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Deborah Etrusco Tavares Revisado
Deborah Etrusco Tavares Revisado
Deborah Etrusco Tavares Revisado
JUIZ DE FORA
2017
DEBORAH ETRUSCO TAVARES
JUIZ DE FORA
2017
DEBORAH ETRUSCO TAVARES
Aprovada em:
________________________________
Prof. Dr. Tarcísio Jorge Santos Pinto (Orientador)
________________________________
Membro da banca
________________________________
Membro da banca
Dedico este trabalho à minha avó Edith
Augusta de Mello, educadora que me
inspira nas suas palavras: “Se é a
educação de uma criança que pretende
promover, disponha-se a amar, pois só
quem ama, constrói, humaniza, perdoa,
edifica e aperfeiçoa” (in memorian).
AGRADECIMENTOS
This dissertation proposes an analysis about the Integral Education Policy of Minas
Gerais, from the perspective of the Educating City, presenting, based on this
conception, an alternative to overcome problems related to school spaces. This
research intends to understand how a school of the state public network belonging to
the circumscription of the Regional Superintendence of Education of Ouro Preto, in
Minas Gerais, located in the historical center of the city, performs pedagogical
actions in intra and extracurricular spaces. It also seeks to understand the
alternatives found by the school to face the challenge of the lack of space necessary
for the development of the program's activities. It is understood the experience of the
Marília de Dirceu State School as a possibility to reflect on the implementation of the
public policy of Integral Education, revealing alternatives for discussion about the
times, the spaces, the territories and the communities in which the schools are
inserted and the subjects that compose them. The data analyzed in this study were
obtained through observation in the field of research and semi-structured interviews.
The theoretical and analytical reflections we have outlined here were organized into
two main areas of study: time and space in the school and the perspective of the
Educating City. These axes were based on studies by authors such as Moacir
Gadotti (2006) and Maria do Carmo Brant de Carvalho (2006), Isa Maria F. Rosa
Guará (2006), Ana Maria Cavalieri (2007), Jaqueline Moll (2009) (2015) and Levindo
Diniz Carvalho (2015). In this paper, we present the results of the study. The analysis
of the data of this research subsidized the Educational Action Plan that contains
propositional actions aiming at the search for the identity construction of the schools
that implement the Integral Education Program within the conception of the
Educating City, given the need to recognize the environment and the culture of each
a school unit that participates in the project, for the accomplishment of pedagogical
and administrative proposals of Integral Education, in schools of the regional
education of Ouro Preto, Minas Gerais.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1 EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL: UMA CONVERGÊNCIA DE VONTADE E
LUTAS POLÍTICAS .................................................................................................. 21
1.1 A trajetória da Educação Integral no Brasil: das primeiras concepções
à contemporaneidade ............................................................................................. 22
1.2 Marcos legais da Educação Integral no brasil ........................................... 29
1.3 A política pública no estado de Minas: da concepção de aluno de tempo
integral para construção de uma Educação Integral ........................................... 44
1.4 Configurações do território regional para construção de uma política de
Educação Integral ................................................................................................... 54
1.5 O desenho que a Escola Estadual Marília de Dirceu traçou para uma
Educação Integral ................................................................................................... 64
2 PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA: A COMPREENSÃO DA EE
MARÍLIA DE DIRCEU SOBRE O CONCEITO DE EDUCAÇÃO INTEGRAL NA
PERSPECTIVA DA CIDADE EDUCADORA ............................................................ 77
2.1 Sem sala de aula: uma possibilidade para aprendizagem sob a
perspectiva da cidade educadora .......................................................................... 77
2.1.1 Tempo e Espaço na Educação Integral .......................................................................78
2.1.2 A Perspectiva da Cidade Educadora na Educação Integral ..................................82
2.2 Percurso de investigação para refletir sobre a utilização dos espaços
intra e extraescolares da EE Marília De Dirceu na Educação Integral ................ 84
2.3 Um olhar estrangeiro sobre a escola e a busca por elementos que
possibilitam a investigação .................................................................................... 89
2.4 Investigação e estruturação dos fundamentos constitutivos da pesquisa
de campo................................................................................................................ 105
2.4.1 Considerações sobre as questões de tempos e espaços na escola investigada 113
2.4.2 Reflexões sobre a perspectiva da Cidade Educadora como apoio para o
desenvolvimento das atividades na escola ............................................................................123
3 PARA SUSTENTAR UMA POLÍTICA PÚBLICA DE VALORIZAÇÃO DO
TERRITÓRIO: UM PLANO DE AÇÃO EDUCACIONAL ........................................ 133
3.1 Um Plano de Ação Educacional como possibilidade para o enfrentamento
dos desafios da Educação Integral e Integrada ................................................. 136
3.2 Discriminação das características de cada ação propositiva ................. 140
3.2.1 Estudo de Conceitos .........................................................................................................142
3.2.2 Planejamento .......................................................................................................................143
3.2.3 Cartografia e Intersetorialidade ......................................................................................144
3.2.4 Quarto Encontro Regional de Educação Integral e Integrada ..............................146
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 148
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 151
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM A EQUIPE GESTORA .......... 157
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS PROFESSORES ............. 158
APÊNDICE C - ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO ...................................................... 159
14
INTRODUÇÃO
da criança no universo escolar, como também a partir das outras diferenças que
ocorrem durante sua permanência na escola.
Nesse sentido, a política de Educação Integral traça seus propósitos a fim de
melhorar a qualidade da educação, reduzindo o fracasso escolar e proporcionando,
às crianças e adolescentes da educação básica, novas possibilidades de se
desenvolverem.
Aos gestores públicos e escolares cabe o desafio de implementar uma
educação de qualidade, buscando reflexões sobre o contexto da sociedade
contemporânea, no qual se vivencia uma complexidade da vida social entreposta por
crises de diferentes naturezas. Crises ou reconstruções que adentram a educação
em nível nacional e regional. Nesse sentido, a possibilidade do desenvolvimento de
um projeto audacioso como este encontra limitações que dificultam o processo,
merecendo uma habilidosa análise e interpretação.
A dinâmica para implantação de um programa que amplia a jornada escolar
dos alunos e possibilita uma formação integrada do sujeito com vistas à melhoria da
aprendizagem é longa e, como tal, demanda expressivos investimentos públicos. É,
nesse sentido, importante refletir sobre a promoção de uma educação de qualidade
e sobre a formação oferecida a crianças e adolescentes para o enfrentamento da
vida em sociedade, nas suas múltiplas dimensões. Isso se confirma no texto de
Leite, Carvalho e Said (2010),
própria vida do aluno, e sua função seria propiciar uma reconstrução permanente da
experiência e da aprendizagem dentro da vida de cada um.
Fazendo oposição a um modelo tradicional de educação, as ideias e
concepções de Dewey influenciaram muitos educadores brasileiros e deram início
ao Movimento Escola Nova, que teve seu marco na divulgação do documento
conhecido como a “Reconstrução Educacional no Brasil: ao povo e ao governo”,
mais conhecido como Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932,
oferecendo novas diretrizes para uma política de educação nacional (CARVALHO;
LEITE; VALADARES, 2010, p. 18).
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi um marco na história da
educação brasileira. Um dos principais educadores a assinar o manifesto foi Anísio
Teixeira, que defendia a educação como uma função pública; a escola como única e
comum, sem assinalar privilégios econômicos de uma minoria. O manifesto
defendia que professores tivessem formação universitária e que o ensino fosse laico,
gratuito e obrigatório. A partir do Manifesto, a educação integraria diversos grupos
sociais e serviria de instrumento de reconstrução da democracia. Os educadores
que compartilhavam desses ideais, segundo Tenório e Schelbauer, tinham a “crença
da possibilidade de formulações de políticas educacionais que conseguissem fazer
com que o processo educativo fosse assumido por todos”. (TENÓRIO;
SCHELBAUER, 2007, p. 8).
Anísio Teixeira, responsável pela criação do Instituto Nacional de Pesquisas e
Estudos Educacionais (INEP), que hoje leva seu nome, foi educador e trabalhou em
secretarias de governos estadual e federal. A partir dos anos de 1950, construiu
escolas-modelo para a consolidação de uma proposta de educação baseada nos
princípios conceituais do escolanovismo. Afirmava que era responsabilidade da
escola educar ao invés de instruir, formar homens livres e ensiná-los a viver com
mais inteligência e mais tolerância. Tenório e Schelbauer apresentam-nos a noção
de função da educação elaborada e desenvolvida na obra de Anísio Teixeira:
2
O Congresso aconteceu no Rio de Janeiro, no contexto da Campanha de Educação de Adolescentes
e Adultos – CEAA. Segundo Sérgio Haddad e Maria Clara Di Pierro (2000), quando da realização do
congresso, “percebia-se uma grande preocupação dos educadores em redefinir as características
específicas e um espaço próprio para esta modalidade de Ensino.”(HADDAD, DI PIERRO, 2000, p.
