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TCC MemoriasNarrativasChupa-chupa
TCC MemoriasNarrativasChupa-chupa
TCC MemoriasNarrativasChupa-chupa
COLARES
2017
LAURIMAR CABRAL FERREIRA DE SOUZA
COLARES
2017
LAURIMAR CABRAL FERREIRA DE SOUZA
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
ORIENTADOR
__________________________________
UEPA - Avaliadora
__________________________________
IFPA - Avaliadora
A Deus.
ET - EXTRATERRESTRE
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
ANEXOS ................................................................................................................... 64
APÊNDICE ................................................................................................................ 74
12
1. INTRODUÇÃO
Devido a dificuldade de uso da narrativa de vivencias como documento que
relata a formação e cultura de um povo como recurso presente no ensino de História
nas séries iniciais essa pesquisa se justifica através da análise da importância da
história local, memória e cultura como elemento formador do sujeito que nela está
inserido e o incentivo da produção de narrativas orais sobre o caso do chupa-chupa
no município de Colares/PA.
diversidades culturais, respeitando a si mesmo a aos que com ele habitam em essa
esfera dialógica que é a busca pelo conhecimento de si mesmo e do outro.
"As formulações para o ensino de História a partir das séries (ou ciclos)
iniciais do ensino fundamental sofrem variações, mas visam ultrapassar a
limitação de uma disciplina apreendida com base nos feitos dos heróis e
dos grandes personagens, apresentados em atividades cívicas e como
figuras atemporais [...] Os estudos de História tem como base o
desenvolvimento intelectual do educando, e daí a recomendação de
introduzir o conteúdo a ser estudado por um problema situado no tempo
presente, buscando em tempos passados as respostas para as indagações
feitas". (BITTENCOUT, 2004, p. 112/113)
Antes de escrever este capítulo fiz uma reflexão sobre minha vida escolar,
nas séries iniciais. Percebo que desde sempre não fui uma admiradora da disciplina
de história e tentei entender o motivo para isso, então percebi que fui mais uma de
muitas crianças que cresceram com essa doutrina de que História é apenas
decorativa, tratada como algo que não me formaria ou que não contribuiria muito
17
Sempre ouvi em casa que deveria ler várias vezes para decorar os conteúdos
e tirar boa nota, depois do teste aplicado em sala de aula, o conhecimento que
sobrevivesse na minha memória não faria diferença, afinal quem algum dia nos
perguntaria coisas do tipo "Como esse café chegou até a sua mesa?".
1Do 1º ao 5º ano, o estudo das diferentes profissões faz parte dos assuntos
para a disciplina história.
18
Perguntei para minha professora sobre o túnel, quem teria feito? Para que
servia? Ele realmente existia? Porque não vamos lá? Será que tem ouro lá dentro?
Ao bombardeio de perguntas ela não respondia nada! Então decidi investigar
sozinha.
Aquele homem não parecia ter muito conhecimento e por isso não me
respondia nada. Não desisti, todos os dias repetia a mesma “missão”. Pela manhã
trazia o relatório aos meus colegas de classe sobre o que conseguira ver. Quando
as portas laterais estavam trancadas e não podia entrar nas áreas restritas da igreja
eu não dava viagem perdida, então entrava pela porta de frente para explorar o
interior da matriz que era repleto de artefatos lindíssimos, olhava todas as imagens,
peças antigas, estrutura das colunas, pinturas e esculturas existentes no interior do
templo. Tinha vontade de levantar o vestido de Nossa Senhora e olhar, mas a beata
me disse que se fizesse isso eu ficaria cega e para ser sincera, até hoje tenho medo.
entre minha grande descoberta e os "tours" que eu tanto amava, não foi fácil, mas
eu aceitei a proposta dele.
Ele me conduziu até uma área onde eu nunca havia conseguido entrar, essa
área dava acesso a coluna esquerda da matriz, onde fica um grande sino, abaixo do
sino havia um enorme assoalho de tábuas, todo o interior da coluna era oco e
escuro (salvo pelos raios de sol que entravam pelo topo da coluna), segundo o
homem, esse tabuado teria sido montado para esconder a profundidade do túnel
que existia no interior da coluna. Ele me deixou na porta, desceu sobre o tabuado
(devia ser uns 50 cm abaixo da porta de acesso), abaixou-se, pegou uma das
tábuas que estava solta, levantou-a, me olhou e disse: “Esse é o túnel, menina! ” Era
muito escuro abaixo das tábuas, os raios de sol não chegavam até lá, não tinha
como definir profundidade ou a veracidade do que ele me mostrava.
