Tese Federalização Faculdade de Odonto
Tese Federalização Faculdade de Odonto
Tese Federalização Faculdade de Odonto
WANDER PEREIRA
O PROCESSO DE FEDERALIZAÇÃO DA
(1968-1978)
UBERLÂNDIA-MG
2012
ii
WANDER PEREIRA
UBERLÂNDIA-MG
2012
iii
WANDER PEREIRA
A ORDEM POLÍTICA E A REFORMA UNIVERSITÁRIA: O PROCESSO DE
FEDERALIZAÇÃO DAFACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA(1968-1978)
BANCA EXAMINADORA:
1.
Professor Doutor Humberto Aparecido de Oliveira Guido
Orientador - Presidente
2.
Professor Doutor José Carlos Souza Araújo
Membro Efetivo
3.
Professor Doutor Carlos Henrique de Carvalho
Membro Efetivo
4.
Professor Doutor Gustavo Araújo Batista
Membro Efetivo
5.
Professor Doutor Leosino Bizinoto Macedo
Membro Efetivo
iv
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
A DEUS, nosso Supremo Arquiteto do Universo, pela oportunidade da vida e por
possibilitar, no decorrer deste trabalho, a realização de um grande sonho, brindando-me com
novos amigos.
Ao Mestre JESUS, por conduzir minhas ações, iluminando o caminho com Força,
Sabedoria e Beleza.
Ao meu orientador, Humberto A. de Oliveira Guido, pelos ensinamentos acadêmicos e
de vida que deixaram marcas indeléveis em minha História, servindo de exemplo de
comprometimento, dedicação, atenção, companheirismo, amizade e paciência, desde as
primeiras orientações até os últimos instantes de conclusão desta pesquisa, ensinando o
verdadeiro significado de trabalho realizado a quatro mãos.
Aos professores José Carlos Souza Araújo, Carlos Henrique de Carvalho, Gustavo
Araújo Batista e Leosino Bizinoto Macedo, pela disponibilidade e pela gentileza de
participarem do momento mais importante de minha vida acadêmica
Aos amigos do Doutorado, Antoniette, Aluísio, Astrogildo, Jane, Luciene, Elbo,
Geraldo, Cristiane, Anderson por compartilharem essa importante jornada.
Aos amigos Gianny Carlos Freitas Barbosa e James Madson Mendonça, que sempre
atenderam com atenção e carinho, resolvendo as burocracias acadêmicas e esclarecendo
dúvidas.
Aos professores do programa de Pós-Graduação em Educação FACED –UFU, que
possibilitaram meu crescimento e meu desenvolvimento acadêmico, humano e profissional,
de forma especial à Professora Sandra Cristina Fagundes de Lima e ao Professor José Carlos
Souza Araújo, pelas importantes colaborações durante o exame de qualificação do
doutoramento.
Aos entrevistados, Gaspar Paulino, Paulo César Azevedo, Wanderley Alves Ribeiro,
Vanderlei Luiz Gomes, Alfredo Júlio Fernandes Neto, Ailton Amado, Antônio Mário Buso,
Gildésio Rezende Alvarenga, Odorico Coelho da Costa Neto, Homero Santos, Rondon
Pacheco, Juarez Altafin, Rosa Maria Domiciano Vidal, Abigail Maria da Silva, Nazaré
Aparecida Massariolli e João Carlos Gabrielli Biffi.
À professora Sandra Diniz Costa, pela disposição e pelo auxilio nas horas mais difíceis
de enfrentamento das normas da ABNT.
A meu amor, Nádia Carrer Ruman de Bortoli, pela dedicação, pelo amor, pelo carinho,
pelo companheirismo durante as inúmeras madrugadas de revisão e verificação dos textos,
vi
pela ajuda incondicional e imprescindível, pelo incentivo constante, pela força essencial para
superar os momentos mais difíceis, pela paciência, pela disponibilidade em trabalhar em
conjunto na seleção e configuração das belas imagens que enriqueceram e abrilhantaram
sobremaneira o trabalho, por demonstrar por diversas vezes que o impossível é possível e que
muitas vezes basta pedir, acreditar e receber, pelo apoio absoluto em todos instantes da
realização desta tese, por ser o exemplo de que os nossos sonhos podem se tornar realidade e
de que a vida pode e deve ser repleta de felicidades.
Aos meus pais Wanderley Sebastião Pereira e Marisa Pereira, pelo amor e dedicação
incondicional, ajudando sempre a suprir minha ausência junto ao meu filho Lorenzzo, no
momento de elaboração desta tese.
Aos meus queridos irmãos Wolney Pereira e Walney Pereira, pela torcida e pelos
desejos de vitória.
Ao meu filho Lorenzzo, que, com cinco anos de idade, por inúmeras vezes, esperava
eu me afastar um pouquinho do computador para beber água, e quase me matando de susto,
desligava o computador pedindo: — pai vamos brincar?
Aos irmãos da Fraternidade Acadêmica Vigilantes da Ordem, por compreenderem a
necessidade de minha licença nesses últimos seis meses para elaboração desta tese.
vii
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 23 Foto atual do prédio da Av. Engenheiro Diniz, 1.178, Bairro Martins em
Uberlândia (PEREIRA, 2012). ............................................................................ 160
FIGURA 24 Organograma da FOU ....................................................................................... 176
xiv
RESUMO
A tese que ora apresentamos está integrada às atividades da linha de pesquisa História e
Historiografia da Educação do Programa de Pós-Graduação Doutorado em Educação da
Universidade Federal de Uberlândia e vinculada a Área de Concentração: Educação Escolar.
A pesquisa que dá ensejo à obra em discussão esteve voltada para o processo histórico de
gênese, desenvolvimento e consolidação da Escola de Odontologia de Uberlândia. Nosso
trabalho está inscrito na modalidade da História das instituições educacionais. O objetivo que
conduziu o trabalho de investigação resultou na apreensão das representações sociais voltadas
para o processo que deu origem ao Ensino Superior em Uberlândia. O recorte temporal do
estudo esta demarcado entre 1968 – ano da reforma universitária que a Lei 5540/68 – e se
estende até 1978, quando ocorre a federalização da Universidade de Uberlândia. No tocante às
fontes, foram consultados os documentos específicos da Escola de Odontologia tais como:
livros de atas, correspondências com o Ministério da Educação, legislação do período
pesquisado e representantes políticos e educacionais da região; fatos da época, que retratam as
primeiras turmas e a estrutura físico-arquitetônica inicial onde começou a funcionar a
Faculdade de Odontologia. Outra fonte valiosa para a execução da pesquisa foi a imprensa,
representada aqui pelos jornais de época, a saber: O Correio de Uberlândia, O Triângulo e O
Repórter. Merecem menção outros documentos oficiais oriundos dos poderes públicos
constituídos, como as atas da Câmara Municipal de Uberlândia. A pesquisa documental e a
tomada de depoimentos foi acompanhada do trabalho teórico de fundamentação da pesquisa,
para tanto servimo-nos de vasta bibliografia especializada e também de trabalhos acadêmicos
que versam sobre o município de Uberlândia com ênfase para os aspectos sociais,
econômicos, políticos e culturais. A metodologia de que se lançou mão é aquela que atende as
peculiaridades do objeto da pesquisa, por esta razão, nos aproximamos dos estudos no âmbito
História Cultural de Roger Chartier e da História das Instituições educativas embasadas em
Justino Magalhães. A compreensão adequada da História da Educação brasileira tem na
História das instituições educacionais um campo fecundo porque a universidade brasileira, se
comparada às universidades europeias, é bastante recente e, dessa sorte, há muito que se fazer
nesse domínio historiográfico. Sendo assim, cria-se uma abertura epistêmica que justifica o
estudo da Faculdade de Odontologia, pois se ainda não foram ditas as últimas palavras sobre
as grandes instituições do Brasil, pode-se afirmar que pouco se escreveu a respeito das
faculdades que se encontram no interior do País. O resultado da pesquisa evidencia que a
gênese/desenvolvimento e consolidação da Escola de Odontologia pertence a um momento
próprio da História do Brasil – o Regime Militar e suas ingerências na sociedade, na política e
na Educação. A tese ressalta a subordinação da prática acadêmica à ordem política que,
naquele período, era dirigida pela política desenvolvimentista e de expansão e interiorização
do Ensino Superior no Brasil. Por conseguinte, as fontes indicam que a Faculdade de
Odontologia instalada em Uberlândia, Minas Gerais, coaduna-se ao contexto de formação de
pessoal técnico/graduado para atuarem, se não imediato, pelo menos no curto prazo, em
projetos de composição dos profissionais necessários para o desenvolvimento da cidade.
Sendo assim, seja as faculdades isoladas, seja a Faculdade de Odontologia, o que ocorreu em
Uberlândia foi a realização do intento da sociedade civil representada pela sua classe política
e pelos grupos locais, contando ainda com a adesão da juventude que almejava uma formação
universitária.
ABSTRACT
The present thesis is integrated with the activities of the research History and Historiography
of Education Graduate Program Doctorate in Education at the Federal University of
Uberlândia and tied to Concentration Area: School Education. The research that gives rise to
the work under discussion has focused on the historical process of the genesis, development
and consolidation of the School of Dentistry, Uberlândia. Our work is inscribed in the story
mode of. The purpose of conducting the research work resulted in the seizure of social
representations focused on the process that gave rise to higher education in Uberlândia. The
time frame of this study delineated between 1968 - the year that the university reform Law
5540/68 - and extends until 1978, when it occurs the federalization of the University of
Uberlândia. With regard to the sources, there are the specific documents at the School of
Dentistry such as books, records, correspondence with the Ministry of Education, the period
studied law and political representatives and the region's education, facts of the time, who
they portray the first classes in physical structure and initial architecture which marked the
opening of the School of Dentistry. Another valuable source for the execution of the research
was the press represented here by the newspapers of the time, namely: The Courier of
Uberlândia, The Triangle and The Reporter. Deserves mention other official documents from
the government constituted, as the minutes from the town hall of Uberlândia. The desk
research and the taking of testimony was accompanied by the theoretical work of the research
foundation, we serve both for us and also specializes vast bibliography of scholarly works that
deal with the city of Uberlândia with emphasis on the social, economic, political and cultural.
The methodology used is one which conforms to the peculiarities of the object of research,
therefore, we approach the study as part of Cultural History and History Roger Chartier
educational institutions grounded in Justin Magellan. A proper understanding of the history of
Brazilian education has in the history of educational institutions a fruitful field for the
Brazilian university, compared to European universities, is quite recent, and this sort, there is
much to be done in this field of historiography. Thus, it creates an epistemic openness that
justifies the study of the Faculty of Dentistry, as if it were not said the last words on the major
institutions in Brazil, one can say that little has been written about the colleges that are in the
country. The research results show that the genesis / development and consolidation of the
School of Dentistry belongs to a good time in Brazil's history - the military regime and its
interference in society, politics and education. The thesis emphasizes the subordination of
academic practice to politics, which at that time was run by the expansion and development
policy and internalization of higher education in Brazil. Therefore, sources indicate that the
School of Dentistry installed in Uberlândia, Minas Gerais, fits in the context of training of
technical personnel / graduate to work, if not immediately, at least in the short-term projects
in the composition of the required professional for the development of the city. Thus, whether
the individual colleges, is the Faculty of Dentistry, which occurred in Uberlândia was the
realization of the intent of the civil society represented by its political class and the local
groups, and shall have the membership of the youth who longed for university education.
INTRODUÇÃO
O período conturbado da História recente do Brasil, que perdurou de 1964 a 1985, teve
na década de 1960 o delineamento da reforma universitária brasileira cuja meta era a
modernização das instituições e o aumento da oferta de vagas. A expansão do Ensino Superior
era uma demanda dos setores médios da sociedade brasileira durante o Estado Militar.
Paradoxalmente, os primeiros movimentos na direção da ampliação do sistema universitário
ocorreram no final daquela década, durante o período de maior truculência do regime de
exceção instalado no país em 31 de março de 1964. Esta tese é o resultado da pesquisa
dedicada à criação da Escola de Odontologia de Uberlândia como índice das mudanças do
cenário da Educação Superior.
pareceres e ditando a forma pela qual poderiam e deveriam ser criadas e administradas as
instituições de Ensino Superior no Brasil.
1
Foram realizadas entrevistas com agentes partícipes da criação, do desenvolvimento e da consolidação da
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia, em duas etapas: Primeira etapa – total de
quinze depoimentos de ex-alunos, políticos, servidores, ex-reitor e paciente das primeiras turmas. Segunda
etapa – Foram realizadas três entrevistas com os alunos das primeiras turmas Professor Alfredo Júlio
Fernandes Neto (Atual Reitor) e Odorico Coelho da Costa Neto (Atual chefe de Gabinete do Reitor), assim
como do Professor João Carlos Gabrielli Biffi, advindo da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, (ex-cordenador da FOUFU Faculdade de Odontologia de Uberlândia) (Entrevistas
em anexo).
2
A Associação Comercial e Industrial de Uberlândia – ACIUB – foi fundada no dia 15 de outubro de 1933 com
o nome de Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Uberlândia e, desde então, participa de muitas
23
Esta tese foi elaborada com o propósito de elucidar a História da Educação, buscando
oferecer à comunidade acadêmica um estudo crítico voltado para a expansão do Ensino
Superior nas áreas interioranas do Brasil durante a Ditadura Militar. Pretendeu-se tratar
especificamente da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, na condução do trabalho foi
possível situar as singularidades de Uberlândia, sem negligenciar a identificação dos
elementos comuns que dão a esta cidade um lugar no quadro da História Contemporânea, pois
a pesquisa das condições de vida nas cidades e regiões interioranas oferece subsídios para a
compreensão das condições de vida no mundo contemporâneo. Desse modo, justifica-se e
ressalta-se a importância do estudo das especificidades/singularidades dos primeiros tempos
da Universidade Federal de Uberlândia, para interpretar o Ensino Superior no município de
Uberlândia.
ao público, devolvendo aos seus agentes sociais a sua produção concreta. O que se quer com
esta tese é devolver à sociedade a sua Universidade, para que o seu projeto seja reinterpretado
à luz do presente.
Para Foucault, o interesse pela história não está na elaboração de constantes, quer sejam
filosóficas, quer se organizem em ciências humanas; está em utilizar as constantes, quaisquer
que sejam, para fazer desaparecer as racionalizações, que renascem incessantemente.
Acreditamos que este procedimento metodológico que se depara com essas fontes assegura a
ressignificação da fonte documental, restituindo-lhe o contexto econômico, cultural e político
da sua época, restabelecendo a ligação entre o local e o nacional, fazendo com que a simples
história de uma Instituição Educacional deixe repercutir as práticas sociais que integram as
sociedades locais com a realidade nacional. As Instituições Educacionais são o locus das
forças antagônicas, de atitudes, de apropriações e de valores. Por isso, é importante, na análise
das instituições de Educação Superior recorrer às bases da Educação, em especial à História.
3
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.
4
VEYNE, Paul. Foucault revoluciona a história. In:_____. Como se escreve a história. 4. ed. Tradução de Alda
Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp. Brasília: Editora da UnB. 1998.pp. 237-285.
25
5
Foram utilizadas as principais obras do autor: CHARTIER, Roger. A História cultural : entre práticas e
representações. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 1990, e também o Livro: O mundo como representação.
Texto publicado com permissão da revista dos Annales (nov-dez, 1989, Nº. 6, pp. 1505-1520). Tradução de
Andréa Daher e Zenir Campos Reis. Estudos Avançados 11 (5), 1991.
26
agentes locais envolvidos com a criação de novas oportunidades de formação superior, cujos
relatos são analisados nessa tese.
6
Segundo Roger Chartier deve-se fazer: [...] a análise do trabalho de representação, isto é, das classificações e
das exclusões que constituem, na sua diferença radical, as configurações sociais e conceptuais próprias de um
tempo ou de um espaço. As estruturas do mundo social não são um dado objetivo, tal como o não são as
categorias intelectuais e psicológicas: todas elas são historicamente produzidas pelas práticas articuladas
(políticas, sociais, discursivas) que constroem as suas figuras (CHARTIER, 1990, p. 27). Essas figuras podem
ser entendidas como representações que são modeladas por demarcações e esquemas, constituindo o objeto da
História. As representações e práticas sociais podem refletir ou desviar do social identificado, que para esse
autor, existe por si próprio como um real bem real.
7
A apropriação, a nosso ver, visa a uma História social dos usos e das interpretações, referidas a suas
determinações fundamentais e inscritas nas práticas específicas que as produzem (CHARTIER, 1991, p. 180).
Endossando as palavras de Roger Chartier, a apropriação consiste na apreensão dos usos e interpretações da
realidade, por meio das configurações intelectuais múltiplas que resultam em práticas, visando a propiciar uma
identidade social e a exibir uma forma própria de estar no mundo.
8
O resgate da federalização das faculdades isoladas de Uberlândia foi o tema da publicação institucional alusiva
aos dez anos da UFU, organizado pelas historiadoras Coraly Gará Caetano e Miriam Michel Cury Dib
(CAETANO; DIB, 1988); essa obra será utilizada sempre que necessário.
9
Atas, memorandos, jornais de época, depoimentos, fotos, quadros, entre outros.
27
Importante destacar que a elaboração desta pesquisa contou com as fontes que foram
inventariadas e organizadas durante o trabalho de dissertação do autor desta tese, que, na
ocasião do Mestrado, buscou, nos arquivos públicos e em acervos particulares, levantar
informações a respeito da gênese da Faculdade de Odontologia de Uberlândia. Naquele
momento, a investigação deteve-se na interpretação das múltiplas práticas, apropriações e
representações sociais constituídas durante seu processo de construção, destacando-se a
necessidade de analisar como se deu o processo de consolidação e de desenvolvimento dessa
instituição de ensino.
CAPÍTULO I
PERCURSOS DA HISTÓRIA DA ODONTOLOGIA NO BRASIL
Peter Burke caracterizou as mudanças ocorridas a partir da École des Annales como
uma “revolução historiográfica” em que os novos historiadores reagiram à forma de se
escrever a História preconizada pela escola Rankeana, ou seja, positivista (BURKE, 1992,
p.10). O movimento francês desencadeou novas possibilidades para a pesquisa histórica,
30
De certa maneira, pode-se dizer que os ingleses rivalizam com as tendências francesas,
por causa da herança empirista, que os distingue dos historiadores das mentalidades e também
os põem distantes da historiografia tradicional positivista. E. P. Thompson colaborou para que
Raymond Williams desenvolvesse o “materialismo cultural”, obra historiográfica e
sociológica de relevante importância. Ainda entre os ingleses, Eric Hobsbawm figura entre os
principais historiadores contemporâneos, sendo também um dos responsáveis pela vitalidade
do materialismo dialético para a historiografia.
A historiografia inglesa responde pela junção da atitude crítica que não se prende aos
postulados gerais, pois leva em conta as singularidades sociais dos eventos históricos, que
favorece as abordagens interdisciplinares que aproximam as reconstituições históricas das
leituras sociológicas, antropológicas e linguísticas; isso tem contribuído constantemente para
a renovação historiográfica e dado oportunidade para novas delimitações do terreno histórico,
com a formação de disciplinas especiais, como a História da Educação, por exemplo.
Os estudos voltados para assuntos regionais e, às vezes, até mesmo de âmbito local,
passaram a incorporar as novas tendências da historiografia, fazendo com que o pesquisador
promovesse sua investigação apropriando-se de um recorte eminentemente histórico, que
valorize as especificidades e as singularidades dos contextos sociais, evitando a concepção de
que o pensamento educacional se sobrepõe à própria realidade da Educação. Fica patente que,
nas duas últimas décadas, oportunizou grandes mudanças na historiografia brasileira,
concorrendo para a emancipação das pesquisas em História da Educação, o que pode ser
comprovado não só pelo aumento quantitativo, mas também qualificativo dos trabalhos
produzidos no Brasil.
10
Otaíza Romanelli não teve a oportunidade de constatar o reconhecimento ao seu trabalho, pois,
desafortunadamente faleceu em consequência de um acidente automobilístico em 21/12/1978; era professora
da UFMG com Doutorado em Educação pela Sorbonne.
11
Merece destaque a pesquisa de Maria José Garcia Werebe: Grandezas e Misérias do Ensino Brasileiro (1963).
32
A pesquisa voltada para a História das instituições permite refletir sobre a realidade
social e analisar os fatos concretos em todas as suas implicações com a dinâmica social dos
processos de escolarização. O desenvolvimento do estudo sobre as instituições educativas
elucida os embates sociais que reivindicam a formação profissional em nível superior. Cabe
ao pesquisador identificar nas representações sociais os diversos matizes do discurso
reivindicatório, se quer apontar para a ruptura como o modo de vida vigente ou se pretende
perpetuar uma ordem social excludente de pouca oportunidade para as camadas populares da
sociedade local e regional.
novas fontes, não se limita mais apenas aos documentos escritos, valendo-se também de
fontes orais e iconográficas entre outras:
[...] Dessa forma, pode-se concluir que a orientação teórica em vigor defende
que o processo de construção de interpretações sobre o passado se faz no
diálogo necessário entre nossas ideias e concepções com os indícios que
conseguimos agrupar para corroborar nossas assertivas. (GATTI JUNIOR,
2002, p.14).
A nova perspectiva traz uma proposta de investigação historiográfica que vai além dos
textos impressos, arquivados ao longo dos anos, para resgatar a memória daqueles
personagens que participaram e participam dos eventos sociais relativos ao funcionamento das
instituições escolares. Deve-se ressaltar que o historiador não precisa abandonar a análise de
documentos oficiais, mas enriquecê-los com o resgate das vozes dos atores envolvidos,
podendo, finalmente, recuperar as singulares dos acontecimentos que levaram à realização de
determinados acontecimentos no âmbito da História da Educação, identificando nos
depoimentos a centralidade das ações históricas.
A História Oral é importante, pois permite que o historiador analise questões críticas
que, anteriormente, eram restritas, pelo fato de dizerem respeito a atividades que raramente
deixavam registros, vestígios para serem estudadas. De acordo com Thompson:
Contudo, deve-se ressaltar que o fato da tradição oral ser uma rica via de informações,
que amplia as problemáticas concernentes ao cotidiano, não se deve esquecer a necessidade
de validação decorrente da crítica apurada que confronta a visão subjetiva do depoente com as
condições concretas da realidade. O uso da História Oral é importante para o estudo das
instituições educativas, pois:
Bem certo que o historiador não pode deixar mão da informação oral, sob
pena de se perderem gradualmente os depoimentos vivos referentes a
períodos altamente significativos da História recente [...]. Mas tal recurso
não pode deixar de contrapor-se à informação escrita (MAGALHÃES, 1996,
p.17).
e ter consciência clara de que eles são produzidos por pessoas em tempos próprios, muitas
vezes envolvidas pelos acontecimentos e que fazem suas próprias representações e
apropriações.
Para alguns autores, à guisa de Thompson (1984, p. 52), “toda História é em seu
princípio oral”, tentar reconstruir fatos, momentos e acontecimentos recorrendo-se a memória
dos agentes partícipes, foi uma maneira recorrente de tecer a História entre alguns
historiadores, antes do advento da concepção positivista do século XIX, que destacou a
importância dos documentos como recurso de prova histórica em detrimento de outras fontes
consideradas não legítimas.
A História Oral deve ser considerada além das entrevistas, visto que ela apresenta
também História de vida, tornando-a uma fonte enriquecedora das pesquisas, ressaltando-se, a
partir dela, a possibilidade de renovar o contato entre a História e as ciências sociais, entre
elas destacando-se a Sociologia e a Antropologia tomando as entrevistas como fonte
fundamental de testemunho.
Poder-se-á valer-se da História Oral como técnica para estabelecer relações e análises
para responder questionamentos e problemáticas não desveladas pela documentação escrita.
Dessa maneira é importante realizar o cotejamento das fontes escritas e orais, pois elas podem
abrir novas perspectivas de apreciação e crítica, lançando um diferente olhar sobre a
instituição e o período estudado.
Por fim, pode-se afirmar que as novas abordagens historiográficas que alavancaram a
História da Educação não são as mesmas que permearam a História tradicional. As inovações
paradigmáticas e temáticas foram tantas, que ampliaram as formas de compreender,
apreender, investigar e se questionar à diversidade dos contextos históricos.
No Brasil colonial, não existia um especialista para realizar tratamento dos dentes,
assim como ocorria na Metrópole portuguesa e nos demais países da Europa. As parcas
bibliografias do século XVIII, a respeito da História da Odontologia no Brasil, mostram que
os acometidos por doenças dentárias procuravam sozinhos ações contra a dor de dentes,
buscavam diversas formas para tratar tal patologia, sendo o cuidado feito por meio de
benzeduras, rezas e uso de medicamentos à guisa de óleo de cravo e láudano, cânfora,
pólvora, teias de aranha, entre outros. A figura do tiradentes e sua caixa de horrores (faca de
formas e tamanhos diversos, alavancas, boticões) era procurada como último recurso12.
12
Dentista ambulante, 1523. Fonte: MIARNAU. Historia anecdótica de la Odontologia – a través del arte y de
la literatura, p. 107. Acervo da Biblioteca da Faculdade de Odontologia/UFMG.
39
Tais estudos sobre a arte de cuidar dos dentes eram notavelmente precários, entretanto,
mesmo com a dificuldade enfrentada pela falta de recursos de estudo, a recomendação da
higiene bucal já era apontada como fator principal de manutenção da saúde oral.
13
Na Ilíada, de Homero, é citado como um hábil cirurgião.
14
Pierre Fauchard. Le chirurgien dentiste ou traité des dents. 1728.
40
Como ocorria em Portugal e nos demais países da Europa, o Brasil colonial não tinha
profissionais especializados para tratar os dentes, dessa sorte, o vocábulo dentista só pôde ser
verificado em 1739, no Dicionário de Português, publicado pelo Padre Raphael Bluteau. Até o
momento da divulgação do dicionário, não existia a palavra dentista, pois aqueles que
41
exerciam o ofício de curar dentes eram denominados cirurgiões e barbeiros, que além tratarem
da arcada dentária, exerciam várias outras atividades laborais.
De acordo com Bluteau, os dentes servem para mastigar os alimentos que se destinam
ao estômago, assim como também para ornato da boca e clara articulação das palavras,
evidenciando-se a importância da dentição na estética e feição das pessoas.
Por outro lado, John Hunter, em sua obra intitulada The Natural History of the Human
Teeth (1971) apresenta a concepção de que o elemento dentário era um corpo estranho ao
organismo humano e que seria eliminado com o decorrer do tempo.
A variabilidade anatômica podia ser constatada, pois alguns indivíduos tinham dentes
maiores, outros menores e agudos, por vezes, apinhados, ou seja, postos uns sobre os outros,
enquanto outras pessoas apresentavam dentes distantes uns dos outros, com articulação da
mordida harmônica ou não. Também havia indivíduos com dentes estragados, ou brancos,
com formatos diversos que mudavam de pessoa para pessoa.
15 Na cultura indígena brasileira, havia a figura do Pajé, um chefe Espiritual, espécie de médico-feiticeiro,
curandeiro, responsável pela saúde da tribo. Os seus rituais incluíam também a área da saúde e são conhecidos
como pajelança.
43
Nos estudos realizados por Cunha (1968, p. 22), está registrado que Salvador Lerman,
após análise do estudo arqueológico, que realizou em um cemitério de escravos de uma antiga
fazenda colonial jesuítica no Espírito Santo, percebeu a incidência de três modelos de
mutilação dentária, destacando-se o afilamento dos dentes centrais superiores e/ou inferiores,
como características diferenciadoras e marcantes da aparência de alguns escravos.
Para Luís Mott, as modificações dentárias podem ser observadas nos anúncios de
escravos fugidos, ficando evidente que as mutilações eram comuns entre os escravos.
Digno de nota são as alterações dentárias: quatro dos fujões possuíam dentes
limados (pontiagudos), sendo dois do Congo e, curiosamente, dois já
nascidos no Brasil, a parda Isabel e o mestiço Joaquim, demonstrando o
quão forte ainda na segunda metade do século XIX era a influência estética
ou ritual de certas culturas africanas, assimilada e mantida inclusive pelos
mestiços. Aliás, tais anúncios fornecem elementos informativos sobre os
africanismos persistentes na escravaria sergipana (MOTT, 1983-1987, p.
133).
Segundo Furtado,
Na sua maioria, algumas escolas possuíam cursos equivalentes ao Ensino Médio atual.
Pode-se afirmar que os primeiros cursos superiores brasileiros são oriundos desses
estabelecimentos. Destaca-se que, nesse período, ocorreu a criação dessas Escolas Superiores
na capital da Colônia em Salvador, na Bahia.
Em consonância com Ribeiro (2000), a coroa Portuguesa não autorizava, nem mesmo
reconhecia o diploma de nível superior expedido no Brasil colônia, sendo assim, os primeiros
cursos superiores foram realizados de fato, mas não eram reconhecidos de direito16.
16
Fonte: RIBEIRO, Maria Luisa Santos. A organização escolar. Campinas-SP: Autores Associados, 2000. p. 23.
45
Em 1º de abril de 1813, por projeto de Manuel Luís Alvares de Carvalho, foi fundada
a Academia Médico-Cirúrgica no Rio de Janeiro. Mesmo depois de criada a Academia,
apenas em 29 de setembro de 1826, por Decreto-Lei de Dom Pedro I, foi autorizada a emissão
de diplomas e certificados para os médicos que faziam o curso no Brasil (UFRJ, 2011)18.
Portanto, no século XVI19 a arte de curar dores de dentes não era realizada por
especialistas, mas por pessoas leigas, sem formação técnico-científica. De acordo com
Maiewski (1999), no início do século XVII, o Rei começou a outorgar autorização para o
exercício do ofício da Odontologia, contudo, essa não foi uma medida eficaz para controlar o
atendimento por pessoas desabilitadas, pois ainda não havia óbice de fato para a prática da
Odontologia e também não existia preparo ou instrução para receber a licença.
17
BRASIL. Decreto de 2 de abril de 1808. Estabelece uma cadeira de Anatomia no Hospital Real Militar da
Corte.
18
Informação Obtida por meio do site oficial da UFRJ em 15 de agosto de 2011,
http://www.medicina.ufrj.br/colchoes.php?id_colchao=1
19
FERREIRA, B. MAIS DE 500 ANOS. In:. ABO Nacional, São Paulo, v.6, nº 5, p. 290-4, out/nov., 1998.
46
FIGURA 3 Quadro de Wille the Younger, de 1788. National Library of Medicine, Bethesda.
Este francês itinerante (toothdrawer) abre seu negócio na rua para atrair atenção.
No entanto, exibe sobre a mesa o certificado expedido pelo Governo que permite
praticar a extração de dentes.
Fonte: MALVIN. Dentistry-an illustrated history, p. 164. Acervo da Biblioteca da Faculdade de
Odontologia/UFMG.
Sem ao menos ter realizado Curso Superior, em 1811, foram outorgados diplomas de
Dentista, visto que a diplomação funcionava como uma autorização para o exercício da
profissão.
A arte dentária não fora, todavia, incorporada ao ensino médico senão depois
de 1852, com a reforma Conselheiro Jobim. Os dentistas de então provinham
de todas as classes, mas eram barbeiros, na sua quase totalidade portugueses,
os seus maiores exemplares. Barbeiros e dentistas confundiram-se
tradicionalmente, talvez por influencia da França nos nossos costumes, por
lá ter existido o cirurgião-barbeiro, habilitado pela escola de Saint-Comê
(MAIEWSKI, 1999).
Nessa época, ainda não existia o recurso da anestesia, sendo assim, era muito
importante a realização rápida dos procedimentos cirúrgicos para que a exposição à dor fosse
o mais breve possível, dessa maneira os barbeiros eram confundidos com os cirurgiões,
porque eram os detentores dos instrumentos mais afiados, facilitando a realização de cirurgias
de forma rápida. O Quadro 1 apresenta uma relação de ativistas da Medicina e de suas
atividades na época.
Com o passar dos anos, a Cirurgia Geral foi englobada pela Medicina e a Odontologia
separou-se dela, seguindo como curso independente. Na realidade, isso ocorreu apenas em
alguns países, pois em muitos outros locais do mundo a Odontologia ainda é uma
subespecialidade da Medicina.
O quadro de profissionais da saúde, feito por leigos, por pessoas com as mais diversas
formações, não era exclusividade da Odontologia, na verdade, a saúde em geral era dominada
por leigos e curandeiros em toda a colônia no século XIX, pela própria ausência de pessoal
qualificado para exercer tais funções.
Nos estudos de Gondra, quando realizou a analise dos hospitais e das instituições de
saúde e das pessoas que se propunham à prática da medicina nesse período percebe-se:
requeresse. Entretanto, somente eram exigidos certidão de batismo, folha corrida e um exame
muito sumário, realizado como formalidade.
Dessa forma, iniciou-se uma tentativa de separar os práticos dos dentistas diplomados;
apesar de superficial e pouco eficiente, tal ação representou o marco inicial para traçar uma
diferenciação entre barbeiros e dentistas.
O Decreto 9.311 (em anexo) criou o Curso de Odontologia nas faculdades do Rio de
Janeiro e da Bahia, anexo ao de Medicina, instituindo-se o cargo de preparador de
Odontologia, como função integrante da cadeira de Cirurgia.
Os professores dentistas não tinham autonomia para aplicar avaliação aos alunos, pois
essas eram realizadas de forma exclusiva pelos docentes médicos.
20
Theotonho Borges Diniz, cirurgião dentista, mais tarde agraciado com título de Barão Diniz pela Coroa
portuguesa.
21
Exodontia, ato de extrair, remover, elemento dentário.
22
BRASIL. Decreto n° 9.311, de 25 de outubro de 1884. Criação dos cursos de Odontologia no Brasil.
50
→Física Elementar,
→Química Mineral, e Elementar,
→Anatomia Descritiva,
→Topográfica da Face;
→ Histologia Dentária,
→Fisiologia Dentária,
→Patologia Dentária,
→Higiene da Boca;
→Terapêutica Dentária.
Conforme observado, não eram obrigatórias disciplinas clínicas, nem mesmo eram
contempladas matérias de formação teórico-prática. Foi necessário alterar o estatuto das
Faculdades de Medicina, para possibilitar a criação do Curso de Odontologia:
23
Esta data foi instituída como o Dia da Saúde Dentária, pela Lei nº 3.504, de 24 de dezembro de 1958. Mais
recentemente foi criado também em 25 de outubro o dia Nacional da Saúde Bucal também no dia 25 de
Outubro, pela Lei nº 10.465, de 27 de maio de 2002.
24
BRASIL. Decreto n° 1.270 – de 10 de outubro de 1891. Reforma Educacional Ministro Benjamin Constant.
25
BRASIL. Decreto n° 1.482 – de 24 de julho de 1893. Lei que institui o título de cirurgião-dentista.
51
Assim, não seria mais necessário possuir diploma para exercer a Odontologia, ou seja,
pessoas com ou sem formação superior poderiam atender. Contudo, apesar do aparente
retrocesso, como ramo científico autônomo, nessa fase, destaca-se que ocorreu um
desenvolvimento da parte técnica nos cursos de Odontologia, pois introduziu as cadeiras
técnicas, e concomitantemente, apresentou uma melhoria na formação dos odontólogos.
A Lei Maximiliano pode ser uma das justificativas de ocorrer certa proximidade do
Curso de Odontologia com o de Farmácia. Apesar de serem cursos com especificidades e
peculiaridades, pode-se perceber a junção destes dois durante a criação das universidades
brasileiras.
26
BRASIL. Decreto n° 8.659 – de 5 de abril de 1911. Reforma educacional ministro Rivadavia Da Cunha
Corrêa.
27
BRASIL. Decreto n° 11.530 – de 18 de março de 1915. Reforma educacional ministro Carlos Maximiliano
Pereira dos Santos.
28
Ourivesaria é o artesanato em ouro, praticado pelos ourives. Essa confusão entre o dentista e o ourives se
justifica pelo fato de que durante muito tempo o ouro foi utilizado de maneira corriqueira nas próteses
odontológicas, não só por suas qualidades físicas, mas também como símbolo de riqueza e status econômicos.
52
Com o advento do novo texto legal, o currículo do Curso foi reduzido especificando-se as
matérias obrigatórias. Conforme consta no artigo de lei.
Verifica-se que o conteúdo das matérias foi organizado e distribuído nos seguintes
termos:
29
BRASIL. Decreto n° 11.530 – de 18 de março de 1915. Reforma Educacional Ministro Carlos Maximiliano
Pereira dos Santos.
30
BRASIL. Decreto n° 11.530 – de 18 de março de 1915. Reforma Educacional Ministro Carlos Maximiliano
Pereira dos Santos.
53
Para Beaulieu (1966), esse período educacional brasileiro, caracterizado por variações
e modificações poderia denominar-se como o período das “reformas consecutivas e
desconexas”31.
O Decreto 20.862 tentou legalizar a prática exercida por pessoas sem Graduação, sem
formação técnico-científica, o que prejudicou a imagem da Odontologia, que tentava
conquistar seu status de ciência autônoma. Por outro lado, procurou limitar a atividade do
31
A partir de então, vários autores confirmaram e consagraram esta expressão, como é o caso de BEGER,
Manfredo. Educação e Dependência. 3ª ed. São Paulo/ Rio de Janeiro: DIFEL. 1980.
32
PEREIRA, An tô nio Pacífico. AP UD, MAGALHÃES, Fernando. O Centenário da Faculdade de
Medicina de Pernambuco 1832 - 1932. Rio de Janeiro Tip. A. P. Barthel, 1932.
33
BRASIL. Decreto nº 20.862- de 28 de dezembro de 1931. Regula o exercício da Odontologia pelos dentistas
práticos.
34
“Dentista-prático” é a denominação dada à pessoa que, sem formação acadêmica, exerce a Odontologia.
Geralmente, são indivíduos que praticaram atividades em consultórios odontológicos, como protéticos,
auxiliares ou atendentes de consultório. No Brasil, atualmente, o exercício ilegal da Odontologia é crime
previsto no Art. 282 do Código Penal, “Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou
farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos. Parágrafo único: Se o crime é praticado com fim de lucro, aplica-se também, multa.”
54
Outros requisitos foram impostos, como ter três anos de prática para se submeter à
prova prático-oral, além de ter que apresentar um certificado de bom comportamento e de
idoneidade moral, atestado de vacinação contra varíola, não sofrer de moléstia contagiosa, e
por fim, a certidão de idade demonstrando a maioridade civil, devendo ter mais que 21 anos.
Nesse período, não havia grandes diferenças entre a Odontologia praticada no interior
do País e em regiões mais isoladas da capital, e aquela praticada na época do Barão Diniz.
Eram poucas as pessoas que tinham acesso à informação de como realizar uma higiene
dentária adequada por meio da escovação, entre outros meios de prevenção das doenças
bucais. O alto consumo de sacarose agravava a incidência das cáries e da doença
periodontal35. Assim, tornava-se crescente a demanda por profissionais para atenderem a
população.
