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AULA 1

PSICOLOGIA NA ENGENHARIA
DE SEGURANÇA DO TRABALHO,
COMUNICAÇÃO E TREINAMENTO

Prof.ª Giseli Cipriano Rodacoski


CONVERSA INICIAL

O estudo desta disciplina se justifica pela relevância dos aspectos


psicológicos envolvidos nas situações de trabalho que, quando considerados,
podem motivar ações de prevenção da saúde mental, manejo do estresse,
promoção do comportamento seguro dos trabalhadores e boas práticas no
exercício da liderança, resultando em mais satisfação com o trabalho, melhores
relações interpessoais e maior consciência sobre os aspectos determinantes de
acidentes de trabalho.
O objetivo, então, é compartilhar saberes e práticas da Psicologia que não
são privativos de psicólogos, e sim de competência multiprofissional, para ampliar
a capacidade dos alunos em gerenciar as relações interpessoais em contexto de
trabalho, com vistas a comprometer os trabalhadores com o comportamento
seguro por meio de modelos de liderança humanista.

TEMA 1 – PSICOLOGIA

A palavra “Psicologia” é de origem grega (Ψ), formada das palavras psique,


que significa alma, e logos, que significa estudo. Etimologicamente, então,
Psicologia significa o “estudo da alma”.
Ter a alma como objeto de estudo no século XIX, em um modelo positivista
de ciência não favorecia o fortalecimento da Psicologia como ciência e profissão,
pois, durante muitos anos, alinhado à visão cartesiana, o homem foi
compreendido como tendo mente e corpo com funcionamentos em separado,
sendo que a ciência tratava do corpo (objetivo/racional) e a igreja tratava da mente
(subjetivo/irracional).

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Figura 1 — Mente e corpo separados

Créditos: GoodIdeas/Shutterstock

Atualmente, o paradigma científico já concebe a dissociação entre mente e


corpo, superando a visão dualista cartesiana. No lugar de separar mente e corpo,
hoje são considerados os processos mentais, que em parte são conscientes,
objetivos e racionais, mas que também são em parte inconscientes, subjetivos e
irracionais, ou seja, interferem no comportamento da pessoa mesmo que a pessoa
não perceba. Exemplo disso ocorre quando se diz algo como “Foi sem querer,
quando eu percebi já tinha feito isso, não foi minha intenção!”.
Ao longo de sua história, a Psicologia se fortaleceu cientificamente por ter
a subjetividade como objeto de estudo. A subjetividade é o que dá identidade às
pessoas, o que diferencia uns dos outros e faz com que cada pessoa seja única.

A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e


fazer de cada um […] entretanto, a síntese que a subjetividade
representa não é inata ao indivíduo. Ele a constrói aos poucos,
apropriando-se do material do mundo social e cultural, e faz isso ao
mesmo tempo em que atua sobre este mundo, ou seja, é ativo na sua
construção. Criando e transformando o mundo (externo), o homem
constrói e transforma a si próprio (Bock; Furtado; Teixeira, 2001, p. 23).

Em uma definição contemporânea, “a psicologia é o estudo científico do


comportamento e dos processos mentais” (Morris, 2004, p. 2). Dessa forma, a
Psicologia ocupa-se da dimensão subjetiva — motivação, razão e emoção — para
compreender o comportamento humano.
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Então, o que a Psicologia busca compreender é o que motiva ou inibe o
comportamento de uma pessoa, ou seja, o que determina, quais são as variáveis
envolvidas. O que explica as pessoas sentirem e se comportarem de maneiras
diferentes diante da mesma situação? Dessa maneira, a Psicologia se interessa
pelas diferenças individuais, pelo que há de subjetivo nos seres humanos, que
lhes garantem identidade e individualidade. Identificando as variáveis que
interferem nos comportamentos humanos, podemos compreender e orientar as
relações humanas nos diversos contextos de vida pessoal, social, educacional e
organizacional.
A Psicologia como ciência existe desde 1879, quando estudos
coordenados por Wilhelm Wundt, na Alemanha, investigavam a estrutura da
mente humana por meio de experimentos em laboratório, que mediam a
intensidade das sensações, as percepções espaciais, os processos da atenção,
sentimentos e afetos, os processos de associação e a memória. A sistematização
dos estudos universitários deu origem à Psicologia Experimental e, assim, o local
passou a ser um centro formador de psicólogos. (Araujo, 2009).
Paralelamente aos primeiros estudos que deram origem à Psicologia
Experimental, também teve início a prática clínica de Sigmund Freud que deu
origem à Teoria Psicanalítica, que não nasceu na Psicologia, mas na Medicina:

