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Teologia Urbana

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TEOLOGIA URBANA I

INTRODUÇÃO
 

                           O mundo está cada vez mais urbano e torna-se impostergável a


elaboração de uma teologia contemporânea que fale a partir das necessidades da
sociedade. É imperativo o estudo de uma teologia pastoral e práxis
evangelística compatíveis ao contexto do homem urbano hodierno. Tal pesquisa
deve levar em consideração o fato de toda Teologia Pastoral deve ser elaborada
a partir de uma teologia consistente e preferencialmente reformada.

                            A Teologia Urbana é a ciência que estuda a aplicabilidade dos


fundamentos da teologia sistemática no estudo da cidade e da vida urbana, e
que juntamente com as ciências sociais, se fazem necessárias para tornar a
igreja mais relevante no cumprimento da sua missão.

                            A Teologia Urbana estuda as implicações do crescimento


geográfico e a expansão populacional nas áreas urbanas, bem como as suas
conseqüências sociais, políticas, econômicas e religiosas. O caminho para a
elaboração de uma teologia da cidade se encontra na reflexão teológica-pastoral
aos problemas elencados, na busca de respostas aos problemas comuns,
oriundos da cidade hodierna em sua diversidade de tamanho e geografias, que
também são passiveis de se tornar inimigos à fé cristã.

                            Enquanto a Teologia Urbana discute a razão (o porquê?) de


uma teologia com ênfase na cidade, a missiologia é a praxis (como?)
evangelística. Segundo Greenway, a Missiologia Urbana é a disciplina ou
ciência que pesquisa, registra e aplicam dados relacionados com a origem
bíblica, a história, os princípios e técnicas antropológicas é a base teológica da
missão cristã na cidade.[1]

                            A elaboração de uma teologia urbana deve desencadear na


análise dos problemas relacionados com a missão evangelizadora da Igreja na
cidade, a qual exige uma práxis missiológica urbana.

                             Falar em Teologia Urbana sugere o acompanhar com atenção


os acontecimentos do cotidiano, em seu contexto e traduzir em palavras e ações
o seu mais profundo significado. A complexidade da cidade pode ser
encontrada em seus paradoxos, tais quais aqueles que apontam para a última
novidade arquitetônica construída ao lado de prédios tombados pelo patrimônio
histórico. Outro contraste pode ser encontrado na cidade quando esta revela
uma separação entre áreas nobres e áreas marginais, qualificando em igual seus
moradores.  Enormes favelas são formadas “overnight” ao seu redor da cidade,
margeando-a, definida como “cinturão da pobreza”.

 Recursos:

Assistir Vídeo: 
                         

                         Robert C. Linthicum, ao expor sobre a cidade, afirma que a


“cidade é um organismo impressionantemente complexo e dinâmico,
profundamente influenciado não só por seus sistemas interligados, mas por sua
história, seu meio-ambiente e sua forma de encarar o futuro.” [2]

Recursos:

Assistir Vídeo:

            A proposta deste curso é instigar a pesquisa, elencar elementos que


possam sugerir mecanismos para uma investigação e análise teológica e
missiológica, bem como apontar caminhos práticos para a igreja evangélica
vencer os desafios urbanos e colaborar de igual forma para uma ação pastoral e
eclesial nesse contexto.

[1] GREENWAY, Roger; Monsma, Thimoty M. Cities-Mission´s New Frontier


Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1989, p. 7

[2] LINTHICUM, Robert C.. A transformação da Cidade. Belo Horizonte:


Missão Editora, 1990. p. 14
 
10084 4938 0 10084

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I. A CIDADE
1. A Origem das Cidades
 

                            A história das cidades, em geral, remete a períodos


longínquos da Antiguidade, sendo que as primeiras cidades teriam
surgido entre quinze a cinco mil anos atrás, dependendo das diversas
interpretações sobre o que delimita exatamente um antigo assentamento
permanente e uma cidade. Como bem retrata Ana Fani Alessandri
Carlos, quando diz:

A cidade, considerada uma construçao humana, é um produto histórico-


social; nesta dimensao aparece como trabalho materializado, acumulado
ao longo do processo histórico e desenvolvido por uma série de
gerações. Expressão e sifnificaçao da vida humana, obra e produto,
processo histórico cumulativo, a cidade contém e revela ações passadas
ao mesmo tempo, já que o futuro se constrói a partir das tramas do
presente - o que nos coloca diante da impossibilidade de pensar a
cidade separada da sociedade e do momento histórico em que vivemos.
[1]

                            Com os progressos na agricultura, a colheita de


alimentos aumentou, gerando excedentes, que passaram a ser
comercializados. Com isso, muitas pessoas deixaram de trabalhar nos
campos e passaram a se dedicar a atividades como o comércio, o
artesanato e a fabricação de roupas e calçados.

                            A população das cidades cresceu e as comunidades


urbanas se transformaram em cidades-estado independentes. As
primeiras cidades surgiram no Oriente Médio e na China. As primeiras
cidades localizavam-se ao sul da Mesopotâmia - região da Ásia, situada
atualmente entre o Irã e o Iraque - em 4000 a .C. Na época, a região -
banhada pelos rios Tigre e Eufrates - tinha terras muito férteis que
favoreciam a plantação de alimentos.

                            As cidades de Nínive, Ur, Mari e Babilônia eram as


mais conhecidas da Mesopotâmia. Na Grécia, surgiram as cidades-
estado, conhecidas como polis, há mais de 2.000 anos a.C. As cidades
gregas que mais se destacaram foram Esparta e Atenas. Roma passou
por uma enorme transformação, tornando-se uma cidade repleta de
edifícios monumentais, casas comerciais e jardins.

                            Com a queda do Império Romano do Ocidente - no


ano de 476 -, as cidades e o comércio perderam sua importância. Na
época feudal, a base da economia era a atividade agrícola. A partir do
século XI, o fim das invasões e a redução das guerras permitiram o
crescimento da população, gerando mais consumidores e mão-de-obra.
Com o aumento da população, as cidades antigas se ampliaram e
centros urbanos foram construídos.[2]

                            No século XVIII, a Revolução Industrial provocou o


êxodo da população do campo para as cidades, gerando enormes
concentrações urbanas. Novas classes sociais se formaram: a burguesia
industrial e a classe operária assalariada. Esses trabalhadores viviam
submetidos a longuíssimos horários de trabalho, disciplina rígida, baixos
salários e péssimas condições de higiene, resultando em grandes danos
para a saúde. Ao longo dos séculos XIX e XX o processo de
urbanização se acelerou e as cidades cresceram muito.[3]

[1] CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Espaço Urbano. São Paulo: Contexto, 2004. p.
7,8

[2] WIKIPÉDIA, História das Cidades. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist


%C3%B3ria_das_cidades Fonte consultada em 09/04/2009

[3] KLIC EDUCAÇÃO. Cidades na História.


http://www.klickeducacao.com.br/2006/materia/16/display/0,5912,POR-16-47-
1379-,00.html Fonte coletada em 28/02/2009
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I. A CIDADE
2. As cidades na Bíblia
 
                           Descrição Geral: “Entende-se por cidades bíblicas
aquelas que de alguma forma são relacionadas com a história bíblica,
ainda que não mencionadas especificamente.” [1]

                            A Bíblia é também um livro urbano. O vocábulo cidade


ocorre mais de 1.090 vezes no V.T. para descrever povoados
permanentes, bem como existem outras palavras que são usadas para
indicar cidade. [2]

                            A cidade teve sua origem em Caim (Gn 4:17).


Possivelmente esta cidade, “em alguma parte no oriente do Éden, foi
provavelmente apenas uma vila de rudes cabanas, com um muro por
defesa...” No relato antediluviano figuram cidades como Eridu, Obeide,
Enreque, Susa, Tepe, Gawra, Ur, Quis, entre outras.[3]

                            Missiólogos interpretam de forma diferente a criação


das cidades. Por um lado tem aquele que afirmam que a Bíblia atesta ser
Caim o primeiro construtor de uma cidade (Gn.4:17). Segundo estes, se
o pecado não se tornasse uma realidade na história da humanidade, o
mundo seria um grande jardim tal qual o Édem. Dentre os que pensam
desta forma, encontramos Milton Schwantes que descreve a seguinte
forma o mundo vétero-testamentário:

A sociedade Cananéia anterior a 1.200 a . C. se localiza nas planícies


(de Sarom e de Jezreel)... Está sob o controle de grupos “invasores” de
séculos anteriores que formam uma casta, uma elite militar (carro de
guerra e couraças) que controlava o conjunto. Esta elite militar era
urbana. Desde a cidade tinha o controle dos camponeses que viviam ao
redor. A cidade com uma pequena parcela de campos ao redor formava
uma unidade política: as cidades-estado. A cidade submetia os
camponeses explorando seu produto.[4]

                            Por outro lado, outros missiólogos tal como Harvie


Conn, Roger Greenway, Robert C. Linthicum e outros, a cidade é vista
como a capacidade criativa e relacional dada por Deus ao homem
(Gn.1:27-30). Como bem sinaliza Timoty Carriker, quando afirma:
Apesar da queda, o mandato cultural não foi anulado, embora o labor do
homem tenha adquirido uma dimensão dolorosa pela disciplina divina
(Gn. 3.17-19). O homem continua a “sujeitar” e “cultivar” a terra, mas
agora pelo suor do seu rosto, labuta numa terra resistente e rebelde. Sua
responsabilidade econômica e ecológica se desenvolve na arquitetura
urbana, na pecuária rural, na arte cultural e na metalurgia tecnológica
(4.17-22).[5]

                            Dentre estas cidades antediluvianas acima nominadas,


destaco a título de citação, cidade antediluviana Ur  (Gn 11:28-31),
construída por Ur-Nammu, o fundador da terceira dinastia Ur, por volta de
2000 a .C..[6] A cidade de Ur distava a 160 Km da Babilônia e tinha cerca
de 250.000 habitantes. Os seus cidadãos viviam em construções
maciças em forma de vilas, a maioria de dois andares, com treze a
quatorze cômodos. O andar inferior era sólido, construído de tijolos
cozidos num forno; o de cima, de barro, as paredes caiadas de branco.[7]
De igual forma, a cidade de Nínive (Gn 10:11), a qual levava três dias
para atravessar a pé (Jn 3.3), e tinha 17.700 metros de muralha, e um
sistema de água e irrigação, difícil de se igualar até o séc. XIX.

                            As cidades bíblicas são citadas desde o inicio da Bíblia


tanto como pequenos povoados (Gn 25:16; Ex 8:13; Js 13:23) como até
cidades muradas (Nm 13:19, 28; Dt 1:28; Js 1:11). “Nos tempos pré-
israelitas muitas destas áreas com sua cidade murada eram cidades-
estados governadas por um “rei”, melek, que deviam lealdade a algum
grande poder, como, por exemplo, ao Egito.” Outras cidades não
israelitas existiram, entre as quais encontram-se Pitom e Ramessés, que
se distinguiam por ser cidades-armazéns de Faraó (Ex 1:11); as cidades
estados dos filisteus ( 1 Sm 6:17-18).[8]

                            De igual forma, encontra-se Éfeso que possuía até


iluminação pública; Antioquia com 25.744 metros de colunas; Roma com
mais de 1 milhão de pessoas. Onde era proibido tráfeco de carros
durante o dia nas ruas. Os ricos viviam em mansões, a classe média em
apartamentos, e os pobres em 46.000 prédios ( 8 a 10 andares) de
aluguel. Grandes cidades dominavam a cultura, a arte, a religião, a
política, a economia, a educação e o sistema social, tais como,
Jerusalém, Alexandria, Atenas, Corinto, Babilônia, Mênfis, entre outras.

                            O apóstolo Paulo foi o evangelista cristão para as


maiores cidades do império romano, bem como foram escritas a maioria
das cartas de Paulo a igrejas urbanas. Sem nos esquecer que o
nascimento de Jesus Cristo foi em uma cidade e o ato redentivo de Jesus
Cristo aconteceu em Roma, numa cidade.
[1] RONIS, Oswaldo. Geografia Bíblica. Rio de Janeiro: JUERP, 1981. p. 46

[2]. DOUGLAS, J. D. (Org.) O Novo Dicionário da Bíblia Vol. I. São Paulo: Vida Nova,
1966. p. 288

[3] HALLEY, Henry H. Manual Bíblico -Um comentário Abreviado da Bíblia, São Paulo,
SP: Vida Nova, 1970. p. 69

[4] Schwantes, Milton - História de Israel (Dos inícios até o Exílio) -


Mosaicos da Bíblia, 7. CEDI - Centro Ecumênico de Documentação e
Informação, São Paulo, 1992; p. 4.

[5] Carriker, Timóteo - Missão Integral: Uma Teologia Bíblica - Editora


Sepal, São Paulo, 1992, pp. 26 e 27.

[6] WIKILIVROS. Suméria. http://pt.wikibooks.org/wiki/Sum%C3%A9ria Fonte


consultada em 15/04/2009

[7] WIKIPEDIA. UR. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ur Fonte consultada em 15/04/2009

[8]. DOUGLAS, J. D. (Org.) O Novo Dicionário da Bíblia Vol. I. São Paulo: Vida Nova,
1966. p. 288-289

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I. A CIDADE
3. O que é uma cidade?
 

                           A Cidade responde às necessidades do homem como


ser concreto, que precisa de um mundo organizado e estruturado, para
existir e viver. A cidade é o espaço organizado em ruas, casas, edifícios,
caminhos, praças e jardins, onde as pessoas convivem e desfrutam do
trabalho e do lazer. Greenway a define as cidades como “concentrações
de pessoas vivendo muito próximas e interagindo uma com as outras sob
a forma de incorporação municipal e governamental”.[1]

                            A cidade permite muitas aproximações teóricas.