112). Os autores revelam que havia um quadro de renovação pedagógica no cenário político
daquele momento histórico, junto às camadas populares, grupos diversos buscavam sustentação
política para suas propostas.
26
militar alterou os planos de uma geração que sonhou com mudanças na educação e
na sociedade brasileira por meio dos Atos Institucionais que cassaram direitos civis.
Embora Leite, Oliveira e Mendonça (2015, p. 35) relatem que “as propostas de
educação popular e democrática foram cerceadas e substituídas por outra mais
tecnicista”, a luta de segmentos da sociedade pela redemocratização do país não
parou. Outras experiências, após esse período, foram se concretizando e
aproximando a escola da sua realidade social.
A defesa de uma educação como direito público e dever do Estado requer
uma discussão sobre a construção de uma escola menos discriminatória, que
abarque, em seu interior, culturas diversas e desenvolva dimensões formadoras do
fazer humano. As experiências citadas configuram-se como propostas alternativas
de construção de políticas públicas em educação, reconhecendo que o processo de
ensino e aprendizagem é cultural e deve ser organizado em tempos e espaços
escolares em função dos alunos. Discussões coletivas entre alunos, profissionais e
pais, considerando a formação plena dos educandos, são, nessa perspectiva,
ferramentas de construção de uma escola voltada para a realidade social de cada
participante daquele contexto.
Os autores Carvalho, Leite e Valadares (2010) evidenciam que outras
experiências de Educação Integral no Brasil foram tomando forma. No período de
1983 a 1987, funcionaram instituições no Rio de Janeiro voltadas para crianças de
classes populares com o foco na escolarização em tempo integral. Os Centros
Integrados de Educação Pública (CIEPs) foram idealizados pelo sociólogo Darcy
Ribeiro, seguidor de Anísio Teixeira, na década de 1980, também influenciado pelas
ideias que estavam na base do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, de Salvador,
na Bahia. A Escola Cidadã, em Porto Alegre/RS, criada em 1994, propôs uma
reestruturação curricular. Incentivou a discussão sobre a escola que temos e a
escola que queremos, constituída pelos pais, alunos, professores e funcionários.
Outros exemplos são o da Escola Plural, em Belo Horizonte/MG, implantada
em 1995. Esse modelo abordava uma nova visão de educação pública, do papel do
professor e do aluno, como sujeito de direitos, apresentando uma nova organização
de tempos e espaços escolares, pensados em função dos seus alunos. Articulando
mudanças metodológicas, a proposta pensou nos direitos de inclusão e de proteção
social a serem exercidos em todos os espaços estruturais do cotidiano. A Escola
Candanga em Brasília – Distrito Federal, é outro exemplo que, na gestão de 1997 a
28
de uma educação que vise à formação plena do sujeito em uma escola de tempo
integral é comum a diferentes propostas pedagógicas. Assim, as normas que se
referem ao assunto ajudam-nos a compreender os conceitos envolvidos na
construção de uma escola de qualidade, seus desafios e possibilidades na
implantação de uma educação de tempo integral.
Enfim, compreender, também, os aspectos jurídicos da temática significa
poder ampliar a construção de uma formação para a cidadania. É o que se
apresenta na próxima seção deste trabalho.
escola. Aos atores da escola, cabe a reflexão sobre a construção do Projeto Político
Pedagógico, que deve ampliar a visão da escola, contemplando a Educação
Integral.
Para o MEC,
Isso significa que os limites da sala de aula podem ser expandidos para a
cidade, ampliando oportunidades para aprender e ensinar, transformando o que é
significativo para quem vive naquele território.
A concepção de Cidade Educadora tem seus fundamentos no movimento das
Cidades Educadoras que teve início em 1990, a partir do I Congresso Internacional
de Cidades Educadoras, em Barcelona, na Espanha. Governos locais de um grupo
de cidades pactuaram o “princípio de que o desenvolvimento dos seus habitantes
não podia ser deixado ao acaso” (ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE CIDADES
EDUCADORAS, 2004, p. 1). Essa ação ocorreria a partir da participação ativa na
utilização e evolução da própria cidade em conformidade com a Carta aprovada das
Cidades Educadoras. Em 1994, com a realização do III Congresso, em Bolonha, o
movimento foi formalizado e difundido para outras cidades.
Segundo o documento do MEC de 2011, o movimento:
3
Segundo Paiva (2015), “Seu objetivo consistia em modernizar a gestão a partir de uma
administração pública voltada para resultados” (PAIVA, 2015, p. 49). A autora ainda destaca que a
adoção de um modelo gerencial na reforma do estado levou a implicações para a educação, quando
procurou enfatizar a descentralização, a participação da sociedade civil e da iniciativa privada na
prestação de serviços, bem como o estabelecimento de metas e resultados a serem apresentados
pelas políticas públicas.
47
Nesse sentido, o novo Projeto Educação de Tempo Integral foi criado a partir
da reformulação do antigo PROETI, no ano de 2012, subsidiado pela publicação da
Resolução SEE nº 2.197, de 26 de outubro de 2012 (MINAS GERAIS, 2012), que
fundamentou a educação em tempo integral como:
Nesse sentido, podemos inferir que a Educação Integral em Minas, até o ano
de 2012, consolidava-se como uma política de resultados. Segundo Paiva (2015),
depois de 2012, a proposta levava à compreensão de uma concepção de Educação
em Tempo Integral mais ampliada. Porém, a mesma autora destaca, a partir da
análise de documentos relevantes para a implantação do mesmo, que a proposta
permanece enfatizando a formação e a aprendizagem, bem como a melhoria do
desempenho escolar dos alunos.
Observando a trajetória de implementação da política pública de Educação
Integral em Minas Gerais, podemos perceber que as suas diretrizes, a partir de
2012, caminhavam com o intuito de ampliar o número de escolas a ofertar essa
modalidade de educação e oferecer certa liberdade no que tange à elaboração da
proposta curricular para realização do projeto.
Silva C. (2014) observa, em seus estudos, que houve mudanças na
perspectiva de Educação Integral, principalmente, no que se refere às alterações no
foco da política pública, a partir de 2013:
50
Tabela 1 – Número de alunos e escolas atendidas em tempo integral entre 2007 e 2017
na SRE Ouro Preto
Ano Nº de alunos atendidos Nº de escolas atendidas
2007 sem informação sem informação
2008 1168 17
2009 1209 17
2010 963 15
2011 1191 19
2012 1380 19
2013 1310 19
2014 1200 19
2015 1423 19
2016 1631 21
2017 1753 24
Fonte: Elaborado pela autora com base em dados do Censo Escolar/SEEMG (2017).
17 nos dois primeiros anos, com queda, em 2010, para 15 escolas. De 2011 a 2015,
a circunscrição contou com 19 escolas participantes do programa. Destaca-se que, a
partir de 2015, houve crescimento não só no quantitativo de alunos atendidos, como
também na ampliação do número de escolas atendidas na rede. O trabalho da SRE
e da SEE/MG junto às escolas tem se mostrado mais efetivo no fomento à adesão
de escolas no programa: de 2015 a 2016, passamos de 19 para 21 escolas
atendidas e, em 2017, já são 24 escolas da rede em atendimento com Educação
Integral, garantindo o direito dos alunos, proposto pelas diretrizes nacionais e
estaduais de Educação Integral.
O monitoramento das ações do Programa Escola de Tempo Integral da SRE
Ouro Preto, de 2007 a 2014, vinculou-se às ações do Programa de Intervenção
Pedagógica4, com a finalidade de melhorar a aprendizagem dos alunos e,
consequentemente, obter bons resultados no rendimento dos alunos nas avaliações
estaduais do Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Básica
(SIMAVE). A partir de 2015, a administração estadual estabeleceu outro modelo de
gestão tendo em vista a mudança de governo no estado.
A Superintendente Regional de Ensino, junto à equipe de assessoria
pedagógica, definiu pelo menos um eixo de trabalho para cada analista, de modo
que fui convidada pela equipe gestora, em 2015, para coordenar o eixo de Educação
Integral, que se configura em uma proposta com características peculiares, sendo
um dos focos de trabalho do atual governo de estado. Exerço, desde então, a função
de coordenadora do eixo de Educação Integral, com a função de estabelecer o
diálogo e a parceria entre as escolas considerando as diretrizes e orientações
estaduais e nacionais do programa.
Essa proposta de Educação Integral que entra em vigor, a partir de 2015,
através da Resolução nº 2749/2015 (MINAS GERAIS, 2015b) e do Documento
Orientador das Ações de Educação Integral (MINAS GERAIS, 2015a), conseguiu
trazer novas possibilidades para superar o desafio da falta de espaço de algumas
escolas para abrigar o tempo integral. A partir desse momento, as orientações
estaduais também se aproximaram mais dos fundamentos do Programa Mais
4
Programa Estruturador da SEE/MG que durou de 2008 a 2014. O Programa de Intervenção
Pedagógica se constituía na prática de estratégias para melhoria da qualidade na educação, através
da apropriação dos resultados das avaliações internas e externas, ações monitoradas nas escolas e
formação de professores. No início as ações se resumiam aos anos iniciais e ao período de
alfabetização dos alunos; com o passar dos anos o programa ampliou seu foco para os anos finais
do ensino fundamental.
