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Custos Na Farmácia Hospitalar

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Custos na Farmácia Hospitalar

Introdução

As inovações tecnológicas emergentes e a descoberta de novas doenças


produzem uma alteração na relação eficácia/complexidade/custo dos
tratamentos médicos. Tratamentos eficazes para doenças complexas
suscitam exames, equipamentos e medicamentos de custo elevado,
implicando maior ônus para o setor saúde e gerando a necessidade de
novos aportes financeiros. Na visão de Fitzsimmons e Fitzsimmons
(2005), duas circunstâncias permeiam o setor de saúde atualmente: (1)
os recursos econômicos a ele destinados tornam-se mais escassos com o
tempo e a capacidade de atendimento encontra-se abaixo das
demandas de doentes (NOVAES, 2007). Além disso, o sistema de saúde
vigente no Brasil mostra uma preocupação exacerbada com o
tratamento das doenças, convencionalmente mais oneroso, enquanto
imprime uma atenção apenas discreta aos fatores desencadeantes,
mantenedores ou profiláticos das mesmas, habitualmente relacionados a
menores custos operacionais.

Neste cenário caracterizado por sucessivas restrições orçamentárias, o


controle de recursos escassos deve aliar-se à sua utilização eficiente,
visto que todo cidadão usará o serviço prestado por uma instituição de
saúde, durante seu ciclo de vida e para manter sua vitalidade, seja a
nível hospitalar ou ambulatorial (NOVAES, GONÇALVES e SIMONETTI,
(2006). Para o desempenho de suas atividades, o hospital agrega a
unidade de farmácia hospitalar cujos princípios são garantir o uso seguro
e racional das medicações prescritas pelo profissional médico e
responder à demanda de medicamentos dos pacientes hospitalizados.

Farmácia Hospitalar

A farmácia hospitalar é uma unidade clínica de assistência técnica e


administrativa, dirigida por farmacêutico e integrada, funcional e
hierarquicamente, às atividades hospitalares (BRASIL, Resolução n°
300/97, 1997). Segundo Cavallini e Bisson (2002) esta unidade tem
como finalidade garantir a qualidade da assistência prestada ao
paciente, através do uso seguro e racional de medicamentos e
correlatos, adequando sua aplicação à saúde individual e coletiva. De
acordo com Novaes (2007) a farmácia hospitalar abriga o estoque de
medicamentos destinados aos pacientes sob responsabilidade do
hospital no qual se encontra inserida e tem sua cadeia de suprimentos
representada na Figura 1.
Os ciclos de demandas e ressuprimentos dos estoques de medicamentos
nos hospitais se caracterizam por flutuações significativas e incertezas e
Portella (2001) alerta para o não armazenamento de medicamentos no
estoque das farmácias hospitalares de modo excessivo, o que implicaria
em alto custo, e nem se permitir a falta dos mesmos ou stockout, com a
possibilidade de ocasionar, em situações extremas, o óbito de pacientes.
Estes fatores são críticos no gerenciamento da farmácia hospitalar, uma
vez que há a exigência de manter a disponibilidade dos produtos na
mesma proporção da sua utilização, traduzindo a necessidade da
formação de estoques. Ballou (2001) cita que, se a demanda por
medicamentos em uma organização fosse conhecida e os produtos
pudessem ser fornecidos imediatamente para satisfazê-la, seria
desnecessário manter remédios alojados em estoques.

Gestão e Custos dos estoques da Farmácia Hospitalar

Estoques são os valores referentes às existências de produtos acabados,


produtos em elaboração, matérias-primas, mercadorias, materiais de
consumo, serviços em andamento e outros valores relacionados às
atividades-fim da Entidade, segundo o Conselho Federal de
Contabilidade (BRASIL, Resolução n° 686/90, 1991). Os estoques existem
porque as organizações não podem dispor de todos os produtos de que
necessitam para utilização de forma imediata e são, portanto,
necessários ao funcionamento das instituições. Segundo Barbieri e
Machline (2006), a importância dos estoques na saúde é dimensionada
não somente pelo seu valor monetário, mas também pela essencialidade
à prestação dos serviços a que dão suporte. A questão consiste em
manter o estoque disponível na mesma proporção da demanda,
objetivando a redução de custos para as instituições que os abrigam
(FITZSIMMONS e FITZSIMMONS, 2005).

