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Eusébio de Cesareia
Eusébio de Cesareia
Eusébio de Cesareia
Foi bispo de Cesareia, e é tido como “pai da história da igreja”, porque os seus escritos históricos são de
suma importância o conhecimento do cristianismo primitivo, por isso considerado o primeiro historiador
do cristianismo.
A data e o local exato do seu nascimento são incertos e pouco se sabe da sua juventude. Conheceu o
presbítero Doroteu de Tiro em Antioquia e, provavelmente recebeu dele instrução exegética. Em 296,
estando na Palestina, viu Constantino I, que visitava essa província com Diocleciano. Estava em Cesareia
quando Agápio era, aí, bispo. Tornou-se amigo de Pânfilo de Cesareia, com quem teria estudado a Bíblia,
com a ajuda da Hexapla de Orígenes e de comentários compilados por Pânfilo, na tentativa de escrever
uma versão crítica do Antigo Testamento.
Em 307, Pânfilo foi preso, mas Eusébio continuou o projecto que com ele tinha começado. O resultado foi
uma apologia de Orígenes, terminada por Eusébio depois da morte de Pânfilo, que foi enviada aos
mártires nas minas de Feno, no Egito. Parece que, depois, se retirou para Tiro e, mais tarde para o Egito,
onde sofreu, pela primeira vez, perseguição. A acusação de que obteve a sua liberdade sacrificando aos
deuses pagãos parece ser infundada.
Voltamos a ouvir falar de Eusébio como bispo de Cesareia Marítima. Sucedeu a Agápio, não se sabe bem
quando mas, de qualquer forma, terá sido pouco depois de 313. Pouco se sabe dos primeiros tempos do
seu bispado. No entanto, com o início da controvérsia ariana, toma, subitamente um lugar de destaque.
Ário pediu-lhe protecção. Por uma carta que Eusébio escreveu a Alexandre, é evidente que não negou
refúgio ao presbítero exilado. Quando o Primeiro Concílio de Niceia se reuniu, em 325, teve algum
protagonismo. Nem era um líder nato, nem sequer um pensador profundo, mas como homem bastante
instruído e autor famoso, caído nas graças do imperador, acabou por salientar-se entre os mais de 300
membros que reuniram no concílio. Tomando uma posição moderada na controvérsia, apresentou o
símbolo (credo) baptismal de Cesareia que acabou por se tornar a base do Credo Niceno. No final do
concílio, Eusébio subscreveu os seus decretos.
A controvérsia ariana continuou, não obstante a realização do concílio. Eusébio manteve-se envolvido na
questão. Por exemplo, entrou em disputa com Eustácio de Antioquia, que se opunha à crescente
aceitação das teorias de Orígenes e, em especial, por este ter praticado uma exegese alegórica das
escrituras, o que interpretava como sendo a origem teológica do arianismo (veja Escola de Antioquia).
Eusébio, admirador de Orígenes, foi repreendido por Eustácio que o acusou de se afastar da fé de Niceia.
Eusébio retorquiu, acusando Eustácio de seguir ideias sabelianas. Eustácio foi acusado, condenado e
deposto num sínodo, em Antioquia. Grande parte do povo de Antioquia rebelou-se contra esta decisão
eclesiástica, enquanto os anti-eustacianos propunham Eusébio como novo bispo. Ele recusou a oferta.
Depois de Eustácio ter sido afastado, os eusebianos viraram-se contra Atanásio de Alexandria, um
oponente muito mais perigoso. Em 334, Atanásio foi intimado a comparecer frente a um sínodo em
Cesareia. Ele não compareceu. No ano seguinte, convocou-se outro sínodo em Tiro (Concílio de Tiro),
presidido por Eusébio. Atanásio, prevendo o resultado, dirigiu-se a Constantinopla, onde apresentou a
sua causa ao imperador. Constantino convocou os bispos para a sua corte, entre os quais, Eusébio.
Atanásio foi condenado ao exílio no final de 335. Nesse mesmo sínodo, outro oponente era atacado com
sucesso. Marcelo de Ancira há muito que lutava contra os eusebianos, protestando contra a reabilitação
de Ário. Acusado de sabelianismo, foi deposto em 336. Constantino morreu no ano seguinte. Eusébio não
sobreviveu mais tempo. Morreu (provavelmente em Cesareia), em 340, o mais tardar, sendo provável que
tenha morrido a 30 de maio de 339.
