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Ensinar Historia - Politicas e Historia
Ensinar Historia - Politicas e Historia
Ensinar Historia - Politicas e Historia
ENSINAR HISTÓRIA:
POLÍTICAS EDUCACIONAIS E
HISTÓRIA DO ENSINO
Reitor
Mario Sérgio Alves Carneiro
Chefe de Gabinete
Bruno Redondo
Direção
Pró-reitora de Extensão e Cultura
Cláudia Gonçalves de Lima
Produção
Obra produzida e vinculada pelo Projeto Orientalismo,
Proj. Extens. UERJ Reg. 6078, coordenado pelo Prof.
André Bueno [História] em associação com as Edições
Especiais Sobre Ontens.
Rede
www.revistasobreontens.blogspot.com
Organização do Volume
Ficha Catalográfica
2
Sumário
APRESENTAÇÃO......................................................................................................................... 5
POLÍTICAS EDUCACIONAIS ....................................................................................................... 6
A SEMANA DO AUTISMO 2022 COMO PROCESSO DE LUTA POR VISIBILIDADE EM PROL DE
POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA PESSOAS AUTISTAS por Ana Carolina Tibúrcio e Alessandra
Bertasi Nascimento ................................................................................................................... 7
CURRÍCULO, ENSINO DE HISTÓRIA E LIVRO DIDÁTICO por Elizete Gomes Coelho dos Santos
................................................................................................................................................. 15
HISTÓRIA LOCAL NOS CONCURSOS PÚBLICOS: UMA ANÁLISE DAS LEGISLAÇÕES QUE
INSTITUEM O LOCALISMO COMO AVALIAÇÃO por Gabriel Costa de Souza ........................... 24
A ESCRITA DA HISTÓRIA ANTIGA ESCOLAR NA ‘ERA DA BASE’: DOS PCNS À BNCC: ESTUDOS
INTRODUTÓRIOS por José Petrúcio de Farias Júnior .............................................................. 33
O COMPONENTE CURRICULAR PROJETO DE VIDA E AS VIDAS EM PROJEÇÃO por Susanna
Fernandes Lima ....................................................................................................................... 41
ESCOLA PROFISSIONALIZANTE DE TEMPO INTEGRAL: QUE POLÍTICA EDUCACIONAL É ESSA?
por Vanderlene de Farias Lima................................................................................................ 49
HISTÓRIA DO ENSINO ............................................................................................................. 58
“A ESCOLA CATÓLICA”: A PEDAGOGIA RELIGIOSA COMO PILAR DO PODER ECLESIÁSTICO DA
PARAÍBA por Alexandro dos Santos e Ronyone de Araújo Jeronimo ..................................... 59
OS PRIMEIROS MOMENTOS DA EDUCAÇÃO PARA A INFÂNCIA NA REGIÃO NORTE DO
ESTADO DO PARANÁ POR MEIO DE FOTOGRAFIAS por Cláudia Sena Lioti ............................ 65
ESTUDOS AMAZÔNICOS: HISTÓRIA, MEMÓRIA E POLÍTICA EDUCACIONAL NO ESTADO DO
PARÁ por Davison Rocha-Alves ............................................................................................... 72
O ENSINO A SERVIÇO DA REPRODUÇÃO DOS VALORES CONSAGRADOS PELOS GRUPOS
SOCIAIS DOMINANTES: DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS MODELOS EDUCACIONAIS ADOTADOS
NO BRASIL E EM PERNAMBUCO ATÉ O SÉCULO XIX por Eduardo Augusto de Santana ......... 79
O MUNDO EM DEBATE: REFLEXÕES SOBRE A VIDA E HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA por
Eduardo Silveira Netto Nunes ................................................................................................. 89
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PERÍODO IMPERIAL ENTRE 1822 E 1889 por
Francielcio Silva da Costa ...................................................................................................... 101
O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA NO PROJETO EDUCACIONAL DA COLÔMBIA DE LA
REGENERACIÓN (SÉCULO XIX) por Giovana Eloá Mantovani Mulza ..................................... 109
EDUCAÇÃO FEMININA NA COREIA DO SUL: BREVE HISTÓRICO por Leonardo Paiva Monte e
Lilian Bento de Souza Silva .................................................................................................... 117
“QUE EXPURGUE DOS DOMÍNIOS DA INCERTEZA FACTOS HISTÓRICOS”: ISABEL GONDIM E O
ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL (1892-1909) por Ane Luíse Silva M. Santos e Magno F. de
Jesus Santos .......................................................................................................................... 123
3
A SUBALTERNIZAÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO NAS REFORMAS EDUCACIONAIS
(1960-70): DIÁLOGOS COM A MEMÓRIA por Sandra Regina Mendes e Lívia Diana Rocha
Magalhães ............................................................................................................................. 130
EDUCAÇÃO E TRABALHO: O SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL (SENAI) E A
FORMAÇÃO DE UMA POLÍTICA EDUCACIONAL PARA O TRABALHADOR por Aruanã Antonio
dos Passos e Willian Roberto Vicentini ................................................................................. 136
“PROGRESSO COM ORDEM” – A HISTÓRIA ENSINADA NO ESTADO NOVO por Willian
Spengler................................................................................................................................. 144
4
APRESENTAÇÃO
A proposta de Ensinar História: Políticas Educacionais e História do Ensino
consiste em analisar e dialogar sobre as trajetórias políticas, culturais e teóricas
da História das práticas educacionais e das políticas públicas para Educação.
Os programas educacionais estiveram intimamente ligados aos projetos
políticos, reproduzindo ideias e agendas culturais e institucionais, e
constituindo um espaço de disputa social, envolvendo governos, intelectuais e
movimentos intelectuais.
Nosso livro pretende, pois, trazer um panorama atualizado sobre várias dessas
questões: desejamos um bom estudo!
5
POLÍTICAS EDUCACIONAIS
6
A SEMANA DO AUTISMO 2022 COMO PROCESSO DE
LUTA POR VISIBILIDADE EM PROL DE POLÍTICAS
EDUCACIONAIS PARA PESSOAS AUTISTAS
Ana Carolina Tibúrcio e Alessandra Bertasi Nascimento
Caracterizado por uma condição de desenvolvimento acentuadamente atípica
comparada a outras pessoas da mesma faixa etária e nível de experiências, o
autismo apresenta prejuízo nas interações sociais, modalidades de
comunicação e no comportamento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION
[APA], 2013). Denomina-se espectro por se expressar de modos distintos nas
pessoas, inclusive em diferentes graus, utilizados para nortear a intensidade de
apoio em prol do desenvolvimento e qualidade de vida. Por isso, o autismo
apresenta expressões únicas nas diferentes pessoas.
7
A LDB (BRASIL, 1996), reiterou e aperfeiçoou a modalidade de ensino
denominada Educação Especial, para atender alunos(as) com deficiência, altas
habilidades/superdotação e transtornos globais do desenvolvimento,
assegurando no Art. 59, entre outras especificidades, currículos, métodos,
técnicas, organização e terminalidade específicas, professores especializados
e capacitados.
8
Os obstáculos enfrentados por familiares de pessoas autistas no município de
Nova Andradina - MS foram percebidos durante o desenvolvimento de um
projeto de extensão prévio, intitulado Pessoa Autista e familiares: eu apoio
(NASCIMENTO, 2020), efetivado por meio das rodas de conversa virtuais,
durante o período de isolamento social em decorrência da pandemia da
COVID-19. Participaram do projeto discentes do Curso de Licenciatura em
História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Matemática
da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), pais e familiares de
pessoas autistas. Entre os obstáculos relatados estavam as dificuldades no
acesso a escolas e práticas inclusivas, diagnóstico precoce do quadro,
atendimento multiprofissional e interdisciplinar, acesso a espaços de lazer
adaptados, discriminação, preconceito e comércio despreparado para atender
à clientela, respeitando seus direitos.
9
também empresária local, mobilizou a Associação Empresarial de Nova
Andradina (ACINA), a qual convocou a participação de segmentos da
sociedade local engajados na causa da pessoa com deficiência, tais como: o
Centro de Referência em Reabilitação (CRR) e Associação dos Pais e Amigos
dos Excepcionais (APAE), 8º Batalhão da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros
do município.
10
Pimenta Bueno - RO, a partir de contato realizado pela escola ao se deparar
com a divulgação das ações no Facebook.
11
As atividades também favoreceram a aproximação de munícipes em busca de
orientações para diagnóstico, encaminhamentos, dúvidas sobre caracterização
e formas de melhor lidar com comportamentos diários de pessoas autistas com
diagnóstico e/ou hipótese diagnóstica.
Referências biográficas
Dra. Alessandra Bertasi Nascimento, professora adjunta da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul.
Ana Carolina Alves Tibúrcio, acadêmica do curso de Licenciatura em História
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Referências bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - DSM-5 Autism Spectrum Disorder
Fact Sheet. American Psychiatric Publishing, 2013. Disponível em:
12
http://www.dsm5.org/Documents/Autism%20Spectrum%20Disorder%20Fact%2
0Sheet.pdf.
13
todo-lugar/#:~:text=%E2%80%9CLugar%20de%20autista%20%C3%A9%20
em,lutam%20pela%20causa%20do%20autismo. Acesso em: 15 jul. 2022.
14
CURRÍCULO, ENSINO DE HISTÓRIA E LIVRO DIDÁTICO
Elizete Gomes Coelho dos Santos
15
marcadamente de teorizações americanas e seguidamente, incorporou
influições de vertentes marxistas. Nos anos 1990, por conta do enfoque
sociológico, que permitiu compreendê-lo como espaço de relações de poder,
as discussões centrais passam a colocar foco na dimensão política das
relações entre currículo e conhecimento, permeadas por teorizações críticas e
pós-críticas (LOPES; MACEDO, 2010, p. 47).
16
aula (LOPES, 2006, p. 45). Ressaltado por Macedo como espaço-tempo de
fronteira cultural onde se articulam conhecimentos da prática pedagógica, da
disciplina ensinada e da sua referência acadêmica, o currículo se constitui por
intermédio de lutas políticas e culturais. Políticas de currículo, de acordo com
Lopes (2006, p. 39), reportam-se à elaboração de plurais contextos produzindo
constantemente originais sentidos e significados para as deliberações
curriculares nas escolas. E essas podem estar inseridas não apenas em textos
de livros didáticos, mas ainda em muitos contextos específicos. No âmbito do
ensino de História, segundo Ana Maria Monteiro (2015, p. 166), em diálogo
com produções de Yves Chevallard, Carmen Gabriel e Fernando Penna, o
conhecimento disciplinarizado é constituído em um “lugar de fronteira onde
acontecem as mediações didáticas e culturais” (MONTEIRO, 2015, p. 167), que
mobilizam saberes docentes e discentes.
Enfatizo que Currículo pode ser entendido como um campo intelectual produtor
de teorias, capaz de influenciar não apenas propostas curriculares oficiais, mas
também práticas pedagógicas nas escolas (LOPES; MACEDO, 2010, p.18),
como as que permeiam questões em torno de livros didáticos. Uma vez que
estes são problematizados sem se considerar questões próprias do currículo,
tende-se a leitura unívoca da busca pela obra didática ideal e a crença de que
apenas esta é capaz de sanar todos os problemas que a escola e os
professores enfrentam no cotidiano. A referida interpretação corrobora para
que as políticas de avaliação do livro didático sozinhas sejam vistas como
garantia mor da qualidade do que está sendo proposto, o que ausenta uma
análise multidimensional (LOPES, 2006, p. 48).
17
junto ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, desempenhava papel de
legitimação do então Estado Nacional imperial, ambos influenciaram na
construção de uma determinada concepção de História (MAGALHÃES, 2003,
p. 169). A respectiva disciplina alterou-se no tempo, como constata Circe
Bittencourt (1993) ao estudar os programas desta instituição de 1837 a 1907,
indicando que em 1862, ocorreu a separação entre História e Geografia.
18
1971, por conta da Lei 5.692, de 11 de agosto, o ensino fundamental passou
ser estruturado em oito anos de forma seriada e o 2° grau voltou-se para uma
formação marcadamente profissionalizante (MARTINS, 2014, p. 42). A
Fundação Nacional do Material Escolar, em 1976, assumiu a execução destes
programas e após sete anos, a Fundação de Assistência ao Estudante
incorporou o PLIDEF (BEZERRA, 2017, p. 69).
PNLD
O PNLD, por incitar debates, críticas e pesquisas que evidenciam não só a
relevância econômica para um amplo setor relacionado à produção de livros,
que movimenta capitais interno e externo, bem como pela função que a
literatura escolar exerce na vida cultural e social (GASPARELLO, 2013, p. 21),
exprime-se tal e qual política curricular, uma vez que tem sido responsável
também pela seleção e formação de saberes e valores (MONTEIRO, 2013, p.
211).
19
obras que não atendem aos critérios estabelecidos, estão excluídos do
programa, que atualmente é executado em ciclos trienais, de forma a alternar
segmentos da educação básica, incluindo a modalidade de educação de jovens
e adultos.
Pela primeira vez, a educação infantil passou a ser incluída neste programa
nacional, apesar de não haver indicativo de acréscimo de investimento
financeiro. Além de escolas públicas, o novo decreto prevê o atendimento de
instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos,
conveniadas ao poder público e, a avaliação e disponibilização de obras
didáticas e literárias, de uso individual ou coletivo, acervos para bibliotecas,
obras pedagógicas, softwares e jogos educacionais, materiais de reforço, de
correção de fluxo, de formação e destinados à gestão escolar, entre outros de
20
apoio à prática educativa, adquiridos pelo Estado por meio de oito etapas, que
passam a funcionar em ciclos de quatro anos e não mais, de forma trienal:
inscrição, avaliação pedagógica, habilitação, escolha, negociação, aquisição,
distribuição e monitoramento e, avaliação. Acerca da escolha dos materiais
didáticos pelas instituições escolares, o responsável pela rede de ensino
poderá realizá-la, cuja adoção será única para cada escola ou para cada grupo
de escolas ou ainda, para todas as escolas de uma mesma rede.
