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TCC TEA Seletividade Alimentar e TPS - (Versão Final)
TCC TEA Seletividade Alimentar e TPS - (Versão Final)
TCC TEA Seletividade Alimentar e TPS - (Versão Final)
Belo Horizonte
2020
Bruna Ferreira de Paula Almeida
Monografia de Especialização em
Transtornos do Espectro do Autismo,
apresentada ao Programa de Pós-
graduação, como requisito parcial à
obtenção de título de Especialista em
Transtornos do Espectro do Autismo
na Universidade Federal de Minas
Gerais – UFMG
Belo Horizonte
2020
AGRADECIMENTO
1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................. 6
3 – METODOLOGIA .......................................................................................... 9
4 – RESULTADOS ........................................................................................... 10
5 – DISCUSSÃO .............................................................................................. 27
6 – CONCLUSÃO ............................................................................................ 30
1. INTRODUÇÃO:
3. METODOLOGIA
4. RESULTADOS:
apropriadas para a idade, ainda com durações prolongadas das refeições (mais
de 30 minutos), e comportamentos indesejáveis nas refeições.
Em crianças com TEA, os problemas alimentares foram descritos por
Johnson e cols. (2014) como seletividade alimentar, recusa de alimentos e
comportamentos perturbadores nas refeições.
Nadon e cols. (2010) descreveram que as crianças com autismo
apresentam como características: seleção de alimentos pela textura, variedade
limitada, recusa de alimentos, falta de comer a dieta habitual familiar, taxa
inadequada de alimentação, padrões alimentares obsessivos, falha em aceitar
novos alimentos e rotina inadequada para as refeições, que interferem na rotina
diária ou limitam a integração da criança no ambiente social.
Crasta e cols. (2014) descreveram que esse público tem preferências e
práticas alimentares idiossincráticas, menos opções de alimentos por causa de
textura, seletividade de categoria de alimentos e disfagia, que resultam em
recusa alimentar.
Lázaro e Pondé (2017) realizaram estudo utilizando entrevistas
semiestruturadas com dezoito mães de indivíduos com autismo entre 5 e 28
anos, em que descreveram o comportamento alimentar do grupo. Seus
resultados mostraram características comuns a esses indivíduos, tanto no que
se refere a padrões alimentares, quanto a atitudes das famílias e
comportamentos relacionados a alimentação. Os autores encontraram
semelhanças quanto a relatos de dificuldades de amamentação e de
mastigação, mudanças nos hábitos alimentares, preferências restritas a
determinados alimentos, rejeição a temperos, legumes, verduras e frutas,
relação das escolhas com cheiro e textura dos alimentos, mas sem padrão
comum a todos os indivíduos com TEA (alguns gostavam de comida seca,
crocante, outros macia ou amassada).
As preferências e os hábitos alimentares da família, segundo Lázaro e
Pondé (2017) eram semelhantes aos dos indivíduos com TEA, mas alguns se
alimentavam separadamente. A aceitação da recusa alimentar dos filhos, pela
mãe, favorecia a seletividade. Houve relatos de que alguns alimentos afetavam
o comportamento dos indivíduos, como os que continham glúten, leite, chocolate
e café, podendo haver reações de irritação, agitação, aumento das estereotipias,
dificuldades para dormir ou alterações orgânicas como constipação intestinal,
12
Seis estudos (BANDINI & COLS., 2010; NADON & COLS., 2010;
HUBBARD & COLS., 2014; MARSHALL & COLS., 2016; SUAREZ, 2017;
CHISTOL & COLS., 2018) compararam um grupo de crianças com TEA com
outro de crianças com desenvolvimento típico (DT), sendo que um deles
(MARSHALL & COLS., 2016) comparou em ambos grupos crianças que tinham
problemas alimentares. Um estudo (CRASTA & COLS., 2014) comparou
crianças com TEA com crianças com deficiência intelectual. Em todos os artigos,
os problemas alimentares foram mais frequentes ou graves nas crianças com
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mais comportamentos difíceis fora do horário das refeições, que poderiam ser
características mais relacionadas ao autismo do que às dificuldades alimentares.
