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Memória e Diversidade No Ensino-Aprendizagem de História Na Escola Isaura Baía em Mocajuba Pará

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


FACULDADE DE HISTÓRIA
ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA
GUILHERME LUÍS MENDES MARTINS

MEMÓRIA E DIVERSIDADE NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA NA


ESCOLA ISAURA BAÍA EM MOCAJUBA-PARÁ

CAMETÁ- PARÁ
2013
2

GUILHERME LUÍS MENDES MARTINS

MEMÓRIA E DIVERSIDADE NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA NA


ESCOLA ISAURA BAÍA EM MOCAJUBA-PARÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade


de História do Campus Universitário do Tocantins/UFPA-
Cametá como exigência parcial para a obtenção do Grau
de Especialização em História e Cultura Afro-Brasileira e
Indígena , sob a Orientação do Prof. Dr. Doriedson
Rodrigues (UFPA)

CAMETÁ - PARÁ
2013
3

GUILHERME LUÍS MENDES MARTINS

___________________________________________________________
Prof. Dr. Augusto Leal (UFPA)

_____________________________________________________
Prof. Dra. Benedita Celeste de Moraes Pinto. (UFPA)

Prof. Dr. Doriedson Rodrigues. (UFPA)Orientador

CAMETÁ - PA
2013
4

A todos os que trabalham por uma educação emancipadora


5

Eu vou tocar minha viola, eu sou o negro tocador. O negro


canta deita e rola lá na senzala do Senhor. Dança aí negro
nagô, dança aí negro nagô. Dança aí negro nagô. O negro
mora em palafita não é culpa dele não senhor a culpa é da
abolição que veio e não os libertou. Dança aí negro nagô,
dança aí negro nagô. Dança aí negro nagô. Tem que
acabar com essa história que negro é inferior, o negro é
gente e quer escola, quer dançar samba e ser doutor.
Dança aí negro nagô, dança aí negro nagô. Dança aí negro
nagô.( PJ e Raiz)

AGRADECIMENTOS
6

Agradeço a Deus pelo seu amparo nas horas decisivas, naquelas em que minha
fraca humanidade necessita de sua benevolência.
Agradeço aos meus familiares, são minha base, meus braços, meu tudo. Quando
chego em casa tudo está no seu devido caminho, porque vocês são minha razão de continuar.
Aos Professores de História Dr. Augusto Leal, Drª Benedita Celeste e meu
orientador Prof. Dr. Doriedson Rodrigues e aos demais professores que ministraram aula na
especialização.
Aos meus colegas de especialização com os quais aprendo e socializo
experiências.
A minha esposa Bernardina pelo seu amor, atenção e companheirismo.
7

RESUMO

A presente monografia teve como objetivo relatar uma experiência pedagógica realizada na
Escola Estadual de Ensino Médio Professora Isaura Baía no Município de Mocajuba Pará, no
sentido de se observar como se aplicam as lei 10.639/03; lei 11. 11.645 /08, as quais ressaltam
a necessidade de se estudar a história dos povos afro-brasileiros e indígenas. Do ponto de
vista teórico; autores como: Freire(1996), Pinto (2007), Rodrigues (2007), Hernandes (2008)
e Wedderburn (2005) serviram de base para este trabalho. Além da bibliografia que norteou a
pesquisa, apresentamos duas atividades, que foram selecionadas nas aulas de história, no ano
letivo de 2012, na turma M1MR02, sendo ainda . Deste modo, foi analisada uma pesquisa de
remanescente de quilombo do município de Mocajuba e outra pesquisa desenvolvida na
Comunidade Indígena Anambé no Município de Moju. É importante destacar que nos dois
relatos a utilização de recursos de informática educativa foram utilizados como elementos de
socialização da pesquisa. Com a análise do relatório, foi possível diagnosticar que atividades
que incentivam aos alunos a reconhecer elementos da cultura afro-brasileira e indígena em
suas localidades contribuem para o conhecimento de si e do contexto no qual estão inseridos.
As atividades desenvolvidas foram propostas como atividade avaliativa através de
encaminhamento de pesquisa nas localidades dos alunos que residem em comunidades
quilombolas e indígenas.
Palavras-Chave: Ensino de História- Diversidade- Memória.
8

ABSTRACT

This monograph aims to report a pedagogical experiment performed at School Professora


Isaura Baía in Mocajuba- Pará town , in order to observe and how to apply the laws
10.639/03;11.645 / 08, which emphasize the need to study the history of African - Brazilian
and Indigenous peoples . From a theoretical perspective, the authors , Freire (1996 ) , Pinto
(2007 ) , Rodrigues (2007 ) , Hernandez (2008 ) and Wedderburn (2005 ) formed the basis for
this work . Besides the bibliography that guided the research, we present two activities
selected in history classes during the school year 2012 in the class M1MR02 . Thus , we
analyzed a survey of remaining Quilombo in Mocajuba , and other research in Anambé
indigenous Community in Moju, . Importantly, in both accounts the resource utilization of
educational computing was used as an element of socialization research . With this analysis
of the report , it was possible to diagnose activities that encourage students to recognize
elements of African -Brazilian and indigenous culture in their localities , contribute to the
knowledge of themselves and the context in which they are inserted. The activities are
proposed as evaluation to do a research in student’s quilombola and indigenous communities
Keywords : History Teaching- Diversity - Memory.
9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10
CAPÍTULO I - POR UM ENSINO-APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA VOLTADO
PARA A DIVERSIDADE ......................................................................................................15
1.1. POR UMA HISTÓRIA DAS MINORIAS, CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS........15
1.2. A QUESTÃO AFRO-BRASILEIRA ...........................................................................17
1.3. A QUESTÃO INDÍGENA ..........................................................................................19

CAPÍTULO II- ENSINO DE HISTÓRIA NO ENSINO MÉDIO......................................25


2.1- ENSINO DE HISTORIA E SUAS DIRETRIZES NO ENSINO MÉDIO.....................25
2.2- MEMÓRIA LOCAL E ENSINO DE HISTÓRIA.............................................................27

CAPÍTULO III - RELATO DE ATIVIDADES..................................................................30


3.1- A CONTEXTUALIZAÇÃO DO LÓCUS DE PESQUISA............................................30
3.1.2- A ESCOLA ISAURA BAÍA .........................................................................................34
3.2- ATIVIDADE DE ENSINO: MEMÓRIA DAS LOCALIDADES QUILOMBOLA E
INDÍGENA...............................................................................................................................35
3.2.1- PESQUISA SOBRE A COMUNIDADE DA VILA VIZANIA....................................37
3.2.1- PESQUISA SOBRE A COMUNIDADE INDÍGENA ANAMBÉ................................43

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................46
REFERÊNCIAS......................................................................................................................47
10

INTRODUÇÃO

O presente trabalho narra minhas experiências docentes desenvolvidas na Escola


Estadual de Ensino Médio Isaura Baía, no ano letivo de 2012, período em que tive a
oportunidade de lecionar em diversas turmas, mas como recorte de aplicação das atividades
relatadas nesta monografia, selecionei o ensino-aprendizagem de História para a turma
M1MR2, composta em sua maioria por alunos oriundos das diversas localidades do
município. O trabalho foi desenvolvido com todos os alunos, mas fiz um recorte escolhendo
as pesquisas realizadas em uma comunidade ribeirinha a qual possui uma população de
remanescente quilombola e ainda uma pesquisa na comunidade indígena anambé;
respectivamente na Localidade da Vila Vizânia em Mocajuba e na Comunidade Indígena
Anambé no Município do Moju. Trata-se o presente trabalho de uma metamemória sobre o
fazer pedagógico por nós realizado, articulando as questões afro-brasileiras e indígenas às
questões de identidade, memória, saber docente e comunitário.
Para isto, explico a decisão de escolher tal temática a partir da socialização de
minha formação como educador de História, pois, quando fiz minha graduação em História, a
temática da memória me afetou de modo positivo. Ao lançarmos o livro Cotidiano e Memória
em Mocajuba tivemos a oportunidade de registrar aspectos até então sem publicação sobre a
história do município. A partir de uma aula de Teoria de História I, o Professor Agenor
Sarraf, atualmente Doutor vinculado ao Departamento de Antropologia da Universidade
Federal do Pará, foi um grande incentivador deste tipo de metodologia em que, a partir da
história oral. Entramos em contato com os saberes postos pelos autores locais mediante
processo histórico vivido. Atualmente, com a contribuição de professores como Augusto Leal,
Benedita Celeste e Doriedson Rodrigues – docentes do Campus Universitário do
Tocantins/CAMETÁ-UFPA, que fizeram parte do quadro de especialização em História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena da Universidade Federal do Pará-Campus Cametá, percebo
o quanto minha prática educativa ainda pode dialogar com esta metodologia.
Neste sentido, decidi registrar um relato de experiência que para mim teve um
sentido novo no meu planejamento, uma vez que a seleção da temática sobre o negro e o índio
é de extrema importância especialmente com a orientação das leis 10.639/03 e 11. 11.645 /08,
as quais preveem o ensino de História aliados à cultura negra e indígena como parte integrante
da cultura brasileira. Deste modo, como educador vinculado à Secretaria Estadual
ministrando a disciplina de História na Escola Isaura Baía, percebi a necessidade de uma
11

valorização e comprometimento com discussões que permeiem esta temática. Primeiro porque
faço parte desta cultura, minhas raízes são ribeirinhas e, sobretudo, pelo fato de que meus
alunos, embora a escola esteja na cidade, muitos descolam-se da área ribeirinha para vir à
escola.

A cada dia observamos o quanto somos muitas vezes expropriados desta nossa
condição, ou ainda, assumimos uma postura de negação destes saberes compreendendo que
apenas o que vem de fora consegue dar conta dos problemas que nos afetam. Não se deseja
com isso de trilhar uma tênue rede de se assumir uma postura xenofóbica, mas o que estamos
buscando expressar, longe de tal xenofobismo, é que tanto os saberes locais quanto os globais
podem nos ajudar a caminhar para uma educação que se constrói por uma pluralidade e não
por um etnocentrismo, considerando-se que não raro o ensino de história no Brasil destacou
apenas a cultura europeia, não que este continente não tenha a sua importância para os estudos
de história; entretanto, a valorização de um ensino que permeie os saberes locais é
fundamental para que a pluralidade cultural esteja presente em nosso cotidiano, basta
olharmos para livros didáticos e para a autores que discutem sobre a História do Ensino de
História.

Quando olhamos para materiais didáticos, mais especificamente para livros


didáticos, deparamo-nos com problemáticas reducionistas. Pouco se dá abertura para uma
valorização da história local1. Neste sentido, este trabalho visa registrar atividades de ensino-
aprendizagem de história, partindo do pressuposto de que nossas academias/escolas cada vez
mais precisam ser espaços de documentação do saber produzido na Região Tocantina 2,
entendendo que há necessidade de materiais didáticos, paradidáticos que vislumbrem esta
perspectiva da construção do conhecimento.

Este estudo relata atividades aliadas à cultura local utilizando metodologias que
podem possibilitar a sua aplicação no intuito de valorizar saberes da região tocantina, suas
comunidades indígenas, remanescentes de quilombo, ribeirinhos3, os quais se destacam como
uma parcela considerável da população. Assim, além de relatar experiências, este trabalho
propõe atividades para além do livro didático, o que possibilita a inserção do contexto
1
A coleção de Gilberto Cotrim, a qual é utilizada no Ensino Médio em Mocajuba, apresenta somente a
Amazônia de um modo geral. Em nenhum momento cita municípios da região Tocantina, a saber Mocajuba,
Cametá, Baião, Limoeiro do Ajuru( conferir blog da Pastoral dos Pescadores disponível em:
http://cppnorte.wordpress.com/regiao-tocantina)
2

3
Segundo o relato da aluna Kelly Viana a localidade de Vila Vizãnia já foi contemplada como área quilombola
por instituições responsáveis(Conferir no relatório da pesquisa no capítulo 3)
12

sociocultural da Amazônia Tocantina e possivelmente a discussão de uma construção de


coleções didáticas voltadas para os município dessa região do Baixo Tocantins.

