envolvidos no trabalho com o tema. Foram analisados alguns casos conten-
do conceitos discordantes ligados aos 5 Rs como resumido no quadro 3.
QUADRO 3
Diferentes caracterizações dos 5 Rs encontradas em projetos de educação ambiental
Exemplo Rs
Recusar produtos que
Repensar hábitos e Reduzir a geração e o Reutilizar - aumentando Reciclar transformando
Caso 1 agridam a saúde e o
atitudes descarte a vida útil do produto em um novo produto
ambiente
Recusar produtos que Reutilizar e recuperar
Repensar os hábitos de Reduzir o consumo
Caso 2 prejudicam o meio ao máximo antes de Reciclar materiais
consumo e descarte desnecessário
ambiente e a saúde descartar
Caso 3 Reduzir Reutilizar Reciclar-Pré-ciclar Reeducar Replanejar
Caso 4 Repensar Reduzir Reutilizar Reaproveitar Reciclar
Caso 5 Reduzir Reutilizar Recuperar Renovar Reciclar
Caso 6 Responsabilidade Redução Reutilização Reciclagem Revolução
Os planos municipais devem incluir, entre outras exigências, metas de redução, reu-
tilização, coleta seletiva e reciclagem e outras que visem reduzir os rejeitos, assim como
ações específicas a serem desenvolvidas para a utilização racional dos recursos ambientais e
prevenção de todas as formas de desperdício, minimizando a geração de resíduos sólidos e
seus impactos ambientais e sociais.
Nesta direção, para que os planos municipais de gestão integrada de resíduos funcio-
nem de fato e para que os desafios funcionem como oportunidades, é fundamental que
os próprios municípios se percebam e funcionem de forma inovadora, criativa e proativa.
Uma das formas de trabalho municipal inovador é encontrada na rede de municípios que
se autodenominam cidades educadoras e que começaram a se organizar em uma associação in-
ternacional há mais de vinte anos. Em novembro de 1990, representantes de cidades de várias
regiões do mundo reunidas no Congresso Internacional das Cidades Educadoras, promovido
em Barcelona, fundaram a Associação Internacional das Cidades Educadoras (Aice). Trata-se
da associação cujo eixo principal é a ideia de que a educação não deve ser exclusividade de esco-
las. As localidades de todo o mundo que integram o grupo procuram articular seus múltiplos
espaços na tentativa de oferecer formação integral à população.
O que à primeira vista pode parecer uma utopia já está se tornando uma realidade no
que se refere ao esforço destas e de várias outras cidades que desejam fazer parte da Aice.
A cidade educadora se organiza como um sistema complexo em evolução constante, que
dá prioridade absoluta ao investimento cultural e à formação permanente de sua popula-
ção. Além das várias instituições sociais, como escola e família, a educação também deve
ser competência da cidade. Com este pensamento, foi lançada, em 1990, em Barcelona,
sede da Aice, a Carta das Cidades Educadoras, que enumera alguns princípios básicos para
definir uma cidade como tal (Congresso Nacional das Cidades Educadoras, 1990).
A cidade educadora é uma cidade com sua própria personalidade, ainda que interdependente
da do país do qual faz parte, e que não se fecha em si mesma, mantendo, ao contrário, relações
com outros centros urbanos de seu território e com cidades semelhantes em outros países, com
o objetivo de aprender, trocar experiências e, portanto, enriquecer a vida dos seus habitantes.
A cidade educadora é um sistema complexo em evolução constante, que dá prioridade absoluta ao
investimento cultural e à formação permanente de sua população. A cidade é educadora quando
reconhece, exerce e desenvolve, além de suas funções tradicionais (econômicas, sociais, políticas e
de prestação de serviços), uma função educadora no sentido de assumir uma intencionalidade e
uma responsabilidade em relação à formação, à promoção e ao desenvolvimento de todos os seus
habitantes, a começar pelas crianças e jovens (Almeida, 2005).
• assumir a cultura, antes de tudo, como a busca de sentidos para a vida, o que implica
não a ver como mais uma frente de consumo passivo, mas, sobretudo, como um
processo de produção que motiva a criatividade e estimula a curiosidade;
• conceber a educação, simultaneamente, como um processo, como um meio e como
um produto que, por meio destas diferentes dimensões, se constitui como um bem
social que a valoriza e dinamiza;
• acolher uma concepção aberta e diversificadora de saberes, de práticas e de expressões
culturais, procurando delinear tempos e espaços formais e informais de permuta e de
aprofundamento das respectivas idiossincrasias e potencialidades;
• cooperar com as outras cidades, surpreendendo as semelhanças e experimentando o
desafio das diferenças;
• explorar educativamente o patrimônio das tradições, no mesmo movimento em que,
com a identidade que elas proporcionam, faz delas o solo da inovação;
• consolidar as escolas como instituições educativas ao mesmo tempo em que valoriza
e cria outros núcleos de formação onde as pessoas possam dar o seu saber e usufruir
o saber dos outros;
• acolher os que querem aprender e ensinar, sem prejuízo de submeter todas as
propostas e projetos a critérios de exigência organizativa e aos princípios de um
plano regulador;
• motivar todas as pessoas e instituições para participarem na atividade educativa como
um projeto pessoal e coletivamente gratificante de vida em comum;
• propor a todos uma relação de contrato ético mutuamente responsabilizante; e
• definir prioridades de formação em função de um processo de avaliação de carências,
de objetivos e de recursos (UNIC, [s.d.]).
