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Artigo Aceito Sobre CRF
Artigo Aceito Sobre CRF
Artigo Aceito Sobre CRF
RESUMO
Algumas normativas apresentam recomendações de dimensionamento ao cisalhamento de vigas
de concreto reforçado com fibras, porém com diferenças entre si. Desse modo, esse artigo tem
como objetivo realizar o dimensionamento ao cisalhamento e análise paramétrica de vigas em
concreto reforçado com fibras de aço (CRFA) sem estribos, baseando-se nos métodos propostos
pela recém lançada NBR 16935:2021, pelo FIB Model Code 2010, pela RILEM TC 162-TDF
e pela norma Alemã Richtlinie. Para execução do trabalho, realizou-se uma pesquisa na
literatura de publicações de ensaios experimentais de vigas de CRFA, com armadura
longitudinal e sem estribos, para obter valores experimentais a serem comparados com as
previsões teóricas de capacidade cisalhante fornecidas pelas normativas. E para a análise
paramétrica, buscou-se trabalhos com resultados de resistência residual à tração baseado no
ensaio EN 14651, ensaio similar ao indicado pela NBR 16935:2021. Os parâmetros variados Comentado [RP1]: A NBR que foi baseado no EN
foram a largura (bw), altura útil (d) e a taxa de armadura longitudinal (ρ). Os resultados mostram
que o FIB Model Code 2010 e a NBR 16935:2021 apresentaram valores previstos
característicos mais próximos aos resultados experimentais sendo menos conservadores em
relação as demais normativas. Dentre os parâmetros analisados, a taxa de armadura longitudinal
apresentou a maior influência nos resultados.
ABSTRACT
Some standards present recommendations for shear dimensioning of fiber reinforced concrete
beams, but with some differences between them. Thus, this article purposes to carry out the
shear design and parametric analysis of beams in steel fiber reinforced concrete (SFRC),
without stirrups, based on the methods proposed by the recently released NBR 16935:2021, the
FIB Model Code 2010, RILEM TC 162-TDF and the German standard Richtlinie. To carry out
the work, a literature search was carried out on publications of experimental tests of SFRC
beams, with longitudinal reinforcement and without stirrups, to obtain experimental values to
be compared with the theoretical predictions of shear capacity by the standards. And for the
parametric analysis, studies were sought with residual tensile strength results based on the EN
14651 test, a test similar to that indicated by NBR 16935: 2021. Varied parameters were width
(bw), useful height (d) and longitudinal reinforcement ratio (ρ). The results show that the FIB
Model Code 2010 and NBR 16935:2021 presented characteristic predicted values closer to the
experimental results, being less conservative in relation to the other regulations. Among the
analyzed parameters, the longitudinal reinforcement ratio had the greatest influence on the
results.
Keywords: Fiber reinforced concrete. Beams without stirrups. Shear capacity. Parametric
analysis. NBR 16935.
1 INTRODUÇÃO
O concreto apresenta ótima resistência à compressão, porém reduzida resistência à tração, e
uma opção para melhorar essa resistência é a utilização de fibras dispersas na mistura, sendo as
fibras de aço as mais comumente utilizadas (LANTSOGHT, 2019a). As primeiras vigas
reforçadas com fibras ensaiadas para resistir ao cisalhamento foram testadas em 1972 e desde
então vários estudos demonstraram que a presença de fibras de aço aumenta a resistência ao
cisalhamento de vigas de concreto (BARROS; FOSTER, 2018). As fibras podem ou não
substituir as armaduras transversais convencionais de aço em vigas de concreto armado.
Entretanto, apesar do alto potencial, uma abordagem de modelagem consensual ainda não existe
para prever a resistência ao cisalhamento do concreto reforçado com fibras em vigas
(BARROS; FOSTER, 2018).
O uso do concreto reforçado com fibras (CRF) de aço está diretamente relacionado ao seu
comportamento pós-fissuração em tração. O ensaio de flexão de três pontos de acordo com a
normativa EN 14651 (CEN, 2007), é um dos ensaios recomendados para avaliar os parâmetros
pós-fissuração para aplicação do CRF como material estrutural (TRINDADE, 2020).
A tração na pós-fissuração, ou pull-out, é a resposta do reforço da fibra em materiais à base de
cimento. Característica distintiva que define o desempenho em termos de manutenção,
durabilidade e resistência em elementos estruturais de CRF (BARROS; FOSTER, 2018).