Olhei para ele com os olhos arregalados e pensei, “Finalmente! ”. Não queria
acreditar em que meus olhos viam, enruguei a testa com sinal de que estava
pensando, perguntei a mim mesma se aquilo tudo não fazia parte de um teatro para
me convencer a não voltar mais ali, foi quando ele pegou um pedaço de reboco que
estava solto sobre as tábuas do assoalho e atirou no fundo do túnel, depois de
alguns segundos a pedra tocou o chão em um som abafado que ecoava. Fiquei em
silêncio por mais alguns segundos e em seguida perguntei: Quem fez? Então ele
disse que foram os Jesuítas. Quis saber onde aquele túnel ia dar, mas ele já não
soube responder.2
2 Sobre o referido túnel, trata-se de uma história muito presente no imaginário popular de
Vigia-Pará, alguns afirmam que o túnel nunca existiu e outros dizem ter visto de perto, que se tratava
de um túnel grande o suficiente para uma pessoa ficar de pé e que seguia subterraneamente por
baixo da cidade, com destino desconhecido, suas paredes eram rebocadas e era sem iluminação,
pessoas afirmam que o túnel teve sua entrada soterrada no início da década de 1990, não existem
dados oficiais sobre esse tema, no entanto moradores antigos apresentam depoimentos favoráveis a
existência do túnel, popularmente chamado de “sumidouro”. (VIGILENGA, 2017) in:
https://www.culturavigilenga.com/lendas-de-vigia
20
que não era dia de estudar História, traduzindo-se em um misto de frustração e mais
inquietação.
Ao ingressar na escola o aluno vem com uma carga de saberes baseado nas
suas experiências e mesmo no conhecimento empírico de seus familiares, de sua
comunidade e cabe a escola aprimora-los e estabelecer conexões com as
abordagens temáticas referentes ao ensino de modo geral.
21
Se ao invés de ser ensinada nas séries iniciais, por minha professora, ela
tivesse me proporcionado essa contextualização partida de meu presente para o
passado, teria de fato, me aproximado da História e feito de mim uma pesquisadora
sempre inconclusa (por querer saber sempre mais) e não uma adulta perdida entre
livros e gravuras. Essa abordagem é uma reflexão sobre como temos ensinado
nossos alunos no período do 1º ao 5º ano, que embora pareça não formar, mas é
absolutamente formador.
precisam, antes de tudo, obter informações sobre o meio em que vive para que
possa compreender sua história como parte de um grande conhecimento histórico
que ao longo do tempo irá adquirir.
O trabalho com a presença das fontes nas aulas de História dos anos iniciais
do Ensino Fundamental deve ser planejado a partir das seguintes questões: Como
tudo isso foi feito? Por quê? Por quem? De que forma foram usados? Como
influenciou diretamente a vida das pessoas envolvidas?" (URBAN e LUPORINI,
2015). Desse modo, o aluno se permite indagar e buscar explicações que saciem
seus questionamentos, interagindo assim com a História ativamente.
As fontes não são provas do passado, mas sim vestígios de evidencias que
nos permitem levantar hipóteses (URBAN e LUPORINI, 2015), isso deve ser
discutido em sala de aula para que os alunos compreendam que fontes não são
25
Trazer a compreensão que existem elementos além das gravuras e textos dos
livros que também são relevantes ao realizar uma pesquisa histórica, fontes diversas
com informações preciosas do que se espera compreender quanto elemento
histórico.
3 Em recente concurso de desenhos para alunos das escolas municipais de Colares, vários
desenhos foram produzidos a partir do imaginário dos ETs, como representação das narrativas
frequentes na Ilha, as crianças reproduziram o que ouvem desde seu convívio familiar até chegar na
escola. Algumas das imagens premiadas foram publicadas em banners e usados com propaganda de
um projeto cultural da cidade, a imagem do banner consta nos anexos deste estudo.