Contudo, não existe uma definição global padrão para cidade, há,
entretanto, quem a pense como uma "força" social capaz de gerar, por
sua influência, diferentes efeitos na vida social.

                            Os autores que compartilhavam essa teoria, entre os


quais se destaca Louis Wirth,  consideravam o modo de vida a que ela (a
cidade) daria origem como sua principal conseqüência, concedendo forte
valor explicativo ao urbano em si na análise dos diversos fenômenos que
ocorrem em seu interior.

                            Wirth acreditava (como Simmel, seu "inspirador"), que o


estabelecimento de cidades implicava o surgimento de uma nova forma
de cultura, caracterizada por papéis altamente fragmentados,
predominância de contatos secundários sobre os primários, isolamento,
superficialidade, anonimato, relações sociais transitórias e com fins
instrumentais, inexistência de um controle social direto, diversidade e
fugacidade dos envolvimentos sociais, afrouxamento nos laços de família
e competição individualista.[2]

                            Desta forma, pode-se dizer, segundo a Wikipédia, que:

“uma cidade é uma área urbanizada, que se diferencia de vilas e outras


entidades urbanas através de vários critérios, os quais incluem
população, densidade populacional ou estatuto legal, embora sua clara
definição não seja precisa, sendo alvo de discussões diversas”.[3]

                            Assim torna-se importante discutir a importância da vida


urbana para os diferentes fenômenos sociais, uma vez que se reconhecia
que as cidades, devem ser compreendidas historicamente como partes
integrantes de sociedades mais abrangentes. Segundo IBGE a rede
urbana se caracteriza da seguinte forma:[4] 

500 a 100 000 habitantes


Cidade pequena:
Cidade média: 100 001 a 500 000 Habitantes
Cidade grande: acima de 500 000 habitantes
Metrópole: acima de 1 000 000 habitantes
Megacidade: acima de 10 000 000 habitantes

[1] GREENWAY, Roger; Monsma, Thimoty M. Cities-Mission´s New


Frontier Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1989, p.8

[2] WIRTH, Louis "O Urbanismo como Modo de Vida". In: VELHO, Otávio
G. (org.) O Fenômeno Urbano. Ed. Guanabara, Rio de Janeiro, 1987

[3] WIKIPÉDIA, História das Cidades. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade Fonte


consultada em 09/04/2009

[4] WIKIPÉDIA, Cidades. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade Fonte consultada em


09/04/2009
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II. A URBANIZAÇÃO
1. O que é urbanização?
 
                             
Urbanização é um conceito geográfico que representa
o desenvolvimento das cidades e a disciplina que se destinada ao seu
estudo chama-se urbanismo.[1]

                            No processo da urbanização, ocorre a construção de


casas, prédios, redes de esgoto, ruas, avenidas, escolas, hospitais, rede
elétrica, shoppings, etc.  Do ponto de vista evangélico, Greenway define
a urbanização como:

o processo pelo qual, em uma região particular, a porcentagem de


pessoas vivendo em cidades tem um aumento relativo a população rural,
com conseqüências na vida humana. Onde há rápida urbanização, há um
declínio relativo na população rural.[2]

                            Este desenvolvimento urbano é acompanhado de


crescimento populacional, pois muitas pessoas passam a buscar a infra-
estrutura das cidades. A urbanização planejada  apresenta significativos
benefícios para os habitantes. Porém, quando não há planejamento
urbano, os problemas sociais se multiplicam nas cidades como, por
exemplo, criminalidade, desemprego, poluição, destruição do meio
ambiente e  desenvolvimento de sub-habitações (favelas).

Recursos:

Assistir Vídeo:

Problemas da urbanização youtube

[1]Urbanização. Sua pesquisa.


http://www.suapesquisa.com/o_que_e/urbanizacao.htm Fonte coletada
em 28/02/2009

GREENWAY, Roger; Monsma, Thimoty M. Cities-Mission´s New


[2]
Frontier Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1989, p. 7

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II. A URBANIZAÇÃO
2. A Urbanização no Brasil
 

                            Diferente da Europa que se urbanizou a partir do século


XIX com impulsos da revolução industrial, o Brasil começou seu processo
de urbanização no século XX de forma rápida por causa das migrações
internas e externas que contribuíram para a integração do mercado de
trabalho.

                            Iniciou-se somente em 1940 o processo de contagem


de população separando entre urbana (cidades e vilas) e zona rural e
chegou-se a conclusão que a população existente nas cidades era de
10.891.000 pessoas (26,35%) de um total de 41.326.000 habitantes. Em
seu livro “Urbanização Brasileira”, o Geógrafo Milton Santos destaca:

Entre 1940 e 1980, dá-se verdadeira inversão quanto ao lugar de


residência da população brasileira. Há meio século atrás (1940), a taxa
de urbanização era de 26,35%, em 1980 alcança 68,86%. Nesses
quarenta anos, triplica a população do Brasil, ao passo que a população
urbana se multiplica por sete vezes e meia.[1]

Quadro 1 - População urbana e rural no Brasil

População População % População %


Ano do Total Urbana Rural
Censo
1940 41.236.315 12.880.182 31,24% 28.356.133 68,76%
1950 51.944.397 18.582.891 35,77% 33.361.506 64,23%
1960 70.070.457 31.303.034 44,67% 38.767.423 55,33%
1970 93.139.037 52.089.984 55,93% 41.049.053 44,07%
1980 119.002.706 82.436.409 69,27% 36.566.297 30,73%
1991 146.825.475 110.990.990 75,59% 35.834.485 24,41%
2000 169.799.170 145.800.000 85,87% 23.999.170 14,13%
2006 186.119.238 165.832.920 89,10% 20.286.318 10,90%
Fontes: Estimativas da população residente 1940-2000. IBGE e estimativas do autor
com base em índices do IBGE para 2006. [2]

                            Como vimos, é assustador o crescimento das cidades


no Brasil, agigantam-se do dia para a noite diferentemente do que ocorre
na Europa, onde as cidades surgiram lentamente. Este crescimento
provoca o aumento dos problemas das cidades modernas, que agravam-
se principalmente nos países sub-desenvolvidos e emergentes, tal qual o
Brasil. Neles não se encontra uma política racional para fixar o homem na
terra e por isso as massas miseráveis do campo dirigem-se para as
grandes cidades na esperança de melhores condições de vida. Não há
condições para receber essas massas e o resultado é o crescimento de
um cinturão ao redor das cidades que formam as periferias urbanas.

                            Esta multidão, que não tem uma mão de obra


qualificada, fica a espera de uma qualificação. Por outro lado, o rápido
crescimento populacional nas cidades, não acompanhou o crescimento
industrial, o que gerou em larga escala, o desemprego e o subemprego
(trabalho autônomo). Nota-se aqui que este processo foi agravado pelo
avanço da tecnologia que gradativamente elimina a mão de obra
humana. A situação de injustiça causada pelas circunstancias sociais
gera a insegurança, o medo, o latrocínio, o crime e a violência em geral.

                            Azemiro Hoffmann entende que o rápido crescimento


das cidades brasileiras deve-se fundamentalmente a dois fatores: 1)
Autoritarismo do Estado no processo de industrialização descuidando-se
dos investimentos na saúde pública, educação, saneamento, transporte,
habitação e segurança. 2) Desestruturação da agricultura tradicional
familiar, o que facilitou a migração rural e o crescimento das favelas. [3]

                            É neste contexto que a igreja deve proclamar as boas


novas da salvação em Cristo.

[1] SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. São Paulo, SP: Editora Hucitec, 3
Edição, 1996. p. 29

[2] ROCHA, Renato de Melo. A ocupação e o processo de urbanização sem


planejamento no eixo rodoviário do complexo territorial Brasília-Goiania.
http://artigocientifico.uol.com.br/uploads/artc_1151549134_45.doc Brasila, 2006. Fonte
consultada em 09/04/2009

[3] HOFFMANN, Azemiro A Cidade na Missão de Deus. Curitiba: Encontro, 2007. p.123-
126

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II. A URBANIZAÇÃO
3. Conseqüências da Urbanização
 

 a)     O êxodo rural

                            A urbanização é uma das responsáveis pelo êxodo


rural (saída das pessoas do meio rural para as grandes cidades). Muitos
são os motivos que levam a decisão de sair do campo e ir para a cidade.
A idealização do campo gera a sensação de que a violência é monopólio
da cidade, enquanto nas áreas rurais se vive tranqüilidade bucólica da
natureza serena. A verdade é bem diferente quando se vê os dados
estatísticos da violência no campo.

Recursos:

Assistir:

                            Em geral, a fuga do campo para a cidade é daquele


que está atrás do sonho do emprego fácil, da escola para os filhos, da
garantia um futuro financeiro mais estável do que o do mundo rural.

                            No entanto, muitos acabam desiludidos, perdidos


dentro de um turbilhão de problemas. A maioria das pessoas que chega
à cidade não tem escolaridade e nem experiência profissional, o que faz
com que aceitem empregos mal remunerados e se sujeitem a trabalhos
temporários ou a atividades informais para sobreviver, como as de
camelô ou vendedor ambulante. Os baixos rendimentos levam esse
trabalhador para a periferia das grandes cidades, geralmente em
loteamentos irregulares, lugares de risco.

                            As classes que vivem nas periferias e que estão


chegando da zona rural. O problema deles é o de como passar de uma
civilização comunitária tradicional (a roça) para a civilização
individualista da cidade. A primeira geração ainda conserva muito de ser
rural e comunitário. A segunda geração, nascida na grande cidade, já
tem o modo de ser urbano individualista. Os conflitos entre gerações são
freqüentes.

                            É considerável o numero de pessoas que trabalham


em atividades rurais e residem nas cidades. As greves dos
trabalhadores bóias-frias acontecem nas cidades, o lugar onde moram.
São inúmeras as cidades que nasceram e cresceram em áreas do país
que tem a agroindústria como impulso das atividades econômicas
secundárias e terciárias.

                            A Missão Urbana é um dos maiores desafios as Igrejas


cristãs nas cidades, visto que ao lado das igrejas urbanas encontram-se
aquelas que ainda preservam características rurais e com isso não
conseguem se comunicar-se com as pessoas das cidades. Há igrejas
em grandes cidades formadas por pessoas que vieram do interior que
conservam o modo de ser rural e comunitário por muito tempo.

                            Podemos afirmar que o Brasil, hoje, é um país


urbanizado. Com a saída de pessoas do campo em direção às cidades,
os índices de população urbana vêm aumentando sistematicamente em
todo o país.

b)     Problemas Urbanos

ü      Sociais

Desemprego

Prostitutas,

Doenças Transmissíveis

Andarilhos

Violência Urbana

Exclusão Social

Família

ü      Psico-sociais

Anonimato

Alienação

Isolamento

Anomia

Despersonalização

ü      Religiosos

Novas Denominações Cristãs

Vazio Existencial

ü      Políticos- Cívicos


 

Cidadania

Influência e Pressão

Consciência Política

c)     A explosão populacional

                            Segundo a ONU, a população mundial atingiu os 6,5


bilhões em 2009, apesar da baixa fecundidade nos países desenvolvidos
e da elevada mortalidade nos países em desenvolvimento. Segundo
este relatório, a população do planeta poderá chegar aos 7 bilhões, em
2012, podendo estabilizar em 9 bilhões, em 2050. Apesar dos números
apresentados, a taxa de crescimento diminuiu de 2%, no final da década
de 60 para 1,2% em relação aos nossos dias.[1]

                            O mundo tem passado por uma revolução profunda em


termo demográficos nos dois últimos séculos, da concentração da
população migrando da zona rural para a zona urbana, como bem nos
informa o Dr David Barret nos dados estatísticos a seguir:

  POPULAÇAO URBANA
ANO
1800 ............ 3%
A .D.
1900 ............ 15%
A .D.
1950 ............ 21%
A .D.
1978 ............ 40%
A .D.
2000 ............ 70%-87%
A .D.
                           

                            Pela primeira vez, a população urbana se igualou à


rural e, a partir de 2008, será cada vez mais predominante. O Fundo de
População das Nações Unidas (UNFPA), afirma que “até 2008, pela
primeira vez, mais da metade da população do globo - 3,3 bilhões de
pessoas - estará vivendo nas cidade.” E a UNFPA  chegou as seguintes
conclusões:[2]

1) A urbanização é inevitável, mas seus efeitos podem ser altamente


positivos se as cidades se prepararem ou desastrosos em caso
contrário;

2) Não são as megacidades que concentram o crescimento. Ele se dá


principalmente em cidades médias;

3) Também não é a migração rural-urbana que mais explica a expansão,


mas sim o crescimento vegetativo nas cidades;

4) A concentração populacional é melhor para o meio ambiente do que a


dispersão;

5) Os pobres têm direito à cidade e a decisão de migrar ou permanecer


lá é racional. A pobreza é, em média, maior nas áreas rurais, onde
também é mais difícil para os governos universalizar o acesso a serviços
como educação e saúde.

Recursos:

O Relatório Completo da UNFPA disponível no site

http://cid-fd31d9d1c74153c4.skydrive.live.com/self.aspx/.Public/UNFPA2007.pdf

Assista o Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=SSGBjVG5iyo

    

                        Entre 2000 e 2030, o crescimento esperado da população


urbana mundial é de 72%, enquanto as áreas construídas das cidades
com 100 mil habitantes ou mais devem aumentar 175%. [3]

                            Na América Latina, por exemplo, que foi marcada por


uma urbanização rápida e precoce, as cidades, na verdade, cresceram
verticalmente e não horizontalmente durante seu período de crescimento
urbano mais acelerado. Isto é, no ápice do processo de urbanização dos
anos 70, a classe média e a classe alta se adiantaram em relação ao
espaço nos centros urbanos e expulsaram grande parte da população
mais pobre para a periferia ou outros locais inacessíveis. [4]

Recursos:

[1] ONU. População Mundial.


http://www.un.org/esa/population/publications/sixbillion/sixbilpart1.pdf;
Fonte coletada em 20/04/2009
[2]ONU-UNFPA. Situação da População Mundial em 2007.
http://www.unfpa.org.br/Arquivos/swp2007por.pdf p. 12 Fonte consultada
em 10/04/2009.

