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Memória e Diversidade No Ensino-Aprendizagem de História Na Escola Isaura Baía em Mocajuba Pará
Memória e Diversidade No Ensino-Aprendizagem de História Na Escola Isaura Baía em Mocajuba Pará
Memória e Diversidade No Ensino-Aprendizagem de História Na Escola Isaura Baía em Mocajuba Pará
CAMETÁ- PARÁ
2013
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CAMETÁ - PARÁ
2013
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___________________________________________________________
Prof. Dr. Augusto Leal (UFPA)
_____________________________________________________
Prof. Dra. Benedita Celeste de Moraes Pinto. (UFPA)
CAMETÁ - PA
2013
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AGRADECIMENTOS
6
Agradeço a Deus pelo seu amparo nas horas decisivas, naquelas em que minha
fraca humanidade necessita de sua benevolência.
Agradeço aos meus familiares, são minha base, meus braços, meu tudo. Quando
chego em casa tudo está no seu devido caminho, porque vocês são minha razão de continuar.
Aos Professores de História Dr. Augusto Leal, Drª Benedita Celeste e meu
orientador Prof. Dr. Doriedson Rodrigues e aos demais professores que ministraram aula na
especialização.
Aos meus colegas de especialização com os quais aprendo e socializo
experiências.
A minha esposa Bernardina pelo seu amor, atenção e companheirismo.
7
RESUMO
A presente monografia teve como objetivo relatar uma experiência pedagógica realizada na
Escola Estadual de Ensino Médio Professora Isaura Baía no Município de Mocajuba Pará, no
sentido de se observar como se aplicam as lei 10.639/03; lei 11. 11.645 /08, as quais ressaltam
a necessidade de se estudar a história dos povos afro-brasileiros e indígenas. Do ponto de
vista teórico; autores como: Freire(1996), Pinto (2007), Rodrigues (2007), Hernandes (2008)
e Wedderburn (2005) serviram de base para este trabalho. Além da bibliografia que norteou a
pesquisa, apresentamos duas atividades, que foram selecionadas nas aulas de história, no ano
letivo de 2012, na turma M1MR02, sendo ainda . Deste modo, foi analisada uma pesquisa de
remanescente de quilombo do município de Mocajuba e outra pesquisa desenvolvida na
Comunidade Indígena Anambé no Município de Moju. É importante destacar que nos dois
relatos a utilização de recursos de informática educativa foram utilizados como elementos de
socialização da pesquisa. Com a análise do relatório, foi possível diagnosticar que atividades
que incentivam aos alunos a reconhecer elementos da cultura afro-brasileira e indígena em
suas localidades contribuem para o conhecimento de si e do contexto no qual estão inseridos.
As atividades desenvolvidas foram propostas como atividade avaliativa através de
encaminhamento de pesquisa nas localidades dos alunos que residem em comunidades
quilombolas e indígenas.
Palavras-Chave: Ensino de História- Diversidade- Memória.
8
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10
CAPÍTULO I - POR UM ENSINO-APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA VOLTADO
PARA A DIVERSIDADE ......................................................................................................15
1.1. POR UMA HISTÓRIA DAS MINORIAS, CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS........15
1.2. A QUESTÃO AFRO-BRASILEIRA ...........................................................................17
1.3. A QUESTÃO INDÍGENA ..........................................................................................19
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................46
REFERÊNCIAS......................................................................................................................47
10
INTRODUÇÃO
valorização e comprometimento com discussões que permeiem esta temática. Primeiro porque
faço parte desta cultura, minhas raízes são ribeirinhas e, sobretudo, pelo fato de que meus
alunos, embora a escola esteja na cidade, muitos descolam-se da área ribeirinha para vir à
escola.
A cada dia observamos o quanto somos muitas vezes expropriados desta nossa
condição, ou ainda, assumimos uma postura de negação destes saberes compreendendo que
apenas o que vem de fora consegue dar conta dos problemas que nos afetam. Não se deseja
com isso de trilhar uma tênue rede de se assumir uma postura xenofóbica, mas o que estamos
buscando expressar, longe de tal xenofobismo, é que tanto os saberes locais quanto os globais
podem nos ajudar a caminhar para uma educação que se constrói por uma pluralidade e não
por um etnocentrismo, considerando-se que não raro o ensino de história no Brasil destacou
apenas a cultura europeia, não que este continente não tenha a sua importância para os estudos
de história; entretanto, a valorização de um ensino que permeie os saberes locais é
fundamental para que a pluralidade cultural esteja presente em nosso cotidiano, basta
olharmos para livros didáticos e para a autores que discutem sobre a História do Ensino de
História.