Por sua vez, os pais das crianças do outro grupo relataram mais
comportamentos difíceis durante as refeições. As semelhanças entre os dois
grupos fizeram os autores sugerirem abordagens semelhantes de intervenção,
bem como equipe multidisciplinar. Problemas alimentares foram associados com
hipersensibilidade oral que podem levar à recusa, tendência a comer os mesmos
alimentos, engasgos e comportamentos difíceis nas refeições.
Crasta e cols. (2014) compararam problemas alimentares e
processamento sensorial em 41 crianças com autismo e 56 crianças com
deficiência intelectual entre 3 e 10 anos, usando avaliação de comportamento
alimentar, medida de processamento sensorial, avaliação de autismo, de
inteligência, de desenvolvimento e maturidade social. Os problemas alimentares
em crianças com TEA foram mais graves e mais frequentes, especialmente em
crianças pequenas, e elas apresentaram mais comportamentos disruptivos nas
refeições e seletividade excessiva. Os problemas alimentares foram associados
a dificuldades sensoriais, tanto oral quanto multissensorial, e também a níveis
mais graves de autismo. Algumas características do TEA foram relacionadas a
esses quadros alimentares mais graves e restritos, como concentração nos
detalhes, perseverança, impulsividade, medo de novidade, dificuldades
sensoriais, funcionais, como falta de planejamento e flexibilidade mental para
realizar as tarefas alimentares. Os autores sugerem que estes aspectos
precisam ser abordados na terapia.
5. DISCUSSÃO
SUAREZ, 2017; CHISTOL & COLS., 2018) que abordavam os três temas
centrais, autismo, problema alimentar e alteração sensorial, encontraram relação
entre seletividade alimentar e transtorno de processamento sensorial em
crianças com TEA. A seletividade alimentar foi mais comum em crianças com
TEA do que em outros grupos em todos os sete estudos comparativos (BANDINI
& COLS., 2010; NADON & COLS., 2010; CRASTA & COLS., 2014; HUBBARD
& COLS., 2014; MARSHALL & COLS., 2016; SUAREZ, 2017; CHISTOL &
COLS., 2018). Poucos estudos (PETTERSON, PIAZZA E VOLKERT, 2016;
MIYAJIMA & COLS.; 2017 SEIVERLING & COLS.; 2018) foram encontrados com
abordagens que utilizavam estratégias sensoriais, apenas três, sendo que
somente um (MIYAJIMA E COLS.; 2017) mostrou bom resultado para tratar a
seletividade alimentar em crianças com TEA, que foi o de educação parental que
discutiu diversas estratégias, não só sensoriais, para os pais lidarem com as
preferências alimentares dos filhos.
Os três estudos (AUSDERAU & COLS., 2014; KIRBY, WHITE E
BARANEK, 2015; MCCORMICK E COLS., 2016) que abordavam
exclusivamente de aspectos sensoriais em crianças com TEA apresentaram os
padrões sensoriais nessa população. McCormick e Cols, (2016) ressaltaram
mais sintomas na sensibilidade ao paladar / olfato e filtragem auditiva, o que foi
associado aos problemas alimentares e aos déficits sociais. Ausderau e cols.,
(2014) destacaram quatro categorias comportamentais de resposta sensorial,
hiporresponsividade, hiperresponsividade, busca sensorial e percepção
apromorada, mas em padrões heterogêneos e associaram a
hiperresponsividade a maior gravidade do autismo. Kirby, White e Baranek,
(2015), correlacionaram o aumento da tensão objetiva, de impacto observável
na vida do cuidador, e da tensão subjetiva internalizada, ou seja, sentimentos
negativos, com a hiperresponsividade também.
Esses achados apontam que a relação entre seletividade alimentar e
alterações de processamento sensorial, especialmente a hiperresponsividade
oral, tem sido percebida e documentada em crianças com TEA, mas ainda em
poucos estudos. Alguns achados recorrentes nos artigos demonstram
dificuldades nessa área, que seriam: a falta de definição consistente da
seletividade alimentar; a heterogeneidade da população com TEA; poucos
instrumentos que avaliam problemas alimentares, não havendo ainda nenhum
29
considerado padrão ouro; a maioria dos estudos serem baseados em relato dos
pais e poucos em observação direta; e com amostras pequenas.
