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Unidade 3
Unidade 3
Unidade 3
Unidade 3:
Brasil: as múltiplas facetas da sociedade moderna.
Deve ser ressaltada, ainda, a ideia de que esse processo não se deu de
maneira homogênea em todo o Brasil. Evidenciou-se com maior força nas
capitais dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, que, seguindo os ideais
de progresso, deveriam ser transformadas em cidades civilizadas, compostas
por espaços limpos e organizados. Diante dessa realidade, os sujeitos comuns,
ou seja, a população era “examinada”, analisada, estudada e educada de
acordo com os pressupostos médicos e higienistas da época. Sujeitos com
diferentes experiências de vida e diferentes modos de lidar com as coisas do
mundo eram percebidos praticamente de uma única maneira: como
vagabundos, malandros ou vadios.
Pessoas das mais variadas origens raciais, sociais e culturais deveriam ser
educadas, civilizadas, higienizadas com a intenção de se criar um modelo de
homem, de mulher, de família, de trabalhador, de brasileiro que mudasse a
cara do País e que contribuísse no projeto de construção de um Brasil
“moderno”. Objetivava-se, assim, a construção de um tipo ideal de homem e de
sociedade.
Com base no que você viu até aqui, já consegue perceber o caráter excludente
de tais políticas públicas? Você consegue perceber a contemporaneidade
desses episódios? Outro campo de embates sobre a cidade e seus habitantes
era a presença de mulheres das camadas populares nas ruas das cidades.
Envolvidas nas mais variadas formas de sobrevivência, como a
comercialização de alimentos, lavação de roupas, produção e comercialização
de sabão e prostituição, tais mulheres não eram bem vistas e aceitas pelos
grupos dirigentes.
Pois bem, mais do que formular perguntas, é preciso ter consciência de que as
coisas não foram sempre assim e nos arriscarmos a procurar respostas à
produção dessas práticas. Lembra-se das discussões sobre ideologia e
alienação social? Pois é a partir da aquisição de tais conhecimentos que
poderemos fazer leituras acerca dessas práticas e perceber que elas não
podem ser entendidas como naturais ao ser humano.
Temos de despertar nossos alunos para tal realidade e levá-los a entender
que, um dia, elas foram inventadas por um determinado grupo de pessoas com
poder político e econômico e com objetivos bem definidos, entre eles o de
perpetuar o poder nas mãos de poucos. Isto pode constituir um exercício de
cidadania!
Por falar em exercício da cidadania, você não está curioso para conhecer qual
o papel desempenhado pela escola durante o processo de modernização do
Brasil? Será que ela colaborou no projeto de formação de um tipo ideal de
homem?
Com base numa suposta racionalidade, como você pôde ver, as políticas
públicas não se voltavam e, muitas vezes, ainda não se voltam a minimizar as
desigualdades sociais, fator que contribuiu para o não-exercício da cidadania e
para a exclusão de grande parte da população brasileira. E como a escola se
porta atualmente diante desta realidade?
No ano 2000, o Brasil ocupava o quinto lugar entre os países com maior índice
de analfabetos, de acordo com os dados do Censo do IBGE daquela data. A
pesquisa nos aponta realidades alarmantes em um mapa de desigualdade
social, educacional e de exclusão nas diferentes regiões brasileiras. De acordo
com esses dados, a população analfabeta estava distribuída de forma bastante
desigual, com maior concentração em capitais ou cidades do nordeste e norte
do país. Outros dados relacionam a questão racial e as desigualdades sociais
em termos educacionais, informando que 35% dos negros e 33% dos pardos
do Brasil eram analfabetos, contra apenas 15% dos brancos.
Outra questão para a qual temos que voltar nossos olhares enquanto
educadores e agentes de transformação social é a exploração do trabalho
infantil, uma vez que o Brasil ocupa uma triste posição no ranking mundial –
terceiro lugar. Essa triste posição só perde para o Haiti e a Guatemala.
Pior que os dados apontados é, ainda, a informação de que cerca de 16% das
crianças brasileiras entre 10 e 14 anos trabalham em condições
desumanas.(SILVA, 2000). Muitas trabalham em fábricas de sapatos,
carvoarias, olarias, salinas, pedreiras, carboníferas, etc., desempenhando
atividades insalubres que não apenas constituem um risco à saúde, mas
podem resultar em mutilações ou doenças que levam à morte. Atividades na
maioria das vezes com baixíssima remuneração, chegando a valores
considerados quase irrisórios e sem qualquer direito ou registro em carteira,
uma vez que têm status de trabalho ilegal.