Neste sentido, cada vez mais o ensino deve primar pela promoção da pesquisa; não se
pode pensar a educação sem a promoção de educandos capazes de se desenvolverem como
agentes primeiros de sua formação. Este trabalho busca apresentar algumas atividades que se
desenvolveram em um processo de ensino-aprendizagem de história voltado para as questões
locais, as quais trabalham diretamente com sujeitos que expressam em seu imaginário uma
tradição amazônica a partir de sua religiosidade, arte, pensamento, cultura, linguagem e
saberes que se fazem presentes numa sociedade complexa, os quais e que visam a seus
direitos como cidadãos participantes de contextos globalizantes. Para Rodrigues (2012, p. 40)
O saber, então, estaria ligado ao indivíduo, embora resultado de relações, quer com a natureza
quer com outros homens, servindo-lhe para resolver problemas do cotidiano, e, portanto, em
constante transformação, haja vista as diferentes necessidades vividas. Busca-se trabalha este
mesmo conceito neste trabalho uma vez que o saber produzido pelas comunidades aqui
pesquisadas são de extrema importância para a contextualização do ensino de história.
Essa perspectiva de ensino funda-se no pressuposto que opõe ao Há um equívoco de se
pensar que comunidades ribeirinhas são comunidades atrasadas e sem complexidade. Muito
pelo contrário, entendemos que as comunidades ribeirinhas possuem suas racionalidades,
modernidades e complexidades, cabendo também à escola trabalhar esses elementos como
forma de reconhece-las constituídas por sujeitos de história, cabendo ao ensino ajudar os
educandos a analisá-las numa posição de compreender o outro e a si mesmo nesse contexto
Amazônia de ilhas e estradas em que o ser social educando possa se encontrar.. Entendemos
então que as comunidades ribeirinhas são locais de intensa troca de saberes e de repasse
desses mesmos saberes no cotidiano. Como ressalta Feire (1996), a educação deve primar pela
autonomia como um modo de valorização dos educandos. No contexto educacional, contudo,
muitas vezes nossa aulas não primam pela contextualização local, levando os sujeitos ao não
reconhecimento de suas próprias histórias.
Além do mais, deve-se considerar que quando se fala em cultura amazônica, há de se
procurar perceber as contribuições dos agentes que dialogam com este espaço por meio de
atividades estabelecidas na política, na religião, na economia e especialmente no âmbito
cultural. Deseja-se, assim, com este trabalho:
- Relatar experiências de ensino de história contextualizado.
13

- Promover um ensino emancipador4 e reflexivo 5que promova a autonomia dos educandos.


- Valorizar atividades como pesquisa oral de comunidades locais da Amazônia Tocantina.
-Divulgar a cultura amazônica permeada pela arte, cultura e religiosidade.
- Oportunizar a inclusão digital como um saber importante para o registro de saberes locais.
Estes tópicos podem ser contemplados a partir de Geertz (1973), o qual propõe em
Interpretação das Culturas, um novo olhar para os saberes locais, ou seja, muitas vezes
quando olhamos para uma localidade corremos o perigo de destacar apenas aquilo que é
universal, deste modo esquecemos das particularidades as quais são os principais elementos
que fazem o diferencial daquela população. Assim, este trabalho visa propor um olhar
elucidativo para a Região Tocantina, lócus da pesquisa, como um região composta de
complexidade cultural, a qual possui sua própria produção cultural, não podendo ser
silenciada da construção pedagógica de nossas escolas de ensino básico.
No demais, como metodologia para a realização deste trabalho procedemos à leitura
bibliográfica de autores que trabalham as questões socioculturais na educação, como Freire
(1996 ) , Hernandez (2008 ) e Wedderburn (2005), bem como autores que desenvolvem
trabalhos no campo da pesquisa educacional da cultura Tocantina, como Pinto( 2007) e
Rodrigues (2007). Depois deste momento e com base nesse arcabouço teórico, procedemos às
análises de atividades de ensino e aprendizagem de história, as quais foram desenvolvidas
conforme exposto no início desta introdução.
Como hipótese/problema, indagamo-nos se os alunos tinham consciência de uma
cultura afro-brasileira e indígena. Nossas análises apontam que esta consciência é expressa
quando se descreve, por exemplo, região como área quilombola, assim como quando se
relatam situações referentes aos costumes da comunidade indígena.
Em termos estruturais, no primeiro capítulo fazemos uma abordagem de como o
ensino de história pode ser voltado para a diversidade cultural, apresentando suas
contribuições e desafios a partir de orientações das leis 10.639/03 e 11.645 /08, que preveem
o ensino de História e Cultura Afro e Indígena.
No segundo capítulo destacamos a memória como um elemento metodológico que
ajuda a perceber a cultura local e suas literaturas como agentes de entendimento das histórias
vivida pelos próprios alunos em suas comunidades de origem.

4
A emancipação, na perspectiva de Adorno, não se refere apenas ao indivíduo como entidade isolada, mas
fundamentalmente como um ser social. Ela é pressuposto da democracia e se funda na formação da vontade
particular de cada um, tal como ocorre nas instituições representativas. ( VIANA, p.2 )
5
Gramsci assinala o conteúdo da cultura. Ele concebe a cultura como um patrimônio reflexivo, emotivo e
intersubjetivo que caracteriza um determinado ambiente social. (ANGELI, 20011)
14

No terceiro capítulo relatamos atividades que foram aplicadas em sala de aula


contextualizando o lócus da pesquisa, realizando as análises em articulação teórico-empírica.
Como questões norteadoras deste trabalho elegeu-se os seguintes pontos:
- Qual a contribuição para o ensino de história partindo do pressuposto que nossas
escolas podem ser um ambiente de contextualização dos saberes locais?
- Como trabalhar atividades que envolvam os saberes quilombolas e indígenas?
15

CAPÍTULO I- ENSINO DE HISTORIA E DIVERSIDADE CULTURAL

Neste capítulo discorreremos sobre a importância da valorização do ensino pautado na


diversidade cultural, uma vez que os discentes de história muitas vezes não são expostos ao
conhecimento sociocultural brasileiro, mas especificamente amazônico. Neste sentido, o
ensino-aprendizagem de História deverá utilizar objetivos, conteúdos e metodologias que
promovam a discussão acerca de sujeitos brasileiros como índios e negros, os quais, quando
são mencionados, ainda são elencados de modo pejorativo. Há necessidade de uma
valorização da cultura brasileira especialmente daqueles sujeitos que foram negados dentro da
historiografia.

1.1 - Por um Ensino-Aprendizagem Voltado para a Diversidade: contribuições e


desafios.

Por muito tempo o ensino de história primou pela visão positivista. O ensino era voltado
a narrativas de grandes batalhas realizadas pelos grandes heróis. A transmissão dos fatos era
feita apenas exaltando uma classe favorecida. Neste sentido, os professores de história
repassavam os conteúdos de história de modo bancário; havia a preocupação com datas, fatos,
e grandes nomes deveriam ser decorados e reproduzidos numa prova bimestral. Havia o
questionário que consubstanciava a prova escrita que, não raro, não dava espaço para projetos
de pesquisa local de modo a valorizar aspectos culturais afro-brasileiros e indígenas, os quais
eram lembrados somente como alguém excluído, sem uma problematização de questões mais
sérias em torno da discussão étnico racial, como a atuação destes num contexto de lutas e
sociabilidade. Não se deseja excluir esta história, uma vez que também existe a contribuição
de grandes personalidades, pensadores citados na historiografia. Entretanto, outros
personagens, outros sujeitos, são essenciais para o entendimento da trama histórica.
Não se deseja com esta constatação dizer que este método tradicional é um método que
não funciona e que nunca deveria ter sido usado. Que ninguém aprende por meio do “learn by
heart”, expressão em língua inglesa que quer dizer aprender de modo decorado. Pois os alunos
que irão passar por exames vestibulares e concursos sentem a necessidade de ter conceitos
sintetizados para discutir seus desdobramentos. O grande problema é a exaltação de uma
única nação em detrimento de outras. Os portugueses tem sua devida importância, para a
16

construção do Brasil. Entretanto, a contribuição de índios e negros na formação da cultura


brasileira é algo imprescindível nas aulas de História.
Em oposição a este ensino de História acrítico, é necessário oportunizar algumas
reflexões sobre nossas práticas cotidianas6 de ensino. Podemos nos fazer as seguintes
indagações. Como faço minha auto avaliação? Como posso utilizar outros métodos de ensino
de história que não excluam a história local, aquela que faz sentido aos meus alunos? Como
pensar em inclusão digital? O que é memória? O que é trabalho cooperativo? O que é
professor reflexivo? Como utilizar documentos? Como ensinar através de recursos culturais
lúdicos?
Minha auto avaliação dever ser constante, especialmente sobre a ponte estabelecida entre
saber local e saber global. O que geralmente ocorre é uma exaltação do saber global em
detrimento do saber local tão necessário ao desenvolvimento social da comunidade de alunos
ali inseridos. Um meio de realizar este movimento de circularidade, como bem pontuou
Ginsburg (1987), é justamente providenciar que os saberes dialoguem de modo que nenhum
exclua o outro. Neste sentido, a inclusão digital consegue realizar este processo. Nesta
experiência de ensino, foi possível realizar uma pesquisa das localidades e ao mesmo tempo
utilizar o correi eletrônico a nosso favor. Tanto educando com educador utilizaram um meio
de comunicação atual para registrar algo de história e de local. São saberes que se entrelaçam.
Para assim manifestar a eficiência do trabalho cooperativo os alunos realizaram a pesquisa em
equipe, para dinamizar o encontro dos saberes. Neste exercício, a reflexão tem acompanhado
até hoje os resultados obtidos em sala, fazendo-me elaborar este trabalho para assim socializar
e dar continuidade à reflexão. Deste modo, o documento oral também agora passa a ser
escrito, contribuindo para a ludicidade do saber que, além de cultural, é histórico e social.
Autores como Bittencourt (2005) tem alertado sobre essa questão, propondo a inserção
de metodologias que promovam um ensino de história crítico e que insiram debates em torno
das classe sociais marginalizadas. Além de pensadores, políticos tem se dedicado ao assunto
como ressalta o jornal online “Folha da Tarde” em matéria publicada no dia 28 de agosto de
2013, ressaltando a necessidade de se valorizar o povo quando das escolhas de nomes de
ruas e outros patrimônios.
O vereador Waldir Pires faz questão de ressaltar que a sua iniciativa
não é revanchista nem faz esquecer parte da história recente do país.
"Ao contrário, quer resgatar o ensino crítico da História do Brasil,
colocando em discussão quem verdadeiramente possui serviços
prestados à democracia, aos direitos humanos, às causas populares, em
contraposição àqueles que oprimiram a brava gente baiana e
brasileira", afirma. "É inadmissível também nomear equipamentos
6
Práticas desenvolvidas em sala de aula durante o ano letivo de uma escola pública.
17

público com quem se beneficiou ilicitamente com o dinheiro público",


diz, destacando que o debate é mundial. "Recentemente, a avenida 11
de Setembro, em Santiago, Chile, teve nome trocado para Nova
Providência, para desvincular a via da homenagem implícita ao golpe
de estado que instaurou a ditadura de Augusto Pinochet, em 1973"A
avenida foi batizada em 1980, em homenagem ao dia em que foi
assassinado o presidente Salvador Allende, instaurando-se a ditadura,
que, ao longo de 17 anos, deixou mais de três mil mortos e
desaparecidos políticos.