Referências biográficas
Elizete Gomes Coelho dos Santos, professora da Secretaria de Estado de
Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ). Mestre em Ensino de História
(PROFHISTÓRIA/UFRJ).
Referências bibliográficas
BEZERRA, Holien Gonçalves. O PNLD de história: momentos iniciais”. In:
MAGALHÃES, Marcelo de Souza. REZNIK, Luis. ROCHA, Helenice (orgs.).
Livros didáticos de história: entre políticas e narrativas. Rio de Janeiro: FGV,
2017.
21
GASPARELLO, Arlette Medeiros. “Livro didático e história do ensino de
história: caminhos de pesquisa”. In: GALZERANI, Maria Carolina Bovério.
BUENO, João Batista Gonçalves JÚNIOR, Arnaldo Pinto (orgs.). Paisagens da
Pesquisa Contemporânea sobre o Livro Didático de História. Jundiaí: Paco
Editorial; Campinas: Centro de Memória/Unicamp, 2013.
LUCA, Tânia Regina de. MIRANDA, Sonia Regina. “O livro didático de história
hoje: um panorama a partir do PNLD”. In: Revista Brasileira de História. São
Paulo, v. 24, n. º48, 2004. p. 123-144, 2004.
22
MONTEIRO, Ana Maria. “Aulas de História: questões do/no tempo presente”.
In: Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 58, p. 165-182, out./dez. 2015.
SILVA, Marcelo Soares Pereira da. “O livro didático como política pública:
perspectivas históricas”. In: MAGALHÃES, Marcelo de Souza. REZNIK, Luis.
ROCHA, Helenice (orgs.). Livros didáticos de história: entre políticas e
narrativas. Rio de Janeiro: FGV, 2017.
23
HISTÓRIA LOCAL NOS CONCURSOS PÚBLICOS: UMA
ANÁLISE DAS LEGISLAÇÕES QUE INSTITUEM O
LOCALISMO COMO AVALIAÇÃO
Gabriel Costa de Souza
Ao realizar uma análise das legislações estaduais que tratam da História Local
em concursos públicos identificamos duas normativas, especificamente nos
estados de Rondônia e do Paraná, que se estruturam na obrigatoriedade do
24
localismo e do regionalismo nos processos seletivos e concursos públicos.
Essas determinações temáticas possuem padrões técnicos e metodológicos
que nos tensionam a refletir sobre a História Local como mecanismo de
avaliação, bem como possibilita uma análise sobre o processo de normatização
legislativa dessa temática. A legislação do estado de Rondônia sintetiza esse
modelo:
A cronologia dos grandes fatos – que tem o poder político como base –
produzida pelos memoráveis indivíduos – essencialmente homens – em prol de
determinado território – inerte e sem relações com outros territórios – não
apresenta caráter técnico, historiográfico e, sobretudo pedagógico.
Compreendendo essa relação, nenhuma legislação pode determinar a História
Local a partir de fundamentos generalizantes e meramente burocráticos,
ignorando a complexidade da temática na formação conceitual e em seu
processo de ensino e avaliação.
25
“Os conteúdos históricos escolares podem ser variados e não necessitam de
uma programação estabelecida externamente, mas é preciso ter critérios que
fundamentem sua escolha. A coerência de uma opção de conteúdos ocorre
pela concepção de história que, por sua vez, fundamenta os conceitos. Estes,
juntamente com as informações e narrativas, constituem o conteúdo histórico
escolar”. (BITTENCOURT, 2008, p.172).
“Art. 1º. Fica exigido dos candidatos, no processo seletivo para ingresso em
cursos de educação superior de instituições de ensino superior no Estado do
Paraná, conhecimento sobre história, geografia e atualidades do Estado do
Paraná, nas disciplinas de história e geografia. Parágrafo único. As questões
sobre história e geografia do Paraná deverão representar pelo menos 20%
(vinte por cento) em cada área de conhecimento especificado nesta lei”.
(PARANÁ, 2008, p.1).
26
01) A desapropriação de terras em favor da Brazil Railway Company, empresa
norte-americana responsável pela construção de uma ferrovia que cortava o sul
do país, na região em litígio ampliou o clima de tensão entre latifundiários,
camponeses e o governo republicano.
02) Um dos principais resultados sociais da Guerra foi o processo de divisão da
terra ocorrido ao final do conflito. Exceção no Brasil daquela época, a reforma
agrária foi fundamental para a pacificação definitiva da região do Contestado.
04) As serrarias, instaladas nas terras do conflito, tiveram um importante papel
na pacificação da região do Contestado. Além de ativar a economia, essas
unidades ofertavam emprego aos camponeses, contribuindo para a
estabilidade social.
08) Elementos próprios a uma religiosidade popular, como a presença de
monges e uma crença messiânica, fazem parte do contexto sociocultural no
qual se desenvolveu a Guerra do Contestado.
16) Do ponto de vista político, o Paraná foi o grande vencedor do conflito. A
maior parte das terras disputadas com Santa Catarina acabaram ficando
legalmente sob o domínio paranaense”. (UEPG, 2012, p.8).
27
“QUESTÃO 29
Sobre a História do Paraná, é INCORRETO afirmar que:
a) No século XIX o governo da Província do Paraná estimulou e promoveu o
processo de colonização, destacando-se diversas colônias criadas nas
proximidades de Curitiba;
b) Os caminhos que ligavam os centros criadores de gado do Rio Grande do
Sul ao mercado pecuário de São Paulo, nos séculos XVIII e XIX, contribuíram
para o surgimento de inúmeros núcleos populacionais no Paraná;
c) A modernização da agricultura, iniciada no Paraná na década de 1960,
solucionou o problema da emigração e do êxodo rural no Estado,
caracterizando-se, atualmente, como uma estrutura agrária
predominantemente de pequena propriedade;
d) A descoberta do ouro na região de Paranaguá contribuiu para a
intensificação do povoamento no litoral paranaense;
e) As terras do Norte do Paraná, com a introdução da cultura cafeeira, foram
efetivamente colonizadas a partir da iniciativa de empresas colonizadoras
privadas”. (UNESPAR, 2015, p.11).
28
Ao observar esse fragmento da prova podemos entender o deslocamento
estrutural da História Local, fundamentada na multiterritorialidade e na
observação crítica dos fatos históricos, com o recorte geográfico local que
prioriza informações sem significado pedagógico e avaliativo. Essa avaliação
de Rondônia evidencia a instrumentalização do território como um mecanismo
de memorização de fatos isolados sem nenhum fundamento, ou seja, o objetivo
da questão é uma mera resposta gravada nas repetições de dados, sem
reflexão histórica e, sobretudo, sem a correlação com outros aspectos do
aprendizado do participante do concurso. Segundo o professor-pesquisador
Luis Carlos Silva, a História Local não deve:
“[...] ser concebida como uma vertente historiográfica estanque, ela necessita
como qualquer outra concepção de uma possibilidade interdisciplinar, a
exemplo da contribuição da Geografia, Sociologia e Antropologia, bem como,
não podemos abordar [...] temas relacionados ao local ou a região, sem
estabelecer relação com uma noção macro em que esses temas estão
inseridos, porém resguardando as suas devidas especificidades”. (SILVA,
2013, p. 9).
29
É imprescindível, dessa maneira, discutir a efetividade da História Local como
mero mecanismo de avaliação em processos seletivos. A temática exige
tempo, debates conceituais e correlações histórico-geográficas que os
concursos públicos, sobretudo os estaduais, não possuem. Nesse ambiente, o
localismo se resume a perguntas relacionadas a temporalidade, espacialidade
e, sobretudo, generalidades para cumprir porcentagens mínimas sem valor
pedagógico e sem significado histórico. O artigo A História Regional: desafios
para o ensino e a aprendizagem destaca os efeitos desse modelo:
Referências biográficas
Gabriel Costa de Souza, Mestrando em Educação (PPGEDUC/UFRRJ).
Licenciado em História (ICHS/UFRRJ).
30
Referências bibliográficas
BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São
Paulo: Cortez, 2008.
31
<https://cps.uepg.br/vestibular/provas/inverno_2012/provas.zip>. Acesso em:
28 de março de 2021.
32
A ESCRITA DA HISTÓRIA ANTIGA ESCOLAR NA ‘ERA DA
BASE’: DOS PCNS À BNCC: ESTUDOS INTRODUTÓRIOS
José Petrúcio de Farias Júnior
Nas últimas décadas, o livro didático (LDs) tem sido objeto de estudo de muitos
pesquisadores da área das ciências humanas. Ao contrário do que muitos
pensam, as investigações que concebem o livro didático como fonte histórica
são tão complexas quanto qualquer outro gênero discursivo. Primeiro, porque a
narrativa histórica escolar presente nos LDs não resulta de um autor único,
trata-se de uma produção coletiva (BARNABÉ, 2014), na qual intervém editor,
diretor editorial, diretor de operações, diagramador, coordenador de produção e
de arte, equipe gráfica, equipes responsáveis pelo tratamento das imagens,
cartografia, ilustrações, entre outros, de tal forma que, muitas vezes, não é
possível identificar a ação de cada um no produto final.
33
Básica (SAEB), e da elaboração de critérios para aprovação de livros
escolares, via Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD),
órgão que publica editais para avaliação de LDs em consonância com os
currículos oficiais/prescritos aprovados.
34
que tais expressões estejam textualmente presentes no documento oficial, tal
como nos explica Mônica Ribeiro Silva:
“O projeto formativo proposto na BNCC e nos textos dos anos 1990 alude a
uma formação para a autonomia e ao respeito à diversidade cultural,
prescreve, porém, a adequação da formação humana a restritivos imperativos
de formação para a adaptação. Evidencia-se um tratamento formal das
“diferenças”, ao mesmo tempo em que se persegue a padronização e
integração [...] A prescrição de competências também visa ao controle – das
experiências dos indivíduos e das experiências das escolas – viabilizado pela
imposição do discurso e pelas estratégias de avaliação que buscam conhecer
mais o produto e menos o processo que o gerou” (SILVA, 2018, p. 11).
35
história cultural e a história social) estão em curso e contribuíam para integrar
diferentes temas, fontes e linguagens à História Antiga ensinada.
36
de governo (democracia e república), das religiões monoteístas, como o
judaísmo e o cristianismo, entre outros. O estudo das ‘origens’ leva-nos a uma
discussão movediça, frágil, sujeita a equívocos de documentação e datação.
Convém que o estudo do passado seja motivado por inquietações e
indagações provenientes de nosso campo de experiências político-culturais,
por meio das quais construímos ‘problemas’ de investigação que nos instigam
a construir conhecimentos históricos, o que difere de um estudo pautado
meramente nas ‘origens’, em geral, utilizado para veicular curiosidades sobre a
Antiguidade ou justificar reminiscências do passado no mundo contemporâneo.
O estudo das ‘origens’ também nos conduz a uma abordagem histórica linear e
teleológica que nos posiciona como herdeiros do mundo antigo. Em outras
palavras, a História Antiga, concebida nestes termos, ocidentaliza-nos, isto é,
insere-nos numa linha do tempo que nos torna herdeiros da Grécia, de Roma e
da cultura judaico-cristã, de tal forma que passamos a nos ver como ocidentais;
assim Grécia e Roma parecem-nos mais próximos que as Histórias de outras
sociedades antigas, tais como China, Índia e sociedades nilóticas da África
Central e do Sul, por isso asseveramos que a construção da chamada
‘identidade cultural ocidental’ fora, em grande medida, forjada por um discurso
que nos vinculava à chamada “herança clássica” (FARIAS JUNIOR, 2020). A
despeito das críticas da Academia a esta historiografia, tais perspectivas
interpretativas ainda sobrevivem na história escolar.
37
poder que subjazem tais discursos é o caminho para a formação de um
cidadão crítico, autônomo e participativo no meio social em que vive.
A despeito dos esforços da equipe por trás da elaboração dos LDs de História
e da importante atuação de controle e avaliação da comissão de docentes
atuantes junto ao PNLD, muitos manuais ainda perpetuam uma metodologia de
ensino que pressupõe uma atitude meramente receptiva e passiva do
estudante frente ao conhecimento histórico. Percebe-se, por exemplo, o
predomínio de atividades ou exercícios propostos, em geral, no final dos
capítulos ou das unidades temáticas que visam à memorização ou à
reprodução da narrativa escolar por meio de questões que estimulam o aluno
apenas a localizar e transcrever informações históricas já mencionadas no
corpo do texto.
38
É muito comum, por exemplo, narrativas históricas escolares que veiculam às
audiências o nascimento de Roma com a monarquia, cerca de 750 a.C, seu
crescimento pelos séculos da República (509-31 a.C), a maturidade no
chamado Alto Império (31 a.C- 235 d.C), suas crises de meia idade, no que
muitos denominam de ‘crise do terceiro século’, ‘anarquia militar’ ou ainda
‘período dos imperadores-soldados’ (235-284) e, por fim, a velhice entre 235 e
476, momento em que o Império Romano teria sido morto ou assassinado
pelos ‘bárbaros’ e, após Roma, haveria um outro nascimento: o período
Medieval, no qual o ciclo se reiniciaria: Alta Idade Média (410/476 – 1000),
Idade Média Central (1000-1300) e Baixa Idade Média (1300-1453).
