Manual de Patologia Clínica 2009
Manual de Patologia Clínica 2009
Manual de Patologia Clínica 2009
MANUAL DE
PATOLOGIA CLÍNICA
VETERINÁRIA
4ª edição
Santa Maria, 2009
Manual de Patologia Clínica Veterinária
MANUAL DE
PATOLOGIA CLÍNICA
VETERINÁRIA
Autores:
Dra. Sonia Terezinha dos Anjos Lopes
Professora Adjunta - Depto de Clínica de Pequenos Animais
UFSM - Santa Maria, RS
(55) 3220-8814 sonia@smail.ufsm.br
Dr. Alexander Welker Biondo
Professor Adjunto - Depto de Medicina Veterinária
UFPR - Curitiba, PR
(41) 3350-5661 abiondo@uiuc.edu
Colaboradores:
MSc. Mauren Picada Emanuelli
Professora Substituta – Depto de Clínica de Pequenos Animais
UFSM – Santa Maria, RS
(55) 3220 8814 maurenvet@hotmail.com
Dra. Patrícia Mendes Pereira
Professora Adjunta – Depto de Clínicas Veterinárias
UEL – Londrina, PR
(43) 3371-4559 pmendes@uel.br
MSc. Patrícia Wolkmer
LacVet-UFSM- Santa Maria
(55) 3220 8814 patiwol@hotmail.com
MSc. Carolina Kist Traesel
Doutorando – PPGMV
UFSM – Santa Maria, RS
(55) 3220 8853 ninak13l@yahoo.com.br
MSc. Danieli Brolo Martins
Doutorando – PPGMV
UFSM – Santa Maria, RS
(55) 3220 8814 danidogcatz@
MSc. Carina Franciscato
Professora Substituta – Depto de Clínica de Pequenos Animais
UFSM – Santa Maria, RS
(55) 3220 8814 carinafranciscato@yahoo.com.br
MSc. Andrea Pires dos Santos
Doutoranda - Depto de Patologia Clínica Veterinária
UFRGS - Porto Alegre, RS
(51) 3308-6099 deasantos@ufrgs.br
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
CDU: 619:636.7/.8
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
APRESENTAÇÃO
Os Editores
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
SUMÁRIO
MÓDULO I: HEMATOLOGIA......................................................................................... 5
PARTE 1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 5
1. 1. Sangue............................................................................................................ 5
PARTE 2: ERITROGRAMA I ...................................................................................... 7
2. 1. Hematopoiese................................................................................................. 7
2. 2. Órgãos envolvidos na hematopoiese.............................................................. 7
2. 3. Eritropoiese..................................................................................................... 8
2. 4. Reticulócitos.................................................................................................... 9
2. 5. Regulação da Eritropoiese: eritropoietina..................................................... 11
2. 6. Destruição Eritrocitária.................................................................................. 12
2. 7. Hemoglobina................................................................................................. 13
2. 8. Morfologia dos Eritrócitos ............................................................................. 14
2. 9. Modificações eritrocitárias ............................................................................ 15
PARTE 3: ANEMIAS E POLICITEMIAS ................................................................... 16
3. 1. Anemias ........................................................................................................ 16
3. 2. Classificação das anemias ........................................................................... 17
3. 3. Policitemias................................................................................................... 21
PARTE 4: LEUCOGRAMA I ..................................................................................... 22
4. 1. Classificação dos leucócitos ......................................................................... 22
4. 2. Granulopoiese............................................................................................... 23
4. 3. Regulação da granulopoiese ........................................................................ 23
4. 4. Granulocinética ............................................................................................. 23
4. 5. Neutrófilos..................................................................................................... 23
4. 6. Eosinófilos..................................................................................................... 26
4. 7. Basófilos ....................................................................................................... 27
4. 8. Monócitos...................................................................................................... 27
4. 9. Linfócitos....................................................................................................... 29
PARTE 5: LEUCOGRAMA II .................................................................................... 30
5. 1. Interpretação dos parâmetros leucocitários.................................................. 30
5. 2. Fibrinogênio .................................................................................................. 30
5. 3. Leucocitose................................................................................................... 30
5. 4. Leucopenia ................................................................................................... 32
5. 5. Classificação dos desvios de Neutrófilos...................................................... 34
5. 6. Alterações leucocitárias quantitativas........................................................... 35
5. 7. Alterações leucocitárias qualitativas ............................................................. 37
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MÓDULO I: HEMATOLOGIA
PARTE 1. INTRODUÇÃO
1. 1. Sangue
O sangue é composto de uma parte líquida e outra celular. A parte líquida,
denominada plasma, é obtida após centrifugação quando colhemos o sangue com
anticoagulante, e contêm o fibrinogênio e o soro quando sem anticoagulante, o
fibrinogênio coagula e restam no soro os mais variados solutos orgânicos, como minerais,
enzimas, hormônios, etc. Portanto o soro é constituído do plasma sem o fibrinogênio.
A parte celular é composta pelos eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Nas aves,
répteis, anfíbios e peixes, todas as células possuem núcleo, e as plaquetas são deste modo,
chamadas de trombócitos. Nos mamíferos, apenas os leucócitos possuem núcleo; as
hemácias os perdem durante sua formação, e as plaquetas são fragmentos de citoplasma
da célula progenitora, os megacariócitos.
A principal função do sangue é o transporte, quer de substâncias essenciais para a
vida das células do corpo, tais como oxigênio, dióxido de carbono, nutrientes e hormônios,
quer de produtos oriundos do metabolismo, indesejáveis ao organismo, os quais são
levados aos órgãos de excreção.
O volume sangüíneo normal nas espécies domésticas varia em torno de 6 a 10%
do peso corpóreo, com grande variedade intra e interespécies, que é apresentada de forma
resumida dos volumes sangüíneos de acordo com o peso corpóreo para as principais
espécies animais (tabela 1.1).
O hemograma é o exame de sangue mais solicitado na rotina laboratorial devido à
sua praticidade, economia e utilidade na prática clínica. Está dividido em três partes: 1.
Eritrograma, que compreende o hematócrito, dosagem de hemoglobina e a avaliação
morfológica e contagem total de eritrócitos; 2. Leucograma, composto pela avaliação
morfológica e contagem total e diferencial de leucócitos; 3. Plaquetas, que se compõe de
avaliação morfológica e contagem de paquetas auxiliando a interpretação da hemostasia.
Ainda, após a realização do microhematócrito, pode-se mensurar por refratometria as
proteínas totais plasmáticas, que auxiliam na interpretação de diversas situações
fisiológicas e patológicas.
Sendo o sangue responsável pela homeostasia do organismo, e o hemograma um
exame geral do animal, raramente o hemograma apresenta um diagnóstico definitivo de
determinada patologia ou doença. Ao invés disso, o hemograma oferece informações que
podem ser utilizadas como ferramenta pelo clínico para, em associação a outros sinais e
exames, realizar a busca diagnóstica.
Assim sendo, o hemograma é solicitado por várias razões, entre elas em um
procedimento de triagem para avaliar a saúde do animal, na busca do diagnóstico ou
prognóstico do animal, e ainda para verificar a habilidade corporal às infecções e para
monitoramento do progresso de certas doenças. No entanto, a história e o exame clínico
são essenciais para a interpretação dos dados hematológicos e outros testes laboratoriais
que serão objetos de investigação.’
Apenas quando descartadas as alterações ocasionadas por interferência na colheita
de amostras é que podemos com segurança interpretar seus resultados de modo claro e
representativo. Isso porque alterações causadas pela excitação (adrenalina) e ou estresse
(corticóides) durante a colheita podem desencadear processos mediados por estes
hormônios. Além disso, drogas administradas exógenamente também podem interferir nos
resultados de um hemograma como, por exemplo, o uso de glicocorticóides. Resultados
anormais em um hemograma são inespecíficos, podendo estar associados a várias
doenças ou condições que provocam respostas similares; no entanto, como mencionado
anteriormente, o hemograma pode ser diagnóstico em certas patologias, como
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hemoparasitas ou leucemias.
O ideal na prática veterinária é que a amostra laboratorial seja colhida no mesmo
local do seu processamento. No entanto, na maioria das vezes, este procedimento é
realizado pelo clínico em seu ambulatório, e enviado ao laboratório para a realização do
exame. Deste modo, para se obter resultados confiáveis, uma colheita adequada constitui
etapa tão importante quanto a própria realização do exame e sua posterior interpretação.
Uma colheita e acondicionamento adequados devem seguir rigidamente os
métodos preconizados pela técnica, bem como estarem condizentes com o procedimento do
laboratório que irá processar o material. Mesmo com a diversidade de amostras a serem
colhidas, algumas regras básicas são comuns a todas. A mais importante delas talvez seja a
adequada identificação da amostra, tanto junto ao frasco ou embalagem do material, como
na guia de requisição do exame.
A identificação da amostra deve ser feita de modo a não se destacar ou sair
durante o acondicionamento, principalmente quando a amostra estiver sob refrigeração ou
com cubos de gelo em caixa de isopor. O número ou nome do animal deve ser claro, escrito
em letras nítidas, se possível com a data de colheita. A guia ou ficha de requisição também
é de suma importância na realização do exame laboratorial.
Exame Nº : ______________
Proprietário: RG: Data: /
/
Espécie: Raça: Sexo Idade: Horário da colheita
Diagnóstico Provisório: Tratamento? SIM NÃO Qual?
História Clínica Resumida
Observações:
TABELA 1.1. Volume sangüíneo nas diversas espécies animais segundo o peso
corpóreo
PESO CORPÓREO
ESPÉCIE mL/Kg %
Cães 77 - 78 8-9
Gatos 62 - 66 6-7
Vacas lactantes, bovino em crescimento 66 - 77 7-8
Vacas leiteiras jovens, cavalos de sangue quente 88 - 110 10 - 11
Vacas não-lactantes, cavalos de sangue frio 62 - 66 6-7
Ovelhas, cabras, 62 - 66 6-7
Suínos adultos 55 5-6
Animais de laboratório - 6-7
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PARTE 2: ERITROGRAMA I
2. 1. Hematopoiese
A hematopoiese normal ocorre extravascularmente na medula óssea dos
mamíferos, mas pode acontecer em outros órgãos que participaram da hematopoiese na
vida fetal e recém-natal. Em aves, embora a granulopoiese ocorra extravascularmente, a
eritropoiese e os trombócitos são produzidos intravascularmente.
Na vida embrionária a hematopoiese inicia-se no saco vitelino, estágio em que há o
início da formação vascular. Com o desenvolvimento fetal o fígado, o baço e a medula
óssea são os maiores órgãos hematopoiéticos (figura 2.1). Durante a segunda metade do
desenvolvimento do feto a medula óssea e os órgãos linfóides periféricos (para os linfócitos)
são os maiores locais de produção de células sangüíneas.
Após o nascimento a hematopoiese passa a ocorrer somente na medula óssea nos
mamíferos. Inicialmente a medula óssea de todos os ossos participa desta atividade, mas
com a idade esta função vai limitando-se à medula óssea dos ossos chatos e epífises dos
ossos longos, isto porque a demanda por eritrócitos decresce com a maturidade. No
animal adulto, os principais ossos envolvidos no processo são: o esterno, o crânio, o ílio, as
costelas e as extremidades do fêmur e do úmero.
A medula vermelha ou ativa com o tempo vai desaparecendo e deixa de ser
hematopoiética, sendo substituída por tecido gorduroso, o qual forma a medula amarela ou
inativa. Em casos de necessidade ocorre regeneração e a medula amarela passa a ser
vermelha. Nestes casos, a hematopoiese pode voltar a ser realizada pelo fígado, baço e
linfonodos. Na fase senil a medula óssea amarela se torna medula fibrosada e é de difícil e
vagarosa expansão, o que dificulta a rápida resposta à anemia nestes animais.
Deste modo, podemos facilmente associar a hematopoiese à vida do indivíduo. A
fase de rápido crescimento do jovem está associada à expansão do volume sanguíneo, com
pesada demanda na medula por eritrócitos, portanto todos os ossos são capazes de
hematopoiese.
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2. 3. Eritropoiese
O processo de eritrogênese que resulta na formação de eritrócitos maturos é
conhecido como eritropoiese, levando em torno de sete a oito dias para se completar. O
núcleo eritrocitário é expulso no decorrer do processo de desenvolvimento nos mamíferos e
fagocitado por macrófagos locais. Enquanto nas aves, peixes, anfíbios e répteis as
hemácias são nucleadas.
As células ficam na medula óssea até a fase de metarrubrícito, e nas fases finais de
maturação, como o reticulócito, podem ser encontrados no sangue periférico em algumas
espécies. Os reticulócitos não são encontrados no sangue em condições de normalidade
nos eqüinos, bovinos, suínos e caprinos. A fase de proliferação, compreendida entre a
célula pluripotencial até o metarrubrícito, leva de dois a três dias, enquanto o restante
consiste na fase de maturação, levando em torno de cinco dias.
A eritropoiese é formada na medula óssea a partir de uma célula pluripotencial de
origem mesenquimal chamada célula tronco ou célula mãe que é estimulada a proliferar e
diferenciar-se em “burst” de unidade formadora eritróide (BUF-E) pela IL-3 e fator
estimulante de colônia granulocítica-monocítica na presença da eritropoietina (EPO).
Esta diferenciação ocorre sob influência do microambiente medular local e por
citocinas produzidas por macrófagos e linfócitos T ativados. A proliferação e diferenciação
da BUF-E para unidade formadora de colônia eritróide (UFC-E) resulta da presença destes
mesmos fatores e pode ser potencializado por fatores de crescimento adicional. A EPO é o
fator de crescimento primário envolvido na proliferação e diferenciação de UFC-E para
rubriblasto, a primeira célula morfologicamente reconhecível das células eritróides. A seguir
seguem as divisões/maturações em que serão formados: pró-rubrícito, rubrícito,
metarrubrícito, reticulócito e eritrócito. Os eritrócitos são células encarregadas de transportar
oxigênio dos pulmões aos tecidos e dióxido de carbono no sentido inverso.
A eritropoiese normal envolve um mínimo de quatro mitoses: uma na fase de
rubriblasto, outra no estágio de pró-rubrícito e duas no estágio de rubrícito basofílico. O
rubrícito basofílico matura-se em rubrícito policromático, que se transformará em
metarrubrícito. Ocasionalmente o rubrícito policromático pode se dividir. A denucleação do
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2. 4. Reticulócitos
Os reticulócitos apresentam um grau variável de dobras membranosas e
invaginações de superfície. Eles contêm ribossomos, polirribossomos e mitocôndrias,
que os capacitam a sintetizar mais de 20% do conteúdo final de hemoglobina. Estas
estruturas contribuem para a policromasia dos reticulócitos.
Após coloração com corantes supravitais, como o novo azul de metileno ou azul
cresil brilhante, utilizado na contagem de reticulócitos, um arroxeado de ribossomos,
mitocôndrias e outras organelas citoplasmáticas aparecem nos reticulócitos como
precipitados em forma de cordões (reticulócitos agregados) ou esparsos (pontilhados).
Os reticulócitos permanecem na medula óssea por dois a três dias antes de entrar no
sangue por diapedese através de células endoteliais que contornam os sinusóides
medulares. A sua liberação para o sangue é controlada por um número de fatores que agem
em conjunto, incluindo a concentração de eritropoietina, deformabilidade capilar e carga de
superfície.
Variações interespécies podem ocorrer em consideração ao número de reticulócitos
liberado no sangue sob condições fisiológicas e patológicas. Por exemplo, o eqüino não
libera reticulócitos para o sangue periférico, mesmo em anemia severa. Cães e gatos
respondem vigorosamente com reticulocitose no sangue durante anemia regenerativa,
porém os ruminantes geralmente apresentam uma resposta leve (tabela 2.1).
Os reticulócitos maturam-se em eritrócitos 24-48 horas na circulação ou no baço,
onde podem ser seqüestrados temporariamente. O processo de maturação envolve a perda
de algumas superfícies de membranas, receptores para transferrina e fibronectina,
ribossomos e outras organelas, obtenção da concentração normal de hemoglobina,
organização final do esqueleto submembranoso, redução do tamanho celular e mudança de
forma para o aspecto bicôncavo.
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VG médio normal*
*37% para o gato e 45% para o
cão
Contagem de reticulócitos (/µL) = % reticulócitos/100 x total eritrócitos /µL
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2. 6. Destruição Eritrocitária
A duração média da vida do eritrócito varia com a espécie animal. Abaixo estão
representados o número, o tamanho e a vida média das hemácias, de acordo com a espécie
animal (tabela 2.2).
TABELA 2. 2. Número total, tamanho e vida média das hemácias nas diferentes espécies
animais
ESPÉCIE NÚMERO TOTAL TAMANHO VIDA MÉDIA
(milhões/mm3 ou µL) (µm de diâmetro) (dias)
Canino 6-8 7,0 120
Felino 5-10 5,8 70
Eqüino 9-12 5,7 150
Bovino 5-10 5,5 160
Ovino 9-15 4,5 100
Caprino 8-18 4,0 100
Suíno 5-8 6,0 65
No estado de saúde normal, o eritrócito deixa a circulação por duas vias: fagocitose
por macrófagos, que é a principal e a lise intravascular, com liberação de hemoglobina.
A deformabilidade é importante na sobrevida da hemácia e depende da manutenção
da sua forma, fluidez normal interna da hemoglobina e propriedades visco-elásticas
intrínsecas da membrana. Qualquer mudança nestas características pode ativar a
destruição fagocitária por macrófagos, o que ocorre primariamente no baço e fígado,
podendo também ocorrer na medula óssea. Os macrófagos iniciam a fagocitose após
reconhecerem anticorpos IgG aderidos a antígenos de membrana em eritrócitos danificados
e/ou envelhecidos. A perda de eritrócitos é continuamente balanceada por uma liberação de
reticulócitos ou células jovens da medula óssea para o sangue periférico. Neste caso, os
reticulócitos são importantes em casos de anemia, para que se classifiquem as anemias em
regenerativa ou arregenerativa. Em casos de babesiose, no quarto ou quinto dia estas
células começam a aparecer no sangue periférico.
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2. 7. Hemoglobina
Trata-se de uma proteína conjugada formada de 96% de proteínas (globinas) e por
um grupo prostético de coloração vermelho chamado heme (4%), o qual é formado por ferro
e grupamentos porfirínicos.
A produção hemoglobínica ocorre no citoplasma das células nucleadas precursoras
de eritrócitos. O ferro obtido pelas células eritróides no processo normal de eritropoiese
provém dos macrófagos adjacentes que, por sua vez, recebem o ferro por endocitose da
ferritina, uma proteína transportadora, por meio de um processo chamado rofeocitose. As
moléculas de ferritina consistem em milhares de átomos de ferro envolvidos por uma
proteína (apoferritina). A ferritina pode ser visualizada como partículas densas, localizadas
na membrana celular ou no citoplasma de células eritróides e macrófagos. A ferritina é
degradada e convertida a hemossiderina pela ação das enzimas lisossomais intracelulares
nos macrófagos. A ferritina é hidrossolúvel enquanto que a hemossiderina não, porém
ambas servem como estoques de ferro que são mobilizados para a síntese da heme. Em
anemias ocasionadas por doenças crônicas, os estoques de ferro estão aumentados, pois
há um seqüestro nos macrófagos do SMF.