35
Grupo de doenças de causa bacteriana, que afetam e destroem os tecidos que dão suporte ao dente na boca.
Tais tecidos são denominados de periodonto, por estarem na periferia do dente, inserindo-o ao osso que o
suporta.
36
Lesão causada no paciente por imperícia, imprudência, ou negligência de um profissional da saúde.
55
deveria ser bem aproveitado. Contudo, é vedada por lei a atuação da pessoa sem qualquer
formação acadêmica.
Com a reforma Francisco Campos, na década de 1930, foi regulamentada a criação das
universidades37 e, para tanto, foram estabelecidos critérios necessários para abertura dessa
instituição de Ensino Superior. Essa reforma estabeleceu normas para a criação das
universidades, merecendo destaque o fato de que cada Universidade seria criada pela união de
faculdades, sendo pelo menos uma das três entre as seguintes: (Medicina, Direito, Engenharia,
Educação, Ciências e Letras); ter no mínimo três faculdades com pelo menos quinze anos de
funcionamento.
37
FÁVERO, Maria de Lourdes de A., Universidade Brasileira Em Busca de Sua Identidade. Rio de Janeiro:
Editora Vozes, 1977.
38
BRASIL. Decreto n° 19.851 – de 11 de abril de 1931. Reforma educacional ministro Francisco Campos.
56
39
BRASIL. Decreto nº 5.081, de 24 de agosto de 1966. Regula o exercício da Odontologia.
57
CAPÍTULO II
A EDUCAÇÃO E O ESTADO MILITAR NO BRASIL (1964-1985)
Passados mais de 40 anos das reformas, valemo-nos também de outros elementos que
permitem a abordagem do tema da tese. Nas seções que se seguem, estão delineados os
fatores que foram determinantes para a expansão do Ensino Superior e para a ampliação das
instituições federais de Ensino Superior, procedimentos que estavam em conformidade com o
projeto de desenvolvimento econômico que previa a substituição de importações com a
expansão do mercado consumidor. Esses fatores indicavam a necessidade da interiorização
das oportunidades de trabalho, o que de fato aconteceu com a implantação da ação do estado
militar na construção de grandes obras destinadas a dar suporte ao surto industrial do “milagre
brasileiro”40.
40
Trata-se das grandes obras de integração nacional como a rodovia Transamazônica, a Itaipu Binacional, entre
outras obras que demandaram grandes contingentes humanos para a sua realização.
58
41
No ano de 1946, o Brasil ganhou uma nova Constituição responsável pela reintrodução da democracia no
contexto político brasileiro. De fato, as novas leis constituintes acabaram com o autoritarismo do Estado Novo
e devolveram a soberania política ao voto popular. Entretanto, após os vários anos em que Getúlio Vargas se
colocou a frente do governo, o cenário político brasileiro se mostrou tomado por várias tendências carentes de
uma orientação política mais bem articulada.
Foi nessa ausência de organização ideológica que o populismo abraçou intensamente o desenvolvimento da
democracia. Aclimatado à imagem de um líder soberano, as camadas populares se entregaram facilmente aos
líderes que demonstravam, por meio de ações políticas e simbólicas, o seu compromisso para com as massas.
Contudo, apesar de provedor de direitos, o líder populista também se colocou atrelado ao desenvolvimentismo
almejado pelos vários setores da elite nacional.
Por meio de um recuo no tempo, vemos que o populismo deu seus primeiros passos quando Getúlio Vargas
implementou os direitos da classe trabalhadora. Fato inédito em nossa trajetória, a valorização do trabalhador
assalariado não foi interpretada como uma resposta a um país que se urbanizava. Para uma vasta população
pobre e desinformada, tais direitos era o resultado da ação personalista de Getúlio Vargas. Não por acaso, ele
ganhou a alcunha de “pai dos pobres”.
Fonte: Brasil Escola- <http://www.brasilescola.com/historiab/democracia-populismo.htm>. Acesso em
08/12/2011.
59
Para Ianni (1986, p.35), o Regime Militar respondeu, tanto “às determinações básicas
do capital como às reivindicações dos movimentos sociais e partidos políticos de base
popular.” Isso mostra que se deve analisar o Estado juntamente com a estrutura da sociedade,
das suas classes sociais e das aparentes contradições, avaliando as diferentes conjunturas
históricas que permearam a formação histórica do bloco de poder constituído pelos militares e
pelas elites hegemônicas.
Realmente, era necessária uma atuação que começasse pelos níveis básicos de
Educação, buscando a universalização e a ampliação da escolarização obrigatória no Primeiro
Grau, juntamente com a melhoria na qualidade do ensino profissionalizante no Segundo Grau,
pois segundo Kramer (1982, p.71) e Patto (1991, p. 64) existiam significativas evasão e
repetência como resultados dos processos de alfabetização adotados em escolas públicas, a
dificuldade de acesso e o fato de as instituições supervalorizarem o uso da escrita,
incrementavam a evasão e o alto índice de alunos repetentes, interferindo na configuração da
“pirâmide escolar42”.
42
Na Pirâmide escolar a base seria formada pelos alunos dos cursos básicos, ou seja, ensino
primário/fundamental, a parte intermediária seria constituída pelos alunos do curso profissionalizante e do
ensino médio, e por fim, no ápice da pirâmide estariam os alunos que conseguiriam chegar ao Terceiro Grau e
ao final de todo processo conseguissem o Diploma Universitário.
61
Pela falta de compromisso para com a Educação pública, o Governo Militar optou por
assumir a dívida externa privada, desviando, consequentemente, uma soma considerável de
verbas que poderiam ser destinadas a uma reestruturação do sistema educacional brasileiro.
Houve, nesse período, uma acumulação de capital sustentada pela desigualdade social,
reflexo direto da concentração de renda que ainda caracteriza a dinâmica social brasileira. A
conjugação destes fatores é a responsável pela exclusão social que penaliza fortemente as
camadas populares da população brasileira. No início da década de 1970, no momento em que
Uberlândia alcançava a realização do sonho de cidade moderna, com a instalação da sua
universidade, os segmentos médios e setores das camadas populares identificavam no
discurso oficial um sinal tênue de resposta às suas aspirações com o aumento de oferta de
vagas no Ensino Superior, pouco nas instituições públicas e exagerado em instituições
64
Pode-se afirmar que o Estado Militar procurou atender aos interesses dos capitalistas
também pelo direcionamento da escolarização, na tentativa de desenvolver mão de obra
qualificada necessária à indústria nascente. Dessa maneira, ocorreram as reformas — entre
elas a Reforma do Ensino Superior, em 1968, e posteriormente, em 1971, a Reforma do
Ensino do Primeiro e Segundo Graus – entre os objetivos das mudanças, destaca-se o intuito
de controlar a participação da sociedade civil. Fez-se uma “revolução passiva ou pelo alto”
evitando possíveis mobilizações de outros setores que não o Militar dominante para modificar
a estrutura de ensino até então vigente.
Ora, em que pese a ruptura institucional, nota-se que as mudanças acarretadas pela
conjunta capitalista demandavam a expansão do tempo mínimo de escolarização, tendo em
vista a necessidade de ampliação de mercados consumidores e de rearranjo da produção,
transferindo para os países pobres os parques industrias sediados na Europa e nos Estados
Unidos da América.
Passadas quatro décadas das reformas educacionais do regime militar, é possível rever
o papel da Educação como alicerce da prosperidade econômica, o que servia de atrativo para a
mudança de hábito da sociedade brasileira e que incidia na escolarização da sociedade e na
ampliação da permanência compulsória da população em idade escolar nos estabelecimentos
67
de ensino (CUNHA, 1997, p. 118). Valendo-se do raciocínio de Meszaros, que oferece outra
interpretação dessa realidade permeada pela escolarização,
Nessa perspectiva, fica bastante claro que a Educação formal não é a força
ideologicamente primária que consolida o sistema do capital; tampouco ela é
capaz de, por si só, fornecer uma alternativa emancipadora radical. Uma das
funções principais da Educação formal nas nossas sociedades é produzir
tanta conformidade ou “consenso” quanto for capaz, a partir de dentro e por
meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente sancionados
(MESZAROS, 2008, p. 45).
preparação do cidadão para exercer seus direitos e participar, de forma ativa, na sociedade.
Sendo assim, infere-se da análise do seu livro uma defesa por esse autor de um ensino
público, gratuito, laico e de qualidade.
Para Luiz Pereira, a escola pública é um dos fatores determinantes do atraso material e
social do País. Em suas principais obras, evidencia que o caminho para a mudança estrutural
interna da escola é a racionalização das ações. De acordo com esse autor, a estrutura escolar é
“um subsistema peculiar” que, na origem, é parte de um “esforço do Estado moderno para a
racionalização das relações sociais”.
Assim sendo, de acordo com Luiz Pereira, a escola é considerada como o lugar social
capaz de promover, de modo racional, encontros de sujeitos das mais variadas gerações, que
participam de modo diferenciado na vida urbano-industrial, gerando conflitos e tensões
considerados como fatores relevantes para explicar as deficiências e os avanços no meio
educacional e a maior ou menor implicação com a cultura escolar com o desenvolvimento da
nação.
O ponto de partida para entender o viés desse autor são os textos Rendimento e
Deficiências do Ensino Primário Brasileiro (1959) e A escola numa Área Metropolitana
(1967), e, principalmente, o livro Trabalho e Desenvolvimento no Brasil (1965), ambos
fundamentais no conjunto de trabalhos, pois apresentam as ingerências das políticas voltadas
para Educação brasileira, que resultariam nas reformas educacionais da Lei de Diretrizes e
Bases (LDB) e na Reforma Universitária de 1968.
a via mais próxima e direta para conseguir uma colocação no mercado de trabalho. Em
consonância a esse pensamento Romanelli afirmou que
Foi nessa altura que foram assinados todos os convênios através dos quais o
MEC entregou a reorganização do sistema educacional brasileiro aos
técnicos oferecidos pela AID. Os convênios, conhecidos comumente pelo
nome de ‘Acordos MEC-USAID, tiveram o efeito de situar o problema
educacional na estrutura geral de denominação, reorientada desde 1964, e de
dar um sentido objetivo e prático a essa estrutura [...] uma vez acelerada a
industrialização, a tendência à criação de serviços é imensa, devido à
necessidade de obras de infraestrutura, crescimento do setor terciário, e
organização burocrática, em crescente complexificação. [...] o Estado, como
propulsor da expansão econômica, mantém vários mecanismos
concentradores de capital e órgãos de planejamento e administração além
das suas próprias empresas (ROMANELLI, 2000, p. 197, p. 205).
De acordo com Cunha, o projeto inicial contava com cinco diretrizes principais:
Pós 1964, o advento da Lei elaborada por Flávio Suplicy de Lacerda impôs que as
congregações estudantis, a partir de então, entrassem na ilegalidade, reprimindo, dessa sorte,
as reuniões dos estudantes da União Nacional dos Estudantes – UNE e das UEEs – Uniões
Estaduais de Estudantes. O Estado tentou criar órgãos de representatividade estudantil
“ligados/atrelados” ao Governo, que ficaram conhecidos como entidades “pelegas”.
74
que a intenção do Regime era alijar a consciência crítica e a vontade própria dos estudantes e
das massas, em nome de um Estado de Segurança Nacional de cunho ditatorial.
Com a mudança da Capital do País do litoral para o interior favoreceu por meio de
incentivos, construções, infraestruturas, privilegiando o desenvolvimento de Minas Gerais que
se tornou um importante centro de decisões e concentração de interesses políticos.
43
A região de influência de Uberlândia compõe-se por uma área que não se confunde, especificamente, nem com
a microrregião de mesmo nome (microrregiões homogêneas do IBGE), nem com a denominada mesorregião
do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (IBGE), estendendo-se pelo sul e sudoeste de Goiás, nordeste do Mato
Grosso do Sul, sudoeste de Mato Grosso e uma franja horizontal da bacia do Rio Grande, no norte do Estado
de São Paulo, onde divide área de influência econômica com os núcleos de Ribeirão Preto e São José do Rio
Preto. O estudo do REGIC, realizado pelo IBGE em 1993, representa certa confirmação empírica dessa área de
influência.
78
mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro. Ressalta-se não somente a importância
econômica da participação do Estado mineiro, mas suas características políticas presentes nos
ideais de lideranças que sonhavam com uma independência. A Inconfidência Mineira deixou
um legado da respeitável participação no cenário político nacional.
Nos anos de 1906 a 1909, o então Presidente do Brasil Afonso Augusto Moreira Pena
– representante mineiro – buscou subsídios para construir linhas férreas, incentivar criação de
parques industriais e modernizar os portos de Recife, Vitória e Rio Grande do Sul; com a
colaboração de Rondon, atuou na interiorização do Oeste, não se preocupando de forma
exclusiva com a produção de café.
Minas Gerais, até a década de 1950, não tinha força econômica como São Paulo e
também não apresentava um polo industrial desenvolvido, sendo assim, a alternativa para
conseguir desenvolver-se era conseguir representantes políticos atuantes e influentes. Em
consonância a essa análise, Fausto afirmou que:
República; a ascensão ou escalada política que o levou até Brasília foi importante para inserir
o contexto socioeconômico da cidade, do Estado e da Nação na ordem Mundial.
Uma cidade é uma estrutura orgânica. Não vive por si, solta no espaço e
isolada no tempo. Ela se insere no contexto socioeconômico que a rodeia.
No caso de Belo Horizonte, essa intervinculação era reforçada por um fator
de ordem política: tratava-se da capital de um dos grandes Estados da
Federação. Daí minha preocupação de ligá-la, de forma racional e prática à
área que lhe servia de fundo. De acordo com esse pensamento, providenciei
a abertura das bocas, que eram saídas naturais, vinculando o polo de
desenvolvimento, em que ela havia se transformado, ao progresso geral do
Estado (OLIVEIRA, 1976, p.30).
A influência dos representantes políticos mineiros foi essencial para destacar o Estado
de Minas Gerais no cenário nacional; a atuação de Juscelino Kubitschek e a forte
administração exercida pelo Governador do Estado Milton Campos político experiente que já
havia sido prefeito da capital mineira em 1940, orientado por um dos fundadores do Partido
Social Democrático (PSD), possibilitaram, por meio das diversas alianças, a gestação de ações
e de práticas no sentido de fortalecer a reputação de Kubitschek pautado no slogan binômio
“Energia e Transporte”, diretrizes defendida por ele quando Governador do Estado de Minas
Gerais e reforçado quando Presidente da nação.
Brasília. Nesse viés, Minas Gerais de acordo com (OLIVEIRA, 2001, p.103), “[...] colocou-se
em situação privilegiada, pois aqui estavam sendo implantadas as duas maiores usinas
hidrelétricas do período, justamente de onde deveria partir o abastecimento para a construção
da nova capital da República”.
Em 1961, com a crise política provocada pela renúncia de Jânio Quadros, os setores
conservadores, na busca de impedir a posse do vice João Goulart, buscaram respaldo no
Parlamentarismo, indicando o Governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, contudo, ele o
não aceitou e repassou a recomendação para Tancredo Neves.
O interesse pelo cargo presidencial em 1965 era forte, sendo assim, Magalhães Pinto,
Juscelino Kubitschek e Rondon Pacheco44 reforçavam as alianças para rechaçar Jango; a
partir de 1963, foi intensa a ação anti-Goulart cooptando forças em todo território nacional.
Nesse momento fica evidente a força das lideranças políticas mineiras; Rondon
Pacheco assumiu o Governo de Minas Gerais durante 1971 a 1975, destacando-se pela busca
de uma administração técnica, mantendo-se em sintonia com os interesses militares, sem
44
Ex-Deputado Estadual, ex-Deputado Federal, Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República -
Anos de 1967-1970. Governador do Estado de Minas Gerais – Anos de 1971-1975.
82
Não somente como Governador, mas como político uberlandense, foi incisiva a
participação do Rondon Pacheco, que se colocou como líder de uma nova mentalidade a ser
implantada na cidade de Uberlândia e no Estado de Minas Gerais. As mudanças significavam
moldar o estilo mineiro à política militar; exerceu ações no sentido de adequar, enquadrar os
interesses do local, do regional ao nacional. Dessa maneira, sua atuação destaca-se pela
autoridade que lhe foi concedida pelo Presidente da República para escolher os Governadores.
escravocrata, não havia preocupação com a Educação, evidenciando-se que grande parte da
população não tinha possibilidade de estudar.
O Estado não se preocupava com a Educação pública, sendo assim, as escolas foram,
principalmente, fruto da vontade de pessoas e representantes de cada cidade envolvidos com o
ideal de desenvolver meios e acesso à Educação para sua região, tornando comum o
predomínio da iniciativa privada na criação das escolas e, entre elas, grande parte vinculada à
orientação religiosa. Para exemplificar, no final de 1960, Uberlândia contava com cinco
escolas públicas e seis privadas45.
45
GATTI JR. et al. , 1997. pp. 22-23.
87
CAPÍTULO III
AS CONDIÇÕES HISTÓRICAS DO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA E A
GÊNESE DAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE ENSINO SUPERIOR
Acredita-se ser necessário promover uma revisão das leituras que são extraídas de
dissertações e nas teses que tratam da modernização da sede do município de Uberlândia. O
momento em que Uberlândia se projetou no cenário nacional, ultrapassando outros
municípios mineiros e, principalmente, a cidade de Uberaba para se tornar a referência do
Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, foi certamente o coroamento do empreendedorismo de
grupos econômicos locais, que enxergaram a oportunidade que se oferecia com a construção
da nova capital da República no Planalto Central. A título de exemplo é altamente elucidativo
o depoimento dado pelo Governador Rondon Pacheco a respeito da impetuosidade de um
empresário local que, na era da estatização da telefonia no Brasil, conseguia expandir em um
ramo estratégico:
devem buscar novas fontes que elucidam as bases locais para o desenvolvimento do
município, é isto que se tentará retratar nas próximas páginas.
A origem do município de Uberlândia começa por volta do século XIX, visto que as
atividades de pecuária extensiva desenvolvidas na região desde o século XVIII foram a
gênese do processo de criação que possibilitou o surgimento de um distrito chamado de São
Pedro de Uberabinha. A Lei Provincial nº 602, de 21 de maio de 1852, instituiu esse distrito
vinculado ao município de Uberaba; mais tarde, em 31 de agosto de 1888, foi elevado a
freguesia, pela Lei nº 4.643, compreendendo os distritos da sede e o de Santa Maria,
desmembrado do município de Monte Carmelo.
Em 1891, por meio da Lei nº 11, foi criada a Comarca e, mais tarde a Lei nº 23 de 24
de maio de 1892 elevou a sede à categoria de cidade. A Lei 843, de 7 de setembro de 1923,
criou o distrito de Martinópolis, desmembrado do distrito da sede e, por fim, com a Lei nº
1.128 de 19 de outubro de 1929 o município recebeu o nome de Uberlândia. Após o advento
da Lei nº 1058, de 31 de dezembro de 1943, foram criados os distritos de Cruzeiro dos
Peixotos, desmembrado de Martinópolis, e Tapuirama desmembrado da sede; ainda pela
presente lei, mudaram-se os nomes dos distritos de Martinópolis e de Santa Maria, para
Martinésia e Miraporanga, configurando-se a composição do município de Uberlândia com
cinco distritos: Uberlândia, Cruzeiro dos Peixoto,Tapuirama, Martinésia e Miraporanga.
46
Atual reitor da Universidade Federal de Uberlândia (2008-2012), Professor Titular e Docente Efetivo do
Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia - FOUFU.
Diretor da FOUFU de 2000 a 2008, Presidente Nacional da Associação Brasileira de Ensino Odontológico -
ABENO de 1994 a 2002 e 2006 a 2009.
90
Nessa época, a maior parte das indústrias era proveniente da Região Metropolitana de
São Paulo, entretanto, o eixo de desenvolvimento SÃO PAULO – UBERLÂNDIA com os
principais polos de crescimentos apresentados na Figura 05 foi favorecido pela busca de
novos locais para a inauguração de estabelecimentos industriais, que pela lógica seguida
incentivou o desenvolvimento industrial polarizado em Uberlândia, Uberaba, Ribeirão Preto e
Campinas, conforme comprovado no Quadro01 que se segue:
91
E em 1971, no final de 1970, foi um ano marcante pra mim, o ano em que
fui escolhido como Governador do Estado. Fui eleito pela Assembleia e
pude dar continuidade ao trabalho que vinha fazendo como Ministro e como
Deputado. Trouxe a malha rodoviária para Uberlândia. E trouxe de Montes
Claros, a estrada chegou aqui foi uma surpresa pra cidade, pois tínhamos
aqui uma grande aspiração, que era construir uma ponte sobre o Rio
Araguari para encurtar o caminho, pois era muito difícil, não havia realmente
uma justificativa, e isso era muito caro para a época. Mas quando
conseguimos implantar a rodovia do sal, que vem de Montes Claros para
92
Nas palavras de Maria Clara Tomaz Machado em contribuição à obra de (Gomes et al.
2003) asseverou:
Sendo assim, percebe-se que Uberlândia, uma cidade localizada no Triângulo Mineiro,
Estado de Minas Gerais, no vértice de um chapadão, circunscrita pelos afluentes do rio
Paranaíba, limitada pelos vales do Araguari e do Tijuco, originária de uma pecuária extensiva,
passou a intensificar atividades de comércio e de indústria, corroborada pela construção de
Brasília, que colocou a região do Triângulo Mineiro em posição evidentemente beneficiada e
atrativa para investimentos. Com a tentativa de interiorização do desenvolvimento
preconizada pelo Governo Federal, aumentavam-se as perspectivas de crescimento econômico
e investimentos com a construção de estradas, como destacou Rondon Pacheco em entrevista,
foram inúmeros os esforços e investimentos na região que foi intensamente beneficiada pela
proximidade da Capital.
94
Ao escrever o texto intitulado UFU: a dinâmica de uma História, Maria Clara Tomaz
Machado expõe que:
Além de ter sido uma grande oportunidade para todos aqueles que moravam
em Uberlândia, que tinham que sair de Uberlândia, onde a cidade mais
próxima era Uberaba, dar oportunidade a quem era da cidade é mais que
criar a faculdade, foi a mentalidade da Universidade já trazendo um embrião
para que se consolidasse a Universidade de Uberlândia e, posteriormente, a
Universidade Federal de Uberlândia. Eu acredito que com isso a gente tenha
contribuído muito com o desenvolvimento do bloco regional, um
desenvolvimento não só de Uberlândia, mas de toda a região, com a criação,
inicialmente, de uma faculdade que era da Autarquia Educacional e tinha
uma mensalidade subsidiada, praticamente 1/3 do valor que se pagava em
Uberaba, que era particular, e posteriormente a partir de 1978, com a
federalização, ocorreu a isenção do pagamento das mensalidades; isso tem
contribuído para o desenvolvimento regional de uma forma muito
47
Professor titular da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia. Atualmente, é chefe de
gabinete do Reitor, coordenador do Programa Nacional de reorientação da formação profissional em saúde da
FOUFU, membro da comissão para elaboração do regimento interno do HCU-UFU, membro titular e
representante da IES – Federais no programa de residência multiprofissional da saúde, e diretor executivo da
FAEPU.
95
Por fim, fica evidente, na confrontação e na análise das fontes da época, que o cerne
do projeto político da sociedade uberlandense era desenvolver as fábricas e o setor industrial
97
de forma que se criasse uma autonomia na produção de mercadorias que seriam distribuídas
para todo o País.
Transcrição da reportagem:
Em várias cidades mineiras vão surgindo, nesses últimos tempos, escolas superiores.
Já se não limitam à Escola de Minas de Ouro Preto, de justo renome e de tradições gloriosas,
nem do instituto eletrotécnico de Itajubá que lhe sucedeu, depois de longo intervalo – Juiz de
Fora integra-se há muito, entre os Centros Universitários do país. Santa Rita de Sapucaí tem
sua escola de eletrônica. Divinópolis, Itaúna, Montes Claros, vão congregando as suas escolas
superiores em outras tantas unidades da mesma forma que Varginha, Uberlândia e Uberaba. A
Universidade do Vale do Jequitinhonha, em Diamantina, já vai passando de aspiração a
realidade. Sem ser um levantamento, mas simples enumeração necessariamente incompleta,
esses dados patenteiam um dos mais promissores sinais do progresso mineiro, ultimamente
verificado: - a descentralização da Universidade.
Pelo visto, todos compreendem o que representa a formação de médicos, de tanto que
necessita o nosso “hinterland” na própria região onde devem atuar. E o mesmo saberia dizer,
até certo ponto, das outras profissões liberais.
Como quer que seja, essa descentralização está corrigindo, pelo menos duas
anomalias: o excesso de população estudantil da Capital, e, principalmente, a ideia de a ela
ficarem circunscritos os progressos dessa natureza. Efetivamente, sem melhorar as condições
100
de vida do interior, não haverá meio de evitar a constante afluência de famílias para os
grandes centros. Em sentido rigorosamente sociológico, o chamado êxodo dos campos não é
um mal nem um bem, mas sim a solução inevitável em face da má distribuição dos bens do
progresso e da cultura. Essa verdadeira revolução na esfera do ensino superior, que já agora
não é privilégio da Capital, represente expressivo fator de equilíbrio.
Um boi por uma escola! Esse gesto dos fazendeiros de Uberlândia tem de ser
divulgado para servir de exemplo. Dificilmente se encontrará mais acabada integração da
comunidade com uma iniciativa cultural, que tanto a serve e a dignifica.
Para Dr. José Olympio de Freitas Azevedo: “Chegamos inclusive a notificar nos
jornais que 4.000 fazendeiros pertencentes ao Sindicato Rural dariam, cada um, uma cabeça
de gado, um boi, para financiar a Escola, apenas para criar impacto na opinião pública,
inclusive nacional, para repercutir nos membros do Conselho Federal de Educação junto ao
Ministério”.
Nos anos de 1963 a 1970, exercendo o cargo de Deputado Estadual Homero Santos48
foi um agente determinante na idealização e na concretização das faculdades em Uberlândia.
No ano de 1957, já como Deputado Federal, ele estabelecera uma comissão pró-escolas de
Ensino Superior, constituindo e realizando palestras na tentativa de impulsionar a construção
de uma Escola de Ensino Superior local.
Não tenho a menor dúvida da grandeza que representa hoje a iniciativa que
tivemos no sentido de efetivar a criação de Escolas de Ensino Superior, que
48
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Guanabara;
Vice-Presidente do TCU - Anos de 1995/1996, Presidente da Primeira Câmara do TCU - Anos de 1995/1996,
Corregedor do TCU - Anos de 1995/1996, Supervisor da Revista do TCU - Ano
de 1995/1996, Presidente do TCU - Anos de 1997/1998, Vereador em Uberlândia - nos de1954/1962, Professor
Universitário – Ano de 1962, Deputado Estadual em Minas Gerais – Anos de 1963/1970, Deputado Federal –
Anos de 1971 a 1974/1974 a 1978/1978 a 1982/1982 a 1986 e 1986 a 1988.
101
Transcrição da reportagem:
Uberlândia há dias vem sendo agitada por uma onda de entusiastas que querem
edificara aqui um Faculdade de Medicina, alias uma ótima campanha em benefício a nossa
culta e progressista cidade.
Esse era o nosso modo de pensar, e esse também foi o modo de pensar do mentor de
tal campanha, Sr. Homero Santos. E veio a ocasião, e num momento que não poderia ser mais
oportuno. O deputado Mário Palmério, em visita a Uberlândia, iria ser recepcionado no Praia
Clube. Neste dia também, domingo, iria haver um grito de carnaval, com blocos desfilando
pelas ruas. Então veio a ideia para uma melhor propaganda sobre a Faculdade de Medicina de
Uberlândia. E realizaram o movimento que abafou completamente o carnaval pelo ineditismo
do fato e pela disposição animada dos seus componentes.
104
Na frente uma grande faixa que ocupava de extremo a extremo da rua incitando a todo
uberlandense a cooperar nesta benemérita campanha que só iria trazer benefícios. Depois um
grupo de rapazes vestidos de médicos ou enfermeiros, e também outros enfaixados, feridos
imitando os doentes. Vários outros cartazes simbólicos eram vistos no meio dos médicos e
doentes.
Atraz, enfeixando tudo vinha um carro imitando uma ambulância com uma grande
cruz vermelha. A população presenciou tal fato a princípio pensando que fizesse parte do
carnaval, mas aos poucos foram compreendendo que aquilo não era carnaval, e sim uma
campanha, um melhor modo de fazer o povo compreender que em Uberlândia estava sendo
iniciado um movimento de grande envergadura, um movimento que para o futuro só trará
benefício e fama para Uberlândia. E todos que se achavam presente seguiram o desfile em
prol de uma Faculdade de Medicina admirados pela perfeição que foi efetuado, imitando
perfeitamente aquilo que eles se propõe a fazer em Uberlândia. Todos que assistiram como
tivemos ocasião de constatar, apreciaram muitíssimo a manifestação estudantil.
Da praça Antônio Carlos rumaram para o Praia Clube, lá chegando no momento exato
em que chegava o deputado Mário Palmério acompanhado do Presidente da Câmara
Municipal, do vereador Angelino Pavan e de outros. Foi recebido o deputado Mario Pal
(continua na quarta página).
para a indústria e três escolas superiores, ou seja, as três primeiras faculdades (Direito,
Filosofia Ciências e Letras e de Ciências Econômicas).
Em 1962, Homero Santos foi eleito Deputado Estadual pelo Partido Social Democrata
(PSD), vindo a ocupar o cargo de vice-líder da sua bancada na Câmara. Outro representante
da cidade de Uberlândia, Valdir Melgaço, também foi eleito Deputado Estadual.
49
José Antônio Vasconcelos Costa, Deputado Federal por três mandatos a partir de 1945, na época foi um dos
candidatos mais votados do Brasil com aproximadamente 100.000 votos, falecido em 2008.
50
Rondon Pacheco exerceu o cargo de Deputado Federal de 1951 a 1971, e de 1983 a 1987.
108
Na citação que se segue, depreende-se, dos dizeres de Rondon Pacheco, a luta política
para inserir Uberlândia no rol de cidades em pleno crescimento e desenvolvimento. Sendo
assim, em entrevista, esse político disse:
De acordo com Ilar Garotti, uma ativa irmã da Congregação de Jesus Crucificado e ex-
diretora da Faculdade de Filosofia, dever-se-ia aproveitar o entusiasmo com o progresso; para
ela, o projeto de Brasília tornar-se capital brasileira iria fortalecer a posição estratégica de
Uberlândia rumo ao desenvolvimento. Sendo assim afirmou:
Contudo, para terem êxito, as propostas de Ensino Superior deveriam contar com a
aquiescência dos grupos dominantes locais e estar em consonância com o Plano Nacional de
Desenvolvimento, ou seja, para a criação de uma Escola Superior de ensino dever-se-ia obter
um projeto de universidade elaborado dentro de uma realidade concreta, permeada por uma
política cultural e educacional coerente com as “necessidades” globais do País, concatenando-
se interesses que partiam do micro, meso até macro, em outras palavras, interesses dos grupos
dominantes locais, regionais e nacionais.
111
FIGURA 9 Governador Rondon Pacheco e Dr. Laerte Alvarenga nas instalações da Faculdade
de Odontologia, 1970.
FONTE: CAETANO, Coraly Gará e DIB, Miriam Michel Cury, eds. A UFU no imaginário social.
Uberlândia, Universidade Federal de Uberlândia, 1988, p. 75.
112
CAPÍTULO IV
DAS FACULDADES ISOLADAS À IMPLANTAÇÃO DA
UNIVERSIDADE DE UBERLÂNDIA
É curioso notar que, no mesmo período em que era gestada a UnU, ocorria a
tramitação para a criação, em outro Estado, mas também em uma cidade do interior, de uma
universidade que deveria estar em sintonia com a ordem econômica. O Estado de São Paulo
em sintonia com o Governo Federal, aspirava a ter uma universidade nos moldes dos centros
de tecnologia norte-americanos, uma universidade de pesquisa, era este o projeto da
Universidade Estadual de Campinas, a UNICAMP.
Corremos o risco de dar expressão para certas filosofias da História pré-modernas que
concebiam o curso dos eventos humanos como um eterno ciclo que se repetia
indefinidamente. Mas, é curioso notar essas idas e vindas da política educacional brasileira, o
que não é o eterno retorno, mas sim a continuidade do mesmo modelo econômico dependente.
51
Denominação dada aos anos em que o Brasil permaneceu sob o regime militar
115
Em 1952, graças à atuação do Deputado Federal Mário Palmério, ficou registrada uma
intensificação da reunião de políticos, intelectuais e representantes da sociedade uberlandense
manifestando a vontade de criar uma Faculdade de Medicina. O mesmo pode ser verificado
no jornal O Repórter, datado de cinco de fevereiro de 1952, noticiando que: “Uberlândia há
dias vem sendo agitada por uma onda de entusiastas que querem edificar aqui uma Faculdade
de Medicina, aliás uma ótima campanha em benefício à nossa culta e progressista cidade”53.
Não tenho a menor dúvida da grandeza que representa hoje a iniciativa que
tivemos no sentido de efetivar a criação de Escolas de Ensino Superior,
que resultou na Federalização da Universidade, através de projeto de minha
autoria na Câmara Federal. (SANTOS, 2006). (Entrevista 03, em anexo).
(Grifos nossos).
52
Jornal O Repórter, 19 de janeiro de 1952. In Caetano e Dib (1988:XXI).
53
Jornal O Repórter, 5 de fevereiro de 1952.
54
No começo da década de 1950, nessa época exercendo o cargo de Deputado estadual Homero Santos foi um
agente determinante na idealização das faculdades em Uberlândia. No ano de 1957, já como Deputado Federal,
ele estabeleceu uma comissão pró-escolas superiores de ensino, constituindo e realizando palestras na tentativa
de impulsionar a implementação de uma Escola de Ensino Superior local.
116
QUADRO 4 Dados sobre a criação das instituições de ensino Superior em Uberlândia, seus
dirigentes e cursos abertos pelas respectivas Faculdades
55
De acordo com, Vieira Filho (1993, p.80). o Conservatório surgiu como Conservatório Superior de Educação.
Mas muitos não o reconheceram, nem o reconhecem como a primeira escola superior de Uberlândia, devido ao
tipo de ensino ministrado estar na área das artes, um ramo pouco acadêmico e de pouco prestígio numa
sociedade que começava a considerar escolas mais técnicas (vide Direito e Engenharia) como um saber mais
elevado e mais merecedor do status de Ensino Superior. Também pela forma pela qual foi estruturada a escola,
cujo ingresso não se fazia via exame vestibular. Entretanto, Cora Caparelli reivindica o status de escola
superior para o Conservatório Musical, alegando que ele foi reconhecido pelo Ministério da Educação e
Cultura: “Fundei o Conservatório, como a primeira Escola Superior de Uberlândia, porque foi uma escola já
autorizada pelo Ministério da Educação, e foi então a primeira escola superior que funcionou em Uberlândia, a
partir do dia treze de julho de 1957.”
119
Além do movimento dos vários setores da sociedade buscando a criação dos cursos
superiores em Uberlândia, visualiza-se, em âmbito nacional, uma luta pelo aumento do
número de vagas nas faculdades e nas universidades de todo Brasil. Inúmeros alunos, após
realizarem o vestibular classificatório, não conseguiam ficar dentro do número de vagas,
sendo denominados na época como “excedentes”. Tais estudantes, juntamente com
seguimentos das categorias média e média baixa, viam no ensino uma possibilidade de
conseguir uma ascensão do “status” social, consequentemente, lutavam por melhoria nas
oportunidades de ingresso no Terceiro Grau.
56
Bacharel em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil; Promotor de Justiça; Juiz
de Direito e Juiz Presidente da JCJ da Justiça do Trabalho em Uberlândia; Juiz Togado do Tribunal Regional
do trabalho da Terceira Região, Vice-Reitor (1970-1971), Reitor (1975-1976)
120
Sendo assim, por meio do Decreto-lei n. 762 de 14 de agosto de 1969, foi criada a
Universidade de Uberlândia. A História da UnU reflete os problemas presentes na Educação
brasileira, em âmbito nacional, maculada por influências políticas e Decretos-Lei que
autorizavam o funcionamento de Escolas Superiores mesmo sem estrutura física nem recursos
humanos para seu funcionamento.
Uberlândia hoje é uma cidade que tem mais de 50% de gente de fora. Em
minha primeira gestão como prefeito, a maioria da população era gente
daqui mesmo. Evidentemente, com isso não quero atacar os de fora, mas os
que são de Uberlândia têm, por obrigação, um sentimento maior de defesa
das coisas da cidade. Isso é inegável. Uberlândia é formada por gente de
fora, mas são pessoas que vieram e se estabeleceram aqui definitivamente e
começaram a defender a cidade. [...] - O povo de Uberlândia é formidável,
faz tudo o que a cidade quer”. Assim, quando ocupei a prefeitura, colocamos
o serviço de água com a ajuda de todos, desde os funcionários da prefeitura
até o povo, que doava caminhões, fazia preços mais baratos... [...]
Uberlândia antigamente se comprimia para fazer as obras públicas, o prefeito
e os vereadores não gastando à toa, todos colaborando, o povo também tinha
121
Apesar das afirmações de Renato de Freitas de que até mesmo as diferenças políticas
foram superadas em favor do “dodói” de Uberlândia, nesse período a cidade passou pela
primeira greve de alunos do Ensino Superior. Os alunos do Curso de Engenharia opuseram
resistência à unificação das faculdades, pelo fato de temerem que os valores repassados pelo
Governo Federal tivessem que ser divididos com as demais escolas, diminuindo o orçamento
e as vantagens conquistadas pela Faculdade Federal de Engenharia.
Sendo assim, a re-estruturação das escolas existentes e a criação dos novos cursos
sofreram reflexos de ordem econômica, pois estabelecia a centralização dos recursos
financeiros na administração do Reitor, que deveria também trabalhar para a concentração das
faculdades em um único campus, visando a facilitar o controle e a aperfeiçoar a aplicação de
recursos.
A adequação aos ditames legais e exigências do MEC foi necessária para permitir a
consolidação do Ensino Superior em Uberlândia. Apesar de aparentemente paradoxal, a
consolidação e a re-estruturação das faculdades isoladas no seio da Universidade de
Uberlândia aconteceram de forma concomitante, e as mudanças de administração,
estruturação, viabilizaram o modelo de ensino que culminou na construção da Universidade
Federal de Uberlândia.
Pacheco, eles foram questionados pelo Ministro da Educação e Cultura, Tarso Dutra, pois o
estatuto dava autonomia administrativa e financeira às faculdades, não caracterizando, dessa
sorte, uma Universidade. A justificativa foi no sentido de que alguns representantes das
escolas fizeram essa exigência para comporem a Universidade, não obstante, ficou registrado
o compromisso de corrigir essa incongruência estrutural.