Todas as questões até aqui apresentadas são elementos cruciais e que devem
estar presentes nas pautas de discussões de educadores e de instituições
escolares. Faz-se necessário desconstruirmos os elementos que mascaram a
discriminação social e racial no país e que contribuem para que a educação
escolarizada no Brasil continue a reforçar a desigualdade e a exclusão social.
Nós, educadores e agentes sociais, temos de nos embrenhar numa luta
infindável por estratégias que nos auxiliem na superação de problemas da
escola – uma das principais instituições sociais do país.
Historicamente pode-se dizer que a escola foi pensada como uma instituição
de apoio à família. “As famílias eram vistas como necessitadas de auxílio para
a educação das crianças porque não tinham tempo nem competência para
tanto.” (CUNHA, 2000, p.448).
Aqui no Brasil, com exceção dos filhos das elites, os quais tinham acesso a
algumas carreiras especializadas, como médico, advogado e engenheiros,
grande parte da população mal conseguia chegar ao ensino das primeiras
letras. Na maioria das vezes, acabava recebendo apenas os ensinamentos
repassados pela família, de geração para geração, pelo menos até meados do
século XIX, quando do surgimento das primeiras escolas técnicas instaladas no
Brasil, para atender as necessidades da corte portuguesa.
Mas esta característica da educação logo sofreria mudanças, uma vez que se
atribuiria à escola a função de educar os jovens de acordo com os anseios de
uma sociedade moderna. Mais do que educar, esta teria que formar um tipo
ideal de homem de acordo com as imposições feitas à sociedade que se queria
instalar no Brasil. A escola passaria assim por uma cientifização.
Quero chamar a sua atenção neste momento para as mudanças que a família
brasileira sofreu ao longo do processo histórico. Se até o início do século XIX, a
família brasileira se caracterizava por possuir grande sociabilidade no interior
das moradias e por ser composta por grande número de agregados, a partir de
meados daquele século ela passou a se caracterizar por um número cada vez
menor de componentes e por ampliar o seu círculo de sociabilidade para além
do âmbito familiar.
Este modelo familiar também era visto como pernicioso pelos chamados
homens de ciência que, em fins do século XIX, procuravam ajudar os poderes
públicos a transformar a cara da sociedade brasileira, tentando sintonizá-la
com o que havia de mais moderno e consonante com os modismos europeus.
O fim do século XIX foi marcado por movimentos sociais, pelo surgimento de
ideologias e de muitas transformações no âmbito da produção material e na
vida cultural. as instituições escolares foram alvo desta política que tentava
impor essa nova realidade.
1 Uma obra da literatura brasileira que retrata bem esse aspecto de como deveria ser a vida
nos colégios internos é O Ateneu de Raul Pompéia. Nela, o autor consegue mostrar como se
deu o fim da “velha didática” e o fortalecimento dos conceitos morais, científicos e
educacionais daquele período.
Neste ínterim, a educação das crianças deixou de ser responsabilidade da
família e passou à alçada dos poderes públicos instituídos. Importante
esclarecer que isto aconteceu, acentuadamente, no período em que as ideias
escolanovistas se fizeram presentes no país.
Joan Scott ainda afirma que o conceito de gênero serve para determinar tudo
que é social, cultural e historicamente estabelecido sobre as diferenças
percebidas entre os sexos. Assim sendo, há a preocupação em direcionar a
análise da relação de gênero para a formação e a construção do papel social
tanto do homem quanto da mulher. Como sujeitos históricos, todos procuramos
perceber as relações entre homens e mulheres para além das diferenças
apenas biológicas.
Uma das ideias que mais vigorava era a de que a mulher possuía um crânio
menor e tinha ossos comparáveis à anatomia de uma criança, além de possuir
menor capacidade de raciocínio que o homem. A mulher era tida também como
sensível, volúvel e dócil, questões estas embasadas em características
biológicas, como a maternidade. Você se lembra das “desculpas” que foram
criadas para justificar a entrada das mulheres no magistério?
Pode-se dizer que, ao longo da história, a mulher vem lutando para conseguir
mais espaço na sociedade. Aqui no Brasil, não foi diferente. Pesquisas neste
sentido indicam que os efeitos e as consequências da discriminação sexual
devem ser considerados dimensões socialmente preocupantes, por alcançarem
números expressivos e continuarem ainda bastante latentes na sociedade
brasileira.
Para saber mais sobre os conteúdos abordados nesta unidade, sugiro a você
consultar também os seguintes sites, livros e revistas:
Sites
http://www.generoeeducacao.hpg.ig.com.br
http://www.ufrgs.br/faced/geerge/sexual.htm