Este estudo relata atividades aliadas à cultura local utilizando metodologias que
podem possibilitar a sua aplicação no intuito de valorizar saberes da região tocantina, suas
comunidades indígenas, remanescentes de quilombo, ribeirinhos3, os quais se destacam como
uma parcela considerável da população. Assim, além de relatar experiências, este trabalho
propõe atividades para além do livro didático, o que possibilita a inserção do contexto
1
A coleção de Gilberto Cotrim, a qual é utilizada no Ensino Médio em Mocajuba, apresenta somente a
Amazônia de um modo geral. Em nenhum momento cita municípios da região Tocantina, a saber Mocajuba,
Cametá, Baião, Limoeiro do Ajuru( conferir blog da Pastoral dos Pescadores disponível em:
http://cppnorte.wordpress.com/regiao-tocantina)
2
3
Segundo o relato da aluna Kelly Viana a localidade de Vila Vizãnia já foi contemplada como área quilombola
por instituições responsáveis(Conferir no relatório da pesquisa no capítulo 3)
12
Neste sentido, cada vez mais o ensino deve primar pela promoção da pesquisa; não se
pode pensar a educação sem a promoção de educandos capazes de se desenvolverem como
agentes primeiros de sua formação. Este trabalho busca apresentar algumas atividades que se
desenvolveram em um processo de ensino-aprendizagem de história voltado para as questões
locais, as quais trabalham diretamente com sujeitos que expressam em seu imaginário uma
tradição amazônica a partir de sua religiosidade, arte, pensamento, cultura, linguagem e
saberes que se fazem presentes numa sociedade complexa, os quais e que visam a seus
direitos como cidadãos participantes de contextos globalizantes. Para Rodrigues (2012, p. 40)
O saber, então, estaria ligado ao indivíduo, embora resultado de relações, quer com a natureza
quer com outros homens, servindo-lhe para resolver problemas do cotidiano, e, portanto, em
constante transformação, haja vista as diferentes necessidades vividas. Busca-se trabalha este
mesmo conceito neste trabalho uma vez que o saber produzido pelas comunidades aqui
pesquisadas são de extrema importância para a contextualização do ensino de história.
Essa perspectiva de ensino funda-se no pressuposto que opõe ao Há um equívoco de se
pensar que comunidades ribeirinhas são comunidades atrasadas e sem complexidade. Muito
pelo contrário, entendemos que as comunidades ribeirinhas possuem suas racionalidades,
modernidades e complexidades, cabendo também à escola trabalhar esses elementos como
forma de reconhece-las constituídas por sujeitos de história, cabendo ao ensino ajudar os
educandos a analisá-las numa posição de compreender o outro e a si mesmo nesse contexto
Amazônia de ilhas e estradas em que o ser social educando possa se encontrar.. Entendemos
então que as comunidades ribeirinhas são locais de intensa troca de saberes e de repasse
desses mesmos saberes no cotidiano. Como ressalta Feire (1996), a educação deve primar pela
autonomia como um modo de valorização dos educandos. No contexto educacional, contudo,
muitas vezes nossa aulas não primam pela contextualização local, levando os sujeitos ao não
reconhecimento de suas próprias histórias.
Além do mais, deve-se considerar que quando se fala em cultura amazônica, há de se
procurar perceber as contribuições dos agentes que dialogam com este espaço por meio de
atividades estabelecidas na política, na religião, na economia e especialmente no âmbito
cultural. Deseja-se, assim, com este trabalho:
- Relatar experiências de ensino de história contextualizado.
13
4
A emancipação, na perspectiva de Adorno, não se refere apenas ao indivíduo como entidade isolada, mas
fundamentalmente como um ser social. Ela é pressuposto da democracia e se funda na formação da vontade
particular de cada um, tal como ocorre nas instituições representativas. ( VIANA, p.2 )
5
Gramsci assinala o conteúdo da cultura. Ele concebe a cultura como um patrimônio reflexivo, emotivo e
intersubjetivo que caracteriza um determinado ambiente social. (ANGELI, 20011)
14
Por muito tempo o ensino de história primou pela visão positivista. O ensino era voltado
a narrativas de grandes batalhas realizadas pelos grandes heróis. A transmissão dos fatos era
feita apenas exaltando uma classe favorecida. Neste sentido, os professores de história
repassavam os conteúdos de história de modo bancário; havia a preocupação com datas, fatos,
e grandes nomes deveriam ser decorados e reproduzidos numa prova bimestral. Havia o
questionário que consubstanciava a prova escrita que, não raro, não dava espaço para projetos
de pesquisa local de modo a valorizar aspectos culturais afro-brasileiros e indígenas, os quais
eram lembrados somente como alguém excluído, sem uma problematização de questões mais
sérias em torno da discussão étnico racial, como a atuação destes num contexto de lutas e
sociabilidade. Não se deseja excluir esta história, uma vez que também existe a contribuição
de grandes personalidades, pensadores citados na historiografia. Entretanto, outros
personagens, outros sujeitos, são essenciais para o entendimento da trama histórica.
Não se deseja com esta constatação dizer que este método tradicional é um método que
não funciona e que nunca deveria ter sido usado. Que ninguém aprende por meio do “learn by
heart”, expressão em língua inglesa que quer dizer aprender de modo decorado. Pois os alunos
que irão passar por exames vestibulares e concursos sentem a necessidade de ter conceitos
sintetizados para discutir seus desdobramentos. O grande problema é a exaltação de uma
única nação em detrimento de outras. Os portugueses tem sua devida importância, para a
16
Deste modo, a cultura africana suscita nas aulas de história muitos valores até então
marginalizados de nossos cânones didáticos elegidos em nossas escolas. Pensar em
diversidade é assumir uma postura de diálogo com diversas culturas problematizando suas
contribuições para a formação de nosso povo, especialmente no que tange suas lutas e
conquistas de direitos.