[3]ONU-UNFPA. Situação da População Mundial em 2007.


http://www.unfpa.org.br/Arquivos/swp2007por.pdf p. 51 Fonte consultada
em 10/04/2009.

[4]ONU-UNFPA. Situação da População Mundial em 2007.


http://www.unfpa.org.br/Arquivos/swp2007por.pdf p. 54. Fonte
consultada em 10/04/2009.
UNI0106 - Teologia Urbana

     
 
III. A HERMENÊUTICA DA CIDADE
1. Entendendo a Cidade
 

                            A análise do processo de transformação urbana coloca


desafios e revela caminhos possíveis para a construção de um
pensamento sobre a vida na cidade. Dentre eles está a queda de
referenciais históricos que produzem a fragmentação do espaço onde se
desenvolve o cotidiano urbano.

                            Tais referenciais são aqueles que, uma vez não


tombados pelo governo, são demolidos para dar lugar ao mais novo
arranha céu, um edifício comercial ou residencial. Assim, a paisagem
urbana se interpõe com as novas formas humanas que se adaptam ao
novo modelo de espaço que inicia a sua história. Neste sentido, Munford
afirma que:

Se quisermos lançar novos alicerces para a vida urbana, cumpre-nos


compreender a natureza histórica da cidade e distinguir entre suas
funções originais aquelas que dela emergiam e aquelas que podem ser
ainda invocadas.[1]

                            Se por um lado a cidade é um lugar físico, por outro ela


é um ambiente que proporciona a criação e a manutenção das relações
sócio-espaciais. Afirma-se que o espaço não se reduz apenas a
dimensão física mensurável, tal como igreja, praça, família, etc., mas a
movimentações dentro da cidade. Tais movimentos são realizados dentro
de um espaço que cada cidadão ocupa, os quais são centros geradores
de fluxo de comercio e serviços.

                            O plano da gestão do espaço na cidade se racionaliza


quando se aponta para o tempo efêmero ou de qualidade, para o
aumento da velocidade nas comunicações, ligando pessoas em rede,
dos lugares mais distantes possíveis, permitindo o acesso rápido a
informação através da internet, proporcionando um isolamento maior.

                            O trânsito cada vez mais rápido proporciona através


das ruas, avenidas, vias rápidas, viadutos e pontes cada vez mais
modernas, num tempo acelerado, proporciona que os relacionamentos se
tornem cada vez mais distanciados do ideal, e porque não dizer,
efêmero.

                            Na área no processo da produção o homem se apropria


do mundo, enquanto apropriação do espaço, revelando que no profundo
do seu ser está um dos aspectos fundamentais da reprodução
ininterrupta da vida. A grande cidade se torna o lugar de todos os capitais
e de todos os trabalhos, isto é, o teatro de numerosas atividades
marginais do ponto de vista tecnológico, organizacional, financeiro,
previdenciário e fiscal. [2]

                            Na cidade moderna, a industrialização trouxe a


delimitação nítida entre empresário e operário. A forte influencia do poder
monetário provoca à criação de novos espaços, em função dos diferentes
salários, as classes sociais, a criação dos bairros nobres e dos da classe
economicamente menos favorecida, até os socialmente excluídos.

                            Os contrastes são evidentes, pois as elites sociais e


políticas (empresários, banqueiros, profissionais liberais, artistas e
outros) é que dirigem os movimentos, os conflitos e as lutas na
sociedade industrial. A título de exemplo bíblico, citamos alguns que
fizeram parte dessas elites: Saulo de Tarso (intelectual), Zaqueu
(funcionário público) e Simão Zelote (líder trabalhista).

                            Na dinâmica forma de produção e reprodução de vida


na cidade, os mais bem abastados financeiramente, revelam a diferença
social existente, quando passam a morar em condomínios fechados em
magníficas mansões. Estes condomínios luxuosos são construídos em
bairros isolados com todo o conforto e segurança.

                            De igual forma, há aqueles que procuram morar em


apartamento de luxo visando segurança e qualidade de vida. Nestes
edifícios luxuosos há uma infra-estrutura invejável, tal como segurança
própria, áreas de lazer, tais como espaços gourmet, academia de
esportes, piscina, sauna e outros. Contudo, estes, de uma forma em
geral, se recusam a participar dos problemas, dos desafios e das
frustrações do povo em geral.

Recursos:

Programa Luzes da Cidade 1,2,3 - Assista aos vídeos


[1] MUNFORD, L. A cidade na história. Suas origens, transformações,
suas perspectivas. Belo Horizonte, Itatiaia, 1965, Vol 1, p. 11

[2] SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. São Paulo, SP: Editora


Hucitec, 3 Edição, 1996. p. 10

UNI0106 - Teologia Urbana

     
 
III. A HERMENÊUTICA DA CIDADE
2. Os habitantes das cidades
 

                            As transformações por que passam os habitantes das


cidades, no desenvolvimento do processo social, fazem com que as
pessoas passem por modificações em sua vida cotidiana e espaço.
Carlos exara bem sobre esta questão quando diz:

Aqui estamos diante do plano do cotidiano - que é uma construção social,


pois a sociedade se organiza a partir de modos de morar, de se
relacionar, de criar, o que envolve lutas e conflitos diante da constituição
de uma programação da vida em meio a coações repressões, planejado,
controlado. A construção do cotidiano vincula-se a ampla difusão do
mundo da mercadoria, como mediadora das relações sociais que se
estabelecem em todas as esferas da vida como condição do processo
ampliado da reprodução no mundo moderno através da reprodução das
relações sociais redirecionando a prática social.[1]

                            As transformações nas formas das cidades impõem


mudanças nos tempos da vida e nos seus usos e costumes. Na idade
medieval e semelhantemente nas cidades coloniais do Brasil, havia muito
mais proximidade geográfica e relacional entre as mais diferentes
famílias e camadas sociais. Com as mudanças ocorridas no séc. XX o
cidadão passou revelar novas formas de morar, de usar a rua, de
empregar o seu tempo, de se relacionar com o outro.

                            Para o cidadão metropolitano contemporâneo, andar


pela cidade ou trafegar com veículo motorizado por ela, é contemplar a
cidade mutante, com suas construções, demolições, reformas, as vezes
se confundem como algo natural ou uma simples paisagem. Contudo,
que mais são perceptíveis a tais mudanças são os moradores antigos,
que acabam por passar pelo contraste das constantes mudanças.
Contudo as mesmas ruas passam para o cidadão metropolitano como o
espaço de reivindicação das suas lutas, do comércio informal e da troca
de serviços em geral.

                            No plano de reprodução das relações sociais, a


atividade social do cotidiano das ações, dos usos e costumes aponta
para a crise de identidade e persistência para a manutenção dos laços de
fraternidade, bondade e misericórdia. O teólogo José Comblin diz que “a
cidade é um centro de relaçoes, porque é, antes de mais nada, uma
comunidade de pessoas. E as pessoas humanas existem nas suas
relações.”[2]

                            O distanciamento entre pessoas e objetos no espaço


provoca o esfacelamento das relações familiares, o empobrecimento das
relações com a vizinhança, mudança nas relações do trabalho, que
passa ser marcas do individualismo reinante nos grandes centros. Desta
forma, a casa deixa de ser o lugar das relações interpessoais dos seus
membros para tornar-se mero lugar de pernoite e espaço aberto a todas
incursões externas da telemática radiofônica, televisa e cada vez mais da
internet.

                            As massas urbanas que adotaram o modo de ser


urbano profundamente individualista. Aceitam os desafios e lutam como
podem para alcançar o objetivo supremo deste estilo de vida urbana: a
felicidade pessoal. Por causa das grandes dificuldades que enfrentam,
tem aumentado a busca por soluções fáceis através de atalhos: o roubo,
o jogo (as loterias do governo) e a magia dos cultos afro-brasileiros e
algumas formas do movimento pentecostal e neo pentecostal.

                            Neste mesmo sentido, a vida passa ser como um filme,


onde os objetos se dispõem de forma hierarquizada, a impor um modelo
cômodo de manipular pessoas e consciências e sonhos, a manusear
informações, lazer e outros, a fim de quebrar os laços e definindo suas
relações.

                            Por outro lado, desde os anos 50, a rápida urbanização


tem sido um catalisador da mudança cultural. As cidades em rápida
expansão, especialmente as maiores, incluem várias gerações de
migrantes e imigrantes, cada uma com diferentes antecedentes sociais e
culturais.

                            No processo de produção e reprodução na formação da


teia urbana, surgem novos grupos sociais, formados pelas mais
diferentes formas de vida, tais como as “Tribos Urbanas”. A expressão
"tribo urbana" foi cunhada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, que
começou usá-la nos seus artigos a partir de 1985. Segundo a Wikipédia,
as Tribos Urbanas são constituídas de microgrupos que têm como
objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses
comuns.[3] Em geral possuem códigos e normas, têm o mesmo linguajar,
forma de se vestir e de se comunicar.

                            É necessário que se conheça as razoes de tal


fenômeno, uma vez que o mesmo ocupa seu espaço na cidade. Em geral
eles são conhecidos como:   Punks, Skinheads (Carecas), Rappers,
White Powers, Rockabilies, Grunges (“mauricinhos” e “patricinhas” - filhos
de papai), Góticos, Drag Queens, entre outros.

Ver vídeo  -      

               

            

                           Em geral, são mal entendidas por muitos, contudo


crescem e se multiplicam nas cidades, mudando hábitos, costumes e
práticas sociais, contudo, ressalta-se que atualmente eles estão sendo
estudados por sociólogos e psicólogos.

                            Estes são uns dos desafios que a Igreja enfrentará ao


cumprir a sua missão. Tal empreendimento requererá que a mesma se
contextualize, ou seja, que se adapte ao estilo contemporâneo litúrgico,
bem como elabore estratégias criativas, a fim de alcance êxito na
evangelização. Ainda, que esta seja flexível em seus posicionamentos,
sem, contudo, desviar-se da boa doutrina e da prática das Sagradas
Escrituras. Em momento oportuno abordaremos este tema novamente.

[1] CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Espaço Urbano. São Paulo:


Contexto, 2004. p. 74,75

[2] COMBLIN, José. Viver na Cidade. Pistas para uma pastoral urbana.
São Paulo: Paulus, 1996. p. 46

[3] WIKIPEDIA. Tribo Urbana. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tribo_Urbana


Fonte consultada em 15/05/2009

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III. A HERMENÊUTICA DA CIDADE
3. Espiritualidade Evangélica da cidade
 
                            O cristianismo cresceu no meio urbano, na Idade Média
desenvolveu-se no meio rural, e na modernidade, em função da
industrialização, da urbanização e da 2ª Guerra Mundial, os quais
produziram grande impacto na sociedade, tornou-se a sociedade arredia
a prática religiosa.

                            A explosão populacional tem contribuído para o


crescimento da religiosidade na população bem como a dinâmica política
e as identidades sociais dos cidadãos globais de hoje. [1]

                            O aumento da urbanização, junto com o


desenvolvimento econômico lento e a globalização, ajudou a aumentar a
diversidade religiosa como parte da multiplicação das subculturas nas
cidades. Em lugar do resgate de uma tradição, os novos movimentos
religiosos podem ser vistos como adaptações da religião a novas
circunstâncias. [2]

  

a)     O Amor de Deus pelas Cidades

                           

                            As páginas da Bíblia estão cheias do amor e cuidado de


Deus para com as pessoas em toda parte. Hoffmann pondera:

A mesma compaixão que Deus dispensa à pessoa enquanto indivíduo,


família, clã ou etnia, Ele oferece à cidade. Há momentos, inclusive, em
que as cidades recebem um tratamento carinhoso de uma relação
maternal ou paternal. Isso tudo indica que o propósito do Senhor para
com a cidade é que ela seja um espaço de comunhão e de vida. [3]

                            Eis alguns textos bíblicos que atestam tal afirmação:

a) Deus tem um profundo amor de para a cidade. Deus apaixonou-se por


Jerusalém, mesmo vendo a cidade com toda a sua nudez e
vulnerabilidade. Ela tornou-se esposa, e depois prostituta. (Ez. 16:1-14).

b) A cidade é um farol na escuridão; palco do trabalho miraculoso de


Deus. (Is.60:15;14.21)

c) Precisamos receber a cidade como presente de Deus, para a usarmos,


o glorificarmos e nos alegrarmos nEle para sempre (Dt. 6:10-14).

d) Amor de Deus expresso em misericórdia e salvação para com a


cidade (Jn 3:1; 4.11).

e) Deus trata a cidade como mãe amorosa (Lc. 13:34,35; 19:41-44.).


f) Como podemos experimentar deste amor genuíno de Deus pela
cidade? (Is. 62.1-5)

g) Deus salva, santifica, protege e abençoa a cidade. (Sl 42; 46; 49)

h) Deus está aqui. Precisamos festejar a cidade, e lembrar o povo que a


cidade é de Deus. (Sl 49.14)

b)     Deus e a criação dos Anjos e Demônios

                           

                            Como foi dito acima, Deus ama a cidade, contudo


desde Caim (Dilúvio), Satanás tem usado o homem para fazer o mal
dentro e fora da cidade (Gn 6:1-8), e por causa do pecado Deus destruiu
Sodoma e Gomorra (Gn 18:1-33).