58
5
Este polo é constituído de três escolas da rede estadual, atende a 300 (trezentos) alunos, sendo
100(cem) alunos de cada escola. A sede do polo fica em uma das escolas que dispõe de melhor
espaço físico, as outras duas são próximas, os alunos fazem o traslado a pé acompanhados dos
professores das atividades formativas.
60
1.5 O desenho que a Escola Estadual Marília de Dirceu traçou para uma
Educação Integral
entende-se por bens de interesse cultural todos aqueles que por sua
existência e características possuam significância cultural para a
65
6
A Portaria nº 312 de 2010, que “dispõe sobre os critérios para a preservação do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto em Minas Gerais e regulamenta as intervenções nesta
área protegida em nível federal”, foi elaborada considerando a Constituição Federal de 1988, o
Decreto-lei de declaração da cidade como Monumento Nacional, bem como a inscrição do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Ouro Preto como bem patrimonial protegido pelo IPHAN
no Livro do Tombo da Belas Artes e no Livro do Tombo Histórico e Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico. A proposta da portaria pretende conforme o Artigo 1º “Estabelecer regras e medidas
para a preservação do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Ouro Preto” (INSTITUTO DO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, 2010, p.1), considerado pela portaria como
sítio tombado.
66
7
A FAOP está vinculada à Secretaria de Cultura de Minas Gerais e oferta para os alunos da
Educação Integral aulas de desenho e pintura.
8
Os Sentidos Urbanos, grupo ligado ao IPHAN com o propósito de fomentar a cultura local, realiza
trabalho com os alunos na criação de mapas sensoriais e registros ligados à memória e educação
patrimonial.
9
O OPTC é um complexo de lazer e esportivo de propriedade particular, que em parceria com a
escola permite a utilização de quadra esportiva e brinquedos para alunos do Programa, matriculados
na escola.
10
Espaços públicos do entorno da escola utilizado para atividade recreativa, apresentação de teatro,
dança, poesia.
69
advindas do órgão central, que não constam no texto da proposta, bem como
programas e projetos registrados na PPP, deixaram de ser executados como
programas estruturadores da SEE/MG.
No segundo semestre de 2016, o governo federal abriu o sistema PDDE
Interativo, para que as escolas públicas fizessem adesão ao Programa Novo Mais
Educação (PNME), que financiaria recursos para atendimento dos alunos, em
jornada ampliada. A SEE/MG orientou à Superintendência que as escolas
interessadas em ofertar Educação Integral aos seus alunos no ano de 2017
deveriam fazer adesão ao Programa federal, a fim de garantir financiamento das
ações nas escolas da rede estadual.
A Escola Estadual Marília de Dirceu e outras escolas da regional fizeram
adesão ao programa definindo os macrocampos e as atividades a serem
desenvolvidas. Atualmente, conforme dados inseridos no Sistema de Monitoramento
e Administração Escolar (SIMADE) da SEE/MG e documentos orientadores da
política pública no estado, a escola pesquisada oferece para cada turma de
Educação Integral, dez Módulos de Acompanhamento Pedagógico, cinco módulos
do macrocampo de Educação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável e Economia
Solidária e Criativa/ Educação Econômica (Educação Financeira e Fiscal); cinco
módulos do macrocampo de Esporte e Lazer, sendo três de recreação e
lazer/Brinquedoteca e dois de Atletismo; e mais cinco módulos no macrocampo de
Cultura, Artes e educação Patrimonial, sendo três com atividades de Artesanato
Popular e dois de Educação Patrimonial, totalizando 25 módulos semanais, em cada
turma.
Nos anos de 2015 e 2016, a Superintendência Regional de Ensino de Ouro
Preto recebeu convites para prestigiar a culminância de ações da Educação Integral
da Escola selecionada para análise. Nesse contexto, foi sempre possível perceber a
atuação da escola em ações com as quais a comunidade sempre esteve presente,
bem como os espaços do entorno da escola também foram utilizados. Os alunos da
Educação Integral, sempre estiveram envolvidos com movimentos culturais de
teatro, dança e poesia participando inclusive de eventos e encontros promovidos
pela SRE para apresentações culturais.
Dentre alguns trabalhos significativos, em que a SRE esteve representada,
destaca-se o Cortejo em homenagem aos 150 anos do Bloco Zé Pereira dos
Lacaios. Ação do programa em que os alunos confeccionaram instrumentos de lata
70
Oficina de Pipas
(Parceria com a Polícia
Morro da Forca. Agosto
Militar e Corpo de
Bombeiros)
Áreas internas e externas
Semana da Família Agosto
da escola
Oficina A Poesia bate a
Nas ruas e casas do
sua porta (Parceria Setembro
entorno da escola
com o ensino regular)
Oficina de
Brinquedoteca de
Áreas internas e externas
Material Reciclado Outubro
da escola
(Parceria com amiga
da escola)
Áreas internas e externas
Semana Afro Novembro
da escola
Fonte: Elaborado pela autora com base em dados fornecidos pela gestão e coordenação da
Educação Integral da Escola (2017).
2.1 Sem sala de aula: uma possibilidade para aprendizagem sob a perspectiva
da cidade educadora
Moacir Gadotti (2006) diz que o desafio da escola, numa Cidade Educadora,
consiste em traduzir os princípios da escola cidadã em práticas inovadoras, em
projetos que promovam a cidadania e tomem o destino da cidade, em suas mãos.
Isso ampliou o papel social da escola, que deve articular a cultura, agregar pessoas,
movimentos, organizações e instituições. É importante, portanto, que a coordenação
responsável pelo eixo da Educação Integral na Superintendência Regional de
Ensino compreenda por que uma escola mesmo não disponibilizando de espaços
intraescolares fez adesão ao programa e apresenta possibilidades de aprendizagem
através da utilização dos espaços da comunidade, do bairro e da cidade.
Como definição do foco de análise, os eixos a serem trabalhados na pesquisa
são: i) Refletir sobre questões de tempo e espaço na escola; ii) Analisar sobre as
questões a partir do conceito de Cidade Educadora. Estes caminhos auxiliarão na
delimitação para pensar sobre o problema em questão, a partir destes eixos o foco
analítico da pesquisa foi definido.
Os subtópicos que seguem refletem sobre cada eixo que conduzirá a análise
do caso. Serão apresentados, a partir de fundamentos e pensamentos de autores
que estudam a questão da Educação Integral, estabelecendo o aporte necessário
para o foco de análise.
Atitudes criativas não são bastante para alterar tempos escolares, nem
tampouco modificar a lógica da escola advinda do passado. Pensar sobre as
transformações políticas e escolares é relevante a partir da identificação dos
diferentes sujeitos que compõem a educação e de suas necessidades histórico-
culturais devem ser consideradas na concepção dos diversos tempos escolares.
Parente (2010) apresenta a noção de tempos escolares incitando “a busca de
inovações políticas e escolares que produzam alternativas aos tempos escolares
vigentes” (PARENTE, 2010, p. 135), para isso é preciso pensar em tempos
escolares que tenham um olhar humanizado, percebendo a necessidade que os
sujeitos buscam nos espaços de educação. A autora aponta a relevância de estudos
e pesquisas sobre políticas educacionais nas quais o foco seja tempos escolares e
os fatores relacionados à sua organização, as questões sobre os tempos e
79
Para a autora, a última definição é a que mais nos desafia, já que traz uma
reflexão educacional mais abrangente e perpassa pelas outras, trazendo questões
80
Carvalho nos diz que “ao pensar a formação integral das crianças, é
necessário possibilitar espaços e tempos educativos que sejam dialógicos e
reflexivos” (CARVALHO, 2015, p. 43) o que fundamenta a reflexão sobre tempos e
espaços na escola a partir de uma educação (em tempo) integral. Para Levindo
Carvalho (2015), a proposta educativa em análise, cria “oportunidades de formação
em dimensões vivenciais, cognitivas, afetivas, emocionais, contribuindo em
amplitude, para a formação humana.” (CARVALHO, 2015, p. 43).
Experiências de Educação Integral que formalizam a quebra simbólica dos
muros da escola e ocupam a cidade, são exemplos que fortalecem esse processo
como um direito de crianças e adolescentes.
2.2 Percurso de investigação para refletir sobre a utilização dos espaços intra
e extraescolares da EE Marília de Dirceu na Educação Integral
informações obtidas por outras fontes e fornecem base para triangulação dos dados
(ANDRÉ, 2013, p. 100).
Sob orientação da linha de trabalho e pesquisa do Programa de Pós-
Graduação Profissional em Gestão e Avaliação da Educação Pública, e desde o
início do processo de construção do caso de gestão a minha ideia sempre foi a de
discutir a Educação Integral e Integrada, mesmo porque a orientação do programa
sempre foi de que o pesquisador deveria partir de campo de atuação dentro da
gestão pública.