1.2 - A Questão Afro-Brasileira
visualizado numa cena do filme Escritores da Liberdade 7, em uma cena, numa sala de
conceito A, quando a menina negra sempre é lembrada como alguém que tem o privilégio de
estar naquela sala, como se não fosse possível através de sua própria capacidade, mas apenas
por uma questão de bondade da instituição escolar. O filme, baseado em história real, se passa
numa escola da periferia norte americana. Nessa escola há segregação de classe social, pois
existem turmas onde estão selecionados os mais aptos em detrimento de turmas com alunos
que não conseguem chegar a conceitos de excelência. Aqui convém ressaltar a importância de
medidas emergenciais como as cotas raciais nas universidades brasileiras; entretanto, deve-se
trabalhar para que num futuro próximo não se tenha necessidade de cotas, mas através de uma
valorização da educação, que os estudantes possam cada vez mais ser incluídos nas escolas e
universidades públicas.
7
Filme: Escritores da liberdade (Original: Freedom Writers) País: EUA/Alemanha -
Gênero: drama. Classificação: 14 anos. Duração: 123 min. Ano: 2007. Direção: Richard LaGravenese .
Produção: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher. Elenco: Hilary Swank, Patrick Dempsey, Scott
Glenn, Imelda Staunton, April Lee Hernandez, Mario, Kristin Herrera, Jacklyn Ngan, Sergio Montalvo, Jason
Finn, Deance Wyatt, Vanetta Smith, Gabriel Chavarria, Hunter Parrish, Antonio Garcia.
19
significativo. Muitas vezes o professor se depara com alunos marcados por uma história de
preconceito, levando a uma não aceitação de sua própria condição de negro. É muito
perspicaz criar um diálogo que supere a estereótipos especialmente no que concernem a
fatores raciais. É necessário possibilitar o entendimento de que a diversidade biológica não é
impedimento para aquisição de conhecimentos. O que muitas vezes impede a inclusão social é
a ausência de uma educação emancipadora. Nas atividades a seguir buscou-se vislumbrar que
as comunidades de remanescentes quilombolas são locais de saberes essenciais para a sua
própria inclusão e que o conhecimento de sua identidade permite a mobilização social.
Quando vemos a escrita de livros didáticos, por exemplo, observam-se traços que
forçam os personagens indígenas a assumirem uma estética e comportamento da Europa.
Entretanto numa conquista mais recente os próprios indígenas resolvem assumir os escritos
20
sobre si mesmos, isto só foi possível devido lutas que levaram a uma atenção do governo e
sociedade letrada dando abertura para autores indígenas.
Pode-se perceber que por uma tradição histórica acadêmica ainda há um ranço da
produção de um texto sem problematização. Nas escolas o discurso é ainda do colonizador
deixando à margem a história afro-indígena. Em oposição a isso as leis 10.639/03 e a
11.645/08 são uma conquista por parte do movimento negro e indígena para que o
conhecimento acerca dos grupos que foram expropriados seja posto aos aluno de modo
contextualizado, fazendo uma transposição didática8 que permita o diálogo dos alunos com a
realidade vivenciada.
Escritores como Maia (2008), em seu texto “Que Fronteiras”, discute as referências a
autores europeus em detrimento de autores brasileiros/indígenas. Também Eliane Potiguara,
com a sua obra “A terra é a Mãe do Índio” (1989), apresenta a cultura indígena e sua lógica
diferenciada em relação à Mãe Terra9. Esta autores são intelectuais importantes que
desbravam um novo momento no continente latino-americano, são responsáveis por
congressos que discutem a identidade, multiculturalismo, uma literatura de combate, de
preservação da “Mãe Terra”, como ressalta Eliane Potiguara apud GRAÚNA (2002),
expressando que a literatura branca se apresentou de modo paternalista que desdobra assim
erros sucessivos sobre a concepção afro-indígena.
Sabe-se que os grupos indígenas ainda são pouco valorizados. Por outro lado, há um
grupo de pesquisadores de origem indígena preocupado em mudar esta realidade, pois já se
constata, através de políticas públicas de cotas, a inserção de indígenas nas universidades e
ainda a tentativa de organização de um partido político que tenha como objetivo o aumento de
garantias de políticas públicas indígenas. Assim como ressalta o site EBC sobre a criação de
um partido político indígena10.
Segundo Cunha (1992, p. 20), “uma história propriamente indígena ainda está por ser
feita [...] Ter uma identidade é ter uma memória própria”. Com este fragmento constata-se
que há muito trabalho a ser realizado. O índio cada vez mais deve ser motivado a ser agente
8
A transposição didática é o processo de adequar um conhecimento acadêmico para fins didáticos ao nível do
ensino básico.