A Aice reúne atualmente mais de 400 cidades de 35 países com o objetivo de traba-
lhar coletivamente para melhoria da qualidade de vida dos cidadãos a partir da aplicação
ativa da sua carta de dos princípios. Os membros da Aice têm contato direto com outras
cidades, em âmbito nacional e internacional, e acesso a informações sobre programas,
iniciativas e recursos de organismos internacionais como a Unesco, a União Europeia e
outras redes de cidades.
A Rede Brasileira de Cidades Educadoras é uma das sete redes territoriais da Aice
e é composta pelas cidades de Belo Horizonte, Porto Alegre, São Paulo, Cuiabá, Caxias
do Sul, Santos, Santiago, Campo Novo de Parecis, Dourados, Gravataí, Jequié, Montes
Claros, Piracicaba, Santo André, São Bernardo do Campo, São Carlos e Sorocaba. Os
municípios participantes buscam trazer o conceito de cidade educadora para a realida-
de nacional, adaptando-o às políticas públicas locais. Coordenada por Belo Horizon-
te, a Rede Brasileira das Cidades Educadoras tem firmado importantes parcerias com
instituições da sociedade civil, realizando atividades com o objetivo de potencializar
o intercâmbio de experiências e qualificando os debates sobre a gestão das práticas
educativas nas cidades.9
todas as políticas públicas têm a capacidade e a necessidade de serem educativas para serem efetivas.
A separação do lixo, por exemplo, só tem sucesso se houver um processo de educação na comuni-
dade. Ou se tem isso ou a política não funciona.
Outros educadores de destaque também valorizam um uso mais amplo das possibilida-
des presentes nos municípios e o envolvimento de outros espaços, como é o caso do educa-
dor Tião Rocha, coordenador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, que desde
o seu lançamento em 1985, no município de Belo Horizonte, promove a educação popular
e o desenvolvimento comunitário a partir da cultura – a matéria-prima de ações institucio-
nais e pedagógicas. Segundo ele, “os espaços públicos também devem ser usados para esta
finalidade. As ruas são palco de manifestações, comemorações, protestos. Não quero tirar
ninguém delas, e sim, transformá-la, para que fique atraente para todos”.
Cada um destes temas conta com uma visão, objetivos associados à visão e ações
específicas para alcançar os objetivos pactuados. Fica claro que a questão dos resíduos em
toda a sua complexidade e diversidade de desafios e soluções, assim como das causas dos
problemas e da sustentabilidade como um todo podem ser incorporados praticamente em
todos estes grupos de trabalho citados.
Para alcançar esta visão, é necessário mobilizar a sociedade para comprometer-se com
o sistema educacional, envolvendo mais a família, empresas e redes sociais. O professor
passará de “detentor do conhecimento” a “mediador do processo de aprendizagem”, pois o
cidadão-educador será também produtor de conhecimento e pesquisador das diversas áreas
do saber.
11. Para mais informações, visite o portal da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI 2011). Disponível em: <www.cici2011.org.br>.
34 Relatório de Pesquisa
Será relevante que, no âmbito da PNRS e dos planos decorrentes, as cidades sejam
incentivadas e mobilizadas para o envolvimento com novas posturas e ações como, por
exemplo, as fomentadas e discutidas pelas cidades educadoras e inovadoras. Uma percepção
burocrática e conservadora da questão dos resíduos e o cumprimento dos planos apenas de
uma forma técnica e objetiva terá muitos obstáculos e certamente não será capaz de alcan-
çar os objetivos e metas da PNRS, além de ocasionar extensas possibilidades de desperdício
de recursos humanos, econômicos e ambientais.
Talvez uma das mais importantes possibilidades presentes nas diretrizes e metas do
Plano Nacional de Resíduos Sólidos esteja presente nas oportunidades de mudança nos
padrões de produção e consumo, na relação entre os munícipes com os órgãos e políticas
públicas, especialmente aquelas ligadas às áreas de saúde, meio ambiente, educação e cul-
tura, assim como com os espaços urbanos e naturais da sua cidade.
Foi detectado que, pela novidade, a implantação desta ação apresentava algumas
dificuldades básicas como: o desconhecimento total ou parcial do próprio sistema e seus
objetivos, procedimentos e vantagens; a falta de conhecimento das populações sobre a
forma de utilização das infraestruturas e os baixos índices motivacionais para as ques-
tões ambientais.
O programa Minas sem Lixões coloca como objetivo desenvolver: visitas técnicas
para verificar a situação dos locais de disposição final dos resíduos sólidos urbanos; ca-
pacitação de agentes públicos; promoção de encontros técnicos; produção de material
técnico didático; e fomento à criação de redes e arranjos de gestão compartilhada de
resíduos sólidos urbanos.
Na realidade, o espaço reservado para a educação ambiental leva o nome de Nas Es-
colas e traz como chamada: “as crianças devem ter acesso às informações ambientais para
a construção dos conhecimentos que nortearão as práticas sustentáveis do futuro”.13 Esta
área do portal apresenta o programa Geração Menos Resíduos e, como linha de atuação,
em 2011, a educação para a sustentabilidade. A iniciativa está baseada em um curso para
as escolas de três municípios (Presidente Bernardes, Senhora de Oliveiras e Piranga), que
resultarão como produto final na produção de redações e projetos envolvendo o repasse das
informações segundo fluxograma próprio (figura 1).
FIGURA 1
Disseminação de informações do portal Minas sem Lixões
Familiares? Vizinhos?
População em geral?
Grupo gestor
MSL/FIP
12. Para mais informações, ver o portal do programa Minas sem Lixões. Disponível em: <http://www.minassemlixoes.org.br/>.
