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Texto SISTEMÁTICA

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SISTEMÁTICA: A CIÊNCIA DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA

Quando você para e examina uma flor, um arbusto ou uma árvore,, você pode
perguntar-se: qual o nome daquela planta?. Tal questão – surgindo de uma simples
curiosidade para identificar organismos do mundo ao nosso redor – tem intrigado gente
desde Aristóteles e sem dúvida desde épocas anteriores. O processo aparentemente
trivial de dar nome a um organismo é, de fato, parte de um sistema altamente
organizado para o estabelecimento de relacionamentos genéticos e identificação de
tendências evolutivas.

Se as pessoas frequentemente dão nomes locais às plantas e outros organismos


na língua de seu país, haverá quase tantos nomes vulgares para o mesmo organismo
quanto o número de línguas existentes. Para os botânicos – geralmente biólogos e
agrônomos – essa pluralidade de nomes representa uma barreira significativa para o
compartilhamento de informações. Portanto, além dos “nomes comuns, ou nomes
vulgares, ou nomes locais ou regionais”, que variam de país para país (até entre regiões
de um mesmo país), cada organismo também tem um nome científico – um nome latino
com duas palavras que o identifica precisamente em qualquer lugar do mundo.

O nome científico não apenas fornece uma “carteira de identidade” universal


para um organismo, mas também fornecepistas acerca das relações de um organismos
com outro.

Os homens primitivos usavam as plantas comestíveis e medicinais que cresciam


em seu ambiente, reconhecendo centenas de plantas diferentes. Este reconhecimento
primitivo das plantas úteis e nocivas assinalou o início da Botânica Sistemática.

O desenvolvimento da linguagem fez com que o conhecimento acumulado a


partir das observações nas plantas pudesse ser transmitido de geração em geração.
Atualmente, o reconhecimento básico e o agrupamento das plantas têm-se
desenvolvido em uma ciência altamente complexa, encarregada de classificar as plantas
em grupos com base nas relações evolutivas. A Botânica Sistemática inclui todas as
atividades que formam parte do esforço de organizar e registrar a diversidade das
plantas para, assim, familiarizar-se com as fascinantes diferenças que existem entre as
espécies vegetais.

Tradicionalmente, a classificação de um organismo recém-descoberto e sua


relação filogenética com outros organismos tem sido estimada com base em suas
semelhanças gerais externas, relativamente a outros representantes daquele táxon. As
árvores filogenéticas construídas pelos métodos tradicionais, raramente incluem
considerações detalhadas de informação comparada. Em vez disso, elas refletem a
avaliação relativamente intuitiva e a ponderação de um grande nº de fatores.

A IMPORTÂNCIA DA NOMENCLATURA

1
Os três primeiros parágrafos foram compilados de Raven et al. (2001).
NOMES CIENTÍFICOS x NOMES COMUNS
Para designar as espécies, existem dois tipos de nomenclatura: a vernacular e a
científica. A primeira trata dos nomes que a população atribui às plantas, os quais
variam bastante de uma região para a outra e, em muitos casos, dentro de uma mesma
região, dependendo de quem a utiliza. A nomenclatura científica, por outro lado, é
universal e única. Isto é, o nome de uma espécie não sofre variação e não pode ser
utilizado para outras espécies. Seu uso obedece a regras rígidas contidas no Código
Internacional de Nomenclatura Botânica, oferecendo segurança para os usuários. Por
essa razão, a nomenclatura científica permite o diálogo sobre determinada espécie entre
pessoas de diferentes países e regiões e promove o acesso às informações sobre a
mesma.

Pesquisas em acervos bibliográficos e de herbários e levantamentos em


madeireiras, indicam o uso de muitos nomes vulgares para uma mesma espécie e
diferentes espécies botânicas sendo chamadas pelo mesmo nome vulgar.

No comércio de madeiras, os nomes vulgares são atribuídos às espécies através


de características como cor, cheiro, forma e densidade, levando os compradores e
comerciantes ao agrupamento de espécies, aumentando assim a pluralidade de noves
vulgares utilizados.
O conhecimento da identidade correta de uma planta viabiliza o acesso à
informação sobre aquela espécie, por exemplo, sobre suas propriedades e usos. A
identificação errada inviabiliza este acesso ou, ainda pior, resulta em informação errada.

Na Amazonia, por exemplo, o nome “Angelim” é atribuído a várias espécies de


Leguminosas, principalmente dos gêneros Andira, Dinizia, Hymenolobium, Vatairea e
Vataireopsis. Existem, no entanto, outros gêneros que também recebem o mesmo nome
de “Angelim”, até mesmo de diferentes famílias botânicas (Ferreira & Hopkins, 2004)

Por que os botânicos usam os nomes científicos em latim, em lugar dos nomes
comuns em sua língua???

Em resumo, os nomes comuns apresentam uma série de problemas:


 Primeiro, os nomes comuns (nomes vulgares, nomes populares), não são
universais e podem aplicar-se somente em uma língua
 Segundo, os nomes comuns usualmente não proporcionam informações que
indique as relações de gênero e família
 Terceiro, se uma planta é muito conhecida, pode ter uma dezena ou mais de
nomes comuns
 Quarto, em ocasiões duas ou mais plantas podem ter o mesmo nome comum
(exs.: piaçava, carquejo, cidreira, cacau)
 Quinto, muitas espécies – em particular as que são raras – não tem nomes
comuns.

Um sistema de classificação é necessário porque permite a identificação das
plantas e dos animais e a comunicação científica com outros estudiosos. Na realidade, o
nome de uma planta é a chave que abre a porta à totalidade de sua biologia.
A Botânica Sistemática não tem significado unicamente para os cientistas. Pode
ser utilizada por outras pessoas interessadas na História Natural das plantas e que
tenham interesses ou treinamentos diversos.

COMPOSIÇÃO DO NOME CIENTÍFICO


O nome do gênero e o epíteto específico formam juntos o binômio que se
conhece como “nome da espécie”. O termo “nome da espécie”com freqüência se usa
erroneamente para referir-se somente ao epíteto específico, pelo fato do nome da
espécie constar tanto do nome genérico como do epíteto específico (gênero + espécie).
Ao nome científico deve seguir o terceiro elemento, ou seja, o nome da pessoa ou das
pessoas que descreveram formalmente a planta.

Por exemplo, o nome completo do feijão é Phaseolus vulgaris L. e o do cravo-


da-índia é Syzygium aromaticum Merr. & L. M. Perry, onde Phaseolus e Syzygium são
os nomes dos gêneros, vulgaris e aromaticum os nomes das espécies e L. (abreviatura
de Linneo) e Merr. & L. M. Perry são, respectivamente, os autores das descrições.

O nome científico não apenas fornece uma “carteira de identidade” universal


para um organismo, mas também fornece pistas acerca das relações de um organismo
com outro.

Para garantir uma certa estabilidade e universalidade aos nomes dados aos
diferentes táxons, esses não devem ser dados arbitrariamente, mas sim de acordo com as
normas de nomenclatura, que constituem o Código Internacional de Nomenclatura
Botânica.

CÓDIGO INTERNACIONAL DE NOMENCLATURA BOTÂNICA

O Código está organizado segundo princípios, regras e recomendações, sendo


atualizado a cada 4 anos, durante os Congressos Internacionais de Botânica. Os códigos
podem sofrer modificações, sempre que aprovadas numa Sessão de Nomenclatura,
durante um Congresso Internacional de Botânica. Desta forma, após a realização de um
Congresso Internacional de Botânica o Código é re-editado com as mudanças propostas.