Pensando nos desafios postos pela implementação desta política pública, o
caso de gestão foi se delineando na perspectiva da análise dos espaços, ou da falta
de espaços para realização do programa de Educação Integral. Assim que o caso se
configurou em um problema de pesquisa e a Escola Estadual Marília de Dirceu
tornou-se o campo de observação, conversei com a diretora da escola, sobre o fato
de que a pesquisa que eu desenvolveria na pós-graduação teria como cenário as
ações praticadas na escola em que ela atuava. Este foi o primeiro contato com a
equipe gestora para estabelecer um vínculo com o campo da pesquisa.
Durante a escrita do texto foram necessários alguns contatos com a gestora e
com a vice direção, a fim de solicitar alguns documentos, como o PPP e Regimento
Interno da escola, para construção e detalhamento das ações e projetos da escola
também foram feitos contatos com a coordenação de Educação Integral da escola,
até que a ida a campo foi finalmente autorizada.
Para o período de realização das entrevistas e observação, conversei por
telefone com a diretora, agendando uma vista à escola que trataria da pesquisa na
escola. No dia combinado, cheguei à escola procurei pela diretora que foi solícita em
me atender. Expliquei detalhadamente sobre quais seriam minhas ações na escola
como pesquisadora, solicitei permissão para realizar as entrevistas e apresentei um
cronograma dos dias em que participaria com alunos e professores das ações do
programa.
A diretora foi extremamente receptiva, colocando à disposição todos os
recursos que necessitaria para realização dos estudos. No mesmo dia foram
iniciadas as entrevistas com a diretora, o vice-diretor e a coordenadora, todos
permitiram as gravações da conversa para posterior transcrições. Ela me deu
liberdade para ir até os professores me apresentar como pesquisadora, uma vez que
88
da escola, sem contato com a parte das salas de aula e pátios internos,
aproveitando a oportunidade, foi possível observar um pouco da rotina da gestão,
que recebeu alunos chegando atrasados, mães levando seus filhos e justificando
que estavam no laboratório de análises clínicas. A especialista fazendo cópias na
máquina, e preenchendo formulários sobre o evento que havia ocorrido no sábado
anterior, alunos novatos, com a recomendação para atendimento especializado
chegando para a escola e para a Educação Integral, servidor informando que
precisava sair para fazer o orçamento que a diretora havia solicitado, alunos pedindo
material para o professor, e assim foi. Não tive, durante esse período, oportunidade
de conversar com os professores de Educação Integral e tampouco de observar as
questões propostas pelo roteiro, mas foi possível gravar a entrevista com o vice-
diretor e ainda conversar com a especialista, que, a princípio, se mostrou resistente
em conceder a entrevista por achar que o contato dela é mais próximo ao ensino
regular e aos alunos de 6º ao 9º anos, mas disse que, neste dia, precisava ir para a
sala de aula ficar no lugar de um professor que havia faltado e que, no dia seguinte,
poderíamos conversar. Terminada a entrevista e a conversa, fui encontrar a equipe
de Educação Integral Estavam alunos e professores no refeitório lanchando e
aguardando para irem ao pátio da frente da escola para o intervalo, pareciam já ter
lanchado e estavam em momento de recreação, conversando com professores e
brincando entre si, não houve brigas nem confusões nesse momento. Enquanto se
dirigiam para o pátio, um dos alunos estava fazendo “tsurus” que havia aprendido
com um dos professores e veio nos mostrar o menor dos passarinhos que havia
conseguido fazer. Saímos eu e a coordenadora conversando sobre o trabalho de
observação que farei na escola pelos próximos dias e sobre a possibilidade dela me
conceder uma entrevista. A professora coordenadora aceitou e nos dirigimos para
uma sala reservada, depois fui conversar com os professores que estavam no pátio
com os alunos, enquanto os estudantes brincavam livremente. Eles conversavam e
observavam as crianças, expliquei minhas intenções e propostas, e os quatro
professores se prontificaram em me atender, mas ficaram tímidos em definir qual
deles seria o primeiro a ser entrevistado. Até que uma delas se prontificou e fomos
para uma sala fazer a entrevista, infelizmente, após a segunda pergunta constatei
que o gravador tinha acabado a pilha e não havia como continuar a entrevista,
naquele momento. Saí para providenciar outra bateria e ao retornar, professores e
alunos já haviam retornado às salas, estavam todos os alunos na sala de vídeo
assistindo a um filme, achei melhor não ficar perguntando sobre o filme, nem como a
ação havia sido planejada, pensei que meu papel naquele momento era de
pesquisadora e não de analista da SRE. A professora já havia saído e achamos
melhor continuar as entrevistas no dia seguinte, disse aos professores que estaria
com eles por mais alguns dias, a fim de realizar minha observação como
pesquisadora. Eles foram simpáticos em dizer que seria um prazer me receber, que
já tinham planejado as ações desta semana e da próxima, mas não entrei em
detalhes neste primeiro encontro sobre estas questões, agradeci a acolhida e me
despedi de todos. Não foi possível ficar até a hora do almoço para realizar outras
percepções por demandas do trabalho, me despedi das pessoas que estavam na
escola, agradeci novamente pela receptividade deixando agendado meu retorno no
dia seguinte.
que era um curso para ajudar nas ferramentas pedagógicas do integral, perguntei se
era para todos os professores, eles disseram que nem todos participariam da
formação e que eles estavam organizando os alunos para que não ficassem
sozinhos, por isso, estavam todos misturados em três salas. Uma professora,
Daiana, me convidou para entrar em sua sala, que estava lotada, tinha alunos bem
pequenos e alunos grandes, ela estava dando as primeiras instruções para as
crianças.
Percebi que minha presença tirou a atenção dos estudantes, que não tiravam
os olhos de mim e que também não se atentavam para as informações da
professora. Até que ela me apresentou para as crianças como uma professora que
estava ali para fazer um trabalho de estudos, eles perguntaram meu nome e se
acalmaram para dar atenção às instruções. Os alunos menores estavam nas
cadeiras e mesas, os maiores, estavam de pé no fundo da sala, não havia lugar para
todos. A professora disse aos pequenos que gostaria que eles colorissem o desenho
que ela estava distribuindo, porque eles fariam uma viseira da primavera para o
próximo passeio fora escola, que ela serviria para tampar o sol no rosto das crianças
e que, por isso, eles deveriam caprichar bem. Para os alunos maiores, ela solicitou
que todos fossem para a mesa dela, para que ela desse as instruções sobre o quê
fazer. Enquanto os pequenos providenciaram colorir o desenho, os outros ouviam e
viam o que a professora explicava: “vamos fazer um painel para a primavera, aqui no
meu celular tem uma sugestão de desenho, é só uma ideia, vocês podem criar e
fazer do jeito que quiserem. Um dos alunos vai fazer um esboço, no quadro, do
desenho que vocês querem, enquanto os outros vão preparando algumas flores,
fiquem aí pensando que eu vou buscar os materiais para vocês”. A professora se
dirigiu para o fundo da sala, e os alunos ficaram dizendo o que iam fazer e como iam
elaborar, uns três alunos foram para o quadro fazer o desenho, os outros ficaram
com o celular na mão vendo o desenho, enquanto a professora chegava com papéis,
tesoura, um saco de lã, ela perguntou o que eles fariam e eles disseram que fariam
a mulher coroada de flores e com flores caindo até formar a saia do vestido, a
professora ensinou como fazer flores, dobrou o papel, fez o corte, alguns alunos
pegaram o macete, ela instruiu que não era para desperdiçar papel, que toda ponta
de papel podia virar uma flor, por isso, ela trouxe retalhos guardados de outra
atividade, tinha papel de todas as texturas e cores, um grupo de alunos pegou as lãs
do saco para fazer pompons, que seriam colocados na parte de cima do vestido.
Saíam pompons de todos os tamanhos e cores, os alunos do esboço, no quadro,
desenhavam e desmanchavam o tempo inteiro, os outros davam opinião, as flores
saíam partidas no meio, e o mais difícil pra mim foi não entrar na roda para trabalhar
com os alunos, até que um deles que já tinha recortado umas quatros flores, sem
sucesso, me pediu para ensinar como fazer flor sem ela sair dividida. Não resisti, e
dobrei o papel ensinando o aluno como fazer uma dobradura e um recorte de flor.
Enquanto isso, a professora se desdobrava com os pequenos que pediam para
apontar lápis de cor o tempo todo e me chamavam para ver como estava o desenho
colorido deles.