Para Carlan e Funari (2016, p. 24), essa concepção de História propaga a ideia
de ruptura - acontecimentos que atuam como ‘divisor de águas’ entre
momentos históricos, concebidos de forma teleológica e linear. Críticos da
história tradicional, reconhecem que as sociedades nunca morrem, apenas
estão em constante processo de transformação. Somos nós, seres vivos, que
nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos, o que não se aplica,
portanto, ao estudo das sociedades.
Dito de outro modo, as teorias sociais têm nos mostrado que cada presente
resulta de uma complexa rede de experiências interculturais caracterizadas por
mudanças e permanências. Assim como nós, no presente, os antigos também
conferiam, a partir de demandas sociais emergentes, novas roupagens a seus
constructos identitários, a seus mitos de origem ou ‘tradições’, nos termos em
que Hobsbawn e Ranger pensaram a ‘tradição inventada’ (1992, p. 01).
Referências biográficas
Prof. Dr. José Petrúcio de Farias Junior. Professor de História Antiga e
Medieval da Universidade Federal do Piauí, campus de Picos.
Referências bibliográficas
BARNABÉ, Luis Ernesto. De olho no presente: história antiga e livros didáticos
no século XXI. Opsis, Catalão-GO, v. 14, n.2, p. 114-132, jul/dez. 2014.
39
FARIAS JUNIOR, José Petrúcio. História Antiga: trajetórias, abordagens e
metodologias de ensino. Uberlândia: Navegando, 2020.
40
O COMPONENTE CURRICULAR PROJETO DE VIDA E AS
VIDAS EM PROJEÇÃO
Susanna Fernandes Lima
41
aprendizagens essenciais” (BNCC, 2018, p. 7) aos/às estudantes
brasileiros/as, o documento normativo estabelece 10 competências gerais, “que
consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e
desenvolvimento” dos/das estudantes (BNCC, 2018, p. 8).
42
[dos/as] jovens em relação ao seu futuro, como também com a continuidade
dos estudos no Ensino Médio” (BNCC, 2018, p. 62. Grifo nosso).
Outro ponto fundamental, que serve como base para este início de reflexões, é
entender como, na letra do documento normativo, o Projeto de Vida deve
funcionar. Antes, porém, de enunciar essa etapa, é importante compreender
como a Base entende o Ensino Médio. Um movimento essencial é o de
perceber que BNCC pretende operar com o conceito de “juventudes”, como
mencionado acima, por um lado “não [caracterizando] o público dessa etapa –
constituído predominantemente por adolescentes e jovens – como um grupo
homogêneo, nem conceber a “juventude” como mero rito de passagem da
infância à maturidade” (BNCC, 2018, p. 462. Grifo nosso.).
Por outro, assinala que “Adotar essa noção ampliada e plural de juventudes
significa, portanto, entender as culturas juvenis em sua singularidade. Significa
não apenas compreendê-las como diversas e dinâmicas, como também
reconhecer os jovens como participantes ativos das sociedades nas quais
estão inseridos, sociedades essas também tão dinâmicas e diversas. (BNCC,
2018, p. 463)
Nesse sentido, uma escola que acolhe juventudes, segundo a BNCC, precisa
se comprometer com a educação integral de seus/suas estudantes, e com a
construção de seus Projetos de Vida. A partir daí, o encaminhamento do
documento é o de repensar o contexto do Ensino Médio no mundo
contemporâneo, propondo, numa releitura das finalidades desta etapa proposta
pelo artigo 35 da Lei de Diretrizes e Bases, de 20 de dezembro de 1996, novas
metas, que se organizam nos seguintes eixos:
43
Mediante esses eixos, e suas metas recontextualizadas, além de “garantir a
consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino
Fundamental” (BNCC, 2018, p. 464), o documento afirma ser “[...] imperativo
repensar a organização curricular vigente para essa etapa da Educação Básica
[o Ensino Médio], que apresenta excesso de componentes curriculares e
abordagens pedagógicas distantes das culturas juvenis, do mundo do trabalho
e das dinâmicas e questões sociais contemporâneas (BNCC, 2018, p. 467-468.
Grifos nossos.).
Assim como eu, você, leitor/a deste texto deve estar, há algum tempo,
aguardando uma definição sobre o que é o Projeto de Vida. De acordo com o
texto da Base, “Projeto de vida é o que [os/as] estudantes almejam, projetam e
redefinem para si ao longo de sua trajetória, uma construção que acompanha o
desenvolvimento da(s) identidade(s), em contextos atravessados por uma
cultura e por demandas sociais que se articulam, ora para promover, ora para
constranger seus desejos. Logo, é papel da escola auxiliar [os/as] estudantes a
aprender a se reconhecer como sujeitos, considerando suas potencialidades e
a relevância dos modos de participação e intervenção social na concretização
de seu projeto de vida. É, também, no ambiente escolar que [os/as] jovens
podem experimentar, de forma mediada e intencional, as interações com o
outro, com o mundo, e vislumbrar, na valorização da diversidade,
oportunidades de crescimento para seu presente e futuro (BNCC, 2018, p. 472-
473. Grifos nossos.).
44
Estamos, nós, educadores/as, trabalhando com projeção de futuro quando o
assunto é a elaboração do Projeto de Vida a partir do que está proposto no
texto da Base. Recupero aqui a intenção principal desta pesquisa, qual seja:
investigar como o campo do Ensino de História pode contribuir para a formação
da subjetividade dos sujeitos que ocupam os bancos escolares, tendo em vista
a implementação obrigatória do componente curricular Projeto de Vida na
matriz curricular do Novo Ensino Médio.
Em Língua Portuguesa, a expressão Projeto de Vida é composta por um nome
– “Projeto” – e por um complemento nominal – “de Vida”. Dar nome às coisas é
um dos estratos da identificação, que possibilita a outras pessoas saberem
daquilo de que pretendemos falar. Mas, esse reconhecimento superficial, esse
saber pelo nome, talvez não seja suficiente para viabilizar o conhecimento das
camadas que compõem aquilo que se pretende conhecer, bem como sua
profundidade, seus detalhes, aquilo que está oculto na aparência.
45
ser, de conscientização de quem são no mundo, esse imperativo poderoso que
é poder escolher o que estudar na escola.
Ora, apesar da rápida discussão que fiz na segunda seção desse texto,
aparentemente, o/a jovem tomado pela BNCC protagoniza sozinho a sua
aprendizagem e o desenvolvimento de seu Projeto de Vida. O que encontra
consonância com o texto proferido por jovens na peça midiática mencionada
acima que foi veiculada quando da reforma que transformou o Ensino Médio
em “novo”.
46
A ideia de um protagonismo juvenil que se constrói “independente” de muitas
coisas que são fundamentais no que diz respeito à formação do sujeito como
sujeito me parece equivocada. Especialmente por talvez fazer sumir o diálogo
fundamental entre estudante e professor/a, dado que estes dois são elementos
que substantivam a experiência escolar – sem desconsiderar todos os demais
componentes que fazem a roda da escola girar.
Por hora, encerro este texto com uma questão que abre para a continuidade
deste que será um capítulo em minha tese de doutorado: “Como pensar a
questão do biográfico no campo da educação? [...] Por outro lado, e este é o
aspecto, penso eu, menos contemplado e sobre o qual gostaria de insistir, está
a questão da biografia em sala de aula, o que ela supõe em relação às
experiências dos sujeitos no processo educativo. Porque na tensão
uniformizadora da escola, em sua pretensão de universalidade, muitas vezes o
grupo prevalece sobre as individualidades e seus próprios traços se diluem em
categorizações de ordem geral”. (ARFUCH, 2016, p. 240. Tradução livre.)
Referências Biográficas
Susanna Fernandes Lima, professora de História na rede estadual de ensino
do Rio de Janeiro (SEEDUC). Estudante de Doutorado no Programa de Pós-
Graduação em História Social do Território da UERJ-FFP (2021), na linha de
pesquisa Ensino de História e Historiografia. Mestre em Ensino de História
(2021) pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de História da UERJ -
Mestrado Profissional em Ensino de História/PROFHISTORIA. Participa do
Núcleo de Estudos sobre Biografia, História, Ensino e Subjetividades
(NUBHES) - grupo de pesquisa cadastrado no CNPq - na linha de pesquisa
Razão biográfica, escrita e ensino/aprendizagem da História.
Referências Bibliográficas
ARFUCH, Leonor. O Espaço Biográfico. Dilemas da Subjetividade
Contemporânea. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010.
ARFUCH, Leonor. Subjetividad, memoria y narrativas: una reflexión teórica y
política en el campo de la educación. Magis, Revista Internacional de
Investigación en Educación,. v. 9, n.(18), p. 227-244, ano?.
47
BRASIL. LEI N° 13.005/2014, de 25 de Junho de 2014. Disponível em:
https://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543-plano-
nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014
48
ESCOLA PROFISSIONALIZANTE DE TEMPO INTEGRAL:
QUE POLÍTICA EDUCACIONAL É ESSA?
Vanderlene de Farias Lima
Para entender o título deste texto é necessário revisar o que é uma política
pública e qual a sua finalidade no interior de uma sociedade. Para especificar
melhor o tema, o primeiro caminho é trabalhar a etimologia das palavras para
definir a ideia de “política pública”. Nesse sentido, Oliveira (2010) explica que
“política pública é uma expressão que visa definir uma situação específica da
política” (OLIVEIRA, 2010, p. 93). De acordo com o autor, separadamente,
“Política é uma palavra de origem grega, politikó, que exprime a condição de
participação da pessoa que é livre nas decisões sobre os rumos da cidade, a
pólis. Já a palavra pública é de origem latina, publica, e significa povo, do povo”
(OLIVEIRA, 2010, p. 93). Logo, compreendemos que política pública envolve a
participação do povo na tomada de decisões e, dentro do contexto
democrático, o Estado é uma instituição social importante na execução dessas
políticas públicas.
49
“Campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, ‘colocar o governo em
ação’ e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário,
propor mudanças no rumo ou curso dessas ações e ou entender por que o
como as ações tomaram certo rumo em lugar de outro (variável dependente).
Em outras palavras, o processo de formulação de política pública é aquele
através do qual os governos traduzem seus propósitos em programas e ações,
que produzirão resultados ou as mudanças desejadas no mundo real” (SOUZA,
2003, p. 13).
Azevedo (2003) acrescenta que “política pública é tudo o que um governo faz e
deixa de fazer, com todos os impactos de suas ações e de suas omissões.”
(AZEVEDO, 2003, p. 38). Entretanto, a política de educação no Brasil reflete as
desigualdades do sistema que se concretiza através da distinção entre
educação pública e privada. São constantes os debates e reflexões sobre a
falta de qualidade da educação pública, justamente porque a política
educacional brasileira reforça as desigualdades.
50
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) na
educação, intervieram na formulação das orientações que balizam o ensino
para todos os cidadãos do mundo. A Conferência Educacional de Jomtien
contou com a participação de cento e cinquenta e cinco governos de países
distintos, financiada pelos seguintes organismos internacionais: a Organização
das Ações Unidas para a Educação (UNESCO); o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF), Banco Mundial (BM) e o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
De acordo com Manfredi (2002), o trabalho é uma atividade que tem seus
sentidos modificados conforme o tempo histórico, a cultura dos sujeitos e as
51
relações de poder vigentes nas sociedades. A compreensão de trabalho, desse
modo, não pode ser dissociada da educação, uma vez que as técnicas
profissionais (como a fabricação de utensílios, fabricação de objetos de caça e
pesca) eram ensinadas de uma geração para outra garantindo a sobrevivência
dos povos.
A educação profissional nos moldes atuais teve início com um fato histórico
importante: a Revolução Industrial no século XVIII, que transformou o processo
produtivo trocando o modo de produção artesanal por máquinas potentes. Essa
mudança impactou significativamente nas relações de trabalho e na fabricação
dos produtos, pois era possível produzir em maior quantidade e em menos
tempo, facilitando também o escoamento da mercadoria e o transporte das
pessoas (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2016, p. 153). Tais transformações no
cenário da Inglaterra passaram a exigir uma educação que atendesse às
demandas de uma sociedade industrializada e preparasse os jovens
tecnicamente para assumir funções nas fábricas. “A mão-de-obra precisava ser
capaz de atender à demanda emergente, ou seja, de servir à maior produção
de bens para o consumo” (MANACORDA 1995, p. 287). Vieira e Souza Júnior
(2016, p. 154) citam que a partir dessa necessidade surgem as escolas de
artes e ofícios para qualificar o trabalhador lhe fornecendo um conhecimento
técnico.
Kuenzer (2009, p. 27) afirma que nesse período a educação tinha uma
“finalidade moral de repressão: educar pelo trabalho, os órfãos, pobres, e
desvalidos da sorte, retirando-os das ruas”. Nesse sentido, a educação era
vista como política pública capaz de moralizar a conduta dos sujeitos pelo
trabalho. Vieira e Souza Júnior (2016, p. 156) apontam que “em 1910, essas
Escolas passaram a ofertar cursos de tornearia, mecânica e eletricidade, além
das oficinas de carpintaria e artes decorativas”. Sales e Oliveira (2011 apud
Vieira e Souza Júnior, 2016, p. 156) registram que eram escassos o número de
professores qualificados para trabalhar nessas escolas, reduzindo a eficiência
do ensino na rede pública.
52
SESI (VIEIRA; SOUZA JÚNIOR, 2016, p. 157). Ou seja, percebemos a forte
presença de instituições voltadas para o crescimento econômico e
desenvolvimento industrial, fazendo-se necessária uma educação que também
atendesse a essas demandas, com uma filosofia de trabalho voltada para a
qualificação dos jovens. Nesse sentido, podemos mencionar que durante o
governo de Juscelino Kubitschek é aprovada a primeira Lei de Diretrizes e
Bases da Educação brasileira (Lei n.º 4.024/1961).