4O Jornal é um tipo de publicação periódica (diária ou não), com um conjunto de gêneros
textuais com teor informativo que partem da singularidade dos fatos para a universalidade,
associando a informação ao senso comum. (BENNETTE, 2002)
29
No dia 19 de maio de 1977, o jornal "O Liberal" publica a notícia de que dois
objetos voadores não identificados teriam se colidido no céu de Icoaraci-Pará, por
voltas das 21:30h do dia 17, causando um barulho ensurdecedor e formando uma
densa poeira rosa que se espalhou no céu e lá permaneceu por cerca de 20
minutos, o jornal relata que senhoras supersticiosas afirmaram que aquele seria o
prelúdio do fim do mundo, a anunciação do fim dos tempos. Havia sim alguns
céticos que diziam não ser nada além de foguetes e obra de descuido e
irresponsabilidade humana, no entanto, mesmo assim a situação trouxe medo e
insegurança aos moradores daquela região, “mulheres balbuciavam frases de
agouro afirmando ser um sinal de Deus” (O LIBERAL, 1977, p.24). Vários moradores
foram para a rua observar o fenômeno inusitado, porém ninguém soube dar uma
explicação que definisse com exatidão o acontecido. O jornal ressalta ainda que a
poucos dias da suposta colisão, um pescador teria avistado um estranho objeto
cortando os céus de Benevides-Pará, o que deu ênfase a possibilidade de ser uma
colisão entre dois objetos voadores não identificados.
Em Vizeu, moradores não saíam mais de suas casas a partir das 18h, “medo
duma lanterna com luz forte que voa pelo céu e vem sugar o sangue da gente até
deixar morto” (O LIBERAL, 1977, p.24). Moradores viviam aterrorizados por conta
dessa luz que ninguém sabia explicar, luzes essas que agora, supostamente faziam
30
vítimas fatais. Segundo o jornal, pelo menos duas pessoas morreram por conta dos
ataques das luzes, no entanto, ninguém dava informações concretas sobre as
possíveis vítimas.
“Era a luz do Diabo! Ela fazia doer muito, tirava toda a minha força. Eu sabia
que ela estava me matando e rezava pra Deus me ajudar. Mas parece que Deus
não me ouvia, E a morte vinha chegando” (O LIBERAL, 1977, p.16). Essas foram as
palavras de uma das vítimas do Chupa-chupa em Viseu, publicadas na Edição de O
Liberal, do dia 11 de julho de 1977, nessa edição o senhor João de Brito, da Vila de
Piriá (cerca de 14km da cidade de Viseu) conta a sua experiência com as mesmas
palavras que contou a seu pai, Tomás, e aos cerca de 400 moradores da vila,
segundo ele, após o ataque do Chupa-chupa fora acometido por uma doença que
estava acabando com sua vitalidade. A mesma experiência de João de Brito,
segundo o jornal O Liberal, foi vivenciada por outras dezenas de moradores da Vila
de Piriá, Viseu, de toda a área bragantina e às proximidades da fronteira Pará-
Maranhão.
Com a manchete “Luz dos mistérios volta aos céus do Maranhão” publicada
pelo jornal O LIBERAL do dia 14 julho de 1977 a situação não é diferente naquele
estado vizinho. Uma luz misteriosa foi vista por quase toda a população do município
de Cajapió, a apenas 62 km da capital, relatos assustados que narravam sempre a
presença de uma luz.
o jornal destaca que “em meados de maio último, uma luz misteriosa e muito
brilhante, surgindo repentinamente, provocou a morte de um homem a bordo de uma
embarcação, ancorada ao largo da Ilha dos Caranguejos” (O LIBERAL, 1977, p.19).
Agora os moradores temiam ainda mais por suas vidas.
As aparições são ditas comuns aos moradores das cidades, todos se referem
ao fenômeno como sobrenatural e inexplicável. Há quem diga que é o juízo de Deus
para os homens maus, há quem afirme que as luzes são sinais de que Deus está
vindo buscar os fiéis, também existem opiniões que atribuem o ocorrido aos
extraterrestres. Interpretações distintas para visões coletivas, os moradores e
testemunhas definem da forma que suas compreensões percebem as luzes e os
ataques, no entanto, a opinião que predomina tem fundamentos na religiosidade, o
assunto é visto como algo que excede o entendimento humano, possível de ser
explicado apenas de forma divina.
