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TCC MemoriasNarrativasChupa-chupa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CASTANHAL


POLO DE COLARES/PARFOR
FACULDADE DE PEDAGOGIA

LAURIMAR CABRAL FERREIRA DE SOUZA

AS NARRATIVAS E MEMÓRIAS SOBRE O CHUPA-CHUPA EM


COLARES E PRÁTICAS EDUCATIVAS DO ENSINO DE HISTÓRIA
NAS SÉRIES INICIAIS.

COLARES
2017
LAURIMAR CABRAL FERREIRA DE SOUZA

AS NARRATIVAS E MEMÓRIAS SOBRE O CHUPA-CHUPA EM


COLARES E PRÁTICAS EDUCATIVAS DO ENSINO DE HISTÓRIA
NAS SÉRIES INICIAIS.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Pedagogia da
Universidade Federal do Pará, como
requisito parcial para obtenção do grau
de Pedagoga.
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Bandeira

COLARES
2017
LAURIMAR CABRAL FERREIRA DE SOUZA

AS NARRATIVAS E MEMÓRIAS SOBRE O CHUPA-CHUPA EM


COLARES E PRÁTICAS EDUCATIVAS DO ENSINO DE HISTÓRIA
NAS SÉRIES INICIAIS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Pedagogia da Universidade Federal do
Pará, Campus de Castanhal, Polo de Colares,
como requisito parcial para obtenção do grau de
Pedagoga.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________

Prof. Dr. Sérgio Bandeira do


Nascimento - UFPA

ORIENTADOR

__________________________________

Prof. Msc. Andrea da Silva Pastana

UEPA - Avaliadora

__________________________________

Prof. Msc. Wilza Maria Pinho Moraes

IFPA - Avaliadora
A Deus.

A minha família, razão da minha vida.


Agradeço a meu orientador pela paciência
e grandes ensinamentos.
Agradeço a meu esposo por todo apoio e
amor; agradeço ainda aos amigos do
grupo “Ufologia na Amazônia” que
contribuíram bastante com minha
pesquisa.
“Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina. ”
Cora Coralina
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso traz uma abordagem
investigativa sobre o fenômeno chupa-chupa, ocorrido na cidade de Colares-Pará na
década de 1970 na perspectiva de cruzar essas memórias e potencializá-las como
elemento incorporado a cultura do referido município e as suas possibilidades de
uso para a valorização da história local e para o ensino de história nas series iniciais
do ensino fundamental. É um estudo de abordagem qualitativa e para tanto, foi
utilizado como método de coleta de dados a entrevista com alguns moradores que
vivenciaram a situação apresentada como as aparições das luzes do chupa-chupa
que provocaram significativas mudanças no cotidiano da cidade de Colares e região.
Através de estudo levantado outras fontes também foram utilizadas, tais como os
jornais O LIBERAL e O ESTADO DO PARÁ, ambos periódicos conceituados que
veicularam no ano de 1977 a notícia dos avistamentos de Óvnis, e ainda
publicações da Revista UFO, especialista em Ufologia, do ano de 1997 que está
disponível no sitio eletrônico da revista. A partir da análise dos dados foi possível
perceber a importância das narrativas e da memória dos moradores sobre o caso
em evidencia e podem ser viabilizadas para o ensino de História local para os alunos
das séries iniciais em Colares. Enfim, por meio de todo o estudo realizado e das
sugestões pedagógicas apresentadas foi possível confirmar que o fenômeno chupa-
chupa através das memórias e narrativas de moradores de Colares pode ser
utilizado como elemento didático para a desenvoltura de um ensino dinâmico e
contextualizado da história do lugar e da realidade presente do aluno que se
esclarece a partir do conhecimento do passado.

Palavras-Chaves: História; Narrativa; Memória; Chupa-chupa; Operação Prato.


ABSTRACT
The present Work of Conclusion of Course presents an investigative
approach on the phenomenon Chupa-Chupa, occurred in the city of Colares-Pará in
the 1970's in the perspective of perceiving it as an element incorporated into the
culture of said municipality and its potential for valorization Of local history and for the
teaching of history in the series of elementary school. It is a study of qualitative
approach and for that, it was used as method of data collection the interview with
some residents who experienced the situation presented as the apparitions of the
chupa-chupa lights that caused significant changes in the daily life of the city of
Colares and region. Through a study that was carried out, other sources were also
used, such as the newspapers LIBERAL and THE STATE OF PARÁ, both renowned
periodicals that in 1977 reported the UFO sightings, as well as UFO Magazine, a
specialist in Ufology, 1997 which is available on the magazine's website. From the
analysis of the data it was possible to perceive the importance of the narratives and
the memory of the residents on the case in evidence and can be made possible for
the teaching of local History for the students of the elementary series in Colares.
Finally, through all the study carried out and the pedagogical suggestions presented,
it was possible to confirm that the Chupa-chupa phenomenon through the memories
and narratives of Colares residents can be used as a didactic element for the
development of a dynamic and contextualized teaching of the history of Place and
the present reality of the student that is clarified from the knowledge of the past.

Keywords: History; Narrative; Memory; Chupa-chupa; Operation Prato.


LISTA DE SIGLAS

OVNI – OBJETO VOADOR NÃO IDENTIFICADO

ET - EXTRATERRESTRE

UFO - éUnknown Flying Objects; OBJETOS VOADORES DESCONHECIDOS

I COMAR – I COMANDO AÉREO

FAB – FORÇA AÉREA BRASILEIRA

PCN – PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ilha dos caranguejos - Maranhão ................................................... 31


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

1. PRODUZINDO HISTÓRIA E ENTRELAÇANDO MEMÓRIAS ............................. 16


1.1. O ENSINO DE HISTÓRIA: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS. ............ 16
1.2. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO .......................................... 21
1.3. FONTES DOCUMENTAIS E O USO DA MEMÓRIA .......................................... 24

2 - O EMBATE DE NARRATIVAS SOBRE O FENÔMENO DO CHUPA-CHUPA EM


COLARES-PARÁ ...................................................................................................... 27
2.1 – NARRATIVAS EM FONTES JORNALISTICAS ............................................... 27
2.2. NARRATIVAS DE MORADORES SOBRE O FATO OCORRIDO..................... 33
2.3. OUTRAS NARRATIVAS: O PERIÓDICO SOBRE UFOLOGIA ......................... 38

3 – O CHUPA-CHUPA E O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SERIES INICIAIS DO


ENSINO FUNDAMENTAL ........................................................................................ 44
3.1 - O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL ........................................................................................................ 45
3.2 – OS PCN’S A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA LOCAL ........................................ 50
3.3 – PRESCRIÇÕES PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E A VALORIZAÇÃO DE
HISTÓRIA LOCAL NO MUNICÍPIO DE COLARES. .................................................. 54

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 60

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 62

ANEXOS ................................................................................................................... 64

APÊNDICE ................................................................................................................ 74
12

1. INTRODUÇÃO
Devido a dificuldade de uso da narrativa de vivencias como documento que
relata a formação e cultura de um povo como recurso presente no ensino de História
nas séries iniciais essa pesquisa se justifica através da análise da importância da
história local, memória e cultura como elemento formador do sujeito que nela está
inserido e o incentivo da produção de narrativas orais sobre o caso do chupa-chupa
no município de Colares/PA.

Busquei reunir dados/informações com o propósito de responder ao seguinte


problema de pesquisa: como o chupa-chupa, fenômeno de supostas aparições de
óvnis na Amazônia brasileira, pode ser potencializado enquanto elemento da cultura
e da história local para o ensino da disciplina história nas series iniciais?

A dificuldade apontada pode ser resolvida com a análise da importância da


história local, memória e cultura como elemento formador do sujeito que nela está
inserido

O presente trabalho tem como objetivo geral investigar como o fenômeno


chupa-chupa pode ser potencializado enquanto elemento da cultura para a
valorização da história local e para o ensino de história nas series iniciais.
Especificamente consiste em discutir algumas noções teórico-conceituais sobre o
conhecimento histórico e suas possibilidades para o ensino; investigar as memórias
de moradores de Colares sobre o fenômeno do chupa-chupa; compreender a
importância das memórias de moradores para o processo de construção da história
local e para o ensino de história nas series iniciais.

No decorrer de toda a trajetória da humanidade o homem busca conhecer-se


a si mesmo e ao outro, busca compreender a trajetória de sua espécie em seus
contextos histórico, sociais e culturais, busca melhorar as relações consigo mesmo e
estabelecer uma relação dialógica com suas raízes. Nessa busca pelo conhecimento
a disciplina de História seria o elo de ligação entre o sujeito e seus questionamentos.

Segundo (NASCIMENTO e MORAIS, 2013) a disciplina de História vem com


a perspectiva de contribuir na construção da identidade sociocultural e possui ainda
um caráter preparatório do indivíduo para exercer a sua cidadania, logo, o sujeito
emergente de sua própria história é um sujeito instruído e apto a encarar as
13

diversidades culturais, respeitando a si mesmo a aos que com ele habitam em essa
esfera dialógica que é a busca pelo conhecimento de si mesmo e do outro.

O processo de ensino e aprendizagem da disciplina de História esteve


centrado na repetição e memorização (NASCIMENTO; MORAIS, 2013), tratando-se
de um estudo onde o diálogo constitui-se entre o sujeito e a memória, no sentido de
fatos decorados, e não um diálogo entre o sujeito e seus conhecimentos. Esse
estudo sistêmico tende a assumir um perfil enfadonho e temporário, onde o sujeito
aprende, pratica e depois descarta. O ensino de História não é esse processo com
prazo de validade, ao invés disso, a disciplina de História é um ato contínuo, que
possui um caráter formador, onde o sujeito aprende com suas relações e desenvolve
um conhecimento que perdura e se aprimora no decorrer de sua existência.

Essa atmosfera cultural é cheia de pluralidades, de forma que o sujeito se


constitui por meio dos contatos estabelecidos com as informações adquiridas pelo
meio. Nessa perspectiva, compreendemos que o estudo de sua própria história
contribui para uma aprendizagem eficaz e aprimora as relações com o outro.
Compreende-se que o sujeito pode enriquecer seus conhecimentos históricos a
partir do momento que busca aprender primeiro sobre si, no estudo da própria
história como partícula de conhecimento maior, ele torna-se capaz de partir de um
estudo de uma singularidade, seguindo para um estudo plural que representa a
parte majoritária do conhecimento de onde está inserido. As narrativas surgem como
elemento desse conhecimento afluente das capacidades dialógicas do homem
quanto ser histórico, pensante e falante.

O estudo da disciplina de História nas séries iniciais pode ser prazeroso e


formativo. Neste contexto, fica claro que o diálogo sobre os fatos e fenômenos
ocorridos dentro da realidade do aluno pode desenvolver um prazer pelo estudo da
história. O mais preocupante, contudo, é constatar que esse diálogo pode não ser
desenvolvido com frequência nas séries iniciais no município de Colares. Não é
exagero afirmar que a história local muitas vezes cai em desuso e é importante que
isso ocorra de forma diferente. Assim, surge a necessidade de trazer a rotina das
escolas um estudo mais contextualizado, usando a narrativa como meio de ligação
entre os educandos e os fatos ocorridos na cidade durante o fenômeno chupa-
chupa.
14

O Fenômeno Chupa-Chupa, ocorrido no Município de Colares na década de


70, foi um grande acontecimento que marcou significativamente a vida dos
moradores dessa cidade; medos, indagações, receios, perguntas sem respostas,
datas, números, eventos oficiais, uma operação liderada pela força aérea brasileira,
são elementos presentes nessa história que constitui parte da cultura de um povo.
Uma história vivida, uma história falada, uma história contada. Uma história de
deveria ser ensinada. Bittencourt define que:

"As formulações para o ensino de História a partir das séries (ou ciclos)
iniciais do ensino fundamental sofrem variações, mas visam ultrapassar a
limitação de uma disciplina apreendida com base nos feitos dos heróis e
dos grandes personagens, apresentados em atividades cívicas e como
figuras atemporais [...] Os estudos de História tem como base o
desenvolvimento intelectual do educando, e daí a recomendação de
introduzir o conteúdo a ser estudado por um problema situado no tempo
presente, buscando em tempos passados as respostas para as indagações
feitas". (BITTENCOUT, 2004, p. 112/113)

Nesse contexto, a abordagem de história local ou história do lugar, que


procura estabelecer uma conexão entre o vivido pelo aluno ou por seus familiares
com eventos de proporções nacionais e/ou mundiais, desencadeia um interesse pelo
estudo da história como um todo, onde o aluno parte da análise do fragmento de
uma história e chega a sua totalidade. Assim, podemos destacar a importância do
estudo dos fatos ocorridos durante o fenômeno Chupa-Chupa como elementos
advindos de uma história local que constitui a história e "raiz” de um sujeito.
Explorando a História vivida e contada como um elemento relevante no ensino de
história, saindo apenas dos "heróis documentados", podemos chegar a novos
caminhos que exploram a história de uma forma contemporânea e ao mesmo tempo
passada.

Sendo assim, o estudo da história através de relações dialógicas e memórias


das histórias vividas e contadas na contribuição do ensino nas séries iniciais, no
município de Colares, desencadeará a melhoria do ensino de História e valorização
da cultura local, como fonte de conhecimento do indivíduo e da realidade a que está
inserido.

Portanto, a fala pode ser o meio mais acessível de comunicação entre os


sujeitos, por ela é permitida uma troca de ideias e conhecimentos, o ato de ouvir
pode ser um elemento fundamental na formação social de um cidadão.
15

Segundo Malerba (2016), A narrativa é o meio pelo qual as vivências


históricas tomam sentido na vida do homem. Deste modo o homem faz história a
medida que narra suas memórias, constitui-se como historiador e repassa esses
conhecimentos.

Valorizando a narrativa, esta será uma pesquisa realizada através de


entrevistas com 3 moradores e/ou testemunhas dos fatos acorridos na década de
1970 na Ilha de Colares, elaborarei dez perguntas que serão respondidas pelas
testemunhas de acordo com suas percepções e vivências dos fatos, gravarei em
áudio e sintetizarei no presente estudo.

Analisarei jornais da época que noticiaram as informações sobre o fenômeno,


assim como revistas de estudo próximo ao científico que também apresentaram
suas concepções sobre o chupa-chupa, mediante coleta de informações, farei um
embate de memórias para apresentar ao leitor desse estudo as possíveis leituras
sobre o evento.

A justificativa para essa abordagem foi o contato direto com os moradores da


Cidade de Colares, que narram constantemente suas experiências vivenciadas em
suas comunidades acerca do fenômeno chupa-chupa que são sempre presentes em
seus relatos, tornando evidente o quanto isso influenciou e influencia a história e
cultura local.

Após a conclusão da pesquisa, buscarei propor sugestões e formas de


converter os dados em produto de cunho pedagógico para que possa servir como
subsídio no processo de ensino, contextualizando os relatos e dados das vivencias
locais para valorização da história local de Colares.
16

1. PRODUZINDO HISTÓRIA E ENTRELAÇANDO MEMÓRIAS


A disciplina de História pode não ser a mais popular na preferência dos
alunos das séries iniciais do ensino fundamental, além disso possui uma carga
horária reduzida e com um conteúdo extenso que por vezes pode ser tratado como
menos importante se comparada as outras disciplinas. Porém, ela pode ser um
convite para entrelaçar histórias e a memória individual e coletiva dos nossos alunos
e seus familiares na perspectiva de assumir uma postura crítica.