Com a Ditadura Militar, instaurada em 1964, a Lei n.º 5.692/71 tratava o Ensino
Médio profissionalizante como uma imposição para os brasileiros da classe
trabalhadora. Com a Lei n.º 9.394/1996 (BRASIL, 1996), a educação
profissional passa a considerar a escola como meio de ingressar no ensino
superior, trabalhando a inclusão social e a certificação na qual o jovem pode
ingressar no mercado de trabalho.
A política de Ensino Médio integral no Ceará até o ano de 2019 contava com
130 escolas de ensino regular em tempo integral e 122 escolas
profissionalizantes. Em dezembro de 2019, o governador Camilo Santana
anunciou que criaria mais 25 escolas de Ensino Médio regular em tempo
53
integral no ano de 2020, totalizando 277 escolas nessas duas categorias
(CEARÁ, 2019). O governador costuma ressaltar nas suas falas que a
educação de tempo integral oferece oportunidades aos jovens cearenses e é
uma forma de retirá-los da violência e da criminalidade, já que a juventude fica
mais tempo nas escolas.
54
desenvolvimento, como o Brasil. No Brasil, as influências dessa parceria com
organismos mundiais se fazem sentir nas metas que guiam desde então as
avaliações externas e internas (Sistema de Avaliação da Educação Básica –
Saeb, Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes – Pisa, por exemplo) observando que a educação
profissional no Brasil é motivada por questões socioeconômicas e ideológicas.
Referências Biográficas
Vanderlene de Farias Lima, professora da Escola Estadual de Educação
Profissional Deputado José Maria Melo.
Referências bibliográficas
AZEVEDO, Sérgio de. Políticas públicas: discutindo modelos e alguns
problemas de implementação. In: SANTOS JÚNIOR, Orlando A. dos et. al..
Políticas públicas e gestão local: programa interdisciplinar de capacitação de
conselheiros municipais. Rio de Janeiro: FASE, 2003.
55
Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, e nº 11.129, de 30
de junho de 2005, que institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens
(ProJovem); e dá outras providências. 2011. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12513.htm.
Acesso em: 15 abr. 2019.
HAGUETTE, André; PESSOA, Márcio Kléber Morais; VIDAL, Eloísa Maia. Dez
escolas, dois padrões de qualidade. Uma pesquisa em dez escolas públicas de
Ensino Médio do Estado do Ceará. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em
Educação, Rio de Janeiro, v. 24, n. 92, p. 609-636, jul./set. 2016.
56
SOUZA, Celina. Políticas públicas: questões temáticas e de pesquisa. Caderno
CRH, Salvador, n. 39, jul./dez. 2003.
57
HISTÓRIA DO ENSINO
58
“A ESCOLA CATÓLICA”: A PEDAGOGIA RELIGIOSA COMO
PILAR DO PODER ECLESIÁSTICO DA PARAÍBA
Alexandro dos Santos e Ronyone de Araújo Jeronimo
“Assim, para fazer frente a essa situação política e garantir sua sobrevivência
institucional, a Igreja procurou intensificar o processo de romanização da
59
sociedade brasileira, com estratégias no campo interno (congressos, abertura e
reforma dos seminários, a vinda de religiosos da Europa e da unidade pastoral
dos bispos) e no externo (comunicações públicas por meio das cartas pastorais
e da imprensa, visitas pastorais, conferências e liturgias), que produziram a sua
reorganização no período de 1889 a 1930” (2014, p. 8-9).
A criação das escolas confessionais foi uma das soluções encontradas pela
Igreja Católica para lutar contra a instituição do Estado Laico. Esse modelo de
escola passou a ser considerado como “um templo da ciência, a oficina da
virtude, espaço onde a criança aprende, desde os albores de sua razão, a
amar a justiça e odiar a iniquidade” (A IMPRENSA, 1916, s/p). É um
“prolongamento do lar, onde se vive a mesma vida de família – uma vida
profundamente cristã, plena e perfeita, com seus hábitos de fé, obediência e
trabalho” (A IMPRENSA, 1916, s/p). É educativa ao se comprometer com a
formação da vontade e do caráter. Segundo o discurso do jornal A Imprensa, a
escola religiosa trabalhava no sentido de aperfeiçoar a inteligência e as
faculdades dos alunos, zelando pela formação de quase todas as qualidades
humanas: física, psíquica, religiosa e moral. A organização e zelo pela
educação passam a ser uma das principais virtudes do modelo de educação
defendido pela escola religiosa:
60
eficácia alguma, porque ela não exerce sua influência sobre o entendimento” (A
IMPRENSA, 1916, s/p). A escola leiga foi acusada de ser antipedagógica e
anti-educativa. De incentivar a desarmonia e “uniformidade de métodos entre
os próprios educadores”.
61
Quadro 1 – Colégios Católicos da Diocese da Parahyba do Norte (1894-
1909).
A maioria das escolas criadas por Dom Adauto atendia aos interesses das
elites da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Mesmo assim, querendo ampliar a
área de influência da Igreja Católica diante da sociedade, o bispo destinou
algumas das escolas à assistência de crianças carentes (pobres) dos dois
estados. O projeto de criação desses colégios pode indicar que Dom Adauto
direcionou sua atenção para os assuntos da “educação formal da diocese”. Ele
viu a educação como a melhor estratégia a ser utilizada para a formação de
uma dada elite intelectual e também para divulgação da cultura escolar
pretendida pela Igreja Católica, com o objetivo de ampliar e alinhar o
catolicismo junto aos interesses do Estado, garantindo, dessa forma, “a
continuidade dos princípios católicos na sociedade paraibana e na potiguar”
(CAVALCANTE NETO, 2014, p. 11).
62
Em 1932, Dom Adauto publicou nas páginas do jornal católico A Imprensa, a
Carta Pastoral: Das vantagens do ensino religioso. Na carta, o bispo não
economizou nos argumentos ao defender a importância da educação religiosa
para a família. Também abordou o tema da educação religiosa para os jovens
do Estado, pautada nos ensinamentos do catolicismo.
“Sim, Irmãos e filhos muito amados, o ensino religioso não nos faz ver somente
que é Deus [...] mas nos faz ver também quem é a pessoa Divina de Jesus
Cristo que, além da sua grande obra – a Igreja – quis, para perpetuar a sua
missão salvadora, fazer-se homem como nós para ser também em sua vida
mortal nosso modelo de humildade contra a soberba, origem primaria de todas
as misérias deste mundo; modelo de obediência, de virtude, prudência, de
justiça e fortaleza no bem [...]. Assim, caríssimos pais e mães de família si
realmente quereis ter mais tarde a doce consolação e gloria de ver neles filhos
obedientes, amigos dedicados e fieis, cidadãos prestimosos, sacerdotes
modelos (se para este estado Deus os chamar), pais de família exemplares,
instrui-os na sagrada e infalível doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, no
catecismo desde a sua infância com palavras e bons exemplos, os sentimentos
das virtudes cristãs e obediência aos mandamentos de Deus (HENRIQUES,
1932, p. 4-7)”.
A fala de Dom Adauto indica a preocupação que tomou conta da Igreja Católica
da Paraíba, no que diz respeito ao tema da educação dos jovens e o papel
desempenhado pela família nesse processo. “Para o Arcebispo, o ensino
religioso era a base fundamental para a formação da personalidade e do
comportamento do cidadão, pois este conhecimento religioso poderia torná-lo
um cidadão do bem e defensor dos princípios cristãos” (SOUSA JÚNIOR,
2015, p. 209). Foi com esse intuito, de propagar a fé católica através de
escolas confessionais, que Dom Adauto depositou parte de seus esforços no
projeto de edificação de colégios com viés religioso.
Referências biográficas
Dr. Alexandro dos Santos, professor da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Nossa Senhora dos Milagres – São João do Cariri – Paraíba.
63
Grande-UFCG. E graduado pelo curso em licenciatura em História pela
Universidade Federal de Campina Grande-UFCG.
Referências bibliográficas
CARVALHO, Marta Maria de. A Escola e a República. São Paulo: Editora
Braziliense, 1989.
Jornal A Imprensa. Paraíba. 10. 01. 1916 a 21. 12. 1916. Arquivo Eclesiástico
da Paraíba, João Pessoa.
64
OS PRIMEIROS MOMENTOS DA EDUCAÇÃO PARA A
INFÂNCIA NA REGIÃO NORTE DO ESTADO DO PARANÁ
POR MEIO DE FOTOGRAFIAS
Cláudia Sena Lioti
Entretanto, espera-se que elas sejam interpretadas com sagacidade por quem
as observa, já que dessa maneira se pode desvendar características sociais,
obter pistas sobre outros tempos e ajudar a compreender comportamentos. Ao
analisar uma fotografia deve-se entrepor o seguinte desafio: Como apreender
as mensagens e informações que não foram primeiramente evidenciadas na
imagem? Como não analisar de modo perfunctório uma imagem fotográfica e
ultrapassar os limites da superficialidade para chegar a uma verificação
pormenorizada?
65
dos documentos imagéticos (TAMANINI, 2020), e consideraram a realidade
empírica em cada registro fotográfico (GINZBURG, 2007).
Por meio da rápida discussão apresentada neste artigo, defende-se que, uma
análise mais cuidadosa das fotografias apresentadas aponta para a
materialidade das informações e apreensões que não são captadas numa
investigação superficial, num primeiro olhar e numa observação
despretensiosa.
“[...] O explorador sabe muito bem, previamente, que o itinerário que ele
estabelece, no começo, não será seguido ponto a ponto. Não ter um, no
entanto, implicaria o risco de errar eternamente ao acaso. A diversidade dos
testemunhos históricos é quase infinita. Tudo que o homem diz ou escreve,
66
tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele” (BLOCK, 1993,
p. 45).
Figura 1- Parque Infantil Décio Medeiros Pullin em fase final de sua construção
Fonte: Acervo do Grupo Mandaguari Histórica (1950).
67
Santaella (2012, p. 80) declara que analisar uma fotografia requer não apenas
uma observação para as imagens que a fotografia traz, mas também uma
verificação cautelosa para as demais mensagens que a imagem movimenta e
que lhes são intrínsecas. É preciso observar disposto a sentir, contemplar e
inteirar-se. Logo, a fotografia supracitada não mostra apenas os momentos
finais da construção do edifício que é parte da história da educação para a
infância do estado do Paraná, evidencia um fenômeno social, a discrepância
entre classes.
68
principiando. Possui uma área territorial ampla quando se considera o fato de
estar localizada em uma cidade do interior de estado. Até os dias de hoje está
localizada na quadra 22 da Rua Manoel Antunes, no centro de Mandaguari.
Ocupou, de 1950 até 2008, todo o quarteirão, até que em 2008, teve sua área
partilhada com uma escola de ensino fundamental I.
Além disso, as escolas passaram a ser um espectro dos valores e das normas
sociais almejadas pelo governo republicano (MONARCHA, 1999). Entretanto,
nesse período da história da educação para a infância no Brasil, os Jardins de
Infância não eram em número suficiente para atender a demanda, tanto que no
município de Mandaguari, esta instituição foi a única a atender a infância por
mais de 20 anos.
Contrapõe-se a isto o fato de que uma pequena minoria das crianças da cidade
e região tinham a possibilidade de frequentar o espaço. A União pouco fez pelo
ensino para as massas, ação que tornou os Jardins de Infância, nesse período,
um local frequentado principalmente pela infância das classes com privilégios
sociais.
Considerações finais
Confirmou-se, neste artigo, que as fotografias como fontes documentais de
pesquisas de cunho social e histórico podem tornar mais fácil a compreensão
da história do objeto de pesquisa elencado. Elas são, portanto, “[...] o passado,
mas não está mais no passado quando interrogada. Isto posto, torna-se uma
ponte, uma testemunha, um lugar de verificação, um elemento capaz de
propiciar conhecimentos acertados sobre o passado” (RAGAZZINI, 2001, p.14)
69
Não se pode negar a quantidade de informações que uma fotografia pode
propagar, tão pouco a sua natureza documental e importância para a
compreensão da história de determinados locais. Contudo, compreendê-las de
forma aprofundada não é uma tarefa fácil. Decifrá-las é um trabalho árduo.
Referências biográficas
Cláudia Sena Lioti é doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de
Maringá. Mestre em Ensino: Formação Docente Interdisciplinar, pela
UNESPAR campus de Paranavaí. Graduada em Pedagogia e em Letras –
Vernáculas e Clássicas. Especialista em Atendimento Educacional
Especializado, Educação Especial; Alfabetização e Letramento e
Psicopedagogia Institucional, Hospitalar e clínica.
Referências
BENCOSTTA, Marcos Levi A. História da educação, arquitetura e espaço
escolar. São Paulo, SP: Cortez. 2005.
70
MONARCHA, Carlos. A Escola Normal da Praça – o lado noturno das luzes.
São Paulo: Editora da Moreira, A. Z. Um espaço pioneiro de modernidade
educacional (Dissertação de Mestrado em Arquitetura). Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal. 2005.
71
ESTUDOS AMAZÔNICOS: HISTÓRIA, MEMÓRIA E
POLÍTICA EDUCACIONAL NO ESTADO DO PARÁ
Davison Rocha-Alves
Será apresentado em três momentos, são eles: (1) A política educacional dos
anos 1990 no Brasil e a emergência do currículo centrado nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) e sua relação com os PCN-Temas Transversais
Meio Ambiente; (2) A disciplina Estudos Amazônicos no estado do Pará e o
papel do Conselho Estadual de Educação (CEE-PA) e da Secretaria de
Educação do Estado do Pará (SEDUC-PA) na urgência em debater a
Amazônia neste estado; (3) A experiência educacional da disciplina regional
pelas interpretações de historiadores e sociólogos no Pará.