Neste sentido há que se promover aulas que consigam envolver os alunos


positivamente. Fazer com estes possam analisar os conteúdos de história a partir do seu
contexto. Este trabalho visa promover esta discussão, ao buscar estabelecer um conhecimento
de cultura africana em que se reafirma nossa cultura afro-brasileira, dando todo um sentido às
aulas de história, pois é desta forma que os alunos conseguem se dedicar ao estudo desta
disciplina. Como ressalta Wedderburn (2005 p. 32):
O avanço constante do conhecimento científico sobre a África, em
especial nos campos da paleontologia e da antropologia, não cessam
de confirmar esse continente no palco privilegiado de lugar de origem
da consciência humana e das experimentações que conduziram à vida
em sociedade.

Deste modo, a cultura africana suscita nas aulas de história muitos valores até então
marginalizados de nossos cânones didáticos elegidos em nossas escolas. Pensar em
diversidade é assumir uma postura de diálogo com diversas culturas problematizando suas
contribuições para a formação de nosso povo, especialmente no que tange suas lutas e
conquistas de direitos.
1.2 - A Questão Afro-Brasileira

A lei 10.639/03 vem estabelecer a necessidade de implantarmos um ensino de


História que valorize o pensamento negro. Na escola encontramos situações de pensar o negro
muitas vezes apenas como vítima de uma escravidão. Ressalta-se apenas uma postura passivo
diante da escravidão. Lutas, ideais libertários sempre estiveram presentes na cosmovisão
negra. Outro dado nessa configuração, conforme ressaltou Brandão, na obra Educação como
Cultura (2002) é que se usa a figura do negro apenas como uma questão mercadológica, sendo
considerado como uma figura exótica; sua história, não raro, fica tão presente somente no dia
vinte de novembro, quando a escola vai realizar um apresentação sobre a temática. Isto
dificulta o trabalho de reflexão junto aos educandos, pois não se faz um trabalho processual,
mas tão somente através de momentos cívicos, quando o negro é lembrado, muitas vezes da
forma mais esdrúxula, apenas como um objeto de escravidão do passado. Algo parecido é
18

visualizado numa cena do filme Escritores da Liberdade 7, em uma cena, numa sala de
conceito A, quando a menina negra sempre é lembrada como alguém que tem o privilégio de
estar naquela sala, como se não fosse possível através de sua própria capacidade, mas apenas
por uma questão de bondade da instituição escolar. O filme, baseado em história real, se passa
numa escola da periferia norte americana. Nessa escola há segregação de classe social, pois
existem turmas onde estão selecionados os mais aptos em detrimento de turmas com alunos
que não conseguem chegar a conceitos de excelência. Aqui convém ressaltar a importância de
medidas emergenciais como as cotas raciais nas universidades brasileiras; entretanto, deve-se
trabalhar para que num futuro próximo não se tenha necessidade de cotas, mas através de uma
valorização da educação, que os estudantes possam cada vez mais ser incluídos nas escolas e
universidades públicas.

Já a partir da lei 11.645/08, algumas instituições da sociedade brasileira tem se


organizado no intuito de pôr em prática as exigências que tal documento propõe. Este prevê a
inclusão da temática indígena na escola pública e particular especialmente nas disciplinas de
História, Literatura e Arte. A lei em questão é um complemento à lei 10. 639/03, a qual
normatizou a inclusão da temática afro-brasileira.
Estas leis são fruto da luta do movimento negro no Brasil, pois estes cidadãos
brasileiros não são agentes passivos, mas sujeitos que sempre estão na pauta de lutas pelas
conquistas de direitos por parte de suas lideranças e comunidades quilombolas.
A partir das lutas do Movimento Negro, houve a culminância dessas leis que são uma
primeira vitória; entretanto, agora se faz necessária a luta da implantação de políticas
educacionais que contemplem o que exigem as leis. É muito comum pensar a cultura afro-
brasileira como algo distante de nós. No entanto, basta olharmos para nossa cultura, para as
brincadeiras realizadas pelas crianças, para a culinária, para a nossa linguagem, para a nossa
religiosidade e observaremos a presença da cultura africana. Entretanto, por conta de um
pensamento do branqueamento, a negação foi visível da cultura afro-brasileira. Ao olharmos
assuntos como imigração se enfatizam apenas os imigrantes europeus, nega-se a entrada por
exemplo de barbadianos em nosso país como trabalhador no Brasil.
Neste trabalho aliamos, estas recomendações previstas em lei para que se dinamize na
sala de aula um conhecimento cultural afro-brasileiro através de um ensino aprendizagem

7
Filme: Escritores da liberdade (Original: Freedom Writers) País: EUA/Alemanha -
Gênero: drama.  Classificação: 14 anos. Duração: 123 min. Ano: 2007. Direção: Richard LaGravenese .
Produção: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher.  Elenco: Hilary Swank, Patrick Dempsey, Scott
Glenn, Imelda Staunton, April Lee Hernandez, Mario, Kristin Herrera, Jacklyn Ngan, Sergio Montalvo, Jason
Finn, Deance Wyatt, Vanetta Smith, Gabriel Chavarria, Hunter Parrish, Antonio Garcia.
19

significativo. Muitas vezes o professor se depara com alunos marcados por uma história de
preconceito, levando a uma não aceitação de sua própria condição de negro. É muito
perspicaz criar um diálogo que supere a estereótipos especialmente no que concernem a
fatores raciais. É necessário possibilitar o entendimento de que a diversidade biológica não é
impedimento para aquisição de conhecimentos. O que muitas vezes impede a inclusão social é
a ausência de uma educação emancipadora. Nas atividades a seguir buscou-se vislumbrar que
as comunidades de remanescentes quilombolas são locais de saberes essenciais para a sua
própria inclusão e que o conhecimento de sua identidade permite a mobilização social.

1.3- A questão Indígena

Quanto à questão indígena, há que se vivenciar uma nova postura, promovendo-se a


escrita do índio e não sobre o índio, na qual o próprio índio expressa suas lutas, sua estética,
suas necessidades políticas. Deste modo a escola possui um papel fundamental neste processo
uma vez que o índio possui saberes. Esta cultura não pode ser apenas apresentada de modo
capitalista, para arrecadar fundos em campanhas financeiras escolares. Um exemplo disto é o
perigo de mostrar a cultura indígena como algo apenas exótico, em períodos cívicos, para
servir apenas de apresentações culturais, ficando apenas numa discussão folclórica. A
proposta é promover discussões mais sérias dentro de um Projeto Político Pedagógico que
vislumbre a inserção da temática indígena no currículo escolar tornando-se palco de discussão
permanente dentro do planejamento escolar, de fóruns de educação, trazendo representantes
indígenas, pois ninguém melhor de que eles para refletir sobre sua trajetória.
Além do mais, há de se entender que, assim como o negro, o índio brasileiro também
foi alvo de preconceitos e estereótipos no decorrer da escrita literária. Assim ressalta Graúna
quando escreve:

Os estereótipos e os preconceitos no campo da cultura e da história


indígena são apenas uma ponta do iceberg, mas não levaremos mais
500 anos dependendo do aval das academias que só reconhecem a
expressão literária indígena se esta for “baseada unicamente [e
obrigatoriamente] na existência do livro [branco] tal como o
conhecemos na atualidade”.

Quando vemos a escrita de livros didáticos, por exemplo, observam-se traços que
forçam os personagens indígenas a assumirem uma estética e comportamento da Europa.
Entretanto numa conquista mais recente os próprios indígenas resolvem assumir os escritos
20

sobre si mesmos, isto só foi possível devido lutas que levaram a uma atenção do governo e
sociedade letrada dando abertura para autores indígenas.
Pode-se perceber que por uma tradição histórica acadêmica ainda há um ranço da
produção de um texto sem problematização. Nas escolas o discurso é ainda do colonizador
deixando à margem a história afro-indígena. Em oposição a isso as leis 10.639/03 e a
11.645/08 são uma conquista por parte do movimento negro e indígena para que o
conhecimento acerca dos grupos que foram expropriados seja posto aos aluno de modo
contextualizado, fazendo uma transposição didática8 que permita o diálogo dos alunos com a
realidade vivenciada.
Escritores como Maia (2008), em seu texto “Que Fronteiras”, discute as referências a
autores europeus em detrimento de autores brasileiros/indígenas. Também Eliane Potiguara,
com a sua obra “A terra é a Mãe do Índio” (1989), apresenta a cultura indígena e sua lógica
diferenciada em relação à Mãe Terra9. Esta autores são intelectuais importantes que
desbravam um novo momento no continente latino-americano, são responsáveis por
congressos que discutem a identidade, multiculturalismo, uma literatura de combate, de
preservação da “Mãe Terra”, como ressalta Eliane Potiguara apud GRAÚNA (2002),
expressando que a literatura branca se apresentou de modo paternalista que desdobra assim
erros sucessivos sobre a concepção afro-indígena.
Sabe-se que os grupos indígenas ainda são pouco valorizados. Por outro lado, há um
grupo de pesquisadores de origem indígena preocupado em mudar esta realidade, pois já se
constata, através de políticas públicas de cotas, a inserção de indígenas nas universidades e
ainda a tentativa de organização de um partido político que tenha como objetivo o aumento de
garantias de políticas públicas indígenas. Assim como ressalta o site EBC sobre a criação de
um partido político indígena10.
Segundo Cunha (1992, p. 20), “uma história propriamente indígena ainda está por ser
feita [...] Ter uma identidade é ter uma memória própria”. Com este fragmento constata-se
que há muito trabalho a ser realizado. O índio cada vez mais deve ser motivado a ser agente
8
A transposição didática é o processo de adequar um conhecimento acadêmico para fins didáticos ao nível do
ensino básico.
9
A autora expressa a lógica indígena denominando a terra de mãe, uma vez que esta é sagrada para os indígenas.

10
Rio de Janeiro, 10 nov (Lusa) - Lideranças indígenas começaram a se reunir com objetivo de criar um partido
com representatividade em todo o território nacional, em iniciativa inédita no país. De acordo com Ary Paliano,
da etnia caingangue,  região Sul, a ideia para a articulação de uma formação política indígena é antiga, mas
ganhou força principalmente após as últimas eleições municipais - realizadas em outubro deste ano - quando se
percebeu que a ausência de um partido único divide e enfraquece politicamente os indígenas.( 2012, p1):
Disponível em : http://www.ebc.com.br/cidadania/2012/11/liderancas-indigenas-articulam-criacao-de-partido-
politico. Acesso em 10 de outubro de 2013.
21

de sua própria história. Trazer os próprios indígenas para relatar suas experiências é
fundamental para registrar a memória, especialmente ouvir os indígenas mais idosos, aqueles
que possuem os saberes consolidados: língua, as expressões religiosas, os saberes da cura, a
tradição, não apenas para expressar um folclore, mas para entender que todos eles possuem
conhecimento que os fazem pertencer a uma comunidade que tem muito a ensinar também
para os participantes de um processo de escolarização. Criam-se vínculos, quebram-se
estereótipos. Entende-se que conhecimento pode ser qualquer saber materializado quer sejam
por estudantes, indígenas, garis ou professores11.
Neste sentido, cabe uma reflexão que auxilia a compreender que as sociedades
indígenas são comunidades que possuem sua complexidade. Não podem ser taxadas de
sociedades sem organização. Como já foi ressaltado, os índios participaram ativamente na
formação do Brasil. Um estudo mais profundo irá explicar que estes grupos foram decisivos
para a demarcação de fronteiras, uma vez que no período de colonização outros países como
França, Holanda, Espanha também fizeram suas incursões pelo território. Assim, os
portugueses contaram com o auxílio dos índios de modo que estes foram transformados em
súditos e automaticamente passaram a ser da coroa levando a uma demarcação para que os
outros pudessem ter um respeito pela demarcação territorial. Negociações, acordos,
documentos papais, fizeram parte deste processo, tendo os índios como grupos fundamentais
neste processo. Assim como escreve Fleck (2012, p. 13).
O estabelecimento dá um laço de confiança entre as duas culturas
favoreceu a aproximação entre os europeus e os indígenas. Deve-se,
contudo, levar em consideração o nível de tensão e de inimizade
existentes entre portugueses e indígenas decorrente da escravização do
índio e da posse da terra, para melhor compreendermos os fatores que
levaram os franceses a estabelecerem contatos mais cordiais como
gentio da terra.