Anjos

ü     Foram criados por Deus:- Cl 1:15-17; 2.14-16

ü     Cristo falou sobre a existência deles: Mt 18:10; 26:53

ü     Espíritos Ministradores: Hb 1.14

ü     São muitos: Hb 12:22; Ap 7:11

Demônios

ü      Queda de Satanás e dos espíritos malignos: Ez 28; Is 14:12-15

ü      Características:

a)     Poder forte e enganoso:- Ef 6.10-12; Cl 2.8

b)     Podem infligir doenças (Mt 9:33), encarnar em humanos (Mt 4:24),
possuir animais (Mar 5:13), espalham falsa doutrina (1Tm 4.1).

c)      Ef 2.1-3: - Poder, prestígio, obsessão por dinheiro e posses,


exploração do pobre, desprezar os excluídos e marginalizados (meninos
de rua, aidéticos, prostituição infanto-juvenil, drogas) etc. O pecado de
Satanás foi a idolatria, que seduz tanto os sistemas de uma cidade
quanto as pessoas.

                            Os principados e potestades possuem poder para


destruir a cidade. Eles invadem e possuem os sistemas e estruturas ,
mas Cristo os criou, governa sobre eles e reinará com seu poder
eternamente. Qual era o entendimento de Paulo?

 “em quem temos a redenção, a saber, a remissão dos pecados; o qual é


imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele
foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam
potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as
coisas, e nele subsistem todas as coisas”. Col. 1.14-17

 Trono.

O trono a simplesmente a instituição do poder num estado, cidade ou


corpo economico. Embora hoje em dia "o trono" de um pais seja
encontrado em seus sistemas legislativo, judiciário e executive, "o trono"
dos dins de Paulo era literalmente um assento de autoridade sabre um
estrado elevado, silnbolizando a "instituição" da autoridade.

Dominações.

Uma dominação ou dominio e o territorio influeniado ou regido polo trono,


e a esfera da influência formal dessa estrutura de poder. Assim o dominio
dos Estados Unidos são seus cinquienta estados, possessões e
territórios.

Principados

O principado ou Principe e a pessoa específica que, no momento, ocupa


a trono. Pode ser o prefeito de uma cidade, o presidente de um país, o
diretor do conselho de nma instituição econômica. O "principe", ou a
pessoa específica de cada situação, pode e irá mudar, mas o trono
continua por tanto tempo quanto esta instituição continuar.

Potestades

 Os poderes do trono compreendem as regras, legalidades, tradições a


sanções que legitimam o reger do trono sob esse domínio a oferece a
autoridade pela qual o principado ocupa esse trono. Assim os "poderes"
que dão legitimidade a uma empresa incluem seus papeis de
incorporação, o regimento interno que são leis que regem suas
atividades, departamentos estruturados, bons produtos, satisfação entre
os compradores, o que significam  boas vendas. Se um destes setores
não funcionarem de acordo com as normas estabelecidas, ou satisfeitas
e cumpridas as exigências dos poderes de cada setor, então teremos
uma empresa em crise.

Jesus Cristo

                            Cristo veio para destruir (vencer) as potestades e


estabelecer seu governo permanente. Todos os principados e potestades
foram trazidos a sujeição em Cristo:- Cl 1.19-20; Ef 1.18-22; Cl 2.15

                            As forças do príncipe das trevas, e seus principados e


potestades, que são forças espirituais do mal, atuam na cidade através
das pessoas que estão no comando das estruturas e dos sistemas da
cidade, Estado, Nação ou no Mundo. Neste sentido, Newbigin afirma que

“A criação geme ainda na escravidão e espera sua libertação. As


potências demoníacas estão sempre em ação nas estruturas da
sociedade humana, pois não foram ainda publicamente submetidas a
Cristo, seu legítimo Senhor. Todavia a Igreja deve reconhecer nelas uma
parte da criação ainda que na sua forma mais corrompida.” [4]

                            Diante do exposto, a Igreja é chamada para confrontar


aos principados e potestades, pois sua missão é promover a redenção do
homem, pregar a justiça e a sujeição dos sistemas e estruturas (Ef 3.8-
11; II Rs 6.15-20).

  

d)     Cidade de Deus, Cidade de Satanás

                            Por toda a Bíblia, especialmente nos Salmos,


Jerusalém é chamada como a cidade de Deus (Sl 46:4; 48:1,2; 48:8;
87:3). Jerusalém sempre foi admirada, festejada, de geração a geração,
porque ela era a criação e principal habitação de Deus (Is 52:1; Sl 48:13-
14).

                            A história registra que Jerusalém foi criada por um povo


que não temia a Deus. Crê-se que Jerusalém foi edificada pelos egípcios,
que lhe deram o nome de “Ierousalem”, a qual recebeu posteriormente o
nome de Salém (deus cananeu). Seu antigo nome era em homenagem
ao deus da Canaã pré-israelita, de Sodoma (Gn 14.18).

                            Jerusalém sob o governo do povo de Deus era


considerada centro espiritual do mundo, cidade modelo, vivendo em
verdade e fé sob o senhorio de Deus (Is 8.18; Mq 4.1; Dt 17.14-20). Seu
sistema social testificava da paz de Deus (Sl 122.6-9; 147.2), sua
economia era composta de uma distribuição eqüitativa e justa (Ex 25.40;
I Sm 8.4-20).[5]

                            Era também considerada do ponto de vista político a


cidade de Davi, capital do estado de Israel, por estar estrategicamente
localizada entre as regiões norte e sul, território pertencente a nenhuma
das tribos de Israel. Cercada de montes, lugar da proteção e segurança
(Sl 125:2), o povo a ama e ora por ela (Sl 51:18; 122:6), pois é a cidade
do grande Rei, a alegria de toda a terra (Sl 48:2).

                            Não obstante ao fato de Jerusalém ocupar lugar


especial aos olhos de Deus, os registros sagrados mostram que ela, por
causa do seu distanciamento de Deus, foi levada cativa à Babilônia em
598 a .C. (2 Re 25:8-22). Babilônia é descrita como tendo um sistema
social burocrático, voltado para o interesse próprio, desumanizante, e sua
economia era voltada para seus privilegiados. Explorava os pobres, com
políticas de opressão, e com uma religião que ignorava a Deus e
deificava a riqueza (Gn 10:8-12; 11:1-9; Is 14.5-21; Jr 50.2-17; 51.6-16;
Dn 3.1-7; Ap 17.1-6; 18. 2-19,24; 21:1; 22:5). A restauração ou
reconstrução de Jerusalém ocorreu quando Ciro estendeu o seu reinado
e permitiu que os judeus reconstruíssem o templo e a própria cidade,
tornando-se sombra histórica do que Deus há de fazer na eternidade (Ed
1:1-4; 6:15; Ne 1:1-13; 2:4-6).

                            Jerusalém foi considerada como prostituta, pois se


deixou seduzir por Babilônia e foi marcada pelo processo de corrupção e
degeneração, sendo dominada por Satanás e posteriormente
reconstruída no tempo de Esdras e Neemias (Gn 11.4 - Ap 16 a 18;
17.5).

                            Desta forma, podemos afirmar que a cidade de


Jerusalém tem tanto de Deus como de Satanás (Babilônia), assim como
toda cidade tem dentro de si tanto de Jerusalém quanto de Babilônia. [6]

                            Keller corrobora com tal posição quando afirma que a


cidade é um local de luta intensa e onde as vitórias são mais
estratégicas. Ainda, que é “por causa do poder da cidade, ela é o alvo
principal das forças das trevas, porque aquele que ganhar a cidade
determina o curso da vida humana, sociedade e cultura.” [7] É por isso
que se crê que há uma batalha contínua entre as forças de Deus contra
Satanás, que apesar de derrotado, quer assumir o controle na cidade (Jr
9: 11-14; Cl 2:15).
Recursos:

 Assista o Vídeo:                     

Como entender os males da nossa cidade? Linthicum pondera dizendo


que: “Se não pudermos dar nome, entender e enfrentar o espírito de
nossa cidade, também não podemos esperar entender nem a
complexidade da sua guerra espiritual nem a abrangência do ministério
para o qual a igreja é chamada”.[8]  Há tempos atrás o que mais se via
era a tendência do mal para as drogas e as badaladas country, depois a
onda de assassinatos em série, e agora a onda dos assassinatos de
jovens e a dengue.

Recursos:

Sepal - Londrina 1

Sepal - Londrina 2 

Reflexão

                             Porque motivo Satanás direciona a sua ofensiva contra


os sistemas e estruturas da cidade? Linthicum afirma que “não podemos
simplesmente salvar indivíduos na cidade e esperar que a cidade seja
salva. Se a igreja não enfrentar os sistemas e estruturas, do mal da
cidade, não haverá transformação efetiva nas vidas dos indivíduos dessa
cidade”[9].

                            A Igreja ignora o estudo acerca de Satanás e das suas


estratégias malignas. A ênfase da Igreja se reduz aos esforços na
salvação de pessoas e não se apercebe do perigo eminente das forças
do mal na sedução dos sistemas e estruturas. Em geral, os líderes dos
sistemas estão prontos para serem seduzidos, uma vez que estão
fragilizados pelo pecado da idolatria pelo poder político e econômico.

Recursos:

ü      Resumo do Livro “Cidade de Deus”


http://pt.shvoong.com/books/novel/666347-cidade-deus/
http://seminarioteologicodosul.blogspot.com/2008/04/cidade-de-deus-
cidade-de-satans-uma.html

ü      Leitura: Este Mundo Tenebroso. Frank Peretti São Paulo: Editora
Vida, 2004.
[1]ONU-UNFPA. Situação da População Mundial em 2007.
http://www.unfpa.org.br/Arquivos/swp2007por.pdf p. 32 Fonte consultada
em 10/04/2009.

[2]ONU-UNFPA. Situação da População Mundial em 2007.


http://www.unfpa.org.br/Arquivos/swp2007por.pdf p. 32 Fonte consultada
em 10/04/2009.

HOFFMANN, Azemiro A Cidade na Missão de Deus. Curitiba:


[3]
Encontro, 2007. p.53

NEWBIGIN, LESSLIE - A Igreja Missionária no Mundo Moderno - São


[4]
Paulo - Paulinas - 1969 pg. 131

Colin Brown. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo


[5]
Testamento. São Paulo: Vida Nova, vol II: E-J, 1985. p. 478

[6] LINTHICUM, Robert C.. Cidade de Deus, cidade de Satanás. 1993. p.


27

[7]Timothy J. Keller, e Allen J. Thompson. Manual de Plantador de


Igrejas. New York: Redeemer Church, 2002. p. 48

[8] Robert C. Linthicum. Cidade de Deus, cidade de Satanás. 1993.  p. 77

LINTHINCUM, Robert C. - Cidade de Deus Cidade de Satanás -


[9]
Missão Editora - MG - 1993.

UNI0106 - Teologia Urbana

     
 
V. A MISSÃO DA IGREJA NA CIDADE
1. A Igreja na cidade
 

A missão de propagar o evangelho das boas novas foi outorgada à igreja


por Jesus Cristo. Desta forma, esta se tornou cooperadora com Deus na
plantação do seu reino. Todos os que foram chamados e libertos da
escravidão do mundo por Deus passaram a se constituir em povo e
propriedade dele (Mt 16:18; Ef 4:3-6).

A missão da Igreja na cidade é proclamar e ajudar na edificação do reino


de Deus. Então, toda a atividade do povo de Deus no mundo é missões.
Timóteo Carriker afirma que “Missão” descreve tudo o que a igreja é
enviada ao mundo para fazer, e que ela abrange a vocação dupla de
serviço da igreja, para ser ?sal da terra´ e a ?luz do mundo. [1]

O Concílio de Constantinopla no ano 381 da nossa era promulgou as


marcas da igreja no Credo de Nicéia, que também é referendado pelos
reformadores, o qual diz: “Nós cremos na Igreja, una, santa, católica e
apostólica”.

Em primeiro lugar, a Igreja é una porque Cristo só tem um corpo e é o


seu único cabeça e um só Senhor e Pastor (Jo 10:16; Ef 4:3-6). Essa
unidade seria somente desfeita se houvesse vários senhores (cabeças).

A unidade é uma qualidade inerente, uma marca que faz parte integrante
da igreja e nos compele tão somente de uma maneira visível a viver
obediência e fidelidade a Jesus Cristo. A ordem de Jesus Cristo é para
que nos esforcemos por preservar a unidade do Espírito no vinculo da
paz. Essa unidade é indestrutível em Cristo, pois este edifica a sua igreja
pelo seu Espírito.

A diversidade de denominações mantém a unidade existencial da igreja.


Os relatos da igreja neotestamentaria dizem que a totalidade dos crentes
que viviam em uma cidade formavam a única igreja daquele lugar ( At 11:
22; At 13:1; I Co 1:2 e II Co 1:1). Somos chamados a fazer diferença
como povo de Deus na cidade que vivemos e demonstramos nossa
presença através dos atos conjuntos em favor da cidade.

A Igreja é santa, em segundo lugar, porque a presença de Deus a torna


santa (1 Co 10:13; 11:20-22; Gl 2:11-14; Fl 1:15-17). A igreja, que é o
corpo de Cristo, é santa porque a cabeça do corpo é santo. A
dependência do corpo a cabeça determina que obedeça ao seu comando
(Ef 4:15). A Igreja é a reunião de pessoas que buscam o arrependimento
e o perdão divino por causa dos seus pecados.