O último Código é bem recente, ou seja, foi publicado agora em 2006, já


trazendo as atualizações discutidas e aprovadas pelo XVII Congresso Internacional de
Botânica, realizado em Viena, Áustria, em julho de 2005 e traduzido para o português
por J. McNeil et al. (2007).
O próximo Código somente será alterado em 2011, após a realização do XVIII
Congresso Internacional de Botânica, a ser realizado em Melbourne, Austrália, em julho
de 2011.

O Código é constituído de: Divisões, Princípios, Seções, Capítulos, Artigos,


Apêndices, Exemplos, Regras e Recomendações. Os Artigos são obrigatórios e as
Recomendações não. De acordo com a última versão do Código Internacional, adotado
no referido Congresso Internacional, a Botânica necessita de um sistema preciso e
simples de nomenclatura para ser usado pelos botânicos em todos os países, que lide por
um lado com os termos que denotam nível dos grupos ou unidades taxonômicas e por
outro com os nomes científicos aplicados aos grupos taxonômicos individuais de
plantas. O propósito de dar um nome a um grupo taxonômico não é de indicar seus
caracteres ou história, mas de suprir um meio de se referir a ele e de indicar seu nível
taxonômico. O Código visa prover um método de denominação dos grupos
taxonômicos, evitando e rejeitando o uso de nomes que possam causar erro ou
ambiguidade ou lançar a ciência em confusão. A importância, é evitar a criação inútil de
nomes.

Os Princípios constituem a base do sistema de nomenclatura botânica.

As provisões detalhadas estão divididas em Regras, organizadas em Artigos e


Recomendações. Exemplos são acrescidos às Regras e recomendações para ilustrá-los.

O objetivo das Regras é colocar a nomenclatura do passado em ordem e prover


para o futuro; nomes contrários a uma regra não podem ser mantidos.

As Recomendações lidam com pontos subsidiários, sendo sua finalidade trazer


maior uniformidade e clareza, especialmente à nomenclatura futura; nomes contrários a
uma recomendação não podem, nesse sentido, ser rejeitados, porém, não constituem
exemplos a serem seguidos.

As Regras e Recomendações são aplicadas a todos os organismos


tradicionalmente tratados como plantas, sejam eles fóssseis ou não, por exemplo, algas
azuis (Cyanobacteria).
Na ausência de uma regra relevante ou quando as consequências das regras são
duvidosas, segue-se o uso estabelecido.

O Código Internacional para Nomenclatura de Plantas Cultivadas está sendo


preparado sob a coordenação da Comissão Internacional para a Nomenclatura de
Plantas Cultivadas, com o uso e a formação de nomes para categorias especiais de
plantas na nomenclatura em agricultura, silvicultura e horticultura.

DIVISÃO I
PRINCÍPIOS DO CÓDIGO INTERNACIONAL
Os princípios formam a base e estabelecem a filosofia do sistema nomenclatural.
Existem 6 princípios:
 A nomenclatura Botânica é independente da nomenclatura Zoológica e
da Bacteriológica;
O Código se refere unicamente à nomenclatura das plantas. Entretanto, o
mesmo nome que se dá a uma planta pode usa-lo os zoólogos para nomear
os animais
 A aplicação de nomes dos grupos é determinada por meio de tipos
nomenclaturais;
O princípio do ”tipo” sustenta que o nome de cada sp. deve associar-se com
um espécimen particular, o tipo nomenclatural
 A Nomenclatura de um grupo taxonômico está baseada na prioridade de
publicação;
Este princípio tão importante, sustenta que o nome correto é o nome mais
antigo já publicado de acordo com as regras. Os nomes que se publicam
primeiro têm preferência sobre os nomes ‘a posteriori’. O Princípio da
Prioridade na nomenclatura botânica começa e 1º de maio de 1753 que é
exatamente a data da publicação da primeira edição de Species Plantarum
de Linneo.
 Cada táxon tem apenas um nome válido;
Cada grupo taxonômico com uma delimitação particular (circunscrição),
posição e nível próprios pode ter apenas um nome correto, a saber, o mais
antigo em conformidade com as Regras, salvo em casos especificados.
 Nomes científicos de grupos taxonômicos são tratados em latim,
independentemente de sua derivação; e
 As regras de nomenclatura são retroativas, a menos que expressamente
limitadas (ou seja, salvo a existência de uma indicação contrária).
As regras são organizadas em artigos, os quais visam por em ordem os nomes já
existentes e orientar a criação de novos nomes.

As recomendações tratam de pontos secundários e indicam a melhor forma de


escolha de um nome.

DIVISÃO II
REGRAS E RECOMENDAÇÕES
CAPÍTULO I. Categorias dos Taxa e termos que os designam

Art. 1. Grupos taxonômicos de qualquer nível (categoria) deverão, conforme este


Código, ser referidos “táxons” (taxa); singular: “táxon” (taxon).
Art. 2. Cada planta individual, ou seja, cada indivíduo vegetal, é tratada como
pertencente a um número indefinido de táxons de categorias (níveis) hierarquicamente
subordinadas, dentre as quais o nível de espécie constitui o nível básico.
Art. 3. Os principais níveis (categorias) de táxons em ordem descendente são so
seguintes: reino (regnum), divisão ou filo (divisio, phylum), classe (classis), ordem
(ordo), família (familia), gênero (genus) e espécie (species). Assim sendo, cada espécie
pertence a um gênero, cada gênero a uma família etc. Os principais níveis de
nototáxons (táxons híbridos) são notogênero e notoespécies. Estes níveis são o mesmo
que gênero e espécie. A adição da partícula “noto” indica seu caráter híbrido.
Art. 4.1. Os níveis secundários de táxons são os seguintes em ordem descendente: tribo
(tribus) entre família e gênero, seção (sectio) e série (series) entre gênero e espécie, e
variedade (varietas) e forma (forma) abaixo de espécie.
Art. 4.2. Se houver necessidade de um maior número de níveis (categorias) de táxons,
os termos para nomeá-los são criados pela adição do prefixo “sub“ aos termos que
denotem os níveis hierárquicos principais ou secundários. Uma planta pode, portanto,
ser assim assinalada para os táxons das seguintes categorias (em ordem decrescente):
Reino, Subreino, Filo ou Divisão (Subfilo ou Subdivisão), Classe, Subclasse,
Ordem, Subordem, Família, Subfamília, Tribo, Subtribo, Gênero, Subgênero,
Seção, Subseção, Série, Subsérie, Espécie, Subespécie, Variedade, Subvariedade,
Forma, Subforma.

O termo Divisão é usado para representar a categoria de magnitude superior


dentro do Reino Vegetal. A Divisão é representada por um grupo de caracteres
escolhidos entre as estruturas reprodutoras, morfológicas e anatômicas. Num passado
distante, os componentes de cada Divisão tiveram um ou mais antepassados comuns aos
componentes de outra Divisão. A existência de tais relações significa que as fronteiras
ou critérios, pelos quais se separam umas divisões das outras, não são tão definidos ou
isentos de exceções. Por esse motivo, as divisões são caracterizadas mais por um
conjunto de caracteres do que por um único caráter.