Na visão de Arozo (2002) gerir estoques é um processo com ênfase nos


custos dos produtos neles abrigados, já que todo e qualquer
armazenamento de materiais gera custos. De acordo com Cavallini e
Bisson (2002), estoques de medicamentos/materiais são itens que
chegam a significar, financeiramente, até 75% do que se consome em
um hospital geral. Em estudo de Paterno (1990), os suprimentos
-incluídos os medicamentos- são responsáveis por 54% dos custos das
instituições hospitalares, conforme mostra o Figura 2.

Observa-se que duas variáveis são responsáveis diretas pelo aumento


do custo dos medicamentos abrigados nas farmácias hospitalares: (1) a
quantidade desses produtos armazenados e (2) o tempo de permanência
dos mesmos nos estoques. Quanto maior o grau dessas duas variáveis,
maior será o custo final dos estoques, implicando direcionar os esforços
organizacionais para alcançar sua redução (CAVALLINI e BISSON, 2002).

Devido à sua relevância na composição dos custos organizacionais, os


estoques são considerados primordiais quando o objetivo é a redução de
custos. Segundo Lima (2003) a taxa básica de juros fixada pelo governo
brasileiro e os juros de mercado são significativos, o que torna os custos
de manutenção dos estoques mais elevados em relação aos países
desenvolvidos.

Portanto, altas taxas de juros sinalizam a urgência na busca de níveis


baixos de estoques. Angaran (1999) salienta que o custo dos
medicamentos destinados aos pacientes hospitalizados apresentou um
crescimento significativo, mais expressivo do que a inflação
dimensionada para a saúde no mesmo período, nos Estados Unidos: o
custo das drogas/leito ocupado/ano cresceu de US$6,744 em 1989 para
US$21,677 em 1998, o que representa 221% de aumento, ou 25% de
aumento/ano em um período de nove anos. De acordo com estes
índices, os custos operacionais da saúde são crescentes, insustentáveis
tanto às organizações de saúde de caráter privado quanto aos cofres
públicos. Mecanismos gerenciais como planejar e controlar custos
podem garantir a sobrevivência e o crescimento das instituições
hospitalares, públicas ou privadas. Gonçalves (2004) recorda que
diferentes técnicas de gestão de estoques de produtos e da
administração da produção foram desenvolvidas, a fim de solucionar os
problemas originados no ambiente da manufatura, com eficiência na
gerência de operações de uma indústria. Tais técnicas podem ser
adaptadas às novas necessidades presentes na gestão de serviços,
tendo aplicação nas farmácias das instituições hospitalares, buscando a
otimização do controle dos itens armazenados nos estoques.

Seleção de Medicamentos Farmácia Hospitalar

Selecionar medicamentos para a farmácia hospitalar significa colocar


disponíveis nos estoques os produtos mais eficazes para o tratamento
dos pacientes-alvo dos hospitais, ao menor custo possível. Para tanto, é
necessário que a instituição de saúde se baseie em determinados
parâmetros como os Protocolos, a Padronização de medicamentos e a
Classificação ABC (NOVAES, 2007).

Protocolos

Os tratamentos na área da saúde são, convencionalmente, baseados em


práticas tradicionais e empíricas. A partir desta constatação e da
aplicação de um conhecimento científico consistente às práticas médicas
tradicionais, surge o modelo da medicina baseada em evidências,
objetivando a cura dos pacientes por meio de processos terapêuticos
com embasamentos científicos crescentes (GILLIGAN, 2004). Neste
modelo e através da observação de que, para o mesmo perfil de
doenças, as condutas médicas admitem grande variabilidade de
estratégias, surgiram propostas de elaboração de protocolos, numa
tentativa de uniformizar os diferentes aspectos inerentes aos cuidados
relacionados ao tratamento de determinado grupo de doenças (FLYNN e
SINCLAIR, 2005).