Neste excerto, constatam-se tensões e laços por parte de europeus. O índio passa a ser
sujeito, pois sua relação com os europeus passa da escravidão à relação cordial para que o
território possa ser explorado. A história apresenta que num primeiro momento um território
que não foi valorizado. Somente depois os portugueses decidiram se estabelecer na terra, pois
a terra estava ameaçada de invasão por parte de outros países. Os indígenas possuíam sua
cosmologia própria decorrente de suas próprias experiências. Os portugueses possuíam outra

11
Observando a análise antropológica, autores com Frazer (1982) defendiam que o homem primitivo evoluiria
do conhecimento mágico, passando pelo conhecimento religioso até chegar no conhecimento científico. Em
oposição a este pensamento Lévi-Strauss (2008) enfatiza que estes saberes podem dialogar, conviver e serem
adquiridos por qualquer ser humano, independente de sua posição intelectual. Assim o conhecimento pode ser
valorizado independente de sua origem, quer seja sistemático ou não, quer seja acadêmico ou não.
22

forma religiosa. Deste modo, no encontro das duas culturas, tensões e diálogos foram
acontecendo. Neste sentido, a Inquisição em terras brasileiras aconteceu de modo que os
índios que tinham se tornados cristãos eram passivos de julgamento inquisitório. Assim como
destaca Júnior (2005, p.322):
A índia Suzana, também do serviço de Domingas Gomes, foi acusada por várias
pessoas de produzir feitiços. O capitão Amaro Pinto disse que, tendo em sua casa
uma escrava muito doente que deitava pelos narizes a modo de uma tripa, esta
acusara a índia Suzana, escrava de Domingos Gomes, de ter-lhe posto feitiço. A
índia Suzana se defendeu dizendo que os tais feitiços que havia dado a escrava do
capitão eram para que seus amantes lhe quisessem bem, (...)

Compreende-se, portanto, que os índios também podiam ser considerados hereges do


tribunal do santo ofício. Este processo se dava a partir de uma investigação inicial
denominada devassa. A população da colônia tinha um tempo determinado para confessar os
pecados e serem absolvidos de qualquer transgressão. Entretanto se não fossem até o
confessor e fossem entregues por vizinhos ou outros denunciantes poderiam sofrer as penas
previstas pelo tribunal.
Nesse caso, dentre as acusações de sodomia, adultério, dentre outros, a questão da
heresia era também considerada um ato de rebeldia contra a religião oficial, pois era
enquadrado no crime de feitiçaria, algo contrário à fé cristã. Entretanto o índio, ao contrário
do que disse Caminha em sua carta documento do Brasil, possuía uma fé, uma lei e um rei.
Assim como defende Sarraf (2012, p. 206).

Se no imaginário cristão-ocidental a cobra representa o pecado e a


condenação do homem, no universo indígena este animal é sinônimo
de fertilidade e de vida. Não por acaso, inscrições de objetos de
cerâmica trazem frequentemente ventres maternos que resguardam
cobras.

Este caso é só um exemplo específico de simbologia. Se olharmos para a Nova Era 12 e


também para religiosidades africanas, iremos encontrar situações parecidas em que um
símbolo pode percorrer várias significados dependendo de uso por determinada comunidade
religiosa.
Se olharmos para a história do índio, a luta, a negociação, tensões sempre estiveram
presentes na sua história. Projetos de hidrelétrica, conquistas de terras, manifestações por

12
Religião considerada dentro dos padrões dos novos movimentos religiosos, um dos aspectos principais é a
bricolagem como instrumento de fusão de várias religiões. Sua fundadora A própria origem do movimento
explica bem o seu caráter... A origem da "Nova Era" (New Age, em inglês), esta ligada ao
nome de Helena Petrovna Blavatsky, nascida na Rússia em 1851, naturalizada norte-americana
em 1874 e falecida em1891. (Disponível em: www.ultimasmisericordias.com.br/Pagina/3972/A-
NOVA-ERA-Religioes-seitas-doutrinas-e-filosofias-a-seu-servico-em-todo-o-mundo)
23

melhorias de saúde, educação, saneamento são pautas de ontem e de hoje. A partir de leis,
projetos políticos, discussões acadêmicas, inclusão de temática indígena na escola, estas
conquistas são fruto de todo uma história de mobilização indígena.
Não se pode pensar apenas na sua contribuição cultural para o país, a qual é de suma
importância. Pois nossa língua, culinária e arte estão imbricadas com o fazer do índio.
Entretanto, não se pode pensar a contribuição destes grupos somente neste aspecto. Pois
quando o índio luta por um espaço melhor de moradia, outras lutas vêm a reboque. Pensar as
manifestações de 201313, é um grande exemplo disso. Não se pode permitir um país de
grandes eventos, sem cooperar com o IDH (Índice do Desenvolvimento Humano) do mesmo.
Deste modo a luta indígena também se fez presente nas manifestações, quando visualizamos a
luta indígena que está ocorrendo devido à construção da hidrelétrica 14 que ameaça a terra dos
índios, maior patrimônio que eles possuem:
Decidimos desocupar o canteiro para mostrar que somos de paz, e que
o governo não precisa colocar a força policial para nos fazer cumprir
as decisões da Justiça. Saímos de lá, mas a nossa luta continua, vamos
persistir na defesa de nossos direitos. O governo está desrespeitando
muito a nossa Constituição. Enquanto eles não nos procurarem para
nos ouvir, nós não vamos parar. Vamos lutar até o fim”, bradou
Cândido Waro, presidente da Associação Pusuru, do povo
Munduruku. (CLARCK, 2013, p.1)

Dentre esses direitos a educação indígena passa a ser o “calcanhar de Aquiles”, pois é
a partir de uma educação indígena voltada para os índios e realizada por eles mesmos é que
outros direitos virão consequentemente. Um exemplo que pode ser vislumbrando nesta
perspectiva é a trajetória da educação indígena em Roraima, assim como destacou Silva
(2000, p. 33):
Apontou-se também a necessidade de uma maior articulação e
cooperação entre a Divisão de Educação Indígena, responsável pelas
políticas indigenistas do Estado, e a Opir, que representa o movimento
indígena e suas políticas no caso, as políticas indígenas de educação
escolar.

A trajetória da educação indígena em Roraima torna-se assim modelo de educação,


pois consegue progredir numa perspectiva de implementação de uma educação aliada ao
movimento indígena principal articulador dos direitos indígenas. A sociedade brasileira cada
vez mais deve ser representada a partir de políticas públicas que realmente cheguem até
aqueles que necessitam de direitos. No caso das comunidades indígenas, deve ser um projeto
em conjunto. Movimento Indígena, partidos em formação, educadores e demais profissionais
13
As manifestações no Brasil aconteceram de início reivindicando a diminuição dos preços de passagem de
ônibus. Posteriormente outras reivindicações foram colocadas em pauta.
14
A hidrelétrica de Belo Monte desapropriou terras indígenas.
24

que se aliam a esta luta de melhorias em prol de sujeitos que historicamente não estiveram
presentes nas pautas de discussões políticas. Este processo deve ser pautado numa
perspectiva de entender os índios não como vítimas, mas como sujeitos capazes de se
desenvolver com cidadãos partícipes da pauta políticas.
Neste trabalho entendemos que o educador deve ser responsável por desvelar o papel
do índio como um agente sujeito da história brasileira, socializar nossos estudos com colegas,
promover encontros que facilitem esta discussão sobre o índio no ensino-aprendizagem de
literatura, história, línguas, dentre outras disciplinas, pois é um tema que merece
planejamento, estudo e ação para que realmente as leis possam ser cumpridas
satisfatoriamente. Foi esse o pressuposto que consubstanciou nossas análises, a partir da
experiência por nós desenvolvida, junto a discentes do ensino médio e comunidade analisada.

CAPÍTULO II - ENSINO DE HISTÓRIA NO ENSINO MÉDIO


25

Este capítulo pretende refletir sobre as Orientações Curriculares para Ensino Médio
(2006), enfatizando o que as diretrizes para o Ensino de História preveem:

Auxiliar os jovens a construírem o sentido do estudo da História, constitui pois, um


desafio que requer ações educativas articuladas. Trata-se de lhes oferecer um
contraponto que permita ressignificar suas experiências no contexto e na duração
histórica da qual fazem parte e também apresentar os instrumentos cognitivos que os
auxiliem a transformar os acontecimentos contemporâneos e aqueles do passado em
problemas históricos a serem estudados e investigados. (2006, p. 65).

É com esta perspectiva que o ensino aprendizagem de História deve se debruçar,


pontuando as experiências dos jovens. No caso desta pesquisa, o trabalho se voltou para
justamente encaminhar que experiências dentro da pesquisa oral junto aos seus vizinhos,
professores, pais, idosos possuem um valor social, religiosos, cultural, o que se traduz em
saberes históricos perpassados e elegidos pela comunidade.
A memória também foi trabalhada neste capítulo, como uma ferramenta capaz de
valorizar todos estes saberes, no caso das localidades ribeirinhas de remanescente de
quilombo, sua riqueza cultural dinamizada através dos encontros, dos trabalhos, das
narrativas, são espaço de ressignificação e saberes históricos como ressaltou Thompson
(1992, p.31):
Esses fatos isolados não são simplesmente evocativos por si mesmos, mas podem
também ser utilizados como matéria-prima para uma história valiosa. É possível até
que um estudante, sozinho, num projeto de consiga ampliar de maneira útil o
conhecimento histórico, – bem como criar novos recursos que, posteriormente,
outros poderão utilizar. Com um projeto em grupo naturalmente as oportunidades
aumentarão. O número de entrevistas pode ser maior, as buscas em arquivos mais
amplas, o tema mais ambicioso.

A partir da sugestão de Paul Thompson (1992), observamos as vantagens de realizar


em ambiente escolar a técnica da entrevista como recurso fundamental para a pesquisa oral o
que este trabalho vem propor em sua teoria e em sua pratica.

2.1 - ENSINO DE HISTORIA E DIRETRIZES NO ENSINO MÉDIO


Observando as leis para o Ensino Médio no que concerne o Ensino de Cultura Afro-
Brasileira e História, constata-se toda uma luta de um movimento cada vez mais expressivo
após a lei 10.639, a qual já foi discutida no primeiro capítulo. Neste sentido a juventude e
adultos que fazem parte da Educação Básica no Ensino Médio tem o direito de estudar e
refletir através de uma construção de sentido sobre a história dos povos negros e índios.
Muitas vezes a experiência de formação nos convida a observar certas situações. Não raro,
vemos os discentes abordarem as questões do negro de modo a estabelecer uma distância,
parece que nossas origens ainda estão distantes. Mas se observarmos as estatísticas, vamos
26

identificar que a formação do povo brasileiro também reflete na composição de nossos


estudantes assim como ressalta o site Portal Brasil15
Em comparação com o Censo realizado em 2000, o percentual de pardos cresceu de
38,5% para 43,1% (82 milhões de pessoas) em 2010. A proporção de negros
também subiu de 6,2% para 7,6% (15 milhões) no mesmo período. Esse resultado
também aponta que a população que se autodeclara branca caiu de 53,7% para
47,7% (91 milhões de brasileiros)..

Valorizar nossa cultura é reconhecer que somos capazes de nos desenvolver como
pessoa humana capacitada e vivenciar cada vez mais novos momentos em direção a uma
totalidade de uma formação de identidade, pois, segundo as estatísticas,assim como ressalta
o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais Para Educação
das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana.