O Gênero é uma categoria cujos componentes – as espécies – tem mais


caracteres em comum do que com as espécies de outros gêneros da mesma família. Uma
deficiência inerente a este conceito é que, ao delimitar gêneros, não é possível
considerar os caracteres escolhidos como tendo igual valor em todos os gêneros da
mesma família.
A Espécie é o conjunto de indivíduos que por todos os seus caracteres,
considerados essenciais pelo observador, concordem entre si e com os seus
descendentes. Conceito estudado até hoje de espécie resume que é um conjunto de
indivíduos capazes de intercruzarem livremente, produzindo indivíduos-filhos, férteis,
semelhantes entre si e seus ancestrais e que ocupam uma área geográfica comum.
CATEGORIA SUFIXO e EXEMPLO

Reino - bionta
Subreino
Filo (ou Divisão) - phyta (ex.: Magnoliophyta)
Subfilo (ou Subdivisão) - phytina
Classe - opsida (ex.: Magnoliopsida)
Subclasse - idae
Superordem - anae
Ordem - ales (ex.: Asterales)
Subordem - ineae
Família - aceae (ex.: Asteraceae)
Subfamília - oideae
Tribo - eae
Subtribo - inae
Gênero Vernonia (ìtálico, letra inicial maiúscula)
Subgênero
Seção
Subseção
Série
Subsérie
Espécie V. angustifólia Michx. (itálicos,inicial
Subespécie da sp. minúscula)
Variedade
Subvariedade
Forma
Subforma
Clone
(Cultivar, Híbrido)

Fontes: Judd, W. S. et al. (1999) e McNeil, J. et al. (2007).


Exemplo de uma classificação hierárquica para o guaraná [Paullinia cupana H.B.K. –
Família Sapindaceae]:

CATEGORIA TAXON

Reino Chlorobionta
Filo (ou Divisão) Embryophyta
Subfilo (ou Subdivisão) Tracheophytina
Classe Angiosperma
Ordem Sapindales
Família Sapindaceae
Gênero Paullinia
Espécie Paullinia cupana

CAPÍTULO II. Status, Tipificação e Prioridade de Nomes (Nomes dos Taxa)

Seção 2. Tipificação
Art. 7.1. A aplicação de nomes de táxons do nível (categoria) de família, ou abaixo
desta, é determinada através de tipos nomenclaturais.
Art. 7.2. Um tipo nomenclatural (typus) é o elemento ao qual o nome de um taxon está
permanentemente ligado, seja como o nome correto ou como um sinônimo. O tipo
nomenclatural não é, necessariamente, o elemento mais típico ou mais representativo de
um táxon. Para determinação de um tipo o botânico deve se basear no protólogo.
Protólogo (do grego protos, primeiro; logos, discurso): tudo associado com o
nome em sua publicação válida, por ex., descrição ou diagnose, ilustrações,
referências, sinonímia, dados geográficos, citação de espécimes, discussão e
comentários.
Art. 7.11. Para fins de prioridade (Arts. 9.17, 9.18 e 10.5), a designação de um tipo só é
consumada se o tipo for definitivamente aceito como tal pelo autor que efetuou a
tipificação, se o o elemento-tipo for claramente indicado pela citação direta incluindo o
termo ‘tipo’ (typus) ou equivalente e, em ou a partir de 1º de janeiro de 2001, se a
afirmação da tipificação incluir a frase ‘aqui designado’ (hic designatus) ou algo
equivalente.
Recomendação 7A. É fortemente recomendado, que o material no qual o nome de um
táxon está baseado, especialmente o Holótipo, seja depositado em um herbário público
ou a qualquer outra coleção pública, cujo regulamento permita livre acesso dos
botânicos de boa fé aos materiais ali depositados e que o mesmo seja escrupulosamente
conservado.
Art. 8.1. O tipo (holótipo, lectótipo ou neótipo) do nome de uma espécie ou táxon
infra-específico é um único espécime conservado em um herbário, outra coleção ou
instituição, ou é uma ilustração.
Art. 8.2. Para fins de tipificação, um espécime é uma coleta ou parte de uma espécie ou
táxon infra-específico feita num único momento, não consideradas as misturas (veja
Art. 9.2). Ele pode consistir de uma única planta inteira, de partes de uma ou várias
plantas ou de múltiplas pequenas plantas. Um espécime normalmente é montado numa
única exsicata de herbário ou em preparações equivalentes, tais como: caixa, envelope,
frasco ou lâmina de microscopia.
Art. 8.4. Espécimes-tipo de nomes de táxons devem ser permanentemente preservados
e não podem ser plantas vivas ou culturas. Entretanto, culturas de algas e fungos, se
preservadas em estado metabólico inativo (por ex.: liofilização ou congelamento
profundo), são aceitáveis como tipos.
Art. 9.1. Um holótipo (holotypus) de um nome de uma espécie ou de um táxon infra-
específico spécimes
Definições de Tipos (mais informações no Código, Artigos 9.1 a 10.7)

Chama-se typus o espécime conservado num herbário, do qual se fez uma


diagnose original. O typus compreende:

 Holótipo Holotypus  o tipo escolhido pelo autor como modelo e designado


 por ele, na descrição original
 Isótipo Isotypus  Duplicata(s) do Holotypus
 Lectótipo Lectotypus  É um espécime ou ilustração designado(a) a partir do
material original como tipo nomenclatural, se não
houve designação de Holótipo na época da publicação
ou se o Holótipo está desaparecido
 Parátipo Paratypus  quaisquer exemplares (coletas) citados no protólogo,
que não seja o Holótipo, nem um Isótipo, que tenham
sido estudados simultâneamente pelo autor, mas de
outras coletas com numerações e coletores diferentes.
 Neótipo Neotypus  um espécime ou ilustração selecionado para servir
como tipo nomenclatural, quando todo o material
original sobre o qual o nome do táxon foi baseado se
encontra desaparecido
 Síntipo Syntipus  qualquer espécime citado pelo autor no protólogo
quando não há Holótipo, ou seja, quando nenhum foi
designado ou especificado como Holotypus ou
quando dois ou mais espécimes forem designados,
indistintamente, como tipos. As duplicatas dos
Syntipus denominam-se Isosyntipus.
 Fotótipo Fototypus  foto do Typus.

10.6. O tipo de um nome de uma família ou de qualquer subdivisão de uma família é o


mesmo do nome genérico no qual está baseada (ex.: Poa – Poaceae; Areca –
Arecaceae).

Seção 3. Prioridade
Art. 11. Cada família ou taxon de nível inferior com circunscrição (delimitação),
posição e nível particulares pode ter apenas um nome correto. Exceção especial feita a 9
famílias e uma subfamília, para as quais nomes alternativos são permitidos (ver nos
Artigos 18.5 e 19.7).
Art. 13.1. A publicação válida dos nomes de plantas de diferentes grupos é tratada
como iniciando nas seguintes datas:
Spermatophyta e Pteridophyta – 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species
Plantarum)
Musci (exceto Sphagnaceae), 1º de janeiro de 1801 (Hedwig, Species
Muscorum)
Sphagnaceae e Hepaticae, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Fungi, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Algae, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)

CAPÍTULO III. Nomenclatura dos Taxa de acordo com seu nível


Seção 1. Nomes de táxons acima do nível de família
Art. 17. Nomes automaticamente tipificados de ordens ou subordens devem terminar
em ales e ineae, respectivamente.

Seção 2. Nome de famílias e subfamílias, tribos e subtribos


Art. 18.1. O nome de uma família é um adjetivo plural usado como substantivo; ele é
formado pela adição do sufixo aceae ao radical do nome legítimo de um gênero
incluído. Exemplos: Arecaceae (de Areca), Rosaceae (de Rosa, Rosae), Salicaceae (de
Salix, Salicis).
Art. 18.4. Quando o nome de uma família foi publicado com uma terminação imprópria
em latim, a terminação deve ser mudada para concordar com as regras, sem mudança do
autor da citação ou da data de publicação.

Art. 18.5. Os seguintes nomes, consagrados pelo longo uso, são tratados como
validamente publicados:

Nome Nome Atual Nome Consagrado Nome Atual


Consagrado
Compositae Asteraceae (tipo: Aster L.) Palmae Arecaceae (tipo: Areca L.)
Cruciferae Brassicaceae (tipo: Brassica L.) Leguminosae Fabaceae (tipo: Faba Mill..
Gramineae Poaceae (tipo: Poa L.) = Vicia L.)
Guttiferae Clusiaceae (tipo: Clusia L.) Papilionaceae Fabaceae (tipo: Faba Mill.)
Labiatae Lamiaceae (tipo: Lamium L.) Umbelliferae Apiaceae (tipo: Apium L.)

