Communication">
Celestino Vaz Tomás Jone Joanguete
Celestino Vaz Tomás Jone Joanguete
Celestino Vaz Tomás Jone Joanguete
setembro de 2013
Esta Tese de Doutoramento teve o apoio da Bolsa de Investigação com a referência
SFRH / BD / 51456 / 2011, financiada por fundos nacionais do MCTES- Programa
Ciência Global.
Universidade do Minho
Instituto de Ciências Sociais
setembro de 2013
Agradecimentos
i
ii
Resumo
As mudanças dos media para o paradigma digital permitem atrair novas audiências no
processo comunicativo, também alargam a base de audiência para as outras esferas so-
ciais não alcançadas pelos media tradicionais.
No contexto moçambicano, não se pode abordar a questão das mudanças dos media sem
a sua contextualização no continente, onde a situação da migração tecnológica e a sua
relação com os media é profundamente influenciada pela problemática do analfabetis-
mo, da literacia digital e da abrangência da ação comunicativa dos media com a socie-
dade multicultural e multilinguística. Por isso, a tese desenvolve uma análise que parte
do questionamento da possibilidade de exploração das potencialidades da Internet e do
telemóvel para alcançar as audiências nunca alcançadas pelos media tradicionais, tendo
como objetivo explorar dois casos de jornais moçambicanos e descobrir os elementos
caraterísticos do jornalismo digital que permitem incluir no processo comunicativo a
população rural.
iii
iv
Abstract
The changes of the media for the digital paradigm allow them to attract new audiences
in the communicative process and also enlarge the audience base for the other social
spheres not yet reached by the traditional media.
In the Mozambican context, one cannot approaches the subject of changes of media
without its contextualization in the continent where the technological migration situa-
tion and its relationship with media is deeply influenced by the illiteracy problem, by
digital literacy and by the media communicative comprising action within the multicul-
tural and multilingual society. Therefore, the thesis develops an analysis starting by
questioning the possibilities of exploring the internet potentialities and mobile phone to
reach the audiences never reached before by the traditional media. In addition, intends
to explore two Mozambican newspapers and to discover the characteristic elements of
the digital journalism that can be included in the communicative process of the rural
population.
The eventual partnership of the public and private communication companies, particu-
larly, radio, television and press, would help in the penetration of the media in the re-
mote communities that do not either speak or write in Portuguese language. Could be an
intelligent partnership that would take advantage of the potentialities of each of means
of the social means of communication.
On the light of journalism change theories as well as in the use of some characteristic
elements of digital media, it is possible to find some characteristics that enlarge the au-
dience for the linguistics and geographically marginalized communities that already
have mobile phone as a reception resource of information.
Therefore, the public and private media are called to assume a social responsibility into
this journalistic paradigm in change, particularly, into an inculturating and spreading
contextualized information into the cultural reality, as well as in raising debates of the
interest of the multicultural and multilingual communities.
Key words: digital Journalism, Mozambique, national languages, mobile phone and
enculturation
v
vi
Parte I
Introdução-------------------------------------------------------------------------------------------1
1.1 Justificação------------------------------------------------------------------------------------10
vii
3.4. A mudança do cenário jornalístico--------------------------------------------------------95
3.9. Política nacional das TIC:o impulso para os media digitais em Moçambique-----138
viii
Capítulo V- Elementos caraterísticos do jornalismo digital
5.3. Ubiquidade/---------------------------------------------------------------------------------278
5.4. Hipertextualidade---------------------------------------------------------------------------279
5.5. Multimedialidade---------------------------------------------------------------------------287
5.7. Memória-------------------------------------------------------------------------------------292
PARTE II
Conclusão geral
Bibliografia
Anexos
Glossário
ix
Índice de tabelas
Índice de figuras
Figura nº1: Convergência de tecnologias ao telemóvel-------------------------------------36
Índice de Quadros
xi
Quadro nº8: Comparação das potencialidades de Internet nos jornais Notícias e @
Verdade-------------------------------------------------------------------------------------------332
Quadro nº9: Comparação das potencialidades da Internet nos jornais Notícias e @ Ver-
dade------------------------------------------------------------------------------------------------349
xii
Acrónimos
MCEL-Moçambique Celular
xiii
RSS- Really Simple Syndication
TDM-Telecomunicações de Moçambique
xiv
PARTE I
INTRODUÇÃO
À luz das teorias produzidas até então sobre as mudanças no jornalismo, o trabalho dá
ênfase a teoria de descontinuidade, cujo enquadramento assenta nos autores como Ga-
tes (2005); Pavlik (2001) e Deuze (2006) e Meyer (2007). A novidade do trabalho é
que analisa a presença dos elementos caraterísticos do jornalismo digital nos media
moçambicanos, questiona e procura encontrar potencialidades que permitem inculturar
os novos media no processo de comunicação com a sociedade, como resposta ao atual
problema do distanciamento dos media da sociedade.
Com base nas ideias acima referidas suscita-se a pergunta de partida do estudo: Como
aproveitar as potencialidades dos novos media, quer públicos quer privados para desen-
volver novas formas de comunicação inculturada na realidade moçambicana? Tendo em
conta que o grosso número da audiência nacional é composto por 89 por cento de falan-
tes de línguas moçambicanas. (Censo, 2007).
1
Para contextualizar o problema, no primeiro momento o estudo percorre a história do
jornalismo moçambicano desde a chegada dos portugueses a Moçambique, as peripé-
cias das práticas jornalísticas durante o período da ditadura salazarista na colónia de
Moçambique e termina com a independência de Moçambique em 1975.
O segundo momento começa de 1975 até 1990, período caracterizado pela apropriação
e transformação dos media em instrumento de propaganda do regime marxista e co-
munista da FRELIMO. O estudo classifica este período de “ideologização” dos media,
que teve o seu fim com a mudança da Constituição da República em 1990.
Para analisar o jornalismo digital nos media públicos e privados foram escolhidos dois
jornais: Jornal Notícias e @ Verdade. Para o caso do Jornal Notícia, o critério da es-
colha foi baseado na antiguidade no mercado de comunicação, pioneirismo na mudan-
ça para o digital e por ser um jornal de regime estatal, enquanto a escolha do Jornal @
Verdade foi feita no facto dele ter nascido no ambiente digital, uso das tecnologias de
comunicação e Informação e a conquista de uma nova geração de audiência.
Além disto, escolha dos casos do estudo baseou-se na seleção de jornais impressos e
com presença na rede digital. Outros fatores ponderados foram: para o Jornal Notícias
devido à longa tradição histórica do jornal, pelo número de tiragem que ultrapassa os
restantes jornais editados em Moçambique (25 mil exemplares diários), pela dupla edi-
ção (impresso e digital) e maior cobertura nacional. Quanto à escolha do jornal @ Ver-
dade, é pelo facto de ser um dos jornais que introduziu desde 2008 uma nova forma de
fazer o jornalismo: jornalismo participativo e próximo do cidadão e pelo facto d @ Ver-
dade apresentar uma redação nativa do digital.
Ciente que a temática transversal de inclusão das línguas nacionais no novo cenário
mediático caracterizado pela digitalização dos media, ainda está numa fase preliminar
de implementação quer nos media públicos quer no privado. O ideal do trabalho é tra-
2
zer à luz alguns pontos fundamentais que permitirão uma mudança em função da audi-
ência ostracizada.
Finalmente, o quarto momento, faz análise empírica dos dados recolhidos do jornal
Notícias e @ Verdade através da monitoria contínua das variáveis e o trabalho termina
com uma conclusão geral, a qual faz uma análise pessoal de todo o estudo sobre as
mudanças no jornalismo digital nos jornais públicos e privados moçambicanos.
Estrutura da tese
A tese é constituída por duas partes e seis capítulos interligados em torno da questão
central, “As mudanças para o jornalismo digital na imprensa pública e privada mo-
çambicana: Estudo comparativo dos Jornais Notícias e @ Verdade”. Sendo a primeira
parte dedicada a apresentação da justificação, objetivos, questões metodológica, media
em África e Moçambique, quadro teórico e conceitual do jornalismo digital e dos ele-
mentos caraterísticos do jornalismo digital. A segunda parte apresenta a análise de
dados empíricos recolhidos nos jornais Notícias e @ Verdade e as respetivas conclu-
sões.
3
Parte I:
4
debates e discussões em torno de mudanças paradigmáticas para o jornalismo digital.
Para análise, convoca os autores como Gates (2005); Pavlik (2001) e Deuze (2006),
Meyer (2007) e outros. O capítulo percorre a história do jornalismo digital, as inquie-
tações e dúvidas em torno das transformações que este modelo de jornalismo está a
provocar nas redações.
Este capítulo apresenta também algumas ideias dos processos transformacionais nas
redações analógicas, a crise do jornalismo impresso, a rutura ou continuidade nas prá-
ticas jornalísticas, as mudanças estruturais e sócio organizacional e a reforma dos cur-
rículos de formação de jornalistas.
Parte II
Capítulo VI- Faz análise de dados empíricos recolhidos nos dois casos, Notícias e Jor-
nal @ Verdade, no qual busca verificar a presença das características típicas dos media
digitais que podem impulsionar o alargamento da audiência para as comunidades rurais
que não falam nem escrevem em língua portuguesa. Por último faz-se uma análise com-
parativa dos dois casos e apresenta a conclusão geral.
5
6
CAPÍTULO I: JUSTIFICAÇÃO, PROBLEMA, OBJETIVO E METODOLOGIA
As discussões em torno das mudanças dos media para o ambiente digital ganharam for-
ça a partir dos meados dos anos 90, período a partir do qual se massificou a literatura
académica em torno do jornalismo digital. (Deuze, 2006:17).
Deuze (2006) já notava uma certa tendência dos jornais caminharem para uma conver-
gência, na qual combinavam a rádio, televisão, Internet e telefone num único suporte.
São inúmeros os estudos dos media digitais, que a partir de 1990 têm crescido graças a
apropriação das tecnologias digitais pelas redações. De entre os melhores estudos confi-
guram-se os de Bardoel & Deuze (2001), Madden (2007) bem como os de Thurman &
Lupton (2008), todos relativos às ferramentas de multimedialidade.
No contexto de África, não se pode falar dos media e do jornalismo africanos nos mol-
des atuais, porque anterior às independências a imprensa colonial estava ao serviço dos
interesses da metrópole e da diáspora colonial. (Hohlfeldt, 2009).
7
sobre os media. Os sistemas políticos impunham ideologias orientadas a solidificação
das independências, busca das identidades perdidas durante a dominação colonial e va-
lorização das culturas nacionais.
Os regimes políticos africanos, na sua maioria, eram criticados por académicos africa-
nos por não favorecerem a liberdade de expressão e de imprensa. Cresceu o sentimento
de que os Estados africanos tinham o monopólio sobre os media e que deviam permitir a
liberdade de expressão e o pluralismo mediático. Para isso, as academias reivindicavam
um novo ambiente político favorável a participação do cidadão e do sector privado na
política e no processo de desenvolvimento.
Com base na reflexão de Kassé (2001), entende-se que a relação dos regimes africanos
com a democracia ainda era difícil. Hoje em dia, a implantação de regimes democráti-
cos e a introdução dos conceitos de liberdade de expressão e de imprensa já está ganhar
espaço nos países africanos. Estas mudanças do cenário político para as democracias
participativas abrem caminho para uma nova etapa do jornalismo, a de promoção de
cidadania participativa, a defesa dos direitos humanos e a fortificação das capacidades
das empresas jornalísticas. Na sequência da última etapa, as academias africanas come-
çam a se preocupar pela questão de formação e pesquisa em jornalismo.
8
fase de discussão académica da relação entre os media e a política, o próximo campo de
discussão será o da digitalização dos media.
No momento da entrega desta tese, na segunda metade de 2013, estão em curso proces-
sos de revisão da Lei de Imprensa e de preparação da Lei de Rádio e Televisão, por ini-
ciativa do Governo e com a participação das organizações sócio profissionais dos me-
dia.
9
taxa de penetração dos telemóveis como meio de receção de conteúdos alcançou o gros-
so número da população do interior que não fala nem escreve em língua portuguesa.
1.1. Justificação
A partir de 1990, o cenário mediático mudou em termos políticos legais. Houve mais
liberdade de expressão, da imprensa e inclusive impulsionou o surgimento de maior
pluralismo mediático. Mas o problema da comunicação mediática com a sociedade não
era abrangente.
Magaia (1994) tenta dar uma visão holística do problema começando a partir do período
colonial. O autor analisa o problema do ponto de vista das ideologias subjacentes no
modelo de jornalismo colonial. Ainda explica que mesmo no período colonial não se
podia falar da liberdade de expressão e de imprensa nos moldes atuais. A legislação da
época colonial colocava todo o tipo de obstáculos ao exercício destas liberdades. O au-
tor aponta por exemplo o decreto nº 22.469 de 11 de Abril de 1933 como o marco que
instituía a “censura prévia” nas colónias portuguesas, cuja ação incidia sobre todo o tipo
de publicações, as quais deveriam ser submetidas a um escrutínio prévio em todos os
seus aspectos, incluindo matéria informativa, anúncios publicitários e fotografias, (Ma-
gaia, 1994: 39).
As perspetivas de abordagens de Magaia (1994), Rocha (2000) e Sousa (s/d) não apre-
sentam nenhuma divergência histórica sobre a censura, antes pelo contrário elas estão
10
enquadradas em campos de abordagem diferentes mas com pontos em comuns e possi-
bilidades de conexão.
Pelo relato de Magaia (1994:49), além de censura dos jornais existentes, o regime colo-
nial tinha outras formas de controlo e censuras, baseadas na compra dos jornais pelos
poderosos interesses económicos, que passaram a assumir posições maioritárias na es-
trutura acionista da principal imprensa em Moçambique. O autor dá exemplo particular
do Jornal Notícias, que passou a ser controlado pelo Estado colonial através do capital
do Banco Nacional Ultramarino (BNU). Mas este modelo de censura não abrangia os
outros jornais que não tinham a participação de empresas financeiramente poderosas.
Um dos mais antigos jornais de Moçambique que atravessou grande parte das turbulên-
cias do regime de Salazar foi o jornal Noticias. O jornal foi fundado em 1926, e só em
1967 foi comprado pelo Banco Nacional Ultramarino, um banco privado que tinha sido
contratado pelo Banco de Portugal para desempenhar as funções de Banco Central na
colónia de Moçambique. De igual modo, o jornal A Tribuna, fundado em 1962, passou
no ano seguinte a pertencer ao mesmo grupo dO Diário de Moçambique, com sede na
cidade da Beira. (MISA-Moçambique, 2010).
11
O principal evento realizado pelo partido no poder, em todo o período pós-
independência, no campo dos media, foi o I Seminário Nacional da Informação, reali-
zada em Setembro de 1977 em clima de grande euforia revolucionária. Este foi um se-
minário histórico, pelos novos conceitos que levantou sobre os media e, sobretudo, pela
ação de orientação da imprensa para o serviço da ideologia política do partido único,
(Magaia, 1994: p.44).
Quanto aos responsáveis editoriais dos órgãos de comunicação social esperava-se que
eles fossem pessoas ideologicamente conformadas e que se identificassem com os pro-
pósitos da FRELIMO. (Magaia, 1994). A conformidade política era um dos critérios
para a sua nomeação ao cargo de direcção de um órgão de comunicação. Nesse quadro,
questões de natureza económica ligadas aos media, tais como a necessidade de assegu-
rar uma comunicação articulada com os valores culturais dos moçambicanos não estava
fora do plano estratégico das empresas de comunicação.
Nos anos 1980 alguns responsáveis editoriais começaram a encarar a não interferência
direta do partido nas atividades jornalísticas. Aos poucos, o sistema de controlo passou
a revestir-se de uma nova forma de controlo ideológico, baseada em “conselho editori-
al” que reunia semanalmente todos os diretores e chefes de redacção dos órgãos de in-
formação, sob presidência do Ministro da Informação. Neste Conselho Editorial era
definida a visão editorial através da qual todos os media deveriam abordar os principais
assuntos nacionais e internacionais da actualidade de acordo com os interesses do poder
instituído, (MISA-Moçambique, 2010).
12
Como observa Magaia (1994), referindo-se à liberdade de imprensa e de expressão, a
consagração do princípio do “direito do povo à informação” pela Constituição de 1990,
longe de constituir uma iniciativa do poder político instituído, ela resultou da luta da
classe jornalística moçambicana pela conquista da liberdade de imprensa.
Um dos momentos mais decisivos da luta dos jornalistas pela liberdade de imprensa foi
assinatura de uma petição ao governo, por parte de mais de 170 jornalistas, em Feverei-
ro de 1990, exigindo que a nova Constituição, então em discussão, incluísse artigos que
consagrassem os direitos dos cidadãos a uma informação completa e verídica e o direito
de se expressarem livremente através dos órgãos de Informação. Este princípio estava
omisso no anteprojecto de Constituição posto a debate público pelo Governo. (Magaia,
1994: 136 e Ronning, 2007).
Recorrendo a Cossa (2011: 708) quanto à importância das línguas nacionais, ele afirma
que “a língua faz parte da cultura” e em certas sociedades ela identifica um povo e in-
corpora o “estar das coisas sobre si”. Essas afirmações do autor criticam, implicitamen-
te, a exclusão das línguas nacionais na comunicação do povo.
Tem havido pequenos progressos no cenário da valorização das línguas faladas pela
maioria dos moçambicanos, mas a maioria ainda está relegada para fora do plano de
políticas públicas, elas estão interditas quer no sistema de educação quer no sistema
mediático em detrimento da língua portuguesa.
13
O campo de estudo designado “antropologias dos media” tem chamado a atenção para a
questão do uso de novos meios tecnológicos de comunicação como ótimas ferramentas
de construção das representações culturais dos povos. Elas permitem a democratização
da informação, dão a liberdade de formação de grupos de interesses no ciberespaço,
permitem a troca de opinião e participação em fórum virtuais de formação de opinião.
1.2.Problema do estudo
14
liberdade de imprensa. (Chichava & Pohlmann, 2010). A Lei paradigmática advogava
uma série de liberdades e garantias individuais e dos cidadãos se exprimirem livremente
e de criar uma imprensa independente, não sujeita ao controlo do Estado.
Em todas transições históricas a audiência sempre esteve limitada a uma classe alfabeti-
zada e concentrada nas grandes urbes, mas a grande maioria da população moçambicana
vive no ambiente rural, sem nenhuma alfabetização e contato com a sociedade aberta e
excluída em todos os processos, sociais, políticos e económicos do país. Além disto,
acresce-se outro problema transversal, a questão da inclusão no processo de comunica-
ção medi das línguas moçambicanas, que representam 89% da população geral que não
fala, não escreve e nem lê em língua portuguesa. (Censo, 2007).
Outro passo importante foi dado pela Associação dos Músicos Moçambicanos que tem
incentivado o uso das línguas nacionais na expressão musical. Tal iniciativa, não só vai
ajudar os músicos nacionais na divulgação das suas músicas em línguas nacionais, mas
vai contribuir na valorização da cultura e línguas moçambicanas.
No sector dos media, o assunto das línguas nacionais continua a ser um tabú. Trata-se
de uma matéria que não é discutida com regularidade quer com os gestores dos media
quer nos círculos académicos de formação de jornalistas.
15
ca geral quer para os jornais públicos quer para os privados é o uso exclusivo da língua
portuguesa como a língua dos media. Deduzindo a partir dos dados do Censo (2007),
89% de moçambicanos serão os próximos “infoexcluídos” e uma minoria composta de
11% da população moçambicana se beneficiará do digital.
Chegado ao fim desta explicação, a questão que se coloca como problema é? Como vai
ser o papel dos media moçambicanos digitais, públicos e privados, para a inclusão da
maioria de audiência não alcançada pelos media tradicionais?
Diante da nova realidade caracterizada pela digitalização dos media, produção de conte-
údos, distribuição de conteúdos jornalísticos em multiplataformas digitais, interativida-
de e participação do usuário, os media públicos e privados não se esclarecem quanto ao
seu papel social de comunicação nem se definem quanto ao rumo a tomar nesta fase de
grandes mudanças.
Por isso, o estabelecimento dos media que usam as línguas nacionais nas suas mensa-
gens seria uma demonstração de soberania. Além disso, ajuda a desenvolver e a estimu-
lar o sentimento de identidade cultural entre as novas gerações e, consequentemente
desempenhar o papel importante no processo de produção de conteúdos contextualiza-
dos na realidade local.
16
Apesar de crescentes estudos da cultura africana e os novos media baseados na Internet
(Geribault, 2010), as ciências sociais lançam o desafio de inclusão da diversidade lin-
guística africana no ciberespaço. A resposta da pergunta de partida será dada ao longo
do desenvolvimento da tese.
Mas a pergunta principal invoca outras perguntas transversais de carácter mais operaci-
onais como:
Como é que o continente africano e suas políticas públicas respondem aos desa-
fios tecnológicos que impulsionam a criação de jornalismo digital inculturado?
Qual é o percurso histórico do jornalismo moçambicano até a digitalização?
Quais são as grandes reflexões académicas em torno do jornalismo digital?
Quais são os elementos caraterísticos do jornalismo digital e como é que funcio-
nam?
Quais são as potencialidades técnicas dos jornais digitais públicos e privados que
permitem o alargamento da audiência para as populações rurais que não falam
nem escrevem em língua portuguesa?
Mais do que estudar o jornalismo digital em si, a tese alarga o campo de pesquisa para a
problemática transversal da inculturação dos media na sociedade moçambicana, de mo-
do a encontrar as tecnologias mais simples que permitem o desenvolvimento sustentável
de comunidades marginalizadas pelos medias tradicionais.
O estudo parte das teorias científicas de mudanças no jornalismo para resolver o pro-
blema de desenvolvimento dos media e de acessibilidade de informação para as comu-
nidades. A ideia é tentar levar as teorias globais de mudança dos media para que tenham
impacto nas comunidades, no processo de comunicação, na sua forma de produção e
distribuição de conteúdos.
17
No campo empírico, a tese parte da observação, levantamento e análise dos elementos
caraterísticos dos media digitais, de modo a encontra um ou mais que permitem alcançar
as audiências anteriormente marginalizadas pelos medias tradicionais.
Sendo o jornalismo digital uma nova abordagem de carácter global, o trabalho encontra
o seu enquadramento nos principais estudiosos como Pavlik (2000); Bastos (2000),
Bardoel & Deuze (2001); Salaverría (2001); McQuail (2003); Meyer (2007), Canavilhas
(2007) e Zamith (2008).
Face a este debate, a proposta de pluralismo linguístico nos media é uma das vias para o
reforço da competitividade da indústria dos media moçambicano e maior inclusão das
culturas nacionais no processo de comunicação.
Para o estudo de casos, o trabalho inspira-se na metodologia sugerido por Yin (2009),
segundo a qual a análise de conteúdos é feita na base das seguintes interrogações:
18
quem? o que?, onde? E porque? Com vista a obter resposta ao problema do nosso estu-
do de caso, o quem? corresponde aos jornais escolhidos para a recolha de dados ( Jornal
Notícias e @ Verdade), o que? São os elementos caraterísticos do jornalismo digital
(arquitetura da informação, interatividade, hipertextualidade, instantaneidade, memória,
personalização de conteúdos, multimedialidade e ubiquidade) e o porque? corresponde a
finalidade para qual se pretende alcançar com o estudo.
Neste contexto, a monitoria dos conteúdos dos jornais Notícias e @ Verdade foi reali-
zada no período que parte de Novembro de 2009 até Dezembro de 2012, nos quais fo-
ram escrutinados cada um dos elementos característicos do jornalismo digital.
Tanto Deacon et al. (1999) como Kautsky & Widholm (2008), bem como Espanha
(2009) são esclarecedores quanto à necessidade de uma metodologia específica para
análise do jornalismo digital. Primeiro por se tratar de um novo fenómeno e segundo
para não incorrer ao risco de usar as metodologias clássicas que podem induzir às con-
clusões incorretas.
19
seguidos para análise do fenómeno digital nos jornais. Mais uma vez, os autores reco-
mendam a aplicação de questionário para a extração de novos dados complementares,
que não são possíveis de obter através da grelha de análise de conteúdo.
Palacios & Noci (2007) propõem que se analisem seis variáveis: a hipertextualidade; a
multimedialidade; a interactividade e participação, a temporalidade, a memória e a per-
sonalização de conteúdos
ii) Duas entrevistas não estruturadas: uma ao técnico da informática do jornal Notí-
cias e a outra ao diretor executivo do jornal @ Verdade.
iii) Entrevista não estruturada aos régulos, jornalistas, pessoas singulares e delega-
dos províncias do jornal Notícias, Rádio Moçambique e Televisão de Moçambique
nas províncias de Niassa, Cabo-Delgado e Maputo-província.
À luz do modelo de estudo de caso de Yin (2009) e de análise de conteúdo proposto por
Palácios & Noci (2007), o estudo incidiu na análise das seguintes categorias: arquitetura
da informação, Interatividade e participação, ubiquidade, hipertextualidade, instantanei-
dade, memória e personalização de conteúdos.
20
CAPÍTULO II: OS MEDIA EM ÁFRICA E AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS
2.1. Os media africanos
Antes de responder à questão é importante começar por discutir o problema dos media
africanos. Em seguida, abordaremos a questão das tecnologias básicas como computa-
dor e Internet e sua importância para o desenvolvimento social e económico do conti-
nente, depois segue toda a reflexão subsequente derivada delas como, por exemplo, as
barreiras da alfabetização tecnológica enfrentadas pela maioria das comunidades africa-
nas, as potencialidades de telemóveis na comunicação de massa.e por fim a problemáti-
ca de inclusão das línguas africanas nos processos de comunicação social.
21
Kupe (2003) descreve que em muitos países africanos, a política de radiodifusão tem
dado ênfase aos media do setor público. Com os recentes processos de democratização
política, a partir de 1990, a rádio tenta assumir o papel de mediação e de inclusão social
da população de baixo nível de escolaridade e sua participação na vida política, social e
económica, através de debates e difusão de ideias de desenvolvimento.
A questão de partida para o estudo da transição dos media africanos para o sistema digi-
tal é o dilema colocado por Skjerdal (2009). O autor levanta o problema de contextuali-
zação dos padrões do jornalismo universal no ambiente cultural africano. Subjacente ao
dilema, o autor questiona se é possível identificar jornalismo africano com uma filosofia
diferente do jornalismo ocidental.
De acordo com Banda (2007), além das iniciativas de apoio ao desenvolvimento dos
media em Africa feitas por The Global Fórum for Media Development (GFMD), uma
organização Norte Americana e da The Africa Media Development Initiative (AMDI),
uma iniciativa da BBC em parceria com algumas universidades africanas, os media afri-
canos estão a evoluir bastante para o campo de pluralismo e independência, embora
persistam alguns problemas relacionados com a regulação, recursos humanos e infraes-
truturas. (Banda, 2007:4-5).
Do projeto de pesquisa dos media africanos levado a cabo pela AMDI em 17 países
africanos para analisar o cenário de mudanças, entre 2000 a 2005, o estudo revelou que
existem grandes atrasos, excecionalmente, a rádio tinha uma taxa de penetração em to-
das as comunidades africanas. Outra observação relaciona-se com as potencialidades do
computador e da Internet que poderão revolucionar os jornais, rádios e televisões, (Ban-
da, 2007:3-4).
22
Pode-se observar na história de África, que a maior parte dos países africanos alcançou
a independência a partir dos finais da década de 40. Por isso, não se pode falar do jorna-
lismo puramente africano anterior as independências, pois antes disso tratava-se de im-
pressa colonial feita desde as metrópoles para as suas comunidades da diáspora colonial.
O crescimento da preocupação pelo jornalismo africano iniciou numa fase bastante tar-
dia. Kassé (2001) afirma que anterior aos anos 90 não existia uma preocupação de in-
vestigação em jornalismo, porque dominava na época o monopólio do Estado sobre os
media. Os sistemas políticos impunham ideologias orientadas a solidificação das inde-
pendências, busca das identidades perdidas durante a dominação colonial e valorização
das culturas nacionais.
Por esta razão, os regimes políticos africanos, na sua maioria, eram criticados por aca-
démicos africanos por não favorecer a liberdade de expressão e de imprensa. Cresceu o
sentimento de que os Estados africanos tinham o monopólio sobre os media e que devi-
am permitir a liberdade de expressão e o pluralismo mediático. Para isso, as academias
imploravam um novo ambiente político favorável a participação do cidadão e do sector
privado na política e no processo de desenvolvimento.
Com base na reflexão de Kassé (2001), a relação dos regimes africanos com os media
ainda é difícil e, concomitantemente, vão crescendo regimes políticos democráticos.
Estas mudanças do cenário político para as democracias participativas abrem caminho
para uma nova etapa do jornalismo, a de promoção de cidadania participativa, a defesa
dos direitos humanos e a fortificação das capacidades das empresas jornalísticas. Na
sequência da última etapa, as academias africanas começam a se preocupar pela questão
de formação e pesquisa em jornalismo. De qualquer forma, ficam lançadas as bases
fundamenais para investigação, discussão e desenvolvimento do jornalismo africano e o
seu papel participativo na promoção da cidadania. Mas essa abertura política acontece
no momento tardio em que os outros países estão numa fase bastante avançada na dis-
cussão sobre o assunto.
A literatura tem revelado que a discussão sobre o jornalismo digital no continente afri-
cano bipolariza-se entre a África anglófona e francófona:
23
i) O mundo anglófono, cujo protagonismo é assumido pelos centros de pesquisa
e investigação Sul-africanas, nomeadamente pelo projeto Highway África, pertencente a
Rhodes University, que focaliza os seus estudos e debates em torno da integração das
redações e dos seus profissionais na Sociedade de Informação e na promoção da TIC
orientada para o desenvolvimento dos media através de partilha de informação e conhe-
cimento, mas também para o desenvolvimento da sociedade africana em geral. Integram
neste grupo de investigadores como Adeya (2001), Ajayi (2002), Banda (2010), Berger
(2007a), Hufmann (2009).
O grupo de investigadores desta abordagem é composto, no seu grosso modo, por inves-
tigadores africanos radicados na diáspora. Integram os seguintes investigadores: Balima
(2006), Blankson (2005), Brosse (2001), Diop (2011), Kiyindou (2008), Lexander
(2010); Nwuso (2005), Obijiofor (2008), Omojola (2009), Pépin (2006), Rachidi
(2005), Sissouma (2001) e outros.
Mais do que enumerar todos os autores e as suas linhas de pesquisa que contribuíram
para a formação do pensamento africano do jornalismo e dissipar os preconceitos de que
em África não existe nenhuma produção académica de grande vulto, apenas fica aqui a
ideia de que existem em África reflexões e debates académicos multidisciplinares sobre
a TIC e o seu impacto na sociedade, sobre os media, sobre a economia, sobre a política
e esferas.
24
Em geral, a nova paisagem mediática africana ainda é complexa, Kassé & Senghor
(2001). O certo é que até aos anos 80 foi o período que começou a rutura do monopólio
dos Estados sobre os media, facto que transformou os jornalistas africanos em agentes
de desenvolvimento, ou naquilo que Perret (2001) designou de “ Soldados de desenvol-
vimento”. No mesmo período começaram a surgir alguns jornais alternativos. (Kassé &
Senghor, 2001: 61).
De acordo com Kassé & Senghor (2001), os debates sobre as tecnologias, a partir de
1990, bem como a abertura dos sistemas políticos para regimes democráticos facilitaram
o pluralismo mediático. A Internet reforçou ainda mais o sistema mediático, ao possibi-
litar a diversificação e melhoramento dos conteúdos de informação, a interação entre
redações e seus públicos. (Kassé & Senghor, 2001: 72-73).
Brosse (2001) e Tudesq (s/d) também levantam a hipótese de haver uma relação direta
entre a vaga de democratização nalguns países do continente africano, em particular os
países da África Subsaariana, e o progresso das técnicas de comunicação. Estudos têm
demostrado que existe uma causa-efeito entre o progresso tecnológico, sobretudo, as
redes sociais da Internet e o telemóvel como os fatores que estão subjacentes nas ondas
de reivindicações democráticas em alguns países africanos, como por exemplo, Tunísia
Egipto e Líbia em 2011. (Brosse, 2001: 178).
Na perspetiva de Fouda (2009), a relação entre abertura política aos regimes democráti-
cos e o pluralismo, ainda persistem dúvidas e certezas. O autor afirma que os media
“depois de servirem os interesses coloniais e das ditaduras pós-independências”, era
suposto que eles se tornassem independentes, mas hoje em dia eles transformaram em
instrumento dos regimes políticos. (Fouda, 2009:203). A mesma visão é partilhada por
Nyamnjoh (2003) que exige o papel mais ativo dos media africanos na monitoria e con-
solidação da democracia em África.
Nwosu (2005) introduz novas um ponto crucial no debate sobre os media africanos, a
questão da política. Para ele, os media africanos dependem da vontade dos políticos,
mas a sua manipulação pelos políticos têm profundas implicações para a natureza e di-
reção que se pretende imprimir no processo de mudança da sociedade e do cenário me-
diático. (Nwosu, 2005: vi).
25
Sisssouma (2001) reconhece o défice no uso das tecnologias para o sector dos media
africanos e, simultaneamente, acredita no papel do Highway Africa em poder desempe-
nhar as tarefas de partilha de experiências sobre as tecnologias aplicadas aos media.
Highway Africa é um projeto que surgiu depois da Conferência de 1997 organizada pelo
New Media Lab, da Rhodes University na África do Sul. Inicialmente, o projeto foi con-
cebido como um espaço de partilha de informação e conhecimentos sobre ferramentas
tecnológicas relevantes para os media africanos. Depois de alguns anos, o projeto alar-
gou o seu âmbito de atuação para áreas de investigação, formação e organização de con-
ferências sobre os media africanos.
26
das nas redações favorecem a emergência de uma nova forma de liberdade de expressão
e de imprensa no continente. Mabweazara (2011) argumenta que para haver impacto
dos novos media nas comunidades é necessário que eles estejam integrados em redes
culturais, políticas e conómicas em que a prática jornalística está enraizada.
Duarte (2009) sugere que os media tradicionais africanos engrenem na era digital como,
por exemplo, o uso das Redes Sociais da Internet, de blogs e de outras ferramentas ele-
trónicas de difusão de informação. O autor discorda que os media tradicionais africanos
continuem a tratar a Web como uma mera plataforma de reprodução de conteúdos, en-
quanto na verdade a Web pode incorporar muitos recursos como, hipertextos, multimé-
dia e tornar os conteúdos mais atrativos e reduzir em grande escala o seu custo.
Zabel (2007) parte do pressuposto que as crises dos jornais ocidentais e a sua migração
param o sistema digital também afetará os países africanos. Para autora não faz sentido
que os media e o jornalismo africano se acomodem no tempo e se sujeitem aos conse-
quentes atrasos, enquanto os países ocidentais avançam para a reformulação das suas
estruturas mediáticas e das práticas do jornalismo. (Zabel, 2007: 12).
Duncan (2007) tem observado que um grande número de empresas jornalísticas ociden-
tais têm explorado com frequência os conteúdos analógicos e os transpõe para o digital
como o processo inicial para a digitalização. Patrão & Figueiredo (2011) e Duarte
(2009) defendem a ideia de autonomia dos media baseada na exploração das potenciali-
dades das redes sociais e de outras ferramentas de jornalismo colaborativo como forma
27
de tirar o proveito das suas inúmeras vantagens em matérias de personalização de con-
teúdos e a participação dos usuários.
Os argumentos de Duarte (2009) deixam claro que o jornalismo digital, além do uso de
recursos próprios, também se socorre de equipamentos modernos de tratamento e difu-
são rápida de informação para alcançar uma audiência segmentada em diversas plata-
formas de comunicação. Assim sendo, o jornalismo deixa de ser a reprodução de meios
tradicionais e passa para um meio de produção autónoma de conteúdos.
Berger (2009a: 59) incentiva os media africanos a tomarem uma atitude proactiva, ex-
plorando ao máximo as potencialidades da Internet e as novas ferramentas tecnológicas
de comunicação. No seu entender, elas oferecem oportunidades e reduzem o esforço e o
custo do sistema de gestão de arquivos digitais. Ainda mais, com um horizonte promis-
sor para os media africanos, o uso massivo de telemóvel no continente1 constitui uma
das oportunidade para explorar este meio de comunicação popular, que apresenta a van-
tagem dela se integrar no leque das plataformas de distribuição de conteúdos jornalísti-
co.
Uma das áreas de grande progresso tecnológico em África é na telefonia móvel. O nú-
mero de telefones móveis está acima do número das linhas de telefones fixos, num rácio
de dez pessoas para um telemóvel. De acordo com Jensen (2008), as taxas de cresci-
1
Só em 1990 o continente africano tinha registado 8.6 milhões de usuários de telemóveis ( Otieno, 2009:
15)
28
mento de comunicações móveis em África são as mais elevadas do mundo, com a me-
lhor cobertura e tarifas mais competitivas:
A telefonia móvel é agora o principal modo de acesso TIC em África, onde os telemó-
veis ultrapassam em número as linhas fixas numa relação aproximada de dez para um.
As taxas de crescimento das comunicações móveis são as mais elevadas no mundo, lide-
radas por países com entradas no mercado mais recentes, tarifas mais competitivas e co-
bertura melhorada (Jensen, 2008:24).
De acordo com Muwanga (s/d), um dos fatores da massificação do telefone pela popu-
lação africana é a concorrência entre as empresas fornecedoras de aparelhos móveis.
Mas não é o único fator que concorre para a maior taxa de penetração, Cava (2011) fala
da incapacidade das operadoras de telefonia fixa cobrirem a maior parte das comunida-
des africanas e, por outro, devido aos custos proibitivos praticados pelas mesmas, bem
como as reduzidas infraestruturas de comunicação.
Entre 2000 a 2005 o acesso ao telefone móvel passou de 8 para 100 milhões de usuá-
rios, uma expansão de 107 por cento ano. O país com maior índice de crescimento é a
República da Africa do Sul com 34 milhões de usuários de telefone móvel, contra os 9
milhões de 2001. (Cava, 2001).
Outros países estão a registar crescimentos colossais no uso dos telemóveis como, por
exemplo, em Botsuana onde em cada três pessoas um tem telemóvel, enquanto a Repú-
blica Democrática do Congo, Ruanda e Malawi estão apostar nas instalações de infraes-
truturas de comunicação móvel, nomeadamente nos retransmissores para as redes mó-
veis. (Cava, 2011).
Cava (2011) acrescente que entre muitas iniciativas de dissipação do fosso digital em
África destaca-se o Programa das Nações Unidas denominado Millennium Villages Pro-
ject, que tem como objetivo expandir as redes de telefonias móveis para as zonas rurais,
sobretudo nas comunidades consideradas menos rentáveis pelas operadoras de telefonia
móvel. O Millenium Villages Project iniciou a sua implementação em 2004, no Quénia,
Mali, Etiópia, Senegal, Uganda e Moçambique e conta com a colaboração do Earth Ins-
titute da Columbia University.
29
Em 2008 o cenário de serviços de telefonia móvel no continente africano apresentava a
maior taxa de penetração do mundo, em destaque para alguns países da África Subsaari-
ana que registaram um crescimento na ordem de 40%, embora as taxas globais de pene-
tração apresentem cifras abaixo desta. Enquanto isto, de acordo com PEA (2011) os
países do Norte de Africa que “têm maiores níveis de renda e menor população rural,
representam, em média, 44 por cento do investimento em África de 2004 a 2007”. Gra-
ças a isto estão atingir o nível de maturação em termos de investimentos tecnológicos.
Fidalgo (2013) confirma que o “ celular transformou-se num acessório pessoal incon-
tornável de todo o mundo, de novos e de velhos, de ricos e pobres”. Mas algo que o
autor destaca é a transformação do telemóvel, nas populações de baixa renda, num apa-
relho portátil em substituição do antigo rádio de pilha.
Do ponto de vista de Fidalgo (2013), o fascínio da população de baixa renda pelo tele-
móvel não está só na acessibilidade do seu preço, mas também nas funcionalidades e
serviços que este permite aceder como o som, televisão, textos e multimédia. De acordo
com o autor, “o problema do telemóvel enquanto rádio de pilha” é a receção do sinal
que não é gratuita em maior parte do mundo.
As fraquezas das rádios e televisões africanas em cobrir a maior parte das suas popula-
ções poderão ser ultrapassadas pelo telemóvel. Para que o telemóvel seja verdadeira-
mente meio de convergência dos media é necessário que as emissoras apostem em con-
teúdos de qualidades e contextualizáveis em cada realidade cultural africana, ou seja,
que elas produzam mais conteúdos de natureza multimédia.
30
Em termos de produção de conteúdos a partir de telemóveis existem centenas de experi-
ências pelo mundo. Essas experiências estão a mudar as relações de comunicação entre
a audiência e os produtores de conteúdos ou entre a audiência e os sistemas governati-
vos. Neste contexto, a agência Reuters em parceria com a Nokia experimentaram o uso
do telemóvel para a produção de conteúdos, num projeto designado “ Mobile journa-
lism” em que a partir do telemóvel os jornalistas podiam gravar vídeos, editar e transmi-
tir ao vivo a partir do telemóvel e o resultado foi vantajoso para os produtores de conte-
údos devido à redução de custos. (Silva, s/d).
Tendo a taxa de penetração da televisão muito baixa nas zonas rurais, contrariamente, a
rádio apresenta uma taxa de penetração mais elevada relativamente aos outros meios de
comunicação social africanos. De acordo com Levingston (2011), 92 por cento de 800
mil habitantes da população da Suazilândia tem recetor da rádio em casa. Malawi possui
16 estações de rádios com uma audiência constituída por 2.6 milhões de ouvintes.
Estes dados são indicadores de que as rádios em África são um meio de comunicação de
massa à par dos telemóveis considerados como redes de comunicação participativa e de
ampla distribuição. Esse fenómeno deve-se à própria cultura africana associada à orali-
dade e a virtude de escuta.
31
cesso no continente africano, como confirmam as pesquisas separadas de Otiene (2009),
Jersen (2009), Mpofu (2011) e Ugba (2011).
Gráfico nº1: Acesso aos serviços das telecomunicações na África Sub- Sahariana
De acordo com Otiene (2009), Jensen (2009) e Serrazin (2011), o continente africano
registou em 2007 um pouco mais de 65 milhões de novos usuários de telefones móveis,
o equivalente a 30% da taxa de penetração. Estas cifras despertam atenção dos estudio-
sos quanto a celeridade com que as tecnologias móveis de comunicação são apropriadas
em África.
32
Gráfico nº2: Crescimento da telefonia móvel comparada com outras tecnologias
No âmbito de reforço dos media, as tecnologias móveis trazem à tona uma nova figura,
o cidadão repórter. Sibanda (2010: 6-18) descreve a génese do jornalismo do cidadão,
no contexto africano, como sendo resultado de cinco fatores descritos:
33
A globalização da democracia- que começa com o colapso dos sistemas políti-
cos colonialistas e socialistas e que tiveram implicações na participação do ci-
dadão no jornalismo
Desregulação do cenário mediático- caracterizado pelo discurso de liberaliza-
ção dos media em muitas países de África e o consequente surgimento do plura-
lismo mediático
Surgimento de media comerciais- que concorrem com os medias estatais na
oferta de novos produtos
Agenda comunitária para a democratização da comunicação jornalística-
caracterizada pelo preocupação dos media em assuntos comunitários, situação
que influencia na agenda dos media e, como consequência, maior abertura dos
media ao cidadão e mais vozes comunitária.
A rápida emergência e adoção da TIC- caracterizado pela apropriação popular
das tecnologias básicas de comunicação como, por exemplo a Internet e tele-
móvel
34
autor designa de “media alternativos”, são formas de participação da população africana
no acesso à informação e na democracia participativa, (Manji, 2008: 7-12).
Face ao cenário que se desenha, a questão que se coloca é: como é que os media africa-
nos poderão alcançar a audiência rural? Numa altura de em que o telemóvel ganha ter-
reno nas comunidades mais remotas como meio de comunicação e de distribuição de
conteúdos. (Mattews, 2009).
Mas para o caso especial dos media africanos, o telemóvel é uma excelente plataforma
de distribuição de conteúdos, tendo em conta que o acesso a Internet se situa no nível
mais baixo de penetração, 0,38 por cento, enquanto o telemóvel apresenta uma taxa de
penetração na ordem de 45 por cento. (Levingston, 2011).
Muwanga (s/d) e Muñoz & Bartolomé (2008) reconhecem que o telemóvel tende a ter
vantagem em relação às outras tecnologias. “A utilização de uma plataforma de infor-
mação que se pode transportar no bolso de calças é mais atrativa para o recetor de men-
sagem informativa”. Para o caso africano é um importante meio de comunicação para a
população rural onde vive a maioria dela.
A figura a seguir ilustra como é que os diversos serviços dos media podem integrar-se
no telemóvel.
35
Figura nº1: convergência de tecnologias ao telemóvel
36
2.3 A emergência das TIC em África
A partir dos finais do século XX, o mundo começa a viver uma nova era baseada numa
economia de informação. Uma realidade corroborada por Cardoso (2009) na qual nota a
chegada de uma era em que a informação está no centro da dinâmica social e da econo-
mia. Trata-se de uma era em que são relegadas para a extemporaneidade os tempos de
entidades autossuficientes e independentes.
37
Analisando minuciosamente os domínios referidos por Hamelink (2008), eles têm im-
pacto direto sobre as sociedades mais remotas. Trata-se de globalização da comunica-
ção, que na perspetiva de Cardoso (2009) permite:
(…) Que diferentes pessoas, dentro da mesma comunidade, possam partilhar assuntos,
é, provavelmente, a novidade mais importante nas mudanças actuais trazidas pela co-
municação no nosso quotidiano. Ao trazer a comunicação para um nível global, através
de transmissão, e mais tarde ao permitir as pessoas “serem” globais, através do uso das
tecnologias globais, como a Internet e as redes de telemóveis …” (Cardoso,
2009:28)
Diante desta afirmação, o continente africano não pode ser uma ilha isolada de todos os
processos transformacionais que ocorrem na sociedade de informação e de conhecimen-
to. No entender de Filinto (2003:13), a África precisa desafiar as suas barreiras internas
e engrenar na nova dinâmica de comunicação e na criação do seu ciberespaço como
expressão de identidade cultural.
38
comunicação global, que vão influenciar nas políticas soberanas sobre a comunicação.
As análises do autor acentuam as mudanças do campo do comércio mundial:
A política de comunicação global é cada vez mais definida pelos padrões de comércio e
de mercado e cada vez menos pelas considerações políticas, com notório deslocamento
de um discurso predominantemente político para um discurso de comércio amplamente
econômico. Evidência disso pode ser encontrada na crescente ênfase da importância
econômica da propriedade intelectual e na prioridade da proteção para os investidores e
produtores corporativos. No campo das telecomunicações, os padrões do serviço públi-
co universal e os subsídios mistos têm aberto caminho para as estruturas de tarifas fun-
damentadas nos custos. Na área dos fluxos de dados eletrônicos transfronteiriços, a polí-
tica de ação tem alternado de discussões políticas sobre soberania nacional e autonomia
cultural para noções como barreiras comerciais e acesso ao mercado. (Hamelink,
2008: 17).
A iniciativa de massificação das tecnologias básicas em África foi tomada desde o iní-
cio pelas organizações internacionais. As transferências de tecnologias dos países oci-
dentais para África sempre foram desajustadas com as necessidades e valores culturais
locais. Existem poucas organizações africanas que têm empenhado na implementação
39
das tecnologias apontadas para o desenvolvimento sustentável da África, Excecional-
mente a Highway África e IDRC. (Berger, 2007a).
i)Highway África
40
infraestruturas, política, conectividade, gestão de informação, redes de trabalhos.
(Adeya, 2001: 6-14).
PADIS foi criado nos anos 80 com fundos da United Nation Economic Commission for
Africa, UNECA, pela UNESCO, pelo IDRC e outros atores. O objetivo inicial do pro-
jeto era promover a gestão de informação em África, promover o acesso à documenta-
ção produzida e não publicada em África e prestar assistência aos membros dos Estados
da ECA a fortificarem as suas infraestruturas nacionais de informação.
Este projeto era da iniciativa da IDRC, em 1997, direcionada para os países da África
Subsaarianos com vista a apoiá-los na aplicação de computador e Internet para o desen-
volvimento económico e social, em particular para as comunidades rurais através de
criação de telecentros comunitários, como forma de descentralização das infraestruturas
de comunicação.
Este projeto foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento da
População, UNDP, para promover a conectividade e massificar o uso do computador
41
em África. O projeto-piloto incluía a conectividade de doze países africanos nos secto-
res governamental e acesso da Internet a custo-baixo.
Iniciou em 1992 tendo como objetivo facilitar o acesso à informação para a tomada de
decisão e apoiar o desenvolvimento sustentável.
Pelo cenário acima desenhado pela Adeya (2001), apesar dos problemas técnicos, cultu-
rais e económico no uso de computador e Internet em África percebe-se que tem havido
grandes avanços desde 1990, em particular, na informatização dos sectores públicos,
privados e nos diversos campos de negócio, de saúde, do transporte e de educação.
Levingston (2011) realça que em diversos pontos de África já começam a surgir centros
de inovação em tecnologias de informação, sobretudo o desenvolvimento de sistemas
informáticos de monitoria eleitoral como, por exemplo, as plataformas Ushahidi e
Uchaguzi desenvolvidas por técnicos quenianos. Estas ferramentas informáticas foram
criadas para responder o problema de fraudes eleitorais, que caracterizam a maioria das
eleições africanas.
Mas a apropriação das novas tecnologias no continente africano não é tão consensual
como parece. Algumas vozes afro-pessimistas considerem a Era de grande circulação de
informação e de conhecimento como uma nova forma de “imperialismo cultural”. Um
imperialismo simulado sob a forma de troca de informação, ou seja, informação sem
42
fronteira exportada de um lugar para outro, na qual a África sai em desvantagem com-
petitiva. Na verdade trata-se de vozes etnocêntricas que defendem a pureza das culturas
africanas face às contaminações externas.
As visões de Akpan (2000), Adeya (2001) e Ezema (2010) partilham o mesmo senti-
mento do incentivo do uso do computador e Internet como catalisadore do desenvolvi-
mento. Os autores acreditam que as infraestruturas tecnológicas colocarão a África na
autoestrada de Informação e são a base de lançamento da imagem do continente no ce-
nário internacional como ator ativo e produtor de conhecimento.
Apesar das desigualdades de acesso às tecnologias entre os países pobres e ricos, têm
surgido estímulo entre organizações sem fins lucrativas no sentido de massificação das
tecnologias digitais como forma de ultrapassar o défice e inclusão digital, não só a nível
governamental mas a nível privado e comunitário. Para estas iniciativas, de acordo com
Akpan (2000) foram aplicados 15 milhões de Dólares, em 1997, para conectar África a
rede mundial de comunicação.
A tecnologia pode ser um dos fatores de inclusão ou exclusão social, diferenciador entre
“ricos em informação” dos “pobres em informação”. Então existem os riscos do aumen-
to do chamado digital divide, termo em inglês que serve de nome para a separação entre
aqueles que têm acesso efetivo às facilidades da tecnologia da informação e aqueles que
têm pouco ou nenhum acesso a esses recursos.
Castells (2003) já manifestava uma preocupação em relação o continente que ainda está
na periferia do mundo desenvolvido e relegado à marginalização. Mas o problema são
43
as divergências de conceitos de desenvolvimento. Existem muitas análises e discussões
sobre este tema. Uns propõem investimentos económicos e outros insistem no investi-
mento de recursos humanos e ainda outros defendem a massificação dos recursos tecno-
lógicos sem ter em conta todo o processo associado à alfabetização digital, transferência
de conhecimentos e outras habilidades básicas.
44
A geografia técnica refere-se à infraestrutura de telecomunicações e da Internet estarem
mais concentrados nos EUA em relação ao resto do mundo. Nos últimos anos a depen-
dência dos outros países países em relação as tecnologias dos EUA tende a diminuir.
(Castells, 2000: 246).
Estudos têm revelado que nos EUA a ligação das escolas públicas cresceu de 35 por
cento em 1994 para 95 por cento em 1999. Esse aumento significa que a Internet está a
ser apropriada por todo sistema de educação escolar como uma ferramenta de aprendi-
zagem e ensino. A ilação é clara: a Internet e as tecnologias educativas em geral possu-
em uma eficiência que está dependente da eficiência dos professores que as utilizam.
(Castells, 2000: 299).
45
para trás em relação as que usam a Internet como ferramenta de ensino e aprendizagem.
De acordo com Castells (2000) essa disparidade marca diferença de conhecimento entre
crianças com recursos tecnológicos e as sem recursos, pois as primeiras têm mais capa-
cidade de processamento da informação graças a sua exposição a um ambiente cultu-
ralmente mais avançado. (Castells, 2000, 299).
A figura que se segue mostra o esforço que esta sendo feito em África quanto às infraes-
truturas de conectividade. Apesar das dificuldades financeiras e de técnicos qualifica-
dos, o mapa africano de conetividade está bastante avançado para os países situados nas
costas oceânicas, enquanto os países do interior apresentam-se desprovidos de conexão
terrestre.
46
Figura nº2: Cabos de conexão da Internet de Banda Larga em Africa
47
as tabelas de preços e abrir espaço para “novas oportunidades de crescimento da Inter-
net de alta velocidade e melhor telefonia móvel”. (Levingston, 2011: 33).
Nas duas Cimeiras Mundiais sobre a Sociedade de Informação, uma realizada em Ge-
nebra 2003 e a outra em Túnis de 2005, a questão do fosso digital foi definido como
sendo a falta de “dotação de recursos físicos e educacionais e da disponibilidade de in-
fraestrutura de acesso à tecnologia como linhas telefónicas e computadores”. Além dis-
so, ficou claro na Cimeira que as tecnologias poderão contribuir para o desenvolvimento
das nações em África bem como a revolução da informação poderá ser usada para trans-
formar as suas economias de modo a fazer face aos Desafios de Desenvolvimento do
Milénio. (Taylor et al, 2004: 9).