Para Juarez Altafin, após a eleição e a nomeação como Reitor, ficou o compromisso de
superar o problema de autonomia administrativa e financeira das Escolas superiores, que era
incompatível com a estrutura de Universidade. O autor afirmou que o primeiro passo foi
realizado para estabelecer uma comunicação entre as unidades escolares, e que a partir
daquele momento:
Dessa maneira, a criação da UnU trouxe em seu bojo várias condições favoráveis ao
processo de federalização, visto que as ações estabelecidas para tornar uma universidade de
direito e de fato foram viabilizadas articulando o sistema administrativo, financeiro e
acadêmico, buscando reconhecimento do MEC, por meio do atendimento as determinações do
mesmo, de unificação das escolas em um único campus e elaboração de um estatuto
condizente com a estrutura de uma Universidade.
No jornal Tribuna de Minas foi destacada a importante participação desse político com
o fito de torná-la definitivamente Universidade Federal.
Dois anos mais tarde, ou seja, somente em 1978, a UnU torna-se oficialmente federal,
abrindo novas perspectivas para soluções de inúmeros problemas institucionais, aumentando-
se o poder do Reitor por meio da instalação de um arcabouço estrutural centralizado e,
consequentemente a influência dos fundadores ficou diminuída, resolvendo a incongruência
da autonomia financeira e administrativa das faculdades.
Foi necessário demonstrar que a UnU era federal, e não somente a Faculdade de
Engenharia. Assim, o Governo Federal deveria subsidiar com verbas da União todas as cinco
126
faculdades. Um primeiro passo foi a destinação de quinhentos mil cruzeiros da verba que seria
enviada para Faculdade de Engenharia para a Escola de Medicina. Apesar de acontecer o que
os alunos e alguns professores da engenharia temiam (redução do orçamento direcionado a
esse curso), essa foi uma maneira de colocar a Medicina sob os auspícios da verba federal. O
jornal Correio de Uberlândia datado de 07/08 de junho de 1975, noticiou:
A partir desse momento, o Curso de Medicina passou a ser subsidiado pelo orçamento
da União. Tem-se que, juntamente com as verbas do Governo Federal destinadas à faculdade
de Engenharia, mais de 50% do capital da Universidade de Uberlândia era proveniente da
União, dessa maneira, dever-se-ia respeitar a imposição legal de que as instituições com
participação de mais de 50% do capital público federal deveriam ter seus dirigentes nomeados
pelo Governo Central.
Na senda dos ideais dos grupos dominantes locais, apresentados anteriormente, surgiu
a Escola Técnica de Saúde como Escola Técnica de Enfermagem Carlos Chagas, resultado de
uma proposta da extinta Fundação da Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia
(FEMECIU). Em 1973, o fator essencial para formação desse curso de nível médio foi que os
hospitais particulares e o Hospital de Clínicas da FEMECIU aumentariam a demanda desses
profissionais para atender a comunidade uberlandense e região, em 1981, após ser
reconhecido com Curso Técnico de Enfermagem passou a fazer parte da UFU, como Órgão
Suplementar agregado à Pro-Reitoria Acadêmica, por meio da DIEPS (Diretoria de Ensino de
Primeiro e Segundo Grau).
Percebe-se que alguns dos objetivos dos fundadores e idealizadores das primeiras
escolas de Ensino Superior em Uberlândia foram alcançados, entre eles, o acesso à faculdade
sem ter que se deslocar para as capitais do País, a formação de profissionais qualificados e
tecnicamente preparados para o mercado de trabalho, oportunidade de emprego, aumento das
atividades comerciais, industriais entre outras.
Com a atenção voltada para o mercado de trabalho que, naquele período, limitava-se,
quase que exclusivamente à docência no Ensino Básica, o Curso de Educação Artística
contemplava as duas modalidades que mantinham contato com o sistema oficial de ensino
escolar; referimo-nos às habilitações em Música e em Educação Artística.
Tal formação oferecida teve origem no curso de Educação Artística – Musical, que na
época de sua fundação era abrigado pelo Conservatório Superior de Educação, dirigido por
Cora Pavan Caparelli. As primeiras instalações da faculdade ficavam na casa em que Cora
residia com sua família, localizada na Av. Benjamin Constant, Bairro Aparecida, em
Uberlândia.
No mesmo período, a Faculdade teve uma mudança em seu endereço, passando para a
Av. Fernando Vilela, Bairro Martins, em Uberlândia. O edifício para qual foi transferida a
Faculdade encontrava-se, na época, com uma estrutura muito precária e foi necessário que a
Prefeitura fizesse uma reforma do local, para que fosse possível a continuidade das atividades
da faculdade ali.
Era de se destacar a amplitude do Curso de Pedagogia frente aos demais cursos, uma
vez que este contava com um número elevado de docentes, criando a necessidade interna do
desmembramento do corpo docente de acordo com suas frentes, o que resultou, no ano de
1987, na formação de três grandes departamentos: Departamento de Fundamentos da
Educação, Departamento de Práticas Pedagógicas e Departamento de Filosofia, agregando
professores que atuavam nos vários cursos oferecidos pela Universidade. O curso de
Bacharelado em Filosofia só viria no ano de 1994.
Assim como no Curso de Pedagogia, o Curso de Letras era mantido pelas Irmãs do
Colégio Nossa Senhora, localizado na Rua Silva Jardim. Até sua fixação definitiva no
Campus Santa Mônica em 1977, a instalação do curso sofreu sérias ameaças, tendo sido
solicitado no ano de 1975, por meio de uma ação judicial, o “despejo” da faculdade das
instalações do Colégio de freiras pela a Sociedade Feminina de Instrução, entidade paulista
mantedora da Instituição. Em virtude de tal situação, por um curto período de tempo, alguns
dos cursos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras passaram para o prédio da Engenharia
do campus Santa Mônica, e outros para o campus Umuarama. Somente em 1977, com a
conclusão das obras de construção de salas de aula e departamentos no Campus Santa Mônica
é que houve a transferência definitiva dos cursos.
137
Tal local era um edifício longe da cidade, situado em no então despovoado Bairro
Santa Mônica. No prédio ainda em fase de acabamento funcionaria o Colégio dos Padres
Salesianos, entretanto, o grupo Carfepe (proprietário das empresas Moinho Sete Irmãos,
Granja Planalto, Vallée S.A.) – que tinha como sócio Genésio de Melo Pereira, primeiro
Diretor da faculdade, efetuou a troca com a paróquia Nossa Senhora Aparecida e doou o
prédio para a faculdade. Em 1964, pouco antes do golpe militar, o Presidente João Goulart
veio a Uberlândia para assinar escritura de doação do prédio que sediaria a Faculdade Federal
de Engenharia.
O Curso de Engenharia Química, criado em março de 1965, prepara seus alunos para
desenvolver as suas atividades profissionais em consonância com as exigências do mercado,
fazendo uso de uma sólida formação técnica, aliada a um senso crítico desenvolvido. O prédio
139
onde começaram a ser ministradas as aulas dos cursos de Engenharia Mecânica e Engenharia
Química, em 1965, era conhecido como “Mineirão” e hoje abriga o bloco1Q do campus Santa
Mônica, onde fica o Centro de Documentação e História da UFU (CDHIS) e o Museu de
Rochas e Minerais.
Com a posterior venda do Colégio, a Faculdade foi obrigada a deixar o local, e a única
alternativa encontrada para arrecadar dinheiro para financiar uma nova sede foi fazer uma
“rifa” na cidade. O edifício comprado foi reformado, tendo endereço na Praça Dr. Duarte,
onde era a residência do engenheiro Luiz Rocha e Silva. A aquisição e a reforma do local foi
feita somente com recursos doados, sem ajuda do poder público nem dos alunos. Com a
extinção da faculdade, seus cursos que passaram a integrar o CEHAR (Centro de Ciências
Humanas e Artes) foram levados para o campus Santa Mônica. Hoje, o curso faz parte do
Instituto de Economia da UFU.
À medida que o contador é obrigado, por força de suas funções, nos mais diversos
tipos de empresas, a interagir com áreas de finanças, produção, marketing etc., faz-se
necessária uma formação abrangente no estudo dos problemas empresariais. O profissional
deve ter um conhecimento sólido em contabilidade e nas suas diversas especificações, tais
como: planejamento contábil comercial, industrial, rural, bancário e público; auditoria e
análise contábil. Saberes estes atualizados e adequados às evoluções do mundo moderno dos
negócios.
O Curso de Geografia Licenciatura Plena funciona desde 1971, quando foi criado na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Uberlândia; seu Bacharelado foi implantado em
1988. Em 15 de dezembro de 1975 deu-se o reconhecimento do Curso de Geografia pelo
Decreto nº 76.791/75.
144
Pelo fato de envolver o objeto principal de estudo deste trabalho, merece destaque o
Curso de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia. Neste instante, apresenta-se em
breves palavras, a sua criação no dia 21 de maio de 1970, por meio do Decreto nº 66.610/70.
Em 2 de outubro de 1975, ocorreu o reconhecimento do Curso de Odontologia por meio do
Decreto Federal 76.380/75. A formação tinha como objetivo inicial instruir o cirurgião-
dentista com conhecimentos e habilidades que o caracterizassem como profissional
tecnicamente capaz, cientificamente orientado e socialmente sensível para solucionar, com
critério reflexivo e preventivo, os problemas odontológicos de maior incidência.
FIGURA 21 Sala de aula na década de 1970, alunos do Curso de Odontologia das primeiras
turmas.
Além dos Cursos de Graduação criados durante o período estudado, vários outros
surgiram mais tarde, após a federalização da Universidade de Uberlândia em 1978,
aumentando o número de opções dos futuros estudantes universitários, que poderiam optar em
cursar Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Ciência da Computação, Ciências Sociais,
Decoração, Educação Artística – Habilitação Em Artes Cênicas, Enfermagem, Física, entre
outros.
Aqui finda este inventário que apresenta o legado das faculdades isoladas e as
inovações obtidas com a recém-criada Universidade de Uberlândia, cujo crescimento
consistente em menos de uma década deu oportunidade para o pleito definitivo de
federalização, uma meta buscada insistentemente pelos agentes políticos que representavam a
sociedade civil de Uberlândia.
CAPÍTULO V
OS PRIMEIROS TEMPOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA (FOU)
curso com altas despesas estruturais, laboratórios de anatomia, cadáveres, livros, professores,
altas despesas financeiras, por ser uma Escola particular, era mais difícil conseguir verbas,
contudo, em 1968 ela conseguiu autorização para funcionamento.
Além das dificuldades financeiras, alguns membros da Sociedade Médica que foram
contra a criação da Escola de Medicina em Uberlândia, possivelmente por não desejarem
novos profissionais aumentando a concorrência no mercado de trabalho. Por outro lado, a
existência de um centro de atendimento em Uberaba inquietava os grupos dominantes que
almejavam posição de destaque para a cidade de Uberlândia e não aceitavam bem o fato de os
uberlandenses terem que deslocar para outra cidade para receber certos tratamentos.
57
Jornal O Triângulo, edição de 3.11.1976.
153
Ah, é muito grande. Todo mundo tem dente podre. Você não sabe a falta que
faz isso (o entrevistado retirou e mostrou seus óculos) pro povo, na hora de
votar, quando era aquela cédula que tinha que ler e assinar o nome, a falta
que faz uns óculos, principalmente, de mais idade. Então a gente tem que ter
sensibilidade para as Escolas básicas e suas iniciativas. Odontologia era uma
Escola muito necessária, e aconteceu que tivemos inclusive que transferir
como Governador, Escolas que estavam em municípios menores também
para Universidade. Transferir uma escola de uma cidade para outra, pois a
cidade originária não tinha condições, precisava de arte e coragem para fazer
um ato deste. E trouxemos outras Escolas, Veterinária, por exemplo. E
58
Fundador e ex-diretor da Escola de Medicina. Entrevista gravada em 1988.
154
59
Praça de esportes de propriedade particular de Napoleão Carneiro que atendia à população carente do bairro,
sua estrutura contava com campos de futebol, piscinas, promovendo atividades desportivas, lazer, cultural,
além da rinha de galo.
60
Natural de Uberlândia, foi professor da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais e
da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Católica de Minas Gerais, atuou como primeiro
coordenador da AEU, foi exonerado antes da fundação da FOU, pois de acordo com Laerte Alvarenga
Figueiredo em depoimento para C. G. Caetano e M. M. C. Dib. A UFU no imaginário social, p. 74, o diretor
não priorizou a FOU, e queria levar a Escola de Medicina para Araguari ou Tupaciguara.
155
Dessa maneira, com as dificuldades dentro da própria mantenedora AEU que foi
criada para corroborar a instalação da FOU, foi necessária a intervenção do Deputado Homero
Santos para exonerar Gerson Mendes e com o novo diretor Wilson Ribeiro da Silva foi
possível realizar um convênio com a Fundação Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia,
assinado em 30 de dezembro de 1969, viabilizou a resolução dos problemas iniciais de falta
de local e professores para aulas iniciais.
A Lei 5.540 de 1968 determinou a racionalização dos recursos, nesse sentido, foi
utilizado o modelo de estrutural dividido em departamentos, para valer-se dos mesmos
professores atuando no ciclo básico da Medicina e da Odontologia de Uberlândia, por
exemplo, seguindo tal deliberação, um docente da disciplina de Anatomia poderia ministrar
aulas para as Faculdades de Medicina, Odontologia, Veterinária, Ciências biológicas, entre
outras.
61
Participou ativamente no projeto de idealização e criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, foi
Presidente da Associação Brasileira de Odontologia por três mandatos, e atuou na criação do Conselho
Regional de Odontologia. Junto a FOU exerceu o cargo de Diretor desde a fundação até o ano de 1973, após
alguns anos participando como docente optou por sair da instituição por discordar com as políticas
educacionais que estavam sendo adotadas. De acordo com LEMOS, 2003, p. 28. Foi um dos principais atores
do projeto de criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia e primeiro diretor dessa faculdade. Suas
ações não se restringiam apenas ao papel institucional, visto que oferecia sua residência como estadia para
professores visitantes e abdicava de recursos financeiros próprios para pagamento de professores.
158
62
Cirurgião dentista, ex-aluno da segunda turma – 1974. Especialista em Radiologia Odontológica pela USP -
Profis/SP, em 1981. Cirurgião-Dentista de 1975 a 1994, Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela
Universidade Estadual de Londrina, em 1981, Professor adjunto da Universidade Federal de Uberlândia, desde
1975. Plantonista no Pronto Socorro Odontológico, do Hospital Odontológico da UFU, desde 1980 até a
presente data. Membro da Associação Brasileira de Odontologia - Regional de Uberlândia e da Associação
Brasileira de Odontologia Seção Minas Gerais, tendo atuado em diversos cargos. Atualmente exerce a função
de Diretor da Escola de Aperfeiçoamento Profissional e Coordenador do Curso de Especialização em
Radiologia Odontológica e Imaginologia na EAP/ABO-Udi. Conselheiro Suplente do Conselho Regional de
Odontologia por 03 gestões. Delegado Regional do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais, em
Uberlândia, por diversas gestões.
159
Foi, foi com a turma da Medicina. A aula era naquele anfiteatro lá, todo
mundo junto. Mas daí, depois a turma da Odontologia desceu, né, fazia o
básico lá, o primeiro ano e ia lá pra Engenheiro Diniz, aquele prédio que era
dos padres, porque ali era um Colégio dos padres. Posteriormente eles
doaram aquilo ali para a Autarquia Educacional com a condição de sempre
ser Escola. (PAULINO, 2005). (Entrevista 01, em anexo).
63
Cirurgião dentista, ex-aluno da terceira turma – 1975; Ex-Presidente do Diretório Acadêmico Homero Santos;
Especialista em Endodontia pela Associação Brasileira de Odontologia em 1998.
64
Também conhecido como Colégio dos Freis Franciscanos, Colégio de Nossa Senhora ou Colégio dos padres,
conforme relatado anteriormente, foi doado pelo Governo Estadual a fundação Universidade de Uberlândia.
160
FIGURA 23 Foto atual do prédio65 da Av. Engenheiro Diniz, 1.178, Bairro Martins em
Uberlândia (PEREIRA, 2012).
65
Após a inauguração da Policlínica Rondon Pacheco, o Curso de Odontologia de Uberlândia realizou atividades
práticas durante muitos anos, mesmo após a federalização da Universidade de Uberlândia e concentração dos
cursos de Ciências biomédicas no Campus Umuarama, as atividades práticas da disciplina UOSP (Unidade de
Odontologia Social e Preventiva), permaneceram sendo realizadas nesse prédio até o momento da instalação
da reitoria que ali permaneceu até 2008, quando começou sua transferência para o prédio novo situado no
Campus Santa Mônica, centralizando a estrutura administrativa. Atualmente, a precária estrutura do edifício
está ocupada pela Fundação de Apoio Universitário (FAU).
161
parte da Comissão mista formada pelo Serviço Especializado de Saúde Pública (SESP), da
Internacional Cooperation Administration, além da participação dos integrantes da Comissão
Especial da Reforma do Ensino Odontológico, tendo a Associação implementado um
programa de bolsas em convênio com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), para estágios de docentes nas Faculdades brasileiras e para estágios
nos Estados Unidos, procurando valorizar a docência e os serviços prestados pelas Escolas de
Odontologia visando a consecução de futuros convênios e experiências inovadoras de ensino
odontológico, para ampliar práticas sociais e preventivas.
Convém ressaltar que, ainda em 1961, o Conselho Federal de Educação (CFE) por
força da Lei 4.024 adquiriu competência par estabelecer o currículo mínimo e a duração dos
cursos superiores no Brasil, e, no ano de 1962, por meio do Parecer 299/62, fixou a duração
do Curso de Odontologia em 04 (quatro) anos dividindo as matérias em dois ciclos: o
primeiro básico e o segundo profissionalizante.
162
Em âmbito regional, pode-se observar que o Estado de Minas Gerais já contava, desde
o dia 13 de janeiro de 1967, com o Conselho Regional de Odontologia (CRO-MG), órgão de
representação da classe odontológica que buscava o aprimoramento técnico e valorização da
profissão, unindo forças contra o exercício ilegal da Odontologia. Destaca-se a participação
ativa de Laerte Alvarenga de Figueiredo66 representando a cidade de Uberlândia nas reuniões
e projetos do Conselho de Classe mineiro.
66
Jornal do CRO-MG, de fevereiro de 2005, p. 2 apresentou em sua edição histórica os importantes nomes da
Odontologia, entre eles o representante uberlandense Laerte Alvarenga de Figueiredo.
163
Com o Decreto-lei 76.380 de outubro de 1975, ou seja, cinco anos após sua fundação e
quase dez anos depois da sua criação legal, o Conselho Federal de Educação reconheceu o
Curso de Odontologia de Uberlândia.
as conquistas alcançadas desde a criação das primeiras escolas de Ensino Superior e sua
atuação beneficiando a cidade com fornecimento de mão de obra qualificada, atendimentos
médico-odontológico, oportunidades de trabalho, bibliotecas, Pronto Socorro, Hospital, entre
outros, citados na reportagem a seguir:
Por que cresce tanto Uberlândia? Essa pergunta é a primeira que ocorre aos
visitantes, surpreendidos com o dinamismo do progresso de nossa cidade e
com sua expansão notada a olhos vistos. Já não é desconhecido que muito
desse progresso é devido ao espírito laborioso do povo e à visão de suas
classes dirigentes, mas uns anos para cá a grande alavanca do crescimento
de Uberlândia pode-se afirmar sem receio de dúvida que é à sua briosa
universidade. Sendo uma das mais novas do País, a Universidade de
Uberlândia, segundo dados estatísticos recentes fornecidos por ela própria,
pode gabar-se das cifras que apresenta, com 5.600 alunos matriculados, um
acervo na biblioteca de 40.000 mil volumes que serve à pesquisa de nossos
profissionais, com 450 professores de comprovado gabarito e mais de 1.200
dedicados funcionários, com uma área construída de 51.000 m², onde se
encontram laboratórios completos, Pronto Socorro, Hospital com 250 leitos e
20 mil atendimentos mensais, Policlínica odontológica com excelente
equipamento, Oficina, Marcenaria completa, Laboratórios de Língua,
Recursos Audio-visuais, Circuito-fechado de TV, Processamento de Dados,
Gráfica, Ginasium de esportes, estádio de futebol, fazenda experimental,
atendimento médico-odontológico aos estudantes. (TRIBUNA DE MINAS,
Uberlândia, 25/10/1977, p. 01). (Grifos nossos).
QUADRO 6 Relação quantitativa dos alunos formados pela FOU e relação dos docentes da
Faculdade de Odontologia de Uberlândia, graduados por ela no período de 1973 A 1978
DATA Alunos Graduados pela FOUFU Professores da Instituição FOUFU
graduados por ela
1973 42 10
1974 38 4
1975 50 6
1976 44 2
1977 51 3
1978 51 3
TOTAL:6 276 28
TURMAS
Quadro elaborado pelo autor desta tese, valendo-se dos dados coletados no Arquivo Geral da
Universidade Federal de Uberlândia, e do Projeto Conte Comigo, UFU, Odontologia. (1995).
Essas informações foram confrontadas com outros quadros dessas primeiras turmas
demonstrando: a relação dos alunos graduados pela Faculdade de Odontologia da
167
Universidade Federal de Uberlândia, assim como a atuação e a relação dos egressos que
realizaram pós-Graduação, indicando a respectiva especialidade. (Quadros finais, em anexo).
É possível verificar nos quadros finais deste trabalho que nem todos egressos
exerceram a prática de dentista, como por exemplo, Abelardo Henrique Testa, egresso da
turma de 1973, apesar de formado relatou que a sua atuação era como Agropecuarista nas
fazendas Eldorado em Uberlândia/MG, e na fazenda Kalaka localizada em Paracatu-MG.
Têm-se outros esparsos exemplos de dentistas trabalhando no Hospital Naval de Brasília e
junto à Prefeitura Municipal de Uberlândia, entretanto, constata-se que a maioria dos
formados foi trabalhar em consultórios particulares de Uberlândia e região.
Outro elemento que deve ser ressaltado no relato citado é a questão referente aos
dentistas práticos, que passaram a ser preteridos em face da possibilidade da população ser
atendida pelos alunos da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
67
Nível escolar atual: 2º grau incompleto, Data de nascimento: 03/04/1957, Nome da Mãe: Olga de Oliveira
Massariolli, Nome do Pai: Valdemar Massariolli, Local de nascimento: Uberlândia MG, Classe social a que
pertencia em 1970: classe baixa, Profissão atual: Serviços Gerais, Ex paciente da Policlínica da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia no ano de 1974.
169
Nesse ponto, Uberlândia não foi diferente das demais cidades do interior,
conforme os dados estatísticos [...] em 1969, ou seja, pouco antes da
fundação da FOU, os dentistas práticos contabilizavam aproximadamente
37% do quadro dos dentistas da cidade. Antes da Faculdade de Odontologia
de Uberlândia começar a oferecer seus dentistas recém formados para
atender à população, os profissionais habilitados existentes aqui eram, em
sua maioria, provenientes das Universidades de Ribeirão Preto/SP e
Uberaba/MG. Desde esse momento, já existiam algumas discussões
envolvendo a questão dos “dentistas práticos”, uma vez que determinados
cirurgiões dentistas habilitados repugnavam o atendimento desses
profissionais não formados. Outros odontólogos, no entanto, achavam que
esses trabalhadores sem Graduação serviam, a seu modo, uma determinada
parcela da comunidade uberlandense que não podia pagar o cirurgião
dentista formado (PEREIRA, 2006, p. 131).
Para alguns o “dentista prático” deveria extinto, deixando a atuação para profissionais
qualificados e preparados para fornecer um atendimento seguro e eficaz. Dessa maneira, em
virtude da intensificação desse movimento de exigência da Graduação do dentista, conforme
demonstra o depoimento a seguir alguns práticos renomados de Uberlândia procuraram se
formar.
O mais velho da minha turma tinha a idade do meu pai na época. Ele já era
dentista prático e era tido na época com um dos bons dentistas da cidade,
com uma clientela classe A. Vinha de uma família de dentistas, o pai foi
dentista prático, os irmãos foram dentistas formados. Ele chegou à
presidência do Lions Clube, o mais tradicional da cidade (COSTA NETO,
2006). (Entrevista 10, em anexo).
Sendo assim, pode-se verificar que, para esse ex-aluno da Faculdade de Odontologia
de Uberlândia, significou uma oportunidade de ingressar em uma Escola de Ensino Superior
possibilitando uma inserção no meio social, enquanto que para o dentista prático da primeira
turma de Odontologia, parafraseando os dizeres de Odorico Coelho da Costa Neto ao relatar o
exemplo do colega de classe, o Curso foi uma oportunidade de regularizar sua profissão que
já se encontrava consolidada e prestigiada com uma clientela Classe A.
68
Cirurgião dentista, ex-aluno da sexta turma – 1978; Nome da Mãe: Alaide Rezende Alvarenga, do lar. Nome
do Pai: Osto de Oliveira Jannus, comerciante. Local de Nascimento: Araguari/MG, o entrevistado relatou que
pertencia na época do curso a classe baixa.
69
Cirurgião dentista, ex-aluno da primeira turma – 1973. Doutor em Odontologia pela USP/Bauru; Mestre em
Endodontia pela USP/Bauru em 1984, Especialista em Endodontia pela Faculdade de Odontologia de
Araraquara; Professor Titular da Universidade Federal de Uberlândia.
171
aquela Odontologia que fazia-se naquela época, não que seja empírica,
porque naquela época existiam muitos dentistas fracos, eu me recordo bem
que quando eu era aluno na Faculdade, algum dentista foi autuado, foi preso,
teve seu consultório tomado. Então a gente via que a Odontologia não tinha
aquelas condições em que podia se passar ao paciente recursos maiores de
técnicas. E eu acho que a Faculdade veio trazer aos nossos uberlandenses
uma motivação muito peculiar de melhorias e com isso a população foi
vendo que a Odontologia podia ser diferente daquela dos anos 50, 60.
Naquela época eram os anos 70 e a Odontologia foi uma transformação.
(AZEVEDO, 2006). (Entrevista 03, em anexo).
70
Ex-vice-prefeito de Uberlândia, agente ativo na fundação da faculdade de Filosofia de Uberlândia, professor
da UFU.
172
Sendo assim, com o relato apresentado pelo depoente, verifica-se uma sintonia nas
práticas realizadas pelos alunos da FOU com os interesses da população e o apoio dos
militares, corroborando o discurso de que tanto a Escola de Odontologia, como a
Universidade, resultariam em benefícios para o crescimento e desenvolvimento da cidade e
região.
71
Cirurgião dentista, ex-aluno da terceira turma – 1975. Mestre em Clínicas Odontológicas pela USP/SP em
1986; Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela UFU/MG em 1979; Professor Titular da
Universidade Federal de Uberlândia.
173
72
Justificando a importância da História oral, sob o viés da técnica utilizada para enriquecer a História e
Historiografia das Instituições Escolares, PORTELLI (1997) afirma que: é a subjetividade do expositor que
fornece às fontes orais o elemento precioso que nenhuma outra fonte possui em medida igual. A História oral,
mais do que sobre eventos, fala sobre significados, nela, a aderência ao fato cede passagem à imaginação, ao
simbolismo. Dessa sorte, a História das ações e práticas do agente partícipe da criação da instituição de ensino
– ou a maneira como o depoente a reconstrói e como ele pretende que sua participação seja marcada, como
indica Bosi (1994) – faz do relato oral um exemplo definitivo da exposição necessária à configuração das
subjetividades individuais: ao falar (e ser ouvido pelo pesquisador), em especial, sobre as agradáveis memórias
que cultiva, e sobre as más lembranças que lhe marcaram a vida – aqui, no caso, a vida escolar – o sujeito se
revela, revelando os intrincados labirintos que envolvem/revolvem a (des)construção de seus afetos e cicatrizes
mais significativos.
174
73
Foi estabelecida em 1915 outra legislação específica para as faculdades médicas, reafirmando uma antiga
prática,conforme Assinalou o médico baiano Antônio Pacífico Pereira: “A preocupação reformadora é sempre
anular o precedente, com a prática de condenar em absoluto um regime inteiro sem haver nem onde haurir nem
como inventar a inspiração renovadora, limitando-se a desenterrar velhas coisas e a provocar criações mais
apropriadas ao interesse pessoal do que à vantagem coletiva. Aparecem e desaparecem princípios e conceitos.
Nos exames, vão e vem as provas escritas, na administração surge e esvai-se a autonomia; na docência afirma-se
ou nega-se a sua independência. Todavia, há sempre lugares novos...”. (Apud MAGALHÃES, 1932, p.178). O
decreto nº 11.530, de 18/03/1915, aprovado pelo Presidente da República Wenceslau Braz e referendado pelo
Ministro da Justiça e Negócios Interiores Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, lhe conferindo a denominação
de Reforma Maximiliano, propunha o retorno dos títulos de catedráticos e substitutos, e a extinção de
professores ordinários e extraordinários (art.36). A Congregação perdia algumas de suas atribuições,
notadamente a sua interferência na escolha do diretor. Por outro lado, foi prevista a destinação de recursos para a
construção de uma sede própria para a faculdade do Rio de Janeiro (art.145).
175
O que nós temos bem lembrança que era uma formação pra elite, formar
profissionais que teriam inserção para trabalhar para cinco por cento da
população, praticamente não se preocupava com a pesquisa, mesmo
porque as condições físicas não permitiam, estava em fase de instalação,
de implantação do mínimo pra funcionar a faculdade e o trabalho de
conclusão de curso é algo extremamente recente na Odontologia
Universidade Federal de Uberlândia, que veio para a última reestruturação
curricular para atender as novas diretrizes curriculares, agora que o curso
passou de quatro para cinco anos que se vai apresentar o trabalho de
conclusão de curso. É algo extremamente recente o trabalho de conclusão de
curso na Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia, em 2012/2
que haverá a primeira turma que apresentará trabalho de conclusão de curso
(COSTA NETO, 2011). (Entrevista 17, em anexo). (Grifos nossos).
Durante as entrevistas, também foi possível perceber que os alunos das primeiras
turmas receberam uma formação profissional técnica e voltada para o atendimento
principalmente voltado ao consultório particular, a proposta pedagógica e os objetivos do
curso não tinha preocupação com pesquisa e também os alunos não realizavam trabalho de
conclusão de Curso.
[...]era uma endodontia bio ou necro e uma dentística muito agressiva, toda
uma forma de extensão, forma de conveniência, era muito mais agressivo ao
tecido dental do que conservador do tecido dental, cirurgia, prótese era muito
incipiente, várias técnicas que existem hoje não existiam, os alunos não
tinham nenhuma formação científica, eles eram formados técnicos, tanto que
na minha formação toda eu não me lembro de ter lido um artigo científico,
eu me lembro de ler algumas revistas brasileiras, que hoje se você for ver
não tem nenhum embasamento científico dentro dos critérios de hoje, e hoje
os alunos com informática, no nosso tempo a gente estudava por apostila que
era um compilado de anotações de colegas da classe, e aquilo era feito uma
apostila no mimeógrafo e era aquilo que a gente estudava. A fonte de
conhecimento era muito limitada, a imensa maioria dos livros era em
castelhano, e de autores argentinos ou espanhóis, hoje você tem uma
literatura brasileira, em português, que é uma das melhores do mundo, você
tem internet, informática. [...]A pesquisa e o trabalho de conclusão de curso
na época não existiam, quando alguém fazia um trabalho incipiente era tido
quase como um astronauta. A prioridade era formação técnica.
(FERNADES NETO, 2011), (Entrevista 16, em anexo).
74
Iniciou sua carreira Universitária na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo, onde durante quatorze anos ficou vinculado ao departamento de Ciências Morfológicas. Concluiu o
doutorado em Odontologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 1987. Desde 1992
e até os dias atuais atua como Professor Titular na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de
Uberlândia na área de Endodontia.
179
para Uberlândia, fato que possibilitou ajudar a transformar e incentivar a criação da Pós-
Graduação e pesquisa na Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Eu acredito que isso tenha sido formado por muitos desafios, a gente ao
longo desses 41 anos, de 1970 que a faculdade foi criada, e desses
quarenta e um anos eu tive a oportunidade de vivenciar como aluno
quatro anos a partir de 1971, posteriormente como professor, vão completar
37 anos dentro desse processo, dentro de todas essas etapas foi um desafio
muito grande a cada momento, mas para nossa grande satisfação e
orgulho nos vemos que a cada ano com que as dificuldades se
apresentavam a faculdade sempre teve um ritmo crescente em todas
suas atividades, quem se formou no semestre passado com certeza nesse
semestre vai ver algo novo e melhor na faculdade, nós estamos agora, no
semestre e ano passado nos tivemos a oportunidade de promover uma
melhoria completa em nossos laboratórios, especialmente os
profissionalizantes na área de prótese, prótese e oclusão, materiais dentários,
dentística, ortodontia, laboratório de diagnóstico estomatológico envolvendo
a radiologia, modernizamos todas as clinicas com equipamentos, e para
agora no inicio de 2012 nos deveremos passar para o bloco novo, 4L, sendo
uma nova conquista para a Odontologia da UFU, e nesse período a gente
teve a partir de fevereiro de 2010 o inicio das nossas residências
multiprofissionais [...] (COSTA NETO, 2011). (Entrevista 17, em anexo).
(Grifos nossos).
Eu acho que naquela época ela estava muito voltada para o grupo mesmo,
para o grupinho dos professores, não existia essa divulgação de trabalho que
existe hoje, não tinha uma produção científica regular, era uma faculdade
local mesmo, voltada mais para o atendimento da população aqui,
diferente de hoje, que os trabalhos têm sido publicados em revista
internacional, de qualidade, então hoje acho que Uberlândia no cenário
nacional é uma figura muito importante, a faculdade de Odontologia é
respeitada no cenário nacional e internacional. Hoje eu entendo que de 1992
pra cá houve uma evolução muito grande, hoje é outra mentalidade,
outras formas. Quando eu vim pra cá, a ideia era montar a pós-Graduação o
mais rápido possível, só que não tinha ainda a massa crítica de professores
com doutorado, o que dificultou o processo, nós não tínhamos doutores na
Odontologia, então foi necessária essa formação, e eu pude participar desse
processo, como eu estava vinculado a pós-Graduação na Universidade de
São Paulo, muitos colegas da faculdade eu acabei orientando, fazia pesquisa
aqui, mas ele estava matriculado em Ribeirão Preto, então mesmo eu não
tendo a pós Graduação aqui, eu podia vivenciar de forma um pouco isolada,
o que não é bom, mas de forma isolada eu fazia pesquisa aqui e eles estavam
matriculados na Universidade de São Paulo, então isso ajudou a formar uma
massa crítica para poder montar o mestrado aqui, o que aconteceu em 2000,
o pessoal que fez a pós Graduação em Ribeirão Preto tinha essa facilidade,
de acabar fazendo a pesquisa associada aqui e lá, o que criou a condição pra
montar o mestrado aqui mesmo. (BIFFI, 2011). (Entrevista 18, em anexo).
(Grifos nossos).
Vários fatores podem ser afirmados como elementos colaboradores para implantação
da Faculdade de Odontologia de Uberlândia assim como dos demais cursos de Ensino
Superior, nos dizeres do entrevistado
I. Contribuições da pesquisa
Pretende-se contribuir para futuras pesquisas a respeito dos temas que possibilitem a
compreensão das Histórias das instituições de Ensino Superior do País, a interpretação
realizada nesse trabalho almejou apresentar que a consolidação e o desenvolvimento da
Faculdade de Odontologia de Uberlândia foram reflexos do processo histórico representado
por inúmeras lutas e empenho dos mais variados setores da comunidade uberlandense. Sendo
assim, procurou-se colaborar com a comunidade acadêmica de forma a facilitar e viabilizar
próximas pesquisas no campo da História das instituições escolares, e, de forma especial,
possibilitar estudos que tentem demonstrar efetivamente o papel da Universidade Federal de
Uberlândia no desenvolvimento regional.
184
Utilizar uma historiografia interpretativa foi buscar ampliar a pesquisa para além dos
clássicos, valendo-se deles assim como dos recentes referenciais teóricos para alargar as
problemáticas em História da Educação, e buscar atuar em consonância com demais estudos
que analisam as especificidades e particularidades locais, regionais, nacionais e globais na
tessitura da História.
185
A História Oral foi utilizada como técnica enriquecedora para elaboração da pesquisa,
pois juntamente com as demais fontes, fotos, jornais, atas, memorandos, impressos entre
outros documentos ditos oficiais, tornou-se um instrumento facilitador para compreensão e
análise da Escola de Odontologia de Uberlândia como índice das mudanças do cenário da
Educação Superior no período recortado.
Durante o processo de escolha, optou-se por selecionar pessoas que participaram não
somente do processo de criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, mas que
186
A edição, revisão e a transcrição das entrevistas contidas nesta tese foram realizadas
buscando-se respeitar ao máximo a estrutura do pensamento e, sobretudo, a forma de
exposição dos depoimentos, foram suprimidos somente os trechos que os entrevistados
pediram para retirar da publicação por questões de foro íntimo. Percebeu-se que as conversas
informais antes e depois da presença do gravador eram por vezes mais profícuas, porque o
recurso técnico constituiu um elemento inibidor, pois para alguns deixariam registrados
momentos de dificuldades, lutas e incompreensões, que o depoente gostaria que ficasse
esquecido no passado.
[...] Os livros de História que registram esses fatos são também um ponto de
vista, uma versão do acontecido, não raro desmentidos por outros livros com
outros pontos de vista. A veracidade do narrador não nos preocupou: com
certeza seus erros e lapsos são menos graves em suas consequências que as
omissões da História oficial. Nosso interesse está no que foi lembrado, no
que foi escolhido para perpetuar-se na História de sua vida (BOSI, 1994,
p.37).
Uma dificuldade inicial foi compreender e aceitar que o fato de ter sido formado pela
instituição estudada cria vínculos de afetividade com a escola (objeto principal do estudo) e
com as pessoas (agentes partícipes do momento histórico) que foram professores, técnicos, e
pessoas influentes na formação acadêmica do pesquisador dessa tese, sendo assim, por vezes,
afastar-se dos sentimentos de empatia para conseguir realizar uma análise crítica foi tarefa
árdua.
Por fim, ficou evidente que a preocupação com a preservação dos documentos
históricos da Universidade Federal de Uberlândia é relativamente recente, ao iniciar a
pesquisa empírica perceberam-se inúmeras lacunas e que algumas fontes estavam
desorganizadas e mal conservadas dificultando a sistematização e análise das mesmas.
Vários fatores, tais como a necessidade de criar Escolas Superiores para atender as
demandas locais, principalmente, os setores médios da sociedade, fator de modernização, a
transferência da capital federal para Brasília, o surto industrial bancado pelo Regime Militar,
vieram ao encontro dos anseios dos grupos locais, além de buscarem atender a necessidade de
profissionais qualificados e a demanda por serviços, decorrentes do processo de urbanização.