72
regulamentando as políticas educacionais para a escola pública brasileira. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) voltados nesse contexto para o
ensino fundamental I desenvolvem uma política intervencionista por dentro das
chamadas agências de financiamento internacional (OLIVEIRA, 2010, p. 2).
73
Reconhecemos que a disciplina Estudos Amazônicos se tornou uma lugar de
fronteira entre diálogos transdisciplinares ocorridos dentro do campo das
humanidades (História, Geografia e Ciências Sociais) no final do século XX.
Usando as contribuições do campo do Currículo e da Didática estamos
articulando as conexões desenvolvidas entre a Teoria da História e a Retórica
produzida pelos professores-pesquisadores no Estado do Pará, pois, a
pesquisa sobre o ensino de história regional na Amazônia paraense é um lugar
de fronteira, de pensamentos e contribuições mediadas a partir das trocas, dos
diálogos e dos reconhecimentos das diferenças (MONTEIRO; PENNA, 2011, p.
191) referente aos saberes amazônicos.
74
Portanto, durante os anos 1990 os caminhos percorridos pelo ensino de
história da Amazônia construíram um currículo para ser ensinado no espaço
escolar, os professores das humanidades estavam reivindicando o lugar da
Amazônia dentro do currículo, para isso, faziam críticas a disciplina Estudos
Paraenses que evidenciava uma narrativa histórica pautada dentro dos eventos
políticos e administrativos do estado do Pará, e invisibiliza as diversas
Amazônias dentro do espaço escolar.
75
espaço escolar. Assim, durante a apresentação os autores do livro evidenciam
que “a escola põe em diálogo saberes diversos, muitos dos quais são oriundos
do mundo da vida de estudantes com diferentes redes de contato e percursos
formativos” (NASCIMENTO, 2020, p. 9)
Por outro lado, nossa pesquisa não ficou somente nas negociações
desenvolvidas pelos professores das humanidades para construir a identidade
regional da disciplina Estudos Amazônicos, como foi mencionado acima, foi
sendo construído um movimento regionalista no Estado do Pará para fazer a
defesa do regional dentro do espaço escolar.
76
um lugar de memória a ser sedimentado na escrita regional, fazendo emergir
nesta narrativa escolar a presença do ser amazônida, deixando explícito em
sua narrativa as relações sociais dos sujeitos que fazem parte da história
recente, como o posseiro, o grileiro, o quilombola, o ribeirinho, o caboclo e o
indígena, portanto, trazendo à tona aspectos e fatos que nos permitem
compreender a história recente da região amazônica no espaço escolar.
Por fim, cabe-se ressaltar que foi construído uma política educacional no
Estado do Pará que valorizasse a Amazônia e seus processos sociais dentro
do espaço escolar, o que ocorreu por meio da produção de materiais didática
regionais e da invenção de uma disciplina regional conhecida como Estudos
Amazônicos. Percebemos ainda em 2022 a importância desse debate, pois, os
diversos ataques a floresta amazônica, os povos indígenas, as comunidades
quilombolas, os povos tradicionais, os defensores da vida e das diversas
Amazônias torna-se urgente debater e repensar o ensino de história da
Amazônia na sala de aula e fora de também.
Referências biográficas
Professor. Dr. Davison Hugo Rocha Alves, doutor em História Social da
Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor da
77
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará da Faculdade de Ciências da
Educação (Unifesspa-Faced).
Referências bibliográficas
ALVES, Davison. A disciplina Estudos Amazônicos e seus livros didáticos
(1990-2000). Veranópolis: Diálogo Freiriano, 2020.
78
O ENSINO A SERVIÇO DA REPRODUÇÃO DOS VALORES
CONSAGRADOS PELOS GRUPOS SOCIAIS DOMINANTES:
DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS MODELOS EDUCACIONAIS
ADOTADOS NO BRASIL E EM PERNAMBUCO ATÉ O
SÉCULO XIX
Eduardo Augusto de Santana
Durante séculos fomos ensinados a acreditar que este território havia sido
“descoberto” pelos portugueses em 22 de abril de 1500. Não é verdade? Com
a nova historiografia, sobretudo após o advento da História Sociocultural
(PESAVENTO, 2014), passamos a ser confrontados com outros entendimentos
a respeito de nossa história. A releitura do passado demonstra que não se
pode falar em “descobrimento” em um território que já era habitado por
centenas de nações indígenas, em que cada um desses grupos tinha assuas
próprias práticas religiosas e culturais, línguas e costumes, além de habitar em
áreas específicas dentro deste imenso território supostamente “descoberto”.
Assim, não houve um “descobrimento”, mas a invasão e a imposição de uma
colonização por parte dos portugueses, que se utilizaram da sua própria cultura
religiosa enquanto estratégia de dominação. Essa ação, segundo Eduardo
Santana (SANTANA, 2021 p. 88-96), foi seguida por uma violenta imposição
cultural que acarretou a escravização e o genocídio de centenas de milhares
de seres humanos ao longo dos primeiros séculos de invasão e consolidação
da conquista. Assim, a atividade missionária desenvolvida pelos jesuítas foi
fundamental para que o plano de dominação do invasor obtivesse êxito.
79
desenvolvimento econômico que favorecesse a inclusão daquelas pessoas no
modelo de sociedade que vislumbravam aqui implantar. Já a partir de 1549,
foram enviados padres Jesuítas com a missão de converter os nativos à fé do
invasor, facilitando a destruição da cultura e a organização social daqueles
povos. A religião crista fora utilizava com vistas a facilitar a imposição da
cultura e os valores presentes na cultura portuguesa.
80
ensino voltado para a subalternidade e a alienação religiosa, aliada à política
de desconstrução das dimensões socioculturais da cultura dos povos nativos.
81
prática, não se afastaria totalmente da educação realizada pelos religiosos,
mas abriu espaço para outras ordens religiosas ofertarem o ensino. As Aulas
Régias eram basicamente aulas avulsas de grego, latim, filosofia e retórica.
Ainda nas primeiras décadas do século XIX, nota-se a influência das ideias de
Joseph Lancaster, que chega ao Brasil em 1827, através da lei para as escolas
de primeiras letras. O método Lancaster tinha um formato diferenciado para a
época, atendendo à necessidade de professores, mas ainda no formato
tradicional de ensino. Conforme nos traz Saviani:
82
Em 1824, com a Constituição outorgada por D. Pedro I, a Educação é
contemplada com a implantação das bases da organização político-institucional
do país recém-independente. Estabelecendo-se ainda, a gratuidade da
educação primaria e o rompimento com o modelo jesuítico educacional.
83
dominante local diante do surgimento, fortalecimento e reivindicação de outras
camadas sociais”
84
Sendo criada em 1872 pela Sociedade Propagadora da Instrução Pública, pelo
professor João José Pinto Júnior (1832-1896), o Pinto Júnior, se destaca por
ter sido a primeira escola recifense que não era pública, mas gratuita, sendo
mantida por intelectuais. A instituição tinha um ensino bastante rígido e o seu
acesso era exclusivo para estudantes do sexo feminino, chamadas
normalistas– em um método já extinto que preparava as adolescentes para se
tornarem professoras. Para se tornar uma aluna, era necessário fazer um
exame de admissão, como um vestibular.
Segundo a Márcia Justino (SILVA, 2022, p. 112), ainda no século XIX surge e
dissemina-se pelo mundo ocidental o método intuitivo, que foi traduzido por Rui
Barbosa em 1881 e publicado no Brasil em 1886. Essa abordagem pedagógica
generalizou-se na segunda metade do século XIX, nos países da Europa e das
Américas, tendo como principal elemento de renovação de ensino a formação
dos professores. Entenda-se que a Revolução Industrial trouxe novas
exigências no que se refere ao mercado de trabalho. Era necessário que as
escolas se adaptassem às novas demandas da sociedade, tendo em vista que
85
se considerava que os jovens não estavam sendo bem preparados. As novas
tecnologias advindas da Revolução Industrial possibilitaram a criação de
materiais didáticos que dessem suporte ao novo método de ensino. Estes
materiais consistiam em: “mobiliário escolar, quadros negros, caixas para
ensino de cores e formas, quadros do reino vegetal, mapas, diagramas,
diferentes objetos como pedras, metais, madeiras, louças, cerâmica, vidros,
dentre outros” (SAVIANI, 2005).
Assim, naquele período, o formato mais próximo da escola que se tem nos dias
atuais começou a ganhar forma e força a partir do século XIX, sendo
desenhado o modelo tradicional de educação. O foco consistia em transmitir
conhecimento, valores, hábitos e costumes. Sendo assim, o professor é visto
como o personagem central na escola. Ele é tido como o detentor do saber
acumulado ao longo dos anos pela humanidade e que precisa ser transmitido
para o estudante que não está pronto e precisa receber esse conhecimento. De
acordo com Saviani (2005, p.2):
Referências biográficas
Doutorando em História – UFRPE. Possui mestrado e licenciatura em História
pela UFRPE. Especialista em Gestão e Tutoria em EaD pela FACIGMA.
Cursos de aperfeiçoamento em Estudos Africanos e Afro Brasileiros em
perspectiva: produção de conhecimento – UFMA; Tecnologias Digitais na
Educação – UFC; e em Educação, Pobreza e Desigualdade Social – UFPE.
Professor auxiliar do Curso de Licenciatura em História, Campus Mata Norte,
da Universidade de Pernambuco – UPE; Professor pesquisador I e tutor virtual
do Curso de Licenciatura Plena em História, modalidade EaD, da EaDTec da
UFRPE; professor formador e conteudista do curso técnico profissionalizante
de Secretaria Escola, na modalidade EaD, da Secretaria de Educação de
Pernambuco. É Pesquisador associado I do Instituto de Estudos da África IEAF
– UFPE. Atua como conselheiro do Corpo Editorial da Editora Mnemosine,
conselheiro do Corpo Editorial da Editora Típica. Parecerista ad doc da
PRACS– Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da
86
UNIFAP; Parecerista ad doc da EmRede – Revista de Educação a Distância; e
avaliador ad hocdas ações de Extensão de Demanda Espontânea da
Universidade Federal Fronteira Sul – UFFS. Link do Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1097814777267022.
Referências bibliográficas
BELTRÃO, Monica Maria Albuquerque; MELO, Maria do Carmo Barbosa
(Orgs). Educação e equidade: a escola como espaço de tensões e
possibilidades. 1.ed. Campina Grande: Plural, 2021.
87
SANTOS, Yan Soares. Associativismo e docência no Recife: estratégias de
atuação sociopolítica de trabalhadores docentes entre os anos de 1872-1915.
Recife, 2021. Disponível em:
https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/40183/1/TESE%20Yan%20Soar
es%20Santos.pdf. Acesso em: 23 jul. 2022.
88
O MUNDO EM DEBATE: REFLEXÕES SOBRE A VIDA E
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Eduardo Silveira Netto Nunes
Primeiras palavras
Em 2022, e no momento em que escrevemos este artigo, a pandemia do
SARS-CoV-2/COVID-19 atinge a cifra global de 576.907.920 de casos
confirmados e 6.399.742 de mortos. Os países com o maior número de
infectados são Estados Unidos, Índia, França e Brasil com 91.309.159,
44.019.811, 33.997.224 e 33.813.587 casos, respectivamente. Se olharmos
para os mortos, os Estados Unidos contabilizam 1.029.925 óbitos, seguido pelo
Brasil, com 678.486 falecimentos e a Índia, com 526.357 mortes.
89
O primeiro ministro Britânico, David Cameron lança uma bravata aos britânicos
– a de que o Reino Unido sairia da União Europeia –, para indicar que era
crítico ao processo de integração desenvolvido desde os anos 1950 na região,
e a ideia acaba passando por um plebiscito no qual, por uma ínfima diferença,
saí vencedora a opção de SAIR DA UNIÃO EUROPEIA, o que acabou
produzindo uma “revolução” na história das relações internacionais pois
representava o enfraquecimento da antiga tônica do multilateralismo e o
fortalecimento de relações bilaterais, além de sacudir a própria zona Euro, com
impactos globais, pela importância do Grã-Bretanha e da União Europeia na
economia e na política internacional.
90
contextualizar”, sendo que para Morin, o conhecimento progride “pela
capacidade de contextualizar e englobar” (MORIN, 2010, p. 15).
91
Carrossel de cartazes do Mundo em Debate, 2019
92
93
Os temas dos encontros eram decididos pela equipe do projeto juntamente
com discentes do curso de Licenciatura em História, a partir da mídia e
observação de temas com projeção pública. Decidido o tema, a equipe
buscava estabelecer contatos com organizações da sociedade civil e
acadêmicos para definir os e as convidadas. Definido @s participantes,
realizávamos a divulgação em redes socais, e-mails, materiais gráficos. A cada
evento organizávamos espécie de arena, semicircular, em espaço de
circulação pública, com livre-acesso e livre participação. A dinâmica
correspondia à exposição dos convidados seguida da abertura dos microfones
ao público.
94
Diversidade Sexual de SP e a luta para tentar implantá-lo como representativo
e simbólico da luta e das conquistas do movimento. Entretanto, a implantação
do Museu em um local definitivo, sofreu reveses com a onda conservadora que
ganhou força política nos últimos anos.
95
para mulheres, 65 para homens); pela mudança na fórmula do cálculo da
aposentadoria (100 % dos salários de contribuição, ao longo do tempo); pela
aplicação do tempo de contribuição para o cálculo da aposentadoria (60% dos
salários, + 2% de contribuição por ano trabalhado acima de 20 anos); pensão
por morte (50 % do valor da aposentadoria + 10% por cada dependente).