Estudar História a partir do conhecimento de sua própria história, tendo o uso


da memória como documento histórico, pode dinamizar o ensino de História nas
localidades em que os alunos vivem e, em particular, no município de Colares que
serve como referência espacial para este estudo. Assim teremos uma abordagem
prazerosa de um conhecimento empírico associado a historiografia que refletiria
positivamente na coletividade de um ensino de História como um todo.

Assim, neste capitulo o meu objetivo é discutir noções teórico-conceituais


sobre o conhecimento histórico e suas possibilidades para o ensino, como nos
propomos a seguir.

1.1. O ENSINO DE HISTÓRIA: aproximações e distanciamentos.


Quem nunca ouviu um comentário do tipo: "tirou nota vermelha em matéria
decorativa?", como se essa disciplina apresentasse pouca relevância no processo
formativo dos indivíduos em fase escolar, como se ela não fosse um pilar para o
autoconhecimento como cidadão emergente de uma cultura paraense, amazônida,
brasileira. Em meu tempo como aluna das séries iniciais (e em tempo de muitos), a
disciplina de História era tratada como "secundária", um estudo de conteúdos que
nem seriam tão explorados e aproveitados no decorrer de nossa vida escolar e que
parece para nada servir as nossas vidas.

Antes de escrever este capítulo fiz uma reflexão sobre minha vida escolar,
nas séries iniciais. Percebo que desde sempre não fui uma admiradora da disciplina
de história e tentei entender o motivo para isso, então percebi que fui mais uma de
muitas crianças que cresceram com essa doutrina de que História é apenas
decorativa, tratada como algo que não me formaria ou que não contribuiria muito
17

com minhas intenções profissionais. É verdade que poucas crianças sonham em


trabalhar quando ainda estão nas séries iniciais da educação, no entanto, das que já
ouvi falar e das que convivi, eu particularmente, nunca ouvi uma criança dizer que
sonhava ser um professor de História.

Os meninos querem ser heróis (fardados) e as meninas médicas e


professoras (mas não de história), então qual seria o motivo dessa cultura? Vale
salientar que o encanto por essas profissões é estimulado, na maioria das vezes,
pelo professor de história. Visto que, o estudo de profissões é um elemento do
ensino de História nas séries iniciais. No entanto, a disciplina de História em si,
carrega consigo um certo desdém dos alunos e dos pais também.1

Sempre ouvi em casa que deveria ler várias vezes para decorar os conteúdos
e tirar boa nota, depois do teste aplicado em sala de aula, o conhecimento que
sobrevivesse na minha memória não faria diferença, afinal quem algum dia nos
perguntaria coisas do tipo "Como esse café chegou até a sua mesa?".

Nas séries iniciais a produção cafeeira era um assunto bastante abordado


pela minha professora, no entanto a única informação sobre esse assunto que
parecia valer para a minha vida era saber qual o melhor café e mais barato para
incluir em nossa cesta básica. Não lembro de alguma vez discutirmos a mesa, minha
mãe, meu pai, meus 10 irmãos e eu, sobre a origem daquele café, no entanto, todos
os dias falávamos mesmo era sobre assuntos referentes a situações ocorridas em
nossa cidade, de nossa cultura e história local, de mitos e lendas, que eu adorava,
mas quase nunca apareciam como temas em minhas aulas de história. Porém, isso
não significa que a discussão sobre o café seja irrelevante, mas sim a forma como o
tema foi tratado nas aulas de História que tive nas séries iniciais.

Na escola a professora falava do café, mas eu só queria saber de tudo que


ouvia em casa, estudava em uma escola de freiras, ao lado da igreja matriz de Vigia
de Nazaré, a Igreja Mãe de Deus. Meus pais falavam sobre um suposto túnel que
existiria em baixo da igreja, segundo eles, aquele túnel percorria parte da cidade

1Do 1º ao 5º ano, o estudo das diferentes profissões faz parte dos assuntos
para a disciplina história.
18

pelo subterrâneo, o que provocava as minhas curiosidades sobre aquele lugar. Eu


imaginava milhares de coisas e isso me enchia de dúvidas, tinha muita coisa para
perguntar sobre aquele túnel, mas a minha professora só queria saber de temas
como o café! E eu nem gostava tanto assim de café.

Perguntei para minha professora sobre o túnel, quem teria feito? Para que
servia? Ele realmente existia? Porque não vamos lá? Será que tem ouro lá dentro?
Ao bombardeio de perguntas ela não respondia nada! Então decidi investigar
sozinha.

Todos os dias, ao sair da escola, eu caminhava em direção a entrada lateral


da igreja, vez ou outra eu dava sorte e a porta estava aberta. Em silencio entrava na
igreja e buscava o máximo de informações que podia, entrava em salas, galerias,
olhava pela fresta das portas, tudo em busca do tal "túnel subterrâneo", era uma
exploradora, uma pesquisadora e não me dava conta. Quando estava no melhor de
minha busca, um senhor simpático que era vigia da igreja me interceptava e me
mandava ir embora, mas isso não importava e sim o que eu tinha conseguido
absorver em minhas investigações. Enquanto ele me segurava pelos braços e me
conduzia até a porta eu olhava para ele e não parava de perguntar sobre o túnel.
Queria saber quem o fez, se alguém já tinha descido lá, se era perigoso, se
realmente existia, etc.

Aquele homem não parecia ter muito conhecimento e por isso não me
respondia nada. Não desisti, todos os dias repetia a mesma “missão”. Pela manhã
trazia o relatório aos meus colegas de classe sobre o que conseguira ver. Quando
as portas laterais estavam trancadas e não podia entrar nas áreas restritas da igreja
eu não dava viagem perdida, então entrava pela porta de frente para explorar o
interior da matriz que era repleto de artefatos lindíssimos, olhava todas as imagens,
peças antigas, estrutura das colunas, pinturas e esculturas existentes no interior do
templo. Tinha vontade de levantar o vestido de Nossa Senhora e olhar, mas a beata
me disse que se fizesse isso eu ficaria cega e para ser sincera, até hoje tenho medo.

Certo dia o simpático senhor, cansado de minhas investidas e entradas


"clandestinas" fez um acordo comigo. Disse que me mostraria o túnel, desde que em
troca eu prometesse nunca mais invadir a igreja daquele jeito. Eu precisava decidir
19

entre minha grande descoberta e os "tours" que eu tanto amava, não foi fácil, mas
eu aceitei a proposta dele.

Ele me conduziu até uma área onde eu nunca havia conseguido entrar, essa
área dava acesso a coluna esquerda da matriz, onde fica um grande sino, abaixo do
sino havia um enorme assoalho de tábuas, todo o interior da coluna era oco e
escuro (salvo pelos raios de sol que entravam pelo topo da coluna), segundo o
homem, esse tabuado teria sido montado para esconder a profundidade do túnel
que existia no interior da coluna. Ele me deixou na porta, desceu sobre o tabuado
(devia ser uns 50 cm abaixo da porta de acesso), abaixou-se, pegou uma das
tábuas que estava solta, levantou-a, me olhou e disse: “Esse é o túnel, menina! ” Era
muito escuro abaixo das tábuas, os raios de sol não chegavam até lá, não tinha
como definir profundidade ou a veracidade do que ele me mostrava.

Olhei para ele com os olhos arregalados e pensei, “Finalmente! ”. Não queria
acreditar em que meus olhos viam, enruguei a testa com sinal de que estava
pensando, perguntei a mim mesma se aquilo tudo não fazia parte de um teatro para
me convencer a não voltar mais ali, foi quando ele pegou um pedaço de reboco que
estava solto sobre as tábuas do assoalho e atirou no fundo do túnel, depois de
alguns segundos a pedra tocou o chão em um som abafado que ecoava. Fiquei em
silêncio por mais alguns segundos e em seguida perguntei: Quem fez? Então ele
disse que foram os Jesuítas. Quis saber onde aquele túnel ia dar, mas ele já não
soube responder.2

No dia seguinte cheguei antes de todos os meus colegas na escola e contei


para todo mundo o que acontecera comigo. Ao chegar na sala de aula, minha
professora foi recebida com outra frase e não com o tradicional “bom dia! ” Ao invés
disso, dissemos a ela: “Quem eram os Jesuítas?!” Ela nos mandou sentar e disse

2 Sobre o referido túnel, trata-se de uma história muito presente no imaginário popular de
Vigia-Pará, alguns afirmam que o túnel nunca existiu e outros dizem ter visto de perto, que se tratava
de um túnel grande o suficiente para uma pessoa ficar de pé e que seguia subterraneamente por
baixo da cidade, com destino desconhecido, suas paredes eram rebocadas e era sem iluminação,
pessoas afirmam que o túnel teve sua entrada soterrada no início da década de 1990, não existem
dados oficiais sobre esse tema, no entanto moradores antigos apresentam depoimentos favoráveis a
existência do túnel, popularmente chamado de “sumidouro”. (VIGILENGA, 2017) in:
https://www.culturavigilenga.com/lendas-de-vigia
20

que não era dia de estudar História, traduzindo-se em um misto de frustração e mais
inquietação.

O curioso é que mesmo diante de tanta vontade de aprender, minha


professora "freou" minhas expectativas e de meus colegas também. Imaginei o
quanto eu poderia ter aprendido sobre história se tivéssemos a oportunidade de
estudar sobre o que nos estimulava a curiosidade, eu era uma exploradora em
formação.

Ao examinar estátuas, arquitetura e o contexto histórico da minha realidade


eu poderia ter desenvolvido um prazer maior pelo estudo da História ao invés de me
tornar uma adulta que durante anos consecutivos detestou uma disciplina que
poderia ter contribuído muito para minha formação. Em consequência de ser tolhida
e não assistida em minhas dúvidas quando ainda estava nas séries iniciais, tratei a
disciplina de História como secundária e irrelevante. Sim, isso é vergonhoso.
Precisei chegar à Universidade para compreender que a História é feita de
acontecimentos próximos e acessíveis de onde emerge nossa realidade e não
apenas de gravuras impressas em livros que concretizam noções abstratas
(BITTENCOURT, ALMEIDA, et al., 2006).

Os PCN's de História para o primeiro ciclo do ensino Fundamental, que


engloba alunos do 1º ao 5º ano do ensino de nove anos, traz como eixo temático a
História Local e do cotidiano, defende que os conteúdos de história para o primeiro
ciclo, devem, preferencialmente, destacar histórias pertencentes ao local em que o
aluno convive, dimensionadas em diferentes tempos, objetivando que o aluno seja
capaz de estabelecer relações entre o presente e o passado (BRASIL, 1997).

Considerando o eixo temático “História local e do cotidiano”, a proposta é a de


que, no primeiro ciclo, os alunos iniciem seus estudos históricos no presente, desse
modo estimule sua curiosidade pelo passado a fins de buscar respostas para a sua
contemporaneidade.

Ao ingressar na escola o aluno vem com uma carga de saberes baseado nas
suas experiências e mesmo no conhecimento empírico de seus familiares, de sua
comunidade e cabe a escola aprimora-los e estabelecer conexões com as
abordagens temáticas referentes ao ensino de modo geral.
21

Nesse contexto (BITTENCOUT, 2004) ressalta a importância do estudo de


história do lugar em que o aluno estabelece conexões entre o vivido por ele e o
nacional. Surge aí uma admiração e desejo em aprofundar-se mais na História como
leitura prazerosa de mundo e de documentos.

Se ao invés de ser ensinada nas séries iniciais, por minha professora, ela
tivesse me proporcionado essa contextualização partida de meu presente para o
passado, teria de fato, me aproximado da História e feito de mim uma pesquisadora
sempre inconclusa (por querer saber sempre mais) e não uma adulta perdida entre
livros e gravuras. Essa abordagem é uma reflexão sobre como temos ensinado
nossos alunos no período do 1º ao 5º ano, que embora pareça não formar, mas é
absolutamente formador.

1.2. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO


Compreendemos ao longo de nossos estudos nas séries iniciais que a
História fala do passado, no entanto conceituar História não é tão simples assim,
para Silva e Silva (2009) o conceito de História não é algo definido e sim algo que
está em constante mutação e cabe ao professor destacar esta constante mudança.

A História se baseia em pesquisas, estuda o desenvolvimento do homem no


tempo, analisando personagens, fatos, documentos e memórias para compreender
cada período vivido. Resgatar os aspectos culturais passados para compreender o
momento presente. Para isso dispõe de um conjunto de fontes de pesquisa que
podem ser: livros, roupas, imagens, objetos materiais, registros orais, documentos,
moedas, jornais, gravações, etc.

Fazer história também é buscar informações do passado, para explicar aos


povos atuais o que aconteceu, como era o cotidiano das pessoas, o que faziam, o
que sabiam e no que acreditavam os povos do passado (MACHADO, 2017)

A disciplina História também tem a sua história e ao propor discutir algumas


noções teórico-conceituais que subsidiam o conhecimento histórico e suas
possibilidades para o ensino, poderemos compreender se devemos rever a forma
como temos ensinado e aprendido História ou se devemos continuar a depender de
22

um modelo de ensino que busca valorizar somente a memorização como estratégia


para a apreensão desses conhecimentos.

A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de História,


é que ao longo de sua formação os alunos possam, de acordo com suas etapas, ler
e compreender a sua realidade, assim como posicionar-se diante dela e ainda,
organizar um repertório sociocultural, estabelecer uma conexão temporal e assim
encontrar respostas para o presente a partir do passado (BRASIL, 1997).

Adquirimos conhecimento buscando respostas para nossas indagações e à


medida em que nos constituímos como ser pensante e atuante na sociedade em que
estamos inseridos, portanto o conhecimento histórico vem a partir da pesquisa.
(BUENO, ESTACHESKI, et al., 2017)

Conforme citado acima, a pesquisa é a base para se obter o conhecimento


histórico, nessa pesquisa os elementos devem ser apreciados de forma significativa.
Todo o conhecimento tem seu valor no estudo da História, os acontecimentos
passados são estudados para obter explicação do que vivemos no tempo presente,
assim o indivíduo se correlaciona diretamente com sua própria história.

Nas séries iniciais a criança está no processo de conhecer-se a si mesmo e


conhecer o mundo onde vive, a História auxilia nesse processo de humanização e
torna o aluno objeto de sua própria história que é emergente de uma história coletiva
na realidade onde está inserido.

Bittencout (2004), ressalta que conhecer o passado dos homens é parte do


estudo de história, demonstrando que se trata de pesquisar sobre os fatos ocorridos
em um tempo diferente ao do indivíduo para que ele se constitua no presente, seria
um erro, porém, atribuir a família a responsabilidade de tratar sozinha desse
conhecimento. Assim, reveste-se de particular importância a escola assumir o papel
de exploradora dos conhecimentos históricos. Sob essa ótica, ganha particular
relevância o estudo contextualizado da mesma para se obter êxito no processo de
ensino e aprendizagem.

O estudo do passado para conhecimento do presente é essencial para a


construção do saber histórico. Neste contexto, fica claro que a escola, não pode
omitir fatos relevantes na formação do aluno, deve considerar fatos e memórias
23

importantes na construção da história e cultura da localidade onde a criança está


inserida. É importante que olhemos com mais sensibilidade para todo esse
conhecimento histórico que possivelmente ainda esteja inexplorado.