Kiyindou (2008: 74) afirma que para suprir o fosso digital, a cimeira de Genebra de
2003 elaborou um plano de ação com objetivo de alcançar o desenvolvimento internaci-
onal. O plano resume-se em quatro matérias básicas: uso dos produtos das telecomuni-
cações, redes, serviços e aplicações de TIC. O Plano de Ação estava orientado para aju-
dar os países em vias de desenvolvimento a se conectar ao mudo de circulação de in-
48
formação e de conhecimento. De acordo com o autor supra citado, a UIT recomendou
que o Plano de Acão desenhado e acordado por todos os países subscritores fosse trans-
formado em planos nacionais ou regionais.
No nível mais básico, o acesso universal significa garantir a todos os cidadãos o acesso
a serviços de telecomunicação e outras facilidades das TICs. Disparidades e desigualda-
des no acesso à Internet – agora comummente referidas como “exclusão digital” – são
consideráveis, particularmente nos países em desenvolvimento, onde a Internet é cara
demais para ser acessada pelos cidadãos comuns e pela maioria das instituições de ser-
viço público, estando geralmente disponível apenas em grandes centros urbanos. (Cyra-
nek, 2000).
49
países onde o acesso é feito via satélite, o custo é muito mais elevado, enquanto nos
países que usam a fibra ótica é barata. (Muwanga, s/d)
Em 2006, 4 por cento dos africanos tinham acesso à Internet contra 50 por cento dos
países desenvolvidos, sendo 70 por cento do tráfego da Internet passa por redes geridas
por países fora do continente africano. Mas já em 2011 houve um crescimento de 3 dígi-
tos percentuais. O investimento nos sectores de telecomunicações em África em 2006
atingiu 8 milhões de Dólares americanos, contra 3.5 milhões em 2003. A maior percen-
tagem desses investimentos foi para as infraestruturas de telemóveis. (Cocchi, 2008).
50
As baixas taxas de penetração da Internet e as altas tarifas derivam da falta de redes
internacionais de alta velocidade, facto que permite aos operadores cobrarem acima da
média de serviço. Cocchi (2008) sugere a massificação das tecnologias wireless para
que possam garantir o acesso da Internet de Banda Larga evitando a construção de in-
fraestruturas fixas.
Foi instalado cabo submarino de fibra ótica, SAT-3 ao longo da costa ocidental africana,
que fornece um serviço internacional de alta qualidade, sendo o seu acesso limitado aos
membros do consócio, que construíram a ligação em 2002. Desde meado de 2007, os
operadores podem comprar os serviços nas tarifas mais altas de 25. 000 Dólares por
megabyte por segundo em cada mês e que agora varia entre 2.000 a 10.000 dólares por
mês. (PEA, 2010).
Vilches (2003) acredita que a era digital vai trazer grandes mudanças nos meios de co-
municação, nos sistemas de circulação de conhecimento, mas alerta para o risco do
mundo mais conectado trazer interesses comerciais e o “abandono das responsabilidades
por parte dos indivíduos e dos agentes sociais”. O autor pede para uma maior vigilância
face às “repercussões sociais das telecomunicações, das redes de conhecimentos estrutu-
radas e das transformações dos meios de comunicação tradicional”. (Vilches, 2003: 44).
51
Ferreira (2008 a) no seu estudo sobre “ As motivações e Impacto da China em África”
analisa a boa vontade da China em apoiar os projetos africanos mais do que os países
ocidentais. Para ela a relação entre a China e os países africanos é de longa data. Graças
a cimeira Sino-africana, realizada em Pequim, 2006, o governo Chinês anunciou um
plano de apoio a África, que transformou a China no maior financiador de infraestrutu-
ras do continente.
Graças ao apoio chinês e do Banco Mundial, até Dezembro de 2007, cinco por cento da
população africana tinha uma ligação à Internet e a penetração da Banda Larga era infe-
rior a um por cento. Porém nos últimos anos têm ocorrido melhorias significativas na
adesão à economia global ligada à rede. Jensen (2009) afirma que um estudo africano
publicado recentemente encontrou a maior edificação de infraestruturas de telecomuni-
cações de longa distância.
Embora se fale de uma Sociedade de Informação, Touré (2007) e Jensen (2009) notaram
que muitos países africanos ainda não possuem infraestruturas adequadas de tecnologias
básicas que os catapultem para a Sociedade de Informação. Dois fatores estão na base
do atraso: o baixo nível de rendimento da população e a falta de infraestruturas de Tec-
nologia de Informação e Comunicação (TIC). Destes constrangimentos resulta que a
maioria das comunidades rurais africanas está votada ao esquecimento e à margem do
que acontece no mundo.
Adeya (2001) não partilha plenamente este sentimento de atraso total do continente afri-
cano em matéria de investimento tecnológico. Segundo a autora, a África está a registar
progressos consideráveis, mas de forma regionalizada. A autora concorda que apesar de
progresso ainda prevalecem alguns constrangimentos tais como: fracas infraestruturas;
ausência de política de TIC ou sua implementação; falta de investimento de recursos
humanos nas matérias de novas tecnologia; fraco conhecimento sobre as tecnologias de
52
desenvolvimento sustentável e graves problemas financeiros da maioria dos países afri-
canos. Adeya, 2001:5).
iii) Adequada facilidade de alocação do seu espectro radiofónico para o uso das te-
lecomunicações e operadores de internet a outras entidades nacionais ou regionais,
situação que resulta no congestionamento da banda;
Em suma, Jensen (2009) descreve o cenário das TIC em África de seguinte modo:
Ao mesmo tempo que o acesso TIC no continente é de um modo geral muito baixo, a
grande disparidade nos níveis de rendimento, na dimensão da população e nas políticas
relativas às infraestruturas das telecomunicações provocou níveis desiguais de distribui-
ção. Por exemplo, mais de 75 por cento das linhas fixas encontram-se em apenas 6 das
53 nações africanas. De igual modo, quatro dos 53 países em África representam quase
60 por cento dos utilizadores da Internet na região e apenas 22 dos 53 países têm banda
larga. Países com populações com acesso à Internet com mais de 1 milhão de pessoas
(por ordem de tamanho): Nigéria, Marrocos, Egipto, África do Sul, Sudão, Quénia, Ar-
gélia, Tunísia e Zimbabué. (Jensen, 2009).
Seja como for, Obijiofor (2008) realça a importância das tecnologias como ferramenta
de desenvolvimento socioeconómico em África. Descreve-as como resultado da revolu-
53
ção industrial e afirma ainda que elas constituem a base da troca de informação e do
crescimento económico e desenvolvimento de países.
Obijiofor (2008) volta a afirmar que para o acesso à Internet, o continente africano deve
realizar investimentos públicos e privados nas áreas de telecomunicações, políticas eco-
nómicas e de educação. Essa ideia de parceria pública/privada é inspirada nas regras
estabelecidas pelos países da Africa, Caraíba e Pacífico (ACP), para evitar que os go-
vernos corruptos se beneficiem diretamente da cooperação com a União Europeia.
54
essenciais para entrar na sociedade em rede e de troca de conhecimento. (Obijiofor,
2008).
55
2.6. Literacia digital e fortalecimento do cidadão
Como se pode notar, tanto Osborn (2006), Jersen (2009) como Castells (2007), todos
associam a problemática de acesso às tecnologias em África a três fatores: baixo rendi-
mento, falta de infraestruturas tecnológicas e alfabetização. Até certo ponto a formula-
ção mostra-se correta, mas nenhuma é consequência da outra. O baixo rendimento pode
não justificar o acesso às tecnologias, pois existem políticas dos governos em prover
infraestruturas de acesso às tecnologias sem que as comunidades sejam imputadas os
custos.
Não são as mesmas razões identificadas pela PEA (2011) sobre o baixo nível de acesso
às tecnologias em África. Este organismo que analisa as questões económicas e desen-
volvimento do continente africano aponta o problema para a crise económica global, a
falta de conectividade com o resto do mundo, regulamentação inadequada que impede a
expansão de modelos inovadores de negócios e a questão do financiamento. (PEA,
2011).
56
União Europeia adotaram a solução de incrementar os investimentos em Investigação &
Desenvolvimento (I&D), mas também da interação entre os costumes, práticas indíge-
nas, novas tecnologias e incentivo a uma educação de qualidade para acelerar a evolu-
ção do economia do conhecimento. (PEA: 2011).
A educação para os media ser compatível com a ideia de receção activa e de participa-
ção cívica inerente ao conceito da sociedade civil como sociedade de comunicação deve
incluir-se numa concepção de auto-educação pelo facto de implicar ousar a utilização de
inteligência e da própria capacidade de adquirir conhecimento. (Correia, 2005a:
134).
57
A razão de fundo para a educação e fortalecimento do cidadão relaciona-se com o mun-
do no qual vivemos, em que a quantidade de informação que circula através de tecnolo-
gia de comunicação deixa um grosso número da população menos alfabetizada e com
dificuldades de avaliar a “ relevância e confiabilidade da informação”. (Wilson et al,
2011).
De acordo com Hughes et al. (2006:7), a UNESCO lançou em Janeiro de 2001 em Sri
Lanka o “Programa de Centros Multimédia Comunitário” (CMC), cujo objetivo era ofe-
recer às comunidades pobres uma porta de acesso ao conhecimento através de combina-
ção de dois serviços, rádio e TIC. Esses CMC partem da filosofia de que a rádio comu-
nitária conectada a um pequeno telecentro aumenta grandemente o alcance e o impacto
da comunidade e as fontes digitais disponíveis. Hoje mais de vinte projetos-pilotos estão
em funcionamento em 15 países da África, Ásia e Caribe.
Ribeiro (2005), numa análise científica sobre as potencialidades das tecnologias digitais
para as pesquisas, o autor afirma que elas reforçam a compreensão das comunidades no
processo epistemológico. Esta análise introduz-nos a importância das línguas no ambi-
ente digital como forma de integração dos povos e das comunidades na sociedade de
conhecimento e de informação tal como defende a Declaração Universal da UNESCO.
58
As novas tecnologias facilitam a globalização, pela sua capacidade de ultrapassar barrei-
ras de tempo e de espaço (incluindo fronteiras naturais) à comunicação. As novas tecno-
logias são elas próprias muitas vezes globais na sua estrutura e na maneira como traba-
lham promovendo conformidade nos procedimentos e no uso da língua especialmente o
inglês. Originam-se também no «Primeiro Mundo» economicamente dominante, e são
desenvolvidas no interesse de firmas e indústrias globais cuja propriedade está centrada
nos mesmos países. (McQuail, 2003:137).
McQuail (2003) entende que a tendência global das novas tecnologias da comunicação
tentam aplicar o modelo de centro-periferia2 de comunicação de massas, isto poderá
criar certo grau de “dependência de países ou regiões mais pequenas e mais pobres face
aos escassos «produtores principais» de notícias e entretenimento”. (McQuail,
2003:137).
São evidentes os esforços de esbatimentos das barreiras criadas pelo fosso digital, por
exemplo a UNESCO defende a inclusão cultural e, em contrapartida, a UIT está a criar
infraestruturas tecnológicas para a inclusão das sociedades da “periferia”. O Plano de
Ação resultante da Conferência de Genebra de 2003, expressa melhor as intenções de
todos líderes mundiais em esbater as diferenças digitais, tais intenções defendem: a
promoção das tecnologias para conectar aldeias e criar pontos de acesso comunitários;
fomentar o desenvolvimento de conteúdos e implantar condições técnicas que facilitem
a presença e a utilização de todas as línguas na Internet; assegurar que o acesso ao com-
putador e à Internet esteja ao alcance de mais de metade dos habitantes do planeta. (Pla-
no de Ação de Genebra, 2003).
A UNESCO está preocupada com a dignidade humana na era digital, apesar de reco-
nhecer as potencialidades da Internet como meio de participação de massa no acesso à
informação, no conhecimento e no processo democrático, sobretudo a promoção de uma
maior interação humana, troca de informação e de experiência. Mas dois aspetos que a
UNESCO sublinha nisto tudo: a privacidade e a liberdade de expressão. (Cyranek,
2000).
2
O conceito centro-periferia surge da Declaração final da Conferência dos Países Não-Alinhados, de Nova Deli, segundo a qual a
circulação das informações globais é marcada por uma grave insuficiência e por um desequilíbrio . Os meios de comunicação
estão concentrados em meia-dúzia de países. Os outros estão reduzidos á condição de meros receptores passivos das informações
difundidas a partir de alguns centros . ( Mattelart, 2000, 310).
59
Além da preocupação pela questão da privacidade e liberdade de expressão, a UNESCO
advoga o fortalecimento do usuário dos países em Vias de Desenvolvimento, “ inseridas
em culturas e valores tradicionais”. Entende-se por fortalecimento do usuário, toda a
forma de alfabetização digital do cidadão, o domínio das tecnologias básicas, o desen-
volvimento de consciência crítica e a participação na rede mundial de informação e de
conhecimento. UNESCO incentiva os governos a assumir a responsabilidade de formar
pessoas com as competências para adquirir conhecimentos, tornando tanto produtores
como usuários de conteúdos.
Mas uma questão salta à vista nas preocupações da UNESCO, o “salto qualitativo” que
esta organização dá para a alfabetização digital sem ter passado antes por uma alfabeti-
zação massiva da população. Porque a literacia mediática depende inteiramente da alfa-
betização, ou seja, do saber ler e escrever.
Para concluir o debate, fica claro que os contextos nacionais sobre aplicação das políti-
cas gerais sobre as tecnologias definidas pela União Africana ou outros blocos regionais
do continente não podem ser tratados de forma genérica. Os contextos nacionais são
diferentes uns dos outros, por isso deve-se tratar esse assunto numa perspetiva de articu-
lação com outras componentes sociais e culturais, como o caso da multiplicidade lin-
guística.
Por isso, as posições dos sociolinguistas africanos na questão de inclusão das línguas
africanas no ciberespaço, que a seguir abordaremos, não só se fundamentam na reco-
mendação da UNESCO de Outubro de 2003 sobre a preservação da diversidade linguís-
tica e sua promoção no espaço digital, também são exigências sociais de participação na
sociedade de informação com as respetivas identidades culturais. Seja como for, o mul-
tilinguismo no ciberespaço é fator determinante de preparação para a sociedade de in-
formação e do conhecimento, onde os media desempenham o papel importante neste
aspeto.
60
2.7. Antropologia dos media: a problemática das línguas e os media em África
Berenblum (s/d) afirma que a língua é o símbolo de identidade que nos permite reco-
nhecer-nos como naturais de uma cidade, localidade ou de uma região ou de um país. O
autor ressalva-se que as línguas e as suas variantes estão em constante mutação.
No contexto africano, Kukanda (2000) salienta que existe uma grande diversidade lin-
guística, que o autor reagrupa-as em quatro grupos: Congo Kordofaniana, Nilo-
sahariana, afro-asiática e Khoisana. Dentro de cada uma das famílias existem centenas
de outras línguas regionais.
Silva (2010) justifica que a adoção das línguas europeias como línguas oficiais, porque
elas tem a maior potencialidade de se representar no mundo atual com os seus avanços
tecnológicos e científicos.
61
ais são escolhidas a partir das línguas autóctones e que se representam nos organismos
internacionais, exemplo disto é a língua Suahaili e o árabe.
Santana & Facco (2006) apresentam uma perspetiva culturalista. Eles sublinham que
África não merece o destaque exclusivo apenas pelos seus factos históricos, mas tam-
bém devem ser evidenciados os seus valores linguísticos. Esta afirmação dos autores
levanta duas questões de discussão interessantes, a cultura e a língua. Do ponto de vista
ocidental a África resume-se apenas nos aspetos folclóricos, mas no entender dos auto-
res também é necessário destacar o aspeto linguístico, que constitui uma das riquezas
africanas.
Em resumo, é neste ponto fulcral da cultura e língua que a tese convoca os novos media
moçambicanos para uma inculturação, ou seja, assimilação dos valores culturais e lin-
guísticos locais, de modo a reconstruir as identidades negadas no período colonial e
buscar o sentimento de pertença cultural.
62
É nesta perspetiva de Wilson & Peterson (2002) e Pash (2005) estabelecem uma relação
entre os media e as línguas africanas. Para os autores, as novas configurações no cibe-
respaço são formas de inclusão do cidadão nas comunidades virtuais impulsionadas
pelas tecnologias, bem como abrem as comunidades para a reprodução dos seus valores
culturais, divulgação e na busca das suas identidades através de partilha de conhecimen-
tos.
Face ao cenário de transição dos media analógicos para os digitais propõe-se uma nova
perspetiva de abordagem: valorização e inclusão das línguas nacionais nos novos media
como forma de comunicação de massa e circulação de conteúdos culturais produzidos
nas comunidades.
Mas para compreender melhor a controvérsia das línguas nacionais importa começar
com a pergunta de Ouane & Glanz (2010): Why and how Africa should invest in african
languages and Multilingual education? A pergunta é respondida por muitos autores
africanos, mas o mais importante é começar pela UNESCO.
Algunos han calculado que el 75% de las páginas de Internet están redactadas en inglés, mientras
otros estiman que la preponderancia de este idioma ha disminuido en un 50%.20 Hay que señalar
que estos estudios no tienen en cuenta los correos ni los foros eletrónicos, ni tampoco. El peligro
que supone Internet para la diversidade lingüística es uno de los fatores más importantes de la
brecha digital y constituye una grave amenaza para la diversidad de los contenidos. (UNES-
CO, 2005: 172).
63
Tabela nº2: Número de usuários de Internet por língua
Vilches (2003:44) já reconhecia que as mudanças aceleradas operadas pela Internet pro-
vocariam o desequilíbrio linguístico entre o inglês e as demais línguas existentes no
mundo. O problema de línguas no mundo é muito mais complexo que simples hegemo-
nia da língua inglesa, pois há contextos sociais em que um individuo fala uma e única
língua, que não é a língua inglesa.
A mesma tese é defendida por Ouane & Glanz (2010) em que levanta questionamentos
de grande relevo para a educação multilíngue. No entender do autor, a aprendizagem em
línguas maternas oferece a garantia de uma maior taxa de sucesso escolar. Este enten-
dimento do autor corrige os erros cometidos por algumas afirmações pessimistas de que
as línguas africanas não eram capazes de produzir e transmitir conhecimentos científi-
cos. Faz todo o sentido que as línguas africanas sejam introduzidas nos sistemas nacio-
64
nais de educação, porque em muitas comunidades africanas existe um baixo nível do
domínio das línguas das antigas potências colonizadoras.
A reflexão de Abolou (2010) suscita alguns debates mais precisos. Ela pode ser extem-
porânea tendo em conta que as novas tecnologias trazem uma nova dinâmica no cenário
sociolinguístico africano, dai então torna necessário estudar o fenómeno linguística afri-
cana no novo ambiente digital, de modo a perceber as dificuldades e necessidades das
audiências menos alfabetizadas.
Por un lado la hegemonía del inglés en el ámbito de los conocimientos científicos y téc-
nicos tiende a marginar la mayoría de los conocimientos expresados en otras lenguas.
Por outro lado, los criterios de visibilidad económica que rigen la sociedad mundial de
la información propenden también a excluir los conocimientos invisibles, ya que las
economías basadas en el conocimiento descansan sobre todo en el tratamiento de cono-
cimientos codificados transformados en información. A este respecto, no hay que mini-
mizar el riesgo de que al amparo del desarrollo de las sociedades del conocimiento va-
yan surgiendo formas espontáneas y difusas de “apartheid tecnológico. (Unesco,
2005:164)
65
Omojola (2009) critica as tecnologias assente na exclusão dos conteúdos e das línguas
minoritárias. Com base nos dados estatísticos sobre o universo populacional que fala
determinadas línguas no mundo, o autor supracitado chegou a observar que algumas
línguas europeias são minoritária, em relação às outras línguas do mundo e elas impõe-
se no ciberespaço. Contrariamente existem grupos linguísticos africanos como Hausa
falada por 70 milhões de pessoas, Swahili por 100 milhões, Yoruba por 40 milhões e em
contrapartida, não têm nenhuma presença no ciberespaço no mesmo nível de paridade
como as línguas Inglesa, francesa ou italiana. (Omojola, 2009: 36).
Adeye (2001) transcende a discussão linguística para o campo das tecnologias, no qual
reconhece o impacto e a complexidade do assunto das tecnologias e as culturas africa-
nas. A autora afirma que este assunto tem sido aflorado por muitos pesquisadores afri-
canos. Para Blake (1992), por exemplo, o impacto das tecnologias sobre a cultura afri-
cana vai ser positivo e construtivo, assim escreve o autor:
The perspective I have on the impact of the new communication and information technologies on
culture, particularly the case of Africa, is positive and constructive. I do not fear the advances in
the technologies mentioned above, but rather welcome them in order to put them in the service of
African efforts to develop the continent. The impact on culture is seen as good, leading to serious
research by Africans at home and abroad, on the mastering and application of the new communi-
cation and information technologies. (Blake, 1992: 3)
Esta abordagem introduz a velha questão de valorização das culturas africanas, que é
considerada fundamental pelos teóricos africanos para a transição das sociedades africa-
nas para a modernidade. Salienta-se aqui que os valores culturais, particularmente as
línguas nacionais, permitem integrar o cidadão nos assuntos de interesse público e no
relacionamento com os media.
Esta questão tem levantado atitudes diferentes face aos elementos transformadores das
suas culturas. Adeye (2001) e Bamgbose (2011) manifestam um comportamento otimis-
ta em relação ao cruzamento das culturas africanas e as tecnologias. Para os autores, o
continente africano deve assumir uma atitude diferente e de assimilação destas tecnolo-
gias que não destroem os valores culturais, mas que tenham um impacto positivo sobre
elas.
66
As teses de Adeye (2001) e Bamgbose (2011) contrariam à posição de Vilches (2003),
segundo a qual a migração para a sociedade de grande circulação de informação implica
a perda do território de origem devido “a emergência de novas mediações na cultura, na
educação, nos serviços e no consumo”, mas concordam com o autor quando afirma que
a “ Internet acelerou ainda mais a tendência ao desequilíbrio linguístico entre o inglês e
todas as demais línguas”. (Vilches, 2003: 44).
Não é só a questão de instalação das infraestruturas básicas que pode levar o continente
africano para a autoestrada da comunicação global. Osborn (2006) enfatiza na questão
das línguas e tecnologias e defende uma segunda alfabetização e o domínio da língua
usada nas tecnologias.
Osborn (2006) reconhece o papel das línguas africanas como o meio de geração de co-
nhecimento, mas elas apresentam a desvantagem pelo facto de não apresentarem uma
estrutura ortográfica e gramatical. Diz o autor que elas estão mais no nível de oralidade
do que na escrita. Para contornar a questão linguística como barreira de entrada na soci-
edade de conhecimento, o autor propõe uma nova forma de literacia digital baseado no
modelo designado de “multiliteracia”, que consiste no uso de áudio, imagem e texto
falado. (Osborn, 2006: 91-92).
Cyrenek (2000) tem sido um dos defensores do multilinguismo na Internet, no qual pro-
põe o princípio integracionista da diversidade linguística na auto-estrada de informação
e reivindica a participação e preservação das línguas em via de extinção, assim escreve:
67
Na perspetiva de defender a inclusão das línguas africanas no ciberespaço, sem confli-
tuar-se com outras línguas existentes no mundo, Omojola (2009) sugere uma solução
baseada no “afrocomplementarismo”.Uma solução que advoga a combinação entre as
tecnologias e os conteúdos produzidos no contexto africano onde os teclados e os siste-
mas operativos sejam desenhados para contextos africanos . Segundo o autor, para que
tal aconteça, o processo começa com iniciativa local em desenvolver uma linguagem
indígena. (Omojola, 2009: 37-43).
A mesma visão é partilhada por Diki-Kidiri (2007). O autor propõe o seguinte: levan-
tamento dos recursos linguísticos existentes, orais e escritos, e desenvolvimento da es-
crita estruturada, elaboração de conteúdos culturais e preparação para o acesso ao cibe-
respaço e desenvolvimento de comunidade de usuários.
Tanto Omojola (2009) como Diki-Kidiri (2007), a integração das línguas africanas no
ciberespaço parece-lhes um processo linear e automático. Na verdade é tanto quanto
complexo como parece, salvo que o “afrocomplementarismo” seja uma negociação com
as empresas fabricadoras de software no sentido de incorporar as línguas no sistema.
68
Seja como for, a informatização das línguas é fundamentalíssima para a sobrevivência
das línguas na sociedade de informação, tal como defende a UNESCO (2005):
Cyrenek (2000) aconselha que o processo de produção de conteúdos seja feito pelos
próprios africanos. Os conteúdos devem ser elaborados, partilhados e conhecidos pelos
usuários nacionais e internacionais. Neste contexto escreveu o seguinte:
69
Apesar da crescente diversidade da população de usuários, no domínio do computador e
de pesqusa na Internet, uma grande quantidade de obstáculos com graus variáveis conti-
nua a esbarrar o alcance do multilinguismo na Internet. Existem poucos projetos tecno-
lógicos pensados para o continente africano, com a exceção do projeto Kamusi, desen-
volvido pela Universidade de Yale com uma rede de voluntários do mundo inteiro. Este
visa a construção de novos dicionários Swahili e sua disponibilização na Internet, uma
vez que o Swahili é a língua africana amplamente falada. Dicionários Inglês-Swahili e
Russo-Swahili já estão disponíveis, juntamente com um protótipo léxico Inglês-Swahili
online, que será editado completamente online por seus colaboradores. (Cyranek, 2000).
Todas as discussões em torno do uso das línguas locais tanto para os governos como
para os meios de comunicação social apontam para a inculturação dos media e a valori-
zação da línguas locais. Parte-se do princípio que depois das independências, a questão
das línguas é crucial para a manutenção da unidade nacional, para a comunicação políti-
ca e dos meios de comunicação social.
Existem alguns exemplos de sucessos do uso das línguas locais para o desenvolvimento
sustentável em alguns países da região subsariana de África. Blankson (2005) dá alguns
exemplos de indigenização da radiodifusão na Zâmbia, em 1960. Segundo o autor, o
primeiro governo da Zâmbia, depois da independência, introduziu as línguas nativas nas
rádios num país onde há por volta de 20 línguas nacionais diferentes e faladas por 73
grupos étnicos. (Blankson, 2005: 6).
70
Rachidi (2005) e Okolo (2005) na questão das línguas indígenas apresentam uma visão
integradora no processo de desenvolvimento da África. Segundo os autores, as línguas
nativas em África devem jogar um papel importante na transmissão de mensagens e na
mobilização para o desenvolvimento sustentável.
E por fim o desafio de línguas únicas nos blocos regionais africanos. A partida não se
pode falar de uma unida como uma nação. Existem muitas áfricas e suas diversidades
linguísticas e culturais, onde as unidades linguísticas não são integráveis por razões his-
tóricas.
71
A primeira tentativa de integração de integração das línguas africanas partiu da Declara-
ção de Harare, de Março de 1997, que tenta definir os conceitos de língua materna, lín-
guas inter-africanas e línguas internacionais. (Rachidi, 2005).
A Declaração de Harare define a língua indígena como sendo aquelas línguas comunitá-
rias, locais, vernáculas ou de base, ou seja, as línguas que se circunscrevem a comuni-
dade em que as utilizam. Por línguas inter-africanas define-as como sendo aquelas que
são utilizadas nas fronteiras nacionais em África (exemplo Kiswahili, Haussa, etc.),
finalmente define as línguas internacionais, aquelas línguas utilizadas para a comunica-
ção entre pessoas de diferentes países em África e fora dela. (Rachidi, 2005:20).
Rachidi (2005) reforça a ideia de que a centralização das línguas europeias como lín-
guas de comunicação científica impede a transmissão das grandes ideias que existem
nas outras línguas, desfavorece a disseminação do saber e da criatividade científica afri-
cana. O autor recomenda o desenvolvimento de uma política linguística alternativa sus-
cetível de favorecer a disseminação do saber africano.
A reflexão de Rachidi (2005) levanta questões mais sérias sobre a problemática das lín-
guas africanas, precisamente, uso das línguas africanas na ciência, alfabetização em
línguas africanas e a políticas de línguas nativas. Estes problemas só têm uma possível
solução se existir a sistematização e padronização das gramáticas das línguas africanas.
72
culturas milenares do continente. Ele observou que o cenário pluralísticos dos media
africanos privilegia as línguas dos colonizadores europeus. (Blankson, 2005:2)
73
o fortalecimento do cidadão, iv) a situação dos media africanos face às novas tecnolo-
gias e, por último, v) o papel do telemóvel no reforça da imprensa.
74
superados com as democratizações dos sistemas políticos africanos. Sissouma (2001) e
Mabweazera (2011) reconhecem o papel das tecnologias de comunicação nos media
como fatores impulsionadores do jornalismo digital, porque algumas políticas públicas
são favoráveis para o desenvolvimento do jornalismo digital. Nos autores supracitados
há um excesso de otimismo. Existem outras condições complementares para o impulso
do jornalismo digital inculturado: políticas públicas sobre as tecnologias e alfabetização
digital do cidadão.
As questões das línguas nacionais são colocadas na agenda de debate pela UNESCO
(2005), seguido de reflexões de Blankson (2005), Diki-kidiri (2007), Omojola (2008)
Abolou (2010) e outros. Nestas reflexões, a visão partilhada entre eles é de criação do
“Afrocomplementarismo”, ou seja, a combinação das tecnologias e as línguas nacionais.
Neste aspeto, o debate levantado pretende revestir os media africanos de identidade
própria baseada nos valores culturais.
75
Entende-se até aqui que quanto mais for o envolvimento das comunidades no mundo de
grande circulação de informação através do domínio de recursos tecnológicos em lín-
guas nacionais, mais amplia a sua colaboração como fonte de produção de conteúdo.
Não restam dúvidas que o continente africano está a incorporar lentamente as tecnolo-
gias como fator de desenvolvimento como retrata Adeye (2001), Berger (2009) e Le-
vingsto (2011), mas a barreira de apropriação das novas tecnologias de comunicação e
informação reside no baixo nível de alfabetização da sua população.
76
CAPÍTULO III: JORNALISMO MOÇAMBICANO: DO PAPEL AO DIGITAL
Tendo como centro de estudo “As mudança para o jornalismo digital na imprensa públi-
ca e privada moçambicana”, o presente capítulo visa responder a seguinte pergunta de
partida: Qual é o percurso histórico do jornalismo moçambicano até à digitalização?
77
As discussões sobre o percurso histórico do jornalismo moçambicano até a atualidade
são marcadas por vicissitudes históricas que remontam o período colonial. Atualmente,
governo moçambicano reconhece o papel das novas tecnologias no desenvolvimento
social, cultural, económico e inclusive dos media. Então a questão que se coloca é: qual
é a história dos media moçambicanos?
Para responder a questão acima colocada não é tão fácil quanto parece, por exigir uma
análise da história geral do país, das políticas públicas sobre as tecnologias, do cenário
mediático nacional e desembocar na migração dos media para o digital. Nisto, é funda-
mental contextualizar Moçambique quanto à sua geografia, história e as políticas públi-
cas sobre as tecnologias.
Terminada a guerra civil, com assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma no dia 4 de
Outubro de 1992 que pôs fim ao conflito militar interno, que opunha o governo e a Re-
sistência Nacional de Moçambique (RENAMO).
A seguir ao Acordo Geral de Paz, o país adotou uma constituição democrática e multi-
partidária, com separação de poderes, direito de formar partidos políticos, consagração
da liberdade de expressão e de imprensa, bem como um sistema judiciário “independen-
te”, entre outros.
Coincidindo com o ano das primeiras eleições democráticas na vizinha África do Sul,
Moçambique realizou também as suas primeiras eleições multipartidárias em 1994,
abrindo assim uma nova era de pluralismo político. Até 2006, havia 40 partidos políti-
cos registados, sendo a RENAMO o maior partido da oposição. ( Mário, 2010).
De acordo com o Censo de 2007, atualmente, 50.4 por cento de adultos em Moçambi-
que são analfabetos (Ver anexo nº4). Para mudar rapidamente este quadro, a política do
governo no sector da educação procurou incrementar a educação primária obrigatória.
78
3.1. Resenha histórica da imprensa moçambicana
No dia 7 de Dezembro de 1836 o decreto emanado pela Rainha Dona Maria II (1834-
1856) determinava que as colónias portuguesas possuíssem meios de impressão de ga-
zetas oficiais, junto a cada governador da província3. Em Lisboa, capital das províncias
ultramarinas já tinha a Imprensa Nacional, que se encarregava em publicar o Diário do
Governo. Na Índia, na qualidade de colónia mais antiga, já tinha a sua tipografia muito
antes do Decreto da Dona Maria II. Ela foi introduzida pelo patriarca da Etiópia Dom
João Nunes Barreto, em 1556, durante o reinado de Dom João II (1522-1558). (Rocha,
2000: 29-30).
As informações acima apresentadas são confirmadas por Capela (2010). O autor acres-
centa que a liberdade de imprensa levou a Moçambique alguns tipógrafos que viriam a
desempenhar ações de agitadores sociais, que eram constituídos na sua maioria por mili-
tares, que em vez de obedecerem às ordens de Lisboa de expansão da colónia levaram
as suas missões paralelas de interferência direta na esfera política governativa.
A partir de 1834, três anos antes da criação da imprensa em Moçambique, Portugal vi-
via o período de instabilidade política e militar. A nível da imprensa surgiram em Mo-
çambique vários jornais, alguns dos quais clandestinos e outros legais. (Sousa et al,
2010).
Moçambique foi uma das últimas colónias a receber a tipografia em 1854, quase trezen-
tos anos depois da Índia. Na altura, o governador-geral de Moçambique era o Major
Vasco Guedes de Carvalho e Meneses (1854-1857). Depois da instalação do equipa-
mento tipográfico resultou o primeiro jornal impresso intitulado Boletim do Governo de
Moçambique, no dia 13 de Maio de 1854. No mesmo ano a imprensa publicou o primei-
ro livro em Moçambique denominado Regulamento Geral das Alfândegas das Provín-
cias de Moçambique. Mais tarde com a transferência da capital moçambicana da Ilha de
3
Cada colónia portuguesa era considerada província ultramarina de Portugal e tinha um governador nomeado pelas autoridades
metropolitanas.
79
Moçambique para Lourenço Marque, em 1898, também o jornal transferiu-se quando
tinha atingido o número 50. (Rocha, 2000:29-30, Hohlfeldt, 2009:140).
De acordo com Rocha (2000), a primeira tipografia privada data em 1876 pertencia ao
Francisco Paula de Carvalho e João Sinfónio de Carvalho, instalado na então capital de
Moçambique, ilha de Moçambique, para imprimir o Semanário Africa Oriental.
Como se pode notar, a partir dos escritos de Rocha (2000), a Folha Oficial de Moçam-
bique não era precisamente um jornal como tal, mas tratava-se de um boletim informa-
tivo no qual eram publicados os decretos. Por essa razão se explica o seu ciclo de vida
bastante longo, que vai desde 1855 até a altura da independência de Moçambique, em
1975.
Rocha (2000) relata ainda que o teor do Boletim do Governo de Moçambique, já deter-
minado pelo decreto de D. Maria II, de 7 de Dezembro de 1836, previa que o documen-
to versasse sobre informação oficial e extratos de decretos regulamentares, mas também
assuntos noticiosos sobre os preços correntes, notícias marítimas, informações estatísti-
cas, enfim, tudo o que fosse necessário para informação pública. Esta abertura quanto ao
80
valor notícia no Boletim Oficial alargou-se precisamente no dia 26 de Janeiro de 1855,
por consulta do Conselho Ultramarino e tendo sido aprovado no dia 15 de Fevereiro de
1855.
Apesar do Boletim oficial de Moçambique incluir matérias noticiosas nas suas páginas,
Rocha (2000) afirma que o órgão nunca atingiu o patamar de órgão de informação por
excelência, muito menos os assuntos tratados eram do interesse do público, mesmo as-
sim, durante muitos anos, foi “o jornal pontual e organizado, bem impresso e limpo de
gralhas…” Rezam os relatos que foi a partir deste boletim Oficial que nasceram os pri-
meiros “jornalistas moçambicanos”. (Rocha, 2000: 36).
Além do Boletim Oficial do Governo e do jornal O Progresso (este último teve uma
existência muito curta e com teor incisivo e crítico aos magistrados). Existiram mais
onze jornais noticiosos, uma revista literária e um boletim científico. No dia 5 de Se-
tembro de 1872 apareceu o bissemanário intitulado Noticiário de Moçambique, que saia
às quintas e domingos. Infelizmente o Noticiário de Moçambique, deixou de se publicar
em 1873 e o último número tinha a data de 27 de Março, (Rocha, 2000: 43).
De acordo com Rocha (2000) alguns destes jornais tiveram pouca duração, mas no meio
de tudo isto existe a falta de dados históricos, precisos, sobre a história de imprensa em
Moçambique, porque alguns deles sofreram severas repreensões e censuras políticas que
acabaram por desaparecer por completo. (Rocha, 2000: 45).
81
Aranha (1885) resume de seguinte modo os jornais em circulação no Moçambique de
acordo com a sua linha editorial e data de fundação:
Tal como se pode ver nesta relação de jornais no Quadro nº1, todos eles eram publica-
dos no período da monarquia portuguesa. Todos apresentavam em comum alguns traços
críticos que imediatamente eram censurados e banidos da circulação. Este comporta-
mento dos jornais do período da monarquia continuou mesmo depois da proclamação da
república e no período salazarista.
Tal como afirma Rocha (2000), ainda falta o levantamento exaustivo de todos os jornais
que estavam em circulação em Moçambique e além demais, os dados cronológicos de
fundação dos jornais são contraditórios entre si como se pode ver em Rocha (2000) e
Aranha (1885).
82
A verdadeira imprensa operária dedicada exclusivamente a defesa dos interesses dos
trabalhadores, sobretudo, os estatais, dos Portos e Caminhos-de-ferro, da Imprensa Na-
cional, água, estivadores e outros eram os seguintes: Os Simples (1914-1913); o Eman-
cipador (1919-1937) e o Germinal (1914-1918). (Rocha, 2000).
De acordo com os estudos de Hohlfeldt (2008), o Emancipador passou por vários mo-
mentos de turbulência associada a sua luta operária. Foi duramente perseguido pela jus-
tiça local. Era um semanário que ao longo da sua vida sustentava entre 8 a 10 páginas.
A única diferença que tinha em relação aos outros jornais era o facto de este não conter
nenhuma publicidade de empresa nas suas páginas, devido às suas posições políticas e
sociais por eles defendidos. (Hohlfeldt, 2008: 18-19).
Ao longo da sua existência, o Emancipador teve 873 edições, mas na sua edição 168, no
1º de Maio de 1923, passou a intitular-se Semanário Operário, por consenso dos 40
acionistas do jornal, constituídos por trabalhadores.
83
Figura nº 3: Primeiro jornal de cariz operário
84
3.1.3. Jornais africanistas
A leitura de Capela (2010) sobre a imprensa colonial vai no sentido crítico de que toda a
imprensa da época, exceto africanista, era euocentrista, colonialista e racista. Os jornais
africanistas advogavam o ensino do povo indígena. Graças ao despertar deste jornal, e
com o Acordo Missionário de 1940, foi instituído ensino para o indígena, o chamado
ensino “rudimentar” ministrado pelos missionários
Em 1909 apareceu um jornal com o título O Africano, dirigido e escrito por mestiço, os
irmãos João e José Albasini e cujo teor era dirigido à população não europeia alfabeti-
zada. Curioso nisto é que tinha uma secção dirigida em língua local, Ronga. Era a pri-
meira vez que um jornal usava a língua local. Todo o teor do jornal incentivava a esco-
larização dos africanos, portanto “não se apresentava como jornal político ou reivindica-
tivo, mas uma arma para a consolidação e desenvolvimento de conhecimentos adquiri-
dos na escola…” (Rocha, 2000:91).
De acordo com Dias (1995) a legislação colonial portuguesa dividia os africanos das
suas colonias em três categorias: mestiços, assimilados e indígenas. A partir de 1929, os
mestiços podiam alcançar o estatuto de funcionários públicos e da administração. Até ao
fim da colonização portuguesa, os mestiços representavam 0.2 por cento da população
moçambicana. Estes detalhes explicam porque é que o irmão Albasini podia fundar uma
imprensa própria e aceite pela administração colonial.
A figura que se segue ilustra o jornal africanista, fundado por irmãos Albasini, cujo con-
teúdo advogava a instrução das populações indígena.
85
Figura nº 4: Jornal O Africano
Fonte:http://oficinadesociologia.blogspot.com/2011/09/para-historia-da-imprensa-
escrita-em_24.html, consultado no dia 20/03/2012
86
O jornal O Africano possuía uma tipografia própria e era financiado por um grupo de
maçonaria, dirigida pelo capítulo 1º de Janeiro, de Lourenço Marques, Francisco Roque,
e um missionário católico que ensinava aos mineiros moçambicanos na África do Sul a
ler e escrever e que mais tarde se tornou proprietário dO Africano, comprado dos irmãos
Albasini. Em 1920 o jornal deixou de sair às ruas.
Algo nos salta à vista sobre a história do jornal O Africano. Afinal o jornal era dirigido
pelos moçambicanos, mas o financiamento era feito pela “mão invisível” de grupos ma-
çónicos residentes em Moçambique.
De acordo com Rocha (2000) este jornal, apesar de ter o cariz africanista tinha uma for-
te tendência europeísta, ou seja, defendia o ponto de vista colonial. O jornal passou por
uma peripécia de julgamento no tribunal e que foi suspenso por dois meses. Mais tarde
ressurgiu com outro nome Clamor Africano e seguiu a mesma linha editorial do ante-
rior. Foram doze números publicados entre 12 de Dezembro de 1932 a 25 de Fevereiro
de1933, mas incrivelmente que pareça o jornal sobreviveu até 1974, fim do regime sala-
zarista e vésperas da independência de Moçambique. (Rocha, 2000).
3.1.4.Imprensa católica
Anteriormente existiram pequenas publicações católicas, sem grande relevo. Mas a ver-
dadeira imprensa católica surgiu na cidade da Beira por iniciativa do Bispo daquela dio-
cese, Dom Sebastião Soares de Resende. O jornal intitulava-se Diário de Moçambique,
que teve a sua primeira publicação no dia 24 de Dezembro de 1951 e que manteve-se
ativo até 15 de Março de 1971, altura em que deixou de pertencer a Diocese da Beira. O
Diário de Moçambique tinha uma delegação em Lourenço Marques, atual Maputo, e em
Lisboa. (Rocha, 2000: 170 e Capela, 2010).
87
dos primeiros jornais bilingue (português/Inglês) que circulava em Moçambique. No dia
20 de Março, o jornal trocou de nome para o Guardian, simplesmente, cuja edição era
dominical. Em Janeiro de 1955, o jornal aparece com outro título de Diário de Louren-
ço Marque Guardia e foi sofrendo sucessivamente alterações de nome para Diário de
Lourenço Marques e finalmente para Diário. Devido às contradições na linha editorial,
o jornal veio a fechar no dia 7 de Setembro de 1974.
Hohlfeldt (2010) relata que o jornal Notícias nunca foi jornal de oposição e nunca afron-
tou diretamente o Estado colonial. A evidência deste fato foi em 1950 quando o jornal
distanciou-se da Igreja católica e assumiu uma posição defensora de laicização do ensi-
no secundário na colónia. O jornal Notícias continuou a circular após a independência
de Moçambique com uma outra equipa de gestão e de linha editorial.
Logo que o regime colonial teve o seu fim com o golpe de Estado em Portugal, que pôs
fim ao regime salazarista no dia 25 de Abril de 1974, imediatamente foi abolida a cen-
sura prévia na metrópole e nas colónias. Em Moçambique abriu-se uma nova era da
comunicação social, que no princípio ficou marcada pela luta entre os editores que ser-
viam o regime colonial fascista e os que reivindicavam uma imprensa livre, democrática
e independente. (Namburete, 2003: 26).
88
Diário de Notícias, Revista Tempo e a Rádio Clube de Moçambique, foram os órgãos de
comunicação social moçambicana que logo depois da independência foram dirigidos
por indivíduos com pensamentos democráticos. As suas linhas editoriais defendiam
abertamente a independência de Moçambique, mas depois da assinatura de acordo de
Lusaka4 que permitiu a transferência do poder político para os moçambicanos, iniciou
no mesmo ano novo momento da história política moçambicana, inclusive da comuni-
cação social. (Namburete, 2003: 26).
Os meios de comunicação social dentro deste contexto não eram vistos pelo poder como
plataformas de promoção do discurso democrático, mas sim como instrumentos de difu-
são da ideologia do partido. De acordo com Chichava & Palmann (2010:127), “a im-
prensa era vista pelos líderes da FRELIMO como um importante instrumento para
transmitir as ideias e ideais do novo regime, desencorajar ou controlar sectores hostis ou
considerados como tal e consolidar a unidade nacional”
4
Lusaka, capital da república da Zâmbia, lugar onde decorreu no dia 7 de Setembro de 1974 a assinatura do acordo entre o gover-
no português e o Partido FRELIMO que permitisse a transferência do poder para os moçambicanos
89
cana de todo o período pós-independência. Segundo Magaia (1994), este foi um seminá-
rio “histórico, pelos novos conceitos que levantou (...), pelo messianismo que estava
implícito nos seus programas de ação”, orientados para uma imprensa que se assumia
como instrumento ao serviço dos novos poderes, concentrados na ideologia política do
partido único. (Magaia, 1994:44)
O sistema político instalado intrometia-se nas linhas editoriais dos órgãos de comunica-
ção social. O controlo não era feito de forma direta sobre os conteúdos, mas havia uma
situação em que todos os órgãos de comunicação eram considerados instrumentos ao
serviço do partido e dai que deviam servir os interesses do partido no poder, dentro do
contexto de uma única ideologia marxista-leninista.
90
3.3.Nova Constituição da República de 1990
Poucos anos antes de 1990, o partido FRELIMO no poder iniciou com um conjunto de
mudanças políticas, económica e sociais, como por exemplo, a abolição do Ministério
da Informação, abertura do País à economia do mercado, em 1989. Deste modo o go-
verno estava a renunciar formalmente o regime marxista e aos poucos alinhava-se por
uma nova Constituição da República do regime democrático. (Namburete, 2003: 31).
Muitos jornais independentes ou privados surgiram por todo o país, criados sob peque-
nas empresas e geridos diretamente pelos editores. Apesar de uma circulação limitada e
enfrentando sérios problemas de distribuição e de sustentabilidade económica, estas
publicações têm estimulado o debate democrático nacional em torno de temas de demo-
cracia, governação, e denúncia de atos de corrupção na administração pública, partici-
pação do cidadão nos processos de decisão, etc.
Mário (2010) afirma que depois de abertura ao pluralismo mediático entrou na agenda
de discussão da classe jornalística a questão da independência dos meios de comunica-
ção públicos e privados, em relação aos interesses do partido no poder e do Estado. Pois
percebia-se que os jornalistas estavam preocupados em educar o cidadão sobre o papel
do poder e o seu funcionamento, na verdade o Estado mantinha as suas marcas do regi-
91
me comunista caracterizadas pelo controlo de alguns órgãos de comunicação precisa-
mente a Rádio Moçambique, Televisão de Moçambique e o Jornal Notícias.
O documento mais importante que arranca com uma discussão mais elaborada sobre a
política pública sobre as tecnologias foi a “Estratégia do Governo sobre as Ciências e
Tecnologia de 2009”. Esperava-se que a estratégia do governo arrancasse imediatamen-
te com o investimento nas infraestruturas tecnológicas e na capacitação do pessoal.
Além deste documento, um outro referente à Política de Ciência e Tecnologia em Mo-
çambique (2003) levado a cabo pelo governo, no qual analisou a situação do país em
relação à investigação científica, à ciência e tecnologia no sistema nacional de educa-
ção, à inovação e evolução tecnológica no sector produtivo moçambicano.
92
O resultado da Política de Ciência e Tecnologia em Moçambique diagnosticou que a
área dos media apresenta pontos fracos de investimento em tecnologias:
A Política de Ciência e Tecnologia não contemplava o sector dos media. O seu desen-
volvimento dependia da concorrência do mesmo e do investimento privado. Mas a rea-
lidade revelava o contrário, pois grade parte dos novos atores dos media nacionais eram
antigos funcionários dos órgãos públicos que se agruparam em cooperativas ou em pe-
quenas redações sem grandes investimentos nas infraestruturas ou nos recursos huma-
nos. (Mário, 2009).
93
Embora existam poucas estruturas tecnológicas, porém ainda falta uma estratégia nacio-
nal coesa de TIC que envolva as operadoras de telecomunicações, provedores de Inter-
net e uma política nacional que promova a transição dos media para a Era digital e que
tenha em consideração às necessidades de acesso à informação das comunidades margi-
nalizadas.
A inclusão dos media no sistema digital não cabe apenas ao Estado, também inclui as
organizações da sociedade civil que ajudam no fortalecimento institucional dos media
por meio de capacitação profissional e da consciencialização da população. O mais im-
portante é criar a política nacional sobre as tecnologias, regular o mercado das TIC e
desenvolver infraestruturas apropriada às condições locais, com vistas a reduzir os cus-
tos de rede e melhoria da largura da banda principalmente para as comunidades rurais.
É um facto que, a esse respeito, poucas iniciativas têm sido levadas a cabo para a for-
mação de jornalistas no domínio de computadores e de pesquisa na Internet, de modo a
acompanhar o desenvolvimento das tecnologias e a sua massificação nas redações com
vista a melhorar a qualidade de informação. Apenas o Ministério de Ciências e Tecno-
94
logia, (MCT) implementou em 2008, um curso de capacitação em matérias de Jornalis-
mo online e são escassas outras iniciativas de capacitação de jornalistas.
Contudo, o custo e a falta de formação de pessoal nessas matérias são fatores que impe-
dem a entrada dos jornalistas moçambicanos na autoestrada de informação. O grande
desafio estratégico do governo é baixar os custos dos operadores dos serviços de Inter-
net, fibra ótica e outras formas de comunicação eletrónica, de modo a assegurar que, a
sociedade, incluindo as empresas jornalísticas, migrem para a Sociedade de Informação.
95
Segundo as estatísticas do Ministério de Educação de Moçambicano, de 2005, 2006, e
2007, houve aumento de oportunidades de formação oferecidas pelas instituições de
ensino, na área de jornalismo, embora ainda não existam estudos sobre o impacto que os
novos graduados têm produzido nas empresas de comunicação social.
96
çambique, são unânimes em reconhecer que Moçambique está a registar grandes avan-
ços no alcance do cumprimento das metas estabelecidas pela ITU, dos Objetivos do
Desenvolvimento do Milénio5, bem como as metas estabelecidas pelas declarações da
UNESCO sobre a Sociedade de Informação, que preconizam a redução do fosso digital.
Com as aceleradas mudanças tecnológicas que têm acontecido nos últimos anos na área
telecomunicações, base sobre a qual se sustentam as comunicações digitais, o jornalis-
mo também sofrerá profundas modificações no processo de produção e transmissão de
informação. Portanto, é necessário colocar desde já as bases de reflexão académica para
o futuro dos media moçambicano, de modo a torná-los enquadrados e competitivos na
nova dinâmica mundial de comunicação. Vilches (2002) afirma que o jornalismo digital
vai ser uma nova faceta do jornalismo do futuro. Assim ele escreve:
Entendendo o discurso de Vilches (2002), a vigilância por ele referida pressupõe a adap-
tação do jornalismo face às mudanças provocadas pelas tecnologias nas redações, na
vida cultural, profissional, social e noutras dimensões. Mas essas mudanças não depen-
dem exclusivamente da vontade dos gestores dos media, pois deve resultar da combina-
ção de vários fatores: de uma política pública favorável, um ambiente legal e uma pre-
paração mental dos profissionais para as mudanças dos processos de trabalho.
5
A Declaração do Milénio, adoptada em 2000, por todos os 189 Estados Membros da Assembleia Geral das Nações Unidas, veio
lançar um processo decisivo da cooperação global no século XXI. Nela foi dado um enorme impulso às questões do Desenvolvi-
mento, com a identificação dos desafios centrais enfrentados pela Humanidade no limiar do novo milénio, e com a aprovação dos
denominados Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (MDGs) pela comunidade internacional, a serem atingidos num prazo de
25 anos
97
3.5. Atual panorama mediático moçambicano
Face ao défice do quadro jurídico que regule o sector dos media, os jornalistas e as suas
associações profissionais têm exercido uma advocacia para que seja aprovado um ins-
trumento legal que regule o sector da comunicação social. Um dos mais importantes
instrumentos aprovado foi a Lei 18/1991, conhecida vulgarmente por Lei da Imprensa,
que estabelece os direitos e obrigações dos meios de comunicação social assim como as
responsabilidades do Conselho Superior de Comunicação Social (CSCS), órgão regula-
dor encarregue em garantir a independência dos media, a liberdade de imprensa e o di-
reito à informação. (Open Society, 2010:33).
Desde altura que foi aprovada a Lei de Imprensa, o governo tem sido pressionado pelos
grupos de alianças das Organizações da Sociedade Civil, nomeadamente O Fórum Na-
cional das Rádios Comunitárias (FORCOM), MISA-Moçambique e o Sindicato Nacio-
nal de Jornalistas (SNJ) para legislar sobre a crescente indústria da radiodifusão no país.
De igual forma é pressionado a rever a Lei da Imprensa de 1991, de modo a responder
ao desenvolvimento da indústria dos media em Moçmbique. (Mário, 2008:21).
De acordo com Mário (2008), o debate e a pressão sobre o governo no que tange à obri-
gatoriedade de legislar sobre os media resultam da percepção de mudanças no panorama
da radiodifusão em Moçambique, bem como da legislação da radiodifusão estabelecida
pelas organizações internacionais, nomeadamente SADC e União Africana (UA). (Má-
rio, 2008:22).