96
Por fim, a Professora Letícia Trombeta apresentou o projeto de Monitoramento
da Qualidade da Água, da ONG SOS Mata Atlântica, com “Observação dos
Rios” que realiza coleta de água no rio Tietê e em outros locais para registrar a
poluição e degradação ambiental desse rio. Ela criticou as iniciativas tolerantes
da política ambiental atual com o desmatamento e as queimadas.
97
Em 2019, a Organização Internacional para Migrações (OIM), da Organização
das Nações Unidas (ONU), registrou 272 milhões migrantes internacionais, dos
quais ao redor de dois terços (2/3), ou 181 milhões, são migrantes por razões
econômicas, chamados de migrantes de mão-de-obra; 28 milhões eram
migrantes na condição de refugiados por motivos de perseguição política,
cultural, étnica, religiosa (OIM, 2019). Para analisar a questão das migrações e
suas repercussões no Brasil, Alex, do CAMI, refletiu sobre a realidade tensa e
conflituosa que envolve a condição de imigrantes, com a reemergência da
xenofobia e políticas de restrição ou perseguição a imigrantes em diversos
países. Problematizou as motivações que caracterizam os imigrantes ao Brasil
por razões humanitárias – Colômbia, Haiti, Congo, Síria; por razões
econômicas – Bolívia e Venezuela. Também explicitou as dificuldades
enfrentadas pelos imigrantes no Estado e na Cidade de São Paulo e as ações
restritivas do governo federal como a Regulamentação da Nova Lei de
Imigração, Lei nº 13.445, de 2017.
98
primeiro momento parecem desconexos, mas possuem intrínseca conexão e
interdependência. Como compreender um mundo multifacetado, complexo e
dinâmico? Como a Universidade pode participar do debate sobre questões
relevantes das nossas sociedades?
Referências biográficas
Eduardo Silveira Netto Nunes, Professor, Universidade Federal do Acre, Doutor
História Social. Contato: edunettonunes@gmail.com
Referências bibliográficas
The Johns Hopkins Coronavirus Resource Center (CRC) (Dados do SARS-
CoV-2/COVID-19). Disponível em: https://coronavirus.jhu.edu/map.html
BOFF, Leonardo. Opção Terra: a solução para a Terra não cai do céu. Rio de
Janeiro: Record, 2009.
99
OIM. Organização Internacional para Migrações/ONU. Número de migrantes
internacionais no mundo chega a 272 milhões. Nova York: OIM, 2019.
Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2019/11/1696031
100
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PERÍODO
IMPERIAL ENTRE 1822 E 1889
Francielcio Silva da Costa
Introdução
A educação brasileira no período Imperial se caracterizou por estar relacionada
a um embate de interesses que envolveram a elite nacional que centralizava o
ingresso da educação a uma parcela pequena da sociedade naquele período.
Além disso, o sistema educacional vigente na época possuía métodos
lancasteriano de ensino que se pautava em ensinar um maior número de
alunos se utilizando de poucos recursos, em limitado tempo e com qualidade.
Uma das medidas adotada pelo o imperador Dom Pedro I para o avanço da
educação no período imperial foi: a inserção do nível de ensino secundário em
todo país e a criação do colégio Pedro II em 1837 na capital da colônia Rio de
Janeiro com intuito de padronizar de forma concreta o ensino tonando – se
referência do Brasil.
101
Metodologicamente as etapas desta pesquisa compreenderam: Uma revisão
bibliográfica sobre o assunto e pesquisa de campo. Com a revisão bibliográfica
pretende-se aprofundar o conhecimento sobre a educação no século XIX e a
pesquisa de campo analisou o sistema educacional brasileiro aplicando
questionários onde os entrevistados foram escolhidos conforme o seu
conhecimento sobre o assunto, respeitando as conjunturas históricas.
O que é educação?
Em relação ao conceito de educação, deve-se entender que esta palavra é
complexa em razão da polissemia teórica que ela denota nos mais variados
sentidos e aspectos abordados nos campos de pesquisas. Além disso, o
processo educacional é universal, interdisciplinar e globalizante. Pois, diversas
disciplinas dialogam-se ao explicar a educação baseando-se em métodos e
técnicas analíticos de construção de conhecimentos. Para isso, afirma-se:
102
Deve-se entender que o tipo de escola do período imperial, está vinculado a
um processo de modernização que vem ganhando corpo no cenário social.
Neste aspecto, destaca-se que o século XIX foi denominado período da
educação escolar, tanto que:
103
radicalmente diferente da instituição que o antecedeu. O discurso oficial, bem
como os artifícios de garantir certo número de vagas para os órfãos do
Seminário, buscava, certamente, calar a oposição que apontava para o caráter
elitista da nova instituição.
No período imperial brasileiro o ensino era voltado à religião católica onde era
dominante. Além disso, a constituição de 1824 assegurava por lei o ensino
religioso ministrado no ensino das escolas, submetendo o sistema educacional
ao aparelho ideológico da igreja, onde a mesma possuía um vasto patrimônio
econômico e cultural e também, deve-se salientar que a igreja nesse contexto
tinha interesses de evangelizar pregando a doutrina católica romana.
104
“Tendência de criar escolas religiosas no Brasil no século XIX era oposta á do
resto do mundo, cuja laicização se tornava cada vez mais frequente. Entre nós,
predominava ainda a ideologia, sobretudo a católica. No período de 1860 a
1890 a iniciativa particular organizou-se, criando importantes colégios, inclusive
de jesuítas, que retornaram oitenta anos após sua expulsão” (ARANHA, 2006,
p. 225).
Logo, se percebe que no século XIX o ensino laico, vinha ganhando espaço na
educação e nas sociedades européias. E já no Brasil, pode-se observar que as
políticas educacionais na época estavam voltadas a doutrina católica vigente,
influenciando fortemente o currículo primário, secundário e os cursos de
formação profissional em geral.
Resultados e Discussões
Com relação ao ensino superior no período imperial, enfatiza-se que possuía
uma vinculação com o sistema social da época. Para tal fim reflete-se que:
105
Refletindo sobre a linha de pensamento do Me. Jordan Bruno Oliveira percebe-
se que a educação desta época era organizada em três categorias, onde cada
nível possuía uma finalidade especifica contextualizada com a figura do
imperador e as elites conectadas com a carta magna de 1824, que se pautava
na mentalidade conservadora deste período.
“Esse dualismo realmente permanece até hoje. Ele segue uma ideia de que o
ensino deve ser ofertado de acordo com os interesses de cada grupo social.
Assim, o Brasil nunca cumpriu o princípio republicano e liberal de uma escola
pública para todos. Na época, esse dualismo seguia a necessidade de formar
apenas os jovens das elites; quanto à população brasileira em geral, seria
necessário apenas saber ler e escrever. Esse pensamento se reproduz até
hoje, na ideia de que os alunos de escola pública não precisam de algo além
de um ensino profissionalizante” (OLIVEIRA, 2018).
Sobre os temas que eram abordados nas salas de aula da época imperial,
compreende-se que a diversidade não era trabalhada. Neste sentido,
menciona-se a seguinte citação:
“Penso que não era trabalhada. Até porque os negros menos favorecidas
continuavam frequentando as escolinhas improvisadas na fazenda do seu
106
senhor, onde a professora era a filha do fazendeiro. Não havia grade curricular,
estrutura, asseio, fiscalização. Uma educação mais voltada para números e
letras. Praticamente não eram trabalhados valores. E quando eram, mas com
único objetivo: submissão e subserviência” (SOUSA, 2018).
Considerações Finais
Tendo em vista os argumentos apresentados pode-se concluir que o presente
artigo trabalhou a educação brasileira no período imperial, levando-se em
consideração os aspectos acima que caracterizaram o sistema educacional
brasileiro no século XIX. Além disso, percebemos que este modelo de
educação ainda possui influência que reflete nos dias atuais. Ao analisarmos a
educação vigente na época e compararmos com o perfil de instrução em voga
na atualidade, identificamos resquícios existentes dentro do ensino.
Referências Biográficas
Esp. Francielcio Silva da Costa, professor seletista da Secretaria de Estado da
Educação do PI (Seduc). Especialista em História e cultura afro brasileira pela
Faculdade de Venda Nova do Imigrante (FAVENI).
Referências Bibliográficas
ALVES, Washington Lair Urbano. A história da educação no Brasil: da
descoberta à Lei de Diretrizes e Bases de 1996. 2009. 93 f. Monografia (Pós
Graduação Lato Sensu) - Centro Universitário Salesiano Auxilium, Lins, 2009.
107
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia Geral e
Brasil. 3º ed. São Paulo: Moderna, 2006.
PILETTI, Nelson. História da Educação no Brasil. 7º ed. São Paulo: Ática 2010.
SOUSA, Rosilda Sales Santiago de. Entrevista concedida por uma professora.
Em Barras Piauí, em 2018.
108
O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA NO PROJETO
EDUCACIONAL DA COLÔMBIA DE LA REGENERACIÓN
(SÉCULO XIX)
Giovana Eloá Mantovani Mulza
Introdução
O presente trabalho compreende um recorte das discussões promovidas em
nossa dissertação de mestrado dedicada ao estudo da Colômbia do século
XIX. A pesquisa integral comportou uma análise das relações institucionais
estabelecidas entre a Igreja Católica e o governo colombiano nas décadas
finais do século XIX – sob um período nomeado pelos historiadores como La
Regeneración (1880-1905). No rol do projeto civilizatório defendido pelos
presidentes regeneradores, a Igreja Católica foi encarregada de evangelizar os
povos indígenas e de educar os colombianos nos moldes da ética católica –
função que pudemos analisar através da retomada de documentos
institucionais e de jornais de instrução do período. Nesse trabalho,
apresentaremos o contexto internacional que culminou na aliança entre a Igreja
Católica e La Regeneración, assim como seus desmembramentos para a
história da educação da Colômbia.
109
contava com a Igreja Católica, incumbida de conduzir o sistema escolar público
colombiano.
110
ornamentos, imagens, impressões ou outros objetos capazes de provocar
paixões. […] afirma sua fé na rua com seu continente grave e modesto, afirma-
se na Igreja com silêncio e recolhimento de votos; afirma na irmandade que é
membro, na associação católica ou de caridade da qual pertence, portando-se
sempre e em todos os locais como quem sabe que um cristão é feito
espetáculo do mundo, dos anjos e dos homens e que vive sob a vista de Deus.
11º Nosso cristão se veste conforme sua posição social e idade, mas
modestamente [...].
12º Nosso cristão, e sobretudo nossas cristãs, não se deixa dominar pela
tirania da moda, nem fica deslumbrado pelo fascínio do luxo. O primeiro é uma
frivolidade indigna de uma cristã, o segundo chega a ser a ruína de muitas
famílias e caso se trate de modas indecentes, não a adotam nem para sim,
nem para suas filhas, nem as permite em seus dependentes.
13º Nosso cristão sabe bem que não poderia sê-lo, sem a ajuda do alto, e que
isto só é obtido mediante a oração contínua e fervorosa. Ore, então, e
acompanhe suas orações de boas obras.” (LA UNIDADE CATÓLICA, 1901,
s/p; tradução nossa).
111
1898, p. 34; tradução nossa). A temática da instrução pública tornava-se cada
vez mais urgente para La Regeneración conforme as demandas por autonomia
e civilidade eram acentuadas.
112
o geógrafo Francisco Javier Vergara y Velasco – organizaria as Comisiones de
Vigilancia para las Escuelas dedicadas a inspecionar o conteúdo ministrado
nos centros de ensino. Este periódico estava subordinado ao governo
colombiano e representava a preocupação do Estado em zelar o papel dos
mestres enquanto exemplos de boa conduta moral e católica. As preocupações
com a conduta dos professores também apareceriam no próprio subtítulo da
revista Repertorio Escolar – Órgano Oficial de la Inspección General de
Instrucción Pública –, bem como nas instruções conferidas aos inspetores para
monitorar aqueles mestres que “cometam falta grave contra a moralidade ou a
decência pública, ou deem ensinamentos contrários à Religião Católica”
(REPERTORIO ESCOLAR, 1889, p. 04; tradução nossa). A função reguladora
da Igreja Católica tornava-se cada vez mais urgente para as escolas: ainda no
mencionado volume da revista Repertorio Escolar (1889), seriam listados os
requisitos para realizar a contratação dos docentes, dentre os quais estava a
obrigatoriedade do professor em “Ser católico, apostólico e romano, a
julgamento das autoridades eclesiásticas.” (REPERTORIO ESCOLAR, 1889, p.
03; tradução nossa).
113
revista Repertorio Escolar (1889) passaria longas páginas de seu primeiro
volume listando o inventário das escolas masculinas e femininas localizadas
nas cidades e no campo – enquanto caberia aos clérigos fiscalizar os
conteúdos e fornecer referencial moral aos alunos. Este tema reapareceria no
segundo volume da revista El Maestro de Escuela (1899), na qual o então
Secretário de Instrução Pública – Francisco Javier Vergara y Velasco – definiria
que o Estado proporcionaria recursos financeiros para prover a alimentação, a
moradia dos alunos, o mobiliário e a remuneração dos professores.
Conclusões
Conforme visamos abordar neste trabalho, o projeto educacional de La
Regeneración baseava-se em uma instrução cristã que ia ao encontro dos
interesses civilizatórios das autoridades políticas e do propósito missionário das
congregações religiosas em recristianizar aquele mundo em laicização através
de uma educação católica. São por estes interesses que a aliança Estado-
Igreja tinha coerência diante dos eventos que inscreviam aquele contexto:
114
ambas as instituições acordadas visavam formar uma sociedade civilizada
baseada nos princípios da religião e da nação. O catolicismo, assim, tornava-se
um importante elemento de coesão social e de unidade para aquele território
que tanto almejava ser “civilizado” e se emancipar das ingerências externas.
