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Giuseppe Barbaglio, A Laicidade Do Crente
Giuseppe Barbaglio, A Laicidade Do Crente
Giuseppe Barbaglio, A Laicidade Do Crente
A LAICIDADE DO CRENTE.
A relação com o mundo no
evangelho de Jesus e de Paulo *
Giuseppe Barbaglio**
RESUMO: Os cristãos vivem no “mundo”, com todos os outros homens. Por causa de sua fé, fazem
uma experiência peculiar de “mundaneidade. O autor faz exegese teológica de vários textos – 111
bem difíceis, como diz ele - em que S. Paulo examina a questão da presença deles no mundo, ou
seja na política e na sociedade. Situa inicialmente a comunidade dos crentes dentro da historia “e
do mundo, chamando a atenção para o significado especial desse presença como criaturas novas
e livres em Cristo - livres do mundo idolátrico e da lei de Mosaica. Ao mesmo tempo, morrem
com Cristo para a vida egocêntrica e passam a uma solidariedade entre crentes e mundo. O
novo culto que prestam a Deus não depende mais de sacrificios rituais, ao mesmo tempo o autor
explora o significado da morte de Cristo como sacrificio. E por fim conclui que o cristianismo que
vai bem além do aspecto confessional.
ABSTRACT: Christians live in the “world”, with all the other men. Because of their faith, they go
through a peculiar experience. The author makes theological exegesis of several texts – indeed
difficult texts - -in which St. Paul examines the issue of their presence in the world, namely the
presence in politics and in society. Initially he situates the issue of presence of believers within the
story. Highlights the new world created in Christ, where he dies for the ego-centered life. Shows
how Paul understands the new freedom in Christ, solidarity among believers and the world, and
the new worship that pleases God. Recognizes the limits of sin, of which Christ frees us. Finally,
the author emphasizes, as Paul points to one Christianity that goes well beyond the confessional
aspect.
Antes de tudo, Paulo para “mundo” usa dois vocábulos que derivam do
judaísmo grego, não da tradição hebraica mais antiga - que fala de mundo como
criação de Deus. Sobretudo “kosmos”: o mundo como realidade bela e ordenada
e depois “aion”, isto é: “o mundo em sua duração”. Nós diríamos :”as gerações do
mundo que se sucedem”.
112
Especialmente em Jesus e Paulo, o problema do mundo não é tanto saber
que coisa é o mundo, que coisa é o tempo; mas, o relação entre nós e mundo.
Ou, em outra perspectiva, que coisa querem dizer o tempo e o mundo para nós.
Eu escolhi dois textos um pouco difíceis e também à primeira vista ambíguos
em Paulo, para conseguir dizer alguma coisa a respeito deste argumento assim
complexo: a inclinação dos crentes no mundo, isto é a presença dos crentes na
politica e na sociedade . São textos difíceis, mas que é preciso ter a coragem de
afrontar, porque são também muito importantes. Certo, Paulo não é o único,
mas é uma presença bastante significativa das Escrituras cristãs .
“Eu vos escrevi na minha carta que não vos misturásseis com os devassos,
mas não pretendia em todo caso referir-me aos devassos deste mundo ou aos
avarentos, ladrões, idólatras. Pois de outro modo deveríeis sair do mundo. Eu vos
escrevi pelo contrário, para não vos associardes com quem portando o nome de
irmão é devasso ou avarento ou idólatra ou maledicente ou bêbado ou ladrão:
não comais nem mesmo junto com tal pessoa.”
A primeira Carta aos Corintos foi enviada para a igreja que Paulo tinha
fundado em Corinto. Corinto era uma cidade portuária, e à época muito
importante. A Corinto grega tinha sido destruída pelos Romanos pelo ano 150
aproximadamente antes de Cristo, mas depois do ano de 49 Júlio Cesar a refundou
como colônia romana. Corinto representava o encontro de duas culturas, a
grega e a romana. Para ali, confluíam vários grupos sociais. Enquanto Atenas, que
naquele período estava em crise, Corinto era a grande cidade, onde se faziam
também os jogos panelênicosi (não só em Olimpia!). Naquele mundo cultural
muito vivo e diversificado assistíamos ao primeiro encontro, ou desencontro em
alguns aspectos, de uma comunidade cristã no mundo, numa cidade a cultura
metropolitana.