Assim, preocupa o fato de que as memórias e os conhecimentos peculiares


dos moradores da localidade de tempo presente do aluno sejam desprezadas, isso
porque a escola ainda não explorou esses saberes efetivamente. "A produção do
conhecimento histórico também é feita através do ensino que torna este uma parte
essencial da epistemologia da história" (BUENO, ESTACHESKI, et al., 2017, p. 137),
o professor tem seu valor nesse processo de construção e propagação do
conhecimento produzido.

Conforme explicado acima, estudar o passado próximo a realidade da criança


é extremamente válido. Ora, em tese, a História possui um caráter explicativo e
analítico, onde o sujeito compreende a si mesmo e ao outro através da pesquisa.
Caso contrário, não saberíamos de nossas raízes e cultura. Não se trata de seguir
uma cartilha onde tudo deve ser sistêmico e decorado, lamentavelmente, em
algumas escolas o ensino de História ainda funciona assim. É importante considerar
que o aluno possui suas dúvidas e questões preliminares às questões maiores do
conhecimento histórico, seja porque vive em comunidades pequenas, como Colares,
com uma significativa história local. Julgo pertinente, por exemplo, trazer à baila o
alardeado “Chupa-chupa”, como fenômeno integrante da história dessa localidade
para que os alunos das series iniciais do ensino fundamental possam compreender
a dimensão da história e cultura que permeia seu povo.

Tempo e espaço constituem os materiais básicos dos historiadores. De fato,


qualquer escrita da história fundamenta-se em uma dimensão temporal e
espacial. Um dos objetivos básicos da História é compreender o tempo
vivido de outras épocas e converter o passado em 'nossos tempos'. A
História propõe-se reconstruir os tempos distantes da experiência do
presente e assim transformá-lo em tempos familiares para nós."
(BITTENCOUT, 2004, p. 203,204)

Compreende-se na citação acima que a História tem por objeto de estudo a


existência, o tempo e a ação do homem sobre esse tempo. Busca compreender o
tempo vivido pelo homem, ela reconstitui o que se passou para nos fazer
compreender o que se passa contemporaneamente. Deste modo, os alunos das
séries iniciais, que estão em processo de conhecer-se a si mesmo e ao outro,
24

precisam, antes de tudo, obter informações sobre o meio em que vive para que
possa compreender sua história como parte de um grande conhecimento histórico
que ao longo do tempo irá adquirir.

Esses dados revelam muito mais do que uma necessidade de


contextualização, fica evidente, diante desse quadro a importância da construção
dos conhecimentos históricos desde o primeiro ciclo da educação, um conhecimento
formador, em que o sujeito aprende sobre sua realidade, apropria-se de sua história
e compreende as pluralidades que juntas, constituem uma gama de conhecimentos
que serão necessários no decorrer de sua vida. Nessa temática o PCN de História
espera que "Ao final do primeiro ciclo os alunos sejam capazes de comparar
acontecimentos no tempo, tendo como referência anterioridade, posterioridade e
simultaneidade" (BRASIL, 1997, p. 39)

1.3. FONTES DOCUMENTAIS E O USO DA MEMÓRIA


As fontes históricas são a matéria prima para a produção historiográfica e
foram criadas com diferentes objetivos e possuem diferentes validades, são
vestígios, dados incompletos deixados para suporte de pesquisas (intencional ou
não), são objetos de estudos que norteiam historiadores. É possível considerar
como fontes históricas os mais diversos materiais, como: esculturas, vídeos,
desenhos, pinturas, memória, etc. O estudo com fontes permite fazer perguntas e
questionamentos sobre o passado com respostas que refletem em situações
presentes. (URBAN e LUPORINI, 2015)

O trabalho com a presença das fontes nas aulas de História dos anos iniciais
do Ensino Fundamental deve ser planejado a partir das seguintes questões: Como
tudo isso foi feito? Por quê? Por quem? De que forma foram usados? Como
influenciou diretamente a vida das pessoas envolvidas?" (URBAN e LUPORINI,
2015). Desse modo, o aluno se permite indagar e buscar explicações que saciem
seus questionamentos, interagindo assim com a História ativamente.

As fontes não são provas do passado, mas sim vestígios de evidencias que
nos permitem levantar hipóteses (URBAN e LUPORINI, 2015), isso deve ser
discutido em sala de aula para que os alunos compreendam que fontes não são
25

verdades diretas e absolutas e sim um meio de estudar possíveis fatos. Os autores


destacam ainda que os documentos históricos e escritos estão entre os mais
lembrados na escola, no entanto existe uma variedade de fontes que podem ser
exploradas no ensino de História.

O aluno precisa compreender o senário histórico em que está inserido e


perceber que dentro de seu contexto existem inúmeros elementos que podem
auxiliar na sua busca pelo conhecimento de sua localidade e de sua história. Por
vezes elementos ricos passam desapercebidos aos olhos das crianças.

Trazer a compreensão que existem elementos além das gravuras e textos dos
livros que também são relevantes ao realizar uma pesquisa histórica, fontes diversas
com informações preciosas do que se espera compreender quanto elemento
histórico.

A memória é um documento histórico que pode ser explorado nas séries


iniciais e no ensino de história do lugar. O uso da memória é a capacidade do
indivíduo, mediante estímulo externo, de acessar informações passadas e reproduzi-
las através da oralidade. “O uso da memória está nos próprios alicerces da História,
confundindo-se com o documento, com o monumento e com a oralidade” (SILVA;
SILVA, 2009), nesse contexto os autores ressaltam que:

“Quando os historiadores começaram a se apossar da memória como


objeto da História, o principal campo a trabalha-la foi na História oral. Nessa
área, muitos estudiosos têm se preocupado em perceber as formas da
memória e como esta age sobre nossa compreensão do passado e do
presente [...] Mas a memória não é apenas individual. Na verdade, a forma
de maior interesse para o historiador é a memória coletiva, composta pelas
lembranças vividas pelo indivíduo ou que lhes foram repassadas, mas que
não lhe pertencem somente, e são entendidas como propriedade de uma
comunidade, um grupo. ” (SILVA; SILVA, 2009, p. 276)

A História oral, na coletividade, abrange o estudo de uma narrativa de fatos


que constituem a cultura e a identidade de um povo, daí a relevância de seus
conteúdos. “O estudo histórico da memória coletiva começa a se desenvolver a
partir de uma investigação oral” (SILVA e SILVA, 2009, p. 276). Ou seja, histórias
narradas com riquezas de detalhes que se completam em narrativas distintas,
explicando situações atuais vividas em consequências de fenômenos passados, a
História presente e a História passada, por exemplo, que se completa e se explica
26

quando estudada a partir do uso da memória como documento, nesse contexto


Khoury destaca:

Tudo que é chamado hoje de memória, não é, portanto, memória, mas já


história. Tudo que é chamado de clarão de memória é finalização de seu
desaparecimento no fogo da história. A necessidade de memória, é uma
necessidade de história. (KHOURY, 1993, p. 14)

Neste sentido, entendemos que a discussão sobre as noções teórico-


conceituais apresentadas anteriormente são de extrema importância para a
compreensão sobre o conhecimento histórico e suas possibilidades para o ensino
nas séries iniciais, visto que a História e a memória estão conectadas e podem ser
exploradas em conjunto, a história do lugar e do indivíduo por meio da memória
como documento histórico viabilizaria uma discussão dinâmica e prazerosa do vivido
que reflete no presente da sociedade.

O sujeito vive de suas recordações/memórias, nela o empírico também se


baseia. O indivíduo busca repassar aos seus descendentes conhecimentos e
aprendizados que surgem de suas memórias no que se refere a meios utilizados por
seus antecedentes na sua educação e na educação dos que antecederam a eles.
Cria-se uma espécie de tradição na criação e educação dos mebros de
determinadas famílias e comunidades tendo por base o uso da memória e porque
não utilizar essa memória como elemento e documento histórico para explorar as
mudanças ocorridas no tempo do aluno em consequência de elementos presentes
na memória de seus patriarcas? É isso que o uso da memória como fonte histórica
sugere ao professor e/ou historiador, o visto que memória e história, ambas são
necessárias segundo khoury (1993).

Ressaltamos que tais noções são fundamentais para as nossas discussões


que travaremos na sequencia desse estudo e assim buscar compreender as
relações entre as memórias coletivas e individuais e o tema em discussão que
consiste no fenômeno do chupa-chupa em colares e os seus rebatimentos no ensino
de história nas séries iniciais do ensino fundamental.
27

2 - O EMBATE DE NARRATIVAS SOBRE O FENÔMENO DO CHUPA-


CHUPA EM COLARES-PARÁ
Como retratado anteriormente nesse estudo, as fontes são instrumentos
imprescindíveis para o trabalho do historiador e para a produção historiográfica e
nesse sentido apresentamos algumas fontes e suas narrativas acerca das possíveis
aparições de seres extraterrestres na região nordeste do Pará, particularmente na
cidade de colares.

O município tem cerca de 11 mil habitantes, a cidade ficou internacionalmente


conhecida através de documentários de televisão que relataram possíveis eventos
extraterrestres ocorridos na região na década de 1970. Na ocasião o I Comando
Aéreo (COMAR) em Belém destacou uma equipe para investigar a incidência dos
possíveis ataques e avistamentos de Objetos Voadores não Identificados (Óvnis)
nos céus de Colares e região, evento que posteriormente recebeu o nome de
"Operação Prato".

No entanto os elementos marcantes dessa época tiveram início bem antes da


Operação Prato, moradores da cidade possuem riquíssimas narrativas sobre os
acontecimentos que marcaram a vida e a história de toda a comunidade, elementos
denominados popularmente como o "Chupa-chupa" e "aparelho".

É na análise dessas narrativas e de outras fontes documentais que explorarei


os fatores que destacam o chupa-chupa como um elemento que alterou a realidade
e influenciou na formação histórica do município de Colares.

Portanto, nesse capítulo, proponho-me investigar e relatar a memória de


moradores de Colares sobre o fenômeno do Chupa-chupa.

2.1 – NARRATIVAS EM FONTES JORNALISTICAS


Colares é uma ilha e se caracteriza como uma cidade pequena e tranquila,
porém é cheia de mistérios e fenômenos que enriquecem uma história popular e a
sua população vive sob memórias de acontecimentos marcantes, de uma época que
mesmo passada, é tratada com a atenção de um acontecimento atual. Ressalto que
ao retratarmos o município de Colares, imediatamente aparece as imagens de seres
28

extraterrestres que compõem o imaginário popular e é conhecida como a cidade dos


ET’s nos Pará. 3

É Uma cidade habitada por pessoas distintas, com características próprias,


que ocupavam moradias distantes umas das outras, mas que apesar dessa
distância compartilhavam as suas experiências semelhantes que convergem para
algumas narrativas da memória coletiva de fatos ocorridos na Ilha de Colares. Essa
memória coletiva que, para o historiador se torna interessante por não conter uma
história exclusiva do indivíduo, mas sim a de toda a comunidade (SILVA; SILVA,
2009)

A Ilha de Colares foi surpreendida e aterrorizada por fenômenos inesperados


em meados dos anos 1970 e a então cidade pacata, de gente simples e acolhedora
começa a perceber sinais atípicos que vinham do céu. Eram luzes que foram
posteriormente classificadas como objetos voadores não identificados (óvnis), que
deslizavam nos céus de Colares, a uma velocidade inédita e inexplicável, esses
objetos e suas luzes fortíssimas conforme narrado por muitos moradores, atacavam
as pessoas e sugavam o sangue das vítimas.

Para que compreendamos a dimensão do ocorrido na região colarense e


arredores é preciso acompanharmos as notícias que foram veiculadas na época a
respeito dos fenômenos. Como documento histórico, utilizarei dois jornais
conceituados e de grande circulação, "O Estado do Pará" e "O Liberal", que
noticiaram ao longo do ano de 1977 essas informações. 4

A ilha de Colares, será o ponto principal em minha pesquisa, no entanto, os


fenômenos não foram privilégio apenas dessa localidade, outras cidades ao longo
do litoral brasileira também foram alvo dos possíveis objetos voadores não
identificados.

3 Em recente concurso de desenhos para alunos das escolas municipais de Colares, vários
desenhos foram produzidos a partir do imaginário dos ETs, como representação das narrativas
frequentes na Ilha, as crianças reproduziram o que ouvem desde seu convívio familiar até chegar na
escola. Algumas das imagens premiadas foram publicadas em banners e usados com propaganda de
um projeto cultural da cidade, a imagem do banner consta nos anexos deste estudo.
4O Jornal é um tipo de publicação periódica (diária ou não), com um conjunto de gêneros
textuais com teor informativo que partem da singularidade dos fatos para a universalidade,
associando a informação ao senso comum. (BENNETTE, 2002)
29

As luzes emitidas pelos objetos passaram a ser apelidadas pelos moradores


de "chupa-chupa", devido sua ação de supostamente sugar o sangue das vítimas.
Ao longo do ano de 1977, os principais jornais paraenses publicaram uma série de
reportagens que relatavam a aparição desses "aparelhos" em diversas regiões do
Pará e Maranhão. Vale salientar que, os jornais são fontes históricas que nos
permitem fazer indagações sobre o passado, buscando explicações para o presente
(URBAN e LUPORINI, 2015)

No dia 19 de maio de 1977, o jornal "O Liberal" publica a notícia de que dois
objetos voadores não identificados teriam se colidido no céu de Icoaraci-Pará, por
voltas das 21:30h do dia 17, causando um barulho ensurdecedor e formando uma
densa poeira rosa que se espalhou no céu e lá permaneceu por cerca de 20
minutos, o jornal relata que senhoras supersticiosas afirmaram que aquele seria o
prelúdio do fim do mundo, a anunciação do fim dos tempos. Havia sim alguns
céticos que diziam não ser nada além de foguetes e obra de descuido e
irresponsabilidade humana, no entanto, mesmo assim a situação trouxe medo e
insegurança aos moradores daquela região, “mulheres balbuciavam frases de
agouro afirmando ser um sinal de Deus” (O LIBERAL, 1977, p.24). Vários moradores
foram para a rua observar o fenômeno inusitado, porém ninguém soube dar uma
explicação que definisse com exatidão o acontecido. O jornal ressalta ainda que a
poucos dias da suposta colisão, um pescador teria avistado um estranho objeto
cortando os céus de Benevides-Pará, o que deu ênfase a possibilidade de ser uma
colisão entre dois objetos voadores não identificados.

No mês de julho de 1977, o noticiário foi mais intenso, diversas manchetes


envolvendo Óvnis similares foram publicadas. Desta vez os alvos foram para o
município de Viseu na fronteira com o estado do Maranhão, chegando também a vez
de da cidade de São Luís, capital maranhense e arredores. Agora os jornais
noticiavam, além de aparições, supostos ataques que teriam, inclusive, levado
vítimas a óbito.

Em Vizeu, moradores não saíam mais de suas casas a partir das 18h, “medo
duma lanterna com luz forte que voa pelo céu e vem sugar o sangue da gente até
deixar morto” (O LIBERAL, 1977, p.24). Moradores viviam aterrorizados por conta
dessa luz que ninguém sabia explicar, luzes essas que agora, supostamente faziam
30

vítimas fatais. Segundo o jornal, pelo menos duas pessoas morreram por conta dos
ataques das luzes, no entanto, ninguém dava informações concretas sobre as
possíveis vítimas.