Afinal, pertencer ao rol das nações civilizadas significaria deter o domínio da
técnica, possuir ordem interna e se libertar das influências estrangeiras –
cenário que somente seria alcançado mediante uma educação que
representasse os interesses do Estado colombiano. A educação católica foi
uma das ferramentas usadas pelos governos regeneradores para lograr metas
que respingavam na política colombiana deste o alvorecer da república.
Referências biográficas
Giovana Eloá Mantovani Mulza, Mestre em História Política pela Universidade
Estadual de Maringá (UEM).
Referências bibliográficas
ANDRADE ÁLVAREZ, Margot. Religión, política y educación en Colombia. La
presencia religiosa extranjera en la consolidación del régimen conservador
durante la Regeneración HiSTOReLo, Revista de Historia Regional y Local, v.
3, n. 6, julio-diciembre, 2011, p. 154-171.
115
endereço eletrônico do “Centro Virtual de Memoria en Educación y Pedagogía”
em:
http://www.idep.edu.co/wp_centrovirtual/wp-content/uploads/2015/12/1889%20-
%20Repertorio%20Escolar.%20A%C3%B1o%20I.%20N%C3%BAmero%201.p
df Acesso em: 14/07/2021.
116
EDUCAÇÃO FEMININA NA COREIA DO SUL:
BREVE HISTÓRICO
Leonardo Paiva Monte e Lilian Bento de Souza Silva
Introdução
Neste trabalho procuramos fazer uma breve revisão sobre a história da
educação para mulheres na Coreia do Sul. As mulheres coreanas enfrentam
várias dimensões de desigualdade social, cultural e econômica. A igualdade de
oportunidades educacionais e sociais para as mulheres em relação aos
homens foi legalmente garantida somente na década de 1950. Além disso, a
cultura tradicional costuma colocá-las em posições subordinadas e inferiores
aos homens, sendo boas esposas para seus maridos e mães cuidadosas para
seus filhos.
Confucionismo
Por séculos, as crenças confucionistas moldaram o pensamento e o
comportamento dos povos do Extremo Oriente. Diante dessa influência, a
Coreia se tornou o país mais confucionista de toda a Ásia Oriental. O
pensamento e os padrões sociais confucionistas têm forte atuação naquela
sociedade. Ele foi introduzido na Coreia durante o período dos Três Reinos (37
a.C. - 935 d.C.) (CHUNG, 1994).
Vale a pena notar que o Confucionismo não só serviu como uma filosofia, mas
também funcionou como uma ideologia política, particularmente durante a
Dinastia Choson, a última dinastia coreana. O confucionismo é uma realidade
para muitas pessoas na Coreia, fornecendo a base cultural para suas vidas
cotidianas (GARCIA, 2000; KIM, 2017).
117
maioria dos adeptos aceitava a obediência das mulheres aos homens como
natural (HAMPSON, 2000; GARCIA, 2000).
Educação
A primeira escola coreana para mulheres, Ewha Haktang, foi fundada em 1886
por Mary F. Scranton, uma missionária norte-americana. Os objetivos da escola
eram fornecer uma educação cristã para as mulheres coreanas. Ensinava que
118
todos os seres humanos eram iguais perante Deus. A escola contribuiu para
melhorar a posição das mulheres coreanas por meio da educação. Muitas
escolas cristãs para meninas começaram a ser estabelecidas após o
estabelecimento de Ewha Haktang (WON, 1994).
119
Apesar dos esforços de diferentes organizações de mulheres para pressionar o
Ministério da Educação coreano a organizar escolas para meninas, membros
conservadores do governo preferiram se concentrar em questões financeiras.
Uma dessas organizações ainda conseguiu fundar uma escola privada,
esperando apoio governamental. A escola, contudo, acabou indo à falência em
1901 (YOO, 2008).
120
educacional. Entre os anos 1980 e meados dos anos 1990, a participação
feminina no ensino fundamental e médio foi quase universal (AHN, 2011).
Conclusão
A educação feminina na Coreia do Sul passou por diferentes períodos ao longo
da história, desde sua negação, interferências religiosas e governamentais, até
o quadro atual de expansão. Foram tentativas de moldar uma mentalidade nas
mulheres para controlar sua autonomia. O espaço ocupado por mulheres em
diferentes setores tem se expandido na Coreia do Sul, o que é resultado de
anos de reivindicações por igualdade de direitos e oportunidades.
Trata-se de uma temática vasta. Mais pesquisas podem ser produzidas sobre a
educação feminina e as desigualdades de gênero na Coreia do Sul. Pontos que
são, muitas vezes, eclipsados pela atenção apenas em produções midiáticas e
artísticas sul-coreanas.
121
Referências biográficas
Leonardo Paiva do Monte é licenciado em História (UEPB) e mestre em
História Social (USP).
Lilian Bento de Souza Silva é professora da rede municipal da cidade de João
Pessoa/PB e doutora em Ciências da Educação (UNIDA).
Referências bibliográficas
AHN, Jae-Hee. Analysis of Changes in Female Education in Korea from an
Education - Labor Market Perspective. Asian Women, 27(2), 113-139, 2011.
LEE, I. H. 1950’s ‘Wise Mother, Good Wife’ Pedagogical Ideology and Gender
Discrimination. In: Journal of Korean Studies, v. 122, p. 293-327, 2003.
YOO, Theodore Jun. The politics of gender in colonial Korea: Education, Labour
and Health, 1910–1945. Berkeley: University of California Press, 2008.
122
“QUE EXPURGUE DOS DOMÍNIOS DA INCERTEZA FACTOS
HISTÓRICOS”: ISABEL GONDIM E O ENSINO DE HISTÓRIA
DO BRASIL (1892-1909)
Ane Luíse Silva M. Santos e Magno F. de Jesus Santos
123
educação feminina em diálogo com importantes pensadores da educação do
último quartel do oitocentos. Isabel Gondim justificou essa escrita em
decorrência de suas demandas docentes, na qual “notando a falta de um livro
era lingua portuguesa, propriamente destinado à primeira educação da mulher,
resolvi aproveitar-me de alguns d’aquelles preciosos materiaes, e elaborar o
pequeno livro” (GONDIM, 1879, p. 7). Posteriormente, em 1885, ela publicou
“Elementos da educação escolar para uso nas escolas primárias de um e outro
sexo”.
Percebe-se, que na primeira fase de escrita, Isabel Gondim tinha como eixo
central de sua reflexão à prática de ensino e o papel do ensino primário na
sociedade brasileira. Essa dimensão de escrita mudou consideravelmente, no
período posterior a sua aposentadoria, constituindo a sua fase de maior
produção de textos e de uma maior inserção na escrita de textos de teor
histórico. Em tempos republicanos, a professora aposentada transmutaria em
uma importante pensadora da História, por meio da produção de livros voltados
para públicos mais amplos, utilizando-se linguagens pouco usuais na escrita na
história. Com isso, ela escreveu livros como “Sedição de 1817 na capitania ora
estado do Rio Grande do Norte”, escrito em 1892 e publicado em 1908. Em
1900 ela publicou a primeira edição de “Brasil, um poema histórico do país”.
Em 1909 publicou “O sacrifício do amor: drama em cinco atos”. Além disso,
deixou o manuscrito “Rio Grande do Norte: noções históricas” e “Resumo da
História do Brasil”.
Diante dessa produção historiográfica, esse texto tem como escopo a escrita
de livros escolares de História pela professora primária Isabel Urbana Carneiro
de Albuquerque Gondim (1839-1933). Trata-se de uma intelectual que se
notabilizou pelo exercício do magistério e produção bibliográfica, notadamente,
peças de teatro, livros de poesias e textos de história. Desse modo, objetiva-se
problematizar a construção da concepção de história gestada pela pensadora
da história, bem como a sua mobilização da narrativa para a produção de
leituras atinentes ao passado da nação de forma que se tornasse inteligível e
sensível para os alunos.
124
relevante no processo de compreensão da historiografia brasileira e dos
fazeres historiográficos no contexto da virada republicana, pois elucida como
uma mulher, atuante no magistério primário de uma província do antigo norte
do país pensava a história na questão da escrita e da difusão das narrativas
históricas para públicos mais amplos (SANTOS, 2020).
Além disso, Isabel Gondim tem sido consideravelmente evocada como a voz
de mulher do final do século XIX que expressa de forma significativa a
visibilidade de mulheres intelectuais no Brasil do final do Império, em pesquisas
que vislumbram os diálogos com outras mulheres de seu tempo, como
Francisca Izidora (REVORÊDO, 2002) e Anna Ribeiro (MORAIS, 2008).
Por essa perspectiva intima e voraz, a narrativa histórica pensada por Isabel
Gondim era um caminho para evocar o sentimento patriótico e coadunava com
as prerrogativas cívico-patrióticas pensadas para o ensino de História nas
escolas primárias. A complexidade de um passado temporalmente distante
partira de uma realidade próxima, no espaço e no sujeito, respectivamente com
o cenário do Rio Grande do Norte e das memórias familiares da própria autora.
Se no âmbito da pedagogia moderna o ensino deveria partir do simples para o
complexo, do próximo para o distante e do concreto para o abstrato, Isabel
Gondim passava uma dimensão complementar desta prerrogativa, partindo do
emotivo para o racional, do familiar para o público.
125
Certamente, essa busca por uma reformulação da escrita da história pátria
mobilizada pela autora expressa uma visível preocupação com a aprendizagem
histórica. A escrita passava a ser revista com o propósito de buscar a
valorização de “factos históricos que provam, à evidencia, o amor que esta
pequena terra, em que vi a luz, sempre consagrou à independência da patria,
fecundando a arvore da liberdade com o sangue generoso de seus martyres”
(GONDIM, 1892, p. 2). Além disso, ela também expressa uma preocupação
com a aprendizagem histórica, na qual, a escrita coadunava-se com a
metodologia do ensino.
O ato historiográfico de chegar à verdade dos fatos por meio de uma escrita
que expressava sensibilidade, poesia e intimidade, expressa um recurso
operacional pouco operacionalizado por pensadores da história do período
entre o final do século XIX e o emergir do XX. Esse foi o caso de sua escrita
em cincos atos acerca da Guerra do Paraguai, no qual ela expressou os
elementos que permearam a escrita da história na perspectiva do teatro:
126
virtudes que mais convém moldar nas famílias, encarecer-lhes o valor, e por
ellas attrahir os corações. Apenas auxiliada por escassa-leitura de obras
secundarias n'este genero, e sem que tivesse ainda visto alguma
representação dramatica, arrojei-me a uma tal empreza, cujas difficuldades
eram-me desconhecidas” (GONDIM, 1909, p. 1).
Referências Biográficas
Dra. Ane Luíse Silva Mecenas Santos, professora do Departamento de História
e do Programa de Pós-Graduação em História dos Sertões do Ceres/UFRN
Dr. Magno Francisco de Jesus Santos, professor do Departamento de História,
do Programa de Pós-Graduação em Ensino de História e do Programa de Pós-
Graduação em História da UFRN.
127
Referências
GONDIM, Isabel. O sacrifício do amor: drama em cinco atos. Rio de Janeiro:
Typographia Commercial, 1909.
MORAIS, Maria Arisnete Câmara de. Isabel Gondim: uma nobre figura de
mulher. Natal: Terceirize, 2003.
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. “Aos que tivessem avidez de saber das
cousas pátrias”: Américo Braziliense, a escrita da história escolar e a invenção
do espaço paulista (1873-1879). In: OLIVEIRA, João Paulo Gama; MANKE,
Lisiane; SANTOS; Magno Francisco de Jesus (Orgs). Histórias do Ensino de
História: projetos de nação, materiais didáticos e trajetórias docentes. Recife:
EDUPE, 2020, p. 45-72.
128
SOARES, Lênin Campos. Isabel Gondim, a historiadora. Natal das antigas.
Natal, 2019. Disponível em: https://www.nataldasantigas.com.br/blog/isabel-
gondim-historiadora. Consultado em: 02/05/2020.
129
A SUBALTERNIZAÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO
NAS REFORMAS EDUCACIONAIS (1960-70): DIÁLOGOS
COM A MEMÓRIA
Sandra Regina Mendes e Lívia Diana Rocha Magalhães
Introdução
Este ensaio tem por objetivo situar a discussão realizada nos Anais da
Associação Nacional de História (ANPUH) diante de reformas educacionais
que implementaram os Estudos Sociais nos currículos, nas décadas de 1960-
70, visando compreender o processo de desvalorização da História nos
currículos escolares no atual contexto de implementação da reforma do ensino
médio. Tudo indica que há uma memória constituída nessas reformas que
continua vigente em sua atualização, ancorada na concepção de que a
História dever assumir um lugar de subalternação no currículo.
130
Da legislação à produção acadêmica dos historiadores debatendo os
estudos sociais
Na promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº. 4.024 de
1961, os Estudos Sociais apareceram “como disciplina optativa na listagem
relacionada pelo Conselho Federal de Educação das disciplinas a serem
escolhidas pelos estabelecimentos de ensino” (SANTOS, 2011, p. 10),
enquanto a História constava como componente obrigatório. Dessa flexibilidade
curricular permitida pela LDB surgiram as experiências de adoção dos Estudos
Sociais nos currículos, como observado em São Paulo nos Ginásios
Vocacionais e Pluricurriculares, em 1962, e na Escola de Aplicação da
Universidade de São Paulo. Também, no final da década de 1960, a Secretaria
da Educação do Estado de São Paulo inseriu os Estudos Sociais como
disciplina “nas duas primeiras séries do ciclo colegial secundário das escolas
da rede estadual” (Ato nº 24, de 28 de janeiro de 1969, Diário Oficial do Estado
de São Paulo, de 29 de janeiro de 1969).
