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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DO CAMPO

POLO COLATINA

LUCIMAR DORSCH KRUGUEL

MEMORIAL POÉTICO DOCENTE


MEMÓRIAS E REFLEXÕES

VITÓRIA
2022
LUCIMAR DORSCH KRUGUEL

MEMORIAL POÉTICO DOCENTE


MEMÓRIAS E REFLEXÕES

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi


apresentado ao curso de Curso de Pós- Graduação
Lato Sensu - Especialização em Educação do
Campo para obtenção do diploma do Curso de
Especialização .

Orientador: Prof.° Drº Adriano Ramos de Souza

VITÓRIA
2022
SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ........................................................................................................……………………...03
2- MINHAS MEMÓRIAS E O INÍCIO DA MINHA PRÁTICA PEDAGÓGICA ..........……………04
3- EU E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO CONTEXTO DO CAMPO ........……………………...06
4- CONCLUSÃO……………………………………………………………………………………………15
5- REFERÊNCIAS...............................................................................................…………...……………...16
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1. INTRODUÇÃO

A oportunidade de apresentar neste memorial um pouco da minha história permitiu-


me uma reflexão sobre todas as atividades realizadas nos anos que atuei em diversas escolas
tanto de zona urbana quanto em áreas rurais, este Memorial busca identificar e refletir sobre
algumas etapas da minha vida até o percurso profissional durante este ano letivo. É importante
lembrar que as experiências vividas foram analisadas tendo em vista o meu momento
presente, analisando o meu momento atual com as reflexões em torno de todos os meus anos
como educadora, como bem disse Magda Soares, em seu Memorial (2001):

Procuro-me no passado e outrem me vejo, não encontro a que fui, encontro alguém que
a que foi vai reconstruindo com a marca do presente. Na lembrança, o passado se torna
presente e se transfigura, contaminado pelo aqui e agora.

Iniciei o meu memorial poético no Curso Formação Escola da Terra Capixaba


contando a minha história desde os primeiros dias de aula da minha infância até a minha
carreira profissional, onde comecei a querer entender quais eram os motivos que me fizeram
ser professora e um dos motivos que tive foi o exemplo do meu Pai que sempre foi professor
das séries iniciais e também da modalidade Educação do Campo. Logo, após no curso de
Especialização no âmbito Tempo Universidade e Tempo Comunidade prossegui com a escrita
do mesmo, neste meu objetivo foi voltado mais para as memórias dos últimos anos na sala de
aula, principalmente porque estes foram em uma escola do campo com uma série de
mudanças tanto no Currículo quanto na formação dos educandos com metodologias voltadas
para a Educação do Campo, sendo assim foi muito gratificante e reflexivo esta escrita, pois ao
mesmo tempo que contei minha prática, refleti também sobre as mudanças que um Currículo
voltado para Educação do Campo traz a identidade e a valorização para a comunidade que a
escola está inserida.
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2. MINHAS MEMÓRIAS E O INÍCIO DA MINHA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Venho de um ensino tradicional e público que marcaram toda minha vida educacional.
Meu pai era professor alfabetizador de uma escola multisseriada e com isso sempre estive no
âmbito educacional. O professor naquela época era visto como figura central e único detentor
do conhecimento. Nós estudantes, éramos expectadores da aula, cabia apenas aprender,
memorizar e reproduzir os saberes. Mas, mesmo diante desse cenário, eu sempre me via como
professora. Naquela época era utilizada a metodologia do professor ensinar, o aluno aprender
e pouco questionar sobre os conteúdos. Mas o respeito pelos educadores era imenso e como
eu tinha o exemplo dentro de casa, este me incentiva ainda mais a querer ser professora.