Morris (2003) e Woolf (1999) explicam que procotolos são ferramentas


de suporte à decisão, que objetivam beneficiar os pacientes através da
utilização de tratamentos uniformizados, o que é conseguido através da
redução da variabilidade das condutas médicas e da busca de uma
relação entre qualidade dos serviços e custo-eficácia dos procedimentos.
De acordo com Kish (2001), protocolos são redigidos com as finalidades
de implementar a qualidade dos cuidados médicos, reduzir a relação de
custo-benefício destes cuidados e servir como ferramentas educacionais.

Na última década, segundo Clercq (2004), diversos estudos mostraram


os benefícios advindos da utilização de protocolos na prática médica,
com sua importância amplamente reconhecida; contudo, estes não são
substitutos dos julgamentos clínicos, uma vez que suas recomendações
não são suficientemente específicas para aplicação a todas as situações
médicas (KISH, 2001). Para que os profissionais da área de saúde
utilizem tais recomendações, é necessário um treinamento contínuo
destes trabalhadores. De acordo com
Finger (1998), é preciso institucionalizar a utilização dos protocolos nas
escolas de medicina, enfermagem e farmácia, a fim de que os
estudantes façam suas escolhas terapêuticas fundamentadas em
princípios técnicos e científicos. A criação dos protocolos parte das
evidências clínicas existentes em relação a determinado procedimento e,
neste processo de elaboração, são inseridas as opiniões de profissionais
com amplo conhecimento em sua área de atuação (DARLING, 2002). De
acordo com Gilligan (2004), um ponto crucial para o desenvolvimento
dos protocolos é a qualidade dos dados utilizados, nos quais as melhores
evidências originam-se de estudos clínicos múltiplos, randomizados e
controlados. Contudo, o volume significativo de informações inseridas
nos protocolos cria barreiras à sua aplicação pelos profissionais da área
de saúde; ao mesmo tempo elaborá-los de forma concisa é tarefa difícil e
se investiga maneiras para customizá-los (ELY, 2006).

A tecnologia da informação é um destes caminhos e se faz presente


através da criação de bancos de registros de dados dos pacientes
interligados aos protocolos. Os registros eletrônicos de pacientes,
residentes em sistemas especificamente instalados para prover suporte
técnico aos usuários, funcionam de forma coordenada: permitem acesso
a dados completos e confiáveis, alertas, lembranças, sistemas de
suporte a decisões clínicas, links voltados ao aprendizado médico e
outros auxílios. Implementar protocolos em sistemas computacionais de
apoio à decisão aumenta a aceitação e a aplicação dos mesmos na
prática médica diária. Através da utilização da tecnologia da informação
as ações/observações dos profissionais de saúde são monitoradas, e o
sistema de informação emite uma recomendação quando determinado
protocolo não é utilizado, facilitando a aplicação dos procedimentos e a
utilização dos medicamentos mais recomendados (CLERCQ, 2004). Uma
vez que os protocolos encontrem-se delineados, busca-se a
padronização dos medicamentos.

Padronização de medicamentos

A farmácia hospitalar, no âmbito de sua atuação, comporta-se como uma


unidade de negócios, dados os seus relacionamentos comerciais com os
laboratórios farmacêuticos, com os fabricantes dos diferentes produtos,
com distribuidores e com os representantes comerciais. Gerir
medicamentos na área hospitalar é deparar-se com uma grande
variedade de produtos (cerca de 50000 itens diferentes se encontram à
disposição dos profissionais médicos), com o compromisso de não
permitir a ocorrência de stockout, sinônimo de morte, perdas ou fracasso
organizacional (PORTELA, 2001).