9
A autora expressa a lógica indígena denominando a terra de mãe, uma vez que esta é sagrada para os indígenas.
10
Rio de Janeiro, 10 nov (Lusa) - Lideranças indígenas começaram a se reunir com objetivo de criar um partido
com representatividade em todo o território nacional, em iniciativa inédita no país. De acordo com Ary Paliano,
da etnia caingangue, região Sul, a ideia para a articulação de uma formação política indígena é antiga, mas
ganhou força principalmente após as últimas eleições municipais - realizadas em outubro deste ano - quando se
percebeu que a ausência de um partido único divide e enfraquece politicamente os indígenas.( 2012, p1):
Disponível em : http://www.ebc.com.br/cidadania/2012/11/liderancas-indigenas-articulam-criacao-de-partido-
politico. Acesso em 10 de outubro de 2013.
21
de sua própria história. Trazer os próprios indígenas para relatar suas experiências é
fundamental para registrar a memória, especialmente ouvir os indígenas mais idosos, aqueles
que possuem os saberes consolidados: língua, as expressões religiosas, os saberes da cura, a
tradição, não apenas para expressar um folclore, mas para entender que todos eles possuem
conhecimento que os fazem pertencer a uma comunidade que tem muito a ensinar também
para os participantes de um processo de escolarização. Criam-se vínculos, quebram-se
estereótipos. Entende-se que conhecimento pode ser qualquer saber materializado quer sejam
por estudantes, indígenas, garis ou professores11.
Neste sentido, cabe uma reflexão que auxilia a compreender que as sociedades
indígenas são comunidades que possuem sua complexidade. Não podem ser taxadas de
sociedades sem organização. Como já foi ressaltado, os índios participaram ativamente na
formação do Brasil. Um estudo mais profundo irá explicar que estes grupos foram decisivos
para a demarcação de fronteiras, uma vez que no período de colonização outros países como
França, Holanda, Espanha também fizeram suas incursões pelo território. Assim, os
portugueses contaram com o auxílio dos índios de modo que estes foram transformados em
súditos e automaticamente passaram a ser da coroa levando a uma demarcação para que os
outros pudessem ter um respeito pela demarcação territorial. Negociações, acordos,
documentos papais, fizeram parte deste processo, tendo os índios como grupos fundamentais
neste processo. Assim como escreve Fleck (2012, p. 13).
O estabelecimento dá um laço de confiança entre as duas culturas
favoreceu a aproximação entre os europeus e os indígenas. Deve-se,
contudo, levar em consideração o nível de tensão e de inimizade
existentes entre portugueses e indígenas decorrente da escravização do
índio e da posse da terra, para melhor compreendermos os fatores que
levaram os franceses a estabelecerem contatos mais cordiais como
gentio da terra.
Neste excerto, constatam-se tensões e laços por parte de europeus. O índio passa a ser
sujeito, pois sua relação com os europeus passa da escravidão à relação cordial para que o
território possa ser explorado. A história apresenta que num primeiro momento um território
que não foi valorizado. Somente depois os portugueses decidiram se estabelecer na terra, pois
a terra estava ameaçada de invasão por parte de outros países. Os indígenas possuíam sua
cosmologia própria decorrente de suas próprias experiências. Os portugueses possuíam outra
11
Observando a análise antropológica, autores com Frazer (1982) defendiam que o homem primitivo evoluiria
do conhecimento mágico, passando pelo conhecimento religioso até chegar no conhecimento científico. Em
oposição a este pensamento Lévi-Strauss (2008) enfatiza que estes saberes podem dialogar, conviver e serem
adquiridos por qualquer ser humano, independente de sua posição intelectual. Assim o conhecimento pode ser
valorizado independente de sua origem, quer seja sistemático ou não, quer seja acadêmico ou não.
22
forma religiosa. Deste modo, no encontro das duas culturas, tensões e diálogos foram
acontecendo. Neste sentido, a Inquisição em terras brasileiras aconteceu de modo que os
índios que tinham se tornados cristãos eram passivos de julgamento inquisitório. Assim como
destaca Júnior (2005, p.322):
A índia Suzana, também do serviço de Domingas Gomes, foi acusada por várias
pessoas de produzir feitiços. O capitão Amaro Pinto disse que, tendo em sua casa
uma escrava muito doente que deitava pelos narizes a modo de uma tripa, esta
acusara a índia Suzana, escrava de Domingos Gomes, de ter-lhe posto feitiço. A
índia Suzana se defendeu dizendo que os tais feitiços que havia dado a escrava do
capitão eram para que seus amantes lhe quisessem bem, (...)
12
Religião considerada dentro dos padrões dos novos movimentos religiosos, um dos aspectos principais é a
bricolagem como instrumento de fusão de várias religiões. Sua fundadora A própria origem do movimento
explica bem o seu caráter... A origem da "Nova Era" (New Age, em inglês), esta ligada ao
nome de Helena Petrovna Blavatsky, nascida na Rússia em 1851, naturalizada norte-americana
em 1874 e falecida em1891. (Disponível em: www.ultimasmisericordias.com.br/Pagina/3972/A-
NOVA-ERA-Religioes-seitas-doutrinas-e-filosofias-a-seu-servico-em-todo-o-mundo)
23
melhorias de saúde, educação, saneamento são pautas de ontem e de hoje. A partir de leis,
projetos políticos, discussões acadêmicas, inclusão de temática indígena na escola, estas
conquistas são fruto de todo uma história de mobilização indígena.