13. Disponível em: <http://www.minassemlixoes.org.br/nas-escolas/msl-nas-escolas/>.
36 Relatório de Pesquisa
De acordo com o portal Minas sem Lixões, o programa Geração Menos Lixo des-
tina-se a promover a reflexão de alunos e profissionais da área de educação sobre a
responsabilidade de cada um na construção de não somente um distante futuro, mas
também, um presente sustentável, destacando os aspectos de cidadania na conservação
e preservação do meio ambiente.
Para isso, serão produzidas e distribuídas, de acordo com o programa, cartilhas que
relacionam meio ambiente e resíduos, assim como promovidos treinamentos para os pro-
fissionais da área de educação e dos Grupos Gestores responsáveis pelas coletas seletivas dos
municípios. Estes profissionais, juntamente com os alunos, desenvolverão ou orientarão
projetos ou redações na área ambiental que abordem o tema resíduos sólidos e que serão
selecionados por um júri e premiados em evento específico.14
Um espaço virtual deste tipo, que possa fornecer informações de locais e formas de pro-
cedimento relacionados à logística reversa, é extremamente útil e parece fundamental para o
PNRS e planos decorrentes. Salienta-se, entretanto, a responsabilidade dos criadores e media-
dores do portal, especialmente no caso de gestores públicos com as informações veiculadas.
A estimativa é que após quatro anos de sua instalação, a gerenciadora faça com que o índice de
reciclagem do setor vidreiro atinja 50%. Em termos financeiros, equivale a dobrar os atuais R$ 60
milhões movimentados por ano pelo setor. Se os esforços resultarem na adesão de todos os envasa-
dores existentes no país e de todos os municípios brasileiros, o valor movimentado pela reciclagem
do vidro pode atingir R$ 220 milhões por ano (Instituto Akatu, 2011b).
38 Relatório de Pesquisa
Atualmente, os dados da Abividro indicam que hoje se recicla bem menos que a me-
tade do que é produzido, algo em torno de um milhão de toneladas por ano. Segundo o
superintendente, as indústrias vidreiras irão investir inicialmente R$ 10 milhões na criação
da gerenciadora, que será administrada por uma equipe profissional independente e terá
um conselho composto por membros das várias instâncias envolvidas. “Para que a gerencia-
dora execute suas funções, a Abividro vai investir até R$ 60 milhões por ano”.
De acordo com a Abividro, o modelo proposto foi inspirado nas práticas de recicla-
gem adotadas com sucesso em países europeus, onde a precursora foi a Alemanha, que, em
1991, instituiu uma agência gerenciadora para centralizar o processo, cuja responsabilidade
é a de coordenar a logística reversa de materiais utilizados em embalagem em âmbito na-
cional (Instituto Akatu, 2011b).
Nessa proposta, aparece a figura da agência gerenciadora, que, com orçamento e cor-
po técnico, será responsável pelas relações entre os gestores municipais, as cooperativas e as
relações com o mercado e com a sociedade. Está entre seus objetivos, ainda, a promoção de
campanhas de conscientização sobre reciclagem, o que inclui investimentos em processos
educativos e de educação ambiental.
Fica claro, nesse caso, que existe uma janela de oportunidades para a gestão comparti-
lhada e o trabalho conjunto dos vários setores da sociedade, inclusive com o investimento
de recursos privados. Resta saber de que forma e a partir de quais estratégias, metodologias
e instrumentos estas parcerias acontecerão. No que está relacionado com os processos edu-
cativos, torna-se necessário um cuidado crescente a medida que o aumento e a obrigato-
riedade da entrada de novos atores, caso da logística reversa, previsto na PNRS, pode, se
não bem entendido e orientado, ocasionar problemas além de perda de oportunidades de
trabalho efetivos e bem conduzidos. Um exemplo de iniciativa que já ocorre há alguns anos
pode servir como caso a ser discutido e será apresentado a seguir.
O Instituto Autoglass, criado pelo Grupo Autoglass para a realização de projetos edu-
cativos, foi declarado como utilidade pública pela Câmara Municipal de Vila Velha, no Es-
pírito Santo. O trabalho realizado pelo instituto ensina a reciclagem de vidros automotivos
e a educação socioambiental, atuando principalmente em escolas do município. O institu-
to coloca que, nestas ações, os agentes da Autoglass conscientizam crianças e adolescentes
sobre a coleta seletiva de lixo, a valorização dos resíduos gerados e as possibilidades de
reutilização. O instituto seleciona escolas localizadas na região metropolitana do Espírito
Santo e entra em contato para apresentar o projeto e fechar a participação.
Este instituto, inclusive, foi responsável, de acordo com o seu próprio material de
divulgação, pela elaboração da Lei Estadual no 9.013, que determina que as empresas que
fabricam, comercializam, importam ou instalam vidros devem se responsabilizar pela cole-
ta, reciclagem e descarte final dos produtos (Instituto Autoglass, 2011).16
Graças à consciência ambiental dos alunos da EMEF Rita de Cássia Silva Oliveira e
à iniciativa do Instituto Autoglass, a festa de formatura da 8ª série está garantida. Os estu-
dantes da 8a A do turno matutino empenharam-se ao máximo para coletar mais de 1.500
itens recicláveis, venceram a Gincana Ecológica e ainda levantaram fundos para a come-
moração. A 4a série B foi a turma vencedora do vespertino, com 1.076 materiais coletados,
que serão destinados à reciclagem. O meio ambiente agradece pelo total de 10.356 itens
reciclados arrecadados pelas 28 turmas (matutino e vespertino) da escola.17
Pelo menos três questões podem ser levantadas, de forma imediata, a partir da análise
destas iniciativas. A primeira é o não foco na minimização e na relevância da redução e reutili-
zação dos resíduos, que deveriam ser prioridade em trabalhos educativos do tipo 3 (educação
ambiental envolvendo a comunidade escolar). Outra questão é o problema de armazenamen-
to destes materiais no ambiente escolar. Nos últimos vinte anos, muitos projetos que tiveram
como foco o recolhimento de materiais recicláveis nestes ambientes foram inviabilizados e
desativados pela dificuldade com o cuidado e revenda e destinação correta destes materiais
assim como pelos transtornos que causaram às escolas em que foram implantados.
