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Do It Yourself Interação Reconhecimento e Diversão Na Cultura Digital Trash
Do It Yourself Interação Reconhecimento e Diversão Na Cultura Digital Trash
Do It Yourself Interação Reconhecimento e Diversão Na Cultura Digital Trash
Resumo
Palavras-chave
Introdução
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Trabalho apresentado na Divisão Temática, da Intercom Júnior – Jornada de Iniciação Científica em Comunicação,
evento componente do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
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Estudante de graduação do 4º ano do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da UEPG. E-mail:
akd.kit@gmail.com
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difundido de forma viral, não faz sentido tentar hierarquizá-lo por número de acessos ou
por relevância, já que o próprio acesso é muito difícil de controlar.
O terceiro passo refere-se às entrevistas. Estas tem por objetivo reunir
informações suficientes para que, a partir delas, se possa então produzir a grande
reportagem. As entrevistas serão divididas em dois grupos: o primeiro deles será
composto por consumidores e/ou produtores de conteúdo trash (a definir), incluindo
aqueles que adquiriram reputação entre seus pares por meio da produção de “lixo
digital”. O segundo grupo será composto por especialistas da área de cibercultura,
direito e sociologia. Para ambos os grupos serão feitas perguntas abertas, baseadas em
um roteiro pré-estabelecido.
O quarto e último passo é o cumprimento de fato do objetivo do trabalho, que é a
produção da reportagem em si. Para isso, serão utilizados os procedimentos
metodológicos empregados na seleção e construção da reportagem. A estrutura do texto
será a de construção em blocos, matriz normalmente utilizada no gênero de jornalismo
interpretativo.
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Chaparro (2008) define a reportagem como o relato jornalístico que vai além das
fronteiras da notícia por seu grau de extensão, aprofundamento e liberdade estilística.
Ela pressupõe desvendamentos, complementações, polêmicas ou elucidações que
tornam mais ampla e mais complexa a atribuição de significados a fatos que estão
ocorrendo ou a situações de grande relevância. Nas palavras do autor, “a reportagem
constrói e/ou propõe contextos para situações, falas, fatos, atos, saberes e serviços que
revelam, alteram, definem, explicam ou questionam a atualidade” (CHAPARRO, 2008,
p. 182).
Beltrão (1980), num esforço de tentar categorizar o texto jornalístico para além
dos gêneros informativo e opinativo, propõe uma classificação intermediária a ambos: o
texto interpretativo, tendo como principal formato a reportagem em profundidade. Para
ele, a reportagem interpretativa consistiria na “informação que, sem opinar, coloca
diante da massa o quadro completo da situação de atualidade” (BELTRÃO, 1980, p.
50).
Diante da definição do autor, é possível assegurar que uma das principais
características do jornalismo interpretativo é o aprofundamento do tema. Seu texto tem
caráter recuperativo, com enfoque centrado na análise dos fatos e das consequências.
Esta característica, aliada à narrativa composta (mescla de trechos descritivos e
dissertativos) e à estrutura do texto construída em blocos (união das informações em
conjuntos de dados), forma o modelo de texto interpretativo que temos na atualidade.
Marques de Melo (2005 apud CORDENONSSI, 2008) distingue quatro formatos
ao classificar o gênero interpretativo: o dossiê (trata-se da informação detalhada e
colocada em tópicos, a fim de complementar a narrativa principal de uma edição,
familiarizando o leitor com determinado fato), o perfil (relato biográfico que serve para
identificar os agentes noticiosos), a enquete (relato das narrativas ou pontos de vista de
alguns cidadãos, criando um debate de ideias) e a cronologia (exposição do
acontecimento em ordem temporal, que complementa a cobertura de fatos
extraordinários ou cuja dinâmica tem como alavanca o fator tempo). Estes formatos,
somados à classificação de Beltrão que inclui a reportagem em profundidade,
constituem a categorização do gênero interpretativo de jornalismo que perdura até hoje.
A reportagem em profundidade de Beltrão é o que se costumava chamar de
grande reportagem jornalística, um modelo mais extenso e muito mais trabalhoso do
que a reportagem “comum”, e que procura explorar um assunto cercando todos os seus
ângulos. Levando em conta todas as características atribuídas ao jornalismo
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Esses são alguns dos olhares possíveis para abordar o tema, a maioria deles apresentado no Simpósio de Cultura
Digital Trash realizado em dezembro de 2006, no Rio de Janeiro. Como partem de uma mesma discussão, os textos
de maneira geral se referenciam e se complementam.
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sempre uma definição consensual, mas citando elementos que compartilham das
mesmas características essenciais.
Lemos (2006) define o trash na web como sendo todo o excesso criado pela
liberdade de produção, incluindo blogs pessoais, hacking, montagens, entre outros. O
autor se preocupa em delinear os traços que unem a cibercultura em suas expressões
atuais (blogs, podcasts, hacking, softwares livres, games, redes P2P, etc.) - berço do
digital trash - com a máxima do movimento punk dos anos 70 – o “do it yourself” ou
“faça você mesmo” – que significa que os usuários são livres para consumir, reutilizar,
modificar e distribuir informações em um espaço quase infinito, e sem que haja nenhum
tipo de regulação. Isto se diferencia completamente da lógica seguida pela mídia
tradicional, na qual os papéis no processo comunicacional estão bem distribuídos.
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1. Os consumidores do digital trash tem uma postura ativa em sua relação com os
meios de comunicação. Eles interagem entre si, com as novas tecnologias e com
o contexto da produção dos conteúdos, até então quase que exclusivamente
controlada por conglomerados empresariais.