As fibras de aço no CRF têm sido utilizadas como armadura primária ou secundária em
elementos estruturais, conforme sugerido em códigos e recomendações internacionais RILEM
TC 162-TDF (RILEM, 2003), EHE-08 (CPH, 2008), FIB Model Code (FIB, 2010), CNR-DT
204 (CNR, 2006), ACI 318-08 (ACI, 2007), AS 3600-2018 (AS, 2018). O ensaio de flexão de
três pontos normatizado pela EN 14651 (CEN, 2007) é indicado para parametrizar a resistência
residual para correspondentes aberturas de fissuras e, desse modo, obter a lei constitutiva a ser
aplicada no projeto estrutural de elementos do CRF.
O estudo desenvolvido por Lantsoght (2019b) apresenta um banco de dados de 488
experimentos de cisalhamento em vigas de concreto com fibras de aço sem estribos, além de
compilar diversas equações empíricas e disposições de códigos e de pesquisadores para
previsão da capacidade de cisalhamento. A comparação realizada demonstra uma grande
dispersão nos valores experimentais com os previstos nos modelos e conclui ainda, que nenhum
dos métodos disponíveis descreve adequadamente o comportamento de vigas CRF com fibras
de aço que falham por cisalhamento.
Em fevereiro de 2021, houve a publicação da normativa brasileira de projeto de estruturas de
concreto reforçado com fibras. A NBR 16935 (ABNT, 2021) estabelece os requisitos de
desempenho mecânico para estruturas de concreto reforçado com fibras (CRF) para atuação
isolada ou em conjunto com as armaduras. Também foi publicada a NBR 16940 (ABNT, 2021)
que apresenta o método de ensaio para determinação das resistências à tração na flexão (limite
de proporcionalidade e resistências residuais), com procedimento semelhante ao recomendado
pela EN 14651 (CEN, 2007).
Desse modo, esse artigo tem como objetivo realizar uma análise paramétrica, partindo de
resultados experimentais de outros autores, que apresentem dados de resistência residual à
tração, resistência à compressão e variação do volume de fibras. A análise paramétrica foi feita
através da variação dos parâmetros largura (bw), altura útil (d) e taxa de armadura longitudinal
(ρ). Também foi realizada uma pesquisa de dados de ensaios experimentais, para serem
comparados com a previsão de capacidade cisalhante das normativas abordadas, bem como
avaliar a NBR 16935 (ABNT, 2021) frente às demais normativas internacionais no que se refere
a vigas de CRF com armadura longitudinal e sem armadura transversal.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Figura 1 - Ensaio de flexão de três pontos de acordo com EN 14651: (a) ensaio experimental
realizado em Trindade (2020) e (b) geometria de uma viga ensaiada, com dimensões em mm
A partir do ensaio, uma curva força (F) versus deslocamento expresso em CMOD (Crack Mouth
Opening Displacement), que corresponde à abertura do entalhe na face inferior da viga, pode
ser desenvolvida. Esse ensaio é importante, pois fornece a lei constitutiva para
dimensionamento dos elementos estruturais em CRF, incluindo o cisalhamento.
Para análise dos parâmetros após a fissuração, o comportamento do CRF em termos de
resistência à tração residual na flexão é indicado por valores de fR,j (j=1, 2, 3 e 4)
correspondentes às aberturas de fissuras de 0,50 mm (CMOD1), 1,50 mm (CMOD2), 2,50 mm
(CMOD3) e 3,50 mm (CMOD4) e definido segundo a Equação 01.
𝟑. 𝑭𝒋 . 𝒍 Eq. 01
𝒇𝑹,𝒋 =
𝟐. 𝒃. 𝒉𝟐𝒔𝒑
onde, FL é a carga medida com maior valor entre 0 ≤ CMOD ≤ 0,05 mm.
Destaca-se que os dados obtidos, de resistência à tração residual na flexão, para serem aplicados
nesse trabalho se referenciam a resultados de ensaios de flexão de três pontos segundo
EN 14651 (CEN, 2007).
Figura 2 - Visão geral dos mecanismos de transferência de cisalhamento para CRF com fibras
de aço.