Numa primeira carta, que estava perdida, para a comunidade de Corinto
- Paulo a tinha fundado pelo ano 50 - continha esta surpreendente exortação: “
vós deveis evitar o encontro com os pornoi”. Os pornoi eram os devassos. Porém
a palavra pornos não quer dizer só o devasso sexual, mas também, segundo a
polêmica judaica, o idólatra. Os hebreus chamavam de “imorais” aos pagãos que
adoravam as divindades. Pois que em Corinto - que era também uma cidade
eticamente muito corrompida - o significado desta palavra variava entre “idolatria”
e “licenciosidade ético-moral, sexual”. 113
Então os crentes de Corinto tinham respondido a Paulo, perguntando-lhe
como seria possível para eles - que eram um pequeno grupo de 40-50 pessoas
ao máximo numa cidade que podia ter trezentos/quatrocentos mil habitantes -
evitar o encontro com os idólatras, com os devassos, com os pagãos. E Paulo, na
resposta retorna sobre a sua exortação precedente. Ele esclarece que houve um
equivoco, uma incompreensão, afirmando que não se referia aos devassos deste
mundo, mas aos devassos que são os irmãos, que pertencem à comunidade. Se
os crentes, de fato, não devessem misturar-se com a sociedade, deveriam sair do
mundo. Ele afirma portanto claramente que a existência da comunidade cristã
é uma existência “na “ sociedade, “no” mundo. É uma experiência de quem “faz
parte” desta sociedade, desta cidade, do mundo. A existência cristã não é uma
existência que se deve viver num espaço separado, acima da sociedade, mas
dentro da sociedade, assumindo a rede de relações, assumindo a mestiçagem.
Na segunda carta aos Coríntios, 5,14 Paulo afirma que nós somos movidos
pelo amor de Cristo, isto é, o amor que Cristo tem para conosco nos move na vida.
“O ágape de Cristo nos compele, nos desafia, nos impulsiona a nós que julgamos este
fato: um só é morreu em favor de todos.”
Na liturgia eucarística temos uma tradução que a meu ver é não só infeliz,
mas é um pouco desconfortante. O texto original é: “Este é o meu corpo, (quer
dizer: este sou eu), “uper umon” está no texto bíblico. Na missa se diz: “este é o
meu corpo dado em sacrifício por vós”. O significado grego é: este sou eu que me
dou em vosso favor, para o vosso bem.
A inserção subserviente da palavra “sacrifício” valoriza a visão
tradicional católica da missa, da ceia do Senhor, como sacrifício. Ora Paulo
é contrario à concepção sacrifical e expiatória da morte na cruz de Jesus
- concepção que transparece só em Rom 3, 24-25, e depois em 1Cor 5, 7.
Ele, algumas vezes para dirigir-se aos seus ouvintes, repete algumas expressões
tradicionais, para depois porém corrigi-las. A morte de Jesus não é um sacrifício
expiatório, mas um ato de amor por nós: Jesus morreu em nosso favor, para o
nosso bem.
Depois ele continua : “um só morreu por todos, portanto todos estão
mortos”. Esta sequencialidade nos desconcerta, porque nós teríamos dito mais
logicamente que depois que um morreu por todos, nós todos obtemos a vida
por meio de sua morte, e não que “morto um, mortos todos!” Na base do versículo
existe a concepção mística de Paulo, onde a experiência cristã é a experiência
de quem está inserido em Cristo Ressuscitado, de quem entra em comunhão
com Cristo Ressuscitado. A mística de Paulo não é teocêntrica, mas cristocentrica,
isto é: refere-se a união com Cristo Ressuscitado. Então, se um morreu por todos, 121
todos aqueles que estão em Cristo estão envolvidos no evento de sua morte.
Este é o sentido.
Cristo não é um individuo isolado, mas é um valor representativo, que nos
envolve. Aquilo que acontece com Ele acontece com os crentes, porque os crentes
estão inseridos n`Ele e o evento seu torna-se evento nosso, dos crentes. Ele morre
em favor de todos, portanto todos estão mortos. Em que sentido estão mortos?
Naturalmente o versículo 15 diz:: “E ele morreu por todos, afim de que aqueles que
vivem, os viventes, os homens, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que
morreu e ressuscitou para eles”.