• 1879 – Psicologia Experimental – Wilhelm Wundt


• 1900 – Psicanálise – Sigmund Freud

Essas são duas áreas de estudo que se dedicaram ao estudo da mente,


sendo que a Psicologia seguiu investigando as funções mentais que favorecem a
adaptação da pessoa ao meio ambiente a Psicanálise dedicou-se ao estudo de
processos mentais inconscientes, intrapsíquicos, que interferem nas funções
mentais adaptativas.
A Psicologia Experimental deu fundamento para a aplicação da Psicologia
nas indústrias, no desenvolvimento de testes psicológicos para recrutamento e
seleção, para treinamento e estudo da produtividade na vida organizacional.
Nesse contexto, o engenheiro mecânico Frederick Winslow Taylor
influenciou muito os psicólogos experimentais no início do século XX. Taylor criou
um método de administração para potencializar a produtividade, conhecido como
Teoria de Administração Científica do Trabalho (Araujo, 2009), que consistia em
um conjunto de conhecimentos e procedimentos para organizar o trabalho de

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maneira racional, à luz da ciência. De acordo com essa teoria, os trabalhadores
deveriam ser recrutados e treinados para que estivessem alinhados ao que foi
planejado pela indústria, seus trabalhos deveriam ser supervisionados para inibir
ociosidade e para verificar se estavam produzindo de acordo com o programado.
E ainda, para reduzir custos e tempo, os movimentos dos trabalhadores deveriam
ser padronizados.
As cenas do filme Tempos Modernos, de 1936, ilustram esse período
histórico que marcou o início da Psicologia Industrial. O filme protagonizado por
Charles Chaplin fez uma crítica à massificação dos trabalhadores, que eram vistos
como objetos, sem que tivessem sua subjetividade considerada, mas sim apenas
sua capacidade para o trabalho. A Psicologia da época colaborou para separar os
aptos dos não aptos para o trabalho, selecionando aqueles que tinham mais
agilidade (menor tempo de reação ao estímulo), mas isso logo se mostrou um
prejuízo para a saúde mental dos seres humanos.

Figura 2 — Cena do filme Tempos Modernos

Créditos: neftali/Shutterstock.

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Após um século de história, a Psicologia alinhou seu método de
investigação e tratamento aos direitos humanos e atualmente contribui com
teorias psicológicas sobre desenvolvimento, personalidade e relações humanas,
reconhecendo processos psíquicos subjetivos que diferenciam as pessoas umas
das outras e a influência de determinantes sociais e culturais às quais as pessoas
estão submetidas.
Podemos entender que as pessoas são determinadas por um processo
sócio-histórico que as antecede e que lhes dá pertencimento, e pelo seu próprio
processo psíquico de desenvolvimento e individuação que lhes garante a
condição de sujeitos e que caracterizam a sua personalidade.

TEMA 2 – LINHAS DE PENSAMENTO DA PSICOLOGIA

As teorias que fundamentam a prática do psicólogo são conhecidas como


“escolas”, ou linhas de pensamento. Desde sua origem até os dias atuais,
surgiram muitas linhas de pensamento que se diferenciam conforme o ponto de
vista e o objeto de investigação.
Cada uma das linhas teóricas se fundamenta em concepções filosóficas
sobre a teoria do conhecimento e a natureza do ser humano, ou seja: quem é o
ser humano e como adquire conhecimento:

• Inatistas: as teorias inatistas se sustentam no racionalismo do filósofo


René Descartes (1596-1650) e consideram que, ao nascer, a criança já tem
consigo uma determinação hereditária que terá influência no seu padrão de
comportamento. Essa carga hereditária é chamada de “temperamento”. Há
dois ditados populares que caracterizam essa concepção: “Filho de peixe,
peixinho é” e “Pau que nasce torto nunca se endireita”.
• Ambientalistas: concepção alinhada à “teoria da tábula rasa”, escrita em
1695 pelo filósofo John Locke (1632-1704), essa escola enfatiza o
ambiente, considerando que ao nascer a pessoa é uma página em branco.
O ambiente faz com que a pessoa se adapte aos estímulos estressores aos
quais ela precisa dar uma resposta e, dessa maneira (reativa aos
estressores ambientais), vai se moldando seu comportamento. Um ditado
popular que caracteriza essa concepção é: “Me dê uma criança de colo e
eu faço dela um bandido ou um homem de bem”.