A inspiração da Sociedade Civil para os debates e pressão é feita com base nas princi-
pais legislações nacionais e internacionais, nomeadamente: Declaração Universal dos
Direitos Humanos; Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos; Declaração dos
98
princípios sobre a Liberdade de Expressão em África; Declaração de Windhoek sobre a
Promoção de uma Imprensa Livre, Independente e Pluralista em África; Carta Africana
da Radiodifusão; Protocolo da SADC sobre a Cultura, Informação e Desporto. A nível
interno inspira-se sobre a Constituição da República de Moçambique; na Lei de Impren-
sa, 18/91, de 10 de Agosto; Decreto 22/92, d e 1 de Dezembro, que estabelece as condi-
ções de participação dos sectores privados, público e mistos na radiodifusão. (Mário,
2008:22).
Em termos gerais pode-se concluir que, no aspeto legal, Moçambique estabeleceu bases
fundamentais para um sistema de regulação e controlo dos media favorável à Liberdade
de Expressão, Pluralismo e Diversidade dos Media. Embora faltem algumas alterações e
adaptação legislativa ao desenvolvimento da indústria de comunicação.
99
Quadro nº 2: Lista das leis relevantes sobre os media
Apesar de terem sido criadas as bases legais para o funcionamento dos media, a legisla-
ção continua bastante generalista e incipiente. Pois ainda faltam legislações sobre diver-
sas matérias específicas como: a qualidade dos conteúdos, a radiodifusão pública, os
audiovisuais, a proteção de menores e a dignidade humana, a literacia para os media, as
comunicações digitais, a concorrência e concentração dos media, o uso das línguas na-
cionais nos media, etc.
100
3.5.1. Pluralismo dos media
Nos termos do artigo 19 da Lei de Imprensa, antes da sua publicação todos os órgãos de
informação estão sujeitos a registo, o qual é realizado junto no Gabinete de Informação
(GABINFO). O GABINFO é o órgão do Estado criado por Decreto Presidencial em
Outubro de 1985, substituindo parcialmente as funções do Ministério da Informação, o
que foi extinto em 1994, em consequência do estabelecimento do regime democrático
multipartidário no Pais.
O artigo 6 da Lei de Imprensa determina que os órgãos de informação devem ser pro-
priedade do sector estatal ou objeto da propriedade cooperativa, mista ou privada, ou
seja, o suporte institucional de exercício da atividade jornalística é empresarial, coope-
rativo ou misto.
101
Os nº 1 e 2 do Artigo 22 da Lei de Imprensa estabelecem as condições em que o pedido
de registo possa ser recusado, nomeadamente “quando não se mostrem preenchidos os
requisitos previstos na declaração ou os “pressupostos legais para o exercício da cativi-
dade”, cuidando a mesma lei que a mesma recusa seja “objeto de despacho fundamenta-
do indicando claramente os motivos da recusa”. No caso de recusa, a lei concede uma
garantia jurisdicional aos particulares, os quais têm a faculdade de impugnar judicial-
mente aquela decisão. Só que a Lei de Imprensa reduz o prazo de recurso para 30 dias,
quando a Lei do procedimento administrativo contencioso confere um prazo maior de
90 dias para a interposição de recurso de anulação dos atos administrativos ilegais. (Lei
da Imprensa, 1991)
3.5.2. Jornais
Em Moçambique estão registados, até 2010, cerca de 119 jornais e revistas, apenas 27
estão ativos e em circulação, incluindo algumas publicações por fax ou via eletrónica.
As publicações eletrónicas são pequenas diárias que contêm 6 a 8 páginas que desafia-
ram, no princípio, os media “oficiais”, publicando informação coletada de forma inde-
pendente sobre assuntos considerados “tabus”. (Open Society, 2010:13).
O quadro que se segue apresenta os jornais distribuídos por meio do correio eletrónico,
que antes eram distribuídos via fax.
102
Quadro nº3: Jornais de publicação via Fax
No seu grosso número os jornais por fax apresentam uma linha editorial diferente dos
órgãos públicos. Eles dão mais destaque aos assuntos da economia, política e opiniões
de cidadãos nacionais, denúncias de corrupção pública e acontecimentos sociais.
Os Jornais por fax como por exemplo Media fax e o Metical, que mais tarde evoluíram
para publicações por via de correio eletrónico, tornaram-se os primeiros jornais eletró-
nicos moçambicanos fundados por Carlos Cardoso, o mais destacado jornalista investi-
gativo do país, que foi assassinado em 2001.
103
A primeira edição do Jornal Mediafax foi publicada no dia 25 de Maio de 1992. No fim
da primeira semana, o jornal já tinha 20 assinantes, incluindo a presidência da república.
Mediafax foi o primeiro jornal moçambicano que inaugurou o jornalismo investigativo e
“ que constituiu o marco histórico e revolucionário na imprensa moçambicana”. (Beula,
2007)
O quadro abaixo oferece a visão geral das publicações em circulação no país, seu perfil,
propriedade e linha de orientação. (Open Society, 2010: 13).
104
De acordo com Chichava & Polhmann (2010) o jornal @ Verdade, não representado no
Quadro nº13, é o que possui maior número de tiragem diária, 50 mil exemplares, ultra-
passando o Jornal Notícias e Diário de Moçambique.
O jornal Notícias, Domingo e Desafios são pertenças da Sociedade de Notícias que tem
como acionistas o Banco Central (Banco de Moçambique), a Empresa Moçambicana de
Seguros (Emose) e a empresa pública de petróleo (Petromoc). O Banco de Moçambique
detém a presidência da sociedade do Notícias, o que coloca a empresa sob o controlo
estatal. (Open Society, 2010: 15).
No que tange ao uso das línguas nacionais, a Lei de Imprensa não estabelece qualquer
cláusula relativa à políticas linguísticas nos órgãos de comunicação social, incluindo
rádio e a televisão, apenas estabelece como uma das funções principais dos órgãos de
informação do sector público,” desenvolver a utilização de línguas nacionais”. (Mário,
2012)
Como se pode notar na tabela acima indicada, em Moçambique todos os jornais apenas
usam a língua portuguesa, facto que constitui obstáculo para o acesso à informação pela
esmagadora maioria da população, nomeadamente entre os camponeses e as mulheres
que vivem nas regiões rurais.
Uma maior penetração dos media junto de sectores marginalizados da sociedade, nome-
adamente entre idosos e nas zonas rurais requer políticas mais arrojadas no que se refere
ao uso de línguas nacionais na veiculação das mensagens.
105
De acordo com o Anuário publicado pela Intercampus em 2011, sobre audiência dos
jornais mais lidos em Moçambique, realizado em quatro cidades do país, as primeiras
quatro posições são ocupadas pelos jornais Notícia com 42.5 por cento; @ Verdade com
23.7 por cento; Diário de Moçambique com 18.8 por cento; e o jornal O País com 16.8
por cento. (Anuário, 2011).
Estes resultados de inquéritos feitos pelo telefone não refletem a realidade. Primeiro,
porque os casos representativos correspondem algumas capitais provinciais, segundo o
estudo foi encomendado por uma organização política com interesses comerciais no
sector dos media.
O número de empresas gráficas cresceu de forma galopante nos últimos dez anos, facto
que torna a impressão gráfica bastante rápida e eficiente. Em termos gerais, pode-se
concluir que a situação das gráficas tem vindo a melhorar significativamente particu-
larmente na capital do país, que alberga empresas gráficas à altura da demanda do mer-
cado. Anteriormente, o grosso número da impressão gráfica era feita na República da
Africa do Sul, porque o mercado nacional não dispunha de capacidade de impressão de
qualidade, incluindo à cor.
Com exceção dos jornais Notícias, Domingo, Desafio, Diário de Moçambique e do Jor-
nal O País, nenhum outro jornal possui gráfica própria. Para além dessas gráficas, a ou-
tra capaz de imprimir jornais com certa qualidade é a CEGRAF, uma empresa com par-
ticipação do Estado moçambicano e dirigida por pessoas ligadas ao partido FRELIMO.
(Chichava & Polhmann, 2010: 134).
Um dos grandes obstáculos que opõem ao crescimento robusto e sustentável dos jornais
em Moçambique tem a ver com o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), os trans-
portes, as taxas alfandegárias e o combustível contribuem para a diminuição da publici-
dade e impõem prejuízos adicionais para os jornais.
106
que a penetração dos jornais nos leitores moçambicanos é limitada pelo fator linguísti-
co, ou seja, mais de metade da população não domina a língua portuguesa usada por
maioria dos jornais moçambicanos.
Excesso de carga fiscal para uma economia emergente, onde as empresas jornalísticas
ainda não possuem uma estrutura financeira sólida, aliada aos altos custos de financia-
mento, uma carga fiscal de 32% sobre o lucro, custos de transporte é demasiado alto e
desencorajador para o desenvolvimento de empresas jornalísticas.
Para além das dificuldades acima mencionadas, o elevado custo das telecomunicações e
eletricidade fazem partes dos principais obstáculos do desenvolvimento da imprensa
moçambicana. De acordo com Chichava & Polhmann (2010:134), o número de jornais
que deixou de circular em Moçambique está na ordem de 152 de entre os 177 criados
desde 1990. Estes dados confirmam as dificuldades pelas quais passa a imprensa priva-
da moçambicana. Jornais que já tinham o mercado de leitores assegurado na praça co-
mo, os jornais Demo e Imbondeiro, foram vítimas dessa situação.
Para fazer face à falência de jornais privados deveria se cria um instrumento legal de
equilíbrio das contas dos órgãos de comunicação impressa através de distribuição equi-
tativa das cotas de anúncios publicitários, mas a realidade mostra o contrário. O Estado
e as empresas públicas são os principais clientes e fonte de receitas para os órgãos pú-
blicos de comunicação, além do imposto de radiodifusão de que beneficiam.
107
Numericamente, o jornal é ainda um meio de informação de abrangência extremamente
limitada em Moçambique. A penetração de jornais para o interior de Moçambique é
bastante reduzida. Existem locais onde os principais jornais não chegam.
Os estudos sobre a circulação dos jornais são escassos e os dados fornecidos pelas pró-
prias empresas carecem de auditorias externas independentes para a sua confirmação.
Segundo um estudo recente, o jornal Noticias lidera o número de tiragem e venda de
jornais. Este órgão imprime 16.000 cópias diárias, das quais 14.120 são destinadas a
assinantes, 1880 vendidos na cidade de Maputo e os restantes noutras regiões do país
Por seu lado, o Semanário Domingo imprime cerca 10.000 cópias, das quais 3.000 são
vendidos e distribuídos entre os assinantes.
Noutro ângulo de observação, a evolução todos os jornais não possuem estudos indica-
dores de audiência, pois os cálculos de audiências são feitos a partir do número de tira-
gem, assim sendo, e não havendo uma fórmula fiável de medição, nota-se neste aspeto o
desconhecimento do universo do alcance dos jornais moçambicanos. A estes problemas,
adiciona-se a problemática da falta de formação dos gestores da imprensa privada e de
eles mesmos, em simultâneo, trabalharem como jornalistas e gestores.
108
3.5.4. Radiodifusão
109
sões rurais do Estado (ICS). Os de cariz comercial situam-se, quase na totalidade, na
capital do país, Maputo, (Mário, 2009: 46-47).
Durante os primeiros anos da Independência, quando o país foi dirigido por regime de
partido único, não houve espaço político para a criação de órgãos de informação priva-
dos ou comunitários. Entretanto, o governo, consciente do papel da comunicação nas
zonas rurais, e com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, cri-
ou o Gabinete de Comunicação Social (GCS) com o mandato de estabelecer centros de
comunicação nas aldeias comunais, centros de habitação e produção coletivizada, no
campo.
Estes centros, denominados Centros de Escuta Coletiva, funcionavam com meios técni-
cos extremamente básicos e difundiam as suas notícias por via de um sistema de altifa-
lantes num raio que mal abrangia a aldeia. Os conteúdos de difusão eram essencialmen-
te notícias locais e mensagens de desenvolvimento sobre saúde, educação e agricultura,
para além de informação sobre acontecimentos locais e programas de trabalho. Não
obstante as suas fraquezas, estes centros constituíram a primeira oportunidade para a
população rural aprender e implementar algumas técnicas de comunicação, embora os
conteúdos refletissem essencialmente as políticas governamentais e partidárias vigentes.
Mais tarde, ainda na década de 1970, criou-se a figura de “correspondente popular”, que
para além de fornecer notícias para o seu centro enviava-as para as emissoras provinci-
ais da Rádio Moçambique e para a imprensa nacional através das delegações provinciais
do GCS. As notícias eram enviadas em manuscrito por via de portadores ou das carrei-
ras de autocarros. (Open society, 2010:59).
110
A partir deste processo, em 1984 o GCS foi transformado em Instituto de Comunicação
Social (ICS), através do Decreto 1/89, de 27 de Março, estabeleceu a sua primeira rádio
“comunitária” em Xai-Xai, capital da província de Gaza, no Sul do pais. Nascia assim
em Moçambique o conceito de “rádio comunitária” gerida pelo Estado. Entretanto, com
o alastrar do conflito armado pelo país (1976-1992) e a consequente fuga da população
rural para países vizinhos ou para as cidades, os centros de comunicação e a rede rural
estabelecida pelo ICS foram efetivamente desativados ou destruídos. (Open Society,
2010: 59)
O ICS foi o primeiro a expandir a sua rede de rádios a partir da década de 90, trabalhan-
do essencialmente nas sedes de distrito. Também alargou o seu âmbito de ação, juntan-
do às instalações de algumas das suas rádios uma antena para a distribuição local do
sinal da TVM e, em alguns casos, alguma capacidade de produção televisiva. Atualmen-
te o ICS possui um total de 30 estacões de rádio comunitárias e 4 estações de televisão
rural. (Open Society, 2010:59).
De acordo com a Open Society (2010), essas rádios foram estabelecidas com o apoio de
parceiros externos, com destaque para a UNESCO e a organização não-governamental
dinamarquesa IBIS. Através do projetos “Fortalecimento da Democracia e Governação
através do Desenvolvimento dos Media” foram implantados oito rádios entre 1998 e
2006.
Outros avanços foram feitos pela Universidade Eduardo Mondlane através da “Iniciati-
va de Centros Multimédia Comunitários” (CMC), cuja primeira fase decorreu de 2004-
2007 foram implantados 23 CMC em todo o país. Os CMC combinam rádios comunitá-
rias e centros de formação em informática e uso da Internet. Alguns destes foram cria-
dos de raiz, outros através da conversão de telecentros existentes. ( Open Society, 2010:
61-62).
111
Apesar do esforço das organizações não-governamentais em massificação das rádios
comunitárias sob a gestão da própria comunidade, nem por isso deixam de ser constran-
gedoras duas situações: as intromissões do Estado na gestão das rádios comunitárias e o
abandono de que são sujeitas logo que são entregues à gestão comunitária, ou seja, são
deixadas sem nenhuma assistência técnica ou administrativa.
Apesar de censura das autoridades políticas locais sobre os conteúdos das rádios comu-
nitárias, Power (2012) afirma que tem havido constante violação da Constituição da
República de 1990 e a Lei de Imprensa em 1991, que consagra os princípios da liberda-
de de expressão e de imprensa e o direito à informação e à livre criação de órgãos de
informação.
112
bique, a Igreja Maná e ainda a Comunidade Islâmica, com três estacões. (Open Society,
2010: 60).
Enquanto as coberturas das rádios atinge 92% do território nacional, a televisão situa-se
na ordem de 16% de cobertura. (Open Society, 2010). O sector televisivo continua uma
das áreas de fraca penetração nas zonas rurais, mas em franca expansão para as grandes
urbes.
Ponse (2011) apresenta um cenário que merece uma reflexão profunda sobre as conse-
quências da desvalorização das línguas nacionais. Ele observou que os países africanos
falantes da língua portuguesa têm o baixo aproveitamento escolar e elevada taxa de re-
provações como resultado da falta de políticas públicas sobre a inclusão das línguas
nacionais no sistema de educação.
113
Desta análise, tanto Ponse (2011) como Cossa (2011) são unânimes em reconhecer o
fracasso do ensino em línguas europeias. Elas continuam sendo a barreira do sucesso
escolar, porque os alunos nunca foram alfabetizados nas suas línguas autóctones. Desta
maneira perdem o ânimo de continuar com os estudos logo nos primeiros anos de for-
mação.
Cerca de 90 por cento de moçambicanos são falantes das línguas nacionais, o que signi-
fica que elas não são línguas alternativas na comunicação entre os moçambicanos, elas
constituem, por si mesma, os principais meios de comunicação através dos quais os mo-
çambicanos se comunicam.
114
Tabela nº 3: Falantes do Português por províncias e Cidade de Maputo.
115
mente para os que vivem nas zonas urbanas que optam por português como a língua de
comunicação.
De acordo com Ngunga (2011), Moçambique conta atualmente com cerca de 500 ór-
gãos de comunicação social sendo 80 são rádios comunitárias que, na sua maioria usa as
línguas moçambicanas e os restantes são órgãos que usam exclusivamente a língua por-
tuguesa no processo de comunicação com as comunidades.
Ngunga (2011) acrescenta ainda que a língua portuguesa “funciona como meio de ex-
clusão dos moçambicanos nesse processo. Porque ela só serve para 10 por cento de mo-
çambicanos no acesso à informação.
Se o uso das línguas moçambicanas for massiva nos media irá reconfigurar o cenário da
relação entre os media e o cidadão. E enquanto elas forem o depósito de conhecimento e
de herança permitirão uma maior proximidade entre ambos.
O uso das línguas como ferramentas de troca simbólica entre o emissor e o recetor faz
parte do processo de inclusão social. Pois a visão de inclusão social que tem sido prati-
cada em Moçambique tem dado ênfase no uso das tecnologias, em particular o domínio
de processamento de textos e navegação pela Internet.
Como se pode notar, a inclusão digital não se reduz apenas ao domínio das ferramentas
informáticas, mas sim passa pela combinação das tecnologias e as línguas de comunica-
ção nativas, ou seja, a forma como que as línguas podem participar no ciberespaço de
comunicação universal.
116
Todos os jornais apenas usam a língua portuguesa, situação que constitui uma limitante
fundamental para o acesso à informação pela esmagadora maioria da população, nome-
adamente entre os camponeses e as mulheres.
Depois de 1964, devido ao aumento das ações armadas da FRELIMO, aumentou a pre-
ocupação de Portugal relativamente à segurança interna da sua colónia. Nessa altura as
transmissões radiofónicas em línguas nacionais, com objetivos claramente políticos,
foram coordenadas pelos Serviços da Ação Psicossocial, uma unidade de ramo militar
criada para contrariar as propagandas do movimento armado. (Barbosa, 2007: 91-96).
A ausência de línguas nacionais no canal público da televisão constitui uma das grandes
fraquezas do serviço público de televisão, dado o potencial de inclusão e participação de
cerca de 89% de audiência nacional que fala as línguas moçambicanas. A este respeito,
deve notar-se que a primeira experiência de uso de línguas nacionais no sector televisi-
117
vo moçambicano pertence a uma televisão privada, a TV-Miramar, transmitindo um
programa na língua Xi-ronga, a partir de Maputo.
Chichava & Polhmann (2010) afirma que havia também alguns jornais das igrejas pro-
testantes, nomeadamente, Nyelete ya Miso, mais tarde substituído por Mallalhe, da Mis-
são Suíça e o jornal Kuka Ka Mixo, da Missão Metodista Episcopal.
A medida que a rádio, a televisão e os jornais avançam para novos formatos de comuni-
cação, eles contribuem para uma maior visibilidade, interação e distribuição de conteú-
dos em línguas locais.
A inclusão das línguas nacionais nos media permitirá a circulação destas línguas no
ciberespaço e garantirá uma maior proximidade entre os órgãos de comunicação e o
cidadão, Estado e o cidadão, bem como torna uma solução para a promoção da igualda-
de e reconhecimento da diversidade.
118
Ngunga (2011) levanta uma questão de grande relevância para o ponto central desta
tese, o problema da relação entre os media e as línguas nacionais no contexto moçambi-
cano. O investigador verificou que dos 500 órgãos de comunicação social licenciados
em Moçambique, apenas 80 deles, na sua maioria as rádios comunitárias, se expressam
em línguas nacionais e as restantes usam a língua portuguesa na sua comunicação com a
sociedade.
A partir dos dados fornecidos por Ngunga (2011), o rácio entre o número de órgãos de
comunicação que se expressam em língua portuguesa e audiência que lê e fala a língua
portuguesa é na ordem de 10 por cento e os restantes 90 por cento, que constitui a maio-
ria da população moçambicana que não fala a língua portuguesa, são os excluídos.
É nesta lógica que os media moçambicanos ainda estão revestidos de uma cultura oci-
dental na qual vão buscar os seus referenciais e modelos que não se contextualizam com
a realidade social e cultural na qual estão inseridos.
Dada a segmentação dos interesses políticos e económicos dos países africanos, Mo-
çambique ficou dependente da decisão dos países da SADC para adotar o sistema pa-
drão de transmissão rádio e televisão digital.
119
cio nipónico/brasileiro ou DVB-T (Digital Video Broadcast Terrestrial), usado no espa-
ço europeu. (Mabunda, 2010:77).
Para permitir uma efetiva migração para o digital, Moçambique ainda não possui uma
estratégia de migração para o digital que garanta a regulação de serviços; transmissão
em sinal aberto ou codificado; atribuição de canais e subscrição de programas; licenci-
amento dos operadores de transporte e distribuição do sinal digital; registo de provedo-
res de conteúdos; e outras garantias.
Apesar de ter sido elaborado pelo Instituto Nacional de Comunicações, órgão do Estado
regulador das comunicações, um plano estratégico em forma de draft, todas as tentativas
de elaboração de políticas pública dos sector dos media são feitas no mais estrito secre-
tismo para não permitir um debate público sobre o assunto.
120
Neste sentido, já há receios por parte de alguns sectores dos media que o próprio Estado
ou alguns grupos de interesses do Estado assumam o controlo do sector.
121
A telefonia móvel é ainda explorada como fonte de receita através do envio de comentá-
rios a programas ou votação em diversos tipos de concursos, mormente musicais, atra-
vés de SMS. A televisão recebe dos custos das ligações telefónicas e SMS uma deter-
minada percentagem, cobrada de forma automática por sistema eletrónico. (Mário,
2010).
STV
122
SIRT-TV
SIRT-TV foi criada em 2002 com sede na cidade de Tete. É o único canal de televisão
com sede fora da capital do país pertencente a António Marcelino de Mello.
Iniciou as suas transmissões em 2006 com a designação inicial de 9TV. O grupo possui
ainda a rádio 9FM e o jornal Bola 9, que estava fora de circulação no período desta pes-
quisa, e uma agência de publicidade, BM9. O sinal da televisão da TIM cobre apenas a
província de Maputo.
TV Maná
Pertence ao grupo Rede Maná, da Igreja Maná, com transmissão via satélite (Banda
KU) para 40 países. Em Moçambique também possui a rádio 99.6 FM. O sinal da tele-
visão cobre a província de Maputo e com tendência de expansão para as outras provín-
cias. O grupo privilegia os temas cívicos e religiosos;
TV Miramar
Pertence a rede comunitária brasileira -TV Record, por sua vez propriedade da Igreja
Universal do Reino de Deus e opera em Moçambique desde 1998.Trata-se de uma tele-
visão privada que transmite um pouco de tudo, cultura, notícias, desporto, filmes, nove-
las, reportagens e documentários, mas todos importados do no Brasil. TV Miramar co-
bre as cidades de Maputo, Beira, Nampula e Tete.
KTV
RTP África
123
com a retransmissão hertziana para África. RTP-Africa cobre as províncias de Maputo,
Sofala e Nampula.
Em 2011 foram licenciados mais três canais de televisão de sinal aberto: Gungu TV,
TOP TV e ECO TV, todos estão a funcionar em regime experimental, sem grandes con-
teúdos. E a Televisão de Moçambique, TVM, inaugurou o Canal 2, vocacionado para
entretenimento, assuntos comerciais e desporto. O canal teve apoio da Rádio e Televi-
são Portuguesa, RTP.
Star Time -é um consórcio entre uma empresa chinesa e uma empresa moçambicana.
O serviço de TV por cabo cobre apenas duas cidades situadas na capital do país, cidade
de Maputo e Matola, oferecendo uma média de 52 canais. Desde aparição de televisão
por cabo, os serviços são comercializados sob duas formas: o pacote básico, acessível à
taxa mensal base, e os pacotes codificados, acessíveis apenas aos assinantes. Neste mo-
mento, a taxa de penetração do serviço de televisão por cabo em Maputo é já superior a
30 por cento. (Open Society, 2010:18).
124
Estudo de audiência levado acabo pelo Intercampus, publicados no Anuário 2011, reve-
lam que 84 por cento da população moçambicana vê televisão todos os dias, sendo a
audiência liderada pela televisão Miramar com uma audiência média anual de 7.7 por
cento do número de pessoas que assiste o canal, enquanto a STV é o segundo canal mais
visto com uma audiência média anual de 6.2 Por cento, seguido da TVM com 2.9 por
cento, a TIM com 1.7 por cento, RTP com 0.4 por cento. (Anuário, 2011).
Uma pesquisa realizada por MISA Moçambique, divulgada em Setembro de 2009, so-
bre o grau de transparência e secretismo em torno de informação de interesse publico,
na posse de entidades estatais revela a persistência de uma forte cultura de secretismo
no Estado, situação que afeta o exercício da liberdade de imprensa por partes dos media.
(MISA, 2009).
125
cria interpretações dúbias quanto aos órgãos de informação, enquanto meio de difusão
da informação, e a entidade proprietária deste. Daqui resulta que a Lei torna imprecisa
sobre qual das duas entidades deve ser sujeita a registo.
Outro aspetos importantes a destacar em relação à televisão pública diz respeito à sua
parcialidade e inclinação partidária. Fazendo coro às vozes de Chichava & Polhmann,
(2010:133), a imprensa vinculada ao Estado é favorável aos interesses do partido no
poder, a FRELIMO.
6 Ministério da Educação e Cultura, Dados Estatísticos Sobre o Ensino Superior em Moçambique, 2007
126
público, já em 2007 existiam 208 estudantes no ensino público e 852 no ensino privado.
Em 2010 havia um universo de 1060 estudantes a frequentarem o curso de Jornalismo
em todo o país. As instituições que oferecem cursos de jornalismo e outras especialida-
des de comunicação social destacam-se as seguintes:
A Escola de Jornalismo foi formando gerações de jornalistas, alguns dos quais hoje
ocupando posições de proeminência nos diferentes jornais, estações de rádio e de televi-
são do país.
7 UNESCO/PNUD Projecto de Desenvolvimento dos Media m Moçambique, Relatório Final do Seminário Sobre o Ensino e Formação em Jornal-
ismo e Comunicação em Moçambique, Maputo, 2001.
127
Entretanto, em 2009 foi criada a Escola Superior de Jornalismo, derivada da Escola de
Jornalismo de Moçambique, como instituição pública de ensino superior, por decreto do
Conselho de Ministros.
128
instituição ainda não dispõe de quaisquer destes meios técnicos para exercícios práticos
dos seus estudantes nem de uma bibliografia adequada.
Com base na metodologia de Palácios & Noci (2007) sobre análise dos planos curricula-
res do ensino de jornalismo foram analisados seis planos de estudos das principais insti-
tuições de ensino de jornalismo moçambicanos, nomeadamente A politécnica, Escola
Superior de Jornalismo, Escola de Comunicação e Artes, ISCTEM, ISTEG e Universi-
dade católica de Moçambique.
As discussões neste seminário foram unânimes em afirmar que há necessidade dos estu-
dantes do Jornalismo serem treinados no comando básico do uso do computador e ma-
nipulação da Internet. Estas matérias, apesar de incluídas nos programas curriculares
dos estabelecimentos de ensino de jornalismo, não têm sido ministradas aos alunos,
porque as escolas não possuem os equipamentos informáticos.
129
A falta de especialização no jornalismo nacional foi apontada como sendo também uma
grande desvantagem no funcionamento dos órgãos de comunicação, tendo havido su-
gestões no sentido dos cursos de Jornalismo conceberem igualmente módulos específi-
cos de formação especializada de profissionais no ativo.
Apesar de aumento de oportunidades de formação, desde 2002, ainda não existem estu-
dos sobre o impacto dos novos graduados sobre o jornalismo moçambicano. O certo é
que a carreira jornalística tem sido uma opção menos atrativa. Este facto resulta, em
grande medida, de uma deficiente inserção dos recém-graduados em jornalismo nas
redações dos principais órgãos de comunicação social, devido a uma remuneração baixa
e precariedade de contratos de trabalho.
As oportunidades de formação são mais escassas para os jornalistas que se situam nas
capitais provinciais, em comparação com as ofertas na cidade de Maputo.
Por outro lado, a formação de jornalistas em áreas específicas, como jornalismo ambien-
tal; jornalismo económico; jornalismo científico; jornalismo politico e de outros domí-
nios, tem sido oferecida por instituições públicas ou ONG, como parte das suas próprias
estratégias de lobby e advocacia nessas áreas, e por isso de forma pouco sistemática e
não harmonizada com as necessidades dos media.
8
NSJ encerrou as suas actividades e o seu escritório em Maputo, no início de 2009, de acordo com in-
formações no seu endereço electrónico: http://www.nsjtrainingtrust.org/en/new steps in building a new
nsj
130
A visão de Musa (2009) suscita um outro debate sobre os centros de pesquisas e inves-
tigadores africanos de jornalismo. Neste aspeto, o autor afirma que existem poucas ins-
tituições de pesquisas em jornalismo em África, porque depois das independências afri-
canas as investigações nessa área eram feitas a partir da diáspora africana na Europa e
América ou pelos europeus para África.
Fora do meio académico, estudos e pesquisas mais ou menos sistemáticas sobre os me-
dia em Moçambique têm sido levados a cabo por instituições como a UNESCO, o MI-
SA— Moçambique e o Projeto Media da Fundação Friedrich-Ebert (FES). Por exemplo,
o FES, em parceria com o MISA, lançou em Abril de 2005 a iniciativa denominada Ba-
rómetro Africano dos Media (AMB), um exercício de auto avaliação africana do estado
legal e das condições sócio – políticas do exercício da liberdade de imprensa nos dife-
rentes países. Este é o primeiro projeto consistente de medição e descrição detalhada
sobre a situação da Comunicação Social no Continente Africano. Os princípios e indi-
cadores fundamentais do AMB refletem o conteúdo da Declaração dos Princípios sobre
a Liberdade de Expressão em África, aprovada em 2002 pela Comissão Africana para os
Direitos Humanos e dos Povos.
131
O relacionamento entre empresas jornalísticas e as instituições de ensino de Jornalismo,
nomeadamente no que se refere aos estágios de alunos nas redações, o resultado das
entrevistas feitas ao Diretor de Informação da STV, ao Diretor Executivo do Jornal
@Verdade e ao Diretor do Jornal Zambeze, constatou que há deficiências que denunci-
am um processo de recrutamento aleatório por parte dos jornais e, do lado dos alunos,
há falta de motivação, falta de interesse pela profissão de jornalismo e fraca preparação
académica de base.
Numa sociedade cada vez mais exigente e onde o exercício da profissão de jornalista
exige conhecimentos profundos sobre os complexos problemas que alimentam as in-
formações mediáticas, apenas um jornalista com sólida preparação teórica estará em
condições de produzir informação devidamente investigada e credível.
9
Entrevista feita ao Director Pedagogico da Escola de Jornalismo no dia 28/10/09
10
Director Executivo Editorial da STV, entrevistado no dia 20/07/09
132
O apoio governamental ao ensino superior é feito através do Ministério da Educação e
Cultura e, de acordo com o seu Plano Estratégico (PEEC) o governo apenas tem uma
política de melhorar e consolidar a gestão e administração do Ensino Superior Público,
incluindo o estabelecimento de uma base mais transparente de alocação de recursos de
modo a tornar o seu desenvolvimento sustentável.
Neste contexto, em 2006 foi criada a comissão para reforma financeira do ensino supe-
rior, com vista a assegurar uma melhor eficiência na alocação e uso dos recursos desti-
nados a este subsistema de ensino. Foi elaborada a proposta e documentação de suporte
para a criação do Conselho Nacional de Acreditação e Qualidade (CNAQ) e a proposta
de Lei do Sistema Nacional de Acreditação, Avaliação e Garantia de Qualidade no En-
sino Superior em Moçambique (SNAQES), ao mesmo tempo que foi aprovado o Regu-
lamento do Sistema Nacional de Acumulação e Transferência de Créditos Académicos
(SNATCA).
Assim parecem criadas as condições técnicas mínimas para uma melhor gestão da qua-
lidade do Ensino de Superior, incluindo do Jornalismo, prevalecendo, contudo, o desa-
fio de assegurar uma base institucional competente para fazer cumprir com eficácia as
politicas e estratégias adotadas. Nesse sentido, o envolvimento direto e permanente das
organizações sócio – profissionais e da indústria dos media, designadamente o SNJ, o
MISA Moçambique e a AEJ, torna-se ainda mais relevante, de modo a adequar continu-
amente os programas e planos curriculares às necessidades do mercado.
133
É igualmente evidente a carência de oportunidades de formação contínua de profissio-
nais no ativo, em que sejam promovidas ações de atualização técnico profissional, inclu-
indo na área de jornalismo digital, gestão de media, comunicação e a comunidade, ética
jornalística, etc.
134
Respondendo às crescentes críticas ao SNJ, o secretário-geral desta organização de jor-
nalistas reconhece as fragilidades do sindicato que representa e afirma que há esforço
que está sendo feito para retirar o SNJ da situação de inatividade e apatia. Uma das ati-
vidades a realizar será a integração na Federação Internacional de Jornalistas, da qual
foi desmembrada por falta de pagamento de quotas, filiação ao South Asian Journalist
Association, (SAJA), uma rede de profissionais de comunicação social baseada na Amé-
rica do Norte; e atualmente participa no projeto de criação da Federação de Jornalistas
da Comunidade de Países da Língua Portuguesa.
Ficou saliente que o SNJ, aliado fiel do governo, desde a sua criação o sindicato ainda
não produziu nenhum Código de Conduta de Jornalistas e de carteira profissional, facto
que fragiliza a sua capacidade de propor uma representação clara da profissão, o que
torna permissível a qualquer um exercer a profissão sem nenhum quadro jurídico que o
regule no exercício da sua profissão. Assim sendo, o SNJ não está a desempenhar o seu
papel aglutinador e credibilizador dos profissionais de comunicação. Uma das medidas
seria criação de Estatuto de Jornalistas, cujo teor clarificasse os direitos e os deveres
destes como forma de valorização, credibilização e responsabilização dos jornais nas
suas ações profissionais.
De acordo com Chichava & Polhmann (2010: 136) o vazio de Estatuto de Jornalistas e
de outros quadros reguladores de jornalista dá azo aos jornalistas poderem, simultanea-
135
mente, ocupar cargos políticos e públicos, o que por vezes tem criado situações de con-
flitos de interesse.
CSCS é composto por 11 membros sendo dois nomeados pelo Presidente da República,
quatro pela Assembleia da República, um Magistrado Judicial eleito pelo Conselho Su-
perior da magistratura Judicial, três representantes de jornalistas e um das empresas
jornalísticas.
Neste contexto, a mudança do cenário mediático para o sistema digital irá reforçar cada
vez mais o poder dos medias junto das comunidades. A mudança só pode ocorrer se
forem criadas as bases fundamentais sobre as quais assenta os media digitais, as TIC e
serviços de telecomunicações.
Pano (2010) descrevia que Moçambique foi um dos primeiros países da África Austral a
elaborar a Política Nacional das tecnologias, mas o seu entusiasmo inicial foi esmore-
cendo ao longo do tempo. De acordo com Sangonet (2010) Moçambique criou todas as
condições necessárias para implementá-las incluindo a criação de infraestruturas e exe-
cutores, mas o excesso de otimismo está a enfraquecer os projetos.
136
O desenvolvimento do jornalismo digital depende, em grande medida, das infraestrutu-
ras de telecomunicações. Estudos do MISA (2010) revelaram que a cobertura da Inter-
net em Moçambique é desequilibrada. A região Sul de Moçambique, precisamente, Ma-
puto e Matola é a que possui a maior taxa de conetividade em relação ao resto do país.
Os avanços dos media moçambicanos tem passado por momentos de grandes dificulda-
des de comunicação com a sociedade desde o período da colonização. Rocha (2000)
apresenta a história da imprensa colonial moçambicana retratada num quadro de confli-
tos políticos entre as autoridades governamentais portuguesas e os jornais rebeldes, mas
Capela (2010) considerava que toda a imprensa colonial em Moçambique era eurocen-
trista e dava pouco valor aos assuntos dos moçambicanos.
Uma nova fase que vai marcar a história dos media moçambicanos é a transição para a
rádio e televisão digital. Segundo Mabunda (2010) uma importante decisão tomada pelo
governo moçambicano no dia 23 de Novembro de 2010, em Lusaka- Zâmbia, foi ado-
ção do sistema digital designado DVB-T (Digital Video Broadcast Terrestrial).
137
Até adoção do sistema digital DVB-T, Moçambique atravessou quatro fases de comuni-
cação sem nenhuma ligação efetiva com a sociedade: a fase colonial, instrumentalização
do Estado, pluralismo mediático e o paradigma de digitalização. Este último ainda está
em processo de discussão.
Com o último paradigma, Moçambique precisa de refletir o caminho para que os media
assumam uma identidade cultural própria para a edificação de uma cidadania participa-
tiva. O paradigma digital possui características e potencialidades apropriadas para efe-
tuar a triangulação da Marinho (2011): Media, Sociedade e Formação.
3.9. Política nacional das TIC: o impulso para os media digitais em Moçambique
Até 2004, Moçambique não possuía nenhuma instituição pública que coordenasse e
executasse as políticas sobre as tecnologias. Os projetos e as políticas nacionais sobre
ciência e tecnologia estavam integrados no Ministério do Ensino Superior. Mas para
imprimir dinâmica e acomodar as diretrizes internacionais sobre as ciências e tecnolo-
gia, o Decreto Presidencial 13/2005, de 4 de Fevereiro, extingue, entre outros, o Minis-
tério de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia e cria o Ministério de Ciência e Tecno-
logia. (Boletim da República, nº5, I série, 13/2005).
138
Presidencial nº 2/98, de 26 de Maio, o governo decidiu criar a Comissão para a Política
Informática, CPI, com objetivo de desenvolver e coordenar a implementação das tecno-
logias em Moçambique. Esta comissão era diretamente presidida pelo Primeiro-ministro
e pelos ministros das Finanças, Educação, Ciência e Tecnologia, Ministros de Transpor-
tes e Comunicações, empresa de Telecomunicações de Moçambique, TDM e pela Uni-
versidade Eduardo Mondlane. (MCT, 2007: 51).
Face aos pontos fracos identificados, outro estudo de diagnóstico nacional sugeriu a
elaboração da Estratégia de Ciência, Tecnologia e Inovação de Moçambique, ECTIM,
139
apreciada e aprovada pelo Conselho de Ministros na 15ª Sessão Ordinária, de 27 de Ju-
nho de 2006.
Numa leitura critica, a ECTIM apresenta apenas planos de intenções no que tange ao
uso de TIC; desenvolvimento de recursos humanos nas instituições de ensino, criação
de infraestruturas do sistema de ciência e tecnologia, política de financiamento, promo-
ver as linhas principais de Ciência e Tecnologia, cultura de inovação, pesquisa e transfe-
rência de tecnologia, porém não apresentava planos de ações para concretizar as inten-
ções e vontades projetadas.
Em 2003 foi levada a cabo pela rede de ONGs de África Austral designada Southern
African NGO Network-Sangonet uma avaliação sobre a implementação das políticas
públicas sobre a TIC, bem como a avaliação da participação, os resultados da avaliação
concluíram que realmente Moçambique colocou as bases essenciais de discussão sobre
as políticas e planos de ação para a inclusão digital. Tais bases incluem a criação de
capacitação humana, infraestruturas, governação eletrónica, acesso universal ao conhe-
cimento e desenvolvimento empresarial, mas ainda careciam implementações efetivas
de infraestruturas tecnológicas básicas. Face às observações feitas, o documento reco-
mendava algumas ações:
140
Apoiar o papel dos media comunitários na promoção de livre fluxo de informa-
ção em múltiplas línguas nacionais;
Promover estudos e pesquisas na área de tecnologias;
Tornar a estratégia de governação eletrónica uma prioridade nacional para boa
governação e transparência
Dar maior atenção ao sector de educação na promoção e uso de computadores e
Internet nas escolas;
Preparar a legislação necessária para o caso da convergência tecnológica;
Alargar o Fundo de Acesso Universal para apoio das iniciativas comunitárias
Para Costa (2006) a palavra “ inclusão digital” pode ter vários significados: a inclusão
dos que se sentem bloqueados, dos analfabetos digitais e, outros. Seja como for, neste
contexto de estudo, entende-se inclusão digital como sendo uma forma de apoio ao ci-
141
dadão na perspetiva de se integrar na sociedade de informação, sobretudo de cidadãos
de poucas rendas.
Como se pode notar, as tarefas principais dos atores de inclusão digital consistiam em
impulsionar e supervisionar a elaboração da Política de Informática; formulação e coor-
denação de Políticas e Estratégias de Ciência e Tecnologias; normalização e regulamen-
tação; promoção da valorização de conhecimento local; proteção de direitos de proprie-
dade; elaboração de Políticas de Comunicação e de Acesso Universal; implementação
da Política Informática, elaboração de projetos de legislação e regulamentação; regulara
a interligação das redes e a interoperacionalidade dos serviços públicos de telecomuni-
cações, atribuição de licenças; garantir o apoio ao desenvolvimento do sector de comu-
nicação social em Moçambique e formação de quadros superiores do sector das TIC,
(Sangonet, 2010: 6-9).
142
Havendo uma variedade de metodologias de mediação da inclusão digital numa socie-
dade, o certo é que cada uma delas apresenta características comuns, de elas se orienta-
rem mais para visão sociológica. Assim sendo, o Programa Internacional para o Desen-
volvimento da Comunicação (PIDC), da UNESCO, propõe uma metodologia que “in-
corpora indicadores que permitem conhecer o grau de desenvolvimento de ecossistema
dos media numa determinada comunidade”. (Freire e Fariña, 2010:73).
A métrica proposta pela UNESCO (2010) para a inclusão digital, no que se refere ao
acesso aos media, baseia-se em dois indicadores: i) a verificação dos grupos marginali-
zados se tem acesso às formas de comunicação que sejam capazes de as utilizar, ii) se o
país dispõe de política de TIC coesa que visa atender às necessidades de informação das
comunidades marginalizadas.
143
No que se refere ao acesso à informação, por parte de grupos marginalizados, o estudo
constatou que a rádio pública e os operadores privados divergem significativamente na
qualidade tecnológica dos meios de produção de conteúdos. Apesar de operar com pes-
soal técnico menos qualificado, uma boa parte do sector privado da radiodifusão encon-
tra-se melhor apetrechado que a Rádio pública, daí a razão de o seu sinal se apresentar
com melhor qualidade sonora. (Misa, 2010).
De acordo com Misa (2010) o uso da Internet no país apresenta um quadro bastante
desequilibrado de consumo. Por exemplo, a cidade e Maputo tem uma cobertura de 100
por cento de serviços de Internet, seguida da província do mesmo nome, com uma co-
bertura de 37,7 por cento. As restantes províncias mostram uma cobertura abaixo desta
média. Fora das instituições públicas e privadas com redes de Internet, existem cerca de
14.000 subscritores de vários provedores do país, dos quais cerca de metade são indiví-
duos particulares e os restantes são empresas.
144
No que tange à existência de política de migração digital, o governo Moçambicano or-
ganizou em 2010 juntamente com o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambi-
que (INCM), que representa o país ao nível da UIT, uma Conferência sobre Comunica-
ções em Parceria Público-Privada. O evento tinha como lema a “Introdução da Radiodi-
fusão Digital em Moçambique”. A conferência que tinha como objetivos dar a conhecer
aos operadores públicos e privados, à sociedade civil e ao público em geral a necessida-
de da migração do atual sistema analógico de televisão para o digital, até ao ano 2015 e
definir um conjunto de ações conducentes a um eficiente processo de migração.
Volvidos seis anos, desde 2006, altura de decisão ao nível da UIT de se adotar a migra-
ção da radiodifusão até 2015, até a data da entrega desta tese de doutoramento, na se-
gunda semana de Setembro de 2013, não havia nenhuma estratégia nacional de migra-
ção digital nem avanço para a sua implementação. Existe desde primeiro semestre de
2011 um anteprojeto de estratégia de implementação da radiodifusão digital, produzida
por uma comissão intersectorial encabeçada pelo INCM. Até então, ela ainda aguarda
aprovação formal do Conselho de Ministros.
De acordo com Sangonet (2009), uma instituição da Sociedade Civil Sul Africana e em
parceria com o Centro Informático da Universidade Eduardo Mondlane (CIUEM) levou
a cabo um estudo de avaliação da política pública moçambicana sobre as tecnologias.
Os resultados reconheceram o pioneirismo do país em elaborar políticas sobre TIC e a
sua importância para promover o desenvolvimento. (Sangonet, 2010:9).
A maior parte dos projetos de inclusão digital com metas até 2005 ainda estão até a data
da entrega desta tese de doutoramento em fase de implementação, apenas houve peque-
nos avanços em 2006-2007. Como se pode notar, essa lentidão deve-se, em parte, ao
excesso de otimismo por parte dos principais atores de implementação de política naci-
onal de inclusão digital ou a falta de recursos financeiros. (Sangonet, 2010),
145
Nota-se que a política nacional de inclusão digital é bastante generalista e concentrado-
ra. Ela centraliza-se mais no aspeto de governação eletrónica no sector público, em vez
das áreas de educação, comércio e inclusive do sector dos media.
Nas ferramentas que imprimem a literacia digital na população estudantil do ensino pú-
blico, a taxa de penetração de computadores nas escolas públicas e no Ensino Secundá-
rio Geral 2 apresenta-se mais alta, na ordem de 91.4 por cento. Contrariamente, a políti-
146
ca pública neste aspeto reduz investimentos infraestruturais de equipamentos informáti-
cos para o ensino primário, que é a fase crucial para a iniciação do processo de literacia
digital.
Segundo Sangonet (2010), para suprir o fosso digital interno, recomenda que Moçambi-
que assuma três desafios fundamentais para a efetiva inclusão digital da comunidade
moçambicana: Infraestruturas, capacitação humana, custos e preços.
i) Infraestruras físicas são a base sobre a qual assenta a política de inclusão digital.
Em Moçambique a conectividade e a comunicação de dados é extremamente
lenta, oscilação e quedas constantes. Ainda mais, as infraestruturas de tele-
comunicações não estão distribuídas pelo país de forma equitativa, mas con-
centram-se mais nas grandes urbes, oferecendo menos oportunidade de aces-
so para a maioria da população. O acesso às infraestruturas de telecomunica-
ções depende da existência de energia, mas a fraca qualidade da energia for-
necida também constitui fator de impedimento. Para isso, é necessário esten-
der a comunicação via banda larga, promoção de regulamentação de partilha
de partilha de infraestruturas; assegurar a igualdade de acesso, redução dos
preços dos computadores pessoais e apoio a projetos de difusão e acesso às
TIC para pessoas portadoras de deficiência.
ii) Capacitação humana. Tendo em conta que o grosso número da população mo-
çambicana situa-se na zona rural, por um lado ela assume com naturalidade
que os computadores e a Internet são para pessoas ricas ou com qualificações
académicas mais alta, por outro lado, a cultura moçambicana faz com que os
recursos e as oportunidades cheguem primeiro ao homem e só depois à mu-
lher e criança. Face a esta realidade, o desafio principal reside na massifica-
ção de formação, que vai para além de cursos básicos, mas para a capacita-
ção do uso efetivo de TIC por cada grupo-alvo: homens e mulheres; aposta
no sistema nacional de educação como agente promotor de inclusão digital;
capacitação dos professores, não só nas habilidades básicas mas sobretudo
no uso de TIC no processo de ensino-aprendizagem.
iii) O preço da Internet de Banda Larga em Moçambique é exorbitante, sobretudo
para a população rural que vive com menos de 1 dólar por dia. Por isso, o
147
primeiro desafio é baixar o custo da Internet junto dos operadores e assegu-
rar que os usuários beneficiem de preços reduzidos.
A banda larga ainda não é nenhuma prioridade quer do governo quer dos operadores da
Internet em Moçambique. Dai que a Internet é demasiada lenta e o seu custo elevado.
Em geral pode concluir-se que o governo, nas matérias de inclusão digital, tem grande
interesse em criar infraestruturas que irão permitir o domínio do computador e da Inter-
net em escala nacional, mas ainda faltam algumas infraestruturas básicas: energia elétri-
ca, serviços de telecomunicações, capacitação de recursos humanos e incluindo a alfa-
betização mediática.
Sangonet (2010) concorda que existem muitas iniciativas que têm sido tomadas para a
criação de condições básicas de inclusão digital e dá alguns exemplos:
148
Projeto SchoolNet-uma iniciativa da UEM que a partir de 1997 passou para o
Ministério da Educação e Cultura, MEC, em 2002. O projeto tinha em vista a in-
trodução de salas de informática nas escolas, começando a nível pré-
universitário e nos centros de formação dos professores, passando progressiva-
mente para o ensino secundário geral e primário. Atualmente, 22 institutos de
formação de professores e 76 escolas secundárias estão equipadas de computa-
dores, mas devido aos altos custos o número de centros de formação de profes-
sores e das escolas secundárias nas capitais provinciais e grandes cidades com
acesso a Internet é reduzido.
Introdução da disciplina de informática no tronco comum do currículo escolar,
cujo arranque devia se concretizar no período de 2009-2010.
Adoção de curriculum certificado de TIC para o desenvolvimento. Este projeto
foi adotado pela UTICT a partir da European Computer Driving Licence
(ECDL).
Formação dos formadores e a sua colocação em instituições vitais, com destaque
para instituições de formação de professores e funcionários de centros de forma-
ção de professores.
Cursos básicos de informática.
Estabelecimento de rede Moçambicana de Ensino Superior e de Pesquisa (Mo-
ReNet) pelo Ministério da Ciência e Tecnologia que ligará 25 instituições supe-
riores numa rede da Internet de alta velocidade, visando transformar qualitati-
vamente e quantitativamente a capacidade de busca e partilha de conhecimento,
cooperação nacional e internacional em projetos de pesquisa e acesso a recursos
como a biblioteca e ferramentas de ensino-aprendizagem.
Acesso a educação por via de sistema de ensino à distância (EAD) usando TIC a
todos os níveis, começando pelo ensino superior.
149
Instalação defronte de energia alternativa nos distritos.
Expansão da rede de telefonia móvel.
Estes são considerados alguns avanços feitos pelo governo, mas a capacitação humana é
condição essencial para o desenvolvimento em dois níveis: i) assegurar que todos os
cidadãos tenham conhecimento e domínio da TIC e, ii) formação de novas gerações
capazes de liderar e sustentar a evolução tecnológica, ou seja, a formação daqueles que
Prensky (2001) denomina de “nativos digitais”.
Como se pode notar na tabela nº5 as províncias de Maputo e Nampula possuem a maior
taxa de penetração de Internet relativamente ao resto de províncias. Enquanto nos servi-
ços de telefonia móvel, as províncias de Maputo, Gaza, Inhambane Sofala, Manica,
150
Zambézia e Nampula apresentam taxas razoáveis de penetração de serviços de telefonia
móvel, acima de 50% de cobertura.
Estes indicadores não são favoráveis para a população rural, que constitui a maioria da
população moçambicana. Ela tem apenas o rádio como meio de acesso à informação,
enquanto a televisão e computado pessoal continuam sendo meios de comunicação das
elites urbanas.
Até 2008 havia mais de quatro milhões de assinantes de telefonia móvel no país, o
equivalente a 21 por cento da população moçambicana. O número foi crescendo cerca
de 50 por cento ao ano. Pessoas de todos os grupos sociais, incluindo os pobres, viram o
valor dos telemóveis nas comunicações quotidianas. (Sangonet, 2010).
O reduzido número de televisões nas populações rurais deve-se a dois fatores: preço alto
e a falta de energia elétrica nas áreas rurais.
151
Computadores e a Internet ainda são menos disseminados em todo o país. Havia uma
estimativa de 100.000 usuários de computadores em todo país em 2007, na sua maioria
homens de renda mais alta das áreas urbanas. (Panos, 2010).
Anexo nº3: ilustra o custo comparativo de preço de Internet entre as companhias forne-
cedoras de serviço da banda larga. Fica evidente nessa tabela que o custo da Internet
pré-pago é muito caro em todas as companhias fornecedoras de serviços da designada
Banda Larga, incluído as companhias de serviço móvel.
A instalação da fibra ótica vai permitir aos usuários uma maior velocidade da Internet a
baixo custo, pois os preços da Internet até então praticados são demasiadamente proibi-
tivos, chegando a custar quase o salário mínimo nacional, que ronda nos 2.500 Meticais,
equivalente a 60 euros para 500 MB. E dai se justifica a fraca adesão à Internet.
Os benefícios das tecnologias básicas na vida do cidadão vão muito além de comunica-
ções ou manipulação de computador, também inclui benefícios económicos, melhora-
mento da qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos, aquisição de novos conhecimen-
tos e integração na rede mundial de troca de informação, de experiências diversas, de
liberdade dos indivíduos, sobretudo de expressão e de livre comunicação.
Neste cenário de migração tecnológica, o governo ainda não tomou decisões importan-
tes no sentido de garantir uma boa transição dos serviços públicos da rádio e televisão,
regulação do sistema digital de rádio e televisão, licenciamento de operadores, padrão
de qualidade, custos, etc.