OBRAS
Da extensa actividade literária de Eusébio, uma relativamente grande parte foi preservada. Ainda que a
posteridade tenha suspeitado dele como ariano, o seu método de escrita tornou-o indispensável; a
utilização de excertos cuidadosamente íntegros nas suas citações poupou muito trabalho de pesquisa aos
leitores futuros. As suas obras, tornadas de referência, foram deste modo preservadas.
As obras literárias de Eusébio refletem o curso da sua vida. No início, dedicou-se à crítica dos textos
bíblicos, sob a influência de Pânfilo de Cesareia e, provavelmente, de Doroteu, da escola de Antioquia.
Com as perseguições de Diocleciano (imperador de Roma de 284 até sua abdicação em 305) e de Galério
(imperador romano de 305 a 311), dirigiu o seu interesse para os mártires (tanto os da sua época, como
os anteriores). Esse interesse levou-o a escrever, praticamente, uma história da Igreja e, mesmo, uma
história universal, que, segundo o ponto de vista de Eusébio, seria apenas a base para a história
eclesiástica. Nota-se, pois, que para Eusébio, a Igreja aparece como sendo o motor da História da
Humanidade.
Com as controvérsias arianas, o interesse de Eusébio passou para as questões dogmáticas. A cristandade
era finalmente reconhecida pelo Estado. Isso trouxe, não obstante, novos problemas. Apologias
diferentes das anteriores tornavam-se necessárias. Por fim, Eusébio, no seu papel de teólogo da corte
imperial, escreve panegíricos hiperbólicos dedicados ao imperador cristão. A todas estas atividades, há a
acrescentar muitos outros textos de natureza diversa, em que ressalta a sua correspondência, para além
de trabalhos exegéticos onde se incluem comentários e tratados sobre arqueologia bíblica que se
estendem durante todo o período da sua vida literária, fazendo fé daquilo por que Eusébio viria a ser
reconhecido por quase todos, independentemente da opinião teológica que professassem: a sua larga
erudição.
A "Crónica"
As duas grandes obras históricas de Eusébio são a "Crónica" e a "História da Igreja". A primeira (em grego,
"Pantodape historia", ou seja, "História Universal") é dividida em duas partes. A primeira, (em grego:
Cronografia, ou seja Anais ou cronologia), pretende ser um compêndio de história universal, organizada
segundo as diversas nações, recorrendo às fontes históricas que Eusébio pesquisou arduamente. A
segunda parte, (em grego, "Chronikoi kanones", ou seja, "Cânones cronológicos") tenta estabelecer
sincronismos do material histórico em colunas paralelas. É um dos exemplos mais antigos do que é
frequente, hoje em dia, nas obras de referência, como enciclopédias, onde os frisos cronológicos se
tornaram um instrumento de trabalho e consulta.
O trabalho original, no seu todo, está perdido. Pode, porém, ser reconstruído a partir dos excertos
copiados, com incansável diligência, pelos cronologistas da escola Bizantina, especialmente Jorge Sincelo.
As tábuas cronológicas da segunda parte foram totalmente preservadas numa tradução em latim feita
por Jerónimo, e as duas partes existem ainda numa tradução em arménio, ainda que o seu valor seja
discutível devido às alterações em relação ao original que poderão ter sido feitas pelos tradutores. A
"Crónica", tal como a conhecemos, estende-se até ao ano de 325. Foi escrita antes da "História da Igreja".
A "História da Igreja"
Na sua "História da Igreja" ou "História Eclesiástica", Eusébio tentou, de acordo com as suas próprias
palavras (I, i.1), apresentar a história da Igreja desde os apóstolos (história essa referida nos "Actos dos
Apóstolos") até ao seu próprio tempo, tendo em conta os seguintes aspectos:
Da vida de Pânfilo resta apenas um fragmento. Um trabalho sobre os mártires da palestina foi composto
depois de 311. Um grande número de fragmentos encontram-se disseminados por vários catálogos de
lendas, ainda por compilar. A Vida de Constantino foi compilada após a morte do imperador e a eleição
do seu filho como um dos augustos (coimperadores romanos), em 337. É mais um panegírico, repleto de
retórica, que uma biografia, mas é de grande valor histórico pelos documentos que incorpora.
Apologias e Obras Dogmáticas
(1) a "Apologia de Orígenes", cujos primeiros cinco livros terão sido escritos por Pânfilo de Cesareia, na
prisão, assistido por Eusébio, segundo as palavras de Fótio. Eusébio escreveu o sexto livro após a morte
de Pânfilo. Existe actualmente uma tradução em latim do primeiro livro, feita por Rufino de Aquileia.