Na análise dos jornais, o que podemos perceber é que um jornal tem como
principal objetivo noticiar os fatos e informar os seus leitores e a sociedade em geral
e o que desponta das notícias veiculadas é um discurso de medo e premonições
acerca de uma suposta cobrança divina sobre a humanidade.
Ao chegar no local, jantou e dormiu cedo porque estava muito cansado depois
de um dia de trabalho; dormiu em uma rede no corredor da casa, próximo a janela, a
casa era de madeira, simples, mas de gente acolhedora. Segundo ele, os moradores
35
viviam em alerta e aterrorizados, por senso comum ninguém saía a noite de suas
casas por causa do chupa-chupa, os moradores da região que optavam por sair de
suas casas reuniam-se em lugares estratégicos e formavam grupos para aguardar a
chegada do chupa-chupa, esses grupos eram compostos por homens e mulheres,
em sua maioria adultos, alguns faziam fogueiras e batiam panelas na tentativas de
com a claridade e o barulho afugentar os aparelhos, enquanto isso outros membros
do grupo empunhavam armas de fogo e ficavam à espera das luzes a fins de alvejá-
las e assim abater os óvnis, tudo era válido para evitar que as luzes fizessem outras
vítimas.
"Todo mundo falava por aí que tinham as luzes que atacavam as pessoas e
chupava todo o sangue delas, que ninguém podia sair a noite se não era
atacado, eu desobedeci e saí para visitar a minha namorada, dormi na casa
dela e quando acordei já tinha sido chupado (risos)" (NARRADOR 1, 2017).
O narrador 1 diz que durante meses não foi capaz de sair de sua casa, não
conseguia trabalhar e tinha medo de olhar para o céu, foi difícil retornar à sua rotina
normal, porém mesmo tendo vivido momentos de terror diz que com o passar do
tempo aprendeu a conviver com isso e hoje consegue, inclusive, rir dessas
colocações de humor. No entanto, ao ser indagado se gostaria de repetir a
experiência que teve, ele diz que nem em sonho gostaria de viver novamente tudo
que viveu.
O narrador 1 faz uma observação atual que é no mínimo intrigante, ele diz
que ainda nos dias de hoje as luzes aparecem frequentemente em Colares, embora
não ataquem mais, elas ainda surgem repentinamente nos céus da Ilha e que
aparições são mais frequentes a partir do mês de julho, quando se inicia o verão e o
céu fica mais limpo e os detalhes nele ficam perceptíveis. Esse relato me fez meditar
nas reportagens de jornais lidas e sintetizadas nesse estudo, onde é fácil notar que
a partir do mês de julho de 1977 as manchetes acerca do chupa-chupa se tornaram
mais constantes e em múltiplos lugares.
5 Não existem elementos oficiais que comprovem a grande evasão de moradores, no entanto
as narrativas apresentam isso como um fato.
37
passou a ficar reduzido, visto que a cidade se mantinha da pesca e ninguém queria
mais pescar. A cidade estava em pânico, temiam por suas vidas.
Foi então que a FAB encaminhou para Colares uma equipe composta por
aproximadamente 6 oficiais, homens qualificados e equipados dos melhores
materiais de captura de imagem disponíveis na época para investigar o que estaria
acontecendo naquela região.
6 Embora tenha realizado várias buscas pelo documento citado entre muitos moradores e
órgãos públicos no município, não encontrei nada que pudesse evidenciar a referida fonte.
38
O mesmo assunto recebeu diversas leituras ao longo dos anos. Antes mesmo
de chegar ao depoimento direto dos narradores, busquei fontes jornalísticas para
39
Na análise específica dos jornais, pude observar que a maioria das pessoas
entrevistadas pelas fontes jornalísticas explicam os eventos ocorridos em 1977 pelo
viés da religião. É possível perceber essa colocação ao explorar os diversos relatos
de pessoas dizendo ser o juízo de Deus para os homens ou sinais do final do
mundo. Senhoras religiosas propagavam essa informação e conseguiam adeptos à
ideia. (O LIBERAL, 1977)
O temor era de ser deixado, excluído da recompensa digna dos homens bons
e justos, com base nisso, o discurso da religião predominava com a pregação do
arrependimento dos pecados ou a condenação eterna por intermédio das luzes que
atacavam.