152
3.10. Jornalismo digital
À luz das discussões sobre as “mediamorfoses”, assunto tratado com muita atenção por
Fidler (1997), Bardoel (2002), Deuze (2006), Salaverría (2010) e outros, destaca-se a
questão das várias transformações que estão a ocorrer no jornalismo, transformações
que propõe novas modalidades de produção e distribuição de conteúdos.
Numa altura em que as regras internacionais ditadas pela União Internacional das Tele-
comunicação (ITU) impõe a transição da rádio e da televisão para o sinal digital, o sec-
tor dos media moçambicano foi apanhado de surpresa. Primeiro, há falta de uma estra-
tégia de implementação; segundo, o despreparo do governo em elaborar política pública
que regule o mercado digital; terceiro, há falta do conhecimento exato sobre a transmis-
são digital e, por últimos, há falta de clareza das implicações sociais, em termos de cus-
tos para o cidadão.
Algumas infraestruturas básicas para a transição tecnológica para o digital já estão im-
plantadas. A fibra ótica das Telecomunicações de Moçambique já completou um impor-
tante ciclo de expansão em todas as províncias em Maio de 2009. Os trabalhos da cons-
trução da rede nacional de transmissão começaram em 2000, quando se fez pela primei-
ra vez a ligação entre duas principais cidades do país (Maputo e Beira) através de um
153
cabo submarino de fibra ótica, com pontos de amarração ao longo de cidades e vilas.
Sucessivamente, a rede foi alcançando as diferentes províncias, ao longo dos nove anos
da sua construção. (Mário, 2009).
Com a conclusão da instalação da fibra ótica, significa que ficam asseguradas as condi-
ções para garantir a transmissão de dados, Internet rápida de banda larga, sinal de rádio
e televisão em tempo real, voz, transmissão de dados financeiros e outros serviços base-
ados na computação de pacotes, telefonia fixa e telefonia móvel, entre outros serviços
de vital importância para as comunicações
Deste modo, Moçambique sai do ranking dos países com a taxa mais baixa de cobertu-
ras de Internet em África, apesar de ter sido o terceiro país do continente a aderir ao uso
dessas tecnologias de informação e comunicação. No início, de acordo com o relatório
de Inclusão Digital em Moçambique: Um Desafio para Todos, Maputo tinha uma co-
bertura de 100 por cento de serviços de Internet, seguido pela província do mesmo no-
me, com uma cobertura de 37,7 por cento. As restantes províncias mostravam uma co-
bertura abaixo desta média. Fora das instituições públicas e privadas com redes de In-
ternet, existem cerca de 14.000 subscritores de vários provedores do país, dos quais cer-
ca de metade são indivíduos particulares e os restantes são pequenas empresas.
154
Ronning (2008) remete-nos para uma reflexão sobre como o sector dos media irá transi-
tar para a era digital face à pobreza das infraestruturas de telecomunicações.
Diz o autor que o mercado destes jornais era bastante reduzido, pois era distribuído so-
bretudo nas embaixadas, organizações Não-Governamentais, empresas e instituições do
Estado, gestores seniores das empresas públicas e outros profissionais. A condição es-
sencial para receber os jornais é ter um aparelho de fax ou conta de correio eletrónico
(e-mail), e poder pagar uma quantia que varia entre 20 a 60 dólares norte-americanos
por mês (Zamith, 1999: 3).
Pequenos jornais por fax, como Tribuna Fax, Vertical, Media Fax, Correio da Manha,
Diário do Pais, Diário de Noticias, Pungue, Ponto Zero, Expresso, Canal de Moçambi-
que, Diário Independente, Diário da Zambézia, Wampula Fax e outros, têm uma circu-
lação que ronda entre 500 a 600 exemplares. Porém, a dificuldade em controlar a sua
reprodução e reencaminhamento eletrónico tem prejudicado em grande medida as em-
presas jornalísticas que os produzem.
Apesar da proliferação de jornais via fax, a falta de preparação dos seus profissionais e
das dificuldades técnicas de produção, estes jornais trouxeram uma nova forma de fazer
o jornalismo em Moçambique, que contrariava o modelo de jornalismo praticado nos
órgãos controlados pelo poder político instituído.
155
À ambição de crescimento, liderança do mercado da imprensa escrita nacional, presta-
ção de melhor serviço aos moçambicanos na diáspora, alternativa moderna para os
nossos anunciantes internos e externos. Desta forma, o Notícias contribui na divulga-
ção, no mundo, das realizações do país nos diversos domínios da vida política, econó-
mica, cultural e social. (Conselho de Administração, 2006).
156
Savana On-line, www.savana.co.mz, antes iniciou com o conceito de “Pay Per
View”, (pagar para ver), mas `a falta de adesão ao modelo, o Savana On-line de-
cidiu abrir os seus conteúdos para leitura livre. Este jornal é mantido por uma
equipa de informáticos externa a empresa, sem nenhuma experiência em jorna-
lismo.
Jornal @ Verdade http://www.verdade.co.mz/. Este começou por ser um jornal
em formato de papel de distribuição gratuita. Foi lançado no dia 27 de Agosto de
2008, mais tarde marcou presença na Internet com conteúdos autónomos
Diário de Moçambique, www.diariomoz.com. Um dos jornais mais antigos de
Moçambique. Fundado na década 60, na cidade da Beira. No seu início desem-
penhou o papel político e revolucionário, sob o impulso do Bispo da Beira Dom
Soares de Resende, depois passou para a gestão do Banco Nacional Ultramarino
até 1975. Atualmente pertence a Sociedade Comercial de Notícias da Beira.
Em síntese, a migração de alguns jornais moçambicanos para Internet tem sido feita
com muitas dificuldades. A primeira dificuldade está associada ao aspeto técnico de
produção, ou seja, a largura da banda e adaptação de textos jornalístico ao novo meio;
segunda está relacionada com os recursos financeiros para arcar com as despesas de
manutenção e a terceira tem a ver com a mudança do perfil do jornalista para o novo
modelo de jornalismo.
157
3.11. Os Blogs moçambicanos: primeiras plataformas de formação de opinião
Macedo et al (2010) afirmam que existe uma correlação entre os países que avançaram
rapidamente para a Sociedade de Informação e a quantidade de conteúdos disponibili-
zados na Internet, no caso particular dos blogs.
Ao nível mais pessoal, a visão de Macedo (2010) sobre os blogs é muito reduzida tendo
em conta que eles vão muito além da função de participação na sociedade de informa-
ção. Os blogs além de melhorarem as capacidades de escrita, autoconhecimento, espírito
crítico e reputação, permitem desenvolver o espírito de pertença e melhorar a comuni-
cação interna em qualquer organização, inclusive a jornalística.
No contexto organizacional, Blood (2001: 47) afirma que “as empresas que consigam
divulgar internamente a informação pertinente, de forma eficiente, terão provavelmente
empregados informados e a trabalhar rumo aos mesmos objetivos”. Esta afirmação su-
gere-nos que a comunicação integrada, ou seja, aquela usa inclusivamente blog como
ferramenta de comunicação, funciona como meio de coesão interna e de transparência
organizacional.
Agregação dos blogs à página web do jornal tem a vantagem de “ construir a sua pre-
sença na comunidade” dos leitores, colhendo as suas opiniões, participando em eventos
organizados pela comunidade fidelizada de leitores, estratégia que pode permitir o co-
nhecimento do perfil dos usuários bem como estabelece ligações entre o usuário e a
organização jornalística.
Moran (2012) alarga as vantagens da agregação dos blogs aos media digitais para três
vantagens competitivas:
158
ii) Permite aos jornalistas produzir conteúdos para outras publicações, o que fa-
cilita a criação de uma grande rede colaborativa;
iii) Ajudam a construir a reputação, ou seja, os usuários obtém notícias das mais
variadas fontes e um jornalista que se move em diversos meios construirá facil-
mente uma reputação.
A aparição dos blogs moçambicanos é desconhecida, mas, pensa-se que terá sido por
volta de 2004/5. Nos últimos 5 anos os blogs publicados por moçambicanos não param
de aumentar e abordam uma multiplicidade de assuntos. (Vánia, 2010).
O universo dos blogues não é conhecido na sua totalidade, visto que estão constante-
mente a surgir novas páginas deste género, enquanto outras encerram a sua atividade
por falta de atualização. Pode-se afirmar, contudo, que o perfil dos utilizadores inclui
professores de diversos níveis de escolaridade, jornalistas e estudantes. Nota-se ainda a
participação de gestores, advogados e arquitetos no seio da blogosfera, pelo que se con-
clui que os adeptos dos blogs se dedicam a profissões liberais.
De acordo com o estudo levado a cabo pela antropóloga moçambicana Vánia (2010), os
blogs moçambicanos, em geral, são utilizados como um meio de expressão de desabafos
de ideias e desencantos. De entre os 180 blogs por ela analisados, concluiu que existem
11 categorias, conforme se apresenta na tabela nº6:
159
Tabela nº6: Temáticas de blogs moçambicanos
Categoria Número
Opinião 38
Pessoais 41
Olhar Moçambique 12
Especializados 19
Música 11
Artes 15
Poesia 13
Desporto 5
Paisagens 3
Repouso 16
Eróticos 7
Total 180
De acordo com Vánia (2010) existe uma multiplicidade de blogs que aborda assuntos
dos mais variados tipos. A maioria dos blogs registados no agregador de notícias per-
tence a singulares e muitos deles descontinuados, por falta de manutenção. Porém, exis-
tem blogs que não se enquadram em nenhuma das categorias acima indicadas, mas por
outro lado oscilam entre uma ou mais categorias.
Dessas categorias mencionadas, existem bloguistas que não são moçambicanos, mas
escrevem sobre Moçambique. Estes são produzidos na diáspora moçambicana, que
mesmo estando fora do país procuram abordar assuntos relacionados à terra de origem.
A presença de blogs nas páginas Web de jornalismo quase que é comum em muitos jor-
nais do mundo. Folleto (2009) afirma que a aproximação do blog ao campo do jorna-
lismo tem como o “ marco inicial 2001”, no atentado terrorista as Torres Gémeas dos
EUA no dia 11 de Setembro 2001. Nesse período, os blogs passaram a ter maior visibi-
lidade e fonte de informação para o público. Deste modo passaram a ser vistos como um
aliado ao jornalismo. (Folleto, 2009:1999).
No estudo de caso intitulado “Big Media” meets de “Bloggers” levado a cabo pelo
Kannedy School of Governament, em 2004, revelou que o recurso aos blogs pelos gran-
des media para obtenção de informação tem sido recorrente. No entender Folleto,
(2009), este recurso deve-se à escassez de informação e de representação imediata dos
órgãos oficiais de comunicação nos locais de acidentes. Um papel que é assumido por
alguns bloguistas locais, fazendo relatos mais localizados muito antes dos media tradi-
cionais.
Rosen (2008) reconhece que os blogs, apesar de ainda serem um universo muito peque-
no e não constituírem uma ameaça real para os meios de comunicação. Os blogs evoluí-
ram bastante nos últimos tempos a ponto de se transformarem em ferramentas de comu-
nicação. Alguns já incluem fotografias, vídeos e inclusive anúncios publicitários, tal
como os media digitais.
Outro exemplo do papel de blog como fonte de notícias foi na guerra do Iraque, em
Março de 2003, e que apareceram muitos blogs a relatarem o que estava acontecer no
dia-a-dia da guerra. A partir daquela altura, os blogs com informações jornalísticas pas-
saram a configurar como fonte de informação no jornalismo digital. (Folleto; 2009).
161
ais e ainda outros vislumbravam o fim da “ soberania do jornalismo”. (Folleto,
2009:200).
Enquanto as vozes críticas baixam de tom, hoje em dia, o blog aparece como o aliado de
jornalismo digital na formação de opinião e na análise dos factos noticiosos. Os grandes
portais de notícias passaram a incorporar os blogs dos seus comentaristas mais influen-
tes, porque vê-os como meios que permitem esmiuçar os factos e desenvolver uma am-
pla visão analítica, o que uma peça noticiosa não poderia fazê-lo pelas questões de limi-
tações temporais e espaciais.
Além disso, os blogs têm a vantagem de criar aquilo que se designa de Backlist, que são
links presentes nos blogs que direcionam os seus visitantes para uma página de notícias
de referência. Backlists tem a vantagem de conduzir o tráfico de visitantes para o site de
referência, melhora o ranking dos sites nos motores de busca e dão credibilidade ao link
direcionado, etc. (Folleto, 2009).
Portanto, os blogs são resultados da massificação das tecnologias sociais mas também
de uma reclamação da sociedade de mais informação, o que os media tradicionais não
conseguiam responder essas demandas. De tal sorte que a fórmula de sobrevivência
encontrada pelos media foi a articulação dos dois meios de informação sem perder a sua
credibilidade.
162
3.12. Presença dos moçambicanos nas Redes Sociais
O perfil de usuários, de acordo com Socialbakers (2012), 66 por centos dos usuários do
Facebook são do sexo masculino, a maior parte dos quais situa-se na fasquia de 18-24
anos de idade
Em termos de distribuição por sexo, 69.por cento são do sexo masculino e 31 por cento
são mulheres, conforme nos ilusta a figura nº6 que se segue:
163
Gráfico nº 4: Uso do Facebook por idade e sexo
Para encerrar este capítulo, quatro aspetos saltam à vista para as considerações finais
deste quadro histórico do jornalismo moçambicano: i) a imprensa no período colonial;
ii) a ideologização dos jornais depois da independência, iii) o pluralismo mediático im-
plantado depois da nova Constituição da República de 1990 e; iv) a mudança para o
jornalismo digital.
A imprensa colonial relatada por Rocha (2000) está repleta de jornais criados em Mo-
çambique. Muitos desses jornais eram privados ou criados por grupos de interesses eco-
nómicos, exceto o Diário do Governo que era da propriedade do Estado.
Já Aranha (1885) tinha observado que a maioria dos jornais privados criados em Mo-
çambique tinha uma linha editorial política, apesar de alguns pertencerem ao regime de
164
propriedade católica, de operário ou mesmo cultural. E é nisto que se explicam os cons-
tantes atritos com o regime colonial
Hohlfeldt (2008) e Capela (2010) são mais cautelosos em afirmar que os jornais coloni-
ais eram políticos. O certo é que os dois autores acreditam que os jornais moçambicanos
no período colonial estavam mais para servirem os interesses de consumo da comunida-
de portuguesa residente em Moçambique.
A mudança para o jornalismo digital ocorre pela primeira vez no Jornal Notícias, um
dos órgãos participados pelo Estado, enquanto o setor privado demorou longos anos
para transitar para o digital. Neste processo de mudança não se tinha ideia bem clara do
jornalismo digital. Entendia-se que era apenas a transposição do texto em jornal de pa-
pel para a Internet. Tenuemente alguns jornais privados foram assumindo e incorporan-
do os elementos caraterísticos do jornalismo digital nas suas páginas Web, criando deste
modo o diferencial com jornais estatais como o Notícias, Domingo e Desafio.
165
166
CAPÍTULO IV:QUADRO TEÓRICO E CONCEITUAL DO JORNALISMO DIGITAL
O quadro teórico é um sistema lógico que organiza e explica os factos, enquanto a con-
ceitualização providencia uma definição clara dos termos e determina se a investigação
será compreensível e coerente (Reinard,2008: 99). A conceptualização permite tirar
dúvidas e ambiguidade quer sobre os termos empregues quer sobre as respetivas defini-
ções.
A tese baseia-se nos conceitos usados no mundo do jornalismo digital, discutidos e es-
clarecidos por vários autores de que serão referenciados mais adiantes.
Sendo assim, o quadro teórico e conceitual ajuda, de certa forma, a responder a pergun-
ta que guia o trabalho: Quais são as grandes reflexões académicas em torno do jornalis-
mo digital? Para responder a pergunta são convocadas diferentes correntes de pensa-
mento e autores do jornalismo digital, no qual se definem os conceitos e os posiciona-
mentos sobre o assunto em questão.
A literatura em torno do jornalismo digital deixa clara que este modelo de jornalismo é
uma realidade incontornável. Embora muitas redações vivam uma fase híbrida, ou seja,
o modelo analógico e digital, outras estão em processo de mudança radical quer a nível
tecnológico quer no perfil profissional.
167
No início, as discussões de mudanças dos media e do jornalismo para o ambiente digital
pareciam obras de ficção científica. Nem todos os teóricos, sobretudo os da área social,
encaravam o fenómeno digital como uma obra de criação laboratorial. Eles acreditavam
que se tratava de um fenómeno impulsionado pelas mudanças sociais, políticas e tecno-
lógicas.
Face ao fenómeno transformacional dos media, já nos meados dos anos 90 massifica-se
a literatura académica em torno do jornalismo digital. (Deuze, 2006:17).
Embora haja uma grande euforia em torno do jornalismo digital e o seu impacto nos
diversos setores da sociedade, o jornalismo digital continua a levantar receios quanto à
sua rentabilidade como negócio. Eles reconhecem as fragilidades de negócio de produ-
tos noticiosos pela Internet e lançam algumas estratégias de desenvolvimento a partir da
publicidade paga e da venda conteúdos, aquilo que se designa de pay-per-view.
Analisando cada um dos modelos de negócios propostos, o primeiro não cobre total-
mente os custos, porque os anunciantes ainda não tem confiança suficiente pela publici-
168
dade feita na Internet. O segundo modelo tem provocado problema, pois a sociedade
entende que o jornalismo digital torna grátis o consumo dos seus conteúdos.
Deuze (2006) volta a apontar uma outra perspetiva de investigação, a teórica. De acordo
com o autor, o modelo teórico discute as relações entre o jornalismo tradicional e o digi-
tal. A abordagem neste assunto tende a colocar tónicas na questão técnica de produção e
distribuição de conteúdos. Deste modo, abre-se um novo campo de investigação do jor-
nalismo digital: o jornalismo colaborativo ou do cidadão, que é impulsionado pela inte-
ratividade e Redes Sociais da internet. (Deuze, 2006: 20).
169
De facto as diferentes perspetivas de estudo do fenómeno digital no jornalismo apresen-
tam diferentes abordagens, o que nos induz a concluir que o jornalismo digital enquanto
fenómeno em processo, pressupõe teorias e perspetivas de abordagens contraditórias.
No Brasil, o início de pesquisa sobre o jornalismo remonta o ano de 1996, altura em que
dois investigadores, da Universidade de Bahia, Marcos Palacio e Elias Machado, publi-
caram o livro conjunto intitulado Manual de Jornalismo na Internet. No mesmo ano,
investigadores da Universidade do País Basco, Espanha, concretamente Koldo Meso e
Javier Dias Noci publicaram uma obra semelhante intitulada El periodismo eletrónico.
Información y Servicios en la era de ciberespacio .
A rede de pesquisa criada pelos investigadores dos dois países converge na metodologia
de pesquisa sobre o novo jornalismo e busca harmonizar a linguagem usada para des-
crever o fenómeno, mas os conceitos aplicados para o novo fenómeno ainda apresentam
divergência entre vários autores como veremos mais adiante.
As redes de pesquisa não se reduzem apenas entre Brasil e Espanha. Noutros pontos do
mundo cemeçam a surgir grupos de interesse em torno da investigação do jornalismo
digital, de forma conjunta ou individual.
Na atualidade, a palavra “paradigma” tem sido empregue com frequência nas mais di-
versas áreas de estudo: economia, educação, política, religião, etc. Ela foi cunhada pelo
físico Thomas Kuhn, nos finais da década 60, para mostrar ao mundo científico as leis,
teorias e modelos aceites tacitamente pela prática científica. São modelos que podem
sofrer mudanças.
170
ra ou à continuidade. Tal ruptura ou continuidade vai resultar em novos valores e teorias
do jornalismo, uma espécie de tese/antítese.
Serra (2007) afirma que o conceito de paradigma já foi objecto de crítica na década 60,
pelo facto de apresentar significados diferentes ao longo da obra de Tomás Kuhn, mas
não deixa de ter um valor inegável e explicativo no âmbito da epistemologia. O autor
conclui que as Ciências de Comunicação fazem parte do rol das ciências multiparadig-
máticas. (Serra, 2007: 41-44).
Cada um desses paradigmas relatados por McQuail (2003) permite dar uma visão geral
das etapas históricas de mudança do jornalismo. Em seguida fornecem-nos a luz neces-
sária para analisar ao atual paradigma, ainda em transição.
a) Meados do século XIX até aos anos 20 do século XX, período segundo o qual
apareceram os primeiros sinais de estudos de comunicação levados a cabo por
estudiosos como Auguste Comte, Emille Durkheim, Gabriel Tarde, Le Bon, Ge-
org Simmel e Max Weber estudam as transformações provocadas pela Revolu-
ção Industrial e as consequências direta nas formas de comunicação interpessoal
e mediatizada. Nesse grupo destaca-se Max Weber que iniciou os estudos da “
sociologia de imprensa” que veio dar origem a “ sociologia de comunicação”.
No mesmo período, Serra (2007) aponta o ensaio de Gabriel Tarde, num dos ca-
pítulos da obra intitulado L’Opinion et la Foule, como o marco do início dos es-
171
tudos de comunicação. Mas essas informações criam uma contradição histórica
quando outros autores afirmam que os primeiros estudos de comunicação, em
termos académicos foram na altura da criação do Instituto para o Estudo dos
Jornais (Institut für Zeitungskunde), em Leipzig 1916.
b) Até o início dos anos 60, período em que Serra (2007) considera o de afirma-
ção e consolidação do paradigma dominante. Nessa época encaixa-se a obra de
Harold Laswell Propaganda Techniques in the World War, publicada em 1927,
segundo a qual analisa os efeitos da comunicação de massa sobre os receptores.
Neste período, o autor subdivide em dois outros: o que vai até aos anos 30, do-
minado pela teoria hipodérmica ou de efeitos diretos e ilimitados baseada na teo-
ria behaviorista de estimulo-resposta e da sociedade como massa. O segundo
subperíodo vai dos anos 40 até ao início dos anos 60, correspondente ao estudo
da sociologia funcionalista dos media, no qual estão incorporados os estudos so-
bre as Teorias Matemáticas de Comunicação de Shanonn e Weaver bem como
os estudos psicológicos sobre a dinâmica do grupo e o papel de gatekeeper.
172
d) Dos finais dos anos 80 do século XX até hoje. Período caracterizado pelo plu-
ralismo paradigmático, teórico e metodológico como resultado da contestação e
desconstrução do “paradigma dominante”. De acordo com Serra (2007), trata-se
de um período em que se nota uma tendência de estudos de receção em detri-
mento da produção; da interacção em detrimento de transmissão; de maior aten-
ção aos aspectos políticos, culturais do fenómeno da comunicação.
O autor acima citado apenas apresenta uma parte sistematizada dos estudos do fenóme-
no de comunicação, embora o fenómeno se apresente complexo. McQuail (2003:50)
chama atenção para a existência na história do jornalismo de algumas teorias do tipo
liberal e pluralistas, outras são mais da perspetiva funcionalista, ainda outras defendem
uma transmissão linear de efeitos dos media.
Noci (2008) conta que face aos meios estabelecidos como a rádio, televisão, sobretudo a
imprensa, o jornalismo digital é o que ninguém discute os estatutos históricos e a possi-
bilidade de ser investigado, aplicando sobre ele as metodologias técnicas de historiogra-
fia, por ser o mais jovem meio de comunicação emergente.
O mesmo autor descreve que os primeiros sinais de estudo do jornalismo digital estão
descritos no manual sobre a história de comunicação tanto em Espanha como no Brasil.
O referido manual incorpora capítulos sobre os meios digitais. O mesmo autor refere
que já em 2004 havia questionamentos sobre as metodologias de investigação em Jorna-
lismo digital e aponta a Bitolas Jankowski e Martine Vaz Selm como sendo os pioneiros
que abordam a questão de investigação sobre as Redes se são outras formas de investi-
gação em ciências sociais ou requerem métodos específicos de estudo.
173
diferentes em cada paradigma de comunicação. As metodologias para tal devem ser
diferenciadas ou combinadas para não se incorrer ao risco de interpretações erradas.
Em termos históricos, os autores como Larequi et al. (2000); Armanãnzas et al, (1996);
Nora (1995); Rost (2006) e Albornoz (2007) são unânimes em afirmar que o jornalismo
digital tem a sua origem nos finais dos anos 80 e início de 90, nos Estados Unidos da
América, EUA. Para eles, as condições criadas pelo desenvolvimento das novas tecno-
logias de comunicação e informação facilitaram o aparecimento do novo modelo de
jornalismo.
Gonzaléz (2008) vai mais ao fundo e associa a aparição do jornalismo digital a conver-
gência de duas tecnologias fundamentais: a informática e as telecomunicações. Tal con-
vergência possibilitou a conexão dos computadores numa vasta rede mundial de comu-
nicação.
Larequi et al. (2000:25) consideram que a partir de 1993, a data do ponto de partida
para o estudo do jornalismo digital. Os autores são unânimes em afirmarem que nesta
época começaram a aparecer as primeiras publicações exclusivamente digitais, o que
tornava visível o maior fluxo de conteúdos por duas vias: a mais simples (vídeos jogos,
serviços complementares) e a mais atrativa (o uso de hipertextos).
174
A profecia de Gates (1995) vai, posteriormente, levantar uma série de estudos em torno
do impacto que as novas tecnologias iriam provocar nas sociedades, nas famílias e nas
organizações, inclusive na área de jornalismo. Na mesma linha de pensamento, Fu-
kuyama (2000) já afirmava que “as pessoas irão se associar em massa na era da infor-
mação”, os professores de administração de empresas, consultores de gestão e gurus de
tecnologias exaltam a entrada da nova forma de organização baseada em Rede, (Fu-
kuyama, 2000: 288).
De acordo com Canavilhas (2008), os teórico como Bardoel & Deuze, (2001); Díaz
Noci, (2001); Hall (2001); Salaverria (2005) foram notando que a medida que o jorna-
lismo digital evoluía incorporava características diferenciais, nomeadamente, hipertex-
tos, multimédia, interativos, memória, etc., (Canavilhas, 2008:153).
175
No estudo específico das características do jornalismo digital existem uma imensidão de
pesquisas. Apesar deste avanço, este campo de estudo traz sempre novos conceitos e
novos elementos que se acrescentam às características do jornalismo digital ou naquilo
que Zamith (2008) apelida de “potencialidades” do jornalismo digital. (Zamith,
2008:26-27).
Já nos últimos anos apareceu um novo foco de estudo, a produção de conteúdos digitais.
Trata-se de uma abordagem de estudos técnicos ou de uma tentativa que busca explorar
convenientemente as características da Internet, sobretudo, a linguagem jornalística,
novos géneros jornalísticos, recursos técnicos, processo de produção e distribuição, etc.
Guillermo Franco apresenta um manual de como escrever para a Web - Elementos para
a discussão e construção de manuais para redações online, propõe uma padronização
da escrita webjornalismo, etc. Todos estes autores constituem o manancial para propor
um modelo de produção de jornalismo online e a normalização dos conteúdos e das téc-
nicas.
Deuze (2006) acrescenta que existem outros estudos feitos em torno dos novos media,
sobretudo em torno da questão do género jornalístico e práticas emergentes no jornalis-
mo online, tais estudos, segundo o autor, foram feitos por teóricos como: Singer (1998)
sobre a função da moldagem e manutenção da comunidade; Paul & Fiebich (2002) so-
bre os elementos digitais da narração jornalística; Deuze & Diamond (2002) que trata-
ram da questão de produção e distribuição de conteúdos noticiosos. (Deuze, 2006: 20-
21).
176
Com base na sistematização indicada pelo Guri (2005) realmente alguns pesquisadores
como Castells (2001); Habermas (1979); Mattelart (1993) Worton (2000), Gates (1995),
Negroponte (1995) e outros articulam os seus estudos na corrente da Internet e seu im-
pacto social e organizacional, incluindo sobre os media.
Na segunda corrente enquadra os estudiosos dos próprios media digitais. Àqueles que se
dedicam a estudar a dinâmica e funcionamento dos medias digitais destacam-se: Guri
(2005), Armañaza (1996), Noci & Armentia (2000), Cabrera (2000) e outros de origem
espanhola.
Ainda que o jornalismo digital seja um fenómeno relativamente recente, Pavlik (2000)
na sua obra intitulada The Impact of Technology on Journalism faz um relato evolutivo
do fenómeno. Para este pesquisador, a primeira fase correspondia à transposição pura e
simples do texto impresso para o ambiente virtual. A diagramação é praticamente a
mesma dos jornais expostos nas bancas. Na segunda fase, embora se continue seguindo
os padrões de texto tradicional, alguns outros recursos são adicionados como o aperfei-
çoamento e desenvolvimento da estrutura técnica da rede e uso de recursos e caracterís-
ticas oferecidas pela Internet.
Como em qualquer classificação histórica dessa ordem cabe aqui uma ressalva, que nem
todos os meios de comunicação que dispõem de redação digital passaram por essas três
fases. Alguns deles ainda estão atrelados as características da primeira ou da segunda
177
fase, outros, a separação entre uma geração e outra não é clara, com elementos de duas
ou mesmo das três fases presentes em simultâneo em um único veículo e ainda autóno-
mas, ou seja, que nasceram e cresceram dentro do meio digital.
Alves (2006) avaliando os primeiros dez anos do jornalismo digital desde 1990 até 2000
relata que o jornalismo em vez de encarar a Web como um novo meio com característi-
cas próprias assumiram-na como uma nova ferramenta de distribuição de conteúdos,
originalmente produzidos em outros formatos, ou ainda, viam a Web como uma exten-
são ou complemento do produto tradicional. Por isso, a primeira década de jornalismo
digital foi caracterizada pelo “pecado original” de transferência de conteúdos de um
meio tradicional para outro novo com pouca ou nenhuma adaptação. (Alves, 2006: 93).
Foi deste modo que o jornalismo digital tomou corpo, não como um meio totalmente
novo de produção jornalística, mas como uma inovação dos media já existentes, acres-
cido de características próprias e inovadoras, possibilitadas pelos recursos técnicos da
rede. E é a partir deste tipo de pressuposto retórico que crescem os discursos da “ morte
do jornal”.
Alves (2006: 95) afirma ainda que no seio das grandes transformações provocadas pelo
meio digital, vozes proféticas já anunciam a crise do jornalismo tradicional provocada
pela tecnologia que, consequentemente, provocou “a morte dos meios tradicionais que
não tinham a capacidade ou não sabiam se adaptar ao novo ambiente mediático em ges-
tação”. Na mesma reflexão o autor fala do “mediacídio”, uma ideia que faz oposição ao
conceito de Mediamorfose de Fidler (1997). Mediacidio, segundo o autor, refere-se a
morte da profissão de jornalismo, porque não consegue se adaptar a nova realidade, bem
como de empresas de comunicação incapazes de mudar as suas formas de negócio e as
suas linguagens.
Pelos vistos, o jornalismo transladou-se para o meio eletrónico integrando os seus pro-
cessos de trabalho da redacção: produção, tratamento e distribuição de conteúdos, bem
178
como moldou o perfil dos seus profissionais. Foi deste modo que as empresas jornalísti-
cas se converteram em verdadeiros meios digitais, apropriando-se das novas tecnologias
de comunicação oferecidas pela rede de Internet.
Larequi et al. (2000), Vivar, & Arruti. (2001), Quadros (2002) e Rost (2006) apresen-
tam exemplos de jornais como Wall Street, os grupos Knight Ridder, Gannett, Times
Mirror, Hearst, Washington post e outros como WSJ e San Francisco Chronicle e o San
Francisco Examiner que estão entre os mais progressistas no avanço para a era digital.
Larequi et al. (2000) e Albornoz (2007) situam o ano de 1993 como o início do jorna-
lismo digital, enquanto Quadros (2002) e Nora (1995) situam o seu começo no espaço
temporal entre 1995-1996, precisamente com a divulgação das primeiras notícias em
formato digital.
Em 1995 mais de 120 diários americanos já tinham avançado para o digital. E para con-
correr com as empresas das telecomunicações e outras empresas de produção cultural,
123 diários agruparam-se numa estrutura cooperativa designada, New Century Network.
(Nora, 1995: 40).
De acordo com Nora (1995), a mesma vaga de adesão aos meios digitais começou a
atingir os prestigiados semanários como o Jornal Times, da revista Wired, National Ge-
ographic e Scientific American, The New Republic e outras. Três anos depois da corrida
ao digital, Mercury Center registou 25.000 horas acumuladas de consulta por mês, o
que dava ao jornal pequenos crescimentos das suas receitas. (Nora, 1995: 40). Seja co-
mo for, é consensual entre os pesquisadores, que a década de 90 ficou como o marco
paradigmático de jornalismo digital. De acordo com Larequi et al. (2000: 25), Vivar, &
Arruti (2001:135), o elemento curioso destes jornais digitais foi a ampliação dos conte-
údos em dois aspectos: os jogos e o uso de hipertexto.
179
Para sistematizar a história do jornalismo digital Rost (2006) descreve quatro etapas do
seu desenvolvimento:
O autor acima citado explica que estas quatro etapas não são taxativas, mas constituem
uma categorização com objetivo de análise, pois há casos de jornais que passaram por
todas as etapas enquanto outros saltaram de uma etapa para outra.
O Gráfico nº5 que se segue mostra a distribuição estatística da presença dos jornais na
Internet.
180
Gráfico nº5: Presença de jornais na Internet por continente
Os dados numéricos colhidos em 1997 pela Gonzaléz (2008) davam conta da existência
de 1611 jornais digitais, este número ficou superado em 2008 quando novos dados esta-
tísticos apontavam para um pouco mais de 8000 edições digitais.
Como se pode notar que há uma crescente expansão dos jornais digitais na Internet e
proporcionalmente vai crescendo o número de internautas, que na atualidade já supera
as percentagens acima indicadas. Um aumento também reconhecido por Canavilhas
(2006), que vê o sucesso do crescimento associado ao ritmo de crescimento da Banda
Larga e dos serviços de telecomunicações.
11
De acordo com Canavilhas (2006), a Taxa de penetração é calculada pela seguinte fórmula: (Número
total de clientes) / (população total)
181
4.2.Crise do jornalismo impresso e a mudança para o digital
Estudos mais recentes revelam a queda vertiginosa da venda de jornais nos EUA e Rei-
no Unido e a tendência de migração das empresas jornalísticas para o sistema digital.
182
Tabela nº 7: Declínio de venda de jornais no Reino Unido (2003-2013)
183
Estes são apenas alguns exemplos da situação dramática do declínio de venda de jornais
em quase todos os países ocidentais ou de economias desenvolvidas. Não é possível
determinar um único fator da queda e do consumo do jornal em papel, mas tudo indica
que o aumento de oferta de jornais digitais e a sua forma de distribuição em dispositivos
móveis está a contribuir para a superação da crise do jornal.
De acordo com a escatologia de Meyer (2007), segundo a qual existe uma diminuição
de leitores de jornais a cada ano que passa, o mesmo prognóstico é reforçado por Hu-
fmann (2009), “as pessoas lêem muito menos jornais do que liam. O número de consu-
midores de jornais diminui e a curva está se inclinando numa velocidade estonteante”.
(Hufmann, 2009:105).
A previsão fatalista de Meyer (2007) prova que o número de leitores vai diminuindo a
cada ano que passa, mas outras interpretações como as de Salaverría (2007) tentam dar
provas contrárias de que diminuição de venda de jornais não vai marcar o fim do jornal
em papel, mas haverá a sua adaptação às novas situações do mercado. Certamente, os
gestores das empresas jornalísticas optarão por se adaptar, aceitar e render-se diante do
fascínio dos media digitais tanto pela sua capacidade de atualização como pela veloci-
dade de distribuição numa escala planetária como já previam as profecias de Marchal
Mcluhanna sua “ aldeia global”.
As profecias sobre o fim do jornal impresso começam a tornar uma realidade pela quan-
tidade de notícias que anunciam o fecho de jornais com publicações em formato de pa-
pel, como o caso do semanário norte-americano Newsweek, do diário espanhol El Pais,
The New York Times, Le Monde e muitos outros jornais.
Mas não seria de todo correto afirmar que o jornal está em crise e irá desaparecer, mas a
abordagem certa seria a adaptação do jornal a uma nova plataforma, ou seja, a sua con-
tinuidade noutros moldes, “ remediação” ou naquilo que Fidalgo (2000) descreve como
uma lógica de substituição:
184
“…Ou até interpenetração de “velhos” e “novos ‘media’”, uma outra lógica se insinuou
na segunda metade da década de 90: a da hipotética substituição de uns por outros, ou
mais especificamente, a eventualidade de a Internet, muito simplesmente, poder acabar
com os “media” tradicionais e com o essencial da actividade jornalística tal como a en-
tendemos hoje”. (Fidalgo: 2000:3).
Tal como Fidalgo (2000), Ibarra (2010) apresenta a solução do problema da crise da
imprensa escrita buscando outros meios alternativos de comunicação “mais democráti-
cos e participativos e desenvolvimento de inovações e novos projectos que incorporem
a cultura digital”. (Ibarra, 2010).
Numa outra perspetiva pode se ler que a crise vivida pelos jornais ocidentais não é uma
consequência direta do avanço das tecnologias, mas resulta da crise financeira que afeta
os seus países.
Por um lado, os defensores do jornalismo digital como por exemplo, Grabowicz (2013)
enumera um conjunto de exemplos de jornais americanos que estão a abandonar o ne-
gócio de jornal em papel para se dedicarem exclusivamente ao digital. Segundo o autor,
esta atitude empresarial visa acompanhar a tendência de consumo dos leitores do que
meramente uma estratégia de negócio.
De acordo com Grabowicz (2013), os jornais digitais são mais interativos que os seus
progenitores impressos; os custos de distribuição são reduzidos sensivelmente na Inter-
net; os artigos e reportagens são complementados com informações adicionais através
de hipertextos, que não teriam espaço nas edições em papel; as notícias são actualizadas
várias vezes durante o dia e consultada instantaneamente por leitores em qualquer lugar
do mundo. Além de todas estas vantagens, há também a possibilidade de base de dados
das edições anteriores, fóruns de discussão abertos ao público, canais de mensagens
instantâneas e em tempo real e muito mais.
Por outro lado os jornais digitais não irão substituir as edições impressas. Mais do que
uma ameaça, eles representam um importante instrumento complementar para as em-
presas jornalísticas. Os jornais impressos irão sobreviver e prosperar no ambiente digi-
tal, porque a interface do jornal possibilita ao leitor visualizar todos os artigos escritos
de forma rápida e eficiente, simplesmente passando as páginas e a visão pode captar
uma grande quantidade de informação num rápido olhar, sejam elas relevantes ou não.
185
Muitas são as justificações para a sobrevivência dos jornais impressos, tendo em conta
que os acontecimentos estão hoje cada vez mais na esfera do jornalismo televisivo e
online, devido à sua natureza de imediatismo. Apesar disto, os jornais continuam a ter a
sua importância na explicação dos factos, na interpretação e na análise dos seus efeitos.
Nora (1995) expressa a sua dúvida se realmente os órgãos digitais serão mais produtivos
relativamente à imprensa. Para o autor, tudo depende da capacidade de cada órgão ab-
sorver “esta nova revolução dos media”. (Nora, 1995: 44).
Tal como os outros autores Garcia & Fariña (2008) associam a crise da imprensa à
acentuada queda do negócio do jornal devido a perda de leitores. De acordo com os au-
tores citados, afirma ainda que a partir da última década do século XX, a crise da im-
prensa tornou-se grave na maioria dos países tendo como principais causas a diminuição
geral de difusão, perda do mercado publicitário, queda acentuada do número de leitores
jovens, diminuição da influência face à rádio e televisão e corte nos custos de produção
e distribuição. (Garcia & Fariña, 2008: 186).
Como se pode notar, a perda do valor do jornal em nada se associa ao advento do jorna-
lismo digital, mas aos fatores de ordem económica e de sustentabilidade do negócio,
contrariamente, as profecias do início da década 90 atribuíam a crise do jornalismo tra-
dicional à presença das novas tecnologias nas redações. Hoje, a teoria está a perder o
186
seu peso dando espaço a teoria da presença da Internet como factor reorganizador do
processo de produção e distribuição dos conteúdos jornalísticos.
Contudo, não existe nenhuma relação de causa efeito entre a massificação das novas
tecnologias e a crise do jornalismo. A análise da crise do jornalismo impresso deve ser
vista na perspetiva de novas tendências económicas e de novos produtos informativos.
A posição de Poster (2000) inspira-se nas teorias críticas da esquerda marxista assumida
por Herbert Marcuse na sua obra “O Homem Unidimensional”, que via no modelo capi-
talista de produção a ausência de actividades emancipadoras da classe operária. Trata-se
de uma crítica a exploração do homem pelo homem como a retratou Jurg Habermas na
sua obra a “ Técnica e Ciência como Ideologia”.
187
Avesso às tecnologias virtuais e as suas consequências directas na sociedade, em toda a
sua transversalidade, Virilio (1999) denuncia os perigos da revolução cibernética. Ele
revolta-se contra aquilo que ele chama de “democracia virtual” e as suas consequências
morais, políticas e culturais. O autor questiona a relação entre a velocidade da era de
informação e o poder. Ele manifesta a sua dúvida se as tecnologias do tempo real pode-
rão contribuir para melhorar a democracia. (Virilio, 1999, 17-39).
Mosco (2005) associa-se a essas profecias tecnológicas, mas prefere abordar a questão
do fim do conceito de tempo e de espaço, bem como o fim das lutas políticas. Para o
autor, quando isto acontecer a comunicação será perfeita. Ele recua na história para des-
crever como é que cada etapa da revolução industrial criava mitos, que era sinais invisí-
veis da atual tecnologia de rede.
Discursos como estes, feitos de teses e antíteses, abrem espaço para análises mais pro-
fundas sobre o fenómeno tecnológico e o seu impacto nas redações, sobretudo, nos seus
aspetos sócio organizacional, profissional, técnico e processo de trabalho.
188
onam os defensores da continuidade, ou seja, a inalteração de práticas jornalísticas e,
por outro, estão os da descontinuidade que defendem a rutura do modelo e prática do
jornalismo para um modelo baseado nas novas tecnologias. (Listen, 2010: 45-46).
O conceito de “mediacídio” cunhado por Alves (2006) faz parte do conjunto das teorias
de descontinuidade do jornalismo. “Mediacídio” inclui a “ morte” dos profissionais de
comunicação que não se adaptam à nova realidade digital. Muitas vezes a inadaptabili-
dade é expressa por meio de resistência à mudança. Nisto, Cantavella (2005) descreve
que existem comportamentos de resistência aos novos conhecimentos e novas práticas
nas redações, onde os mais antigos menosprezam os conhecimentos dos mais novos.
(Alves, 2006: 93).
A palavra “articulação complexa” empregue por Palacios (2003) não é muito esclarece-
dora, pois é vaga e demasiado genérica para quem pretende compreender o estado actual
da relação entre o velho meio e o novo. Barbosa (s/d), na tentativa de explicação do
conceito recorre ao conceito de “remediação” e explica o fenómeno de seguinte modo:
189
…Todas as inovações trazidas pelas novas mídias - cuja característica definidora é a matriz digi-
tal - não ocorrem de maneira divorciada em relação aos meios existentes. Ao contrário, as novas
mídias “remediam”, isto é, melhoram seus predecessores, tanto o jornal, a revista, o rádio, o tele-
fone, a arte, o vídeo, a fotografia, a comunicação face-a-face, os modos de publicar, assim como
a experiência social e o espaço urbano. (Barbosa, s/d).
Na mesma senda de discussão, Bolter & Grusin (1999), os autores da expressão “reme-
diação”, já tinham notado que entre os meios tradicionais e os novos não havia nenhuma
relação contraditória, mas o modelo antigo se revestiam de alguns aspetos com matérias
novas numa base tradicional.
Já Pinto (2004), com vista a obter a percepção dos profissionais portugueses sobre as
mudanças no cenário mediático concluiu que o jornalismo digital constitui uma nova
modalidade que impõe novos desafios. A referida modalidade não apresenta nenhuma
rutura com a forma tradicional de trabalho, mas “ implica mudanças profundas no modo
de praticar o jornalismo”. (Pinto, 2004: 12).
Numa análise mais direcionada para o jornalismo, Bardoel (2002: 501-505) reconhece
as múltiplas vantagens oferecidas pelas tecnologias aplicadas ao jornalismo digital co-
mo, por exemplo, a interatividade, a hipertextualidade, a multimedialidade e a sincroni-
cidade. No entender do autor, estes elementos irão redefinir a forma de fazer o jornalis-
mo, em geral.
190
designa de replacement e a outra defende a novidade, novelty. Em outras palavras, trata-
se de correntes de continuidade e descontinuidade do jornalismo, como o próprio autor
clarifica no seu texto:
O mesmo autor volta a enfatizar que existe uma transição das “indústrias mediáticas
offline para as indústrias criativas online ou integradas”. Neste contexto, o autor preten-
der transmitir a ideia de um processo migratório irreversível para uma plataforma autó-
noma e auto-sustentada. O conceito de “indústria integrada” empregue pelo autor invoca
o processo híbrido entre o modelo de jornalismo analógico e o digital. (Deuze,
2006:15).
Vilches (2003: 43) já notava grandes mudanças nos meios de comunicação social cau-
sadas pela Internet. O autor afirma que “ a era digital encontra a imprensa, o rádio e a
televisão num estado de conservação muito diferente dos modelos clássicos, já que fo-
ram submetidos a contínuas migrações de formatos, géneros e práticas profissionais”. A
afirmação do autor subtende que os meios tradicionais de comunicação não poderão
continuar a manter a individualidade de suportes, géneros e formatos para rádio, im-
prensa e televisão, pois estes já estão sendo integrados em vastas zonas do jornalismo
digital.
Contrariamente, Mitchelstein & Boczkowski (2009) e Chris Paterson, este último, pro-
fessor do Instituto de Estudos de Comunicação da Universidade de Leeds, a questão de
mudanças no jornalismo é um facto. Os autores supracitados preocupam-se com o im-
191
pacto que este irá ter na produção de notícias. Por exemplo, As conclusões dos estudos
de Chris Paterson apresentados no seu livro Making Online News: the Ethnography of
New Media Production, que Chris Paterson editou com David Domingo, mostra que a
euforia e retórica sobre o jornalismo digital têm muitos factores condicionados pelo
jornalismo tradicional. Segundo os autores, as poucas diferenças em que o jornalismo
digital apresenta, relativamente ao analógico, é a imediaticidade.
A tese de Patterson vem confirmar, mais uma vez, as ideias defendidas por Bolter &
Grusin (1999), Fidalgo (2000), Pinto (2004) e Salaverría (2007), segundo as quais o
actual modelo de jornalismo não é nada mais que a continuidade do modelo tradicional.
Ibarra (2010) vai mais longe, nega a relação de causa/efeito entre a crise dos jornais e o
surgimento do jornalismo digital. Para o autor, o que realmente está a provocar as trans-
formações são as mudanças culturais dos usuários, dos cidadãos que querem estar mais
informados de outra forma.
Mas não é tão certo que o papel do editor do jornal digital continuará o mesmo. O perfil
e as funções do gatekepeers irão desaparecer ou serão partilhadas pelos vários produto-
res de conteúdos, neste caso pelos usuários.
192
Estudo levado acaba por Williams (2009) em 79 redacções dos jornais americanos, con-
cluiu que o grosso número de jornalista anseiam uma rápida transformação do analógico
para o digital. Dos 3.800 jornalistas entrevistados 50% afirmavam que a transição está
sendo muito lenta. Assim, fica claro através deste estudo que a era digital é uma reali-
dade desejada pelos profissionais de comunicação pelo valor acrescentado que oferece a
nível profissional e de produção (Williams, 2009:3).
Fidler (1997) estuda as transformações dos media, na sua obra intitulada Mediamorfo-
sis: Understanding New Media e argumenta que os novos medias não surgem do nada e
de forma independentes, mas emergem gradualmente a partir das transformações dos
velhos meios de comunicação.
Entende-se na sua obra que o jornalismo digital apropriou-se das características dos
velhos media para encontrar, posteriormente, a sua própria identidade e sua linguagem
face ao fenómeno da Internet. Para o autor, meios tradicionais não entram em desconti-
nuidade, mas adaptam-se ao novo ambiente e reforçam-se cada vez mais com as poten-
cialidades deste mesmo ambiente, neste caso a Internet.
Segundo Uribe (2006) e reforçado por Fidler (1997), os mesmos processos de mudanças
dos media que moldam os novos media foram essencialmente os mesmos que moldaram
no passado. Portanto, “a transição do analógico para o digital marca o surgimento de
meios digitais que expandem as possibilidades dos meios analógicos tradicionais” e,
como consequência, também o leitor sofre algumas transformações.
O aparecimento do novo leitor nos novos media, não só é uma questão de estudo de
Presky (2001), mas associam-se a ele outros autores ligados a diversas áreas disciplina-
res: literatura, neurologia e media como, por exemplo, Senna (2001), Ribeiro (2006),
Small & Vorgan (2008) e Schroder & Larsen (2010).
193
Sendo o jornalismo digital é uma realidade que veio para ficar, existem muitos receios
das empresas jornalísticas em avançar para o novo modelo de negócio. Entre as razões
justificadas sobressai o receio da fraca rentabilidade que o novo meio comporta e a re-
dução da audiência. (Salaverría, 2010: 242).
Outras razões de peso que impedem a adaptação das empresas jornalísticas para o digi-
tal relacionam-se com a falta de vontade de inovar. Quase que as publicações digitais de
todo o mundo guardam uma certa resistência ao fenómeno de jornalismo. Salaverria
(2010: 243-248) propõe dez medidas de adaptação das produções analógicas para o di-
gital:
Mas a euforia do jornalismo digital é exaltado por muitos autores como, por exemplo,
Bertocchi (2006) que vê neste modelo o transformador dos géneros jornalísticos tradici-
onais como a seguir ela refere:
194
A gramática de comunicação é o hipertexto;
A missão dos meios digitais é dar informação sobre informação (meta-
informação).
Com base nos elementos transformadores dos géneros jornalísticos acima indicados são
criadas as bases para o debate sobre o jornalismo digital e reflexão em torno dos avan-
ços e peripécias que o mesmo vem sofrendo desde meados dos anos 90, sobretudo os
impactos que tem vindo a provocar na vida social, política, profissional, produção e
distribuição de conteúdos, bem como da arquitetura dos conteúdos dentro da plataforma
de distribuição.
McQuail (2003: 122) descobriu os primeiros sinais de rutura quando a audiência assu-
miu um outro comportamento na era digital. O autor torna-se categórico ao afirmar que
“existe fortes possibilidades de mudança em especial na direção de uma maior autono-
mia e igualdade em relação às fontes e fornecedores”. Trata-se, do ponto de vista do
autor, de uma mudança do papel e de funções da audiência, antes passiva, para uma
audiência participativa. Mas apesar da redefinição e caracterização da audiência existem
sinais de continuidade da “audiência de massas” devido ao seu grau de iliteracia.
195
so assumir uma outra postura para analisar como é que a nova audiência se comporta ou
reage aos conteúdos dos novos processos de comunicação mediados pelo computador.
Ruótolo (s/d) afirma que o estudo da audiência não é apenas a medição do seu tamanho
ou composição, “mas as respostas que os indivíduos dão aos conteúdos da comunica-
ção”. Tais respostas, do ponto de vista do autor, são difíceis de analisar porque ocorrem
de forma individual ou isoladas de cada membro da audiência, mas são o fator determi-
nante para o desenvolvimento de produtos digitais.
De acordo com Martinez (2003) para se referir ao novo leitor envolvido em multitare-
fas: telespectador, cibernauta, navegador da Internet, sempre presente em redes sociais
da Internet, apaixonado pelos vídeo jogos, o autor dá o nome de usuário. Ele afirma
ainda que graças à convergência mediática, o usuário pode ser, simultaneamente, leitor,
ouvinte e espectador. É o próprio usuário que decide qualquer que seja a sua participa-
ção no novo meio digital de comunicação.
De acordo com Senna (2001), o novo sujeito que nasceu ou desenvolveu-se dentro das
tecnologias de comunicação começou a sofrer mudanças substantivas ao longo da se-
gunda metade do século passado. Estas transformações resultam do desenvolvimento de
novos recursos tecnológicos e que, consequentemente tiveram impacto sobre os media.
Os novos meios de comunicação, que o autor apelida de “ midias de comunicação pós-
imprensa”, foram apropriados por usuários e transforma-os em seu espaço público de
comunicação.
196
do com os recursos oferecidos pela época em que vive. Ele procura a melhor forma de
satisfazer suas necessidades, avaliando as vantagens que as diferentes empresas ofere-
cem para só então cumprir o seu papel na sociedade. (Alvermann, 2004: 78).
O leitor clássico é um sujeito passivo, ainda que dele se exija a capacidade de estabelecer rela-
ções de causalidade, tanto entre as partes do texto, quanto entre os juízos contidos no texto e ou-
tros de juízos de mundo. Sua passividade resume-se no fato de que não pode intervir no próprio
texto, devendo submeter-se a sua estrutura, à medida que esta está irrecorrigivelmente agregada a
uma sequência causal, determinada internamente, desde o início até o fim. (Senna, 2001:s/p).
Esses novos perfis do usuário derivam das características próprias da Internet, a intera-
tividade. Pela sua natureza dinâmica, a interatividade modifica a clássica relação emis-
sora/recetor, guiada pelo papel ativo do emissor. Na interatividade, o recetor reivindica,
em simultâneo, o papel de emissor e recetor de mensagens e passa a decidir qualquer
que seja a sua participação no meio digital porque a interatividade permite o fluxo de
comunicação repartido por todos os usuários. (Martinez, 2003: 279-280).