(2) um tratado contra Hiérocles de Alexandria, (Governador romano e filósofo neoplatónico), no qual
Eusébio rebateu a glorificação de Apolónio de Tiana feita por Hieróceles. O trabalho chamava-se
"Discurso de Amor à Verdade" (em grego, Philalethes logos);
(3) e (4) duas importantes obras, relacionadas uma com a outra, conhecidas pelos nomes, em latim
Praeparatio evangelica e Demonstratio evangelica, , tentando a primeira provar a excelência do
cristianismo sobre todas as religiões e filosofias pagãs. A Demonstratio consistia originalmente em vinte
livros dos quais foram completamente preservados dez, além de um fragmento do décimo-quinto livro.
Eusébio considerava-a como uma introdução à Cristandade para os pagãos. O trabalho foi terminado,
provavelmente, antes de 311.
(5) noutro texto, com origem no período das perseguições, intitulado "Excertos Proféticos" (Eklogai
prophetikai), discute em quatro livros os textos messiânicos das escrituras.
(6) o tratado "Da Manifestação Divina" (Peri theophaneias), escrito já posteriormente a estes, trata da
encarnação do Logos Divino, sendo, em vários aspectos, idêntico à Demonstratio evangelica. . Restam
apenas fragmentos.
(8) um suplemento ao trabalho anterior, intitulado "Da Teologia da Igreja", onde defende a doutrina
nicena do Logos, contra o partido de Atanásio.
Um número vasto de escritos pertencendo a esta categoria estão, até a data, completamente perdidos.
Dos trabalhos exegéticos de Eusébio nada nos chegou na sua forma original. Os chamados "comentários"
baseiam-se em manuscritos posteriores copiados dessa série (catenae) de escritos. Um trabalho mais
completo, de natureza exegética, preservado apenas em fragmentos, intitula-se "Das Diferenças dos
Evangelhos" e foi escrito com o intuito de harmonizar as contradições nos relatos dos diferentes
evangelistas. Foi também com propósitos exegéticos que Eusébio escreveu os seus tratados de
arqueologia bíblica:
(1) uma obra sobre os equivalentes, em grego, dos nomes de família hebreus.
(2) uma descrição da antiga Judeia, com uma relação da distribuição das dez tribos.
(3) uma planta de Jerusalém e do Templo de Salomão.
Estes três tratados estão perdidos. Uma obra intitulada "Sobre os Nomes dos Lugares nas Escrituras
Sagradas" sobreviveu até nós. Há, ainda, que fazer menção de discursos e sermões, alguns deles
preservados até hoje, como é exemplo um sermão para a consagração da Igreja de Tiro, e um discurso
para o trigésimo aniversário do reinado de Constantino (336). Das cartas de Eusébio, restam apenas
alguns fragmentos.
A sua doutrina
Do ponto de vista dogmático, Eusébio apoia-se totalmente em Orígenes. Tal como este teólogo, partiu da
ideia fundamental da soberania absoluta (monarchia) de Deus. Deus é a causa de todos os seres. Mas não
é, meramente, uma causa; Nele, tudo o que é bom está incluído; Dele, toda a Vida é originada; e é a
origem de toda a Virtude. É o Deus Supremo, ao qual, Cristo está sujeito como Deus segundo
(secundário). Deus enviou Cristo para o Mundo para que este participasse das Graças incluídas na
essência divina. Cristo é a única criatura realmente boa, possuindo a imagem de Deus, e sendo um raio de
eterna luz; esta comparação com o raio de luz é, no entanto, de tal forma limitada que Eusébio necessita
de, expressamente, enfatizar a auto-existência de Jesus.
Eusébio tenta, assim, enfatizar a diferença das Pessoas da Trindade, mantendo a subordinação de Jesus a
Deus (Eusébio nunca aplica a Jesus o termo theos) porque, segundo ele, tudo o que é defendido para
além disso é suspeito de politeísmo ou de Sabelianismo. Crê que Jesus é uma criatura de Deus cuja
geração ocorreu antes do Tempo. Jesus é, pela sua actividade, o órgão de Deus, o criador da vida, o
princípio de todas as revelações divinas, que, no seu carácter absoluto é entronado sobre toda a criação.
Este Logos Divino assumiu um corpo humano sem que o seu Ser fosse em algo alterado. A relação do
Espírito Santo com a Santíssima Trindade é explicada por Eusébio em termos similares à relação entre o
Pai e o Filho. Nada do que é apresentado nesta doutrina é original de Eusébio, tudo remetendo para a
teologia de Orígenes. A falta de originalidade de Eusébio revela-se no facto de nunca ter apresentado as
suas próprias ideias de forma sistemática.