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• Interacionistas: esta concepção foi dada pelo filósofo Immanuel Kant
(1724-1804), para quem a razão é inata, mas é uma estrutura vazia e sem
conteúdo, que depende da experiência para existir. Assim, põe-se fim à
polaridade “inato ou adquirido”. Segundo essa perspectiva, as duas coisas
precisam ser consideradas, pois as capacidades mentais são inatas, porém
os conteúdos são apreendidos por meio da experiência.

Fundamentada nas teorias filosóficas do conhecimento, a Psicologia


desenvolveu suas linhas de pensamento. As diversas escolas se diferenciam pela
ênfase dada a cada uma das variáveis que determinam o comportamento
humano: carga hereditária e inata / experiências psicossociais da infância /
elementos do contexto atual de vida.
Com base em Morris (2004), foi proposto o Quadro 1 para identificar as
principais Escolas e seus pressupostos.

Quadro 1 — Linhas de pensamento da Psicologia

Primeiras escolas (linhas de pensamento) no séc. XIX


Estruturalismo Focaram seu estudo em investigar como se estruturava a mente
humana, as características principais e específicas dos processos
Psicologia de consciência e as estruturas do sistema nervoso. Pesquisas
Experimental experimentais em laboratório.

Focou seu estudo no funcionamento dos processos mentais.


Entende que as pessoas se diferem pela maior ou menor
Funcionalismo
capacidade de se adaptar ao contexto, a qual será maior quanto
melhor for o funcionamento dos processos mentais.

Escolas (linhas de pensamento) que surgiram no séc. XX


Estuda comportamentos mensuráveis, passíveis de serem
Behaviorismo /
observados. Tem como premissa que o comportamento é sempre
Comportamental
um produto do meio ambiente.

Enfatiza o estudo do inconsciente, que influenciaria fortemente as


ações do indivíduo. A ênfase está nas experiências significativas
Psicanálise
da infância ao longo do processo de constituição do sujeito e
estruturação de sua personalidade.

Psicologia Tem como objeto de estudo a consciência e nega qualquer


fenomenológica determinismo, acreditando na liberdade de escolha. A
existencial intencionalidade é a essência da consciência.

Primeiros estudos sobre a importância da percepção. O indivíduo


Psicologia da
tem tendência de enxergar padrões, de distinguir um objeto do seu
Gestalt
fundo, de completar uma figura com base em algumas pistas.

Psicologia Centrada na pessoa e não no comportamento. Os interesses e


humanista valores humanos são primordialmente importantes. A importância

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ou intensidade dada a um evento é sempre determinada pela
maneira que a pessoa o percebe e não pelo evento em si.

É o estudo dos processos mentais no sentido mais amplo: pensar,


Psicologia sentir, aprender, recordar, tomar decisões, fazer julgamentos, e
cognitiva assim por diante. Ampliou o interesse da Psicologia para além do
comportamento.

Escolas “emergentes” que surgiram no final do séc. XX e início do séc. XXI


Psicologia Busca compreender as origens evolucionárias que orientam
evolucionista padrões de comportamento e processos mentais.

Psicologia Dedica-se ao estudo do modo de vida, aos sentimentos subjetivos


positiva de felicidade e bem-estar.

Créditos: elaborado com base em Morris, 2004.

Como podemos perceber, não existe apenas uma concepção, mas várias.
O fato de serem diferentes não quer dizer que uma seja mais certa do que outra,
mas sim que elas estudam aspectos diferentes, sendo que todos eles são
variáveis que interferem no comportamento humano.

TEMA 3 – TEORIAS COMPORTAMENTAIS

As teorias comportamentais têm influência da Psicologia Experimental que


enfatiza a possibilidade de modelar o comportamento a partir de estímulos
ambientais, postulando que nossos comportamentos são determinados e
controlados pelos estímulos ambientais.

3.1 Behaviorista

O behaviorismo entende que um sistema de recompensa e punição é capaz


de modelar o comportamento esperado. Essa é uma linha de pensamento da
Psicologia cujo foco é no controle do comportamento. Assim, os psicólogos
behavioristas entendem que tanto os seres humanos quanto os animais se
ajustam ao seu meio ambiente (adaptação) e o fazem por meio de hábitos.

Colocamos nosso animal em uma situação na qual ele vai responder (ou
aprender a responder) a uma de duas luzes monocromáticas.
Alimentamo-lo em uma (positiva) e punimo-lo na outra (negativa). Em
pouco tempo, o animal aprende a ir à luz na qual ele é alimentado
(Watson, 2008, p. 296).