Quanto maior a habilidade do farmacêutico Administrador em


administrar seus produtos de forma racional, maior será sua capacidade
de oferecer à clientela bens e serviços de qualidade e com baixos custos
operacionais.

Se, em cada ala ou setor do hospital, as equipes médicas e de


enfermagem adotarem rotinas diferentes para o uso destes produtos
(como diluições diferentes, concentrações diferentes e métodos de
conservação diferentes), as medidas terapêuticas implicarão em maior
ônus para a instituição (com desperdícios e obsolescências). O emprego
racional dos medicamentos, incluindo sua padronização, é traduzido,
portanto, em redução dos custos das organizações hospitalares (KLÜGL,
1999).
Padronizar produtos abrigados em estoques é uma forma de
normalização e auxilia na racionalização dos custos. Dentre as formas de
racionalização, a padronização de medicamentos é uma das soluções
mais viáveis, pois procura definir o quê se deve manter em estoques.
Racionalizar custos com medicamentos implica em seguir normas
técnicas que regulamentam o processo de formulação e aplicação de
regras para o tratamento ordenado de uma atividade específica,
segundo a International Organization for Standardization .

A redução do custo dos estoques da farmácia hospitalar é conseguida


através do adequado abastecimento em produtos e serviços utilizando,
se possível, processos que permitam sua padronização. Padronizar
medicamentos significa escolher, dentre uma relação de produtos e de
acordo com determinadas especificações, aqueles que atendam às
necessidades de cobertura terapêutica da população-alvo que se deseja
tratar (ANGARAN, 1999).

Dentre os objetivos primários que se deseja alcançar com a


padronização de medicamentos estão a redução dos custos de aquisição
dos produtos, a remoção de diferentes obstáculos durante os processos
de compras, o estabelecimento de maiores interações com os
fornecedores, a redução dos custos de produção, a diminuição dos
custos de manutenção dos produtos em estoques e a facilitação dos
procedimentos de armazenagem e manuseio dos medicamentos,
propiciando vantagens à instituição hospitalar como um todo (BARBIERI;
MACHLINE, 2006).

Dentre as vantagens advindas da padronização de medicamentos,


encontram-se:

a) Para os pacientes - existe a confiança do uso do medicamento correto


e a satisfação psíquica por não necessitar adquirir quaisquer outros
remédios pertinentes ao seu tratamento, dos quais o hospital não
disponha;

b) Para os médicos e para a enfermagem - ter a certeza de que os


medicamentos disponíveis na farmácia hospitalar são adequados aos
tratamentos propostos, garantindo aos pacientes a fidelidade em
atender as prescrições e maior interação entre as equipes;

c) Para a farmácia hospitalar e para o hospital - melhor controle dos


produtos abrigados em estoques, através da menor diversidade de itens
e benefício através da redução do custo dos estoques, da diminuição de
pessoal ligado às estratégias de controle e redução do espaço físico
destinado à farmácia (PATERNO, 1990).

Contudo, os profissionais médicos muitas vezes se opõem à


padronização de medicamentos, em função de interesses pessoais, sem
a preocupação com a gestão dos custos hospitalares (MCKEE; HEALY,
2000).

Classificação ABC
De acordo com o autor Pozo (2007), o princípio da classificação ABC ou
curva 80 - 20 é atribuído a Vilfredo Paretto, um renascentista italiano do
século XIX, que em 1897 executou um estudo sobre a distribuição de
renda. Através deste estudo, percebeu-se que a distribuição de riqueza
não se dava de maneira uniforme, havendo grande concentração de
riqueza (80%) nas mãos de uma pequena parcela da população (20%). A
partir de então, tal princípio de análise tem sido estendido a outras áreas
e atividades tais como a industrial e a comercial, sendo mais
amplamente aplicado a partir da segunda metade do século XX.