Art. 19.1. O nome de uma subfamília é um adjetivo plural usado como um substantivo;
é formado da mesma maneira que o nome de uma família, porém, utilizando a
terminação oideae em vez de aceae. Ex.: Rosoideae (subfamília incluída na família
Rosaceae)
Art. 19.3. Uma tribo é nomeada de modo similar, usando a terminação eae (ex.: Roseae,
fa família Rosaceae) e a subtribo de maneira semelhante, usando-se a terminação ineae
(ex.: Poineae, da família Poaceae).
Seção 3. Nomes de gêneros e subdivisões de gêneros
Art. 20.1. O nome de um gênero é um substantivo no singular e é escrito com uma letra
inicial maiúscula. Ele pode ter qualquer origem e ser formado de maneira totalmente
arbitrária, mas não pode terminar em virus.
Art. 20.3. O nome de um gênero não pode consistir de duas palavras, a menos que estas
palavras sejam unidas por um hífen.
Recomendação 20a. Os botânicos que designam nomes genéricos devem levar em
conta as seguintes recomendações:
a. utilizar terminações em latim, sempre que possível
b. evitar nomes não facilmente adaptáveis à língua latina
c. não constituir nomes que sejam muito longos ou de difícil pronúncia em latim
d. não constituir nomes pela combinação de palavras de diferentes línguas
e. não constituir nomes genéricos pela combinação de partes de 2 nomes genéricos
já existentes (ex.: Hordelymus de Hordeum e Elymus) porque tais nomes podem
ser confundidos com nomes de híbridos intergenéricos
f. não dedicar gêneros a pessoas não relacionadas com a botânica ou, pelo menos,
com as ciências naturais

Seção 4. Nome de espécies


Art. 23.1. O nome de uma sp. é uma combinação binária constituída do nome do
gênero seguido por um único epíteto específico. Se um epíteto consiste de duas ou mais
palavras, estas devem ser combinadas, formando uma só ou ligadas por um hífen.
Art. 23.2 O epíteto no nome de uma sp. pode ter qualquer origem e pode, inclusive, ser
composto arbitrariamente.
Recomendação 23A. Para formar epítetos específicos, os botânicos deverão levar em
conta as seguintes considerações;
a. utilizar terminações latinas, sempre que possível
b. evitar epítetos que sejam muito longos e de difícil pronúncia em latim
c. não constituir nomes pela combinação de palavras de diferentes línguas
d. evitar aqueles formados de duas ou mais palavras hifenizadas
e. evitar, no mesmo gênero, os epítetos que sejam muito semelhantes entre si,
especialmente aqueles que diferem somente em suas últimas letras ou no arranjo
de duas letras
f. evitar o uso de nomes de localidades pouco conhecidas ou muito pequenas, a
menos que a espécie seja demasiadamente local.

Seção 5. Nomes de táxons abaixo da categoria de espécie (táxons infra-específicos)


Art. 24. O nome de um taxon infra-específico é uma combinação do nome de uma
espécie e um epíteto infra-específico. Um termo conectante (de ligação) é usado para
designar o nível ou categoria [exs.: Panicum maximum Jacq. var. gongyloides Doell.
(capim-colonião ou capim-guiné); Theobroma cacao L. subsp. sphaerocarpum Cuatr.
var. para (cacau-parazinho); Saxifraga aizoon subf. surculosa Engl. & Irmsh. - este
táxon também pode ser referido como Saxifraga aizoon var. aizoon subvar. brevifolia f.
multicaulis subf. surculosa Engl. & Irmsh. etc.]; desta maneira, é fornecida a
classificação completa da subforma dentro da espécie, não somente seu nome.

Seção 6. Nomes de plantas cultivadas


Art. 28.1. As plantas trazidas do campo para cultivo retém os nomes que são aplicados
aos mesmos táxons que crescem na natureza.

CAPÍTULO IV. Publicação efetiva e válida

Seção 1. Condições e datas de publicação efetiva


Art. 29. A publicação é efetiva, segundo o Código, somente pela distribuição de
matéria impressa (através de venda, permuta ou doação) ao público em geral ou, pelo
menos, às instituições botânicas com bibliotecas acessíveis aos botânicos em geral. Não
é efetiva pela comunicação de nomes novos em reuniões públicas, pela colocação de
nomes em coleções ou jardins abertos ao público, pela produção de microfilme feito a
partir de manuscritos, textos datilografados ou outro material não publicado, pela
publicação online ou pela disseminação de material distribuído por via eletrônica.
Art. 31.1. A data de publicação efetiva é a data na qual a matéria impressa tornou-se
disponível conforme definido no Art. 29. Na ausência de prova estabelecendo alguma
outra data, a data que aparece na matéria impressa deve ser aceita como correta.

Seção 3. Citação de autores


Art. 46.1. Em publicações, técnicas ou científicas, mormente aquela que se referem à
taxonomia e nomenclatura, é desejável citar o(s) autor(es) do nome em questão (exs.:
Rosaceae Juss.; Rosa L.; Rosa gallica L.; Rosa gallica var. eryostila R. Keller).
Art. 49.1. Quando um gênero ou um táxon de categoria inferior muda de categoria (ou
seja, tem seu nível alterado), mas conserva seu nome ou o epíteto final em seu nome, o
autor do nome do epíteto anterior legítimo deve ser citado entre parênteses, seguido pelo
nome do autor que efetuou a alteração (o autor do nome novo).
Exs.:
- Medicago polymorpha var. orbicularis L., quando elevada ao nível de espécie
tornou-se (ou deve ser citada como) Medicago orbicularis (L.) Bartal.
- Cheirantus tristis L. transferida para o gênero Matthiola torna-se M. tristis (L.)
R.Br.

CAPÍTULO V. Rejeição de nomes


Art. 51.1 Um nome legítimo não deve ser rejeitado somente porque ele ou seu epíteto
não é apropriado, ou é desagradável, ou porque um outro é preferível ou mais
conhecido, ou porque perdeu seu significado original (ex.: o nome Scilla peruviana L.
(1753) não deve ser rejeitado meramente porque a espécie não cresce no Peru.

CAPÍTULO VII. Ortografia e gênero gramatical de nomes


Art. 60.1. A ortografia original de um nome ou epíteto deve ser mantida, exceto para a
correção de erros tipográficos ou ortográficos e às padronizações impostas pelos Arts.
60.5 a 60.12. (ex.: a ortografia errada Indigofera longipednnculata Fang & Zheng é,
presumivelmente, um erro tipográfico e deve ser corrigido para I. longipedunculata).

DIVISÃO III
PROVISÕES PARA GOVERNANÇA DO CÓDIGO

 O Código pode ser modificado unicamente por ação de uma sessão plenária de um
Congresso Internacional de Botânica, após resolução movida pela Sessão de
Nomenclatura do referido Congresso.
 Comissões Permanentes de Nomenclatura são estabelecidos sob os auspícios da
International Association for Plant Taxonomy. Os membros dessas Comissões são
eleitos por um Congresso Internacional de Botânica. As Comissões têm poder de
estabelecer subcomissões (Comitê Geral, além dos Comitês para Plantas Vasculares,
para Bryophitas, para Fungos, para Algas, para Plantas Fósseis e o Comitê
Editorial).