Na formação deficiente de hemoglobina, intervêm fundamentalmente três fatores:
1. deficiência de ferro por ingestão deficiente ou absorção anormal deste elemento;
2. interferência na atividade normal das células macrofágicas (SRE) que produzem
normalmente a hemoglobina. Isto ocorre nos envenenamentos por metais,
toxemias, neoplasias e nefrites, entre outras causas;
3. Anormalidades renais que interferem na formação da eritropoietina.
A hemoglobina é liberada na forma livre quando ocorre hemólise, onde a união entre
a hemoglobina e o estroma eritrocitário quebram-se pela ação do agente hemolítico. A
hemoglobina livre no plasma é rapidamente decomposta por oxidação, liga-se a
haptoglobina e é rapidamente excretada pelos rins, observando-se hemoglobinúria, ou ainda
é destruída pelo sistema fagocitário mononuclear (SMF). A hemoglobina confere a cor
avermelhada do plasma e esta condição é chamada de hemoglobinemia. O excesso livre é
oxidado em meta-hemoglobina, que se dissocia, liberando hematina. A hematina liga-se a
hemopexina e albumina sucessivamente, e estes complexos são removidos pelos
hepatócitos.
Nos macrófagos, o ferro da fração heme e os aminoácidos da fração globina são
reciclados para uso. A protoporfirina é degradada em biliverdina pela heme microssomal
oxigenase; a biliverdina é então convertida à bilirrubina pela bilirrubina redutase. As aves
excretam somente biliverdina, pois não possuem bilirrubina redutase.
A bilirrubina liberada no plasma é ligada à albumina para o transporte até as células
hepáticas, onde é conjugada em ácido glicurônico pela enzima UDP-glucuronil transferase.
A bilirrubina conjugada é normalmente secretada através dos canalículos biliares e
excretada pela bile na luz intestinal. No trato intestinal a bilirrubina é degrada a
urobilinogênio para a sua excreção nas fezes, com reabsorção parcial para a circulação
geral e re-excreção biliar no ciclo entero-hepático da bile. Uma pequena quantidade de
bilirrubina conjugada e urobilinogênio normalmente escapam à re-excreção hepática e são
eliminados na urina (figura 2.4) e quantidades aumentadas são muitas vezes excretadas
naqueles animais com doença hepática.
As duas formas de bilirrubina no plasma são chamadas de bilirrubina livre ou indireta,
ligada à albumina e bilirrubina conjugada ou direta. A bilirrubina não conjugada não é filtrada
pelo rim, somente a conjugada. O acúmulo de bilirrubina no sangue leva a icterícia. Na
anemia hemolítica a maioria da bilirrubina no sangue está na forma não conjugada, sendo
que, na obstrução extra-hepática do ducto biliar esta é amplamente conjugada e, ambas as
formas em doença hepatocelular.
A concentração de bilirrubina no plasma do cavalo é alta, comparada com outras
espécies, e a maior parte está na forma não conjugada. A concentração de bilirrubina, no
cavalo, aumenta durante anorexia e condições febris por causa da estrutura hepática.
Também é alta a concentração de bilirrubina, nesta espécie, ao nascimento, assim
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
• Forma
Bicôncava: normal.
Esferócitos: hemácias com formas esféricas, com intensa coloração pela perda de
conteúdo de membrana sem perda de hemoglobina devido a eritrofagocitose parcial dos
anticorpos e/ ou complemento dos eritrócitos pelos macrófagos do sistema fagocitário
mononuclear. Presente em anemia hemolítica auto-imune primária ou induzida por
drogas ou transfusão incompatível.
Poiquilócitos: são alterações na forma das hemácias. No baço, devido a microcirculação
esplênica, a hemácia muda de forma o que ocorre pela existência de glicoproteínas na
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• Coloração
Vermelho-claro: normal ao microscópio óptico (1000x).
Policromasia: algumas hemácias apresentam-se mais coradas que outras (RNA residual),
representando os reticulócitos. O aumento está associado a atividade eritropoiética
aumentada e resposta à anemia regenerativa. A ocorrência de algumas células
policromáticas é comum no cão e no gato.
Hipocromia: hemácias com intensidade de coloração reduzida e área central pálida
aumentada, causada por insuficiente hemoglobina na célula, sendo a etiologia mais
comum deficiência de ferro.
2. 9. Modificações eritrocitárias
Outras alterações das hemácias
Corpúsculos de Howell-Jolly: inclusões esféricas de restos celulares. Consiste em uma
resposta da medula óssea ao estado anêmico, função esplênica reduzida, uso de
glicocorticóides em cães.
Metarrubrícitos: eritrócitos imaturos nucleados. Indicam anemia regenerativa, doenças
mieloproliferativas ou hemangiossarcomas.
Corpúsculos de Heinz: estruturas redondas na membrana interna do eritrócito, devido à
desnaturação oxidativa da hemoglobina. Normal em felinos até 50%; incomum em
cães, mas pode ocorrer em esplenectomizados e sob uso de glicocorticóides.
Reticulócitos: Eritrócitos em 20% final de hemoglobinização, cujas organelas (ribossomos,
RNA, etc) são vistos em sangue fresco com auxílio de coloração supravital.
Representam hemácias jovens e indicam boa reposta medular.
Ponteado basofílico: hemácias que apresentam pequenos pontos basofílicos no
citoplasma (RNA residual). Ocorre em intensa eritropoiese, intoxicação por chumbo
quando acompanhada de metarrubrícitos sem anemia e nas anemias em bovinos e
ovinos.
Rouleaux: hemácias empilhadas. Ocorrência normal em eqüinos sadios, desidratação ou
inflamação nas demais espécies. Em eqüinos severamente anêmicos ou caquéticos,
pode estar ausente. Em ruminantes, é raro, tanto em animais sadios quanto em
doentes.
Aglutinação: aglomeração espontânea dos eritrócitos. Ocorrem em doenças auto-imunes
ou transfusões incompatíveis, devido à presença de anticorpos contra hemácias.
Parasitas: podem ocorrer dentro dos eritrócitos ou na superfície da célula. Os mais
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3. 1. Anemias
A anemia é definida como a presença de eritrócitos, concentração de hemoglobina
e/ou hematócrito abaixo dos valores normais de referência.
Constitui-se raramente em uma doença primária; geralmente é o resultado de um
processo (doença) generalizado. Portanto, é necessário que se conheça a causa da anemia
para que o tratamento racional seja empregado, pois ele não é direcionado, por si só, para a
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Sinais Clínicos
Os sinais clínicos da anemia resultam da reduzida capacidade de o sangue carrear
oxigênio e de certos ajustes fisiológicos para aumentar a eficiência da reduzida massa de
eritrócitos circulantes e reduzido trabalho do coração. Assim, o desenvolvimento de vários
sinais clínicos depende do grau e da causa da anemia. Os mais comuns são dispnéia,
intolerância ao exercício, palidez das mucosas, aumento da freqüência cardíaca, algumas
vezes acompanhada de murmúrios (sopro sistólico), aumento da freqüência respiratória e
depressão. Na anemia hemolítica aguda incluem-se ainda icterícia, hemoglobinemia,
hemoglobinúria e febre. Na perda crônica de sangue, o organismo consegue manter a
homeostase circulatória e em alguns casos, mesmo com menos de 50% da hemoglobina
normal, o animal pode não apresentar sinais clínicos.
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resposta dos reticulócitos ocorre após três dias. A concentração de proteína tende a
aumentar em dois a três dias e geralmente retorna ao normal em cinco a sete dias antes dos
parâmetros dos eritrócitos terem sido restaurados. Persistindo a proteína reduzida, sugere
uma continuidade da perda de sangue.
A anemia por destruição acelerada dos eritrócitos é causada pela hemólise, que
pode ser intra ou extravascular (fagocitose). A hemólise intravascular pode ser causada por
bactérias como Clostridium perfringens tipo A ou C, Clostridium hemolyticum, Leptospira sp;
produtos químicos como a fenotiazina, cebola, azul de metileno, cobre; imunomediada,
causada por transfusão incompatível ou isoeritrólise neonatal. A hemólise extravascular é
causada por parasitas de eritrócitos, como por exemplo, Mycoplasma haemofelis,
Anaplasma sp, Eperythrozoon sp; imunomediada, como AHAI (anemia hemolítica auto-
imune), lupus eritematoso, anemia infecciosa eqüina; defeitos eritrocíticos intrínsecos, como
deficiência da enzima piruvato quinase.
Os achados laboratoriais presuntivos de anemia hemolítica são: resposta
regenerativa, se o tempo for suficiente para apresentar esta resposta da medula óssea;
concentração normal de proteína; leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda, devido ao
estímulo da medula óssea; hiperbilirrubinemia, hemoglobinúria e hemoglobinemia (na
hemólise intravascular); coloração vermelha do plasma; hiperbilirrubinemia (cor amarela do
plasma) associada com uma diminuição do VG sugere uma fagocitose aumentada dos
eritrócitos. Observa-se a lâmina, buscando-se evidências de parasitas eritrocitários,
eritrócitos fragmentados, esferócitos e corpúsculos de Heinz.
B. Classificação patofisiológica
I. Perda sanguínea ou anemias hemorrágicas
- Aguda
• Procedimento cirúrgico ou traumas;
• Lesões hemostáticas, desordens da coagulação, deficiência de vit. K (dicumarol,
warfarin), CID.
- Crônica
• Lesões gastrointestinais (neoplasias, úlceras, parasitismo);
• Neoplasias com sangramento cavitário (hemangiossarcoma no cão);
• Trombocitopenias;
• Parasitas (carrapatos, pulgas, parasitas gastrointestinais).
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
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apresenta elementos que revelam regeneração ou resposta medular, que são: reticulocitose,
anisocitose e policromasia, podendo encontrar-se, muitas vezes, presença de
metarrubrícitos, principalmente no cão e no gato e corpúsculos de Howell-Jolly. São
necessários dois a três dias para uma resposta regenerativa tornar-se evidente no sangue.
A anemia arregenerativa, por sua vez, é causada por lesões na medula óssea ou
ausência de elementos necessários para a produção de eritrócitos. Este tipo de anemia
apresenta curso clínico crônico e início lento, é acompanhada de neutropenia e
trombocitopenia. Pode ser causada por eritropoiese reduzida (medula óssea
hipoproliferativa), na ausência de eritropoietina (insuficiência renal crônica), na doença
endócrina (hipoadrenocorticismo, hiperestrogenismo, hipoandrogenismo), na inflamação
crônica, lesão tóxica da medula (radiação, químicos, intoxicação por samambaia, infecção
por vírus e ricketsias como a Ehrlichia canis). São anemias normocíticas normocrômicas. Na
anemia arregenerativa não existem reticulócitos e nem policromasia.
REGENERATIVA ARREGENERATIVA
- Perda sanguínea • Doença renal crônica
• Traumas ou cirurgias • Neoplasias crônicas e/ou metastáticas
• Intoxicação por dicumarol • Leucemias e PIF
• CID • Erlichiose: destroem cel. pluripotencial
- Hemólise • Hiperestrogenismo
• Hemoparasitas • Hipoadrenocorticismo
• Anemia auto-imune • Hipoandrogenismo
• Reação transfusional • Linfossarcoma
3. 3. Policitemias
É o aumento do número de eritrócitos circulantes acima dos valores normais. Está
classificada em policitemia absoluta (primária ou secundária) e relativa.
Quando o hematócrito alcança 60%, suspeita-se de policitemia absoluta ou relativa.
Quando alcança 70%, suspeita-se de policitemia primária.
A. Policitemia Absoluta
Ocorre uma elevação do número de eritrócitos circulantes, causado pelo aumento da
massa total de eritrócitos, mas a concentração de proteína plasmática está normal. A
cianose e a congestão características das membranas mucosas são causadas pelo fluxo
lento de sangue desoxigenado que é exorbitantemente rico em células vermelhas. O
excesso de massa de eritrócitos aumenta a viscosidade sangüínea e a resistência vascular
pulmonar e diminui o débito cardíaco. Estas anormalidades levam a um fluxo sangüíneo
reduzido, oxigenação tecidual reduzida, distúrbios neurológicos e aumento do risco de
trombose. A viscosidade sangüínea e o grau de transporte de oxigênio alteram-se
desproporcionalmente com aumentos do hematócrito acima de 50%. A policitemia absoluta
está classificada em primária e secundária.
A policitemia primária, verdadeira ou Vera consiste em uma desordem
mieloproliferativa, caracterizada por uma proliferação anormal das células eritróides, dos
leucócitos e dos megacariócitos, levando a um aumento absoluto da massa de eritrócitos,
contagem de leucócitos e de plaquetas.
A policitemia secundária ocorre pelo aumento da taxa de eritropoietina, não é
acompanhada de aumento nas contagens de leucócitos e plaquetas nem de redução
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
B. Policitemia Relativa
É comumente encontrada nos animais como resultado da redução do volume
plasmático causado pela desidratação. O consumo hídrico, por animais enfermos,
geralmente é inadequado para manter o conteúdo de água corporal normal. Doenças
acompanhadas por excessiva perda de água (diarréia, vômito, poliúria) podem rapidamente
produzir desidratação. A hemoconcentração aumenta o hematócrito e a proteína plasmática
devido à diminuição do volume de plasma.
A policitemia relativa ocorre em animais facilmente excitáveis, como certas raças de
cães e cavalos, tendo como resultado o aumento da massa de eritrócitos na circulação
devido à contração esplênica. A contração esplênica também pode ocorrer em condições de
severa dor, como por exemplo, na síndrome cólica. Os testes laboratoriais para se
estabelecer o diagnóstico do tipo de policitemia são: a determinação da PO2 arterial e a
mensuração da eritropoietina no soro.
Na vigência de policitemia secundária, a PO2 estará reduzida e a eritropoietina
aumentada; quando se trata de uma policitemia primária, a PO 2 estará normal, enquanto
que a eritropoietina poderá encontrar-se diminuída ou normal; em ocorrência de policitemia
relativa, todos os parâmetros encontram-se dentro da normalidade.
PARTE 4: LEUCOGRAMA I
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
4. 2. Granulopoiese
A granulopoiese ou granulocitopoiese envolve a produção de neutrófilos, eosinófilos e
basófilos, através de um processo ordenado. O tradicional conceito de granulopoiese
determina a formação de neutrófilos, eosinófilos e basófilos com origem em um precursor
celular, o pró-mielócito. Recentes estudos, no entanto, têm demonstrado que cada um
destes três tipos de granulócitos possui um pró-mielócito jovem específico e com
características ultra-estruturais e citoquímicas próprias.
Na medula óssea, sob estímulos apropriados, a célula pluripotencial origina células
progenitoras confinadas que produzem os vários granulócitos. Esta célula com potencial de
produção de neutrófilos e monócitos é conhecida como Unidade Formadora de Colônia
Granulocítica-Monocítica (UFC-GM), pois em seu estágio inicial é bipotencial. Em seguida,
sob estímulo apropriado, a UFC-GM diferencia-se em células unipotenciais, UFC-G e UFC-
M. Similarmente há também a existência de progenitores celulares distintos para eosinófilos
(UFC-Eos) e basófilos (UFC-Bas).
As células unipotenciais são morfologicamente identificáveis e são precursores
conhecidos como mieloblastos, que se dividem, diferenciam-se e maturam-se nos
granulócitos sanguíneos específicos.
4. 3. Regulação da granulopoiese
O número de leucócitos específicos que adentram e deixam o sangue é mantido
constante mediante diversos mecanismos e condições, ver tabela 4.1.
4. 4. Granulocinética
É a informação quantitativa sobre a produção de granulócitos na medula óssea e
suas fases intravascular e tecidual. Em estudos dos granulócitos, no sangue e medula
óssea, marcados com radioisótopos, foi possível determinar os compartimentos dos
neutrófilos em humanos. Também alguns estudos foram realizados em animais.
Três compartimentos funcionais de granulócitos são reconhecidos na medula
óssea: 1. Compartimento proliferativo ou mitótico, consistindo de mieloblastos, pró-
mielócitos e mielócitos; 2. Compartimento de maturação ou pós-mitótico, consistindo
de metamielócitos e bastonetes; 3. Compartimento de reserva ou estoque,
primariamente composto de neutrófilos maturo e alguns bastonetes.
Um precursor neutrofílico no compartimento de multiplicação geralmente sofre 4
mitoses, uma no estágio de mieloblasto, outra no de pró-mielócito e duas na fase de
mielócito. Sob certas circunstâncias, a mitose pode se manter ou mitoses adicionais
podem ocorrer, numa taxa de 3 a 7 mitoses (figura 4.1).
4. 5. Neutrófilos
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Anormalidades morfológica
As anormalidades morfológicas nos neutrófilos geralmente incluem aberrações de
maturação, tamanho da célula, forma nuclear, características dos grânulos e citoplasma.
Estas anormalidades são chamadas de mudanças tóxicas. São vistas em pacientes com
severa infecção bacteriana, septicemia, condição inflamatória aguda e extensiva destruição
tecidual. Os efeitos tóxicos durante a granulopoiese são refletidos como basofilia
citoplasmática, presença de grânulos tóxicos e corpúsculo de Döhle, núcleo
hipersegmentado e a produção de neutrófilos gigantes e bizarros. A basofilia é o resultado
da retenção de ribossomos e RER. Os grânulos tóxicos tornam-se visíveis nos neutrófilos
mielócitos tóxicos e entre os neutrófilos maturos pela retenção do ácido
mucopolissacarídeo. Corpúsculo de Döhle são inclusões citoplasmáticas que resultam da
agregação lamelar do RER. São mais comuns em gatos do que em outras espécies
animais.
4. 6. Eosinófilos
Local de produção
O maior sítio de produção de eosinófilos é a medula óssea, embora também ocorra
em menor grau em outros tecidos como baço, timo e linfonodos cervicais. Em geral, os
eosinófilos são produzidos em torno de 2 a 6 dias e adentram no sangue periférico
aproximadamente 2 dias após. Sua meia vida intravascular é de 4 a 6 horas em humanos e
menos de 1 hora nos cães; a seguir entram tecidualmente e normalmente não retornam
para a circulação sanguínea.
A entrada de eosinófilos para os tecidos é influenciada por quimiotáticos locais e
específicos. Várias substâncias são quimiotáticas para eosinófilos, incluindo complexos
antígeno-anticorpo envolvendo primariamente IgE, produtos de mastócitos como histamina
e fator quimiotático a eosinófilos (FQE), componentes da ativação do complemento
(C5a,C567), metabólitos do ácido aracdônico, linfocinas, fibrinogênio e fibrina, e alguns
produtos resultantes do dano tecidual.
Os eosinófilos têm participação na regulação alérgica e resposta aguda inflamatória
e pode induzir dano tecidual. Podem ainda, participar na coagulação e fibrinólise através da
ativação do fator XII e plasminogênio.
As principais funções dos eosinófilos são: fagocitose e atividade bactericida,
atividade parasiticida, regulação das respostas alérgicas e inflamatórias e injúria tecidual.
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4. 7. Basófilos
São células pouco estudadas porque são raras no sangue e medula óssea. Os
basófilos são freqüentemente comparados com os mastócitos por causa de algumas
similaridades morfológicas e funcionais.
