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Introdução: Cristã
Introdução: Cristã
Introdução: Cristã
INTRODUÇÃO
Durante toda a idade média a Igreja Cristã tratou a oração como um adendo
místico da fé. Exercida tão somente como pena para a expiação do pecado ou em rituais
teólogo “frio”, sem fervor, desvinculado das práticas cristãs estabelecidas por Deus para
Cristã.
visão do Reformador quanto à oração, que por ele é descrita como o principal exercício
da fé cristã.
vida de oração tendo Jesus como mediador da nossa relação íntima com o Pai. Na
2
segunda parte desta monografia exponho a regras descritas pelo reformador para uma
adotado tornou excessivamente prático o conteúdo da monografia. Que seja ela então
sobre a Oração.
3
Terceiro de sua obra magna, “As Institutas da religião cristã”, o Reformador João
Calvino destaca a terrível condição humana, sua insuficiência de recursos para prover
para atingirmos a presença de Deus e estabelecermos com Ele uma íntima comunhão.
principal exercício da Fé”, revela neste, que é o maior capítulo desta obra do
Ele afirma:
de Fé em nossa vida apresentando seis razões principais para orar, entre as quais possa
destacar que a “oração inflama nosso coração em um contínuo desejo de buscar, amar e
1
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX.1
2
- CALVINO, JOÃO. BREVE INSTRUCCION. 3ª ED. BARCELONA: FELIRE, 1990. P. 50
4
Dessa maneira podemos esperar o cumprimento das promessas de Deus para nós
com Deus através do recurso da oração contemplamos o mover de sua graça em nós e o
afirma Calvino, “não sem motivo assegura nosso Pai Celestial que toda a segurança de
nos tornando alvos da providência divina; virtude, santidade e poder para a obra do
Reino, sustento ante as nossas fraquezas; e graça e favor para os nossos pecados
“Se de ânimo disposto para com esta obediência, nos deixamos ser regidos
pelas leis da divina providência, aprenderemos facilmente a perseverar em
oração e, a pacientemente esperar no Senhor”.5
Desta feita não devemos deixar de lado o impulso a buscar a Deus através da
oração. Para Calvino, ainda que o Pai pareça ser demorado em nos responder, devemos
estimular a perseverança em nosso íntimo, e não desistirmos da oração, ainda que isto
3
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX..2
4
- CRAMPTON,W. Gary. What Calvins says- an introduction to the theology John Calvin. 1 ed.
Jefferson: Trinity Foudation. p. 80
5
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 51.
5
Contudo, não obstante a nossa condição, pela mediação de Cristo nossas petições ao Pai
“O ofício sacerdotal de Cristo que torna possível nossa oração diante Deus é
suficiente para interseção. E não simplesmente que Ele apenas uma vez, por
seu sacrifício, intercedeu entre Deus e a humanidade pecadora; é certo que
Sua intercessão para o Pai em nosso favor continua dia após dia”.6
João Calvino ensina que tal mediação é baseada no ofício sacerdotal de Cristo e
“Aqui se conclui, sem dúvida alguma, que todos aqueles que invocam a
Deus em outro nome que não em Jesus Cristo, quebram o mandamento de
Deus, não levam em consideração a sua vontade, e não têm promessa
alguma de alcançar o que lhe pedirem. Porque, como disse Paulo, “todas as
promessas de Deus, tantas têm n´Ele o sim, e o Amém” (2 Co 1v20); quer
dizer que em Cristo são firmes, certas e perfeitas.”7
Refutando a intercessão dos santos na oração dos cristãos Calvino assevera que
tal intercessão desonra o Pai e o Filho levando consigo numerosos erros e supertições,
6
- NIELSEL, WILHELM. The Theology of Calvin. Philadelphia: The Westmister Press. 1956. pp. 154
7
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX.13
6
na terra não importam em comunicação com os vivos e nem tão pouco em intercessão
nossa fraqueza nos leva a admitir algumas horas especiais para buscarmos a Deus em
oração.8
Em três ocasiões diárias devemos orar ao Pai; pela manhã, ao levantarmos para
o nosso labor diário, antes das refeições, pela bênção da providência divina em nossa
passou.
Calvino, porém, entende que tal observância de horas não deve ser supersticiosa
e nem tão pouco nos deixe desobrigado de exercitarmos a oração nas demais horas.
2 - REGRAS DA ORAÇÃO
8
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 50.