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207
ANEXOS
ANEXO – LEGISLAÇÃO
b) atestado de vacinação contra a varíola e de que não sofre de moléstia contagiosa nem de
defeito físico incompatível com o exercício da profissão;
c) certificado de bom comportamento e idoneidade moral;
d) certidão de idade ou documento equivalente podendo ter mas de 21 anos.
Art. 6º Os programas dos exames serão aprovados pelo Departamento Nacional de Saúde
Pública e publicados com antecedência de três meses da época designada para os mesmos.
Art. 7º As taxas de exames e do alvará de licença para exercício da profissão serão
determinadas pelas repartições sanitárias estaduais ou da União.
Art. 8º Os dentistas práticos, que provarem ter mais de dez anos de exercício ininterrupto da
profissão ficam dispensados do exame de habilitação devendo, porem, apresentar atestados a
que se referem as alíneas b e c do art. 5º, para que possam continuar a exercer a profissão nos
Estados, a juízo das autoridades sanitárias respectivas.
Art. 9º A localização dos dentistas práticos licenciados de acordo com o presente decreto,
obedecerá às seguintes condições:
a) os que residirem e exercerem a profissão há mais de dez anos em uma determinada
localidade poderão continuar aí a exercê-la, ainda que na mesma esteja estabelecido algum
dentista diplomado;
b) os que não estiverem nessas condições só poderão se estabelecer em uma localidade onde
não haja dentistas diplomados não sendo dada licença a mais de um prático para o mesmo
lugar;
c) uma vez licenciado para uma de determinada localidade, o dentista prático só poderá
transferir-se, com licença da autoridade sanitária competente, para outra localidade onde não
haja dentista diplomado;
d) em qualquer destes casos, porem, não poderá o prático licenciado excurcionar ou fazer
serviço ambulante fora do distrito de sua residência.
Art. 10. Em seus anúncios e placas os práticos habilitados nos termos deste decreto são
obrigados a declarar a sua qualidade de dentista práticos licenciados.
Art. 11 A infração de qualquer dos dispositivos do presente decreto será punida com multas
de 100$ a 500$, dobradas, nas reincidências, sem prejuízo das penalidades criminais em que
incorrer todo aquele que exercer a profissão odontológica e cujo gabinete dentário deverá ser
fechado compulsoriamente.
Art. 12. A execução e fiscalização destes dispositivos incumbem do Departamento Nacional
de Saúde Pública no Distrito Federal ao repartições sanitárias competentes nos Estados.
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
209
I - cura radical ou atestado de cura de determinadas doenças para as quais não haja tratamento
seguro, segundo os atuais conhecimentos científicos,
II - exercício de mais de duas especialidades;
III - consultas por meio de correspondência pela imprensa, caixa postal, radio ou processos
análogos;
IV - prestação de serviços gratuitos em consultórios particulares;
V - agradecimentos manifestados, sistematicamente, por clientes;
VI - preços e outras formas de concorrência desleal: ou
VII - expor á apreciação pública, seja onde for, trabalhos odontológicos em vitrines ou
quaisquer outros meios de propaganda, que atentem contra a ética profissional.
PENALIDADES
§ 1º Se fôr encontrado anúncio que contrarie as disposições desta lei, a autoridade sanitária
encarregada da fiscalização do exercício da odontologia intimará o anunciante a observá-las
dentro do prazo de 8 (oito) dias.
§ 2º Se decorridos os 8 (oito) dias, continuar a ser publicado o anúncio, será imposta ao
infrator pela autoridade que o intimará ao cumprimento da lei a multa de Cr$ 100.00 (cem
cruzeiros) a Cr$ 1.000.00 (mil cruzeiros), elevada ao dôbro na reincidência.
§ 3º Dentro daquele prazo poderá o interessado pedir reconsideração, sôbre a qual a
autoridade decidirá no prazo de 8 (oito) dias.
DOS PROTÉTICOS
Art. 6º Os protéticos, cujo exercício profissional se acha regulamentado pela Portaria nº 25
baixada pelo Departamento Nacional de Saúde, em 1943, e, posteriormente pelo Decreto-lei
nº 8 345, de 10 de dezembro de 1945, não podem anunciar seus trabalhos profissionais na
imprensa leiga, só lhes sendo permitido fazê-lo junto aos cirurgiões-dentistas, através de
publicações especializadas.
Art. 7º Aos protéticos aplicar-se-á, no que fôr possível, o disposto no art. 6º desta lei.
DOS DENTISTAS PRÁTICOS LICENCIADOS
Art. 8º Os dentistas práticos licenciados, de acôrdo com os Decretos ns. 20.862, de 28 de
dezembro de 1931, 21.073, de 22 de fevereiro de 1932 e 22.501, de 27 de fevereiro de 1933
poderão fazer qualquer trabalho dentário, sendo-lhe, porém, terminantemente vedadas tôdas
as intervenções sangrentas, que não foram simples exodontias na região gengivo-dentária.
Art. 9. Os dentistas práticos licenciados são obrigados a mencionar em seus impressos,
anúncios ou placas, o seu nome e a sua qualidade de dentista pratico (ilegível) em letras
uniformes e destacadas.
212
Art. 10. Relativamente a outras formas de propaganda, ao dentista prático licenciado aplicar-
se-á o disposto no art. 5º desta lei.
Art. 11. É vedado ao dentista prático licenciado:
I - prescrever e administrar outro gênero de anestesia que não seja a local;
II - prescrever e administrar medicamentos de uso interno;
III - prescrever e administrar medicamentos de uso externo injetável:
IV - ocupar como profissional a partir da data sua publicação desta lei, cargos públicos ou
outros em instituições assistências como associações, fundações, preventórios, asilos, casas de
saúde, colégios e fábricas.
Art. 12. A infração de qualquer dos dispositivos desta lei, excetuados os do art. 5º, será punida
com a multa de Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros a Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros),
conforme a sua natureza, a critério da autoridade autuante e sem prejuízo da ação penal.
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 13. Os processos criminais, de que trata esta lei, cabem, por denúncia ao Ministério
Público. mediante solicitação do Serviço Nacional da Fiscalização de medicina
do Departamento Nacional de Saúde e, nos Estados, da autoridade sanitária competente.
Art. 14 Será apreendido e remetido ao Depósito Público o material existente em consultório
odontológico, cujo emprego se verifique por quem não tenha diploma registrado ou pessoa
que não esteja devidamente autorizada pela autoridade sanitária competente.
Art. 15. As especialidades farmacêuticas para uso em odontologia e os metais ou agas não
preciosos, destinados á confecção de aparelhos protéticos, só poderão ser postos a venda
depois de licenciados pelo Departamento Nacional de Saúde.
Art. 16. As autoridades federais só poderão receber imposto relativo ao exercício da profissão
de odontologista, mediante a apresentação da prova de achar-se o contribuinte com o diploma
registrado e anotado, na forma desta lei.
Art. 17. As carteiras fornecidas pelo sindicato de odontologistas, depois de visadas pelo
Serviço Nacional da Fiscalização da Medicina e na repartição sanitária estadual competente,
constituem prova de registro do diploma.
Parágrafo único. Nenhuma carteira será visada sem que dela constem o número, data e fôlha
do registro feito na Diretoria do Ensino Superior.
Art. 18. O Ministério da Educação e Saúde, dentro de 120 (cento e vinte dias) baixara por
intermédio do Departamento Nacional de Saúde, instruções reguladoras da presente lei, nas
quais serão estabelecidos os requisitos, exigências e emolumentos para o funcionamento dos
consultórios odontológicos e as penalidades cabíveis nos casos de infração. Cabe-lhe aprovar,
213
Art 12. O Poder Executivo baixará decreto, dentro de 90 (noventa) dias, regulamentando a
presente Lei.
Art 13. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogados o Decreto-Lei nº
7.718, de 9 de julho de 1945, a Lei nº 1.314, de 17 de janeiro de 1951, e demais disposições
em contrário.
Brasília, 24 de agôsto de 1966; 145º da Independência e 78º da República.
H. CASTELLO BRANCO
Raymundo Moniz de Aragão
L. G. do Nascimento e Silva
Raymundo de Britto
Art. 6º - A Universidade gozará da imunidade prevista no art. 19, inciso III, alínea e da
Constituição Federal, ficando isenta, também, de contribuições parafiscais (inclusive as da
previdência social, parte do empregador).
Art. 7º - Os bens e direitos da Universidade serão utilizados ou aplicados exclusivamente para
a consecução de seus objetivos, não podendo ser alienados os imóveis e os bens que forem
gravados de inalienabilidade, sem prévia autorização, obedecidas, também, as disposições da
Lei nº 6.120, de 15 de outubro de 1974.
Parágrafo único - No caso de extinguir-se a Universidade, os bens que lhe forem cedidos,
dados em comodato, ou doados com a cláusula de inalienabilidade, reverterão aos seus
respectivos cedentes, comodantes ou doadores, e os demais serão incorporados ao patrimônio
da União.
Art. 8º- Os cursos ministrados pelas unidades incorporadas à Universidade, a esta se integram,
definitivamente, não se desvinculando mesmo na ocorrência da hipótese prevista no parágrafo
único do artigo anterior.
Art. 9º Os atuais estatutos da Fundação e da Universidade aglutinar-se-ão a fim de se
adaptarem, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, às disposições desta Lei e das normas do
ensino em vigor.
Art. 10 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Art. 11 - Revogam-se o Decreto-lei nº 1.275, de 19 de junho de 1973, e demais disposições
em contrário.
Brasília, em 24 de maio de 1978; 157º da Independência e 90º da República.
Ernesto geisel
Ney Braga
João Paulo dos Reis Velloso
224
a) Nome;
b) Nome e profissão dos pais;
c) Local de nascimento;
d) Classe social a que pertencia em 1970;
e) Qual o tempo de vínculo com a Faculdade de Odontologia;
f) Qual sua área de atuação;
g) Como foi o percurso escolar.
a) Nome;
b) Nível de escolaridade atual;
c) Data de nascimento;
d) Nome e profissão dos pais;
e) Local de nascimento;
f) Classe social em 1970;
g) Profissão atual.
h) Em que ano você recebeu atendimento na Policlínica da FOU? Como você ficou sabendo
da possibilidade de receber tratamento odontológico naquela Policlínica?
i) Você pagou algum valor pelo tratamento? Se sim, qual foi? Era elevado?
j) Que tipo de tratamento você fez? Que tipo de tratamentos eram oferecidos?
k) Quem te atendeu? Foram alunos? Atendiam em dupla?
l) A senhora ficou satisfeita com o atendimento? Foi bem atendida? Corresponderam as suas
expectativas?
m) E os outros pacientes pertenciam a qual classe social?
n) O que representou/significou a criação da FOU para você? Modificou alguma coisa para
você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
o) Algum dos seus familiares e conhecidos também recebeu tratamento na Policlínica da
Odontologia?
p) Como a comunidade uberlandense via: 1º) A Faculdade de Odontologia, 2º) Os
dentistas da cidade e 3º) os alunos da Escola de Odontologia?
q) Tem alguns acontecimento/notícia que você viu ou ouviu falar da FOU que te chamou
atenção, na época de 1970?
r) O que representou para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
ENTREVISTAS
PRIMEIRA ETAPA
Entrevista nº01
P: Pergunta
R:Resposta
P: Senhor Gaspar, como começou a Faculdade de Odontologia?
R: Quando criou a Autarquia, eu imagino assim, que eles pensavam que ia ter dinheiro pra
fazer uma Universidade do jeito que o Homero Santos idealizou. Eu imagino que seria
assim: a primeira Universidade Estadual em Minas Gerais sabe, a intenção parece que era
essa. Então, conforme eu te falei da outra vez75, eles tentaram fazer isso em parceria com o
dono da UNIUBE, o Mário Palmério na época. Parece que o Mário Palmério passou a
perna no pessoal daqui e acabou ficando com a Faculdade para Uberaba, Medicina se não
me engano. Agora aqui, quando eles começaram faltou dinheiro sabe.
P: E a Faculdade de Odontologia lá em Uberaba, já existia nesta época?
R: Já, já. Aqui, a primeira Faculdade da Autarquia Educacional de Uberlândia foi a de
Odontologia. Se não me engano o primeiro vestibular foi em 1970. Sabe, e tem um fato
engraçado, se não me engano, acho que tinha cinquenta vagas e cinquenta e um candidatos,
e uma prima da minha mulher foi a que não passou.
P: E foram aprovados 50 candidatos?
R: É. E, agora então fizeram a Odontologia. No início, foi feito assim quase que a toque de
caixa, muito rápido, a estrutura ainda não estava pronta, então começou a funcionar lá
junto com a Medicina. Então o básico, o 1º ano, a gente fez junto, com a minha turma a
Educação Física, Veterinária e a Odontologia. Inclusive, se não me engano, parece que a
turma da Veterinária chegou a estudar até o ser humano inteirinho, dissecar, sabe. Então a
gente fez o básico, era basicamente o mesmo da Medicina.
P: Ah, então o Sr. cursou o básico do Curso no prédio da Medicina?
R: Foi, foi com a turma da Medicina. A aula era naquele anfiteatro lá, todo mundo junto. Mas
daí, depois a turma da Odontologia desceu, né, fazia o básico lá, o primeiro ano e ia lá pra
Engenheiro Diniz, aquele prédio que era dos padres, porque ali era um Colégio dos padres.
Posteriormente eles doaram aquilo ali para a Autarquia Educacional com a condição de
sempre ser Escola. No caso da Veterinária, como era lotada em Tupaciguara, ela foi pra lá.
75
O depoente está se referindo as várias conversas informais realizadas com o pesquisador nas quais o
entrevistado já havia se reportado a tal fato.
228
Fazia o básico aqui e o profissional lá. Mas a prefeitura de lá prometeu dar uma
infraestrutura. O pessoal da Veterinária contava pra gente, não sei até que ponto isso era
verdade, mas pra estudar uma vaca, eles a compraram e punham lá na república deles sabe.
O negócio lá foi difícil. Ficou, ficou, até que os alunos disseram que não tinha jeito. A
prefeitura não dava apoio e tal e coisa por aí, e a Faculdade voltou pra Uberlândia.
P: E a Odonto, a integralidade do curso já era de 04 anos?
R: Já era quatro anos.
P: Aí um ano estudou lá com a Medicina e o resto...
R: Aqui em baixo. Aí, aconteceu o seguinte: em 73, já estava formando, porque entrou aí 70,
71, 72, 73. Então a primeira turma formou e a Faculdade não foi reconhecida. Então, o que
acontecia? O pessoal se formava, a maioria ia embora daqui, chegava lá, não podia
trabalhar porque não tinha diploma reconhecido. Foi aquela batalha pra reconhecer a
Faculdade. Porque o pessoal do Ministério, veio aqui e fez uma vistoria, não tinha livro
quase que nenhum e disseram que desse jeito não tinha condição de ser aprovado. Estou
esquecendo de falar da clínica, da policlínica nossa.O pessoal já estava no último ano e não
tinha clínica. Sabe, ficava repetindo a matéria teórica. Então, eu não sei bem em que época
exata que foi do ano, o Governador Rondon Pacheco doou essa policlínica pra Faculdade,
inclusive ficou com o nome da policlínica Governador Rondon Pacheco. Aí o pessoal do
último ano, faltando poucos meses pra encerrar o curso é que eles entraram pra clínica.
Aprenderam aquilo a toque de caixa mesmo, sabe...
P: A sua turma teve a oportunidade de estar mais perto da clínica ou não?
R: A nossa turma já estava tudo normalizado. Aí veio o problema de reconhecer sabe...Em
73, saiu a primeira turma, e não tinha sido reconhecido - não podia trabalhar. Então o
pessoal do Ministério veio aqui e, ah! Não pode funcionar, ser reconhecida, vocês não têm
livros. Precisava de um número mínimo de livros. Aí foi uma loucura né. Nós fomos até o
Dr. Renato de Freitas, que era o prefeito na época, ver se ele dava uma verba pra gente
comprar livros. Ele, esperto que, usando a expressão popular “andou, andou ao redor do
toco e não fez nada”. Ele virou pra nós e disse assim: olha, eu faço uma proposta. Nós
vamos rifar um carro, pra você ter uma ideia, ele daria uns 200 bilhetes, ao preço x, vamos
assim R$500,00 em dinheiro de hoje. “Aí eu vendo a metade e vocês vendem o resto.”
Como é que nós vamos vender o resto, né? Ele é o prefeito. Ele pode falar assim: fulano
tem um bilhete aqui, você deixa R$500,00, ou o que fosse, duzentos, sei lá. Mas era uma
quantia pra nós estudantes, fora de cogitação. Era uma maneira educada de sair fora da
gente.
P: Os alunos pagavam ou não mensalidade?
R: Pagavam uma mensalidade pequena, quase simbólica. O Estado complementava. O
Dioracy Fonterrada Vieira que foi o coordenador do curso aqui em Uberlândia. Ele era
vice-reitor da Universidade de São Paulo, era professor de Materiais Dentários. Ele ficava
mais pra lá do que aqui. Vinha aqui sempre, não sei se eram duas vezes por mês ou uma
vez por mês. Ligamos pra ver o que poderia ser feito. Aí ele falou: olha, eu vou pra Bauru
e vou juntar aqui o que for possível e vou levar pra lá. Aí fica mais próximo pra vocês. Aí
ele juntou o que pode juntar de livro velho, antigo, lá dentro da USP e alguns novos
também. Inclusive ele tinha, era autor de vários livros. Mas precisava de muitos livros
mesmo. Ele foi pra Bauru. Lá ele juntou na Universidade mais um tanto e ligou pra nós.
Olha pra você ver como a situação era difícil, nós não tínhamos carro pra ir buscar, uma
viatura. Por fim o diretor, o Prof. Vadico, conseguiu da Universidade, nessa época não era
mais Autarquia...
P: O Prof. Vadico era o diretor?
R: É, o Prof. Vadico. Ele conseguiu uma perua Kombi e nós fomos lá buscar esses livros.
Trouxemos todos. Aí o pessoal do Ministério ficou “empurrando a gente com a barriga”.
229
Foi empurrando, empurrando, acontece que era época do Governo Militar e com eles é “ou
vai ou racha né”?! Então, como estava tendo muito problema na Universidade, a gente não
saía da casa do comandante do quartel. Eles chamavam a gente lá, mas não com o intuito
de prender ninguém não. Eles chamavam lá os presidentes do Diretório Acadêmico,
chamava todos. Perguntavam o que estava acontecendo e tal e coisa. Eu me lembro de que
tinha um capitão, um oficial deles, ele perguntava pra gente. Vamos supor, pra mim: e a
Faculdade de vocês, o que vocês tem a reclamar? Ah, o problema lá é esse, esse e esse. Ele
virava e falava assim: Anota aí Paixão. Paixão era o nome de guerra do capitão né. Daí
passava pra Educação Física, Engenharia, etc. E falava assim: anota aí Paixão.
P: Mas isto era mais pra fiscalizar?
R: Eles chamavam a gente lá porque eu acho que eles temiam que a gente fizesse
manifestação, e naquela época estava proibido. Aquela fase, por volta de 74. Em termos,
eram visitas assim, até muito amigáveis sabe. Às vezes, era lá no quartel, mas, às vezes, na
casa deles. Mas então, ficamos sabendo que o pessoal do Ministério tava fazendo corpo
mole, tinha gente que falava assim: ah!!! Isso aí se não entrar uma grana aí não sai nada
não. Eu já estava deixando o Diretório Acadêmico, sabe. Foi nos últimos dias de Diretório
Acadêmico. Olha, nós arrumamos os livros, tudo o que o Ministério pediu foi feito. E eles
não reconheciam. Na última semana, eu não sei se tenho esta carta aí, mas eu acho que não
tenho mais não. Eu fiz uma carta, eu mesmo escrevi muito bem bolada e mandei uma cópia
para o Ministério da Educação, uma para o Presidente da República, uma para o
Comandante aqui do Exército, e se não me engano eu acho que eu mandei uma pro Dr.
Homero Santos. Foram 4 cartas. Fazendo uma denúncia, uma carta ofício mesmo, do que
estava acontecendo e que eu não entendia porque eles não reconheciam, já que tudo que
eles pediram foi feito. Nós batalhamos e fizemos isso e tal e coisa. Passado, acho que não
chegou a uma semana, eu entreguei o Diretório. Naquela semana eu fiz essa denúncia e
entreguei o Diretório. Aí, acho que não chegou nem a uma semana. O Homero Santos me
ligou lá de Brasília e falou assim: rapaz do céu, eu estava lá pra América Central, e o que
que você me aprontou aqui hein? Olha, o negócio aqui enrolou tudo. Aí eu falei: não, eles
estavam enrolando a gente. Aí ele falou assim: amanhã o processo vai a votação e já está
tudo conchavado lá, vai reconhecer amanhã. Pode ficar tranquilo aí. Então naquela noite,
eu e um colega pegamos um carro, era o Helinho, não sei se você conhece, ele trabalha lá
no Executivo. Um outro colega nosso emprestou o carro. Nós viajamos a noite inteira.
Chegamos lá, fomos lá pro gabinete do Dr. Homero Santos e ele disse: vai ser votado agora
de manhã. Ai nós fomos para o Ministério. Lá você acompanha todas as votações sabe.
Esse negócio de abertura de Curso, reconhecimento de Curso. É uma sala assim, do
tamanho dessa aqui, com umas poltronas. Você não fica dentro da sala não, você fica fora.
E fica ali, aqueles delegados lá dentro votando. Nós checamos na pauta de votação, tava lá
o reconhecimento da nossa Escola. Aí, será que saí, né?! Foi o último a ser votado. Era
mais ou menos uma hora assim, quando terminou a votação. Eu lembro que quando eles
deram o voto final, estava reconhecida a Faculdade. Aí nós saímos...
P: Que ano era esse?
R: Nós chegamos aqui a essa hora. Então nós saímos de lá e passamos no gabinete do
Dr.Homero, pra conversar com ele, agradecer, dar os parabéns e tal. Chegamos lá, olha pra
você ver como é esse povo. Foi votado, nós saímos de lá pra ir no gabinete do Dr.Homero.
É próximo lá. Quando nós chegamos no gabinete do Homero, ele já estava com os papéis
iguais a estes daqui e falou assim: oh, ta aqui, está reconhecida a sua Faculdade e aqui
estão os documentos oficiais. De lá nós ligamos na Faculdade e falamos: oh, foi
reconhecida, deu tudo certinho, estamos indo embora, nós vamos chegar aí lá pelas 5 horas
da tarde. Chegamos lá em Araguari, entramos na cidade e compramos uma porção de
cartolina, pincel atômico e aquelas fitas crepe e pregamos no carro. Agradecendo o Dr.
230
Medicina pra Uberaba. Aquela Faculdade que tem lá estava programada pra ser aqui.
Interessante que há pouco, em conversa com o Sr. Miguel de Oliveira, ex-prefeito de
Araguari, contemporâneo do Dr. Homero Santos, me disse: bem feito para o Homero e sua
turma, pois a Faculdade de Direito que vocês têm em Uberlândia estava destinada para
Araguari. Se o Mário Palmério tomou a Faculdade de Medicina de vocês, este mesmo
grupo nos tomou a de Direito. Ressalte-se que naquela época era o maior orgulho ter uma
escola superior, daí o motivo de tanta disputa.
P: Então, o planejador foi o Dr. Homero, que já estava articulando este projeto... Ele já era
Deputado Estadual?
R: Estadual. Não, ele já era Federal. A ideia original dele, porque nós não tínhamos
Universidade na época. Tinha aqui, a Engenharia era Federal, tinha a Medicina, Ciências
Econômicas, Filosofia e Direito, tudo particular.
P: E a Odontologia começou subvencionada pelo Governo Estadual?
R: É Estadual. Não era particular. Mas você pagava lá uma mensalidade quase que simbólica.
Não era cara. O Estado entrava com uma parcela, com 2/3 mais ou menos. A prova é que o
próprio Estado deu a policlínica, mas aí, o sonho do Homero era fazer aqui uma
Universidade Estadual, só não concretizou, porque a Autarquia acabou sendo dissolvida e
sendo encampada pela Universidade de Uberlândia, aquela época não era Federal. Mas
acabou ficando até melhor, porque no final ele conseguiu federalizar a Universidade. Aí
ficou melhor, porque a Odontologia, e ao invés de ser Universidade Estadual, ficou
Federal, e é bem melhor né.
P: E o Diretório Acadêmico até hoje se chama D.A. Dr.Homero Santos em homenagem a ele.
Como que foi isso? Você estava nessa época?
R: Não, não estava.
P: Quando já tinha feito essa homenagem...
R: Foi ele que fundou a Autarquia. Como foi a primeira Faculdade da Autarquia, se fosse a
primeira Faculdade a de Educação Física, provavelmente o Diretório Acadêmico iria se
chamar Dr. Homero Santos, mas como a Odontologia foi a primeira Faculdade, então ficou
com a gente. Então, o nome do diretório foi o nome dele né. Hoje o Diretório Acadêmico
não tem tanta expressão política como naquela época. Em Uberlândia só tinha cinco
Faculdades. Depois veio a Odontologia, Educação Física e Veterinária.
P: Quando a graduação era obtida em Odontologia o prestígio era maior ainda?
R: Era.
P: Tornava-se realmente doutor?
R: É o Diretório Acadêmico tinha uma expressão política na cidade. A gente se relacionava
com o prefeito, deputados, enfim, pessoas da maior alta expressão. Hoje é mais difícil.
P: Com o comandante do quartel era tranquilo?
R: Tranquilo.
P: Não tinha problema de desaparecer aluno devido à ditadura?
R: Se houve, não foi comentado.
P: A Odonto não tinha aluno subversivo?
R: Não. Aqui já estava mais calmo. O problema aqui esteve feio mesmo aí por volta de 64, 65
até o final do ano. Eles pegaram muito aluno, mais de curso secundário, nem de Faculdade
era. Pegava um ou outro, mas era muito raro. Você sabe que estudante universitário aqui
não era muito subversivo. Na verdade, nosso relacionamento com os militares era até bom
sabe.
P: Era mais pra ver se ajudava a reconhecer a Faculdade de Odontologia?
R: É também o interesse nosso era esse.
P: Senão corria o risco de desaparecer, não é?
232
R: Hahahaha!!!!. Era uma convivência até boa, pacífica. Você veja bem, eu fui selecionado a
ADESG naquela época, um Curso super-hiper valorizado. O primeiro Curso que teve da
ADESG, eu comentei com o sargento Stulzer que eu tinha vontade de fazer esse Curso da
Escola Superior de Guerra. Mas só podia fazer quem tivesse acima de 30 anos. Aí um dia
eles me telefonaram. Olha você se tornou um líder entre a turma aí, nós vamos te convidar.
Ah, mas eu não tenho 30 anos. Não, pode deixar que nós vamos deixar, você vai fazer o
Curso. Então eu estive na primeira turma da ADESG. Eles selecionaram aqui, Ituiutaba e
Araguari. Eram as pessoas mais iminentes. Eles chamaram os juízes, promotores,
professores das Escolas e empresários de grande expressão na cidade.
P: Qual era o interesse desse vestibular? Era difícil? E quem eram os aprovados nessas
provas?
R: o primeiro vestibular selecionou muita gente que já tinha parado os estudos. A Autarquia
era pouco conhecida, pouco divulgada, então aparecia pouco candidato. Eu te falei, o
primeiro vestibular teve 51 candidatos para 50 vagas. A primeira turma teve muita gente
que tinha parado de estudar, gente que fez supletivo, etc.
P: E a classe econômica? Assim, era mesclada?
R: Sim, principalmente as duas primeiras turmas. Era um pessoal, na maioria de nível médio
pra baixo. Já a minha turma, foi mais selecionada. Já entrou muita gente nova, que fez o
colegial e decidiram fazer Odontologia. Teve pouco, se tiver teve uns cinco de mais idade.
A maioria era gente nova. Aí na faixa de 17 a 20 anos. Era a idade normal de se passar no
vestibular. Então aí aconteceu uma seleção melhor. Aqui quase não existia escola
particular de segundo grau. Tinha o colégio Brasil Central e o Inconfidência. Mas o forte
aqui na época era sempre o Estadual. Se tivesse 100 vagas na Engenharia e apresentasse
100 candidatos do Estadual não sobrava pra ninguém. Porque a turma lá era barra pesada
mesmo. E como os vestibulares eram projetados, baseados na metodologia do Colégio
Estadual, os alunos já sabiam o macete das provas sabe. Na minha turma, por exemplo, já
tinha várias pessoas de fora. As duas primeiras tinham pouquíssimas oriundas de outras
cidades.
P: A maioria dos alunos das primeiras turmas de Odontologia eram provenientes de
Uberlândia?
R: A terceira turma em diante já veio muita gente de fora, principalmente do norte de São
Paulo. Aí descobriram a Faculdade. Daí pra frente à proporção foi só aumentando.
233
Entrevista nº02
P: Pergunta
R: Resposta
P: Para o Sr. quais os acontecimentos que mais marcaram a História da Criação da Faculdade
de Odontologia de Uberlândia?
R: A ideia surgiu com a manifestação de grande interesse da Associação de Odontólogos de
Uberlândia, bem como daqueles que não tinham vínculo com a Associação, mas tinham
entusiasmo pela melhoria do ensino e que tiveram meu apoio, por projeto de minha
iniciativa e autoria, quando Deputado Estadual, com a criação da Autarquia Educacional de
Uberlândia, possibilitando assim, a criação de três Faculdades, a saber: Odontologia,
Veterinária e Educação Física. Foi um acontecimento muito importante para a nossa
região, e teve a participação dos jovens, que efetivamente lutaram para que esta conquista
se efetivasse, vindo-me à memória neste momento os nomes dos alunos da época, Alfredo
Júlio, Gaspar Paulino, Osmar Alvarenga, e outros que estão hoje, participando
efetivamente da vida acadêmica da cidade como professores ou mesmo como excelentes
profissionais de odontologia.
P: Por que implantar uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Como representante de Uberlândia à Assembleia Legislativa, procurei bem desempenhar o
mandato continuando a meta que tracei de fazer com que a nossa cidade tivesse uma
Faculdade à altura do seu desenvolvimento e dos anseios de tantos jovens entusiastas.
P: Como foi idealizada a Escola de Ensino Superior de Odontologia?
R: Conforme já relatei, foi a soma de um ideal com o conjunto de interesses a favor da cidade,
que já se ressentia da falta de uma Faculdade específica de Odontologia, já que nossos
jovens eram obrigados a se deslocar para outras localidades para realizarem seus estudos.
P: A Comissão pró-ensino77 em Uberlândia, logrou o êxito que desejava?
77
No começo da década de 1950, nessa época exercendo o cargo de deputado estadual Homero Santos foi um
agente determinante na idealização das faculdades em Uberlândia. No ano de 1957, já como deputado federal,
ele estabeleceu uma comissão pró-escolas superiores de ensino, constituindo e realizando palestras na tentativa
de impulsionar a implementação de uma Escola de Ensino Superior local. (vide corpo da dissertação p.98).
234
R: Não tenho a menor dúvida da grandeza que representa hoje a iniciativa que tivemos no
sentido de efetivar a criação de Escolas de Ensino Superior, que resultou na Federalização
da Universidade, através de projeto de minha autoria na Câmara Federal.
P: Quais as dificuldades encontradas e quais foram os maiores colaboradores para a efetivação
do projeto da Autarquia Estadual de Uberlândia, especificamente a Escola de Odontologia?
R: Não tivemos propriamente dificuldades, visto que contamos com a colaboração da classe
odontológica da cidade, da sua associação e dos jovens entusiastas da ideia, bem como
tivemos o total apoio da Câmara dos Vereadores de Uberlândia e dos intelectuais da
cidade. Credito parte do nosso sucesso ao entusiasmo do então Deputado Federal Rondon
Pacheco. Entretanto, devo destacar a participação decisiva do então Governador de Minas
Dr. Israel Pinheiro, sancionando e determinando a imediata instalação da Autarquia, com a
criação de três Faculdades, Odontologia, Veterinária e Educação Física com a participação
do Professor Gerson, do Prof. Laerte Alvarenga de Figueiredo, Wilson Ribeiro da Silva e
muitos outros que deixo de consignar, uma vez que foram muitos. Devo dizer que hoje a
Faculdade vai muito bem, pois possui um competente quadro de professores “um dos
melhores do país” e dedicados funcionários. Acredito, e por isto mesmo tenho declarado
que o processo de melhoria do ensino odontológico deve continuar, principalmente, na
parte social, com perfeito atendimento da população mais carente da cidade e região.
P: Qual o significado dessa Escola Superior de Odontologia para a cidade de Uberlândia?
R: Definitivamente inseriu nossa região no rol daquelas que à época passaram a oferecer
Ensino Superior de qualidade para a população. Colocando Uberlândia na vanguarda do
ensino superior.
P: A quem e quais interesses a instalação da Faculdade de Odontologia em Uberlândia estaria
atendendo, tendo em vista o contexto histórico e político daquela época?
R: O maior beneficiado foi à sociedade, uma vez que a representação política de toda região
soube corresponder à expectativa e anseio de todo povo. Destaco que não havia interesse
econômico na sua instalação, mas um forte desejo de inserir nossa cidade e região no seleto
(à época) grupo de cidades que ofereciam ensino superior.
Entrevista nº 03
P: Pergunta
R: Resposta
P: O curso de Odontologia era pago? O Sr. tinha dificuldades para pagá-lo?
R: O curso era pago e eu contava com meu pai para pagar as mensalidades pois na época eu
não trabalhava. Não era tão caro, eu acho que hoje as Faculdades cobram um valor mais
235
alto. Mas naquela época como não tínhamos muita noção do que era o valor, não havia
reclamação dos pais: “nossa, essa Faculdade está cara”.
P: Percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da Faculdade.
R: Vim para em Uberlândia em 1952, 1953 e cursei o primário no Externato Rio Branco na
Av. Princesa Isabel, depois o Ginásio eu fiz no Liceu de Uberlândia que fica na Praça
Oswaldo Cruz e depois o colegial eu fiz no Colégio Estadual Bueno Brandão. Depois
surgiu o vestibular de Odontologia e eu tinha o segundo colegial e meio, mas passei, eu e
uma turminha. Acabamos cursando.
P: Depois de formado, como foi o ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu às
expectativas?
R: Quando eu formei o mercado de trabalho estava bom. Em Uberlândia era a primeira turma
de alunos de Odontologia que se formava, então, o mercado ainda estava aberto. Juntamos
uma turma e montamos uma clínica. Contando comigo éramos quatro colegas de turma
trabalhando na Clínica Odontológica CAP. E aí nós começamos. Naquela época o mercado
de trabalho era melhor que hoje.
P: E a carreira profissional como foi?
R: Eu tinha muitas dúvidas, sentia certa pressão dos pais para não fazer o Curso porque ele
era novo, não sabia se daria certo. Mas eu tentei o Curso de Odontologia e caso o mercado
de trabalho não fosse tão bom, eu continuaria com o comércio que o meu pai tinha, que era
uma drogaria. E, posteriormente, eu fui convidado a trabalhar na Faculdade de
Odontologia de Uberlândia. Naquela época ainda era convidado. Então foi o consultório
mais a faculdade e como aquela época era mais promissora, com o mercado de trabalho
tendo um menor número de dentistas, eu acho que escolhi a profissão correta. Dentro da
Odontologia eu trabalho com a área de tratamento de canais, área que eu mais tive aptidão
durante meu curso. Nove meses depois de formado surgiu um curso de especialização em
Araraquara, em 1974, 1975 que eu fiz. A tendência na época para os professores era que
com um curso de especialização você estava feito na vida. Mas a gente sentia que no futuro
seria exigida alguma situação de mestrado, foi por isso que eu o fiz em 1981. E na época o
mestrado não oferecia vantagem nenhuma ao docente de instituição federal porque não
tinha aumento salarial nenhum. Mas mesmo assim eu procurei fazer o mestrado porque
parecia ser uma coisa que alimentava a gente, porque eu gostava daquilo que eu fazia que
era dar aula e ao mesmo tempo estar mais consciente naquilo que fazia, mais pé-no-chão.
Foi uma oportunidade que eu tive de sair, eu fiz em Bauru; e seis anos após eu fiz o
doutorado aí nessa época já contava para a Universidade a situação de você ter uma parte,
uma porcentagem maior no seu salário para que você tivesse esse estímulo de fazer o
Curso.
P: E o professor era contratado, concursado?
R: O professor mais um pouco na frente foi concursado, daí não tinha mais esses convites.
Isso aconteceu apenas na primeira, na segunda turma quando ainda era particular. Depois
que passou a ser federal já entrou nos moldes da Constituição Federal.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Naquela época em que fazíamos o colegial não tínhamos uma visão porque existiam
algumas carreiras universitárias já tradicionais: a Engenharia que já existia em Uberlândia,
a Faculdade de Medicina que estava começando, mas a Odontologia surgiu de uma hora
para a outra com alguns profissionais, políticos querendo atrair pra cá o curso como, por
exemplo, o Homero Santos, o Governador de Minas o Rondon Pacheco, deram um apoio
muito grande para formar esse Curso de Odontologia em Uberlândia. O nosso diretório
acadêmico de Odontologia chamava-se “Diretório Acadêmico Homero Santos” porque ele
foi praticamente o fundador da escola. Nós tivemos a sorte da nossa turma homenageá-lo
com o nosso D.A (Diretório Acadêmico) devido ao trabalho que esse profissional, esse
236
político teve na época para trazer a Faculdade para Uberlândia, pois, até então, a mais
próxima daqui era em Ribeirão Preto ou Belo Horizonte, ou Goiânia. Mas não era muito
conhecido por nós naquela época em que terminávamos o colegial e começávamos a
procurar o que prestar. Para nossa região trazer essa Faculdade foi muito importante e até
hoje ela é muito importante para nós.
P: O que significou a Escola de Odontologia em sua vida profissional?
R: Eu tinha uma opção: ou seria comerciante ou não. Como eu já tinha experiência de
comerciante dos oito anos de idade até os vinte e três anos quando eu cursava a Faculdade
de Odonto e eu trabalhava na drogaria do meu pai. Então eu optei por fazer a Faculdade de
Odontologia, e, realmente, achei que o comércio não era pra mim e quando eu cursei a
Faculdade eu tive um entusiasmo muito grande porque foi uma área dentro do curso de
odontologia que me agradou muito. Os professores nossos vieram, por exemplo, da
Faculdade de Odontologia de Bauru, Araraquara, Diamantina. Veio um grupo na época
através do coordenador que era o Sr. Assis Vieira da USP, e ele conseguiu congregar
vários professores na primeira e segunda turma. Então nós tivemos um incentivo muito
grande, pois eram profissionais já ligados à pesquisa e nós como estudantes saídos do
colegial, achando que sabíamos alguma coisa, mas na verdade não sabíamos nada, nos
sentimos estimulados quando entramos na Faculdade, pois isso foi um campo, uma visão
muito grande para nós. Por isso assim que eu terminei o Curso, já procurei fazer a
especialização, provavelmente pela índole desses nossos professores.