A produção dos basófilos é na medula óssea semelhante aos demais granulócitos,
no entanto os mastócitos são produzidos de células mesenquimais indiferenciadas no tecido
conectivo da medula óssea.
Os basófilos e os mastócitos contêm várias substâncias de importância biológica, e
podem sintetizar inúmeras substâncias imunológicas e não imunológicas. A composição dos
grânulos varia entre espécies. Seus grânulos são particularmente ricos em histamina,
heparina e em algumas espécies serotonina. Quando estimulado antigenicamente sintetiza
importantes fatores como Fator ativador plaquetário (FAP), substâncias de reação à
anafilaxia (SRA) e tromboxano A2 (TxA2). Os mastócitos contêm um fator chamado Fator
quimiotático eosinofílico de anafilaxia (FQE-A) e os basófilos sintetizam-os quando
estimulados. A basofilia e eosinofilia algumas vezes ocorrem simultaneamente, devido a
interação dos dois tipos de células.
4. 8. Monócitos
Cinética dos monócitos
O monócito é um descendente da célula progenitora bipotencial, a UFC-GM, que
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4. 9. Linfócitos
Subpopulações
A população total de células B e T no sangue da maioria das espécies animais está
em torno de 70% de células T, 20% de células B e o restante provavelmente composto por
células “nulas”, de função e origem desconhecidas. Dentre os tecidos linfóides, as células T
predominam no timo, linfonodos e ducto linfático torácico; as células B predominam na
medula óssea e baço. No sangue e vários tecidos a maior parte das células T são de vida
longa, e a maioria dos linfócitos B são de vida curta; as células T e B de memória são de
vida longa. A média de meia vida dos linfócitos humanos de vida longa é estimada em 4,3
anos e em torno de 1% sobrevivem até 20 anos. A sobrevida de linfócitos de vida curta se
situa entre poucas horas a 5 dias.
Recirculação
Em contraste com os granulócitos, em torno de 70% dos linfócitos do sangue
periférico que saem através do tecido retornam ao sistema vascular para recirculação. Esta
propriedade dos linfócitos torna difícil e imprecisa a estimativa da meia vida dos linfócitos. A
população recirculante demora em torno de 15 a 48 horas para recircular e consiste
primariamente de linfócitos T e linfócitos B, exceto os de memória que são considerados não
circulantes.
O fenômeno de recirculação é de suma importância biológica porque proporciona um
mecanismo de distribuição generalizada de células linfóides ocupadas com a resposta
imune sistêmica. Como resultado, um grande número de linfócitos podem ser expostos a um
antígeno depositado localmente no tecido. Estas células antigenicamente expostas podem
ser transportadas por vários lugares no corpo para propagar e montar uma vigorosa
resposta imune.
Os linfócitos recirculam do baço, timo e medula óssea para o sangue periférico daí
vão aos tecidos, dos tecidos à linfa, linfonodos e assim sucessivamente.
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Funções
Os linfócitos T e B exercem diferentes funções e possuem receptores de membrana
para o reconhecimento de antígenos. Existe uma terceira população de linfócitos que não
expressam receptores de antígenos em suas membranas, as células exterminadoras
naturais (Natural Killer), são derivadas da medula óssea e são funcionalmente distintas das
células T e B pela sua habilidade de lisar certas linhagens de células tumorais sem prévia
sensibilização. Do ponto de vista morfológico estas células são linfócitos grandes
granulares. Estes linfócitos apresentam grânulos no seu citoplasma que constituem os
lisossomas primários e aparelho de Golgi bem desenvolvidos.
PARTE 5: LEUCOGRAMA II
5. 2. Fibrinogênio
O fibrinogênio é uma proteína de fase aguda produzida no fígado. Nos processos
inflamatórios de várias causas, a concentração do fibrogênio pode elevar-se entre 3-4 dias e
permanecer alto por vários dias ou semanas como nas doenças crônicas. Geralmente a
resposta do fibrinogênio inicia-se com a resposta dos leucócitos, persistindo por mais tempo
que os leucócitos.
Em bovinos o fibrinogênio é um importante parâmetro a ser avaliado, porque pode
ser a única indicação de uma resposta inflamatória ativa. Nas doenças que ocorrem
excessivo depósito de fibrinogênio tecidual sua concentração no sangue pode não estar
elevada, ficando entre os valores de referência ou até mesmo abaixo destes valores.
5. 3. Leucocitose
A contagem total de leucócitos varia com a espécie animal e também é influenciada
pela idade. Esta é alta ao nascimento e diminui gradualmente para atingir valores de adulto
entre 2 a 12 meses de idade. A contagem total de leucócitos é definida pelo aumento, acima
dos valores de referência, como leucocitose ou pela diminuição, como leucopenia. Os
sufixos citose e filia denotam um aumento na contagem de leucócitos, entretanto, penia
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
indica uma diminuição comparada com os valores de referência. As leucocitoses são muito
mais comuns que as leucopenias e não são um sinal de mau prognóstico como a
leucopenia.
Tipos de leucocitose
A leucocitose pode ser fisiológica, reativa e proliferativa (autônoma). As mudanças
na contagem total de leucócitos podem envolver anormalidades de produção, liberação,
distribuição intravascular, vida média e ingresso tecidual de vários leucócitos. Por exemplo:
os neutrófilos circulantes estão num equilíbrio dinâmico com os neutrófilos no
compartimento marginal e de reserva da medula óssea. Uma demanda funcional imediata
de neutrófilos é feita primeiro pela mobilização das células do pool marginal e circulante,
seguida pela reserva da medula óssea e finalmente pelo aumento da granulopoiese e
liberação acelerada. O aumento de liberação de células é observado no sangue periférico
como um desvio à esquerda. Assim o tamanho dos compartimentos marginal, circulante,
reserva e capacidade proliferativa da medula óssea, são determinantes importantes na
resposta dos leucócitos às doenças (figura 5.1).
A. Leucocitose fisiológica
A leucocitose fisiológica ocorre como uma resposta a adrenalina, no qual o
compartimento marginal de neutrófilos e/ou linfócitos são mobilizados para a circulação
geral, aumentando a contagem total de leucócitos e o número de neutrófilo absoluto e/ou
linfócitos. Assim uma neutrofilia ou linfocitose transitória, ou ambas, podem se manifestar.
Esta condição é comum em animais jovens e geralmente é desencadeada por distúrbios
emocionais e físicos. Raramente o número de monócitos e eosinófilos aumenta.
Leucocitose induzida por corticosteróide ou estresse – a leucocitose pode ocorrer em
condição de saúde (fisiológica) ou nas doenças (patológica). A liberação de glicocorticóide
endógeno ou administrado terapeuticamente causa consideráveis mudanças hematológicas.
Tipicamente produz leucocitose causada por neutrofilia, usualmente sem desvio à esquerda,
linfopenia e eosinopenia. Monocitose ocorre no cão. A neutrofilia ocorre pela mobilização
dos neutrófilos segmentados do compartimento de reserva da medula óssea e pela
diminuição da diapedese das células para os tecidos. A linfopenia ocorre principalmente
pela linfólise dos linfócitos T sensíveis a esteróides no sangue e tecido linfóide, ou pela
marginação e seqüestro dos linfócitos nos locais extravasculares. Eosinopenia ocorre
principalmente pela diminuição da saída destas células da medula óssea, devido à
interferência com o efeito quimiotático da histamina nos eosinófilos. A causa de monocitose
permanece desconhecida. A resposta dos basófilos, ao corticóide, é similar a dos
eosinófilos, mas não é reconhecida usualmente, porque os basófilos são raros no sangue.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
B. Leucocitose reativa
A leucocitose reativa ocorre em resposta às doenças. Certas doenças podem induzir
uma resposta específica, mas usualmente um padrão geral de resposta dos leucócitos é
evidente, independente da doença. A leucocitose reativa pode ocorrer com ou sem desvio à
esquerda. O grau de leucocitose varia com as espécies e é usualmente relativa para a
relação neutrófilos: linfócitos (N:L). Animais com alta relação N:L, como o cão e o gato,
apresentam uma maior resposta que animais com baixa relação N:L como eqüinos e
bovinos.
Uma resposta induzida por corticosteróide ou, menos comumente, por adrenalina
pode ocorrer simultaneamente com uma leucocitose reativa. A diferenciação da leucocitose
reativa da leucocitose por corticosteróide ou epinefrina pode ser feita pois a leucocitose é
considerada reativa quando um ou mais dos seguintes itens são encontrados: Leucocitose
com desvio à esquerda; Hiperfibrinogenemia; Monocitose em outras espécies que não o
cão; Ausência de linfopenia ou eosinopenia.
No cão a monocitose acompanhada de um ou mais dos outros quatro
critérios, ou o valor da contagem absoluta de monócitos deve ser duas vezes maior que o
normal.
C. Leucocitose proliferativa
A leucocitose proliferativa ou autônoma resulta de uma mudança neoplástica da
célula pluripotencial. As formas mais comuns de leucemias são: linfocíticas, mielógenas,
mielomonocítica e monocítica. As leucemias eosinofílicas e basofílicas são raras. É
importante observar que muitas vezes o câncer das células sangüíneas não manifesta uma
leucocitose, portanto, a contagem de leucócitos pode estar normal ou mesmo diminuída e a
população de células na medula óssea pode estar alterada com pequena ou nenhuma
evidência no sangue periférico.
5. 4. Leucopenia
A leucopenia, em muitos animais, ocorre por neutropenia e linfopenia. A neutropenia
é causa primária de leucopenia em animais com uma relação N:L maior que 1, e linfopenia
em animais que a relação N:L é menor que 1. A neutropenia é mais comum em infecções
bacterianas e linfopenia em infecções virais. Severas infecções bacterianas e virais podem
causar leucopenia associada com neutropenia e linfopenia, ou ambas e também podem
reduzir o número de outros leucócitos. Salmonelose no cavalo e mastitis coliformes são
exemplos clássicos de infecção bacteriana que leva a neutropenia e linfopenia e a infecção
do vírus da panleucopenia felina é um exemplo de infecção viral. O retorno dos linfócitos e
dos eosinófilos no sangue, determinado por hemogramas sequenciais, indica
convalescência e é geralmente um sinal de bom prognóstico. A leucopenia ocorre
freqüentemente durante o estágio precoce da cinomose e é seguida de leucocitose por uma
infecção bacteriana secundária. Uma marcada linfopenia é um quadro consistente na
cinomose, devido a atrofia e necrose do tecido linfóide, produzido pelo vírus. Ambos os
linfócitos T e B estão reduzidos e a imunidade humoral e celular estão suprimidas em
animais sobreviventes. Em cães sobreviventes, o número de linfócitos no sangue
permanece baixo por um período prolongado.
Tipos de leucopenia
As leucopenias ocorrem principalmente por neutropenias, que podem ser agrupadas em
sobrevivência reduzida de neutrófilos maturos, produção reduzida pela medula óssea,
produção ineficaz de neutrófilos e seqüestro de neutrófilos.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
C. Produção ineficaz
Neutropenia imuno-mediada, resultando em sobrevivência reduzida. Ocorre em
animais, mas não tem sido bem documentada. Não há desvio para a esquerda e o
compartimento de estoque na medula óssea aparece normal ao exame.
PRINCIPAIS CAUSAS
Infecção bacteriana; efeito de esteróides; desordens linfoproliferativas;
Leucocitose Peritonite Infecciosa Felina; necrose tecidual e severa inflamação;
prenhês e parição em cadelas; desordens mieloproliferativas;
hipertireoidismo em gatos
Doenças virais; severa infecção bacteriana; anafilaxia; drogas e
Leucopenia químicos tóxicos; neoplasias de medula óssea; toxemias endógenas:
uremia; Toxoplasmose / Ehrlichiose /Leishmaniose
Diferencial de Leucócitos
O diferencial leucocitário é realizado no exame do esfregaço sanguíneo, em
contagem percentual de 100 leucócitos. Há uma técnica padrão para a confecção do
esfregaço sanguíneo e leitura diferencial leucocitária, para que se tenha homogeneidade
dos resultados. Um esfregaço com sangue mal homogeneizado, principalmente em cavalos,
poderá trazer diferenças diagnósticas pela desuniformidade na distribuição dos leucócitos
na lâmina.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
B. Desvio à direita
É a presença no sangue circulante de vários neutrófilos hipersegmentados, isto é;
neutrófilos com mais de 5 lóbulos. A hipersegmentação nuclear ocorre devido a presença
circulante de corticosteróides, tanto endógenos como exógenos. A deficiência da Vitamina
B12 também pode levar a hipersegmentação, mas é uma condição muito rara.
C. Reação leucemóide
A reação leucemóide é geralmente uma leucocitose reativa, consistindo de uma alta
contagem de leucócitos com uma contagem absoluta de um tipo de leucócito, ou também
um acentuado a extremo desvio à esquerda sugestivo de leucemia. Portanto, é um
processo patológico benigno, embora se assemelhe a leucemia granulocítica. Geralmente a
reação leucemóide envolvendo os neutrófilos é similar ao desvio à esquerda regenerativo e,
infreqüentemente, um severo desvio à esquerda degenerativo pode dar esta indicação.
Ocasionalmente, o quadro sangüíneo leucemóide pode envolver outros tipos de leucócitos,
como os linfócitos ou eosinófilos. Os resultados laboratoriais e a avaliação do paciente
revelam que a doença não é uma leucemia. Exemplos de reações leucemóides:
extremo desvio à esquerda regenerativo visto na piometra e peritonite ativa
crônica em cães;
acentuada linfocitose em condições supurativas crônicas como, por exemplo,
reticulite traumática.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
A. Neutrófilos Segmentados
Normal do cão: Ausência de Mielócitos e Metamielócitos
Bastonetes: 0 -3% (0 - 300/µl)
Neutrófilos: 60 - 77 (3 a 11.500/µl)
Depleção ou exaustão: causada geralmente por consumo agudo, pelo grande afluxo de
neutrófilos para o local de inflamação. Ocorre na mastite bovina e cólica eqüina. A
leucopenia é geralmente transitória, com neutrofilia responsiva em 2 a 4 dias.
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Neutrofilia a. Fisiológica
Adrenalina (medo, excitação)
Glicocorticóides endógenos e exógenos (trauma, dor,
hiperadrenocorticismo, estresse crônico severo)
b. Reativa
Infecções estabelecidas local ou sistêmica (bacteriana, viral, fúngica,
parasitária)
Necrose tecidual
Doenças imuno-mediadas (inflamatória: artrite reumatóide e não
inflamatória: anemia hemolítica autoimune)
Tumores
Toxicidade por estrógeno (inicial)
c. Proliferativas
Leucemia mielóide aguda ou crônica
Neutropenia a. Sobrevivência diminuída
Infecção bacteriana aguda
Septicemia
Toxemia
Anafilaxia
Esplenomegalia
b. Produção diminuída
Infecções agudas (Bacteriana, viral e riquétsias como Ehrlichia)
Drogas e químicos tóxicos (estrógeno)
Radiação
Leucemia mielóide ou linfóide
Hematopoiese cíclica canina
c. Granulopoiese ineficaz aumentada
Vírus da leucemia felina
Mieloptise
Leucemia mielóide ou linfóide
B. Eosinófilos
Normal do cão: 2 - 10% (100 a 1.250/µl)
C. Basófilos
Causas de Basofilia: dermatites alérgicas, eczemas e reações de hipersensibilidade.
D. Monócitos
Normal do cão: 3 – 10% (150 a 1.350/µl) gato: 1 - 4 (0 a 850/µl)
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Causas de Monocitose
Efeitos esteróides Inflamação/ infecção aguda ou crônica
Hiperadrenocorticismo Outras doenças causando dano e necrose tecidual
Administração de esteróides/ACTH Produção reduzida de granulócitos
Estresse severo – piometra Animais idosos
Doenças imunomediadas Leucemia monocítica ou mielomonocítica
E. Linfócitos
Normal do cão: 12 - 30% (1.000 a 4.800/µl)
A. Granulação tóxica
Granulação tóxica e/ou difusa basofilia citoplasmática acontece quando há
continuado estímulo à granulopoiese, pela extensão e/ou duração de um processo
inflamatório, há diminuição dos prazos de maturação das células precursoras, e os
neutrófilos chegam ao sangue com persistência da granulação primária, própria dos pró-
mielócitos, normalmente substituída pela granulação secundária, tênue e característica. Os
grânulos primários são ricos em enzimas e coram-se em pardo escuro com os corantes
37
Manual de Patologia Clínica Veterinária
B. Corpúsculos de Döhle
São áreas, na periferia dos neutrófilos, nas quais houve liquefação do retículo
endoplasmático. São de rara ocorrência, mas possuem interesse diagnóstico por refletirem
infecções graves e/ou sistêmicas.
C. Neutrófilos multisegmentados
No sangue normalmente predominam os neutrófilos com 2 a 4 lóbulos nucleares,
havendo poucos com cinco ou mais. O aumento ou predomínio de neutrófilos com mais de
cinco lóbulos - multisegmentados - é visto quando há uma maior permanência destes na
circulação. Esta sobrevida intravascular prolongada caracteriza o desvio à direita. Isto
acontece na insuficiência renal crônica, neutrofilias de longa duração, tratamentos com
corticóides ou estresse, defeitos genéticos raros ou em síndromes mieloproliferativas,
degeneração em amostras envelhecidas.
D. Linfócitos ativados
A ocorrência de linfócitos ativados acontece quando há um estímulo da série
linfocitária, com o aparecimento de linfócitos com citoplasma aumentado e basofílico, em
parte seguindo a diferenciação para plasmócitos, cuja presença é rara na circulação. A
ativação de linfócitos na circulação deve-se principalmente a uma exacerbada resposta
humoral ou a uma leucemia de células plasmocitárias (Mieloma Múltiplo).
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
êmbolo para evitar hemólise, dentro de vidro estéril contendo anticoagulante EDTA (2,0
mg/mL de sangue). Este anticoagulante é diluído a 10% na proporção de 0,1mL para
cada 5mL de sangue. A amostra pode ser utilizada para a realização do hemograma,
fibrinogênio e contagem de plaquetas.
6.1.2. Anticoagulantes
EDTA (Etileno diamino tetra acetato de sódio ou de potássio)
Modo de ação: reage através de seus dois radicais ácidos com cálcio plasmático, formando
um quelato com os elementos alcalino-terrosos, tornando-se insolúvel.
Uso: Recomendado para a rotina hematológica porque não interfere na morfologia celular,
preservando-a por até 24 horas quando refrigerado adequadamente. É pouco solúvel, e o
sal de potássio é o mais solúvel e mais caro. A diluição é realizada a 10%, e toma-se 0,1mL
de EDTA para 5mL de sangue.
Fluoreto de sódio
Modo de ação: quelante de cálcio, com a formação de sais insolúveis.
Uso: Como impede a glicólise sanguínea, realizada in vitro principalmente pelos eritrócitos,
é indicado para determinação da glicose. Há produto comercial pronto para uso, na medida
de 1 gota para cada 3mL de sangue.
Heparina
Modo de ação: atividade como inibidor da trombina e tromboplastina
Uso: Alguns bioquímicos. Como interfere na coloração do esfregaço sanguíneo, não é
recomendado para hemograma. A diluição é de 0,1mL de solução a 1% para não coagular
5,0mL de sangue. A heparina retarda a coagulação do sangue por apenas 8 horas.