Dentre essa massa cética podemos destacar os que fazem sátiras, atribuindo
sexualidade ao nome chupa-chupa, isso surge do fato de as luzes atingirem as
mulheres exclusivamente no seio esquerdo e os homens no pescoço,
desencadeando assim uma série de gozações.
7 A Revista Ufo é um periódico mensal, que se configura como uma publicação especializada
na área de ufologia, fundada em março de 1988 é, a mais antiga revista ufológica em atividade
regular em todo o planeta (site Revista UFO, 2017)
8 Ufologia (ou ovniologia) é o estudo de todas as hipóteses, evidências ou registros visuais
dos ufos. UFO é a sigla de Unknown Flying Objects que significa Objetos Voadores Desconhecidos.
É o mesmo que OVNI - Objetos Voadores Não-Identificados, de onde deriva a palavra "ovniologia".
SIGNIFICADOS. Significado de Ufologia. significados.com.br, 2017. Disponível em:
<https://www.significados.com.br/ufologia/>. Acesso em: 27 junho 2017.
41
comandar a Operação Prato, ele seguiu para a cidade de Colares com uma missão
investigativa, onde suas concepções pessoais não deveriam ser ativadas, visto que
ali a sua tarefa era uma questão de segurança nacional e estava encarregado de
desvendar o mistério que assolava a Ilha de Colares.
“Eles, seja lá quem fossem, mostravam ter absoluta certeza de onde nós
estávamos e o que fazíamos. Pareciam que nos procuravam, pois quando
menos esperávamos lá estavam, bem em cima da gente... Não mais do
que um mês depois de passarmos a conviver nos locais de aparições,
essas sondas começaram a vir sempre até nós. Às vezes, a gente se
deslocava de um lugar para o outro e lá elas iam acompanhando-nos quase
o tempo inteiro, como se tivessem conhecimento da nossa movimentação”
(HOLLANDA, 1997, apud site revista UFO, 1997)
42
Uma equipe médica foi destacada para Colares para auxiliar nos cuidados
aos atingidos pelas luzes, todos os dias pessoas chegavam em busca de socorro, a
possibilidade de uma alucinação coletiva foi levantada, mas logo as evidencias
desmistificaram essa possibilidade. Em Colares não foi registrado caso algum em
que a vítima chegasse a óbito.
Apenas na Edição 76, publicada em janeiro de 2001 é que a Revista Ufo volta
a se pronunciar sobre a morte do coronel, afirmando em um artigo escrito por Marco
Antônio Petit que o coronel teria se suicidado. Na época, surgiram muitas
especulações de que ele teria se suicidado por medo de “contar a verdade” sobre a
Operação Prato ou então teria sido executado por conta de suas revelações. A
Revista Ufo desmistifica isso ao afirmar que o coronel sofria, vários anos, de um
processo depressivo, que o havia levado antes a uma tentativa falha de suicídio e
esse processo se agravou levando-o ao suicídio consumado.
"A construção desses conceitos é importante, pois todos serão ampliados nos
anos seguintes, assumindo graus de complexidade cada vez maiores" (HIPÓLIDE,
2009, p. 19), ou seja, mesmo tendo carga horária reduzida, e não recebendo o
devido valor mediante as outras disciplinas, a história contribui ininterruptamente na
formação do aluno desde as séries iniciais desde questões simples como sujeito e
sociedade, até as séries posteriores com situações mais complexas sobre a
pluralidade cultural e o respeito às diferenças.
O ensino de história nas séries iniciais é o alicerce para o aluno obter um bom
desenvolvimento em questões mais complexas de cidadania e sociedade que
surgirão ao longo de sua vida, a partir do que se aprende nesse período podem-se
desenvolver alunos com grandes intenções investigativas futuras ou o surgimento
de alunos que se configuram como educandos que, a grosso modo de dizer,
"empurram com a barriga" e aprendem apenas o essencial para obter as notas
47
partir de uma concepção paraense, amazônica, ele entende uma realidade espacial
que engloba uma cultura brasileira.