“Era a luz do Diabo! Ela fazia doer muito, tirava toda a minha força. Eu sabia
que ela estava me matando e rezava pra Deus me ajudar. Mas parece que Deus
não me ouvia, E a morte vinha chegando” (O LIBERAL, 1977, p.16). Essas foram as
palavras de uma das vítimas do Chupa-chupa em Viseu, publicadas na Edição de O
Liberal, do dia 11 de julho de 1977, nessa edição o senhor João de Brito, da Vila de
Piriá (cerca de 14km da cidade de Viseu) conta a sua experiência com as mesmas
palavras que contou a seu pai, Tomás, e aos cerca de 400 moradores da vila,
segundo ele, após o ataque do Chupa-chupa fora acometido por uma doença que
estava acabando com sua vitalidade. A mesma experiência de João de Brito,
segundo o jornal O Liberal, foi vivenciada por outras dezenas de moradores da Vila
de Piriá, Viseu, de toda a área bragantina e às proximidades da fronteira Pará-
Maranhão.

Diante das circunstancias o medo se prolifera e os rumores de ser o fim do


mundo ganha destaque e popularidade na boca do povo. Religiosos afirmam ser o
anúncio de que “Jesus estaria voltando para buscar os escolhidos”, era tempo de
arrependimento e remissão de pecados.

Com a manchete “Luz dos mistérios volta aos céus do Maranhão” publicada
pelo jornal O LIBERAL do dia 14 julho de 1977 a situação não é diferente naquele
estado vizinho. Uma luz misteriosa foi vista por quase toda a população do município
de Cajapió, a apenas 62 km da capital, relatos assustados que narravam sempre a
presença de uma luz.

“Uma luz intensa, e não compatível a outro tipo de luz conhecidos


deslocando-se em vertiginosa velocidade, foi visto também nas adjacências
de Cajapió, causando medo aos moradores da sede do município e das
áreas circunvizinhas” (O LIBERAL, 1977, p.19).

O estado do Maranhão passou a viver momentos de medo e terror, as luzes


já eram frequentes e vistas por grande parte dos moradores das regiões atingidas.
Indagações que vinham desde luzes que perseguiam motoqueiros a luzes que
supostamente matavam eram narradas pelos moradores, superstições e
religiosidade se misturavam na explicação dos fenômenos. Na mesma reportagem,
31

o jornal destaca que “em meados de maio último, uma luz misteriosa e muito
brilhante, surgindo repentinamente, provocou a morte de um homem a bordo de uma
embarcação, ancorada ao largo da Ilha dos Caranguejos” (O LIBERAL, 1977, p.19).
Agora os moradores temiam ainda mais por suas vidas.

Figura 1 - Ilha dos caranguejos - Maranhão


Fonte: Operação Prato, 2017, in fonte: <http://operacaoprato.com/novidades/documento-inedito-
comprova-militares-)

A imagem mostra a localização da Ilha dos Caranguejos, onde ocorreu o


famoso caso do homem que teria morrido por conta das luzes que atacavam. A
informação da ocorrência da morte desse homem teve grande repercussão, no
entanto a informação de que a causa seria pelo ataque das luzes, nunca teve uma
confirmação oficial.

Ne edição do dia 29 de julho de 1977, o “O Liberal” continua noticiando as


aparições que se tornam cada vez mais frequentes no estado do Maranhão. “Os
municípios de Cajapió, São Bento e Pinheiro e toda a baixada maranhense tem sido
comtemplado com visitas dos estranhos objetos voadores” (O LIBERAL, 1977, p.12).
As aparições se tornaram comuns no território maranhense e o relato de que um
objeto voador não identificado teria perseguido uma viatura da polícia e tentado
manter contato através de sinais de luzes existe nessa edição do jornal.

Os ataques não cessam e a edição do Jornal O Liberal de 16 de outubro de


1977 apresenta como vítimas as pessoas que residem em cidades como Marapanim
e Vigia, municípios também da região Nordeste do Pará. “De Marapanim vem
notícias de pânico entre a população, alarmada com o que os vigienses chamam de
Chupa-chupa” (O LIBERAL, 1977, p.2), o estranho objeto voador com fachos de luz
32

que paralisavam e sugavam o sangue e mais do que isso, aterrorizavam a


população eram assuntos frequentes entre os moradores.

As aparições são ditas comuns aos moradores das cidades, todos se referem
ao fenômeno como sobrenatural e inexplicável. Há quem diga que é o juízo de Deus
para os homens maus, há quem afirme que as luzes são sinais de que Deus está
vindo buscar os fiéis, também existem opiniões que atribuem o ocorrido aos
extraterrestres. Interpretações distintas para visões coletivas, os moradores e
testemunhas definem da forma que suas compreensões percebem as luzes e os
ataques, no entanto, a opinião que predomina tem fundamentos na religiosidade, o
assunto é visto como algo que excede o entendimento humano, possível de ser
explicado apenas de forma divina.

Em novembro de 1977, o medo toma conta de Belém e a capital sofre com a


aparição do chupa-chupa.

“Em Belém dois adolescentes, Francisco e Paulo, de 15 anos, a noite de


anteontem na travessa da Vileta, no bairro da Pedreira, entre as avenidas
Antônio Everdosa e Pedro Miranda, um objeto não identificado, emitindo
uma luz azulada-esverdeada, provavelmente o mesmo que vem
atormentando moradores de boa parte do interior paraense. Mosqueiro,
Vigia, Acará e Colares, por exemplo. ” (O ESTADO DO PARÁ, 1977,p.12)

Tamanha era a incidência dos casos que por conjectura os jornais


associavam as informações contidas em suas reportagens a informações publicadas
anteriormente em outros jornais veiculados no Pará. Belém, assim como as demais
cidades, viu, percebeu, temeu e sentiu as luzes misteriosas que foram apelidadas
pela população de Chupa-chupa.

Nessa edição do Jornal o Estado do Pará, que circulou no dia 02 de


novembro de 1977, uma página inteira foi dedicada ao noticiário de óvnis nos céus
de múltiplas cidades do estado do Pará como Vigia, Belém, Mosqueiro e Colares e
até mesmo Brasília-DF, no entanto na capital nacional, as aparições são
classificadas como inofensivas pelo fato de não atingirem pessoas e nem causar
danos algum.

No entanto, Mosqueiro e Colares, das cidades mencionadas nos jornais


paraenses foram as mais atingidas, no que se refere a Mosqueiro o jornal destaca
“Em mosqueiro o clima está tenso, moradores armados” (O ESTADO DO PARÁ,
33

1977, p.12), os casos de ataque são frequentes e os moradores posicionam-se com


armas do fogo na tentativa de abater os óvnis.

Os relatos são muito parecidos e os moradores entram em pânico! Os


depoimentos se assemelham, vítimas e moradores das regiões que tiveram
avistamentos, mesmo distantes geograficamente, são próximos em suas narrativas.
Detalham suas experiências com muita veracidade e as características coincidem.

Colares, que foi uma região com grande incidência de avistamentos de


objetos voadores não identificados na década de 1970 e é o objeto de meu estudo
que utilizando narrativas como fonte histórica, relata as experiências vividas na
época que marcou a história dessa cidade.

Na análise dos jornais, o que podemos perceber é que um jornal tem como
principal objetivo noticiar os fatos e informar os seus leitores e a sociedade em geral
e o que desponta das notícias veiculadas é um discurso de medo e premonições
acerca de uma suposta cobrança divina sobre a humanidade.

2.2. NARRATIVAS DE MORADORES SOBRE O FATO OCORRIDO


Ainda como parte da composição das narrativas para a minha pesquisa,
entrevistei três moradores da cidade de Colares que tiveram a oportunidade de
vivenciar os fatos ocorridos no ano de 1977, uma delas se denominou vítima e as
outras testemunhas. Elaborei dez perguntas ligadas diretamente ao fenômeno
chupa-chupa que foram respondidas conforme a interpretação de cada entrevistado.

Suas identidades serão preservadas, usarei nomes fictícios para representa-


los, os nomearei como narrador/entrevistado 1, 2 e 3. Nos dias atuais, todos são
adultos com mais de 50 anos. Aqui sintetizarei os depoimentos, conforme segue.

Ao ouvir e analisar o relato dos narradores, pude observar que os fenômenos


iniciaram por volta de 1976, quando moradores antigos afirmam que luzes sempre
apareceram nos céus de Colares, "a cidade era pacata, tranquila, pouco visitada e
os moradores, pessoas simples e de bem" (NARRADOR 2, 2017). A cidade não
possuía energia elétrica, contava com um gerador que produzia a energia
necessária para a comunidade, ele era ligado pela manhã, por volta de 7h e
desligado a noite, por volta das 21h.
34

Durante o dia, a rotina da Ilha era comum às cidades interioranas, os


comerciantes assumiam seus comércios (na maioria familiares), mas a grande fonte
de renda da cidade era a pesca. Os homens pescavam para consumo e também
para sustento da família e a agricultura também contribuía bastante com a renda
local.

Os relatos mostram que por volta de 1976, moradores da ilha começaram a


observar pequenas luzes que surgiam no céu, "era algo bonito de se ver!", conta o
narrador 3. Quando os homens saíam para pescar a noite, voltavam com histórias
para contar. Alguns sentiam medo e outros apenas apreciavam a vista. A princípio
eram luzes de cores variadas que se deslocavam com intensa velocidade de um
ponto até outro e depois sumiam repentinamente. Essas luzes apareciam sempre a
noite e com o passar dos meses as aparições se tornaram mais frequentes e até
mesmo diurnas. Vale ressaltar que a ausência de um sistema de iluminação elétrica
regular poderia apresentar efeitos supostamente mais intensos das citadas luzes
coloridas.

No início de 1977, as luzes passaram a ser temidas e não mais apreciadas


pelos moradores, passaram de espetáculos luminosos para luzes que atacavam,
logo a população passou a apelidar as luzes de "aparelho", no entanto o nome mais
popular era “Chupa-chupa", isso se dava ao fato de que a luz agora ao atingir as
pessoas supostamente sugaria o sangue delas.

As pessoas atacadas pelas luzes eram, em sua maioria, mulheres e elas


eram atingidas na altura do seio esquerdo e os homens eram atingidos no pescoço,
sempre, imutavelmente, esse era o local onde as luzes penetravam a pele para
supostamente sugar o sangue.

O narrador 1, que se denomina vítima, conta que muito se ouvia falar no


Aparelho e no Chupa-Chupa, mas nunca imaginou que um dia seria vítima. Então
após uma pescaria, decidiu visitar sua namorada em uma localidade pertencente a
Colares chamada Mocajatuba, seguiu por um caminho de mata no entardecer e ao
cair da noite chegou ao seu destino.

Ao chegar no local, jantou e dormiu cedo porque estava muito cansado depois
de um dia de trabalho; dormiu em uma rede no corredor da casa, próximo a janela, a
casa era de madeira, simples, mas de gente acolhedora. Segundo ele, os moradores
35

viviam em alerta e aterrorizados, por senso comum ninguém saía a noite de suas
casas por causa do chupa-chupa, os moradores da região que optavam por sair de
suas casas reuniam-se em lugares estratégicos e formavam grupos para aguardar a
chegada do chupa-chupa, esses grupos eram compostos por homens e mulheres,
em sua maioria adultos, alguns faziam fogueiras e batiam panelas na tentativas de
com a claridade e o barulho afugentar os aparelhos, enquanto isso outros membros
do grupo empunhavam armas de fogo e ficavam à espera das luzes a fins de alvejá-
las e assim abater os óvnis, tudo era válido para evitar que as luzes fizessem outras
vítimas.

Próximo à casa da namorada do narrador 1 existia um desses lugares


estratégicos e pessoas estavam de plantão à espera do Chupa-chupa. Ele conta que
dormiu e quando acordou se deparou com o desespero de todos. Ele, na realidade
não viu o que aconteceu consigo mesmo, apenas acordou com dois furos no
pescoço, sentindo uma ardência no local e uma fraqueza no corpo todo.

Os vizinhos que estavam de plantão próximo a casa de sua namorada,


disseram que por volta das 23h, uma luz muito forte sobrevoou a casa onde ele
estava e um raio de luz entrou na casa, o objeto pairou sobre a residência por
poucos minutos e em seguida partiu rasgando o céu.

Apesar de tanto pavor e preocupação, a população viveu também um misto


de medo e sátiras.

"Todo mundo falava por aí que tinham as luzes que atacavam as pessoas e
chupava todo o sangue delas, que ninguém podia sair a noite se não era
atacado, eu desobedeci e saí para visitar a minha namorada, dormi na casa
dela e quando acordei já tinha sido chupado (risos)" (NARRADOR 1, 2017).

No relato do narrador 1 é possível observar um certo senso de humor ao


abordar o assunto, com uma breve conotação que insinua uma “piada de cunho
sexual”, isso se deve ao fato de que, mesmo sendo um assunto que aterrorizou
várias cidades, haviam muitos descrentes no assunto que empunhavam anedotas
com tom sexual, inclusive ao apelido dado pelo povo ao fenômenos (Chupa-Chupa),
eram pessoas que moravam em cidades vizinhas e pareciam alheias a toda a
situação e até mesmo pessoas de dentro do próprio município que apesar de tudo
ainda duvidavam. O narrador 3 diz que nos dias atuais pessoas ainda zombam de
tudo que Colares viveu.
36

O narrador 1 diz que durante meses não foi capaz de sair de sua casa, não
conseguia trabalhar e tinha medo de olhar para o céu, foi difícil retornar à sua rotina
normal, porém mesmo tendo vivido momentos de terror diz que com o passar do
tempo aprendeu a conviver com isso e hoje consegue, inclusive, rir dessas
colocações de humor. No entanto, ao ser indagado se gostaria de repetir a
experiência que teve, ele diz que nem em sonho gostaria de viver novamente tudo
que viveu.

As vítimas, em geral, apresentavam sintomas similares: cansaço,


esgotamento físico, indisposição e anemia. Ficavam nesse estado pelo período de 7
a 10 dias, precisavam de tratamento e acompanhamento médico para ter suas
forças reabilitadas. Eram selecionadas aleatoriamente, não haviam características
específicas que pudessem identificar as próximas vítimas. O narrador 1 conta ainda
que na mesma noite que foi atingido pela luz do Chupa-chupa outras três pessoas
também foram atingidas em outras localidades distantes da que ele estava.

O narrador 1 faz uma observação atual que é no mínimo intrigante, ele diz
que ainda nos dias de hoje as luzes aparecem frequentemente em Colares, embora
não ataquem mais, elas ainda surgem repentinamente nos céus da Ilha e que
aparições são mais frequentes a partir do mês de julho, quando se inicia o verão e o
céu fica mais limpo e os detalhes nele ficam perceptíveis. Esse relato me fez meditar
nas reportagens de jornais lidas e sintetizadas nesse estudo, onde é fácil notar que
a partir do mês de julho de 1977 as manchetes acerca do chupa-chupa se tornaram
mais constantes e em múltiplos lugares.

O narrador 2 traz em seu depoimento um fato que efetivamente marcou a


cidade de Colares e a tornou mundialmente conhecida. Relata que em 1977, quando
os jornais circulavam constantemente notícias sobre os objetos voadores, Colares
sofria um caos por conta das diversas aparições e ataques dos supostos OVNIs. Os
pescadores se recusavam a sair para pescar por medo de serem atingidos, quase
ninguém deixava as suas casas a noite, e segundo relatos de moradores da ilha,
quem tinha a opção de sair da cidade saiu e a população reduziu 5. O alimento

5 Não existem elementos oficiais que comprovem a grande evasão de moradores, no entanto
as narrativas apresentam isso como um fato.
37

passou a ficar reduzido, visto que a cidade se mantinha da pesca e ninguém queria
mais pescar. A cidade estava em pânico, temiam por suas vidas.