Citrato de sódio
Modo de ação: quelante de cálcio, com a formação de sais insolúveis.
Uso: Provas de coagulação (tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial
ativada). Seu emprego se faz em soluções 1,34g%, na proporção de 10%, ou seja, 0,5mL
para 4,5mL de sangue.
39
Manual de Patologia Clínica Veterinária
O sangue dos frascos com EDTA e fluoreto de sódio (ambos quelantes de cálcio)
coagulam após um período de 8-12 minutos, visto que o gis oferece mais cálcio que a
capacidade quelante no tubo. Grosseiramente, você acabou de realizar o tempo de
coagulação.
O frasco com heparina não deve coagular com a adição do gis, pois sua atividade
anticoagulante não depende do cálcio. No entanto, decorridas 8-12 horas, o efeito
anticoagulante cessa, e o sangue do tubo com heparina deve coagular após este período.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Determinação
Princípio
Sedimentação dos elementos figurados do sangue, obtendo-se a proporção destes
elementos em relação ao plasma.
Tomar o frasco com sangue mais anticoagulante e homogeneizar;
Pegar o tubo capilar (75mm x 1mm ) e por capilaridade deixar o sangue preencher 2/3
do tubo;
Fechar a extremidade seca em chama de bico de Bunsen, girando-se o tubo;
Centrifugar o tubo a 12.000rpm por 5 minutos;
Ler em tabela que acompanha centrífuga, obtendo-se o resultado em %.
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incolor : cão/gato/homem
Cor normal amarela : herbívoros (caroteno)
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NORMAL NORMAL
ANEMIAS
Anemia Relativa DIMINUÍDO
POLICITEMIAS
Policitemia Relativa AUMENTADO
1 Verifique antes se o uso de animais para esta aula possui aprovação no Comitê de Ética da sua Instituição. As doses de
adrenalina e cortisol foram baseadas em prescrição terapêutica das mesmas.
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Método:
• Tomar o frasco com sangue mais anticoagulante e homogeneizar;
• Preencher pipeta de Sahli com 20µL do sangue;
• Limpar o sangue da parte externa da pipeta com gaze, adicionar a 4mL de reativo de
Drabkin e agitar por inversão;
• Repousar por um mínimo de 10 minutos à temperatura ambiente;
• Ler em espectrofotômetro a 546 nanômetros, usando-se tubos específicos;
• Obtém-se o resultado visualmente no aparelho na unidade de g%.
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45
Manual de Patologia Clínica Veterinária
Técnica de punção
• Introduzir a agulha rotacionando-a até que esta esteja firmemente fixada ao osso;
• Inserir a seringa de 20mL molhada com EDTA 3% na agulha e aspirar a medula
óssea. Um volume total de 0,5 a 1,0mL é suficiente para adequada avaliação;
• Soltar o êmbulo da seringa assim que surgir medula óssea no interior da mesma;
• A medula óssea possui gotículas de gordura que facilitam sua identificação. A
aspiração de maior quantidade de medula pode diluir a amostra (hemodiluição).
Confeccionar imediatamente cinco esfregaços e usar corantes de rotina;
• Caso seja necessário, colocar material medular em placa de Petri, e com auxílio do
capilar de microhematócrito, recolher os grumos medulares para a confecção dos
esfregaços. A vantagem deste processo é uma correta avaliação nos casos de
suspeita de hipoplasia ou aplasia medular.
2
Verifique antes se o uso de animais para esta aula possui aprovação no Comitê de Ética da sua Instituição.
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Corantes
A. Leishmann
- Preparo:
• Diluir 1,5g de Eosina-Azul de Metileno segundo Leishmann em 1 litro de metanol;
• Colocar em banho-maria a 37 ºC por 24 horas. Acondicionar em frasco âmbar;
• Maturar o corante deixando-o em repouso por 1 semana, ao abrigo da luz;
• Corrigir o pH, se necessário, para 7,6;
• Filtrar e usar.
- Uso:
• Colocar 20 gotas do corante e deixar agir por 3 minutos;
• Acrescentar 20 a 25 gotas de água destilada tamponada (pH ± 7,2);
• Deixar agir por 15 minutos;
• Lavar em água corrente e secar.
B. Panótico
Solução comercial pronta para uso com três corantes em série.
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Cálculo
Cálculo da Câmara de Newbauer para contagem de leucócitos
Área lateral: 4 x 1mm2 Volume de cada quadrado lateral: 1/10mm3
Profundidade: 1/10mm Volume total dos 4 quadrados laterais: 4/10mm3
Diluição da pipeta: 1/20 Números de quadrados laterais contados: 64
Portanto: 4 x 1 = 4 = 1 Ou seja,
10 20 200 50 o fator é x 50
Observação: 1µl = 1mm3
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Esfregaço sangüíneo
Preparar duas lâminas novas e desengorduradas, sendo uma com os cantos
arredondados;
Homogeneizar o sangue no frasco de colheita fechado, por inversão, e colocar com o
capilar do micro-hematócrito, antes de fechá-lo, uma gota de sangue na lâmina;
Colocar a outra lâmina (recortada) à frente da gota de sangue, num ângulo de 45º.
Fazer um ligeiro movimento para trás até o sangue espalhar -se pela lâmina;
Com um movimento uniforme, para frente, fazer esta lâmina deslizar sobre a outra. O
sangue se estenderá por sobre a lâmina, formando o esfregaço;
Agitar o esfregaço até secá-lo completamente e identificá-lo com lápis na borda mais
espessa do esfregaço.
Corante de Leishmann
Corante: diluir 1,5g de Eosina-Azul de Metileno segundo Leishmann em 1 litro de
metanol. Colocar em banho-maria a 37 ºC por 24 horas.Acondicionar em frasco
âmbar. Maturar o corante deixando-o em repouso por 1 semana, ao abrigo da luz.
Corrigir o pH, se necessário, para 7,6. Filtrar e usar.
Coloração: colocar 20 gotas do corante e deixar agir por 3 minutos. Acrescentar 20 a
25 gotas de água destilada tamponada (pH ± 7,2). Deixar agir por 15 minutos. Lavar
em água corrente e secar.
Contagem
Observar o esfregaço sanguíneo corado em objetiva de 40x (aumento de 400x),
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
PARTE 7: HEMOSTASIA
7. 1. Introdução
A hemostasia é o mecanismo que mantém a fluidez do sangue pelos vasos. Inclui o
controle da hemorragia e a dissolução do coágulo por meio de eventos mecânicos e
bioquímicos. Didaticamente pode-se dividir a hemostasia em primária, secundária e
terciária, embora os três processos estejam inter-relacionados. Na hemostasia primária,
tem-se vasoconstrição local, adesão e agregação plaquetária com conseqüente formação
de um tampão plaquetário inicial. A hemostasia secundária compreende uma série de
reações em cascata cujo resultado final é a formação de fibrina a partir do fibrinogênio que
confere estabilidade ao coágulo. A hemostasia terciária ou fibrinólise é ativada na mesma
ocasião da coagulação, existindo um equilíbrio fisiológico entre as mesmas, onde a
plasmina atua degradando a fibrina e desfazendo o coágulo formado. Os vasos sanguíneos
também participam ativamente no processo de coagulação.
7. 2. Vasos sanguíneos
O endotélio é inerte, mas quando o sangue é exposto ao colágeno sub-endotelial, os
mecanismos hemostáticos são ativados com conseqüente adesão e agregação plaquetária,
liberação de mediadores e em seguida a ativação do fator XII (hemostasia secundária).
Além disso, as células endoteliais são ricas em tromboplastina que também ativam o
sistema de coagulação.
Desordens vasculares podem ocorrer por problemas congênitos (raro) como a
deficiência de colágeno ou adquiridos como em uma extensa lesão por desordens
inflamatórias, imunes ou tumores. Dentre as causas adquiridas destacam-se as desordens
inflamatórias – como as causadas por bactéria, vírus, etc; desordem imune e tumores,
trauma.
O diagnóstico de desordem vascular é feito quando os problemas plaquetários e de
coagulação são descartados. Não existe técnica laboratorial que meça o status funcional
dos vasos sanguíneos diretamente, suspeita-se de distúrbios vasculares em animais com
hemorragias superficiais em que os demais testes da coagulação estão normais.
A. Cinética plaquetária
As plaquetas são formadas na medula óssea, a partir da célula pluripotencial (steam
cell), que vai dar origem a linha megacariocítica. A primeira célula da linha dos
megacariócitos é o megacarioblasto que vai formar o pró-megacariócito e
megacariócito. A divisão celular cessa, mas a divisão nuclear continua. Pode-se encontrar
células de 4 a 64 núcleos. Este processo é chamado endomitose. As plaquetas são
pequenos fragmentos do citoplasma do megacariócito liberados na corrente sangüínea. O
citoplasma do megacariócito é formado por longos pseudopodes que penetram nos
sinusóides das células endoteliais, liberando as plaquetas que são observadas como
pequenos discos com grânulos vermelhos com 2 a 5 µm de diâmetro (em gatos o tamanho é
variável) na circulação sanguínea.
Após o estímulo, as plaquetas aparecem entre 3 e 5 dias, e são controladas pela
trombopoetina e também pela eritropoetina, possuem uma vida média em torno de 8 dias,
51
Manual de Patologia Clínica Veterinária
sendo que cerca de um terço das plaquetas são seqüestradas pelo baço. O valor normal de
plaquetas é em torno de 300.000/µL, sendo que menos que 100.000/µL é claramente uma
trombocitopenia, até 50.000/µL é suficiente para prevenir hemorragia e com 30.000/µL ou
menos espera-se observar inclusive hemorragia espontânea.
B. Função plaquetária
A função primária das plaquetas é a manutenção da hemostasia por meio da
interação com as células endoteliais mantendo a integridade vascular. Adesão, agregação e
liberação plaquetária são eventos que podem ocorrer simultaneamente ou
independentemente, dependendo das condições de estímulos e circunstâncias. O transtorno
de qualquer um destes processos pode levar a desordens hemorrágicas.
A adesão é a aderência das plaquetas no local da lesão. Esta adesão plaquetária ao
endotélio é efetuada por meio de seus receptores de superfície para o colágeno e Fator de
von Willebrand que o liga plaqueta ao colágeno do subendotélio.
A agregação é uma resposta básica para a liberação de ADP (adenosina difosfato) na
presença do cálcio e é mediada pelo fibrinogênio presente no plasma. A compactação do
agregado se dá pela contração dos filamentos de actinomiosina presentes no citoplasma
plaquetário. A reação de liberação promove a agregação de agrupamentos plaquetários e o
acúmulo de mais plaquetas e assim uma série de reações em cadeia para formar uma capa
para deter a hemorragia.
As plaquetas se aderem ao colágeno do subendotélio e liberam aminas vasoativas
(serotonina, catecolaminas, adrenalina e outras) que promovem a vasoconstrição local com
liberação de ADP. O vaso contrai-se diminuindo o fluxo de sangue no local, causando a
agregação das plaquetas em resposta à liberação de ADP na presença dos íons cálcio,
formando a primeira camada de plaquetas. Estas plaquetas agregadas liberam ATP
(adenosina trifosfato) que é degradado a ADP por ATPase que facilita a maior agregação
das plaquetas no local da parede do vaso lesionado, sendo o suficiente para deter a
hemorragia, constituindo a primeira fase da coagulação.
As plaquetas também são importantes na coagulação sangüínea por fornecer
fosfolipídio plaquetário (fator III plaquetário que atua como um acelerador dos processos de
coagulação) e por carrear vários fatores de coagulação em suas superfícies.
Após a formação da primeira camada, inicia-se um depósito dos fatores de
coagulação, culminando com a transformação do fibrinogênio em fibrina, havendo um
depósito sobre as plaquetas, formando um trombo que constitui a fase terminal da
coagulação sanguínea.
Após a formação do tampão hemostático, iniciam-se os mecanismos fibrinolíticos,
que promovem a degradação enzimática do fibrinogênio e da fibrina e outros fatores da
coagulação ativados, permitindo o reparo definitivo da lesão vascular e o controle sobre os
eventos trombóticos. A manutenção do sangue dentro dos vasos e a sua fluidez por dentro
dos mesmos é mantida pelo equilíbrio entre a coagulação e a fibrinólise.
Função resumo
Adesão – é a aderência das plaquetas no local da lesão. É efetuada por meio de
seus receptores de superfície para o colágeno e facilitada pelo FvW que liga a
plaqueta ao colágeno do subendotélio.
Liberação – promove vasoconstrição local e agregação plaquetária.
Agregação – Significa a ligação entre as plaquetas e é uma resposta à liberação de
ADP na presença do cálcio.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
dá estabilidade ao coágulo.
A. Cascata de coagulação
A cascata de coagulação é um mecanismo complexo de reações seqüenciais que
culmina na formação de fibrina a partir do fibrinogênio. O conjunto de fatores que atuam na
coagulação, a maioria proteases, está representado na tabela 7.1. Os fatores de coagulação
são ativados predominantemente por exposição à tromboplastina tecidual, expressada na
superfície das células edoteliais ou fibroblastos extravasculares. Logo após a ativação
inicial, os fatores vão se ativando seqüencialmente e amplificando o estímulo inicial por
feedback. A cascata de coagulação tradicionalmente se divide em sistema intrínseco,
extrínseco e comum (figura 7.1).
CASCATA DE COAGULAÇÃO
O sistema intrínseco é a via que se inicia pelo contado do sangue com o colágeno
do subendotélio da parede vascular traumatizada ou corpo estranho. Neste momento ocorre
a ativação plaquetária e do fator XII que se ativa e subseqüentemente ativa o fator XI (para
essa reação é necessária à presença de cininogênio de alto peso molecular, calicreína e
precalicreina) este ativa o fator IX que ativa o fator VIII.
O sistema extrínseco se inicia por lesão vascular ou contato com tecido
extravascular que contém uma proteína de membrana denominada fator tecidual. O tecido
danificado também libera tromboplastina que ativa o fator VII (sistema extrínseco da
coagulação).
A ativação destes fatores, mais a presença de fosfolipídios plaquetários e cálcio dão
início ao sistema comum, pela ativação do fator X que em conjunto com esses fatores
ativam a protrombina (fator II) que se converte em trombina (fator II ativado) que converte o
fibrinogênio em fibrina. Após esta conversão, o fator XIII confere estabilidade a esta fibrina
através de ligações covalentes entre seus monômeros resultando numa malha firme de
fibrina sobre o endotélio lesado e o tampão plaquetário. A trombina é um potente pró-
coagulante capaz de acelerar as reações da cascata, formando grandes quantidades de
fibrina. Recentemente um novo esquema, onde ativação inicial pela tromboplastina tecidual
53
Manual de Patologia Clínica Veterinária
que forma uma quantidade de trombina, que daria início à amplificação e ativação dos
sistemas intrínseco, extrínseco e comum foi sugerido.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Outros testes específicos podem ser indicados após o resultado dos testes preliminares.
A. Contagem de plaquetas
É a avaliação quantitativa das plaquetas. Valores acima da referência da espécie
conferem uma trombocitose e valores abaixo, uma trombocitopenia. A contagem pode ser
automática ou em um hemocitômetro. A amostra deve ser coletada de forma não traumática,
pois o trauma pode causar a ativação plaquetária com formação de agregados que podem
falsamente diminuir o número de plaquetas. Requer amostra com EDTA (etileno diamino-
tetraacetato de sódio ou potássio). A contagem em hemocitômetro possui alto coeficiente de
erro (20 a 25%). A contagem em gatos é difícil devido ao grande tamanho das plaquetas.
As plaquetas podem ser estimadas pela observação no esfregaço sanguíneo com
objetiva de 100x. Deve-se contar no mínimo 10 campos e fazer uma média:
10 a 20 plaquetas/campo = normal
4 a 10 plaquetas/campo = trombocitopenia
< que 4 plaquetas/campo = severa trombocitopenia
1 plaqueta/campo = 15.000 a 20.000 plaquetas/µL
A avaliação da morfologia das plaquetas também deve ser feita, a presença de
macroplaquetas ou agregados plaquetários exerce influência sobre a contagem e função
plaquetária e, por isso, devem ser descritos no laudo. Os valores normais de plaquetas/µL
são: Cão: 200.000 a 500.000; Gato: 200.000 a 500.000; Eqüino: 100.000 a 600.000 e
Bovino: 200.000 a 800.000.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
D. Tempos de coagulação
Tempo de coagulação ativado (TCa)
É um teste bastante utilizado na clínica veterinária por ser rápido e de fácil execução.
É baseado na ativação da coagulação pelo contato do sangue venoso com ativadores de
contato, portanto avalia o sistema intrínseco e comum da coagulação.
O método consiste em adicionar 2mL de sangue venoso em um tubo estéril, pré
aquecido a 37ºC contendo proteínas de contato. Após a adição do sangue deve-se colocar o
tubo em banho-maria observando-o a cada 5 a 10 segundos até a formação do coágulo. O
resultado do teste consiste no tempo decorrido da adição do sangue a formação do coágulo
e é medido em segundos. É pouco sensível, necessita muita atenção e ausência de
contaminação com tromboplastina tecidual. Animais com trombocitopenia severa também
podem alterar o TCa. Anticoagulantes, alguns antibióticos, salicilatos e barbitúricos também
podem prolongar o teste. Valores normais de TCa (segundos): Cão: 60 a 90, Eqüino: 145 a
181 e Bovino: 127 a 163.
E. Fibrinólise
Produtos de degradação da fibrina (PDF)
A fibrina é quebrada pela plasmina em fragmentos. O aumento de PDFs indicam
excessiva fibrinólise. O método utiliza aglutinação em látex por kits comercias, é
principalmente utilizado para diagnóstico de CID, mas também pode estar aumentado após
cirurgia. Os valores normais são Cão: < 40µg/mL; Gato: < 8µg/mL e Eqüino: < 16µg/mL.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Fibrinogênio
O fibrinogênio é uma proteína de coagulação (fator I da coagulação) produzida pelo
fígado. Também é chamado de proteína de fase aguda porque sua concentração no sangue
aumenta rapidamente em resposta a processos inflamatórios. A amostra de sangue deve
ser coletada com EDTA a 10%. O método consiste no aquecimento do plasma a 56-58°C
por 3 minutos e posterior centrifugação. O aquecimento do plasma precipita o fibrinogênio e
a centrifugação o separa dos demais constituintes plasmáticos. Faz-se então a leitura das
proteínas plasmáticas totais por refratometria e posteriormente a leitura do plasma com o
fibrinogênio precipitado. A diferença dos valores obtidos refere-se a concentração de
fibrinogênio plasmático. Está diminuído na CID. Valores normais de fibrinogênio (g/L): Cão:
1 a 5; Gato: 0,5 a 3; Cavalo: 1 a 4; Bovinos: 2 a 7
7. 7. Distúrbios hemostáticos
A. Desordens plaquetárias
A avaliação das plaquetas é realizada em dois níveis: quantitativos e qualitativos.
Para avaliação quantitativa faz-se a contagem de plaquetas e para avaliação qualitativa o
TSMO. A trombocitopenia (número reduzido de plaquetas) é a anormalidade mais comum
das plaquetas.