A morte de que se fala é a morte do ego: não vive mais para si mesmo, mas
vive para Cristo e para os outros. A consequência é: “assim como nós de agora
em diante não conhecemos mais ninguém segundo um juízo humano, carnal - e, se
também nós primeiro tivéssemos conhecido Cristo em modo carnal - doravante não
o conhecemos mais assim”,
A relação com Ele é uma nova relação. “Em consequência se um está em
Cristo, está dentro Cristo, é envolvido por seu evento (esta é a mística cristocentrica
de Paulo), constitui a célula do novo mundo criado”.
É interessante o paralelismo entre a pessoa crente, que entra no espaço
criado por Cristo e por seu Espírito e o mundo. “O velho se foi, eis que surge o novo”.
A novidade trazida por Cristo é exatamente esta: não viver mais centrado no
ego (introflexão), mas viver para aquele que morreu e ressuscitou para nós
(extroflexão).
Paulo partiu da morte de extroflexão de Cristo: Cristo morreu em favor de
todos, a favor de nós, não a favor de si próprio. E na sua morte a favor de nós,
Ele envolve a nós que morremos ao viver para nós mesmos, de modo da viver
para Ele. Portanto, existe esta participação do crente na vida de oblatividade do
Cristo. A novidade não está no aspecto físico do mundo, nas instituições; mas a
novidade se refere à existência, à relação.
Paulo, depois ter exposto o seu evangelho aos Romanos nos primeiros
onze capítulos, conclui com uma exortação: “eu vos exorto”. Ele, via de regra, não
determina, mas exorta. O exortar é a atitude do pai nos confrontos com os filhos,
não de um pai patrão. Paulo solicita, fala, exorta, como um pai exorta os filhos. “
Peço-vos portanto, irmãos” (adelfòi, neste caso ficaria bem traduzir por “irmãos”
e “irmãs”). Aliás, Paulo não diz jamais “filhos meus”, ou quase jamais. Usa “filhos
meus” só em dois-três textos, onde diz: eu sou pai enquanto vos gerei através
do evangelho. Portanto, o evangelho é o elemento gerador. Paulo se apresenta
como um irmão. Portanto, a comunidade cristã para ele é uma fraternidade No
mundo grego, o amor entre irmãos era em geral muito considerado; muito mais
que o amor entre marido e mulher.
Não é paulina a concepção da igreja como “povo de Deus “, introduzida
pelo concilio por solicitação sobretudo de Congar e da escola francesa dos
dominicanos de Saulchoir, que justamente queriam ressaltar que a comunidade
dos crentes está a caminho na história. Para Paulo a comunidade é uma
fraternidade, uma família. Uma família não no seu aspecto de paternidade e
filiação, mas de fraternidade. A coisa é de tal modo interessante, que quando
se passa às cartas pastorais, isto é: às cartas de Tito e de Timóteo, que são da
tradição paulina, também ali se encontra a afirmação que a igreja é família de
Deus. Porém, a família de Deus de que se fala é constituída pelos pais e pelos
filhos, onde o pai é o grande chefe da família. Tanto isso é verdadeiro que o autor
destas cartas pastorais sustenta que o presbítero deve saber comandar, ter sob
controle os filhos e as mulheres... A mesma metáfora da família é usada não só em
modo diverso, mas frequentemente contraposto.
Eu vos exorto, pois, irmãos e irmãs, mediante os gestos de misericórdia de
Deus. E ainda mais fielmente para as vísceras maternais de Deus. O que solicita
aos crentes são as vísceras maternais de Deus, e Paulo é o comunicador destes
gestos de “visceralidade”, de “amor visceral” de Deus . Eu vos exorto a colocar diante
do altar, não as ofertas sacrificais, mas a vossa existência mundana qual vítima
sacrificial. Ainda uma vez, Paulo utiliza de modo não ritual conceitos cultuais.
Aquilo que agrada a Deus como oferta viva e santa, como dom, é a existência
mundana dos crentes, é a sua mundaneidade, a sua corporeidade. E este é o culto
intelectual. A oferta que os homens fazem a Deus deve ser uma oferta adequada
à sua natureza de seres inteligentes, de seres lógicos, que tenham o logos, a
124 mente, a inteligênca, o pensamento. As ofertas animais, de seres que não tenham
a inteligência, não são adequadas para a natureza humana.
“Não sejais conformistas nos confrontos com este mundo (to aiòni)”, com
este mundo idolátrico, com este mundo que adora as religiões discriminantes.