Os parâmetros que afetam a capacidade ao cisalhamento de vigas de CRF com fibras de aço
são dependentes da resistência à compressão do concreto, quantidade de armadura longitudinal
de flexão, relação a/d (sendo “a” a distância de aplicação da carga em relação ao apoio e “d” a
altura útil), altura do elemento estrutural, propriedade e volume de fibras. Vários autores
desenvolveram expressões para quantificar a contribuição de fibras de aço na capacidade de
cisalhamento e sabe-se que as fibras aumentam a resistência ao cisalhamento de vigas sem
estribos, mas não se sabe exatamente como cada mecanismo de resistência ao cisalhamento é
afetado por elas (LANTSOGHT,2019a).
2.3 Modelos de dimensionamento ao cisalhamento de vigas de CRF com fibras de aço com
armadura longitudinal e sem armadura transversal
A escolha das normativas adotadas para o dimensionamento ao cisalhamento das vigas foi
realizada considerando o estudo desenvolvido por Lantsoght (2019b), que indicou uma grande
dispersão na razão entre os valores experimentais e os previstos após aplicação de quatro
normativas: FIB Model Code (FIB, 2010), RILEM (RILEM, 2003), normativa Alemã (DAfStb,
2012) e normativa Francesa (AFGC, 2013). Porém, dentre essas quatro normativas, os códigos
que adotam os métodos de previsão de capacidade de cisalhamento baseados no Eurocode, isto
é, RILEM (RILEM, 2003), FIB Model Code (FIB, 2010) e normativa Alemã (DAfStb, 2012)
forneceram resultados razoáveis, com coeficientes de variação de 27 a 29% entre resultados
experimentais e resultados previstos (LANTSOGHT, 2019b). Desse modo, essas três
normativas foram adotadas, além da recém publicada normativa NBR 16935 (ABNT, 2021),
sendo que todas incluem o efeito das fibras na capacidade de cisalhamento de vigas sem
estribos. As orientações e equacionamento destas normativas são apresentadas a seguir.
𝟐𝟎𝟎
𝒌= 𝟏+√ ≤ 𝟐, 𝟎 Eq. 04
𝒅
𝑨𝒔𝒍
𝛒𝟏 = Eq. 05
𝒃𝒘 . 𝒅
𝒘𝒖 Eq. 06
𝒇𝑭𝒕𝒖 = 𝒇𝑭𝒕𝒔 − . (𝒇𝑭𝒕𝒔 − 𝟎, 𝟓. 𝒇𝑹𝟑 + 𝟎, 𝟐. 𝒇𝑹𝟏 ) ≥ 𝟎
𝑪𝑴𝑶𝑫𝟑
𝒇𝑭𝒕𝒔 = 𝟎, 𝟒𝟓. 𝒇𝑹𝟏 Eq. 07
𝟐𝟎𝟎
𝒌 =𝟏+√ ≤ 𝟐, 𝟎 (𝒆𝒇𝒆𝒊𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝒆𝒔𝒄𝒂𝒍𝒂) Eq. 14
𝒅
𝒇 Eq. 24
𝑽𝑹𝒅 = 𝑽𝑹𝒅,𝒄 + 𝑽𝑹𝒅,𝒄𝒇
𝑪𝑹𝒅,𝒄 Eq. 25
𝑽𝑹𝒅,𝒄 = . 𝒌. (𝟏𝟎𝟎. 𝝆. 𝒇𝒄𝒌 )𝟏/𝟑 . 𝒃𝒘 . 𝒅
𝜸𝒄
𝒇 𝒇 Eq. 26
𝜶𝒄 . 𝒇𝒄𝒕𝑹,𝒖 . 𝒃𝒘 . 𝒉
𝑽𝑹𝒅,𝒄𝒇 = 𝒇
𝜸𝒄𝒕
𝒇 𝒇 𝒇 𝒇 Eq. 27
𝒇𝒄𝒕𝑹,𝒖 = 𝒌𝑭 . 𝒌𝑮 . 𝟎, 𝟑𝟕. 𝒇𝒄𝒇𝒍𝒌,𝑳𝟐
𝒇 𝒇 Eq. 28
𝒌𝑮 = 𝟏, 𝟎 + 𝟎, 𝟓. 𝑨𝒄𝒕 ≤ 𝟏, 𝟕
𝒇 Eq. 29
𝑨𝒄𝒕 = 𝒃𝒘 . 𝒅, 𝒄𝒐𝒎 𝒅 ≤ 𝟏, 𝟓𝒎
onde: ρ ≤ 2 %, CRd,c= 0,15, γc= 1,5, γfct= 1,25, αfc=0,85 considera os efeitos de longo prazo,
𝒇
kfF=0,5 para cisalhamento e 𝒇𝒄𝒇𝒍𝒌,𝑳𝟐 é a tensão residual característica para o estado limite último
para um CMOD de 3,5 mm.