Trombocitopenia
É a diminuição do número de plaquetas abaixo do valor de referência para a espécie
A trombocitopenia é a anormalidade mais comum encontrada nas plaquetas e
provavelmente é a causa mais comum de diátese hemorrágica. São cinco os mecanismos
que podem levar a uma trombocitopenia:
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
imune, e ainda por drogas: podem servir como carreadoras de proteínas as quais revestem
as plaquetas e são reconhecidas por anticorpos. Removidas pelo SMF.
Desordens congênitas
1. Doença de von Willebrand (DvW): pode afetar várias espécies animais e o homem. O
Fator de von Willebrand é uma glicoproteína multimérica produzida por megacariócitos e
células endoteliais que facilita a adesão da plaqueta ao colágeno e vaso sanguíneo, a
agregação plaquetária no plasma se associa com fator VIII estabilizando este fator e
aumentando seu tempo de circulação. É a mais comum das desordens de sangramento
hereditárias, sendo reconhecidas em mais de 54 raças de cães. Existem três tipos da
doença de acordo com o tipo de defeito na molécula ou função:
Tipo I: multímeros normais, mas diminuídos. Severidade variável é a forma mais comum,
comum em Dobermanns; Tipo II: multímeros com defeito de função, de severidade variável,
comum em Pointer Alemão; Tipo III: forma mais severa, comum no Scottish Terrier.
Desordens adquiridas
São multifatoriais, mas essencialmente envolvem defeitos de ativação, aderência,
agregação e reação de liberação por causa de substâncias anormais no plasma ou
anormalidade estrutural adquirida.
1. Doença renal com uremia: adesividade reduzida ao endotélio. Esta anormalidade das
plaquetas se deve aos metabólitos da uréia como o ácido guanidino succínico e fenólico.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
4. Drogas
4.1. Antiinflamatórios não esteroidais: A. Ácido acetilsalicílico: Inibe Tromboxano A2
(iniciador da agregação plaquetária). A inibição é irreversível, portanto a função
plaquetária fica dependente de uma nova produção. B. Ibuprofeno, fenilbutazona e
indometacina causam inibição plaquetária reversível.
4.2. Outras drogas: Sulfonamidas, penicilinas, tranqüilizantes prozamínicos causam
respostas variáveis.
B. Coagulopatias
O termo coagulopatia refere-se à deficiência ou defeito de um ou mais fatores da
coagulação. Estas podem ser congênitas ou adquiridas e geralmente estão associadas à
falha na síntese dos fatores de coagulação
Coagulopatias hereditárias
São causadas por problemas de conteúdo genético. Sempre suspeitar quando frente
a animais jovens, com raça definida que apresentem diátese hemorrágica.
Hemofilia B – Fator IX
É também conhecida como doença de Christmas e se caracteriza pela ausência do
fator hemofílico B ou fator IX. Assim como na hemofilia A é ligada ao sexo e afeta somente
machos, com ocorrência rara em cães e gatos. O perfil de diagnóstico é semelhante a
hemofilia A, para diferencia-las e necessário testes específicos em laboiratórios
especializados. O diagnóstico laboratorial é feito com Tempo de sangramento: normal, TP:
normal e TTPa: prolongado.
Outros fatores:
Deficiência de fator VII - sistema extrínseco: Afeta várias raças de cães, principalmente os
Beagles. No diagnóstico observa-se TP: prolongado e TTPa: normal.
Deficiência de fator XII - sistema intrínseco: as principais raças de cães afetadas são:
poodle, pointer alemão e sharpei. Também afeta gatos. Diagnóstico com TP: normal e
TTPa: prolongado.
Deficiência de fator XI - sistema intrínseco: Afeta cães e cabras. Diagnóstico com TP:
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Deficiência de fator X - Sistema comum: Afeta Cocker Spaniel e Jack Russel Terrier.
Diagnóstico com TP: prolongado e TTPa: prolongado.
Coagulopatias adquiridas
Deficiência de Vitamina K
A vitamina K é essencial na formação de várias proteínas da coagulação. Os fatores
vitamina K-dependentes são: II, VII, IX e X, portanto um problema relacionado com a
vitamina K afeta os três sistemas. Esses fatores são sintetizados em uma forma afuncional
(acarboxiladas) e sofrem uma reação de carboxilação em que a vitamina K participa como
cofator, produzindo centro de ligação para o cálcio, necessário para sua função normal.
Durante esta reação a vitamina K é convertida num metabólito inativo (vitamina K-epóxido).
A enzima epóxido-redutase é responsável pela reciclagem deste metabólito, convertendo-o
para a forma ativa, razão pela qual a necessidade diária de vitamina K é pequena. Dentre as
principais causas de problemas hemostáticos relacionados com a vitamina K estão:
Ingestão de rodenticidas anticoagulantes que levam à inibição desta enzima, e à rápida
depleção dos estoques de vitamina K do organismo (ex: warfarina e cumarínicos).
Deficiência de sais biliares no intestino: impede a absorção da vitamina K que é
lipossolúvel.
Doença hepática pode resultar na falta de utilização da vitamina.
O diagnóstico laboratorial típico inclui TP: prolongado e TTPa: prolongado.
Doença hepática
O fígado é o local de síntese de proteínas da coagulação (fatores protéicos).
Problemas de coagulação causados por doença hepática só acontecem em casos severos,
nestes casos todos os sistemas da coagulação são afetados, pois todos os sistemas
possuem fatores produzidos pelo fígado. Cerca de 50% dos gatos com lipidose hepática
podem apresentar problema. O diagnóstico da doença hepática deve ser feito com uma boa
avaliação clínico-laboratorial e previamente aos testes de coagulação deve-se utilizar os
testes lesão e função hepática, biópsia e punção por agulha fina, diagnóstico por imagem,
etc. Devido a meia vida do fator VII ser curta, a determinação da atividade deste fator é
utilizada como auxílio diagnóstico de doença hepática aguda ou crônica.
O diagnóstico laboratorial pode incluir TP: prolongado e TTPa: prolongado.
Acidente ofídico
O veneno das serpentes do gênero Bothrops possui ação anticoagulante, proteolítica
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Avaliação clínico-laboratorial
A avaliação para as desordens hemostáticas depende de uma história clínica
detalhada e de um bom exame físico. Na história clínica deve-se destacar história de
sangramentos, trauma, cirurgia e levar em consideração idade, sexo, raça e terapia com
drogas. No exame físico deve-se observar o tipo de sangramento. Hemorragias superficiais
como petéquias e equimoses são sinais de problemas na hemostasia primária
(trombocitopenia ou trombocitopatia) ou lesão vascular. Hemorragias, hematomas e
hemartroses são prováveis sinais de problemas na hemostasia secundária, ou seja, nos
fatores de coagulação.
Quando um animal apresentar quadro de hemorragias superficiais, aconselha-se a
seguir os seguintes passos:
1. Contagem de plaquetas: no caso de uma trombocitopenia, procurar a causa. Os possíveis
mecanismos para a trombocitopenia são: produção diminuída, destruição, consumo,
seqüestro ou perda. Para diferenciar problemas de produção pode-se fazer aspirado de
medula óssea e observar o número e morfologia dos megacariócitos. No caso das plaquetas
estarem em número normal, seguir o passo 2.
2. Tempo de sangramento na mucosa oral: no caso do tempo estar prolongado, tem-se uma
trombocitopatia, deve-se, portanto diferencia-la em congênita ou adquirida. No caso do
tempo de sangramento estar normal, deve-se suspeitar de desordem vascular.
3. Testes de coagulação: são indicados quando na suspeita de coagulopatias.
Coagulopatias congênitas e ou hereditárias são mais freqüentes em animais jovens e de
raça definida. Os sinais mais comuns são hemorragias e hematomas. Deficiências de
fatores de coagulação não tendem a formar petéquias e equimoses, porém os testes
plaquetários devem ser realizados previamente, pois trombocitopenias severas podem
causar sangramentos confundindo o diagnóstico e deve-se estar atendo a coagulopatias
adquiridas como CID que afeta as três fases da coagulação e com a DvW que apesar de ser
uma trombocitopatia pode gerar sangramento pela interferência no fator VIII da cascata.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Contagem de plaquetas
Contagem na câmara de Neubauer
Tomar o frasco com sangue mais anticoagulante e homogeneizar;
Com a pipeta de Thoma para glóbulos vermelhos, aspirar o sangue até a marca 1;
Limpar o sangue da parte externa da pipeta com gaze;
Diluir em seguida com solução de oxalato de amônio a 1% (líquido de Brecher) até a
marca 101;
Agitar por aproximadamente 5 minutos;
Desprezar as primeiras gotas e encher a câmara de Neubauer por capilaridade;
Deixar a câmara em repouso por 20 minutos;
Contar as plaquetas dos 5 quadrados pequenos centrais de cada lado da câmara
totalizando 10 quadrados (figura 7.2) e multiplicar por 2500.
62
Manual de Patologia Clínica Veterinária
Cálculo do fator
Cálculo da Câmara de Neubauer para contagem de plaquetas
Área central: 1mm2 Volume da área central: 1/10mm3
Profundidade: 1/10mm Volume de cada quadrado médio central:
1/250mm3
Diluição da pipeta: 1/100 Números de quadrados médios centrais contados:
10
Portanto: 10 x 1 = 10 = 1 Ou seja,
252,5 100 25250 2525 o fator é x 2525
Observação: 1µl = 1mm3
63
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
8. 2. O néfron
A unidade funcional do rim é o néfron, o conhecimento da sua função é essencial
para entender a função renal. O número de néfrons varia consideravelmente entre as
espécies, de 190.000 néfrons/rim no gato à 4.000.000 néfrons/rim no bovino. Ele é
composto por vários tipos celulares incumbidos de efetuar funções individuais, e preparados
para responder, quando necessário, a uma série de sinais diretos e indiretos. O néfron é
formado pelo glomérulo que é responsável pela filtração e pelo sistema tubular que é
dividido em vários segmentos, onde o líquido filtrado é transformado em urina durante o seu
trajeto até a pelve renal.
Os dois rins juntos recebem aproximadamente 25% do débito cardíaco. O sangue entra no
glomérulo pela arteríola aferente e sai pela arteríola eferente. O glomérulo é uma rede de
até 50 capilares paralelos, ramificados e anastomosados, recobertos por células epiteliais e
envoltos pela cápsula de Bowman. A pressão do sangue no glomérulo acarreta a filtração
do líquido para o interior da cápsula de Bowman, e a partir daí, o líquido flui para o túbulo
proximal, localizado no córtex renal juntamente com o glomérulo.
Do túbulo proximal, o líquido passa para a Alça de Henle, que mergulha na massa
renal, com algumas das alças atingindo a parte inferior da medula renal. Cada alça é
dividida em ramo descendente e ascendente. A porção descendente e a extremidade
inferior da ascendente são extremamente finas, sendo chamadas segmento delgado da
alça de Henle. A outra porção da alça ascendente possui mesma espessura das outras
porções tubulares, e é denominada de segmento espesso do ramo ascendente. Após
passar pela alça de henle o líquido atinge o túbulo distal, no córtex renal. Até 8 túbulos
distais formam o túbulo coletor, que volta a mergulhar na medula e sua extremidade passa
a constituir o canal coletor. Os canais coletores unem-se para formar canais coletores
maiores. Estes irão se lançar na pelve renal pelas papilas renais que são projeções da
medula que fazem protusões para dentro dos cálices renais (recessos da pelve renal).
A medida que o filtrado glomerular flui através dos túbulos, mais de 99% de sua água
e quantidades variáveis de seus solutos são reabsorvidos normalmente para o sistema
vascular, e pequenas quantidades de algumas substâncias são também secretadas para os
túbulos. O restante da água tubular e das substâncias dissolvidas passa a constituir a urina
(Figura 8.1).
Uma rede de capilares peritubulares responsabiliza-se pela irrigação sanguínea do
65
Manual de Patologia Clínica Veterinária
rim. Esta rede recebe o sangue proveniente das arteríolas aferentes após passagem pelo
glomérulo.
A função básica do néfron consiste em “depurar” o plasma sangüíneo de substâncias
indesejáveis como os produtos finais do metabolismo proteico (uréia), muscular (creatinina),
ácido úrico e uratos. Os íons sódio, potássio, cloro e hidrogênio que tendem a acumular-se
em quantidades excessivas também são filtrados pelos néfrons. Os mecanismos básicos da
função renal são filtração, reabsorção de substâncias necessárias para o metabolismo e
secreção (tabela 8.1).
Tabela 8.1. Estruturas renais e suas funções de acordo com os segmentos celulares
ESTRUTURA FUNÇÃO
Glomérulo Filtração do sangue
Túbulo proximal Reabsorção volumosa da água e solutos filtrados
Segmento delgado da alça de Henle Manutenção da hipertonicidade medular pelo
mecanismo de contra-corrente
Segmento espesso do ramo Reabsorção de NaCl , geração da hipertonicidade
ascendente da alça de Henle medular, diluição do fluido tubular e reabsorção de
cations divalentes
Túbulo contornado distal Reabsorção de NaCl, diluição do fluido tubular e
reabsorção de cations divalentes
Sistema de ductos coletores Controle final da taxa de excreção de eletrólitos,
controle ácido–base e da água
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
8. 3. Filtração glomerular
O glomérulo constitui uma rede de capilares especificamente designado para reter
componentes celulares e proteínas de alto e médio peso molecular no sistema vascular
enquanto provem um fluido tubular que inicialmente possui uma composição eletrolítica e
aquosa idêntica a do plasma. O fluido tubular inicial é chamado de filtrado glomerular e o
seu processo de formação é conhecido como filtração glomerular. A taxa de filtração
glomerular (TFG) é um parâmetro para avaliação da função renal.
O tufo glomerular é coberto por uma camada de células epiteliais denominada
Cápsula de Bowman. A área entre o glomérulo e a cápsula de Bowman é denominada
espaço de Bowman onde é o sítio da coleção de filtrado glomerular que vai desembocar no
primeiro segmento tubular, o túbulo proximal.
A estrutura dos capilares glomerulares é importante para determinar a taxa e
seletividade da filtração glomerular. A permeabilidade desses capilares é de 100 a 500x
maior comparado a um capilar normal. A presença de numerosas fenestras nas células
endoteliais dos capilares glomerulares permite esta permeabilidade. Devido a isso, o volume
filtrado produzido é muito grande porém com uma grande seletividade para tamanho
molecular. A membrana glomerular é praticamente impermeável a todas as proteínas
plasmáticas, porém é altamente permeável a outras substâncias dissolvidas no plasma
normal. Essa permeabilidade seletiva é responsável pelas diferentes taxas de filtração do
sangue. Em condições normais, os componentes celulares e proteínas plasmáticas de
tamanho igual ou superior ao da albumina (aproximadamente 6nm), não atravessam a
barreira de filtração enquanto a água e os solutos são livremente filtrados. Outro aspecto é a
carga elétrica das proteínas plasmáticas. A parede glomerular possui glicoproteínas de
carga elétrica negativa incorporadas a membrana basal que repelem negativamente
proteínas plasmáticas de carga negativa reduzindo a passagem pela barreira de filtração. O
formato e a deformidade também são aspectos relevantes na filtração.
O alto grau de seletividade da membrana está relacionado ao tamanho dos poros
(permite a passagem de proteínas até 8nm) e a elevada negatividade dos poros
glomerulares que repulsam moléculas protéicas.
A composição do filtrado glomerular é semelhante ao líquido intersticial (solutos e
eletrólitos). Diariamente, o ritmo de filtração glomerular no cão é de 53,3 litros/dia. O filtrado
difere do plasma por não possuir suficiente quantidade de proteínas.
67
Manual de Patologia Clínica Veterinária
solutos tubulares que não são reabsorvidos ativamente, mas que são difusíveis através da
membrana tubular. Uma grande proporção de uréia permanece nos túbulos e é perdida na
urina habitualmente cerca de 50% de toda quantidade que penetra no filtrado glomerular. A
permeabilidade da membrana tubular para reabsorção de creatinina, insulina (um grande
polissacarídeo), manitol (um monossacarídeo) e sacarose é nula, o que significa que uma
vez que essas substâncias foram filtradas para dentro do filtrado glomerular são na
totalidade eliminadas pela urina.
O controle da permeabilidade do canal coletor à água é feito pelo ADH. Em situações
onde há secreção excessiva desse hormônio, a água é reabsorvida para o interstício
medular em grandes quantidades, reduzindo assim o volume de urina e concentrando a
maioria dos solutos. A segunda característica importante do epitélio do canal coletor é sua
capacidade de secretar H+, contra um gradiente muito alto desses íons; desempenhando
um papel extremamente importante no controle do equilíbrio ácido-básico dos líquidos
corporais.
8. 6. Urinálise
A. Colheita
A colheita da urina é de fundamental importância e varia de acordo com a espécie. A
urina pode ser obtida das seguintes formas:
Micção natural
A amostra de urina pode ser obtida no momento da micção natural, por meio de
recipiente direcionado oportunamente. Mais indicado para grandes animais, principalmente
pela dificuldade de cateterização. A micção pode ser estimulada em bovinos e eqüinos por
leve massagem perigenital. Em cães pode-se estimular a micção realizando um breve
passeio. Deve-se desprezar a porção inicial da amostra de urina colhida por micção natural,
pois poderá conter detritos celulares, leucócitos e exsudato provenientes da uretra, prepúcio
e trato genital.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Cateterismo
A amostra de urina pode ser obtida por cateterismo vesical, utilizando-se sondas
apropriadas para a espécie, sexo e tamanho do animal. Indicado quando há necessidade
rápida de colheita, ou quando terapêutico, como em urolitíases ou cirurgias.
Deve-se tomar cuidado para evitar contaminação com substâncias que possam
interferir na urinálise, a exemplo das substâncias lubrificantes; evitar a traumatização da
uretra.
Cistocentese
Constitui a técnica de colheita de urina mais adequada para animais de pequeno
porte pela facilidade, baixo custo e confiabilidade no resultado do exame. Especificamente
indicada para obtenção de amostras destinadas à cultura bacteriana e antibiograma.
A cistocentese só é praticável quando a bexiga estiver com volume de urina
suficiente, permitindo a punção sem riscos de injúrias aos órgãos abdominais. O paciente
deve ser preparado com tricotomia e antissepsia local e o procedimento deve ser realizado
com auxílio de uma seringa estéril de 10 ou 20mL e agulha hipodérmica 25x7/30x8. Para
facilitar a identificação do órgão, pode-se fazer a punção com auxílio da ultrassonografia.
B. Acondicionamento
A urina deve ser colhida em recipiente limpo, podendo ser de vidro ou plástico e
obrigatoriamente estéril se a amostra for submetida a isolamento bacteriano e antibiograma.
Se a amostra de urina não for analisada imediatamente após a colheita, os frascos escuros
são preferíveis pois a luz ambiental pode ocasionar a degradação de certos constituintes da
urina, tais como bilirrubina e urobilinogênio, em menos de uma hora.
A primeira urina da manhã é preferível, pois provavelmente contém os elementos de
significado diagnóstico, enquanto a ingestão de líquidos durante o dia dilui a urina.
Sempre que possível, a amostra deve ser processada imediatamente após a
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
colheita, pois após 2 horas já ocorrem alterações dos componentes iniciais. Podem ser
verificadas alterações químicas e físicas em um breve espaço de tempo quando a amostra
for deixada à temperatura ambiente. Nesse caso, as bactérias, quando presentes, proliferam
rapidamente e se forem redutoras de uréia irão alcalinizar a amostra. A urina alcalina, por
sua vez, tende a dissolver os cilindros e ocasionar a cristalização dos solutos alterando o
aspecto macro e microscópico da urina.