A pergunta que se coloca atualmente é: como identificar o novo usuário das tecnologias
de comunicação e informação, dada a sua mobilidade constante? Alves (2008: 606)
acha que a resposta para a pergunta pode ser útil para o estudo de audiência e do merca-
do dos produtos digitais. O autor lança quatro campos de estudos importantes a ter em
conta para a identificação do perfil dos utilizadores da internet:
De acordo com Jenkins (2009), a sua forma de participação cultural se expressa de se-
guintes formas: filiação formal ou informal a uma comunidade através de várias formas
de redes Sociais da Internet; resolução de problemas colaborativos através de trabalhos
de equipas para completar tarefas ou para desenvolver novos conhecimentos e; circula-
ção de informação através de ferramentas proporcionadas pelas tecnologias sociais.
Se existe o receio do jornalismo clássico entrar na era digital, Vivar & Arruti (2001)
asseguram que este novo meio oferece maior oportunidade de fluxo de novas audiências
no ciberespaço e, consequentemente maiores oportunidades de negócio e esclarecem de
seguinte modo:
Para conocer la audiência del mañana, no hay más que observar a las personas que hoy dia se de-
senvuelven por el ciberspacio. El comportamiento de los milliones de internautas que navegan
por el mundo digital es el único referente a la audiência de la información en el futuro. (Vivar
& Arruti, 2001: 149).
Uma vez esclarecido o assunto, cabe aos novos media empreender esforços de descobrir
as suas audiências e utilizar as ferramentas necessárias para a sua fidelização e satisfa-
ção das suas necessidades. Porque o comportamento da nova audiência é bastante exi-
gente quanto à qualidade de conteúdos e de envolvimento no processo de produção.
(Sousa, 2006).
Spa (2001: 139-140) levanta outro problema de declínio da leitura, associado a fuga do
leitor clássico para o ambiente digital. O autor associa a crise de leitura ao surgimento
da televisão e da Internet. Para o autor, a Internet e a televisão são os fatores principais
da degeneração da leitura, sobretudo, a substituição da palavra por imagem.
198
A reflexão de Spa (2001) induz-nos a pensar que os usuários da Internet são leitores
fracassados, que encontram nas imagens a fórmula de acesso à informação e do alcance
de conhecimento de forma relaxada. Mas Rushkoff (1994), Prensky (2001) e Small &
Vorgan (2008), Jenkins (2009) respondem ao problema levantado por Spa (2001) apre-
sentam os conceitos de “Nativos Digitais e os Imigrantes Digitais”, mas Rushkoff
(1994) designa-os de Screenagers, ou seja, aquele que vive na tela.
Na perceção dos autores acima citados, o novo leitor não é nenhum fracassado de leitura
como assim parece, mas são pessoas que devem ser entendidos como indivíduos que
nasceram e se desenvolveram numa cultura mediada por tela, seja ela da televisão ou de
computador.
Rushkoff (1994), Prensky (2001) e Small & Vorgan (2008) são unânimes em afirmar
que existe uma descontinuidade muito grande entre e geração passada e atual, devido à
difusão da tecnologia digital nos finais do século XX. Small & Vorgan (2008), autores
da obra intitulada El Cerebro Digital afirmam que os “nativos digitais” possuem a es-
trutura e o funcionamento cerebral mais desenvolvida para capturar e interpretar a in-
formação, devido à exposição contínua as telas das novas tecnologias.
Small & Vorgan (2008) reconhecem as habilidades desenvolvidas pelos “nativos digi-
tais” para as múltiplas tarefas. Os autores alertam que a demasiada exposição ao ecrã
pelos “ nativos digitais “ pode causar efeitos negativos sobre o seu cérebro e as suas
relações sociais. Para estes autores, isto não significa não usar os recursos digitais dis-
poníveis, mas é preciso preservar a saúde mental. Para tal, os autores propõem uma mo-
deração no usos das tecnologias para reduzir a dependência e exercício para recuperar
as habilidades de comunicação interpessoal e evitar a “fadiga tecnológica”. (Small &
Vorgan, 2008:15-38).
Os “nativos digitais” são o produto das novas tecnologias. Eles são moldados pelos me-
dia digitais onde passam a maior parte do seu tempo a utilizar o computador, a jogar,
199
aceder à Internet, enviar e-mails, a ouvir música digital, a utilizar o telemóvel e a ver
televisão, ou seja, a tecnologia faz parte do seu quotidiano. Contrariamente, os Imigran-
tes Digitais, são pessoas que não nasceram na época digital, mas apenas se habituam e
se adaptam a ela. Prensky salienta a importância das discrepâncias existentes entre os
Imigrantes Digitais e os Nativos Digitais. (Prensky, 2001).
Dos poucos estudos que têm sido realizadas, Vilches (2003) vaticina que haverá o efeito
de contaminação dos países do Norte aos do Sul, aquilo que ele designa de “transforma-
ção que implica a perda de territorialidade de origem e pela emergência de novas ins-
tâncias de mediação na cultura, na educação, nos serviços e no consumo”.
No fundo, a análise de Vilches (2003) volta a tocar na velha questão da Nova Ordem
Mundial de Comunicação e Informação (NOMIC), que condena o fluxo de informação
unilateral dos países ricos para os pobres. As transferências de tecnologias dos países
ricos para os pobres, sem nenhuma inculturação, irão provocar as perdas de identidades
culturais.
200
De acordo com Vilches (2003), existe diferença de oportunidades entre os países do
Norte e os do Sul, em termos de riqueza. Para o autor esta diferença pode ser encarada
como preocupação imediata e fator de diferenciação no processo de desenvolvimento
económico, político e social.
A reflexão de Vilches (2003) não é completa. O autor se esquece que o fosso digital
existe nas nações, regiões, localidades, comunidades, etc. O futuro da sociedade digital
depende, em grande parte, das medidas de equilíbrio culturais, das políticas públicas, da
economia, do mercado e do grau de alfabetização do cidadão. Seja como for, fica claro
neste debate que a Internet trouxe uma nova audiência com natureza e características
próprias. Além disso, a análise permite concluir que a nova audiência encontra na Inter-
net novas gratificações que os meios tradicionais não proporcionavam: interação, redes
de contacto, entretenimento, partilha de informação, comentários, debate, etc.
Da forma como o jornalismo se transforma para um novo cenário mediado pelas tecno-
logias vislumbra-se duas coisas no horizonte próximo: atração de uma nova audiência
constituída na sua maioria por jovens pró-ativos e aproximação à velha audiência passi-
va.
Tal como acontece nas outras organizações empresariais, a mudança das empresas jor-
nalísticas também resulta da combinação de vários factores, designadamente: insatisfa-
ção pelo estado atual, alteração impulsionada pelos factores externos ou ainda por ne-
cessidade planeada de mudança face à mudança do mercado e aos fatores tecnológicos.
201
Na perspetiva geral de Rodrigues (1998) e Canelas (2011) os fatores externos estão as-
sociados à crescente globalização dos sistemas e modelos organizacionais, às tecnolo-
gias, ao novo perfil profissional, às mutações sociais, exemplos comuns que impõe mu-
danças a partir do exterior. Rodrigues (1998) sublinha que existem também fatores in-
ternos que ditam as mudanças, sobretudo os elementos que emperram o bom funciona-
mento organizacional. Subentende-se por elementos internos, por exemplo, a lentidão
dos equipamentos de produção, mão de-obra sem qualificação e a falta de visão.
O certo é que as mudanças poderão ter duas proveniências: do exterior, quando se trata
de fenómeno que pode afectar uma organização ou do interior quando se trata de ques-
tão de planificação. (Rodrigues, 1998: 31).
Esta lógica de mudança é bastante flexível. Ela transmite a ideia de mudança de modelo,
de processo, da tecnologia e do próprio capital humano para um modelo marcado pela
informação e trabalho qualificado.
202
O raciocínio de Rodrigues (1998) pressupõe que as mudanças organizacionais devem
ter como o centro gravitacional o potencial humano como fator de competitividade,
porque este contribui para desenvolver práticas processuais flexíveis e ativos, enquanto
o de foco tecnológico depende da ação humana. Por isso, as organizações devem apos-
tar no perfil humano flexível as mudanças sócio organizacionais, porque não bastam as
tecnologias, também é essencial ter uma equipa de pessoas qualificadas que respondem
às mudanças organizacionais.
203
Pela certeza dos factos, o jornalismo digital está a operar grandes mudanças nas reda-
ções, desde a receção da informação passando pela audiência, fato que difere totalmente
da forma como se consome a informação na imprensa tradicional. Trench e Quinn
(2003) escrevem a este respeito nos seguintes modos:
The information ecology within which news is produced and consumed online is sub-
stantially different from that in print and broadcasting and it continues to change within
the new media. Many of the sources used in journalism are themselves active as direct
publishers. Many individuals within the publics addressed by journalism are active as
information-seekers, some too as information-providers. The ‘audience’ may have ac-
cess to the source material used in generating the news reports published in newspapers,
magazines, and broadcast on television and radio. (Trench e Quinn, 2003: 3).
Face à revolução do digital nas redações os jornais devem reinventar-se na era de co-
municação em rede. A este respeito, Espanha et al (2009) escrevem o seguinte:
Na nova era a chave para o sucesso das empresas do sector estará em saber tornar em
oportunidades as ameaças que emanam deste novo contexto, aproveitando as possibili-
dades decorrentes das novas tecnologias de informação e comunicação para dotar o seu
“produto” de maior qualidade, de forma a atrair cada vez mais os leitores”. (Espanha,
O impacto do jornalismo digital nas redações não deve ser visto apenas como o fenó-
meno que trouxe mudanças no processo de trabalho, mas existem outros impactos
transversais, particularmente as funções específicas dos profissionais de comunicação
como a recolha de informação, processamento e difusão.
O mesmo impacto da Internet é percebido por Torres (2004), Singer (2006), Gomes
(2009) e Franco (2009a) na perspetiva de processo de trabalho nas redações. Segundo os
204
autores, a presença da Internet nas redações oferece uma “multiplicidade de conteúdos e
ferramentas que contribuem decisivamente para a concretização de tarefas e rotinas ine-
rentes à prática jornalística”, além de economizar o tempo e elevar o ritmo produtivo
nas redações. Mas Franco (2009a), além de perceber os benefícios da Internet nas reda-
ções afirma que é o fator de duas grandes mudanças: na dinâmica de construção de notí-
cias ou informação e no exercício profissional. (Gomes, 2009: 58, Torres, 2004:34, e
Franco, 2009 a: 23).
Singer (2006) num estudo exploratório de avaliação das funções do editor do jornal na
Era do jornalismo digital, a autor chegou a conclusão que a figura do editor de jornais
deve ser redefinida no seu papel de gatekeeper. A redefinição deve contemplar aspecto
relativos aos novos conhecimentos e às habilidades baseadas no uso da Internet como
ferramenta de produção de conteúdos para Internet. (Singer, 2006: 275-276).
Com base no exposto, fica claro que a migração dos jornais do analógico para digital irá
dar uma nova roupagem ao jornal tradicional, facilitando, de certa forma a celeridade na
publicação de notícias e maior aproximação ao leitor.
De acordo com Esteruelas (2010: 33), nas últimas décadas, a Internet está a transformar
o mercado para as empresas de comunicação. A tendência deve-se ao aumento do nú-
mero de usuários que consomem os produtos informativos da Internet e ao volume de
negócio que este sector gera. Apesar de o autor apresentar uma visão do modelo de ne-
gócio do futuro para a indústria de comunicação, muitas redacções ainda ignoram as
potencialidades do negócio do novo meio.
205
Nesta abordagem importa focalizar o estudo na dimensão estrutural da inovação, em
termos de autonomia de produção de conteúdos e da nova cultura organizacional criada
pela presença da Internet nas redacções. As outras dimensões são tratadas de forma se-
paradas noutras secções desta tese.
206
consumidor como estar, em simultâneo, a ver televisão, mandar mensagens na Internet,
atender chamadas telefónicas, escutar a música; convergência cultural- tem a ver com
a explosão de novas formas de criatividade e a intersecção de várias tecnologias dos
média, indústrias e consumidores, etc.; e a convergência global- aquela que resulta do
hibridismo cultural, que dá origem a circulação internacional de conteúdo dos media.
(Jenkins, 2001: 93).
Analisada a questão das tendências das empresas jornalística nestes moldes, fica claro
que é possível uma concentração da rádio, televisão e jornais numa única plataforma de
comunicação, onde se pode ler jornais, escutar a rádio, ver televisão e aceder documen-
tos de arquivos, num único dispositivo.
Na sequência das ideias acima explanadas, Cerezo (2009) afirma que no estudo realiza-
do pela empresa de consultoria PriceWatherhouseCooper, em 2009, intitulado Moving
into multiple business, revela que o negócio com meios digitais tem vindo a crescer de
3% a 20% no contexto americano. Nos últimos tempos, segundo o autor, algumas em-
presas de comunicação tradicionais estão a orientar as suas estratégias de negócio mi-
grando totalmente para o ambiente digital e fechando as suas edições de papel. O autor
clarifica que a situação não é igual em todos os países, pois isto só acontece nos países
207
com alto grau de massificação das tecnologias, alto nível de literacia digital dos cida-
dãos e facilidade de acesso à informação.
De acordo com as ideias acima expostas fica claro que as novas formas de produção, de
distribuição e de participação, não só reproduzem os processos clássicos das práticas
jornalísticas como reconfiguram as práticas de produção de conteúdos incorporando um
modelo baseado na colaboração de uma equipa mais alargada, incluindo o usuário no
papel principal. Assim, o editor, o repórter e os usuários desenvolvem uma cultura de
liderança baseada nos princípios de democratização de informação.
208
Ribeiro & Vivar (2011) relatam que as redações dos jornais, das rádios e das televisões
conheceram uma grande revolução, de tal modo que já exploram plenamente as poten-
cialidades da Internet, desde o processo produtivo até a distribuição de conteúdos.
Esteruelas (2010, 34-35) relata que os agentes de mercado forem pessoas físicas ou jurí-
dicas que intervém nas transações económicas, e no caso concreto da informação jorna-
lística da Internet, então, observa-se o aparecimento de três tipos de operadores econó-
micos da informação: a) empresas de comunicação, b) os consumidores-produtores e, c)
os usuários.
209
As empresas jornalísticas nativas do digital apresentam características específicas que as
diferenciam das empresas de natureza analógica. Estas diferenças resultam das poten-
cialidades que o meio digital apresenta (Esteruelas:2010). As empresas de comunicação
nativas do digital apresentam uma configuração jurídica independente relativamente às
empresas off line. Além disso, apresentam diferenças em termos de processo de produ-
ção, organização e modelo de gestão, estrutura de negócio e exploração. (Esteruelas,
2010).
Apesar de haver diferenças em termos operacionais, elas surgiram como extensão das
empresas tradicionais, nasceram no seio das redações analógicas e partilham com elas
os recursos, meios técnicos e humanos, mas quando alcançam uma certa maturidade
tornam-se independentes e passam a funcionar como empresas diferenciadas e unidades
de negócios separadas. (Esteruelas, 2010).
Avilés et al (2009: 177) descreve que a solução encontrada para a integração de reda-
ções, em vários países foi a “transladação” de conteúdos de um meio para outro e a pro-
dução de conteúdos em paralelo para duas plataformas. Esta forma híbrida de produção,
os jornalistas se esforçam em adquirir habilidades adaptativas para cada meio, como por
exemplo captam, tratar e distribuir os textos noticiosos de acordo com as regras exigidas
para cada plataforma de comunicação, que inclui não só a Internet mas também para
telemóveis, PDA12, ipod, smartphones e ipad. Desta maneira, as redações principais
funcionam para abastecer de conteúdos aos outros meios.
12
Em português significa , Assistente Pessoal Digital. É um computador de dimensões reduzidas (cerca de A6), dotado de grande
capacidade computacional, cumprindo as funções de agenda e sistema informático de escritório elementar, com possibilidade de
interconexão com um computador pessoal e uma rede informática sem fios.
210
uma única seção própria. Cada um deles controla uma tela onde observam a elaboração
das páginas do impresso, mas cada suporte é autónomo e organiza-se separadamente.
(Avilés et al, 2009:180).
Acredita-se que a pressão de trabalho numa redação integrada seja maior em relação ao
modelo tradicional. A pressa de actualização constante obriga a um verdadeiro esforço
de permanência contínua na redação ou fora dela, respondendo às demandas dos usuá-
rios.
Outra leitura permite deduzir que a Era digital exige um modelo de redação convergente
que agrupe canais de televisão, rádio, produção multimédia, serviços orientados para
dispositivos móveis, marketing, etc. Estas estratégias dinâmicas permite alcançar gran-
des audiências e grandes resultados, situação que concorre para aumentar as receitas de
empresa.
211
centro diretivo da redação será o elo de ligação que vai manter a coesão e unidade de
resposta as necessidades de informação dos usuários.
Reddic & King (2001), Trenc & Quinn (2003), Singer (2006) e Esteruela (2010) parti-
lham o mesmo sentimento que os processos de trabalho no jornalismo estão em mudan-
ças, graças a presença da Internet. Além do aspeto processual de produção em mudança
existem outras mudanças a nível estrutural, aquelas que Jenkins (2001) designa-as de
convergências.
Junto com os fatores financeiros, económico e técnico, os recursos humanos fazem parte
da realidade empresarial. Ao longo do tempo, os recursos humanos tem revelado gran-
des transformações. (Serrano, 2008: 124). As empresas jornalísticas não constituem
nenhum fenómeno alheio às grandes transformações que ocorrem a nível dos recursos
humanos. Elas estão a redefinir o perfil dos seus profissionais, de acordo com o novo
modelo de jornalismo.
212
A formação orientada para o domínio das tecnologias que permita o domínio de
técnicas de produção eficazes e flexíveis;
Tempo disponível para atualização constante;
Neste contexto, Candelas (2001) recomenda que os jornalistas da era digital dominem
os conhecimentos do ambiente envolvente, saibam selecionar e editar conteúdos bem
como realizar pesquisas nas bases de dados. (Candelas, 2001:200).
Bastos (2006) recomenda que o novo perfil de jornalista deve contemplar novas quali-
dades profissionais, assim escreve:
Actualmente, onde quer que o ciberjornalismo se encontre num estádio de desenvolvimento mais
adiantado, o recrutamento para redações digitais exige ao jornalista o domínio alargado de múl-
tiplas capacidades, bem como a aptidão para trabalhar em ciclos de notícias de atualização per-
manente. Em certos casos, o ciberjornalista terá de redigir notícias, produzir fotografia, áudio e
vídeo, construir páginas web, transpor conteúdos impressos ou audiovisuais para a rede, acres-
centar hiperligações, fornecer interfaces que permitam aos utilizadores o recurso a bases de da-
dos diversas, desenvolver comunidades online, particularmente através de linhas de chat, etc.
(Bastos, 2006: 106)
Lopéz (2005) relata que no início o jornalismo moderno, meados do século XIX até aos
anos 70, do século XX, os jornalistas eram quase os únicos que dominavam as redações.
Mas nos meados dos anos 70, período da informatização das redações, apareceram no-
vas figuras ligadas exclusivamente a redação, isto é, figuras que se dedicavam ao trata-
mento de textos e desapareceram os linotipistas e os corretores e os editores assumiram
as funções de corretores e de edição. (Lopéz, 2005: 316).
213
Duas categorias profissionais assumiam a produção jornalística: os jornalistas propria-
mente ditos e os editores. Uma terceira figura começou a ganhar espaço nas redações, o
técnico da informática.
A configuração da tecnoestrutura nas redações acaba por criar outros problemas. Cada
vez que os técnicos informáticos assumem o papel de jornalistas, eles começam a assu-
mir outras tarefas complexas nas redações como as de edição de imagens, infografias,
etc. Ainda mais tomam a decisão de assegurar a saída do jornal à rua na hora que lhes
apetece. (Lopéz, 2005: 316).
As redações uma vez digitalizadas requerem um novo profissional que saiba utilizar e
aproveita ao máximo os múltiplos recursos tecnológicos. A Internet traz um novo perfil
de funcionário que trabalha e produz informação mediada pelas tecnologias digitais:
hipertextualidade, multimedialidade e interatividade. O novo perfil de jornalista digital é
um intermediário, estruturador e organizador de informação na medida em que, face a
abundância da informação, dá ordem e sentido. Por exemplo, a tarefa de criar e gerir o
fluxo de informação também é da sua competência. (Martinez, 2003: 280-281, Salaver-
ria, 2002: 390-395).
Armanânza et al. (1996) diz que o novo jornalista deve ser capaz de assumir a respon-
sabilidade e funções que antes não eram suas, como por exemplo: correção e produção
de textos, diagramação, acesso às bases de dados de textos e fotos (Armanãnza e tal.
1996: 46).
Nessas mudanças que ocorrem nas empresas de jornalismo chama atenção especial a
reflexão de Bradshaw (2011) que sugere a mudança estrutural de redações. Entende-se
por mudança estrutural de redações a introdução de modelo de redação integrado, que
promove equipas multifacetas de especialistas, que partilha conteúdos e que trabalha
para resultados concretos.
214
O essencial a reter neste debate é que as tecnologias e os modelos económicos das no-
vas empresas jornalísticas estão a moldar uma nova estrutura empresarial baseada na
simplicidade e competitividade, as chamadas empresas de estruturas integradas.
As estruturas integradas de redações como são defendidas por Bradshaw (2011), com-
portam o agrupamento de canais de televisão, rádio, produção multimédia e equipas
multifacetas capazes de produzirem conteúdos de grande impacto social. Elas, pelo pro-
cesso sinergético, podem responder aos problemas de produção e distribuição de conte-
údos para diversos contextos culturais e linguísticos.
Curiosamente, Palacios & Machado (2007) justificam as razões que o levam a evitar o
uso da terminologia online:
215
Salaverría & Noci (2003) equiparam a jornalismo digital e multimédia como tendo o
mesmo significado. Para os dois autores o jornalismo digital diz respeito ao jornalismo
praticado na Internet praticado através do binário zero a um, enquanto o jornalismo mul-
timédia resulta da integração de texto, som e imagem (Salaverría & Noci, 2003: 120).
Deuze (apud Pereira & Jorge, 2004: 4) propõe o uso do conceito de “multimedia logic”
como sendo uma terminologia mais abrangente. Ou seja, um termo que abarca as infra-
estruturas tecnológicas de que dispõe uma organização jornalística e a sua interação
com audiência.
Outros autores usam frequentemente o conceito de Novos Media. Martinez & Alonso
(2003) diz que o conceito está ligado à tecnologia, já que cada desenvolvimento tecno-
lógico propicia a aparição de novos meios. Dai então torna difícil estabelecer uma defi-
nição exacta de jornalismo que engloba as diferentes formas de manifestação comunica-
tiva que surgiram ao longo da história, mas o autor nota que por cada meio define-se por
suas características próprias, ou seja, cada meio está associado a ideia de transmissão de
mensagens ou informação. (Martinez & Alonso 2003: 261-264).
Seja como for o conceito de Novos media aplica-se de diversas formas com maior ou
menor grau de organização que surgem em torno da tecnologia, principalmente com
216
aparição da Internet, sobretudo da informática, das telecomunicações e de audiovisuais.
Para delimitar melhor o conceito, os Novos Media são definidos de acordo com as suas
características principais: interactividade, personalização, instantaneidade, hipertextua-
lidade, universal e inovador. (Martinez & Alonso, 2003: 270-271).
De acordo com Deak (2009) apud Pereira & Jorge (2009:4) existem vários tipos desig-
nações dadas ao jornalismo praticado na Internet, nomeadamente:
Jornalismo digital: qualquer jornalismo que não utilize mais meios analógicos é jorna-
lismo digital, seja vídeo, áudio ou texto.
Jornalismo 2.0: o termo 2.0 surgiu associado à Web 2.0, com vários significados, mas
acabou virando mais ou menos sinónimo de “jornalismo de redes sociais”. Pode ser as-
sociado, portanto, ao jornalismo que utiliza essas redes de alguma maneira, normalmen-
te de modo colaborativo.
Canavilhas (2007) e Zamith (2008) estabelecem uma relação entre o uso dos termos e os
respetivos autores, por exemplo, a designação de jornalismo Online é mais usada nos
países anglo-saxónicos e tem sido usada por Wolk (2001), Hall (2001); Ward (2002);
jornalismo electrónico é usado por Bastos (2000), Noci (2001); jornalismo digital por
Machado & Palacios (2003), Barbosa (2005); Jornalismo multimédia por Marcos
217
(2000), Deuze (2004); jornalismo cibernético por Mendes & Gil (2001); ciberjornalis-
mo por Salaverría (2005), Valcarce & Marcos (2004) e por revistas científicas prestigi-
adas como On-line journalism Review. Enquanto Deuze (2004) utiliza a mesma expres-
são, mas no plural, online journalisms. Enfim, trata-se de uma infinidade de definições
que nunca chegam a ser consensuais. (Canavilhas, 2007: 2 e Zamith, 2008: 23-26).
Zamith (2008) afirma que do ponto de vista conceptual, o jornalismo eletrónico, jorna-
lismo multimédia, jornalismo na Internet, jornalismo em rede, jornalismo em linha, são
designações redutoras, porque não é imperativo utilizar a Internet para se fazer o jorna-
lismo. Além disso, nas designações subentendem mais a actividade e não o suporte.
218
Além disso, a metaforização do conceito “jornalismo digital” resulta do desaparecimen-
to do meio físico e os recursos a multimédia da plataforma digital fazem com que o
produto deixe de ser um jornal, tradicionalmente falado, para se tornar um meio de vei-
culação de notícias com mais potencialidades.
219
Com esta representação da figura nº5, Deuze (2006) explica o seguinte: os sites de notí-
cias oferecem conteúdos originais com pouca participação dos usuários; os diretórios
não produzem conteúdos originais apenas agregam ou apontam, através de hiperligação,
para outros sites ou blogues, ou seja, estes funcionam como agregadores de notícias; os
sítios de opinião e comentários são sítios sobre jornalismos, abordam assuntos sobre a
produção jornalística, estudos, teorias e normalmente são espaços criados pelos jornalis-
tas; por fim, sítios de fórum de discussão, oferece espaço para os leitores se ligarem um
ao outro e trocarem ideias
Esta classificação, segundo Zamith (2008) permite distinguir o que é jornalismo digital
e o que não é. O certo é que prolifera na Internet uma grande quantidade de páginas que
“usurpam” a verdadeira função do jornalismo e nem apresentam por trás a estrutura de
uma redação noticiosa (Zamith, 2008: 24). Esta observação esclarece a dúvida quanto à
diferença entre portais agregadores de notícias como Yahoo news, Google new, Sapo
news e por ai em diante e verdadeiros serviços de notícias feitos por jornalistas.
Palacios & Noci (2007) propõe uma classificação dos meios digitais baseados em qua-
tro características:
220
notícias. Os agregadores de notícias não possuem uma redação estruturalmente constitu-
ída, com linha editorial, com profissionais especializados na coleta, tratamento e difusão
de informação, mas são sites que cujo conteúdos põe tónica nas hiperligações, enquanto
os sites de notícias põe tónica nos conteúdos editoriais.
Com base nestas reflexões, a pergunta que fica é: qual é a tipologia de site noticioso que
possibilita a participação do cidadão e a integração de valores culturais? A classificação
de Deuze (2006) já contém resposta para a pergunta formulada.
Já nos anos 80, Benjamim Barber, na sua obra intitulada “ Strong democracy: participa-
tory for a new age”, profetizava a vantagem do uso das novas tecnologias como forma
de tornar as democracias mais fortes através de mobilização social, acesso à informação
e criação de redes de discussão.
221
monstrar como é que o cidadão pode entrar na sociedade de conhecimento e de fluxo de
informação, de forma participativa. Neste contexto, existem muitas perspectivas de
abordagem sobre o assunto de participação do cidadão, uns a favor, outros contra e ain-
da há os indiferentes. Fazem parte deste painel os autores como: Dizard Jr (2000), Vivar
& Arruti. (2001), McQuail, 2003, Torres (2004), Castells (2007), Kerckhove (1997),
Lemos (2009), Santos (2010), Esteves (2010), Gans (2010) e outros. O ponto comum de
reflexão dos autores acima mencionados assenta sobre quatro aspectos: o impacto sócio
organizacional, impacto político e social ou comunitário e a participação dos novos me-
dia no processo de monitoria política.
No âmbito sócio organizacional, os efeitos sociais das mudanças tecnológicas têm im-
plicações mais amplas. Torres (2004), clarifica que a presença da Internet nas redações,
além de vincular os jornalistas aos profissionais de outras organizações, também favore-
ce laços profissionais muito fortes entre colegas da mesma organização, ou seja, entre
colegas da redacção, colaboradores, correspondentes, enviados especiais, etc. (Torres,
2004: 35).
Dizard Jr (2000: 39), numa abordagem das implicações políticas esclarece que as pers-
petivas abertas pelos media digitais estão a imprimir mudanças no sistema de distribui-
ção de conteúdos.
222
Noutra instância McQuail (2003) ao escrever sobre as implicações políticas dos “novos
Media” diz o seguinte:
Os novos media electrónicos foram muito elogiados como potencial forma de escape às
políticas opressivas, «de cima para baixo» das democracias de massas, nas quais os par-
tidos políticos bem organizados determinam os procedimentos unilateralmente e mobi-
lizam apoios sem negociação mínima nem consulta de base. Os novos media garantem
os meios para uma provisão altamente diferenciada da informação e ideias políticas, um
acesso quase ilimitado, em teoria, a todas as vozes e muita retroacção e negociação en-
tre líderes e apoiantes. Prometem novos fóruns para o desenvolvimento de grupos de in-
teresse e formação de opinião. (McQuail, 2003:136).
McQuail (2003) exalta o poder dos novos medio na participação política, no acesso à
informação e na negociação entre líderes e membros dos partidos. O autor acredita que
os media digitais são ferramentas ideais para as vozes da sociedade civil poderem soar
melhor, fato que poderá conduzir naquilo que o autor designa de “democracia eletróni-
ca” e resolver problemas de informação e de participação. (McQuail, 2003: 136-137).
Aliando-se a McQuail (2003), Spa (2001), resume a questão da participação política dos
cidadãos através dos media nos seguintes modo:
O jornalismo participativo “coloca novas exigências diretas por sectores sociais através
de argumentos de legitimidades baseados na liberalização tecnológica da produção de
discurso. (Vicente, 2010). A participação do cidadão não deve ser vista como intromis-
13
O conceito de comunidade tem em referência a uma forma real ou virtual de organização social (McQuail,2003:133-134).
223
são ao jornalismo, pois ela gera “valor-acrescentado”, introduz novos serviços em tem-
po real e dá uma nova dinâmica nas agendas e rotinas.
Vicente (2010) ainda afirma que as apropriações das novas tecnologias pelo cidadão
geram novos atores no jornalismo, fato que implica uma nova relação entre jornalis-
ta/público. Para os países pobres, o telemóvel é uma das tecnologias mais generalizada e
uma das “formas de conectividade à rede”. Daí então a que ter em conta a sua “dimen-
são mediática” enquanto tecnologia para documentar e reportar acontecimentos.
Batista & Zago (2010), numa abordagem sobre o ativismo nas redes sociais da Internet,
na perspetiva política, afirmam que é caracterizado pelas mobilizações coletivas para
transgressão e solidariedade. Os autores clarificam que a transgressão refere-se à “opo-
sição a certa condição social com vista a sua transformação, enquanto a solidariedade
entendem por sentido coletivo de suporte mútuo em busca desta transgressão”. (Batista
& Zago, 2010: 131).
Soares (2009) descreve o processo de participação política dos novos media nos seguin-
tes termos:
(…) Nas sociedades modernas é impossível falar de democracia sem levar em conta o
papel desempenhado pelos meios, especialmente depois do surgimento dos meios ele-
trônicos, que ampliaram as conexões entre democracia, campanhas políticas, opinião
pública e jornalismo. (Soares, 2009).
Mas o papel desempenhado pelos media deve ser visto numa perspetiva de responsabi-
lidade social. De acordo com Santos (2010: 60), a monitoria e controlo das ações go-
vernamentais envolve não só as associações da sociedade civil, inclui também os media.
Esta ação fiscalizadora nem é sempre bem vista do lado das autoridades políticas, mas
ela é fundamental para “dar visibilidade a erros e falhas do Estado, trazer novos pontos
à agenda pública ou influenciar as decisões políticas”.
224
Uma das plataformas populares de influência de opinião são os Blogs. De acordo com
Santos (2010), Blogs são o elo de ligação para o jornalismo participativo que busca in-
fluenciar a opinião e a mobilização de consciência crítica.
Existe uma proximidade de discurso, nesta matéria entre Santos (2010) e Cadima
(2010). Este último realça a sociedade em rede como sendo o fator de reconfiguração do
modelo de participação do cidadão na esfera pública. Cadima (2010) dá a entender que
o modelo de comunicação baseado nas tecnologias coloca o cidadão “no plano de uma
espécie de redes deliberativas” que assumem o papel de “produser”, ou seja, tornam-se
simultaneamente produtores e consumidores de conteúdos. (Cadima, 2010:83, Santos,
2010: 63-64).
Ora, a mediação entre o leitor e a política é feita e reforçada ainda na era digital. Torres
(2004) mostra que a prática de mediação, os media se aproximam mais do leitor, vice-
versa. O jornalista amplia a sua rede de contatos até aos níveis que não eram de imagi-
nar até há poucos anos. (Torres, 2004:35).
225
forma de comunicação política, fato que dá vantagem de suprir o “défice democrático
dos meios de comunicação tradicionais”. (Ferreira, 2010:101).
Kovach & Rosenstiel (2003) glorificam o advento da era digital e das novas tecnologias
que deram novas oportunidades, quer para os jornalistas quer para o cidadão comum.
Mas o autor receia que as indústrias de comunicação, pelas suas potencialidades, sejam
“assaltadas” por grandes grupos económicos e constituam ameaça ao jornalismo vigi-
lante, independente e participativo. (Kovach e Rosenstiel, 2003: 174).
McQuai (2003), Kovarck & Rosentiel (2003) despertam atenção para o poder dos novos
media face ao poder político. Entende-se nesses autores que o jornalismo digital escapa
o controlo do poder político pelas suas características virtuais e de ubiquidade. Sendo
assim, eles podem constituir uma poderosa ferramenta de crítica e de pressão social para
os regimes ditatoriais, sem qualquer tipo de censura. Nesta linha de pensamento, a mas-
sificação das tecnologias sociais referidas por Vicente (2010) e Batista & Zago (2010)
reforçam o poder do jornalismo digital na monitoria do poder político.
Tanto Mcquai (2003), Kovarck & Rosentiel (2003) como Vicente (2010) e Batista&
Zago (2010) levantam uma questão fundamental que sustenta o tema central desta tese,
Como tornar os novos media o aliado das comunidades marginalizadas?
226
direitos e deveres na sociedade na qual está inserido. Mas para que o processo de alian-
ça aconteça é necessário que os novos media tomem a iniciativa de se identificar com os
valores da comunidade.
Existem muitas ideias antagónicas em relação a formação de jornalistas. Vivar & Arruti
(2001), classificam a reforma do currículo de formação de jornalistas em duas categori-
as: por um lado, os tecnófobos, que são resistentes às mudanças e, por outro, os tecnófi-
los que constituem o grupo que sente o fascínio pelas tecnologias. (Vivar & Arruti,
2001: 175).
Vivar & Arruti (2001) e mais tarde Canavilhas (2009) reconhecem que as novas tecno-
logias surpreenderam o sector do jornalismo pela rapidez com que os equipamentos
tecnológicos penetraram nas redacções, sobretudo no processo de produção noticiosa.
227
Estas mudanças exigem não só esforço redobrado das empresas jornalística em incorpo-
rar nas redações as novas ferramentas, mas um conjunto de outras transformações estru-
turais.
Uma das mudanças de que se exige as empresas jornalísticas, face ao surgimento das
novas tecnologias de produção e distribuição de informação é a qualificação dos seus
profissionais e habilidades em trabalhar no ambiente digital. Esse problema invoca ou-
tro, ou seja, a coordenação com as instituições de ensino de jornalismo em adaptar nos
seus planos curriculares novas disciplinas que respondam à nova realidade reconfigura-
da pelas novas tecnologias.
A formação massiva de jornalista para um mercado que não os absorve revela algo erra-
do na sincronia entre as universidades e o mercado de trabalho. Ou é a incapacidade das
escolas de jornalismo se manterem vigilantes as mudanças que ocorrem no mercado de
trabalho ou o mercado de trabalho já está a ficar saturado e obsoleto para os novos tem-
po.
Em resposta ao problema acima colocado, Canavilhas (2009) afirma que face à penetra-
ção das tecnologias nas redacções e as consequentes mudanças no processo de produção
de conteúdos, as instituições do ensino superior reagiram tardiamente ao fenómeno. A
reforma dos planos curriculares para acomodar disciplinas ligadas às novas tecnologias
foi a mais lenta do que a digitalização das redações, fato que criou o “desfasamento en-
tre as necessidades do mercado e a oferta formativa”.
228
A forma acelerada com que as tecnologias avançam para as redacções implica repensar
a formação de jornalistas para a nova Era. Pois os desafios colocados pelas tecnologias
implicam reformas mais profundas no ensino do jornalismo. Canavilhas (2009) afirma
que o novo modelo de ensino-aprendizagem na era digital não significa apenas integrar
mais conhecimentos das ferramentas de produção nos planos curriculares, mas torna
necessário primeiro dominar os conceitos e depois as técnicas que permitem solucionar
o problema.
Existem tentativas de reforma curricular nas universidades. Uma reforma que pretende
combinar o rigor científico com as necessidades tecnológicas do mercado de trabalho.
Trata-se de proposta de jornalismo de qualidade, que enfatiza a atitude intelectual e des-
treza técnica, sentido crítico, capacidade de análise, sentido histórico, sentido documen-
tal, para atualizar documentos e sentido retórico. (Gil, 2005: 284).
Já na sua tese de doutoramento Marinho (2011) chega a conclusão que os tempos estão
em processo de mudança e as instituições de ensino em jornalismo terão de acompanhar
essas mudanças.
229
A autora triangulou o papel do jornalismo e de formação em sociedade em mudança no
qual posiciona três forças: Sociedade, Formação e Profissão. Nestes elementos ela reco-
nhece o papel de “servo” das instituições formação. Numa leitura mais subjetiva enten-
de-se que a sociedade e o jornalismo estão em mudança devido ao surgimento das novas
tecnologias, então, cabe ao papel do “servo” formar o cidadão para uma nova realidade
baseada nas tecnologias.
Na perspetiva de Gil (2005) entende pela formação integrada, o ensinamento que vai
para além de formação em novas tecnologias, mas que realça as habilidades técnicas e
científicas da profissão. A razão disto tem a ver com a necessidade de não criar uma
rutura repentina com o passado, mas valorizando positivamente as práticas do passado
combinado com as tecnologias modernas.
Salaverría (2002) partilha a mesma visão ao propor um novo perfil de jornalista com
uma formação orientada para as tecnologias, “capaz de elaborar e integrar elementos
textuais e audiovisuais em mensagens informativas, com qualidade de editor e com co-
nhecimentos avançados das tecnologias digitais…” (Salaverría, 2002: 390).
Mas Gil (2005), de forma genérica, sugere que a formação do jornalista deve ser feita
com mais ênfase nos aspectos práticos, de modo a transformar os jornalistas em bons
profissionais. Para o autor, as universidades devem ser os centros de preparação dos
futuros jornalistas, sem se descartar do seu papel de combinar a tradição jornalística e a
modernidade, com uma adaptação às novas tecnologias.
Mas Calvo (2006) alinha pela ideia de que a formação em jornalismo digital deve confe-
rir aos futuros profissionais “habilidades e competências” que vão desde destreza no uso
das ferramentas de software até à aquisição de uma série de conhecimentos de índole
teórico-prático sobre os fundamentos e pautas de redacção das mensagens jornalísticas
destinadas a serem difundidas na rede. (Calvo, 2006:220).
Tanto Salaverría (2002), Gil (2005), Calvo (2006), Espinosa (2006) como Fidalgo
(2007) apresentam uma perspectiva pragmática de formação de jornalistas da era digital.
230
Segundo os autores, a introdução de disciplinas ligadas às novas tecnologias e de carác-
ter profissionalizante no currículo de jornalismo deve ser uma solução dada no âmbito
académico. E modelo híbrido que combine a teoria e a prática é a condição necessária
para uma sólida formação profissional.
231
jectivo sugere-se que os planos curriculares do jornalismo dediquem 10% do
tempo de ensino-aprendizagem.
Os objetivos acima propostos, tal como ele os enumera, não são de carácter universal,
pois podem ser diferenciados de acordo com cada contexto social e cultural.
Como seria de esperar, existe em todos os autores o reconhecimento unânime das neces-
sidades das competências técnicas nos futuros jornalistas. Porque a demanda do merca-
do de trabalho exige o domínio técnico das novas tecnologias aplicadas aos media e sem
dispensar o conhecimento científico fundamental.
Como ilustra o gráfico nº7, o domínio das ferramentas de produção digital somado aos
conteúdos de informação digital constituem as bases fundamentais das competências
exigidas aos jornalistas digitais para entrarem no mercado de trabalho.
Estas perspetivas do autor criam uma certa relutância em ser aceite como modelo de
ensino de jornalismo. Trata-se de uma visão tecnicista e profissionalizante, enquanto o
grau de licenciatura, pela sua natureza, exige uma formação técnica e científica.
Ariel (2001) realça a questão ética em todo o processo formativo universitário como a
melhor maneira de fazer o jornalismo de qualidade. O autor justifica-se dizendo que a
233
formação universitária não é só fundamental mas é importante pelo facto de se reconhe-
cer como o lugar de experimentação laboratorial.
No que concerne ao perfil do docente, Espinosa (2006), Galdón (1999), Gonzaléz &
Balboa (2010) advogam um novo modelo de docente para a era digital com as seguintes
características:
Neste novo perfil, os autores são unânimes em apontar as razões dessa nova figura: in-
corporar no jornalismo digital novas modalidades de docentes e estabelecer uma nova
relação com as novas tecnologias de informação e comunicação.
Mas no contexto africano, devido à falta de debate mais aprofundado sobre o jornalismo
e as novas tecnologias, a UNESCO tem assumido o papel de elaboração de modelo de
ensino de jornalismo em África. De acordo com a justificação da UNESCO (2010a)
afirma o seguinte:
234
Nos últimos anos, países em desenvolvimento e democracias emergentes registraram
um rápido crescimento do número de meios de comunicação. Presenciou-se igualmente
o reconhecimento do papel crucial do jornalismo na promoção da democracia, o que
tem gerado uma demanda urgente por jornalistas formados com qualidade. A UNESCO,
como o organismo das Nações Unidas responsável pela promoção da liberdade de ex-
pressão e do acesso à informação e ao conhecimento, tem adotado várias iniciativas na
busca por melhorar a qualidade do ensino do jornalismo em todo o mundo. Em dezem-
bro de 2005, em resposta a inúmeros pedidos de Estados-membros interessados na ela-
boração de um modelo curricular para o ensino do jornalismo, a UNESCO convocou
uma reunião consultiva com especialistas em Paris. A identificação de disciplinas que
deveriam ser incluídas no programa dos cursos de jornalismo foi um dos principais re-
sultados do encontro. (UNESCO, 2010a: prefácio)
Com base nesta afirmação, o problema que se coloca não é em relação ao modelo pa-
dronizado do currículo de formação de jornalista que a UNESCO propõe, mas é a con-
textualização deste modelo para as situações específicas de cada pais, cada cultura e
cada povo.
235
Nestas reflexões importa realçar o raciocínio da Marinho (2011), segundo o qual as ins-
tituições de ensino de jornalismo são apenas os “servos” da sociedade e da profissão
jornalística. Se elas estão em mudanças então cabe a formação corresponder às suas
tendências.
Um código de ética é fundamental para a classe jornalística, pois ele diz respeito ao con-
junto de princípios de conduta profissional aceites e controlado pelos próprios jornalis-
236
tas. É uma forma da indústria mediática se proteger a si própria e das críticas externas.
(McQuail, 2003: 153).
A discussão em torno da ética no jornalismo digital traz a velha questão de como lidar
com as fontes de informação da Internet; como contornar a questão do anonimato e da
falsa identidade de algumas fontes? A questão da privacidade? A veracidade das infor-
mações e a confiabilidade dos dados obtidos? (Friend & Singer, 2007: 199).
Alguns destes questionamentos ainda não foram abordados com profundidade, dai en-
tão, é necessário repensar o jornalismo digital e tentar enquadrá-lo no mundo onde o
cidadão já aparece como produtor e distribuidor de conteúdos.
Contrariamente a afirmação de Fumeiro & Roca (2007:10), segundo a qual, a nova co-
munidade de usuários da Internet “rege-se abaixo dos princípios e valores éticos”. Na
realidade tem demonstrado que a regulação ética no sistema digital interativo e social
delega-se aos próprios usuários que lhes cabe a tarefa de estabelecer a boa conduta den-
tro da comunidade virtual. Os indesejados são banidos da comunidade, situação que
veio dar origem ao neologismo inglês “unfriend”, ou seja, o indesejado.
Bucci (2000) previne que apesar da euforia proclamada em torno do jornalismo digital
há que acautelar-se face aos potenciais conflitos trazidos pelos novos meios, o que po-
derá trair a confiança do usuário e degenerar-se na descredibilização do profissional de
comunicação e o autor cita:
“ (…) O jornalismo responsável na Internet requer que a distinção entre notícias e outras
informações seja sempre clara para que os indivíduos possam diferenciar conteúdo edi-
torial de promoções pagas e outras não-notícias”. (Bucci, 2000:125).
Além de potenciais conflitos e perda de confiança, Noci & Ayerdi (1999), acautelam
quanto ao direito autorais nos trabalhos publicados no jornalismo digital, sejam eles
vídeos, textos, imagens, sons, etc. Porque as atuais leis sobre os direitos do autor são
insuficientes para fazer frente aos desafios trazidos pela Internet, se se reparar que uma
obra jornalística é uma obra unitária composta por outras obras de autores. Por isso, há
que haver muita cautela quanto aos direitos do autor e aonde terminam. (Noci & Ayer-
di,1999:102-105).
237
Muitas são as regras que devem ser estabelecidas para o exercício ético no jornalismo
digital. Poynter Institute (2010) ao inventariar as áreas do jornalismo digital que preci-
sam de um novo quadro regulatório aponta as seguintes: regras do uso de redes sociais
por jornalistas; o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional nas redes sociais; criação
de amigos e ser seguidor de alguém numa rede social; permissão ou não do jornalista
criar blog pessoal; edição de conteúdos gerados por usuários, etc.
O jornalismo digital coloca outros desafios éticos para os seus profissionais. Certamente
numa era em que a Internet implica novas posturas, o jornalista tem a responsabilidade
de explorar o novo potencial como parte do seu dever, preservando os valores mais altos
da sua profissão como a verdade, a imparcialidade, a objetividade e a democracia. Estes
valores são considerados ingredientes requeridos nos novos media. (Poynter institute,
2010: 10).
Uma das urgências de um guião ético prende-se sobretudo com os conteúdos gerados
pelos usuários. Os referidos conteúdos tem o potencial de contribuir para o enriqueci-
mento de informação jornalística, amplia a liberdade de expressão, aprofunda o enten-
dimento de temas, agrega a diversidade de vozes e opiniões numa empresa jornalística.
Assim sendo, há necessidade de elaborar princípios e valores que guiam essa relação,
preservando-se contra os conteúdos obscenos, ataques pessoais, violação da privacida-
de, estigmas raciais e étnicos, violação dos direitos do autor e marcas, etc. (Poynter ins-
titute, 2010: 29-31).
Apesar de haver tentativa de avanço do código ético para o jornalismo digital, Quadros
(2006: 66), afirma que dez anos depois da implantação do jornalismo digital, o jorna-
lismo praticado na Internet ainda não “concluiu a sua fase de transição da esfera tradici-
onal para a digital”, porque a evolução das tecnologias digitais é muito mais rápida que
a vontade empresarial de incorporar a TIC nas organizações jornalísticas. Esta afirma-
ção quer traduzir a ideia de que o código ético para o jornalismo digital ainda é um
campo aberto devido ao seu processo evolutivo ainda não terminado.
238
Quadros (2006), Alves (2006) e Zamith (2008) concluem que muitos meios digitais não
exploram as potencialidades da Internet, enquanto os que tiveram a ousadia de avan-
çarem para redações autónomas e nativas do digital, têm a responsabilidade desafiadora
de colocarem em práticas as profecias dos especialistas do jornalismo digital.
Diante deste quadro teórico é possível concluir que ainda hoje existem desafios por en-
frentar no jornalismo, sobretudo na problemática da ética profissional. Mas para se
compreender o jornalismo digital em contextos culturais diferentes, o subcapítulo que se
segue apresenta a relação entre os media e as culturas.
O quadro teórico acima apresentado oferece grandes contributos dos académicos da área
de jornalismo digital, na iluminação dos conceitos e os respetivos posicionamentos.
Neste debate, o eixo central das discussões gira em torno de dois grandes grupos: os
defensores da descontinuidade do jornalismo e os da continuidade.
Ao longo da abordagem teórica, três aspetos detém a nossa atenção: a crise do jornalis-
mo impresso; a erupção do jornalismo digital e a readaptação do currículo de formação
de jornalistas.
Autores como Mayer (2007), seguido por Hufmann (2009), Young (2010) e Tuyll
(2010) são claros nas suas ideias que os jornais estão a viver um momento de crise sem
precedente, caracterizada pela diminuição de número de leitores e quedas das vendas.
Essa observação é corroborada por Edmond (2012) e Smithson (2013) quando represen-
tam o declínio de venda de jornais no Reino Unido e EUA.
Ao longo do referencial teórico, Torres (2004) chama particular atenção para as poten-
cialidades dos media digitais abrirem uma nova era de relacionamento com os usuários
ou mesmo entre organizações jornalísticas. Já não se trata o usuário como uma massa
anónima e inativa. São pessoas que valorizam, sobretudo, a individualidade e a sua au-
239
tonomia de decisão. Deste modo, a informação individualiza-se e democratiza-se, en-
fim, o jornalismo caminha para aquilo que se designa de “jornalismo de proximidade”.
E é neste ponto que mais adiante irá se discutir a necessidade de competitividade entre
os media públicos e privados no sentido da sua inculturação.
No que concerne ao ensino de jornalismo, Vivar & Arruti (2001), Gil (2005), Canavi-
lhas (2009) e Marinho (2011) defendem a reforma curricular do ensino do jornalismo
face aos avanços do jornalismo baseado na Internet e multiplataformas de comunicação.
Os autores dão um contributo valioso neste debate quanto às áreas de reformas, insistin-
do particularmente numa formação orientada no aspeto prático de manipulação de tec-
nologias de comunicação.
240
CAPÍTULO V: ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DO JORNALISMO DIGITAL
Depois de termos sido visto no quadro teórico a contribuição académica sobre o fenó-
meno do jornalismo digital, a abordagem que se segue apresenta os elementos caraterís-
ticos do jornalismo digital, noutra designação, as características do jornalismo digital e
as suas funcionalidades.
Do ponto de vista de Kautsky & Widholm (2008), o jornalismo digital possui caracterís-
ticas que marcam uma diferença em relação ao jornalismo clássico. A evolução do mo-
delo digital é imparável e caminha para a convergência de sistemas. O jornalismo prati-
cado na internet não é uma mera transposição do jornal em formato de papel, mas é uma
fusão das características da rádio (som), da televisão (imagem), do jornal (texto) e de
outras características geradas e incorporadas pelo meio digital.
Noci & Ayerdi (1999: 17-18), não têm nenhuma dúvida que o jornalismo tradicional
está a sofrer um recuo nos últimos tempos, que resulta do processo de transformação da
forma de comunicação.
241
A apelação sensorial multimédia,
A rutura da linearidade,
Desaparecimento das rotas pré-fixadas no tráfego de informação,
A elasticidade da sincronia,
E a interatividade.
Palácios (2003) sublinha que os elementos característicos do jornalismo digital não tra-
duzem necessariamente uma exploração integral das suas potencialidades pelos sites
jornalísticos quer por razões técnicas quer por questões de aceitação no mercado de
consumidor. Portanto estas potencialidades podem ser utilizadas com maior ou menor
escala ou de forma indiferente.
Não restam dúvidas que o aparecimento dos elementos caraterísticos do jornalismo digi-
tal traz benefícios sem precedentes como: redução de custos de impressão e de distri-
buição; actualização contínua e quase em tempo real e fuga a pressão dos grandes lob-
bies de vendedores. Uma das grandes vantagens do jornalismo digital é de competir em
242
batalha de velocidade e com uma atualização permanente, de maneira que resulta mais
atraente relativamente ao seu antecessor impresso. (Larequi et al. 2000: 20-21).
Ora transformar o jornal impresso em digital permite ultrapassar outros obstáculos que
até aqui eram considerados intransponíveis no sistema analógico que Noci e Ayerdi
(1999: 21-23) os descrevem de seguinte modo:
Para Vivar & Arruti (2001:111) está claro que os jornais devem encarar os novos desa-
fios da informação. Ou mudam ou morrem, pois os meios que não mudam sujeitam-se a
ficar atrasados tecnologicamente e, consequentemente, ultrapassados na competitivida-
de e com forte probabilidade de se extinguir no mercado de produção de conteúdos.
5.1.Arquitectura de informação
De acordo com Lopez et al. (2003) o conceito de arquitetura de informação foi criado
por Richard Wurman em 1962 no seu livro intitulado “ arquitetura de informação”, que
trata da questão estética e gráfica de página web. A arquitectura de informação permite
ao usuário navegar, recuperar e encontrar de forma fácil a informação que deseja. Ela
243
desenvolveu-se mais quando a web converteu-se num sistema de conhecimento univer-
sal.