O Brasil conta com mais de 53 milhões de estudantes em seus diversos sistemas,


níveis e modalidades de ensino. Os desafios da qualidade e da equidade na educação
só serão superados se a escola for um ambiente acolhedor, que reconheça e valorize
as diferenças e não as transforme em fatores de desigualdade. Garantir o direito de
aprender implica em fazer da escola um lugar em que todos e todas sintam-se
valorizados e reconhecidos como sujeitos de direito em sua singularidade e
identidade. (2004, p. 2)

Isso equivale dizer que a escola é um local de trânsito de vários saberes e que a
convivência entre os saberes começa a partir da promoção de aulas que viabilizam uma
formação integral que reconheça e promova a interseção da história e cultura afro-brasileira.
Pois este mesmo Plano acima citado destaca a inclusão também da história indígena.
Neste trabalho apenas uma aluna narrou sobre seu povo, mas acredito foi de grande
importância para o trabalho, uma vez que percebi que estava satisfeita com a valorização
dadas a sua gente e a seu povo, daí a:

A necessidade de ampliação do diálogo para implementação da Educação para as


Relações Etnicorraciais foi dada também pela edição da Lei 11645/2008, que tornou
a modificar o mesmo dispositivo da LDB alterado pela Lei 10639/2003, estendendo
a obrigatoriedade do “estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena” em
todos os estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e
privados. (p.21,2004)

As leis, portanto, complementam-se e sugerem a presença dos negros índios não com
agentes passivos de uma história, mas como agentes que dinamizam o processo histórico no seu
cotidiano. Fazer uma cartografia dos saberes indígenas e negros é também valorizar o ambiente

15
Disponível em: concurso.consulplan.net/Inscricao/Inscricao.aspx
27

ribeirinho e sua constituição, como ferramenta de discussão de cidadania, ecologia, diálogos


culturais e inter-religiosos. Como ainda ressalta o Plano Nacional
Segundo a última PNAD/IBGE, 49,4% da população brasileira se auto-declarou da
cor ou raça branca, 7,4% preta, 42,3% parda e 0,8% de outra cor ou raça. A
população negra é formada pelos que se reconhecem pretos e pardos. Esta
multiplicidade de identidades nem sempre encontra, no âmbito da educação, sua
proporcionalidade garantida nas salas de aula de todos os níveis e modalidades. O
país precisa mobilizar suas imensa capacidade criativa e sua decidida vontade
política para adotar procedimentos que, no tempo, alcancem a justiça pela qual
lutamos. A educação, como um direito que garante acesso a outros direitos, tem um
importante papel a cumprir. (2004, p. 2)

Visualiza-se assim que ainda há muito trabalho a ser desenvolvido, pois em sua
maioria a população brasileira é constituída pela raça negra 42,3% totalizando assim uma
necessidade cada vez maior de práticas educativas que norteie as questões étnicas raciais.
Neste estudo observamos ainda que existe uma certa valorização dos ribeirinhos por serem
alunos mais atenciosos e dedicados. No entanto há que se verificar com são justificados esses
valores, há que se ter cuidado de não superestimar ou valorizarmos alunos que não buscam
interagir em sala de aula, permitindo apenas metodologias bancárias com ressaltou Freire
(1996) em detrimento de metodologias que primem pela pesquisa e pela autonomia.

2.2 - MEMÓRIA LOCAL E ENSINO DE HISTÓRIA

Pensar em memória local no ensino de história requer ter um processo de ensino-


aprendizagem de modo planejado. Não se pode pensar a memória e práticas de ensino como
algo simples. Mas irá requerer um objetivo, pensar em história do presente, não desvinculada
das ressignificações ocorridas no processo histórico. É necessário incentivar o trabalho de
campo e ao mesmo tempo dizer que isto tem um valor para os estudos de história. A princípio,
o trabalho com os alunos, no sentido de refletir as práticas humanas atuais como elementos
que foram se desenvolvendo ao longo da história. Para desenvolver o ensino voltado ao
conhecimento da cultura afro-indígena, meus alunos foram orientados a se perceberem como
sujeitos ligados a uma teia de relações mostrando-lhes se dava a memória na cultura africana,
requerendo a apresentação e reflexão de personagens históricos que faziam o trabalho de
repasse das tradições, tal como é relatado a seguir.
28

Neste sentido é necessário pensar a figura dos Griots 16, como aqueles que na África
foram responsáveis de salvaguardar a memória do povo. Quando se propõe uma pesquisa oral
no âmbito educacional, estes agentes nos vem como modelos de patrimônio oral, como frisou
Hernandes (2008, p.16).
Mas afinal quem são os gritots? São trovadores, menestréis,
contadores de história e animadores públicos para os quais a disciplina
da verdade perde rigidez, sendo-lhe facultada uma linguagem mais
livre. Ainda assim sobressai o compromisso com a verdade, sem o
qual perderiam a capacidade de atuar para manter a harmonia e a
coesão grupal, com base em uma função genealógica de fixar as
metodologias familiares no âmbito de sociedades tradicionais. (...).
Sua função é também o desenvolvimento extraordinário de estruturas
de mediação que restabelecem a comunicação numa sociedade em que
as relações sociais parecem todas marcadas por considerações de
hierarquias, autoridade, etiqueta, deferência e referência.

A figura dos “griots” nos auxilia num embasamento teórico para compreender o papel
da memória na sociedade africana bem como entre a sociedade amazônica. O papel dos
contadores de histórias, os mais idosos de uma região que guardam em suas lembranças
tempos descortinados de vida, de rica experiência.
Para os índios não é diferente. As populações tradicionais indígenas conseguiram
manter sua cultura através da oralidade. De geração para geração os costumes foram passados
através da vivência e da oralidade. A escrita não fazia parte, deste processo. Pensar em
memória local indígena, é sobretudo pesquisar com os índios mais antigos, os quais ainda
insistem em manter a tradição, para poder se aprender através das cosmologias próprias desta
cultura marcada pela palavra com o grande património de seu povo. Os mitos de origem que
agregam a sua religiosidade, a prática xamânica que se estabelece também pela palavra.
Geralmente quando um índio nasce, seu nome é registrado de acordo com sua divindade, a
qual é consultada pelo Pajé em uma viagem xamânica.
Para Cabrini (2004, p. 43):

A maior parte da documentação utilizada em história é escrita.


Entretanto, a diversidade dos testemunhos de uma realidade é muito
grande. Tudo quanto se diz, se canta, se constrói, se fabrica...é
manifestação da ação humana, é um testemunho histórico. Lembramos
(...) que o professor terá à disposição não somente os tipos de
documentos mais usuais em história (como escritos oficiais ou não,
leis discursos, revistas, jornais, cartas ...) mas também as mais

16
Griot é como são chamados, em alguns povos da África, os contadores de histórias. Possuem uma função
especial que é a de narrar as tradições e os acontecimentos de um povo. O costume de sentar-se embaixo de
árvores ou ao redor de fogueiras para ouvir as histórias e os cantos, perdura até hoje. Os griots também são
músicos e muitas vezes as narrativas são cantadas. O Império Mali, sob o comando de Soundjata Keita, por volta
do século XIII confere importância notável a esses sábios. A construção da história de base oral é marca dos
povos africanos antigos e o griot tem papel fundamental em sua estruturação. ( Disponível em:
http://ensinarhistoria.blogspot.com.br/2013/05/quem-sao-os-griots.html).
29

diversas manifestações em suas diferentes linguagens. Poderá também


se quiser e seu trabalho o permitir utilizar-se de fotografias, músicas,
filmes, programas de TV, etc.[...]

Deste modo, convém ressaltar a importância da diversidade de fontes para a prática de


ensino de História. Nossos alunos sentem a necessidade de uma dinâmica criativa, pois as
linguagens utilizadas são como que formas de surpreender os alunos e sair da monotonia nas
aulas. Neste sentido, o trabalho com memória nas aulas garante a possibilidade de uma
variação das fontes a serem trabalhadas.
Neste relato de experiência a memória foi uma forma de realizar este trabalho e
primou-se pela motivação de uma atividade capaz de incentivar os alunos a reconhecerem
suas histórias como patrimônio, especialmente no que concerne a sua ligação com a fusão de
culturas em nosso país. E isso contribuiu para nos reconhecermos como brasileiros, fazendo-
nos reconhecer como oriundos da mistura de raças, dentre elas a história africana. Convém
aqui expressar que o negro produziu sua história e com a sua tradição de característica oral.
Assim o professor precisa estar atento e a partir de leituras e uma constante formação
continuada será capaz de articular estes saberes, como como recomenda Wedderburn (2005,
p. 33):
O docente incumbido da missão de ensino da matéria africana se verá
obrigado durante longo tempo a demolir os estereótipos e preconceitos
que povoam essa matéria. Também terá de se defrontar com os novos
desdobramentos da visão hegemônica mundial que se manifesta
através das novas ideias que legitimam e sustentam os velhos
preconceitos.

Para fazermos uma adequação destes saberes é necessário dialogar de modo respeitoso
com as memórias culturais dos africanos. Estas se apresentam como contribuintes da
formação humana do nosso Brasil. Muito do que somos, pensamos e temos se mistura com
esta tradição herdada desde que se aportaram em nossas terras esta população.
30

CAPÍTULO III - RELATO DE ATIVIDADES

Neste capítulo passamos a narrar como se deu o processo de pesquisa. A princípio


apresentamos o município de Mocajuba e a unidade de Ensino Isaura Baía, local onde se
deram as aulas de História. Para finalizar, analisamos a pesquisa feita pelos alunos por nós
orientados.

3.1- Contextualizando o Lócus da Pesquisa17


O município de Mocajuba surgiu no rio Tauaré, em época incerta, onde também foi
erigida uma pequena Capela. Esse povoado foi denominado Maxi. Na figura abaixo,
apresentamos a localização do município.

Imagem 1- O Município de Mocajuba

Fonte: Google Map (Acesso no dia 18 de novembro de 2013. Disponível em:


http://ensinarhistoria.blogspot.com.br/2013/05/quem-sao-os-griots.html)

Com o seu desenvolvimento, o povoado foi elevado, mais tarde, à categoria de


freguesia. Os habitantes, porém, achando que o lugar não era propício, mudaram a freguesia
para outro lugar, cujas terras foram doadas por João Machado da Silva, um dos precursores da
mudança. Com essa mudança, a freguesia passou a se chamar Mocajuba, nome do sítio de
João Machado da Silva que fora ocupado pela freguesia.