O papel da subjetividade nesse experimento tem apenas o propósito de


elucidar qual seria a maquinaria mental envolvida na formação dos hábitos

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aprendidos: lembrança, recordação e esquecimento. O maior poder está em ser
capaz de treinar a mente para que o comportamento desejado seja espontâneo.

A variedade de respostas e a determinação dos estímulos efetivos, da


formação de hábitos, permanência de hábitos, interferência e
reforçamento de hábitos, precisam ser determinados e avaliados em si
mesmos (Watson, 2008, p. 300).

Com base nessa abordagem teórica, o tratamento coloca pouca


importância na subjetividade e na individualidade, pois a ênfase está na produção
de hábitos. Dessa maneira, acaba tornando os processos reflexivos tão
mecânicos quanto o treino para a formação do hábito.
Em diversos momentos da vida pessoal e profissional, essa concepção se
aplica, especialmente a situações em que o bom desempenho depende de uma
competência procedimental. Como exemplo, podemos pensar em uma inovação
tecnológica, a qual demanda um treinamento para aprender a usar o novo sistema
operacional de uma máquina. Trata-se de uma habilidade procedimental, pois o
produto será o mesmo, e apenas o processo mudou. Dessa forma, há que se inibir
o modelo antigo de operar e reforçar o novo modelo de operação.
Mas vamos considerar que a empresa mude a tecnologia muito
rapidamente e que os funcionários se mostrem exaustos diante das frequentes
mudanças. Isso comunica que as inovações não estão fazendo sentido para eles.
Nesse caso, será insuficiente a utilização do esquema estímulo-reforço, pois essa
abordagem dá pouca importância aos processos crítico-reflexivos e para a
subjetividade dos atores envolvidos.

3.2 Teoria cognitivo-comportamental

Surgida na década de 1960, na Universidade da Pensilvânia, pelo trabalho


do psiquiatra Aaron Beck, essa abordagem é centrada em experimentação,
ensaio e erro e testagem de hipóteses com controle de variáveis. Objetiva-se que,
por meio dessa estratégia, o paciente imagine soluções tangíveis para cada um
dos problemas e crie alternativas para mediá-los (Beck, 2013).
É incentivada a análise crítica-reflexiva das situações e a identificação de
padrões de pensamento, crenças e emoções que possam estar interferindo na
percepção da realidade com o objetivo de ampliar a capacidade das pessoas para
enfrentar situações, criando estratégias e desenvolvendo novas habilidades.

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Uma das estratégias para solução de problemas é por meio da identificação
de três classes de problemas: aqueles que solucionou durante a semana, os
problemas que continuam gerando sofrimento e os que prevê que acontecerão na
próxima semana.
De acordo com a teoria cognitivo-comportamental, a pessoa pode aprender
a identificar, monitorar e gerenciar não apenas seus problemas do contexto
(externo) quanto seu padrão de crenças e pensamentos (interno) que causam
uma visão distorcida da realidade, como:

• Visão de si: acredita que não tem valor, que é incapaz e não se sente
seguro para enfrentar situações difíceis ou ameaçadoras.
• Visão do outro: acredita que não vale a pena se relacionar com outras
pessoas, pois elas não poderão ajudá-lo.
• Visão do futuro: incerteza e imprevisibilidade. Dificuldade em enxergar
possibilidade de mudança ou melhoria.

Esse modelo de intervenção é conhecido como Psicoeducação e, por ter


uma abordagem cognitiva do comportamento, é bastante aplicável nos ambientes
organizacionais, em programas de treinamento e desenvolvimento de recursos
humanos em que se conta com a participação de um psicólogo para se
responsabilizar tecnicamente pelo processo.

TEMA 4 – TEORIA PSICANALÍTICA

A teoria psicanalítica pressupõe a existência de processos mentais


inconscientes. Enquanto as teorias behaviorista e cognitivo-comportamental
enfatizam a capacidade de gerenciar o comportamento, a psicanálise defende que
não se pode ter total controle sobre nossas ações.
Na concepção de Sigmund Freud (1920), o aparelho psíquico é formado
por três instâncias: id, ego e superego. Apenas o ego e o superego são em parte
conscientes. Feldman (2015) faz uma analogia com um iceberg, que tem apenas
uma parte exposta e grande parte escondida. Apesar de inconscientes, as
emoções do inconsciente ainda determinam nosso comportamento e muitas
vezes usamos isso para nos justificar, como se fôssemos vítimas de nosso próprio
inconsciente.