131
“‘idéia de integração de estudos’, como hoje é intitulada, parece perfeitamente
exata e conforme ao ponto de progresso atingido pela cultura humana. Na sua
rápida carreira ascensional, a ciência teve de especializar-se necessariamente.
Mas, com isso, por vêzes se esqueceu de que um inteiro é alguma coisa a
mais que a simples soma das partes. Estas têm de ser exaustivamente
estudadas, cada uma em conformidade com seus métodos, meios e finalidades
próprios; mas, além da adição superposta dêsses conhecimentos, é o
entrosamento orgânico dêles que gera o conhecimento do todo” (PASSOS,
1971, p. 548).
132
diretamente o conteúdo de História no currículo escolar, começa assim a
desencadear um maior posicionamento da ANPUH
133
Conclusões parciais
A produção acadêmica publicada nos Anais da ANPUH se constitui como uma
fonte privilegiada para acompanhar o debate acerca do ensino de História no
Brasil diante do avanço de políticas educacionais que colocaram em suspenso
o conhecimento histórico para formação de estudantes. Observa-se uma
recuperação oficial de uma memória que ratifica a relativização da importância
da História na formação educacional e uma supremacia da sua compreensão
como área de estudos, mais uma vez.
Referências biográficas
Ms. Sandra Regina Mendes, professora da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB/Campus XVIII); Doutoranda no Programa de Pós-graduação em
Memória: Linguagem e Sociedade (PPGMLS).
Drª. Lívia Diana Rocha Magalhães, professora da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB), Programa de Pós-graduação em Memória:
Linguagem e Sociedade (PPGMLS)
Referências bibliográficas
HALBWACHS, Maurice. Los marcos sociales de la memoria. Rubí (Barcelona):
Anthropos Editorial; Concepción; Universidade de la Concepción: Caracas;
Universidade Central de Venezuela, 2004.
134
História “Porto, rotas e comércios”, São Paulo, Vol. I, 1971, p. 547-570. [evento
ocorrido em Campinas, São Paulo, de 01 a 07 de setembro de 1969].
Documentos legais
135
EDUCAÇÃO E TRABALHO: O SERVIÇO NACIONAL DE
APRENDIZAGEM INDUSTRIAL (SENAI) E A FORMAÇÃO DE
UMA POLÍTICA EDUCACIONAL PARA O TRABALHADOR
Aruanã Antonio dos Passos e Willian Roberto Vicentini
136
condições de trabalho e até mesmo a organização sindical. Para evitar esses
inconvenientes, começou a surgir toda uma ideologia de valorização do
trabalho ‘do elemento nacional’, cuja propalada inaptidão e inconstância já não
era vista como natural, senão como resultado da falta de oportunidades. [...]
Para tanto, o ensino profissional teria de deixar de ser destinado aos
miseráveis, órfãos, abandonados e delinquentes”.
Pode-se ainda citar, que referente a análise do objeto SENAI, este nos levou,
através de um processo reflexivo, a procurar compreendê-lo no movimento
real, o que nos permitiu pensar a problemática para este trabalho, pois
acredita-se que todo problema de pesquisa se volte a um questionamento, uma
137
inquietação a ser desvendada com a atividade efetiva do pesquisador. Então,
para buscar sanar as inquietações geradas pela intenção da pesquisa e de seu
tema, expõe-se o problema para esta tese, colocando a seguinte questão:
Como se deram as relações entre a política governamental de Vargas e a
atuação do SENAI na formação da força de trabalho para a indústria no Paraná
e em Santa Catarina dentro do recorte estabelecido na conjuntura histórica
nesses estados? Salienta-se que referente ao problema de pesquisa, sabe-se
que o recorte temporal desta pesquisae abrange os governos Vargas e Dutra,
mas para efeitos deste estudo específico, o governo Vargas terá mais atenção.
138
Essas questões são verificadas dentro deste movimento do real, não só no
fomento através dos decretos-lei, mas também, em gerar condições para que
as partes envolvidas em uma “educação” voltada para o trabalho. Partindo
desses objetivos, procurou-se investigar a relação neste processo de
qualificação do trabalhador e a educação profissional no Brasil, que foi e é
objeto de diferentes discussões e debates. Nesta Tese nossa intenção foi
mostrar a educação profissional e as diferentes ações de políticas públicas do
governo para a educação profissional e a criação de escolas profissionais,
entre as quais pode-se destacar o Decreto-lei nº 4.073/1942 – Lei Orgânica do
Ensino Industrial; nº 4.048/19425 – Lei Orgânica de criação do SENAI; nº
4.244/1942 – Lei Orgânica do Ensino Secundário; e nº 6.141/1943 – Lei
Orgânica do Ensino Comercial. A série de leis fomentadas pelo governo visa a
uma mudança de parâmetro em relação à formação do quadro de
trabalhadores mais especializados no país.
139
Frigotto (1989, p. 83) ao considerar o materialismo histórico dialético como um
método de análise, cita a importância em “indagar sobre o sentido histórico,
social, político e técnico de nossas pesquisas”, e na importância em aplicar o
método na verificação do objeto de pesquisa, em que se busca no estudo do
SENAI, apontar os elementos da instalação desta instituição dentro de uma
época de mudanças, de crise econômica e de guerra, não apenas no que se
refere à transição do modelo agroexportador para o urbano industrial, mas
também os elementos de uma sociedade capitalista contemporânea que se
organiza em meio as mudanças políticas, sociais e econômicas no processo de
produção das condições materiais de subsistência da classe trabalhadora.
140
de pensar e agir dos que dirigiam e dos que atuavam no processo de formação
dos estudantes. Apontavam a maneira de como os estudantes eram
conduzidos em sua maneira de pensar. Ainda, sua metodologia e apontava a
relação dos estudantes com todo o processo que envolvia a formação para o
trabalho. pesquisam-se os trabalhadores urbanos em outras regiões do país,
capitais no Norte e no Sul. Ainda, Richard Bourne (2012), com: Getúlio Vargas:
a esfinge dos pampas, em que traça uma relação entre o Brasil e a vida de
Vargas.
Para debater a questão econômica, Caio Prado Júnior (2000), nos apresenta a
obra: História Econômica do Brasil, um estudo que em seu desenvolvimento,
busca trazer uma compreensão que discorre em épocas dentro da economia
do Brasil, em que se indaga as circunstâncias em que este processo ocorreu.
Celso Furtado (1977), nos apresenta uma obra: Formação Econômica do
Brasil, um estudo a respeito do processo histórico de como se constituiu a
economia brasileira. Uma obra que é construída no calor das lutas sociais, que
indicava as raízes históricas de nosso subdesenvolvimento [...] e que tendia a
agravar as desigualdades regionais. José Paulo Netto e Marcelo Braz (2017),
com Economia Política: uma introdução crítica, nos mostra uma obra que
busca efetuar uma abordagem crítica da economia política, uma síntese de
leituras acumuladas em anos de pesquisa e magistério.
No caso do Paraná, Pedro Calil Padis (1981), nos apresenta uma obra
Formação de uma Economia Periférica: O caso do Paraná, que busca
contribuir para um melhor entendimento dos processos socioeconômicos
responsáveis pela atual conformação do Paraná. Em relação a Santa Catarina,
Alcides Goularti Filho (2016), com Formação Econômica de Santa Catarina,
que apresenta uma relação direta com ao tema e ao objeto de pesquisa deste
Trabalho, uma obra que traz séries históricas para entender a realidade
concreta, a construção das relações e as transformações estruturais, ainda cita
o autor, que este, recorre às esferas política, cultural e social [...], tendo como
eixo o processo de acumulação capitalista, de valorização do capital e de
construção das relações sociais e políticas, para explicar as mudanças
econômicas no Estado de Santa Catarina.
141
compreensão de como se produz e ocorre a organização do trabalho. Ítalo
Bologna (1980), com Roberto Mange e sua obra, esta obra reúne uma
documentação expressiva das ideias e ações mais significativas de Roberto
Mange nos domínios de Formação e Seleção Profissional, da Organização do
Trabalho e de assuntos correlatos. e Celso Suckow da Fonseca (1986) com
História do Ensino Industrial no Brasil – v.2, que trata do Ensino Industrial no
país, de leis e personagens atrelados a este, também, Maria de Fátima
Rodrigues Pereira (2012), com Trabalho e Educação: Uma Perspectiva
Histórica, em que a autora cita: a obra concorre para superar visões estanques
da vida e do ensino. Reafirma, portanto, a vitória sobre o cientificismo que
coisifica e formata o ser humano.
Referências biográficas
Dr. Aruanã Antonio dos Passos. Professor do Departamento Acadêmico de
Ciências Humanas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR),
Campus Pato Branco.
Dr. Willian Roberto Vicentini. Professor da Rede Estadual de Educação do
Estado do Paraná (SEED-PR) e da Faculdade de Colombo (FAEC).
Referências bibliográficas
BERNARTT, Maria de Lourdes; SIGNORINI, Noeli Tereza Pastro. (In
Memoriam). A pesquisa na formação do profissional da educação sob os
pressupostos do materialismo histórico-dialético. In BERNARTT, Maria de
Lourdes. (Org). PARFOR: reflexões, sentidos e significados no ser e no fazer
docente. UTFPR Câmpus Pato Branco, 2014.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10ª. ed. – São Paulo: Edusp, 2002.
_____________. Trabalho Urbano e Conflito Social. Rio de Janeiro: Difel,
1977.
142
143
“PROGRESSO COM ORDEM” – A HISTÓRIA ENSINADA
NO ESTADO NOVO
Willian Spengler
144
A ideologia do Estado Novo enfatizava principalmente a ideia de construção da
nação e da nacionalidade brasileira sob a tutela do Estado. Para ter o controle
dos meios de comunicação e formar uma opinião pública favorável ao governo,
foi criado em 1939 o Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP. O DIP
fez a promoção das atividades do governo nas esferas cultural, social e
educacional, objetivando que não houvesse contestação por parte do público.
A meta era apresentar as transformações cumpridas na ação estatal.
Por sua vez, Lenharo (1986, p. 39) assevera que “a propaganda varguista
projetava para a sociedade uma só imagem de si mesma, imersa num mundo
de ficção, a competir com o mundo da sua realidade. O peso dos erros do
passado fora afastado; a sociedade antes dividida e conflituosa, agora,
encontrava o caminho da paz e do equilíbrio; o trabalhador, por sua vez,
finalmente tinha a seu favor um Estado protetor e justo; a nação reencontrava-
se consigo mesma e abria-se confiante para o progresso econômico”.
145
pela negatividade total e o depois (Estado Novo) era a expressão do bem e do
bom”.
146
acordo com o autor, “a expansão do ensino secundário na década de 30 e a
sua rígida seriação cumprem um papel chave, pois impunham uma nova
dinâmica para a produção e utilização dos livros didáticos”.
Buscando exemplos de tal modus operandi, o estudo realizado por Vaz (2006,
p. 87) mostra-se esclarecedor. De acordo com a estudiosa , verifica-se que
ao tratar da Independência do Brasil, os livros didáticos utilizados durante o
Estado Novo exprimiam o reverenciamento ao seu principal herói: D. Pedro.
Ele era tratado como o “salvador da pátria”, personagem que resolveu todos os
problemas do Brasil após o retorno de D. João VI a Portugal. Palavras de
empenho e energia, inteligência e perspicácia, eram atribuídas a sua figura. D.
Pedro sempre estava pronto em defesa da causa pública e os seus principais
empecilhos apontavam os descontentamentos regionais nas províncias do
Norte, que inicialmente se recusaram a aceitá-lo. Atitude análoga ocorria ao se
falar de Vargas: o homem que enfrentava diversas dificuldades em nome dos
anseios do país. Sua “mística” de empreendedor entoava-se na descrição de
seu governo, colocando o presidente no mesmo patamar de D. Pedro I e outros
“grandes heróis do passado”, como o “condutor” do Brasil ao progresso. Getúlio
Vargas, apresentado como herói, transmutava-se no homem preparado e
147
capaz de defender os interesses do Brasil, como fizeram vários outros
governantes do passado.
Fonte:
https://bdm.ufmt.br/bitstream/1/1088/1/TCCP_2018_Reniane%20Silva%20de%
20Souza.pdf
148
conteúdos transmitidos na escola para no futuro ser um bom operário,
domesticação de consciências”.
Referências biográficas
Willian Spengler, professor/historiador vinculado à Secretaria de Estado da
Educação de Santa Catarina, pós-graduado pela UFRJ.
Referências bibliográficas
AMARAL, Karla Cristina de Castro. Getúlio Vargas: o criador de ilusões –
análise da propaganda política no período do Estado Novo. São Bernardo do
Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2001. (Dissertação de
Mestrado).
CAPELATO, Maria Helena Rolim. O Estado Novo: o que trouxe de novo? In:
FERREIA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida das Neves. O tempo do
nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
149
HENN, Leonardo Guedes. A educação escolar durante o período do Estado
Novo. Revista Latino-Americana de História, vol. 2, n. 6, ago. 2013. PPGH-
UNISINOS. Disponível em:
http://revistas.unisinos.br/rla/index.php/rla/article/view/254http://revistas.unisino
s.br/rla/index.php/rla/article/view/254.
150
UM FUTURO MELHOR: É O QUE BUSCAMOS, É O QUE QUEREMOS!
151