P: O que significou/representou o Curso de Odontologia para você? Para sua família?
R: Na época em que eu prestei o vestibular para Odonto meus pais foram contra, pois queriam
que eu escolhesse outro curso ou mesmo Farmácia, Medicina, que já eram cursos
tradicionais na época. Mas para a nossa família, o vestibular, “Não, não quero mais ficar
estudando física, química, vamos ver o que vai dar. O máximo que eu pode acontecer é eu
me formar. E me formaria com 22, 23 anos. Se eu não gostasse do curso eu faria outro
curso”. Mas depois eu vi que realmente a Odontologia era aquilo que eu tinha que ter feito
mesmo e meus pais mais tarde falavam que eu realmente escolhi a profissão certa. Meu pai
já faleceu, mas minha mãe até hoje diz. Então são coisas que acontecem, não sabe o que
vai fazer porque é muito jovem, toma algumas decisões que podem complicar, mas fui
feliz nessa decisão minha. Gosto muito de Odontologia.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela sociedade uberlandense?
R: Já existiam outros cursos em Uberlândia, mas a Odontologia veio beneficiar muito a
comunidade em termos de repassar para os demais cidadãos aquela Odontologia moderna,
aquela Odontologia que na época eram mais dentistas práticos do que os profissionais,
então eu acho que foi não só para Uberlândia mas para as regiões do Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba, isso tudo veio trazer para nós um enriquecimento cultural, enriquecimento
de atendimento aos pacientes, novos recursos e técnicas, tratamentos diferenciados, e isso
trouxe crescimento pois a Faculdade mais perto que tinha, agora estou me lembrando, era a
Faculdade em Uberaba que era particular e é até hoje. Então, eu acho que para nós da
comunidade de Uberlândia ela só veio enriquecer, não só de Uberlândia, mas da região
também.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: Eu acho que a sociedade em si começa a respeitar um pouco mais aquela Odontologia que
fazia-se naquela época, não que seja empírica, porque naquela época existiam muitos
dentistas fracos, eu me recordo bem que quando eu era aluno na Faculdade, algum dentista
foi autuado, foi preso, teve seu consultório tomado. Então a gente via que a Odontologia
não tinha aquelas condições em que podia se passar ao paciente recursos maiores de
técnicas. E eu acho que a Faculdade veio trazer aos nossos uberlandenses uma motivação
237
muito peculiar de melhorias e com isso a população foi vendo que a Odontologia podia ser
diferente daquela dos anos 50, 60. Naquela época eram os anos 70 e a Odontologia foi uma
transformação.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para que?
Para quem?
R: Que seja político, que seja social, você vê que hoje Uberlândia representa um pólo
praticamente universitário com a vinda de várias Faculdades pelos políticos daquela época,
seja quem for que puxou para cada área: os da Odonto, os da Medicina, da Engenharia,
todas as áreas, mas na verdade essa população de Uberlândia foi ficando quase que uma
população universitária. Se não me engano, em termos de porcentagem, a Argentina tem
uma população muito maior no nível de terceiro grau do que o Brasil, mesmo com as
Escolas crescendo da forma que estão. O pessoal diz que tem muita Faculdade de Odonto,
muita faculdade de Medicina, ou de Farmácia, de Engenharia, mas mesmo assim o aluno
que terminou o colegial ainda não está tendo acesso. O Brasil fica hoje em uma faixa de
14, 19% dessa população em termos de Universidade. Já na Argentina o acesso é de 32%
no nível de terceiro grau. Como dar o acesso a esse aluno à Faculdade aí eu acho que tem
que partir do Governo. Uma situação onde hoje esse pessoal está fazendo bolsas, isenção
de impostos de renda para universidades particulares para que você possa fazer seu curso
de graduação às vezes “gratuito” ou com desconto de 40 a 60% na mensalidade, ou após a
formatura, trabalhar para uma cidade ou para o próprio Governo em algum lugar, mas que
dê condições à nossa população jovem de fazer uma Universidade.Eu acho que o que você
perguntou foi em relação aos interesses, mas que sejam dos políticos, que seja também
para que, ou seja, para essa formação universitária que os jovens precisam...E que vai
refletir com certeza na melhoria da mão-de-obra de qualquer trabalho. Imagine assim, em
um trabalho que você chega num banco, por exemplo, num atendimento numa entidade do
próprio Governo que você chega, tem uma pessoa que já fez um terceiro grau e vai fazer o
atendimento, com certeza você vai ter melhores atendimentos, mais rapidez nesse trabalho,
mais conscientização, uma mão de obra mais qualificada, vai elevar com certeza o nível
cultural da nossa região que atrairia mais profissionais de outras áreas para cá. Até
empresas.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Na época em que nós prestamos o concurso para vestibular, foi uma surpresa para nós
alunos de 68, 69, da época do Estadual, porque: “olha, surgiu um curso de Odonto aqui em
Uberlândia, vamos prestar o vestibular?”. Daí a gente lembrava que naquela época alguns
profissionais da área da Odontologia estavam querendo trazer esse Curso para cá, mas a
gente era jovem, não éramos muito ligados a essa área de política, mas depois que
entramos na Universidade sentimos que alguns funcionários tinham idealismo, como Dr.
Laerte Alvarenga era um profissional da nossa área, chegou a ser coordenador, diretor da
Faculdade, e ele trouxe o professor Dioracy Fonterrada Vieira porque ele era um
profissional que tinha um relacionamento muito grande fora de Uberlândia e com isso
outros políticos na época como o Dr. Homero Santos, um pioneiro, quem puxava mesmo,
queria ver nossa região crescendo. Nós tivemos muita sorte de ter essas pessoas e o
próprio acordo que nós tivemos naquela época do Homero Santos junto com o Governador
que era o Rondon Pacheco. Então, a gente lembra na época de inauguração da clínica o
quanto foi importante o apoio político. Foi muito importante essas pessoas com esse
idealismo e espero que continue a ter gente com esse ideal para que não só na Odontologia,
mas em qualquer outra área, até, às vezes, na área de empresas, de políticas, de trazer para
nós, para nossa região um maior crescimento que está gerando a criação do pólo
universitário. Queria que tivesse um pólo industrial muito maior do que nós temos hoje
para trazer mais empregos para esses profissionais que estão aí formando, e também para a
238
população em termos de empregos, através de indústrias que poderiam vir mais para
Uberlândia. Então eu acredito que o que essas pessoas fizeram foram as sementes que eles
colocaram, porque essa semente germinou, cresceu e foi florescendo. Então eu hoje
acredito que a gente tem que agradecer muito a esse pessoal que nos ajudou naquela época.
Hoje nós vemos a ideia da Faculdade, o tanto que isso cresceu e o quanto Uberlândia
aumentou com isso: a nossa população, em termos de trabalho para o pessoal aqui em
Uberlândia.
Complemento curricular: Fiz a graduação em Uberlândia, a especialização em endodontia
na Faculdade de Odontologia de Araraquara, e posteriormente eu fiz o mestrado e o
doutorado na área de endo também na Faculdade de Odontologia de Bauru. Aí paramos
por aqui, acho que eu já me dediquei muito. RS Mas se ainda tiver alguma coisa a
contribuir, lógico que aos poucos a gente vai fazendo à medida do possível para o nosso
enriquecimento cultural.
239
Entrevista nº04
Entrevistado: Wanderley Alves Ribeiro (conhecido pelos colegas como Wanderley magro)
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 3a turma – 1975. Especialista em
Periodontia pela Faculdade de Bauru em 1980.
Nome da Mãe: Jacir Ribeiro da Silva, do lar
Nome do Pai: José Alves da Silva, comerciante
Local de nascimento: Indianópolis MG
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média
Realizada em Uberlândia, dia 22/02/2006.
P: Pergunta
R: Resposta
P: Quando o Sr. veio para Uberlândia?
R: Vim para Uberlândia em 1967.
P: Percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da Faculdade.
R: O primário eu fiz em Indianópolis no colégio do Estado, o Ginásio foi em Araguari,
Estadual também, e a partir do colegial já foi particular em Campinas, São Paulo.
P: A Faculdade era paga?
R: Era Autarquia. Pagava só 50% e o resto quem pagava era o Estado. Hoje seria em torno de
meio a um salário mínimo, então a Faculdade hoje está muito mais cara.
P: Depois de formado como foi o ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu às
expectativas?
R: Eu abri um consultório na época de estudante, em maio de 1975.
P: Em 75 o Sr. já estava atendendo?
R: Eu já estava atendendo.
P: O Dr. Falou que vocês montavam uma arapuca78?
R: Era uma arapuca.
P: A clínica parece que montou só no finalzinho, não foi?
R: A clínica mesmo foi em 1973.
P: Depois de formado como foi o ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu às
expectativas?
R: Teve uma decadência muito grande. A maior parte foi pelo Governo e também a
concorrência aumentou demais. No início era bem melhor a profissão. Na época dos
militares era outra coisa.
P: Tinham muitos dentistas práticos naquela época?
R: Naquela época existiam dentistas práticos, mas isso não atrapalhava em nada. Tinham mais
dentistas formados que práticos. Mas dependendo da cidade... No interior tinham mais
práticos.
P: E eles eram bons? O povo gostava?
R: Na parte de prótese eles até preferiam o prático. Prótese total, prótese removível, eles
eram... É que eles mesmos faziam, não mandavam para protéticos.
P: E antes de existir a Faculdade aqui, os dentistas formados vinham de onde?
R: Principalmente de Uberaba.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
78
Consultórios que eram montados em uma sala da residência do estudante ainda não formado, com intuito de
atender para ganhar dinheiro e aproveitar para desenvolver trabalhos. Chamava-se arapuca pois os atendentes
eram estudantes que não haviam se formado, mas já começavam a “caçar” pacientes.
240
R: Na época foi muito bom, tinham poucas Faculdades aqui. Era a Engenharia com duas
especialidades, Medicina, Veterinária, Educação Física, Direito e então, Odontologia.
P: O que significou/ representou a Escola de Odontologia em sua vida profissional?
R: Foi bom demais.
P: E o que o levou a escolher Odontologia?
R: Eu não queria ser empregado.
P: O pai do senhor era comerciante. O senhor teve experiência trabalhando com ele?
R: Eu trabalhei na época de criança. Depois ele vendeu o comércio e foi mexer com fazenda.
Para a fazenda eu já não quis ir. Eu fui estudar.
P: O que significou para sua família o senhor ter escolhido o Curso de Odontologia? Eles
apoiaram?
R: Eles só apoiaram porque eu já tinha começado um curso de Economia e desisti. E naquela
época eu tinha problema com sangue não me sentia bem com sangue. Quando eu parei de
fazer eles acharam que eu não ia até o fim. Eles apoiaram. Acabei fazendo especialidade
em periodontia, mexia com sangue.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: A Faculdade foi bem recebida, principalmente porque proporcionaram a parte prática,
atendia sem pagar nada. Inclusive aquela parte da Odontologia foi doação, não foi a
Faculdade nem a Universidade que comprou não, foram os franciscanos da igreja que
doaram o departamento para a Odontologia. Tanto que eles já tentaram até vender aquilo
lá, mas não consegue né?
P: Então tanto a comunidade saiu ganhando como ficou feliz com tratamentos gratuitos?
Tinha uma grande demanda pelos serviços odontológicos?
R: Tinha.
P: E como funcionava? Dois alunos atendiam um paciente?
R: Era em dupla. Um auxiliava o outro.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: Modificou muito porque naquela época não tinham nem professores aqui. Vinham de
Bauru, Ribeirão Preto, Araraquara. Num instantinho começou a dar emprego para
professores aqui. Hoje está a turminha toda que formou aqui.
P: Vocês tiveram bons professores aqui? E depois esses professores voltaram para suas
cidades e começou a contratação do pessoal daqui?
R: Ahã. É que depois fizeram um regulamento de que professor não podia morar além de
cinquenta quilômetros daqui. Eles tinham que morar mais perto da cidade de Uberlândia.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem?
R: Eu me lembro muito na época teve o Homero Santos, teve o diretor, Dr. Laerte. O que era
o Reitor daqui era da Odontologia, Veterinária e Educação Física, que era uma Autarquia
formada por essas três Faculdades. Então o Wilson Ribeiro teve muita influência.
P: Para que? Para quem?
R: Eu tenho a impressão que era mais político. Teve o Homero Santos, o que antes era
deputado federal... Tivemos a ajuda do governador, Rondon Pacheco.
P: O Sr. se lembra de algum movimento do povo na época? Os dentistas daqui queriam trazer
a Faculdade?
R: Teve o doutor Osmar Alvarenga, o doutor Laerte que já tinha consultório particular, o
Verjani, que chegou a ser professor. Eles queriam trazer para formalizar a profissão. Na
época tinha uma briga para tirarem os práticos. Até o Osmar Alvarenga que era o
representante do Conselho. E tinham os mãos-de ferro que fechavam os consultórios,
prendia. Vigiavam.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
241
R: Eu não sei te falar assim, mas acho que foi o doutor Laerte. Ele foi o primeiro diretor e ele
tinha muita influência de Bauru. Ele trouxe muitos professores.
P: No começo do Curso existiu alguma dificuldade? De material, de professores, local de
estudo?
R: Não, o curso foi tranquilo. Teve o auxílio do Curso de Medicina, pois o Curso teórico era
feito lá, com os professores de lá. Na parte de Anatomia, Fisiologia, Citologia, usávamos
os professores da Medicina. A “Autarquia”: a Veterinária, a Educação Física, a
Odontologia estudaram na Medicina.
P: Lá atendiam mais as pessoas carentes?
R: Não tinha uma classe específica. Às vezes, levávamos parentes. Eu mesmo praticava com
parentes.
P: E o Sr. montou seu consultório quando mesmo?
R: Em 1973, nós montamos em Indianópolis. Depois foi aqui em Uberlândia. Eu fazia o
segundo ano e o rapaz fazia o quarto, eu o auxiliava. Depois passei para o terceiro, e no
final eu fiquei sozinho. Eu lembro que foi no Tibery por seis meses, depois eu fui para a
minha casa.
P: Qual foi a mudança na sua vida, qual a importância da Faculdade de Odontologia na vida
do Sr.?
R: Para mim foi uma profissão que eu tive, já tem mais de trinta anos... foi minha vida.
P: E o Sr. pensa em continuar como periodontista?
R: Já me aposentei mas continuo como clínico geral.
P: O pessoal da sua turma pertencia principalmente a qual classe social?
R: Era mais classe média, não era um nível alto não.
P: A população prestigiava mais o Curso de Medicina? Como era a concorrência para o Curso
de Odontologia?
R: Na minha turma já deu mais de dois candidatos por vaga. Na primeira turma nem
preencheu. Depois foi crescendo. Começou a turma feminina depois. Na minha turma era
50%. O pessoal era mais velho e muita gente não trabalhava porque era apertado, era
tempo integral o primeiro ano, até de noite. No segundo ano era o dia todo.
P: Mudou a vida do Sr.?
R: Ah, mudou. Não me arrependi de ter deixado a Economia não. Na época eu era até
bancário, mas não me arrependi não.
P: Mesmo não gostando de sangue, o Sr. escolheu a Odontologia porque? Mais mesmo para
ser um profissional liberal?
R: Para ser profissional liberal, para não ser empregado, e eu tinha uma simpatia também. Eu
já tinha um primo que era dentista. Na Medicina a gente pensava que não dava conta, né?
E era bem mais “caro” que Odonto, era bem mais puxada e era toda particular.
P: O Sr. se lembra de algum fato, alguma história que chamou a atenção durante o curso do
Sr.?
R: Não. Era um curso tranquilo, eu terminei e já estava atendendo. Não teve greve.
P: E o reconhecimento do seu diploma? Como foi?
R: Na época eu mexia com política, porque eu queria sair daqui de Uberlândia, então foi fácil.
O meu CRO foi mais recente do que a maioria da turma e até de quem formou primeiro do
que eu. Consegui juntamente com o Homero. Consegui uma carta com o Homero, fui a
Belo Horizonte e consegui bem mais rápido do que todo mundo. Não me lembro de
alguém que conseguiu rápido assim.
P: O Sr. atuou na área política também?
R: Não, tinha só esse contato de amizade. Porque a minha família mexia muito com política
em Indianópolis. Minha família hoje está aqui, tem muita gente em Indianópolis também.
P: E o Sr. tem filhos?
242
R: Tenho duas filhas. Uma é farmacêutica e a outra é enfermeira padrão. Ninguém quis
Odontologia.
P: Essa entrevista vai nos ajudar a construir a história da FOU. Então para deixar gravado,
tem algo que o senhor gostaria de dizer? Para as próximas gerações do Sr. saberem, sobre a
Faculdade, sobre aquela época? O Sr. diz que na época dos militares foi boa a época para
trabalho...
R: Não só para a minha profissão, para tudo. O Brasil cresceu muito, naquela época tinha
menos gente para a concorrência, o povo tinha mais condições para pagar, as coisas eram
mais baratas. Você comprava um consultório em sete, oito prestações sem juros. Os bancos
ajudavam. Na época de estudante eu comprei meu material de cirurgia pela Caixa
Econômica Federal. Hoje isso não existe de jeito nenhum. Se for fazer hoje, o banco toma
seu consultório. Eu comprei o material em três mil, não me lembro mais o que era esses
três mil, mas com um prazo de noventa dias para eu pagar mil e quinhentos. Depois com
mais sessenta dias, pagava setecentos e cinquenta e mais os juros, que eram baixos. Depois
com mais trinta dias pagava o restante mais os juros.
Complemento curricular: Especializei-me em 1980 em Bauru em periodontia. Fiz
congressos em São Paulo de dois em dois anos, da ABO. Não dou aulas, nunca gostei
dessa parte acadêmica, tem muita implicação, muita briga. Até na minha época eu via,
professor tentando pisar nos outros.
Entrevista nº05
Entrevistado: Vanderlei Luiz Gomes (conhecido pelos colegas como Vanderlei gordo)
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 3a turma – 1975. Mestre em Clínicas
Odontológicas pela USP/SP em 1986; Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela
UFU/MG em 1979; Professor Titular da Universidade Federal de Uberlândia.
Nome da Mãe: Odília Maria dos Santos, do lar
Nome do Pai: Manoel Gomes dos Santos, ferroviário
Local de nascimento: Tupaciguara MG
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média baixa
Realizada em Uberlândia, dia 22/02/2006
P: Pergunta
R: Resposta
P: Quem custeou seus estudos?
R: Minha família. A escola era Estadual. Neste momento, mantive bolsa de monitoria por dois
anos. O restante eu complementava com trabalhos que eu fazia.
P: Qual seu percurso escolar até seu início na Faculdade?
R: Sempre estudei em escola pública aqui em Uberlândia. Estudei no Coronel Carneiro, no
Amador Naves e depois no Colégio Estadual. Moro em Uberlândia desde os 4 anos de
idade.
P: Depois de formado, como foi seu ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu as
expectativas?
R: Eu trabalhei com consultório particular em Uberlândia por 7 a 8 anos. Simultaneamente,
depois de formado, permaneci na Faculdade, lecionando. Um ano como professor
voluntário, em torno de 16 horas por semana. E no ano de 1977, no dia 1º de abril de 1977
243
fui contratado e permaneço na Faculdade ate hoje. Em 1982/83, fechei meu consultório
particular. Tornei-me professor de dedicação exclusiva. Desde então, mantenho este
vínculo de professor de dedicação exclusiva, sem nenhum outro vinculo empregatício. Em
1978/79 fiz Metodologia do Ensino Superior a nível de especialização em uma turma que a
Universidade formou. Em 1983/85 fiz Mestrado na USP de São Paulo em Clinicas
Odontológicas. De 1991/96 fiz doutorado na USP de Ribeirão Preto.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Foi a oportunidade que nós que não possuímos condições de nos manter fora de
Uberlândia para fazer uma Faculdade de poder cursar um Curso sério, que já vislumbrava
uma profissão de muito futuro. Naquela época tinham poucas Faculdades de Odontologia
no país. Era uma possibilidade muito grande de trabalho. Então, a gente fez, aproveitando a
oportunidade da criação da Escola, esta introdução no Ensino Superior e depois no
magistério.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: O que eu lembro é que todas as Escolas Superiores eram muito bem recebidas pela
população. E todos os movimentos que a gente fazia eram movimentos que vinham ao
encontro a fortalecer o vínculo com a sociedade. O trote de nossa turma foi para a época
um trote avançado. Saímos com nossos veteranos nas ruas de Uberlândia, com auxílio dos
militares do quartel fazendo angariações de bens, como roupas, e esse material depois foi
distribuído para a sociedade. Recebemos também muitos eletrodomésticos. Isto marcou
nossas vidas e fez com que a Faculdade chegasse muito mais próxima ao povo. Sempre
nossa Faculdade teve um caráter social muito grande. Tivemos muito tempo, e ainda temos
uma grande carga horária na disciplina de Odontologia Social e Preventiva, que faz este
contato com a sociedade. Portanto a Odontologia esteve sempre próxima da sociedade, em
trabalhos em grupos escolares, em ajuda ao atender a população com a parte de cirurgia, de
prótese removível por um bom período de tempo, enquanto duraram as UDAS (Unidades
de Diagnóstico e Assistência Social), a gente fazia parte das UDAS, isso trouxe muita
coisa pra sociedade. A nossa turma foi no ano de 1973/74, veio trabalhando pelo inicio da
fluoretação de água em Uberlândia, nós participamos dos primeiros levantamentos e depois
do acompanhamento desta fluoretaçao. Simultaneamente, a Odontologia voltada para
crianças que era trabalhada nos grupos escolares.
P: Para sua família como era visto o Curso de Odontologia?
R: Praticamente, eu sou um dos únicos da época a ter chegado na Faculdade. Isso é um
orgulho muito grande para meus pais. Principalmente, para meu pai, que era um professor
de escola rural, ver o filho chegar em uma Faculdade, principalmente, uma Faculdade na
área de saúde muito disputada como era a da Odontologia. Só existiu essa possibilidade
com a criação desta Faculdade em Uberlândia, caso contrário eu não estaria fazendo.
P: O que significou o Curso de Odontologia para você?
R: Ele encaixa na minha vida desde o primeiro momento e hoje é a minha segunda família, é
minha família de trabalho, as vezes, até mais que a minha família humana. Eu tenho a
odontologia como uma segunda família mesmo.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para que?
Para quem?
R: Eu vejo muito mais pelo lado do progresso. Se tivéssemos como pensamento o idealismo
do Homero Santos, do Rondon Pacheco, que fizeram esta Faculdade, nos dias de hoje,
provavelmente, Uberlândia e o Brasil seriam muito melhores. Não me preocupo se o
acontecido nos idos de 1968 foi de questão política. Se teve um cunho político, o fundo
social prevaleceu. O que eles conseguiram deixar para Uberlândia, é o que mais tarde viria
a ser a Universidade Federal de Uberlândia, vale muito mais que qualquer outro
pensamento que porventura passou na cabeça de alguém que tivesse uma vontade política.
244
A UFU hoje não é mais um nicho de Uberlândia. Nós resolvemos muito bem os problemas
da região e do Brasil. Se lá atrás teve esse cunho político, eu acho que foi muito bom. Que
tenham então outras pessoas idealizadoras que tenham este orgulho de fazer uma coisa
pensando no próximo e que mais tarde vai trazer os frutos que a Universidade trouxe para
nós.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Citar nomes sempre é muito ingrato. Seria bom olhar as atas dos arquivos da Faculdade,
através dos livros de departamentos, você vai ter todos aqueles professores que começaram
o curso e que vieram para Uberlândia para estar aqui com a gente ministrando aulas, pois
tínhamos professores que vinham de vários pontos do Brasil, por longos períodos. Eles, às
vezes, ficavam sem rendimentos, porque a Autarquia não disponibilizava o dinheiro para
pagar e esse pessoal vinha religiosamente aos finais de semana ministrar aulas para nós.
Vinham professores de Bauru, Araraquara, Diamantina, Uberaba. Eles vinham apesar de
não receber nada, mas com promessas de virem a receber um dia, vinham com despesas
pagas, as vezes, até por eles, no carro deles. Nesta andança tivemos um acidente com um
professor que vinha de Bauru, professor Noracilde, por volta de 1973. Isso sem perceber
sua remuneração mensal. Isso para nós era um orgulho muito grande. Eram professores
que geralmente nas Faculdades deles geralmente lecionavam no Mestrado, no Doutorado, e
assim, na graduação em Uberlândia. Isso nos deixava muito orgulhosos e nos preenchia
completamente em termos de conteúdo.
P: Existe algum fato ou evento que seria interessante deixar registrado sobre a Faculdade de
Odontologia?
R: Nós das primeiras turmas não podemos esquecer-nos da batalha para manter este Curso em
pé. Desde o momento da primeira clínica, que já veio no encerrar da primeira turma. A
primeira turma já estava fechando o Curso foi quando se montou a primeira clínica. Na
maioria das vezes esse pessoal ia para o consultório dos professores desenvolverem
atividades. E depois a manutenção destas clínicas. Criou-se uma estrutura, uma Autarquia
e, às vezes, nós não tínhamos disponibilidade financeira para estarem comprando
medicamentos, produtos odontológicos para atuação na clínica. Tínhamos momento em
que grupos de alunos se reuniam para comprar um litro de álcool, para buscar um
anestésico. Uma ajuda muito grande dos políticos da época. Bastava que se telefonasse
para eles e eles já mandavam a gente ir no comércio, deixavam uma autorização para que a
gente comprasse o material. E não parou a dificuldade, mesmo com tantas dificuldades e
lutas a Faculdade conseguiu chegar onde esta hoje. Foram movimentos tanto de alunos
quanto de professores. Ambos realmente colocavam a mão no bolso.
P: A comunidade ganhou o que com a criação da Faculdade de Odontologia? Existia um
atendimento gratuito? O que a comunidade uberlandense ganhou com a Faculdade?
R: Todo o trabalho do Curso de graduação desde os primórdios da Faculdade são trabalhos
que não oneram o paciente. Ele sempre desenvolveu atividades, ou ora por conta da própria
Autarquia, ou depois que se tornou Universidade e depois pelo sistema de saúde. Um
sistema de qualidade e de preço acessível Já chegamos a atender mais de 3.000 pessoas por
mês. Hoje não sei qual é a escala, mas já tivemos esse número. Hoje devemos ter em
nossos arquivos mais de 100.000/110.000 prontuários registrados. Para uma população de
600.000 habitantes o arquivo da Faculdade de Odontologia ter um numero tão expressivo,
acho que é muito importante. É significativo. O trabalho social que a Faculdade
desenvolve nos grupos escolares, junto também a problemas da Prefeitura, em praças
públicas, nosso trabalho de Pronto Socorro 24hs, que é um trabalho muito bem preparado
para atender ao público, que atende as urgências e as emergências. E a formação do
profissional. Hoje estamos na 76a turma, já são mais de 2800 alunos de Odontologia em
trabalho. Também não podemos nos esquecer da Escola Técnica, pois os cursos formados
245
para a Odontologia que hoje nós temos nasceu dentro do Curso de Odontologia, o Curso de
Prótese, o de THD (Técnico em Higiene Dental)... Ajudamos a tornar a antiga Escola
Técnica de Enfermagem em hoje a Escola Técnica de Segundo Grau da Universidade
Federal de Uberlândia. Quer dizer, isso tudo trouxe um retorno para a sociedade muito
forte. E a quantidade e qualidade de profissionais que nós temos colocado no mercado.
Com formação em Odontologia. Hoje temos 7 cursos de especialização em várias áreas de
ensino. E de 4 anos para cá nosso Mestrado, que está sendo muito bem aceito. É um
mestrado para a formação de docentes, acadêmico. Formamos em torno de 25/28
profissionais a cada ano para o ensino de Odontologia. Isso é muito importante. Esse
retorno que a Faculdade tem dado a sociedade, e ela tem nos agradecido muito quando
avaliações são feitas e nós somos lembrados como uma Escola de nível.
246
Entrevista nº06
P: Pergunta
R: Resposta
P: Como você fez para custear seus estudos durante a Faculdade?
R: Quando eu passei no vestibular meu pai financiava. Na época a Escola era particular. Eu
paguei a Faculdade nos dois primeiros anos. Nos dois últimos, como sempre fui
representante dos alunos nos Conselhos Superiores da Faculdade, na época era o Conselho
de Coordenação que hoje é o Conselho de Pesquisa e o Conselho Universitário. Naquela
época todos que participavam das reuniões recebiam uma gratificação por participar das
reuniões. Como eu era aluno, eu não recebia, mas também não pagava a Faculdade. E no
ultimo ano eu fui monitor, isso me dava isenção de pagamento da faculdade. Então nos
últimos 2 anos eu não paguei a Faculdade, mas o meu sustento sempre veio do meu pai.
P: Qual foi seu percurso escolar desde o início de seus estudos até seu ingresso na Faculdade
de Odontologia?
R: O primário eu cursei no Liceu de Uberlândia. Estudei também no Externato São José.
Minha família mudou para Ipameri em Goiás e lá eu estudei no Colégio Estadual Professor
Eduardo Mancini. E de lá eu regressei para Uberlândia e estudei no Colégio Brasil Central,
quando faltava um ano eu prestei Madureza, que era um supletivo, então antecipei a minha
entrada no vestibular. Daí ingressei na Faculdade de Odontologia.
P: Depois de formado, como foi seu ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu as
expectativas?
R: Quando formei já havia definido onde eu iria ficar. Com um mês de formado eu já estava
com um consultório montado aqui em Uberlândia na Av. Afonso Pena no Conjunto
Uberlândia. No final do ano eu fui passear em Ipameri e percebi que lá possuía uma
demanda muito grande de dentistas e montei um outro consultório lá. Então eu trabalhava
de segunda a quarta em Ipameri e de quinta a sábado aqui. Sendo que no sábado eu ficava
na faculdade como professor voluntário. Até que fui convidado para fazer parte do quadro
de professores da Faculdade.
P: E a carreira profissional, como foi?
R: Eu me formei em 1975. Em 1977 fui contratado pela Faculdade de Odontologia na cadeira
de Materiais Dentários. Dia 1º de maio eu estava chegando em Bauru para fazer um
estágio. Naquela época não existia Mestrado nesta disciplina. O Mestrado teria que ser em
outra área. Como já tinham começado todos os cursos, um professor me convidou para
fazer esse estágio. E eu fiquei de maio a dezembro fazendo este estágio e assistindo como
ouvinte o curso de Mestrado em Dentística. Retornei para Uberlândia em 1978 e em 1979
eu fui como aluno regular de Mestrado em Bauru na área de Reabilitação Oral e defendi a
tese em 1982. Voltei para Uberlândia e em 1991 fui para Ribeirão fazer o Doutorado, na
USP também, na área de Reabilitação Oral.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
247
R: Na época eu não tinha muito entendimento do que representava isso não. Eu era muito
jovem. Quando fiz cursinho a minha primeira opção era Engenharia. E por influencia dos
próprios colegas fiz inscrição para o vestibular em Odontologia já no último dia. Ingressei
no curso e estou feliz até hoje aqui. Mas naquela época foi importante pois tinham poucas
Faculdades no Brasil, e aqui na região ou se ia para Uberaba ou Ribeirão Preto. E lá era
bem mais caro. Era um Curso integral que não te dava condições para trabalhar, e ainda
tinha que comprar instrumental e tudo mais. Foi muito importante esta Faculdade. Naquela
época a cidade era bem diferente. Mudou a economia, o perfil social e econômico de
Uberlândia, mudou muito com a vinda destes Cursos Superiores. E é o que está
acontecendo hoje. Toda cidade de porte médio tem uma Faculdade modifica muito. Foi o
que representou a Odontologia para Uberlândia em 1970.
P: O que significou a Escola de Odontologia na sua vida profissional?
R: Ela representou tudo. Se eu não tivesse entrado na Faculdade hoje, eu seria uma pessoa
totalmente diferente do que sou, o oposto talvez. Naquela época as condições eram
diferentes. A primeira especialização em Uberlândia quem montou e coordenou durante 20
anos fui eu. Quer dizer, se eu não tivesse entrado talvez a especialização teria vindo só
depois. Eu fui o primeiro. Ao ingressar dentro da faculdade eu nunca fui um aluno
brilhante. Nunca fui “CDF”. Eu era da turma do meio. Mas as pessoas que acreditaram em
mim e me deram oportunidade, me fizeram ter essa responsabilidade. Meu medo era
decepcionar quem acreditava em mim. E alguns professores da Faculdade, depois grandes
expoentes da Odontologia foi que me deram essa oportunidade. Ainda hoje meu medo não
é de errar, e sim de decepcionar as pessoas que acreditaram em mim. E agora hoje tenho
medo não só de decepcionar aqueles que acreditaram em mim, mas os novos que acreditam
em mim, como modelo, como conduta a ser seguida. Preocupo-me em ser um bom modelo
para a juventude, pois participo de sua formação. Quero ser um bom exemplo assim como
tive meus bons exemplos.
P: Para sua família, como era visto o Curso de Odontologia?
R: Para meus pais foi um orgulho muito grande em me ver ingressando na Faculdade. Quando
eu ingressei, a Faculdade aqui era particular e o vestibular aqui era concorrido. Hoje em
uma Faculdade particular as vezes nem tem vestibular, é por ordem de chegada. Mesmo
assim, para meus pais foi um orgulho. Eles tinham um poder aquisitivo baixo, e a origem
deles era assim. Para eles ver um filho ingressando na Faculdade foi uma satisfação muito
grande. Quando fui convidado a ser professor a satisfação foi maior ainda. Para meu pai foi
um sonho que era realizado por muito poucos. A satisfação de todo pai hoje é ter um filho
estudando em uma Faculdade.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Ele é sempre um Curso muito bem visto aonde ele vai, porque as pessoas acham que a
Odontologia vai acabar com os problemas de saúde das pessoas. Na época tinha uma força
política em Uberlândia muito grande, que lutava para a implementação deste curso. E era
uma política muito bem vista. Qualquer proposta do Dr. Rondon Pacheco, do Dr. Homero
Santos era motivo de festa e satisfação. A Faculdade foi criada como Autarquia Estadual
na época e depois se transformou em uma fundação, até se tornar federal. Mas pra cidade
era sempre bem vinda. Naqueles tempos ser estudante universitário era diferencial. Hoje se
mistura muito, há muitas Faculdades e Universidades. Naquele tempo todo mundo sabia
quais eram os jovens que eram alunos da Faculdade. Mudou a sociedade de Uberlândia.
Algumas cidades aqui perto mais tradicionalistas pararam no tempo, e Uberlândia que
acreditou na cultura, no Ensino Superior, se tornou no que ela é hoje. Então, todos nós,
estudantes daqui, ou estudantes que vieram de fora estudar aqui, sempre foram muito bem
recebidos.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
248
R: Tem uma pessoa que jamais poderá ser esquecida, que é o Dr. Laerte Alvarenga
Figueiredo. Eu acompanhei a historia da Faculdade, sei que ele foi o grande mentor, o
grande responsável. Ele tinha um senso de coletividade, e sonhou para Uberlândia uma
Faculdade de Odontologia. E ele foi atrás disso, do poder político. Ele era uma pessoa que
só fazia amigos, que não tinha arestas em lugar nenhum. Ele foi atras com o sacrifício de
sua família, em determinado momento não muito compreendido pela classe dos dentistas.
Ele enfrentou tudo isso e foi atrás. O Dr. Laerte foi quem catalisou todas as forças e fez as
pessoas entenderem a importância da implementação. Ele foi o primeiro diretor. Ele não
teve a melhor saída da Faculdade. Mas ele tem sempre nosso respeito e gratidão e enquanto
eu tiver aqui, como elemento desta história eu vou estar sempre reverenciando seu nome,
porque ele merece.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para que?
Para quem?
R: O professor Laerte teve um interesse social. Ele mesmo como dentista em seu consultório
sempre atendia os mais necessitados. Era uma pessoa de um coração imenso. Ele sabia
desta necessidade social e a importância de se fazer a profissão crescer. Ele buscou o apoio
político, que sempre foi indispensável, pois tudo na nossa vida é político. O aspecto legal
na época tinha que passar por isso aqui.
P: Teria algum fato que deveria ficar registrado na história da Odontologia?
R: A fundação passa pelo Dr. Laerte. Porque Uberlândia naquela época teve uma Faculdade
de Odontologia que chegou aonde chegou? Ela não foi mais uma Faculdade. O Dr. Laerte,
além dessa clarividência, ele buscou em São Paulo, o Dr. Dioracy Fonterrada Vieira, que
era na época professor da Faculdade de Odontologia da USP em São Paulo, de materiais
dentários. Ele montou a proposta pedagógica do Curso, foi o coordenador do Curso,
trazido pelo Dr. Laerte. Porque uma Faculdade não se faz com prédios. Se faz com
programa e com competência para se desenvolver o programa. Se faz com talentos
humanos. Eles basearam o nosso projeto pedagógico na Faculdade de Odontologia de
Bauru, na Universidade de São Paulo. Na época e ainda hoje, é tida como a Meca da
Faculdade de Odontologia. E eles trouxeram o que tinha de bom em Bauru e adaptaram
aquilo que não era tão bom, e implantaram em Uberlândia. É óbvio que na época não
possuíamos em Uberlândia profissionais qualificados para o ensino. Tínhamos
profissionais dentistas capazes para serem clínicos. Eles não estavam prontos para elaborar
uma proposta de ensino. Então o professor Dioracy trouxe um grupo de professores de
fora, de Bauru, de São Paulo, de Araraquara, de Diamantina. Foi onde começou esse
programa, a Faculdade de Odontologia com esse currículo que seria iniciado com
professores jovens, mas que ao longo do tempo se tornaram grandes expressões da
Odontologia brasileira. Tínhamos o Dr. Paulo Amarantes, Dr. José Antônio de Campos
Machado, Prof. Oliveira Tangri, que vinha de Diamantina, ele vinha semanalmente. Prof.
Mario Roberto Leonardo. Esses professores então pegaram cirurgiões-dentistas de
Uberlândia como assistentes e formaram uma equipe. Isso até se formar a primeira turma.
Com a primeira turma, começamos nós os ex-alunos a nos qualificar. Esse foi o primeiro
momento pedagógico da nossa escola. Por volta de 1976/77 assumiu a coordenação do
Curso, aí deixou de ser Faculdade, passou a ser Universidade, passou de Faculdade a
Centro de Ciências da Saúde, e assumiu a coordenação Professor Weiss Cunha. Ele
também era um visionário. Na época comecei a participar desta discussão pedagógica, e foi
quando foi discutido e implementado o atual currículo que nós temos ainda hoje. A
Faculdade virou um projeto nacional patrocinado pela CAPES, a Fundação Care, que é
uma fundação americana e a ABENO (Associação Brasileira de Ensino Odontológico).
Então, em 1977, o professor Weiss com a equipe aqui da época, montou o currículo.