Para seções sujeitas a tensões axiais, o valor de VRd,cf vale zero. O valor de k segue a mesma
recomendação do FIB Model Code (FIB, 2010).
3 MÉTODO
A metodologia do presente trabalho consistiu em realizar uma pesquisa analítica de publicações
de ensaios experimentais de vigas de concreto reforçado com fibras de aço com armadura
longitudinal e sem estribos. Foram obtidos valores experimentais de modo a serem comparados
com previsões de capacidade cisalhante dos modelos normativos internacionais e da normativa
Brasileira.
Os estudos desenvolvidos por Amin e Foster (2016), Zamanzadeh et al. (2015) e Pansuk (2017)
foram os selecionados por apresentarem todos os dados necessários para realização do
dimensionamento ao cisalhamento e pelo fato do modo de ruptura das vigas ocorrer por
cisalhamento. A Figura 4 exemplifica o modo de ruptura por cisalhamento em uma viga
ensaiada por Amin e Foster (2016).
Além disso, diversos outros artigos foram consultados, incluindo autores indicados em
Lantsoght (2019b), porém essas publicações não incluíam dados de resistência residual à tração
determinada segundo a normativa EN 14651 (CEN, 2007) ou o modo de ruptura não tinha
ocorrido por cisalhamento. Dessa forma, não era possível aplicar exatamente o indicado pelas
normativas adotadas neste trabalho, sendo assim, estes artigos não foram selecionados.
A Tabela 1 apresenta os dados das fibras e parâmetros geométricos das vigas ensaiadas por
Amin e Foster (2016), Zamanzadeh et al. (2015) e Pansuk (2017) sendo que todas as vigas
apresentadas são armadas com armadura longitudinal, não possuem armadura transversal e o
modo de ruptura ocorreu por cisalhamento.
A maior parte das seções transversais das vigas são retangulares, com exceção das vigas
identificadas como S_W70 e S_W110 que possuem seções I, com largura da alma de 70 cm e
110 cm, respectivamente. Para essas duas vigas, no cálculo da capacidade de cisalhamento
indicado pela RILEM (RILEM, 2003), o cálculo do parâmetro kf considerou o fato da viga
possuir seção I.
Todas as fibras utilizadas nas vigas são de aço, entretanto, na pesquisa de Zamanzadeh et al.
(2015) foram utilizadas fibras de aço recicláveis provenientes de pneus usados.
Tabela 1 – Características das vigas ensaiadas em CRF de aço sem estribos
bw h d fcm Tipo de Vf
Autor Ident. ρ a/d lf/df1
(mm) (mm) (mm) (MPa) fibra (%)
Amin e
B25-0-
Foster 300 700 622 0,0198 2,81 34 hooked 0,32 65
0-0
(2016)
Amin e
B50-0-
Foster 300 700 622 0,0198 2,81 36 hooked 0,69 65
0-0
(2016)
Zamanzadeh
S_W70 70 300 270 0,0332 2,56 50 recycled 0,77 58
et al. (2015)
Zamanzadeh
S_W110 110 300 270 0,0212 2,56 50 recycled 0,77 58
et al. (2015)
Zamanzadeh
S_W150 150 300 270 0,0155 2,56 50 recycled 0,77 58
et al. (2015)
Pansuk
NS08 150 400 350 0,0561 2,86 121,1 hooked 0,80 65
(2017)
Pansuk
NS16 150 400 350 0,0561 2,86 120,3 hooked 1,60 65
(2017)
1
lf/df é a relação entre o comprimento e o diâmetro da fibra (circulares) ou diâmetro
equivalente (não circulares).
Fonte: Os autores (2021).
A Tabela 2 apresentada a resistência à tração residual na flexão dos CRFs utilizadas nas vigas
ensaiadas. O CRF da viga identificada como B50-0-0-0 possui um comportamento hardening
e os demais CRF das vigas ensaiadas possuem um comportamento softening.