A terceira questão e, talvez mais séria, é o foco na competição para alavancar o en-
volvimento de crianças e jovens. Será extremamente insatisfatório se o setor privado, mais
afinado com o ambiente de concorrência de setores empresariais, transformasse esta moda-
lidade de ação na estratégia matriz para a busca da participação das comunidades e escolas,
assim como de toda a população.
Fica claro que, muitas vezes, pode existir dissonância entre os objetivos válidos e
pertinentes de logística reversa de empresas e associações e de projetos educacionais de
educação ambiental envolvendo o tema resíduos sólidos. Enquanto, para o setor privado
e até para as cooperativas, é importante coletar a maior quantidade de materiais possível
para cumprimento da legislação ou ampliação do retorno econômico, para os processos
educativos ligados à sustentabilidade de uma forma sistêmica, o objetivo maior é ma-
ximizar o cuidado com os recursos naturais, minimizando os desperdícios, inclusive de
água e energia, que, muitas vezes, não são considerados, mas fazem parte do ciclo de vida
de cada produto ou material.
É importante que existam diretrizes que orientem e facilitem o trabalho dos vários
setores da sociedade e inclusive dos educadores sobre estas questões, uma vez que a função
da educação ambiental e da escola é, cada vez mais, promover oportunidades educativas
presentes e observadas no cotidiano de crianças e jovens. Desta forma, pode-se incluir a
sensibilização/mobilização para a questão dos resíduos como parte fundamental da prática
pedagógica atual.
Que cada escola funcione como ponto de coleta de materiais recicláveis, isto é, de
resíduos colocados no mercado pelo setor produtivo e descartados após uso pela população,
foge dos objetivos e até inviabiliza o processo educativo, por exigir dos gestores, funcioná-
rios e educadores tempo e habilidades técnicas que não lhes compete.
19. Para mais informações, visite o portal do projeto Eco-eletro. Disponível em: <http://www.institutogea.org.br/ecoeletro/>.
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 41
Com isso, os catadores correm risco de contaminação pelos elementos tóxicos contidos nos
eletrônicos, além de não conseguir alcançar bons preços na sua venda. Separar e classificar o
lixo eletrônico por tipo de material e encaminhá-lo para diferentes empresas de reciclagem
especializadas pode render aos catadores até cem vezes mais, em algumas peças, que a atual
forma de tratamento.
Esse projeto chama a atenção pela força e investimento dos apoiadores e parceiros (Petrobras,
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), que, aliados a uma OSCIP com reconhecida ex-
periência na área, desenvolvem um projeto focado na capacitação dos catadores e de cooperativas
já responsáveis por coleta e destinação adequada de materiais recicláveis.
Vale ressaltar que, além da capacitação dos catadores, este trabalho alcança outros ob-
jetivos afins à educação ambiental em resíduos e educação para o consumo. Ao ser divulga-
do pela mídia em geral, aproveitando inclusive o interesse que o tema eletroeletrônicos atrai
dos vários setores e da população, auxilia na sensibilização para a questão da destinação
adequada, assim como em relação à obsolescência programada e aos exageros de consumo.
Esta divulgação de projetos, de preferência bem elaborados, conduzidos e monitorados,
funciona, portanto, como educação ambiental não formal (tipos 1 e 2) e devem ser incen-
tivados e estimulados.
Trata-se de uma forma de logística reversa social que consiste na mobilização de orga-
nizações do terceiro setor que tenham um trabalho social efetivo, para que passem a atuar
na coleta e recepção deste óleo na comunidade que atuam. O óleo é vendido para uma
usina de biodiesel e o valor é revertido para financiar os projetos sociais da organização e
contribuir para a sua sustentabilidade.
Atualmente o Programa Bióleo tem mais de duzentos instituições sociais, cujos proje-
tos socioambientais são sustentados ou subsidiados pela renda auferida com a venda deste
resíduo. Entre os parceiros do programa, a associação no Jabaquara (ACM) utiliza o di-
nheiro obtido com a venda deste resíduo para financiar um de seus projetos culturais que
trabalha com crianças e jovens da periferia que formaram um grupo de maracatu, onde
fabricam seus próprios instrumentos e vestimentas.20
Por certo que a educação para o consumo responsável (ou consumo responsável, ético,
crítico, consciente, ou, simplesmente educação para o consumo), enquanto metodologia e
prática, absorve, interage e dialoga com várias outras vertentes educacionais – como a edu-
cação popular, a educação ambiental ou mesmo a educação para valores –, aproveitando e
unindo pontos de interface com uma e com outra e, assim, construindo suas bases próprias.
Esta pesquisa (tabela 1) traz alguns resultados a serem considerados, iniciando pelos
temas de interesse dos jovens, onde quatro foram destacados. A pesquisa não mostrou
grandes alterações com relação à comparação entre 2001 e 2009, mas chama a atenção a
diferença entre o interesse, manifestado pelos jovens, por temas como ver TV e fazer com-
pras em contraposição a ler e literatura, assim como por política e sociedade.