Na ocasião, o narrador 2 era prefeito no Município de Vigia e por queixas


concernentes a aparição de óvnis na localidade de Imituba (nas extremidades de
Vigia e as margens de Colares), a comunidade aterrorizada procurou o então
prefeito que imediatamente tomou providencias de segurança emitindo um
documento oficial6 pedindo ajuda para o I Comando Aéreo (COMAR) de Belém, se
tratava de um pedido oficial de socorro, nesse documento expunham o que estava
acontecendo na região.

Em decorrência da situação do Imbituba, as proximidades com a cidade de


Colares e a evidencia da aparição de óvnis, a Força Aérea Brasileira (FAB) decidiu
tomar providencias para que pudessem solucionar o problema da população e
reestabelecer a paz também em Colares. Uma atitude em defesa de uma localidade
pertencente ao município de Vigia beneficiou diretamente os moradores de Colares
que foram contemplados com uma medida de segurança nacional que se
concentrou na ilha.

Foi então que a FAB encaminhou para Colares uma equipe composta por
aproximadamente 6 oficiais, homens qualificados e equipados dos melhores
materiais de captura de imagem disponíveis na época para investigar o que estaria
acontecendo naquela região.

A operação altamente sigilosa foi nomeada de "Operação Prato", as


testemunhas são unânimes em dizer que a população passou a sentir-se mais
segura com a chegada dos oficiais da Força Aérea Brasileira. "Eram homens sérios,
não estavam armados, mas possuíam o que havia de mais moderno em
equipamentos tecnológicos" (NARRADOR 2, 2017).

A Operação prato iniciou em setembro de 1977 e terminou em dezembro do


mesmo ano, foram quatro meses de trabalho e investigação. Os oficiais andavam
pela cidade coletando relatos e informações sobre tudo que estivesse ligado ao
fenômeno chupa-chupa, faziam vigílias para observar e capturar imagens dos óvnis.

6 Embora tenha realizado várias buscas pelo documento citado entre muitos moradores e
órgãos públicos no município, não encontrei nada que pudesse evidenciar a referida fonte.
38

Segundo o narrador 3 (2017), os oficiais andavam pela comunidade


interrogando as pessoas, onde houvesse uma possível vítima ou avistamento de
Óvnis eles logo chegavam para investigar. Eram homens sérios, observavam tudo
com um olhar investigativo, no entanto, com o passar dos dias puderam constatar
que as luzes realmente estavam lá, embora não soubessem a procedência delas,
era notável que elas atacavam as pessoas.

Após quatro meses de investigação, a operação acabou repentinamente, sem


motivos aparentes, os oficiais apenas recolheram seus equipamentos e registros e,
sem apresentar explicações para o fenômeno chupa-chupa, se retiraram da ilha
deixando o caso inacabado.

“A população precisou se acostumar com o que estava acontecendo e com o


passar do tempo parece que foi sumindo” (NARRADOR 3, 2017). O terror pareceu
diminuir e na mesma proporção os ataques foram diminuindo também, o
aparecimento de Óvnis foi se tornando menos constantes e quando se deram conta
as luzes não atacavam mais e nem apareciam com tanta frequência. A cidade foi
retomando sua rotina e superando o medo.

Esse medo se converteu em ricos relatos e experiências que hoje servem de


enredo para a história recente do município de Colares. Mundialmente conhecida
como a cidade dos ETs, Colares se orgulha de tudo que viveu e repassa isso em
suas gerações.

2.3. OUTRAS NARRATIVAS: O PERIÓDICO SOBRE UFOLOGIA


Um fenômeno atípico que acontece em uma determinada região, como fato
isolado, gera comentários e interpretações e se esse fenômeno acontece
simultaneamente em várias localidades isso tende a despertar mais o interesse de
todos que tem a oportunidade de presenciar direta ou indiretamente o fato.

O fenômeno chupa-chupa, que é objeto do meu estudo, como vimos nos


textos acima, ocorreu em regiões do Pará e do Maranhão na década de 1970, com
mais intensidade no ano de 1977.

O mesmo assunto recebeu diversas leituras ao longo dos anos. Antes mesmo
de chegar ao depoimento direto dos narradores, busquei fontes jornalísticas para
39

embasar a teoria de que o fenômeno não se deteve apenas a Colares ou a região


paraense de modo geral. Diversos relatos apresentam o fato como comum e
frequente em muitas regiões dentro e fora do nosso território.

Na época, a mídia jornalística foi bastante criticada por noticiar em suas


páginas a aparição dos óvnis, foi acusada de fomentar o terror e o medo entre a
população.

Na análise específica dos jornais, pude observar que a maioria das pessoas
entrevistadas pelas fontes jornalísticas explicam os eventos ocorridos em 1977 pelo
viés da religião. É possível perceber essa colocação ao explorar os diversos relatos
de pessoas dizendo ser o juízo de Deus para os homens ou sinais do final do
mundo. Senhoras religiosas propagavam essa informação e conseguiam adeptos à
ideia. (O LIBERAL, 1977)

O que existiam eram conjecturas, o céu tem, naturalmente, em diversas


religiões, uma associação ao divino, logo, as aparições que dominavam a imensidão
do céu só poderiam ser advindas das regiões celestiais, digo celestiais no contexto
de céu, morada de Deus, àquele que governa a Terra e o espaço (a partir de uma
ótica cristã).

O temor era de ser deixado, excluído da recompensa digna dos homens bons
e justos, com base nisso, o discurso da religião predominava com a pregação do
arrependimento dos pecados ou a condenação eterna por intermédio das luzes que
atacavam.

No entanto, existia também a massa composta por pessoas céticas, pessoas


que atribuíam o fenômeno e as aparições a meras coincidências com fenômenos
físicos e geográficos ou então acidentes de falha humana, para explicar essa
possível falha e descuido humano, retomo a manchete do jornal O Liberal do dia 19
de maio de 1977 que destaca a colisão de dois supostos óvnis no céu de Icoaraci-
Pará, segundo a edição do dia seguinte (20/05/1977) do mesmo jornal o destaque é
“Colisão no céu seria foguetes” (O LIBERAL, 1977, p.22).

Segundo essa edição do dia 22 de maio de 1977, dois foguetes de


sinalização marítima teriam sido roubados do escritório de uma empresa marítima
próxima ao local onde as luzes foram vistas.
40

Dentre essa massa cética podemos destacar os que fazem sátiras, atribuindo
sexualidade ao nome chupa-chupa, isso surge do fato de as luzes atingirem as
mulheres exclusivamente no seio esquerdo e os homens no pescoço,
desencadeando assim uma série de gozações.

Um elemento que deu ênfase mundial ao chupa-chupa foram as informações


publicadas em um periódico de circulação nacional, denominado de Revista UFO 7
que é a única publicação brasileira especializada em Ufologia 8 e uma das poucas
existentes no mundo hoje. Fez uma série de reportagens completas sobre o
fenômeno Chupa-chupa, tendo por destaque a “Operação Prato”. (UFO, 1997)

A Operação Prato e todo o ocorrido em Colares durante a investigação da


Aeronáutica foi mantida no mais alto sigilo pela Força Aérea Brasileira. O
comandante da Operação, o capitão Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda,
com o nome de guerra Hollanda, guardou, por ordens expressas do I COMAR de
Belém todo o conteúdo de sua missão, no entanto, vinte anos após o corrido, na
ocasião o já na reserva da Aeronáutica e agora com a patente de coronel, concedeu
uma entrevista exclusiva à revista UFO onde revelou todos os momentos marcantes
vividos em Colares.

A edição 54 da revista UFO, publicada em outubro de 1997, traz a manchete


“Coronel que coordenou pesquisa ufológica secreta na Amazônia dá entrevista
exclusiva à Revista Ufo” conforme dados coletados no sitio eletrônico da Revista
Ufo. É fácil notar o olhar que a revista traz a respeito da temática ao atribuir
notoriamente às luzes, o Chupa-chupa e todos os acontecimentos uma ação
diretamente provocada ela presença efetiva de seres extraterrestres.

Na entrevista, o Coronel nomeia-se um antigo admirador da Ufologia e se diz


acreditar em vida extraterrestre, no entanto, ao ser destacado pela I COMAR para

7 A Revista Ufo é um periódico mensal, que se configura como uma publicação especializada
na área de ufologia, fundada em março de 1988 é, a mais antiga revista ufológica em atividade
regular em todo o planeta (site Revista UFO, 2017)
8 Ufologia (ou ovniologia) é o estudo de todas as hipóteses, evidências ou registros visuais

dos ufos. UFO é a sigla de Unknown Flying Objects que significa Objetos Voadores Desconhecidos.
É o mesmo que OVNI - Objetos Voadores Não-Identificados, de onde deriva a palavra "ovniologia".
SIGNIFICADOS. Significado de Ufologia. significados.com.br, 2017. Disponível em:
<https://www.significados.com.br/ufologia/>. Acesso em: 27 junho 2017.
41

comandar a Operação Prato, ele seguiu para a cidade de Colares com uma missão
investigativa, onde suas concepções pessoais não deveriam ser ativadas, visto que
ali a sua tarefa era uma questão de segurança nacional e estava encarregado de
desvendar o mistério que assolava a Ilha de Colares.

Antes que a missão fosse iniciada, o coronel afirma a existência de outras


pesquisas preliminares na região amazônica acerca de fenômenos ufológicos, em
virtude de as aparições serem constantes ao ponto de atrapalhar a rotina de outras
cidades além de Colares.

A missão teve início em setembro de 1977 e durou até dezembro do mesmo


ano. Durante os quatro meses passados na Ilha o coronel ouviu dezenas de relatos
que eram assustadores e inusitados até mesmo para ele que já teria vivido outras
experiências com Ufos antes da missão. Dentre esses depoimentos do coronel a
revista Ufo, destaca o relato de uma senhora que diz ter sido atacada pelo Chupa-
chupa dentro de sua casa enquanto fazia uma de suas crianças dormir em uma rede
e que a temperatura do ambiente em que estava começou a mudar e logo em
seguida a telha de sua casa (sendo atingida pela luz) trocou de cor até o ponto de
ficar transparente, possibilitando a ela a oportunidade de ver o céu e as estrelas, em
seguida a luz que tornou a telha translúcida a atacou e sugou o seu sangue (UFO,
1997)

No período decorrente a operação, capitão Hollanda afirma ter capturado


mais de 500 imagens de luzes e óvnis no céu de Colares por meio de fotografias e
vídeos, os objetos possuíam formatos e tamanhos variados, que segundo ele, iam
de pequenos até tamanhos exagerados.

As imagens capturavam apenas luzes (devido a distância, altitude e


locomoção dos óvnis), porém a olho nu era possível observar objetos variadíssimos,
desde sondas que aparentavam ter tamanho de um tambor de óleo de 200 litros a
grandes naves que possuíam janelas e portas peculiares.

“Eles, seja lá quem fossem, mostravam ter absoluta certeza de onde nós
estávamos e o que fazíamos. Pareciam que nos procuravam, pois quando
menos esperávamos lá estavam, bem em cima da gente... Não mais do
que um mês depois de passarmos a conviver nos locais de aparições,
essas sondas começaram a vir sempre até nós. Às vezes, a gente se
deslocava de um lugar para o outro e lá elas iam acompanhando-nos quase
o tempo inteiro, como se tivessem conhecimento da nossa movimentação”
(HOLLANDA, 1997, apud site revista UFO, 1997)
42

Percebemos na citação acima que o coronel Hollanda sugere inteligência e


tentativa de contato por parte das luzes do Chupa-chupa, segundo ele, essas
sondas com aparência de tambor de óleo de 200 litros, como o nome sugere, tinham
a função de sondagem, ou seja, investigar o trabalho exercido pela Força Aérea
Brasileira.

Durante a missão as incidências eram diárias e muito ativas e o coronel


Hollanda preparava relatórios diários com informações sobre os objetos avistados,
informações como: formato, cor, altura, localização, tempo de observação e
qualquer outra informação relevante. Esses relatórios eram repassados
frequentemente para o comando geral da Força Aérea Brasileira em Belém.

Após 20 anos de silêncio o coronel decide contar suas experiências e por já


ser um oficial na reserva não vê problemas nisso, antes qualquer palavra dita por ele
seria interpretada como opinião pessoal da FAB e por esse motivo foi orientado a
manter sigilo total.

Uma equipe médica foi destacada para Colares para auxiliar nos cuidados
aos atingidos pelas luzes, todos os dias pessoas chegavam em busca de socorro, a
possibilidade de uma alucinação coletiva foi levantada, mas logo as evidencias
desmistificaram essa possibilidade. Em Colares não foi registrado caso algum em
que a vítima chegasse a óbito.

A entrevista do coronel Hollanda foi dividida em duas edições da revista,


edição 54 publicada em outubro de 1997 e a edição 55 publicada em novembro de
1997. Em sua particularidade, ele acreditava que as luzes e os ataques eram
advindos de seres extraterrestres, inclusive ele relata na Edição 55 da Revista Ufo
que teve contatos muito próximos com essas naves, que uma delas ficou a menos
de 100 metros de distância dele e de sua equipe e que esta suposta nave teria o
formato de uma bola de futebol americano de aproximadamente 100 metros de
cumprimentos e se posicionou em pé diante deles, lá permaneceu por cerca de 3
minutos, possibilitando a eles registrar o corrido em fotos e vídeos.

Capitão Hollanda compreendeu que possuía o arquivo necessário para a


comprovação da existência de seres extraterrestres, porém, ao demonstrar os
vídeos e ao expressar a sua opinião de que “eles” existiam e estavam desejosos em
43

manter contato, o coronel recebe a ordem de interromper a Operação, dando assim


por encerrada sem um veredito final.

Na edição 55 que relata a segunda parte da entrevista do Coronel, uma


notícia inusitada:

“Faleceu o coronel Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda Lima,


nosso entrevistado nesta e na edição anterior, o homem que comandou a
Operação Prato. A notícia de seu falecimento, ocorrido em 02 de outubro,
às 23:00 h, foi um choque para todos os que o conheciam – e ainda maior
para os que o admiravam” (UFO, 1997)

O falecimento do coronel aconteceu antes mesmo de sua entrevista ser


publicada na edição 54 da revista Ufo, isso causou um grande choque e muitas
especulações, sua morte foi veiculada a “queima de arquivo”, supondo que o coronel
teria sido assassinado por “falar demais”.

Apenas na Edição 76, publicada em janeiro de 2001 é que a Revista Ufo volta
a se pronunciar sobre a morte do coronel, afirmando em um artigo escrito por Marco
Antônio Petit que o coronel teria se suicidado. Na época, surgiram muitas
especulações de que ele teria se suicidado por medo de “contar a verdade” sobre a
Operação Prato ou então teria sido executado por conta de suas revelações. A
Revista Ufo desmistifica isso ao afirmar que o coronel sofria, vários anos, de um
processo depressivo, que o havia levado antes a uma tentativa falha de suicídio e
esse processo se agravou levando-o ao suicídio consumado.