Não se pode pensar apenas na sua contribuição cultural para o país, a qual é de suma
importância. Pois nossa língua, culinária e arte estão imbricadas com o fazer do índio.
Entretanto, não se pode pensar a contribuição destes grupos somente neste aspecto. Pois
quando o índio luta por um espaço melhor de moradia, outras lutas vêm a reboque. Pensar as
manifestações de 201313, é um grande exemplo disso. Não se pode permitir um país de
grandes eventos, sem cooperar com o IDH (Índice do Desenvolvimento Humano) do mesmo.
Deste modo a luta indígena também se fez presente nas manifestações, quando visualizamos a
luta indígena que está ocorrendo devido à construção da hidrelétrica 14 que ameaça a terra dos
índios, maior patrimônio que eles possuem:
Decidimos desocupar o canteiro para mostrar que somos de paz, e que
o governo não precisa colocar a força policial para nos fazer cumprir
as decisões da Justiça. Saímos de lá, mas a nossa luta continua, vamos
persistir na defesa de nossos direitos. O governo está desrespeitando
muito a nossa Constituição. Enquanto eles não nos procurarem para
nos ouvir, nós não vamos parar. Vamos lutar até o fim”, bradou
Cândido Waro, presidente da Associação Pusuru, do povo
Munduruku. (CLARCK, 2013, p.1)
Dentre esses direitos a educação indígena passa a ser o “calcanhar de Aquiles”, pois é
a partir de uma educação indígena voltada para os índios e realizada por eles mesmos é que
outros direitos virão consequentemente. Um exemplo que pode ser vislumbrando nesta
perspectiva é a trajetória da educação indígena em Roraima, assim como destacou Silva
(2000, p. 33):
Apontou-se também a necessidade de uma maior articulação e
cooperação entre a Divisão de Educação Indígena, responsável pelas
políticas indigenistas do Estado, e a Opir, que representa o movimento
indígena e suas políticas no caso, as políticas indígenas de educação
escolar.
que se aliam a esta luta de melhorias em prol de sujeitos que historicamente não estiveram
presentes nas pautas de discussões políticas. Este processo deve ser pautado numa
perspectiva de entender os índios não como vítimas, mas como sujeitos capazes de se
desenvolver com cidadãos partícipes da pauta políticas.
Neste trabalho entendemos que o educador deve ser responsável por desvelar o papel
do índio como um agente sujeito da história brasileira, socializar nossos estudos com colegas,
promover encontros que facilitem esta discussão sobre o índio no ensino-aprendizagem de
literatura, história, línguas, dentre outras disciplinas, pois é um tema que merece
planejamento, estudo e ação para que realmente as leis possam ser cumpridas
satisfatoriamente. Foi esse o pressuposto que consubstanciou nossas análises, a partir da
experiência por nós desenvolvida, junto a discentes do ensino médio e comunidade analisada.
Este capítulo pretende refletir sobre as Orientações Curriculares para Ensino Médio
(2006), enfatizando o que as diretrizes para o Ensino de História preveem:
Valorizar nossa cultura é reconhecer que somos capazes de nos desenvolver como
pessoa humana capacitada e vivenciar cada vez mais novos momentos em direção a uma
totalidade de uma formação de identidade, pois, segundo as estatísticas,assim como ressalta
o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais Para Educação
das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana.
Isso equivale dizer que a escola é um local de trânsito de vários saberes e que a
convivência entre os saberes começa a partir da promoção de aulas que viabilizam uma
formação integral que reconheça e promova a interseção da história e cultura afro-brasileira.
Pois este mesmo Plano acima citado destaca a inclusão também da história indígena.
Neste trabalho apenas uma aluna narrou sobre seu povo, mas acredito foi de grande
importância para o trabalho, uma vez que percebi que estava satisfeita com a valorização
dadas a sua gente e a seu povo, daí a:
As leis, portanto, complementam-se e sugerem a presença dos negros índios não com
agentes passivos de uma história, mas como agentes que dinamizam o processo histórico no seu
cotidiano. Fazer uma cartografia dos saberes indígenas e negros é também valorizar o ambiente
15
Disponível em: concurso.consulplan.net/Inscricao/Inscricao.aspx
27
Visualiza-se assim que ainda há muito trabalho a ser desenvolvido, pois em sua
maioria a população brasileira é constituída pela raça negra 42,3% totalizando assim uma
necessidade cada vez maior de práticas educativas que norteie as questões étnicas raciais.