Iniciei minha vida escolar na EEEFM Vera Cruz em Vila Fartura aos 7 anos, naquela 
época as séries iniciais eram de 1ª a 4ª série, e ali estudei até a 8ª série. Após a 8ª série, fui
para São Gabriel da Palha estudar o Magistério, fui a primeira turma a  iniciar o Magistério de
4 anos, era tudo muito difícil tínhamos que andar em cima de um  caminhão pau de arara, até
o asfalto e depois ficar quase duas horas esperando um  ônibus para nos buscar. Depois do
Magistério fiquei alguns anos parada sem estudar, até então iniciar a Faculdade  de Pedagogia,
na Universidade Uniube. Mas desde o ano de 2000, já tinha iniciado minha  carreira como
professora. Trabalhei com as séries iniciais na zona rural e urbana,  Alfabetização de jovens e
adultos, Projetos de alfabetização e como Professora de  Atendimento Educacional
Especializado. Sempre gostei e gosto do que faço pois me sinto  realizada ao ver o sucesso
dos meus alunos. No ano de 2013 me tornei efetiva na  Prefeitura de Vila Valério, realizando
assim um grande sonho.

Minha primeira experiência foi na zona rural no ano de 2000, sempre gostei
muito de  trabalhar nas escolas do campo, principalmente porque meu pai foi professor de
escolas multisseriadas e eu cresci vivenciando essa realidade, tendo muita admiração por essa
modalidade. Em 2001 assumi minha primeira escola como regente em uma escola
multisseriada do município de São Gabriel da Palha, escola hoje infelizmente fechada,
“EEUEF Fazenda da Pedra”, ali enfrentei muitos desafios, ensinar, cozinhar e limpar. Na sala
de aula tinham 13 alunos de séries multisseriadas, entre eles uma aluna portadora de
necessidades especias, que muitas vezes dificultava ainda mais o trabalho. Nessa época as
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metodologias não eram voltadas para educação do campo e nem mesmo o currículo, assim
continuei mais 05 anos, depois comecei a trabalhar em escolas da zona urbana e como era
professora de designação temporária quase todos os anos mudava de escola.
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3. EU E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO CONTEXTO DO CAMPO

Em 2013 me efetivei na Prefeitura Municipal de Vila Valério e voltei para uma escola
multisseriada no Córrego Vargem Alegre, na mesma época assumi a EEUEF Córrego Bley
em designação temporária na zona rural no município de São Gabriel da Palha onde
permaneço até este ano. Foi nessa escola que criei um elo e o sentimento de pertença o que me
move não somente para cumprir meu papel pedagógico, mas também para lutar para que a
escola permaneça funcionando.
Segundo os moradores antigos a EEUEF Córrego Bley recebeu esse nome devido ao
governador João Punaro Bley, que atuou durante os anos de 1930 até 1943, e em homenagem
a este governador recebeu este nome. Este que já tinha o objetivo de iniciar uma escola
naquela localidade, juntamente com o senhor Eduardo Glazar. Iniciou um movimento com as
famílias que ali moravam, já havia uma escola nas proximidades feita pelo senhor Valdevino
Groner, mas que devido na época não existir quase nenhuma estrada ficava difícil a
locomoção das crianças entre picadas, colocando em risco a vida das mesmas, sendo assim  
surgiu então essa ideia resultando na atual escola, e ficando  assim denominada devido ao
governador. Esta escola que se iniciou no ano de 1952, continua até hoje sendo uma escola
multisseriada, por isso se torna imprescindível trabalhar a diversidade e a  interculturalidade.

A inclusão e interculturalidade são trabalhados na prática valorizando e  incluindo