7
Na primeira das regras para uma correta oração o Reformador acentua que
devemos estar concentrados de mente e coração. Isto, com efeito, gera em nós desejo de
usufruirmos deste exercício de fé com entendimento, a fim de que nossas orações não se
religiosos.
que, com temor no coração, nos dispomos em oração na presença de Deus. Por
nossas petições.
“Acorra-se aqui, porém, quão indigno seja, quando Deus nos admite a uma
conversa íntima, abusar de sua grande humanidade, misturando cousas
sagradas com profanas, exatamente como se estivéssemos a tratar com um
homem comum, por entre o orar, posto Ele de parte, para cá ou lá
transvolamos”9
achegarmos a Deus com petições que estejam em acordo com as ordenanças descritas
nas Escrituras. Ousar importunar a Deus com desvarios e, de maneira inoportuna lançar
ante seu trono petições que não estejam previamente acordada com a sua Palavra
esvazia a oração.
9
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 5.
8
“Da mesma forma que importa para com Deus direcionar com acuidade da
mente, também de necessidade é ao mesmo rumo siga o afeto do coração.
Uma e outro, porém, muito abaixo se quedam; mais verdadeiramente,
esgotam-se de fadiga e perdem forças, ou são levados à direção contrária.
Por isso, para que a esta fraqueza socorra Deus, em nossas preces por
ensinador dá o Espírito Santo, que dita o que é reto e o nosso sentimento nos
modere.”10
petições convenientes ao Pai, afirma que nossa segurança, para exercitar com
A segunda regra descrita por João Calvino para a correta prática da oração
Este senso de insuficiência parte da noção que devemos ter em nossos corações
de que somos pecadores e estamos a suplicar para um Deus Santo que Se põe a nos
auxiliar em nossas fraquezas. Ante a este contraste, humilde nos colocamos como
A postura teológica adotada por este movimento parte da primícia de que Deus,
no Éden, comissionou o Homem para administrar toda criação, sendo que, após a
queda, tal procuração de poder foi conquistada por Satanás que passou a ter autoridade
10
- Ibidem
9
Tal ameaça é desfeita a partir de uma confissão positiva acerca da bênção que
almejamos. Declarações negativas passam a atrair malefícios, por outro lado confissões
“Tudo o que recebemos do nosso Pai celestial, tanto no reino natural como
no espiritual, está baseado em nossos desejos. Temos realmente que desejar
uma vida cristã vitoriosa, ou ela nunca será nossa”11
Em contraste com a colocação acima Calvino entende que a resposta para nossas
quer que, portanto, a orar se predispõe, a si se desagrade em suas cousas más e, revista-
Desta feita nos portamos com férvida súplica de perdão e sincera confissão de
11
- CERULLO, Morris. Sete passos para a vitória pessoal. Rio de Janeiro: ADHONEP. 1995. pp. 08
12
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 7
10
suas orações a idéia de mérito e justiça própria (Sl 86.2, II Rs 20.3), o reformador
assevera que “com estas asserções não estão a estatuir à oração valor do mérito das
obras, pelo contrário, quer, dessarte, firmar a confiança daqueles que estão devidamente
cônscios de integridade e inocência não fingidas, quais importa sejam fiéis todos”.15
Reformador, deve levar-nos a crer que nossas preces serão respondidas pelo Pai.
Citando textos dos salmos e dos evangelhos, João Calvino estimula os leitores
13
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 11
14
- João Calvino usa o termo santo para definir os personagens do N.T e do AT.
15
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 12
16
- STROHL, Henry. O pensamento da reforma. São Paulo: Aste. 1963. pp. 57
11
foco em oração deve ser a presença de um Deus misericordioso que nos socorre
sob o cuidado deste Deus nos estimula a orarmos a Ele com viva fé e esperança de
sermos respondidos.
de que poderíamos a Ele lançar nossas petições com a firme confiança de sermos
esperança que nossas petições serão cumpridas não por merecimento, mas tão
simplesmente por já serem promessas dadas por Deus aos seus amados18.
Quão alentador então é o conceito de que Deus tem promessas de bênçãos aos
seus filhos e que tais promessas deste Pai bondoso se cumprem, pois o Seu desejo para
Desta feita o Reformador entende que tal oração imbuída de fé só pode ser
alcançada por aqueles que conheceram este Deus bondoso e misericordioso que é
17
- PARKER, T.H.L. Calvin: An introduction to his thougth. Louisville: Westminster press, 1995. pp.
108
18
-- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 13
12
Permite que nós, pecadores, pela fé, sejamos aptos para discernir sobre a bondade de
Deus e a partir desta bondade sermos alvos das suas promessas pelo exercício espiritual
da oração.