Ao analisar os relatos das testemunhas pude compreender que a vida dos


personagens envolvidos nessa história, inclusive dos moradores da cidade de
colares foi marcada significativamente pelo fenômeno chupa-chupa, toda uma
cidade marcada por fatos inexplicáveis até os dias atuais. A imagem simbolicamente
veiculada sobre um óvni e um extraterrestre é até hoje veiculada e associada a
imagem da cidade de Colares e isto demonstra o tanto quanto esse fenômeno faz
parte do imaginário popular desse município.

Portanto, as minhas inquietações iniciais surgiram justamente da questão de


que as escolas do município de Colares não utilizariam essa discussão em suas
dinâmicas curriculares e ou atividades extracurriculares.
44

Quanto as narrativas atravessadas nos entrevistados e/ou veiculadas nos


periódicos aqui elencados, pode perceber que ao perguntar para os moradores
selecionados para as entrevistas, sobre a opinião particular de cada um deles sobre
o fato ocorrido, nenhum dos narradores conseguiu afirmar o que teria de fato
acontecido. É como se não ousassem rotular o que lhes é indesvendável. O que
sabem é que luzes coloridas apareceram nos céus de Colares, luzes coloridas, que
rasgavam o céu a uma velocidade incrível e que sugava o sangue de quem
julgavam escolhidos. Seriam Extraterrestres em seus Discos Voadores? Testes de
armas nucleares? Histeria coletiva? O que sabemos é que a Ilha de Colares nunca
mais foi a mesma depois do fenômeno chupa-chupa.

Portanto, neste capítulo, procurei entrelaçar as narrativas e investiguei as


memórias dos moradores de Colares acerca do fenômeno chupa-chupa e pude
constatar que os relatos são ricos e possuem diferentes leituras por parte da
população e dos entrevistados. Porém, as outras fontes investigadas mostram
interpretações diferenciadas como os jornais utilizados como fonte que expressam
as múltiplas leituras dos moradores que são atravessadas por explicações desde
ordem religiosa, como o “fim do mundo’, ou “castigo de Deus” até questões
fantasiosas. Mas ao apresentar a revista Ufo que se propõe como um veículo
especializado na área da Ufologia, com uma apreensão de um saber próximo à
ciência, as interpretações são diferentes e aproximam-se da presença de
extraterrestres em seus objetos voadores não identificados pelos céus da Amazônia
brasileira e, em particular, da ilha de Colares.

3 – O CHUPA-CHUPA E O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SERIES


INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A história de uma localidade é fator fundamental para a identidade de um
povo e o ensino dessa disciplina deve conter elementos que possam tratar sobre a
história local e neste sentido ressalto que as minhas inquietações iniciais sobre essa
temática partiram justamente por perceber um distanciamento entre os conteúdos
trabalhados na disciplina e as questões mais próximas a realidade imediata dos
nossos alunos.
45

Entendo que o chupa-chupa representa um fato de extrema importância para


o município de Colares e da região nordeste do estado do Pará. No entanto não
aparece nos manuais didáticos e nem nas propostas pedagógicas das escolas no
referido município.

Assim, a minha pretensão para este capitulo consiste em Compreender a


importância das narrativas sobre o fenômeno do chupa-chupa para a história local e
o ensino de história nas series iniciais do ensino fundamental

3.1 - O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO


FUNDAMENTAL
A disciplina de História é um elemento presente no currículo que abrange as
séries iniciais do ensino fundamental, com carga horária reduzida, mas que traz
conceitos que se bem estabelecidos nesse período da educação poderão influenciar
na construção de cidadania do educando, constituindo-se enquanto cidadão
emergente em uma sociedade cheia de pluralidades. O respeito às diferenças e a
interação com povos distintos, conhecimento da sua própria história e da história do
outro; a apropriação de seus direitos e deveres, valores e noções conceituais
fundamentais para a compreensão de sociedade, são alguns elementos destacados
no ensino de história nas séries iniciais.

"A construção desses conceitos é importante, pois todos serão ampliados nos
anos seguintes, assumindo graus de complexidade cada vez maiores" (HIPÓLIDE,
2009, p. 19), ou seja, mesmo tendo carga horária reduzida, e não recebendo o
devido valor mediante as outras disciplinas, a história contribui ininterruptamente na
formação do aluno desde as séries iniciais desde questões simples como sujeito e
sociedade, até as séries posteriores com situações mais complexas sobre a
pluralidade cultural e o respeito às diferenças.

As séries iniciais são apenas a margem, o começo de uma longa caminhada


na construção do saber histórico do aluno, nesse nível da educação o aluno poderá
assimilar ensinamentos que os direcionará a um caminho de busca por mais
conhecimentos ou, ao invés disso, será reposicionado para um caminho de
distanciamentos e desinteresse por determinados elementos de conhecimento se
não, por grande parte deles. Ressalto que o papel do docente na condução desse
46

processo é fundamental, pois nesse nível de ensino, a disciplina está sob


responsabilidade dos profissionais da pedagogia que não tem formação especifica
para atuar na área de história, o que pode ser afirmado a partir do conceito de que o
profissional da pedagogia ao lidar com o ensino de história nas séries iniciais tem
“a necessidade de buscar novos conhecimentos produzidos em outras áreas pela
sua própria autonomia ou por sua inserção em programas de formação continuada
ao longo de sua vida docente” (NASCIMENTO; MORAIS, 2013)

Em tese isso quer dizer que, se o aluno não dispuser de um bom


ensinamento e se não for defrontado com um ensino dinâmico de uma história que
estabeleça a relação do passado a partir de seu presente, com dinamismo e
contextualização, ele poderá perder o interesse pelo estudo de questões triviais da
vida, questões essas que emergem ou estão ligadas a história e/ou até mesmo
quaisquer outras disciplinas. Vale ressaltar que a minha indiferença quanto aos
conteúdos de história em minha fase escolar, conforme citei anteriormente nesse
estudo, decorrem de situações pedagógicas justamente que me conduziram para
esse distanciamento.

O professor e a escola têm em suas mãos a possibilidade de formar cidadãos


críticos e pesquisadores ou cidadãos conformados e sem pretensões de adquirir
mais conhecimentos.

O sujeito precisa ter orgulho de sua história e prazer em conhecê-la, a


disciplina de história vem como grande contribuinte nesse processo de aproximação
do sujeito com sua história, cultura, realidade, tempo, e critica sociocultural, mas
para isso precisa ser levada a sério desde as séries iniciais. Para Bittencourt (2005)
o ensino de história deve ser pensado para além de grandes personagens heroicos
e datas cíveis, para além de comemorações, que também são importantes, mas
deve-se considerar a cultura, a organização social.

O ensino de história nas séries iniciais é o alicerce para o aluno obter um bom
desenvolvimento em questões mais complexas de cidadania e sociedade que
surgirão ao longo de sua vida, a partir do que se aprende nesse período podem-se
desenvolver alunos com grandes intenções investigativas futuras ou o surgimento
de alunos que se configuram como educandos que, a grosso modo de dizer,
"empurram com a barriga" e aprendem apenas o essencial para obter as notas
47

mínimas estabelecidas pelas instituições de ensino para serem promovidos em sua


vida escolar, portanto, a disciplina de história nas séries iniciais, possui um
caráter altamente formador.

Sobre o ensinar história no ensino fundamental, o PCN de história afirma


que:

"O ensino e a aprendizagem de História envolvem uma distinção básica


entre o saber histórico, como um campo de pesquisa e produção de
conhecimento do domínio de especialistas, e o saber histórico escolar,
como conhecimento produzido no espaço escolar" (BRASIL, 1997, p. 29)

Difere assim o conhecimento obtido pelo historiador e o conhecimento


cabível a escola produzir e compartilhar com seus alunos.

Nesse contexto, o saber histórico escolar visa selecionar parte do saber


histórico do historiador fazendo um reajuste com os saberes advindos dos alunos e
professores, fazendo assim um reagrupamento contextualizado, objetivando
estabelecer a delimitação de três conceitos fundamentais: o de fato histórico, de
sujeito histórico e de tempo histórico (BRASIL, 1997)

Sintetizando, Fatos históricos são elementos tais como eventos políticos,


datas cívicas e às ações de heróis nacionais. “Em uma outra concepção de ensino,
os fatos históricos podem ser entendidos como ações humanas significativas”
(BRASIL, 1997, p. 24). O sujeito histórico, são sujeitos que desempenham ações
significativas para a nação e atos considerados heroicos.

Já sobre o conceito de tempo histórico o PCN afirma:

“O tempo pode ser apreendido a partir de vivências pessoais, pela intuição,


como no caso do tempo biológico (crescimento, envelhecimento) e do
tempo psicológico interno dos indivíduos (ideia de sucessão, de mudança).
E precisa ser compreendido, também, como um objeto de cultura, um objeto
social construído pelos povos, como no caso do tempo cronológico e
astronômico (sucessão de dias e noites, de meses e séculos).” (BRASIL,
1997, p. 30)

O tempo histórico está diretamente ligado às vivencias do aluno, fazendo


referência a ele mesmo e a todos os elementos de seu convívio, desde tempo
cronológico a tempo de fatos ocorridos, como parte dessa conectividade que
abrange um todo. Compreende-se que ambos os conceitos fundamentais partem
diretamente da realidade do aluno para um contexto plural onde está inserido, a
48

partir de uma concepção paraense, amazônica, ele entende uma realidade espacial
que engloba uma cultura brasileira.

Pode-se dizer que o aluno no ensino fundamental além de receber o


conhecimento produzido pela escola, pode também contribuir com suas percepções
para que esse conhecimento se desenvolva eu sua vida e possa colaborar com sua
formação de cidadania, fica claro que é fundamental o estímulo do interesse do
aluno pela história desde esse momento da educação.

O ensino de história para os alunos das séries iniciais traz indagações


pertinentes sobre como deva acontecer a procedência desse ensino para a criança,
indagações como:

"Como, nessa faixa etária, ela poderá interagir e construir o conhecimento


histórico? Quais são os níveis de desenvolvimento físico, intelectual, social
e emocional que ela apresenta e que podem ser utilizados na construção do
saber histórico?" (HIPÓLIDE, 2009, p. 19).

Considerando que há entre as crianças peculiaridades e diversidades em


função ao ambiente, contexto social e econômico. Pode-se dizer com base em
indicadores que nas séries iniciais, que o ensino de história para crianças dessa
faixa etária que compreende turmas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental de 9
anos, precisa ser contextualizado e claro, visto que a criança está em processo de
alfabetização e por isso aulas com pouco conteúdo de texto e teoria facilitam na
construção do saber histórico.

"De maneira geral, aos sete anos, as crianças apresentam disposição diante
da proposta de aprendizagem e demonstram boa capacidade de atenção e
concentração. Entretanto, a capacidade de abstração não é igual a de
crianças com mais idade e assunto como tempo, sociedade e, cultura
podem se tornar enfadonhos se não forem trabalhados de modo dinâmico e
lúdico. Para que a construção do conhecimento se realize e para que haja
aprendizagem é preciso lançar mão de atividades concretas. Nesse sentido,
a leitura de fotos, a observação de obras de arte, o desenho e as pinturas,
as brincadeiras, a dramatização, e a criação de histórias são, entre outros,
recursos valiosos". (HIPÓLIDE, 2009, p. 19).

As crianças de 7 anos de idade são as que compõem o segundo ano do


ensino fundamental, conforme citado acima, a autora define que essas crianças
possuem um interesse pelo aprender, trazem consigo à vontade nata em
compreender o mundo que as cerca, no entanto precisam ser estimuladas com
elementos pedagógicos que contemplem suas expectativas. Se faz desnecessário o
49

uso de textos longos e enfadonhos, nesse período da educação o ensino de história


precisa ser atrativo e dinamizado.

Os alunos apresentam uma grande disposição em aprender, porém


dependem da disposição dos professores e de suas instituições de ensino para
tornar esse saber dinâmico e prazeroso, dependem que os educadores busquem
métodos e maneiras diferenciadas de atraí-los para o estudo de história. Ainda
segundo Hipólide (2009), as crianças de 7 anos não estão aptas para analisar textos
longos e enfadonhos, por isso leitura de imagens, histórias e outras atividades
lúdicas são bem proveitosas nesse momento.

As crianças de 3º ano, com idade igual a oito anos (a maioria), segundo a


autora, já apresentam uma ampliação de vocabulário, possibilitando a inserção de
registros escritos, mas nunca descartando a contextualização e o dinamismo. Sobre
isso a autora ressalta: "É recomendável que [..] se busque envolvê-las em atividades
motivadoras e dinâmicas. Tais atividades ainda devem ater-se ao concreto e ao
cotidiano" (HIPÓLIDE, 2009, p. 38).

Para a crianças de 9 e 10 anos, que, em tese, já estão alfabetizadas e já


possuem uma capacidade interpretativa abstrata, pode-se variar nas atividades e
dinamismo (HIPÓLIDE, 2009). Observe, que a autora sempre enfatiza a questão da
dinamicidade ao trabalhar a história, ressalta a importância de trazer o concreto da
criança para seu ambiente escolar, um trabalho de ensino que engloba questões
cotidianas e que não estejam distantes das vivencias da criança.

Um ensino gradativamente aperfeiçoado, com elementos que atendam às


necessidades e expectativas das crianças conforme o período da educação em que
estejam inseridas. Deste modo o ensino de história nas séries iniciais deve
acontecer, respeitando os limites de cada criança e trazendo para dentro de sua vida
escolar a sua vida sociocultural.

Nas séries iniciais o professor precisa desencadear uma busca por práticas
inovadas, aderir a uma modalidade de ensino contextualizado e dinâmico, onde o
aprender está sempre associado ao prazer pela busca do conhecimento de si
mesmo e de sua comunidade, uma curiosidade nata da criança sendo aguçada e
explorada com fins pedagógicos onde a própria criança será beneficiada com suas
descobertas e aprendizados ao longo desse ciclo da educação. Levando sempre em
50

consideração que são ensinamentos que responderão desde questionamentos mais


simples à questões mais complexas nas séries posteriores.

3.2 – OS PCN’S A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA LOCAL


O ensino de história nas séries iniciais, como vimos nos textos acima, possui
um caráter formador do indivíduo, traz em seu currículo ensinamentos que nortearão
o aluno desde questões simples até as mais complexas que permearão sua vida no
sentido de homem quanto elemento constituinte de uma sociedade e que se forma
como cidadão com direitos e deveres para com sua comunidade, sua naturalidade e
sua pátria. Um cidadão que busca compreender a história de sua nação, precisa
antes de tudo conhecer-se a si mesmo e ao núcleo de onde emerge e expande para
essa sociedade plural.

Suponhamos que um sujeito nascido e crescido em uma comunidade peculiar


jamais se importasse ou sequer fosse incentivado em conhecer a formação de suas
origens e de sua cultura, crescesse alheio ao que lhe cerca, sem considerar sua
origem amazônida, indígena ou até mesmo estrangeira, não procurasse reconhecer-
se como elemento singular de uma cultura ímpar que em grande escala se mistura
com uma pluralidade e diversidade enorme chama mundo, como seria possível esse
sujeito compreender o mundo em que vive sem antes conhecer o espaço que o
cerca?

Nesse sentindo, compreendo que o sujeito parte de sua localidade para o


mundo, das particularidades e peculiaridades de sua gente para o contexto global. É
compreendendo suas raízes que saberá que outras comunidades e povos, assim
como o dele, também tiveram suas formações e sua história que é tão digna de
respeito quanto a dele, é aprendendo a respeitar a sua história que compreenderá a
importância de respeitar a história do outro e assim viver com dignidade em meio a
uma sociedade tão mista.