A mobilização conjunta da igreja na cidade na busca de que esta


experimente da santidade de Deus, certamente redundará em menos
maldade, perversidade, injustiça, roubos, latrocínios, etc. A presença de
Deus na cidade através da sua igreja faz com que ela experimente
transformações espirituais e sociais.

A igreja é Católica, em terceiro lugar, porque a palavra “católica” significa


“universal”. A igreja é católica porque a obra consumada de Cristo é
universal. A catolicidade da igreja expressa o alcance da vitória do amor
divino em Cristo, da reconciliação do mundo, do perdão, do livre acesso
ao Pai através do Espírito Santo. Portanto, catolicidade é a expressão
cristã clássica aplicada a universalidade da Igreja.

A Igreja é universal no sentido de que o evangelho é para todos os


lugares da terra, todos os povos, raças, línguas, culturas, classes sociais,
etc. O evangelho, segundo as Escrituras Sagradas, deveria ser pregado
a todos os povos até que chegasse o grande dia da volta de Cristo (At
1:8; MT 24:14).

A igreja é apostólica, em quarto lugar, porque “Apostólico” significa “ser


enviado”. Aquele que foi enviado por Deus, Jesus Cristo seu unigênito
filho, nos enviou a sua igreja como continuadora da sua missão (Jo
20:21; At 1:8).           Somos enviados ao mundo para testemunharmos
dos grandes feitos de Cristo sobre nossas vidas. De acordo com o Novo
Testamento, os cristãos entram na comunidade do povo de Deus pelo
Batismo, ouvem a Palavra de Deus, recebem a nova vida em Cristo e
são enviados de volta ao mundo como servos ou “embaixadores” de
Cristo (2 Co 5:20).

Desta forma, “apostólico” significa ser enviado para uma tarefa na cidade,
não somente para aqueles com chamados e dons especiais, mas sim a
todos os membros da igreja. Somos enviados, bem como Jesus (Lc 4:18;
Is. 61:1,2) quando no inicio da sua atividade ministerial define seu
ministério dizendo:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para:”

1. Evangelizar os pobres: Na cidade há muitas pessoas que precisam ser


evangelizadas, porque a vida para elas não tem sentido, vivem
desiludidas e como se estivessem num vazio existencial.

2. Proclamar libertação aos cativos: Há muitas pessoas nas cidades que


estão presas nas drogas, alcoolismo, tabagismo, endividados, etc. e
precisam do poder do evangelho que liberta, transforma o homem e lhe
dá condições de viver dignamente.

3. Restauração da vista aos cegos: Nas cidades há muitas pessoas que


estão desesperançadas, que caminham sem rumo certo e tudo o que se
propõe a fazer, nada dá certo. Não há nada melhor do que uma vida que
é dirigida pelo Espírito Santo.

4. Pôr em liberdade os oprimidos: Nas cidades muitas pessoas que


vivem dominadas por Satanás, cheias de medo, angustia e depressão.
Jesus liberta o homem do diabo, que domina os pensamentos,
escravizava a vontade e aflige a alma humana.

5. Apregoar o ano aceitável do Senhor. É quando se dá inicio a uma nova


vida em Cristo. A transformação espiritual pela qual o homem passa,
transcende em sua vida material, tornando-o feliz, produtivo e bem
sucedido. Tal transformação em larga escala pode tornar, numa esfera
maior, a nossa vida bem como a cidade melhor.
[1] CARRIKER, Timóteo. Missão Integral. São Paulo: Sepal, 1992.

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V. A MISSÃO DA IGREJA NA CIDADE
2. A vocação da Igreja
 

Na missão de Jesus encontramos o cerne da missão da igreja. Assim


como Jesus, a igreja também tem uma missão na cidade, recebida do
próprio Mestre, para ser o continuador da mesma e cumpri-la com a
mesma unção, autoridade e poder (Jo 20:21). Esta é a natureza da
igreja, e sem esta consciência, sua missão é inócua. Não podemos
cumprir esta missão sem a dedicação e determinação demonstrada e
vivida por Jesus Cristo (Mt 28:19-20; Mc 16:15).

Muitas igrejas perderam a consciência e a própria determinação no


cumprimento da missão. Esqueceram-se de que a razão da sua
existência é anunciar a salvação aos homens que estão perdidos e sem
salvação (Lc 9:56; 19:10; Jo 10:10; MT 9:12; Mc 2:17; Lc 9:31).
McGavran disse que “a igreja não existe para si mesma, mas para o
mundo. Ela foi salva a fim de salvar outros. Ela sempre tem uma tarefa
dupla: ganhar incrédulos para Cristo e crescer na graça”.[1] Da mesma
forma como recebemos do Pai celeste o privilégio de termos acesso livre
a Ele, da mesma forma temos o privilégio e a responsabilidade de ir ao
mundo para falar para os homens do perdão de Deus. A igreja é
encarnada no mundo para ser testemunha de Cristo.

O mundo hoje está mais urbano do que nunca. Segundo dados


estatísticos, pela primeira vez, em 2007 o mundo passou a ter a maioria
da sua população morando nas cidades. Pensa-se que para em 2030
dois terços da população mundial irá morar nas cidades.[2] O mundo está
se tornando cada vez mais urbano e isto implica no fato de que uma
grande maioria se torna cada vez mais dependente deste estilo de vida.

Vivendo sob influência da cidade, a ação da Igreja deve ser cada vez
mais contextualizada. A igreja precisa aprender a dialogar com a cidade
e com os seus problemas, pois o cumprimento da sua missão deve ser
desenvolvido com serviço, recoberto de amor e compaixão para com os
que estão do lado de fora dos nossos muros eclesiásticos.

No cumprimento da sua missão a Igreja precisa interagir com o


evangelho e a cultura, procurando inocular os valores do reino. É preciso
identificar todos os dons espirituais e talentos, do conhecimento científico
à reflexão filosófica e teológica, e aplicar tudo isso para a transformação
do mundo.

[1] McGAVRAN, Donald. Compreendendo o Crescimento da Igreja, 2001. p. 185

[2] ONU. Rádio. Pela Primeira vez a população urbana, supera a rural no mundo.
Notícia publicada em 19/04/2007.
http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/detail/155399.html fonte consultada em
11/06/2009.

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V. A MISSÃO DA IGREJA NA CIDADE
3. Desafios da Missão Urbana
 

O plano final de Deus para o homem é que ele viva na Nova Jerusalém
(cidade) que descerá do céu. Contudo, enquanto isso não ocorre, o
pecado prolifera na cidade e as Escrituras anunciam o juízo de Deus
sobre as cidades (Ap 21:9-22; Gn 18:16-21; Lc 19:41-44: AP 18:1-8).

A igreja de Cristo precisa entender a complexidade social, cultural,


econômica, emocional e espiritual da cidade e responder aos graves
problemas oriundos do crescimento urbano desordenado, da
concentração excessiva de pessoas, desigualdades sociais, problemas
de habitação, das favelas, da falta de saneamento, de saúde, etc.

O Brasil possui o mais elevado grau de desigualdade no mundo. Desde


1960 a desigualdade é elevada e crescente no Brasil. A renda de uma
pessoa entre os 10% mais ricos é, em média, quase 30 vezes maior do
que a renda de uma pessoa entre os 40% mais pobres. Em suma, os
resultados observados na pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) mostram, claramente, que a desigualdade de renda
no Brasil concentra-se entre os 10% mais ricos. [1] O mal que outrora tinha
uma dimensão individual, hoje por causa da globalização, tem dimensão
exagerada e causa grande impacto social. A desigualdade social, onde
os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais
pobres, alimentam uma insuportável injustiça social. O que colabora para
cada pessoa humana o bem-estar e a dignidade são as ações da igreja
em busca de justiça que promove as condições sociais para que tal
realidade se concretize.

Outra característica marcante no Brasil, que torna um desafio à missão


da igreja, é o mercado do trabalho brasileiro com seu alto grau de
informalidade. Segundo Ramos,

A década de 1990 é caracterizada pela expansão de um setor com um


grau de informalidade tradicionalmente elevado (o setor de serviços) e a
contração de um setor caracterizado por um maior grau de formalização
(a indústria de transformação). Embora esse fenômeno produza um
efeito composição importante, ele não explica mais que 25% da elevação
no grau de informalidade observada no período. A razão para essa
limitada contribuição reside no fato de a informalidade também ter
aumentado significativamente dentro da indústria de transformação, o
que contribuiu muito para o aumento agregado no grau de informalidade
no mercado de trabalho metropolitano.[2]

A mão de obra não qualificada gera na população mais desinformada e


preparada, o desemprego, que associado com a informação e
globalização mundial, reforça o quadro daqueles que vivem da
informalidade. Segundo dados estatísticos a remuneração do setor
informal supera a do setor formal. Embora o setor formal garanta
vantagens como férias, fundo de garantia, estabilidade no emprego e
contribuição previdenciária patronal, tais vantagens parecem ser
compensadas por um ganho maior do nível salarial e remuneração
adicional.[3]

De igual forma, outro desafio à missão da igreja, que também está


interligado a fatores econômicos e salariais, são as favelas que se
contrastam com os condomínios de luxo. Nas favelas existe insegurança,
o medo e a falta de tudo para se viver confortavelmente, e por outro lado,
nos condomínios de luxo, o oposto é a marca com que vivem algumas
pessoas privilegiadas da nossa sociedade.

Dentre outros desafios podemos destacar a violência urbana, os


excluídos socialmente, as prostitutas, as doenças transmissíveis, etc.
Segundo Linthicum, os sistemas sociais, econômicos, políticos,
educacionais, e outros, na cidade, estão sob a influência dos demônios,
das potestades das trevas. É preciso muito poder, muita oração, muito
jejum, bem como a utilização de estratégias de trabalho para alcançar as
cidades com suas estruturas e sistemas.[4]

Recurso:
Casaviva – misso~es urbanas youtube 

No que tange à evangelização, as cidades oferecem tanto facilidades e


dificuldades. Para Hesselgrave as cidades são pólos de influência ao seu
redor, pois estão abertas a constantes mudanças, tem concentração de
recursos e são referencias para as cidades menores. Por outro lado,
encontram-se pontos desfavoráveis a evangelização, dentre eles estão
os edifícios e condomínios que restringem o acesso das pessoas, o
excesso de entretenimento, a multiplicidade de igrejas, o elevado grau de
materialismo e consumismo, e os movimentos filosófico- religiosos.
Enfim, a grande pergunta é: Como a igreja deve enfrentar essas
dificuldades?[5]

[1]BARROS, Ricardo Paes de, e MENDONÇA, Rosane Silva Pinto de.


Os determinantes da desigualdade no Brasil. Rio de Janeiro, julho 1995.
http://www.ipea.gov.br/pub/td/1995/td_0377.pdf Fonte consultada em
10/06/2009.

[2]RAMOS, L. A evolução da informalidade no Brasil metropolitano: 1991-


2001.  IPEA, 2002 (Texto para Discussão, 914). em Cunha Fiscal
Informalidade e Crescimento: Algumas Questões e Propostas de Política.
REIS, Maurício Cortes e ULYSSEA, Gabriel
http://www.ipea.gov.br/pub/td/2005/td_1068.pdf Rio de janeiro, fevereiro
2005. Fonte consultada em 10/06/2009.

MENEZES FILHO, Naércio Aquino. e MENDES, Marcos. e ALMEIDA


[3]
Eduardo Simões de. O Diferencial de Salários Formal-Informal no Brasil:
Segmentação ou Viés de Seleção? Revista Brasileira de Economia.
2004. http://www.scielo.br/pdf/rbe/v58n2/a05v58n2.pdf Fonte consultada
em 10/06/2009.

LINTHINCUM, Robert C. Cidade de Deus Cidade de Satanás. Belo


[4]
Horizonte, MG: Missão Editora, 1993. p.23

HESSELGRAVE, David J. Plantar igrejas: Um guia para missões


[5]
nacionais e transculturais. São Paulo. Edições Vida Nova, 1984. p. 71.

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V. A MISSÃO DA IGREJA NA CIDADE
4. A Dimensão social da Igreja na cidade
 

O cumprimento do mandato evangelístico está associado ao


cumprimento do mandato social no que tange a proclamação e prática do
evangelho. Neste sentido, podemos entender que “um ministério integral
verdadeiro define a evangelização e a ação social como funcionalmente
separadas, mas relacionalmente inseparáveis e necessárias para um
ministério integral da igreja”.[1]

Num ministério integral, a proclamação verbal precisa ser demonstrada


mediante um compromisso social que atua em todas as áreas da vida do
ser humano. A Palavra de Deus nos diz que precisamos, ao ser
justificado por Jesus Cristo, termos atitudes que testifiquem a nossa
salvação, a exemplo disto, servir o mundo oferecendo-nos para que com
os critérios cristãos de justiça sejamos agentes na transformação na
sociedade, realizando a nossa tarefa de forma integral. Arzemiro
Hoffmann exara corretamente quando mostra que

O Deus revelado na encarnação de Jesus Cristo traz uma visão holística.