17
O histórico acima foi baseado no histórico do Projeto Político Pedagógico da Escola Isaura Baía, na
construção do PPP da Escola.
31

A freguesia adotou como padroeira Nossa Senhora da conceição e funcionou em


princípio no oratório particular de João Machado da Silva, doador do terreno para a sede.
A primeira igreja matriz da vila incendiou-se antes do ano de 1864, época em que o
governo provincial determinou o prosseguimento da construção do novo templo, então em
alicerces.
A partir de 1872, Mocajuba foi elevada à categoria de município, instalando-se então a
1ª Câmara Municipal, que após muitos mandatos foi dissolvida com a Proclamação da
República pelo governo provisório do Estado do Pará.
Em 06 de julho de 1895 a sede do município foi elevada à cidade, sendo extinto o
município em 1930 e seu território foi anexado ao de Baião. Essa dependência durou três
anos, passando a subprefeitura e em 1935 o município de Mocajuba foi restaurado.
Encravado às margens do rio Tocantins, o município de Mocajuba é parte integrante
da conjuntura tocantina. Distante 173 km em linha reta da capital do Estado, a área território
do município é de 967 km.
A Prefeitura conta atualmente com a secretaria nas áreas: de educação, saúde
administração e finanças.
Em termos de infraestrutura social, o município apresenta um quadro que não se
diferencia da situação de carência em que se encontram também os demais municípios da
região. Inicialmente, em nível de saneamento, tinha-se até o ano de 1992 apensa 1.261
domicílios atendidos pelos serviços de fornecimento de água da COSANPA, o que representa
menos de 50% do total de domicílios existentes em todo o município e, por outro lado,
estando este serviço restrito a zona urbana.
Na área da saúde a situação é mais complexa, pois existem em Mocajuba somente dois
estabelecimentos de saúde, um hospital onde funciona a parte ambulatorial e uma clínica,
onde funcionam as internações.
No campo da educação, existe no município o ensino fundamental, médio e superior.
O município conta com cursos de nível superior, com faculdades particulares e um
núcleo da UFPA.
Há ainda possibilidade de acesso aéreo, pois existe no município uma pista de pouso
de chão batido, para receber aviões de pequeno porte (bimotor). Sendo que este serviço só
ocorre em caráter particular.
Em Mocajuba, assim como na maioria dos municípios que formam a Região
Tocantina, a agricultura é a principal atividade econômica.
32

Com solo propicio a expansão da cultura da pimenta-do-reino, os produtores rurais de


Mocajuba, fomentados pelos Bancos oficiais e monitorados pela Emater e SEPLAC,
investiram decisivamente, aumentando o cultivo da pimenta-do-reino no município.
Além da pimenta-do-reino, existem outras culturas com menos expressão para a
economia do município. A mandioca, de grande importância no consumo familiar local, teve
a sua produção diminuída ao longo da década de 80, só havendo uma retomada a partir da
década de 1990. O milho também apresentou um grande decréscimo produtivo nos últimos
anos e hoje não é muito representativo; o arroz em grã, ao contrário, tem apresentado
acréscimos contínuos na produção, tanto que no período de 1991-9 o volume produzido
aumentou aproximadamente de 200 toneladas para 350, registrando uma evolução de 75%. É
preciso frisar que o cultivo desse produto tem recebido o apoio das associações que tem
criado condições para o beneficiamento, escoamento e comercialização; o cacau, que já foi
um importante produto para a economia local, apresenta um decréscimo contínuo na
produção, desde a febre da pimenta-do-reino, que provocou uma migração em massa das
ilhas, entretanto a partir de 1992 houve uma sensível desta atividade.
A partir de 1992, os pequenos produtores preocupados com a crise e os riscos as
monocultura da pimenta-do-reino, organizados em associação, sentiram a necessidade e a
urgência em diversificar a produção. Para tanto precisavam de crédito, eis então que o F.N. O
especial surgiu como alternativa e assim muitas famílias foram beneficiadas pelo credito,
podendo cultivar coco, caju, maracujá, etc., constituindo-se a fruticultura em principal
alternativa para a diversificação da produção.
A produção extrativa animal tem se verificado basicamente em torno da madeira, da
borracha e do açaí. Estes produtos, com exceção da borracha, tem tido a sua produção
aumentada, principalmente a madeira, a borracha, que em décadas passadas foi um
importante produto para a economia local, tem apresentado um decréscimo continuo na
produção e hoje já não é muito representativa. No caso do açaí, importante produto na dieta
alimentar da população local, sua produção não vem evoluindo conforme ocorria antigamente,
devido à redução drástica das palmeiras nas áreas de várzea para a produção de palmito.

No caso do extrativismo animal, representado pela pesca artesanal, perdeu importância,


devido basicamente a dois motivos: a presença da pesca industrial, que passou a atuar
basicamente na mesma área delimitada para os pescadores artesanais; e o represamento do
Rio Tocantins à jusante da barragem da UHE Tucuruí, que impediu a piracema e a sobrevida
33

dos peixes que anteriormente eram capturados por aqueles pescadores, afetando assim o seu
meio de vida.

A pecuária passou a ganhar importância a partir de meados da década de 80, muito


embora ainda não se constituísse em principal atividade econômica.

O setor terciário é bastante dinâmico porem pouco diversificado, sendo que a quase
totalidade dos estabelecimentos relativos ao subsetor comercial tem se voltado
preferencialmente para a comercialização de produtos alimentícios, agropecuários e
extrativos, bebida e fumo, com presença significativa de estabelecimentos de porte varejista,
que são via fluvial, o que eleva o preço final do produto ao consumidor.

O município de Mocajuba se apresenta como um local de remanescente de quilombos,


locais com o Vizânia, Bairro do Arraial, Icatú, Bracinho do Icatú, Tambaí-Açu, Itabatinga,
dentre outras localidades, as quais possuem culturalmente elementos africanos, assim como
destacou Pinto (2001, p. 2):

Dessa forma, já no século XIX, a população negra na Amazônia


atingia uma quota bastante considerável. Estava distribuída na própria
capital da Província do Grão Pará, nas áreas circunvizinhas a Belém e
também em localidades mais afastadas. Nos preâmbulos do alvorecer
da abolição havia uma grande número de negros escravizados e
libertos, que estavam localidades mais afastadas. Nos preâmbulos do
alvorecer da abolição havia um grande número de negros escravizados
e libertos, que estavam localizados, além da capital paraense, em
paragens como Igarapé-Miri, Cametá, Mocajuba, Baião.

Embora não apresente nenhuma comunidade indígena no município, muitos alunos da


Escola Isaura Baía são oriundos da Comunidade Indígena Anambé do município de Moju, o
que motiva aos professores desta escola a desenvolver práticas educativas que permeiem uma
educação voltada para as questões étnicas e raciais em torno do Município de Mocajuba.

Quanto à educação o Município de Mocajuba, tem tido avanços no que tange às


questões étnico raciais. Após a Lei 10.639/03, tivemos esta discussão desenvolvida em um
Planejamento da SEMED do município; também vários professores tem se preocupado em
estudar sobre esta temática realizando cursos de especialização em História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena. Estes tem desenvolvido feiras pedagógicas com a temática,
apresentações de comunicações em congressos universitários, também participam em grupos
de pesquisa que discutem temas relacionados à temática afro-brasileira e indígena em
instituições como Universidade Federal do Pará e Universidade do Estado do Pará.
34

3.1.2- A Escola Isaura Baía

A Escola Estadual de Ensino Médio Prof.ª Isaura Baía está localizada na Rua Manoel
de Souza Furtado, 1133. Começou a funcionar no ano de 1989, para atender aos alunos dos
cursos de Administração e Magistério. Com a criação do ensino regular em 1989, passaram a
funcionar os cursos de Magistério e Educação Geral.

Imagem 2 - Escola Estadual de Ensino Médio Professora Isaura Baía

Fonte- Blog da Escola (disponível em: escolaisaurabaía.blogspot.com. Acesso em: 25 de outubro de 2013)

A escola foi autorizada pelo Conselho Estadual de Educação no ano de 1999 através da
Resolução nº 376 e reconhecida no ano de 1999 através da Resolução nº 376, tendo sido
reconhecidos os cursos de Educação Geral – Área de Ciência Humana e Magistério –
Exercícios de 1ª a 4ª séries.

Hoje, 2013, a escola conta com 1.715 alunos matriculados, funcionando o Ensino
Médio Regular, Modular (localidades de Mangabeira e Tambaí Miri) e a EJA – Educação de
Jovens e Adultos.

A escola possui cinco professores de História, três destes professores tem


especialização em História e Cultura Afro-Brasileira. Algumas atividades que contemplam a
exigência da Lei 10.639/03 já foram desenvolvidas como: pesquisa em localidades
quilombolas com os alunos, apresentação de trabalhos pelos alunos na escola e na
Universidade Federal do Pará.

Acredita-se que ainda há muito que fazer, especialmente a ampliação do diálogo com
outros professores de outras disciplinas, uma vez que que as leis de caráter étnico racial
35

exigem este interdisciplinaridade e trabalho conjugado como se observa a seguir segundo


parágrafo da Lei 11.645/08.

§ 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos


povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
literatura e história brasileiras.” (NR)

Ou seja, há necessidade de se trabalhar cada vez mais conteúdos que façam referência
direta à história e à cultura afro-brasileira, por meio da história, literatura e educação artística,
de modo que os sujeitos possam reconhecer-se no outro, criando-se uma alteridade de respeito
e luta pela mediação das diferenças, sem que isso implique a negação dos problemas político-
sociais que acometem a todos os sujeitos sociais que atuam na realidade brasileira e mundial.

3.2 - Atividades de Ensino Memória das Localidades Quilombolas e Indígenas

Partindo das orientações de Freire (1996), percebe-se o elemento da pesquisa como


algo primordial dentro da prática docente e discente. Esta atividade, portanto, objetivou
incentivar a pesquisa da própria realidade do aluno, como algo necessário dentro de um
contexto educativo que muitas vezes nega os saberes de sua existência. Neste sentido, trata-se
de uma dupla expectativa, não só pesquisar a sua realidade, mas criar condições para que os
alunos compreendessem a sua ancestralidade africana e indígena como parte de sua
constituição humana. Para isto buscou-se elucidar estes aspectos a partir da seguinte proposta.

1- Orientação sobre de como se daria a pesquisa;


2- Enfatizar elementos afro-brasileiros e indígenas;
3- Pesquisar junto a idosos, professores, não fazendo acepção de pessoas;
4- Socializar os resultados da pesquisa através do correio eletrônico, com o professor.

3.2.1 - Narrativa do Trabalho Pedagógico.

O ano letivo de 2012 iniciou com muitas expectativas; já estava eu entrando no


terceiro ano de trabalho nesta escola, trabalhando com uma das turmas de primeiro ano, em
sua maioria composta por alunos da área ribeirinha. Tratava-se da turma M1MRO2.18
Desejava inovar, pois fico inquieto com minha atuação, busco aperfeiçoar-me, busco
melhorar, pois sei que formação dever ser continuada, ressignificada e sobretudo aplicada,
mesmo diante dos desafios com carga horária elevada, devido também trabalhar no

18
Turma: Médio, primeiro ano, manhã, regular, número 02.
36

Município, sem muito tempo para planejamento e ainda a realidade de turmas lotadas e alunos
muitas vezes sem motivação. No entanto, não aceito fazer uma aula de qualquer maneira, fico
me perguntando o que fazer para motivar, o que fazer para não cair na rotina. Queria
surpreender. Fazia o exercício do professor reflexivo19, aplicava materiais, conteúdos,
metodologias e depois me avaliava para ver no que falhei e no que preciso melhorar. Afinal
de contas a academia tem este poder de nos deixar inquieto.

Deste modo, minha formação continuada me leva a pensar as possibilidades de levar o


aluno a pensar, a ser autônomo e também progredir nos seus estudos. Foi com este propósito
que propus a realizar algo que diferenciasse o trabalho docente e discente. No período da
segunda avaliação20, além das atividades escritas e socialização em sala, elaborei uma prova
escrita. Neste bimestre geralmente os alunos também estão envolvidos em festas juninas e a
atenção para os conteúdos é limitada. Neste sentido é necessário entender que as atividades
culturais fazem parte do contexto escolar, mas muitas vezes sem uma orientação satisfatória
os alunos acabam não conciliando as atividades extraclasse com a avaliação bimestral. Por
conta disto os resultados das provas que apliquei na disciplina de História do ano de 2012 na
Isaura Baía, não foram dos melhores. Muitas notas vermelhas. Também reconheço que a
prova não estava formulada de modo que contemplasse a metodologia que eu tinha
empregado nos exercícios de sala de aula.

Entretanto, foi através de uma reflexão que fiz sobre minha prática que resolvi mudar
a forma de avaliar na prova de recuperação. Propus uma pesquisa aos alunos para que estes
pesquisassem sobre suas localidades. Os mesmos aceitaram a proposta e comecei acompanhar
o processo de pesquisa em sala de aula perguntando e tirando dúvidas em relação ao trabalho
realizado. Pedi que enviassem por e-mail suas pesquisas. Os e-mails começaram a chegar. Ao
analisar os textos, percebi que tratavam de uma pesquisa segura, com nomes de pessoas
idosas e com auxílio de professores que também disponibilizaram material como fotografias,
dentre outros arquivos. Percebi o quanto não conhecia meu próprio município e vislumbrei
uma possibilidade de registro deste trabalho. A seguir estão as pesquisas feitas pelos alunos,
os quais, em formal de “survey”21 fizeram um mapeamento das localidades que eles moram.