TABELA 1
Temas de interesse ou alto interesse de jovens
(Em %)
2001 2009
Alto interesse Interesse Total Alto interesse Interesse Total
Assistir TV 35 37 72 38 44 82
Fazer compras 37 36 73 23 47 70
Ler e literatura 20 31 51 18 34 52
Política
11 20 31 8 22 30
e sociedade
Com relação ao tema resíduos sólidos, a pesquisa mostra, segundo o Instituto Akatu,
um processo de evolução. Em uma perspectiva temporal, de 2001 a 2009, foi avaliada a
percepção dos jovens sobre o impacto que o modo de descartar o lixo tem em diferentes
44 Relatório de Pesquisa
É certamente um dos resultados mais significativos desta pesquisa e representa uma enor-
me vitória de todos aqueles que trabalham pela sensibilização e mobilização da sociedade para
as questões ambientais, especialmente no âmbito dos resíduos. Como desafio futuro, pode-se
dizer que, embora reconhecer que o lixo impacte tudo seja um primeiro e importante passo,
agora é crucial mostrar que o impacto do lixo, além de ser custoso para as grandes cidades,
causa problemas também na água, no ar, no aquecimento global etc. (Instituto Akatu, 2009).
TABELA 2
Impacto do lixo nas várias áreas
(Em %)
Meio ambiente Sociedade Economia Todos Nenhum
2001 2009 2001 2009 2001 2009 2001 2009 2001 2009
64 49 10 7 6 6 2 35 27 5
Ainda como resultado positivo, a pesquisa traz que, na opinião de 78% dos jovens,
as pessoas em geral mudariam de comportamento se estivessem mais informadas sobre as
causas e consequências dos problemas ambientais e das mudanças climáticas. Grande par-
te dos jovens também concordou com as afirmações de que as pessoas deveriam ser mais
conscientes sobre o meio ambiente (45%) e que as pessoas deveriam espalhar informações
sobre este tema (35%).
Há cinco anos, quando o levantamento começou a ser realizado, 26% não conside-
ravam a questão ambiental na hora de consumir, contra 37%, de 2011. Segundo a Feco-
mércio, houve ainda redução de hábitos como fechar a torneira ao escovar os dentes (caiu
de 92% para 86%), apagar as luzes ao sair de determinado ambiente (de 93% para 88%) e
se programar antes das compras de alimentos para evitar desperdício (de 76% para 72%).
A pesquisa mostrou que, em relação à idade dos entrevistados, os idosos têm maior
preocupação quanto aos hábitos mais saudáveis para o meio ambiente: 91% dos brasi-
leiros de terceira idade fecham a torneira ao escovar os dentes (apenas 81% dos jovens
cultivam este hábito). A prática de separar o lixo para reciclagem também é maior: 54%
contra 37%, respectivamente.
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 45
Na comparação entre os sexos, as mulheres mantêm hábitos mais sustentáveis, ainda
que não de forma significativa: 90% apagam a luz ao deixar um recinto, enquanto 86% dos
homens lembram de “apertar o botão”. Ao escovar os dentes, 88% das mulheres fecham a
torneira, contra 84% dos homens.
Outro grande cuidado a ser considerado com relação à educação para o consumo,
diz respeito à relação das crianças brasileiras com o consumo e o consumismo. Pesquisa
realizada na América Latina, pelo canal Nickelodeon com crianças, adolescentes e mães
para descobrir o novo perfil da chamada Geração 5.0, mostrou que as crianças brasileiras
são as mais sedentárias, despreocupadas com o meio ambiente e intolerantes em relação às
diferenças e diversidades sociais.24
24. Para mais informações visite o portal do Instituto Alana. Disponível em: <http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=5>.
25. Disponível em: <http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca.aspx?v=8&pid=40>.
46 Relatório de Pesquisa
FIGURA 3
Ilustração da Pesquisa Geração 5, da TV a cabo Nickelodeon
Obs.: imagem reproduzida em baixa resolução em virtude das condições técnicas dos originais disponibilizados pelos autores para publicação
(nota do Editorial).
FIGURA 3
Ilustração dos tipos de separação de resíduos
Dentro do tema educação para o consumo responsável, uma questão que chama a aten-
ção e provoca muitos equívocos está relacionada à necessidade ou não de lavagem dos ma-
teriais recicláveis para o encaminhamento à coleta seletiva ou postos de recolhimento. Uma
pesquisa por uma série de sites e blogues permitiu perceber que, realmente, a questão tem
provocado polêmica e informações desencontradas, inclusive da mídia dita especializada. No
box 1 resumiu-se algumas percepções, informações e respostas, permitindo a reflexão e al-
48 Relatório de Pesquisa
gumas considerações sobre a questão. Chama a atenção, por um lado, o interesse de pessoas
comuns e, pelo que se percebe, pouco instruídas formalmente, e as respostas claras e objetivas
de usuários ou técnicos especializados. Ficam claros, ainda, os equívocos, com internautas ci-
tando, inclusive, informações pertinentes a programas desenvolvidos em outros países, como
o caso do Japão, onde a coleta seletiva citada tem como finalidade destinar resíduos para a
incineração e não para a reciclagem, como é o caso dos municípios brasileiros e das orienta-
ções da PNRS.