Uma boa maneira de conservar a urina é mantê-la em temperatura de refrigeração (1
a 4°C) por até 12 horas pós colheita, tomando-se o cuidado de deixar a urina retomar a
temperatura ambiente previamente ao exame. Temperaturas inferiores à de refrigeração
podem elevar a densidade específica da amostra e podem degradar os constituintes
celulares.
Quando não for possível a realização imediata da urinálise, ou quando não houver
condição de acondicioná-la adequadamente, pode-se utilizar substâncias conservantes de
ação antibacteriana, tais como o tolueno, o timol e a formalina. A formalina deve ser utilizada
na diluição de uma gota a 40% para cada 30mL de urina. Este modo de conservação torna
inviáveis as provas químicas da urina.
O frasco contendo a urina deve ser identificado, e enviado junto com a requisição
devidamente preenchida.
Exame n° : _________
Proprietário : RG : Data: / /
Espécie : Raça : Sexo : Idade : Horário colheita :
Diagnóstico provisório: Sob Tratamento? Qual?
História Clínica resumida :
Colheita: ( ) Cistocentese ( ) Cateterismo ( ) Micção natural
C. Exame da urina
O exame de urina deve ser realizado e interpretado segundo estas informações:
Exame Físico
O exame físico da urina é de simples realização, e pode fornecer informações
importantes.
Volume (mL)
A quantidade de urina excretada por dia por animais normais depende de alguns
fatores, a saber: dieta, ingestão de líquidos, temperatura ambiente e umidade relativa do ar,
atividade, tamanho e peso do animal. Como em animais a obtenção de urina padrão de 24
horas é muito difícil, o volume é na verdade a quantidade de urina recebida pelo laboratório.
O volume mínimo para a realização adequada do exame é de 10mL.
Em condições de saúde, o volume urinário é inversamente proporcional à densidade
urinária específica; portanto, o aumento da quantidade de urina excretada, ou poliúria, está
associada à densidade específica baixa; e a oligúria, diminuição do volume urinário está
associada à densidade específica elevada (quadro 8.1).
Cor
A cor da urina deve sempre ser considerada associada à densidade específica e
volume urinário. A intensidade da coloração urinária depende da concentração de
urocromos, e varia inversamente com o volume urinário. A coloração normal da urina pode
variar do amarelo-palha ao âmbar claro, e em eqüinos até a tonalidade amarronzada. Entre
as cores mais importantes:
- Pálida ou amarelo-clara: geralmente é uma urina diluida com densidade baixa e associada à
poliúria. Pode ser observada na doença renal terminal, ingestão excessiva de líquidos,
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
A urina normal quando agitada forma uma certa quantidade de espuma branca,
típica. Na proteinúria, a quantidade de espuma é abundante e demora a desaparecer. Na
bilirrubinúria a espuma frequentemente apresenta-se esverdeada ou acastanhada; na
hemoglobinúria, a espuma apresenta-se avermelhada.
Odor
A urina Sui generis ou normal dos herbívoros tem um odor aromático, mais intenso
nos ruminantes, enquanto que nos carnívoros é picante e aliáceo. O odor da urina dos
machos de
certas espécies é pronunciado, e às vezes até repugnante (suíno, felino e caprino). O odor
normal da urina é conferido pela presença de ácidos orgânicos voláteis. Entre os odores
mais importantes:
Aspecto
A maioria das espécies domésticas apresenta normalmente urina transparente ou
límpida; a única exceção é o eqüino, cuja urina é turva devido à presença de cristais de
carbonato de cálcio e muco. Apresenta-se turva quando alterada e pode representar uma
grande quantidade de leucócitos, eritrócitos, células epiteliais de descamação, muco e
bactérias do trato urinário. A contaminação da urina por exsudato de trato genital também
pode ser a causa da turvação da urina colhida sem cateterização. A melhor forma de
detectar a causa da turvação da urina é através do exame do sedimento.
Sedimento
Avaliado após a centrifugação de no mínimo 5mL de amostra e em animais normais
apresenta-se discreto. Quando abundante pode ser devido à alta concentração urinária de
cristais, leucócitos ou outros componentes. A cor do sobrenadante é também importante, em
especial para diferenciar hemoglobinúria (avermelhado) de hematúria (límpido).
Consistência
Normalmente líquida, e levemente viscosa em eqüinos. Altera-se na leucocitúria ou
piúria, cristalúria, etc.
Densidade
Representa a concentração dos sólidos em solução urinária e retrata o grau de
reabsorção tubular ou da concentração renal. Preferencialmente é obtida por refratometria
uma vez que as tiras urinárias não são eficazes para determinar a densidade em caninos.
Para determinação, prefere-se o uso do sobrenadante após a centrifugação.
71
Manual de Patologia Clínica Veterinária
A densidade urinária é influenciada por fatores como peso corporal, dieta, exercício,
idade, condições climáticas e metabolismo.
Os valores normais de densidade específica urinária variam entre limites muito
amplos. De um modo geral, pode-se considerar uma variação entre 1015 e 1045, sendo que
uma única determinação fora destes limites não significa, obrigatoriamente, alteração renal.
Portanto, deve ser interpretada junto ao grau de hidratação e ingestão hídrica recente do
animal.
Quanto à classificação, a urina pode ser denominada de hipostenúrica (menor ou
igual a 1007), isostenúrica (entre 1008 a 1012) e de elevada densidade urinária (acima de
1030 para cães e 1035 para gatos). Em algumas doenças renais, observa-se há perda da
capacidade renal de concentrar a urina, reduzindo a densidade. As causas mais freqüentes
de alterações na densidade específica urinária estão representadas no quadro 8.1.
Exame Químico
O exame químico da urina é realizado com o auxílio de fitas reagentes de química
seca, obtidas comercialmente para laboratórios humanos. É importante lembrar que uma
baixa densidade urinária significa diluição dos constituintes químicos urinários.
pH
A concentração hidrogeniônica da urina é particularmente influenciada pela dieta.
Animais mantidos com dieta predominantemente vegetal apresentam urina alcalina, devido
à presença de bicarbonato de cálcio solúvel; por outro lado, os animais cuja alimentação é
rica em proteínas e cereais apresentam urina ácida, devido à presença de fosfatos ácidos
de sódio e cálcio.
O pH urinário é, portanto ácido nos carnívoros (5,5 a 7,0) e alcalino (7,5 a 8,5) nos
herbívoros. Animais novos, em fase de amamentação, apresentam pH urinário ácido,
mesmo que o adulto da mesma espécie tenha predominantemente pH urinário alcalino. As
alterações do pH urinário geralmente indicam mais uma alteração sistêmica do que um
processo localizado em nível de sistema urinário.
São causas de urina alcalina: atraso no processamento e má conservação da
amostra, cistite associada a bactérias produtoras de urease (Staphylococcus sp. e Proteus
sp.), administração de alcalinizantes (bicarbonato de sódio, lactato de sódio, citrato de
sódio), retenção urinária vesical e alcalose metabólica ou respiratória.
No caso de urina ácida, dentre as causas podem ser mencionadas: dieta
hiperproteica, administração de acidificantes (cloreto de amônio, cloreto de cálcio, DL-
metionina, fosfato ácido de sódio), catabolismo de proteínas orgânicas (febre, jejum,
Diabetes melito), acidose metabólica ou respiratória, principalmente uremia e Diabetes
melito.
Proteínas (mg/dl)
A proteinúria deve ser sempre interpretada em associação com a densidade
específica e outros dados clínicos e laboratoriais. Em condições normais a quantidade de
proteína na urina é muito pequena e geralmente as tiras urinárias não detectam.
As tiras de urinálise são sensíveis para albumina e não para proteínas Bence-Jones.
Geralmente o pH urinário elevado pode interferir o resultado desse método e nesse caso
(pH urinário acima de 7,5) recomenda-se os testes de precipitação ácida (ácido
sulfosalicílico) para detecção semiquantitativa de proteína na urina. Essa técnica detecta
albumina e demais tipos de proteína. O grau de proteinúria não é necessariamente
proporcional à severidade da doença principalmente na proteinúria renal. As causas de
proteinúria são relacionadas no quadro 8.2.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
PROTEINÚRIA FISIOLÓGICA
- Exercício muscular excessivo
- Convulsões
- Ingestão excessiva de proteínas
- Função renal alterada nos primeiros dias de vida
PROTEINÚRIA PATOLÓGICA
Origem Significado Patologias
Pré-renal - Doença primária não renal. Hemoglobinúria
Mioglobinúria
γ - Globulinúria
- Aumento da permeabilidade capilar Nefrose / Cistos renais
Renal - Doença tubular com perda funcional Glomerulonefite
- Sangue ou exsudato inflamatório renal Nefrite / Pielonefrite
Neoplasias / Hipoplasia
Pós-renal - Infecções do trato urinário inferior Pielite / Ureterite
- Hematúria pós-renal Cistite / Uretrite
- Obstrução por cálculos (urolitíase) Vaginite / Postite
Glicose (mg/dl)
A urina normal é isenta de glicose, pois a glicose filtrada pelo glomérulo é totalmente
reabsorvida pelos túbulos contorcidos proximais. A glicosúria ocorre sempre que a glicemia
exceder a capacidade de reabsorção renal (tabela 8.2)
A glicosúria pode estar associada a hiperglicemia na Diabetes melito, no
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Bilirrubina
A bilirrubinúria deve sempre ser interpretada em associação a densidade específica
urinária. A urina obtida de cães sadios normalmente contém alguma quantidade de
bilirrubina, principalmente quando a amostra possui elevada densidade específica. O limiar
de excreção de bilirrubina no cão é baixo em condições normais e por isso, normalmente,
não se observa.
A bilirrubinúria está relacionada a hepatopatias (hepatite infecciosa canina,
Leptospirose e neoplasias) e a obstrução das vias biliares com colestase intra e extra-
hepática.
Urobilinogênio
O urobilinogênio é um cromógeno formado no intestino por ação bacteriana redutora
de bilirrubina. Uma parte do urobilinogênio é excretada através das fezes, mas outra é
absorvida pela circulação porta, retornando ao fígado e sendo eliminada pela bile. Pequena
quantidade de urobilinogênio atinge os rins através da circulação, sendo excretado pela
urina.
O “kit” comercial de fitas reagentes é geralmente insensível ao urobilinogênio. Para
melhor interpretação deve-se realizar a prova de Ehrlich. A urina de cães e gatos
geralmente possui reação positiva de urobilinogênio até diluição de 1:32.
A ausência ou diminuição do urobilinogênio urinário está relacionado a distúrbios
intestinais de reabsorção (diarréia) enquanto que o aumento pode ser associado a hepatite
por incapacidade funcional de remoção do urobilinogênio da circulação, cirrose hepática e
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
icterícia hemolítica.
Sangue oculto
Normal quando ausente. Os testes laboratoriais de rotina não diferenciam hematúria
de hemoglobinúria e para isso, deve-se centrifugar a amostra e observar sedimento e
sobrenadante. Na hematúria verdadeira o sobrenadante fica límpido enquanto na
hemoglobinúria, fica avermelhado.
As causas de hemoglobinúria estão relacionadas a certas doenças infecciosas
(Leptospirose, Piroplasmose e determinadas estreptococoses), fotossensibilização e plantas
tóxicas, intoxicação por agentes químicos (Cobre e Mercúrio), transfusões sanguíneas
incompatíveis, Anemia Infecciosa Eqüina e doença hemolítica do recém-nascido.
A hemoglobinúria deve ser diferenciada da mioglobinúria. Para isto realizar o
seguinte:
Exame do Sedimento
O exame do sedimento deve ser padronizado e para um exame representativo, deve-
se utilizar 5 a 10mL de urina fresca e centrifugá-la a 1500rpm por 5 a 10 minutos. O
sedimento é obtido desprezando-se o sobrenadante e ressuspendendo-o em
aproximadamente 1mL. Uma gota é colocada sobre uma lâmina e coberta por uma lamínula.
A leitura deve ser realizada em microscópio óptico em objetiva de 40x e para
aumentar o contraste, deve-se abaixar o condensador. No entanto, uma observação em
menor aumento (100 ou 200x) deve ser realizada previamente à leitura, para verificar-se
homogeneidade do sedimento e macroestruturas como coágulos e pus. Observar a
densidade urinária, pois pode haver diluição do sedimento.
Hemácias
As hemácias são menores que os leucócitos e normal quando na quantidade de 1 a
2/campo de observação no microscópio e quando superior a 5/campo pode ser considerado
hematúria.
75
Manual de Patologia Clínica Veterinária
Leucócitos
Apresentam-se como células granulares maiores que as hemácias, porém menores
que as células epiteliais. Normal quando 1 a 2/campo e quando maior que 5/campo é
considerado leucocitúria ou piúria. Em pH alcalino, os leucócitos tendem a apresentar-se
sob a forma de grumos.
As causas de leucocitúria podem ser inflamações renais (nefrite, glomerulonefrite,
pielonefrite), inflamações do trato urinário inferior (uretrite, cistite) e inflamações do trato
genital (vaginite, prostatite e metrite).
Cilindros
São constituídos primariamente de mucoproteína e proteína que aderem-se ou não a
outras estruturas; normal quando ausentes. Representam moldes dos túbulos onde são
formados, como nos ductos coletores, túbulos contorcidos e alça de Henle.
A formação dos cilindros dá-se na porção renal tubular, onde a urina atinge
concentração máxima e acidez, o que favorece a precipitação de proteínas e
mucoproteínas. Qualquer lesão tubular presente no momento da formação dos cilindros
pode refletir na composição dos mesmos. Deste modo os cilindros são classificados
conforme o material que contém (quadro 8.3). IMPORTANTE: os cilindros não se formam
em baixas densidades ou em pH alcalino.
Bactérias
Normal quando quantidade discreta e deve ser interpretado considerando o método
de colheita. Normalmente a urina é estéril até atingir o pólo distal da bexiga e observa-se em
cães que há uma população bacteriana normal maior na extremidade distal. Cuidado com
falsa bacteriúria por tempo prolongado de exposição da amostra de urina previamente ao
exame.
Uma grande quantidade de bactérias em amostra de urina fresca sugere infecção
bacteriana em algum ponto do trato urinário, especialmente quando associada a outros
sinais de inflamação como piúria, hematúria e proteinúria.
CILINDROS URINÁRIOS
Tipo Composição Interpretação
hialino Mucoproteínas Geralmente associados à proteinúria, Processos
e proteínas transitórios como febre e congestão, Doença renal.
hemático Muco + Hemorragia glomerular e tubular, Glomerulonefrite
hemácias aguda, Nefropatia crônica em fase evolutiva.
Muco + Associados à inflamação renal, Pielonefrites e
leucocitário leucócitos abscessos renais.
epiteliais Muco + restos Semelhante à presença de células isoladas,
celulares Inflamações renais.
granuloso Muco + outras Degeneração tubular, Necrose de células tubulares
estruturas
céreo Cilindros Devido à grande permanência tubular, Fase final da
angulares degeneração tubular, Lesão tubular crônica
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Cristais
São produtos finais da alimentação do animal e dependem para sua formação do pH
urinário. A grande quantidade pode indicar urolitíase, embora possa haver cálculos sem
cristalúria e vice-versa. Exemplos de cristalúria em pH alcalino e ácido no quadro 8.4.
CRISTALÚRIA
pH ALCALINO pH ÁCIDO
Fosfato triplo Urato amorfo
Fosfato amorfo Oxalato de cálcio
Carbonato de cálcio Ácido hipúrico
Urato de amônio Cistina (raro)
QUADRO 8.4. Cristais encontrados em diferentes pH.
Outros achados:
Espermatozóides: Normal no cão. Em outras espécies, como no bovino, pode indicar
distúrbio reprodutivo.
Muco: São filamentos mucóides, normal quando em quantidade discreta. Aumentam em
processos inflamatórios.
Fungos ou leveduras: contaminantes ou infecção fúngica
Ovos e parasitas: Stephanurus sp (suínos), Dioctophyme renale (cães), Capillaria spp
(cães e gatos) e Dirofilaria immitis (cães).
Lipídios: sem interpretação clínica (pode ser artefato da sondagem).
Provas bioquímicas
As principais provas bioquímicas de função renal incluem a determinação da uréia e
creatinina séricas/plasmáticas. Outras provas como sódio, potássio e fósforo séricos podem
ser úteis no diagnóstico de doenças renais uma vez que são elementos excretados
normalmente pela urina.
Uréia ( BUN )
A uréia é produzida no fígado através da arginase e é o principal produto final do
catabolismo protéico.
Arginase
↓
Arginina Ornitina + Uréia
Por ser de baixo peso molecular, a uréia difunde-se igualmente pelos fluídos
orgânicos. A uréia é excretada através do filtrado glomerular, em concentração igual à do
sangue. Parte, em torno de 25 a 40%, é reabsorvida através dos túbulos, na dependência
do fluxo urinário e 60% é eliminada através da urina. Quando há maior velocidade de fluxo
há menor absorção de uréia e vice-versa. Em situações em que ocorre diminuição da
filtração glomerular, observa-se maior retenção da uréia. Isso ocasiona um aumento da
77
Manual de Patologia Clínica Veterinária
concentração sangüínea, mas somente será considerada azotemia renal primária quando
75% dos nefrons de ambos os rins estão afuncionais.
A concentração de uréia é afetada por fatores extra-renais como ingesta protéica
elevada e jejum prolongado. Devido a essas interferências, a uréia não é um bom indicador
do funcionamento renal quando analisada unicamente. Para se analisar a função renal, esse
parâmetro deve ser interpretado juntamente aos níveis de creatinina, proteína e densidade
urinárias. Os fatores que interferem nos níveis de uréia estão relacionados no quadro 8.5.
A redução dos níveis de uréia pode ocorrer pela diminuição da produção como em
casos de Insuficiência hepática, na cirrose, no Shunt porto-sistêmico e em casos de redução
da proteína dietética e hipoproteinemia.
Creatinina
A creatinina é formada através do metabolismo da creatina e fosfocreatina muscular.
O nível sanguíneo não é afetado pela dieta, idade e sexo embora elevado metabolismo
muscular possa aumentar os níveis de creatinina na circulação. A creatinina é totalmente
excretada pelos glomérulos, não havendo a reabsorção tubular. Devido a isso, pode ser
usada como índice de filtração glomerular. Além disso, por ser facilmente eliminada (4
horas), a elevação na circulação ocorre mais tardiamente nos estados de insuficiência renal,
quando comparado com a uréia sanguínea (1,5 horas).
A creatinina pode estar elevada no soro devido a fatores pré-renais como diminuição
do fluxo sangüíneo, renais como a diminuição da filtração glomerular e pós-renais como a
ruptura e/ou obstrução do trato urinário.
Eletrólitos
Sódio
Normalmente o sódio é filtrado e reabsorvido, dependendo da quantidade na dieta.
Na nefropatia crônica generalizada há perda de sódio, pois este acompanha a água na
depleção hídrica para manter a isotonicidade. A redução de sódio é a hiponatremia.
