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ISBN 978-85-8260-417-5
CDU 62
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Engenharia: uma
breve introdução
A maior parte das pessoas não tem uma ideia clara sobre a engenharia, sobre
o que os engenheiros fazem ou por que eles são tão importantes para a socie-
dade. A engenharia é muitas vezes rotulada como uma profissão “discreta”,
“invisível” ou até “desconhecida”, embora tudo o que envolva os avanços tec-
nológicos e a produção de bens e serviços esteja relacionado à engenharia.
Pesquisas indicam que uma boa parte da população adulta (cerca de
60%) julga não estar bem informada sobre as atividades do engenheiro. Este
livro foi preparado para destacar a importância da engenharia e das ativida-
des dos engenheiros para a sociedade.
Então, o que é a engenharia para você? Coloque a sua resposta em um
pedaço de papel e guarde-o até o final da leitura deste capítulo.
É difícil definir engenharia em poucas palavras. Embora alguns exem-
plos práticos possam ser mais eficazes, podemos começar com uma definição
curta, mas de amplo significado: “A engenharia é a arte da aplicação dos
2 Introdução à engenharia
*Projetar não é construir. Projetar é definir as características do que vai ser construído, prever o comporta-
mento dos materiais empregados para que atendam a uma lista de requisitos de desempenho e segurança,
além de detalhar como o objeto do projeto deve ser construído e quais os recursos necessários antes, du-
rante e depois da sua vida útil.
Capítulo 1 • Engenharia: uma breve introdução 3
Importante
Os engenheiros se motivam a criar o artificial para a defesa e a su-
peração de limites que o corpo humano não possui, bem como para
satisfazer necessidades funcionais ou estéticas.
4 Introdução à engenharia
Humanidades:
Literatura
Religião
Música
Artes
…
IDEIAS
Serviços sociais:
Psicologia
Ciências abstratas: Arquitetura
Filosofia Direito
Matemática Economia
… História
Educação Jornalismo
&
Treinamento
PESSOAS
NATUREZA &
COISAS
Ciências aplicadas:
Engenharia
Medicina
Ciências: Ciências da Terra Bens & serviços:
Ciências da vida
Física Transportes
Ciências do espaço
Química Comunicações
Biologia Agricultura
Botânica Minas
Construções
Manufatura
Serviços
Milícia
Polícia
Comércio
Dica
Ao elaborar a sua definição de engenharia, lembre-se dos outros
elementos ligados ao conceito de engenharia para atender às ne-
cessidades humanas: valor, poder, criatividade, experiência, prática,
segurança e economia.
Arte e ciência
A engenharia é, mais do que uma ciência, uma arte, pois a técnica também
depende muito da inteligência perceptiva. A arte utiliza a aplicação sistemáti-
ca do conhecimento e das habilidades de acordo com um conjunto de regras.
A engenharia requer perspicácia e habilidade de decisão na adaptação do
conhecimento para propósitos práticos. Uma das atividades mais frequentes
na engenharia é a resolução de problemas, e para alguns engenheiros isso é
uma arte.
O método para isso começa pelo claro entendimento do problema em
si, fazendo as hipóteses necessárias; segue, então, utilizando a criativida-
de para estabelecer o conceito, dispositivo ou sistema que atenda às neces-
sidades, efetuando uma análise lógica da situação, baseada nos princípios
estabelecidos, verificando cuidadosamente os resultados, e finalizando com
um conjunto de conclusões ou recomendações baseadas em todos os fatos
Capítulo 1 • Engenharia: uma breve introdução 7
Para refletir
Você consegue imaginar como seria a vida se não pudéssemos mais
utilizar a quantidade e a variedade de recursos naturais do plane-
ta para criar novos espaços urbanos, novos caminhos para dejetos,
novas soluções em estradas, bem como ambientes para adaptar o
crescimento populacional? Tudo vem da natureza: pedras, cimento
e areia para fazer concreto, a madeira das esquadrias e móveis, os
diversos minerais para o pigmento das tintas (o minério de ferro, por
exemplo, é utilizado para fazer barras de estribo, vigas de aço, pre-
go, fios...), o barro e a argila para produzir tijolos, gesso para fazer
drywall, etc. São apenas alguns exemplos, mas basta você olhar em
volta para perceber que tudo foi tirado da nossa rica natureza, até
mesmo a sua roupa!
Recursos materiais
Os recursos materiais são utilizados com o objetivo de produzir outros
objetos. Os materiais utilizados na engenharia incluem derivados de ani-
mais, vegetais e minerais, sendo alguns naturais e outros, em sua maioria,
manufaturados ou processados. Estes derivados são muito úteis pelas suas
diversas propriedades: resistência, fácil fabricação, leveza, durabilidade,
capacidade de isolamento ou condução, boas características térmicas,
magnéticas, elétricas, químicas ou acústicas. A lista de materiais utilizá-
veis é praticamente ilimitada; por exemplo, existem 45 elementos metáli-
cos e aproximadamente 10 000 ligas metálicas em uso hoje em dia. Pela
variação da composição de uma liga, o engenheiro pode melhorar a sua
Capítulo 1 • Engenharia: uma breve introdução 9
Recursos energéticos
Os recursos energéticos são utilizados com o objetivo de produzir energia.