APÊNDICE I
NOMES DE HÍBRIDOS

1. A hibridação é indicada pelo uso do sinal de multiplicação ( x ) ou pela adição


do prefixo ‘notho’ ao termo indicando o nível do táxon; a expressão total é,
então, chamada uma fórmula híbrida.
Exs.: Agrotis L. x Polypogon Desf.; Salix aurita L. x S. caprea L.;
Mentha aquatica L. x M. arvensis L.
2. Em geral é preferível colocar os nomes ou epítetos de uma fórmula híbrida em
ordem alfabética; a direção de um cruzamento pode ser indicada pela inclusão
dos símbolos dos sexos na fórmula ou pela colocação do sinal de multiplicação (
x ) antes do nome de um híbrido intergenérico ou antes do epíteto no nome de
híbrido interespecífico, ou pelo prefixo ‘ noto’ para o termo que indica o nível
do táxon.

REGRAS DE NOMENCLATURA
Datas importantes que constam do Código Internac. de Nomenclatura Botânica –
2000
 Para propósitos de prioridade (Art. 9.17 e 10.5), a designação de um Tipo é
concretizada somente se o tipo for definitivamente (expressamente) aceito pelo autor
tipificante, isto é, se o Tipo for claramente indicado pela citação direta que inclua o
termo “Tipo (Typus)” ou um equivalente, e na data de ou após 1º de janeiro de
2001, o procedimento da tipificação inclua a frase “aqui designado” (hic
designatus) ou coisa equivalente.
 O Holótipo (ou Lectótipo) de um nome de uma espécie ou táxon infraespecífico de
plantas fósseis (Art. 8.5) é o espécime (ou um dos espécimes) sobre os quais as
ilustrações validantes (Art. 38) são baseados. Quando antes, ou até 1º de janeiro de
2001, no protólogo de um nome de um novo táxon de plantas fóseis da categoria de
espécie ou abaixo, um espécime Tipo é indicado mas não identificado entre as
ilustrações validantes, um Lectótipo pode ser designado dentre os espécimes
ilustrados no protólogo. Esta escolha é invalidada se puder ser demonstrado que o
espécime Tipo original corresponde à outra ilustração validante.

APONTAMENTOS DIVERSOS

 O nome genérico pode ser escrito sozinho quando se refere ao grupo inteiro de
espécies que formam aquele gênero (ex.: Dalbergia). Contudo, um epíteto
específico é desprovido de sentido quando escrito sozinho (ex.: nigra ou
brasiliensis). O epíteto específico brasiliensis, por exemplo, está associado a
dezenas de diferentes nomes genéricos.
 Se alguém descobre que uma espécie foi inicialmente colocada em um gênero
errado e deve por isso ser transferida para outro gênero, o epíteto específico move-se
com a espécie para o novo gênero. No entanto, se já existe uma espécie naquele
gênero que tem aquele determinado epíteto específico, um nome alternativo deve ser
criado.
 Cada espécie tem um espécimen tipo, geralmente uma exsicata, que é designado ou
pela pessoa que originalmente descreveu aquela spp. ou por um autor subsequente,
se o autor original não fez a designação. O espécimen tipo serve como um
referencial para compa-ração com outros espécimens para determinar se eles
pertencem ou não à mesma espécie.

Os organismos são agrupados em categorias taxonômicas mais amplas,


organizadas segundo uma hierarquia
Linnaeus reconhecia 3 reinos: vegetal, animal e mineral. Até recentemente, o
reino era a unidade + inclusiva usada na classificação biológica. Além dela, várias
outras categorias taxonômicas hierárquicas foram acrescentadas entre os níveis de
gênero e reino.

No XV Congresso Internacional de Botânica, em 1993, o Código Internacional


de Botânica tornou o termo filo nomenclaturalmente equivalente à divisão. Além disso,
o Código recomendou a prática de usar itálico par todos os nomes taxonômicos, não
apenas para os nomes de gêneros e espécies.

OUTROS APONTAMENTOS [Extraídos de Peter Raven (2001)]


Após a publicação em 1859 da obra Origem das Espécies, de Darwin, as
diferenças e semelhanças entre os organismos passaram a ser vistas como os produtos
de sua história evolutiva, ou filogenia.

Os biólogos agora desejavam classificações que fossem não apenas informativas


e úteis, mas também que espelhassem as relações evolutivas entre os organismos. Estas
tem sido representadas em diagramas conhecidos como árvores filogenéticas, que
mostram as relações genealógicas entre táxons de acordo com as hipóteses do
pesquisador.

Num esquema de classificação que reflete de modo preciso a filogenia, cada


táxon é, nas condições ideais, monofilético. Isso significa que os representantes de um
táxon em qualquer nível hierárquico, seja ele gênero, família ou ordem, devem ser todos
descendentes de uma única espécie ancestral. Assim, um gênero deveria consistir em
toas as espécies descendentes do ancestral comum mais recente – e apenas de espécies
daquele ancestral. De modo semelhante, uma família deveria ser formada por todos os
gêneros descendentes de um ancestral comum mais distante – e apenas de gêneros
descendentes daquele ancestral.

Embora esse ideal que resulta em táxons naturais, soe de modo relativamente
direto, frequentemente se torna difícil consegui-lo.

Em muitos casos, os biólogos não conhecem o suficiente sobre a história


evolutiva dos organismos para estabelecer táxons que sejam monofiléticos com um
razoável grau de segurança. No entanto, nos casos em que as relações são
desconhecidas ou incertas, pode ser mais prático criar um táxon artificial.
Desse modo, alguns táxons amplamente conhecidos contêm representantes
descendentes de mais de uma linha ancestral. Dizemos que esses táxons são
polifiléticos. Outros táxons excluem um ou mais descendentes de um ancestral comum.
Diz-se que esses táxons são parafiléticos.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
1. BARROSO, Graziela M. et al. 2002. Sistemática de Angiospermas do Brasil.
Vol.
Vol. 1. (2ª ed.). Editora UFV, Viçosa, Brasil.
2. FERREIRA, Gracialda C. & HOPKINS, Michael J. G. 2004. Manual de
identificação botânica e anatômica - angelim. EMBRAPA, Belém (PA).
101p.
3. JONES Jr., Samuel B. 1988. Sistemática Vegetal. 2ª ed. Libros McGraw-Hill
de
México S. A.
4. MARZOCA, Angel. 1985. Nociones Básicas de Taxonomía Vegetal.
Editorial
IICA, Costa Rica.
5. McNEILL, J. (Coord.) et al. 2007. Código Internacional de Nomenclatura
Botânica (Código de Viena). Rima Editora, São Carlos, SP. 181p.
6. RAVEN, Peter et al. 2001. Biologia Vegetal. Ed. Guanabara Koogan, RJ,
Brasil. Pp. 252-262 (Cap. 13 – Sistemática: a ciência da diversidade biológica).
7. VIDAL, Waldomiro Nunes & VIDAL, Maria R. Rodrigues. 2000. Taxonomia
Vegetal. Editora UFV, Viçosa, Brasil.

Sugerimos a leitura, também, das referências bibliográficas apresentadas acima.


TEXTOS COMPLEMENTARES:

Classificação científica
(Fonte:: Wikipédia)

A expressão classificação científica ou classificação biológica designa o modo como


os biólogos agrupam e categorizam as espécies de seres vivos, extintas e actuais. A
classificação científica moderna tem as suas raízes no sistema de Carl von Linée (ou
Carolus Linnaeus), que agrupou as espécies de acordo com as características
morfológicas por elas partilhadas. Estes agrupamentos foram subsequentemente
alterados múltiplas vezes para melhorar a consistência entre a classificação e o princípio
darwiniano da ascendência comum. O advento da sistemática molecular, que utiliza a
análise do genoma e os métodos da biologia molecular, levou a profundas revisões da
classificação de múltiplas espécies e é provável que as alterações taxonómicas
continuem a ocorrer à medida que se caminha para um sistema de classificação assente
na semelhança genética e molecular em detrimento dos critérios morfológicos. A
classificação científica pertence à ciência da taxonomia ou sistemática biológica.