Potássio
O potássio fisiologicamente é filtrado nos glomérulos, reabsorvido nos túbulos
contorcidos proximais e excretado pelos túbulos distais. A concentração sérica de potássio
varia com a dieta. Na nefropatia com oligúria ou anúria há perda de função excretora renal e
retenção de potássio, levando à hipercalemia.
78
Manual de Patologia Clínica Veterinária
Cálcio
Na nefropatia aguda não há alteração nos níveis séricos de cálcio. Na nefropatia
crônica generalizada há perda da capacidade de reabsorção, com conseqüente
hipocalcemia. Quando perdura, esta hipocalcemia estimula a paratireóide a mobilizar cálcio
ósseo para manter a homeostase, levando ao hiperparatireoidismo secundário renal.
Fósforo
Na nefropatia crônica progressiva e na doença renal generalizada há redução na
velocidade da filtração e perda na capacidade de excreção de fósforo, levando à
hiperfosfatemia em cães e gatos. Em grandes animais este aumento não é uma constante.
Quando perdura a hiperfosfatemia há um estímulo à paratireóide, no sentido de
mobilizar cálcio ósseo para manter a homeostase sanguínea. Este processo leva ao
hiperparatireoidismo secundário renal.
8. 8. Uremia
Realizados os exames de função renal, outro passo importante é a interpretação
destes resultados. Na presença de concentrações séricas ou plasmáticas aumentadas de
uréia e creatinina, mas ainda sem os sinais clínicos característicos deste acúmulo, tem-se a
chamada azotemia.
Quando há evolução do processo surgem os sinais clínicos característicos, tais como
hálito urêmico, úlceras na cavidade bucal e língua, diarréia profusa até sanguinolenta e
vômitos. Nesta fase a concentração de uréia e creatinina é maior no sangue que na urina. A
associação destes sinais clínicos com o aumento sanguíneo de uréia e creatinina são
denominadas de uremia.
Devido a diversidade da função renal, as interpretações dos testes determinadores
da função renal devem ser sempre realizadas em conjunto considerando todas as
alterações (quadro 8.6).
79
Manual de Patologia Clínica Veterinária
Exame de urina:
Transferir 5mL de amostra para um tubo cônico
1. Exame físico
- Mensurar a quantidade de amostra em cada frasco.
- Determinar a coloração de cada amostra.
- Classificar a amostra através do grau de turvação. Avaliar colocando o tubo contra uma
folha com escritas em preto. Amostras límpidas permitem que seja feita a leitura do escrito
quando colocado contra o papel.
2. Exame químico:
- Com o auxílio de uma pipeta Pasteur plástica, pipetar uma gota de amostra em cada
almofada reagente. Após o tempo sugerido, fazer a leitura comparando com a graduação
fornecida pelo fabricante.
3. Sedimento
- Colocar 5mL (no mínimo 2mL) de urina em um tupo cônico, fechar e centrifugar a 1500rpm
por 5 minutos. Após, observar a presença ou ausência de sedimento e gordura que deve ser
removida da camada superior do sobrenadante.
- Analisar a densidade urinária. Pipetar 1 gota na lente do refratômetro e fazer a leitura. Se a
densidade for superior a escala, diluir a urina 1:1 com água destilada e duplicar os 2 últimos
dígitos da leitura (ex. 1024=1048) ou usar o urodensímetro.
- Retirar cuidadosamente o sobrenadante com pipeta Pasteur e deixar 1mL para
ressuspender o pellet. Em amostras de reduzido volume, usar 20% da quantidade total.
- Após ressuspender o sedimento: Adicionar 1 gota em uma lâmina limpa, cobrir com
lamínula; e em outra lâmina, pipetar 1 gota do sedimento em uma lâmina e 1 gota do
corante azul de metileno.
- Exame no microscópio:
Abaixar o condensador para melhor visualização das estruturas. Usar a objetiva de 10x para
verificar a presença de cilindros e células epiteliais. Anotar os números em campos de
pequeno aumento (CPA). Usa-se a objetiva de 40x para observar as seguintes estruturas:
- Bactérias: descrever morfologia e quantidade (+,++,+++); - Cristais: tipo e quantidade
(+,++,+++); - Eritrócitos/CGA (normal=0-5); - Leucócitos/CGA (normal=0-5); - Muco (positivo
ou negativo); - Gotículas de gordura (positivo ou negativo); - Parasitas e fungos (tipo e
morfologia); - Espermatozóides (+,++,+++); - Cristais e cilindros pode ser visualizados em
sedimento não corado enquanto células e microrganismos, em sedimento corado.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
9. 1. Anatomia do fígado
O fígado é a maior glândula isolada do corpo, e corresponde a 2-5% do peso
corporal no organismo. As numerosas e variadas funções hepáticas são desempenhadas
por dois tipos celulares: o hepatócito e a célula de Kupffer. A célula de von Kupffer, um
componente do sistema macrofágico, reveste regiões dos sinusóides hepáticos, estando
intimamente associada ao hepatócito. A atividade fagocitária do fígado é explicada pela
função dessa célula.
O potencial mitótico dos hepatócitos é mantido durante toda a vida do organismo.
Esta propriedade, somada à hipertrofia, são os principais responsáveis pela restauração do
órgão lesado. Embora a lesão aguda por substâncias tóxicas possa ser seguida pela
completa recuperação do órgão, a exposição crônica geralmente resulta na alteração da
função orgânica, na diminuição do tamanho do órgão e no aumento do tecido conjuntivo
fibroso intra-hepático (cirrose).
O fígado é composto de lobos recobertos por uma cápsula fibrosa de tecido
conjuntivo que se continua com o tecido conjuntivo intersticial (interlobular). O tecido
conjuntivo intersticial é proeminente naquelas regiões interlobulares chamado espaço porta.
Os lóbulos hepáticos, delineados pelo tecido conjuntivo interlobular, são a unidade
morfológica do fígado. Essas massas prismáticas e poligonais são formadas por placas ou
lâminas de hepatócitos interdigitadas entre os capilares sinusóides anastomosados. As
placas celulares e de sinusóides parecem irradiar-se a partir de um vaso centralmente
posicionado, a veia centrolobular. Os sinusóides hepáticos formam o leito vascular
intralobular. O sangue dos vasos interlobulares é transportado pelos sinusóides para as
veias centrolobulares.
O sistema de ductos biliares do fígado é formado pelos canalículos biliares, pelos
ductos intra-hepáticos e pelos ductos extra-hepáticos, para a condução da bile dos
hepatócitos para o duodeno. Os sistemas de células secretoras e de túbulos condutores
formam os componentes glandulares exócrinos do fígado.
9. 2. Funções do fígado
As funções hepáticas diretamente relacionadas com os hepatócitos são as seguintes:
Síntese e armazenamento
Além de sintetizar substâncias necessárias para a integridade funcional e estrutural
das células componentes, os hepatócitos sintetizam albumina, fibrinogênio, α e β-globulinas,
lipoproteínas e colesterol. O glicogênio é sintetizado a partir da glicose (glicogênese) e
armazenado nos hepatócitos sendo que a liberação de glicose dos estoques (glicogenólise)
ocorre em casos de demanda somática. Da mesma forma, ocorre com os estoques lipídicos
do fígado. Vitaminas como A, D, K e complexo B também são armazenadas e sintetizadas
no fígado. Embora a síntese e a secreção de proteínas correspondam às principais funções
dos hepatócitos, não parece haver armazenamento de proteínas no fígado. Elas são
secretadas para o sangue à medida que são sintetizadas. O fígado produz ainda todos os
fatores de coagulação, com exceção do fator VIII e do Cálcio.
Secreção e excreção
As funções excretoras do fígado estão relacionadas à síntese e secreção de
substâncias que são lançadas à bile (função exócrina do fígado). Os constituintes primários
da bile são os sais biliares, compostos basicamente de sais de sódio e potássio, do ácido
glicocólico e ácido taurocólico. O ácido cólico, formado a partir do colesterol, é conjugado
com a glicina e a taurina para a formação dos sais biliares. Estes emulsificam as gorduras
do intestino delgado, formando complexos hidrossolúveis com os lipídios de modo a facilitar
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Biotransformação
O organismo produz (hormônios, metabólitos), absorve (toxinas) ou recebe a
inoculação (drogas) de muitos compostos biologicamente ativos e/ou tóxicos. Muitos destes
compostos sofrem a ação do fígado, que altera sua toxicidade, reduz sua atividade e os
elimina. Esses processos, considerados de forma geral como detoxificação, nem sempre
resultam na neutralização das substâncias selecionadas. Em consequência de alguns tipos
de atividades hepáticas, algumas drogas se tornam mais tóxicas para o organismo após sua
metabolização.
A biotransformação de muitos compostos químicos ocorre no retículo
endoplasmático liso, na mitocôndria e no citosol dos hepatócitos. As reações
biotransformadoras podem ser divididas em reações de síntese e não-sintéticas. A reação
de síntese ou conjugação envolve a união de substâncias a vários compostos reativos
endógenos - glicuronato, ácido acético, sulfatos ou aminoácidos. As reações não-sintéticas
envolvem as reações oxidativas, redutoras e hidrolíticas. O fígado produz diversas enzimas
envolvidas no ciclo de excreção de resíduos proteícos (amônia) na forma de uréia.
A função fagocitária das células de Kupffer complementa a atividade
biotransformadora do hepatócito.
Metabolismo
O fígado está envolvido em todos os aspectos do metabolismo dos carboidratos, das
proteínas e dos lipídios. A gliconeogênese, a síntese de glicose a partir dos aminoácidos
glicogênicos, os intermediários do ciclo do ácido láctico, são aspectos significantes do
metabolismo dos carboidratos nos hepatócitos.
A maior parte da oxidação das gorduras ocorre nos hepatócitos. A formação de
corpos cetônicos também ocorre no fígado.
O metabolismo proteico inclui diversas reações. A desaminação e a produção de
acetoácidos são importantes na síntese de lipídios (aminoácidos cetogênicos) e de
carboidratos (aminoácidos glicogênicos). O fígado tem a capacidade de sintetizar
aminoácidos não-essenciais, sendo que o fígado e outros tecidos podem converter um
aminoácido em outro, através das reações de transaminação. A alanina amino transferase
(ALT) é uma transaminase hepato-específica dos carnívoros e utilizada para avaliação de
lesão hepática, pois é liberada por hepatócitos lesados. A formação de uréia nos hepatócitos
é o meio pelo qual o organismo excreta os produtos residuais nitrogenados. A uréia também
contribui para o mecanismo de contra-corrente do rim; ela influencia portanto a
concentração de urina.
Embora o fígado assuma um papel passivo no armazenamento de vitaminas, a
função hepática e a secreção da bile são essenciais para a absorção de vitaminas
lipossolúveis (A,D,E,K) no trato intestinal. O fígado também assume um papel ativo no
metabolismo da vitamina D.
Hematopoiese
Embora a hematopoiese seja uma função hepática durante o desenvolvimento fetal,
o potencial para a produção de células sanguíneas é mantido no adulto.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Dos sistemas e órgãos que podem ser avaliados por dados de patologia clínica, o fígado é
um dos que causam maior frustração. A função de metabolismo e detoxicação o tornam
associado a diversas outras patologias extra-hepáticas. Além disso, as próprias doenças
hepáticas, como doenças inflamatórias severas, tóxicas e neoplásicas, devem ser
consideradas. Muitas vezes apenas a biópsia hepática é auxílio diagnóstico seguro de
diferenciação da doença hepática primária e secundária. Em todos os casos, os dados de
laboratório clínico devem ser avaliados à luz dos sinais clínicos e história do paciente.
Para interpretarmos os resultados dos testes laboratoriais utilizados na detecção de
doença hepática é necessário compreender as três categorias de análise:
1. Testes indicativos de lesão de hepatócitos: é o aumento da atividade enzimática
provocado por lesão celular. Assim, as enzimas intracelulares passam para o espaço
extracelular e, em seguida, para a corrente sanguínea. As enzimas avaliadas são:
Alanina aminotransferase (ALT), Aspartato aminotransferase (AST) e Sorbitol
Desidrogenase (SDH);
2. Testes indicativos de obstrução do fluxo biliar (colestáse): Quando ocorre a
redução ou obstrução do fluxo biliar o acumulo de ácidos biliares induz a produção e
liberação de enzimas pela célula. Isso, conseqüentemente gera um aumento da
atividade da enzima no soro. Os teste realizados para avaliar o processo colestático
são: Fosfatase Alcalina (FA), Gama-glutamil transferase (GGT);
3. Testes que avaliam a função hepática ou indicam disfunção do fígado: busca-se
avaliar quando as funções do fígado estão alteradas, geralmente em decorrentes da
insuficiência hepática. A insuficiência hepática é resultado de uma doença hepática
que leve a perda de 70 – 80% da massa hepática funcional acarretando em
dificuldade em desempenhar as funções normais de metabolizar e sintetizar. Os
testes para avaliar a função hepática são: Proteínas (albumina), Uréia, Colesterol,
Glicose, Fatores de coagulação e Bilirrubinas.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
A. Provas enzimáticas
A utilização de dosagens enzimáticas como método auxiliar nos problemas hepáticos
é largamente utilizada na medicina veterinária. Estas enzimas aumentam na circulação à
medida que são liberadas pelas células de origem. Esta liberação pelos hepatócitos pode
ocorrer por:
- Alteração na permeabilidade celular: reações inflamatórias, degeneração celular;
- Necrose celular: ingestão de drogas hepatotóxicas, cirrose crônica (pode possuir valores
normais de ALT ou diminuídos).
Dependendo da espécie, as enzimas podem ser localizadas em maior ou menor
quantidade no hepatócito ou em outros órgãos além do fígado. Dessa maneira, a ALT está
em maior quantidade nos hepatócitos de pequenos animais enquanto que em ruminantes e
eqüinos a AST é predominante. Além dos hepatócitos, a FA pode estar localizada em
quantidades significativas no tecido ósseo, mucosa intestinal, placenta e rins. A GGT está
localizada também em ductos biliares, rins, pâncreas e intestinos. Devido a essa diversidade
de locais é impreterível que a interpretação seja feita aliada à história clínica do paciente.
Enzimas hepatocelulares
Aminotransferases
As aminotransferases (ALT e AST) são enzimas presentes no hepatócitos que têm
por função a transferência de grupos amino durante a conversão de aminoácidos a α-oxo-
ácidos. Ambas são encontradas no citosol celular enquanto a AST também possui uma
isoenzima mitocondrial. O aumento sérico destas enzimas irá ocorrer por estravasamento
celular provocado por lesão nos hepatócitos (figura 9.1).
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
A Vaso sanguíneo B
FA
AST ALT
AST FA
AST ALT FA
ALT FA
AST
ALT AST FA
Hepatócito
Lesão Colestase
hepática
Figura 9.1: A. Ocorre extravasamento das enzimas celulares, aminotrasferases
(ALT e AST), para a corrente sanguínea após lesão do hepatócito. Grande parte da
AST encontra-se na mitocôndria assim, necessita uma lesão mais grave para que
ocorra seu aumento. B. Redução do fluxo biliar causa indução da enzima de
membrana, Fosfatase Alcalina (FA, representada por •), levando a um aumento da
sua atividade sérica.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
O aumento pode estar relacionado a doenças que lesem os ductos hepáticos, como
a colestase intra ou extra-hepática; mas também por atividade das isoenzimas extra-
hepáticas, como crescimento ósseo nos filhotes, isoenzima esteroidal induzida por
corticóide, observada apenas em canídeos, e em várias doenças crônicas, inclusive
neoplasias. Devido a isso, a interpretação dos valores de FA deve ser feita aliada a história
clínica do paciente.
Felinos domésticos possuem menores quantidades de FA hepatocelular e por isso,
qualquer elevação da atividade nessa espécie é significativa para o diagnóstico de distúrbios
hepatocelulares. Nem todos os felinos com doença hepatocelulas podem apresentam
elevação da FA. Alterações nos valores dessa enzima estão relacionadas à: lipidose
hepática, colangites e colangiohepatites, hipertireoidismo e diabetes melito.
Em caninos, a elevação da FA (três vezes o valor normal) é observada nas doenças
hepatobiliares, no hiperadrenocorticismo, na administração de glicocorticóides e
anticonvulsivantes e nas fraturas. Outras causas de elevação da atividade da FA não
relacionados a doenças hepatobiliares são: hemólise e crescimento ósseo (animais jovens).
Em eqüinos e bovinos, existe uma variação muito grande no seu nível sérico em
animais normais, o que dificulta a interpretação dos resultados. Nestas espécies torna-se
necessário realizar outros testes em associação, como a GGT e as bilirrubinas.
Uréia sanguínea
A síntese da uréia ocorre no fígado e provém do mecanismo de excreção da amônia
durante o catabolismo de aminoácidos. A capacidade de sintetizar uréia e metabolizar o
nitrogênio protéico fica reduzida em pacientes com insuficiência hepáticas ou com
anomalias congênitas do sistema porta. Consequentemente ocorre aumento na
concentração sanguínea de amônia e redução nos níveis de uréia.
Colesterol
A maior parte do colesterol presente no corpo é sintetizada pelo fígado, sendo
apenas uma pequena parte adquirida pela dieta. A bile é a principal via de excreção do
colesterol do organismo. Sendo assim, em alguns casos de insuficiência hepática pode
ocorrer hipocolesterolemia, pela redução na síntese do colesterol pelo fígado. Porem
quando ocorre redução no fluxo biliar o colesterol não será eficientemente eliminado
ocorrendo hipercolesterolemia.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Glicose
Fígado retém 60% da glicose que entra pelo sistema porta. Essa glicose é
transformada em glicogênio pelos hepatócitos que será, novamente, convertida em glicose
auxiliando no controle da glicemia sanguínea. A habilidade do fígado em produzir glicose
(gliconeogênese) é geralmente à última função a ser perdida em uma falência hepática.
Urinálise
Nas icterícias e lesões hepáticas pode ocorrer bilirrubinúria e presença de cristais de
amônia.
9. 5. Proteínas plasmáticas
As proteínas plasmáticas são sintetizadas principalmente no fígado e são
constituidas de aminoácidos obtidos após quebra e absorção intestinais. Na interpretação da
hipoproteinemia deve-se buscar as causas básicas desta fisiologia:
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linfócitos e plasmócitos; outras proteínas sintetizadas nos tecidos e células somáticas estão
presentes em menor quantidade. Em geral, o plasma contém em torno de 5 a 7g/dl de
proteínas totais; se a hemoglobina for incluida este valor chega a 20g/dl.
Importante: o aumento ou diminuição das proteínas plasmáticas totais deve ser interpretado
de modo a se individualizar o máximo possível as frações responsáveis por esta
alteração. A generalização diagnóstica na hiper ou hipoproteinemia invariavelmente induz ao
erro.
Pré-albumina
A pré-albumina possui a mais rápida migração eletroforética, sendo que pode não
existir em algumas espécies animais. A única função conhecida é a de ligação e transporte
da tiroxina.
Albumina
A albumina é a mais abundante das proteínas séricas eletroforéticas. Nos animais
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Globulinas
α-globulinas: constituem a fração que mais rapidamente migra das globulinas, por isso o
nome “alfa”. Possui duas frações: a rápida (α1) e a lenta (α2). A grande maioria destas
proteínas é sintetizada no fígado, e cada um dos diversos tipos possui atividade específica.