19
Segundo Nunes (2010, p.1), “apoiado nos pressupostos do pensamento de Dewey, em particular a
conceitualização de experiência, Schön formula a sua perspectiva em torno de três aspectos: reflexão da prática,
reflexão sobre a prática, e sobre a reflexão sobre a prática”. Para ele, o professor possui um conhecimento
adquirido na prática, e o utiliza para a solução de diferentes questões.
20
Trata-se da segunda avaliação bimestral da Escola Isaura Baía da disciplina de História.
21
A palavra survey significa pesquisa breve em língua inglesa.
37

Acredito que os jovens podem construir e reconstruir seus saberes, para isso permitir
que eles produzam seus textos, oriundos de sua localidades, é de fundamental importância.
Assim como destaca Rodrigues (2007, p. 87):

Do ponto de vista da produção textual, quer oral quanto escrita,


observa-se que a maioria dos discentes domina vários gêneros textuais
a que são submetidos em suas comunidades, principalmente quando
consideramos que muitos deles são membros ativos de movimentos
sociais, como sindicatos, associações, pastorais, onde são requeridos
gêneros textuais mais próximos da oralidade, como a palestra, a
assembleia e a exposição oral- muito presente nos cultos dominicais e
demais atividades de mística espiritual [...]

E de fato os alunos nesta pesquisa de natureza histórica utilizaram este dinamismo da


linguagem ao fazer a entrevista, dialogando com moradores - idosos, professores, pescadores,
donas de casa; transcreveram as entrevistas, sistematizaram com os colegas os resultados
criando um ambiente de colaboração, pedindo orientação ao professor e por fim utilizaram o
correio eletrônico como meio de registro e comunicação desta pesquisa.
A seguir apresento as pesquisas, expondo os fragmentos dos escritos dos alunos e
tecendo os devidos comentários analíticos. Trata-se de trabalho de pesquisa proposto como
avaliação para os alunos. O objetivo era pesquisar suas comunidades de origem. Acredita-se
que isto impulsionou a realizar uma pesquisa histórica de modo que os relatos orais pudessem
dar conta de um mapeamento histórico afro-indígena da população pesquisada.

3.2.1 - Pesquisa sobre a Comunidade da Vila Vizânia


A primeira pesquisa que irei relatar foi desenvolvida pela aluna Kelly Rodrigues
Veiga, a qual é moradora da comunidade de Vila Vizânia.
Sua pesquisa se inicia apresentado as origens do lugar.
Em 1840 na localidade de Vizeu antes de ser o que é agora havia um
sitio chamado “padaria” onde moravam várias famílias mais antigas
que trabalhavam no cultivo de cacau e látex (borracha) onde as
crianças não tinham o que fazer, nem brincar para se distrair, então
confeccionaram uma ave em forma de pombo com buriti (arvore típica
da região ribeirinha, especificamente de várzea) para servir de santo,
espetaram-na em uma tala e chamaram outras crianças e começaram a
brincar, cantar, bater palmas, e quando os adultos viram a brincadeira
e a ave que conduziam na procissão deduziram que aquela pomba
poderia ser o símbolo do espírito santo e deram o nome de
“Santíssima Trindade dos Inocentes” por ter sido ideia das crianças.
(VEIGA, 2012, p. 2)
38

Num primeiro momento a aluna faz uma abordagem histórica do lugar, explicando a
origem do nome da localidade de Santo Antônio do Viseu. Observa-se uma associação do
nome do lugar com a cultura vivida neste local
Num outro relato a discente apresenta os objetivos do trabalho, a metodologia, e os
sujeitos da pesquisa. (idem)
O presente trabalho apresenta de maneira clara e objetiva a história da
vida dos moradores e da localidade quilombola de vila Vizânia onde
mora município de Mocajuba-Pará destaca os diversos aspectos
relacionados à cultura e ao modo de vida dos moradores e por meio
deste, constata como a cultura de um povo é constituída, reconstituída
e transmitidas para as gerações futuras através do conhecimento
adquirido ao longo de sua história. Nesse sentido, esse estudo foi
realizado através de pesquisas, depoimento de moradores mais idosos,
documentos antigos, fotos e produção da história de vida dos
moradores.

Neste momento, observa-se que a mesma foi orientada pelo professor da disciplina e
também por educadores de sua comunidade, demonstrando sua capacidade de busca e
autonomia frente à proposta de atividade.

Comunidade remanescente de quilombo legalmente reconhecida


através de título coletivo em 02 de dezembro de 2008 pelo decreto
estadual n°3572/1999. Vila Vizãnia, localiza-se a margem direita do
Rio Vizeu no município de Mocajuba, estado do Pará. Foi fundada no
dia 16 de Maio de 1896, pela lei n°422. O que antes era apenas um
povoado passou a ser registrada como Vila São Pedro de Vizeu, mais
que ao longo da História, recebeu o apelido de vila Vizãnia ou Vizeu.
Atualmente a comunidade possui 65 (sessenta e cinco). Famílias, um
total de 220 (duzentos e vinte) habitantes entre crianças, jovens e
adultos. Ao lado direito faz divisa com a comunidade de Santo
Antônio e a esquerda com a localidade de Beira da Várzea a frente
com o rio Vizeu e ao fundo com a comunidade de Itabatinga.
(VEIGA, 2012, p.2)

Neste fragmento da pesquisa da discente Kelly Veiga, constata-se o laudo que oferece
o parecer de comunidade quilombola. Neste aspecto, reconhece-se que os moradores possuem
em sua trajetória uma história marcada pela influência dos negros que são de origem cabana e
que por conta das fugas povoaram as margens do Rio Tocantins, formando vários quilombos
como espaço de resistência.

Além da aluna anotar suas impressões do lugar, também utilizou recursos fotográficos,
que decorrem utilização de celular. Neste aspecto convém ressaltar que as tecnologias podem
servir de recurso para atividades de história; num momento em que o espaço urbano vive com
intensas modificações, os registros fotográficos auxiliam os alunos neste sentido. Adiante
observamos o registro de duas fotos da capela do lugar.
39

Imagem 3- Imagem do espaço Externo da Capela.

Fonte- Veiga (2012)

Imagem 4- Imagem do espaço interno da Capela de Vila Vizânia.

Fonte- Veiga (2012)

Estes registros fotográficos da localidade da discente enriqueceram a pesquisa, pois


houve uma preocupação da discente em utilizar a fotografia. Como ela mesma ressalta: “Na
minha localidade, possui duas igrejas: católica e evangélica” (VEIGA, 2012,p.2). Embora as
imagens acima mostrem apenas a cultura católica, a qual deu origem a nome do lugar e que
certamente está ainda fazendo parte do ambiente cultural, a aluna não deixa de frisar a
presença da comunidade evangélica.

Sobre a festa da Trindade dos inocentes relata a aluna:

A partir daí se reuniram e as famílias se organizaram para festejar a


novena ao Deus uno e trio (pai, filho e espírito santo) depois de tudo
isso mandou construir uma imagem de ouro, e assim foi crescendo e
por volta do ano de 1887 o local ficou pequeno não suportou a
grandiosidade do evento, além disso, situava-se no meio de uma ilha
denominada “ilha grande do Vizeu”, onde com o tempo surgiram
várias praias e passou a ficar difícil onde barcos e canoas não podiam
entrar e ancorar no porto da festa. Nesse período o senhor Alfredo
Vicente de Leão comerciante e calculista da época proprietário de
vários terrenos tomaram a frente da organização dos festejos doou
para a Santíssima Trindade outro terreno com mais facilidade de
acesso, localizado a margem direita do rio Vizeu para que pudesse
40

continuar a festividade. Na margem do rio que há em frente foi


construído o bar da festa, uma construção de dois andares em forma
de barco de aproximadamente 20 x 7 m. (VEIGA, 2012, p.3)

Neste momento da pesquisa, aluna explica como se deu o início da festividade da


Trindade dos Inocentes22. Nota-se a participação de benfeitores para que a festa continuasse
devido ao acesso de mais pessoas nos momentos de novenário.

Na dimensão educacional, a aluna traz a foto de duas escolas, as quais são típicas
destes locais. Feitas em madeira, sem estruturas mais arrojadas. É importante frisar, que
nestas escolas, que atendem as crianças ribeirinhas, há normalmente dois profissionais, ou
apenas um para trabalhar com educação infantil e ensino fundamental, na modalidade de
multisseriado. Além de fazer o trabalho de docência, também exercem o trabalho de gestor da
escola e ainda de merendeiros, o que acarreta uma sobrecarga de funções, assim como ressalta
a aluna.

Dentro dessas localidades há duas escolas funcionando a primeira é a


escola Ângela de Leão Mendonça e a segundo Godofredo Campos são
esses nomes em homenagem aos moradores mais velhos, já falecidos.
Em 1981, na administração do prefeito de Mocajuba Hildebrando
Sabá Guimarães, foi constituída a escola Ângela São Mendonça,
possui salas de aula, uma sala livre, cozinha, banheiro (fora do
prédio), nessa escola há 65 alunos de 1ª a 4ª serie, os professores são:
Marly Sebastiana Nunes Cabral e Maria Gilbert Nunes Cabral e os
professores mais antigos eram: Antônio Moreira Viana, Tita Miranda
de Albuquerque, Maria José Ramos Costa, Dolonita Dutra de Silva. A
outra atender o público infantil foi construído em 1997, o prefeito
Wilde Colares Visitou essa localidade e aos moradores solicitaram ao
prefeito uma escola infantil com crianças de (03 a 05 anos), os alunos
a mando do prefeito estudaram um bom tempo na cara comunitário
em 2004 no segundo mandato do Prefeito Wilde Leite Colares, que
tinha como secretario de educação infantil ganhou prédio próprio hoje
nossa escola há 33 alunos divida em duas turmas, estudando com a
professora Elizabeth Nunes da Silva.(VEIGA, 2012, p.4)

Neste momento a aluna traça um panorama histórico das escolas que funcionaram na
localidade, destacando os nomes das mesmas e seus respectivos professores, ainda se observa
a intervenção do poder público na fala da aluna.

22
Segundo relatos de moradores esta festa acontece anualmente em honra a Santíssima Trindade.
41

Imagens 5 e 6: Duas escolas - Educação infantil e Ensino fundamental (1ª a 4ª serie).

Fonte: Veiga (2012) Fonte: Veiga (2012)

Quanto aos momentos de lazer a aluna assim se expressou:


A localidade de Vizeu não possui a energia elétrica nem saneamento básico. No
verão, nos rios aparecem as praias, mas no inverno a comunidade é inundada pelas
cheias. E apesar dos moradores estarem satisfeitos com os festejos do São Pedro e
da Santíssima Trindade dos Inocentes havia uma vontade de se ter, dentro ou
próximo de Vizeu um espaço dedicado ao esporte. Então o Sr. José de Sousa
(responsável pelos festejos) reuniu os jovens, formou um time, ele foi um dos
primeiros presidentes do São Pedro e doou para o clube uma área para se construir o
estádio de futebol. ( VEIGA, p. 4)

Imagem 7: Campo Futebol

Fonte- Veiga (2012).