O arquiteto de informação cria o mapa da estrutura de informação que permite aos ou-
tros encontrar caminhos pessoais do conhecimento. Mas quando a Internet se desenvol-
veu, o conceito de arquitectura de informação foi capturado e passou a significar o “de-
senho das organizações, etiquetado, navegação, e sistemas de busca para ajudar as pes-
soas a encontrar e gerir informação mais adequada”. (Lopéz et al, 2003: 198).
244
Redator-chefe- Encarregue em gerir os conteúdos do site, de modo a responder
as expectativas dos usuários.
Webjornalistas- encarregue de redigir os textos digitais
Programador – conceber e desenvolver as partes dinâmicas do site
Diretor artístico- coordenar as criações artísticas para traduzir as ideias dos cli-
entes numa dimensão multimédia
Infografia- elabora os elementos gráficos do site (ilustrações, esquemas, logoti-
pos, etc.)
Web designer- concebe o aspeto gráfico do site
Ergonomista- concebe interface utilizável para maximizar a facilidade de utili-
zação do site e fidelizar os usuários
Animador da rede- visa garantir o bom funcionamento dos espaços interativos.
Vivar & Arruti (2001: 155) propõe um modelo de publicação na Web que contemple a
estratégia de comunicação interativa, pois uma página Web bem estruturada e interacti-
va permite dispor com claridade os conteúdos e abrir-se à participação dos usuários.
A decisão de hierarquizar a informação está sempre nas mãos dos responsáveis da reda-
ção digital. É o responsável de conteúdos que decide qual é a notícia de destaque e qual
é a secundária. Os arquitetos de informação devem conhecer as previsões dos editores e
as necessidades dos usuários a quem vão dirigir a informação. (Lopez et al.2003:209-
210).
245
Palácios e Noci (2007) dão uma visão esclarecedora da arquitetura de informação, sem
discordar com Vivar & Arruti (2001) e nem com Lopéz et al (2004). De acordo com os
autores, o conceito de arquitetura pressupõe a implantação de um sistema de gestão de
conteúdo, em inglês denominado por Content Management System, que desempenha a
função de “solucionar os problemas de relações entre os elementos solicitados pelos
usuários e os produtos criados pelo jornalista”.
Antes da existência da Internet, o conceito de desenho já era muito comum. Este inte-
grava tanto os elementos que compõe a estrutura gráfica de um jornal como os princí-
pios básicos e psicológicos envolventes para atração do leitor. Palácios e Noci (2007) já
se referiam dos tais princípios básicos: i) a navegação da leitura; ii) a multimedialidade;
iii) a profundidade de conteúdos e; iv) a Arquitetura de informação.
1. Conteúdos
246
2. Acessibilidade e navegação
3. Estrutura da página
As normas são criadas pela World Wide Web Consortium (W3C), uma comunidade de
internacional constituída por equipas que buscam desenvolver protocolos e diretrizes
que garantem o padrão e o crescimento da Web. Ela desenvolve orientações técnicas
com vista a maximizar consenso sobre acessibilidade e navegação nas páginas Web.
(World Wide Web Consortium, s/d).
De acordo com Brasilmedia (s/d) acessibilidade deve contemplar princípios básicos que
tenham impacto no “ design e visual” da página Web:
247
a) Forneça texto alternativo apropriado- ou seja, conteúdos não textuais como
imagens, gráficos, infografias, etc. Especalmente para facilitar o acesso aos con-
teúdos as pessoas portadoras de deficiência,
b) Forneça cabeçalho para todos os dados-aplicável para casos de organização
de tabelas, que eles tenham relação entre si,
c) Assegure que os usuários possam completar e enviar formulários-que a pá-
gina web certifique aos usuários o envio do formulário e recupere a informação
caso ocorra qualquer erro, tal como no caso de não preenchimento de alguns dos
campos necessários obrigatórios,
d) Certifique-se que os links fazem sentido para o contexto-cada link deve fazer
sentido se o texto do link é lido por si mesmo, evitando o uso das expressões
como “ clique aqui”, “leia mais”, etc.
e) Assegure padrões de acessibilidade ao conteúdo para arquivos-as páginas
web devem oferecer os arquivos em formatos PDF, Vídeo, power point, adobe
flash player, etc.
f) Permita que os usuários pulem os elementos repetitivos na página,
g) Assegure conteúdos sejam escritos de forma clara.
Salaverría & Sancho (s/d) afirmam que nos últimos anos tem havido melhorias nos mo-
delos de páginas digitais noticiosas. Tais melhorias dizem respeito aos elementos de
beleza, estética, equilíbrio, coesão e coerência dos seus diversos elementos como, por
exemplo:
248
Palácios & Noci (2007) defendem a arquitetura de página Web flexível. Ela não deve
ser taxativa, pois encontram-se em curso novos estudos relacionados com o desenho da
estrutura da página Web de notícias e experimentos de incorporação de interface de
fornecimento de conteúdos para outras plataformas como telemóveis, o uso da fotogra-
fia digital na página, sistemas de alerta personalizada de novos conteúdos, (feed RSS),
etc.
5.1.1.Disposição textual
Na comparação entre uma redação clássica e a digital nota-se que os textos jornalísticos
concebidos para um jornal em papel não se adaptam nas estruturas do jornal digital. A
sua transladação para o ambiente digital tornam-se demasiados extensos, fato que obriga
ao usuário a abrir muitas janelas de texto, o que o desorienta na sua leitura e na captação
de informação essencial para o seu conhecimento. (Salaverría, 1999:13).
A solução-chave para economia de espaço na página Web passa pela redução de texto
para acomodá-lo no ambiente digital. Desta dificuldade, conjugada com outros fatores,
resulta a aplicação da pirâmide invertida, defendida por Canavilhas (2006). A nova for-
ma de estrutura textual, não só comporta os elementos da escrita, também incorpora
novos recursos jornalísticos como, os hipertextos, a multimédia e interação. Mas, parti-
cularmente, a hipertextualidade quebrou a barreira de espaço e das redundâncias textu-
ais. Nela, as notícias aparecem numa sequência de blocos de informação.
Mas Lopez et al. (2003: 200-210), para a questão da composição textual, propõe a se-
guinte forma de disposição textual numa página Web noticiosa, aquilo que eles desig-
nam de “unidades mínimas de acesso à informação”:
249
b) Linha de crédito-trata-se da assinatura do autor do texto, pois em qualquer crónica
jornalística, independentemente do suporte em que estiver publicado, o nome e o lugar
do jornalista indica ao leitor o responsável que escreve o texto desde um lugar determi-
nado. No jornalismo digital, o nome do jornalista e o lugar da informação converte-se
em elementos para a recuperação da informação, já não são informação do contexto.
e) Recurso multimédia-são aqueles elementos que não são textuais e que podem com-
binar com uma fotografia, uma galeria de imagens, um documento sonoro ou um docu-
mento audiovisual
250
tal mais dinâmica e “ não uma série de telas estáticas”. O autor sugere a contemplação
dos seguintes elementos:
1) Exibição de estatísticas (matérias mais lidas, mais comentadas, mais enviadas por e-mail, ou
nuvens de assuntos relacionados); 2) ferramentas de interatividade e de serviços (SMS, RSS,
newsletter, podcast, personalização, comentários, enquetes, correcções e fale connosco, en-
tre outros), formatos de conteúdos (links relacionados, blogs, páginas especiais, reportagem
multiforme, texto multilinear, pacotes multimídia, comunidades e open source); 3) multimí-
dia (áudio, vídeo, slide show, infográfico animado, fotos e galeria de fotos); 4) área de regis-
to e login; 5) versões analógicas dos jornais, rádios ou emissoras de tevê; 6) sistema de bus-
ca avançado (por data, texto e multimídia); 7) resolução de tela (a maioria apresenta confi-
guração 1024); 8) acesso ao conteúdo se dá por rato; 9) menus são predominantemente hori-
zontais; 10) serviços pagos e gratuitos; 11) anúncios de mídia rica e estáticos (como os links
patrocinados). (Moherdaui, 2008).
De acordo com Larequi (2005), não basta ter conteúdos, é necessário saber apresentá-
los aos usuários. Para isso, existem cinco critérios básicos para a criação da página Web
atrativa, compreensível, útil, eficaz e navegável:
Eficaz-No contexto do aspeto gráfico, pois todo o desenho gráfico tem que comunicar
algo
Os cinco critérios de apresentação de conteúdos não são normativos. Na Web a arte mu-
da de acordo com as características do meio, (Larequi, 2005).
251
Uso de recursos multimédia (texto, som e vídeo) -a utilização destes recursos
transforma o usuário em leitor, ouvinte e telespectador,
Uso de hipertexto,
Uso da cor.
Rosale (2006:12) recomenda alguns princípios orientadores que tornam a página Web
de notícias num espaço de conforto e de leitura animada:
O uso correto dos princípios pode tornar o site noticiosa meio de sucesso, socialmente
interessante. Mas existem outros recursos de grande interesse para animação de conteú-
dos noticiosos, as infografias. (Rosales, 2006).
Uma vez construída a página web de um jornal segue então todo o processo de produção
de conteúdos. O processo de produção no modelo tradicional de jornalismo resumia-se
em três fases: produção, circulação e consumo. Hoje em dia, o jornalismo digital está a
transformar o processo de produção de conteúdos, seja ele radiofónico, televisivo ou
impresso num novo processo de produção, que envolve sistemas complexos de fatores
sociais e tecnológicos, situação que revela uma forma diferenciada de produção e distri-
buição de conteúdos jornalísticos em relação aos tempos passado. (Schwingel, 2005 e
Erdal, 2007: 53)
252
Acreditava-se que a televisão e a rádio eram os meios de comunicação de grande credi-
bilidade, o cenário tende a mudar nos últimos anos onde a Internet atingiu a mesma pa-
ridade com a televisão e rádio, em termos de credibilidade. Mas Schrøder & Steeg
(2010) trouxeram à tona um novo estudo que revela que a informação noticiosa da In-
ternet ganhou a mesma paridade de aceitação como a rádio e televisão.
Estudos levados a cabo por Garrisson (1999) na Inglaterra, sobre as fontes de informa-
ção do jornalismo digital concluíram que a Internet é a principal fonte de recursos de
informação, particularmente a informação providenciada pelas instituições governamen-
tais e serviços comerciais.
Não restam dúvidas que o número de recursos informacionais para a produção de notí-
cias aumentou de forma exponencial na Internet. Para Pinto (2000), o aumento resulta
das transformações provocadas pela Internet, isto é, aumento de informação disponibili-
zada na Internet pelas instituições e indivíduos com propósitos diferentes. Mas o autor
253
alerta que a excessiva quantidade de informação, se não tiver o tratamento jornalístico,
vai provocar aquilo que o autor designa de “ desintermediação”. (Pinto, 2000: 289)
254
Quando se escreve para uma publicação digital, os parágrafos devem conter en-
tre quatro a cinco linhas, escrever mais linhas pode causar cansaço na leitura,
Deve-se escrever com uma linguagem de máxima correção tendo em conta o
perfil de audiência a que se dirige,
Ser preciso e conciso nos textos,
Deve-se evitar a utilização da maiúscula.
No estudo conduzido por Salaverría (2010) sobre a produção online em algumas reda-
ções espanholas com origem na Interne revela que a questão da qualidade de conteúdos
produzidos não constituía nenhum problema. Os vídeos, textos interativos, fóruns de
discussão, atualização constante eram todos inovadores. No entender do autor, as equi-
pas de produção devem ser constituídas por profissionais formadas em tecnologias de
comunicação e informação como, por exemplo, Web designers, produtores de multimé-
dia e outros profissionais técnicos.
O estudo conclui também que o grande problema das redações “nativa do digital” eram
as crescentes tensões com as direções das redações onde se reclamava a reorientação
dos portais informativos. Portanto, tratava-se dos primeiros abalos de crise das redações
digitais. (Salaverría, 2010:237).
Para Noci & Salaverría (2003: 18-22), o texto digital deve ser produzido especificamen-
te para a plataforma digital e não deve ser uma transposição direta do meio impresso
para o digital. As propostas dos autores têm grande interesse profissional, pois respon-
255
dem à demanda emergente do jornalismo digital, dado que os jornalistas não têm noção
básica daquilo que é o fenómeno digital.
5.1.2.Infografia
De acordo com Schmitt (2006) a infografia tem muitas designações no contexto de jor-
nalismo digital: infografia digital, infografia interativa, infografia on-line, infografia
multimédia e infografia multimédia interativa.
Tem a designação de infografia digital porque tanto pode ser usada para o impresso co-
mo para o espaço Web, enquanto a designação de infografia interativa aplica-se exclusi-
vamente para o ambiente digital, porque permite uma interação com o usuário. Tem o
nome de infografia online, os gráficos criados para os jornais e disponibilizados para os
media digitais.
Segundo Ribas (2004), as infografias são informações gráficas, visual, cujo uso já re-
monta os tempos mais antigos da humanidade. Elas ganharam maior notoriedade duran-
te a Guerra do Golfo Pérsico, 1992, quando tornou-se um recurso complementar às no-
tícias.
256
No ambiente digital, as infografias são usadas como um dos recursos narrativos. Elas
apresentam-se sob duas formas: como forma complementar de uma notícia ou como
notícia em si. (Ribas, 2004).
A estrutura fundamental de uma infografia deve conter: título, texto, corpo, fonte e res-
ponde às questões básicas da construção de um texto jornalístico. As infografias aplica-
das no jornalismo digital apresentam uma outra dinâmica e potencialidades proporcio-
nadas pelo meio como o uso de recursos tipográficos, sonoros e visuais. (Ribas, 2004).
Tanto Ribas (2004) como Schmitt (2006), partilham a mesma visão quanto às tipologias
de infografia. O quadro nº6 de Ribas (2004) apresenta quatro tipologias de infografia
aplicáveis para o jornalismo digital. Todas elas podem funcionar de forma combinatória
quer para narrar os factos com analogias, comparações ou exemplos quer para ilustrar
fatos científicos de difícil entendimento para o público leigo.
Ainda não existe muita discussão em torno das infografias como uma narrativa jornalís-
tica. Alguns defendem que são apenas representações visuais de uma notícia ou infor-
257
mação e para outros são narrações de factos jornalísticos por meio de gráficos. (Schmitt,
2006).
Para Ribas (2004) as infografias tanto podem ser uma narrativa jornalística por si só
autónoma como podem servir de elementos de complementaridade.
Ribas (2004) e Schmitt (2006) são consensuais quanto às características das infografias.
Para ambos, elas tem a utilidade de demonstrar acontecimentos numa relação de cau-
sa/efeito, bem como a reconstrução de factos.
Em suma, existem várias discussões em torno das infografias. De acordo com Ribas
(2004) e Schmitt (2006), alguns autores consideram infografias como sendo um conjun-
to de “informações sucessivas realizadas mediante unidades elementares icónicas”. Ou-
tros autores consideram-nas como “hipertexto em si mesmo que proporciona organiza-
ção e estrutura aos conteúdos”.
Seja como for, a ambiguidade conceitual entre os autores apenas indica-nos que se trata
apenas de uma técnica complementar aos textos jornalísticos e de aclaramento dos fatos
noticiosos, opondo-se a ideia de infografia como sendo um jornalismo especializado.
Machado (2009) tenta recuar no tempo para explicar a génese do jornalismo participati-
vo, para em seguida estabelecer conexão com a interatividade do jornalismo digital.
Para o autor, o jornalismo participativo remonta há muitos anos da história da imprensa
em que a vocação da empresa jornalística era a formação de um público massivo de
leitores e a publicação de informação. No período da estruturação das redações, no sé-
258
culo XIX, consolidou-se o modelo “centralizado” de produção de conteúdos, controlado
por indivíduos especializados da profissão, ou seja, os jornalistas.
Em termos técnicos há uma clara distinção na forma de grafia da palavra Web, com
maiúscula e da web com minúscula. Para os autores a segunda forma da web, com mi-
núscula, resulta da apropriação social da Internet “ capaz de dar suporte e formar parte
de uma verdadeira sociedade de informação, da comunicação e do conhecimento”, en-
quanto a Web com a minúscula, nasce na própria ação social e na interação com o novo
contexto de jornalismo interativo. (Fumero & Roca, 2007: 10).
A terminologia Web 2.0 foi criada para diferenciar a primeira da segunda fase da Web,
embora não apresente muita novidade em relação a primeira versão. Contudo, Web 2.0 é
o mais difundido ma indústria das tecnologias como sinónimo de Web colaborativo.
(Schmitt et al, 2008: 3).
259
Na Web 1.0, os usuários apenas podiam abrir as páginas de um jornal digital e ler as
informações e não podia interagir com elas. As páginas web obedeciam apenas a estru-
tura hierárquica, ou seja, ao editor cabia toda a tarefa da definição da pauta, ao jornalista
a apuração dos factos e a elaboração das matérias e ao leitor reservava-se ao consumo.
(Schmitt et al, 2008: 6, Nora, 1995:39).
O aparecimento da Web 2.0 aplicado ao jornalismo digital resultou numa nova forma de
consumo de produtos jornalísticos e que transformou o usuário como parte do processo
de produção, partilha e distribuição de informação. A interacção, colaboração, produ-
ção, relacionamento e conversação, transformaram a Web 2.0 em prática do jornalismo
digital baseado em comunidade, colaboração e auto-organização, (Schmitt et al, 2008:
6).
De acordo com Cardoso (2009), numa abordagem mais genérica, afirma que o novo
paradigma de comunicação criou a figura do utilizador como “fomentador de inovação e
inovador nos conteúdos de media a serem lidos” mais adiante, o autor esclarece que a
inovação de conteúdos deve ser entendida como uma participação e influência dos usuá-
rios nos padrões de consumo. (Cardoso, 2009:40).
260
Baggio (2011) realça que o avanço tecnológico e a erupção do fenómeno da Internet são
os fatores que estão por de tráz do jornalismo colaborativo e, consequentemente, a mo-
dificação do valor da notícia e do conhecimento na sociedade de informação.
Martinez & Alonso (2003:81-82) acham que a interatividade não é a característica mais
importante do jornalismo digital. Para os autores, trata-se de uma ferramenta facultativa
que permite ao usuário interagir com o sistema e que este o “responde”. Conceber a
interatividade e participação como uma ação unilateral em que o usuário interage com a
máquina, seria uma redução do conceito que comporta em si a bidirecionalidade de ação
mediada pela máquina.
261
Outra forma de participação do cidadão na produção de conteúdos é referida por Marti-
nez & Alonso (2003:282):
Correio eletrónico,
Lista de distribuição,
Grupos de notícias,
Fórum de discussão,
Chat,
Hipertexto,
Inquéritos.
Martinez & Alonso (2003) afirmam que os cinco primeiros são considerados da intera-
tividade “sujeito/sujeito”, em que a comunicação se realiza entre dois interlocutores por
meio de diálogo através do qual se relacionam, enquanto os dois últimos (hipertexto e
inquéritos) são considerados interatividade “ sujeito/objeto”, segundo a qual o processo
de comunicação se realiza entre um indivíduo e o sistema. (Martinez & Alonso, 2003:
282).
262
informação lhe interessa. Ela implica bidirecionalidade e uma participação ativa
do usuário no processo;
Interatividade de registo- Ocorre quando a informação é produzida pelo usuá-
rio, mas controlada e processada pelo meio que a devolve em seguida ao usuário
sob forma de informação. Esta interatividade ocorre nos sítios que implica o re-
gisto do usuário para obtenção de um serviço ou conteúdo.
Como se pode notar, o campo de interatividade é vasto. Ele se alarga cada vez mais que
o jornal digital abre as janelas de participação dos usuários e estabelece diálogo de troca
de informação, aquilo que Benkler (2006) acredita tratar-se de crescimento impulsiona-
do pelas redes colaborativas da Internet e favorecidas pela redução do custo das tecno-
logias sociais de produção digital.
O jornalismo digital poderá sair enriquecido pelo novo processo de produção partilhada,
ou seja, naquilo que Benkler (2006) designa de commons, ou seja, uma espécie de um
senso comum onde “ninguém tem o controle exclusivo do uso e da disposição de qual-
quer recurso particular”. O commons permite grandes mudanças no processo de produ-
ção e distribuição de conteúdos informativos.
Schmitt et al. (2008: 7) volta a realçar que o efeito direto do cidadão no processo de
produção de conteúdos resume-se na troca direta de funções entre o jornalista e cidadão.
Especula-se que aos poucos, o papel do jornalista desapareça como o único árbitro e
produtor de notícias, dando lugar ao usuário mais ativo e empenhado nas leituras, co-
mentários, avaliações e indicação de notícias, ou seja, oferece ao editor pistas para fac-
tos noticiosos.
263
Gans (2013) tem uma outra perspetiva de leitura, na qual o jornalismo deve desempe-
nhar o papel fundamental para a democracia. O autor recomenda que os jornalistas dei-
xem de fazer o jornalismo político para as elites políticas, mas que focalizem as suas
abordagens políticas para o cidadão, através daquilo que ele chama de “ Notícia do ci-
dadão” ou notícias dirigidas aos cidadãos “unrepresented and unorganized”. Interpreta-
se nas reflexões de Gans (2013) por cidadão “unrepresented and unorganized”. Aquele
que não está representado ou desorganizados, ou ainda o cidadão anónimo cujas ideias
podem contribuir para o sistema democrático.
Para Gonçalves (2003), as ideias de regulação do espaço digital não são partilhadas por
todos os pesquisadores e defensores de comunicação aberta e participativa, pelo simples
fato da Internet ser um “espaço natural” da liberdade, não sujeito a qualquer regulação,
além de ser um novo meio de dimensão global cuja atividade é de difícil do controlo.
Tendo a Organização das Nações Unidas (ONU) publicado em 2011 o relatório que
defende o acesso à Internet como Direito Humano, protegido pelo artigo 19, parágrafo
3, do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966, Internet passa a incorpo-
rar-se no direito de liberdade de expressão e de pensamento.
264
Em síntese, Amaral (2006) e Schmidt & Zanotti (2009) partilham a ideia de que existe
muita dificuldade em definir a interatividade e participação. As contradições abrem es-
paço para inúmeras interpretações. Para alguns autores, identificam as práticas interacti-
vas nos comentários de notícias, nos conteúdos publicados e nos fóruns de discussão.
Para outros, reduz-se apenas ao fornecimento de conteúdos (upload), responder questio-
nários, comentar e avaliar as notícias.
265
receberem conteúdos noticiosos, isto significa que as audiências estão a deslocar-se para
as plataformas móveis e, consequentemente, as tecnologias móveis estão a alterar a
forma de consumo de notícias.
Mayfield (2008) e Adaime (2010) constataram que as redes sociais da Internet constitu-
em uma teia complexa de indivíduos em constante interacção e troca social. Elas, de
forma directa ou indirecta, ampliam as conexões e a capacidade de distribuição de in-
formação, bem como permitem a discussão, comentários e redistribuição de conteúdos.
De acordo com os autores supra-citados, não restam dúvidas que alguns media poderão
servir-se das redes sociais para potenciar os laços das suas audiências, bem como servir
delas de plataforma de difusão rápida de notícias e de conhecimentos provenientes de
jornais, de rádios, de televisões ou outras fontes noticiosas. Esta rapidez e laços criados
nas redes são “responsáveis em manter a rede interconectada e fazer com que a infor-
mação atinja pontos cada vez mais distantes na rede”.(Mayfield, 2008) e Adaime, 2010)
No que toca a definição das Redes Sociais tem havido uma grande confusão entre auto-
res. Para Mayfield (2008) denomina as redes sociais de Media Sociais, e afirma que
266
existem seis tipos de redes: Redes Sociais, lideradas pelo MySpace, Facebook, Bebo;
Blogs e Wiki, e o melhor do Wiki é o Wikipedia; Podcasti, constituído por ficheiros de
áudio e vídeos e o melhor de todos são Apple e iTunes. Os Fóruns, são áreas de discus-
são online de determinados assuntos de interesse; conteúdos comunitários, que se dedi-
cam a partilharem informações do tipo foto, links e vídeos. Os mais populares são o
Flickrs, Del. icios. Us e Youtube e, finalmente o Microblog, que é uma rede social que
partilha informações em pequenos textos, o mais popular é o Twitter, (Myfield, 2008:
6).
Seja como for, as vantagens e gratificações obtidas pelos usuários das Redes sociais vão
desde partilha de ideias, cooperação e colaboração, criação artística, comércio, debates e
discussões, busca de amigos, amor, etc. (Myfield, 2008: 7).
Myfield (2008) reconhece que o advento das novas tecnologias e da Internet facilitou as
pessoas a criarem os seus conteúdos: imagens, textos, vídeos, etc. que há cinco anos não
era possível. Os media sociais trouxeram uma nova forma de produção e distribuição de
conteúdos.
Algumas plataformas de distribuição de conteúdos são mais usadas pelos jornais digi-
tais, o caso de Twitter e Facebook
Não basta falar de produção de conteúdos enquanto não se falar da RSS (Really Simple
Syndication), a tecnologia que revolucionou a forma de distribuição de conteúdos digi-
tais.
RSS alerta os leitores de notícias ou a página de Interne ou mesmo o Blog pessoal sobre
novos conteúdos disponíveis e envia-os sob a forma de texto ou imagem e o leitor pode
ler sem ter que visitar a página Web na qual estão as notícias.
Mas o tratamento de conteúdos existentes na Internet para fins jornalístico requer uma
nova especialização e modelo de jornalismo. De acordo com (Palacios & Machado,
267
2007) Jornalismo digital é um produto discursivo que vem dar resposta à circulação de
informação pela Internet. Ele constrói a realidade por meio da singularidade dos even-
tos, que tem como suporte as redes telemáticas ou qualquer outro tipo de tecnologia por
onde se transmitam sinais numéricos e que incorpore a interacção com os usuários ao
longo do processo produtivo. Ela é uma actividade que se desenvolve no ciberespaço
Esta definição é bastante limitativa quando se tenta perceber a novidade que apresenta
este modelo de jornalismo em relação ao anterior. Dai então há necessidade de buscar
outros subsídios de definição do jornalismo digital em Bardoel e Deuze (2000), Palácios
(1999, 2002) e Canavilhas (2007). De acordo com os autores supracitados, eles diferen-
ciam algumas características dos media digitais e dos media clássicos. As caraterísticas
dos media digitais têm a hipertextualidade, a interactividade, a personalização do conte-
údo, a multimedialidade, a memória e atualização contínua enquanto os outros não pos-
suem nenhuma destas caraterísticas.
268
Figura nº6: Ferramenta de partilha de conteúdos para as redes sociais
Fonte: www.dn.pt
Como se pode notar nesta figura, existem muitas Redes Sociais da Internet que possibi-
litam aos usuários a partilharem a informação. Assim sendo, o fenómeno do jornalismo
digital já não se assume como o protetor da informação através de Leis de proteção de
direitos de autor, mas liberaliza a circulação de seus conteúdos jornalísticos na Internet.
Além desta ferramenta de partilha, existem outras que permitem uma diversidade de
funções: envio da notícia por e-mail, copiar a URL da notícia para outro lado, impres-
são, comentários, guardar a notícia no arquivo pessoal, recomendar a leitura aos amigos
ou comunidade do Facebook, twittar e recomendar aos amigos do Gmail.
269
ting, Internet brodcasting. O autor explica que o processo de funcionamento destas tec-
nologias consiste no envio de notícias personalizadas para os dispositivos dos leitores.
Estas tecnologias já eram utilizadam pela comunidade do Instituto Tecnológico de Mas-
sachusetts (MIT), com a designação de fishwrap. (Mannarino, 2000:46).
A técnica de distribuição de conteúdos da Internet via Podcasting tem a sua origem da-
tada em 2004. Segundo Luiz & Assis (2010) e Herschmann & Kischinhevsky (2008), o
conceito Podcasting está associado à audição e partilha de ficheiros musicais, em for-
mas de arquivos, que podem ser baixados da Internet ou das empresas ligadas à geração
de conteúdos. Para os dois últimos autores supracitados, o podcasting é um dos elemen-
tos da banalização da rádio como meio de informação.
Luiz & Assis (2010) define Podcasting como sendo “ uma midia da cibercultura em
formato de áudio e vídeo e transmitido diretamente ao assinante via feed RSS” Esta de-
finição se aproxima a reflexão de Mannarino (2000), mas ela acrescenta o valor tecno-
lógico associado à distribuição, ou seja o uso do Feed RSS, conceito que definiremos
mais adiante.
De acordo com o mesmo autor, Podcasting resulta da junção do prefixo “Pod”, original
do “ipod”, leitor de músicas digitais fabricado pela empresa Norte Americana Apple,
mais o sufixo “ casting” originado da expressão “brodcasting”, que significa transmis-
270
são pública e em massa de informação através de ondas eletromagnéticas da rádio ou
televisão (Luiz & Assis, 2010).
Da mesma forma, Cabrera (2010) partilha o mesmo sentimento de Lessin & Spencer,
2013 e acrescenta que a distribuição de conteúdos em multiplataforma digital resulta da
tendência de convergência de tecnologias. Tal distribuição só aumenta as possibilidades
de consumo dos conteúdos, que se podem traduzir em benefícios económicos, sociais e
culturais para a empresa.
A distribuição de conteúdos permite aos editores das páginas noticiosas uma variada
forma de disponibilização de conteúdos digitais, inclusive para as redes de comunicação
tradicionais sem grandes custos. Hoje em dia, a distribuição de conteúdos oferece opor-
271
tunidade para os produtores de media de terem os seus conteúdos para vários dispositi-
vos de receção, algumas vezes facilitadas pela mobilidade e pela navegação táctil, como
forma de chegar a audiência profundamente segmentada.
A nova geração de dispositivos está a provocar o surgimento dos aplicativos (Apps), que
são pequenas ferramentas informáticas desenvolvidas para várias funções e, inclusive,
de captura do ecrã e leitura de notícias, de acordo com o formato do dispositivo móvel.
Alguns jornais oferecem aplicativos grátis para os seus usuários para que eles possam
acessar a informação e outros, contrariamente, comercializam-nos. Para estes últimos, o
risco de comercialização dos aplicativos está associado ao facto dos seus conteúdos não
272
poderem ser acessados por usuários com dispositivos móveis, o que poderá diminuir a
procura e partilha dos seus conteúdos.
De acordo com Robin Good, consultor de blog, afirma que existem três tipos de distri-
buição de conteúdos: licenciado, com anúncio e gratuito.
Para distribuição de conteúdos produzidos nas televisões, rádios, Web sites noticiosos,
Twitter são feitos pelas empresas como Dear Abby; Lexis Nexis, Newstex, e outras.
273
Figura nº8: Processo técnico de produção e distribuição de conteúdos digitais para
multidispositivos
Como ilustra a figura nº8, o primeiro passo essencial nesta cadeia de produção é a pro-
dução de conteúdos em vídeos, textos informacionais, gráficos animados ou estáticos,
sons, fotos e infografias e outros. O segundo passo é a colocação de toda a informação
numa Base de Dados para passar pelo processo de conversão da linguagem, porque cada
plataforma digital possui uma linguagem própria que permite a leitura de dados que lhe
é transmitida. O telefone, Ipad, PDA, Ipod, smartphone, tablets e computador, só funci-
onam com a linguagem que para eles foi programada como, por exemplo, android,
HTML, XML, VML, etc.).
274
a) Com a Alocução a informação é distribuída ao mesmo tempo de um centro para
muitos recetores periféricos, trata-se de uma comunicação unidirecional de um
para muitos com oportunidades relativamente pequenas de retroação pessoal.
Ainda mais, o tempo e o lugar de comunicação são determinados pelo emissor
ou pelo centro
b) Na Conversação os interlocutores interagem diretamente uns com os outros, ul-
trapassando um centro ou intermediário e escolhe os seus próprios parceiros bem
como o tempo, o lugar e o assunto da comunicação. Esta forma de distribuição
aplica-se a uma vasta gama de situações de troca de cartas pessoais ao uso do
correio eletrónico. Nesta forma de distribuição a característica principal é o facto
de os interlocutores serem iguais na troca.
c) Consulta. Refere-se a uma gama de diferentes situações de comunicação nas
quais um indivíduo procura informação numa base de dados de informação (bi-
bliotecas, trabalhos de referência, discos de computadores, etc.). Este padrão
aplica-se ao uso dos jornais, considerados meios de massas alocutivas, dado que
o tempo e o lugar de consulta são determinados pelo recetor e não pelo emissor.
d) Registo. Esta forma de distribuição baseia-se na ideia de que o emissor requisita
e recebe informação de um participante na periferia. Aplica-se quando os regis-
tos centrais (emissor) são mantidos num sistema para a vigilância, ou seja, a co-
leção de dados pessoais para fins de publicidade para as moradas. Neste modelo,
o emissor tem mais controlo do que o indivíduo na periferia para determinar o
conteúdo e a ocorrência do tráfego de comunicação.
275
geográficos jamais explorados. Além disso, aumenta a fidelização dos usuários e envol-
ve neste aspeto todo o conjunto de marketing integrado.
Existem muitas ferramentas de distribuição disponíveis no mercado. Elas não devem ser
encaradas como um custo para a organização, mas como um benefício imediato e solu-
ção para o problema imposta pela mobilidade da audiência.
Uma das discussões que é levantada nos últimos anos diz respeito a aliança entre os
media digitais as redes sociais da Internet. Nisto, existem muitos estudos recentes em
torno do fenómeno. Gilmor (2005), na sua obra “Nós, os media”, discute esta temática
com muita experiência pessoal. O autor apresenta RSS (Reality Simple Syndication)
como a ferramenta revolucionária de distribuição de conteúdos electrónicos de forma
personalizada. O autor supracitado explica que RSS permite que os leitores de blogs,
telemóveis, computadores pessoais e redes sociais tenham informação selecionada e
personalizada. RSS pode vir a ser o próximo meio principal de distribuição, recolha e
receção de informação. (Gilmor, 2005: 54).
Estudos conduzidos pela CNN Research em 2010 chegaram a conclusão que 40 por
cento das notícias partilhadas na Internet são feitas por meio das Redes Sociais da Inter-
net, muito mais do que por correio eletrónico que se situa na ordem 30 por cento de par-
tilha, 15 por cento por SMS e 12 por cento através de mensagens instantâneas. (Rhodes,
2010)
Estes dados estatísticos mostram que as Redes Sociais da Internet são responsáveis pela
partilha de informação proveniente de organizações produtoras de notícias, de forma
simples e rápida. Através de um botão é possível enviar um conteúdo para uma centena
de amigos do twitter, facebook, Digg, Two, Orkut e outras redes onde a audiência está
concentrada.
Esta forma de partilha, de acordo com Rhodes (2010), acaba tendo uma grande influên-
cia no fluxo de informação noticiosa e de benefícios diretos para os órgãos de informa-
ção, em termos de publicitação de marcas.
276
prestação de contas, profissionalismo, independência editorial, liberdade de expressão,
liberdade de informação e permite a diferenciação entre o interesse público e serviço
público.
Novaes (2010: 24) acrescenta que para uma empresa ou marca entrar nas redes sociais
da Internet deve “ contar com um excelente planeamento estratégico e se preparar para
receber críticas e comentários negativos”. Não se trata de uma atitude de coragem entrar
em redes participativas, mas são exigências do próprio meio digital que permitem criar
relacionamento de proximidade e retirar dos usuários os seus verdadeiros interesses
pelos conteúdos produzidos.
Para tirar proveito das redes sociais da Internet, Novaes (2010) propõe o modelo basea-
do no foco em um público específico, através de conteúdos exclusivos e desejados pelos
seus usuários, embora algumas empresas prefiram no modelo de participação e perfil de
consumo, bem como das tendências, novidades e curiosidade.
Fonte: http://www.cmjornal.xl.pt/
277
A correção de notícias feita pelos usuários, como nos demostra a figura nº9, é útil para
ajudar a empresa de comunicação a melhorar os seus conteúdos e estabelecer plano de
desenvolvimento de conteúdos orientados para a qualidade de notícias, tornando os cri-
térios noticiosos menos subjetivos. Além desta fonte de retro informação, também são
usados os chats, blogs, redes sociais da Internet e comentários.
O “like” ou o gosto feito na conta do Facebook do jornal, a avaliação feita a cada peça
de notícia, as hiperligações feitas ao website de notícias por bloguistas e outros sites
externos, os questionários online, são o manancial perfeito para aferição da qualidade de
notícia do jornal digital.
5.3.Ubiquidade
Com o advento do jornalismo digital, a informação deixa de ser localizada e passa a ser
de carácter global. Ela circula por todos os quadrantes do mundo e em contextos sociais
e linguísticos diferentes, graças ao poder da Internet e das ferramentas tecnológicas de
tradução.
278
Muñoz (2006) relata que a mediação da universalidade é feita através do número do
tráfego de usuários, os destinos de referência e as respectivas as origens. Mas este crité-
rio de aferição da ubiquidade de uma página Web noticiosa vai muito além deste critério
e nem pode não expressar o alcance universal do jornal.
A análise das redes sociais da Internet inclui-se entre uma das melhores ferramentas de
análise de acessibilidade dos conteúdos aos usuários de outros pontos do planeta. Mas
World Wide Web Consortium (s/d.) acredita que a tradução automática, por enquanto é
menos fiel, mas tem a vantagem de disponibilizar os conteúdos a escala global para de-
zenas de idiomas e permitindo que os media se comuniquem com os usuários em várias
línguas.
Estudos levados a cabo pela Internet World State (2010) e Eurobarómetro (2011) indi-
cam que menos de um terço dos usuários da Internet tem o inglês como a língua nativa.
A medida que a Internet cresce também aumenta a presença de outras línguas como o
Russo, Chinês, Espanhol, Árabe e outras. Mas para responder à demanda de conteúdos
universais da Internet, tem crescido o esforço de criação de plataformas de informação
multilíngue.
5.4.Hipertextualidade
A hipertextualidade permite ligar texto, fotos, vídeos e gráficos aos arquivos digitais ou
a textos externos. A linguagem hipertextual no jornalismo foi apropriada da informática.
Para Edo (2002), Marcos (2003) e Garcia (2008) partilham o sentimento que a captura
da linguagem hipertextual pelo jornalismo digital tornou os textos jornalísticos mais
flexíveis e dinâmicos.
279
A diferença entre notícias publicadas nos meios tradicionais e aquelas que se publicam
nas redes digitais está na potencialidade do digital apontar instantaneamente para outros
textos. Esta rapidez de ligar um texto para outro cria o hipertexto. (Sandoval, 2003:
426).
Noci & Salaverría (2003) esclarecem que existem características específicas da hiper-
textualidade aplicadas no jornalismo digital, que combinam texto de leitura e texto de
consulta, de modo a “favorecer uma leitura rápida e orientada”. (Noci & Salaverría,
2003: 119).
Embora exista uma variedade de hipertextos como, por exemplo, hipertexto literário,
hipertexto científico e documental, existem também hipertextos jornalísticos considera-
dos herdeiros do hipertexto literário e do científico. De acordo com Noci & Solaverría
(2003) o hipertexto jornalístico constrói as suas estruturas hipertextuais combinando
textos de consulta e textos de leitura. Mas alguns textos jornalísticos, particularmente
aqueles de carácter informativos usam uma estrutura hipertextual simples com objectivo
de favorecer uma leitura rápida e orientada.
Noci & Salaverría (2003: 120-133) apresentam cinco modelos da estruturação hipertex-
tual no jornalismo digital: estrutura linear; estrutura paralela; estrutura árvorea, estrutura
retangular e estrutura mista:
280
Fonte: Carvalho (2002)
1. Estrutura paralela- possui o nó de entrada único, mas depois ramifica que con-
tinua de forma linear.
2. Estrutura árvorea- é considerada uma estrutura aberta ou ramificada. Ela fun-
ciona de seguinte modo: possui um único nó de ligação inicial que dá lugar a vá-
rias alternativas, que por sua vez, podem dar lugar, ou não, a outras diversas al-
ternativas, como é demonstrado no gráfico a seguir:
De acordo com Rost (2003:171), entre os que limitam e ampliam o acesso à informação
e conhecimento existem três estruturas de hipertextos ideais, designadamente: estrutura
hierárquica, estrutura em rede e estrutura mista.
281
a) Estrutura hierárquica-apresenta apresenta o nó principal do qual derivam ou-
tros secundários e, por sua vez, surgem outros menos importantes. Numa estru-
tura hierárquica, as ligações criadas servem para diferenciar os nós de ligação de
acordo com o nível de importância, por isso não têm hiperligação entre os nós de
ligação. A vantagem desta estrutura é que permite alinhar as ideias e ajuda a
eliminar as interferências nas mensagens, (Rost 2003: 172). O gráfico da estrutu-
ra hierárquica é representado de seguinte modo,
282
Fonte: (Rost, 2003)
283
notar, e de acordo com o autor, a estrutura mista é a mais democratizadora do conheci-
mento e da informação, pois permite a manutenção das hierarquias dos conteúdos e a
escolha daquilo que o leitor acha importante para a construção do seu conhecimento.
(Rost, 2003:75)
A maneira comum de leitura que vem da tradição do papel, segundo Fachinetto (2005) é
a do modelo linear. Mas para o caso de textos hipertextuais informativos, a regra de
leitura é deixada ao livre arbítrio do leitor. Ele toma o controlo sobre o texto e define as
rotas de leitura.
Noci & Salaverría (2003: 133-136) estabelecem quatro estratégias de leitura de hiper-
textos noticiosos: o rastreio, a busca, a navegação e a exploração:
a) O rastreio-É o modelo em que o leitor faz uma navegação rápida nos “nós”: Ele
faz uma busca específica de alguns conteúdos;
b) A busca-Corresponde a uma leitura hipertextual na qual o leitor busca se infor-
mar efectivamente;
c) Navegação-Este modelo de leitura funciona num acaso. Ela não tem o sentido
orientado;
d) Exploração- É uma leitura hipertextual ampla e sem objetivo específico.
O rastreio, a navegação e a exploração são formas de leitura que são deixadas à liberda-
de do leitor, ou seja, ação de informação é decidida pelos sujeito-usuários. Ela tem a
desvantagens de ser uma espécie de aventura sem retorno, enquanto uma leitura feita
através de busca orientada, além de ser didática é orientadora dos percursos de leitura.
284
Quanto ao uso do hipertexto para a construção do conhecimento, ela está carregada de
duas ideologias subjectivas. A primeira é a de tentativa de captura do usuário e impedi-
lo de navegar para o exterior do website e a segunda é de ordem comercial, segundo a
qual o usuário tem a liberdade de desfrutar dos conteúdos internos e externos, mas cabe
a sua liberdade de escolha.
Se por via da liberdade de escolha o usuário pode navegar para qualquer ligação exter-
na, então, a figura do gatekeeper joga o papel importante. Então qual é o papel do editor
na construção de notícias hipertextuais? De Acordo com Ristow (2013), a revolução
tecnológica está a abrir o acesso à informação para qualquer pessoa através de compu-
tador pessoal, smartphone e tablets ligados à Internet. Neste contexto, surge o novo esti-
lo do editor, o gatekeeper, que desempenha novas funções como, organizar, definir as
rotas de navegação, priorizar a informação, partilhar e formatar o tipo de conhecimento
que o usuário deve ter.
285
As teses de hipertextos apresentadas por Noci & Salaverría (2003) e Rost, (2003) não
deixam margem de dúvidas que o hipertexto oferece ao usuário uma maior liberdade de
leitura, assim como oferece ambiente de colaboração entre o leitor e o jornalista que
escreve os textos.
Em síntese, a transição do jornal impresso para o digital abre uma nova relação entre o
jornal, o leitor e os conteúdos. Face a estas tendências ou realidades, então a questão é:
quais os impactos e os riscos que a hipertextualidade pode trazer para o leitor ou o usuá-
rio? Mas a tese de Noci & Salaverría (2003) não deia dúvidas que a hipertextualidade
aplicada no jornalismo digital favorece uma leitura rápida e orientada.
Rost (2003) classifica a conexão entre conteúdos em duas categorias: as ligações estru-
turais ou de categorias e as ligações semânticas. As ligações estruturais ou de categorias
são aquelas que conectam os sistemas de navegação numa página Web, caracterizadas
por frames fixos nos extremos de cada página e que permitem o movimento de navega-
ção e visualização de conteúdos para baixo ou para cima, para esquerda ou directa, en-
quanto as ligações semânticas têm a ver com as conexões de conteúdos entre si. Estes
são utilizados para gerar sentido, associar os conteúdos e criar a retórica nos textos digi-
tais, (Rost, 2003: 176)
As conexões entre conteúdos não só interligam a informação, mas é a base que permite
acrescentar valores diferenciados ao jornalismo digital. Elas introduzem novas formas
de disponibilização de informação, levando o leitor directamente às fontes de informa-
ção ou abrindo a possibilidade de participação interativa do leitor. Elas dividem-se em
quatro categorias distintas. (Rost, 2003:176-181):
286
a) Segundo a hierarquia-são ligações que permitem a localização dos “nós” na estrutu-
ração hipertextuais e, simultaneamente são os que permitem estabelecer diferentes rela-
ções entre conteúdos como, por exemplo, matérias que se relacionam, ou uma ligação
que gera uma estrutura vertical de conteúdos a partir de um nó de entrada ou as duas
coisas;
5.5 Multimedialidade
287
(2006). Assim sendo, a multimedialidade constitui a matriz que deu origem a interacti-
vidade, caracterizada pela integração de documentos em forma de texto, vídeo, imagem,
gráficos. (Carvalho, 2002: 248-249, Canavilhas, 2007: 87-90).
Bardoel & Deuze (2001) notam uma certa potencialidade da multimedialidade em poder
revolucionar o jornalismo digital ou enriquecê-lo com novas narrativas jornalísticas.
Canavilhas (2013: 12) chama atenção para um tipo de “multimedialidade na sua conce-
ção mais ampla”, que não só emprega o texto, som e vídeo numa só peça informativa,
mas que agrega a hipertextualidade e interatividade. Em tese, esta combinação não sepa-
ra os elementos característicos do jornalismo digital, mas embute-as no mesmo bloco de
notícia e oferece uma informação integrada, uma maior liberdade de percurso textual e a
possibilidade do usuário poder interagir com o texto (corrigir ou acrescentar).
O Jornal New York Times deu exemplo duma multimedialidade perfeita numa reporta-
gem jornalística intitulada “ Snow Fall- The avalanche at Tunnel Creek”. A tal notícia
integra texto, fotos, vídeos, animações gráficas. Desta forma, o jornal New York Times
inicia a materialização da verdadeira multimedialidade. (Ferreira, 2012).
Dois pontos saltam à vista no estudo da Madden (2007) sobre o novo comportamento de
consumidor de conteúdos noticiosos na Internet. O primeiro ponto é que a quantidade
de informação que circula na Internet altera o comportamento de consumo de conteúdos
extensos e dá lugar ao consumo de conteúdos rápidos e precisos. O segundo ponto é o
próprio material multimédia, que tende a se apresenta de forma breve, direta e concisa.
288
Estudos de Thurman & Lupton (2008) vêm confirmar que no período do declínio da
leitura de jornais e de audiência da televisão, os elementos de multimédia (vídeos) de
notícias surgem como produtos de consumo imediato. Os autores reconhecem significa-
tivas mudanças nos produtos produtos noticiosos. Tais mudanças implicam novas roti-
nas de trabalho e produtos inovadores.
Para uma melhor gestão de conteúdos digitais, tanto Lopéz et al (2004) e Camus (2009)
concordam que não basta dispor de todos os produtos informativos na página web, pois
é necessário estabelecer política editorial, geração de receitas, revisão constantes dos
conteúdos anteriores, definir as estratégias de conteúdos, o marketing dos produtos, etc.
Trata-se da estruturação do sistema de gestão de conteúdos que se articula com todo o
“ecossistema de produção e distribuição” (Lopéz et al, 2004: 198, Camus, 2009: 40-41).
Madenn (2007), Thurman & Lupton (2008) criticam que o novo fenómeno de consumo
de produtos da multimedialidade reduz os leitores de jornais para a condição de passivi-
dade e consequentemente cria o efeito de nivelamento. Entende-se por palavra nivela-
mento, a mesma posição de quem não sabe ler e consome com fascínio as imagens di-
nâmicas.
289
O raciocínio leva-nos a concluir que o sistema de multimedialidade poderá encontrar o
ambiente fértil de consumo em comunidades analfabetas ou de multiplicidade linguísti-
ca, desde que sejam modificados alguns elementos internos para adaptar ao contexto.
McAthy (2013) acredita que no jornalismo digital os usuários são importantes na cola-
boração. Eles podem contribuir para o enriquecimento e avaliação da qualidade de in-
formação, mas para isso é necessário que os media abram as janelas de interatividade
com os usuários para que eles possam contribuir com as suas opiniões e partilha de con-
teúdos, naquilo que Gans (2013) alertava, num outro contexto, para a necessidade dos
jornalistas virarem as suas abordagens jornalísticas para o cidadão e não para as elites
políticas.
5.6. Instantaneidade
Para Ammadori & Marque (2009), o fenómeno deve ser visto de avesso, pois a instan-
taneidade é uma resposta de novos media a demanda por notícias em tempo real, pois os
factos deferidos deixaram de ser do interesse dos consumidores de informação.
Então levanta-se uma questão de fundo de grande pertinência para o jornalismo digital.
Qual é a duração de instantaneidade? Lopez et al (2003) responde que existem desafios
colocados às redações digitais de ter que permanecer de sentinela para atualizar constan-
temente os conteúdos, porque o meio digital tem a obrigação de informar aos seus usuá-
rios na medida em que os factos ocorrem.
290
jornalismo digital corresponde ao momento em que os factos acontecem e que estão em
reciprocidade com o momento de cobertura e da publicação da notícia.
Deste modo, a autora deixa claro que os parâmetros de medição da instantaneidade ba-
seiam-se nos intervalos de tempo que separa a ocorrência do primeiro facto e os subse-
quentes desenvolvimentos.
Para além de uma vigilância contínua, Tellaroli (s/d) refere que essa cobertura contínua
dos factos noticiosos veio romper com a barreira do tempo e espaço, conceitos que eram
tabus e intransponíveis para os media tradicionais como o jornal e a televisão. Ainda
mais, o jornalismo digital amplificou o conceito de velocidade e acelerou o ritmo de
produção de notícias.
Não restam dúvidas que a instantaneidade amplia o acesso e a velocidade de repasse das
informações e obriga, muitas vezes, a um novo processo de produção justificada pela
busca constante de informação reunindo recursos de vários media: sons, textos, ima-
gens, vídeos, etc. Então, o que torna uma notícia credível. (Almeida. & Abreu,
2005:457).
Quanto à atualização, Lopez et al. (2003:207-208) afirmam que existem critérios dife-
rentes de atualização dos conteúdos. Há o desafio do jornalismo digital de ter que atua-
291
lizar as notícias de minuto-a-minuto, porque o meio digital têm a obrigação de informar
aos seus usuários na medida em que as notícias ocorrem.
Alguns jornais como por exemplo, Le Monde, adotam o sistema de atualização em três
turnos, manhã, meio-dia e a noite e reserva um espaço de atualização contínua de notí-
cias. (Delmonte, 2009: 201).
5.7. Memória
Os arquivos digitais desempenham o papel fundamental nos novos media que os produ-
zem e armazenam. Eles são na sua essência a memória dos media e o manancial de in-
formação e de conhecimento.
292
Para melhor perceber a evolução do centro de documentação das redações tradicionais
até a base de dados, Lacoba (2005) citando o artigo da Nora Paul intitulado Media li-
braries and New Media, apresenta uma cronologia história da evolução dos centros de
documentação até a memória conservada na base de dados. O autor descreve de seguin-
te modo cada uma das fases. (Lacoba, 2005: 155-159):
Muitos dos produtos informativos digitais provém dos centros de documentação de re-
dações analógicas. Por isso, o novo serviço de documentação digital é considerado cen-
tro de recursos multimédia e integrado na cadeia de produção jornalística, por sua renta-
bilidade científica, económica e social. (Lacoba, 2005):
Não restam dúvidas que o jornalismo digital é o responsável pela produção de grande
quantidade de informação, Marcet et al (2007). Assim sendo, a capacidade que o novo
meio tem de informar sobre temas de interesse público é potencialmente ilimitado, daí
293
então é importante o processo de atualização e armazenamento de informação. (Marcet
et al, 2007: 327).
Palácios (2008) explica que a memória digital é a base fundamental para apuração da
qualidade do jornalismo digital. Para o autor ela não é só um meio de armazenamento
de textos, mas uma base de dados mais alargada na qual se pode armazenar e recuperar
de formar independente ou agregada de gráficos, imagens, textos, vídeos e sons.
Mas uma das questões a ter em conta numa memória digital é a recuperação (retrieval).
Por isso, as redações digitais devem possuir um sistema de armazenamento e gestão de
conteúdos, um recurso que permitem aos editores, repórteres, usuários e todos envolvi-
dos tenham acesso aos conteúdos armazenados para diversos fins: associações de factos,
revisão, seguimento de factos ou mesmo para publicação. (Weiss & Schwingel, 2008;
98).
De acordo com Palácios & Noci (2007), actualmente a indexação e recuperação de in-
formação na Web aponta uma nova tendência designada “Web Semântica”. Trata-se de
uma técnica de estruturação dos sentidos dos conteúdos da Web. A tal técnica tem como
interface o motor de busca, o recuperador.
Para Palácios & Noci (2007) a Web semântica é uma técnica que veio revolucionar a
memória dos jornais digitais e abrir espaço de acesso à informação e conhecimento co-
mo um bem comum. O motor de busca e recuperação permite a busca de documentos
em forma de textos, imagem, som, vídeo, na base de dados da página Web.
294
a) Modelo aberto é aquele que oferece ao usuário todas as possibilidades de
recuperação sem nenhum limite textual. Os modelos abertos utilizam técnicas diferen-
tes: os que usam formulários de busca e os que oferecem através de formulário fechado,
todas as possibilidades de recuperar um determinado conteúdo
O modela mais adequado para memória de um jornal é modelo aberto. Este, reconhe-
cendo as suas limitações internas aponta ao usuário alternativo de busca fora da base de
dados do jornal.