Tabela 2 – Resistência à tração residual na flexão das vigas ensaiadas em CRF de aço sem
estribos
fcm fR1 fR2 fR3 fR4
Autor Identificação
(MPa) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
Amin e Foster (2016) B25-0-0-0 34,0 1,59 1,68 1,71 1,51
Amin e Foster (2016) B50-0-0-0 36,0 4,49 5,72 5,38 5,27
Zamanzadeh et al. (2015) S_W70 50,0 3,57 3,45 3,24 2,94
Zamanzadeh et al. (2015) S_W110 50,0 3,57 3,45 3,24 2,94
Zamanzadeh et al. (2015) S_W150 50,0 3,57 3,45 3,24 2,94
Pansuk (2017) NS08 121,11 - - - -
Pansuk (2017) NS16 120,30 - - - -
Fonte: Os autores (2021).
Além disso, para o dimensionamento ao cisalhamento adotou-se uma viga padrão com as
seguintes características: largura (bw) de 200 mm, altura (h) de 500 mm, altura útil (d) de
450 mm e taxa de armadura longitudinal (ρ) de 1 %. As variações de bw, d e ρ ocorreram
conforme apresentado na Tabela 4.
O valor final para a taxa de armadura longitudinal foi limitado em 2 %, pois este é o limite
indicado por três das normativas adotadas. Além disso, a análise paramétrica foi realizada com
resultados de cálculo, isto é, ponderados e variando apenas um parâmetro por análise. Dessa
forma, quando os demais parâmetros não estavam em análise, eles foram considerados como
valores fixos com as medidas padrão informadas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 7 - Força cortante resistente de cálculo (VRd) em função da largura (bw) e do volume de
fibras (Vf)
Observando os dados da Figura 7, constata-se uma maior homogeneidade dos resultados bem
como maiores valores de força cortante resistente de cálculo conforme o acréscimo da largura
e do volume de fibras.
A maior diferença dos resultados é observada na largura de 800 mm, especialmente entre os
resultados com diferentes volumes de fibras (Vf) do modelo da normativa Alemã (DAfStb,
2012), sendo que essa diferença foi sendo gradativamente ampliada desde a largura inicial de
200 mm.
Em todas as variações de largura desta análise, os valores obtidos pelo FIB Model Code (FIB,
2010 e NBR 16935 (ABNT, 2021) no Vf de 0,50 % foram os que apresentam maiores forças
cortantes resistentes de cálculo. Observa-se ainda que os valores de cortante resistente de
cálculo da RILEM (RILEM, 2003) para Vf de 0,50 % são praticamente os mesmos que o da
normativa Alemã (DAfStb, 2012) para Vf de 0,375 %. Para todos os códigos, os menores
valores de cortante resistente de cálculo ocorreram para o volume de fibras de 0,25 %.
E por fim, na última análise paramétrica adotou-se constante a largura (bw) em 200 mm e a taxa
de armadura longitudinal em 1 % e variou-se a altura útil (d), conforme demonstrado na Figura
8.
Figura 8 - Força cortante resistente de cálculo (VRd) em função da altura útil (d) e do volume
de fibras (Vf)
Na Figura 8, observa-se um comportamento similar nos códigos FIB Model Code (FIB, 2010),
NBR 16935 (ABNT, 2021) e RILEM (RILEM, 2003), isto é, com o acréscimo da altura útil (d)
e do volume de fibras (Vf), aumenta-se proporcionalmente à cortante resistente de cálculo. Já
para a normativa Alemã (DAfStb, 2012), destaca-se o comportamento não padronizado
conforme a variação da altura útil, especialmente a partir da altura útil de aproximadamente
600 mm. Na altura útil de 800 mm, o maior valor de cortante resistente de cálculo foi o
determinado segundo o FIB Model Code (FIB, 2010) e a NBR 16935 (ABNT, 2021), de 158,77
kN para Vf de 0,50 %, enquanto os valores observados na RILEM (RILEM, 2003) foi de 140,92
kN e para a normativa Alemã (DAfStb, 2012) foi de 152,88 kN.
A Figura 9 apresenta uma comparação entre os valores previstos pela NBR 16935 (ABNT,
2021), RILEM (RILEM, 2003) e normativa Alemã (DAfStb, 2012). Essa comparação foi
realizada devido ao fato de que na análise paramétrica entre forças cortantes resistentes de
cálculo (VRd) em função da taxa de armadura longitudinal (ρ) foram observadas maiores
variações de resultados.