todos os estudantes, independentemente da sua diversidade ou deficiência. Os  problemas na
vida de grupo decorrentes ao preconceito são trabalhados com os próprios  alunos envolvidos,
onde são levados a refletir e pensar sua prática. As intervenções do  dia a dia são uma
verdadeira escola para a vida. A comunidade escolar é marcado por uma mistura de diversas
raças: brancos, negros,  indígenas, africanos, Italianos, portugueses, alemães etc . O perfil dos
educandos são crianças, são filhos de pequenos agricultores, filhos de trabalhadores/as que
constituem grupos culturais diferentes, que vivem e trabalham no campo e ou moram no
campo e trabalham na cidade. A renda das famílias dos educandos da Escola “Córrego Bley”
variam de acordo com a época do ano, pois nos períodos de colheita, têm acesso a renda
derivada da comercialização dos produtos ou da mão-de-obra empregada na colheita. No
aspecto cultural destacam-se as comemorações religiosas, e as culturas das famílias como:
costura, pinturas, bordados, culinária camponesa, tocadores tradicionais, campo de futebol e
bares.
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No primeiro ano que comecei a trabalhar nessa escola eu seguia o Currículo Estadual
de escolas regulares para nortear meu trabalho, mas a partir de 2014 a rede estadual começou
a inserir novas metodologias voltadas para a Educação do Campo. Participei de muitas
formações visando um melhor entendimento das Referências Curriculares da Educação do
Campo para podermos trabalhar na sala de aula enfatizando a realidade dos educandos,
partindo dela como ponto norteador. Sendo assim começaram os primeiros de desafios de
levar as escolas do campo um currículo adaptado as características do campo, meu
planejamento era voltado para temas interdisciplinares que surgiam a partir dos Temas
Geradores e das Fichas de  Pesquisa, essas que são as pesquisas realizadas com as famílias
que conectam a prática com a teoria, e coloca-nos numa condição de promover a  integração
dos conteúdos de diferentes disciplinas. Sendo assim sempre foi e é prazeroso e gratificando
ver o conhecimento sendo adquirido de uma forma tão natural e contextualizada. 
As Organizações Curriculares documento muito importante para as escolas
mutisseriadas, iniciaram-se no Estado do Espírito Santo, a partir de 2011, a constituição de
Grupos de Trabalho, denominados Macrocentros, com o objetivo de deliberar as políticas
públicas de Educação do Campo neste Estado,, um trabalho coletivo do poder público
estadual, municipal, e por movimentos sociais camponeses e entidades pertencentes a
educação do campo.

“A referida resolução traz indicações precisas e minuciosas em relação à


organização da oferta de ensino para as diferentes etapas da educação básica no
campo; ponto evidenciado no § 1º, do art. 7º que ressalta que: “A organização e o
funcionamento das escolas do campo respeitarão as diferenças entre as populações
atendidas quanto à sua atividade econômica, seu estilo de vida, sua cultura e suas
tradições”.

Sendo assim, o currículo nas escolas do campo que começou a ser inserido já há
alguns anos tem como referência principal a formação integral e o modo de produção e
reprodução da vida das comunidades camponesas. Para tanto, existe assim uma concepção de
currículo integrado, objetivando uma integração entre os conhecimentos historicamente
acumulados, conhecimentos sistematizados e os conhecimentos populares que deve ser
sempre apresentado nos princípios da Educação Popular e nas Teorias Críticas do Currículo,
compreendo assim que os conteúdos curriculares tratados na escola, devem se tornar
instrumentos de emancipação e transformação. Este documento orientador trouxe uma
organização principalmente para o professor dos anos iniciais. Eu como educadora tanto do
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campo quanto da zona urbana, consegui a partir dessa metodologia observar, planejar e
executar o meu trabalho voltado para a realidade do meu educando e da comunidade que a
escola está inserida. Segundo Roseli Dalete Caldart:

Nesse sentido, os estudantes do campo precisam ser respeitados no seu direito de


aprender os conhecimentos que contribuam para compreender e melhorar a sua vida
no campo, em suma tenha acesso a um currículo “que forme e cultive identidades,
auto‐estima, valores, memória, saberes, sabedoria; que enraíze sem necessariamente
fixar as pessoas em sua cultura, seu lugar, seu modo de pensar, de agir, de produzir”
(CALDART, 2002, p. 23)