Em função dos seus gostos e interesses, o usuário decide para si os conteúdos do seu
consumo e, em contrapartida, o produtor dispõe-os de acordo com os seus hábitos e pre-
ferências. Para que isto aconteça é necessário que o produtor de conteúdo tenha o histó-
rico de visitação dos usuários no site de modo que se permita o registo e acompanha-
mento das suas navegações.
295
Para que a personalização seja efetiva, o usuário estabelece uma relação de proximidade
com o produtor de conteúdo. Ele deve ser bastante exigente na fiabilidade da informa-
ção. Esta relação implica uma negociação entre o produtor de conteúdo e o usuário. O
produtor liberta ou torna pública a informação e o usuário subscreve, avalia, responde
questionário e partilha a informação. Esse acordo é baseado no princípio implícito de
não coação.
Existem três formas de obter o histórico do usuário: através das estatísticas internas de
visitas, através das preferências dos usuários ao avaliar os conteúdos do Web site notici-
oso e, por último através do botão like e acompanhar, presente nas contas dos sites noti-
ciosos presentes nas redes sociais da Internet, inclusive twitter. Deste modo, o produtor
de conteúdo ou o editor das redes sociais pode coletar centenas de informações compor-
tamentais de usuários. Ele pode ver quem é que tem interesse pela matéria e até pode
estabelecer um diálogo com o usuário.
Como se pode notar, a vantagem da presença de um jornal nas redes sociais da Internet
é de permitir, não só a fidelização dos usuários, também oferece as trilhas seguidas pe-
los usuários como registar as notícias de grande interesse, definir os hábitos de navega-
ção, etc.
A personalização de um meio pode ser ativa ou passiva, ela é ativa quando o usuário
define suas preferências de conteúdos, cada vez que entra na web escolhe os assuntos do
seu interesse e subscreve-os. Enquanto o usuário passivo é aquele que se deixa guiar
pelas propostas do editor. (Lopez et al.2003:226).
296
Visualização de multimédia-o usuário escolhe seus critérios de personalização
em função das tecnologias visualizadas que tenha no seu computador.
Existem dois tipos de leitores RSS para se escolher, o que é baseado na Web, ao qual se
conecta acessando a página específica da Web e outro leitor é baseado em programas de
software autónomo, que se baixa para o computador e depois executa-se.
Estudos recentes revelam que o uso de feed RSS está em declínio e no seu lugar os usuá-
rios preferem usar a subscrição por correio electrónico ou o uso de feed RSS orientado
para o envio de e-mail, twitter, impressão, chat, partilha, instagram, etc. (Chen, 2013).O
declínio é mais expressivo a partir de 2007, como demonstra a figura que se segue:
297
Gráfico nº 8: Uso do Feed RSS
O pico mais alto do uso do feed RSS regista-se entre 2005 a 2007 altura em que existia a
massificação dos blogs, os anos que seguiram até 2013, foram do declínio.
Nalan (2003) recomenda que antes de mudança para o jornalismo digital é fundamental
que a equipa de redação planifique detalhadamente o modo como irá funcionar a página
web de notícias. A mesma posição é defendida Lopéz et al. (2003) numa perspetiva
mais estrutural e em termos de sistematização de informação.
298
no aspeto de acessibilidade porque o jornalismo digital implica a acessibilidade de in-
formação para pessoas portadoras de deficiências. Quanto mais simples for o esquema
de acesso e navegação na página web de informação mais acessíveis tornam os conteú-
dos.
Os jornais digitais, pelas suas caraterísticas, deixam de produzir notícias para uma co-
munidade local. A ubiquidade torna os jornais digitais mais universais graças ao poder
da Internet, naquilo que Muñoz (2006) classifica de universalidade de informação.
299
cia do presente”, mas a questão que nos deixa com dúvidas nestas reflexões é o conceito
de tempo. Entendo aqui que o tempo no jornalismo digital remete-nos à duração da no-
tícia mensurada pela data, horas e minutos mais próximos das ocorrências dos factos,
naquilo que Marcet et al. (2007) consideram o valor essencial para os consumidores
modernos de informação jornalística. Tal valor implica a vigilância constante do jorna-
lista quanto aos fatos noticiosos.
A multimedialidade defendida por Bardoel & Deuze (2001) como fator revolucionário
da narrativa jornalística, mais tarde Canavilhas (2013) chama atenção no mesmo sentido
acrescentando que a multimedialidade não só emprega som, vídeo e texto numa só peça
informativa, também agrega a hipertextualidade e a interatividade.
No aspeto focado por Canavilha (2013) quanto aos novos elementos incorporados na
multimedialidade, o jornal New York Times demonstrou na sua edição de Fevereiro de
2012 através de uma reportagem intitulada Snow fall- The Avalanche et Tunnel Creek,
que era possível combinar no mesmo texto jornalístico a imagem, som, vídeo, hipertex-
to e interatividade.
Tanto Palácios (2008) como Lopéz et al. (2003) esclarecem que a memória no jornalis-
mo digital permite a recuperação instantânea de informação, pesquisa, acompanhamento
das notícias desde o primeiro momento da sua ocorrência, relacionamento, confrontação
e investigação.
300
PARTE II
O objetivo do estudo de caso visa obter resposta inquietante aos problemas de Quem?
Como? Quando e Onde? (Yin, 2009). Nos dois casos de estudos, Jornal Notícias e @
Verdade. O objetivo orienta-se no sentido de descobrir os elementos caraterísticos do
jornalismo digital que permitem competitividade e articulação com audiência margina-
lizada da sociedade. Para o seu alcance são analisadas as seguintes variáveis: arquitetu-
ra da página Web; multimedialidade; interatividade; hipertextualidade, instantaneidade,
memória, personalização e ubiquidade.
301
a) Ao tipo de interatividade, no qual se analisa a interatividade aberta, ou seja,
aquela em que todos podem participar com as suas ideias na elaboração ou enri-
quecimento de conteúdos e a interatividade autoral em que só são permitidos a
participarem todos os usuários, mas sem possibilidade de intervenção,
b) As estruturas classificam-se de seguinte forma: estruturas fixas, aquelas que são
modificáveis mediante a substituição do autor; estruturas aleatórias, aquelas em
que o usuário desconhece o destino ao qual é conduzido pelas nós de ligações
propostos em que, às vezes, aparecem elementos lúdicos e de surpresa; estrutu-
ras relacionais, que recolhem informações dos usuários e em função delas orga-
nizam informação que lhes interessa; e por fim a estrutura contributiva, aquela
que permite aos usuários contribuir nos conteúdos. (Palácios & Noci, 2007).
Na análise da interatividade vai se ter em conta outros elementos transversais a ela co-
mo, por exemplo, o grau de diálogo que se fomenta, os chats moderados ou não; a ins-
tantaneidade ou não de interatividade, correios eletrónicos, fórum de discussão, etc.
Instantaneidade
Esta variável estuda o número de acontecimentos por unidade de tempo mensurado num
intervalo de tempo. Foi agregada com uma das variáveis de proximidade a instantanei-
dade. Ela tem a ver com o conceito de tempo “real”, ou seja, a publicação de notícias no
momento exato em que ocorrem os fatos.
302
Memória-Visa estudar disponibilização digital de toda a informação anteriormente pro-
duzida e armazenada pelos jornais, através da criação de arquivos digitais com sistemas
sofisticados de indexação e recuperação de informação”. (Palácios, 2008:94).
De acordo com a grelha de análise de Zamith (2008) cada um desses elementos de aná-
lise tem uma pontuação mínima de 0 e a máxima de 100 pontos. A distribuição percen-
tual de cada tabela de análise tem a ver com a relevância de cada um dos elementos de
avaliação no jornal digital. Sendo a interatividade 25 pontos que corresponde a 25%;
hipertextualidade 20 pontos (20%); multimedialidade, instantaneidade/atualização, per-
sonalização e memória 12 pontos (12%) e Ubiquidade/tradução automática 4 pontos
(4%).
O Jornal Notícias nasce no dia 15 de Abril de 1926 na antiga Lourenço Marques, pro-
priedade de uma sociedade constituída advogado e tenente Eduardo Saldanha e o indus-
trial Paulino dos Santos Gil e o comerciante José Joaquim de Morais. Agregaram-se ao
projecto Eduardo Saldanha, capitão Manuel Simões Vaz. (Rocha, 2000: 138).
Devido a má sorte, segundo Rocha (2000), o jornal Notícias conseguiu vender apenas
36 exemplares no primeiro número. Por esta situação, o número dos sócios reduziu bas-
tante por não acreditarem no projecto, ficando somente com o capitão Manuel Simões
Vaz.
303
Graças ao crime de morte que ocorreu em Lourenço Marque, terra que nunca tinha visto
horrores da tamanha dimensão, seguido do golpe militar de 28 de Maio, o jornal revita-
lizou-se e despertou a procura, numa edição especial, que vendeu 900 exemplares. (Ro-
cha, 2000:139).
Com a provação da “Lei João Belo14” o capitão Simões Vaz foi forçado a abdicar o car-
go do director do jornal Notícias, no dia 8 de Outubro de 1926, e sendo substituído pelo
advogado Francisco Veloso e depois pelo médico João Lomelino, e por morte deste,
pelo médico António Alves Palma Calado e finalmente o capitão Simões Vaz foi permi-
tido à direção do jornal. (Rocha, 2000:139).
Rocha (2000) escreve que Jornal Notícias continuou a prosperar, ao lado de “ The Lou-
renço Marques Guardian, de propriedade maioritariamente estrangeiro. Em 1967 o jor-
nal Notícias tornou-se uma sociedade anónima e deixou de pertencer ao seu fundador,
capitão Manuel Simões Vaz. Durante a sua vigência anterior nunca lançou críticas con-
tra o Estado novo e a sua política. Entre 1943 a 1946, o Notícias passou a editar um su-
plemento especial, o Notícias de Domingo, redigido e impresso durante a semana e que
tinha uma linha recreativa. Já em 1933 a 1934, passou a publicar uma edição quinzenal,
O Ilustrado. E em 1952 passou a publicar uma edição vespertina, o Notícias da Tarde,
que teve uma secção em língua inglesa. (Rocha, 2000:139).
Em 1964, aumentou de novo o capital social para 10 mil contos com a entrada de novos
sócios. No dia 18 de Julho de 1967, o capital social passa para 15 mil contos tendo co-
mo accionista principal o Banco Nacional Ultramarino, BNU, seguido de outras empre-
sas mais importantes de Moçambique. (Rocha, 2000:208-209).
14
Trata-se da lei aprovada pelo ministro João Belo, no dia 3 de Setembro de 1926, que regulava a im-
prensa nas colónias. Uma das cláusulas da lei obrigava que os proprietários dos jornais tivessem o grau
académico de licenciatura e não podendo exercer funções de oficiais do exército, ( Rocha, 2000:138).
304
A estatalização da imprensa em Moçambique era feita através da participação do BNU,
banco emissor da colónia, quer através da tomada do capital pelo banco ou por empre-
sas em que tinha participações maioritárias, quer por mandatário do governo colonial.
(Rocha, 2000:208-209).
Período pós-independência
No início o jornal tinha um carácter popular, ou seja, o jornal Notícias não era só vendi-
do pelos ardinas e distribuídos aos assinantes também era afixado em vitrinas e paredes
das ruas dos principais locais e aglomerados populacionais, os chamados “ Jornal do
povo”.
De acordo com AfriMAP e OSISA, organizações da sociedade civil que apoiam o de-
senvolvimentos dos media em África, democracia e participação política em Moçambi-
que avaliam negativamente a estrutura acionista do Jornal Noticias que se revela mais
uma estrutura de lógica estatal. O Estado detém no Jornal Notícias quase 42 por cento
de título de ações, através do Banco de Moçambique, EMOSE e Petromoc.
305
Os Estatutos da Sociedade do Noticias, Sociedade Anónima,15, não indicam os nomes
dos accionistas da empresa, sabendo-se que a Lei de Imprensa determina que nas em-
presas jornalísticas de sociedades anónimas, todas as acções devem ser nominativas.
Tal como aconteceu no regime colonial em que mantinha o jornal notícias sob o contro-
le estatal, porque é que o novo regime pós-independência mantém o controlo deste ór-
gão como a mesma estrutura accionaria, embora com nomes diferentes?
Sendo jornal de serviço público, a Lei de Imprensa define, no seu nº2 do Artigo 11, os
princípios que orientam a actividade editorial do sector público no seu todo, estabele-
cendo que eles têm como principais funções:
(i) Promover o acesso de todos os cidadãos `a informação em todo o país;
(ii) Garantir uma cobertura noticiosa imparcial, objetiva e equilibrada;
(iii) Refletir a diversidade de ideias e correntes de opinião de modo equilibrado;
(iv) Desenvolver a utilização de línguas nacionais.
O problema do Jornal Notícia é que ele é detido na sua maioria pelo Banco de Moçam-
bique, Banco Central, e a empresa pública de seguros, EMOSE. Desta maneira tudo
15
Estatutos publicados no Boletim da Republica nº25, III Serie, 4º Suplemento, de 10 de Abril de 2007, pp. 45 a 48; e corrigidos
pelo Boletim da Republica nº25, III serie, 2º suplemento, de 22 de Junho de 2007, p. 32.
306
indica que se trata de concorrência desleal, sobretudo quando o Banco Central, que é
uma entidade pública, recorre aos fundos públicos para concorrer com o sector privado,
sob a pretensão de ser também um ator privado neste mercado.
307
Versão digital
i) Arquitetura de informação
A primeira edição digital do jornal Notícias foi lançada no dia 25 de Abril de 2008, data
em que celebrava os 80 anos da fundação do diário em formato em papel. Na sua pri-
meira página apresentavam todas as identidades visuais do jornal em papel, à cor ver-
melha.
308
Arquitetura da informação está montada de seguinte modo: a parte superior da página
em que devia estar a barra de navegação, ela é constituída por pequenas informações
sobre: o grupo que constitui o jornal, Sociedade de Notícias; os arquivos; secção para
anúncios; subscrições; sugestões; questões; mapa do site e pesquisa avançada e um es-
paço para publicidade.
A barra de navegação do jornal Notícias está situada no lado esquerdo da página e cons-
tituída por seguintes secções:
Última hora-É uma página, que desde a criação do jornal digital nunca teve
conteúdos, pois ainda não é explorada a sua potencialidade.
Primeiro plano-De forma aleatória é colocada uma peça noticiosa e sua hiperli-
gação para o texto integral no qual é assinado pelo autor. Normalmente o texto
vem acompanhado de uma fotografia que não correspondem ao primeiro plano.
Capital-É uma secção que insere normalmente duas ou três textos de um pará-
grafo que abordam assuntos que ocorrem na capital do país. Cada texto é acom-
panhado por uma foto ou não e uma hiperligação para o texto integral.
Nacional- Tal como as outras secções, o nacional contém duas ou três textos e
respetivas ligações hipertextuais para o texto integral.
Província em foco-Trata-se de nova secção incorporada no dia 1 de Novembro
de 2010, depois da reforma gráfica do jornal em papel. Dedica a cada dia um as-
sunto de uma das províncias moçambicanas. No corpo do texto aparecem duas
ou três fotos. Cada texto possui no fim um hipertexto que aponta para o texto in-
tegral
Política-Contém duas ou três textos e respetivas ligações hipertextuais param o
texto integral. É a secção que aborda assuntos da política nacional moçambica-
na, em destaque para assuntos pró-governamentais.
Ciência e ambiente-É uma das novas páginas incorporadas depois da reforma
gráfica do dia 1 de Novembro de 2010. Ela é constituída por dois ou três textos e
as respetivas hiperligações para o integral. Aborda assuntos ambientais nacio-
nais e resultados de pesquisas científicas a nível global. Para as pesquisas cientí-
ficas o texto não aponta nenhuma hiperligação para a fonte original.
309
Opinião-É uma página que insere o editorial e três ou quatro textos dos colunis-
tas. A sua atualização é diária de acordo com o seu congénere em formato de
papel.
Recreio e divulgação-Tal como no formato em papel, esta secção incorpora três
ou quatro textos com as hiperligações para o texto integral. Aborda assuntos cul-
turais
Informações úteis-Possui quatro subsecções: Tempo, Farmácia, Maré e Lua.
Apenas possuem conteúdos atualizados as subsecções da farmácia em serviço,
Maré e a Lua. Quanto ao Tempo, remete para a consulta do site do Instituto Na-
cional de Meteorologia
Desporto-É a secção mais extensa do jornal digital. Contempla diariamente 15 a
16 textos sobre o desporto nacional e internacional. Cada texto resumo tem a sua
hiperligação para o texto integral.
Internacional-Incorpora diariamente 5 a 6 textos atualizados com as respetivas
hiperligações para uma janela com o texto integral.
Página da mulher-É a secção que aborda assuntos relativos à mulher. Contém,
muitas vezes, duas ou três textos com hiperligações para o texto integral. A sua
atualização é esporádica
Caderno cultural-É a secção que incorpora parte de textos do encarte publicado
semanalmente, às quarta-feiras. Aborda assuntos culturais diversos. A sua atua-
lização é semanal.
Caderno de economia-Tal como o caderno cultural insere partes de textos pu-
blicados no encarte, as sextas-feiras. Aborda assuntos diversos da economia na-
cional e internacional e inclusive alguns artigos de opinião de carácter económi-
co.
Outros cadernos como: 85 anos do jornal Notícias; Beira 100 anos, Maputo 120 anos;
Suplemento fim do ano; Independência 35 anos; Especial HCB; Especial Ponte sobre
Zambeze; Integração regional e Suplemento 7 de Abril são cadernos publicados em edi-
ções especiais. Não possui nenhuma atualização, mas funcionam como arquivos.
O acesso a cada uma das secções é possível mediante um “clic” sobre a secção e em
seguida aparece um conjunto de textos noticiosos. Para o acesso ao texto integral deve-
se fazer outro “clic”.
310
Depois da reforma do visual gráfico do jornal Notícias em papel, no dia 1 de Novembro
de 2010, o diário digital também sofreu ligeira alteração. Passou a incorporar três novas
seções: Província em foco, Ciência e ambiente e Página da mulher.
A primeira reforma visual do Jornal Notícias digital ocorreu em Agosto de 2013, pou-
cos dias antes da entrega desta tese de doutoramento. Em síntese, a nova arquitetura
evoluiu ligeiramente em relação ao anterior, no que toca à barra de navegação, alguns
aspetos da interatividade e participação, presença no Facebook e textos dinâmicos. Res-
tantes elementos analizados neste capítulo mantém-se inalterado.
A coluna central é composta por um texto que varia entre três a quatro parágrafos da
matéria de destaque. O resto do texto integral é apontado para uma hiperligação noutra
janela Esta coluna é a única que suporta uma fotografia.
Na última coluna do lado direito estão inseridas as notícias breves tal como aparecem no
seu congénere em papel, mas com diferença nas hiperligações para texto integral.
311
No que toca a presencialidade de requerimentos técnicos especiais como (PDF, Quick
time, Acrobat read, etc.), palavras cruzadas, brincadeiras, jogos infantis, download grá-
tis, passatempos, jogos on-line, página infantil, blogs, jogos da memória, enfim, ele-
mentos que visam estimular e proporcionar ao usuários serviços de diversão sem neces-
sidade de sair da página, o Jornal não apresenta nenhum destes serviços na sua página
Web.
Fonte: https://www.majesticseo.com/
A figura ilustra que de Janeiro de 2013 até finais de Fevereiro de 2013 o Jornal Notícias
teve o período de pouca procura pelos seus conteúdos, a partir de finais de Fevereiro a
demanda cresceu. Em meados de Março teve o seu pico máximo procurae até aos finais
do mesmo mês houve uma queda acentuada. De acordo com o sistema de verificação
citado, o grosso número dos usuários é canalizado através de blogs escritos por moçam-
bicanos residentes fora do país, nomeadamente:
312
http://viravento.blogspot.pt/
http://oficinadesociologia.blogspot.pt/,
http://ma-schamba.com/
http://www.rm.co.mz/,
http://nunaweb.blogspot.pt/
http://noticias.sapo.mz/.
Quanto às fontes das letras, o jornal usa em todos os textos “ calibri”. De acordo o sis-
tema eletrónico de Testagem de Fontes e Tipografias, disponível em
http://www.typetester.org/ demonstrou que para ecrãs de baixa resolução é preferível o
uso de Sans Serif para evitar o efeito de desfocagem e promover uma leitura mais rápi-
da.
Quanto às cores jornal optou por usar apenas texto negro sobre o fundo branco, em to-
das a sua página web, mas a cor é fundamental para “guiar e orientar a leitura”.
313
Os textos noticiosos, apesar de terem uma elaboração hipertextual limitada, o acesso ao
texto integral continua um martírio de navegação, pois o usuário é obrigado a realizar
um percurso cansativo com imensas dificuldades de retorno ao “homepage”. O botão de
retorno ao “homepage” faz parte da liberdade de acessibilidade e navegação e da liber-
dade de escolha.
Compreensão de conteúdos
Motor de busca
Fonte: autor
314
Quanto à acessibilidade com outras tecnologias todos concordaram que era possível
ceder ao jornal através de telemóvel com sintetizador de voz, um software instalado no
computador pessoal ou telemóvel que permite converter texto em linguagem normal
para a voz.
Outro item avaliado foi a rapidez de acesso a página web. Neste aspeto como em qual-
quer outro jornal digital moçambicano tem havido demora devido à lentidão da Internet
ou devido ao excessivo tráfego de usuários.
Apesar da flexibilidade das arquiteturas, existem alguns elementos básicos que facilitam
a acessibilidade e navegação nos conteúdos disponibilizados: satisfazer as necessidades
dos usuários de forma simples e sem que lhes crie o desconforto de navegação, pesquisa
e recuperação de informação.
A perceção que fica depois de analisar este aspeto do jornal é que o modelo de arquite-
tura de informação aplicado, o jornal opta por manter uma a relação de continuidade
com o modelo do jornal em papel e não explora as potencialidades de interface ofereci-
das pela Internet.
Em concordância com Salaverría (1999) pode-se concluir também que os textos jorna-
lísticos concebidos para um jornal em papel não se acomodam devidamente no espaço
digital, porque segue a lógica estrutural do seu congénere em papel, situação que torna
os textos demasiado extensos e cansativos para os usuários.
ii) Memória
Com base nos estudos teóricos sobre a memória de Martinez et al (2002), Lacoba
(2005), Palácios (2008), a memória digital constitui uma nova característica de armaze-
315
namento e recuperação de informação. Ela foi apropriada e incorporada no jornalismo
digital graças ao desenvolvimento das tecnologias de armazenamento e recuperação.
Para Palácios (2003), não basta haver o arquivo digital, mas é fundamental a recupera-
ção da informação dos arquivos tanto pelo produtor da informação como pelo usuário.
MEMÓRIA 12
Arquivo parcial simples 1
Arquivo parcial organizado por datas e categorias 1
Arquivo global simples 1
Arquivo global organizado por datas e categorias 1
Caixa de pesquisa interna simples 1
Caixa de pesquisa interna por 2 critérios 1
Caixa de pesquisa interna por 3 ou mais critérios 0
Etiquetas (tags) temáticas associadas a cada artigo 0
Total 6
316
Das 2016 edições digitais analisadas no período que vai desde Abril de 2006 até De-
zembro de 2012, através dos critérios metodológicos acima propostos, são recuperáveis
em 100% todos os arquivos do jornal digital integral. Porém, a recuperação é feita de
maneira agregada, ou seja, o motor de busca fornece apenas o jornal inteiro sem permi-
tir desagregar os textos e as imagens.
317
Fonte Jornal Notícias
318
iii) Instantaneidade e atualização
Lopez et al (2003) dizem que existem desafios colocados do jornalismo digital de ter
que atualizar constantemente os conteúdos, na medida em que os factos ocorrem. Um
destes desafios é a prontidão e permanência do jornalista 24 horas por dia para acompa-
nhar e atualizar a informação.
INSTANTANEIDADE/ ACTUALIZAÇÃO* 12
Total 0
319
A atualização das notícias no site do jornal é feita depois do fecho da edição do papel.
No período de 24 horas ocorre apenas uma atualização geral dos conteúdos noticiosos e
ela ocorre a partir das 00:00, apenas nalgumas secções de notícias. Outras actualizações
como cadernos especiais ocorrem ocasionalmente, exceto o caderno de informação cul-
tural e económica que se atualizavam uma vez por semana, quartas e sextas-feiras.
No início a atualização das notícias na página web eram feitas logo depois do fecho do
jornal em papel, às 21:00. Em seguida, as rádios e outros jornais reproduziam a infor-
mação nos seus órgãos de comunicação sem se fazer a mínima citação da fonte. De
acordo com Machado (entrevistado no dia 20/05/2011), a edição digital do jornal optou
por atualizar a informação logo depois da meia-noite.
iv) Multimedialidade
Com base na grelha de avaliação de Zamith (2008), aplicada ao jornal Notícias, os re-
sultados foram os seguintes:
320
MULTIMEDIALIDADE 12
Fotografia ou desenho 1
Diaporama 0
Infografia estática 0
Infografia dinâmica 0
Áudio 0
Vídeo sem som 0
Vídeo sonoro 0
Total 1
Como se pode notar, os elementos básicos como diaporamas, infografias, áudios e ví-
deo, foram os pontos negativos avaliados nesta categoria. Nenhum destes elementos da
multimedialidades foram encontrados em todas as edições do jornal, exceto, texto e
imagens fixas. Portanto, a multimedialidade no jornal Notícias está ausente e não se
configura em nenhum texto noticioso, apenas destaca-se em uso o uso de fotografias em
pequena escala.
v) Personalização de conteúdos
Partindo do entendimento de Marcet et al, (2007:321) sobre a personalização como sen-
do a “capacidade que o usuário tem de “ aceder de forma individualizada a qualquer
conteúdo informativo que se encontra na rede”, a entrega de notícias de forma filtrada e
individualizada tende a ser mais complexa nos media digitais. Por um lado, constitui a
característica revolucionária de distribuição de conteúdos dos jornais digitais e conse-
quentemente alarga a esfera de audiência e, por outro, reforça os usuários no acesso à
informação em tempo real.
Para verificar a presenças das ferramentas de personalização no jornal Notícias foi usa-
da a seguinte grelha de medição:
321
PERSONALIZAÇÃO 12
RSS geral 0
RSS temático 0
App 0
Total 0
vi) Ubiquidade
O multilinguismo num jornal torna-o acessível em qualquer canto do mundo. Além dis-
so, o uso de outras línguas estrangeiras, principalmente a língua inglesa, proporciona
vantagens competitivas e universal do jornal.
322
As avaliações feitas ao jornal Notícias, tendo em conta as características linguísticas
nacionais e a necessidade de universalização do jornal, produziram-se os seguintes re-
sultados:
UBIQUIDADE 4
Total 0
Tomando em conta o papel dos fóruns de discussão nas páginas noticiosas na melhoria
de conteúdos noticiosos, a interatividade e participação do usuário constitui um dos no-
323
vos ambientes criados pelo jornalismo digital, facto que supera em grande medida as
deficiências dos media clássicos em oferecer espaços abertos de participação do leitor.
Nesta perspetiva de Palácios & Noci (2007) enquadra-se a questão da relação entre o
jornalismo digital e os blogs. Alguns blogs de análise constituem uma a categoria de
produção externa à redação, mas com uma forte capacidade de interpretar e analisar os
factos os factos mais recentes do jornal e, até influenciar o modo de produção jornalísti-
ca. Uma vez agregados ao jornal digital, os blogs trazem benefícios diretos através de
reencaminhamento de usuários bem como acrescentam o valor notícia.
Neste aspeto, o Jornal Notícias foi avaliado em 8 elementos básicos que revelam a aber-
tura do jornal à participação dos usuários na produção de conteúdos, ou seja, a maior ou
menor implicação dos leitores na configuração das informações ou até que ponto os
usuários participam na elaboração dos conteúdos.
324
INTERACTIVIDADE/PARTICIPAÇÃO 25
Inquérito isolado 0
Total 0
325
lha de análise nota-se claramente que o jornal apresenta um fechamento face à partici-
pação dos usuários.
Ainda mais, o jornal não divulga os contatos eletrónicos dos jornalistas que assinam os
artigos, fato que impede a interatividade entre o repórter que pesquisou e divulgou a
informação e o usuário que lê e/ou testemunhou os fatos.
viii) Hipertextualidade
326
HIPERTEXTUALIDADE 20
Total 0
Todas as notícias analisadas, desde Abril de 2006 até Dezembro de 2012, existe uma
ausência total de todas as formas de hipertextualidades ou algo que aponte para outro
caminho a seguir, exceto para a continuidade do texto em formal integral. Mesmo as
fotografias inseridas em alguns textos para ilustrar o acontecimento não apresentam
nenhuma hiperligação.
327
328
6.3. Análise empírica do Jornal @ Verdade
Historial
O jornal @ verdade é uma junção do jornal semanário gratuito e uma página Web de
notícias. O jornal em formato de papel nasceu em 2008 com uma circulação inicial de
50 mil exemplares distribuídos gratuitamente na cidade de Maputo e província. Actual-
mente a distribuição do jornal cobre as províncias de Maputo, Inhambane, Quelimane,
Nacala, Pemba e Niassa. O sucesso do jornal foi uma matéria de artigo publicado no
jornal americano Washington Post pelo seu método de produção de conteúdos gerados
pelos usuários através de telemóvel, câmaras de vídeo e Internet. @ Verdade é a primei-
ra experiência moçambicana de jornalismo do cidadão.
Semanalmente são distribuídos 50.000 exemplares, mais do que outros jornais produzi-
dos na praça. Deste modo, @ Verdade cobre um universo de 400.000 leitores, um nú-
mero considerado suficientemente capaz de atrair investimento publicitário das empre-
sas. (Borges, 2011).
Uma das características de distribuição do jornal digital é por meio de telemóvel, preci-
samente através de Serviços de Mensagens Escrita (SMS). Para tal o jornal @ Verdade
assinou acordos com duas companhias de telefone móvel, Moçambique Celular e Voda-
com, para a distribuição dos seus conteúdos noticiosos via SMS. Outra forma de distri-
buição é por meio de mail list, só para casos de subscritores do jornal em formato PDF.
Com uma média 5.000 visitantes por dia, a página web do jornal tem registado um fluxo
de usuários maioritariamente dos países falantes da língua portuguesa e da diáspora mo-
çambicana.
329
seguidores do Twitter e 14.600 usuários que se adicionaram a página do Facebook do
jornal. Curiosamente, o número de audiência através de telemóvel tem crescido de for-
ma exponencial nos últimos anos, graças ao uso de SMS do tarifário barato da whatsapp
e das redes sociais da Internet.
Borges (2011) afirma que um estudo levado a cabo pela universidade de Oxford em
2009, sobre o jornal @ Verdade, mostrou que a distribuição do jornal neste período au-
mentou em 10%, o mesmo índice de aumento da participação dos moçambicanos na
eleição daquele ano. Porém a grande dificuldade para o crescimento do jornal é a im-
pressão que é feita na República da África do Sul, que deixa os custos vulneráveis às
variações cambiais.
Os conteúdos produzidos a partir da colaboração dos usuários são publicados são pu-
blicados tanto no jornal em formato de papel como na edição digital. Por esta proximi-
dade ao cidadão repórter , @ Verdade tem granjeado a confiança da comunidade ao
abordar assuntos que tocam à comunidade.
De entre os jornais com presença a Internet, o jornal @ Verdade é um dos que nasce da
Internet. Ele se diferencia do seu congénere em papel pela instantatneidade e atualiza-
ção constante. Verifica-se mais uma tendência de autonomia dos seus conteúdos e com
um considerável número de notícias produzidas e publicadas exclusivamente para a
edição digital. A distribuição de conteúdos em redes sociais, a hipertextualidade e a
interação são as marcas que fazem a diferença entre o jornal @ Verdade e outros exis-
tentes na praça.
i) Arquitetura de informação
À luz da metodologia de análise de Palácios & Noci (2007) e em combinação com re-
quisitos técnicos da arquitetura da página Web propostos por Moherdaui (2008), a análi-
se da arquitetura da página de notícias do Jornal @ Verdade tem por objetivo: estudar a
estrutura gráfica do jornal, organização de conteúdos, acessibilidade e navegação.
330
Ao analisar a arquitetura de informação do jornal, o design da página de entrada está
dividida em três partes distintas:
i) Parte superior da tela é constituída por três camadas: a primeira com logotipo
da instituição, funções de Twitter, Facebook, RSS, ícones de tradução para outras
línguas e a foto da edição do jornal em Papel da semana, segunda camada: notí-
cias da última hora em rodapé móvel e, a terceira camada é composta por seções
do jornal,
iii) Coluna esquerda é constituída por uma secção de Twitter, secção do cidadão
repórter com vídeo, fórum de SMS para interagir com o cidadão através de tele-
móvel, secção cultural, secção de notícias mais lidas, secção de seguidores do
jornal, e por fim uma secção de notícias diversas,
iv). Por baixo das duas colunas estão mais duas camadas: uma dedicada a escla-
recimento de dúvidas, aos comentaristas e das últimas notícias de discussão do
fórum,
331
Com vista a verificar a acessibilidade dos conteúdos noticiosos por parte dos deficientes
visuais. Os resultados da experiência demonstraram o seguinte:
Motor de busca
Fonte: autor
Quanto à compatibilidade com outras tecnologias era possível através de telemóvel ace-
der a página web do jornal, mas a dificuldade era a navegação.
Da análise feita sobre o design da página do jornal @ Verdade observou que existem
duas barras de navegação, uma na parte superior e a outra na inferior, com as seguintes
secções:
332
Destaques- Na secção de destaque contém tema de fundo, Nacional, África, Internacio-
nal, economia, desporto e tecnologia, jogos africanos e Global Voice.
Lazer- contempla temas como opinião, vozes, saúde e bem-estar, Mulher, ambiente,
cultura e perguntas
C@mpus- A secção de campus contém temas como soltas, atitudes, temas de capa,
empreendedorismo, cor da laranja, desporto, salada russa, happy hours
Fale connosco- contém contactos, @ verdade fórum, SMS fórum, classificados, inqué-
ritos, newsletter
De acordo com Quadros & Júnior (2009) a barra de navegação constitui o marco de
jornais digitais. Além de centralizar a marca da instituição e guardar as características
da sua versão em papel, ela serve para conduzir o usuário a aceder determinados conte-
údos de forma simples e rápida.
A sugestão de fontes e tamanho das letras nos textos do jornal implica uma mudança
profunda no rosto da página Web. Algumas dessas mudanças são: a redução dos leads
dos textos, retirada das notícias irrelevantes e desatualizadas, reorganização dos textos
de notícias e mais.
333
Quanto às cores, @ Verdade usa o preto e o vermelho sobre o fundo branco. Este mode-
lo continua sendo o mais ideal usado nas páginas Web para se obter um bom contraste.
Para análise do fluxo de usuários para aceder os conteúdos do jornal, o verificador au-
tomático situado em https://www.majesticseo.com/, deu o relatório que confirma a na-
vegabilidade da página web do jornal, conforme ilustra o gráfico:
https://www.majesticseo.com
A figura ilustra que de Janeiro de 2013 a Março de 2013 o jornal @ Verdade atingiu o
pico de procura dos usuários apenas na primeira quinzena do mês de Janeiro e um nú-
mero pouco expressivo nos finais de Março. O fluxo da procura dos usuários provém de
algumas instituições, nomeadamente: A Voz da América,
http://www.voaportugues.com, Global Voice, http://pt.globalvoicesonline.org/.
334
Os citadores como por exemplo os seguintes blogues: https://malangatana.sapo.mz/,
http://comunidademocambicana.blogspot.pt, http://foreverpemba.blogspot.pt, tiveram
dificuldades de aceder ao jornal desde meado de Janeiro até finais de Março, como de-
monstra a figura que se segue:
Fonte: https://www.majesticseo.com
Mais uma vez, a partir da leitura dessas figuras, confirma-se o papel que os blogs de-
sempenham no reencaminhamento dos usuários para os jornais de referência. Porém, o
verificador não dispõe de dados individuais de acessos aos conteúdos do jornal, situação
que poderia nos dar um mapa detalhado do fluxo dos usuários aos conteúdos.
ii) Hipertextualidade
Nesta análise, seguindo a metodologia de Palácios & Noci (2007) em combinação com
o método de Barbosa & Mielniczul (2011). A ideia é verificar a utilização dos hipertex-
tos no jornal @ Verdade e suas associações com outros recursos já publicados pelo jor-
nal ou exteriores ao jornal.
À luz do modelo de análise acima citado e com uso da grelha de medição de Zamith
(2008), foram analisados textos noticiosos, vídeos, fontes documentais, arquivos, foto-
grafias e infografias, do qual foi obtido o seguinte resultado:
335
HIPERTEXTUALIDADE 20
Hiperligação genérica relacionada 0
Hiperligação extra-textual a artigo relacionado simultâneo 0
Hiperligação intra-textual a artigo relacionado simultâneo 0
Hiperligação extra-textual a artigo relacionado em arquivo 0
Hiperligação intra-textual a artigo relacionado em arquivo 0
Hiperligação extra-textual a fonte documental original 0
Hiperligação intra-textual a fonte documental original 0
Hiperligação extra-textual a cronologia do assunto tratado 0
Hiperligação intra-textual a cronologia do assunto tratado 0
Hiperligação extra-textual a áudio relacionado 0
Hiperligação intra-textual a áudio relacionado 0
Hiperligação extra-textual a vídeo relacionado 0
Hiperligação intra-textual a vídeo relacionado 0
Hiperligação extra-textual a infografia relacionada 0
Hiperligação intra-textual a infografia relacionada 0
Hiperligação extra-textual a galeria de imagens ou diaporama relacionados 0
Hiperligação intra-textual a galeria de imagens ou diaporama relacionados 0
Total 0
iii) Multimedialidade-
Cada uma das análises deve ser feita sobre a notícia, ou seja, que os elementos de mul-
timédia estejam presentes no corpo do texto noticioso.
336
MULTIMEDIALIDADE 12
Fotografia ou desenho 1
Diaporama 0
Infografia estática 0
Infografia dinâmica 0
Áudio 0
Vídeo sem som 0
Vídeo sonoro 1
Total 2
Dijck (2009) afirma que antes o jornalismo era entendido como o processo controlado
exclusivamente pelos jornalistas, atualmente os jornalistas são obrigados a conviver
com a participação de cidadãos no processo de selecção, captação e difusão de notícias,
naquilo que o autor designa de transformação do “recipiente em participante”. Dos mo-
delos de interatividades apontados por Martinez & Alonso (2003: 282) constam nomea-
damente: Correio electrónico; Grupos de notícias; Fórum de discussão; Chat e Inquéri-
tos estão presentes no Jornal @ Verdade. É possível interagir com o jornal sob diversas
formas: através do e-mails escrevendo para os jornalistas, redatores e comentaristas,
votar artigos disponíveis, responder ao inquérito e envio de colaboração através de SMS
do telemóvel ou Internet.
Com base na ideia de Meso et al (2011: 51) de que a interactividade “ representa uma
alternativa de serviços agregados à informação”. Na verdade a interatividade possibilita
o leitor intervir, dialogar, partilhar e recuperar dados. Para uma avaliação metodológica
dessa categoria, os autores acima citados propõe uma análise baseada na avaliação das
ferramentas operativas da interatividades.
337
INTERACTIVIDADE/ PARTICIPAÇÃO 25
E-mail/formulário de contacto genérico 1
E-mail/formulário de contacto de alguns jornalistas 1
E-mail/formulário de contacto de todos os jornalistas 1
E-mail de alguns autores dos artigos 1
E-mail de todos os autores dos artigos 1
E-mail de fontes originais 1
Fórum de discussão sem participação de jornalistas 1
Fórum de discussão com participação de jornalistas 1
Sala de comunicação instantânea (chat) sem participação de jornalistas 1
Sala de comunicação instantânea (chat) com participação de jornalistas 1
Inquérito isolado 1
Inquérito associado a outro elemento 1
Publicação online de cartas ao director 1
Publicação de outros conteúdos dos visitantes 1
Publicação retardada de comentários aos artigos 1
Publicação instantânea de comentários aos artigos 1
Votação nos artigos 1
Votação nos artigos com reflexo na sua visibilidade 0
Blog ou wiki aberto à participação dos visitantes 0
Conteúdo jornalístico multimédia interactivo 0
TOTAL 17
A prática interativa num jornal digital possibilita a participação dos usuários com os
produtores de conteúdos, avalia, comenta e vota. Nota-se em todos os conteúdos do jor-
nal @ Verdade a preocupação pela interação com os seus usuários. Em cada bloco de
notícias existe espaços de votação de notícia e de comentários interligados às redes so-
ciais.
O jornal possui contas no Facebook e twitter, redes sociais com as quais @ Verdade
interage e proporciona uma relação de proximidade com os usuários. Através delas, o
jornal permite observar o impacto das suas “postagens” de notícias ao serem comenta-
das, partilhadas e “gostadas”, ampliando deste modo o seu alcance.
338
A análise verificou que cada peça de notícia possui dois espaços de comentário: um que
publica no Facebook, com a permissão do usuário e outro que exige um cadastro. Mas a
maior interatividade acontece no fórum de discussão intitulado “ Pergunta a Tina” no
qual o jornalista participa no esclarecimento de dúvidas dos usuários. Trata-se do único
caso de participação com moderação do jornal.
Fonte: @ Verdade
Nos parâmetros avaliados, o jornal @ Verdade ganha em todos os aspetos, exceto nos
Blog ou Wiki aberto à participação dos visitantes e nos conteúdos jornalísticos multimé-
dia interativo.
Quanto à participação dos usuários, o jornal não regista nenhum elemento técnico que
permite o envio de texto, fotografia, vídeo ou som. Curiosamente há um modelo atípico
de participação que ocorre no fórum designado SMS Chat, que funciona na base de en-
vio de mensagens SMS através de telemóvel.
Através do SMS Chat, o jornal criou a figura de “ cidadão repórter” que permite através
de SMS reportar factos dos bairros, denúncias de corrupção, ocorrências de acidentes de
viação, etc. Este modelo de interação permite uma maior socialização e proximidade
entre o jornal e o cidadão.
339
uma política editorial bem definida quanto à gestão dos conteúdos produzidos pelos
usuários bem como dos espaços atribuídos para a publicação.
v) Instantaneidade
Tendo em conta que a instantaneidade liga a atualização à notícia anterior, em termos de
minutos, horas e data, a instantaneidade deixa de estar sujeitas aos limites temporais
impostos pelos editores dos jornais, mas obedece ao tempo em que os factos ocorrem. A
quebra do deadline jornalístico pelo jornalismo digital amplia o acesso à informação e a
sua velocidade de partilha.
A monitoria diária feita ao jornal @ Verdade, nos períodos compreendidos das 7.00h a
12:00h e das 17:00 as 23:00horas ocorriam apenas algumas atualizações na página prin-
cipal do webnotícia e na coluna do Twitter.
INSTANTANEIDADE/ ACTUALIZAÇÃO* 12
Conteúdo em atualização permanente 1
Atualização de artigo explicitada 2
Data e hora dos artigos 1
Artigo novo 4 horas depois 1
Artigo principal novo 4 horas depois 1
Artigo novo 8 horas depois 2
Artigo principal novo 8 horas depois 0
Artigo novo 12 horas depois 1
Artigo principal novo 12 horas depois 1
Artigo novo 16 horas depois 1
Artigo principal novo 16 horas depois 1
Total 12
O grosso número das notícias que atualizam @Verdade provém das fontes externas, em
particular destaque para o twitter, do SMS Fórum e do Facebook.
Mas o que torna qualquer jornal instantâneo é a capacidade que ele tem de apresentar
minuto a minuto as ocorrências noticiosas. Neste aspecto, @ Verdade ainda não conse-
gue explorar esta potencialidade do jornalismo, embora tente apresentar uns tickers,
uma espécie de texto em rodapé que corre na parte superior da página, mas nota-se um
esforço de melhoramento dos conteúdos e tentativa de aproximação à instantaneidade.
340
A característica da instantaneidade é o “tempo real”, ou seja o momento próximo da
ocorrência dos factos. Este conceito de “tempo real” acelera o ritmo e a velocidade de
colheita e distribuição de notícias.
vi) Memória
A memória ganha mais importância no jornalismo digital. Graças aos motores de busca
internos é possível recuperar a informação armazenada por categoria, tema, assuntos,
vídeos, textos, etc. A memória é uma das características do jornalismo digital que revo-
lucionou a pesquisa e recuperação de informação jornalística.
Palácios & Noci (2007) propõem que a indexação e recuperação de informação na base
de dados usem a “Web Semântica” criada e desenvolvida por Tim Berners-Lee, 2001,
em associação com James Handler e Ora Lassila, com vista a estruturar os sentidos dos
conteúdos armazenados na memória.
341
A memória abre espaço para a participação dos usuários, permite a busca de documentos
em forma de textos, imagem, som, vídeo, na base de dados da página e, ainda mais,
permite a incorporação (upload) da produção do usuário ao sistema de circulação de
conteúdos. (Palácios & Noci, 2007).
MEMÓRIA 12
Arquivo parcial simples 1
Arquivo parcial organizado por datas e categorias 1
Arquivo global simples 1
Arquivo global organizado por datas e categorias 1
Caixa de pesquisa interna simples 1
Caixa de pesquisa interna por 2 critérios 0
Caixa de pesquisa interna por 3 ou mais critérios 0
Etiquetas (tags) temáticas associadas a cada artigo 0
Total 5
342
Figura nº12: Pesquisa de conteúdos no jornal @ Verdade
PERSONALIZAÇÃO 12
Envio de noticiário geral para e-mail 1
Envio de noticiário seleccionado para e-mail 1
Envio de noticiário para um dispositivo móvel 0
Envio de noticiário para dois ou mais dispositivos móveis 0
Envio instantâneo de noticiário geral para computador 0
Envio instantâneo de noticiário seleccionado para computador 0
Partilha de informação para as redes sociais 1
RSS geral 1
RSS temático 0
343
Na busca de encontrar o relacionamento negocial expressa na personalização de conteú-
dos, a oferta de conteúdos personalizada é feita de várias formas: mediante a subscrição
voluntária através do Feed RSS, envio por correio eletrónico em formato partilha para o
facebook e twitter
Figura nº13: Feed RSS de personalização de conteúdo
viii) Ubiquidade
O uso das línguas no jornal digital enquadra-se na reflexão de que os novos produtos
noticiosos já não se limitam a um público de uma determinada região geográfica, língua
ou cultura, mas a todo cidadão do mundo.
Através das línguas e pelo impulso da Internet, o jornal digital assume o carácter uni-
versal e transpõe as fronteiras geográficas e políticas. Mas numa sociedade africana
dominada pela multiplicidade de línguas nacionais, o problema torna mais complexo.
Mas, em termos teóricos, o multilinguismo num jornal digital oferece inúmeras vanta-
gens, entre os quais se destaca: o diálogo intercultural, coesão social, acesso à informa-
ção através de meios de comunicação social e a partilha universal do jornal.
UBIQUIDADE 4
344
tradução humana. Apesar de ela ser uma alternativa, ela tem as suas limitações e defici-
ências que precisam da “contribuição humana e mental para a sua precisão”.
345
Conclusão da análise empírica de dados
Durante a análise de dados empíricos, cinco potenciais recursos dos media digitais de-
tém a nossa atenção: a arquitetura de informação, a interatividade, a ubiquidade, a ins-
tantaneidade, a personalização de conteúdos e a multimedialidade.
No que toca a interatividade, o jornal @ Verdade possui uma certa vantagem competiti-
va em relação ao jornal Notícias. Apresenta certa abertura em alguns dos aspetos da
interatividade, particularmente, nos e-mail de contatos com os jornalistas, fóruns de
discussão em tempo real e envio de notícias breves através de telemóvel.
346
A ubiquidade é uma das caraterísticas do jornalismo digital que torna os conteúdos noti-
ciosos acessíveis aos falantes de outras línguas. Neste aspeto, o jornal Notícia revela
pouca preocupação pela universalização dos seus conteúdos ou responder a demanda de
usuários falantes de outras línguas. Quanto a isso, o jornal @ Verdade apresenta uma
tentativa de apresentação dos seus conteúdos em outras línguas por meio de tradução
automática.
A utilização de hipertexto é inexistente nos dois jornais. Nenhum dos jornais remete
para outras fontes de informação dos seus conteúdos, porque mantém a mesma tradição
do jornal em papel.
A fraca utilização das potencialidades da Internet pelos jornais digitais em análise, de-
ve-se ao grande peso da prática da tradição do jornal em papel. No entanto, ainda exis-
tem possibilidades de amadurecimento da imprensa digital nos dois casos de estudo
tendo em conta que a sua existência é de pouco menos de sete anos.
347
É incontornável comparar os dois jornais Notícias e a @Verdade devido ao percurso
histórico de cada um e a forma como se apropriam das tecnologias digitais para a pro-
dução e distribuição de informação. Importa referir que o jornalismo digital tem impac-
to em Moçambique através dos media privados, graças aos fatores de utilização das tec-
nologias de informação e de comunicação e ao investimento na nova cultura de trabalho
face à concorrência.
348
6.4. Análise comparativa de resultados: Jornais Notícias e @ Verdade
Problema
Mudanças
Público/Privado
Dados Enqudramen-
to teórico
empíricos
Fonte: Autor
A pergunta central no estudo empírico é: quais são as potencialidades técnicas dos jor-
nais digitais públicos e privados que permitem o alargamento da audiência para as po-
pulações rurais que não falam nem escrevem em língua portuguesa?
349
Quadro nº9: comparação das potencialidades da Internet nos jornais Notícias e @ Ver-
dade
Fonte: autor
350
Moherdaui (2008) afirma que a arquitetura de uma página de informação deve conter
seções e serviços fundamentais para o usuário como:
351
Entende-se que o jornal ainda não assumiu o espírito de urgência noticiosa no site. A
página Web alimenta-se do jornal em papel, por isso alguns fatos lá disponibilizados
desatualizam-se em menos tempo ou minutos depois da sua disponibilização devido à
velocidade com que ocorrem os acontecimentos no mundo. Já afirma Dalmone (2009),
que a instantaneidade confere o papel da importância do “presente” e da aproximação
aos fatos.
Uma iniciativa como esta, além de apresentar uma nova dinâmica comunicacional am-
plia o alcance de audiência em contextos sociais, multiculturais e multilingues nunca
antes alcançados pelos media clássicos como a rádio, televisão e jornais.
352
Jornal Notícias está pontuado negativamente. Automaticamente perde oportunidade de
negócio, pois a personalização conforme é definida por Marcet et al (2007) ela é uma
negociação entre a organização de produção de conteúdos e os usuários. Uma negocia-
ção que envolve contrapartidas que só beneficiam a organização em termos de marke-
ting e comunicação.
Quanto à ubiquidade, o jornal Notícias foi avaliado negativamente neste aspeto. A ubi-
quidade, apesar de ser menos relevantes na fase inicial, tem a sua importância em ter-
mos de projeção do jornal a nível global, usando duas ou mais línguas na sua versão
digital, torna os conteúdos acessíveis na escala global, onde pressupõe-se que a língua
inglesa é dominante. Os dados estatísticos da World State (2010) e da Eurobarómetro
(2011) já indicavam a vantagem de visibilidade do uso de duas versões linguísticas do
mesmo website.
Os elementos críticos do jornal são apenas três: a arquitetura da página web, a hipertex-
tualidade e a multimedialidade.
353
Na matéria de arquitetura da página, o exercício feito junto da associação Moçambicana
de Deficientes Visuais e Amblíopes demonstrou que o jornal é acessível aos usuários
portadores de deficiência. A grande dificuldade surge na excessiva quantidade de in-
formação disponibilizada na página web.
Quanto às barras de navegação do jornal, além de serem complexas, elas não são boas
condutoras para a informação relevantes, situação que deixa o usuário encalhado num
determinado assunto noticioso, sem a possibilidade de retorno à página de entrada.
Para um jornal que nasce dentro da Internet, a hipertextualidade joga um papel funda-
mental para os seus usuários, que são na sua maioria amantes das tecnologias sociais. O
não funcionamento da hipertextualidade no jornal priva os seus usuários de acesso à
informação complementar e de conhecimento sobre os assuntos.
354
Para o caso específico das rádios, televisões e jornais moçambicanos, a integração no
telemóvel é um poderoso instrumento de prestação de serviso de comunicação para as
populações rurais. Por isso, a apripriação do telemóvel pelas comunidades rurais se jus-
tifica, por um lado, pela sua capacidade de penetração em meios rurais e pela sua poten-
cialidade tecnológica de recepção instantânea de conteúdos e de troca interativa. Por
outro, revela-se como ótima ferramenta para atingir comunidades moçambicanas seg-
mentadas pelas suas realidades linguísticas.
É claro que a implementação deste tipo de projeto depende de dois fatores: da lei que
permite a parceria entre o público e o privado e das infraestruturas de energia elétrica.
Tendo em conta que o telemóvel depende da energia elétrica é necessário o meio rural
disponha da rede nacional de energia elétrica.
Para uma situação Moçambicana onde quase 60% da população é analfabeta, a multi-
medialidade tem o maior peso de importância, graças ao poder do sucesso do telefone
móvel junto as populações de baixa-renda, (Fidalgo, 2013). A taxa de penetração dos
telemóveis na população africana, relatado por Jensen (2008) tem muita vantagem junto
da população rural e abre oportunidade para a imprensa aproveitar das suas potenciali-
dades comunicativas para atingir a audiência marginalizada pelos media tradicionais,
(Levisgston, 2011).
Vicente (2010) afirmava que as apropriações das novas tecnologias sociais pelo cidadão
geravam novas dinâmicas sociais, novas formas de interações sociais e novas relações
355
entre os media e a sociedade. No mesmo contexto realça o impacto do telemóvel na
“dimensão mediática” enquanto tecnologia para documentar e reportar acontecimentos.