Sua missão abrange toda a pessoa e todas as pessoas; toda a criatura e
toda a criação; toda cultura e todas as culturas; enfim, o alvo da missão
de Deus é fazer convergir em Cristo todas as coisas. Ele veio para
reconciliar e integrar tudo pela mediação de Jesus, o Cristo. [2]

Roger Greenway em “Apóstolos para a Cidade” chama nossa atenção


para o fato de que somente um sentido “integral” de missão pode
corresponder ao mandato bíblico da igreja na sua tarefa missionária na
cidade, que é levar o evangelho para todos os homens e mulheres,
vendo-os como seres integrais.[3]

Peter Wagner referenda tal pensamento quando enfatiza a necessidade


do cumprimento dos mandatos cultural (responsabilidade social - Gn
1.28; Mt 22.39) e o mandato evangelístico (Desejo de Deus por procurar,
encontrar, e salvar o homem perdido - Gn 3.9; Rm 10.13-15; Mt 28.19),
sem contudo, se esquecer de trabalhar por mudanças sociais,
proclamando o evangelho do reino de Deus, por meio da palavra e das
nossas ações.[4]

Para Hermannn Bavink, um dos destacados teólogos calvinista, do final


do século XIX, o conceito de Mandato foi assim expresso:

Em Gênesis 2, é a ordem probatória dada ao homem! Esta ordem


probatória, tinha duas tarefas: primeiro - cultivar e preservar o jardim;
segundo - comer livremente de todas as árvores, exceto da árvore do
conhecimento do bem e do mal. A primeira tarefa define seu
relacionamento com a terra, enquanto a segunda, define seu
relacionamento com o céu. O homem só poderia cumprir sua missão com
relação à terra, se ele não tivesse quebrado a conexão que o unia ao
céu, ou seja, somente se ele continuasse a obedecer a Deus. Ele deveria
servir a Deus e servir-se a si mesmo, enquanto servia à terra. Trabalho e
descanso, domínio e serviço, vocação terrena e celestial, civilização e
religião, cultura e culto, esses pares caminham juntos desde o princípio.
Eles pertencem e estão contidos na vocação do grande, santo e glorioso
propósito do homem. Toda cultura, isto é, todo trabalho que ele realiza
para subjugar a terra, seja através da agricultura, da pecuária, do
comércio, da indústria, da ciência, ou de qualquer outra forma, é o
cumprimento de um mandato divino. Mas, para que o homem, realmente,
cumpra esse mandato divino, ele tem de depender e obedecer à Palavra
de Deus. A religião deve ser o princípio que anima toda a vida e que a
santifica, a serviço de Deus.[5]

Na opinião de Artur Glasser, com a presença de Cristo e a proclamação


efetiva da mensagem do Reino de Deus, os dois mandatos se fundem.

Desde o princípio da Escritura, nós vemos o Mandato Cultural,


claramente, distinto do propósito redentor, o qual, Deus começou a
revelar depois da queda. O primeiro chama todos os homens e mulheres
à participarem no trabalho da civilização. O segundo representará seu
trabalho gracioso de reconciliar o ser humano caído, a si mesmo. Em
termos de obrigação, isto chama o povo de Deus à participar, com Ele,
de fazer Cristo conhecido através do mundo inteiro, como um
testemunho às nações (Mt.24.14). Quando Jesus inaugura o Reino de
Deus, esses dois mandatos fundem-se em apenas um propósito. O Novo
Testamento não separa evangelismo da responsabilidade social. A rotina
participação diária do ser humano na civilização é a arena da verdadeira
obediência a Deus (GLASSER, ainda não editado, pg. 49). [6]

John Stott, quando expõe o pensamento de Lausanne sob a


responsabilidade do homem diante dos mandatos, cultural e
evangelístico, é entendida por que afirma ser a evangelização e a
responsabilidade social dois braços da missão da Igreja. [7] Tal
responsabilidade, exige de cada um de nós, um engajamento na luta não
por um assistencialismo, que se transforma em injustiça institucionalizada
ou em indiferença cínica, mas uma ação social correta diante das
instituições que socorrem ao necessitado e lutam para que o pobre seja
reabilitado socialmente e vivencie uma vida digna.

A igreja neotestamentária causou grande impacto pelo seu testemunho


social que praticamente impôs o reconhecimento do governo de
Constantino. Construir a Igreja de Cristo significa, portanto, construir uma
nova sociedade e, por conseqüência, reconstruir a sociedade humana
em novas bases. Enquanto não chegamos à cidade perfeita de Cristo, a
nova Jerusalém, devemos cumprir nosso papel de cristão na sociedade,
condenando as estruturas e sistemas injustos, no que se refere à ação
política e social, para transformar a realidade e do mundo.

A igreja realiza missão integral e exara a sua responsabilidade social,


quando seus membros exercem a diaconia. A ordem fundamental para a
igreja formada de seus discípulos está centrada no conceito de servir a
semelhança de Cristo. Jesus Cristo disse que não veio para ser servido
(diakonetenai), mas para servir (diakonesai) e dar a sua vida em resgate
por muitos (Marcos 10.43-45). Ele assume uma palavra humilde, uma
função destinada a servos e escravos, para designar sua missão. Jesus
como diácono serviu na sua encarnação e ministério, na sua morte na
Cruz, na sua ressurreição e ascensão, bem como até hoje nos serve,
intercedendo à direita de Deus.

Todo cristão deve resgatar o ensinamento bíblico da diaconia, passando


a simplesmente “servir a mesa”, isto é, realizando tarefas que visam
colocar do nosso tempo, nossos dons, nossos conhecimentos, nosso
carro, nossas habilidades a serviço do próximo. É assumindo posições
junto a associações, sindicatos, 3º setor, ONGs, Instituições e entidades
filantrópicas que atuam junto aos dependentes químicos, HIV,
homossexuais, travestis, transexuais, lésbicas, etc., Secretarias
Municipais que atuam junto a crianças, adolescentes, jovens, e outros.

Recurso:

http://www.pibb.org.br/PDF/a-missao-social-da-igreja-ate-constantino.pdf

YAMAMORI, Tetsunao, PADILHA, C. René, RAKE, Gregório. Servindo


[1]
com os pobres na América Latina. Curitiba PR: Editora Descoberta, 1998.

[2]HOFFMANN, Arzemiro. A Cidade na Missão de Deus: o desafio que a


cidade representa para a Bíblia e à missão de Deus. Curitiba: Encontro,
2007. p. 17

GREENWAY, Roger S. Apóstoles a la Ciudad. Grand Rapids,


[3]
Michigan : T.E.L.L, 1981.

WAGNER, Peter. Estratégias para o Crescimento de Igrejas. São


[4]
Paulo: SEPAL, 1991.

[5]BAVINK, Hermannn. Teologia Sistemática. São Paulo: SOCEP, 2001.


p. 203.

[6]GLASSER, Arthur, Announcing the Kingdom (ainda não editado).


Originais gentilmente cedidos pelo Dr. Charles Van Engen.  DAMIÃO,
Paulo.
http://missao.info/2007/10/16/uma-perspectiva-crista-da-ecologia/#more-
140  Fonte consultada em 12/06/2009.

[7] LAUSANNE, Evangelização e Responsabilidade Social. São Paulo:


ABU e Visão Mundial, 1983.

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V. A MISSÃO DA IGREJA NA CIDADE
5. O ministério pastoral na cidade
 

A Pastoral Urbana continua sendo um grande desafio para a Igreja. A


Igreja não pode ser indiferente à cidade. Ao contrário, ela precisa estar
presente na realidade urbana, cujas problemáticas exigem respostas
diferenciadas e muita criatividade diante dos desafios a vida por ela
apresentados.

A urbanização trouxe conseqüências à vida na cidade, que é o seu


rápido e desordenado crescimento e uma das muitas características das
metrópoles brasileiras. O cidadão vive sem infra-estrutura desejável, tal
como moradia, planos governamentais de habitação, surgimento da noite
para o dia de favelas, aumento da violência, falta de uma política salarial,
transporte coletivos, saúde, educação, etc. Estes problemas do cotidiano
da cidade fazem com que as pessoas vivam em constante estresse
“como ovelhas que não tem pastor” (Mc 6:34). A mudança da
compreensão de tempo e espaço na cidade traz sérias implicações
pastorais.

A imagem que se tem diante de tais sofrimentos urbanos diante dos


graves problemas sociais faz com que a igreja cristã reflita sobre os
desafios a serem enfrentados e entenda a complexidade da cidade. Que
ao assim proceder, reavalie o seu modo de ser e de agir, seus planos e
estratégias, obedecendo aos mandatos de Deus e com muita paixão
realizar um ministério eficiente na cidade.

No Velho Testamento, encontramos a história de Nínive, que apesar de


ser uma anti-cidade, vemos Deus se movendo com compaixão e com
misericórdia (Jn 4:11).  O profeta Naum assim a descreve:

Ai da cidade sanguinária, toda cheia de mentiras e de roubo e que não


solta a sua presa!... massa de cadáveres, mortos sem fim; tropeça gente
sobre os mortos. Tudo isso por causa da grande prostituição da bela e
encantadora meretriz, da mestra de feitiçarias, que vendia os povos com
a sua prostituição e as gentes, com as suas feitiçarias (Na 3:1-4).

Em todas as cidades encontramos a riqueza e a prosperidade, a vida


fácil, a opulência, a mentira, o roubo, a prostituição, etc.. Por mais rica
que seja a cidade, é visível o estado de miséria. As favelas na periferia
da cidade, os bolsões de assentamentos, os pedintes nas ruas, os
franelinhas nos semáforos, as crianças abandonadas, as longas filas no
INSS, o caos da saúde, etc.. Como em Nínive, a cidade precisa ser
chamada ao arrependimento. A atitude de Jonas diante do desafio dado
por Deus de ir a Nínive, que até escandalizou os marinheiros, não pode
se repetir nos dias de hoje pela igreja (Jn 1:1-3). Somos desafiados pelas
Sagradas Escrituras a encarar com seriedade a nossa prática pastoral na
cidade. A cidade com todos os seus problemas deve nos encher de
compaixão e misericórdia.

A igreja cristã precisa enfrentar os desafios mudando a sua mentalidade.


Pois uma das maiores dificuldades que a igreja tem é compreender os
problemas da cidade e se disponibilizar em colaborar nas mais diferentes
frentes do sistema governamental, quer seja este municipal, estadual ou
federal, bem como em todo o complexo sistema de ajuda ao próximo
existente nas cidades.

De igual forma, deve a mesma não achar que todas as coisas giram em
torno de si e daqueles que vivem em sua comunidade. A alienação ou
indiferença para com os problemas da cidade pode ser uma mão de via
dupla, pois o mal que não quero combater ele mesmo pode me atingir.

Outra questão a destacar é a tendência da Igreja de viver sempre a


margem dos acontecimentos da cidade, de viver sem se comprometer
com as soluções dos problemas da cidade, achando que os mesmos são
de competência única do governo. A resposta a esta questão e
indiscutível ordem de Jesus é clara quando nos diz que devemos ser o
“sal da terra e luz do mundo”, bem como, na oração sacerdotal, não sair
do mundo (MT 5:13,14; Jo 17:15).

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VI. CRESCIMENTO DA IGREJA URBANA
1. Fundamentação bíblica e teológica
 

O crescimento e a multiplicação fazem parte natural do desenvolvimento


da criação. Deus não criou todas as coisas em apenas um dia, mas o fez
em muitos, bem como aos animais e ao homem, que os criou com
capacidade reproduzir-se. Deus dá importância ao crescimento e isto
pode ser observado também quando ordenou o recenseamento em Israel
(Nm 1:1,2).

Deus também tem um plano de crescimento para a sua Igreja. Este plano
inicia no Velho Testamento, na antiga aliança feita a Abrão, quando Deus
separou um povo para si. Posteriormente, Deus ampliou este povo eleito
em Abrão, quando adotou todos aqueles que se rendessem a Jesus
Cristo como o seu único e verdadeiro salvador (Gn 12; Jo 1:12). O início
deste novo momento na história da vida da Igreja se dá quando Jesus
Cristo chama os seus doze primeiros discípulos e começa a edificar a
sua Igreja (MT 16:18; I Co 3:11; I Pe2:4).

Jesus dá ênfase ao crescimento, e mostra a grandeza da extensão e


dimensão que o evangelho deveria alcançar, quando ordena que o
mesmo seja levado a todas as nações (Mt 24:14; 28:19). Para Peter
Wagner, “o crescimento é uma qualidade inerente à nossa tarefa de
espalhar as boas novas de Jesus Cristo, e não algo pelo qual devemos
nos desculpar.”[1] Ainda que, Jesus aborda o crescimento em várias
ocasiões:

 a) Jesus usou da metáfora “ovelhas” para expressar seu desejo de


multiplicação do seu reino bem como para a quantidade de pessoas que
ele deseja que sejam salvos (Mt 18:12).

b) Jesus falou sobre cereais e da importância da multiplicação em 30, 60


ou 100 vezes o numero das sementes plantadas e disse que a
necessidade de trabalhadores para a ceifa era muito grande (Mt 9:38).

c) Jesus falou sobre a quantidade de peixes em diferentes ocasiões e


manifestou o desejo de que todos nós nos tornássemos em exímios
pescadores (Jo 21:11; Mt 4:19).

Deus, nas páginas do Novo Testamento, cumpre sua promessa, no


decorrer das comemorações da Festa do Pentecoste, na cidade de
Jerusalém, e derrama o seu Espírito Santo, outrora profetizado por Joel
(At 2:1-4; 14-21; Jl 2:28-32). Deus dá ao crescimento e isto pode ser
verificado quando a Igreja primitiva registra um grande e exponencial
crescimento. Inicialmente estavam reunidos em 120 pessoas (At 1:12),
contudo, os registros seguintes apontam para um crescimento de 3000,
5000 e aos que dia a dia o Senhor lhes acrescentava ( 2:41, 44; 4:4, 32;
5:14; 6:1,7).

As grandes promessas de crescimento bem como a concretização destas


são para todos os tempos ou épocas. Isto significa que podemos
desfrutar desta benção ainda hoje (Hb 13:8; At 2:39; Jo 14:12). Torna-se
relevante este fato quando McGavran afirma que “a abordagem numérica
é essencial para se entender o crescimento da Igreja. A Igreja é
constituída de pessoas contáveis e não há nada particularmente
espiritual em não contá-las.”[2]
WAGNER, Peter. Estratégias para o Crescimento de Igrejas. São
[1]
Paulo: SEPAL, 1991. p. 48

Donald McGavran. Compreendendo o Crescimento da Igreja. 2001. p.


