Vol33No10 05-AR10313
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CITOCALASINAS PRODUZIDAS POR Xylaria sp., UM FUNGO ENDOFÍTICO DE Piper aduncum (PIPERACEAE)#
Geraldo H. Silva, Camila M. de Oliveira, Helder L. Teles, Vanderlan da S. Bolzani e Angela R. Araujo*
Artigo
Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista, CP 355, 14801-970 Araraquara – SP, Brasil
Ludwig H. Pfenning
Departamento de Fitopatologia, Universidade Federal de Lavras, 37200-000 Lavras – MG, Brasil
Maria Claudia M. Young
Seção de Fisiologia e Bioquímica de Plantas, Instituto de Botânica, CP 4005, 01061-970 São Paulo – SP, Brasil
Claudio M. Costa-Neto
Departamento de Bioquímica e Imunologia, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 14049-900
Ribeirão Preto – SP, Brasil
Renato Haddad e Marcos N. Eberlin
Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, CP 6154, 13083-970 Campinas – SP, Brasil
CYTOCHALASINS PRODUCED BY Xylaria sp., AN ENDOPHYTIC FUNGUS FROM Piper aduncum. A chemical study on the
EtOAc extract produced by Xylaria sp., an endophytic fungus from Piper aduncum, resulted in the isolation of a new cytochalasin
1, along with five known 19,20-epoxycytochalasin D (2), C (3), N (4), Q (5), and R (6). The 1-6 were evaluated against the fungi C.
cladosporioides and C. sphaerospermum and only 5 showed weak activity. The cytotoxicity in vitro against HeLA and CHO cells
lines were investigated and the cytochalasins 2-4, and 6 showed a strong activity against HeLA. The DNAdamaging activity of 1-6
were also investigated against mutant strains of S. cerevisiae.
com C-7 (dC 212,6) e comparação com dados de citocalasa-13(E),19(E)- A avaliação da atividade citotóxica de 1-6 foi realizada em células
dieno-1,7,17-triona,12 possibilitaram a elucidação do núcleo isoindolona. de mamíferos das linhagens HeLa (tumor de cérvix humano) e CHO
As correlações de H-22 (dH 1,12) e H-23 (dH 1,44) com C-17 (δC 214,9) (ovário de hamster chinês).16 Para a linhagem não cancerígena CHO,
e entre H-21 (dH 5,43) e C-8 (dC 51,2) e comparação com 19,20-epoxi- as substâncias 2, 3, 5 e 6 apresentaram IC50 de 90,0; 120,0; 125,0 e
citocalasina C (3)13 permitiram elucidar o anel macrocíclico. 4,00 mmol L-1, respectivamente. As citocalasinas 1 e 4 não apresen-
As configurações relativas do núcleo isoindolona e do anel taram IC50 nas concentrações testadas, sendo que 1 foi totalmente
macrocíclico de 1 foram estabelecidas pelo experimento NOESY, inativa. A cisplatina foi usada como padrão com IC50 = 20 mmol L-1.
onde se observou correlação entre H-4 e H-21, valores dos desloca- Na linhagem cancerígena HeLa as substâncias 1-6 apresentaram
mentos químicos de RMN de 1H e 13C, constantes de acoplamento e IC50 de 43,0; 1,0; 2,0; 1,0; 3,0; e 3,0 mmol L-1, respectivamente. A
comparação com 18,21-di-hidroxi-16,18-dimetil-10-fenil-citocalasa- cisplatina foi usada como padrão com IC50 = 5,0 mmol L-1.
13(E),19(E)-dieno-1,7,17-triona12 e com 19,20-epoxicitocalasina A forte atividade apresentada pelas citocalasinas 2-5 contra a
C (3),13 respectivamente, Figura 1. Estas informações permitiram linhagem cancerígena HeLa e a fraca contra a linhagem não cance-
estabelecer a configuração relativa da inédita citocalasina 1. rígena CHO evidenciam uma seletividade destas substâncias para as
As substâncias 2-6 foram identificadas pela análise por EM, RMN linhagens tumorais HeLa.
de 1H e 13C, gHMQC, gHMBC, gCOSY e NOESY e por comparação Para o nosso conhecimento, este é o primeiro relato de citocalasinas
com dados descritos na literatura.13 sendo produzidas por fungos endofíticos associados à Piper aduncum.