Criando-se aí a clínica integrada. Muitas faculdades tinham essa dificuldade de montar a
249
clínica integrada e a gente já tinha, desde 1977. Tínhamos clínica de endo, de perio, de
prótese. Esse foi outro momento importante, foi com um pouco de sacrifício. Nada é fácil,
implementado de uma hora pra outra. Nós temos hoje a proposta pedagógica de 1977, mas
ela é inovadora. Acabamos de entrar em outro programa do Ministério da Educação e
Ministério da Saúde, o Pró-Saude, foram 58 faculdades que concorreram no Brasil, 21
foram aprovadas, para montar essa proposta pedagógica que estamos elaborando, que é
mais avançada, mais inovadora. Nós queremos formar um dentista do que é a profissão
hoje. Tudo mudou. Não é mais um dentista de 1970. A Odontologia não é mais uma
profissão liberal. Dentista hoje ou ele tem emprego, ou ele tem convênio, ou ele trabalha
pra alguém. Hoje o grande empregador é o Serviço Público e ele está preocupado em dar
atenção primária a saúde. Enquanto que as Faculdades estão formando para a questão
terciária, da tecnologia, da cura. Estamos hoje preocupados em não mais o aluno ter aula
na Faculdade, e sim no serviço, onde ele vai trabalhar. É um aluno que ficava numa
redoma de vidro aqui, com grande tecnologia, mas quando ele forma ele vai pro Serviço
Público, ele vai pro convênio, pro credenciamento, e vai trabalhar numa realidade
totalmente diferente. Então isso é o que está norteando esta nova mudança que nós vamos
dar hoje no Curso. Dentro de 1 ano, 1 ano e meio já deveremos estar dentro desta nova
proposta. Dentro da proposta pedagógica estas foram as principais mudanças. E agora
tentamos melhorar um pouco mais, atualizar o Curso. Quanto a questão da estabilidade
financeira da faculdade, quando ela foi criada como autarquia, todos os alunos pagavam, o
preço não era exacerbado como é hoje. Com essa alteração de moeda, acredito que hoje
nós pagaríamos uns R$600,00 a R$700,00, enquanto que as faculdades de hoje cobram
R$1500,00 até R$1800,00. Mas na época não era das Faculdades mais “caras”, até porque
tinha uma complementação do Estado, mas que era muito pequena, quase não dava. Às
vezes os professores ficavam até quase seis meses sem receber. Eram professores
abnegados, todos davam aula, não faltavam. E depois se transformou em Universidade, foi
quando agrupou a Medicina, a Engenharia, que já eram federais, E Direito e Economia
também. No governo de Figueiredo ele prometeu que federalizaria a Universidade Federal
de Uberlândia, e tão logo ele tomou posse, aconteceu. Eu como aluno sei que nós deixamos
de pagar quando o Figueiredo entrou e transformou para Federal. Mas houve na época
muito empenho da sociedade. A Associação Comercial o próprio Sindicato Rural, toda a
força de Uberlândia sempre deu apoio aos nossos políticos para ações políticas para que
fosse federalizada a Universidade. E hoje está aí, é uma universidade de médio porte no
país e uma Universidade que trabalha muito. E a nossa Faculdade começou como uma
Faculdade particular, e hoje é uma Faculdade consolidada, onde nós temos nós temos um
dos poucos graduação, sou suspeito pra falar, tive a oportunidade de ser presidente da
Associação de Ensino Odontológico por 8 anos e conheci todo o ensino do Brasil. Por ter
trabalhado na Comissão de Exame Nacional de Cursos por 8 anos do Ministério da
Educação, também tive a oportunidade de conhecer a realidade brasileira, eu tenho plena
convicção de que a nossa graduação é muito boa. Temos especialização em todas as áreas,
e agora já estamos na 4a Turma do Mestrado, em 2 áreas de concentração. Estamos
aguardando a avaliação da CAPES para obter a nota mínima, que é 4, implantaremos este
ano o programa de Doutorado. Aí iremos fechar uma Escola que nasceu no interior,
particular, na época uma cidade pequena, hoje nós estamos uma Universidade Federal,
onde hoje temos uma escola técnica de saúde que forma Técnicos em Prótese Dental e
THD (Técnico em Higiene Dental). Quer dizer, atende ao ensino técnico da odontologia,
nós formamos cirurgiões-dentistas para clínico geral, acredito que muito bem, nós
formamos bem especialistas, e agora vamos formar acredito que bons professores para o
Odontologia já com iniciação a pesquisa. E queremos formar doutores e pesquisadores em
250
Odontologia. Ai acho que pelo menos a minha passagem nesta Faculdade já vai estar
cumprida.
251
Entrevista nº07
P: Pergunta
R: Resposta
P: Como o senhor fez para custear a Faculdade de Odontologia?
R: Eu trabalhava de madrugada para pagar a Faculdade. Como era Autarquia, nós
ganhávamos bolsa, ela vinha do, no meu caso, do Dr. Homero Santos. Mas foi por um ano
somente. E eu pagava a Faculdade trabalhando no Colégio Estadual, eu era secretário
substituto, dava aulas também. Tive que lutar bastante para chegar no que sou hoje.
P: Qual foi seu percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da Faculdade?
R: Bem, estudei no Colégio Estadual de Uberlândia. O primário eu fiz no Externato Santa
Terezinha, até a terceira série na época, depois eu passei para o Externato Nossa Senhora
Aparecida, na quarta série. E conclui o quarto ano com idade inferior para entrar na
primeira série do ginásio. Então tive que fazer um ano de exame de admissão no Colégio
Estadual. Então, após aprovado, tive duas reprovações, uma na primeira série (do ginásio)
e outra no primeiro colegial. Isso devido a uma série de fatores de carga emocional,
inclusive devido ao falecimento de minha mãe. Prestei inclusive supletivo para ganhar
tempo na UFMG. Depois prestei vestibular para Medicina em Belo Horizonte e depois vim
para Uberlândia prestar vestibular para Medicina, que estava sendo a primeira turma.
Infelizmente, fui classificado mas não fui chamado. Então prestei vestibular para
Odontologia. E ai eu fui chamado em 13º lugar.
P: Depois de formado, como foi o ingresso no mercado de trabalho, correspondeu as
expectativas?
R: Olha, correspondeu mais do que eu esperava. Montei um consultório em julho de 1974, a
minha primeira reação foi de fecha-lo. O custo estava muito alto para o tanto que eu estava
ganhando na época. Fui incentivado por minha esposa. Continuei trabalhando. Eu tinha
que pagar Cr$14.000,00 (quatorze mil cruzeiros) na época, além do que eu estava
contratado pela Faculdade da época para ser professor auxiliar de ensino. Mas consegui,
trabalhando, me dedicando, e no primeiro mês paguei todas as minhas contas e no
segundo, terceiro em diante. Nunca tive um consultório parado, sempre bem movimentado.
Minha clientela era fiel, persistente, e trabalhei até o ano de 1984 no consultório, e por
ordens familiares tive que parar. Cobranças de filho.
P: E a carreira profissional, como foi?
R: Tudo que fazemos, fazemos por amor. A carreira de professor não foi por menos. Eu já
lecionei no Colégio Estadual no ginásio, já trabalhei em uma biblioteca do colégio,
trabalhei em uma secretaria. Então, esse trabalho sempre desenvolve a gente, em
formações, dados, memórias e eu consegui, a todo custo, passar por isso. Não tenho nada a
reclamar, graças a Deus da Odontologia. Eu só vejo que a Odontologia de hoje não é a
Odontologia daquela minha época. Houve as melhoras, inovações, avanços tecnológicos e
252
Entrevista nº08
P: Pergunta
R: Resposta
P: Qual foi seu percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da faculdade?
R: Vim a Uberlândia em 15/11/1961 para estudar e tinha na época 14, 15 anos. Estudei no
Externato Rio Branco, Liceu de Uberlândia, Escola Química Industrial de Uberlândia e fiz
cursinho em Goiânia e Uberlândia.
P: O Curso de Odontologia era pago?
R: O curso era pago, porém seu valor era menor que o do cursinho.
P: Depois de formado como foi o ingresso no mercado de trabalho, correspondeu às
expectativas?
R: Eu costumo dizer que eu peguei a melhor fase da Odontologia porque a mesma, até então,
era muito radical. Por exemplo, um dente com problema no nervo era apenas extraído; se
uma doença era detectada na gengiva extraíam-se todos os dentes e colocava-se dentadura,
uma ponte. Além disso, a Odontologia na qual eu formei, seu princípio era mais
conservador e um pouco mais elitizada, vamos dizer assim. Então eu entrei no mercado de
trabalho onde já se tentava fazer a manutenção e a prevenção, então eu peguei a melhor
fase da Odontologia onde ela sofreu uma metamorfose de tratamento radical para
conservador. Radical para extrair o dente e conservador para preservar o dente, tratar o
dente e estava preparado para trabalhar o paciente na preservação dos dentes na boca e não
a extração dos dentes. E eu costumo dizer para pacientes meus: “ponte e dentadura são
muletas da boca”.
P: E a carreira profissional, como foi?
R: Eu diria que eu fui um dos caras mais felizes na minha profissão. Eu tinha só uma chance
de passar no vestibular, pois não podia tomar bomba. Meu trato com meu pai era que se eu
tomasse bomba, deveria voltar para a roça. Eu tomei bomba em medicina, mas passei em
Odontologia. Meu maior sonho foi ter tomado bomba em medicina porque eu encontrei
dentro da Odontologia o que eu acho de melhor que eu faço, faço com amor, com carinho
que é a ter a clínica de especialidade em periodontia e na oportunidade eu fiquei como
monitor e sou professor há 32 anos na escola de Odontologia da Universidade Federal. Eu
tive a melhor fase da Odontologia e criei um espaço dentro dessa fase, criei meu nome,
meu espaço profissional tanto na área de docência, como na área clínica.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Uberlândia nessa época já era um centro de estudos. Muitas pessoas vinham para cá para
estudar, embora Uberaba, Goiânia e Ribeirão Preto fossem mais famosas. Aqui, como já
existia a Escola Federal de Engenharia, então já tinha um fluxo de pessoal da própria
cidade e das cidades vizinhas que vinha para se preparar para o curso superior. Então a
vinda da Odontologia foi fundamental porque era mais uma opção de Curso Superior. E
um Curso Superior em uma área carente até hoje no país, a área de saúde. Não que não
255
tenham profissionais, mas o sistema de saúde no Brasil é falho: o particular não tem
dinheiro para gastar e o serviço público não paga todo o tratamento do indivíduo. A
população não tem dinheiro e o sistema público é muito limitado do meu ponto de vista.
P: O que significou/representou a Escola de Odontologia na sua vida profissional?
R: A Escola de Odontologia foi um marco que eu acho que foi um presente de Deus. Eu me
encontrei dentro do meu Curso, dentro da minha profissão e dentro da minha
especialidade. Então o que eu tenho hoje, meu espaço profissional, a oportunidade que eu
tive de dar aos meus filhos aquilo que eu não tive foi graças a Odontologia então ela foi um
marco fantástico. Eu criei um espaço para mim que acho que poucos conseguiram, tanto na
área de docência como na área clínica.
P: O que significou/representou o Curso de Odontologia para você?
R: A formação cirurgião dentista, talvez já tenha até citado anteriormente, que para mim foi
um marco na minha vida, uma transposição, uma metamorfose muito grande porque eu me
encontrei dentro do Curso que eu escolhi. Eu faço com carinho, com gosto e com
dedicação, então eu tenho bom relacionamento com os professores, com os alunos e com
meus pacientes em clínica particular. Então ela foi fundamental na minha vida e continua
sendo um marco fantástico.
P: Para sua família como era visto o Curso de Odontologia?
R: Para os meus pais que vieram com a educação da Itália e não estudaram praticamente nada
aqui no país, que tinham um nível de conhecimento pequeno além de pouco
desenvolvimento muito baixo na literatura, nas ciências, então qualquer Faculdade para
eles era fantástica. Só de eu estar estudando, largar os trabalhos rurais e ter um nível
superior, já foi uma trajetória muito grande. Então tanto para mim quanto para eles foi
fantástico, foi uma conquista muito grande que poucas famílias na época tinham, e minha
família teve. Para eles foi um orgulho muito grande.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: A Faculdade foi tão bem vinda como a Engenharia, o Direito, a Filosofia, a Medicina. A
Odontologia era mais uma área da saúde que veio desde então e para ficar. Hoje é uma
Faculdade de médio porte e tem um nome nacional. Então para a comunidade uberlandense
e nacional eu acho que foi uma vinda espetacular, foi um marco na nossa Escola, na nossa
Universidade. Para a sociedade e para o local foi fantástico. Foi muito importante como
todas as outras Escolas. Agora, como a área é a de saúde, ela veio para dar uma assistência
muito boa que nós hoje temos na Faculdade.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: Para se ter uma ideia, hoje nós temos uma Escola de Odontologia que recebe alunos de
várias partes do Brasil e tem cursos de especialização e pós-graduação a nível de mestrado
além de um pronto socorro gratuito que funciona 24 horas, o que eu acho o mais fantástico
na Escola pois qualquer dor de dente, qualquer desconforto ou traumatismo bucal, tem um
atendimento imediato. Eu acho que isso é um ganho muito bom para uma cidade, uma
região. Nem todos os lugares têm isso e aqui existe esse privilégio, esse ganho, esse
benefício para a sociedade.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para que?
Para quem?
R: Eu acredito que foram vários os interesses. Primeiramente, atrás de qualquer convite existe
um interesse político. Então, Uberlândia toda vida teve uma visão política muito grande,
então ela não gosta das coisas mais ou menos. Ela quer ser boa para melhor. Então se aqui
já existia uma Escola de Engenharia e a escola de Direito já tinha sido fundada, os
profissionais da época aqueles idealistas da Escola de Odontologia, juntamente com os
políticos na época, que foram Rondon Pacheco, Homero Santos, Walcir
256
Entrevista nº09
P: Pergunta
R: Resposta
P: O senhor é quem custeava a Escola?
R: Na época que nos entramos era ela particular, eu dava aulas em Araguari para custear o
curso, eu ministrava aulas de Química a noite e me associei ao Crédito Educativo, mas
logo em seguida, 2 anos depois ela foi federalizada.
P: Era elevado o valor da mensalidade?
R: Não sei te informar o valor, mas para minhas condições na época, ele era caro. Se eu não
tivesse conseguido dar aulas no colégio estadual na época talvez eu não teria conseguido
fazer o Curso.
P: Qual foi o seu percurso escolar desde seu ingresso até a conclusão da Faculdade?
R: Foi todo em Araguari, eu passei no primeiro vestibular, sem cursinho. Apenas fiz aquela
revisão uma semana antes das provas. Em Araguari, estudei todos os anos em colégio
público.
P: Como foi seu ingresso no mercado de trabalho, correspondeu as expectativas?
R: Após sair da Faculdade, comecei a trabalhar. Minha esposa que também é dentista
juntamente com minha cunhada e concunhado que são médicos, resolvemos montar uma
clinica conjunta na Machado de Assis nº821. Onde ficamos 7,8 anos juntos. Também fui
R2 do exercito, entrei como militar, fiquei um ano e não quis continuar. Depois fiquei
sócio da pro-saúde, que congrega empresas. Assim foi como comecei a minha vida
profissional.
P: E a carreira profissional como foi?
R: Muito boa, graças a Deus. Me considero realizado, mas não totalmente. Acho que ninguém
se realiza totalmente, senão acabava tudo. Mas sou muito feliz com o que fiz e não me
arrependo absolutamente de nada. Meus filhos, por livre escolha, cursam Odontologia hoje
também.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Como realização pessoal e social, ela representou muito porque ela me colocou no meio
social. Hoje me considero uma pessoa grata. Isso me abriu as portas pro Lions, pra
ADESG, pra Maçonaria... Socialmente foi muito bom e profissionalmente eu nunca deixei
de participar do acompanhamento da evolução da Odontologia. Eu sou uma pessoa que
investe na própria profissão. O meu conceito ele vai um pouco em choque com a maioria
dos profissionais os quais eu conheço, que não gastam com Curso, que acham que é
bobagem. Fiz cursos a vida toda. Dava inicio ao meu trabalho as seis e meia da manha,
principalmente os 10 primeiros anos, eu trabalhava até oito e meia da noite e aos sábados.
Hoje já sou um pouco moderado, mas mesmo assim, as dez pra sete da manha já estou no
consultório e saio as onze e quinze, retornando a uma hora e ficando no máximo até as seis
e meia da noite. Eu acho que profissionalmente me considero muito feliz, apesar de todas
as limitações que o profissional tem. Não me arrependo em nenhum minuto de ter
escolhido tudo isso.
258
prótese, claramento, colocação de aparelhos nessas clínicas, e na verdade deveriam ira para
consultórios particulares.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para que?
Para quem?
R: Eu acho que em toda escola, baseado na cultura que possuímos, cria-se Faculdade como se
cria cachorro, na verdade. Não sei quantas Faculdades de Administração e Direito se tem
na região, daqui alguns dias nem sei quantas serão de Odontologia. O que vou pensar
disso? É político. Se fosse social, o governo interviria nas clínicas retirando aqueles que
podem pagar e os enviando a clínicas particulares e que está deixando o coitado sem
atendimento. Me parece ser mais de conotação política, onde o político faz campanha em
cima. Se é bom ou ruim, isso depende. Se fosse social, iria atender aos pobres. Acaba
sendo ruim para quem fica sem campo de trabalho.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Dizem que foi o Homero Santos e o Rondon Pacheco. Não tenho essa informação segura.
Não sei se foi os dois ou mais alguém junto. Mas acho que teve um peso muito grande o
Homero Santos e o Rondon.
P: Na sua época de Faculdade teve algum fato que o senhor acha que deva ficar registrado?
R: Do que me recordo, acho que tivemos um Curso que ofereceu uma boa formação, com
ótimos professores, talvez, não tivesse a tecnologia que se tem hoje, mas imagino que eles
conseguiriam muito mais do que se conseguiu na época. E, infelizmente, hoje o ensino não
e tão cobrado como naquela época. Hoje é difícil quem queira estudar em uma escola
publica. O professor perdeu a motivação. Na época era uma Faculdade muito respeitada,
alguns vinham de Bauru, com bastante formação. Foi uma época de transição da
Engenheiro Diniz para o Umuarama. Fui monitor do professor Souza, de Farmacologia, foi
uma coisa que me ajudou muito.
260
Entrevista nº10
P: Pergunta
R: Resposta
P: Veio para Uberlândia quando?
R: Nasci em 1952 e vim para Uberlândia em 1961.
P: Quando o Sr. começou a Faculdade, morava aonde?
R: Eu morava na Av. Cesário Alvim, 705 ou 701. Era quase esquina com a Coronel Antônio
Alves, ao lado do Calçados G.
P: Percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da Faculdade.
R: O primário em comecei em Buriti Alegre em uma escola paroquial. Quando eu mudei para
Uberlândia, eu fiz escola particular, Externato São José, ali na Tenente Virmondes entre a
Cipriano e a João Pinheiro. Lá eu fiz até a admissão, aí a gente enfrentava quase que um
vestibular para entrar no colégio estadual. Aí fiz o colégio estadual, da primeira série até a
quarta série, e fiz o científico até o segundo científico no estadual. Depois eu fiz esse
exame de madureza, então o meu pai me emancipou com 18 anos porque só podia fazer
quem era emancipado. Daí eu prestei esse exame em Anápolis, no colégio Couto
Magalhães. Passei e posteriormente eu prestei o vestibular para Odontologia. E prestei só
para Odontologia. A minha escolha era a área biomédica, era a área da saúde. Isso já estava
precocemente definido. Principalmente, a minha mãe queria que eu fizesse Medicina. Eu
falava para ela: “Mãe, eu vou fazer aquilo que eu tiver condição de fazer e no momento
que der certo”. Então eu trabalhava, eu tenho carteira desde os 14. Eu comecei com 11.
Com 11 anos eu já trabalhava no armazém. Estudava de manhã e trabalhava à tarde. Com
14 anos eu passei a trabalhar em uma transportadora, a J. Fernandes, até eu ingressar na
Faculdade.
P: E foi difícil entrar na Faculdade? Era concorrido?
R: Como foram os primeiros vestibulares, a concorrência não era alta. A minha turma, se não
me engano, chegou a dar dois para um.
P: O Sr. entrou novo. O pessoal da sua turma era mais novo, era mais velho?
R: Era bem mesclado. Tinham dois mais novos que eu na minha turma. Depois tinha um
grupo, digamos, intermediário, e tinha outro grupo que era menor, que tinham uma idade
maior. O mais velho da minha turma tinha a idade do meu pai na época. Ele já era dentista
prático e era tido na época como um dos bons dentistas da cidade, com uma clientela na
classe A. Vinha de uma família de dentistas, o pai foi dentista prático, os irmãos foram
dentistas formados. Ele chegou à presidência do Lions Clube, o mais tradicional da cidade.
P: O curso era pago? Era alto o preço da mensalidade?
R: O Curso era pago mas não era caro. Foi uma das coisas que me possibilitou fazê-lo,
porque, por exemplo, o Curso de Medicina na época era pago e a mensalidade para nós era
muito mais cara. Aqui a Faculdade era a mantenedora, a “Autarquia Educacional de
261
federalizado em Santa Maria. Era muito semelhante a agregação das Faculdades, porque a
única federal que tinha na época era a Engenharia. As demais Escolas eram estaduais, a
Medicina Veterinária, era para ser uma Escola em que a parte profissionalizante deveria ser
em Tupaciguara... então ela chegou a ser feita lá, depois voltou para cá. Então o pessoal
fazia o básico aqui e quando chegava a parte profissionalizante, deveria ser feita em
Tupaciguara. Então a Medicina Veterinária, a Educação Física e a Odontologia, eram da
Autarquia Educacional do Estado de Minas Gerais. A Economia, Administração quem
comandava era o doutor Juarez Altafin, o Direito era o doutor Jacy de Assis, Letras e
Pedagogia era das irmãs... Aí reuniu isso tudo inicialmente na Universidade de Uberlândia,
UNU. Então, o que aconteceu? A Autarquia Educacional de Uberlândia doou o curso e o
patrimônio que tinha na época para a UNU. O doutor Juarez Altafim tinha os cursos, mas
não tinha a área física. Então ele doou os cursos. Tinha a FEMECIU, a Faculdade de
Medicina que era uma fundação doou o curso com o patrimônio. As irmãs doaram o Curso,
mas não doaram o patrimônio. E o único que doou o Curso com todo o patrimônio foi
doutor Jacy de Assis, além de sua biblioteca particular, Direito, um curso de altíssima
procura na região. A Universidade recebeu depois outras doações como essa área do
Umuarama. A única federal que tinha era a Faculdade de Engenharia. E Santa Maria tinha
uma situação muito parecida com essa. Então nessa época quando estava mobilizando essa
questão da federalização de Santa Maria, se não me engano, Rondon Pacheco era o
ministro da casa civil e percebeu isso: se estão federalizando Santa Maria, entra com o
processo em Uberlândia e vai ser igual. Federalizou lá, federaliza aqui. E nós só temos
Faculdade federal aqui também porque uma proposta muito semelhante foi feita para
Uberaba porque lá já tinha a Faculdade de Medicina que era federal. Engenharia,
Odontologia, eram particulares. Então essa mesma coisa foi feita pra lá só que ele não
abriu mão do patrimônio, não quis dar Curso nem patrimônio, porque Uberaba na época
era maior que Uberlândia.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Eu deslumbrei, era uma oportunidade de fazer uma coisa que eu queria fazer, que era na
área de saúde. Era realizar um sonho porque se eu tivesse que sair daqui para fazer outra
Faculdade, dificilmente eu teria essa condição. E por outro lado o idealizador da Faculdade
de Medicina, o doutor Laerte de Alvarenga Figueiredo, estava realizando um grande sonho
que era colocar em Uberlândia uma Faculdade de Odontologia. Aí sem dúvida alguma esse
crescimento que a cidade teve na década de 70, 80, quando Uberlândia ultrapassou
Uberaba em todos os parâmetros de arrecadação, de população, acho que isso se deve
muito aos Cursos Superiores que aqui foram implantados e, principalmente, à
Universidade Federal de Uberlândia, pois durante muito tempo essa chegou a ter um
orçamento muito maior que o da prefeitura. Em termos de construção, em termos culturais,
em termos sociais e em última instância econômica, eu acho que a Universidade contribuiu
e muito para o crescimento de Uberlândia porque ela jogava no nosso mercado uma
quantidade de recursos, uma quantidade de dinheiro muito grande.
P: O que representou essa Escola na sua vida profissional?
R: Na minha vida profissional ela significa tudo. Ela me possibilitou realizar um sonho que
era atuar na área da saúde, me possibilitou...
P: Apesar da sua mãe querer a Medicina, a família apoiou sua decisão?
R: Tive todo o apoio da minha família. Quando eu entrei, meus pais assumiram aquilo ali e na
época existiu uma mudança de concepção da Odontologia, porque até então as pessoas que
vinham de cidades menores particularmente, eram muito acostumadas com o dentista
prático. Então quando começou a surgir essa mudança de odontologia como uma ciência
da área da saúde, já distanciando da questão do indivíduo prático. Então eu tive todo o
apoio da minha família, me realizei, além da minha formação me possibilitou meu
263
primeiro emprego, tão logo eu formei eu já era monitor. Eu formei eu fui contratado. É
verdade que enquanto era Autarquia Educacional de Uberlândia, enquanto foi
Universidade de Uberlândia, a gente tinha que ter uma opção quase que franciscana para
estar aqui, porque nós ficamos seis meses sem receber... mas essa turma que permaneceu, a
gente tinha um grande ideal. A gente ficava sem receber mas poucos foram aqueles que
abandonaram. A gente sempre vislumbrava, principalmente pelo que o doutor Laerte
colocava de que era uma transição, que a fase inicial de implantação era difícil mas que ia
passar. Então por essa mensagem de otimismo que ele passava para a gente, a gente
segurava. Não recebíamos em dia nunca no início. Agora, depois que virou Universidade
Federal de Uberlândia, isso acabou . Nós tivemos uma época em que tivemos os melhores
salários.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela sociedade uberlandense?
R: Representou um ganho para a comunidade sem dúvida, no momento em que foi
implantada a POLICLÍNICA, a primeira clínica na Engenheiro Diniz, nós passamos a
atender uma fatia da população que, às vezes, não tinha acesso a nenhuma forma de
tratamento odontológico e a gente sempre pensando que esse atendimento nós deveríamos
buscar uma forma de financiamento que não cobrasse nada do paciente, isso
diferentemente das outras Escolas que tinham uma questão mercantilista bem determinada,
muito forte. Então desde o começo, ela foi criada no sentido de que deveríamos oferecer
um serviço à comunidade e que esse serviço deveria buscar a isenção de pagamento e
taxas. No começo cobravam-se algumas taxas porque não tínhamos recursos para viabilizar
o atendimento. Mas sempre foram as menores taxas se comparadas com outras Faculdades,
até que nós conseguimos passar todo esse atendimento conveniado. Então nós fomos a
primeira Faculdade de Odontologia do país a ter um convênio com o antigo INPS.
Primeiro foi por repasse de consulta. Então tinha um convênio com a área médica e por
repasse a gente atendia a parte odontológica. Depois nós fizemos um convênio específico
para a Odontologia.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: A primeira coisa que veio a mudar foi a concepção da Odontologia dentro da sociedade.
Então, com a faculdade aqui a profissão Odontologia passou a ser mais valorizada. Então,
houve uma valorização tanto daqueles que já atuavam aqui quanto dos novos profissionais
que foram ingressando no mercado de trabalho. Então a sociedade passou a enxergar a
Odontologia realmente como uma profissão da área de saúde fundamentada em princípios
científicos, biológicos, e não apenas a Odontologia na função prática. Segundo a questão
da assistência odontológica que trouxe à população. Não só o que era feito na própria
Faculdade, mas ampliaram-se os serviços de Odontologia na cidade. Os serviços públicos
eram muito escassos, muito pequenos, então com a Faculdade aqui, apesar de ainda hoje
ser considerado insatisfatório, mas com a vinda da Faculdade, houve um aumento da oferta
desses serviços à população. Na época estava começando a ter uma mudança de orientação
das profissões na área da saúde, e a odontologia estava ingressando nessa mudança. Então,
até 1970, a visão das profissões na área da saúde era curativista, você trabalhava apenas em
cima da doença. A partir daí passou a mudar a concepção, passou-se a trabalhar a educação
e a prevenção. Então, os primeiros problemas educativos e preventivos em Odontologia no
município de Uberlândia, veio com a Faculdade. Então educação e prevenção começaram
aqui em Uberlândia com a implantação da Faculdade porque até então não se falava em
programas assim, só se trabalhava em cima da doença: de cárie principalmente, e alguma
coisa de doença periodontal. A doença periodontal nem era uma coisa considerada tão
importante.
264
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veia atender a interesses de quem? Para que?
Para quem?
R: Diversos interesses. A implantação da nossa Faculdade teve um forte componente político.
Se nós não tivéssemos uma representação política tão forte como tínhamos na época:
Rondon Pacheco, Homero Santos, João Pedro Agostinho; talvez não tivéssemos
conseguido, tal qual não tínhamos conseguido a federalização da nossa Universidade.
Então houve um apelo político muito forte para que a Faculdade pudesse ser implantada. E
como na época as coisas eram determinadas pela política, não se tinha nenhum estudo
prévio para dizer que ali precisa de uma Faculdade, ali não precisa. Tinha aquele que tinha
maior representatividade, maior força política e que conseguia levar.
P: Quem criou essa Faculdade aqui então...
R: Houve primeiro o idealista, Dr. Laerte. Isso sem dúvida. Foi ele quem quis fazer, apostou,
dedicou toda uma vida, perdeu dinheiro. Porque esses professores que vinham de fora não
raros, ou eles se hospedavam na casa do Doutor Laerte, tomavam refeição na casa do
Doutor Laerte, faziam da casa dele uma extensão da Faculdade. As festas promovidas eram
feitas na casa dele, várias delas. O idealista foi ele, agora as forças políticas é que
consolidaram isso daí porque quem tinha força política levava, quem não tinha não
conseguia. Agora se nós transportarmos isso mais recentemente, esse crescimento
desordenado das Faculdades de um modo geral, não apenas da Odontologia, em
determinados locais eles estão cumprindo uma missão social, até porque em locais
distantes, de difícil acesso, essas Faculdades eu acho importante porque melhora a
condição local da cidade independentemente se tenha uma mentalidade mercantilista ou
não, mas se ela está existindo num local onde está descoberto, eu acho que é interessante.
Agora o que tem movido mais esse crescimento desordenado é sem dúvida o
mercantilismo, sem nenhuma análise mais profunda de uma necessidade. Agora eu
acredito, visão pessoal, que quem deve fazer essa regulação é a própria sociedade. O
Governo, como a educação e a saúde são concessões dele, deve atuar como regulador desse
processo principalmente envolvendo a qualidade e informando a sociedade dessa qualidade
desse ensino, agora quem praticamente deve fechar a Faculdade é a sociedade. Como? Não
tendo aluno. Porque se os indivíduos se opõem a fazer uma Faculdade de Odontologia de
excelentes padrões para formar um profissional altamente qualificado, comprometido com
o ensino, a pesquisa e a extensão, porque não pode fazer? Se o indivíduo quiser fazer, essa
Faculdade terá vida longa. Agora o que não pode é “criar essas arapucas”. Esse “faz de
conta”: faz de conta que eu te dou um Curso, você me paga por esse faz de conta, você não
me cobra e eu não te cobro. Um pacto de mediocridade.
P: Depois de formado, como foi o ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu às
expectativas?
R: Fui monitor e logo fui convidado a dar aulas. Na época era por convite, não era por
concurso. Os professores da época, na conversa informal que tinham entre eles, faziam um
convite e na época, simultaneamente, eu tive dois convites. Eu tive o convite inicial da
semiologia e 15 dias depois do convite que eu aceitei, porque assim, a princípio, eu
vislumbrei uma forma de dar continuidade no meu ensino, porque no meu primeiro ano de
Faculdade eu ganhei uma bolsa. Não chegou no primeiro ano, porque os primeiros seis
meses eu paguei. Depois eu ganhei uma bolsa de um ano e pouco, Homero Santos
concedia bolsas... Quando ela estava vencendo eu pensava: “como é que eu continuo?”,
daí surgiu a oportunidade da monitoria. Quando eu recebi o convite do professor para ser
monitor, o primeiro pensamento que veio na cabeça foi: “consegui um jeito de terminar o
meu Curso”, porque eu ia fazer tudo que ele ia mandar, pedir, então no momento em que
ele me fez o convite eu aceitei. Praticamente 15 dias depois o professor de Odontopediatria
me fez também um convite. Por coincidência, os dois eram de Araraquara. Eu acabei me
265
direcionando para a carreira na área de diagnóstico, mas tenho até hoje uma facilidade
muito grande em atender criança.
P: O Sr. olhando esse tempo todo dedicado à Faculdade, como o Sr. se sente, suas
expectativas foram correspondidas? Tem algum fato, algum elemento que o Sr. gostaria de
deixar registrado?
R: Quando essa Faculdade foi criada, as primeiras turmas tiveram uma grande identidade com
a Faculdade. A gente se dedicava muito à Faculdade, a gente entendia as dificuldades que a
Faculdade tinha, o diretor da época, a gente sabia que ele estava fazendo coisas que não
teria necessidades de fazer que é tirar dinheiro do bolso, que é hospedar, dar refeição, mas
ele fazia tudo aquilo em cima de um ideal porque ele sempre falava para a gente: “Isso vai
vingar. Nós vamos fazer aqui a melhor Faculdade de Odontologia do Estado de Minas
Gerais”. Tanto é que os professores que foram chamados no início eram professores de
primeira linha, de primeira qualidade, de primeiro expoente que tinha no Brasil. O
coordenador do curso inicial que veio para cá, o doutor Dioracy Fonterrada Vieira, que foi
o mesmo que idealizou Bauru e fez toda a proposta de Bauru, que também trabalhou em
Diamantina, que fez na época que o Juscelino Kubitscheck criou a Faculdade de
Odontologia de Diamantina o doutor Dioracy também assessorou o pessoal que montou lá
em Diamantina que foi um projeto, um plano piloto e foi muito parecido com o projeto do
plano piloto de Diamantina que nós fizemos aqui também porque Diamantina formou as
primeiras turmas e as primeiras turmas se formaram os professores da Faculdade, tal qual
aconteceu também em Bauru. A minha turma, quando nós formamos, fizemos doações
para a Faculdade, coisa que turma nenhuma hoje pensa: “o que é que eu vou deixar na
Faculdade?”. Hoje se pensa assim: “o que é que eu vou levar da faculdade?”. Então o
primeiro autoclave da Faculdade foi doado pela minha turma, para esterilizar todo o
material, para que pudesse ser marcado como um ato de contribuição, de colaboração para
a Faculdade. Um autoclave nunca foi barato. Significava um valor grande e nós
conseguimos arrecadar fundos e doar isso para a Faculdade. Nós doamos um consultório
para a delegacia, para tratar dos presos. Fizemos várias doações onde nós achávamos que
ali a Odontologia pudesse ser bem divulgada, bem conhecida. Com relação a outros
aspectos de desenvolvimento, quando a gente vê isso daqui hoje no estado em que está, nós
participamos desde a criação até hoje porque a primeira para a Segunda turma a diferença é
muito pequena. A primeira turma ingressou em junho de 1970. Então antes do início das
aulas teve uma missa que foi rezada muito próxima de São João, São Pedro, Santo Antônio
e a segunda turma já entrou em fevereiro de 1971. Então todas as dificuldades que foram
passadas pela primeira foram passadas pela segunda turma tanto é que as nossas atividades
clínicas começaram juntas quando a POLICLÍNICA foi inaugurada, que já estava no
terceiro ano, nós começamos a atividade de atendimento muito próximas uma da outra.
Então quando a gente vê todo esse crescimento que nós estamos passando, vivenciando, a
gente vê com muito orgulho. O Sr. Vadico que já era um expert em ensino, uma tradição
altíssima em conhecimento, na época era chamado reitor do Colégio Estadual de
Uberlândia por um longo período de tempo, já tinha trabalhado na Secretaria do Estado de
Minas Gerais na área de educação, tinha uma experiência muito grande nessa área
educacional, ele que não era dentista, era farmacêutico, ganhou as eleições para ser diretor
da Faculdade, cumpriu o mandato de quatro anos, foi quando então foi implantado o
sistema de atendimento através do INPS. Desde então, essas taxas e essas cobranças que se
fazem aos pacientes praticamente ficou restrito. Se me perguntar: “Tem alguma coisa que
se cobra ainda hoje”?”“ “Tem”, mas é porque ainda não tem uma participação total com o
sistema e que nós não estamos produzindo aqui. Hoje, o que o paciente paga aqui é, por
exemplo, a armação da prótese facial removível, porque nós não temos um laboratório para
a fundição de armação. Mas isso também será temporário porque fizemos um projeto para
266
ser aprovado agora, juntamente com a escola técnica de segundo grau da Universidade,
então o curso de técnico em prótese, que nós vamos montar nesse semestre um laboratório
de prótese parcial removível, então, na hora em que esse laboratório ficar pronto, já
teremos o serviço não tendo nenhuma cobrança dos pacientes.Então, a nossa luta aqui
sempre foi oferecer esses serviços sem custo para a população. Não pode-se dizer que é
gratuito porque não existe nada gratuito na face da Terra. Alguém está pagando. Dentro
dessa filosofia, nossa instituição talvez seja pioneira no Brasil em relação a cobranças de
pacientes. Nós desde o começo tivemos uma vocação de não onerar a população na
prestação de serviços. No começo achou-se que por estarmos prestando serviço ao INPS na
época, que aquilo pudesse ter uma ingerência muito grande no ensino. Pelo contrário. Isso
facilitou o ensino de uma forma vertiginosa, acelerada, porque na medida em que as
pessoas têm que pagar, ou você paga para o paciente ou o paciente paga. Alguém tem que
pagar. Aqui nunca custou nada para o aluno ou para o paciente. São poucas as Faculdades
que, às vezes, na graduação é permitido tal experiência ao aluno, e isso já fazemos aqui há
muitos anos pelo convênio que nós temos, que só veio a beneficiar, a trazer facilidades
para o ensino, para a aprendizagem. E, ampliando a oferta de serviços à população. Nós
estamos insistindo nisso e a nossa próxima meta é pactuar com o sistema a cirurgia
ortognática e o implante. Pela nossa história de prestação de serviços ao sistema, não é
alguém que vai chegar lá para propor o interesse dele hoje que é o implante para resolver o
problema da instituição naquele momento. É uma história de mais de 25 anos de prestação
de serviço ao Sistema. É uma evolução de prestação de serviços dentro do Sistema tal qual
o Governo está hoje propondo nos centros de especialidades odontológicas, está ampliando
essa oferta de serviços à população. O que a gente está propondo é que sejamos um centro
de referência para a execução das cirurgias ortognáticas que nós já fazemos mas ainda
temos limitações. E vamos caminhar para os implantes. Se não conseguirmos num
primeiro momento, não vamos desistir não, vamos continuar. Se nesse momento agora teve
algum empecilho, alguma questão que não foi bem administrada, que não foi bem
entendida, não é por isso que a gente deve desistir.