Os resultados apontavam para a seguinte situação de atraso de chegada dos jornais nas
provinciais do Niassa e Cabo Delgado: Jornais independentes ou privados chegavam
com um atraso de uma semana e Jornal Noticias tinha o atraso de dois ou três dias.
Quanto à distribuição dos jornais para os distritos, eles só chegavam apenas para admi-
nistração local.
356
da Televisão de Moçambique, exceto o sinal das rádios comunitárias locais (Rádio Co-
munitária São Francisco e da Rádio Comunitária Sem Fronteira) e das rádios da Tanzâ-
nia captados nitidamente nos distritos de Palma, Nagade e Mueda.
O mesmo cenário já era diferente para a província de Maputo. Os jornais só eram aces-
síveis para administração local e alguns professores do ensino primário e secundários.
Os sinais da rádio e da televisão eram captados com algumas dificuldades, exceto as
rádios comunitárias locais (Rádio Comunitária Xinavane). A maioria da população es-
cuta com frequência as rádios da Suazilândia e da República da África do Sul, cujo sinal
era de alta qualidade.
357
Conclusão geral
Em síntese, a tese deixa-nos cinco questões de análise final inspiradas nas teorias e cor-
rentes do pensamento sobre os processos de desenvolvimento e mudanças em África.
Neste conjunto de questões destacamos, em especial, a reflexão de Hayes Mabweazara
intitulado New technologies and journalism practice in Africa: towards a critical socio-
logical approach, que sintetizam a ideia de inculturação do jornalismo africano.
358
O estudo, em todo o seu percurso procurou ressaltar o binómio tecnologias/ media. Al-
guns argumentos apresentados podem ter-se deslocado do tema central, mas em certos
capítulos cruzavam-se nalguns pontos e combinava com o fator cultura e línguas.
Houve um grande avanço tecnológico em África nas últimas décadas. As barreiras rela-
cionadas com alfabetização, literacia digital e o fortalecimento do cidadão no domínio
das ferramentas básicas do computador e do uso da Internet continuam a constituir o
entrave de transição para a sociedade de partilha de ideias e de conhecimentos sustentá-
veis para o desenvolvimento.
Na era das tecnologias, alguns meios de comunicação social dos países africanos assu-
miram as tecnologias como o fator importante de comunicação quer para a unidade na-
cional e identidade cultural da sociedade quer para a liberdade de imprensa e de expres-
são.
No caso da imprensa moçambicana, a revolução ainda não chegou na sua plenitude de-
vido aos fatores tecnológicos e de políticas públicas. Tendo em conta que a imprensa
moçambicana atravessou três momentos caracterizados por dificuldades de comunica-
ção efetiva com a sociedade: período colonial, onde os media estavam ao serviço de
uma minoria instalada na colónia; período de instrumentalização dos media, no qual o
jornalismo foi monopolizado pelo regime político marxistas, que se seguiu logo após a
independência nacional e por último, a fase de pluralismo mediático, no qual a Lei de
Imprensa aprovada depois da nova Constituição da república de 1990 concedeu liberda-
359
de imprensa e de expressão, hoje a imprensa moçambicana precisa de realizar uma quar-
ta transição do jornalismo digital com estratégias bem claras de inclusão do cidadão no
processo comunicativo.
As mudanças para os media digitais não podem ser entendidas como a crise do jorna-
lismo, pelo contrário, é uma fase de adaptação para as novas plataformas de comunica-
ção como os telemóveis, iphone, ipod, tablets e outros dispositivos utilização na captura
de conteúdos de notícias. Essas mudanças do processo de comunicação implicam, con-
sequentemente, reformas dos planos de formação de jornalistas introduzindo disciplinas
com forte componente tecnológica e linguística bantu.
Por isso, no capítulo de análise empírica dos dados, o exercício foi de buscar identificar
o elemento característico do jornalismo digital que sirva de fator integrador entre os
media digitais e as línguas nacionais ou a cultura nacional.
360
Num quadro em que 89% da população moçambicana vive à margem dos media, por
questões da língua, impunha-se um estudo minucioso orientado por uma pergunta: quais
são os elementos conectores entre os media digitais e os valores culturais e linguísticos
moçambicanos?
Ao longo da análise empírica dos dados, alguns autores procuravam dar importância a
interatividade, no conjunto de sete características do jornalismo digital. Segundo eles, a
interatividade é a chave de democratização de informação e de abertura do jornalismo
ao usuário, a participação na elaboração de conteúdos, ao debate, a partilha de informa-
ção. No meu entender este elemento não deixa de ter a importância que tem no contexto
social e político em que ele é debatido, mas é o ponto mais sensível numa realidade po-
lítica como a de Moçambique.
Para mim, a multimedialidade sintetiza o valor mais alto do produto informativo até
então desenvolvido pelos media e jornalismo digital. Primeiro, permite uma rápida en-
trega de produto noticioso ao consumidor; segundo, em contextos culturais e linguísti-
cos diferentes, a multimedialidade oferece a vantagem de incorporar num único formato
o som da rádio, o texto do jornal e a imagem da televisão em línguas locais através de
processos técnicos de dobragem, legendagem ou tradução.
Face ao problema do distanciamento dos media moçambicanos com audiência rural que
não fala nem escreve em língua portuguesa, o Estado moçambicano deve criar leis que
permitem parcerias entre o setor público e privado de comunicação, de modo a ultrapas-
sar as três barreiras de comunicação efetiva com a sociedade partilhando conhecimento
e infraestruturas de comunicação, bem como ultrapassar os problemas técnicos, finan-
ceiros e político/legal.
361
visões a novas formas de fazer o jornalismo como também permitem a participação e
colaboração do cidadão no debate das ideias e participação nas decisões políticas.
A política pública dos media moçambicano deve ser elaborada tendo em conta as con-
quistas tecnológicas alcançadas nos últimos anos e conjugada com as necessidades de
alargamento da esfera pública para as comunidades rurais que não falam nem escrevem
a língua portuguesa, nisto é extensível a questão da regulação, qualidade dos conteúdos
e os interesses das comunidades linguísticas nacionais.
Para uma melhor solução dos problemas aqui colocados, três tipos de soluções podem
ser alternativas para o alcance da audiência multicultural e que fala as línguas nacionais:
a reestruturação das redações, investimento na dobragem e tradução das línguas nacio-
nais e criação de um quadro legal dos media.
362
O investimento tecnológico para a modernização dos média, particularmente os medias
do Estado ou comparticipados pelo Estado, não pode ser visto na perspetiva de custos,
mas em termos de benefícios. Os tais benefícios podem ser de ordem social como, a
melhoria de qualidade de serviços públicos prestado à sociedade ou de redução dos pro-
cessos de trabalho, recolha, tratamento e difusão de informação.
Apesar de tudo, e face aos desafios dos novos medias integrarem as audiências margina-
lizadas, a solução prática seria que os gestores dos media colocassem nas suas agendas
de expansão os desafios específicos: reforma institucional face às necessidades das au-
diências e processo de produção de conteúdos em línguas nacionais.
A julgar pelas tendências dos media moçambicanos para os próximos anos, seja público
ou privados, a inclusão das línguas nacionais poderá ser matéria de agenda dos media,
por existir uma tendência comercial dos produtos informativos, cujo poder de compra só
existe na camada social alfabetizada.
O uso exclusivo da língua portuguesa nos jornais é um problema que só pode ser resol-
vido mediante a implementação de política de línguas nacionais nos sistemas de ensino
e nos media. Aliás, ensaio de introdução de línguas nacionais já tinha sido feito pelos
missionários no período colonial, mas logo depois da independência nacional, em 1975,
as línguas nacionais foram banidas no processo de comunicação.
363
de conteúdos nacionais e prepararia, convenientemente, os futuros jornalistas para traba-
lharem em contextos culturais e multilingues.
É certo que o investimento no capital humano não seria a solução única de aproximação
dos media à cultura e apropriação das línguas nacionais, pois envolve um conjunto de
outros fatores residuais como habilidade de escrita em línguas nacionais, a literacia digi-
tal e alfabetização.
364
sistemas político e na democratização de informação. O conceito de interatividade aqui
usado não se expressa exclusivamente pela troca de mensagens entre o usuário e o jor-
nalista, comentários, opiniões, etc. envolve a possibilidade de tornar o usuário o produ-
tor de conteúdos genuinamente moçambicanos.
Os media que funcionam com a comparticipação do Estado, nesta vertente o Jornal No-
tícias, Rádio Moçambique e a Televisão de Moçambique têm uma responsabilidade
acrescida na integração do cidadão na autoestrada de informação. A integração dos três
meios, numa redação em escala maior, reduziria as despesas de funcionamento e au-
mentaria o raio de cobertura nacional.
A convergência dos três órgãos baseia-se nas experiências de cada um dos órgãos: a
rádio pela sua forte capacidade de penetração no meio rural através de línguas nacio-
nais, o jornal pela sua versatilidade de apropriação das novas tecnologias, produção de
conteúdos hipertextualizados e sua distribuição através de usuários da Internet e a tele-
visão pela retórica persuasiva baseada na multimedialidade.
Cumprir com o projeto desta natureza, é necessário que o Estado moçambicano refor-
mule politicas e restruture os serviços públicos da radiodifusão e da imprensa, em fun-
ção do cenário da migração para o digital e da convergência dos meios. Pois, a integra-
ção dos três media, numa única rede de comunicação, promove a inclusão e a participa-
ção do cidadão nacional na sociedade de comunicação e de partilha de conhecimento.
Em termos dos objetivos a alcançar com o projeto é fundamental que ele se desenvolva
de forma progressiva: primeiro, estudar as formas eficientes de alcançar o público mar-
ginalizado, a partir das experiências da Rádio Moçambique e das rádios comunitários
que já operam nos meios rurais; segundo, articular os planos de formação de jornalismo
365
com as necessidades do mercado de trabalho; terceiro equipar a nova rede de comunica-
ção de tecnologias de ponta para a produção de conteúdos multilíngue; quarto, capacitar
o público marginalizado em matérias de educação para os media; quinto e por último,
redefinir a política de financiamento de serviços públicos.
Chegado este momento resta concluir que a potencialidade do jornalismo digital, especi-
ficamente a multimedialidade, revela-se como uma ótima ferramenta de comunicação
com as populações rurais. Mas a aplicação da ferramenta nos media digitais implica
repensar os processos de produção, distribuição, formação dos profissionais. Mas a es-
tabilidades políticas do país, os investimentos tecnológicos e o aumento de cursos de
formação em jornalismo permite vislumbrar que o jornalismo digital vai nascer de no-
vas experiências mais contextualizado na realidade cultural da sociedade.
366
Bibliografia
A
Abolou, C. (2010) “Langues, dynamiques des médias audiovisuels et aménagement média-
to-linguistique en Afrique francophone”, in GLOTTOPOL Revue de sociolinguistique en
ligne n° 14, pp. 5-16.
Adam, L. (1997) “Content and the Web for African Development” In Journal of Infor-
mation Sciences, 23, nº 1 pp. 91-97.
Adam, L. & Wood F. (1999) “An Investigation of the Impact of Information and
Communication Technologies in Sub-Saharan Africa”.In Journal of Information Scien-
ce, 25, no. 4, pp. 307-318.
Africa Media Barometer (2011), Barómetro Africano dos Media, Moçambique 2011,
Ed. Friedrich Ebert-Stuftung, Windhoek.
AIMC (2008) Libro Blanco IAB-AIMC medición de audiências digitales [on line]
http://www.aimc.es/-Libro-Blanco-Digital-.html, consultado no dia 22/02/12.
Agbobli, C. (2008), “ Internet and development in Segegal: Towards new forms of use”
In Africa Media Review, Volume 16, Number 2, Addis Abeba, pp. 11-28.
367
Ajayi, G (2002) “Information and communication technologies in Africa”, texto apre-
sentado numa conferência realzada em Trieste, Itália, nos dias 11-16 de Fevereiro de
2002, [online] http://www.powershow.com/view/121ded-
NzA4N/Information_and_Communication_Technologies_in_Africa_By_G_Olalere_Aj
ayi_Director_GeneralCEO_Nation_flash_ppt_presentation, consultado no dia 14/02/11.
Albertos, J. (1974) Redacción Periodistica, los estilos u los géneros en la prensa escri-
ta, Ed. A.T.E, Barcelona.
Almiron Roig, N. (2006). “Los valores del periodismo en la convergencia digital: civic
journalism y quinto poder”. In Revista Latina de Comunicación Social,nº 61 Tenerife,
pp. 1-12, [online] http://www.ull.es/publicaciones/latina/200609Almiron.htm, consulta-
do no dia 20/04/2011.
368
Araújo, V. et al. (2009), “Os jornalistas na sociedade em rede: novos modelos de gate-
keeping?” In Da Comunicação de Massa à comunicação em rede, Porto Editora, Porto,
pp. 69-99.
Akpan, P. (2000), African in the Age of a Global Network Society. Vol.4, nº2 [online]
http://web.africa.ufl.edu/asq/v4/v4i2a1.htm, consultado no dia 20/02/11.
B
Baggio, C. (2011), Jornalismo colaborativo em portais de notícias online: o que a mí-
dia hegemônica não enxerga? [On line]
http://www.usp.br/celacc/ojs/index.php/blacc/article/viewFile/308/303. Consultado no
dia 21/12/2013.
Balima, T (2006), “Un journaliste professionnel est-il universel? Réflexion sur la pratique
journalistique en contexte africain”, in Les Cahiers du Journalism nº 16, Autome,
pp.190-197.
Bamgbose, A. (2011). African Languages Today: The Challenge of and Prospects for
Empowerment under Globalization, [on line]
http://www.lingref.com/cpp/acal/40/paper2561.pdf, consultado no dia 12/04/2013.
Banda, F. (2007) “Un overview of the key pan-african media development initiative:
problems and prospects”, In Revenue regeneration for robust African media, Ed. Kon-
rad Adenauer Stiftung, South Africa, pp.2-9.
Banda, F. (2010), Citizen journalism & democracy in Africa, Ed- Hignway Africa,
South Africa.
Barber, B. (1984), Strong democracy: participatory politics for a new age, Ed. Univer-
sity of California Press, EUA.
369
Barbosa, S. & Mielniczul, L. (2011) Ferramentas para análise da hipertextualidade em
cibermeios, In Marcos palacios (org) Ferramentas para análise de qualidade no ci-
berjornalismo, Vol. 1, Labcom books, Covilhã, pp. 37-50 [on line]
http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/20111202-201110_marcos_palacios.pdf, consulta-
do no dia 01/12/2011.
Barbosa, S. et al. (2011), Ferramenta para análise de base de dados em cibermeio, In.
Marcos Palacios (org), Ferramentas para análise de qualidade no ciberjornalismo, Vol.
1, Labcom books, Covilhã, pp.167-182 [on line]
http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/20111202-201110_marcos_palacios.pdf, consulta-
do no dia 01/12/2011.
Barrero, A. (2011) “.Diários para el Ipad, nuevas oportunidades para el periodismo digi-
tal” In La Investigación en periodismo digital. Algunos trabajos desde el Ámbito uni-
versitário, Ed. Associación de periodista de Aragón, Zaragoza pp. 28-38.
Batista, J. & Zago, G. (2010) “Ativismo em Redes Sociais Digitais: Os fluxos de comu-
nicação no caso #forasarney”, In Estudos em Comunicação, nº8, pp.129-146
Benkler, Y. (2006) The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Mar-
kets and Freedom. Yale: Yale University Press. Also online at:
http://www.benkler.org/Benkler_Wealth_Of_Networks.pdf. consultado no dia 20/7/10.
370
Berenblum, A. (s/d) Identidade e língua nacional. Comentários acerca da produção de
estrangeiros [on line]
http://www.universidadenomade.org.br/userfiles/file/Lugar%20Comum/18/15%20IDE
NTIDADES%20E%20LINGUA%20NACIONAL.pdf, consultado no dia 22/04/2013.
Berger, G (2007a), “African journalism meets ICT: whither the wealth of networks?”,
Texto apresentado na Conferência organizada pela School of Journalism and Communi-
cations em 2007, na Rhodes University, South Africa.
Berger, G (2009), “The changing media ecosystem: what Africa needs to know”. In
doing digital media in África, Ed. Konrad-Adenauer-Stiftung, South Africa pp.6-13.
Berger, G (2009a), From Now to next in African newsrooms, use of ICTs: the case of
Nika, In Doing digital media in África, Ed. Konrad-Adenauer-Stiftung, South Africa
pp.48-65.
Blake, C. (1992) “The New Communication and Information Technologies and African
Cultural Renaissance” In African Journal of Library, Archives and Information Science,
2, No. 2, pp.93-98.
Blod, R. (2002) Livro do bolso do Weblogue, Ed. Campo das Letras, Porto.
Bolter, J. & Grusin R. (2000) Remediation: understanding new media, Ed. MIT Press,
USA.
371
Borger. M. et al. (2013) Constructing participatory journalism as a scholarly object , In
Digital Journalism, Ed. Routledge, pp. 117-134 , London.
Bradshaw, P. (2011) Mapping Digital Media: Social Media and News, Ed. Open society
Foundation, Serie, 15. London.
Bruns, A. (2005) Gatewatching: collaborative online news proddution, Ed. Peter Lang,
New York.
Bruns, A. (2008) Blogs, Wikipedia, Second Life, and Beyond. From Production to pro-
duser, Ed. Peter Lang, Oxford.
Bucci, E. (2000), Sobre ética e imprensa, Ed. Companhia das letras, S. Paulo.
Bueno, T (2007), “Em tempo (quase) real: análise semiótica do jornalismo na web”, tese
de mestrado apresentado na universidade Federal Mato-Grosso do Sul.
Burson, M. (s/d), 100 BM digital tips, retos y solucione para la comunicación de las
organizaciones en el entorno 2.0, [on-line],
http://pt.scribd.com/doc/34900936/Periodismo-Digital-en-un-paradigma-de-transicion
Consultado no dia 27/06/11.
C
Cabrera, M (2010) Análisis del impacto de la evolución tecnológica en los cibermedios
en el contexto de la convergencia digital, [on line]
http://www.aeic2010malaga.org/upload/ok/264.pdf, consultado no dia 20/04/2013.
Calvo, S. (2006), “La enseñanza del ciberperiodismo: Hacia una transversalidad mixta”,
In Revista de estudios de comunicación, ZER, nº21, Espanha, pp.219-239 [on line]
http://www.ehu.es/zer/, consultado no dia 15/12/10.
372
Camus, J. (2009) Gestion de contenidos digitales, [on line]
http://tienes5segundos.cl/pdfs/libro-tienes5segundos-final.pdf, consultado no dia
19/02/2013.
http://prisma.cetac.up.pt/153_Cinco_Ws%20_e_%20um_H_para_o_jornalismo_na_web
_Joao_Canavilhas.pdf, consultado no dia 04/05/10.
373
Cardoso, C (2010), “The future of newsmagazines”, In Journalism Studies, iFirst Arti-
cle, pp. 1-10.
Carvalho, V. (2009) Conteúdos Videos nos jornais on-line- caso português, [on line]
http://ria.ua.pt/bitstream/10773/1177/1/2009001337.pdf. consultado no dia 24/03/2013.
Castels. M. (2003), O fim do Milénio, Vol. III, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lis-
boa .
Cavallini, R. (2009) De onde viemos e para onde vamos, Ed Fina Flor, S. Paulo.
Chichava, S & Pohlmann (2010) Uma breve análise da imprensa moçambicana, In De-
safios para Moçambique 2010, IESE, pp. 127-138 [on line]
www.iese.ac.mz/lib/publication/.../IESE_Des2010_5.ImpMoc.pdf, consultado no dia
22/04/2011.
Consultado, 28/02/2012.
374
Corrêa, E. (2005), Comunicação digital: uma questão de estratégia e de relacionamento
com públicos, In Organicom ano 2, nº 3 pp.96-111.
Corrêia. et al. (2011), “O estudo das redes sociais na comunicação digital: É preciso
usar metáforas?”, In Estudos em Comunicação, Nº9, pp.201-225.
Correia, J. (2009), Teoria e crítica do discurso noticioso, Ed. Livros do Labcom, Covi-
lhã.
Costa, L. (2006), “Inclusão digital: uma alternativa para o social? Análise de projectos
realizados em Salvador”, In INOVCOM, Revista Brasileira de Inovação Científica em
Comunicação, Vol. 1, nº 1, pp. 107-122, [online],
http://www.portcom.intercom.org.br/ojs-2.3.1-2/index.php/inovcom/article/view/310,
consultado no dia 27/06/11.
375
D
Dados Estatísticos de Jornalistas Associados enviados ao Gabinete de Informa-
ção, GABINFO, Nota do envio 001/GABINFO/-DEC/2008, de 06/03/08.
Daniel, J. (2003) Educação e Tecnologia num mundo globalizado, Ed. Unesco Brasil,
[on line] http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001298/129810porb.pdf, consultado no
dia 20/02/11.
Dijk, J. (2009), “Users like you? Theorizing agency in user-generated content”, In Me-
dia, Culture & Society, SAGE Publications, Vol. 31, nº1, pp 41 – 58.
Diop, S. (2011) “Le pionniers del`Internet africain”, In Au Herald les cahiers de L`ua
Vol. 1, Addis-Ababba, pp. 155-167.
Deuze et al. (2007) “Preparing for an Age of Participatory News. Journalism Practice”,
In Journalism Practice, Vol.Nº3, pp 322-338.
376
Deuze, M. & Fortunati, L. (2009) “Journalism Without Journalists”, In News Online:
Transformations and Continuities, Basingstoke: Palgrave Macmillan, London.
Dizard Jr, W. (2000), A nova midia, Ed. Jorge Zahar, Rio de Janeiro.
Duarte, D. (2009) “How African traditional media can tap into new social media and
blogs”, In Doing Digital Media in Africa, Ed. Konrad-Adenauer Stiftung, South Africa
pp.25-32.
E
Edo, C. (2000) “Un nuevo periodismo: la prensa digital”, In Estudios sobre el mensaje
periodistico, nº6, pp. 359-360.
Edo, C. (2001), “El lenguaje periodístico en la red: del texto al hipertexto y del multi-
media al hipermedia”, In Estudios sobre el Mensaje Periodístico, n.° 7, pp. 79-94.
Edo, C. (2002), Del papel a la patalla, la prensa en Internet, Ed. Comunicaciòn social,
Sevilla;
Edmonds, R. et al. (2012) the state of news media 2012: An annual report on American
journalism, [on line] http://stateofthemedia.org/2012/newspapers-building-digital-
revenues-proves-painfully-slow/newspapers-by-the-numbers/, consultado no dia
19/03/2013.
377
Espinosa, F. (2006), “La enseñanza de la comunicación ante el ajuste tecnológico y cul-
tural. La formación de comunicólogos en la era digital”, In La Era Digital, Primero
Congreso Internacional de Comunicación Universidad Autónoma de Tamaulipas,26-28
de Setembro de 2006, pp. 353-363.
Borges, J. (2011) “Notícias que chega para todos”, in Revista Exame PME, Outubro
2011, pp. 68-69.
F
Fachinetto, E (2005) “O hipertexto e as práticas de leitura”, In Revista Letra Magna
Nº.3, Lisboa.
Felinto, E. (2008) “Think different: estilo de vidas digitais e a cibercultura como ex-
pressão cultural”, In Revista FAMECO, nº 37, Porto Alegre, pp. 13-19 [on line]
http://abciber.org/publicacoes/livro2/textos/Erick_Felinto.pdf, consultado no dia
27/07/11.
Ferreira, R. (2012) New York Times cria nova forma de publicar reportagens, In Diário
de Notícias, 21/12/2012 [on line]
http://www.dn.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=2961044&seccao=Media&page=-
1, consultado no dia 21/12/2012.
Ferreira, G. (s/d): A Ideologia dos novos media: Entre velhas e novas ambivalências,
[on line], http://www.bocc.uff.br/pag/ferreira-gil-ideologia-media-ambivalencias.pdf,
consultado no dia 06/05/10.
378
Ferreira, J. & Rocha, M. (2009), “Entre a inclusão e democracia digital: a atuação do
Estado e do terceiro setor em comunidades pobres da região metropolitana do Recife”,
in Lunc em Revista. Vol.5 nº 1, Rio Janeiro, [online], www.ibict.br/liinc, consultado no
dia 22/01/11.
Fidalgo, A. (2013) Celular como rádio de pilhas na era da Internet. Rádio IP no celular
[on line] http://www.livroslabcom.ubi.pt/book/98, consultado no dia 25/05/2013
Fouda, V. (2009) “Les médias face à l’ouverture démocratique en Afrique noire: doutes
et certitudes”, In Les Cahiers du journalisme, nº 19, pp.202-211 [on line]
http://www.cahiersdujournalisme.net/cdj/pdf/19/16_FOUDA.pdf, consultado no dia
24/06/2011.
Franco, G. (2009): Como escrever para a Web - Elementos para a discussão e constru-
ção de manuais para redações online, [online]
http://knightcenter.utexas.edu/como_web.php, consultado no dia 28/04/10.
379
Franco, G (2009 a), El impacto de las tecnologias digitales en el periodismo y la demo-
cracia en América latina y el Caribe, Ed. Knight Center for Journalism, Texas.
Friend, C. & Singer, J. (2007) online journalism ethics: traditions and transitions.
M.E.Sharpe, New York, traduzido por Rogério Christofoletti, “Preocupações éticas
para o jornalismo online” pp.197. 201.
G
Galdón, G.(1999) La enseñanza del Periodismo una propuesta de futuro, EdCIMS 97,
Barcelona.
Gans, H. (2010) “News & the news media in the digital age: implications for democra-
cy” In, American Academy of Arts & Sciences, pp. 8-17.
Garcia, X. (2010) “Tiempos de redefinición del papel de cada suporte en la era digital”
In Colección Periodistica nº33, Ed. Comunicación Social, pp. 229-235.
380
Garcia, X. & Fariña (2008) “La prensa ante el reto on line. Entre las limitaciones del
modelo tradicional y las incógnitas de su estratégia digital”, In Bustamante, E. Franquet,
R. Garcia, T. López, X. e Pereira, X. Alternativas en los medios de comunicación digi-
tal, Ed. Gedisa, pp. 177-244, Barcelona.
Garrisson, B. (1999), “On line information use in Newsrooms” A paper presented to the
University of Luton Creativity and Consumption Conference, Luton, U.K., March 29-
31.
Gil, E. (2005) “Las nuevas tecnologias en la formación del periodista”, in Las tecnolo-
gias periodísticas: desde ayer al mañana, Ed. Sociedad Española de Periodista, Sevilla,
pp. 278-294.
381
Grabowick, P. (2013) the transition to digital journalism [on line]
http://multimedia.journalism.berkeley.edu/tutorials/digital-transform/print-editions-
decline/, consultado no dia 19/03/2013.
Grossman, W. (1994) “Encouraging critical thinking using the case study method and
cooperative learning techniques”, in Journal on Excellence in College Teaching, Vol.5,
Nºl, pp. 7-20, Washington DC.
H
Hall, J. (2001). Online journalism: a critical primer, Pluton Press, London.
Hamelink, C. (1994) The politics of world communication, Ed. SAGE Publication, Lon-
don
Hamilakis, Y. & Labanyi J. (2008), “Time, materiality and the work of memory”, In
History & memory, Ed. Indiana University Press, Vol.20, nº 2, pp.5-17.
382
Hohlfeldt et al (2009) Síntese hisórica da imprensa moçambicana: tentativa de interpre-
tação [online] http://pt.scribd.com/doc/33714966/Sintese-historica-da-imprensa-
mocambicana-Tentativa-de-interpretacao, consultado no dia 20/02/13.
Hufmann, M. (2009) “No jet ski, please, the challenges of newspapers in the Internet
age”, in Doing digital media in África, Ed. Konrad-Adenauer-Stiftung, South Africa
pp.104-109.
Hughes et al, (2006), Como Comenzar y Continuar: una guia para los Centro Multime-
dia Comunitário, Ed. UNESCO, Uruguay.
I
Ibarra, J. (2010) Los cambios en la prensa escrita, [onli-
ne],http://naturpixel.com/2010/03/31/los-cambios-en-la-prensa-escrita-por-juan-carlos-
rodriguez-ibarra/, consultado no dia 06/05/10.
383
J
Janeira, A (1971) “A técnica de análise de conteúdo nas ciências Sociais” [on line]
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1224260109P6yXY4bm6Vt51JF8.pdf, consul-
tado no dia 02/10/12.
K
Karlsson, M. & Stromback, J. (2010), Freezing the flow of online news, [on line]
http://sylvester.ut.ee/ajakirjandus/nro_marju/NRO_artiklid/FreezingFlowOnlineJournali
sm_KarlssonSromback_2010.pdf, consultado no dia 20/02/2013.
384
Kawamoto, K. (2003): Digital Journalism. Emerging Media and the Changing Hori-
zons of Journalism, Rowman & Littlefield Publishers, Maryland.
Kohlbacher, F. (2006) the use of qualitative content analysis in case study research, [on
line] http://www.qualitative-research.net/index.php/fqs/article/view/75/153, consultado
no dia 23/05/2013
Kovach, B & Rosenstiel, T. (2003), Los elementos del periodismo, Ediciones El pais,
Madrid.
Kremic, T. (2006) “Outsourcing decision support: a survey of benefits, risks, and deci-
sion factors”, In Supply Chain, Ohio, Vol. 11, nº 6, pp. 467-482 [on line]
http://ankara.lti.cs.cmu.edu/11780/sites/default/files/Outsourcing-Survey.pdf, con-
sultado no dia 02/012/12.
L
Lacoba, M (2005), “Nuevos tiempos para la documentación informativa en el perio-
dismo digital: viejas e nuevas del servício del documentacioón digital”, in Comunica-
ción y Sociedad, Vol. XVIII, nº 1, pp. 153-168
385
Larequi, J. (2005) “Tecnología, diseño periodistico y ediciones digitales en Interne: A la
búsqueda de nuevas propuestas visuales para un nuevo médio” in Las tecnologias pe-
riodísticas: desde ayer al mañana, Ed. Sociedad Española de Periodista, Sevilla, pp.
109-129.
Larequi, J. et Al. (2000), Diarios Digitales, Apuntes sobre un Nuevo Medio Ed. Univer-
sidad del país Vasco, Bilbao;
Lessin, J. & Spencer, E. (2013) App para dispositivos móveis, um negócio de US$ 25
Bilhões, [onli-
ne]http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed737_apps_para_dispositi
vos_moveis_um_negocio_de_us$_25_bilhoes, consultado no dia 10/05/201
Lister M. et al. (2010) New Media, A critical introduction Second Edition, Ed. Routle-
gde, London.
386
Lopéz, M. (2005) “Incorporación de nuevos estamentos professionales en la toma de
decisiones periodísticas com la incorporación de las Nuevas Tecnologías”, in Las tecno-
logias periodísticas: desde ayer al mañana, Ed. Sociedad Española de Periodista, Sevil-
la, pp. 313-329.
Luiz, L. & Assis, P. (2010), “O podcast no Brasil e no Mundo: um caminho para a dis-
tribuição de midias digitais”, texto apresentado XXXIII Congresso Brasileiro de Ciên-
cias da Comunicação – Caxias do Sul, RS – 2 a 6 de Setembro de 2010
M
Mabweazara, H. (2011) “New’ technologies and journalism practice in Africa: Towards a
criticalsociological approach” [on line] http://researchrepository.napier.ac.uk/2756/. Con-
sultado no dia 24/03/2013.
387
Magaia, A.(1994): Informação em Moçambique, a força da palavra, Publicações Notí-
cias, Maputo
Manji, F. (2008) “Alterative media for social change in Africa: miths and realities”, [on
line] http://www.informationforchange.org/presentations/ctbf_firoze.pdf, consultado no
dia 01/08/11
Marcet et al, (2007), “Elementos definitorios del periodismo digital”, in Revista Estudio
sobre el Mensaje Periodistico, pp. 317-336 [on line]
http://revistas.ucm.es/index.php/ESMP/article/view/ESMP0707110317A/12129, con-
sultado no dia 02/05/2011
388
Mattelart, M. & Mattelart, A. (2002): História da sociedade da informação.Ed. Loyola,
São Paulo.
MCT, 2007, Compilação legislativa sobre ciência e tecnologia de Moçambique, Vol.1, Ed. Mi-
nistério da Ciência e Tecnologia de Moçambique, Maputo
http://www.mct.gov.mz/pls/portal/docs/PAGE/PORTALCIENCIATECNOLOGIA/PU
BLICACOES/POLITC_T_0.PDF, consultado no dia 08/04/2010
389
Meso, K. et al. (2011) Ferramenta para análise de interactividade em cibermeio, In ed.
Marcos Palacios, Ferramentas para análise de qualidade no ciberjornalismo, Vol. 1,
Labcom books, Covilhã, pp. 51-80 [on line]
http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/20111202-201110_marcos_palacios.pdf, consulta-
do no dia 01/12/2011
Moran, K. (2012) 3 razones para colaborar en blogs, al margen del medio [on line]
http://www.clasesdeperiodismo.com/2012/05/02/3-razones-para-colaborar-en-blogs-al-
margen-del-medio/, consultado no dia 03/05/2012
Mosco, V. (2005), The digital sublime, Ed. The MIT Press, Cambridge
Mpofu, S. (2011), African media and the digital public sphere, In Ecquid Novi: African
Journalism Studies, Vol. 32, nº1, pp.104-106
390
Musa, M. (2009) “Looking backward, looking forward: African media studies and the
question of power”, In Journal of African Media Studies Vol, 1, Nº 1 pp.35-54.
N
Namburete, E. (2003) “ Comunicação social em Moçambique: da independência à li-
berdade” in Anuário da Comunicação Lusófona, pp. 25-38.
Nel, F. (2012), “The Changing Business of Journalism and Its Implications for Democ-
racy”, In Journalism Studies, Vol. 13, nº3, pp. 477-478 [on line]
http://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/1461670X.2012.662412, consultado no
dia 06/05/2013
Noci, J & Ayerdi, K. (1999), Periodismo en Internet, Servicio editorial del universidad
del País Vasco, Espanha
Noci et al (2009) Content and message analysis of online journalism: some methodolo-
gical proposals, In Tripodos, pp. 647-656
Nyamnjoh, F. (2005), Africa’s Media: Democracy and the Politics of Belonging, [on
line], http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=11845, consultado no dia
23/02/2013
O
Obijiofor, L, (2008), “Africa’s Socioeconomic Development in the Age of New Te-
chnologies: Exploring Issues in the Debate” in Africa Media Review, Volume 16, nº 2,
2008, pp. 1-9
Observatório de la Ilustración Gráfica (2008), Los Retos de la Era digital, Ed. Federa-
ción de Asociaciones de Ilustradores Profesionales, Madrid.
Otieno, C. (2009) Mobile media for Africa, in Doing digital media in África, Ed. Kon-
rad-Adenauer-Stiftung, South Africa, pp.15-23
392
Okolo, M (2005) “Reassessing the Impact of Colonial Languages on the African Identi-
ty for African Development”, In Africa Media Review, Vol. 13, Nº 2, pp. 85 – 103.
Ouane, A & Glanz, C. (2010) Why and how Africa should invest in African languages
and multilingual education, [on line]
http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001886/188642e.pdf, consultado no dia
20/04/2013
Ouane, A & Glanz, C. (2011) Optimising Learning, Education and Publishing in Afri-
ca: The Language Factor, [on line]
http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002126/212602e.pdf, consultado no dia
20/04/2013
P
Pacheco, L. (2011) “Wikileaks e Internet: O que poderá mudar no jornalismo a partir
daqui”, In Estudos em Comunicação, nº 9, pp. 31-43
393
http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=143016764002, consultado no
dia 24/06/11
Palomo, B. et al. (2011) Ferramenta para análise de design em cibermeios, In ed. Mar-
cos Palacios, Ferramentas para análise de qualidade no ciberjornalismo, Vol. 1, La-
bcom books, Covilhã, pp.131-165 [on line]
http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/20111202-201110_marcos_palacios.pdf, consulta-
do no dia 01/12/2011
Pasch, H. (2005), “New Roles for African Languages with the New Electronic Media”,
In Africa’s Great Rift: Diversity and Unity, Brussels, pp.215-225 [on line]
http://kups.ub.uni-koeln.de/3179/1/GreatRift_15Pasch.pdf, consultado no dia
12/01/2013
Patterson, T. (2002) “Os media como actores políticos”, in Media, Jornalismo e demo-
cracia, Ed. Livros horizonte, Lisboa, pp.32-43
394
Paterson, C. (2007) “International newson the internet: Whymore is less”,
[online]http://www.communicationethics.net/journal/v4n1-2/v4n1-2_12.pdf , con-
sultado no dia 20/02/12.
Pavlik, J. (2001): Journalism and New Media, Columbia Univerty Press, New York;
Pépin, H. (2006) Crise du journalisme et del, espace public en afrique: quelles alternati-
ve pour un development dun future africain, In Revue africaine des médias, volume 13,
numéro 2, pp. 104 – 122.
Perret, T. (2001), Le journaliste africain face à son statut, in Les Cahiers du journalisme
o
n 9 – Automne, pp. 159-164.
Petersen, A. (2006), “Internet and Cross Media Productions: Case Studies in Two Major
Danish Media Organizations”, In Australian Journal of Emerging Technologies and
Society Vol. 4, Nº. 2, pp: 94-107.
Pettingill, L. (2006) “Probing Trust on the Internet: A Comparison of Liberals and Con-
servatives” in Project Report Series, Nº 45, USA, pp. 1-23.
395
Plano de Acção de Genebra, (2003), WSIS-03/GENEVA/DOC/0005, [online]
http://www.itu.int/wsis/documents/doc_multi.asp?lang=es&id=1160|0, consultado no
dia 14/09/2010.
Poynter Institute (2010) Conjunto de guías éticas para hacer periodismo en la Web, [on
line ], http://books.openlibra.com/pdf/Conjunto-de-guias-eticas-para-hacer-periodismo-
en-la-web.pdf, consultado no dia 24/03/2010
Powell, M. (2005), The digital migration: Toward a new telecom act, In The Digital
Broadband Migration: Rewriting the Telecom Act’’ held at the University of Colorado
School of Law on February on February 14, 2005.
Power, R. (2012) Mozambique: Media and Telecoms Landscape Guide [on line]
http://www.infoasaid.org/sites/infoasaid.org/files/mozambique_media_guide_-
_final__050712_3.pdf, consultado no dia 28/01/2013.
Prensky, M. (2001): "Digital natives, digital immigrants” in the Horizon NCB Univer-
sity Press, Vol. 9 Nº. 5, USA.
Q
Quadros, C. (2002), “Uma breve visão histórica do jornalismo on line”, Trabalho apre-
sentado no NP02 – Núcleo de Pesquisa Jornalismo, XXV Congresso Anual em Ciência
da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. Setembro 2002.
396
Quadros, C. (2005) “A participação do público no webjornalismo”, In Compos, Revista
da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, Floria-
nópolis, pp. 1-17 [on line] http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-
compos/article/viewFile/56/56, consultado no dia 02/02/11.
Quadros, C. (2006), Dez anos depois do boom dos diários digitais, in Revista FAME-
COS, nº 31, Dezembro, Porto Alegre, pp.65-69.
Quarry, W. & Ramirez, R. (2009) Communication for another development, Zed books,
UK.
R
Raboy, M. (s/d) “Midia e democratização na sociedade de informação”, In Direito à
comunicação na sociedade de informação, S. Paulo, pp.181-201.
Rao, M. (2011), Mobile Africa Report 2011: Regional Hubs of Excellence and Innova-
tion, Ed. Extensia.
Reddick, R. & King, E. (2001), Online Journ@list, Há court college Publishers, EUA
Rhodes, M. (2010) “43% of news sharing online is via social media (CNN research)”
[on line] http://www.freshnetworks.com/blog/2010/10/cnn-pownar-research-news-
sharing-social-media/, consultado no dia 12/03/12.
Ristow, B. (2013) The New Gatekeepers: Controlling Information in the Internet Age,
[on line] http://cima.ned.org/sites/default/files/final_2.pdf, consultado no dia
13/05/2013.
Rodriguez, M. (2006) Como los medios de comunicación masiva influen y/o cambiam
la cultura de una sociedad, in La Era Digital, Primero congreso internacional de comu-
nicación Universidad Autónoma de Tamaulipas,26-28 de Setembro de 2006, Mexico,
pp. 374-384.
398
Rosales, R. (2006) The elements of online journalism, Ed. iUniverse, Nova York.
Rosen, J. (2008) The Weblog: An Extremely Democratic Form in Journalism [on line]
http://archive.pressthink.org/2004/03/08/weblog_demos.html, consultado no dia
22/11/11.
Rushkoff, D. (1994) “Cyberia: life in the trenches of hyperspaces. San Francisco Harpes
[on-line] http://www.rushkoff.com/downloadables/cyberiabook/,consultado no dia
20/12/10.
S
Salaverría, R. & Sancho, F. (s/d) Del papel a la Web.Evolución y claves y deseños peri-
odistico en Internet, [on-line]
http://dspace.unav.es/dspace/bitstream/10171/5074/1/Del_papel_a_la_web.pdf, consul-
tado no dia 02/04/10.
399
Salaverria, R. (2010), “Ciberperiodismo sin periodista? Diez ideias para la generación
de los professionales de los médios digitales”, In Coleccion periodística, Nº33, Ed Co-
municaciòn social, España.
Schrøder, K & Steeg, B. (2010) “The shifting across-media news landscape”, In Jour-
nalism Studies, Vol. 11, Nº 4.
400
Seixas, L (2009), Redefinindo os géneros jornalísticos, proposta de novos critérios de
classificação, Ed. Livros do Labcom, Covilhã.
Seligman, L. & Furtado, M. (2011), “Interação online: o jornalismo que provoca a rea-
ção dos leitores na web” In Estudos em Comunicação, nº 9, pp. 391-409.
Silva, D. (2010) Política linguística na África: do passado colonial ao futuro global, [on
line] http://www.africaeafricanidades.com.br/documentos/10082010_17.pdf, consultado
no dia 27/08/2011.
Singer, J. (2006) Stepping back from the gate: Online newspaper editors and co-
prodution of content in campaign 2004, In J&MC Quarterly Vol. 83, Nº 2, pp.265-280.
Sissouma, S (2001), La presse africaine face au défi des nouvelle technologies, in Les
cahiers du Journalisme, nº 9, Autome, pp.198-205.
401
http://www.intellectbooks.co.uk/journals/view-Article,id=8107/, consultado no dia
20/04/2013.
Sousa, H. (2006) 'Information Technologies, Social Change and the Future, The Case of
Online Journalism in Portugal’, European Journal of Communication, 21 (3): 373-387.
Sousa, J. (s/d): Uma história do jornalismo em Portugal até ao 25 de Abril de 1974, [on-
line] www.bocc.uff.br/.../sousa-jorge-pedro-uma-historia-do-jornalismo-1974.pdf, con-
sultado no dia 07/04/2010.
Sousa, J. (2003), Técnicas jornalísticas nos meios electrónicos, Ed. Universidade Fer-
nando pessoa, Porto.
402
Sparks, C. (2000), The impact of the Internet on the existing media. Center for Commu-
nication and Information Studies, University of Westminster.
T
Tárcia, L. & Marinho S. (2008), “Challenges and new ways of teaching journalism in
times of media convergence” In Brazilian journalism research, Vol. 4, nº2, pp. 29-53.
Kupe, T. (2004) An agenda for researching African media and communication contexts,
In Ecquid Novi: African Journalism Studies, Vol.25, nº2, pp. 353-356.
Trench, B. & Quinn, G, (2003), “Online news and changing models of journalism, In
Irish Communication Review, [Online] http://doras.dcu.ie/3631/ Irish communications
review”, consultado no dia 02/05/2010.
Tudesq, A. (s/d) Les media en Afrique subsaharienne l`espoir et l`illusion, [on line]
http://greriren.free.fr/article10.htm, consultado no dia 30/04/2013.
Turmo, F. (2006) Internet como referencia mediática entre los jovenes, In Análisis y
propuestas en torno al periodismo digital, Ed. Asociación de la prensa de Aragon.
Tuyll, D. (2010), “The pass is prologue”, In Journalism Studies, iFirst Article, pp.1-10.
U
Ugba, A. (2011) Media and technology in emerging African democracies, Ecquid Novi:
African Journalism Studies, Vol. 32, nº3, pp.80-82.
404
UNESCO, (2005), Hacia las sociedades del conocimiento, Ed. Unesco, Paris.
Uribe, E. (2006) “A rádio digital e o rádio em Internet: além das transformações tecno-
lógicas” In UNI revista, Vol.1 nº3, pp.1-13.
V
Valvecchia, M & Wolf, B (2003) Regulación de contenidos en Internet, Tese de licenci-
atura defendida na Universidade de Buenos Aires, Faculdade de Ciencias Sociais.
Vánia, P. (2010) Uma análise sobre os blogs: o caso dos blogs Moçambicanos, Comu-
nicação apresentada na Conferência Internacional sobre desenvolvimento e diversidade
Cultural em Moçambique: homogeneidade global, diversidade local, promovida pelo
Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane.
Vicente, P. (2010) “Jornalismo Público 2.0: o fim dos tempos ou a reinvenção do jorna-
lismo?” In Jornalismo & Jornalistas, nº 24, Abril/Junho.
Vizeu, A. & Mesquita, G. (2011), O Cidadão Como Mediador Público: Um Novo Agente
No Jornalismo, In Estudos em Comunicação, nº 9, pp.329-340.
405
W
Webmastering (2013) Concepção de um website, [on line]
http://pt.kioskea.net/contents/762-webmastering-concepcao-de-um-website, consultado
no dia 08/05/2013.
Webguru (2010) Design your imagination , Ed. Brainware Consultancy Pvt, Lda, Kol-
cata, India, [on line] http://www.webguru-india.com/images/free-webdesign-ebook.pdf,
consultado no dia 12/11/11.
Williams, V (2009) Life beyond print, newspaper journalists digital appetite, Ed Media
Management.Center, llinois.
Wilson, et al. (2011), Media and information literacy: curriculum for teachers, Ed.
UNESCO, Paris [on line] http://unesdoc.unesco.org/images/0019/001929/192971e.pdf,
consultado em 25/11/12.
Wilson, S. & Peterson, L (2002) The anthropology of online communities, [on line]
http://uts.cc.utexas.edu/~swilson/research/wilson_peterson.pdf, consultado no dia
19/04/2013.
World Wide Web Consortium (s/d) “Facts about W3C” [on line]
http://www.w3.org/Consortium/, consultado no dia 20/02/2012.
Y
Yin, R. (2009) Case study research: desigh and methods [On line]
http://moodle.fhs.cuni.cz/pluginfile.php/22496/mod_resource/content/0/YIN_K_ROBERT--
1.pdf, Consultado no dia 12/07/2013.
Young, S (2010), The journalism “Crisis” Is Australia immune or just ahead of its time,
In Journalism Studies, 2010, iFirst Article. Pp. 1-15.
406
Z
Zabel, C. (2007), “Strategies for newspapers campanies in saturated media market:
What Africa could learn from experiences of northern media”, in Revenue generation
for robust African media, Ed. Konrad Adenauer Stiftung, pp. 12-18.
Zelizer, B.(2004) When facts, truth, and reality are God‐terms: on journalism's uneasy
place in cultural studies, [ON LINE]
http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/1479142042000180953#.UaeXNkATH31,
consultado no dia 30/05/2013.
Páginas web
407
Anexo 1
408
20. Funrancungo Tete/ Planalto 250 Km 112,551 Habitantes Chiute, Chimanhica,
Nhungue e portugues
21. N’sanangwe Tete 40 Km 101,811 Habitantes Chiute, Chimanhica,
Nhungue e portugues
26. Pax Sofala/ Beira 200 km 436,240 Habitantes Ndau, Sena e portugues
409
Anexo 2
@verdade 10 0 0 Diária
410
Anexo nº3: Tabela comparativa do custo da Internet entre companhias fornecedoras de serviço
411
412
Glossário
African Barometer- Exercício de avaliação feito por Africanos sobre a situação dos
media nos seus respectivos países.
Audiência- Conjunto de todos os que são de facto atingidos por um dado conteúdo dos
media ou pelos canais dos media. A audiência pode também existir como alvo imagina-
do ou como grupo desejado de receptores. Pode coincidir com um grupo social concreto
ou público. As audiências podem ser definidas de acordo com os media e conteúdos
relevantes, em termo da sua composição social, localização ou momento do dia. As au-
diências mediáticas não são entidades fixas e podem só ser conhecidas a posteriori co-
mo abstracções estatísticas, índices de audiência, com uma conhecida probabilidade de
recorrência. Esta é tipicamente a visão “do lado dos media”, mas existe outra perspecti-
va igualmente válida da audiência como entidade colectiva e sociocultural. (McQuail,
2003:498)
Blog- é um site cuja estrutura permite atualização rápida e cronológica mediante os post
413
Comercialização de conteúdos- processo pelo qual as estruturas e conteúdos mediáti-
cos reflectem os objectivos de angariação de receitas pelas indústrias dos media e são
governadas tendo em conta o mercado. A principal referência é usualmente a das conse-
quências culturais e estes têm sempre uma conotação negativa. Acredita-se que os con-
teúdos dos media comerciais é em vários graus “não autênticos” estandardizado e este-
reotipado, dado ao sensacionalismo e à personalização. Promove valores materialistas e
de consumo. Pensa-se também que é pouco criativo e credível. Os media comerciais são
suspeitos de não serem totalmente independentes dos seus proprietários e anunciantes.
Nalguns contextos, o processo é também referido como americanização, devido às im-
portações de conteúdos americanos, em regras ligado a produções e valores americanos
padronizados, (McQuail, 2003:499.)
Correio electrónico- mensagens trocadas entre dois computadores, ligados por modens
a uma rede de telecomunicações. Pode tratar-se de uma carta ou de um ficheiro informá-
tico.
Digital- que foi codificado sob a forma de séries de bits, quer dizer, de 0 a 1. É a digita-
lização de dados – a sua tradução para linguagem informática- que autoriza a sua mistu-
ra e o tratamento.
Ética dos media Digitais- princípios de boa conduta para os profissionais dos media
tendo em conta o papel público dos media numa sociedade, bem como os direitos indi-
viduais. A conduta relevante relaciona-se em especial como as maneiras como a infor-
mação é obtida e com decisões acerca do que e como publicar pensando sobretudo nas
414
consequências para os envolvidos. Em áreas de conteúdo não informativo existem tam-
bém numerosas éticas, embora estejam menos codificadas ou presentes nos processos
de decisão. A reivindicação do jornalismo como profissão depende em certo grau do
desenvolvimento e aceitação voluntária de determinados padrões éticos, (McQuail,
2003:503.).
Fibra ótica- fibra constituída de silício ou de matéria plástica, utilizada para construção
de redes de comunicação moderna, menos pesada, mas mais cara que o cabo coaxial. A
fibra óptica permite o transporte de grande número de informações multimédia à veloci-
dade de luz.
Hipertexto- função de software que, num texto, associa a algumas ou grupo de palavras
complementares de informação que se situam para lá do texto. Em cada instante, o utili-
zador pode obter complementos de informação clicando simplesmente sobre estas pala-
vras referências.
415
valores culturais e outros nas audiências, por toda a parte. Não se exporta unicamente o
conteúdo, também se exporta a tecnologia, os valores de produção, as ideologias profis-
sionais e a propriedade, há uma analogia com o imperialismo histórico, onde os meios
eram o pode económico e militar. Explícita ou implicitamente assume-se que o imperia-
lismo cultural leva à dependência, perda de autonomia e ao declínio nas culturas nacio-
nais ou locais. Existe uma variedade quanto ao grau deliberado do processo e quanto à
dimensão em que é involuntário na recepção. O conceito é bastante seco, mas tem forte
ressonância, (McQuail, 2003: 504).
416
Língua nacional- É a língua falada num determinado território e que resulta de herança
étnico-cultural. De acordo com a Enciclopédia das Línguas do Brasil, ela “caracteriza-se
como uma virtude de uma relação de unidade imaginária da língua que é atribuída à
nação” e apresenta diferenças entre diversidade interna designadas de dialeto.
Machup- é um website ou uma aplicação Web que usa conteúdos de mais de uma fonte
para criar um novo serviço completo
Multimédia- técnica de comunicação que tende a juntar num único suporte um conjun-
to de media digitalizados- texto, gráfico, foto, vídeo, som, dados informáticos. Para os
difundir simultaneamente e de maneira interactiva
Offline - Fora da linha. Significa que nenhuma ligação por linha telefónica ou outra está
no momento activo.
Online - Por oposição a off-line, online significa "estar em linha", estar ligado em de-
terminado momento a rede ou a um outro computador
Pauta - É uma ordem de serviço transmitida pelos chefes de reportagem. A pauta nor-
malmente indica a pessoa que deve ser entrevistada, local, horário e até mesmo o tama-
nho da reportagem que deve ser produzida. A pauta também deve indicar os temas prin-
cipais que devem ser abordados no texto. Nos jornais, a pauta é feita através de reuniões
de pauta, onde editor, redactor-chefe e repórter sugerem pautas para que matérias sejam
produzidas
Rede- Qualquer conjunto de pontos em conexão, que podem ser pessoas, lugares, orga-
nizações, máquinas, etc. na comunicação, o interesse foca-se no fluxo de informação
através das «linhas» de uma rede, com a particular referência à sua capacidade de
transmissão e interactividade, bem como a quem ou que é que está ligado de modo mais
ou menos forte e exclusivo, (McQuail, 2003: 508).
417
RSS- Rich Site Summary ou Really Simple Syndication, é uma tecnologia usada para
agregar conteúdos Web
Tablet- É um dispositivo pessoal em formato de prancheta que pode ser usado para o
acesso à Internet, organização pessoal, visualização de fotos, vídeos, leitura de jornais,
livros, revistas. Apresenta uma tela touchscreen
418