A curva ABC é uma importante ferramenta que auxilia o administrador;


ela permite identificar aqueles itens que justificam atenção e tratamento
adequados quanto à sua administração. Ela tem sido usada para a
gestão de estoques, para definição de políticas de vendas,
estabelecimento de prioridades para a programação da produção e uma
série de outros problemas usuais nas instituições hospitalares.

Os estoques das farmácias hospitalares abrigam uma grande diversidade


de produtos, dificultando o planejamento de seu ressuprimento. Como
cada grupo de medicamentos tem determinadas peculiaridades
gerenciais (como giro, preço, consumo, prazos de entrega) e suas
demandas incorporam alta aleatoriedade, é interessante que o gestor
dos estoques separe os produtos em grupos que possuam características
gerenciais semelhantes (CORRÊA; GIANESI; CAON, 2001).

Esta separação possibilita ao administrador dos estoques individualizar a


atenção para cada grupo de medicamentos, pois um tipo de controle
eficaz para um produto pode não o ser para outro (BARBIERI; MACHLINE,
2006).

Método ABC, Curva de Pareto, Curva ABC ou Classificação ABC, é um


procedimento que visa separar os produtos em grupos com
características semelhantes, em função de seus valores e consumos, a
fim de proceder a um processo de gestão apropriado a cada grupo. Esta
metodologia é um importante instrumento para o administrador que
trabalha com a organização de medicamentos.

Segundo este procedimento, os materiais de consumo podem ser


divididos em três classes (DIAS, 1994):

Classe A: abriga o grupo de itens mais importantes, que devem receber


uma atenção especial da administração, correspondendo a um pequeno
número de medicamentos, cerca de 20% dos itens, representando cerca
de 80% do valor total do estoque. Estes itens devem receber do
administrador um controle mais rigoroso, individualmente, sendo
responsáveis pelo maior faturamento organizacional.

Classe B: representa um grupo de itens em situação intermediária entre


as classes A e C. Seu controle pode ser menos rigoroso que os itens de
classe A. Representam um valor intermediário no faturamento das
empresas.
Classe C: englobam itens menos importantes, que justificam pouca
atenção por parte da administração. Agrupa cerca de 70% dos itens, cuja
importância em valor é pequena, representando cerca de 20% do valor
do estoque. Neste grupo, não é necessário considerar cada item
individualmente, pois são produtos de pouca importância no faturamento
das instituições. Conforme figura 3.

Cabe ressaltar que o estabelecimento da divisão em três classes (A, B,


C) é uma questão de conveniência. É possível estabelecer tantas classes
quanto necessárias para os controles que se deseja alcançar.

Após a classificação dos produtos e adotados os critérios operacionais, é


importante a utilização de indicadores para o acompanhamento dos
resultados.

Controle e Utilização Técnica da Ferramenta ABC

A classificação ABC usa-se o valor monetário do uso anual de cada item


como medida de uso no estoque. O valor monetário também pode ser
usado para medir o nível absoluto de estoque em qualquer instante e
considerar a quantidade de cada item em estoque, multiplicá-la por seu
valor e então somar o valor de todos os itens individuais armazenados.
Para fazer isso precisa comparar o número total de itens em estoque
contra sua taxa de uso. Existem duas formas para se fazer isso:

A primeira é calcular a quantidade de tempo que o estoque duraria,


sujeito a demanda normal, se não fosse reabastecido.

O segundo método é calcular a freqüência com que o estoque é


completamente usado em um período, isso é chamado giro de estoque.

Metodologia
A metodologia deste Estudo de Caso baseou-se na abordagem quantitativa através da
estatística descritiva simples (freqüência e percentagem), e objetiva mensurar o processo de
gestão de estoques da farmácia hospitalar através da utilização da padronização de
medicamentos e da Classificação ABC. O plano considerado foi o de mostrar por blocos,
com a seleção da farmácia do Hospital Paulista, de onde se coletaram dados do estoque de
medicamentos para a apuração do processo.