[2]
111

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VI. CRESCIMENTO DA IGREJA URBANA
2. O que é Crescimento de Igreja?
 

Deus é quem dá o crescimento à sua Igreja (I Co 3:6). Deus trabalha até


hoje, o que dá idéia de produção continua, trabalho intenso e ininterrupto
(Jo 5:17; At 2:47). Crescimento da Igreja é o resultado do engajamento
dos remidos do Senhor na propagação do evangelho objetivando o seu
desenvolvimento espiritual bem como a sua expansão numérica e
geográfica.  A definição mais aceita, segundo Peter Wagner, é a da
Sociedade America para o Crescimento da Igreja que diz:

Crescimento da Igreja é aquela disciplina que investiga a natureza,


expansão, implantação, multiplicação, funcionamento e saúde das igrejas
cristãs em seu relacionamento com a implementação efetiva da ordem
divina de “fazer discípulos de todas as nações” (Mt 28:18-20). Os
estudantes de crescimento da Igreja lutam para integrar os princípios
teológicos eternos da Palavra de Deus relativos à expansão da Igreja,
com as mais importantes revelações das ciências sociais e
comportamentais contemporâneas, empregando como estrutura inicial de
referência o trabalho de base feito por Donald McGavran. [1]

Dentre os muitos teólogos e correntes que estudam o crescimento da


Igreja, destacam-se o Movimento de Crescimento de Igrejas com Donald
McGavran, Missão Integral com Orlando Costas e Crescimento Natural
com Chris tian Schwarz.

O Movimento de Crescimento de Igrejas começou a ser estudado por


McGavran desde quando era missionário na Índia e depois foi
aprofundado no Fuller Theological Seminary em Passsadena, EUA. Este
movimento se espalhou e alguns outros teólogos passaram a segui-lo,
tais como Alan R. Tippett (missionário metodista australiano); Ralph
Winter (missionário presbiteriano na Guatemala), Peter Wagner (Fuller
Theologiacal Seminary) e Juan Carlos Miranda, entre outros. McGavran
define assim o Movimento de Crescimento de Igreja:

Crescimento de Igreja é muito mais do que a ampliação de seu rol de


membros. Envolve a forma como pessoas e culturas se tornam
genuinamente cristãs e revolucionam as culturas e populações no meio
das quais Deus as colocou, sendo uma benção para elas. Crescimento
da Igreja parte da teologia e da fidelidade a Bíblia. Utiliza bastante das
ciências sociais, porque é um fato que ocorre na sociedade. Procura
constantemente os casos em que Deus concedeu crescimento e indaga
quais são as verdadeiras causas desta benção de crescimento. [2]

Outra corrente que estuda o crescimento é a da Missão Integral. Orlando


Costas é o principal representante desta corrente que considera o
crescimento da igreja como um organismo que necessita crescer
internamente, em profundidade, e não somente em número, isto é:
Crescimento Orgânico, Crescimento Conceitual, Crescimento Numérico e
Crescimento Diaconal.[3] E em terceiro lugar, segue o Crescimento
Natural da Igreja, o qual é tem como seu porta voz o teólogo alemão
Christian Schwarz, que no seu livro “Desenvolvimento Natural da Igreja”,
expões sobre as oito qualidades de uma Igreja que cresce, que são: 1.
Liderança capacitadora, 2. Ministérios orientados pelos dons, 3.
Espiritualidade Contagiante, 4. Estruturas funcionais, 5. Culto inspirador,
6. Grupos familiares, 7. Evangelização orientadas para as necessidades,
8. Relacionamentos marcados pelo amor fraternal. [4]

No estudo de crescimento de igrejas, trata-se com freqüência dos


motivos que fazem uma igreja crescer ou decrescer. Harold Snyder
aborda bem esta questão dizendo que há fatores externos e internos
podem influenciar a igreja e motivá-la para o crescimento:

A Igreja, portanto, surge naturalmente, mas com características


sobrenaturais; é uma entidade sociológica com uma natureza espiritual.
As igrejas crescem por causa de características espirituais internas,
porque os membros desejam crescer, estabelecendo prioridades e
elaborando estratégias para obter esse crescimento, e porque
importantes fatores sociais e demográficos influem no crescimento. Essa
Igreja continuará a tornar-se o que é no poder do Espírito e mesmo “as
portas do Hades não poderão vencê-la (Mt 16.18). [5]

Juan Carlos Miranda, que é o pioneiro da assessoria hispânica sobre o


crescimento de igreja, diz que para acontecer o crescimento da igreja são
necessários os “Quatro Axiomas do Crescimento da Igreja”, que são:

1)     O pastor deve querer que a Igreja cresça e estar disposto a pagar o
preço;

2)     A congregação deve querer que a Igreja cresça e estar disposta a


pagar o preço;

3)     A congregação e o pastor devem estar de acordo com a meta


evangelística de “fazer discípulos”;

4)     A congregação não deve padecer de uma enfermidade fatal. [6]

[1] WAGNER Peter. Estratégias para o Crescimento da Igreja. São Paulo: SEPAL (2ª
ed), 1995.  p. 124

[2] McGAVRAN, Donald. Compreendendo o Crescimento da Igreja. São Paulo: Sepal,


2001.  p. 16

[3] L.A.T. Sayão. Orlando Costas. Enciclopédia histórico-teológica cristã. São Paulo:
Vida Nova, Vol 1, 1988. p. 362

[4] SCHWARZ, Christian A.. O desenvolvimento Natural da Igreja. 1996.

[5] SNYDER, Harold. Vinho Novo Odres Novos. São Paulo: ABU, 1997.  p. 50

[6] Juan Carlos Miranda. Manual de Crescimento da Igreja. São Paulo: Vida Nova, 1989.
pp. 55,56

UNI0106 - Teologia Urbana

     
 
VI. CRESCIMENTO DA IGREJA URBANA
3. Estratégias de crescimento de igrejas urbanas
 

Estratégia, segundo a Wikipédia, “é a definição dos grandes objetivos e


linhas de ação estabelecidas nos planos empresariais ou
governamentais”.[1] Estratégia também pode ser definida como:

...”a principal ligação entre fins e objetivos e políticas funcionais de vários


sectores da empresa e planos operacionais que guiam as atividades
diárias", isto é, compreende a escolha dos meios e articulação de
recursos para atingir os objetivos, que pode tomar a forma de um "plano
unificado, compreensivo e integrado relacionando as vantagens
estratégicas com os desafios do meio envolvente.[2]

Pode-se muito bem se adaptar as definições seculares de estratégia à


igreja, contudo, deve-se estar esta atenta para a questão relacional, pois
as pessoas que vivem nas cidades caracterizam-se pela utilização da
multiplicação das redes de relacionamento social. Nos centros urbanos
encontram-se pessoas dentro das variadas redes de comunicação social,
e, portanto, o desafio da evangelização é grande.

Os grandes desafios à evangelização urbana são conhecidos, pois em


geral, estão onde impera a maldade, a injustiça, o descaso, a
insatisfação como resultante do individualismo e do pecado. O ato de
evangelizar excede ao templo com cultos e treinamentos infindáveis. A
evangelização deve conduzir os crentes a serem testemunhas aonde
quer que estejam: nos lares, na escola, no trabalho, nos esportes, nas
viagens, etc. A igreja precisa existir para os que estão fora dela, assim
conseguirá impactar a sociedade, como bem disse McGvran: “a igreja
não existe para si mesma, mas para o mundo. Ela foi salva a fim de
salvar outros. Ela sempre tem uma tarefa dupla: ganhar incrédulos para
Cristo e crescer na graça”.[3]

Existem muitas formas e maneiras de alcançar pessoas, contudo, o Rev.


Dr. Osni Ferreira, aborda alguns pontos relevantes e que promovem
crescimento na Igreja, e que podem ser utilizados dentro de um
planejamento para a elaboração de uma estratégia: [4]

a) Oração

Orar estrategicamente por salvação de vidas é crer Deus leva homens e


mulheres que estão perdidos a virem suas necessidades, a ouvir e se
render ao evangelho, atendendo o seu chamado pela fé (I Tm 2:1).

Kraft nos dá um exemplo de como podemos orar estrategicamente


quando diz que “a oração é de suma importância para alcançar nossas
cidades para Cristo e não deve ser subestimada. Orações devem ser
organizadas em vários diferentes níveis por toda a cidade ... o nível mais
fundamental é o do pastores de uma  cidade orando conjuntamente ...
em bairros ou áreas mais restritas ...”[5]

À medida que oramos, Deus vai operando nas vidas das pessoas, a fim
de convencê-las através do Seu Espírito. Às vezes, Ele o faz de maneira
que jamais poderíamos imaginar. É indispensável a criação de um
ministério de intercessão, com pessoas verdadeiramente comprometidas
com Deus que estejam dispostas a pagar o preço de uma vida de oração
e intercessão.

b) Visão Ministerial

Uma liderança visionária é um componente importante para o


crescimento da Igreja e deve determinar como o líder desenvolve a sua
visão. Visão não é somente a capacidade de ver o futuro e sim “a
habilidade de acessar com precisão as mudanças atuais e fazer o melhor
uso delas. Visão é estar alerta para as oportunidades.” [6]

A partir da visão, de onde se quer chegar, e da consciência de onde se


está no momento, o pastor e o líder estabelecerão um programa de
pregação que vise alimentar e conclamar seu rebanho na direção certa.
Este programa deve ser previamente elaborado e dosado de criatividade
e variedade, e comunicado à igreja. Uma filosofia de ministério é
constituída de uma visão ministerial, de valores e de pontos chaves da
estratégia a ser usada em seu ministério.

c) Pesquisa e Planejamento

As principais funções da pesquisa que irá gerar o planejamento são de


orientação, de estudo, de definições dos métodos construtivos e do
caminho crítico, de dimensionamento dos recursos, e de detecção a
tempo, das dificuldades da obra, para a implementação da visão
ministerial.

Campanhã definiu planejamento como algo desafiador, e para ele,


planejar significa:

“estar no topo de uma montanha, olhar para o topo da outra montanha e


saber que é preciso chegar lá. No entanto, para chegar lá é preciso
estratégia. Planejar no reino de Deus também acrescenta o elemento fé.
Com fé, o planejamento se torna realidade aos nossos olhos, mesmo
antes de acontecer.”[7]

        É através destes que o líder obterá um instrumento que servirá


como ajuda para identificar onde está e para onde precisa e deseja ir. O
princípio fundamental é o de querer chegar a algum lugar determinado,
por que, para quê, como e quando chegar. 

d) Células

As células são compostas de irmãos que se reúnem nos lares dos


membros da Igreja, escritórios ou em salas de empresas. São pequenas
igrejas, pois em suas reuniões há louvor, estudo bíblico, compartilhar da
fé e das experiências de vida cristã e muita oração.

A Igreja do Novo Testamento é chamada de uma Igreja sem templo. As


células foram a unidade básica da igreja durante seus dois primeiros
séculos. Não havia templos e os cristãos encontravam-se quase que
exclusivamente em casas particulares (At 2:46; 5:42; 20:20; Rm 16: 3,
5,10; Cl 4:15; Fm 1:2).     

Durante a história da igreja, destacamos na Reforma do século XVI


grupos de estudo bíblico e o movimento wesleyano. [8] As células
crescem internamente e externamente ganhando e discipulando pessoas
para Cristo, constituindo assim em um instrumento valioso na missão da
igreja em nosso mundo urbano.

Em se tratando de plantação de igrejas, além dos fatores acima exarados


que as células contribuem para proporcionar crescimento às igrejas,
encontra-se também o baixo custo financeiro de manutenção, pois os
encontros são realizados em casas, apartamentos ou condomínios, não
sendo preciso construir ou alugar prédios. As células são estratégias
indispensáveis para aquele que deseja plantar novas igrejas.

e) Evangelização

A Igreja de Jesus Cristo recebeu poder (At 1:8) para compartilhar


fielmente o evangelho. Esta é a missão para a qual Jesus incumbiu todos
os cristãos e a evangelização deve ser desenvolvida por toda a igreja, e
em especial nas células. Ela é uma ordem do próprio Cristo (Jo 15:16;
17:18; 20.21; Mt 23.13; Rm 10.14; Lc 19:40).

A evangelização pode ser considerada o termômetro espiritual da igreja.


A evangelização do mundo deve ser o objetivo maior da igreja como foi
do Senhor Jesus Cristo, conforme registrado em Lucas 19:10 e Mateus
20:28. Missão é uma reposta dada pela igreja à fé e às vidas recebidas
de Deus, pois o envolvimento com a evangelização e multiplicação de
igrejas é parte essencial da fé cristã, e indispensável à igreja.

f) Discipulado

Fazer discípulos de todas as nações é o alvo da evangelização. As


pessoas ganhas para Cristo através de células, têm mais chances de
serem discipuladas (2 Tm 1.5; 2: 2). McGavran destacou a importância
de se discipular “várias unidades homogêneas de uma sociedade
tornam-se responsivas até seus limites.”[9]

No texto básico, em Mateus 28:19 o verbo principal é “fazei discípulos”.


Para fazer discípulo é necessário ir, batizar e ensinar. Para Peter
Wagner, “discípulos são pessoas que nasceram de novo pelo Espírito de
Deus. Eles confessaram com as suas bocas o Senhor Jesus e creram
em seus corações que Deus o ressuscitou dos mortos.” [10]

g) Cuidado Pós Profissão de Fé e Batismo

A ênfase aqui repousa sobre a importância que devemos dar àqueles


que fizeram a Profissão de Fé e Batismo. Aos recém convertidos
precisam ser disponibilizados cursos, pois a instrução bíblica vem
reforçar a decisão e ajudará no fortalecimento da fé, até que atinjam a
maturidade espiritual.