Neste estudo observamos ainda que existe uma certa valorização dos ribeirinhos por serem
alunos mais atenciosos e dedicados. No entanto há que se verificar com são justificados esses
valores, há que se ter cuidado de não superestimar ou valorizarmos alunos que não buscam
interagir em sala de aula, permitindo apenas metodologias bancárias com ressaltou Freire
(1996) em detrimento de metodologias que primem pela pesquisa e pela autonomia.
Neste sentido é necessário pensar a figura dos Griots 16, como aqueles que na África
foram responsáveis de salvaguardar a memória do povo. Quando se propõe uma pesquisa oral
no âmbito educacional, estes agentes nos vem como modelos de patrimônio oral, como frisou
Hernandes (2008, p.16).
Mas afinal quem são os gritots? São trovadores, menestréis,
contadores de história e animadores públicos para os quais a disciplina
da verdade perde rigidez, sendo-lhe facultada uma linguagem mais
livre. Ainda assim sobressai o compromisso com a verdade, sem o
qual perderiam a capacidade de atuar para manter a harmonia e a
coesão grupal, com base em uma função genealógica de fixar as
metodologias familiares no âmbito de sociedades tradicionais. (...).
Sua função é também o desenvolvimento extraordinário de estruturas
de mediação que restabelecem a comunicação numa sociedade em que
as relações sociais parecem todas marcadas por considerações de
hierarquias, autoridade, etiqueta, deferência e referência.
A figura dos “griots” nos auxilia num embasamento teórico para compreender o papel
da memória na sociedade africana bem como entre a sociedade amazônica. O papel dos
contadores de histórias, os mais idosos de uma região que guardam em suas lembranças
tempos descortinados de vida, de rica experiência.
Para os índios não é diferente. As populações tradicionais indígenas conseguiram
manter sua cultura através da oralidade. De geração para geração os costumes foram passados
através da vivência e da oralidade. A escrita não fazia parte, deste processo. Pensar em
memória local indígena, é sobretudo pesquisar com os índios mais antigos, os quais ainda
insistem em manter a tradição, para poder se aprender através das cosmologias próprias desta
cultura marcada pela palavra com o grande património de seu povo. Os mitos de origem que
agregam a sua religiosidade, a prática xamânica que se estabelece também pela palavra.
Geralmente quando um índio nasce, seu nome é registrado de acordo com sua divindade, a
qual é consultada pelo Pajé em uma viagem xamânica.
Para Cabrini (2004, p. 43):
16
Griot é como são chamados, em alguns povos da África, os contadores de histórias. Possuem uma função
especial que é a de narrar as tradições e os acontecimentos de um povo. O costume de sentar-se embaixo de
árvores ou ao redor de fogueiras para ouvir as histórias e os cantos, perdura até hoje. Os griots também são
músicos e muitas vezes as narrativas são cantadas. O Império Mali, sob o comando de Soundjata Keita, por volta
do século XIII confere importância notável a esses sábios. A construção da história de base oral é marca dos
povos africanos antigos e o griot tem papel fundamental em sua estruturação. ( Disponível em:
http://ensinarhistoria.blogspot.com.br/2013/05/quem-sao-os-griots.html).
29
Para fazermos uma adequação destes saberes é necessário dialogar de modo respeitoso
com as memórias culturais dos africanos. Estas se apresentam como contribuintes da
formação humana do nosso Brasil. Muito do que somos, pensamos e temos se mistura com
esta tradição herdada desde que se aportaram em nossas terras esta população.
30
17
O histórico acima foi baseado no histórico do Projeto Político Pedagógico da Escola Isaura Baía, na
construção do PPP da Escola.
31
dos peixes que anteriormente eram capturados por aqueles pescadores, afetando assim o seu
meio de vida.
O setor terciário é bastante dinâmico porem pouco diversificado, sendo que a quase
totalidade dos estabelecimentos relativos ao subsetor comercial tem se voltado
preferencialmente para a comercialização de produtos alimentícios, agropecuários e
extrativos, bebida e fumo, com presença significativa de estabelecimentos de porte varejista,
que são via fluvial, o que eleva o preço final do produto ao consumidor.
A Escola Estadual de Ensino Médio Prof.ª Isaura Baía está localizada na Rua Manoel
de Souza Furtado, 1133. Começou a funcionar no ano de 1989, para atender aos alunos dos
cursos de Administração e Magistério. Com a criação do ensino regular em 1989, passaram a
funcionar os cursos de Magistério e Educação Geral.
Fonte- Blog da Escola (disponível em: escolaisaurabaía.blogspot.com. Acesso em: 25 de outubro de 2013)
A escola foi autorizada pelo Conselho Estadual de Educação no ano de 1999 através da
Resolução nº 376 e reconhecida no ano de 1999 através da Resolução nº 376, tendo sido
reconhecidos os cursos de Educação Geral – Área de Ciência Humana e Magistério –
Exercícios de 1ª a 4ª séries.
Hoje, 2013, a escola conta com 1.715 alunos matriculados, funcionando o Ensino
Médio Regular, Modular (localidades de Mangabeira e Tambaí Miri) e a EJA – Educação de
Jovens e Adultos.