A sala tinha alunos de 6 a 10 anos, fazendo atividades diferentes sem
conflitos e sem que a professora interviesse o tempo todo, os alunos circulavam pela
sala e passavam mais tempo utilizando a mesa como apoio para o desenho, muitos
estavam na carteira do outro, isso não parecia incomodar a professora que permitia
a circulação das crianças pela sala, não foi observado situação de indisciplina. Tão
logo alguns alunos terminavam os coloridos, a professora colava o desenho já
colorido em papel mais grosso e fazia o recorte da viseira, entregando ao aluno,
pedindo que colocasse o nome na sua e aguardasse que ela iria furar e depois eles
colocariam o elástico para usarem a viseira. Um aluno chegou e disse que o
professor Daniel estava na outra sala ensinando os alunos a fazer uma borboleta
para colocar no cartaz, perguntei se podia ir até lá e fomos ver o trabalho do
professor. Chegando à sala, cada aluno estava com a dobradura pronta e fazendo o
93
recorte, um dos alunos explicava e dava instruções para os outros, o professor pedia
atenção dos colegas para os alunos que estava ensinando, os alunos também
circulavam pela sala, uma em especial parecia mais agitada. Chegou a hora do
lanche, e o professor pediu para que os alunos se organizassem para ir até a cantina
e depois eles continuariam a borboleta. Ele disse que a borboleta não estava dando
certo, mas que o aluno que estava ensinando insistia no erro e que ele estava
deixando pra ver até onde ele iria, desceram os dois analisando as dobras e os
recortes, e decidiram que depois do lanche teriam que conseguir finalizar a
borboleta. Os pequenos também desceram para o lanche com os professores, e eu
os acompanhei. Os alunos entraram na cantina pegaram a caneca de leite com
achocolatado. Próximo a ela estava um saco de pão com manteiga, a maioria dos
alunos pediu meio pão e disseram que se estivessem com mais fome voltariam para
buscar outro pedaço, todos os alunos permaneceram sentados lanchando. À medida
que terminavam, se levantavam e começam a brincar. Eu perguntei aos professores
se era possível realizar alguma entrevista, e uma delas se dispôs a conversar.
Fomos para uma sala enquanto os alunos vão para o pátio da frente. Eu e a
professora conversamos, e assim que a entrevista terminou, os alunos já haviam
retornado para as salas, alguns estavam na sala de vídeo e os outros já estavam
fazendo o cartaz. Todos estavam trabalhando, um havia feito o desenho no cartaz,
outros continuavam fazendo flores e outros já estavam colando as flores no cartaz,
enquanto os alunos faziam os cartazes, as professoras estavam mudando um
armário de lugar e separando materiais, utilizáveis ou não. Neste dia, não foi
possível fazer entrevista com mais professores, nem ficar para participar das
atividades até a hora do almoço, por ter, também, que atender a uma demanda do
trabalho.
professoras, apresentar meu propósito e poder ir para alguma sala sem me sentir
intrometida, nem tampouco deixar que minha função interferisse mais do que o
bastante na pesquisa. Os alunos seguiam em fila para o lanche, entravam pelo
refeitório, cada um pegava uma caneca com suco e escolhia entre um pedaço de
pão com margarina ou rosquinha caseira (da agricultura familiar, segundo
comentários da hora do lanche), os alunos parecem estar acostumados com a rotina
do lanche, todos ficam assentados, não percebi até então uma atividade
sistematizada de higienização antes do lanche, mas como não estava próxima aos
escovários que a escola tem, não posso afirmar sobre isso, mas percebo que devo
ficar atenta quanto a esta prática com os alunos, enquanto professores e alunos
lanchavam aproveitei para conversar com as professoras sobre meu papel e o que
estava fazendo na escola, pedi para que na medida do possível e sem atrapalhar o
trabalho de cada um eu gostaria de poder entrevista-las, todas foram corteses e
disseram que estavam prontas para colaborar com a pesquisa, uma professora
durante o lanche comentou que estava fazendo uma atividade com os alunos e que
havia percebido muita dificuldade de alguns em fazer o contorno da própria mão e
recortar a forma, comentou que já havia feito três vezes com uma das alunas, mas
que outros também apresentavam a mesma dificuldade, naturalmente ela me
convidou para depois do lanche ir para a sala dela. Ao entrar na sala com
estudantes e a professora, observei, que havia uma data no quadro, um papel com
uma borboleta feita com o desenho das mãos de crianças em fotocópia, a palavra
ORAÇÃO, dando a ideia de que aquelas eram as ações realizadas até então, os
alunos estavam com as carteiras em círculo, com a mesa da professora próxima ao
quadro negro fechando a roda, os alunos circulavam muito dentro da sala, outros
estavam fazendo a atividade proposta, que consistia em fazer uma borboleta cujas
asas eram feitas com o contorno das mãos das crianças, que coloriam livremente,
colavam o corpo, a cabeça e antenas, a professora riscava os moldes e entregava
para cada um recortar e fazer a montagem, os alunos e a professora permaneciam o
tempo todo de pé, circulando pela sala, trocando material e se ajudando, alguns
alunos não demonstraram nenhum interesse pela atividade e estavam fazendo
outras coisas, que não eram de orientação e monitoramento da professora, a
atividade foi sendo desenvolvida realmente com muita dificuldade por muitos alunos,
outros haviam conseguido realizar até a hora do intervalo, quando os alunos foram
para o pátio da frente da escola, para recreação livre. No retorno para as salas,
voltei com a mesma professora, neste momento ela solicitou que as crianças fossem
entrando e permanecessem no fundo da sala para um momento de relaxamento, a
maioria das crianças se assentou e algumas ficaram ainda circulando pela sala, ela
calçou luvas enfeitadas de sapinhos e numeradas e outra com insetos coloridos,
ligou o som e pediu que as crianças cantassem a música com ela, todos
acompanharam e foram logo pedindo que queriam fazer a apresentação com os
fantoches, ele permitiu que uma das crianças fizesse a apresentação e disse que
normalmente eles faziam as apresentações e gostavam muito, ela deixou que outras
três músicas tocassem e fizeram as coreografias, demonstrado todos ter
conhecimento das letras e gestos das canções, porém haviam crianças que não se
interessaram pela música e estavam fazendo outras coisas, em momentos pontuais
a professora os chamava para participarem das atividades, era ouvida, mas em
poucos instantes as crianças retornavam ao que desejavam fazer. Após as músicas
voltaram à atividade a borboleta, com aqueles que não haviam nem começado a
professora ajudou a realizar para finalizarem, ao término a sala estava
completamente cheia de papel picado, a professora solicitou ajuda das crianças para
fazerem a limpeza, uns cataram papel, outros guardaram lápis, giz de cera, outros
buscaram vassoura e varreram a sala, organizaram as cadeiras e mesas em filas,
para a turma do regular na parte da tarde, a professora retirou alguns cartazes da
parede, dizendo que precisariam de espaço para exposição das borboletas que
acabaram de produzir. Já estava chegando a hora de descer para o almoço, as
95
Mais um dia chuvoso e cheio de névoa em Ouro Preto. Não foi possível
chegar para acompanhar a acolhida das crianças na escola, cheguei por volta das
07h20min, alguns alunos dos anos finais ainda chegavam, foi dia de avaliação
bimestral e o porteiro estava no portão recolhendo os tais bilhetes de justificativa
pela falta de uniforme, acabou deixando todos entrarem desde que passassem pela
secretaria e conversassem com a direção da escola. Segui o caminho, passando
para cumprimentar aos funcionários da secretaria e na direção, a especialista de
educação me saudou dizendo que já estava sentindo minha falta, encontrei com a
diretora dizendo “que bom que tá de volta, fique a vontade!”, eu agradeci e disse que
estava bem animada com meus dias na escola. Atravessei o pátio e fui para o prédio
onde ficam duas salas da Educação Integral e a sala de vídeo (compartilhada com o
ensino regular e integral), as crianças estavam todas na sala de vídeo, eram mais de
80 meninos e meninas assentados aguardando a professora conectar cabos e iniciar
o filme, alguns estavam buscando cadeiras em outra sala para se ajeitarem,
estavam tranquilos, as conversas eram naturais para uma quantidade de crianças
em um único espaço, não demonstravam atos indisciplinares. Os mais extrovertidos
me acenaram, sorriram e deram por minha falta, caminhei pela sala entre as
carteiras e cheguei até a professora para entender o que ia acontecer no dia. Ela me
explicou que estava ali com as quatro turmas porque nesta semana estavam com
uma programação diferente com os alunos por causa do dia das crianças, ela e
outra professora ficariam com os alunos no vídeo e outros dois professores estavam
na cozinha fazendo pizzas para o lanche do dia. Eu perguntei se era surpresa ou se
os alunos sabiam, ela disse que as crianças sabiam que teriam surpresa no lanche,
mas que alguns já tinham desconfiado e contado para os outros. Achei estranho
quando na conversa ela me perguntou: “que filme você acha que eu passo, não sei
qual eu escolho!” Eu disse “nossa que difícil, não sei também!”, mas meu
pensamento já bateu no planejamento… „será que isso foi improvisado??‟ Não me
manifestei quanto a isto, fui saindo e dizendo que ia cumprimentar a outra professora