Características da classificação biológica


A classificação das espécies não obedece a critérios rigidamente formais. Caso fosse
aplicado aos primatas o mesmo critério científico usado para classificar os coleópteros,
dos quais há mais de 300 mil espécies catalogadas, o ser humano (Homo sapiens) faria
parte do género Pan, o mesmo género dos chimpanzés (Pan troglodytes) e dos bonobos
(Pan paniscus).

Assim a classificação biológica é um sistema organizativo que se rege por um conjunto


de regras unificadores e de critérios que se pretendem universais, mas que, dada a
magnitude do conjunto dos seres vivos e a sua inerente diversidade, são
necessariamente adaptados a cada um dos ramos da biologia.

Tradicionalmente, a classificação de plantas e de animais seguiu critérios diferenciados,


hoje fixos no Código Internacional de Nomenclatura Botânica e no Código
Internacional de Nomenclatura Zoológica, respectivamente, reflectindo a história das
comunidades científicas associadas. Outras áreas, como a micologia (que segue a norma
botânica), a bacteriologia e a virologia, seguiram caminhos intermédios, adoptando
muitos dos procedimentos usados nas áreas consideradas mais próximas.

Nos últimos tempos, com o advento das técnicas moleculares e dos estudos cladísticos,
as regras tendem apara a unificação, levando a uma rápida mutação dos sistemas
classificativos e alterando profundamente a estrutura classificativa tradicional.

A classificação científica é, por isso, um campo em rápida mutação, com frequentes e


profundas alterações, em muitos casos quebrando conceitos há muito sedimentados.
Nesta matéria, mais importante do que conhecer a classificação de uma qualquer
espécie, importa antes conhecer a forma como o sistema se organiza. Até porque aquilo
que é hoje uma classificação aceite em pouco tempo pode ser outra bem diferente.

Linnaeus (“Lineo”)

Carolus Linnaeus (1707–1778) teve como obra principal, a Systema Naturae, com 12
edições durante a sua vida (com a 1.ª edição em 1735). Nesta obra, a natureza é dividida
em três reinos: mineral, vegetal e animal. Para sistematizar a natureza, em cada um dos
reinos Linnaeus usou um sistema hierárquico de cinco categorias: classe, ordem, género,
espécie e variedade.

Outra das suas principais contribuições foi o abandono dos longos nomes descritivos até
então em uso para designar as classes e ordens. Também promoveu o fim dos nomes de
géneros constituídos por duas palavras (por exemplo Bursa pastoris era um género).
Esta simplificação marca uma ruptura com os métodos dos seus antecessores imediatos
(Rivinus e Pitton de Tournefort), e foi acompanhada pelo estabelecimento de diagnoses
rigorosas e detalhadas para cada um dos géneros (a que ele chamou characteres
naturales). Também procedeu à integração das variedades nas respectivas espécies,
evitando que a botânica tivesse que criar novos taxa para acomodar todas as variedades
cultivadas que são constantemente criadas.

Contudo, apesar das suas múltiplas contribuições para a taxonomia e sistemática,


Linnaeus é melhor conhecido pela introdução do método binomial, a técnica ainda em
uso para formular o nome científico das espécies. Antes de Linnaeus estavam em uso
nomes longos, compostos por um nome genérico e por uma frase descritiva da própria
espécie (a differentia specifica). Esses nomes não eram fixos, já que cada autor
parafraseava o descritivo, acentuando os caracteres que considerava mais relevantes.

Na sua obra Philosophia Botanica (1751), Linnaeus colocou grande ênfase na melhoria
da composição dos nomes e na redução da sua extensão, abolindo as expressões
retóricas desnecessárias que tradicionalmente se usavam na descrição das espécies e
introduzindo novos termos descritivos cujo significado procurou fixar rigorosamente.
Este esforço resultou numa definição de espécies com um rigor sem precedentes.

Ao utilizar de forma consistente os mesmos epítetos específicos, Linnaeus separou a


nomenclatura da taxonomia, o que se viria a revelar um passo decisivo na consolidação
do sistema de nomenclatura biológica, já que os nomes da espécies passaram a ser fixos,
permitindo que os agrupamentos taxonómicos superiores se desenvolvessem
independentemente. Apesar do uso paralelo dos nomina trivialia e dos nomes
descritivos se ter mantido até finais do século XVIII, eles foram sendo
progressivamente substituídos pela utilização de nomes curtos, combinando
simplesmente o nome do género com o nome trivial da espécie.

No século XIX esta nova prática foi codificada nas primeiras regras e leis da
nomenclatura biológica, acabando por se transformar naquilo que hoje é geralmente
referido como a sistema de nomenclatura binomial, ou mais genericamente como a
taxonomia lineana, a qual é ainda, com poucas alterações, o padrão universalmente
aceite de atribuição de nomes aos seres vivos.

A estrutura actual da classificação biológica


Enquanto Linnaeus classificava as espécies de seres vivos tendo como objectivo
principal facilitar a identificação e criar uma forma de arquivo nos herbários e nas
colecções zoológicas que permitisse localizar facilmente um exemplar, nos modernos
sistemas taxonómicos aplicados à biologia procura-se antes de mais fazer reflectir o
princípio Darwiniano de ancestralidade comum. Isto significa que se pretende agrupar
as espécies por proximidade filogenética, isto é relacionar as espécies pela sua
proximidade genética, a qual reflecte o grau de comunalidade de ancestrais.

Desde a década de 1960 que se vem fortalecendo a tendência para utilizar estruturas
taxonómicas baseadas nos conceitos da cladística, hoje designadas por taxonomia
cladística, distribuindo os taxa numa árvore evolucionária. Se um taxon inclui todos os
descendentes de uma forma ancestral, é designado um taxon monofilético. Quando o
inverso acontece, o taxon é designado parafilético. Os taxa que incluem diversas formas
ancestrais são designados por polifiléticos. Idealmente todos os taxa deveriam ser
monofiléticos, pois assim reflectiriam a ancestralidade comum das espécies que
integrem.

O conceito de domínio como taxon de topo é de introdução recente. O chamado Sistema


dos Três Domínios foi introduzido em 1990, mas apenas recentemente ganhou aceitação
generalizada. Apesar de hoje a maioria dos biólogos aceitar a sua validade, a utilização
do sistema dos cinco reinos ainda domina. Uma das principais características do sistema
dominial é a separação dos reinos Archaea e Bacteria, ambos anteriormente parte do
reino Monera. Alguns cientistas, mesmo sem aceitar os domínios, admitem Archaea
como um sexto reino.

Hierarquia da classificação

O quadro seguinte apresenta a classificação científica de cinco espécies pertencentes a


estruturas taxonómicas diversas: a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), o ser
humano, a ervilha, o cogumelo amanita e a bactéria Escherichia coli. Com ele pretende-
se demonstrar a flexibilidade e a universalidade do sistema, incluindo numa mesma
estrutura organismos tão diversos como os seleccionados.