A quantidade de fontes importantes de energia é muito menor do que a de
recursos materiais como o carvão mineral, o petróleo, o gás natural, o vento,
a luz solar, as quedas de água, as ondas do mar e a fissão nuclear. Os recursos
energéticos são necessários para processar esses recursos naturais.
Cada forma de energia tem vantagens e desvantagens. O carvão mi-
neral é barato, mas a sua mineração é perigosa e o seu conteúdo de enxofre
é difícil de remover. Os produtos derivados de petróleo podem ser armaze-
nados e convertidos em calor sob condições cuidadosamente controladas. O
estoque mundial de petróleo está se esgotando rapidamente e a sua disponi-
bilidade está submetida a um conjunto pequeno de países. O poder do vento
é barato, mas não confiável. O desenvolvimento de energia pela força da
água é viável somente em certas áreas, geralmente remotas. O combustível
nuclear é barato, mas o equipamento de conversão é muito caro, e a socieda-
de se preocupa com relação a sua segurança. Cada dia, a terra recebe 10.000
vezes a quantidade de energia necessária para os seres humanos, mas ainda
não encontramos uma forma efetiva de converter essa energia de forma com-
petitiva.
Arquitetura
A palavra arquiteto significa “chefe construtor”. O primeiro arquiteto tinha
que ser hábil para planejar uma estrutura adequada às necessidades sociais,
ser experiente na arte da construção, ser eficiente no uso dos materiais e,
ainda, ser competente para dirigir diretamente os operários – em outras pa-
lavras, ele era um engenheiro.
Algumas estruturas conhecidas que atestam a imaginação e as habili-
dades dos seus planejadores são: as grandes pirâmides do Egito (ano 3000
a.C.), o templo do rei Salomão em Jerusalém (ano 1000 a.C.), o Parthenon na
Grécia (ano 450 a.C.) e o Coliseu em Roma (ano 80).
Estradas
Os romanos deslocavam os seus engenheiros para os vários territórios que
conquistavam. Algumas estradas dos romanos ainda são encontradas na In-
glaterra, onde muitas destas serviram como fundações de estradas posterio-
res. No império romano existiam aproximadamente 75.000 km de estradas
Hidráulica
A água está intimamente ligada à vida humana. As represas de irrigação e os
canais que fizeram das margens do rio Nilo um jardim (ano 2000 a.C.) estão
entre as primeiras realizações de engenharia de grande porte. Jerusalém e
Atenas foram supridas com água a partir de morros distantes por meio de
aquedutos. Os romanos são famosos pelos seus mais de 400 km de aquedu-
tos, que foram descritos em detalhe por Frontinius (ano 79), um inspetor
romano “responsável pela água”. Esses aquedutos conseguem sustentar uma
vazão de mais de 1 bilhão de litros de água por dia.
Metalurgia
O uso diário do fogo pelos humanos permitiu-lhes descobrir as possibilida-
des da metalurgia. O bronze foi descoberto bastante cedo, por originar-se da
fusão de minérios de cobre e de estanho, que são elementos frequentemen-
te encontrados juntos. Na construção das pirâmides foram utilizadas serras
e brocas feitas de bronze. O ferro tem um ponto de fusão bastante eleva-
do, e, portanto, é mais difícil de trabalhar. Algum minério raro de ferro foi
misturado com carvão e trabalhado quente pelos ferreiros, originando um
elemento de extrema dureza e raridade, sendo utilizado como ferramenta,
arma, ou fabricado em barras para ser utilizado como moeda.
12 Introdução à engenharia
Curiosidade
Ingenium
Muito antigamente, o termo “engenheiro” se referia à pessoa que
projetava e executava obras militares. Derivada do latim, a palavra
ingenium significava a capacidade inventiva de alterar a forma na-
tural das coisas para lhes dar uma utilidade prática. Até o século
XIX toda a construção era feita pelos arquitetos, artesãos comuns
e engenheiros militares. A construção de maquinário (ainda muito
limitada nos tempos antigos) e a lavra de minas eram simplesmente
artes especiais. No final do século XVIII, o crescente aumento e com-
plexidade excepcionais da construção criaram uma grande demanda
de pessoas com habilidades, experiência e conhecimentos especiais
para planejar e inspecionar a construção de estradas, obras hidráuli-
cas, faróis e outras grandes estruturas permanentes.
Assim, surgiu uma nova classe de pessoas capacitadas no es-
tudo analítico das construções e na utilização prática dos materiais.
Para diferenciá-los dos engenheiros militares, que se dedicavam a
trabalhos similares de caráter militar, foram chamados de “engenhei-
ros civis”.*
Com a introdução da máquina de vapor no início do século
XIX, surgiu a necessidade de engenheiros treinados especialmente
no projeto e na construção de máquinas, e isso conduziu de forma
gradual à formação de um campo profissional conhecido hoje como
“engenharia mecânica”. A prática da lavra de minas precisou tam-
bém da aplicação dos conhecimentos científicos e experiência, de-
senvolvendo a “engenharia de minas”. Da mesma forma, a utilização
prática da ciência da eletricidade resultou em outra especialidade,
no caso, a “engenharia elétrica”.
*O inglês John Smeaton (1724-1792) foi a primeira pessoa a autodenominar-se “engenheiro civil”.
Capítulo 1 • Engenharia: uma breve introdução 13