que apontou na porta enquanto ela escolhia o filme, mas fiquei encucada. A outra
professora chegou ajudando os alunos a se organizarem com as cadeiras que
chegavam, outro professor foi ajudar na conexão dos fios e acho que escolha do
filme… enquanto eu fiquei no fundo da sala com a outra professora falando sobre a
entrevista. O filme começou, os professores pediram silêncio e atenção, o filme
96
escolhido foi uma animação de nome Spirit Cavalgando Livre, alguns alunos
disseram que já tinham assistido, mas que gostavam do filme e queriam ver de novo,
para outros parecia novidade, a verdade é que todos ficaram bem concentrados
durante a exibição, tanto que perguntei se era possível fazer a entrevista com
algumas professoras, que toparam em conversar comigo naquele momento. O filme
durou 1 hora e meia aproximadamente, tempo suficiente para conversar com três
professores. Pelas entrevistas, pude perceber que a quarta feira é sempre um dia de
saída com os alunos, mas que como o dia estava chuvoso e dois dos professores
estavam ajudando nas pizzas, elas precisaram por colocar um filme ao invés de usar
áreas externas. Algumas entrevistas foram interrompidas por alunos que chegavam
solicitando algo para as professoras, até que na última entrou uma criança
reclamando que já tinha passado da hora do lanche e que ele já estava com fome. A
professora pediu paciência e que em poucos minutos já estariam descendo para o
refeitório. No intervalo entre uma entrevista e outra, percebi que uma sala estava
ocupada por algumas crianças e que estavam fazendo atividade de artesanato, a
coordenadora estava junto com elas e me aproximei para entender o que estava
acontecendo, meninos e meninas estavam de luvas, máscara, assentados nas
cadeiras e com as mesas cobertas por um EVA, uns lixavam uma caixa, outros
pintavam e outra pessoa que eu desconhecia auxiliava cada uma na tarefa, Ana
Luísa a coordenadora, me explicou que aquela atividade fazia parte de uma parceria
da escola com a Fundação Aleijadinho, e que os alunos selecionados eram aqueles
que estavam frequentando a Educação Integral pela primeira vez, porque os outros
já haviam feito a atividade no ano anterior e este ano a oportunidade era para quem
ainda não tinha participado. A fundação oferece cursos nas mais variadas áreas de
arte e artesanato, eles disponibilizam um oficineiro e todo o material necessário para
o trabalho, nesta atividade tinha alunos de 6 a 10 anos, mais ou menos cinco grupos
com quatro alunos cada, que trabalhavam na confecção de uma decupagem em
caixa de MDF, ao final do trabalho cada aluno levaria para sua casa o trabalho
realizado, a oficineira disse que era um trabalho feito bem devagar, porque o
processo de lixamento e secagem da tinta demoravam um pouco e ação acontecia
uma vez por semana. Tinham mais de quatro professores neste dia acompanhando
os alunos, inclusive receberam a visita de uma professora que está de licença
maternidade e foi levar o filho de três meses para os alunos conhecerem, ainda na
sala de vídeo e aguardando as pizzas ficarem prontas, os alunos da professora
licenciada ficaram empolgados com a visita e a hora do lanche chegou, as crianças
foram chamadas por turmas se dirigiam à porta e desciam acompanhadas de um
professor, fiquei na sala com a última turma, de alunos entre 9 e 10 anos, que
ajudaram a professora a organizar as mesas, como foram os últimos, ouvi a
recomendação da professora para passarem no lavatório e higienizarem as mãos,
mas percebi que muitos seguiram para o refeitório em disparada, eu, ela e outros
seis alunos paramos para lavar as mãos e ir para o lanche, a professora ainda pediu
alguns que voltasse, mas eles resistiram para não perderem o lugar na fila. Entrei no
refeitório e as crianças recebiam um prato com dois generosos pedaços de pizza,
iam paras as mesas e outra professora levava o copo com suco para cada um.
Depois de confirmarem que todos estavam servidos de lanche e suco, os
professores também se serviram. A pizza estava deliciosa, com massa feita por um
dos professores ajudado pela professora de arte e educação patrimonial recheio de
frango desfiado, milho verde, queijo e orégano. Eles disseram que esta semana o
lanche era especial e que com a ajuda da diretora e dos próprios professores eles
fizeram as pizzas. O lanche terminou e todos ficaram um tempo no refeitório que é
coberto, sem chance de saírem para o pátio porque chuvisco não parava.
Novamente as turmas foram chamadas por números e seguiram para salas, uma
turma voltou para a sala de vídeo e as outras foram para sala de aula, fiquei com a
turma da sala de vídeo, que estavam com a professora de educação patrimonial, ela
explicou que ficariam na sala de vídeo porque aquele era o único espaço disponível
97
com escovas e pastas de dente nas mãos, mas neste dia não pude perceber a
sistematização desta atividade por ter outros horários a cumprir. Despedi-me de
todos, garantindo meu retorno no dia seguinte.
com eles para o refeitório, os alunos foram lembrados que de que deveriam lavar a
mãos e foram para a fila do almoço, servidos pelos professores e ASB‟s, no cardápio
teve arroz, feijão inteiro, farofa com pedaços de carne, cenoura ralada e cebolinha
de folha, salada com um pouco de cenoura ralada e outro vegetal que não
identifiquei e alface picada, não havia possibilidade de escolha dos alunos, aqueles
que não apreciam legumes e verduras colocam ao menos um pouco no prato e
acabam comendo, carboidratos, proteínas e vitaminas em um prato bem colorido, os
professores se servem e se alimentam junto com os alunos, muitos querem
repeteco, quando algum aluno quer comer pela terceira vez, a questão é levada para
a coordenadora que conversa com aluno para saber se ele está com muita fome
mesmo, se ele realmente sente necessidade e se não vai deixar comida sobrar no
prato. Ainda teve um copo de pipoca salgada para cada aluno, no fim do almoço.
Após o almoço os alunos ficaram no pátio interno, percebi que os alunos tiravam das
mochilas escovas de dente e creme dental e se dirigiam ao banheiro para
escovação, sem intervenção de qualquer professor. Despedi-me de todos e parti.
Um dia nublado sem chuva em Ouro Preto, assim foi mais um dia no campo
de observação e acompanhamento das atividades de Educação Integral e Integrada
na escola Marília de Dirceu. Neste dia cheguei um pouco mais tarde ao campo, não
havia alunos atrasados apenas eu estava no portão, o responsável abriu o cadeado,
feliz por ser sexta feira e ter a próxima semana de folga e recesso. Segui meu roteiro
de chegada e ansiosa por conseguir terminar as entrevistas, passei por todas as
salas em que os alunos estavam, as turmas e 3 e quatro estavam terminando as
atividades do Brinquedo Suingue, cada grupo em uma sala diferente com outras
duas professoras diferentes do dia anterior, ainda não havia conversado com uma
delas, mas a atividade com os alunos necessitava da atenção dela e eu já havia
estado com aqueles alunos no dia anterior, preferi ir a outra sala em que não havia
observado. Na turma 1 estava uma professora de acompanhamento pedagógico,
com os alunos entre 6 e 8 anos, eles estavam assentados em duplas, com jogos
variados: vareta, quebra-cabeça e jogo da memória. Uma estagiária do curso de
pedagogia também observava os alunos e prática da professora, as crianças
discutiam estratégias dos jogos e todos estavam concentrados, um ou outro queria
fazer o jogo que estava com outra dupla, a professora intervia e diziam que ele
trocaria a atividade depois, fiquem na turma 1 por algum tempo, mas já havia feito a
entrevista com a professora que estava acompanhando a turma, resolvi ver se a
turma 3 estava realizando algum trabalho, os alunos estavam copiando do quadro a
poesia de Vinícius de Morais As Borboletas e ela preparava pregadores de roupas,
tintas, pincéis, cortava tecidos para a confecção de borboletas conforme as cores
que a poesia citava, depois de copiarem (alguns com muita dificuldade, ainda
apresentando nível de escrita silábico, outros alfabéticos que terminaram
rapidamente) os alunos foram separados em grupos conforme a preferência das
cores: preta, azul, amarela, branca recebiam um pincel cada um, um pedaço de
tecido, e tinta nas cores indicadas, uma folha de revista ou jornal para não sujarem
as mesas e foram orientados a pintarem os tecidos, assim que terminavam
colocavam na frente da sala do lado fora, o pedaço de pano pintado para secagem
da tinta, a professora solicitava que cada um descesse para lavagem do pincel e das
mãos, eles devolviam o pincel para guardar, alguns tecidos já haviam secado, o sol
estava forte e a professora já foi montado a borboleta de alguns alunos e o tempo da
atividade foi suficiente para chegar a hora do lanche, os alunos desceram em fila, a
professora insistiu na lavagem das mão antes do café e foi com os alunos para o
refeitório. O lanche tinha suco e pão de cebola caseiro, que uma professora havia
feito para os alunos, a rotina de entrega de suco e lanche se repetiu com os alunos
em fila, aguardando cada um a sua vez, sem tumultos, cada aluno servido se dirige
à mesa, assenta no banco e se alimenta, depois retornam com os canecos para a
cantina, ou se servem novamente, interessante observar que depois do lanche todos
os canecos estão postos na janela que dá acesso à cozinha, não há copos
100
dizendo que nos encontraríamos ainda por mais alguns dias após o período de folga
previsto no calendário escolar.