O Caso

O estudo desenvolveu-se numa instituição hospitalar especializado em


Otorrinolaringologia, com sede na cidade de São Paulo, São Paulo. A organização se
volta à hospitalização de pacientes na área de Otorrinolaringologia, Ouvido Nariz e
Garganta. O trabalho consistiu da análise pré e pós-padronização e da utilização da
Classificação ABC aos produtos abrigados no estoque da farmácia hospitalar.A
Farmacêutica responsável nós cedeu dados pré e pós- padronização dos medicamentos junto
com suas classificações .

Métodos de Coleta de Dados

Nas instituições de saúde, segundo Gonçalves (2004), a coleta de dados deve considerar
aspectos relevantes como a confidencialidade, devido à natureza pessoal dos dados, e a
disponibilidade de tempo dos profissionais envolvidos, habitualmente escasso devido ao
investimento nos cuidados com seus pacientes. No caso específico deste trabalho
acadêmico, em se tratando de dados coletados diretamente de uma farmácia hospitalar, o
critério de confidencialidade merece ênfase especial, uma vez que as informações se
encontram ligadas as estratégias da instituição envolvida.

Análise Documental

A análise documental se fundamenta na coleta de dados, que obedeceu ao Roteiro de


Análise dos Indicadores de Custo, com foco no nível de estoque, nos momentos pré e pós-
implementação da padronização realizado em 2007 após o inventario.

Pré-análise dos Dados

Nesta etapa procedeu-se à identificação dos estoques da farmácia hospitalar e à formulação


de uma listagem geral dos produtos do estoque, com catalogação dos mesmos. O material
obtido através da observação foi organizado em planilha eletrônica.

Descrição Analítica dos Dados

Os procedimentos incluíram a classificação, a categorização e a codificação dos dados que,


segundo Triviños (1994), são elementos fundamentais; a partir das planilhas, os dados
foram separados em categorias intituladas (1) produto, (2) quantidade abrigada no estoque,
(3) custo unitário e (4) quantidade de utilização anual. Em seguida, os produtos foram
agrupados de acordo com o processo de padronização, envolvendo:

a) A classificação dos produtos em grupos terapêuticos, com ações farmacológicas


semelhantes (CAVALLINI e BISSON, 2002);
b) A simplificação dos produtos classificados, ocasião em que produtos com formulações
semelhantes e diferentes nomes comerciais foram agrupados; ainda, se retirou do estoque os
produtos em desuso (BARBIERI e MACHLINE, 2006);

c) Elaboração da Classificação ABC dos remédios então padronizados, a fim de determinar


a estratégia logística adequada a cada um dos diferentes itens (DIAS, 1993).

Interpretação Referencial

Na elaboração das planilhas, observou-se dificuldade na obtenção dos dados primários, em


função da apenas discreta preocupação dos gestores com a administração do estoque de
medicamentos. Este fator, é freqüente na área de saúde, uma vez que o conhecimento
insuficiente da administração dos produtos abrigados nos estoques leva a
discrepâncias significativas no gerenciamento dos aspectos quantitativos
dos mesmos.

Análise dos Dados

Os dados primários, definidos para esta pesquisa, serão apresentados através de gráficos
específicos para cada fase do processo e analisados estatisticamente.

Apresentação e Análise dos Resultados

A gestão dos estoques implica em quatro etapas: as políticas relacionadas aos estoques, as
questões particulares da organização, os modelos quantitativos utilizados e o
monitoramento de desempenho do processo. Estas etapas têm, indistintamente, uma visão
voltada aos custos dos estoques.