Mosca-da-
Taxon Humano Ervilha Amanita E. coli
fruta

Domínio Eukaryota Eukaryota Eukaryota Eukaryota Bacteria

Reino Animalia Animalia Plantae Fungi Monera

Phylum ou
Arthropoda Chordata Magnoliophyta Basidiomycota Proteobacteria
Divisão

Subphylum
ou Hexapoda Vertebrata Magnoliophytina Hymenomycotina
subdivisão
Classe Insecta Mammalia Magnoliopsida Homobasidiomycetae Proteobacteria

Subclasse Pterygota Eutheria Magnoliidae Hymenomycetes Gammaproteobacteria

Ordem Diptera Primatas Fabales Agaricales Enterobacteriales

Subordem Brachycera Haplorrhini Fabineae Agaricineae

Família Drosophilidae Hominidae Fabaceae Amanitaceae Enterobacteriaceae

Subfamília Drosophilinae Homininae Faboideae Amanitoideae

Género Drosophila Homo Pisum Amanita Escherichia

D.
Espécie H. sapiens P. sativum A. muscaria E. coli
melanogaster

Os taxa mais elevados, em especial os intermédios, têm sofrido ultimamente profundas


e frequentes alterações, resultado da descoberta de novas relações entre os grupos e as
espécies. Por exemplo, a tradicional classificação dos primatas (classe Mammalia —
subclasse Theria — infraclasse Eutheria — ordem Primatas) está posta em causa por
novas classificações, como, por exemplo, a de McKenna e Bell (classe Mammalia —
subclasse Theriformes — infraclasse Holotheria — ordem Primatas). Estas alterações
resultam essencialmente da existência de um pequeno número de taxa em cada nível,
sendo neles necessário acomodar um registo fóssil muito ramificado.

A tendência para privilegiar a constituição de grupos monofiléticos em detrimento dos


parafiléticos levará, seguramente, a sucessivas alterações da estrutura classificativa, com
especial foco nas classes e ordens. A progressiva introdução de conceitos cladísticos
também terá um impacte profundo e conduzirá à reformulação de muitos dos actuais
agrupamentos.

Note-se que em botânica e micologia, os nomes dos taxa de família para baixo são
baseados no nome de um género, por vezes referido como o género-tipo, ao qual é
acrescentado um sufixo padronizado. Por exemplo, o género Rosa é o género-tipo a
partir do qual a família Rosacea recebe o seu nome (Rosa + -aceae). Os nomes dos taxa
acima de família podem ser formados a partir do nome da família, com o sufixo
adequado, ou ser descritivos de uma ou mais características marcantes do grupo.

Classificação infra-específica

Embora a espécie seja considerado o nível de classificação mais baixo, existe por vezes
necessidade de recorrer a classificações infra-específicas para acomodar a
biodiversidade reconhecida ou para descrever certos traços fenotípicos, nomeadamente
os de interesse económico entre as espécies domesticadas.
As plantas podem ser classificadas em subespécies (por exemplo Pisum sativum subsp.
sativum, a ervilha-de-cheiro), ou variedades (por exemplo, Pisum sativum var.
macrocarpon, uma variedade de ervilha). As plantas cultivadas podem ser identificadas
por cultivares, cada um deles correspondente a um determinado fenótipo (por exemplo,
Pisum sativum var. macrocarpon 'Snowbird', o cultivar Snowbird de ervilha).

Citações de autor
O nome de qualquer taxon pode ser seguido pela explicitação da "autoridade" que o
criou, ou seja pelo nome do autor que primeiro publicou uma descrição válida da
entidade taxonómica. Estes nomes de autor são em geral abreviados, seguindo um
padrão de abreviatura fixado por critérios de tradição ou de história. Em Botânica, onde
existe uma lista de abreviaturas do nome de botânicos e micologistas padronizada, por
exemplo, Carolus Linnaeus é sempre abreviado para "L." e Gregor Mendel para
Mendel.

Apesar do sistema de atribuição de autoria dos taxa ser ligeiramente diferente em


botânica e em zoologia, é padrão aceite que se o nome de um taxon for alterado, a
abreviatura ou nome do autor original é sempre mantido, sendo então colocado entre
parêntesis. O nome do autor da versão em vigor é colocado a seguir ao parêntesis
(geralmente só em botânica).

A SEGUIR, UMA CÓPIA DE UM ARTIGO QUE DIVULGA A DESCOBERTA


DE ESPÉCIES NOVAS DE PLANTAS PARA A CIÊNCIA (PROTÓLOGO).

Duas novas espécies de Calliandra Benth. (Leguminosae - Mimosoideae)


da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil*

Élvia R. Souza1; Luciano P. Queiroz

Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas, km 03 - BR


116, Campus, 44031-460 Feira de Santana, BA, Brasil

RESUMO
São descritas duas novas espécies de Calliandra da Chapada Diamantina, Estado da
Bahia, leste do Brasil. Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz é próxima de C.
calycina Benth., diferindo pelo seu hábito depauperado, folhas dísticas e ausência de tricomas
glandulares no perianto. Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz é uma planta
arbustiva semelhante a C. erubescens Renvoize, da qual difere pelas folhas com maior número
de pinas e folíolos e pelos estames vermelhos. Ambas as espécies ocorrem nas montanhas da
Chapada Diamantina e são endêmicas restritas de uma pequena área nas vizinhanças da cidade
de Piatã.
Palavras-chave: Calliandra, Ingeae, taxonomia

ABSTRACT
Two new species of Calliandra are described from the Chapada Diamantina, state of
Bahia, eastern Brazil. Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz is related to C.
calycina Benth. but it differs in its depauperate habit, distichous leaves and absence of glandular
trichomes on the perianth. Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz is a shrubby plant
similar to C. erubescens Renvoize from which it differs by having the leaves with more pinnae
and more leaflets and by its red stamens. Both species occur in the mountains of the Chapada
Diamantina region and are narrow endemics from a small area near the town of Piatã.
Key words: Calliandra, Ingeae, taxonomy