tiram a sorte para ver quais os times iniciariam a partida, deu mais 5 minutos, e os
outros dois times jogaram depois. Enquanto isso fui solicitada na secretaria para
auxiliar a coordenadora em uma demanda do monitoramento das turmas de
Educação Integral no Programa Novo Mais Educação (impossível destituir a imagem
e função de coordenadora da SRE!) Assim que terminamos na secretaria, os alunos
já haviam se dirigido ao refeitório para o lanche, como de rotina as turmas dos
alunos mais novos são servidos primeiro, seguem em fila, os professores dão o
suco, servido em canecas pelos ASB‟s, partem o pão com margarina para aqueles
que não querem um pão inteiro, outros voltam para buscar outra metade, se mantém
assentados nos bancos, com os copos sobre a mesa, ao terminarem levam o
vasilhame até a janela da cozinha, não há necessidade de que os professores
solicitem esta ação, parece que é algo natural entre as crianças. As turmas
retornaram para as salas e fui para a sala em que o professor estava, todos os
alunos estavam enfileirados, o professor fez o desenho do campo no quadro,
descrevendo cada parte, perguntou aos alunos se o campo em que eles jogaram era
igual, e quais eram as diferenças, os alunos participaram dando opiniões,
questionou os alunos sobre de que maneira o jogo foi melhor, porque foi melhor,
então chegaram a conclusão que todos precisavam melhorar muito para fazerem um
bom jogo, o professor disse que na próxima aula eles iriam aprender a usar a força
na hora do chute, ele fez o desenho de um boneco próximo a outro e longe de um
terceiro, aí perguntou: Se este boneco quer jogar a bola para este (o próximo) ele vai
ter chutar forte ou fraco? Os alunos foram unânimes em dizer que seria fraco e que
para o que estava distante deveriam usar mais força. O professor ainda questionou:
E se você usar a mesma força do que está próximo para o que está longe o que
acontece? Alguns responderam: “a bola não chega nele né professor!” Outras
reflexões foram feitas com os alunos até que eles saíram para recreação no pátio da
frente, enquanto acontecia o recreio do ensino regular. Enquanto os professores
estavam com os alunos, o professor se disponibilizou a fazer a entrevista. Durante a
conversa os alunos voltaram às salas e eu fui até a sala dos alunos menores que
estavam dando continuidade à confecção das caixas de madeira com a oficineira da
Fundação Aleijadinho, os alunos estavam fazendo a segunda mão de tinta nas
caixas, divididos em grupo, compartilhando a tinta, e sendo orientados pela
professora de acompanhamento pedagógico e pela parceira da Fundação. Enquanto
estava na sala recebi uma ligação do trabalho, solicitando que eu fosse fazer uma
ação que não poderia ser adiada. Despedi dos alunos e professores, passei pela
direção e secretaria a fim de agradecer e precisei terminar a observação sem passar
pelas outras turmas, acompanhar o almoço e fazer outras considerações.
uma artista local que se caracteriza tal qual a Marília de Dirceu e tradicionalmente
passeia pelas ruas da cidade se dizendo a própria Marília. O grupo encontrou com a
artista, que se reuniram para fotos em frente ao museu, recitaram a última lira e
seguiram para depositarem flores ao túmulo da homenageada, no Museu da
Inconfidência. Os alunos, professores e demais seguidores foram recebidos por uma
coordenadora do museu que explicou aos alunos, sobre o espaço dedicado aos
restos mortais dos inconfidentes, todo o processo de traslado daqueles que
morreram no exílio e do porque estarem lá duas mulheres: Maria Dorotéia e Barbara
Heliodora, contou mais sobre o museu e sobre a história de Marília, dos
inconfidentes, da Inconfidência Mineira e da importância da cidade neste contexto.
As flores foram depositadas sobre a lápide, uma oração foi feita, os alunos ainda
permaneceram no Panteão da Inconfidência por alguns instantes, ouviram, fizeram
perguntas, tiraram fotos. A coordenação do Museu agradeceu a presença de todos,
disse que estava sempre à disposição da escola e que se sentia grata pela presença
de alunos e professores naquele espaço novamente e que o museu se encontrava
de portas abertas para a escola. Estudantes e professores se dirigiram para a saída
do museu, nas escadarias do prédio eu me despedi de todos agradeci ao convite,
mas não pude acompanhar o retorno dos alunos à escola, que desceriam
rapidamente porque já se passava das 11:00 e eles precisavam almoçar para o
próximo turno.
Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2017).
relação a isto. Atividades iniciadas por um professor eram continuadas por outro, o
que caracteriza uma interdisciplinaridade e trabalho em equipe.
A organização das turmas também chama a atenção, os alunos se reúnem
em atividades coletivas, sem imposição por faixa etária ou níveis de competência e
habilidades, trabalham juntos em atividades lúdicas, brincadeiras, apresentações,
jogos pedagógicos, artesanato e caminhadas. Existem parceiros que comparecem à
escola para desenvolverem ações com os alunos, instituições e professores
voluntários participam dos projetos.
Há uma naturalidade de ação por parte dos alunos quando diz respeito aos
hábitos alimentares, de higiene pessoal e organização para lanche e almoço.
Uma questão a ser considerada se refere aos registros pedagógicos. Não
foram observados roteiros de trabalho, nem dos processos em que ocorrem o
desenvolvimento das atividades através de fotos ou de relatórios. Esta ausência
documental pode descobrir muitas possibilidades, desde a informalidade nas ações
até falta de intencionalidade pedagógica clara e objetiva na realização das
atividades.
Em face destas considerações e reflexões, tratamos no tópico seguinte de
estruturar estes elementos da observação, procurando outros dados relevantes nas
entrevistas e sob a ótica dos teóricos que dão sustentabilidade a este estudo e os
eixos de análise.
.
2.4 Investigação e estruturação dos fundamentos constitutivos da pesquisa de
campo
Eu acho que essa Educação Integral faz com que os alunos tenham
mais interesse, porque são aulas práticas, mais interessantes. Ainda
acredito que na educação precisava mais disso, porque os alunos
108
Mas não era algo muito coordenado, a gente percebia que era só
uma extensão de carga horária, mas nada, sem muito apoio da
escola, pode até ser porque não parecia muito interessante, queria
dar uma ideia de que são os alunos com dificuldades e mais carentes
que vão para o integral e quando a gente entrou que deu uma
mudança começou a dar uma mudança e a gente abraçou porque
entendia, eu sempre vi que uma das soluções, porque é muito
complexo a educação, seria escola de tempo integral para todos os
níveis, cada dia mais os pais precisam trabalhar e os filhos soltos em
casa não tem condições (GESTOR 2, 2017).
A gente vê a criança como ela fica alegre quando você fala que vai
sair. Você sentir outros ares, né! E a criança aprende também, não é
só na sala de aula. Então é muito bom (PROFESSOR DE
ACOMPANHAMENTO PEDAGÓGICO 2, 2017).
aquele espaço à tarde, então, eu acho que é ate bom pra eles
conhecerem outros espaços da escola. Além dos espaços externos
da escola, tem muitas pracinhas que são próximas e a gente está
sempre saindo com os meninos pra fazer algo fora. (PROFESSOR
MONITOR DE OFICINA 2, 2017).
Importante ponderar, nesta análise, que a escola em questão não pode ser
considerada uma escola de tempo integral, visto que o atendimento ao programa
não alcança todas as matrículas do ensino regular. A oportunidade educativa não é
possibilitada a todos os alunos. Este é um fator que interfere na utilização dos
espaços internos da escola, visto que no mesmo turno são atendidas turmas de
Educação Integral e turmas de ensino regular do fundamental – anos finais,
incompatibilizando o uso de espaços internos pelas turmas do integral.
As percepções sobre a utilização dos espaços podem parecer contraditórias,
quando um professor acredita não haver problemas e outros encaram a falta de
espaço como um dificultador. Uma hipótese para esta questão pode estar no fato de
que estes professores trabalham em outras escolas, que em algumas situações
passam por dificuldades ainda maiores do que a escola investigada, neste sentido a
comparação é inevitável por parte de quem vive situações de desafio em relação a
espaços.
A saída com os alunos da escola e o aproveitamento dos espaços internos
também foram notadas no período de observação e acompanhamento das
atividades realizadas na escola. Além da saída para utilização de espaços fora da
escola, são utilizados o pátio da frente para recreação, esporte e lazer, o refeitório
também é alternativa para otimização do espaço intraescolar, além da sala de vídeo,
que é frequentada para exibição de filmes, aulas e apresentação de teatro. A horta
também é opção de espaço diferenciado dentro da escola, bem como as salas de
aula.