Não foi observado o uso de um instrumento de avaliação preferencial ou
que tenha sido usado frequentemente na área de problemas alimentares, o que
provavelmente está relacionado a poucas pesquisas nessa área, percebida pela
própria dificuldade em definir a seletividade alimentar em critérios qualitativos e
quantitativos.
A associação encontrada nos estudos entre seletividade alimentar e
transtornos do processamento sensorial foi relacionada à necessidade de uma
equipe de intervenção multiprofissional, que avalie amplamente as questões
complexas envolvidas nos problemas alimentares, em geral acompanhados de
transtornos do processamento sensorial, especialmente a hipersensibilidade. O
Terapeuta Ocupacional para avaliar e intervir nas questões sensoriais,
comportamentais e de autonomia da criança nas refeições. O Fonoaudiólogo
para avaliar e favorecer as habilidades motoras orais, relacionadas a estratégias
alimentares. O Nutricionista para avaliar e tratar a adequação da ingestão de
nutrientes na dieta restrita. O Psicólogo para acompanhar os problemas
comportamentais, disruptivos ou de ansiedade da criança, bem como o estresse
familiar. O Médico para acompanhar a saúde geral e efeitos adversos da
alimentação restritiva. O Assistente Social para acompanhar os efeitos que a
restrição alimentar pode provocar na família.
Ainda são necessários mais estudos, principalmente sobre intervenção
usando abordagens sensoriais, para que se possa esclarecer como os
problemas de processamento sensorial podem influenciar nas questões
alimentares e o tratamento desses sintomas podem ser associados. A
dessensibilização de alguns pacientes e generalização da aceitação de
alimentos que não foram usados durante o tratamento ABA, após uma
abordagem sensorial, foram percebidos em um dos estudos (PETTERSON,
PIAZZA E VOLKERT, 2016), o que mostra que a associação de procedimentos
de aceitação dos alimentos em etapas sensoriais pode favorecer resultados mais
rápidos e amplos nas abordagens comportamentais que já tem documentados
bons resultados de intervenção. Esse seria um assunto para um novo estudo.
Os achados desse estudo corroboram com outras duas revisões de
literatura sobre o mesmo assunto (MARSHALL & COLS., 2014; CERMAK,
30
6. CONCLUSÃO
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANDINI, Linda G.; ANDERSON, Sarah E.; CURTIN, Carol; CERMAK, Sharon;
EVANS, E. Whitney; SCAMPINI, Renee; MASLIN, Melissa; MUST, Aviva. Food
selectivity in children with autism spectrum disorder and typically
developing children. The Journal of Pediatrics, 2010 August; 157(2): 259–264.
CHISTOL, Liem T.; BANDINI, Linda G.; MUST, Aviva; PHILLIPS, Sarah;
CERMAK, Sharon A.; CURTIN, Carol. Sensory sensitivity and food selectivity
in children with autism spectrum disorder. Journal of Autism and
Developmental Disorders, 2018 February; 48(2): 583–591.
CRASTA, Josias E.; BENJAMIN, Tanya E. SURESH, Ann Patricia C.; THANKA,
Merlin; ALWINESH, Jemi; KANNIAPPAN, Gomathi; PADANKATTI, Sanjeev M.;
RUSSELL, Paul S. S.; NAIR, MKC. Feeding Problems Among Children with
Autism in a Clinical Population in India. The Indian Journal of Pediatrics, 2014
November.
HUBBARD, Kristie L.; ANDERSON, Sarah E.; CURTIN, Carol; MUST, Aviva;
BANDINI, Linda G. A comparison of food refusal related to characteristics
of food in children with autism spectrum disorder and typically developing
children. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics. 2014 December;
114(12): 1981–1987.
KIRBY, Anne V.; WHITE, Tamira J. e BARANEK, Grace T. Caregiver Strain and
Sensory Features in Children with Autism Spectrum Disorder and other
Developmental Disabilities. American Journal Intellect Developmental
Disabilities, 2015 January; 120 (1):32-45.
MARSHALL, Jeanne; HILL, Rebecca J.; WARE, Robert S.; ZIVIANI, Jenny;
DODRILL, Pamela. Clinical characteristics of 2 groups of children with
feeding difficulties. Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition, volume
62, n.1, 2016 January.