As citocalasinas 1-6 (Figura 1) foram avaliadas quanto à atividade
antifúngica, frente aos fungos fitopatogênicos Cladosporium clados- PARTE EXPERIMENTAL
porioides e C. sphaerospermum, usando-se o método da autobiografia
direta.14 A substância 5 mostrou uma fraca atividade na concentração Instrumentação
de 100 mg mL-1, quando comparada com o padrão nistatina (1mg mL-
1
). As outras citocalasinas apresentaram-se inativas. Os espectros de absorção na região do IV foram obtidos em
As substâncias 1-6 foram ensaiadas frente à linhagem mutante um espectrômetro Perkin Elmer- FT-IR, utilizando-se pastilhas de
de Saccharomyces cerevisiae RS 321 mostrando-se inativas, o que KBr. Os espectros de massas foram registrados em espectrômetro
indica não serem as responsáveis pela bioatividade inicialmente de massas de baixa resolução da marca Fisons, modelo VG Pla-
observada no extrato bruto.15 tfform II, no modo de ionização electrospray (ESI). Os espectros
de massas de alta resolução foram obtidos em espectrômetro QTOF Tabela 1. Dados de RMN de 1H (500 MHz) e 13C (125 MHz) de 1
(Micromass), utilizando-se como método de ionização electrospray
no modo positivo. Posição 1 1
Os espectros de RMN foram registrados em CDCl3 e DMSO-d6, C13
C
13
H 1 1
H
no espectrômetro Varian Inova 500, usando TMS como padrão de DMSO-d6 CDCl3 DMSO-d6 CDCl3
referência. 1 174 173,7
O aparelho de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) 2 8,28 NH 5,67 NH
foi um Varian Pro Star, com detectores UV-Vis. As colunas analíticas 3 53,2 52,5 3,55 m 3,48 m
e preparativas utilizadas foram Phenomenex tipo Luna - C18 (250 4 49,5 50,8 2,2 t (4,0) 2,39 t (4,0)
x 4,60 mm, 5 mm) e (250 x 21,20 mm, 10 mm), respectivamente. 5 34,3 35,5 1,88 m 2,01 m
Os meios de cultura líquido e sólido foram submetidos à esterili-
6 44,9* 45,5 1,78 dq (7,0; 12,0) 1,89 m
zação em autoclave a 121 °C e 1 atm de pressão por 20 min.
7 214,0 212,6
8 51,0 51,2 3,56 d (10,5) 3,42 d (9,5)
Material vegetal
9 53,1 54,2
Folhas saudáveis de Piper aduncum foram coletadas na Casa de 10 44,9* 45,5 2,67 dd (4,0; 13,5) 2,68 dd (8,5; 13,5)
Vegetação do Instituto de Química - UNESP- Araraquara em maio 2,84 dd (8,0; 13,5) 2,90 dd (4,5; 13,5)
de 2001. 11 15,1* 15,5 0,37 d (7,0) 0,85 d (6,5)
12 15,2* 15,6 0,87 d (7,0) 1,01 d (6,5)
Isolamento dos fungos endofíticos 13 126,0 127,3 5,64 dd (16,0; 10,5) 5,85 dd (10,0; 15,5)
14 132,4 132,2 5,43 ddd 5,38 ddd
As folhas coletadas foram lavadas com água e sabão, a seguir (10,0; 16,0; 5,5) (10,0; 15,5; 5,5)
esterilizadas por imersão em NaClO (1%) por 5 min, seguido de 15 37,6 37,9 2,00 m 2,09 (m)
etanol 70% por 1 min e lavadas com água esterilizada 2 vezes por 2,29 m 2,60 (m)
10 min.17-22 As folhas esterilizadas foram assepticamente seccionadas 16 41,3 41,8 3,30* 3,10 (m)
em segmentos de 1 cm2 aproximadamente e colocados em placa de 17 215,8 214,9
Petri, contendo o meio de cultura batata dextrose ágar (PDA), marca 18 76,9 76,3
Difco, preparado na concentração de 39 g/L, acrescido do antibiótico 19 60,2 59,6 3,23 d (2,0) 3,05 d (2,0)
sulfato de gentamicina e incubado a 25 oC. O crescimento dos fungos 20 54,2 53,6 3,3 * 3,51 dd (2,0; 1,5)
foi monitorado diariamente e, após cada cultura atingir de 1-2 cm 21 73,0 74,4 5,02 s 5,43 s
em diâmetro, foram submetidos a sucessivas repicagens até obtenção 22 19,45 19,0 1,05 d (7,0) 1,12 d (7,0)
das linhagens puras. Foram obtidas seis linhagens puras, codificadas
23 23,1 21,8 1,34 s 1,44 s
como PA-01, PA-02, PA-03, PA-04, PA-05 e PA-06 e depositadas
24 170,1 169,6
na micoteca do Departamento de Química Orgânica, IQ-UNESP. O
isolado PA-01 foi identificado como Xylaria sp. pelo Prof. Dr. L. H. 25 21,0 20,7 2,20 s 2,12 s
Pfenning e depositado na Coleção Micológica de Lavras, Universi- 1’ 137,05 137,5
dade Federal de Lavras sob registro CML 292. 2’ e 6’ 130,7 129,2 7,30 m 7,30 m
3’ e 5’ 129,0 129,0 7,30 m 7,30 m
Cultivo em meio líquido e obtenção dos extratos brutos 4’ 127,3 127,7 7,22 m 7,22 m
Multiplicidades e constante de acoplamento (J) em Hz, (d) ppm, * sinais
O fungo endofítico Xylaria sp. foi repicado para placas de Petri, encobertos pelo sinal da água do solvente
contendo PDA e incubado por 8 dias. A seguir foi inoculado em 20
frascos de Erlenmeyers (500 mL) contendo 200 mL de meio de cultivo mg, tR = 54 min), 4 (15,0 mg, tR = 26 min), 5 (15,5 mg, tR = 74 min),
PDB (DIFCO), preparado na concentração de 24 g/L, os quais foram e 6 (12,5 mg, tR = 43 min).