Na questão da economia a aluna fala da agricultura, pesca como principais atividades


econômicas:

Por volta do ano de 1952, os moradores sobreviviam da pesca, na época havia


fartura de peixe e camarão e da agricultura no cultivo de açaí, mandioca, cacau,
borracha e andiroba. Também trabalhavam nos seringais e caçoais dos “patrões”,
também comerciantes, em troca de alimentos como: cachaça, jacaré, charque, feijão,
arroz café e açúcar, tudo para o sustento da família. Pegavam os produtos no sábado
e trabalhavam durante a semana para pagar o que tinha de debito. Quando morria
alguém da família, alguns pequenos proprietários entregavam suas terras para os
comerciantes em troca de um “bonito funeral” para o seu ente querido. Hoje com os
impactos ambientais e principalmente com a construção da hidrelétrica de Tucurui e
o desmatamento, não existiam peixe nem caça forçando as famílias sobreviverem do
artesanato na fabricação de palmeiras e da roça com a produção da farinha.
Pequenos projetos, incentivo do governo federal também ajudam como o açaí, cacau
42

e mandioca. Com isso podemos constatar que, e de suma importância que os


projetos do governo federal com relação agricultura, chegam até o homem do campo
dando-lhe a oportunidade de trabalhar e ter uma vida mais digna na luta pela
sobrevivência. Atualmente o morador dessa localidade mantém como fonte de renda
e consumo próprio, cultivo do açaí e cacau, além de algumas atividades pesqueiras
de: peixe e camarão, elas se destacam: pesca artesanal e tanques. (VEIGA, 2012,p.5)

Nos aspectos culturais a aluna faz uma descrição de expressões utilizadas para a
comunicação entre os moradores. E esta fala é mais utilizadas pelos moradores idosos do local
conforme tabela abaixo.

Tabela 2: Expressões comuns usadas em Santo Antônio do Viseu

Pizante: Sapato Becado: bem vestido


Marrudo: Forte, viril Estrato: desodorante
Papagaiado: Conversa em tão alto Encarnado: Vermelho
Safo: Inteligente Baqueado: Doente
Zerado: Bêbado Pateta: Desatento
Carece: Precisa Bago: Pilular
Taberna: Mercearia Pivide: Semente de cacacau
Mudinha: Musica Pavulagem: Exibido
Omodo: Verbo parecer Mufino: Febril
Galo: Namorador Sulero: Dia Ensolarado
Estribado: Com muito dinheiro La quito: Exibido
Arruaça: Briga Pariu: Ganhou Nenê
Bóia: Comida Confronte em frente
Apresentado: Quer ser sempre o 1° Paresque: Sim
Fonte: Veiga (2012)

Alguns saberes são de fundamental importância para a saúde dos moradores assim
com ressalta a discente:

Acostumados com a falta de um serviço de saúde de qualidade, os moradores


cultivam e utilizam alguma ervas no combate e prevenção de algumas doenças,
esses conhecimentos foram herdadas dos nossos antepassados negros e índios.
Conheçam alguns e pra que serve (VEIGA, 2012, p.9)

A aluna ainda descreve os produtos e suas funções curativas, saberes que ainda fazem
parte dos tratamentos de saúde locais. Esta tradição é muito comum nas cidades ribeirinhas,
costuma-se receitar chás com as ervas para uma variedade de doenças da região. Costuma-se
também aplicá-las através de benzeções, ou ainda como emplastos em locais atingidos por
mordidas de animais.

É interessante observar que nestes locais a medicina é escassa e assim a necessidade


de se recorrer a estes tratamentos é fundamental para socorros imediatos. Entretanto também
há momentos em que os saberes coexistem, uma vez que o conhecimento de alguns remédios
faz com que se use remédios comprados em farmácias na cidade.
43

Tabela 3- Produtos naturais terapêuticos de Santo Antônio do Viseu.

Andiroba - Óleo do fruto serve para matar piolhos e desfazer hematomas.


Erva-Cidreira - Chá das folhas, calmante e laxante.
Mucuracaá- Seiva serve para dor de cabeça.
Amor-Crescido- chá das folhas serve para perturbações intestinais.
Pariri- Chá das folhas combate a anemia.
Urtiga- Chá das Folhas, cura dores menstruais, combate inchaço.
Quebra- Pedra- Chá das folhas para problemas renais
Canela chá das folhas; calmante.
Mastruço -chá das folhas Calmante
Sucuba- seiva fortalece o útero.
Limão- fruto e chá das folhas previnem a gripe
Verônica- chá da casca previne e cura anemia
Laranja da terra- Fruto e chá das folhas, combate abomina e anemia.
Arruda Infusão das folhas, convulsões
Jucá- fruto tratado cura ferimentos
Sarva- chá das folhas combate hemorragia.
Boldo- chá das folhas funções hepáticas.
Mata- Pasto- chá das folhas combate colesterol.
Jenipapo- suco da fruta diabete.
Capim- Limão chá das folhas combate colesterol.

Fonte- Veiga (2012)

3.2.2- Pesquisa sobre a comunidade indígena Anambé

Esta pesquisa sobrea a Comunidade Indígena Anambé foi realizada pela aluna Mainha
Ampurã. Nas aulas, observei pela chamada o nome de Mainha e seu sobrenome. Aproximei-
me e perguntei de onde ela era. Ela me disse que era de origem Anambé. No período da
proposta do trabalho, fiz questão de dizer que seu trabalho era de suma importância para que
se contemplassem os objetivos da pesquisa. O trabalho não veio com fotografias, mas o texto
apresenta muitos dados imprescindíveis sobre os Anambés. A escola Isaura Baía recebe
alunos oriundos deste grupo indígena.
44

Imagem 8- Comunidade Indígena Anambé.

Fonte- Blog Rio das Cobras

A princípio a aluna inicia seu texto apresentando a origem da povoação indígena


anambé do Moju (município próximo a Mocajuba):
Os índios Anambé viviam no passado a oeste do rio Tocantins, nas cabeceiras do rio
Pacajá, que desemboca no rio Pará (braço do estuário do Amazonas que corre pelo
sul de Marajó), perto de Portel. Segundo relato tomado de um líder Anambé pelo
pesquisador Ferreira Pena, em 1884, viviam desde muito tempo nas cabeceiras do
Pacajá, obedecendo a um líder oriundo do ocidente, sábio e guerreiro. Os brancos
lhes vieram fazer guerra; depois, os jesuítas, que com eles mantinham a paz,
começaram a separar as mulheres dos maridos e a levar muitos para Portel, os
homens para trabalhar nas roças e remar, as mulheres para lavar roupa e cozinhar.
Isso os desgostou muito, levou-os a desobedecer ao chefe e a separarem-se. Índios
antropófagos lhes vieram fazer a guerra e eles retiraram-se para as cabeceiras do rio
Cururuí, um afluente do Pacajá, formando a aldeia de Tauá, donde depois foram
para o lugar onde o diretor de índios quis aldeá-los. (AMPUMURÃ, 2012, p. 1).

Ainda falando da história de sua gente a aluna descrever com detalhes a origem do
povoado indígena.

De fato, em 1852, uma parte dos Anambé se aproximou da margem esquerda do


Tocantins, pediu proteção e se aldeou junto ao distrito de Baião. Os outros
continuaram no alto Pacajá. Estes, em 1874, depois de uma guerra contra os
indígenas chamados "Curumbu", ficaram reduzidos a 46 indivíduos; no ano seguinte
morreram mais 37 de varíola. Os restantes foram juntar-se aos Anambé que se
haviam aldeado junto ao Tocantins. As Anambé passaram a viver então nas
proximidades da cidade de Baião, nas ilhas dos Santos e de Tauá. Até o final do
45

século XIX os Anambé oscilaram entre o Tocantins e o Pacajá e em algum momento


atravessaram para a margem oriental do Tocantins, indo para a bacia do rio Moju.

Neste fragmento encontram-se outras mobilidades do grupo indígena que se juntam a


outras comunidades indígenas. Também é descrita uma situação de doenças e de dispersão do
grupo em diversos municípios, localizando-se no atual local onde residem os familiares de
Mainha. A partir desta parte do texto, observam-se informações importantes sobre a situação
econômica dos índios anambés.

As primeiras informações sobre os Anambé na bacia do Moju ora os confundem


com os Turiwara, ora com os Amanayé. Conforme narraram ao antropólogo
Napoleão Figueiredo, nas cabeceiras do Moju entraram com os Gaviões do Oeste,
que dali os expulsaram, obrigando-os a se deslocando na direção do Cairari. A
princípio foram os únicos habitantes do alto Cairari, mas a partir dos meados do
século XX começaram a entrar nessa área madeireiros e extratores de balata. A
princípio os Anambé não foram engajados no trabalho da madeira, atuando mais
como fornecedores de peles, carne de caça e farinha. Nos anos 70, alguns Anambé
participavam nas turmas de madeireiros como trabalhadores diaristas, enquanto
outros negociavam a madeira com um regatão, que era relacionado à mesma
serraria. Mas a sua participação nos trabalhos da madeira era intermitente, e se
tornou apenas ocasional na década seguinte. ´

Trazer o aspecto econômico do grupo foi de fato fundamental na fala de Mainha, uma
vez que a aluna consegue realizar uma pesquisa enfocando vários elementos da comunidade
indígena. Pois os anambés vem sofrendo forte influência de branqueamento, dando lugar a
atividades da sociedade envolvente. Não se pode pensar que isto é de todo negativo, pois
todas os povos não vivem mais isolados, fazem o processo de transculturação. O que ocorre é
que os saberes como língua eculinária muitas vezes são desvalorizados.

Nestes sentido a atividade de pesquisa pela aluna indígena garante uma relação de
valorização de sua própria cultura com um fator de afirmação identitária e ao mesmo tempo o
reconhecimento de que seu povo possui saberes tradicionais que garantem a manutenção dos
princípios culturais de sua gente.
46

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência educativa traz para o contexto escolar novos desafios. A cada projeto de
ensino, busca-se inovar. Refletir sobre nossa ação leva-nos a repensar, a caminhar de modo
mais seguro. O trabalho acima relatado constitui-se como um novo momento que para mim
foi de extrema importância tendo em vista modelos arcaicos de ensino 23 que embora ainda
tenhamsuas contribuições abrem espaço para possíveis remodelagens. É um desafio constante
tendo em vista os recursos parcos, programas de conteúdos a vencer. No entanto, com
ousadia, vontade de inovar, parcerias e, sobretudo, o engajamento de nossos alunos é possível
realizar novos projetos que dei conta de novos momentos no Brasil.

A lei 10.639/03 e a lei 11.645/08 estabelecem este novo momento, pois marcam
diretrizes de acesso à cultura afro-brasileira e indígena dentro da escola. Na região tocantina,
mais especificamente em Mocajuba, encontra-se uma educação permeada pelo número
crescente de jovens de áreas ribeirinhas e do campo que majoritariamente são muitas vezes
desapropriados de seus próprios saberes.

Este relato de experiência se propôs a evidenciar dentre muitos trabalhos a vontade de


ressignificar o ensino-aprendizagem de história. Articular, cartografar saberes, inserir no
contexto escolar. Pensar a história como esta disciplina capaz de promover este debate e
aplicabilidade destas metas. Para isto o caráter de pesquisa local, utilizando a pesquisa oral,
como uma abordagem significativa deste processo, é algo que contribui para este objetivo.
Desafiar nossos educandos a serem pesquisadores participantes de sua própria história deve-
nos levar a continuar neste trabalho. Pois como ressaltou Freire (1996), o professor
pesquisador forma alunos pesquisadores, isto é educação e promoção de autonomia.

Focando a diversidade, faz-nos exercitar a inclusão, a cidadania e a formação


de cidadãos comprometidos com seus desejos, com suas metas. Se alcançarmos pelo menos o
primeiro objetivo o segundo se fará por consequência. Espera-se contribuir com a educação
de nossa região, suscitando reflexões, produções de materiais e currículo que valorize nossas
histórias, deste modo teremos como dizer que nossa história, nossos sabres estão
contemplados nas instituições de ensino da Amazônia Tocantina.

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Estes modelos referem-se a pedagogia bancária analisada por Freire (1996)
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