Apresentação dos Resultados

a) O número total de itens abrigados no estoque da farmácia da instituição estudada


(incluídos medicamentos, materiais e outros suprimentos) era de 1150 produtos; no período
pós-simplificação, obteve-se redução para um total 910 itens, conforme aponta o Gráfico 1 -

1200
1000
800
600 pré 1150
400 pós 910
200
0
Pré Pós
Padronização Padronização

b) Os 910 produtos obtidos pós-simplificação constituíam-se de 312 produtos relacionados


diretamente ao tratamento dos pacientes (medicamentos e materiais), e 598 itens destinados
ao funcionamento organizacional, conforme demonstrado no Gráfico 2.
600
500
400
300
Med/Mat 312
200 Outros 598
100
0
Materiais e Outros
Medicamentos Produtos

c) Dos 312 itens (medicamentos e materiais) abrigados no estoque, 158 itens eram
medicamentos e 154 eram materiais relacionados ao suporte direto ao paciente, conforme
sinalizado no Gráfico 3
158

157
156

155 Medicamento

154 Material

153

152
Medicamento Material

d) A utilização da Classificação ABC mostra que dos 158 medicamentos, 19 produtos


pertencem à classe A, (7%); 25 produtos pertencem à classe B, (12%); e 114 produtos
pertencem à classe C (81%). Os produtos pertencentes à classe A representavam
R$76.693,30, ou 71% do valor do estoque; os produtos pertencentes à classe B,
representavam R$22.372,36, ou 20% do valor do estoque e aqueles pertencentes à classe C,
R$10.207,63, ou 9% do valor do estoque.

Análises dos Resultados

A análise dos resultados é demonstrada a seguir:

a) No estudo foi percebido que a instituição utilizava a Classificação


ABC para gestão do estoque;

b) Com a simplificação ocorrida em 2007 obteve-se uma redução de


23,07% do número de itens abrigados no estoque da referida
organização;

c) Dentre os produtos observados abrigados no estoque, apenas


32,26% (312) eram voltados aos cuidados diretos com o paciente; os
demais 71,57% (598) representavam outros suprimentos
hospitalares;
d) Dos 312 itens (materiais e medicamentos) abrigados no estoque,
158 itens eram medicamentos. Essa observação mostra que, devido à
característica de hospital de pequeno porte voltado à
Otorrinolaringologia, os medicamentos utilizados eram discretos, o que
facilita o processo de gestão ao se pensar que 50000 itens
encontram-se disponíveis aos médicos no mercado;

e) A utilização da Classificação ABC ajudou o gestor dos estoques, já


que possibilitou ao mesmo focalizar sua atenção em um pequeno
número de produtos (produtos A);

f) Os produtos pertencentes à classe A (7%) representavam R$


76.693,30, o que sinaliza a necessidade de atenção gerencial especial
aos mesmos;

g) A utilização dos métodos de seleção de medicamentos implicou na facilitação do


processo de gestão do estoque de medicamentos da farmácia observada.

Referências

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Logística - CEL - COPPEAD - UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, 2002.

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logística empresarial. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

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Saraiva, 2006.

BRASIL. Resolução nº 300/97, de 30 de janeiro de 1997. Conselho Federal de Farmácia.


Regulamenta o exercício profissional em Farmácia de unidade hospitalar, clínicas e casa de
saúde de natureza pública ou privada e revoga a Resolução nº 208/90. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 fev. 1997, p. 1.

Resolução nº 686/90, de 14 de dezembro de 1990. Conselho Federal de Contabilidade.


Aprova a NBC-T-3. Conceito, conteúdo, estrutura e nomenclatura das demonstrações
contábeis. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília,
DF, 27 ago. 1991, p. 1.

CAVALLINI, M. E.; BISSON, M. P. Farmácia hospitalar: um enfoque em sistemas de


saúde. Barueri: Manole, 2002.

DIAS, M. A. P. Administração de materiais: uma abordagem logística. 4. ed. São Paulo:


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FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Administração de serviços:


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Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.

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indicadores financeiros. Centro de Estudos em Logística - CEL - COPPEAD
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MOREIRA, C. M. Estratégias de simulação em supermercados: avaliação


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