mantidos em mesa agitadora a 120 rpm e 25 °C por 28 dias. Após
este período o caldo foi separado do micélio por filtração, extraído Bioensaios
com AcOEt (3 X 2 L) e concentrado, fornecendo 1,7 g de extrato
bruto. O extrato AcOEt foi extraído com CHCl3 obtendo-se assim a Teste de bioautografia com fungos
fração CHCl3 (0,7 g). Para avaliação da atividade antifúngica do extrato bruto AcOEt e
das substâncias 1-6 frente aos fungos fitopatogênicos C. cladosporioi-
Isolamento das citocalasinas des e C. sphaerospermum, utilizou-se a metodologia descrita anterior-
mente na literatura.14 Os ensaios foram realizados nas concentrações de
A fração CHCl3 (0,7 g) foi fracionada em CC de sílica gel em 5, 10, 20, 50 e 100 µg mL-1, usando nistatina como controle positivo.
fase reversa C-18, usando H2O:MeOH em gradiente, fornecendo
cinco frações: PA-01-1 (28,0 mg, H2O:MeOH, 9:1), PA-01-2 (90 Teste para avaliação preliminar da atividade citotóxica
mg, H2O:MeOH, 7:3), PA-01-3 (320 mg, H2O:MeOH, 5:5), PA-01-4 Para a avaliação da atividade citotóxica do extrato bruto AcOEt e
(42 mg, H2O:MeOH 3:7) e PA-01-5 (8 mg, H2O:MeOH, 0:1). Estas das substâncias 1-6, foram utilizadas três linhagens mutantes de Sac-
foram analisadas por CLAE-DAD (Si C-18, gradiente H2O:CH3CN charomyces cerevisiae (rad+, 52Y e RS 321), segundo metodologia
5 a 100% de CH3CN, 40 min, fluxo de 1 mL/min), sendo detectada descrita na literatura.15 Os extratos foram testados na concentração
uma alta concentração de citocalasinas na fração PA-01-3. de 2 mg mL-1 e as substâncias puras com 0,5 mg mL-1, como padrões
A fração PA-01-3 foi submetida à CLAE-prep em fase reversa foram utilizados: camptotecina: rad+ 200 µg mL-1 (16,0 mm; 16,0
[l = 220 nm, 10 mL/min CH3CN:H2O (68:32)], resultando nas cito- mm) e 52Y (5 µg mL-1; 21,0 mm) e estreptonigrina: RS-321 (4 µg
calasinas 1 (5,5 mg, tR = 71 min), 2 (17,5 mg, tR = 32 min), 3 (30,0 mL-1 20,0 mm).
Vol. 33, No. 10 Citocalasinas produzidas por Xylaria sp. 2041
Determinação da viabilidade celular 8. Baldoqui, D. C.; Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista,
Brasil, 2004.
Para a determinação da citotoxicidade das citocalasinas 1-6, 9. Parmar, V. S.; Jain, S. C.; Bisht, K. S.; Jain, R.; Tneja, P.; Jha, A.; Tyagi,
foram utilizadas as linhagens de células de mamíferos HeLa (tumor O. D.; Prasad, A. K.; Wengel, J.; Olsen, C. E.; Boll, P. M.; Phytochem-
de cérvix humano) e CHO (ovário de hamster chinês) na densidade istry 1997, 47, 597.
de 2 x 104 células poços”. As substâncias foram solubilizadas em 10. Strobel, G.; Daisy, B.; Castillo, U.; Harper, J.; J. Nat. Prod. 2004, 67,
dimetilsulfóxido em concentrações finais de 0,2; 2,0; 20,0 e 200,0 257.
mM. A viabilidade celular foi determinada pelo método MTT de 11. Crews, P.; Rodrigues, J.; Jaspars, M.; Organic Structure Analysis, Ox-
acordo com a literatura16 e cisplatina usada como padrão positivo. ford University Press: New York, 1998, p. 332.
19,20-Epoxicitocalasina (1) (5,5 mg), sólido branco amorfo, 12. Fujii, Y.; Tani, H.; Ichinoe, M.; Nakajima, H.; J. Nat. Prod. 2000, 63,
[a]25D -17,1 (c 0,19, CHCl3), IV (KBr, nmax cm-1): 3440, 2923, 2856, 132.
1710, 1220, 1033. ESI-EMAR: m/z 524,2729 [M+H]+ Calcd para 13. Espada, A.; Rivera-Sagredo, A.; de la Fuente, J. M.; Hueso-Rodriguez,
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À FAPESP, programa Biota-FAPESP (Instituto Virtual da Bio- G.; Johnson, R. K. J.; J. Nat. Prod. 1992, 55, 1648.
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Bolzani e M. C. M. Young) e à Profa. Dra. M. Furlan por gentilmente 1997, 202, 36.
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