"De maneira geral, aos sete anos, as crianças apresentam disposição diante
da proposta de aprendizagem e demonstram boa capacidade de atenção e
concentração. Entretanto, a capacidade de abstração não é igual a de
crianças com mais idade e assunto como tempo, sociedade e, cultura
podem se tornar enfadonhos se não forem trabalhados de modo dinâmico e
lúdico. Para que a construção do conhecimento se realize e para que haja
aprendizagem é preciso lançar mão de atividades concretas. Nesse sentido,
a leitura de fotos, a observação de obras de arte, o desenho e as pinturas,
as brincadeiras, a dramatização, e a criação de histórias são, entre outros,
recursos valiosos". (HIPÓLIDE, 2009, p. 19).
Nas séries iniciais o professor precisa desencadear uma busca por práticas
inovadas, aderir a uma modalidade de ensino contextualizado e dinâmico, onde o
aprender está sempre associado ao prazer pela busca do conhecimento de si
mesmo e de sua comunidade, uma curiosidade nata da criança sendo aguçada e
explorada com fins pedagógicos onde a própria criança será beneficiada com suas
descobertas e aprendizados ao longo desse ciclo da educação. Levando sempre em
50
contexto do aluno para uma colocação mais ampla da sociedade, por isso, nesse
primeiro momento, que são as séries iniciais, alguns dos principais objetivos do
ensino de história para esse ciclo é que o aluno compreenda as diferenças e
semelhanças sociais, econômicas e culturais existentes em seu convívio, bem como
as permanências e transformações sociais acorridas nos indivíduos e na localidade
onde vive (BRASIL, 1997).
O PCN traz como eixo temático para as séries iniciais a história local e do
cotidiano, sobre isso observe:
Assim, o ensino de história nas séries iniciais procura fazer com que o aluno
compreenda algumas semelhanças e diferenças sociais, as variações de cultura e
convívio existentes em sua localidade, os impactos que os elementos e fatos locais
causaram em sua formação e na formação de sua comunidade e que se perceba
como elemento de uma cultura local idiossincrático que é pertencente a uma cultura
global e pluralizada, adquirindo assim a capacidade de posicionar-se e de interagir
com o meio e com a sociedade. Por isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais de
História e Geografia propõem para o ensino de história nas séries iniciais esse
trabalho que surge do contexto do aluno proporcionando um autoconhecimento para
um conhecimento mais amplo.
54
Como relatei no primeiro capítulo deste estudo, fui uma criança curiosa e com
aspirações à pesquisa histórica. Encantada por esculturas, igrejas, monumentos e o
mistério sempre envolto nessa disciplina/ciência, amava a história antes mesmo de
saber que ela era a história. Quando me deparava com relatos de acontecimentos
antigos de minha cidade, de minha comunidade ou de minha família eu sempre
ouvia tudo com muita atenção e gostava de repassar isso para meus colegas de
escola e/ou de vizinhança. Uma vontade de aprender sempre mais e dividir com os
outros o que eu aprendia, uma construção de saberes que acontecia individual e
coletivamente mesmo que eu nem percebesse.
Aqui surge uma questão que deve ser considerada, o professor das séries
iniciais do ensino fundamental é graduado em pedagogia mas tem a obrigatoriedade
de trabalhar todas as disciplinas do currículo desse nível de ensino e não recebe
uma preparação aprofundada para o ensino de História e por muitas vezes, em
55
Minha professora nas séries iniciais não utilizou o dinamismo proposto por
Hipólide (2009) que defende um estudo dinâmico e contextualizado no ensino de
história, ao invés disso utilizava métodos enfadonhos e descontextualizados que me
faziam querer deixar de aprender. Utilizava textos longos que para mim não faziam
sentido algum.
Porém, penso por vezes que existem grandes possibilidades de ela ter feito
isso sem se dar conta da gravidade do que fazia, sem perceber os efeitos colaterais
causados por uma prática ineficaz, visto que nas disciplinas tomadas como
fundamentais, que são a língua portuguesa e matemática, ela era eficiente e foi
totalmente capaz de me alfabetizar, me fez aprender a ler e eu lia sem titubear. Aqui
desponta um questionamento a partir de Freire (1989) quando diz que “A leitura do
mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa
prescindir da continuidade da leitura daquele” (FREIRE, 1989, p. 9), a leitura da
palavra não pode eliminar a leitura de mundo da criança e tão pouco interromper. A
primeira leitura que se faz é a do mundo pequeno que nos movemos.