BOX 1
Respostas de internautas à questão ligada ao encaminhamento dos materiais para coleta seletiva
e reciclagem
oi tudo bem gostaria que vc me ajudace,pois morro em guaianazes de um lado de um corrego e estive
pensando o que eu posso fazer para ajudar o meio ambiente pq as pessoas jogam muito lixo e reciclagem
no rio e por qualza disso tem muito rato e estive aqui pensando o que devo fazer para ajudar o planeta e
as pessoas ande eu morro e gostaria de saber como eu devo comesar a reciclar estive pensando se eu fosse
de casa em casa e desse sacos pr as pessoas a comesar a separar as reciclagem e eu colocase uma meta
quem coletar mais o mês todo eu desse algum tipo de premio séra que é legal quero disser séra que eu não
vou ser pressa.mais também gostaria de saber como devo vender e aonde devo vender,pq se eu consequise
vender as reciclagem eu poderia ajudar as pessoas que morra aqui a arumar o lugar aonde morramos a
construir quem sabe um tipo de associasão para mulheres e crianças ou pr que precisa tenho muitas ideias
mais não sei por aonde devo comesar se vcs pudesem me ajudar vou ficar muito grata espero a resposta de
vcs anciosa obrigada.
...sim tenque lavar por que o cheiro pode transmitir bacterias, protozoarios e fungos
Respostas indiretas 2
"Não vou lavar o lixo reciclável. Não vou aumentar meu consumo de água para limpar coisas que não têm
mais utilidade para mim". Aparecida entende que a obrigação pela lavagem é da Prefeitura. "Já pago a taxa
de lixo. No máximo, passo uma agüinha na caixa do leite".
"Uso detergente para limpar embalagens. Passo várias vezes embaixo da torneira". "Além da Sa-
besp, o prédio é servido por uma mina d'água que existe dentro do condomínio. Ela serve para regar
os jardins, lavar o pátio e os três subsolos de garagem", diz. Depois de tratada, esta água também
é utilizada para encher a piscina do condomínio. "Com isso, economizamos a água da Sabesp".
(Síndica do Edifício Eastower, na Vila Prudente, zona lestedo município de São Paulo),
Se a pessoa quiser fazer a separação do lixo seco e entregar o material limpo, não há problema, desde que
para isso seja utilizada a água eliminada pela máquina de lavar roupas, por exemplo. Não dá é para gastar
dois, três litros de água tratada para lavar uma lata de leite condensado. Nesse caso, teríamos um consumo
imenso de água (Jairo Armando dos Santos, diretor da Divisão de Projetos Sociais, Reaproveitamento e
Reciclagem do DMLU- Porto Alegre RS).
Fonte: Blog Livre e Portal Recicláveis.com.br.
Nota: 1 Optou-se por manter a grafia origial das respostas.
2
Disponível em: <http://www.reciclaveis.com.br/noticias/00404/0040423duvida.htm>.
A maior parte das embalagens que usamos em casa, como uma garrafa de suco ou uma lata de
creme de leite, acumula restos orgânicos. Estas sobras precisam ser retiradas antes do descarte. É
importante que as embalagens estejam limpas, inclusive, para evitar mau cheiro e proliferação de
insetos. Mas aí você pode questionar que, para lavar estas embalagens, há gasto de água – e, por-
tanto, desperdício. Alguns argumentos mostram que não é bem assim.
A vazão de uma torneira é de aproximadamente 9 litros por minuto. Isso quer dizer que, se você
ficar 2 minutos com a torneira aberta lavando os recicláveis, poderá gastar cerca de 20 litros. É
bastante? Sim. Se você bebe 2 litros de água por dia, por exemplo, esta é a quantidade consumida
ao longo de quase dez dias. Porém, a lógica se inverte se você decidir que deve abrir mão de lavar a
embalagem reciclável para economizar água e tascá-la no lixo comum. Por quê?
Primeiro: ela vai ocupar um espaço que já está no limite. No Brasil, espaços destinados a aterros
pedem socorro. Segundo a última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 50,8% dos municí-
pios brasileiros destinam seus resíduos de forma incorreta em lixões – que devem deixar de existir
no Brasil até 2014, de acordo com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). A mudança
desse quadro de esgotamento dos locais que recebem o lixo é estrutural e urgente, mas parte da
solução também está na forma como consumimos. Quanto menos lixos nesses lugares, melhor.
50 Relatório de Pesquisa
Segundo: A água é um recurso natural consumido em todas as etapas da cadeia de produção de em-
balagens, que inclui extração de matéria-prima, desenvolvimento do produto, fabricação, transporte,
distribuição, compra e uso pelo consumidor final. Por isso, a quantidade de água gasta para lavar a
embalagem e descartá-la corretamente é bem menor do que a utilizada no seu processo de fabricação.
Terceiro: para cada embalagem que não é reciclada nem reutilizada, outra nova entra no mercado.
Lançar no lixo comum objetos que podem ser reciclados é colocá-los na natureza sem direito a uma
segunda chance de uso. Pior ainda quando sabemos que artigos como latas de alumínio demoram
até 500 anos para se decompor e sacos e copos plásticos até 450 anos. Tempo demais!
Mesmo com informações técnicas coerentes, fica difícil aceitar como adequada a in-
formação de que o uso de cerca de 20 litros de água na lavagem de uma única embalagem
pode ser considerado normal e necessário dentro do processo de pré-coleta seletiva, deven-
do ser praticado por toda a população. Chama a atenção, ainda, o excesso de informações
técnicas que pode confundir o usuário ou internauta e, assim, não apresentar efetividade
na sensibilização e mobilização deste público.
BOX 2
Informações contidas em site especializado em sustentabilidade
O Movimento Limpa Brasil – Let’s do it! está planejado para ser realizado em sete ci-
dades brasileiras, sendo Rio de Janeiro e Brasília as duas primeiras. As duas cidades serão os
modelos sobre produção, logística, articulação e comunicação. Ao final de 2011, é esperada
a finalização de conteúdos e mapeamento sobre os resíduos sólidos em áreas públicas das
cidades de Brasília, Rio de Janeiro, Campinas, Guarulhos, Goiânia, Belo Horizonte e São
Paulo. Todos os municípios já têm suas páginas ligadas ao portal Movimento Limpa Brasil,
disseminando conteúdos e chamando à participação.