P: Foram várias conquistas, não?
R: Foram várias conquistas.
Complemento curricular: Especialização em metodologia do ensino superior, vários cursos
na área de administração universitária, fiz pequenos estágios na área de semiologia na
Estomatologia e agora estou fazendo o mestrado na área de cirurgia voltado para
diagnóstico. Então o trabalho que eu vou desenvolver é sobre câncer bucal.
267
Entrevista nº11
P: Pergunta
R: Resposta
P: Qual seu tempo de vínculo com a Faculdade de Odontologia?
R: Tenho 29 anos e 5 meses.
P: Qual sua área de atuação atual?
R: Assistente Administrativo
P: Como foi seu percurso escolar?
R: Primário eu cursei em Ituverava na escola Capitão Antônio Justino Faleiros. O ginásio fiz
em Ituverava, vim pra Uberlândia na 5a serie acho. E fiz segundo grau completo aqui em
Uberlândia no Colégio Inconfidência.
P: Como foi o começo do trabalho na FOUFU?
R: Foi fácil. Tive dificuldades porque na época eu era menor de idade. O diretor da faculdade
na época, o Sr. Vadico teve que requerer uma autorização do meu pai. Na época fazíamos
o que precisava, não era só trabalhar em um setor. Era carteira assinada.
P: Como foi a carreira profissional?
R: Eu gosto do que eu faço. Eu não quis fazer Curso Superior por opção.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Quando eu entrei ainda não era Federal. Eu vejo como uma coisa boa. Gostaria que mais
pessoas tivessem essa chance de adentrar no Ensino Superior, e em especial na Faculdade
de Odontologia.
P: O que significou a Escola de Odontologia na sua vida profissional?
R: Na minha vida profissional a Escola de Odontologia foi tudo. Muita das coisas que eu
aprendi eu devo a Faculdade de Odontologia. Tinha amizades bonitas. Minha vida
profissional está na Odonto.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Já foi melhor. A visão de antes era bem melhor que hoje. Hoje a comunidade em si tem
muito mais dificuldades.
P: Você acha que a FOU trouxe alguma modificação em Uberlândia?
R: Creio que sim. Tinha uma época que tinha até atendimento de prótese dental em bairros
periféricos. Realmente, tem um certo apoio ao pessoal mais carente. É que muito trabalho
não é visto.
P: Para você a criação da FOU veio atender a interesses de alguém, de quem?
R: Acho que tem o interesse social e o político. Teve influência do Homero Santos. Eu era
muito nova na época.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia em Uberlândia?
R: Antigamente, posso citar o Sr. Vadico, o diretor, o Prof. Laerte, o Prof. Valdemar. Foram
os que marcaram na minha época. Tem uma turma que atua também desde a minha época,
como o Por. Alfredo, o Prof. Nelson, Prof, Lourival, Prof. Luiz Mario, é difícil falar, pois
tenho medo de ficar alguém pra trás. Tem também a Jesuane, o Prof. Byron.
268
Entrevista nº12
P: Pergunta
R: Resposta
P: Quando foi seu ingresso na FOU?
R: Em 6 de fevereiro de 1979
P: Qual sua área de atuação atual?
R: Sou secretária da área de Dentística
P: Quando você veio para Uberlândia?
R: Vim para Uberlândia em janeiro de 1978.
P: Qual foi seu percurso escolar?
R: Fiz segundo grau com Técnico em Magistério aqui em Uberlândia na Escola Estadual de
Uberlândia. O ginásio fiz em Rio Verde GO, na Escola Estadual Martins Borges, e no
primário frequentei mais de uma escola mas a primeira foi o Grupo Escolar Eugênio
Jardim, também em Rio Verde GO.
P: Como foi o começo do trabalho na FOUFU?
R: Foi meio diferente. Era uma outra época. Hoje possuímos equipamentos, antes não. Hoje é
bem melhor, temos acesso a computadores, tudo mais fácil. Antes datilografamos as fichas
na máquina. Quando entramos aqui não nos foi mostrado como deveríamos atuar,
aprendemos tudo na medida em que as situações iam surgindo.
P: Como foi sua carreira profissional?
R: Foi muito boa. Fiz atendimento de clínica, depois passei para secretária da Diretoria do
Hospital Odontológico, hoje estou na área de dentística.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Na época eu não tinha essa noção, pois quando entrei aqui eu morava em Uberlândia há
pouco tempo. Eu ainda não tinha essa consciência da importância da Faculdade de
Odontologia para Uberlândia. Mas sem dúvida, esse atendimento tem um valor muito
grande para a sociedade uberlandense. Ela contribui muito tanto no campo social como no
campo do conhecimento.
P: Como era visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Disso não me lembro.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação para a sociedade uberlandense?
R: Com certeza. Hoje a FOUFU tem um papel muito importante no cenário da comunidade
uberlandense. Ela cumpre bem esse papel. Ela tem uma grande representatividade para a
comunidade uberlandense.
P: A criação da Faculdade de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para que?
R: Não sei te responder com clareza. Mas acho que hoje podemos perceber que tudo que se
cria e faz normalmente tem a mão do poder político, influencia política. Pode ser que tenha
tido influencia política.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Não tenho certeza, mas acho que teve participação muito decisiva do deputado na época
Homero Santos.
269
Entrevista nº13
P: Pergunta
R: Resposta
R: O Genésio era o diretor da Engenharia. Fui Juiz de Direito no Prata, antes de ser juiz
federal. Nós éramos muito amigos e ele tinha uma cadeira no quinto ano, e disse “Juarez,
vem dar aula para mim.” Porque não existia naquela época essa titulação acadêmica de
hoje. Para ser nomeado professor, o candidato tinha que ter indicado ou ter feito concursos
na área. Eu tinha feito concursos e gostava de ser advogado. E dei aula por cinco anos na
Faculdade de Engenharia, de Direito ligado a prática. Da mesma forma dei aula 10 anos na
Economia, onde fui diretor, de Direito ligado as Ciências Econômicas. O 5º ano de
Engenharia era uma turma rebelde. E sempre tínhamos uns alunos que davam mais
trabalho. Muitos sentavam onde escreve e punham o pé onde se senta. Tinha um aluno
metido a saber, que ficava assim a aula toda: “Qual é a lei doutor, qual é a lei?”. Um dia
me deu uma inspiração, e perguntei pra ele: “Qual sua área?” E ele disse: “Engenharia
Mecânica”, “Ah, então você deve ser doutor em Física.” Lembrei de uma aula de Física do
ginásio. “muito bem, então qual é a lei da capilaridade?”. Ele ficou parado, e eu disse: “Lei
da capilaridade. A capilaridade é inversamente proporcional ao vaso capilar.” A turma deu
uma vaia nele e até fez um gesto indecente. Agora uma outra coisa, (...) (Fragmento
retirado a pedido do depoente com intuito de não ter tal parte publicada na entrevista).
Neste livro79 falo de um ofício que fiz para o Ministério. O Homero brigou comigo, quer
dizer, brigou comigo sob um ponto de vista acadêmico, porque ele virou meu amigo, e o
Jacy também, ele virou meu amigo, o Ministério idem, o Rondon - para transferir essas
Faculdades para Universidade foi o Rondon né - o Rondon ajudou muito. Passou, mas não
quiseram mandar mais dinheiro não.
P: passou, para a Universidade e o Estado não enviou mais verba?
R: É...
P: E como o senhor fez sem este repasse de verba? porque deve ter sido uma luta...porque ele
federalizou e não mandou mais dinheiro...
R: Não é que ele federalizou, não era não... Ele era Governador e ele propôs transformar essas
Faculdades em Universidade, que não era federal ainda... Ou melhor, não era reconhecida
como federal. Então você tem 3 Faculdades do Estado, ele era Governador do Estado. Por
volta de 1960 teve a aula inaugural da Faculdade de Direito, veio um professor que era
diretor da Faculdade de Direito lá do Largo de São Francisco, eu que o saldei, o Jacy pediu
para eu o saldar. Isso foi numa sexta-feira, na segunda feira começou o Curso, e eu
lecionava TGE. Olha Jacy o problema é o seguinte eu estudei Teoria Geral do Estado no 1º
79
O depoente fala aqui a respeito de um dos inúmeros livros que escreveu. Este de sua autoria intitulado
Primeiros tempos: depoimentos sobre pessoas e fotos do início da Universidade Federal de Uberlândia. Ed.
UFU, Uberlândia, 1997, 154p.
270
ano do Curso, eu estudei em curso elitizado. Não era que eu era elite não, pelo contrário
meu pai era alfaiate. Eu estudei na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do
Brasil. E o Jacy falou: Juarez, aqui em Uberlândia também ninguém entende, o Ministério
te aprovou, quebra o galho.
P: O que mais o senhor lembra acerca daquela época?
R: Depois eu fui convidado pra ser diretor da Economia. Fomos eu e o Dr. Régis Simão que
criamos. Em uma solenidade aqui na Universidade eu disse o seguinte: “Fui juiz e
professor, o juiz conserta, o professor cria. Criar é mais gratificante não é?” Quando eu
aposentei da Universidade, grande número dos professores tinham sido meus alunos.
P: O senhor trabalhou quanto tempo aqui na UFU?
R: 27 anos. Na verdade foram 32 anos. 27 foi o tempo que lecionei na Faculdade de Direito.
Mas quando eu fui reitor, eu estava dispensado de dar aula né.
P: O senhor nasceu aqui em Uberlândia?
R: Nasci aqui. Fui criado aqui e depois fui pro Rio estudar. Eu terminei em dezembro meu
curso e em abril eu fiz concurso para promotor de justiça de Minas. Eu tinha um irmão já
formado que era médico, e ele disse: Juarez vai ter concurso agora em Minas para
promotor. Então, em abril, eu fiz o concurso, passei e fui nomeado para Estrela do Sul.
Você imagina sair da Praia do Flamengo depois de nove anos de Rio de Janeiro e ir pra
Estrela do Sul.
P: Sua família ficou feliz... De o senhor ter passado, ter conseguido formar...? Porque como o
senhor falou que naquela época era muito elitizado, também era muito difícil? Conseguir
estudar, chegar a formar e ainda passar em um concurso igual ao que o senhor passou?
R: Quando cheguei lá em Estrela do Sul, a noite, parei e perguntei: onde fica o melhor hotel
daqui? Aí falaram: hotel? Aqui tem é a pensão da Dona Chiquinha, é essa aí em frente. Lá
eu me casei e fiz carreira como promotor. Mais tarde eu comprei as partes de um imóvel
rural lá, e hoje eu tenho propriedade lá.
P: E como era lá?
R: Tranquilo, muito tranquilo. E na minha propriedade eu restaurei uma casa antiga. Naquela
época o circo estava inaugurando e explodindo em Uberlândia, onde a gente atuou.
P: A participação do senhor foi muito importante... Como deu seu vínculo com a
Universidade de Uberlândia?
R: Por meio de um convite do Jacy de Assis inicialmente, quando começou o Curso de
Direito. Ele me convidou para lecionar no primeiro ano. Foi o meu primeiro contato com o
Ensino Superior em Uberlândia.
P: Qual o nome e a profissão de seus pais?
R: Meu pai era alfaiate e minha mãe doméstica, dona de casa. Meu pai era Caetano Altafin, e
minha mãe Aida Bernardes Altafin.
P: Qual seu local de nascimento?
R: Eu morei em Uberlândia até terminar o meu curso no ginásio mineiro de Uberlândia.
Depois eu fui para o Rio de Janeiro, onde eu estudei no Colégio Pedro II, 2 anos no Pré e
onde fiquei, posteriormente, fazendo o Curso de Direito. Depois de formado voltei para o
Triângulo Mineiro de novo, para Estrela do Sul como promotor de justiça. Também fui
promotor em Cabo Verde, que era uma cidade do sul de Minas, e juiz de direito em Cabo
verde, Monte Alegre e Prata, e depois eu fiz concurso para a Justiça Federal. Além de
promotor, eu fui juiz municipal, juiz de direito, e depois juiz do Poder Judiciário da União.
Como juiz eu morei em Monte Alegre, Prata e Cabo Verde. Depois eu fiz concurso para
juiz federal e do Prata eu vim para Uberlândia. E vim residir em Uberlândia em dezembro
de 1959. Em março eu comecei a lecionar na Faculdade de Direito.
P: Qual sua classe social na época da criação da Faculdade de Odontologia?
271
R: Eu era pobre. Meu pai era alfaiate, um artista. Suponho que ele demorava dois dias para
fazer um paletó. Veio 6 filhos, e o ganho era sempre o mesmo. Mas era pobre mesmo.
Tanto é que quando a gente terminava o primário tinha que fazer o exame de admissão ao
ginásio. Para fazer exame de admissão você tem que estudar dois meses em um colégio
particular. Meu pai não pode pagar esse colégio particular. Então eu fiquei três anos sem
estudar até poder pagar esse colégio particular e fazer um curso de admissão. Eu era pobre
mesmo.
P: O que representava/significava para o senhor ter uma Faculdade de Odontologia em
Uberlândia?
R: Nessa época quando eu morava aqui não tinha Faculdade, os dentistas, cirurgiões-dentistas
como eram chamadas não tinham Faculdade. Mas depois ela veio com essa expressão,
porque Uberlândia também já era outra né...
P: Era mais dentistas práticos ou já tinha cirurgião dentista formado aqui naquela época?
R: Acredito que prático...
P: A população tinha condição de ir ao dentista prático?
R: Tinha, tinha...Tinha dentista que atendia, cobrava pouco mas atendia. Agora eu não posso
dizer quais eram os formados naquela época, não tem como dizer quem tinha Faculdade.
Mas que tinha muitos práticos tinha. Só não posso dizer quem era, também eu não me
lembro, fui menino pro Rio de Janeiro.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Muito honrada por ter dentistas formados aqui. Apesar de todo ônus ao vir a faculdade,
pois só veio a Faculdade, não veio dinheiro, conforme eu já expliquei.
P: Quais as dificuldades que o senhor teve em relação ao Curso de Odontologia?
R: Dificuldade especificamente eu não tive. Porque conforme consta do meu livro80, quando a
Faculdade ficou sem diretor, eu nomeei um pró-tempore, que não era da área, mas era um
bom administrador escolar. E foi um bom administrador acadêmico. Eu sabia que ele ia
atuar bem, como atuou. E depois ficou mais quatro anos como diretor, que foi o professor
Osvaldo Vieira Gonçalves, chamado professor Vadico.
P: A escola de odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense? Modificou
alguma coisa, em que?
R: Modificação porque era uma escola superior, muito bem estruturada, que formava dentistas
com nível superior. Da mesma forma que a Faculdade de Medicina está no mesmo nível de
importância nesta área que é muito importante. Foi uma evolução muito grande, muito boa.
P: Para o senhor, a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para
que? Para quem?
R: Individualmente eu não me lembro. Deve ser do povo né.
P: O povo queria uma Faculdade aqui? Achava que precisava? O senhor se lembra de algum
comentário na época em que o senhor era reitor?
R: Eu me lembro. Quando foi criada essa Faculdade, ela trouxe muita alegria. É uma grande
Faculdade né.
P: Para o senhor, quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Junto aos outros deve ser Uberlândia né... Não tenha dúvida. Teve bastante repercussão
boa nisso.
P: Há algum fato ou acontecimento que o senhor gostaria de deixar registrado na história da
Faculdade de Odontologia?
R: especificamente eu não lembro. Lembro apenas do que eu coloquei no meu livro que foi a
nomeação do professor Osvaldo Vieira Gonçalves, o professor Vadico para diretor da
Faculdade né. É um fato específico que eu lembro. Da mesma forma que a Faculdade de
80
Novamente o depoente cita seu livro: UFU, Primeiros tempos: depoimentos sobre pessoas e fotos do início da
Universidade Federal de Uberlândia. Publicado em 1997, pela Editora UFU.
272
Entrevista nº14
P: Pergunta
R: Resposta
P: Como se encontrava, ou seja, em que momento político estava o Brasil no ano de 1970?
Como foi o contexto político, em 1970, para o senhor?
R: Em 1970, eu estava sobrecarregado com as maiores responsabilidades políticas deste país.
Porque havia recebido uma delegação do Presidente da República daquela época que era o
eminente General Emílio Garrastazul Médici, que me convocou para presidir
nacionalmente o partido que lhe dava sustentação no Governo, no Poder Executivo, e me
delegou uma missão das mais difíceis, das mais complexas do ponto de vista político,
porque fui encarregado de viajar do Acre até Santa Catarina escolhendo os futuros
Governadores do país. Quanto ao Rio Grande Sul, ele me disse na presença do Ministro
Orlando Geisel, que era o irmão do Ernesto que era o Ministro da Guerra, “Dr. Rondon, o
senhor não vai ser Governador, nem Ministro agora, porque o senhor vai escolher os
Governadores do país. Mas, eu quero dizer que para o senhor poder escolher os
Governadores do país o senhor já está escolhido. O senhor vai ser o Governador de Minas.
E quero dizer que no Rio Grande do Sul o senhor não precisa ir porque lá é o meu Estado,
então, eu escolho. Eu sou gaúcho e lá eu escolho.” Então, eu disse que estava pronto pra
viajar e assumir a presidência da ARENA, e para ajudá-los nesta conjuntura. Mesmo
porque lá estava o Ministro da Guerra, naquele tempo, era Ministro da Guerra, e não
Exército. Eu e o General que aqui está o Orlando Geisel, vamos transferir esta
responsabilidade pra você porque está muito tumultuada a área militar. Porque tinha
ocorrido disputa interna pela Presidência dentro do Exército aquela época. O outro
candidato era o General Afonso Albuquerque de Lima. O Médici foi o eleito. Mas eles
tinham que organizar tudo lá dentro né. Senão como ele iria ter sustentação política e
militar, e de segurança, se não organizasse o exército. Assim saí, já havia sido escolhido
Governador de Minas, mas não contei isso a ninguém, senão estava degolado. Ainda mais
de Minas... Eu estaria degolado pois a competição era muito grande. Então, saí
selecionando, de capital em capital de Estado, e sentindo aqueles nomes adequados para as
votações majoritárias. O Governador era escolhido por eleição indireta pela Assembleia,
mas tinha eleição majoritária entre os senadores. Tinha que escolher dois senadores em
cada Estado. E fomos muito felizes porque conseguimos uma maioria muito expressiva no
Senado e os Governadores parece que foram muito bem escolhidos porque trabalharam em
paz, grandes nomes, alguns até hoje.
P: E em Uberlândia, como o senhor recorda da política Uberlandense em 1970?
R: Em 70, eu me recordo muito da política uberlandense porque nascia algo positivo. E esses
jovens universitários e mesmo os ginasianos já tinham uma grande vocação política. Fui
presidente da AESU (Associação dos Estudantes Secundaristas de Uberlândia), depois fui
estudar em Belo Horizonte. Eu me recordo, em 70 de uma cidade florescente, motivada.
Uma cidade que estava na plenitude das suas realizações. Entre 67/70 eu fui Ministro da
274
esta estrada até Ituiutaba, que era uma estrada de bancos de areia, era uma viagem penosa,
daqui a Ituiutaba você gastava 4 horas. Mas era a via de comunicação fundamental para a
grandeza de Uberlândia. E conseguimos. O Getúlio teve a sensibilidade e mandou o DNER
comprar esse asfalto. O Brasil não produzia asfalto, pois não tínhamos a Petrobrás. Até o
asfalto era importado da Venezuela. Os galões de asfalto entraram ali na Afonso Pena e foi
um foguetório. O Alexandrino Garcia ainda não era dono da CTBC, mas tinha postos de
gasolina, com o foguetinho na mão, soltando foguete. O Boulange Fonseca, o Juquita da
Erlan. Todos eles soltando foguete e o asfalto chegando. Fizemos o asfaltamento até
Itumbiara. Foi um achado para o futuro. Pois coincidiu depois com a criação de Brasília.
P: Para o senhor quais os acontecimentos que mais marcaram a história da criação da
Universidade de Uberlândia?
R: Olha o acontecimento mais confortador para a criação desta Universidade foi a unidade
espiritual, intelectual da sociedade uberlandense, no sentido de criar um bloco monolítico
em apoio as Escolas Superiores, que até então vinham sendo formadas. Nós já tínhamos...
A primeira Escola criada em Uberlândia foi a Escola de Filosofia do Colégio das
Lágrimas, Madre Ilar, que está viva. Elas tinham sustentáculo, tinha uma freira superior
chamada Madre Rita de Cássia Amarante, mulher notável. Na maior pobreza possível,
amealhando recursos. Então esta vocação que eu senti para a cultura que nós precisávamos,
pois criamos a Escola de Filosofia, depois criamos a Escola de Direito. A Escola de
Direito, tenho o telegrama até hoje, são signatários Jacy de Assis e Gabriel Catistan. Esse
era o presidente da fundação de ensino e o Jacy o diretor em potencial da Escola de
Direito, que foi criada e está lá, mas precisava de reconhecimento. Este é o telegrama que
me foi enviado quando da criação da Faculdade: Cumprimenta referente a Faculdade de
Engenharia, Uberlândia fica devendo ao eminente amigo mais este grande serviço,
Abraços Jacy de Assis e Gabriel Catistan. O que é importante foi essa mobilização de
Uberlândia, unindo todas as nossas forças para o alcance das escolas superiores. Então
criamos a Escola lá no setor federal, a 2a Escola que foi a Escola de Direito, depois veio o
conservatório de música. Depois veio a Escola de Ciências Econômicas, cujo primeiro
diretor foi o Juiz Juarez Altafin, e começamos a batalha pela Escola de Engenharia, pois
nós precisávamos que a Universidade tivesse 5 escolas integrantes. Sem as 5 Escolas não
tinha Universidade, isto está na lei. Então, mas nós queríamos uma Universidade
reconhecida federal, e para se criar uma universidade federal, era necessário ter uma
Escola Oficial do Governo. O Juscelino estava na presidência da República, em 1956, e
mandou para o Congresso uma mensagem criando uma Escola Agrotécnica, em Bambúi,
em Minas Gerais. Os deputados não tinham o poder de iniciativa, para organizar a estrutura
de uma Escola. Mas tinham o poder de emenda do projeto ao presidente. Eu não tive
dúvida, emendei o projeto do Juscelino. Onde estava “uma escola agrotécnica em Bambuí”
e coloquei “e uma Escola de Engenharia em Uberlândia, Minas Gerais”. Veja o senso de
oportunidade e o senso político, pois ia ficar muito mal pro Juscelino em criar uma Escola
Agrotécnica em Bambuí e recusar uma Escola de Engenharia em uma das já grandes
cidades e com várias escolas superiores. Faltava só a Engenharia para que se transformasse
em Universidade. Vejam vocês a importância dos fatos, a coincidência e a convergência.
Era presidente da Comissão de Justiça o deputado Tarso Dutra, do Rio Grande do Sul. Ele
levanta-se da cadeira presidencial e diz: “você não vai sozinho, você vai me permitir pegar
uma garupa”. Pois ela estava oportuníssima, e o Juscelino não pode recusar isso. E ele
colocou: “Uberlândia e a Faculdade de Engenharia em Santa Maria no Rio Grande do Sul.”
Que 5 anos depois quando da criação da Universidade eu era Ministro da presidência da
casa civil e o Tarso Dutra era Ministro da Educação. Então, fizemos, como foram criadas
juntas, as duas, a de Uberlândia e a de Santa Maria, vieram a constituir o projeto da
Universidade. O projeto da Universidade era Uberlândia e Santa Maria e o presidente da
276
república era do Rio Grande do Sul e o Tarso Dutra Ministro da Educação. Então eu tenho
a fotografia, inclusive na hora que o presidente assinou a criação da Universidade de
Uberlândia e Santa Maria, eu dando a ele o decreto, e eu digo isso a vocês in off, que aqui
corria um boato que tinha chegado um decreto de Santa Maria e eu acrescentei
Uberlândia. Foi justamente o contrário. Desde o nascimento. Então, Daniel Grila,
Presidente da ARENA naquela época, que tinha contribuído muito para eleger o presidente
do Rio Grande do Sul, Tarso Dutra Ministro da Educação do Rio Grande do Sul e eu de
Minas Gerais, Ministro da Presidência. Foi assinado o decreto da universidade, criando a
universidade de Uberlândia. No próprio decreto colocamos que o diretor da Faculdade de
Engenharia seria o primeiro Reitor. Ela era a semente. Era o Genésio de Melo Pereira,
dono destas granjas e grande empresário de Uberlândia. E assim foi criada a Universidade.
P: E em relação a Faculdade de Odontologia, quais foram os fatos mais marcantes na
formação da Faculdade?
R: Eu acho que foi o seguinte, quando ela surgiu no plano estadual, em um Estado muito
carente de recursos. E esse programa de Ensino Superior realmente é um programa federal.
A Escola estava criada com grandes problemas. Eu tive a honra e a graça de chegar ao
Governo e bateram logo as portas dizendo da situação da Escola de Odontologia. E como
já tinha um “know how” das outras Escolas, a Escola de Odontologia era uma Escola
fundamental, que atende uma grande gama. Já naquela época, o dentista já era um homem
muito solicitado. Todo mundo precisa de dentista. Eu me lembro que eu comprei 50
gabinetes dentários e mandei vir pra cá. Estava na direção da escola, o professor Osvaldo
Vieira Gonçalves, que era farmacêutico formado, tinha sido diretor do Museu, a Escola
Estadual, e agora estava na direção da Faculdade. Foi até aquele impacto, mas consolidava
a Escola e ela incorporou à Universidade.
P: Ela era uma Autarquia? Era a única de Minas?
R: Isso multiplica, pois na hora que se cria uma as outras pegam garupa.
P: Sr. Rondon, o que o senhor acha da importância de se implantar uma Faculdade de
Odontologia em Uberlândia?
R: Ah, é muito grande. Todo mundo tem dente podre. Você não sabe a falta que faz isso (o
entrevistado retirou e mostrou seus óculos) pro povo, na hora de votar, quando era aquela
cédula que tinha que ler e assinar o nome, a falta que faz um óculos, principalmente de
mais idade. Então a gente tem que ter sensibilidade para as Escolas básicas e suas
iniciativas. Odontologia era uma Escola muito necessária, e aconteceu que tivemos
inclusive que transferir como Governador, Escolas que estavam em municípios menores
também para Universidade. Transferir uma escola de uma cidade para outra, pois a cidade
originária não tinha condições, precisava de arte e coragem para fazer um ato deste. E
trouxemos outras Escolas, Veterinária, por exemplo. E Uberlândia organizou sua pirâmide
cultural que é nossa Universidade.
P: Como foi idealizada a Escola de Ensino Superior de Uberlândia? Quem lhe pediu ajuda
para implantar tal projeto?
R: Olha, a primeira escola de Ensino Superior, os telegramas que eu recebia lá eram do Jacy
de Assis, do Homero Santos, da Câmara Municipal, da Associação Comercial, da
Associação Ruralista, era uma voz vibrante e eloquente de toda a cidade. Mas tinha suas
lideranças: Jacy de Assis, Domingos Pimentel de Ulhôa, José Olimpio Azevedo que é
irmão do atual secretário de educação, do Afrânio, eram homens apaixonados, Dr. João
Martins, José Ribeiro, meu concunhado, morreu há 2 meses. Foi uma luta empolgante.
Agora, as Escolas até então existentes, como nosso Ginásio Estadual, ele já tinha sido um
celeiro de vocações, nomes de peso como Amadeu Cury, família de Guaxupé que veio para
Uberlândia, ele tem um dos currículos mais ricos do mundo científico brasileiro, ele era
cientista de Manguinhos, outra pessoa era o Adib Jatene, o Ataíde Ribeiro da Silva.
277
Brilharam lá fora... Rocheda Vintiseba, que criou uma Escola de Medicina em Valença no
Estado do Rio, e outros que saíram daqui. O Amadeu veio a ser reitor da Universidade de
Brasília. Que é uma universidade pioneira também. Das vocações que surgiram nesta
cidade, Domingos Pimentel de Ulhôa era uma das criaturas mais brilhantes, médico,
pediatra, presidente da Associação dos Médicos também era. Lembrar todos os nomes é
difícil, a gente pode ir citando e esquecer algum. O Fausto Gonzaga de Freitas estava nesta
luta, o José Olimpio, Jose Bonifacio Ribeiro. Eu vinha muito a Uberlândia, pois eu estava
pra ser potencialmente Ministro, mas saiu na imprensa, porque tudo sai na imprensa não
sei como, que um possível Ministro do futuro Governo será o deputado Rondon Pacheco,
então minha casa enchia. Eu me lembro que eram numerosas as comissões e muito forte a
aspiração de Uberlândia em uma Escola Superior, que mesmo porque na realidade havia
até uma frustração porque em Uberaba já tinha as Escolas do deputado Mário Palmério né.
Mas eram particulares. E Uberlândia quis acompanhar o ritmo. Ajudamos assim a criar as
Escolas de Uberlândia. Quero exaltar e lembrar de um nome que foi o Presidente Costa e
Silva. O Genésio chegava lá na Casa Civil para tratar da Escola de Engenharia, e eu o
levava ao Presidente. Até abusava um pouco pois a agenda dele era carregada. Então, o
presidente perguntava a ele como estava a escola de Medicina em Uberlândia e ele dizia:
“Mas presidente, eu sou é da Escola de Engenharia.” E o presidente falava: “Mas eu estou
preocupado com a Escola de Medicina.” Para eles uma Escola de Medicina era muito mais
difícil de se cuidar, pois é hospital, cadáver, maternidade. Conseguir isenção alfandegária,
pois precisava de aparelhos sofisticados. Tive que topar várias paradas com o Ministro da
Fazenda pois o inspetor deles não deixava o material entrar, ficava parado lá em Santos.
Tinha que pagar os direitos de importação e a Escola não tinha dinheiro, mas como era
assunto relevante não pagava. Mas o inspetor não se conformava.
P: Quais as dificuldades encontradas e quais foram os maiores colaboradores para efetivação
do projeto da Autarquia Estadual de Uberlândia, especificamente, a Odontologia?
R: A Odontologia foi uma iniciativa da Assembleia Mineira do Deputado Homero Santos,
sempre com a ressalva do Governador de que o Estado não tinha muitos recursos, os
entreveros com o Israel Pinheiro foram muito trabalhosos no sentido de criar um
precedente de Escola Superior como Odontologia para Uberlândia. Mas deu tudo certo e a
Escola foi instalada. E os fatos ajudaram, pois quando tivemos que aparelhar a Escola, eu
estava com o Governador e na verdade não podíamos deixar o cavalo no meio do caminho,
seria uma covardia.
P: Como foi a inauguração da policlínica da Odontologia a qual te homenageou nomeando-a
como policlínica odontológica Rondon Pacheco?
R: Eu me lembro que foi um movimento coletivo. O professor Osvaldo Vieira ficou muito
reconhecido, tantos gabinetes dentários. Mas acho que foi uma obra de conjunto. Não
podemos nos esquecer de um trabalho de um Domingos Pimentel de Ulhôa, de Jose
Olimpio de Freitas Azevedo, de Jose Bonifácio Ribeiro, Dr. João Fernandes, cunhado do
Alair Martins, já puseram até um busto pra ele ali na Escola, eu fui lá. Então este é um
trabalho que ninguém pode reivindicar. É um trabalho de conjunto, uma soma. E tivemos a
felicidade de termos os instrumentos, porque a política, a virtude dela é essa, é aquilo que
você consegue fazer que sozinho você não conseguiria. É um instrumento do poder. A
pessoa leiga é colocada naquela posição, mas o instrumento do poder é que tem a força
magnética, a força decisiva. E por isso é a grande sedução da vida pública. Juscelino
jamais faria Brasília sozinho.
P: Qual o significado/representação dessa Escola Superior de Odontologia para a cidade de
Uberlândia?
R: Eu acho que foi muito expressiva. Eu tenho um irmão aqui em Uberlândia, um senhor
muito representativo na Odontologia que é o Sr. Márcio Pacheco, formado em Ribeirão
278
Preto. Antes tinha que ira para Ribeirão. Ele foi um dos entusiastas da Escola de
Odontologia. Me lembro de tantos dentistas. Tinha um da família Luz, o Índio Luz, o
Laerte, você vai encontrar na sua tese o nome deles. O Genésio Melo da Engenharia, o
Jacy de Assis, sempre tem um que se esforça mais. O Laerte Alvarenga Figueiredo foi para
a Odontologia o que o Genésio de Melo Pereira foi pra Engenharia.
P: A quem e quais interesses a instalação da faculdade de Odontologia estaria atendendo no
contexto histórico e político daquela época?
R: Nesse sentido, eu acho que foi um fato natural, é a força da natureza nas coisas. A cidade
cresceu. Havia mercado para a existência de uma escola. Uberlândia era uma cidade polo.
Aqui no meu prédio tem vários estudantes de Odontologia. É a necessidade. É o fato social
mesmo. Agora, eu também ajudei muito em Ituiutaba. Eu era Ministro da Casa Civil, e
levei um professor de Ituiutaba para o meu gabinete chamado Antônio Castillo, e ele era
professor das Escolas de Ituiutaba. Foi um esforço para a construção das Escolas de
Ituiutaba e assim, é fazer o bem sem olhar a quem.
279
Entrevista nº15
P: Pergunta
R: Resposta
P: Em que ano você recebeu atendimento na policlínica da UFU?
R: No ano de 1974. Naquela época eu era estudante, estava terminando o 1º grau.
P: Como você ficou sabendo da possibilidade de receber tratamento odontológico naquela
policlínica?
R: Através da minha mãe. Nós duas procuramos a clínica e começamos o atendimento. Minha
mãe também foi atendida lá e alguns parentes também.
P: Você pagou algum valor pelo tratamento? Se sim, qual foi? Era elevado?
R: Sim, o tratamento foi pago. Paguei o raio x, canais. Não me lembro o valor exato.
P: Que tipo de tratamento você fez? Que tipos de tratamentos eram oferecidos?
R: Eu fiz obturações e canal. Acho que foi só. Mas todos os tipos de tratamento eram
oferecidos pela clínica. Inclusive eu fiz peças protéticas e restaurações metálicas com ouro.
O ouro era eu mesma quem levava, e eles colocavam.
P: Quem te atendeu? Foram alunos? Atendiam em dupla?
R: Fui atendida o tempo todo por alunos. Eles atendiam individualmente. Não me lembro do
nome de quem me atendeu, mas me lembro de um aluno que agora é dentista e era aluno
naquela época, o Dr. Washington, inclusive o consultório dele é aqui perto no Roosevelt.
P: A senhora ficou satisfeita com o atendimento? Foi bem atendida? Correspondeu as suas
expectativas?
R: Fiquei satisfeita com o atendimento. Fui muito bem atendida. Correspondeu as minhas
expectativas.
P: E os outros pacientes pertenciam a qual classe social na época, rica média ou baixa?
R: Eles eram de classe baixa.
P: O que representou/significou a criação da Faculdade de Odontologia para você? Modificou
alguma coisa para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Não tem como eu saber. A existência da faculdade ajudou bastante, principalmente no
tratamento.
P: Algum dos seus familiares e conhecidos também receberam tratamento na policlínica da
Odontologia?
R: Sim. Fizeram obturações, canal, prótese. Dentaduras também. Minha mãe mesmo fez
tratamento lá.
P: Como a comunidade uberlandense via: 1º) A Faculdade de Odontologia 2º) Os dentistas da
cidade 3º) os alunos da Escola de Odontologia?
R: Todos acharam bom. Aqui tinha muitos dentistas que não eram formados e atuavam.
Então, a população passou a frequentar a policlínica ao invés de procurar os dentistas não
formados. Já os alunos eram bem aceitos pela sociedade.
280
ENTREVISTAS
SEGUNDA ETAPA
Entrevista nº 16
P: Pergunta
R: Resposta
P: Como os alunos da época da sua turma assimilaram a formação superior? Em relação ao
ensino profissional, ele era mais técnico ou agregava os valores humanos? Havia
diferenciação de outras faculdades? Havia inspiração no projeto pedagógico de Bauru?
R: Na época, na década de 1970, a formação era muito mais técnica, os alunos queriam ser
profissionais, e prioritariamente era clínica privada, naquela época, em 1975/1976, o
INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) estava
começando e todo mundo formava pensando no consultório, a maioria dos alunos na data
da formatura já estava distribuindo cartãozinho do consultório, enormes carnês de
prestação de consultório, compressor, e material, no decorrer do curso a formação era
muito voltada pra especialidades que ainda não existiam, não existia ainda cursos formais
de especialização como existem hoje, era muito poucas faculdades que tinham cursos de
aperfeiçoamento, pra especialização era tempo integral o ano inteiro, era muito restrito, e a
formação humanística de acolhimento daquele paciente essa coisas era um ou outro
professor que fazia, uma atuação pontual, não existia nada ainda institucionalizado ou
dentro do projeto pedagógico dessa visão, isso começou na década de 1980, quando
começou a se falar em humanização, quando entrou para o currículo da Odontologia as
Ciências Sociais, Sociologia, Psicologia e Antropologia, o que até hoje ainda é meio
mascarado, sem ênfase.
P: O Sr. se lembra da atmosfera política nacional da época? O que isso interferiu na criação da
faculdade de Odontologia aqui de Uberlândia?
R: A faculdade de Odontologia surgiu no sonho daquela época, o Laerte Alvarenga
Figueiredo, que capitaneou alguns dentistas da cidade e que foi trabalhar na esfera política,
que era um dos representantes governamentais daquela época, que vivíamos em um
Regime Militar de exceção e o os que representavam naquela época eram Rondon Pacheco,
Homero Santos, Valdir Melgaço, João Pedro Gustin, eram os representantes da cidade e da
região na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional, a Odontologia foi criada por
meio de uma Autarquia Educacional de Uberlândia, que era uma Autarquia estadual, era
uma Instituição Estadual que cobrava uma mensalidade dos alunos e recebia uma parte dos
recursos do governo estadual que era muito pequena, houve interferência política, como
existe até hoje, é preciso que tenha o poder político junto com o Executivo e o Legislativo
para que as leis saiam, e a questão estudantil, nós não tínhamos uma repressão velada, mas
era um movimento mais contido, a Odontologia, dentre as áreas técnicas nunca houve um
perfil de muito envolvimento/ engajamento, politico e ideológico, na época nós éramos
muito mais preocupados com a qualidade da faculdade, era uma faculdade que apesar de
283
ser uma Autarquia, vivia como uma faculdade particular com todas as suas dificuldades, e
todas as atividades do diretório, a grande maioria, era voltada para captar recursos para
construção de laboratórios, esterilização com a autoclave, ar condicionado para a clínica,
livros para a biblioteca, e muito pouco tempo sobrava para essa questão política/ideológica,
até porque não era universidade, eram escolas isoladas, o DCE (diretório central dos
estudantes) era muito incipiente, não tinha uma liderança forte como é hoje, na
Universidade como um todo, e nós fomos em alguns momentos da Odontologia
convocados a ir no 36º batalhão prestar esclarecimentos, sobre alguma paralização, mas
nada que constrangesse, existia sempre aquela ameaça velada do Ato Institucional nº5, do
Decreto 477 que te suspendia por 5 anos, mas na Odontologia nos nunca tivemos nenhuma
atitude que tivéssemos muito próximos de sofrer alguma dessas sanções, sempre na
conversa, sem nenhum alarde, sem duvida nenhuma não era agradável você ir até o
batalhão diante de alguns oficiais e militares prestar esclarecimentos, mas nunca sentimos
constrangidos ou nenhuma repressão violenta, era mais uma conversa, e como nossas ações
eram quase sempre na busca de condição de trabalho da faculdade e naquela época o
diretor era o doutor Laerte Alvarenga, que tinha um excelente relacionamento tanto com os
professores quanto com os alunos, nós víamos o doutor Laerte com um esforço sobre
humano pra poder continuar a faculdade, então não houve nenhum constrangimento que eu
me lembrasse.