Sendo assim, como educadora de uma escola multisseriada localizada no campo juntamente
com a ajuda dos supervisores escolares, iniciei a inserção das metodologias presentes nas das
Organizações Curriculares da Educação do Campo que foram pouco a pouco trazendo para
aquela comunidade escolar uma caracterização de escola do campo e não um currículo
urbanizado sem nenhuma valorização daquela cultura. Segundo Freire (1987) esta prática
desenvolve o método de ensino através de temas geradores; isso faz com que a própria
comunidade se envolva na elaboração do conteúdo a ser ensinado, pois esses temas surgem do
seu cotidiano, da sua experiência em comunidade. Dessa forma os instrumentos que
proporcionam a sistematização/efetivação dos princípios delineados nas Organizações são
organizados a partir de Temas Geradores. Tal organização se fundamenta em instrumentos
pedagógicos como: Plano de Estudo (PE), Plano de Ensino a partir dos Pontos de
Aprofundamentos, Pasta da Realidade, Caderno de Reflexão e Escrita, Visita às Famílias e
Atividades Vivenciais, Sistema de auto-organização, Atividade de retorno, Cômites dos
estudantes, Mística, entre outros), com o envolvimento de 100% dos educandos e 85% das
famílias.
Segue abaixo uma tabela retirada das Organizações Curriculares da Educação do
Campo onde os temas irão delimitar a “escolha” dos conteúdos curriculares e dos demais
componentes pedagógicos que serão organizados trimestralmente e que tem como objetivo a
partir do Plano de Estudo atingir os objetivos que seguem abaixo:
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OBJETIVOS DO TEMA GERADOR


TEMA ANO TEMAS DE PLANO DE
GERAD ESTUDO/SUBTEMAS
OR

1º A minha família - Reconhecer a importância da família


FAMÍLIA – 1º TRIMESTRE

nas relações com o meio e na construção


2º A história da minha família da identidade camponesa;
- Perceber as desigualdades nas
3º Nossa moradia
moradias das famílias da comunidade;
- Despertar para o resgate da cultura das
4º A minha comunidade
famílias camponesas;
5º A cultura camponesa - Despertar para hábitos de higiene e
cuidados com os arredores da moradia.

1º A terra onde moro -Refletir a importância do trabalho para


a vida das pessoas, o valor do trabalho
do agricultor e os desafios da família
2º Atividades do campo rural;
-Despertar o sentimento de pertença pela
3º As diversas formas de vida na terra;
terra -Reconhecer a importância da água e
incentivar a sua preservação;
TERRA – 2º TRIMESTRE

-Reconhecer técnicas que degradam o


4º O cuidado com a terra solo agrícola e estimular as de
conservação;
-Refletir sobre desigualdade social no
5º Distribuição das terras na acesso as terras na comunidade;
comunidade -Incentivar a diversificação
agropecuária e a importância de
sustentabilidade nas famílias
camponesas.

- Despertar a consciência da importância


1º Higiene do nosso corpo dos hábitos de higiene pessoal e do
ambiente para garantirmos uma boa
saúde;
SAÚDE – 3º TRIMESTRE