Acredita-se que ainda há muito que fazer, especialmente a ampliação do diálogo com
outros professores de outras disciplinas, uma vez que que as leis de caráter étnico racial
35
Ou seja, há necessidade de se trabalhar cada vez mais conteúdos que façam referência
direta à história e à cultura afro-brasileira, por meio da história, literatura e educação artística,
de modo que os sujeitos possam reconhecer-se no outro, criando-se uma alteridade de respeito
e luta pela mediação das diferenças, sem que isso implique a negação dos problemas político-
sociais que acometem a todos os sujeitos sociais que atuam na realidade brasileira e mundial.
18
Turma: Médio, primeiro ano, manhã, regular, número 02.
36
Município, sem muito tempo para planejamento e ainda a realidade de turmas lotadas e alunos
muitas vezes sem motivação. No entanto, não aceito fazer uma aula de qualquer maneira, fico
me perguntando o que fazer para motivar, o que fazer para não cair na rotina. Queria
surpreender. Fazia o exercício do professor reflexivo19, aplicava materiais, conteúdos,
metodologias e depois me avaliava para ver no que falhei e no que preciso melhorar. Afinal
de contas a academia tem este poder de nos deixar inquieto.
Entretanto, foi através de uma reflexão que fiz sobre minha prática que resolvi mudar
a forma de avaliar na prova de recuperação. Propus uma pesquisa aos alunos para que estes
pesquisassem sobre suas localidades. Os mesmos aceitaram a proposta e comecei acompanhar
o processo de pesquisa em sala de aula perguntando e tirando dúvidas em relação ao trabalho
realizado. Pedi que enviassem por e-mail suas pesquisas. Os e-mails começaram a chegar. Ao
analisar os textos, percebi que tratavam de uma pesquisa segura, com nomes de pessoas
idosas e com auxílio de professores que também disponibilizaram material como fotografias,
dentre outros arquivos. Percebi o quanto não conhecia meu próprio município e vislumbrei
uma possibilidade de registro deste trabalho. A seguir estão as pesquisas feitas pelos alunos,
os quais, em formal de “survey”21 fizeram um mapeamento das localidades que eles moram.
19
Segundo Nunes (2010, p.1), “apoiado nos pressupostos do pensamento de Dewey, em particular a
conceitualização de experiência, Schön formula a sua perspectiva em torno de três aspectos: reflexão da prática,
reflexão sobre a prática, e sobre a reflexão sobre a prática”. Para ele, o professor possui um conhecimento
adquirido na prática, e o utiliza para a solução de diferentes questões.
20
Trata-se da segunda avaliação bimestral da Escola Isaura Baía da disciplina de História.
21
A palavra survey significa pesquisa breve em língua inglesa.
37
Acredito que os jovens podem construir e reconstruir seus saberes, para isso permitir
que eles produzam seus textos, oriundos de sua localidades, é de fundamental importância.
Assim como destaca Rodrigues (2007, p. 87):
Num primeiro momento a aluna faz uma abordagem histórica do lugar, explicando a
origem do nome da localidade de Santo Antônio do Viseu. Observa-se uma associação do
nome do lugar com a cultura vivida neste local
Num outro relato a discente apresenta os objetivos do trabalho, a metodologia, e os
sujeitos da pesquisa. (idem)
O presente trabalho apresenta de maneira clara e objetiva a história da
vida dos moradores e da localidade quilombola de vila Vizânia onde
mora município de Mocajuba-Pará destaca os diversos aspectos
relacionados à cultura e ao modo de vida dos moradores e por meio
deste, constata como a cultura de um povo é constituída, reconstituída
e transmitidas para as gerações futuras através do conhecimento
adquirido ao longo de sua história. Nesse sentido, esse estudo foi
realizado através de pesquisas, depoimento de moradores mais idosos,
documentos antigos, fotos e produção da história de vida dos
moradores.
Neste momento, observa-se que a mesma foi orientada pelo professor da disciplina e
também por educadores de sua comunidade, demonstrando sua capacidade de busca e
autonomia frente à proposta de atividade.
Neste fragmento da pesquisa da discente Kelly Veiga, constata-se o laudo que oferece
o parecer de comunidade quilombola. Neste aspecto, reconhece-se que os moradores possuem
em sua trajetória uma história marcada pela influência dos negros que são de origem cabana e
que por conta das fugas povoaram as margens do Rio Tocantins, formando vários quilombos
como espaço de resistência.
Além da aluna anotar suas impressões do lugar, também utilizou recursos fotográficos,
que decorrem utilização de celular. Neste aspecto convém ressaltar que as tecnologias podem
servir de recurso para atividades de história; num momento em que o espaço urbano vive com
intensas modificações, os registros fotográficos auxiliam os alunos neste sentido. Adiante
observamos o registro de duas fotos da capela do lugar.
39
Na dimensão educacional, a aluna traz a foto de duas escolas, as quais são típicas
destes locais. Feitas em madeira, sem estruturas mais arrojadas. É importante frisar, que
nestas escolas, que atendem as crianças ribeirinhas, há normalmente dois profissionais, ou
apenas um para trabalhar com educação infantil e ensino fundamental, na modalidade de
multisseriado. Além de fazer o trabalho de docência, também exercem o trabalho de gestor da
escola e ainda de merendeiros, o que acarreta uma sobrecarga de funções, assim como ressalta
a aluna.