19
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX 12
13
3 – ORAÇÃO E COMUNIDADE DE FÉ
faz uma minuciosa análise sobre a Oração do Senhor ou Pai nosso. A tese defendida
por Calvino é que esta oração ensinada por Jesus é uma expressão da misericórdia
“Faz-se de mister, agora, aprender não só mais segura noção de orar, mas
também a própria forma, isto é, aquela que o Pai Celestial nos ensinou
através de Seu filho dileto, onde se Lhe pode perceber a imensa bondade e
benevolência”.20
Esta segura noção sobre a oração, enquanto exercício de Fé, tem um profundo
significado ao invocarmos ao Senhor como “Pai nosso”. Não apenas devemos, com tal
reverência assim nos dirigirmos a Deus, mas também Ele quer ser por nós assim
chamados, com “esta doçura tão grande de nome detraindo-se a toda difidência, uma
vez que nenhum afeto de amor se possa maior achar em outra parte que no Pai”.21
Senhor misericordioso, que não obstante as nossas vilezas, interpõe-se entre nós como
Pai amoroso. Somente em Cristo tal tratamento, a Deus dispensado, pode ser por nós
usufruído. Calvino assegura que tal segurança reside no fato de termos sido adotados
Esta certeza que fomos adotados como filhos e a expressão plural “Pai Nosso”
inseri-nos também em uma comunidade fraternal composta por todos aqueles que como
20
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 34
21
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX.. 36
14
Acrescenta-se a esta expressão inicial da oração a frase “que estás nos céus”,
soberania.
sua visão teológica sobre as seis petições contidas neste modelo de Oração. É notada a
limitações. A Ele devemos nos achegar com humildade e reverência reconhecendo sua
majestade.
pública, exercício esse que deve ser estimulado na Igreja em especial “quando se vê
22
- CALVINO, JOÃO. ISTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX. 38
23
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX..29
15
pública em detrimento da privada. Há, para alguns, uma áurea maior de santidade
missionário, bispo ou apóstolo) que “ungido” pelo Espírito com poder especial
que estejamos em vida íntima de oração com o Pai, “o que não faz caso de orar sozinho,
por mais que freqüente as congregações públicas, saberá que suas orações são vãs e
frívolas”.25
nossas orações. Tal comunicação com Deus deve ser feita de maneira inteligível para
nós. A oração pública não deve ser feita apenas por meio de palavras pré formuladas em
24
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX..30
25
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX.. 31
16
“Por aqui se vê também claramente que as orações públicas não devem ser
feitas em grego entre os latinos, nem em latim entre os franceses, espanhóis
e ingleses, como é costume há muito tempo, senão que devem ser feitas na
língua do país onde se reúne a assembléia e que todos possam entendê-la,
posto que são feitas para a edificação de toda a Igreja, a qual nenhum fruto
recebem quando ouvem o som de palavras que não entendem.”26
Calvino a ênfase emocional dada a esse exercício da fé. Em sua quarta consideração
sobre a oração pública o reformador exalta o fervor que deve estar presente em nossas
petições:
nossas orações:
nossas pregações foi categorizado como atípico diante da Teologia Calvinista. Fomos
em nossa relação com Deus, pois isso é ser presbiteriano. Porém, quando lemos os
26
- CALVINO, JOÃO. INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ. VOL III.XX.33
27
- Ibidem
28
- LUTERO, Martim. A explicação do Pai Nosso. Lisboa: Edições 70. 1 ed. 1996. p. 14
17
CONCLUSÃO
reportagem enumera o bem estar psicoterápico da oração sobre o corpo humano. Tal
constatação, que para nós não é novidade, foi confirmada através de diferentes estudos
científicos.
o assunto.
estabelece-la como marca indissolúvel de nossa fé. Ser Calvinista, então, é vivenciar de
mais aprofundado sobre a Teologia da Oração em João Calvino. Tal tratado deve
reformador quanto á oração requer destrinchar os demais escritos de João Calvino, suas
cartas, seus comentários, seu catecismo e suas belíssimas orações, legado para
posteriores gerações.
18
BIBLIOGRAFIA
CALVINO, João. Institutas da Religião Cristã. São Paulo: CEP. 1989. 247p
CERULLO, Morris. Sete passos para a vitória pessoal. Rio de Janeiro: ADHONEP.
1995. 96 p.
LESSA, Vicente Temundo. Calvino, sua vida e obra. São Paulo: CEP. 1ª ed. 282 p.
LUTERO, Martim. A explicação do Pai Nosso. Lisboa: Edições 70. 1 ed. 1996. 74 p.