Sobre o ensino de história e seus objetivos, nessa fase de formação do


sujeito que é as séries iniciais do ensino fundamental, trago uma discussão acerca
do PCN de História e Geografia, que fundamenta as pretensões para essa disciplina.
O PCN de História é uma bússola para orientação dos professores que trabalham
com essa disciplina, mesmo que sejam professores sem formação específica na
área, mesmo que em sua grande maioria sejam pedagogos, o PCN norteia suas
51

ações direcionando para ensino que contemple as necessidades das crianças


visando sempre seu progresso na educação e na formação, visto que o profissional
que atua nas séries iniciais é o pedagogo que em sua formação não recebe um
auxílio específico para atuar no campo da história.

Para o ensino de História ao longo do ensino fundamental, o PCN propõe


como objetivo geral que gradativamente o aluno seja capaz de ler e compreender
sua realidade, assumir sua posição como cidadão e ter a capacidade de fazer
escolhas criteriosas (BRASIL, 1997).

No que tange o primeiro ciclo da educação, o PCN traz propostas de ensino


que estão diretamente ligadas às vivências do aluno, compreende que ele precisa
conhecer a sua realidade antes mesmo de expandir para uma realidade nacional e
por fim global, o aluno chega a escola com seus conhecimentos prévios,
estabelecido em ralações familiares e dentro de seu convívio social. Conhecimentos
diversos acerca de questões triviais e até mesmo questões mais amplas debatidas e
perpassadas pelos integrantes de sua família, cabe a escola selecionar esses
saberes fazendo uma triagem e uma reconstrução unindo o saber empírico do aluno
ao saber histórico e assim iniciar o processo de aprendizagem que direcionará o
aluno em sua vida social e cidadã.

Por isso, inicialmente o ensino de História se volta a fazer o aluno


compreender as semelhanças e diferenças, permanências e transformações do
espaço onde vive, cultura e economia de sua região a partir da leitura de diferentes
fontes (BRASIL, 1997). A criança precisa compreender que o espaço onde vive
sofreu e continua sofrendo mudanças, tanto mudanças físicas quanto estruturais. O
espaço por ela ocupado, em outro momento foi ocupado por outras famílias que
vivenciaram outras realidades e essas realidades causaram mudanças e
interferências na realidade em que ela vive hoje, compreender que o perfil das
famílias muda de acordo com sua economia e até mesmo concepções, observando
as variações o aluno se torna capaz de perceber e compreender essas questões
supracitadas no PCN, a escola é a organizadora desses conhecimentos e o
professor atua diretamente no estabelecimento dessas relações esclarecedoras do
indivíduo e sua realidade, portanto a compreensão da história de seu lugar lhe
proporciona uma compreensão do que se vive na atualidade.
52

Nos diálogos estabelecidos no convívio familiar, desde pequenas as crianças


recebem uma carga de informações baseadas no senso comum, são percepções
particulares dos sujeitos com quem ela convive, são valores, ideais, costumes,
tradições, lendas, mitos, etc. A criança recebe as mais variadas informações e nesse
sentido a escola desenvolve um papel fundamental na organização e seleção
desses saberes, introduzindo o saber histórico como elemento condensador desses
conhecimentos assimilados.

A forma de conduzir esse redirecionamento dos saberes e introdução de


novas descoberta se dá gradativamente e de acordo com as etapas de ensino que a
criança enfrenta. No primeiro ciclo, as crianças estão no processo de alfabetização,
ainda estabelecendo uma relação de aproximação com a leitura e a escrita, por isso
deve-se abordar os temas sempre com dinamicidade e trazer sempre os assuntos
próximos ao aluno, sobre isso Hipólide (2009) ressalta que é desinteressante
trabalhar assuntos alheios à realidade da criança.

O professor é o mediador entre as fontes e o aluno, nesse processo de


aprendizagem cabe a ele dinamizar e contextualizar os conteúdos a serem
trabalhados, de modo que atinja as determinações do PCN. Nesse primeiro
momento o tempo histórico é o elemento que desencadeará a série de
questionamentos que virão. O aluno deve compreender os critérios de anterioridade
ou posteridade e simultaneidade; conhecendo a proporção de tempo, o aluno poderá
comparar e relacionar acontecimentos passados com seu tempo presente.

Por exemplo, na cidade de Colares, as crianças se deparam com um senário


geográfico totalmente enredado com histórias e monumentos alusivos aos
extraterrestres, um senário visual que apresenta em sua estrutura estatuetas,
pinturas, monumentos, artigos decorativos, desenhos, artesanato, músicas, além de
blocos carnavalescos e roupas temáticas. Isso tudo é fruto de um tempo anterior
vivido pela comunidade que hoje o aluno é parte, penso que sem um direcionamento
ele não será capaz de compreender essas alterações visuais e culturais em sua
cidade, a não ser que lhe seja proporcionada essa compreensão pela escola que é a
responsável em condensar todo esse senso comum com base histórica.

O ensino de História para as séries iniciais possui metas a serem alcançadas,


e como já mencionei anteriormente, segundo o PCN essas metas partem do
53

contexto do aluno para uma colocação mais ampla da sociedade, por isso, nesse
primeiro momento, que são as séries iniciais, alguns dos principais objetivos do
ensino de história para esse ciclo é que o aluno compreenda as diferenças e
semelhanças sociais, econômicas e culturais existentes em seu convívio, bem como
as permanências e transformações sociais acorridas nos indivíduos e na localidade
onde vive (BRASIL, 1997).

O PCN traz como eixo temático para as séries iniciais a história local e do
cotidiano, sobre isso observe:

"Os conteúdos de História para o primeiro ciclo enfocam, preferencialmente,


diferentes histórias pertencentes ao local em que o aluno convive,
dimensionadas em diferentes tempos.Prevalecem estudos comparativos,
distinguindo semelhanças e diferenças, permanências e transformações de
costumes, modalidades de trabalho, divisão de tarefas, organizações do
grupo familiar e formas de relacionamento com a natureza. A preocupação
com os estudos de história local é a de que os alunos ampliem a
capacidade de observar o seu entorno para a compreensão de relações
sociais e econômicas existentes no seu próprio tempo e reconheçam a
presença de outros tempos no seu dia-a-dia." (BRASIL, 1997, p. 35)

O estudo da história local proporciona ao aluno a possibilidade de vivenciar e


discutir no tempo presente as ações executadas em tempos passados, possibilita ao
aluno reconhecer em seu tempo as ações realizadas em tempos anteriores ao seu,
fazendo assim uma relação entre as realidades para obter respostas para
questionamentos emergentes nesse processo de desenvolvimento quanto cidadão.
A escola desempenha o papel de esclarecer e destacar essas diferenças, trazendo a
compreensão do aluno acerca das diversidades e variações existentes no meio de
seu convívio social.

Assim, o ensino de história nas séries iniciais procura fazer com que o aluno
compreenda algumas semelhanças e diferenças sociais, as variações de cultura e
convívio existentes em sua localidade, os impactos que os elementos e fatos locais
causaram em sua formação e na formação de sua comunidade e que se perceba
como elemento de uma cultura local idiossincrático que é pertencente a uma cultura
global e pluralizada, adquirindo assim a capacidade de posicionar-se e de interagir
com o meio e com a sociedade. Por isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais de
História e Geografia propõem para o ensino de história nas séries iniciais esse
trabalho que surge do contexto do aluno proporcionando um autoconhecimento para
um conhecimento mais amplo.
54

3.3 – PRESCRIÇÕES PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E A


VALORIZAÇÃO DE HISTÓRIA LOCAL NO MUNICÍPIO DE COLARES.
O ensino de história se tornou um grande elemento de debate, primeiramente
um debate pessoal decorrente de concepções formadas a partir de minhas
experiências passadas e pouco exitosas e posteriormente a abertura para um
debate cogitando a possibilidade de o conhecimento histórico ser o fundamento para
minha pesquisa no meu Trabalho de Conclusão de Curso na Universidade Federal
do Pará por meio do Programa de Formação de Professores (Parfor). Portanto, as
minhas inquietações para esse estudo pareciam estar latentes desde a minha
infância enquanto aluna das séries iniciais, mas ficaram adormecidas até a minha
vida adulta em fase acadêmica e agora abre-se novas perspectivas.

Como relatei no primeiro capítulo deste estudo, fui uma criança curiosa e com
aspirações à pesquisa histórica. Encantada por esculturas, igrejas, monumentos e o
mistério sempre envolto nessa disciplina/ciência, amava a história antes mesmo de
saber que ela era a história. Quando me deparava com relatos de acontecimentos
antigos de minha cidade, de minha comunidade ou de minha família eu sempre
ouvia tudo com muita atenção e gostava de repassar isso para meus colegas de
escola e/ou de vizinhança. Uma vontade de aprender sempre mais e dividir com os
outros o que eu aprendia, uma construção de saberes que acontecia individual e
coletivamente mesmo que eu nem percebesse.

Eram Indagações pertinentes que me ajudariam desde questões simples até


as que se tornariam mais complexas e reveladoras ao longo de minha vida escolar.
Infelizmente as minhas inquietações e investigações foram tolhidas por uma prática
docente que talvez, assim como muitos, não tivesse recebido a capacitação
necessária para trabalhar o ensino de história, isso é ressaltado pela consideração
de Nascimento; Moraes (2013) quando diz que o profissional que trabalha nas séries
iniciais precisa buscar por mérito próprio a capacitação para atuar no ensino de
história.

Aqui surge uma questão que deve ser considerada, o professor das séries
iniciais do ensino fundamental é graduado em pedagogia mas tem a obrigatoriedade
de trabalhar todas as disciplinas do currículo desse nível de ensino e não recebe
uma preparação aprofundada para o ensino de História e por muitas vezes, em
55

algumas realidades o professor não possui nenhuma graduação de ensino superior,


ele leciona apenas com o ensino médio completo com formação em magistério.

Minha professora nas séries iniciais não utilizou o dinamismo proposto por
Hipólide (2009) que defende um estudo dinâmico e contextualizado no ensino de
história, ao invés disso utilizava métodos enfadonhos e descontextualizados que me
faziam querer deixar de aprender. Utilizava textos longos que para mim não faziam
sentido algum.

Porém, penso por vezes que existem grandes possibilidades de ela ter feito
isso sem se dar conta da gravidade do que fazia, sem perceber os efeitos colaterais
causados por uma prática ineficaz, visto que nas disciplinas tomadas como
fundamentais, que são a língua portuguesa e matemática, ela era eficiente e foi
totalmente capaz de me alfabetizar, me fez aprender a ler e eu lia sem titubear. Aqui
desponta um questionamento a partir de Freire (1989) quando diz que “A leitura do
mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele” (FREIRE, 1989, p. 9), a leitura da
palavra não pode eliminar a leitura de mundo da criança e tão pouco interromper. A
primeira leitura que se faz é a do mundo pequeno que nos movemos.

Olhando para minha professora nessa minha fase escolar, olho para mim
mesma enquanto professora das séries inicias que também fui/sou e acredito mais
ainda na possibilidade de um erro inconsciente pelo fato de eu mesma ter agido
assim por tempos sem compreender a dimensão de que meus atos poderiam estar
fazendo com que meus alunos perdessem o interesse pela história e pela pesquisa,
precisei chegar ao ambiente acadêmico, ou melhor, na construção do meu TCC que
seguiria outros contornos com a mesma temática sobre o chupa-chupa para me
conscientizar de toda essa realidade, precisei me confrontar com situações que me
fizeram refletir sobre o estudo de história e compreender que o estudo da mesma vai
para além de personagens históricos, vai para além de datas comemorativas, não
apenas o estudo, mas a docência também.

Minhas inquietações adormecidas retomaram atividade (mesmo que não


percebesse no primeiro momento) assim que ingressei na Universidade Federal do
Pará para cursar a licenciatura em Pedagogia na cidade de Colares. Nessa cidade
percebi a grande influência do chupa-chupa sobre a história e a cultura local como
56

seus contornos na oralidade dos moradores dessa comunidade. A medida que fui
conhecendo os relatos dos moradores toda aquela curiosidade foi ressurgindo em
mim e me redirecionando para o estudo do fenômeno e ensino dele através da
disciplina de história nas séries iniciais.

A princípio tudo me pareceu um tanto irônico. Logo eu que detestava história?


Foi aí que refleti sobre minha vivencia nas séries iniciais e percebi o quanto a
história foi/era/poderia voltar a ser importante para mim e para meus alunos.
Acredito que muitas crianças passam pelo que passei e acredito também que seja
possível mudar essa realidade se seguirmos por outros trajetos na forma de
conceber o conhecimento histórico e nas condutas pedagógicas no ambiente escolar
e mesmo com a orientação dos PCNs de História para um estudo mais
contextualizado e aproximado das crianças, partindo de sua realidade para um todo,
a fins de que ela reconheça as suas singularidades as diferenças em relação ao
outro, não somente diferenças pessoais, mas também tudo que ocorre e modifica o
espaço onde ela vive e os impactos que isso causa na sua história local (BRASIL,
1997).

Olhando para o ensino de história nas séries iniciais na cidade de Colares,


percebo a importância do fenômeno chupa-chupa como elemento que surge de
dentro do contexto da criança e o quanto isso é presente em seus lares nas
narrativas de seus familiares. Em seu ciclo familiar a criança recebe uma série de
informações baseadas em vivencias e concepções de seus familiares e de seu
convívio social, o chupa-chupa esteve frequente desde a década de 1970 nas
narrativas dos moradores da ilha e isso é muito constante até os dias de hoje. As
crianças colarenses ouvem e aprendem desde cedo sobre as luzes que atacavam
seus familiares, aprendem isso em suas casas com base nas vivencias e narrativas
de seus contemporâneos.

A escola precisa acolher esses saberes e a partir dessa realidade próxima da


criança trabalhar noções de história local e o estudo do lugar conforme o PCN traz
como eixo temático. A narrativa deve ser valorizada nesses ambientes escolares.
Retomo aqui as discussões que vivenciei em minha casa, quando aluno das séries
iniciais, discussões com base no senso comum de meus pais que me enchiam de
curiosidade e me faziam querer ir em busca do aprimoramento dessas informações,
57

no entanto a minha professora só queria trazer para sala de aula assuntos como as
plantações de café, não que o café não seja relevante, mas para minha realidade,
para mim que vinha do lar e estava cheia de conhecimentos advindos do senso
comum dos meus pais, tudo parecia sem sentido.

A escola precisava reagrupar esses saberes e associá-los ao saber história e


em uma triagem aprimorar o que estava construindo em minhas ideias ou então
desmistificar o que seria irrelevante. A partir dessa ideia que proponho uma inserção
mais aprofundada do fenômeno chupa-chupa no ensino de história nas séries
iniciais em Colares.

Das crianças que residentes em Colares e que possuem idades que se


encaixam nessa fase escolar têm parentes que vivenciaram os fenômenos de 1977
e/ou que conhecem pessoas que viveram os momentos fatídicos daquele ano.
Momentos que foram descritos nesse trabalho e que possuem uma rica narrativa.

Hoje, tendo uma reflexão quanto aluna distanciada do prazer de estudar


história nas séries iniciais por uma atuação docente ineficaz de minha professora
nessa área, quanto docente que repetiu o descaso com essa disciplina ao ensinar
seus alunos e agora como pedagoga que reencontrou o interesse pela história e que
entende que o estudo da mesma é formador e essencial, sugiro algumas práticas
que podem ser atrativas aos alunos das séries iniciais no município de Colares e
assim promover mais aproximações do que distanciamentos nessa fase.