P: Na década de 1970, o Sr. lembra se havia o discurso de ordem modernizadora? A cidade
de Uberlândia tinha o ideal de ser progressista? Até que ponto o Sr. vê a criação da
faculdade de Odontologia inserida nesse discurso de ordem modernizadora da cidade de
Uberlândia?
R: Uberlândia eu entendo hoje, passados os anos, que a cidade de Uberlândia, as forças vivas,
a sociedade e a classe política, no final da década de 1950, eu estava no município de
Uberlândia, eu me lembro de fazer parte do desfile de 7 de setembro, de fazer parte,
pedindo a faculdade, pedindo o curso superior para Uberlândia, então eu entendo, no meu
ponto de vista desse cenário todo, que duas coisas fizeram a diferença na cidade de
Uberlândia, foi a criação dos cursos superiores, com a faculdade de Direito, Filosofia e
Economia que foram os primeiros, a Engenharia federal, a Medicina, a Odontologia,
Veterinária, educação Física, e assim sucessivamente, então esse foi o marco que
consolidou com a federalização da Universidade, existe toda uma história contada que ela
foi criada por um decreto do Marechal Costa e Silva e depois federalizada pelo General
Geisel, mas eram os dirigentes da época, os gestores da época, então tinha que ser criado
por eles, isso não quer dizer nenhuma conotação de fase de regime de exceção ou não, é a
realidade dos fatos. E outro ponto que eu acho determinante é quando o prefeito Renato de
Freitas canalizou a água do rio Uberabinha por meio da represa Sucupira pra Uberlândia,
me lembro muito bem da inauguração, ali na Floriano Peixoto, perto da caixa d’água,
jogou toda a água na rua, desceu pela Afonso Pena, pela Floriano. Eu me entendo que ali,
colocando aquela água, e na época chegando a CEMIG, substituindo a companhia
energética que era aqui da região, deu a Uberlândia uma condição de infraestrutura para
receber o progresso, pra receber as indústrias e o comercio que temos hoje, com isso nos
tínhamos um governador, que era de Uberlândia, o governador Rondon Pacheco, que fez
várias ações junto ao governo federal para que nos fossemos um grande entroncamento
rodoviário que nos somos hoje, isso deu a Uberlândia a infraestrutura, agua, luz, rodovia,
acesso e a inteligência que foi a criação da Universidade, então esses dois pontos, a
vontade da comunidade e a ação política, os políticos sempre olhando pro futuro, depois do
prefeito Renato de Freitas, veio o prefeito Virgílio Galassi, que canalizou o rio Bom Jesus,
para outra usina de captação de água, já veio a expansão do distrito industrial, então essa
conjunção de infraestrutura da cidade e inteligência da Universidade é um fator
284
determinante pro crescimento, quando eu falo força da sociedade eu me lembro muito bem
quando criança, quando não tinha asfalto, por aqui, da ação da Associação Comercial e
Industrial de Uberlândia, tanto que você vê varias fotos históricas na Universidade, a
presença dessas pessoas, e tem uma pessoa que me chama muito a atenção que eu tive a
honra de conhecer, que é o Sr. Osvaldo Oliveira, no lançamento da pedra fundamental da
Medicina, você vê o Sr. Osvaldo lá representando a ACIUB, em vários outros momentos a
ACIUB e o Sindicato Rural tiveram participação importante representando a sociedade,
que era o comércio, a indústria, os ruralistas e a sociedade como um todo Sr. Milton Porto,
de colégio, e essas pessoas que participaram da criação da Universidade, e eu entendo que
a história do desenvolvimento de Uberlândia passa por esses fatores, infraestrutura da
cidade e a inteligência da Universidade.
P: Qual era o perfil do dentista da época para que a gente possa fazer uma diferenciação do
dentista formado hoje pela UFU?
R: Isso tem uma controvérsia, é comum você encontrar pessoas da minha geração e elas
falarem que hoje é pior, mas antigamente nada era melhor, certo, os alunos eram como os
alunos de hoje, dentro do nosso mundo, naquela época era nosso mundo, hoje é outro, a
odontologia naquele tempo, o que ela realizava era muito pouco, as pessoas achavam que
sabiam muito, mas elas sabiam muito do pouco, há várias áreas de conhecimento que estão
aí que nem existiam, na época não se falava em implante, radiologia estava começando,
estética não se falava, e o que é o bom de hoje é a estética, implantodontia, diagnóstico por
imagem, tomografia, nada disso existia, era uma endodontia bio ou necro e uma dentística
muito agressiva, toda uma forma de extensão, forma de conveniência, era muito mais
agressivo ao tecido dental do que conservador do tecido dental, cirurgia, prótese era muito
incipiente, várias técnicas que existem hoje não existiam, os alunos não tinham nenhuma
formação científica, eles eram formados técnicos, tanto que na minha formação toda eu
não me lembro de ter lido um artigo científico, eu me lembro de ler algumas revistas
brasileiras, que hoje se você for ver não tem nenhum embasamento científico dentro dos
critérios de hoje, e hoje os alunos com informática, no nosso tempo a gente estudava por
apostila que era um compilado de anotações de colegas da classe, e aquilo era feito uma
apostila no mimeógrafo e era aquilo que a gente estudava. A fonte de conhecimento era
muito limitada, a imensa maioria dos livros era em castelhano, e de autores argentinos ou
espanhóis, hoje você tem uma literatura brasileira, em português, que é uma das melhores
do mundo, você tem internet, informática. Hoje qualquer aluno do primeiro período de
Odontologia sabe ler e interpretar um artigo cientifico, hoje eles estão escrevendo artigos,
então eu entendo que o perfil hoje é muito melhor a abrangência da Odontologia na
sociedade é muito maior, a atuação da Odontologia na promoção da saúde, porque nós
tivemos uma Odontologia que era só cura de doenças, que é o que eles chamam de
paradigma, restaurador cirúrgico, que era operar ou restaurar, hoje não, hoje é educar,
prevenir, então hoje mudou muito a condição de saúde bucal das pessoas, nós éramos o
país dos desdentados, hoje não somos mais, temos ainda, mas são bolsões de pobreza, e em
muita cidade pequena, do interior e em grandes cidades, onde tem uma secretaria de saúde
atuante, uma universidade atuante, a condição atual de saúde das pessoas é imensamente
melhor, eu me lembro que na minha turma de graduação havia alunos que utilizavam
próteses removíveis, hoje os alunos na graduação não tem cárie, nunca tiveram cárie,
nunca frequentaram os dentista no sentido de curativo, vão para aplicar flúor, selante, fazer
um tratamento ortodôntico, então mudou muito o perfil dos formados, a abrangência de
conhecimento de um profissional de Odontologia hoje, e as opções de trabalho, a inserção
no mercado de trabalho, é muito maior que na nossa época, que era único mercado a
clínica privada, hoje nós mantemos a clinica privada, temos o serviço publico, os
convênios, credenciamento, e uma coisa que se tornou muito forte na Odontologia que é a
285
pesquisa, nós estamos tendo aprovado agora o nosso doutorado, era uma coisa impensável
quando eu me formei que Uberlândia fosse ter especialização, tudo era São Paulo e Rio,
hoje nós temos especialização, mestrado, doutorado e temos até alunos de pós doutorado
na Odontologia, então esta evolução é extremamente significante, e os alunos hoje não são
mais inteligentes ou menos inteligentes, eles são melhores informados, a informação hoje
chega mais completa e mais rápida, no nosso tempo a informação levava cinco, seis, dez
anos, que até que saísse do exterior, que alguém traduzisse, que publicasse em português, o
que não era interessante publicar em português porque o mercado era muito pequeno, hoje
não, hoje já sai na internet e os alunos leem em várias línguas, e nós na época tínhamos um
ensino de línguas muito precário, e eu sou muito otimista do que é feito hoje, eu acho que a
Universidade e os alunos evoluíram muito, e eu não tenho esse saudosismo de achar que no
passado era tudo melhor, eu acho que não tinha nada melhor. A pesquisa e o trabalho de
conclusão de curso na época não existiam, quando alguém fazia um trabalho incipiente era
tido quase como um astronauta. A prioridade era formação técnica.
P: Para onde foram os demais colegas/ egressos das primeiras turmas?
R: Da minha turma, depois de quase 30 anos, a grande parte ficou em Uberlândia, em fase de
aposentadoria, na faculdade já tem três da nossa turma que se aposentaram. Dois não
exerceram a odontologia, mas os demais exerceram em clinica privada e acadêmica, mas
tem pessoas muito bem sucedidas por todo o Brasil. A maioria exerceu a profissão e foi
bem sucedida, acompanhando o desenvolvimento tecnológico, bem como a concepção do
dentista no aspecto humano, de acolhimento do paciente, voltado a prevenção e educação.
P: Como foi a consolidação e desenvolvimento da faculdade de Odontologia?
R: Nada começou agora, começou em julho de 1970, e foram muitas pessoas que dedicaram
parte da vida para o desenvolvimento da faculdade, ela começou como uma Autarquia
Educacional, com pouco recurso, o recurso maior era da mensalidade dos alunos, e um
curso de Odontologia é caro, a instalação é cara, e lutava com muita dificuldade, muitas
vezes os alunos tinham que comprar material, os próprios professores rateavam pra
comprar álcool, pra ter uma clínica, os membros do diretório acadêmico muitas vezes fez
livro de ouro e saiu pelo comércio, por isso que eu falo que a presença da sociedade era
muito forte, que eu me lembro que nós fazíamos livros de ouro e saiamos no comercio
pedindo dinheiro pra montar laboratório, para compra livro, e íamos aos consultórios dos
dentistas pedir doação de livro, pra poder montar e consolidar a nossa biblioteca, depois
veio a Universidade, e a coisa começou a melhorar, e quando federalizou entramos num
ritmo de desenvolvimento, mas as universidades federais ficaram paradas muito tempo, a
Odontologia ficou parada muito tempo, no sentido de expansão, nós tínhamos uma
graduação, os professores que vieram de início eram todos de fora, a medida que foram
formando foram ficando na faculdade, no inicio não tinha uma vocação para pós-
graduação, então os primeiros foram fazer fora, pois não era cultura da formação da
Odontologia a pós graduação, então precisaram os primeiros irem fazer pós graduação,
voltar, incomodar, criar um certo ciúme para que outros tivessem vontade de ir, nos
concursos que eram feitos na Odontologia não se pensava em cobrar titulação, porque a
grande preocupação era que o professor tinha que ir pra clinica mostrar como se faz, e a
especialização veio, foi a primeira foi em prótese em 1982, depois veio a dentística, nos
ficamos formando uma massa, os professores fazendo pós-graduação para que nós
tivéssemos número suficientes de doutores pra podermos abrir o primeiro mestrado, e eu
tenho a honra de ter sido o coordenador da primeira especialização, o mestrado enquanto
eu era diretor e o doutorado agora que eu sou reitor, então o mestrado veio com muita
dificuldade, com forças contrárias, pessoas achando que a faculdade só dava atenção ao
mestrado, não dava mais a graduação, o impacto da mediocridade. O grupo continuou
trabalhando com dificuldade, para ser bem avaliado pela CAPES, até que chegou a
286
proposta do doutorado, que já foi aprovado pela CAPES, para o próximo ano. Hoje
estamos em um momento de crescimento e investimento nas Universidades, há uns sete,
oito anos atrás, não havia dentro da faculdade um metro quadrado para se fazer pesquisa,
hoje nos temos dois laboratórios dentro da faculdade fazendo pesquisa de ponta, com
elementos finitos, e tensiometria, com um grupo de professores e alunos consolidado, uma
demanda grande do mestrado, com os alunos de mestrado seguindo para o doutorado,
muitos contratados por universidades publicas de grande porte pelo Brasil, e agora vem o
doutorado para consolidar, e nesse andar a graduação cresceu paralelamente, a graduação
teve mudança de currículo, mudando o perfil do profissional para a área humana e da
promoção de saúde, e os alunos do mestrado sempre orientando alguém da graduação,
então hoje os alunos da graduação envolvidos em pesquisa que nos temos na faculdade de
Odontologia é assustadoramente maior do que 5 6 anos atrás, hoje nós temos alunos que
fazem intercambio com a Europa, EUA, tanto na graduação quanto na pós-graduação, o
que era impensável na Odontologia, agora nos estamos terminando um prédio, o 4L da
Odontologia no Umuarama, colocando o pessoal pra trabalhar mais junto, para dar uma
identidade maior, que é o momento desse crescimento, uma boa graduação reconhecida,
uma pós graduação reconhecida e em expansão, é um momento bom em toda a
Universidade, estamos para receber novos equipamentos de imagem, diagnóstico, coisa de
ponta e na pesquisa eu não estaria faltando com a verdade se eu falar que está sobrando
recurso.
287
Entrevista nº 17
P: Pergunta
R: Resposta
P: Como os alunos na época das primeiras turmas assimilaram a formação do curso
profissional? Era somente profissional técnico, ou agregava valores humanos?
R: O início do curso, em 1970, a formação era uma formação tradicional e elitista, preocupada
com as questões técnicas da odontologia, com escasso conteúdo social e preventivo. A
disciplina de odontologia social e preventiva era ministrada ao final do curso, após toda a
formação tradicional e elitista, para concluir o curso tinha a disciplina social e preventiva,
para que se desse os valores de sociologia, antropologia, e mesmo a questão referente a
questão da odontologia preventiva. Era uma formação extremamente ideológica e
tecnicista, um modelo Maximiliano.
P: Até que ponto a atmosfera política nacional interferiu no processo de criação da faculdade
de Odontologia?
R: Eu acredito que a interferência tenha sido benéfica, naquela época os políticos que tinham
liderança muito grande em Minas Gerais e em Brasília, e contribuíram decisivamente para
a implantação da Autarquia Educacional que criou a Odontologia, Medicina Veterinária e
Educação Física, e, posteriormente, em 1978, com a federalização da Universidade de
Uberlândia, passando para a Universidade Federal de Uberlândia, através do trabalho do
então Ministro da Casa Civil Rondon Pacheco.
P: Até que ponto a criação da faculdade de Odontologia foi atender ao anseio de inserir
Uberlândia no discurso e ordem modernizadora?
R: Além de ter sido uma grande oportunidade para todos aqueles que moravam em
Uberlândia, que tinham que sair de Uberlândia, onde a cidade mais próxima era Uberaba,
dar oportunidade a quem era da cidade é mais que criar a faculdade, foi a mentalidade da
Universidade já trazendo um embrião para que se consolidasse a Universidade de
Uberlândia a e, posteriormente, a Universidade Federal de Uberlândia, eu acredito que com
isso a gente tenha contribuído muito com o desenvolvimento do bloco regional, um
desenvolvimento não só de Uberlândia, mas de toda a região, com a criação inicialmente
de uma faculdade que era da Autarquia Educacional , e tinha uma mensalidade subsidiada,
praticamente 1/3 do valor que se pagava em Uberaba, que era particular, e que
posteriormente a partir de 1978, com a federalização ocorreu a isenção do pagamento das
mensalidades, isso tem contribuído para o desenvolvimento regional de uma forma muito
importante, não só na Odontologia, como na Veterinária e na Educação Física, como
288
R: A imensa maioria foi para o setor privado, pelo menos 80%, 75%, 40% ficaram na cidade,
os demais foram para outros locais, na minha turma quem permaneceu na faculdade fui eu,
Ailton Amado, Wellington, que posteriormente saiu, o Marcos Diniz, que ficou um curto
espaço de tempo e depois foi para a clinica privada, e da minha turma foram esses, e o
Valtecides, que permaneceu na faculdade, da minha turma sou eu e o Ailton.
P: Como foi a consolidação e o desenvolvimento da faculdade de Odontologia da UFU?
R: Eu acredito que isso tenha sido formado por muitos desafios, a gente ao longo desses 41
anos, de 1970 que a faculdade foi criada, e desses quarenta e um anos eu tive a
oportunidade de vivenciar como aluno quatro anos a partir de 1971, posteriormente como
professor, vão completar 37 anos dentro desse processo, dentro de todas essas etapas foi
um desafio muito grande a cada momento, mas para nossa grande satisfação e orgulho nos
vemos que a cada ano com que as dificuldades se apresentavam a faculdade sempre teve
um ritmo crescente em todas suas atividades, quem se formou no semestre passado com
certeza nesse semestre vai ver algo novo e melhor na faculdade, nós estamos agora, no
semestre e ano passado nos tivemos a oportunidade de promover uma melhoria completa
em nossos laboratórios, especialmente os profissionalizantes na área de prótese, prótese e
oclusão, materiais dentários, dentística, ortodontia, laboratório de diagnóstico
estomatológico envolvendo a radiologia, modernizamos todas as clinicas com
equipamentos, e para agora no inicio de 2012 nos deveremos passar para o bloco novo, 4L,
sendo uma nova conquista para a Odontologia da UFU, e nesse período a gente teve a
partir de fevereiro de 2010 o inicio das nossas residências multiprofissionais, nós já temos
residentes na área de urgência e emergência e oncologia, em fevereiro de 2010, em agosto
de 2010 nós inserimos a residência uniprofissional em cirurgia e traumatologia
bucomaxilofacial, nos começamos com um residente um R1 e a partir de fevereiro de 2011
nos conseguimos a ampliação das vagas da bucomaxilo de uma para três, e a residência é
de três anos, as demais residências multiprofissionais são de dois anos, e essa residência é
credenciada pelo MEC e pelo Ministério da Saúde, e agora ao invés de pagar o curso, ele
recebe uma bolsa, em troca de uma de dedicação de 60 horas a instituição, prestando
serviços a comunidade. Em fevereiro de 2011 nos também conseguimos a residência
multiprofissional em pacientes com necessidades especiais, a primeira residência desse
gênero no Brasil, em outubro agora na ultima reunião da CAPES nos tivemos a aprovação
para o nosso doutorado para fevereiro de 2012. Foram muitos desafios vencidos, com
muitas pessoas que pensam coletivamente em busca de transformar aqui em um centro de
excelência em Odontologia, hoje nos temos laboratórios de pesquisa que são de ponta,
entre os dez melhores do país, vamos receber agora equipamentos de última geração na
área de imagem, um tomógrafo odontológico, um processo de completa digitalização de
imagens, então hoje, determinadas coisas se equiparam aos melhores centros odontológicos
do país, mas não só na pesquisa, mas nos serviços prestados a comunidade, nós estamos
entre os principais cursos de Odontologia do país que tem identidade com a comunidade,
com um pronto socorro Odontológico 24 horas, que funciona todos os dias do ano. De
acordo com uma comissão nomeada pelo Ministério da Educação, poucas vezes foi visto
um serviço com a excelência do pronto socorro Odontológico da Universidade Federal de
Uberlândia. Eu acredito que a nossa missão está praticamente se encerrando, outros virão
para dar sequência a esse processo, mas como uma geração que começou e viu crescer essa
faculdade, acredito que aqueles que vão nos suceder poderão alçar voos muitos mais altos,
sendo imprescindível o amor, a dedicação pela nossa instituição.
P: Qual a maior dificuldade como professor, participante ativo da luta pela excelência da
faculdade, na criação da faculdade?
R: Vários foram os desafios, dificilmente terá como colocar um desafio, o primeiro desafio foi
quando a faculdade saiu da Autarquia e se incorporou a Universidade de Uberlândia, ali
290
existiam alguns conceitos que deveriam ser modificados, quando o Dr. Laerte pensou nessa
faculdade foi fruto de toda dedicação dele, ele pensou em algo de uma excelência
equiparada ao melhor que existia no país, como Bauru, Araraquara, a USP, ele pensava em
uma faculdade desse nível, na transição para a Universidade de Uberlândia alguns
conceitos foram mudados, a mudança do perfil do corpo docente, que era eminentemente
importado de outras faculdades, e que isso passasse a ser assumido por pessoas da própria
cidade, isso foi um choque, que ao longo do tempo foram superados, sendo os alunos
qualificados, depois a federalização, o ingresso na UFU, o que melhorou
consideravelmente o financiamento que tinha na faculdade, nós tivemos no inicio,
especialmente na época da Autarquia Educacional, vários professores passaram mais de
seis meses sem receber, e nem por isso nenhum deles deixou de fazer seu compromisso, os
professores vinham de forma e ficavam três, quatro, cinco meses sem receber, na transição
para a UFU, ocorreu uma melhoria salarial considerável, acabou a situação de atrasos
salariais, o que tornou atrativa a profissão de docência, além da questão do amor pela
profissão. Ai tivemos um período dentro de transição dentro da própria UFU na primeira
gestão do professor Gladstone Rodrigues da Cunha, em que houve uma cisão no corpo
docente, então eram alguns professores que estariam dentro de uma proposta extremamente
acadêmica, pensado nessa formação da pesquisa, na formação docente bastante sólida, e
outro grupo em que apoiado pelo reitor da época faziam determinadas atividades que pra
nós era julgadas como atividades meio, e não fim. E esses professores na época ganhavam
mais do que o dobro do que a gente ganhava, houve realmente uma separação, uma clínica
em que determinados professores iam, e outra em que outros professores iam, nessa clinica
onde os outros professores iam, eles eram remunerados de forma diferenciada para a
mesma atividade, a época era permitido, hoje isso jamais poderia ocorrer, isso foi superado
na base da conversa, entendimento, e na mudança e mostrando que a gente queria uma
proposta pedagógica inovadora, mais avançada e tinham coisas que eram muito boas
porque colocava a Odontologia para a prestação de serviços a comunidade, abria os muros
da Odontologia, tinham coisas boas, então através do tempo e do processo começou a ter
uma mescla ali, uma conversa ali, então a partir de 1976 a 1980 que quando o ... Assumiu
o país, mudando o novo conceito tradicionalista pedagógico, as coisas começaram a se
encaixar, a partir dai nos tivemos a condição de desenvolver um projeto com a CAPES, um
projeto inovador, e mais recentemente agora com o pro saúde, a gente sempre participou
dos grandes projetos de inovação de ensino da odontologia do país no CAPES
Abenokellogg (Associação Brasileira de ensino Odontológico, na década de 1980 que o
projeto em julho de 1980 eu participei da elaboração do projeto e da implantação de todo
esse projeto, eu fiz parte da comissão e posteriormente quando houve a proposta de
mudança do perfil profissional que realmente introduzia a questão dos conceitos de
antropologia, sociologia, psicologia aplicada, da odontologia social e preventiva, da
descentralização do atendimento com a criação das unidades didáticas avançadas,
descentralizando o atendimento da Campus Umuarama e iniciando a formação de uma
rede, e mais recentemente nos tivemos a questão do pro saúde, que diferentemente do
primeiro, CAPES Abenokellogg, que era uma iniciativa do do MEC, esse pro saúde, que é
o programa reorientação de formação de recursos humanos para a saúde, que inicialmente
contemplou a Medicina, Odontologia e Enfermagem, nós entramos, o da Enfermagem não
foi aprovado então ficou só Odontologia e Medicina, já no pro saúde 2 agora já tem a
Enfermagem, Educação Física, Fisioterapia, Psicologia, outros cursos, mas no pro saúde 1
basicamente está Odontologia e Medicina, que eu também participei, elaborando
escrevendo todo esse projeto, e com isso nos trouxemos pra cá recursos para o curso de
Odontologia é substancial, nos dois primeiros anos 400 mil reais no primeiro, 400 mil no
segundo, agora já estamos no terceiro ano, já apresentamos a propostas para o terceiro
291
ano, a terceira etapa do pro saúde 1, e agora é uma iniciativa do Ministério da Educação
com o Ministério da Saúde, então ocorre uma integração de formação de recursos
humanos, exatamente para cumprirmos o preceito Constitucional, o artigo 200 da
Constituição Federal diz que caberá ao SUS a ordenação de formação de recursos humanos
para a área da saúde, dentro disso, se cabe ao SUS, tá intimamente relacionado com o
Ministério da Educação, a educação forma pra saúde, profissionais da área saúde, e existia
uma dicotomia/divórcio entre os dois, o projeto em conjunto traz o casamento, reforça,
ainda mais a necessidade de formação pra esse profissional da área da saúde, e as
residências multiprofissionais também em um acordo entre MEC e Ministério da Saúde,
não adianta fazermos residências para atender especificamente até a rede privada, mas ela
deve estar em complementariedade para o individuo saber como o sistema funciona, então
todas essas ações formações de complementariedade que estamos vivenciando, eu sou da
comissão nacional de residência multiprofissional, fui indicado pela associação nacional de
dirigentes de instituições de ensino federal (ANDIFES), então represento a ANDIFES na
comissão, então a gente tem que trabalhar fazendo uma aproximação na formação agora
latu sensu pra que ele seja formado com uma visão especificamente para o SUS, já que
quem financia é o governo, se o governo financia, paga, ele tem que ter profissionais para
resolver problemas da sociedade, e não só de quem está terminando a residência, precisa de
neurologista, precisa, mas o SUS precisa do indivíduo no sistema público, e com essa
mensalidade a gente vê que a cada hora, a cada tempo a gente vence o desafio, a cada
momento um desafio e progressivamente cada um está sendo vencido, e que pra nós trás
muita satisfação ver que estamos sempre em ascensão, e isso você pode com o seu
trabalho, de colaboração muito grande para a historia da Odontologia, conversas com
alunos de vários períodos e que toda vez que voltam aqui nós estamos tendo coisas novas e
boas, coisas que mostram que a gente está ampliando nosso leque de inserção dos nossos
alunos no mercado de trabalho, nós formamos pessoas para melhor Inserção no mercado,
com a formação mais abrangente possível, não uma formação restritiva, em que o aluno vá
pensar em uma especialidade no futuro, mas primeiro a gente quer mostrar pra ele que ele
é um profissional da saúde, em que dentro dessa área ele pode ter uma formação imensa, e
segundo, ele vai ser cirurgião dentista, em que o mercado de trabalho tem uma absorção
gigante, sem esquecer o compromisso com o público, porque nós somos financiados pelo
governo, então nada mais justo que formar o profissional que o público precisa que
independente de ser pobre ou ser rico, ele tem necessidade dessa prestação de serviço, é
dentro dessa visão que a gente tem caminhado.
Entrevista nº 18
P: Pergunta
292
R: Resposta
P: O que levou o Sr. a vir para a UFU em 1992, saindo da USP de Ribeirão Preto?
R: Eu na época dava aula de anatomia, morfologia, mas eu fazia especialidade de endodontia
na época também, e aí eu fiquei sabendo desse concurso que a área de endodontia estava
sendo renovada naquela época, e eu vim conhecer a cidade, a faculdade, e eu percebi que
seria uma oportunidade de entrar na área do meu domínio maior que era endodontia, com a
vantagem de, como havia acontecido uma renovação quase total da disciplina, a gente
tinha uma autonomia pra implantar o que você acha que realmente seria o ideal para a
disciplina.
P: Naquela época, em 1992, quais foram as primeiras impressões sobre a faculdade de
Odontologia, e como era a formação dos alunos, era mais técnica, ou com valores humanos
agregados?
R: Mudou muito daquela época para hoje a universidade como um todo, naquela época não
existia a pós-graduação, strictu sensu da faculdade, isso faz a diferença hoje, não existia
pesquisa naquela época na Odontologia, era estritamente voltado para a graduação, o
professor não tinha uma atividade importante que é a pesquisa, o trabalho de conclusão de
curso também não tinha, e essa foi a maior diferença que eu senti quando vim pra cá, eu
vim de uma universidade onde já se pesquisava, onde já havia pós-graduação, eu fiquei dez
anos aqui ainda pesquisando pela Universidade de São Paulo, que eu fazia parte do corpo
docente da pós-graduação lá, então com a dedicação exclusiva, é importante você ter essa
atividade, você estar voltado para a pesquisa, de 1992 até 2000 eu fiquei ainda vinculado a
pós-graduação da Universidade de São Paulo, e eu senti que não tinha uma necessidade da
pesquisa aqui, não existia essa preocupação, e isso é importante, porque quando você dá
uma aula na graduação, é importante que você tenha uma pesquisa realizada por
professores, pra poder enriquecer toda a informação que você passa para os alunos, o que
acontece hoje. As outras universidades faziam a pesquisa que servia para os alunos, mas
não existia a mentalidade de fazer pesquisa aqui, e hoje os alunos que buscam a pesquisa, a
iniciação científica, mestrado, agora doutorado, o que muda completamente o perfil da
graduação.
P: Com o mestrado e o doutorado foi agregado mais valores humanos, ou ainda continua
muito na teoria essa preocupação com o coletivo?
R: Já mudou, está bem diferente o projeto pedagógico, que também está mais voltado para o
incentivo a pesquisa, o próprio aluno da graduação já favorece, não fica só na parte técnica,
ele busca obter algo mais, envolvendo desde o aluno da graduação, junto com os de
mestrado e agora doutorado eles formam uma equipe, por meio de um projeto grande,
participando de vários planos de trabalho associados, isso é importante, fundamental.
P: Em 1992, como era a atmosfera política da faculdade em relação a cidade de Uberlândia,
ao cenário nacional?
R: Eu acho que naquela época ela estava muito voltada para o grupo mesmo, para o grupinho
dos professores, não existia essa divulgação de trabalho que existe hoje, não tinha uma
produção científica regular, era uma faculdade local mesmo, voltada mais para o
atendimento da população aqui, diferente de hoje, que os trabalhos têm sido publicados em
revista internacional, de qualidade, então hoje acho que Uberlândia no cenário nacional é
uma figura muito importante, a faculdade de Odontologia é respeitada no cenário nacional
e internacional. Hoje eu entendo que de 1992 pra cá houve uma evolução muito grande,
hoje é outra mentalidade, outras formas. Quando eu vim pra cá, a ideia era montar a pós-
graduação o mais rápido possível, só que não tinha ainda a massa crítica de professores
com doutorado, o que dificultou o processo, nós não tínhamos doutores na Odontologia,
então foi necessária essa formação, e eu pude participar desse processo, como eu estava
vinculado a pós-graduação na Universidade de São Paulo, muitos colegas da faculdade eu
293
acabei orientando, fazia pesquisa aqui, mas ele estava matriculado em Ribeirão Preto,
então mesmo eu não tendo a pós graduação aqui, eu podia vivenciar de forma um pouco
isolada, o que não é bom, mas de forma isolada eu fazia pesquisa aqui e eles estavam
matriculados na Universidade de São Paulo, então isso ajudou a formar uma massa crítica
para poder montar o mestrado aqui, o que aconteceu em 2000, o pessoal que fez a pós
graduação em Ribeirão Preto tinha essa facilidade, de acabar fazendo a pesquisa associada
aqui e lá, o que criou a condição pra montar o mestrado aqui mesmo.
P: O Sr. consegue perceber, naquela época, uma diferença do perfil do odontólogo formado
pela USP de Ribeirão Preto, para o odontólogo formado aqui, na primeira turma que o Sr.
acompanhou?
R: O que já existia de diferente é que lá já se fazia pesquisa naquela época, existia
envolvimento de aluno voltado para a pesquisa, o que não existia aqui no volume que
existia lá, isso faz uma diferença muito grande. A graduação, mesmo em 1992, eu percebia
que essa parte era muito bem feita aqui, os professores todos tinham boa formação nessa
época, só que não tem o aspecto que existe hoje, foi um avanço muito grande, não só na
Odontologia, mas na Universidade toda.
P: Como o Sr. viu o projeto pedagógico em 1992?
R: O projeto pedagógico daqui, em 1992, era um projeto pedagógico diferenciado, bem
diferente do que eu estava acostumado em Ribeirão Preto, até certo ponto inovador, mas
como esse novo projeto pedagógico algumas coisas foram aperfeiçoadas da época para
agora, mas houve uma melhora significativa.
P: Para onde foram os alunos formados em 1992?
R: O que me chamava a atenção era que os alunos daqui eram mais de Uberlândia e região,
não sei se eu estou equivocado, mas é a impressão que eu tive, e muitos ficaram em
Uberlândia, para fazer uma especialização, porque na época já tinha a especialização aqui.
P: O Sr. teve alguma dificuldade para poder melhorar a faculdade de Odontologia?
R: O que eu tive foi no programa de pós-graduação, que eu tive a oportunidade de coordenar,
e a pós-graduação é uma equipe, tem que ter uma equipe com todos bem conscientes da
necessidade, então no começo houve uma certa dificuldade, as pesquisas tinham que ser
direcionadas, então o que a gente observava na época é que os professores tinham vontade
de trabalhar nesse sentido, mas não havia uma convergência das linhas de pesquisa, esse
foi o maior problema no início da pós graduação aqui, o que foi melhorando com o passar
do tempo, essa conscientização dos professores demorou um pouquinho, mas aconteceu, a
pós graduação hoje, as pesquisas têm que convergir para as linhas de pesquisa do projeto,
então o que existia na época era que o professor produzia, mas escapava um pouco
daquelas linhas, voltadas para o projeto, e não tinha como justificar isso nos relatórios, a
necessidade da plataforma Lattes, do currículo também era uma coisa que não era
corriqueira na época, mas era necessário, então os lançamentos da produção eram feitos,
mas não havia uma padronização, então a pessoa tinha uma publicação com um colega,
mas lançava de formas diferentes o projeto, e quando eles fechavam o relatório, era uma
dificuldade muito grande, corrigir tudo manualmente, mas foi melhorando, hoje está bem
mais fácil, não só na faculdade, como a nível da pro reitoria, que já tem uma diretriz de
como fazer as coisas.
P: Como está o desenvolvimento e consolidação da faculdade de Odontologia, desde 1992 até
hoje?
R: Eu acho o seguinte, as escolas mais tradicionais, a USP, a UNESP, esse processo de
implementação de pós-graduação strictu sensu tiveram um tempo maior pra consolidação
desse projeto, não existia uma exigência tão grande da CAPES, então eles tiveram tempo
de consolidar de uma maneira mais “homeopática” e em 2000, 2001, quando começou o
programa aqui, a exigência já era alta, então nós éramos cobrados como era a USP e a
294
UNESP, só que eles tiveram um tempo maior pra isso, então nós começamos a “corrida
sem aquecimento”, e isso dificultou um pouco, e agora a cobrança está cada vez maior, eu
diria que a gente tem que pensar a médio e longo prazo na renovação do docente, e se
existe uma geração que está aposentando, tem que ter outra para continuar, então eu acho
que o futuro da pós-graduação da Odontologia, está voltado para essa geração nova que
está surgindo, que acabou sendo preparada aqui mesmo no programa, que é bem
promissora, então no aproveitamento desse pessoal que eu acho que o futuro está
garantido, a renovação é importante.
P: O Sr. se sente satisfeito de ter saído de Ribeirão Preto e ter vindo para Uberlândia?
R: A cidade me agradou muito, quando saí de Ribeirão Preto eu fiquei dois anos sem me
desligar totalmente de lá, se não desse certo aqui, eu poderia voltar pra lá, e nesse período
que ainda não tinha pós-graduação strictu sensu aqui, pra mim, como eu acabei ficando
vinculado ao programa lá, de certa forma eu ainda me sentia engajado lá, na Universidade
de São Paulo, pesquisando nesse período, como montou o curso aqui, as coisas
aconteceram rapidamente, os laboratórios foram montados, e as pesquisas aconteceram
naturalmente, hoje, no final, eu já tenho até tempo para aposentar, hoje se eu fizer uma
retrospectiva, eu acho que me senti mais útil aqui do que eu seria lá, eu acho que eu vim
em uma época que eu pude ajudar mais do que se eu ficasse lá, eles tinha uma equipe mais
preparada lá, a minha saída de lá não foi prejudicial pra escola, e a minha vinda pra cá eu
pude trazer uma coisa a mais de lá, que de certa forma foi útil pra faculdade, e a autonomia
que eu tive aqui também me fez muito bem, a possibilidade de você ensinar aquilo que
você acha que é o certo, mesmo tendo a chance de errar e corrigir, essa autonomia é
fundamental. A minha família veio na época, eu tenho um filho que nasceu aqui, minha
filha veio pequenininha, a minha esposa também é professora universitária, na época ela
estava vinculada também a prefeitura da cidade, a Universidade de São Paulo, mas nós
achamos que valeria a pena vir pra cá. Hoje, ela é professora aqui na Universidade, mas
isso demorou nove anos pra vir pra cá, nesse tempo ela prestou concurso na UFTM em
Uberaba, então ela dava aula lá, então ficou um período viajando, mas a residência nós
fixamos aqui em Uberlândia, meus familiares e irmãos estão todos em Ribeirão.
295
19- Fausto Borges Campos Estágio: Cirurgia Buço- Professor titular UFU/MG,
maxilo-facial Consultório Particular
IES:.USP/SP-1976-1977
Especialização:
Metodologia do ensino
superior Universidade
Estadual de Londrina/PR-
1981
Especialização: Cirurgia e
traumatologia buço-
maxilo-facial pela
Universidade Federal de
Pelotas – RS-1982
20- Ione Rodrigues Vieira
21- João Vieira da Costa Neto
22- Jorge Cunha
23- José Antônio Lobato Consultório Particular
UDI/MG
24- José Rubens Bernardes
Coelho
25- José Vanderlei de Almeida Especialização: Professor Titular UFU/MG
Metodologia do ensino Consultório Particular
superior IES:. PUC/MG – UDI/MG
BH/MG-1979
Especialização: Prótese
Dental UFU/MG 1985
Mestrado em Dentística
Restauradora USP/
BAURU 1984
Doutorado em Dentística
Restauradora USP/
BAURU-1991
26- Lourdes Maria de Sousa Especialização: Consultório Particular
Endodontia IES:. UDI/MG
Policlínica do Rio de
Janeiro
27- Luis Umberto de Oliveira Mestrado: Diagnóstico UFU/ UDI/MG
Oral Professor Titular
IES:. USP/ BAURU/SP Vice-Chefe do departamento
1981 de Odontologia Social e
preventiva 1980/1981
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81
Edna Marques graduou-se também em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia.
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