- Incentivar hábitos alimentares


saudáveis e uma alimentação
equilibrada;
- Valorizar os alimentos produzidos na
comunidade de forma orgânica;
- Incentivar a produção e o consumo de
alimentos orgânicos;
- Incentivar o uso de medicamentos
alternativos e o cultivo de ervas
medicinais.
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A partir dessa tabela com os Temas Geradores, faço meu planejamento das primeiras
semanas do trimestre: na primeira semana trabalho com o conhecimento prévio dos
educandos sobre o tema gerador do trimestre e com atividades para incentivá-los a produzirem
a ficha de pesquisa. Após uma semana produzimos a ficha de pesquisa, elementos da
modalidade Educação do Campo o Plano de Estudo(PE), este mobiliza diretamente os
protagonistas de uma educação contextualizada: os estudantes, como pesquisadores da própria
história e como sujeitos mobilizadores, a família e comunidade, entendidas como coletivos
que vivenciam a realidade do estudante, que se dispõem a dialogar sobre suas experiências de
vida, de trabalho e o educador, por meio da interdisciplinaridade media o processo educativo.
No dia da entrega, faço um planejamento diferenciado, convidando as famílias para
irem até a escola para receberem este questionário, e juntamente com as crianças
apresentamos uma “mística”, organizada a partir do contexto que estamos estudando. Após o
retorno desse PE (que foi para casa e volta respondido pelas crianças) eu organizo uma aula de
debates e conversas onde fazemos a colocação em comum das respostas com todas as séries.
Então produzimos a Síntese( outro instrumento da metodologia) onde é retirado os Pontos de
Aprofundamento (problemas encontrados) e a partir desse momento começo meu
planejamento diário, semanal ou por sequências didáticas organizando os pontos de
aprofundamento integrando aos conteúdos das disciplinas do trimestre.
Outro elemento forte em minha prática é o incentivo a auto-organização, que contribui
para que os estudantes se sintam parte do processo, sendo sujeitos sociais, pois aprendem a
organizar, planejar e administrar suas atividades tais como: atividades recreativas, comissões
de trabalhos, divisão das tarefas práticas, mística, organização do ambiente, dividem funções,
gerenciam conflitos e à medida que se sentem parte deste processo os mesmos se apropriam
dele. E assim despertando nos estudantes e nas famílias a realidade da luta de classes, do
processo de inculturação sofrido ao longo de nossa história é possivel combater as
brincadeiras maldosas, falas distorcidas, olhares julgadores procurando despertar uma cultura
de amor, respeito e cuidado ao próximo.
Na auto organização os estudantes e educadores se organizam em comissões de
trabalho participando de toda movimentação da escola num movimento capaz de gerar
autonomia e protagonismo dos sujeitos envolvidos. Os estudantes, então, realizam atividades
comuns desde a limpeza, organização dos momentos de alimentação, dos momentos de
estudo, organização nas visitas pedagógicas, nos momentos de lazer e de esporte, todos esses
momentos proporcionam aprendizagem e contribui muito com o que chamamos de educação
integral. Nos momentos de lazer, eu como educadora organizo momentos para que eles
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adquiram saberes relacionados a integração, relações interpessoais, dentre tantos outros; nos
momentos de alimentação aprendem conhecimentos fundamentais de convivência,
solidariedade, respeito, serviço, boas maneiras, hábitos saudáveis de alimentação e higiene.
Trabalho com todos esses princípios para que eles aprendam a defender a inclusão social, a
defesa do meio ambiente, a preservação do patrimônio histórico e cultural do meio em que
vive.
A leitura e a produção de textos são atividades essenciais para o desenvolvimento
global do estudante, para que este se torne um cidadão crítico, reflexivo e criativo, capaz de
ajudar a transformar a sociedade para melhor. A leitura frequente ajuda a criar familiarização
com a escrita, facilita a alfabetização e ajuda em todas as disciplinas. Desta forma desenvolvo
em nossas crianças o hábito de ler por prazer. O caderno de leitura é um material que é levado
para casa toda semana para leitura e realização das atividades e deverá retornar no início da
próxima semana para correção e leitura individual. Eu como educadora, conto com o apoio da
família no acompanhamento da leitura de casa, na orientação quanto ao compromisso e
cuidado com o caderno.
Hoje ainda temos escolas do nosso município de São Gabriel da Palha que ainda não
aderiram a uma Organização Curricular para Educação do Campo, assim também como em
outros municípios, mas ao analisar as duas realidades sei que as Referências curriculares
trouxeram uma aprendizagem mais significativa, com mais autonomia, e um sentimento de
pertença até pelas próprias famílias. Todas essas metodologias fazem que o conhecimento seja
transformador, não somente para aprendizagem de conteúdos, mas para que os educandos
tenham sua identidade valorizada, e que as famílias se sintam pertencentes a uma identidade
de camponês, de trabalhador, de membro de uma comunidade, de membros de movimentos
com direitos iguais ou até mesmo mais garantidos do que as pessoas que moram nas zonas
urbanas.
Durante todo o tempo de formação do Curso Escola da Terra e agora na
Especialização ambos me trouxeram muito conhecimento, assim como a prática, o convívio e
o contato com os estudantes que também são importantes fontes de aprendizagem e me fez
tomar consciência das diferentes culturas, aptidões diversas, estruturas física, opiniões. Enfim,
uma riquíssima diversidade muitas vezes abafada pela busca da homogeneidade. Uma busca
inútil por algo que não existe. E que bom que é assim. Consigo observar comportamentos
prejudiciais a prática educacional que antes considerava normal, mesmo atuando em uma
escola que busca respeitar o estudante em sua essência. Muitas vezes o ativismo irracional nos
limita. A adoção de teóricos que fundamentem a prática pedagógica dos educadores é
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fundamental para um ensino coerente, contextualizado e significativo. Pesquisas e formações