Proponho trazer para a sala de aula esses relatos e narrativas que são
interessantes para as crianças, possuem uma composição histórica e até mesmo
literária. O estudo de uma memória coletiva e não apenas de um indivíduo, uma
memória coletiva que segundo Silva; Silva (2004) é interessante ao historiador. Essa
memória possui relatos individuais na particularidade de cada família e que se
completam na coletividade da comunidade, visto que cada morador da ilha de
Colares teve sua experiência e proximidade do fenômeno chupa-chupa.

Aulas em que moradores antigos e/ou parentes das crianças fossem levados
para a sala de aula e recebessem a oportunidade de relatar suas experiências
vividas na década de 1970 trariam um dinamismo ao ensino de história e a partir do
grau de parentesco do narrador com alguma das crianças matriculadas na turma,
58

trazer a debate assuntos do currículo para o ensino de história, tais como família e
sociedade.

Como segunda proposta, sugiro a construção de um livro com narrativas


históricas do local; nessa proposta não apenas o chupa-chupa seria notado, mas
também todas as mudanças ocorridas na localidade por conta do fenômeno.
Mudanças sociais, históricas e visuais também, tendo em vista que o cenário visual
de Colares não é o mesmo de 40 anos atrás, hoje a cidade conta com inúmeras
estatuetas de extraterrestres que estão espalhadas pela cidade, uma geografia
visual que narra os acontecimentos de 1977, pergunto a mim mesma se as crianças
têm consciência do porquê dessas imagens estarem espalhadas pela cidade.

A construção de um livro com narrativas históricas do local traria isso tudo


para debate dentro de sala de aula e faria com que as crianças compreendessem a
realidade de sua localidade a partir de um olhar não apenas empírico, mas também
histórico e científico.

Uma bela iniciativa para trabalhar esse olhar pela narrativa e imaginário
popular foi tomada por uma escola da rede pública de ensino da cidade de Colares,
a Escola Balãozinho Vermelho que atende crianças do 1º ao 5º ano de ensino
Fundamental realizou um concurso de desenho entre seus alunos que revelou
grandes habilidades artísticas entre seus participantes e a força da cultura em torno
do fenômeno chupa-chupa que é frequente nos desenhos. As obras premiadas
foram o fundo para o banner usado na propaganda de um projeto cultural realizado
pela referida escola no município. Uma iniciativa muito eficiente para levantar
questões ligadas ao contexto histórico do aluno e que deveria ser imitada pelas
demais escolas do município.

Outra sugestão que julgaria relevante seria uma exposição de fotografias na


escola, uma excussão organizada pela escola onde as crianças teriam a
oportunidade de visitar as áreas de sua localidade onde aconteceram incidências
maiores de avistamentos, fotografar e a partir da análise de imagens apontar suas
percepções sobre o lugar, isso se caracteriza como o estudo do lugar, objetivando
assim “identificar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem com
outros tempos e espaços” (BRASIL, 1997, p. 33)
59

A percepção de mudanças e do espeço onde vive para que assim siga as


instruções do PCN de História, isso se solidifica ao observarmos um dos objetivos
gerais do PCN para o ensino de História que diz que o aluno, ao longo do ensino
fundamental deve “reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas,
presentes na sua realidade e em outras comunidades, próximas ou distantes no
tempo e no espaço” (BRASIL, 1997, p. 33)

São muitas as possibilidades de se trabalhar o ensino de História a partir de


um olhar dinâmico e contextualizado, as fontes históricas são ricas, fotografias,
jornais e narrativas são algumas das fontes que podem ser utilizadas em sala de
aula, no entanto o professor que é o mediador desse conhecimento, precisa estar
preparado para as indagações que surgirão e deve permitir que o aluno interaja e
esclareça suas dúvidas e assim cada vez mais deseje aproximar-se do estudo da
história ao invés de distanciar-se como aconteceu/acontece com muitos, inclusive
comigo.

Os moradores da ilha de Colares são personagens reais de uma história que


alterou a rotina de toda uma comunidade, são pessoas distintas com relatos
peculiares e coerentes uns com os outros na sua coletividade, memórias e
narrativas importantes e que precisam ser usadas no ensino de história nas séries
iniciais em Colares, seriam excelentes auxiliadores nesse processo de ensino onde
a criança precisa compreender e interagir com sua comunidade, perceber as
mudanças promovidas pelo tempo, mudanças que fizeram história.

Entrando em contato com essas narrativas, as crianças nessa fase escolar


compreenderão o seu tempo presente por intermédio das variações ocorridas pelo
tempo passado, se permitirão responder perguntas contemporâneas com base nas
situações vividas por seus familiares.

Portanto, neste capítulo busquei compreender a importância das narrativas


dos moradores de Colares para o processo de construção da história local e para o
ensino de história nas séries iniciais e pude perceber que grande parte das
propostas do PCN de história para as séries iniciais podem ser respeitadas a partir
do estudo da narrativa, visto que os sujeitos narradores são personagens reais de
uma história vivida no passado e que ainda marca a contemporaneidade das
crianças.
60

Essas narrativas poderiam ser transformadas em materiais de cunho


pedagógico que auxiliariam no ensino de história e trariam um novo olhar para a
história local de Colares e mesmo para a região nordeste do Pará a qual também
sou moradora na cidade de Vigia de Nazaré e atuo profissionalmente como docente.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou a análise do fenômeno
chupa-chupa ocorrido na cidade de Colares na década de 1970, mais intenso no ano
de 1977, através das narrativas de moradores e testemunhas dos eventos e a
possível utilização dessas narrativas como elemento didático no ensino de história
nas séries iniciais no município de Colares.

Uma abordagem sobre o uso e aproveitamento da memória e das narrativas


orais dos moradores locais como documento histórico para possibilitar ao aluno uma
compreensão acerca da história de sua comunidade e as mudanças ocorridas por
ocasião dos fatos acontecidos durante o fenômeno.

As testemunhas, as mídias de divulgação e a população de modo geral


apresentam várias leituras para as luzes que atacavam as pessoas, tem opiniões
diversificadas do assunto, acredita-se em colocações que vão de piadas e sátiras e
eventos religiosos como a punição de Deus, até seres extraterrestres. As narrativas
são ricas em detalhes e constantes na vida dos moradores da ilha, as crianças
convivem com essa realidade e chegam às escolas cheias de conhecimentos
adquiridos por base no saber empírico dos pais.

Esse saber empírico, se filtrado pela escola e reagrupado com o saber


histórico, possibilitaria uma relação de proximidade entre a crianças e a história de
seu lugar e a partir desse ponto compreender-se como elemento pertencendo a uma
comunidade com características próprias para assim, através das narrativas,
perceber as mudanças ocorridas em seu tempo através de um tempo histórico vivido
por seus familiares.

A narrativa poderia ser um elemento muito forte no auxílio do ensino de


História nas séries iniciais no município de Colares, visto que no ensino fundamental
o aluno precisa conhecer a sua história e história do lugar onde vive, utilizando a
61

narrativa como fonte histórica seria possível um ensino mais dinâmico e


contextualizado que facilitaria a aprendizagem e aproximaria mais a criança de sua
realidade para reconhecer-se como sujeito emergente de uma cultura particular que
parte para um todo.

Considerando-se que a proposta central para a presente pesquisa consistiu


em Investigar como o fenômeno chupa-chupa pode ser potencializado enquanto
elemento da cultura para a valorização da história local e para o ensino de história
nas series iniciais do Ensino Fundamental em Colares, pode-se dizer que o
fenômeno chupa-chupa, em narrativas orais é um elemento extremamente forte
dentro da cultura, história e do imaginário da população do referido município e é
constituído de relatos que podem ser convertidos em material de cunho pedagógico
a fins de dinamizar o ensino de história e assim contribuir para a valorização da
história local.
62

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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impresso diário. São Paulo: Codex, 2002.

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de ler: em três artigos que se completam. 23°. ed. São Paulo: Cortez, 1989. p. 49.

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fundamental - metodologias e conceitos. 1ª. ed. São Paulo: Companhia Editora
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hitória e na formação continuada de professores para os anos iniciais do ensino
63

fundamental. In: RIBEIRO, E. M., et al. Formação continuada de professores:


entrelaçando saberes e práticas inovadoras. Castanhal: Gráfica UFPA, 2013. p. 178.

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investigavam-luzes-e-ataques-antes-da-operacao-prato>. Acesso em: 27 junho
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rompe silêncio sobre Ufos. Disponivel em:
<http://www.ufo.com.br/entrevistas/coronel-rompre-silencio-sobre-ufos//>. Acesso
em: 22 junho 2017.

UFO. site Revista Ufo. Revista Ufo, 2001. Disponivel em:


<http://www.ufo.com.br/artigos/a-verdade-sobre-a-morte-do-coronel-uyrange-
hollanda>. Acesso em: 22 junho 2017.

URBAN, A. C.; LUPORINI, T. J. Aprender e ensinar História nos anos


iniciais do Ensino Fundamental. 1. ed. São Paulo: Cortez, v. 1, 2015. 208 p.

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Disponivel em: <https://www.culturavigilenga.com/lendas-de-vigia>. Acesso em: 22
agosto 2017.

FONTES DOCUMENTAIS

JORNAL O LIBERAL 1997; JORNAL O ESTADO DO PARÁ 1977


64

ANEXOS
65

ANEXO 1 - RECORTES DAS MACHETES DO JORNAL O


LIBERAL – 1977

Figura 2 - Colisão no céu de Icoaraci


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 19 de maio de 1977, p.24

Figura 3 - Colisão no céu de Icoaraci seria foguetes


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 20 de maio de 1977, p.22
66

Figura 4 - Luz misteriosa apavora Viseu


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 10 de julho de 1977, p.24

Figura 5 - Luz Misteriosa ainda causa pavor em Viseu


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 11 de julho de 1977, p.16
67

Figura 6 - Luz dos mistérios volta aos céus do Maranhão


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 14 de julho de 1977, p.19

Figura 7 - Luz estranha envolve agora a polícia


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 29 de julho de 1977, p.12
68

Figura 8 - Objeto voador misterioso apavora agora todo o Maranhão


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 29 de julho de 1977, p.12

Figura 9 - A luz da morte também apareceu em Marapanim


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 16 de outubro de 1977, p.2
69

Figura 10 - Aparições e mortes aterrorizam Vigia


Fonte: JORNAL O LIBERAL, 17 de outubro de 1977, p.17
70

ANEXO 2 - MACHETE DO JORNAL O DIÁRIO DO PARÁ 1977

Figura 11 - Múltiplas aparições do Óvnis


Fonte: JORNAL O ESTADO DO PARÁ, 02 de novembro de 1977, pg. 12
71

ANEXO 3 – CAPAS DAS EDIÇÕES DA REVISTA UFO QUE


PUBLICARAM AS REPORTAGENS COM O CORONEL UYRANGÊ
HOLLANDA

Figura 12 - Coronel rompe o silêncio


Fonte: site Revista Ufo, edição 54, outubro de 1997, in: http://www.ufo.com.br/edicoes/ufo/ver/54

Figura 13 - Continuação da entrevista do Coronel


Fonte: site Revista Ufo, edição 55, novembro de 1997, in: http://www.ufo.com.br/edicoes/ufo/ver/55
72

Figura 14 - A verdade sobre a morte do coronel Hollanda


Fonte: site Revista Ufo, edição 76, janeiro de 2001, in: http://www.ufo.com.br/edicoes/ufo/ver/76

Figura 15 - Coronel Uyrangê Hollanda


Fonte: site Revista Ufo, in: http://www.ufo.com.br/artigos/a-verdade-sobre-a-morte-do-coronel-
uyrange-hollanda
73

ANEXO 4 - BANNER DE PROPAGANDA DO SARAU


CULTURAL MONTADO COM OS DESENHOS PRODUZIDOS PELAS
CRIANÇAS DA ESCOLA BALÃOZINHO VERMELHO.

Figura 16 - Banner produzido com imagens desenhadas pelas crianças


Fonte: Própria (2017)
74

APÊNDICE
75

APÊNDICE A - PESQUISA DE CAMPO PARA VERIFICAR AS


NARRATIVAS DOS TRÊS SUJEITOS SELECIONADOS PARA A
ENTREVISTAS

VISÃO DO ENTREVISTADO

1- Em sua comunidade, quando começaram os avistamentos de luzes no céu?

2- Em que horário isso ocorria?

3- Qual o seu grau de envolvimento como testemunha e/ou vítima no fenômeno


chupa-chupa?

4- Alguém na sua família foi atingido pelas luzes?

5- O que sua família pensava sobre essas luzes, objetos e ataques?

6- Qual a sua opinião pessoal sobre o que aconteceu?

7- Você acredita em extraterrestre?

8- O que mais marcou sua vida nesse período?

9- Que mudanças os fatos ocorridos trouxeram para o município de Colares?

10- Qual o sentimento que você tem ao lembrar de tudo que passou?
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APÊNDICE B – TERMO DE CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS


SOBRE GRAVAÇÕES DE VOZ.

Eu, NEWTON DE OLIVEIRA CARDOSO, autorizo o uso da ENTREVISTA


CEDIDA POR GRAVAÇÃO DE VOZ E O USO DE IMAGEM, por prazo
indeterminado, no trabalho acadêmico impresso de conclusão de Curso e nas
demais formas de divulgação do trabalho da aluna Laurimar Cabral Ferreira de
Souza, concluinte do curso de Pedagogia, oferecido pela Universidade Federal do
Pará, campus de Castanhal, polo de Colares, sem para isto receber qualquer
contrapartida financeira dos autores do referido trabalho.

Como prova e verdade disto, assino o referido documento.

Colares – 22 de agosto de 2017


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APÊNDICE C – TERMO DE CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS


SOBRE GRAVAÇÕES DE VOZ.

Eu, JOSÉ ILDONE FAVACHO SOEIRO autorizo o uso da ENTREVISTA


CEDIDA POR GRAVAÇÃO DE VOZ E O USO DE IMAGEM, por prazo
indeterminado, no trabalho acadêmico impresso de conclusão de Curso e nas
demais formas de divulgação do trabalho da aluna Laurimar Cabral Ferreira de
Souza, concluinte do curso de Pedagogia, oferecido pela Universidade Federal do
Pará, campus de Castanhal, polo de Colares, sem para isto receber qualquer
contrapartida financeira dos autores do referido trabalho.

Como prova e verdade disto, assino o referido documento.

Colares – 22 de agosto de 2017


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APÊNDICE D – TERMO DE CESSÃO GRATUITA DE DIREITOS


SOBRE GRAVAÇÕES DE VOZ.

Eu, OSMERINA DA CONCEIÇÃO LEAL, autorizo o uso da ENTREVISTA


CEDIDA POR GRAVAÇÃO DE VOZ E O USO DE IMAGEM, por prazo
indeterminado, no trabalho acadêmico impresso de conclusão de Curso e nas
demais formas de divulgação do trabalho da aluna Laurimar Cabral Ferreira de
Souza, concluinte do curso de Pedagogia, oferecido pela Universidade Federal do
Pará, campus de Castanhal, polo de Colares, sem para isto receber qualquer
contrapartida financeira dos autores do referido trabalho.

Como prova e verdade disto, assino o referido documento.

Colares – 22 de agosto de 2017

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