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• ID – instância inata, arcaica, bruta e não organizada da personalidade, cujo
único propósito é reduzir a tensão. Tende ao princípio do prazer e não ao
princípio da realidade. É inconsciente.
• EGO – núcleo mais organizado, que faz a mediação das demandas do
mundo interno (id) e do mundo externo (normas, superego). É parte
consciente e parte inconsciente.
• SUPEREGO – conjunto das forças morais inibidoras que se desenvolvem
sob a influência da educação durante o processo de socialização. Essas
normas advindas da educação são internalizadas pelo indivíduo como parte
da sua personalidade. O superego torna o comportamento menos egoísta
e mais virtuoso e, quando internalizado em excesso, pode resultar em
comportamentos com tendência ao perfeccionismo. É parte consciente e
parte inconsciente.

Para a Psicanálise, muito do que determina o comportamento humano é


motivado por pulsões inconscientes, e o ser humano não tem domínio total sobre
essas pulsões, pois o inconsciente não se subordina à vontade ou à razão. Ou
seja, o ser humano é falível, é passível de erro.

TEMA 5 – TEORIA DA GESTALT

A Psicologia da Gestalt se opõe à influência do inconsciente (Psicanálise)


e, também se opõe à previsibilidade do comportamento (behaviorismo).
Considerando a pessoa como centro e responsável por seu próprio espaço no
mundo, a teoria da Gestalt parte do pressuposto de que a tomada de decisão se
dá a partir da percepção que a pessoa tem e entende que os conflitos acontecem
por diferentes percepções do mundo que há entre diferentes pessoas.

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Figura 3 — Imagem que mostra diferentes percepções

Créditos: Peter Hermes Furian/Shutterstock

A partir de sua subjetividade, cada um terá uma percepção da realidade e


ela não será igual para todos.
Segundo Evangelista (2015), a Gestalt está alinhada com as abordagens
humanistas e existencialistas que emergiram no pós-guerra e acentuam a
necessidade de tolerância, permissividade e autoexpressão das pessoas como
caminhos para a autoafirmação e o centramento dos sujeitos.

[…] reconhecimento de que o homem é realidade e potencialidade,


natureza e divindade; a importância de uma “antropologia filosófica” que
diferencie radicalmente o homem; a ênfase no caráter auto-realizador,
projetivo de si; as variáveis humanas escolha, decisão, vontade,
autonomia e responsabilidade; o papel fundamental do futuro no
desenvolvimento (Evangelista, 2015, p. 60).

Muitos dos conflitos nas relações interpessoais se dão por conta da


dificuldade em reconhecer diferentes percepções, que podem ocorrer por
diferentes pontos de vista:

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Figura 4 — Diferentes pontos de vista podem gerar conflitos

Créditos: Christophe BOISSON/Shutterstock.

Essa abordagem psicológica é aplicável nos ambientes de trabalho e na


vida pessoal diante do desafio de ampliar a visão individualista e considerar o todo
e não as partes. Trata-se de uma concepção que fundamenta as relações
interpessoais mediadas pelo diálogo em que todos os pontos de vista são válidos,
bem como o trabalho de equipe e as relações complementares. Está alinhada com
o paradigma da complexidade e com a premissa de que o todo é maior que a
soma das partes.

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REFERÊNCIAS

ARAUJO, S. de F. Wilhelm Wundt e a fundação do primeiro centro internacional


de formação de psicólogos. Temas em Psicologia. Ribeirão Preto, SP:
Sociedade Brasileira de Psicologia. v. 17, n. 1, p. 9-14, 2009.

BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. Porto Alegre:


Artmed, 2013.

BOCK, A. M. B., FURTADO, O., TEIXEIRA A. L. T. Psicologias – uma introdução


ao estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, , 2001.

EVANGELISTA, P. E. R. A. O que pode um psicólogo fenomenológico-


existencial: questionamentos e reflexões acerca de possibilidades da prática do
psicólogo fundamentadas na ontologia heideggeriana. 2015. Tese (Doutorado em
Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) — Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

FELDMAN, R. S. Introdução à Psicologia. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.

FREUD, S. Além do Princípio do Prazer (1920) In: Edição Standard Brasileira


das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. 2. ed. v. XVIII, Rio de
Janeiro: Imago, 1986.

MORRIS, C. G. Introdução à Psicologia. 6. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

WATSON, J. B. Clássico traduzido: a Psicologia como o behaviorista a vê. Temas


em Psicologia. Ribeirão Preto, SP: Sociedade Brasileira de Psicologia. v. 16, n.
2, p. 289-301, 2008.

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