Neste momento a aluna traça um panorama histórico das escolas que funcionaram na
localidade, destacando os nomes das mesmas e seus respectivos professores, ainda se observa
a intervenção do poder público na fala da aluna.
22
Segundo relatos de moradores esta festa acontece anualmente em honra a Santíssima Trindade.
41
Nos aspectos culturais a aluna faz uma descrição de expressões utilizadas para a
comunicação entre os moradores. E esta fala é mais utilizadas pelos moradores idosos do local
conforme tabela abaixo.
Alguns saberes são de fundamental importância para a saúde dos moradores assim
com ressalta a discente:
A aluna ainda descreve os produtos e suas funções curativas, saberes que ainda fazem
parte dos tratamentos de saúde locais. Esta tradição é muito comum nas cidades ribeirinhas,
costuma-se receitar chás com as ervas para uma variedade de doenças da região. Costuma-se
também aplicá-las através de benzeções, ou ainda como emplastos em locais atingidos por
mordidas de animais.
Esta pesquisa sobrea a Comunidade Indígena Anambé foi realizada pela aluna Mainha
Ampurã. Nas aulas, observei pela chamada o nome de Mainha e seu sobrenome. Aproximei-
me e perguntei de onde ela era. Ela me disse que era de origem Anambé. No período da
proposta do trabalho, fiz questão de dizer que seu trabalho era de suma importância para que
se contemplassem os objetivos da pesquisa. O trabalho não veio com fotografias, mas o texto
apresenta muitos dados imprescindíveis sobre os Anambés. A escola Isaura Baía recebe
alunos oriundos deste grupo indígena.
44
Ainda falando da história de sua gente a aluna descrever com detalhes a origem do
povoado indígena.
Trazer o aspecto econômico do grupo foi de fato fundamental na fala de Mainha, uma
vez que a aluna consegue realizar uma pesquisa enfocando vários elementos da comunidade
indígena. Pois os anambés vem sofrendo forte influência de branqueamento, dando lugar a
atividades da sociedade envolvente. Não se pode pensar que isto é de todo negativo, pois
todas os povos não vivem mais isolados, fazem o processo de transculturação. O que ocorre é
que os saberes como língua eculinária muitas vezes são desvalorizados.
Nestes sentido a atividade de pesquisa pela aluna indígena garante uma relação de
valorização de sua própria cultura com um fator de afirmação identitária e ao mesmo tempo o
reconhecimento de que seu povo possui saberes tradicionais que garantem a manutenção dos
princípios culturais de sua gente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência educativa traz para o contexto escolar novos desafios. A cada projeto de
ensino, busca-se inovar. Refletir sobre nossa ação leva-nos a repensar, a caminhar de modo
mais seguro. O trabalho acima relatado constitui-se como um novo momento que para mim
foi de extrema importância tendo em vista modelos arcaicos de ensino 23 que embora ainda
tenhamsuas contribuições abrem espaço para possíveis remodelagens. É um desafio constante
tendo em vista os recursos parcos, programas de conteúdos a vencer. No entanto, com
ousadia, vontade de inovar, parcerias e, sobretudo, o engajamento de nossos alunos é possível
realizar novos projetos que dei conta de novos momentos no Brasil.
A lei 10.639/03 e a lei 11.645/08 estabelecem este novo momento, pois marcam
diretrizes de acesso à cultura afro-brasileira e indígena dentro da escola. Na região tocantina,
mais especificamente em Mocajuba, encontra-se uma educação permeada pelo número
crescente de jovens de áreas ribeirinhas e do campo que majoritariamente são muitas vezes
desapropriados de seus próprios saberes.
23
Estes modelos referem-se a pedagogia bancária analisada por Freire (1996)
47
REFERÊNCIAS
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Editora Cortez, 2005.
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Brasiliense, 2004.
COSTA, Maria Suely. Literatura Afro-Brasileira e Negritude. Uma experiência de
leitura. In: LIMA, Tânia; NASCIMENTO, Isabel. OLIVEIRA, Andrey (orgs). GRIOTS-
culturas africanas: linguagem, memória, imaginário. 1 ed. NATAL: LUCGRAF, 2009.
CARVALHO JÚNIOR, Almir Diniz de. “Índios Hereges”. In: Índios cristãos: a conversão
dos índios na América Portuguesa( 1653-1769). Campinas: Tese de doutorado (História),
UNICAMP, 205, pp. 321-67.
CLARCK, Natália. Índios desocupam Belo Monte. Site Green Peace Brasil . Disponível em:
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/ndios-desocupam-belo-monte-mas-luta-persiste/
blog/45096/. Acesso no dia: 29 de novembro de 2013.
SILVA, Rosa Helena Dias da. Escolas em movimento: trajetória de uma política indígena
de educação. Cadernos de Pesquisa, nº 111, pp. 31-45, 2000.