Verificou-se na comparação entre os resultados experimentais e os valores previstos pelas
normativas analisados neste trabalho (Tabela 5), que a NBR 16935 (ABNT, 2021) e o FIB
Model Code (FIB, 2010) apresentaram em quase todas as vigas analisadas os maiores valores
teóricos de capacidade cisalhante (exceto na viga B50-0-0-0), sendo ainda os valores mais
próximos dos resultados experimentais. Este comportamento é similar ao observado na Figura
9, que apresenta uma comparação entre os valores de força cortante de cálculo (VRd) das demais
normativas obtidos em relação à NBR 16935 (ABNT, 2021), considerando a variação da taxa
de armadura longitudinal (ρ) e o volume de fibras (Vf). Entretanto, percebe-se que para os
valores de volume de fibras de 0,375 % e 0,50 % e para baixas taxas de armadura longitudinal
(ρ < 0,45%) a NBR 16935 (ABNT, 2021) apresentou valores de capacidade cisalhante previstos
menores que as demais normativas analisadas.
Figura 9 – Comparação entre forças cortantes resistentes de cálculo (VRd) em função da taxa
de armadura longitudinal (ρ) e do volume de fibras (Vf)
5 CONCLUSÃO
Neste trabalho foram realizados dimensionamentos ao cisalhamento de vigas de concreto
reforçado com fibras de aço, com armadura longitudinal e sem armadura transversal, baseados
em resultados experimentais e segundo recomendações de três métodos internacionais: FIB
Model Code (FIB, 2010), RILEM (RILEM, 2003) e Normativa Alemã (DAfStb, 2012), além
da recém publicada NBR 16935 (ABNT, 2021).
Primeiramente, destaca-se o fato dos resultados obtidos NBR 16395 (ABNT, 2021) serem
exatamente iguais aos do FIB Model Code (FIB, 2010), observando apenas que a norma
Brasileira não apresenta a limitação da taxa de armadura longitudinal (𝝆) de 2 %.
Quanto aos resultados da análise comparativa entre resultados experimentais e resistência
característica ao cisalhamento previsto pelas normativas conclui-se que:
• A maioria dos resultados de resistência ao cisalhamento estimados pelas quatro
normativas foram superiores aos obtidos valores experimentalmente para as vigas
ensaiadas por Amin e Foster (2016), sendo possível que esse fato se justifique pelo
concreto utilizado pelos autores ter comportamento tipo hardening. Já para as vigas
ensaiadas por Zamanzadeh et al. (2015) e Pansuk (2017) os resultados experimentais
foram superiores aos estimados.
• Observou-se acréscimo de resistência ao cisalhamento com o aumento do volume de
fibras, tanto nos resultados experimentais quanto nas previsões de resistência
característica de cisalhamento segundo as quatro normativas.
• Os resultados teóricos foram próximos, mas não se verificou um padrão de resultados
de cada norma para as diferentes vigas ensaiadas, e as normas que apresentaram melhor
correlação entre resultados experimentais e teóricos foi o FIB Model Code (FIB, 2010)
e a NBR 16935 (ABNT, 2021).
Quanto a análise paramétrica conclui-se que:
• A taxa de armadura longitudinal tem significativo impacto na capacidade de resistência
ao cisalhamento proposto pelo método da FIB Model Code (FIB, 2010) e da NBR 16935
(ABNT, 2021).
• Constata-se uma maior homogeneidade dos resultados de força cortante resistente entre
as normativas analisadas conforme o acréscimo da largura e do volume de fibras,
comportamento similar com a variação da altura útil até o valor de 60 cm.
• Para uma altura útil acima de 60 cm, verificou-se que esse parâmetro tem significativo
impacto no método proposto pela normativa Alemã (DAfStb, 2012), tanto no volume
de fibras de 0,375 % quanto no volume de fibras de 0,50 %.
• Nas três situações analisadas parametricamente, observa-se uma maior diferença da
resistência ao cisalhamento entre os diferentes volumes de fibras no método adotado
pela normativa Alemã (DAfStb, 2012) e pela RILEM (RILEM, 2003), que são métodos
que separam a contribuição do concreto da contribuição da fibra. Também, uma menor
diferença entre as resistências ao cisalhamento é identificada no método proposto pelo
FIB Model Code (FIB, 2010) e da NBR 16935 (ABNT, 2021) para diferentes volumes
de fibras onde o efeito do concreto e das fibras é combinado.
• Na grande maioria dos resultados da análise paramétrica, a norma FIB Model Code
(FIB, 2010) e NBR 16935 (ABNT, 2021) apresentam os maiores valores de capacidade
cisalhante de cálculo, sendo menos conservadores que as outras duas normas analisadas.
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