Introdução
O gênero Calliandra foi estabelecido por Bentham (1844) e inclui espécies da
subfamília Mimosoideae com androceu polistêmone e monadelfo que possuem um tipo de
legume caracterizado pela deiscência longitudinal elástica a partir do ápice e valvas com
margens espessadas. O gênero foi recentemente revisado por Barneby (1998) que o expurgou
dos elementos africanos e asiáticos de modo que, na sua atual circunscrição, é um grupo
exclusivamente neotropical com 132 espécies.
A Chapada Diamantina é um dos principais centros de diversidade de Calliandra, onde
ocorrem 40 espécies, sendo 30 delas endêmicas desta região (Souza 1999, Souza 2001). Destas
espécies, 19 foram descritas a partir de 1980 (Renvoize 1981, Mackinder & Lewis 1990,
Barneby 1998) demonstrando o grau de desconhecimento florístico da região e a complexidade
taxonômica do gênero. Nesta área ocorre um grande maciço montanhoso que ocupa a maior
parte da região central do Estado da Bahia, estendendo-se de cerca de 10º-14º S e de 40º-43º W.
No curso de um levantamento das espécies de Calliandra da Chapada Diamantina
(Souza 2001), foram encontradas duas espécies novas que são descritas e ilustradas a seguir.
Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz, sp. nov. Tipo: BRASIL: Bahia:
Piatã, platô do alto da Serra da Tromba, ramal ao sul da estrada Piatã-Inúbia, Caminho da
Ressaca, 13º03' S e 41º49' W, 1.300 msm, 2-XI-1996 (fl.), L.P. de Queiroz, D.J.H. Hind, H.P.
Bautista & M.M. da Silva 4706 (holótipo HUEFS).
Foliis ascendentibus et foliolis linearibus C. calycinae similis, sed habitu depauperato,
ramis virgatis, foliis distichis laxisque et perianthio glabrato sine pubibus glandularibus solum
calycis laciniis pubescentibus differt.
Subarbusto virgado ca. 0,6 m alt. com xilopódio robusto, amarelado; ramos, eixos
foliares e pedúnculo densamente pilosos quando jovens, ramos envelhecidos glabros. Estípulas
lanceoladas, 3-7 × 1-2 mm. Folhas sésseis, ascendentes, dísticas; pecíolo1-2 mm compr.; raque
5-7 mm compr.; pinas 2 pares, mais ou menos equilongas, 4,5-5 cm compr.; folíolos 19-21
pares por pina, imbricados, 8-10 × ca. 2 mm, coriáceos, oblongos a lineares, glabros, ápice
obtuso, base truncada, oblíqua, assimétrica, nervação palmado-dimidiada, nervura principal
excêntrica. Pseudoracemos terminais com fascículos de 1-2 glomérulos pedunculados;
pedúnculo 18-22 mm compr. Flores 5 por glomérulo, homomórficas, tetrâmeras a pentâmeras,
sésseis; cálice campanulado, tubo ca. 1,5 mm compr., glabro, lobos deltóides, ciliados, 0,5-0,6
mm compr.; corola glabra, campanulada, esverdeada, tubo 3-5 mm compr., lobos obtusos,
vináceos, ca. 2 mm compr.; estames brancos, tubo estaminal 7-8 mm compr., parede interna do
tubo estaminal nectarífera, estemonozona ca. 2 mm compr., filetes livres por 18-22 mm compr.,
anteras castanhas; nectário intraestaminal ausente; ovário obovado, glabro, ca. 2 mm compr., ca.
5-ovulado, estilete 23-28 mm compr., estigma capitado. Legume ca. 4,5 × 0,7 cm, linear-
oblanceolado, ápice arredondado, mucronado, base cuneada; valvas lenhosas, velutinas.
Sementes não vistas.
Parátipo: BRASIL: Bahia: Piatã, platô do alto da Serra da Tromba, ramal ao sul da
estrada Piatã-Inúbia, Caminho da Ressaca, 13º03' S e 41º49' W, 1.300 msm, 2-XI-1996 (fl., fr.),
L.P. Queiroz et al. 4705 (HUEFS).
Ecologia e distribuição – Calliandra geraisensis é uma espécie endêmica da serra da
Tromba, no município de Piatã. Ocorre em ambiente de campo cerrado praticamente sem
árvores, sobre solo arenoso compactado a uma altitude de cerca de 1.300 msm. Este tipo de
paisagem é localmente conhecido como "gerais", de onde é derivado o epíteto específico. Foi
encontrado material florido e frutificado no mês de novembro.
Taxonomia – Calliandra geraisensis pertence à seção Calliandra (sensu Barneby
1998) e é mais semelhante a C. calycina Benth., uma espécie relativamente bem distribuída na
Chapada Diamantina mas que, até o momento, não foi coletada na serra da Tromba (Souza
1999). Estas espécies aproximam-se pela disposição ascendente das folhas e folíolos lineares e
contíguos. No entanto, C. geraisensis diferencia-se de C. calycina pelo hábito mais depauperado
de subarbusto com xilopódio e ramos virgados, pelas folhas dísticas, laxamente dispostas nos
ramos, e pelo perianto quase glabro, sem tricomas glandulares e com tricomas tectores apenas
nos lobos do cálice, enquanto C. calycina, por sua vez, é um arbusto robusto com caule
ramificado, folhas espiraladas fortemente congestas e imbricadas no ápice dos ramos e perianto
esparsamente púberulo a glabro e com tricomas glandulares.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz, sp. nov. Tipo: BRASIL: Bahia: Piatã,
estrada Piatã-Inúbia a ca. 25 km NW de Piatã, 13º04'48" S e 41º55'59" W, 1.450 m, 23-II-1994
(fl.), P.T. Sano, S. Atkins, C.M. Sakuragui, R.M. Harley & V.C. Souza CFCR 14433 (holótipo
HUEFS; isótipos HUEFS, SPF).
Habitu frutescenti, inflorescentia facie et foliolis oblongis vel obovatis palmatinervibus
C. erubescenti similis sed foliis pinnis (4-5) et pinnae foliolis (2632) numerosioribus, foliolis
parvioribus (5-8 × 3-4 mm), perianthio pubibus glandularibus instructo et staminibus rubris
statim diagnoscenda.
Arbusto ca. 1 m alt.; ramos, eixos foliares e pedúnculos pubérulos com indumento
entremeado com tricomas glandulares avermelhados, ramos novos ferrugíneos. Estípulas
foliáceas, lanceoladas, ca. 2 × 1 mm. Folhas pecioladas, não ascendentes, dísticas; pecíolo 0,8-
1,2 cm compr.; raque 3,5-4,5 cm compr.; pinas 4-5 pares, mais ou menos eqüilongas, às vezes
com as distais menores, pinas maiores 2,8-5,3 cm compr.; folíolos 7-16 pares, fortemente
imbricados, dispostos de modo a que o folíolo anterior sobrepõe-se ao seguinte, os medianos
mais ou menos eqüilongos 58 × 3-4 mm, os proximais e distais menores 3-5 × 23 mm,
coriáceos, obovados, face adaxial pubérula a glabrescente, face abaxial pubérula e com tricomas
glandulares, ápice obtuso a arredondado, base truncada, assimétrica, nervação palmada, nervura
principal excêntrica. Pseudoracemos terminais, exsertos da folhagem, constituídos por
fascículos de 2-3 glomérulos pedunculados; pedúnculo 10-17 mm compr.; brácteas
pedunculares ausentes; brácteas florais lanceoladas, ca. 2 × 1 mm. Flores 5 por glomérulo,
homomórficas, pentâmeras, sésseis; cálice campanulado, com tricomas glandulares, tubo 1,8-2
mm compr., lobos deltóides, ca. 0,2 mm compr.; corola campanulada, com tricomas
glandulares, tubo 2,8-5 mm compr., lobos obtusos, 22,2 mm compr.; estames vermelhos, tubo
estaminal ca. 6 mm compr., estemonozona ca. 1,5 mm compr., filetes livres por 21-24 mm
compr., anteras vináceas; nectário intraestaminal ausente; ovário obovado, pubérulo, 22,5 mm
compr., ca. 5-ovulado, estilete ca. 30 mm compr., estigma capitado. Fruto não visto.
Ecologia e distribuição – Calliandra imbricata é uma espécie endêmica da Serra do
Atalho, no município de Piatã. Da mesma forma que C. geraisensis, ocorre em ambientes de
campos cerrados sobre solo arenoso entre rochas. Foi encontrado material florido no mês de
fevereiro. A frutificação não foi observada.
Taxonomia – Calliandra imbricata pertence à seção Calliandra. Assemelha-se a C.
erubescens Renv. no hábito arbustivo, arquitetura da inflorescência e folíolos oblongos a
obovais com nervação palmada. No entanto, pode ser diferenciada pelas folhas com maior
número de pinas, (4-5 pares v. 2-3 em C. erubescens), maior número de folíolos por pina, (26-
32 v. 10-20 em C. erubescens), folíolos menores (5-8 × 3-4 mm v. 710 × 4-5 mm em C.
erubescens), perianto com tricomas glandulares (v. ausentes em C. erubescens) e estames
vermelhos (v. brancos em C. erubescens).

Agradecimentos – E.R. de Souza agradece à Capes pela concessão de bolsa de


Mestrado e L.P. Queiroz ao CNPq pela bolsa de produtividade. As ilustrações foram preparadas
por Alano Calheiras e as diagnoses latinas foram revisadas por Cássio van de Berg. O trabalho
de campo foi apoiado pelo CNPq (Processo n. 520364/00-7).

Referências bibliográficas
BARNEBY, R.C. 1998. Silky tree, guanacaste, monkey's earring: a generic system for the
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Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana.

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(recebido: 21 de agosto de 2003; aceito: 17 de junho de 2004)
* Parte da dissertação de mestrado da primeira autora no Programa de Pós-graduação em
Botânica da
UEFS.
1 Autor para correspondência: elviasouza@yahoo.com.br

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