A informação também está disponível nos sites dos municípios ou de apoiadores es-
parços, que possibilitam o mapeamento das áreas das áreas de disposição inadequada de
resíduos para a realização do mutirão e ação voluntária (Carrapatoso, 2011).
Este estudo e estas iniciativas, assim como muitas outras não consideradas pela brevi-
dade de tempo disponível, demonstram que a Política Nacional de Resíduos Sólidos pode
se consolidar em um momento especial de sensibilização e mobilização de toda a sociedade
brasileira, destacando a importância da relação de cada cidadão com o seu cotidiano e o
ambiente urbano e natural da sua cidade.
A PNRS pode funcionar, de fato, como a abertura de uma excepcional janela de opor-
tunidades na busca de um caminho para uma sociedade sustentável, que só pode acontecer
através da educação, da valorização da cidadania, do respeito ao próximo, da preservação
do bem comum e da conscientização a respeito das atitudes de cada um.
3 CONCLUSÕES
O termo educação ambiental, quando ligado aos resíduos sólidos, envolve e abarca formas
distintas de comunicação e relacionamento com a população. Esta variabilidade foi descrita
e classificada neste estudo usando-se a tipologia a seguir:
REFERÊNCIAS
APÊNDICE
• avançou muito, partindo da situação precária do lixão para o sistema de gestão inte-
grada de resíduos sólidos urbanos, que se iniciou em 1989. Neste ano, o lixão da zona
norte foi interditado e foi decretado estado de calamidade pública. Foram formadas e
construídas nove unidades de triagem, onde muitos dos catadores de rua e os antigos
catadores e moradores do lixão estão trabalhando. A maioria da população respondeu
à coleta seletiva fazendo a triagem nas unidades domiciliares;
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 61
• ainda esbarra nas questões de quantidade de resíduos produzidos e da finitude dos
aterros sanitários. Constatou-se que a quantidade tonelada/dia de resíduos domicilia-
res em Porto Alegre aumentou no período de 1992 a 1998, de 942 t/dia para 1.620
t/dia;
• com o trabalho de educação ambiental desenvolvido, mudou a concepção e a prá-
tica da maioria dos munícipes em relação ao seu comportamento, hábitos e atitu-
des na gestão dos seus resíduos nas unidades domiciliares, no entanto, é necessário
avançar ainda mais;
• ainda possui muitas escolas deslocadas do papel transformador que, de fato, de-
veriam assumir. Na maioria das vezes, elas não têm assumido a ação de formação,
capacitação e promoção do questionamento sobre a preservação ambiental e de
multiplicação deste conhecimento e desta prática à comunidade. Observa-se um
grande potencial a ser trabalhado no campo da educação ambiental no sentido
de esclarecer a população sobre os problemas ambientais causados pela grande
quantidade gerada de resíduos, sobre a sua destinação final e sobre o problema
ambiental causado por eles; e
• para que haja sustentabilidade, necessita de uma mudança de paradigma e de padrões
de produção e consumo e um sistema de Educação Ambiental que, junto a outros
fatores, contribua para a transformação. Esta mudança deverá ocorrer através da res-
ponsabilização de todos os atores sociais envolvidos, onde o poder público articulado
às forças da sociedade civil organizada promova espaços de debate e negociação de
interesses, visando à consolidação de políticas públicas que considerem a articulação
entre as dimensões da sustentabilidade.
Na pesquisa, constatou-se que, na realização dos 3Rs (reduzir, reaproveitar e reciclar),
o “reduzir o consumo” ainda está longe de ser resolvido, porque não depende apenas do
consumidor. Há todo um modelo ditando as normas de mercado. Existe a política
do descartável alimentada pela mídia e, consequentemente, o aumento do consumo e dos
resíduos. A grande maioria dos consumidores, entretanto, responde que busca reaproveitar
e reciclar os resíduos.
A mudança cultural dá-se num trabalho de gerações e não de uma hora para outra.
É uma mudança que deve ser incorporada, conscientizada como algo importante
para a nossa vida e para o meio ambiente. Desta maneira, o enfrentamento deste
desafio é uma tarefa hercúlea, que não pode ser resolvida por um único setor, mas
por um conjunto de esforços. Todas as categorias de atores sociais devem estar mo-
bilizadas em um amplo trabalho coletivo que tenha como propósito debater e buscar
soluções para esta empreitada.
A técnica de cenários tem sido utilizada em diversas áreas como ferramenta do plane-
jamento estratégico, e foi empregada neste artigo com o objetivo de auxiliar o planejamen-
to da gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) em Curitiba.
Pelos resultados deste estudo, estima-se que a geração de resíduos sólidos urbanos em
Curitiba será crescente até 2020, ultrapassando 600 mil toneladas anuais (em contrapar-
tida, a cidade conta com programa de coleta seletiva e reciclagem desde 1990). As quanti-
dades de resíduo geradas e as suas consequências podem ser reduzidas por meio de ações e
estratégias de gerenciamento.
Desta forma, é possível planejar a longo prazo a gestão de resíduos sólidos na cidade,
definindo-se metas e as melhores formas de alcançá-las por meio da minimização, recicla-
gem e compostagem (atualmente, em Curitiba, não é realizada a compostagem de resíduos
orgânicos como parte do processo de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos). Outra
possibilidade seria aplicar o método de estudo a outros tipos de resíduos, como os resíduos
de serviços da saúde ou os resíduos industriais.