Não sejais conformistas, mas deveis operar a metamorfose que torne nova a
vossa mente, o vosso modo de ver as coisas, de modo que vós possais distinguir e
conhecer aquilo que é a vontade de Deus, aquilo que é o bem, aquilo que agrada a
Ele e é perfeito.
Eis um texto muito empenhativo. Ser inconformista quer dizer transformar
o modo de olhar o mundo para que corresponda ao querer de Deus. Paulo não
diz que devemos seguir a vontade de Deus comunicada a nós por qualquer um
que se creia conhece-la com perfeição em nosso lugar, mas que “nós” devemos
transformar o nosso modo de ver, devemos renovar à luz da nossa mente de
modo a corresponder aquilo que Deus quer de nós.
Paulo fala só dos crentes e provavelmente nunca se pôs problema dos não
crentes. Há um espaço vazio em relação a este tema. Ele jamais levou em conta
isso. Perguntemos a ele somente pelo que ele se interessa.
A segunda observação a fazer é que Paulo quando diz “o crente em Cristo”,
o Cristo de quem fala é o Ressuscitado. Eis porque Paulo não dá nenhuna atenção
a Jesus de Nazaré, ao Jesus biográfico. Jesus Ressuscitado é o Jesus de Nazaré,.
Não é um outro. Pelo Jesus histórico, porém, não se interessa minimamente.
Tanto é verdade que de todas as palavras ditas por Jesus, segundo a
tradição, ele cita expressamente somente duas, que não têm grande peso:
“Aqueles que são ministros do anúncio devem viver do anúncio”; e depois a palavra
de Jesus sobre a indissolubilidade matrimonial. Toda a teologia de Paulo gira em
torno da morte e ressurreição de Jesus. O resto não lhe interessa. Provavelmente
o apóstolo negligenciou tudo aquilo que Jesus disse e fez, porque o Jesus das
palavras e dos fatos estava imanipulado pelos seus adversários, que o tinham
colocado dentro do sistema mosaico, como aquele que apoiava a observância da
lei mosaica. Há qualquer coisa de verdadeiro nisto.
Porém, o verdadeiro problema para Paulo é a libertação do mundo
idolátrico, para os quais os gestos e as palavras de Jesus não são eficazes. Paulo
entende que o coração do homem não muda substancialmente com os bons
exemplos, com as boas palavras. A escravidão do mundo idolátrico, do mundo
das religiões discriminantes, é qualquer coisa assim profunda que não pode ser 125
vencida por palavras e por exemplos. É necessário o grande gesto libertador de
Cristo, do Cristo Ressuscitado. O Cristo Ressuscitado é muito mais potente do
que Jesus de Nazaré, que tinha disposição para influenciar só as suas palavras e
o seu exemplo. Nada mais. Pelo contrario, o Cristo Ressuscitado tem nas mãos a
potencia do Espírito, o Espírito de Deus, o Espírito criador.
Estar em Cristo Ressuscitado é estar no Espírito. Em Paulo há este paralelismo:
nós estamos em Cristo e nós estamos no Espírito de Cristo, no Espírito de Deus. Se
as coisas são assim, nós poderemos dizer então que para Paulo os crentes não
são aqueles que conhecem Jesus de Nazaré, as suas palavras, os seus exemplos;
mas, aqueles que estão no Espírito, aqueles que são animados pelo Espírito. E o
Espírito é o Cristo Ressuscitado Não são uma presença local, mas universal. Jesus
de Nazaré podia influenciar com as palavras e com o exemplo somente àqueles
que o encontravam na Palestina; enquanto que para Paulo o Cristo Ressuscitado
e o Espírito podem influenciar sobre a totalidade universal dos homens. Jesus
de Nazaré é uma grandeza particular culturalmente situada. Ao invés, o Cristo
Ressuscitado que de qualquer modo se identifica com o Espírito, é uma grandeza
universal, é uma grandeza que pode influir sobre todos. Então, é necessário distinguir
entre aquilo que quer dizer “estar em Cristo” e a confissão cristã, a crença cristã, os
sacramentos, a vida cristã associada. O estar em Cristo não equivale à vida cristã
associada. Eis porque Paulo é radical. Anuncia um cristianismo de fronteira, um
cristianismo que é possível também para aqueles que não estão dentro da Igreja.