Olhando para minha professora nessa minha fase escolar, olho para mim
mesma enquanto professora das séries inicias que também fui/sou e acredito mais
ainda na possibilidade de um erro inconsciente pelo fato de eu mesma ter agido
assim por tempos sem compreender a dimensão de que meus atos poderiam estar
fazendo com que meus alunos perdessem o interesse pela história e pela pesquisa,
precisei chegar ao ambiente acadêmico, ou melhor, na construção do meu TCC que
seguiria outros contornos com a mesma temática sobre o chupa-chupa para me
conscientizar de toda essa realidade, precisei me confrontar com situações que me
fizeram refletir sobre o estudo de história e compreender que o estudo da mesma vai
para além de personagens históricos, vai para além de datas comemorativas, não
apenas o estudo, mas a docência também.
seus contornos na oralidade dos moradores dessa comunidade. A medida que fui
conhecendo os relatos dos moradores toda aquela curiosidade foi ressurgindo em
mim e me redirecionando para o estudo do fenômeno e ensino dele através da
disciplina de história nas séries iniciais.
no entanto a minha professora só queria trazer para sala de aula assuntos como as
plantações de café, não que o café não seja relevante, mas para minha realidade,
para mim que vinha do lar e estava cheia de conhecimentos advindos do senso
comum dos meus pais, tudo parecia sem sentido.
Proponho trazer para a sala de aula esses relatos e narrativas que são
interessantes para as crianças, possuem uma composição histórica e até mesmo
literária. O estudo de uma memória coletiva e não apenas de um indivíduo, uma
memória coletiva que segundo Silva; Silva (2004) é interessante ao historiador. Essa
memória possui relatos individuais na particularidade de cada família e que se
completam na coletividade da comunidade, visto que cada morador da ilha de
Colares teve sua experiência e proximidade do fenômeno chupa-chupa.
Aulas em que moradores antigos e/ou parentes das crianças fossem levados
para a sala de aula e recebessem a oportunidade de relatar suas experiências
vividas na década de 1970 trariam um dinamismo ao ensino de história e a partir do
grau de parentesco do narrador com alguma das crianças matriculadas na turma,
58
trazer a debate assuntos do currículo para o ensino de história, tais como família e
sociedade.
Uma bela iniciativa para trabalhar esse olhar pela narrativa e imaginário
popular foi tomada por uma escola da rede pública de ensino da cidade de Colares,
a Escola Balãozinho Vermelho que atende crianças do 1º ao 5º ano de ensino
Fundamental realizou um concurso de desenho entre seus alunos que revelou
grandes habilidades artísticas entre seus participantes e a força da cultura em torno
do fenômeno chupa-chupa que é frequente nos desenhos. As obras premiadas
foram o fundo para o banner usado na propaganda de um projeto cultural realizado
pela referida escola no município. Uma iniciativa muito eficiente para levantar
questões ligadas ao contexto histórico do aluno e que deveria ser imitada pelas
demais escolas do município.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou a análise do fenômeno
chupa-chupa ocorrido na cidade de Colares na década de 1970, mais intenso no ano
de 1977, através das narrativas de moradores e testemunhas dos eventos e a
possível utilização dessas narrativas como elemento didático no ensino de história
nas séries iniciais no município de Colares.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENNETTE, D. L. Em branco não sai: um olhar semiótico sobre o jornal
impresso diário. São Paulo: Codex, 2002.
UFO. site Revista Ufo. Revista Ufo, 1997. ISSN Uyrangê Hollanda - Coronel
rompe silêncio sobre Ufos. Disponivel em:
<http://www.ufo.com.br/entrevistas/coronel-rompre-silencio-sobre-ufos//>. Acesso
em: 22 junho 2017.
FONTES DOCUMENTAIS
ANEXOS
65
APÊNDICE
75
VISÃO DO ENTREVISTADO
10- Qual o sentimento que você tem ao lembrar de tudo que passou?
76