Portaria CVS No 52013 Como Ferramenta de Prevencao
Portaria CVS No 52013 Como Ferramenta de Prevencao
Portaria CVS No 52013 Como Ferramenta de Prevencao
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SEGURANÇA
alimentar e nutricional
Luana Limoeiro Ferrão1, Isabela Cristina Lobo de Morais2 e Elisa Helena da Rocha Ferreira3
A vigilância em saúde possui como objetivo a observação e análise constantes da situação de saúde da
população. As doenças transmitidas por alimentos e seus surtos são um dos maiores desafios para a Saúde
Pública. Estes surtos devem ser notificados, segundo o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica vigente,
sendo que, paralelamente à investigação, devem ser tomadas medidas de prevenção e controle. No Brasil esse
perfil epidemiológico ainda é pouco conhecido, presumindo-se alta morbidade sem conhecer sua real
magnitude. Buscando diminuir os casos destes surtos, a Secretaria do Estado de São Paulo aprovou em abril de
2013 a Portaria CVS no 5. Neste regulamento foram acrescidas medidas de prevenção e controle importantes
para assegurar a diminuição do risco de contaminação do alimento. Este trabalho teve como objetivo discutir
os avanços da legislação em relação à segurança dos alimentos, analisando as diretrizes da nova Portaria CVS no
5/2013. Constatou-se que é uma legislação mais rígida e detalhada que as revogadas CVS n o 6/1999 e CVS no
18/2008 e até mesmo que a legislação federal em vigor, RDC no 216/2004, principalmente no que tange a saúde
e segurança do manipulador, processamento e armazenamento dos alimentos.
1
Professora da Universidade Estácio de Sá. Endereço para correspondência: Rua André Rocha n o 838, Taquara, CEP 22710-560, Rio de Janeiro – RJ. E-mail: luana.limoeiro.ferrao@gmail.com
2
Nutricionista Pleno da Gerência Corporativa de Saúde da Petrobrás. Av. Almirante Barroso, n o 08, 23o andar, Centro, CEP 20031-045, Rio de Janeiro – RJ.
3
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Instituto de Tecnologia, Departamento de Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Endereço
para correspondência: Rodovia BR 465, km 7, CEP 23890-000, Seropédica – RJ.
METODOLOGIA
Gráfico 2. Número de surtos de DTA por tipo de 40% de humanos adultos são portadores
alimento no Brasil, entre 2000 e 2013. assintomáticos, apresentando este micro-organismo
nas fossas nasais [21].
deverá durar 3 minutos para que seja garantida uma qualitativas e sensoriais das matérias-primas. Uma
ação eficiente deste processo. Cartazes com o correto grande diferença entre a CVS no 5/2013 e a CVS no
procedimento de lavagem deverão ser afixados nas 6/1999 está em relação à temperatura de recebimento
pias exclusivas para este fim. Esse procedimento tem dos alimentos congelados e refrigerados, temperatura
como finalidade eliminar a microbiota transitória da esta que deverá ser conferida e registrada no
pele e reduzir a microbiota residente, além de momento da recepção. Estas temperaturas podem ser
proporcionar efeito residual na pele do manipulador observadas na Tabela 1. Na RDC no 216/2004 não
[23]
. existe nenhuma especificação quanto à temperatura
no ato de recebimento de mercadorias, apenas que
Manipulação dos Alimentos deve ser obedecido o recomendado pelo fabricante.
relação com surtos de DTA [19]. São proibidas balcões de distribuição. O recebimento de dinheiro e
preparações onde os mesmos estejam crus ou mal afins deverá ocorrer em área específica, por um
cozidos, sendo que o ovo cozido deverá ser fervido funcionário que não manipule alimento, evitando
por 7 minutos e ovo frito servido com a gema dura. assim a contaminação dos alimentos. Nos casos em
Em preparações sem cocção (maionese, mousse, entre que são utilizados balcões térmicos, a água deverá ser
outras) usar ovo pasteurizado, desidratados ou trocada diariamente, mantida entre 80-90°C e sua
cozidos. Durante a manipulação do ovo, o mesmo temperatura deverá ser aferida e registrada durante a
deverá ocorrer de modo que o conteúdo não entre em distribuição. Deverá ser respeitado o binômio tempo
contato com a casca. A fim de evitar a contaminação e temperatura, conforme a Tabela 3. Caso não seja
destas preparações, é proibido usar ovos com cascas cumprido estes parâmetros o alimento exposto deverá
rachadas e sujas. O armazenamento dos ovos deverá ser descartado. É permitida a reutilização de
ser, preferencialmente, sob refrigeração, sendo alimentos para fins de doação gratuita, incluindo-se
recomendável lavá-los apenas antes do uso. sobras, em qualquer etapa da produção, desde que
elaborados com as Boas Práticas. Não incluem neste
Na distribuição dos alimentos prontos ao âmbito os restos dos pratos dos consumidores. A
consumo os mesmos devem estar expostos protegidos RDC no 216/2004 recomenda apenas a exposição de
contra poeiras, insetos e outras pragas e contra alimentos quentes, os quais devem ser mantidos a
contaminantes oriundos dos consumidores (gotículas uma temperatura superior a 60°C por no máximo 6
de saliva, cabelo, entre outros) e distantes de produtos horas.
químicos e da incidência direta do fluxo de ar. Os
ornamentos da área de distribuição não devem estar
entre o fluxo de ar e os alimentos, tampouco sobre os
Tabela 3. Diferença entre a CVS no 5/2013 e a CVS no 6/1999 no binômio tempo versus temperatura a ser
respeitado na distribuição dos alimentos.
Temperatura (°C) x Tempo de Exposição (horas)
Tipo de Alimento
CVS no 5/2013 CVS no 6/1999
≥ 65°C/12 horas
Alimentos Quentes ≥ 60°C/máximo 6 horas 60°C/6 horas
< 60°C/máximo 1 hora < 60°C/3 horas
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