Outras metodologias para projeção da geração dos resíduos sólidos podem ser desen-
volvidas e aplicadas na construção de cenários futuros, considerando-se um número maior
de variáveis críticas, como fatores tecnológicos ou fatores culturais, por exemplo.
Belo Horizonte descarta por volta de 3.500 toneladas de lixo diariamente. O esgotamento
do seu aterro sanitário, às margens da BR-040, é um sinal de que a cidade não comporta mais a
quantidade de resíduos que vem produzindo. A coleta seletiva aparece como uma possibilidade
para a destinação destes materiais.
Na capital mineira, a coleta seletiva existe desde 1993 e ocorre em duas modalidades:
ponto a ponto, em que a pessoa deve destinar seu lixo reciclável a contêineres específicos
disponíveis na cidade; e porta a porta, em que o caminhão da prefeitura recolhe os reciclá-
veis na porta da casa de cada um. O programa BH Recicla, lançado em novembro de 2007,
é uma expansão do serviço de coleta seletiva para mais 30 bairros que passaram a ser aten-
didos porta a porta, totalizando 43 bairros com coleta porta a porta, Belo Horizonte possui
284 bairros. A coleta está sendo realizada porta a porta nas casas de aproximadamente 424
mil habitantes, cerca de 20% da população da capital.
1. Trabalhos específicos de educação ambiental buscando a minimização de resíduos, reciclagem, compostagem e coleta seletiva conside-
radas não foram citados no estudo.
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 63
• implantação (informações no site) de coleta seletiva em órgãos públicos municipais,
por exemplo, na Câmara Municipal; e2
• início de coleta em condomínios e disponibilidade de curso para condomínios e
condôminos, mostrando passo a passo como implantar a coleta em condomínios
é oferecido pelo Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR) e aberto a
qualquer interessado.
Os desafios a serem superados são listados a seguir.
Várias medidas de redução do lixo foram implementadas pelas escolas e outras insti-
tuições e os recicláveis têm sido levados pela população até os LEVs, equipamentos insta-
lados pela SLU.
foi implantado em 1992 e foi acompanhado durante nove anos, tendo como princípio a
coleta seletiva e a valorização dos resíduos secos e a compostagem do resíduo orgânico.
A educação ambiental tem por objetivos despertar a sensibilidade dos cidadãos para
que sejam capazes de enxergar e transformar os espaços em que vivem em ambientes ami-
gáveis e conciliadores com a natureza. Educar ambientalmente é dar condições para que as
pessoas sejam capazes de amenizar os impactos que produzem, e transmitir ao mundo ações
positivas de comprometimento e participação ativa na construção de um mundo melhor
e mais justo.
A educação não formal abrange os mais variados espaços da vida social. Normalmente,
é exercida por diversas entidades como sindicatos, ONGs, empresas privadas, secretarias de
governo, associações de bairros, igrejas e outros. As atividades podem ser realizadas em par-
ques e áreas verdes e, mais especificamente, para a geração dos resíduos sólidos espaços como
as cooperativas e associações de recicladores, aterros sanitários, indústrias recicladoras. Estas
atividades são capazes de criar indivíduos sensíveis que colaboraram e passam para frente a
necessidade de tomar novas atitudes perante ao consumo incessante.
A gestão de resíduos deve provocar reflexões como: é importante ter responsabilidade pelos
resíduos gerados? Que caminhos percorrem depois que saem dos domicílios? Estas ponderações
realizadas com frequência podem contribuir para aumentar o número de cidadãos que adotarão
atitudes sustentáveis e de responsabilidade, e para garantir que sejam agentes multiplicadores
principalmente ao que se refere a disseminar a nova cultura dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar).
Outro público importante é o infantil. A criança tem imaginação, o seu mundo pró-
prio, e necessita aprender valores que servirão de apoio e base para sua vida adulta.
Entre os entrevistados, 12% ignoram informações sobre a separação dos resíduos só-
lidos e não a realizam. A grande maioria (88%) relatou conhecer o processo de segregação
do lixo sólido, porém, apenas 46% colocam em prática estes conhecimentos. O restante dos
entrevistados, 54% admitiram ter conhecimento deste processo, mas não o executam.
Diagnóstico de Educação Ambiental em Resíduos Sólidos 69
Todos os entrevistados relataram que há dificuldades na implementação dos progra-
mas de coleta seletiva, sendo os motivos mais indicados, por ordem de frequência:
EDITORIAL
Coordenação
Cláudio Passos de Oliveira
Supervisão
Everson da Silva Moura
Marco Aurélio Dias Pires
Revisão
Andressa Vieira Bueno
Clícia Silveira Rodrigues
Hebert Rocha de Jesus
Idalina Barbara de Castro
Laeticia Jensen Eble
Leonardo Moreira de Souza
Luciana Dias
Olavo Mesquita de Carvalho
Reginaldo da Silva Domingos
Celma Tavares de Oliveira (estagiária)
Patrícia Firmina de Oliveira Figueiredo (estagiária)
Editoração
Aline Rodrigues Lima
Andrey Tomimatsu
Danilo Leite de Macedo Tavares
Jeovah Herculano Szervinsk Junior
Leonardo Hideki Higa
Daniella Silva Nogueira (estagiária)
Capa
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Brasília-DF
Diagnóstico dos Resíduos Sólidos
de Logística Reversa Obrigatória
Missão do Ipea
Produzir, articular e disseminar conhecimento para
aperfeiçoar as políticas públicas e contribuir para o Relatório de Pesquisa
planejamento do desenvolvimento brasileiro.