Assim Paulo, que jamais se pôs o problema dos não crentes com a sua
concepção do estar no Cristo Ressuscitado, no Espírito, propugna um cristianismo
que vai bem além do aspecto confessional.
Paulo considera a morte não como um fato físico, mas como o último
inimigo de Cristo e do homem. Alguns podem acusar Paulo de ser um homem
que não sabe aceitar a morte, de ter uma atitude um pouco infantil de rebelião
frente a um fato inelutável. Para ele, a morte não é a morte feliz de São Francisco,
a morte de quem quer reunir-se com o seu Senhor e portanto a irmã morte. Nem
mesmo é o destino nu e cru do homem que não pode infantilmente renegá-la.
Para Paulo, a morte é uma violência contra o homem. A morte, para ele, não o
último instante da vida, mas o que mortifica a nossa vida.
Há este espinho dentro da existência humana, exposta cada dia diante da
morte: nós carregamos sempre a norte de Jesus, isto é: este processo progressivo
que afeta a vida do crente e do não-crente, para quem - Paulo diz - que a morte é
o Senhor do mundo. Este Senhor do mundo deve ser destronado, enquanto entra
em choque com o senhorio de Cristo. É um motivo cristológico. Cristo venceu a
morte em si; mas, se não a vence em nós, ele não é mais o nosso Senhor, pois o
128 nosso senhor será a morte. De fato em 1Cor 15 Paulo retoma a afirmação dos
salmos “até que ele tenha posto todos os seus inimigos sob os seus pés”. O ultimo
inimigo, o mais tremendo, o mais apavorante, é a morte.
Paulo tem uma concepção alta da vida e do Deus da vida. Este Deus da
vida deve dizer a última palavra sobre os viventes, e não a morte. A ressurreição
quer dizer exatamente isto. Não por nada no cap. 15 de 1Cor Paulo termina com
duas citações do Antigo Testamento: Onde está o morte o teu aguilhão? Onde está,
ó morte, a tua vitória? A morte foi tragada pela vitória de Cristo.
Paulo em Romanos 5 afirma: “Mediante um só homem, o pecado entrou no
mundo e através do pecado a morte...” . Nós devemos ser resgatados do pecado
e da morte, que são os dois senhores que entraram no mundo. O resgate do
pecado, do mal obscuro, que é a idolatria, vem através da morte e da ressurreição
de Cristo. Mas a libertação do pecado não é ainda a libertação da morte.
Paulo ligou pecado e morte. Todos os dois entraram no mundo; mas na
libertação, no estado atual, nós estamos livres só do pecado - desta potência
condicionante a quem podemos resistir; mas não ainda da morte. A ação
libertadora de Cristo foi distinguida por Paulo em duas fases: a libertação da
pecado e a libertação da morte. Do ponto de vista antropológico alguém pode
acusar Paulo de um sonho infantil, não tanto de não morrer, mas de entender
que toda a vida está sob o sinal tenebroso da morte. A morte ameaça e extenua
a vida no sofrimento, nas dificuldades; mas a esperança é a vitória sobre a morte
porque o que Paulo leva a serio é a ressurreição de Cristo e a nossa solidariedade
com ele. Não basta a vitória de Jesus sobre a sua morte. Pois, é necessária a vitória
de Jesus sobre a nossa morte, se nós estamos identificados com Ele. É a mistica
cristocentrica paulina.
FINALIZANDO...
Depois de analisar, em doze pequenos textos, a questão da presença dos
cristãos no mundo, segundo Paulo, convém recordar que os cristãos estão no
mundo para formarem a comunidade de Jesus, que não tem uma mensagem é
fechada em si mesma e só para os crentes. Mesmo que Paulo não estivesse preo-
cupado com os não crentes, ele sabe do valor universal da mensagem do Cruci-
ficado/ressuscitado: ela vale para todos os homens, de modo universal. Por esta-
rem livres de processos identitários culturais e nacionais, os cristãos são homens
livres das religiões discriminalizadoras, das idolatrias e da própria lei mosaica. Eles
se constituem em nova identidade, chamados para um mundo novo, capazes de
emprestar uma nova solidariedade ao mundo e, ao mesmo tempo, oferecer um
129
novo culto a Deus o culto de si mesmos, não o de sacrifícios rituais). Enquanto
isso, por meio do grande vencedor, vão caminhando até a libertação do último
inimigo: a morte.
Traduziu: HR
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