McGavran diz que no cuidado pós batismal não deve haver descuidos e
afirma: “um movimento de povo não envolve consentimentos
descuidados ou batismos precipitados ... e muito menos negligência de
qualidade ou de cuidado pós-batismal.”[11]

Aqueles que aderem a fé devem ser considerados como uma planta nova
sem raízes, que não possui mecanismos de defesa espiritual para
sobreviverem a luta contra os principados e potestades, e muito menos
na guerra contra os desejos da carne. Eles precisam participar de
atividades promovidas pela igreja, onde são ministrados e desafiados a
crescer na fé e principalmente receber o amor caloroso por parte dos
membros da igreja.

Robert Coleman disse que “o acompanhamento dos novos crentes é o


ponto de partida. A igreja deve oferecer incentivo e liderança aos que
resolveram obedecer a Cristo.”  O cuidado após a Profissão de Fé e
Batismo envolve todo um complexo de atividades, que vai desde o culto
de adoração e louvor, às células, e ao treinamento.

h) Dons espirituais

A fé cristã oferece espaço suficiente em seus ensinos sobre os dons


espirituais. Existe uma ênfase bíblica para que estes sejam buscados
(1Co 12.31). A contemporaneidade dos dons está principalmente ligada à
própria imutabilidade da Palavra de Deus que afirma “passará o céu e a
terra, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt 24.35) e “os dons e a
vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29).

Desta forma, “a negação dos dons espirituais é sinal de um equívoco


básico quanto à natureza dos dons e, no fundo, sobre a natureza da
igreja. Não temos nenhuma autoridade para invalidar algum dom
específico.”[12] Mesmo assim há os que confundem os dons com o
batismo com o Espírito Santo ou como o conservadorismo que “sufoca o
cristianismo verdadeiro”, e “o liberalismo o dissolve.” [13]

Snyder afirma que “quando os dons espirituais são mal compreendidos -


super-individualizados, negados, divorciados da comunidade ou
distorcidos de qualquer outra maneira - a igreja sofre. A igreja torna-se
verdadeira igreja somente quando o significado bíblico dos dons
espirituais é resgatado.”[14] Schwarz faz uma declaração alarmante
dizendo: "De uma pesquisa que fizemos com 1600 cristãos ativos em
suas igrejas, no ambiente de fala alemã, na Europa, descobrimos que
80% deles não sabem os seus dons espirituais".[15] Será que o resultado
desta pesquisa seria diferente se fosse realizada nas igrejas do Brasil?

Os dons espirituais são indispensáveis como instrumentos para realizar a


obra de Deus e constituem parte vital na vida comunitária da Igreja. São
capacidades de expressar e comunicar o conhecimento e o poder de
Cristo para a edificação da Igreja. Schwarz afirma que eles não são bem
entendidos e por isso podem constituir-se em “barreiras contra os
ministérios” os quais “devem ser orientados pelos dons” para não
enfraquecer o cristianismo.[16] Snyder diz que uma igreja deve ser
estruturada baseada nos dons espirituais para que estes não se tornem
“supérfluos” e não sejam substituídos “pela aptidão, educação e técnica”.
[17]

i) Avivamento

Avivamento é a transformação imediata da experiência cristã individual


através da “poderosa ação de Deus”, “é um ato soberano de Deus, é algo
independente. O homem nada pode fazer, Deus e Deus somente é quem
o faz”.[18]

Avivamento é o mover de Deus estimulando a vida, trazendo-a à tona


novamente. Através dele pecadores são tocados e passam a buscar o
Salvador, restituições são feitas, lares destruídos são restaurados. Lloyd-
Jones diz que “a igreja tem somente uma força, e é o poder de Deus, o
poder do Seu Espírito...Toda vez que o Espírito de Deus vem sobre a
igreja, fórmulas são esquecidas, liturgias são postas de lado, e o Espírito
move nos corações dos homens. E do coração de um povo em oração
vêm as expressões de louvor, de súplicas e petições.” [19] O padrão de
vida moral do povo melhora, a integridade começa a ganhar espaço no
governo. À medida que o Espírito Santo prevalece operando o
avivamento, a misericórdia, a justiça e a honestidade vão enchendo a
terra. O caminho para o avivamento é uma equilibrada busca do Espírito
Santo, é desejo de purificação profunda através do arrependimento e
confissão de pecados em um relacionamento de intimidade com Deus.

j) Sinais e Maravilhas

O Senhor Jesus iniciou o seu ministério citando Isaías 61:1 cf. Lucas
4:18, o que demonstrou ser a cura e libertação um forte componente do
seu ministério, o que teve grande destaque na Igreja Primitiva. Michael
Green diz que o poder de cura e libertação “foi de importância
incalculável para difundir o evangelho em um mundo com serviços
médicos inadequados, oprimidos pela crença em forças demoníacas de
todos os tipos.”[20]

McGavran afirma que “a cura divina constituía parte essencial do


evangelismo à medida que as igrejas se multiplicavam pela Palestina e
pelo mundo mediterrâneo.”[21] Após o dia de Pentecoste o ministério de
cura divina que Jesus iniciara teve prosseguimento através da igreja
primitiva como parte da sua pregação do evangelho (At 3.1-10; 4.30;
5.16; 8.7; 9.34; 14.8-10; 19.11,12; cf. Mc. 16.18; 1 Co 12.9,28,30; Tg
5.14-16). O ministério da igreja passou a ser o mesmo de Jesus, o qual
se tornou um ministério contínuo (Mt 10.1,2; Mc 6.7; Lc 10.19; Ef 1.22;
Hb 13.8; Gl 3.1-5). A Bíblia não autoriza a ninguém, pelas palavras do
Senhor nem dos Seus apóstolos, a crer que os dons de cura foram
concedidos somente aos tempos primitivos da Igreja. Andew Murray
afirma:
A Bíblia não nos autoriza, pelas palavras do Senhor nem dos Seus
apóstolos, a crer que os dons de cura foram concedidos somente aos
tempos primitivos da Igreja; pelo contrário, as promessas que Jesus fez
aos apóstolos quando Ele deu-lhes instruções concernentes a missão
deles, imediatamente antes de Sua ascensão, se mostram-nos aplicáveis
a todos os tempos (Mateus 16:15-18).[22]

       McGavran diz que à medida que ele revia o crescimento da igreja ao
redor do mundo, percebeu que o seu crescimento estava relacionado
com curas, muitas destas oriundas de enfermidades causadas por
espíritos malignos, e que para vencê-los era preciso de poderes
superiores, e declarou que “todos os cristãos devem pensar a respeito de
sua posição neste assunto e compreender que aqui há um poder para o
crescimento da Igreja, o qual a grande maioria de nós não tem usado de
maneira suficiente.”[23]

       As manifestações destes dons eram, e ainda continuam sendo um


sinal para aqueles que desacreditavam da pregação de Cristo e de seus
discípulos. Assim sendo, é importante crer que ”conduzir ao crescimento
da Igreja, em parte, significa providenciar o palco de forma que a cura
divina possa acontecer.”[24]

       Peter Wagner, após longo tempo estudando a influência dos sinais
sobrenaturais e maravilhas no crescimento de Igrejas, escreveu suas
profundas descobertas em seu livro “How to have a Healing Ministry
without Making Your Church Sick” (Ventura, Califórnia, USA, Regal
Books, 1998) e mais alguns livros que estão a disposição na língua
portuguesa.

       Wagner descobriu em suas pesquisas, que as igrejas pentecostais


têm experimentado um crescimento “rápido em todo o mundo” porque
tem baseado o seu ministério na “evangelização de poder”, que nada
mais é do que “a proclamação do evangelho acompanhada de sinais e
maravilhas sobrenaturais.” Tal fato ocorre também em algumas igrejas
históricas no Brasil que estão passando por uma revitalização, por uma
busca de Deus.[25]

       E concomitantemente tem aplicado corretamente os dons espirituais


em consonância com suas raízes teológicas. Com o poder do Espírito
Santo, as Igrejas Históricas têm proclamado a Palavra de Deus nas mais
diferentes camadas sociais, realizando sinais poderosos e maravilhas, o
que certamente redundará em crescimento, multiplicando-se como
testemunha viva e encarnada, transformando vidas pelo poder do
evangelho (Rm 15:19; 1 Co 2:4).

       Sendo a única agência do Reino na cidade, a igreja precisa ser


encorajada e entusiasmada a ser instrumento das manifestações dos
sinais de Deus, com seu fóco as necessidades e carências da população
urbana, sem a prática do paternalismo e assistencialismo que são
paliativos, mas em uma ação transformadora, do indivíduo e da
sociedade, para a honra e glória de Deus Pai (Mc 16:16,17).

[1] WIKIPEDIA. A Enciclopedia Livre. Estratégia. Material eletrônico disponível  


http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrat%C3%A9gia. Fonte coletada em 15/06/2009.

[2] NICOLAU, Isabel. O Conceito de Estratégia. http://ee.dcg.eg.iscte.pt/conceito


%20estrategia.pdf Fonte consultada em 15/06/2009. p. 7

[3] McGAVRAN, Donald. Compreendendo o Crescimento da Igreja, 2001. p. 185

[4] FERREIRA, Osni. Apostila. Teologia Urbana. Londrina: Unifil. 2003. p.68-78.

[5] KRAFT, Lourenço, KRAFT, Estefânia. Espiando a Terra: Como entender a sua
cidade. São Paulo: SEPAL, 1995.  p. 86

[6] WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. 1997.  p. 34

[7] CAMPANHÃ, Josué. Planejamento Estratégico. São Paulo: VIDA, 2001.  p. 13

[8] SNYDER, Harold. Vinho Novo Odres Novos. 1997. p. 171.

[9] McGAVRAN, Donald.  Compreendendo o Crescimento da Igreja. 2001, p. 256

[10] WAGNER, Peter. Estratégias para o Crescimento da Igreja. 1995.  p. 55

[11] McGAVRAN, Donald.  Compreendendo o Crescimento da Igreja. 2001,  pp. 316,


317

[12] SNYDER, Harold. Vinho Novo Odres Novos. 1997.  p. 161

[13] GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida Nova, 1984.
p. 166

[14] SNYDER, Harold. Vinho Novo Odres Novos. 1997. p. 168,169

[15] SCHWARZ, Chris tian A.. O desenvolvimento Natural da Igreja. 1996. p. 24

[16] SCHWARZ, Chris tian A.. O desenvolvimento Natural da Igreja. 1996. p. 25

[17] SNYDER, Harold. Vinho Novo Odres Novos. 1997.  p. 160

[18] LLOYD-JONES, Martyn. Avivamento. São Paulo: PES (1ª Ed.), 1992.  p. 117

[19] LLOYD-JONES, Martyn. Avivamento. São Paulo: PES (1ª Ed.), 1992. p. 290, 295

[20] GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. 1984. p. 228

[21] McGAVRAN, Donald. Compreendendo o Crescimento da Igreja. 2001, p. 218

[22] MURRAY, Andrew. www.reavivamentos.hpg.ig.br/biografias Fonte coletada em


23/01/2005

[23] McGAVRAN, Donald.  Compreendendo o Crescimento da Igreja. 2001, p. 219

[24] McGAVRAN Donald. Compreendendo o Crescimento da Igreja. 2001, p. 212

[25] WAGNER, Peter. Your Church Can Grow. Ventura : Regal Books, 1984.  p.205

UNI0106 - Teologia Urbana

     
 
VI. CRESCIMENTO DA IGREJA URBANA
4. Estudo de Caso: Igreja Presbiteriana Central de Londrina
 

As igrejas que almejam crescimento, precisam ser acolhedoras, ter


liturgia contemporânea, atender às necessidades das pessoas no bairro,
planejar suas ações, estabelecendo alvos de crescimento e análise
sistemática dos objetivos alcançados e por alcançar.

A título de exemplo, a Igreja Presbiteriana Central de Londrina, da qual o


Rev. Osni tem sido pastor desde 1984, está alicerçada em fundamentos
que lhe proporcionam crescimento. O sucesso da sua equipe ministerial
está alicerçada em um Tripé da Filosofia Ministerial e em Fatores que
Possibilitam o Crescimento.

TRIPÉ DA FILOSOFIA MINISTERIAL

1. Fidelidade a Deus e à liderança.

2. Lealdade baseada no caráter cristão sincero, franco e honesto,


responsável pelos seus compromissos.

3. Trabalho com resultado. Compartilho a seguir o resultado de um


trabalho desenvolvido em equipe.

FATORES QUE POSSIBILITAM O CRESCIMENTO

1) Prioridades fundamentadas na Bíblia.

2) Ministério de Células com ênfase no evangelismo, discipulado e


pastoreio.

3) Prática da oração.

4) Liderança competente e visionária.

5) Ministérios orientados corretamente pelos dons espirituais.

6) Estrutura funcional com células e plantação de novas igrejas.

7) Irradiação e contágio por sua espiritualidade amorosa, calorosa e


receptiva.

8) Assistência pastoral de qualidade, unida na visão do líder.

9) Estilo de culto contemporâneo e inspirador.

10) Atendimento e pregação voltados às necessidades das pessoas.

11) Utilização dos meios de comunicação e marketing.

12) Gerenciamento eclesiástico equilibrado, metas estabelecidas e


avaliadas.

Recursos:

Recursos:

Imagens da Igreja Presbiteriana Central de Londrina

Metanóia Juventude

Hangar4

Campanhas de crescimento espiritual e evangelísticas


 

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