2. Os padrões de qualidade midiáticos e estéticos desses produtos culturais
divergem bastante do padrão de mídia tradicional. A narrativa e o formato do
digital trash são marcados pela crítica e pela ironia, como também pelo grotesco
e pela banalidade – características nem sempre bem vistas. A respeito disso,
avalia Alex Primo:
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É fato que já não tenho com esse Outro que me fascina uma relação
de reverência e distância. Defino-me através dele, mas buscando
nessa relação algum elemento que possa me individualizar (minha
“paródia” de suas construções identitárias; meu humor como índice
de minha individualidade). Sinto-me conectado a ele, já que posso
responder ao que ele me apresenta, dialogar com sua “fala”. O
fascínio move minha imitação; o fascínio me aproxima do outro; o
fascínio me oferece instrumentos de identificação. (FELINTO, 2008,
p. 41)
Memes
O conceito de meme foi cunhado por Richard Dawkins em seu livro “O Gene
Egoísta”, publicado em 1976. Nele, o autor compara a evolução cultural com a evolução
genética, na qual o meme é o “gene” da cultura, que se perpetua através de seus
replicadores, as pessoas. Os memes podem ser uma ideia ou parte dela, uma linguagem,
desenho, valor estético, moral, ou qualquer outra coisa que possa ser facilmente
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Spoofs
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Mashups
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Mais especificamente, 7.769.526 visualizações no YouTube desde o dia de sua postagem, 25 de maio de 2009, até o
dia 17 de maio de 2010 às 20h35.
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Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=lj-x9ygQEGA
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Este número foi obtido digitando as palavras “literal video version” no mecanismo de busca do YouTube, em 17 de
maio de 2010 às 20h51.
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Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ePjESN9pRdg
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Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=umv5YjYmJ30&feature=PlayList&p=45C91BDFE0E3705D&playnext_from=PL
&playnext=1&index=3
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Funks
O funk é um estilo musical de origem negra que nasceu nos EUA. O gênero se tornou
popular na década de 1960, com James Brown, e era marcado pela batida única, ritmo
dançante e letras sensuais. Como todo gênero musical popular, o funk foi ganhando
diferentes influências com o passar dos anos, e, no Brasil, foi fortemente influenciado
pelo “Miami bass” e suas gírias de gueto, a temática sexual e a batida eletrônica
nitidamente inspirada no funk dos anos 70.
Talvez por causa de sua popularidade e de suas letras pouco eruditas, o funk é
usado na web para atribuir ironia ou enfatizar a graça de um vídeo ou imagem que já
repercutiu entre os internautas. É o caso, por exemplo, dos funks do “Pedro, me dá meu
chip12”, ou do “Lasier Martins tomando choque13”. É interessante observar que, em
grande parte das vezes, quando um vídeo é “funkado”, este vídeo também deriva outros
produtos trash, como spoofs e mashups.
Fakes
Os fakes – identidades forjadas na internet – são outro exemplo que compõe o cenário
digital trash. Muitos artigos acadêmicos foram produzidos na tentativa de compreender
as causas que levam à formação deste fenômeno, entre eles, Mocellim (2007), que
classifica os fakes em quatro tipos: os obviamente falsos (que fazem questão de se
proclamarem fakes); aqueles que buscam copiar personagens ou alguma pessoa real
(como, por exemplo, famosos da TV); os espiões (criados no intuito de espionar a vida
de alguém sem ser descoberto); e por fim aqueles que querem parecer não-fakes (que se
preocupam mais em parecer com uma identidade fidedigna).
Aqui não interessam os perfis fakes dotados de “más intenções”, ou seja, aqueles
criados para espionagem da vida alheia ou para prejudicar alguém. Interessam aqueles
criados com a finalidade de entretenimento, nos quais o fim maior é divertir a
comunidade a qual pertence e divertir o próprio criador.
A maior concentração de fakes é encontrada atualmente em sites de
relacionamento como o Orkut e o Twitter, e como grandes exemplos podem-se citar os
perfis fake no Twitter de Silvio Santos14, Dercy Gonçalves15, e Xuxa Meneghel16.
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Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=-jEplyCeRf8&feature=related
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Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=eTJ-UV91vAU
14
http://twitter.com/silviosantos
15
http://twitter.com/DercyGoncalves_
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Possíveis Resultados
Referências Bibliográficas
BELTRÃO, Luiz. Jornalismo Interpretativo: Filosofia e Técnica. Porto Alegre: Sulina, 1980.
CHAPARRO, Manuel Carlos. Sotaques d’aquém e d’além mar: travessias para uma nova
teoria de gêneros jornalísticos. São Paulo: Summus, 2008.
FELINTO, Erick. Videotrash: o You Tube e a cultura do spoof na internet. In: Revista Galáxia,
São Paulo, dezembro, 2008.
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http://twitter.com/xuxameneghel_
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LEMOS, André. Cibercultura, cultura e identidade. Em direção a uma “cultura copyleft“? In:
Contemporânea – Revista de Comunicação e Cultura. Salvador, n. 2, vol. 2, p. 09- 22, dez.
2004.
MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1994.
MELO JUNIOR, Cleuton Sampaio de. Web 2.0 e Mashups: reinventando a internet. Rio de
Janeiro: Brasport, 2007.
MOCELLIM, Alan. Internet e identidade: um estudo sobre o website orkut. In: Revista Em
Tese. janeiro-julho/2007.
PRIMO, Alex. Digital trash e lixo midiático: A cauda longa da micromídia digital. In: Vinicius
Andrade Pereira. (Org.). Cultura Digital Trash: Linguagens, Comportamentos,
Entretenimento e Consumo. Rio de Janeiro: e-Papers, 2007, v., p. 77-93.
___________. A busca por fama na web: reputação e narcisismo na grande mídia, em blogs, e
no Twitter. Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba:
INTERCOM/ UFRGS, 2009.
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