continuadas são essenciais para que o educador tenha condições de atender os estudantes. E
assim despertando nos estudantes e nas famílias o sentimento de pertença, o gosto pelos
estudos, a cultura de amor, respeito e cuidado ao próximo, assim certamente teremos um
ensino mais humano e eficaz. A escola do campo, ao desenvolver um projeto de educação que
valoriza as diversidades socioculturais, ambientais e organizativas dos camponeses,
preparando crianças, adolescentes, jovens e adultos para serem protagonista das políticas de
desenvolvimento sustentável construídas de forma coletiva nas áreas rurais, deve estar em
sintonia com a sociedade da qual é parte integrante.

A Educação do Campo precisa resgatar os valores do povo que se contrapõem ao


individualismo, ao consumismo e demais contravalores que degradam a sociedade
em que vivemos. A Escola é um dos espaços para antecipar, pela vivência e pela
correção fraterna, as relações humanas que cultivem a cooperação, a solidariedade, o
sentido de justiça e o zelo pela natureza (ARROYO; CALDART; MOLINA, 1998,
p. 162).

Hoje infelizmente a oferta do ensino fundamental para o público rural no Brasil em alguns
lugares apresenta substancial desigualdade de oportunidades, muitas vezes precaridade nos
espaços escolares das estruturas físicas, falta de material, falta de formação para os
professores, classes multisseriadas, entre outros problemas, tudo resultado de falta de
políticas públicas. As pessoas não consideram os alunos das zonas rurais como o mesmo
público atendido nas cidades brasileiras. Muitos consideram o campo como um lugar
atrasado. Infelizmente eu como educadora pude presenciar pessoas de secretarias de educação
e educadores dizendo que “meus educandos aprendem menos que os de em uma sala seriada”
da escola da zona urbana. Eu neste ano, educadora de duas escolas: no turno matutino leciono
numa do campo multisseriada e no vespertino numa sala seriada da zona urbana e sei
nitidamente que esse preconceito totalmente defasado está errado, pois na escola do campo
além dos conteúdos , estudamos a realidade, a prática e a própria vivência dos dia a dia com
experiências produzidas no tempo real. E é neste contexto que eu como educadora mesmo
residindo na zona urbana devo visualizar o campo como um espaço importante para o
contexto social, com saberes acumulado que devem ser valorizados no processo de ensino e
aprendizagem. Em um dos momentos de estudo realizados no mês de agosto juntamente com
os nossos professores e com a riqueza dos textos e as discussões, me senti como parte
presente desse processo de valorização das comunidades camponesas e que no decorrer
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desses anos de trabalho, muitos deles nas salas multisseriadas não tinha essa visão da
importância do educador para aquela escola do campo, mas a partir dessa formação, uma
diversidade de experiências, conversas e discussões, afirmo que como educadora estou
criando nesses sujeitos a autonomia para que eles próprios questionem melhorias para a as
famílias e a comunidade ali presente.
Durante este ano no município de São Gabriel da Palha vivenciamos uma política
pública que chegou esmagando a cultura das nossas escolas: o TAG( Termo de Ajuste e
Gestão ), documento este que contribuiria para a municipalização das nossas escolas, sendo
que em nosso município municipalização resulta em fechamento. Mas juntamente com a
colaboração dos educadores, as comunidades e os movimentos sociais, foi possível toda uma
organização de escolas, famílias, comunidade, Movimentos Sociais, Cômites municipais e
estaduais em busca de um objetivo comum que seria o não fechamento das escolas. Sendo
assim é nítida a mudança que vem ocorrendo de uns anos para cá, onde antigamente o
“Fantasma da municipalização” vinha acompanhado do fechamento e nem eu como educadora
que já vivi esse momento, nem as famílias e a comunidade não buscavam os direitos daquela
cultura e notoriamente quase não tinham pessoas ao seu lado para lutarem, cedendo assim ao
fechamento. Hoje temos uma força intensa principalmente dos Movimentos Sociais e Cômites
que colaboram efetivamente para manterem os direitos do campo. Logo eu como educadora
tenho o objetivo de construir a aprendizagem comprometida e significativa dos conteúdos mas
também com a aprendizagem, valorização do  outro, respeito a sua cultura e saberes
individuais. Procuro sempre criar atividades e estratégias que desenvolvam um sentimento de
pertença nos educandos para que eles  valorizem a comunidade onde residem, onde a escola é
localizada, e suas famílias retiram  o pão de cada dia como afirma Caldart:

A Educação do Campo, além de se preocupar com o cultivo da identidade cultural


camponesa, precisa recuperar os veios da educação dos grandes valores humanos e
sociais: emancipação, justiça, igualdade, liberdade, respeito à diversidade, bem como
reconstruir nas novas gerações o valor da utopia e do engajamento pessoal a causas
coletivas, humanas (CALDART, 2004, p. 21)
14

4. CONCLUSÃO

Portanto, ao término deste trabalho percebo que as questões aqui elencadas não são
conclusivas, mas abrem margem para outros estudos de aprofundamento em relação às escolas
do campo. Sendo assim mais uma vez é de suma importância enfatizar que sejam realizadas
formações para os professores, principalmente para a modalidade da Educação do Campo,
pois durante muito tempo houve pouca valorização das pessoas do campo, logo também das
escolas do campo que eram tidas como “As escolhinhas” essas com diversas realidades
coexistentes em nosso país mas que todas essas devem ser valorizadas.
Esse curso de Especialização, veio para fortalecer ainda mais meus conhecimentos, e
fazer compreender que o curso vem-se constituindo numa significativa possibilidade de
pensar e transformar o fazer docente nas escolas do campo. Para além das questões e
contradições constituidoras da historicidade dos saberes e fazeres do cotidiano desse trabalho,
a formação tencionou as relações políticas, sociais, ambientais e culturais que ocupam a pauta
discursiva e reivindicatória dos movimentos sociais em diálogo com o fazer curricular das
escolas.
5. REFERÊNCIAS

BRANDÃO, C. R.; SCHÜTZ-FOERSTE, G. M.; FOERSTE, E. (org.). Educação do


campo; diálogos interculturais. Curitiba: Appris, 2019.

CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano. 1: Artes de fazer. Petrópolis – Rio de


Janeiro: Vozes, 2001.

FOERSTE, Erineu.; SCHÜTZ-FOERSTE, Gerda; LINS, Andréia Chiari (orgs.). Caderno


de formação de professores do campo: Educação do campo/Identidades culturais.
Vitória, ES: UFES, Programa de Pós – Graduação em Educação, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática


educativa. São Paulo: Paz e Terra, l996.

LÓPEZ, Jaume Sarramoni. Educação na família e na escola. São Paulo: Loyola, 2002.

MOREIRA, Marco Antônio. Organização sequencial do conteúdo com base na teoria


de aprendizagem de David Ausubel. Melhoria de Ensino. Porto Alegre, n.19,
jul./dez.,1992.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.

WALLON, H. Psicologia e Educação da Infância. Lisboa, Editorial Estampa, 1999.

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