Quando a atual equipe gestora assumiu a escola, as turmas de Educação
Integral funcionavam fora da escola em prédio alugado, o que, segundo relato da
gestora, acabava causando muitos transtornos para a escola. A equipe fez algumas
adequações, aproveitou algumas salas que serviam de depósito e trouxeram os
alunos para dentro da escola. No decorrer dos anos, a partir das orientações do
programa que passaram a contemplar a valorização do território e a Cidade
Educadora como sustentáculo, a escola passou a atender quatro turmas no mesmo
turno sem um número de salas de aulas suficiente.
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a gente tem uma vantagem que a nossa equipe esta há três anos
juntos, por enquanto mudou só uma professora, mais isso também
ela já chegou a apanhou a equipe montada, tudo montado então não
ficou diferente para trabalhar, então é isto e a cada dia é isto. Vários
projetos, levando estes meninos para rua e trazendo o pessoal da
rua para cá, pedindo ajuda, e vamos ver o que vai dar!
(PROFESSOR COORDENADOR, 2017).
Uma vez por semana. Toda quarta a gente sai. Toda quarta mesmo.
Agora, nessa semana das crianças nós já saímos. Hoje a gente
sairia, mas por causa do tempo, né! Quando esta chovendo é que
não da pra gente sair, mas essa semana especial nós sairíamos
umas três vezes (PROFESSOR DE ACOMPANHAMENTO
PEDAGÓGICO 3, 2017).
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“O Programa Bairro-Escola do município de Nova Iguaçu teve início em 2005, inspirado nos
princípios da Cidade Educadora, identificando lugares e mobilizando pessoas para o processo de
educação e construção da cidadania.” (GADOTTI, 2009, p.69)
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quando você mantém uma pessoa presa ela nunca vai saber como
se comportar lá fora. A experiência que eu tenho é que os meninos
vão aprendendo a comportar em outros lugares, além do
conhecimento. Eles já não são mais aquele passarinho preso que
quando você solta fica doido, faz tudo errado lá fora e quer aproveitar
tudo ao mesmo tempo, para eles já é natural, já é normal, então esse
aprendizado de como me comportar em um museu, um cinema. É
gratificante, para mim essa experiência é muito válida (GESTOR 1,
2017).
Primeiro é fazer com que eles entendam onde estão, onde vivem.
Como eu falei, Ouro Preto é uma cidade riquíssima em história, tanto
que pessoas de outros países vem visitar e muitos dos meninos, que
moram aqui, correm o risco de não conhecer. Então, a intenção é
conhecer a história, a história do nosso país é totalmente ligada a
Ouro Preto, muitas coisas nasceram aqui, portanto é adquirir
conhecimento mesmo e, como eu falei, é a criança entender como se
comporta em determinados lugares, entender que se eu chego em
um museu eu olho e não toco, por exemplo. Esses meninos se
tiverem a oportunidade de conhecer outros lugares vão saber
comportar lá dentro. Isso tudo é trabalhado antes deles saírem. É
saber caminhar na rua, na calçada, coisas simples. É saber
encontrar com uma pessoa e dar um sorriso, dizer "oi", são valores.
É muito amplo o que ele adquire nessa saída da escola (GESTOR 1,
2017).
teorias e em estudos sobre a questão, mas é notável pela práxis vivenciada por uma
rotina de saídas e utilização dos espaços para além dos muros da escola.
Acerca das reflexões sobre a perspectiva da Cidade Educadora como apoio
para o desenvolvimento das atividades na escola, ponderamos algumas
considerações substanciais a este respeito.
A escola utiliza equipamentos urbanos como alternativa para enfrentamento
das questões sobre espaços de aprendizagem, a utilização destes espaços
extraescolares está relacionada à projetos desenvolvidos pela equipe, que são
planejados e desenvolvidos nos macrocampos em que cada professor atua.
Embora a ocupação desses espaços ocorra, esteja atrelada ao planejamento
dos projetos e seja percebido através das entrevistas, o conceito de Cidade
Educadora não é depreendido, tampouco está explícito e vinculado ao PPP da
escola examinada. A apropriação do conceito pouco se revelou nas entrevistas, e
não apareceu em referências dos documentos da escola que norteiam a proposta,
disponíveis para a pesquisa.
As observações realizadas neste capítulo são subsídios para composição do
capítulo 3, que pretende elaborar o Plano de Ação para dar sustentabilidade à
política pública de Educação Integral e Integrada na valorização do território.
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pelas soluções das questões analisados por um estudo de caso como este, por
exemplo, em que se coloca em prática o Plano de Ação Educacional.
A base desta metodologia consiste em responder a um conjunto de sete
perguntas em inglês: What? Why? Were? When? Who? How? How much? As letras
iniciais e a quantidade de palavras formam a sigla 5W2H, que, traduzidas para o
português, dão sentido e significado ao plano de ação.
Na pergunta “O que?” são apresentadas as etapas do plano, as ações a
serem executadas ou o problema a ser solucionado. O “Por que?” deve justificar os
motivos pelos quais aquela ação precisa ser executada. O “Onde?” define o local no
qual os procedimentos serão executados. O “Quando será feito?” apresenta
informações sobre o momento em que serão realizadas as ações, imprimindo uma
ideia de tempo. O “Quem?” estabelece os responsáveis pela execução do que foi
planejado.
As duas últimas perguntas configuram-se em “Como?” e “Quanto?” As duas
últimas perguntas da metodologia explicam de que maneira as ações serão
colocadas em prática, a fim de que sejam alcançados os objetivos traçados e prevê
quanto custará a ação, delineando a disponibilidade financeira para execução da
atividade.
São perguntas essenciais, que, na medida em que são respondidas, pode-se
visualizar um mapa das atividades a serem executadas, colaborando para uma
sequência de passos que devem ser obedecidas no decorrer do plano. Isso deixa a
execução do plano mais fluido, claro e efetivo.
Para assegurar o sucesso na implementação das ações é preciso pensar
sobre as causas dos problemas apresentados, não apenas sobre os efeitos destes.
Uma ação não deve gerar outros problemas, é fundamental ter a certeza de que ela
irá direto ao ponto, caso contrário, a ação deverá ser substituída, a fim de que seus
efeitos sejam eficazes para a solução dos desafios propostos.
O quadro, a seguir, apresenta o detalhamento de todas as ações propositivas
listadas anteriormente.
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referência sobre o tema para a elucidação dos conceitos. O grupo será dividido em
duplas que, após a leitura, irão sistematizar respostas que definam os temas
trabalhados. Nesse ponto do trabalho, já será possível conjugar a bagagem de cada
um com o que os referenciais pronunciam sobre eles, elaborando, conjuntamente, o
que significa a Educação Integral e a Cidade Educadora.
5º momento: Elaboração da proposta coletiva para repasse dos estudos na
escola e encerramento do encontro com avaliação dos participantes sobre os temas
trabalhados, bem como sobre a escolha metodológica, além de um espaço para as
possíveis sugestões.
Na próxima seção, apresentamos como se dará o planejamento das
atividades dos macrocampos de cada escola atendida pela proposta.
3.2.2 Planejamento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
______. Educação integral: texto referência para o debate nacional. Série Mais
Educação. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade, 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdo
cuments/cadfinal_educ_integral.pdf>. Acesso em: 09 dez. 2017.
GADOTTI, M. A Escola na cidade que educa. Cadernos CENPEC, São Paulo, vol.
1, n.1, p.133-139. 2006. Disponível em: <http://cadernos.cenpec.org.b
r/cadernos/index.php/cadernos/article/view/160/189>. Acesso em: 09 dez. 2017.
v.br/uploads/legislacao/Portaria_n_312_de_20_de_outubro_de_2010.pdf>. Acesso
em: 09 dez. 2017.
Da alimentação:
1. Onde, como e quando é feita a alimentação dos estudantes?
2. Há formação educativa no momento da alimentação? Citar ações educativas
observadas:
3. Quem acompanha?
Do planejamento:
4. Como é realizado o planejamento das ações?
5. Qual a sua periodicidade?
6. Há coerência entre o planejamento e a proposta do programa?
7. Há flexibilidade no planejamento, ou não?
8. Há alguma abordagem do Conceito de Cidade Educadora?
Da rotina
22. Como acontece o acolhimento das crianças na chegada?
23. Qual é a rotina das crianças?
24. Como são as ações em dias de chuva?
Dos espaços
25. Quais os espaços utilizados pelos estudantes dentro da escola?
26. Com qual frequência esses espaços são utilizados?
27. Que espaços da cidade de Ouro Preto são utilizados pelos alunos das turmas
de Educação Integral? Como são utilizados? Quando são utilizados?
28. Com qual frequência esses espaços são utilizados?
29. De que maneira é feito o deslocamento dos estudantes?
30. Como eles se comportam no deslocamento?
31. Como são apresentados os cuidados no deslocamento para as crianças?
32. As crianças são identificadas? Como? Por uniforme, crachá?
33. Quantos adultos responsáveis acompanham os estudantes?
Dos registros
34. De que tipo e como são feitos os registros das ações realizadas fora da
escola?
35. As ações são feitas com os próprios professores ou por agentes parceiros?