Atuam no transporte de tiroxina, lipídios, insulina, cobre, hemoglobina, na inibição da
tripsina, quimiotripsina, trombina, como anticoagulante, proteases, etc. O seu decréscimo
ocorre nas hepatopatias, malnutrição, síndrome nefrótica; o seu aumento principalmente nas
doenças inflamatórias agudas.
β-globulinas: as mais importantes proteínas desta fração são os complementos (C3, C4),
hemopexina, transferrina, ferritina e proteína C reativa. O fibrinogênio também é um
importante indicador proteíco de fase aguda, isto é, seu aumento indica um processo
inflamatório agudo.
γ-globulinas: compõem-se das imunoglobulinas e suas frações IgA, IgG, IgM, IgE. A
identificação e quantificação específica destas imunoglobulinas requerem o uso de técnica
imunoquímica sofisticada. A fonte das imunoglobulinas é os plasmócitos, diferenciados a
partir de linfócitos sensibilizados por estimulação antigênica, parte do processo imunológico
da resposta humoral.
Influências fisiológicas
Idade e desenvolvimento
No feto, a concentração de proteínas totais e albumina progressivamente aumentam
com uma ligeira mudança nas globulinas e quase ausência da fração de proteínas γ-
globulinas. Nos ruminantes e eqüinos ao nascimento é normal, portanto esta ausência será
suprida pela ingestão do colostro materno; após esta ingestão haverá um aumento
transitório das proteínas totais. Em quase todos os animais há um aumento nas proteínas
totais, um decréscimo na albumina e um aumento nas globulinas com o avançar da idade, e
nos idosos as proteínas totais tornam a declinar.
Hormônios
Efeitos hormonais agem nas proteínas séricas quando atuam no anabolismo ou
catabolismo protéico. A testosterona, estrógeno e o hormônio do crescimento são
geralmente anabólicos, aumentando as proteínas. Do contrário, a tiroxina e os corticóides
(tenuamente) promovem uma redução nas proteínas.
Gestação e lactação
Geralmente durante a gestação há um decréscimo da albumina e um aumento das
globulinas, seguido de queda pós-parto nas espécies que possuem colostro. A lactação
promove mudanças semelhantes, devido ao consumo das reservas protéicas e alta
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
atividade metabólica.
Nutrição
As proteínas do plasma são sensíveis às influências nutricionais, mas na maioria dos
casos torna-se difícil sua interpretação. Quando há depleção da dieta protéica dos animais
ocorre hipoproteinemia e hipoalbuminemia.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
globulinas
ativa, nefrite aguda ou síndrome nefrótica
Alterado β-globulina Hepatite aguda, síndrome nefrótica,
dermatopatias supurativas
γ-globulina Doença inflamatória crônica, doença
infecciosa, hepatite crônica, abscesso
hepático, doença supurativa, doença imuno-
mediada, tumores (linfossarcoma, mieloma
múltiplo)
Hiperproteinemia Desidratação (vômito, diarréia, queimaduras)
Hipoproteinemia Super hidratação, perda aguda de sangue,
Normal Normal perda externa de plasma (doenças
exsudativas, diarréia), perda interna de
plasma (doença gastrointestinal, parasitas)
QUADRO 9.2. Interpretação das disproteinemias.
9. 6. Bilirrubinas
Função normal
As bilirrubinas são formadas através da degradação da hemoglobina. A hemoglobina
é essencial para a manutenção da vida pois carreia e libera oxigênio para os tecidos. Em
torno de 400 milhões de moléculas de hemoglobina estão presentes num eritrócito. A
hemoglobina é uma proteína conjugada composta das frações heme e globina. A fração
heme é sintetizada na mitocôndria eritrocitária, e somente é produzida em células eritróides
imaturas, até o estágio de reticulócito. A síntese da fração globina ocorre em ribossomos no
citoplasma de eritrócitos nucleados. As diferenças nas sequências de aminoácidos das
cadeias globina define a variação morfológica intra e inter-espécie.
A síntese final de hemoglobina na hemácia acontece com a penetração do ferro a
partir da transferrina, com sua associação à protoporfirina que é sintetizada em grande parte
da glicina e succinil CoA nas mitocôndrias, para formar o heme. Uma molécula de heme
está fixada a uma das cadeias do polipeptídeo globina e uma molécula final de hemoglobina
é composta de quatro unidades heme/globina.
A hemoglobina é liberada na forma livre quando ocorre hemólise, onde a união entre
a hemoglobina e o estroma eritrocitário quebra-se por este agente hemolítico. A
hemoglobina livre no plasma é rapidamente decomposta (meia vida de 4 horas) por
oxidação, liga-se à haptoglobina e é rapidamente excretada pelos rins com hemoglobinúria,
ou destruida pelo SRE (sistema retículo endotelial). O excesso livre é oxidado em meta-
hemoglobina, que se dissocia e libera hematina. A hematina liga-se à hemopexina e
albumina sucessivamente, e estes complexos são removidos pelos hepatócitos.
Nos macrófagos o ferro da fração heme e os aminoácidos da fração globina são
reciclados para uso. A protoporfirina é degradada em biliverdina pela heme microssomal
oxigenase, na presença de oxigênio e NADPH. A biliverdina é então convertida a bilirrubina
pela bilirrubina redutase, na presença de NADPH. As aves excretam somente biliverdina,
pois não possuem bilirrubina redutase.
A bilirrubina liberada no plasma é ligada à albumina para o transporte até as células
hepáticas, onde é conjugada em ácido glicurônico pela enzima UDP - glicuronil transferase.
A bilirrubina conjugada é normalmente secretada através dos canalículos biliares e
excretada pela bile na luz intestinal. No trato intestinal a bilirrubina é degradada por
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
bactérias (a antibioticoterapia pode matá-las) a urobilinogênio para sua excreção via fezes,
com reabsorção parcial para a circulação geral e re-excreção biliar, no ciclo entero-hepático
da bile. Pequenas quantidades de bilirrubina conjugada e urobilinogênio normalmente
escapam à re-excreção hepática e são eliminadas na urina. A bilirrubina indireta não passa
em condições normais para a urina, devido ao alto peso molecular do complexo bilirrubina-
albumina (carreador), mas são circulantes e portanto também responsáveis pela icterícia.
Icterícia
A icterícia pode ser detectada no exame físico ou quando o plasma ou soro é
examinado no laboratório, e nestas condições há um valor de bilirrubina total acima de
1mg/dL. A hiperbilirrubinemia sempre indica doença hepatobiliar ou hematopoiética.
Entretanto, há doenças hepáticas e hematopoiéticas não relacionadas com a icterícia, e as
doenças nestes sistemas podem ser ainda secundárias a outras doenças. A presença ou
ausência de icterícia não pode ser avaliada com sentido diagnóstico ou prognóstico.
Septicemia, ruptura vesical e enterites algumas vezes podem causar disfunção hepática
secundária, podendo ocorrer icterícia.
Hiperbilirrubinemia
O aumento de bilirrubina, caracterizado pela icterícia, pode ser classificado quanto à
sua origem de três formas. Liberação de bilirrubina em grande quantidade na circulação:
pré-hepática; falha de conjugação: hepática e deficiência na secreção: pós-hepática.
Pré-hepática
Este tipo de icterícia é causado quando há aumento de aporte de bilirrubina ao
fígado, causando uma sobrecarga à conjugação hepática (figura 9.2). Os sinais clínicos
mais observados são urina e fezes escuras. O principal cuidado neste caso é retirar a causa
hemolítica e deter bastante atenção ao quadro hematológico do animal.
A causa principal é a hemólise intravascular, que leva à hemoglobinemia (plasma
avermelhado), gerando :
- bilirrubina não conjugada - hematócrito ou volume globular
- urobilinogênio sanguíneo e urinário
- ou não da bilirrubina conjugada
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Hepática
A icterícia hepática é causada por uma disfunção hepática, com conjugação parcial
da bilirrubina pelos hepatócitos devido à redução na capacidade enzimática (figura 9.3).
Esta lesão acaba obstruindo os canalículos biliares, levando secundariamente à colestase.
A causa principal é a lesão tóxica ou infecciosa, que leva ao comprometimento da
função hepática, gerando:
- bilirrubina não conjugada devido à disfunção
- da bilirrubina conjugada
- do urobilinogênio circulatório e urinário. Pode não haver este aumento por
comprometimento do ciclo enterohepático.
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colecistoquinina (CCK), que são liberadas pela mucosa duodenal na circulação sangüínea.
Estas substâncias promovem a contração pancreática a fim de liberar uma maior quantidade
de bicarbonato (secretina) e enzimas digestivas (CCK). A neutralização da acidez reduz a
liberação de secretina, diminuindo a atividade do pâncreas.
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Cada tipo de célula da ilhota de Langerhans produz um hormônio específico que está
envolvido no controle do metabolismo e homeostase glicêmica.
Células β (beta) correspondem a 65-80% das células do pâncreas
endócrino produtoras de insulina função: diminuir a concentração de
glicose circulante;
Células α (alfa) equivalem a 15-20% das células das ilhotas produtoras
de glucagon função: aumentar a concentração de glicose circulante;
Células Δ (delta) ou D representam 3-10% da população celular das ilhotas
produtoras de somatostatina funções: parácrina (inibem a liberação de
diversos hormônios, exemplos: insulina e glucagon) e endócrina (pode reduzir
as contrações da musculatura lisa do trato gastrointestinal (TGI) e da vesícula
biliar);
Células PP ou F correspondem a 1% das células endócrinas do pâncreas
produtoras do polipeptídeo pancreático funções: inibir a secreção
pancreática e estimular a secreção gástrica;
Outras células cerca de 4% função ainda desconhecida.
A concentração de glicose circulante é o fator determinante para a secreção da
insulina, um hormônio pancreático hipoglicimiante anabólico. Sua principal função é
transportar a glicose para os diversos tecidos corporais, com exceção de algumas células
como neurônios, hepatócitos, eritrócitos e epitélio do cristalino. A presença de aminoácidos
e ácidos graxos no aparelho digestivo também constitui um estímulo para a liberação do
hormônio, todavia com menor potência se comparado à glicose. Além da glicose, a insulina
também diminui os níveis de corpos cetônicos, aminoácidos, ácidos graxos, fosfatos e
potássio. A insulina participa da degradação dos carbohidratos, lipídios e proteínas, e é
metabolizada principalmente pelo fígado e rins. Quando os níveis de glicose no sangue
estão altos a insulina a transforma em glicogênio nos músculos e no fígado. Contudo, se
ainda assim, houver excesso de substância energética circulante a insulina a direciona para
armazenamento no tecido adiposo.
O glucagon é um hormônio pancreático hiperglicimiante, ou seja, antagonista da
insulina. Este é liberado quando os níveis de glicose e insulina estão baixos na corrente
sangüínea. Através das reservas energéticas presentes no fígado, o glucagon promove uma
hiperglicemia, com o intuito de manter a homeostase glicêmica (Figura 10.5).
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
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(geralmente cistites) não demonstram sinais clínicos perceptíveis, e são classificadas como
infecções subclínicas (diagnosticadas através de meios laboratoriais). Uma das
complicações mais clássicas da doença, principalmente nos cães, é a catarata bilateral. Nos
gatos pode ocorrer lipidose hepática devido a mobilização da gordura. Se o tratamento não
for adequado ou se não houver diagnóstico a tempo, a doença pode trazer conseqüências
graves, inclusive levar o paciente a óbito. Classificação das DM:
É a classificação mais freqüente nos cães, principalmente nas fêmeas, como forma
patológica. A DM promove um estado de hipoinsulinemia, provavelmente induzido por um
processo auto-imune ou imuno-mediado que destrói progressivamente as células beta
pancreáticas. Histologicamente, várias lesões do pâncreas podem ser encontradas neste
tipo de diabetes. Em alguns casos as ilhotas pancreáticas são destruídas por pancreatite
concomitante e seu espaço é substituído por tecido fibroso, e em outros casos existe
degeneração presente, que em casos mais avançados causa depleção total das células das
ilhotas. Alguns fatores que podem ocasionar a DM tipo I:
- Predisposição genética: pode ser familiar ou incluir raças como Terriers, Poodle,
Schnauzer, Bichon Frisé, Keeshounds, Samoiedas e Pinschers. Os cães sem raça definida
(SRD) também são passíveis de se considerar, uma vez que esta população é
extremamente representativa no Brasil.
- Agentes químicos: estreptozotocina e aloxano são exemplos que podem causar a
destruição das células beta pancreáticas, levando a um estado permanente de DM.
- Agentes infecciosos: alterações genéticas induzidas por infecções virais, como no
caso do parvovírus canino, podem induzir uma resposta imuno-mediada contra as células
das ilhotas pancreáticas, que aos poucos vão sendo destruídas.
Eventos como a pancreatite crônica, neoplasias e traumas também podem resultar
na diminuição do número de células produtoras de insulina.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
Na maioria das vezes, o hemograma dos pacientes diabéticos não revela alterações
significativas. Entretanto, pode-se observar em alguns casos iniciais da doença uma leve
anemia regenerativa, causada provavelmente por uma dieta desbalanceada e rica em
lipídios. Em casos avançados onde a polidipsia não consegue compensar suficientemente a
poliúria, pode ocorrer uma policitemia relativa. Assim, as proteínas plasmáticas totais
também podem estar aumentadas se houver desidratação. A leucocitose pode ser um
achado nos pacientes que possuem alguma doença intercorrente ou que estão
desenvolvendo algum processo infeccioso em conseqüência da DM, como na pielonefrite.
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Neutrófilos com granulações tóxicas poderão ser observados, bem como, o desvio a
esquerda. É interessante observar que as infecções vesicais, por si só, não resultam em
alteração do leucograma, a não ser que se tornem ascendentes para outros locais, como os
rins.
Se houver a necessidade, parte da urina enviada para análise pode ser separada
para a cultura bacteriana e teste de sensibilidade aos antimicrobianos. Todavia, deve-se
lembrar que a colheita ideal para os exames bacteriológicos devem ser por meio de
cistocentese. Na urinálise, glicosúria, cetonúria, proteinúria, bacteriúria (com ou sem
leucocitúria e/ou hematúria) são achados usuais. A densidade urinária pode estar
aumentada devido à hiperglicemia responsável pela diurese osmótica (que propicia à
glicosúria), pela proteinúria, ou ainda, pela desidratação. Cães que estejam sob tratamento
com insulina e não apresentarem mais glicosúria, devem ser monitorados constantemente.
A cetonúria é um indicativo de que o paciente diabético está cetoacidótico, todavia, deve-se
recordar que animais saudáveis em jejum também podem conter corpos cetônicos
(acetoacetato, b-hidroxibutirato e acetona) na urina. A presença de cilindros urinários, como
o hialinos e granulosos, pode ser observada, além de gotículas lipídicas, em especial nas
doenças degenerativas dos túbulos renais, como ocorre no DM. Deve-se atentar que a
hiperglicemia presente na DM a diferencia da glicosúria isolada presente na doença renal
primária.
Na bioquímica sérica, a uréia tende a aumentar, devido a alteração no catabolismo
protéico, enquanto a creatinina se mantém normal. Porém, se houver a presença de
insuficiência renal e desidratação, ambos os parâmetros, uréia e creatinina, podem elevar
suas concentrações. Além disso, a azotemia pré-renal e a insuficiência renal primária
também podem elevar a amilase e a lipase séricas. O conhecimento dos valores eletrolíticos
(principalmente fosfatos e potássio) e ácido-básico torna-se interessantes nos animais que
apresentarem vômito, anorexia, diarréia e desidratação.
A dosagem sérica de glicose deve ser precedida de jejum por no mínimo doze horas,
se a condição do animal permitir. Aumentos de glicose acima de 250mg/dl são um forte
indício para o clínico pesquisar a possibilidade de DM no cão, unindo resultados
laboratoriais e clínicos compatíveis. Deve-se ter atenção quanto a animais anestesiados
(mobilização de glicogênio hepático para a circulação), animais em choque (aumento de
glicocorticóídes) e pancreatites. A hipoglicemia pode ser encontrada no aumento de insulina
(tumores, como o insulinoma ou na sobredose de insulina exógena), síndrome
paraneoplásica, hipoadrenocorticismo, hipoglicemia juvenil das raças toy (cães), excesso de
parasitas hematófagos e grande quantidade de exercício em jejum. As enzimas do fígado,
alanina aminotransferase (ALT), alanina aspartato transferase (AST), fosfatase alcalina (FA)
e gama glutamil transferase (GGT), podem estar aumentadas também, já que há a
possibilidade destes pacientes exibirem dano do tecido hepático, como a degeneração
gordurosa. Em felinos deve-se estar atento para a possibilidade de lipidose hepática,
podendo haver icterícia evidente (com presença de hiperbilirrubinemia) ou não, além de
hepatomegalia. Aumentos acima de cinco vezes nos valores de referência da FA são
compatíveis com hiperadrenocorticismo concomitante.
Muitos animais exibem lipemia sérica, provavelmente causada por
hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia e lipoproteínas, além dos quilomícrons da
circulação. Na DM há uma falha na retirada das lipoproteínas de densidade muito baixa
(VLDL) (ricas em triglicerídios e quilomícrons). Sem a insulina, a enzima lipoproteína lipase,
responsável pela metabolização das VLDL, permanece inativada no sangue circulante,
originando a lipemia. Como a via normal de obtenção energética está bloqueada, o
organismo utiliza os lipídios como fonte de energia. O aumento de colesterol é encontrado
na DM, mas também em animais com dieta rica em gorduras, no hipotireoidismo, na icterícia
obstrutiva e pancreatites. Na doença renal crônica e hepatopatias também há aumento de
colesterol devido à hipoalbuminemia, pois a albumina é o carreador de colesterol.
O pâncreas endócrino, algumas vezes, pode afetar o pâncreas exócrino. Desta
forma, se o paciente demonstrar sinais clínicos que possam remeter a pancreatite, a amilase
e lipase também devem ser dosadas.
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Mantendo-se límpido o plasma do animal teste, repetir a prova com administração conjunta
de pancreatina (composto enzimático pancreático com lipase).
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11.1. Introdução
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HIPERADRENOCORTICISMO
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Este teste é semelhante ao teste de SBDD, porém utiliza-se uma dose de 0,1mg/kg
de dexametasona, numa tentativa de suprimir a secreção de ACTH pela hipófise nos cães
com HDP, e destas forma diferenciar dos TAs. Aproximadamente 75% dos cães com HDP
respondem as doses mais elevadas de dexametasona, e apresentam uma diminuição nos
níveis de cortisol, enquanto que 100% dos cães com TAs não apresentam supressão.
HIPOADRENOCORTICISMO
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Hipoadrenocorticismo Hipoadrenocorticismo
Primário Secundário
Eletrólitos séricos Hipercalemia e N
hiponatremia
Teste de estimulação pelo
ACTH
Cortisol pós-ACTH ↓ ↓
Aldosterona pós-ACTH ↓ N
ACTH endógeno ↑ ↓
Modificado de Nelson, R.W. e Couto, C.G.: Medicina interna de pequenos animais. 3 ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2006.
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HIPOTIREOIDISMO
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HIPERTIREOIDISMO
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com leve aumento do hematócrito e 20% têm macrocitose. Inversamente, uma suave
anemia arregenerativa pode estar presente. Leucograma de estresse, caracterizado por
leucocitose neutrofílica, linfopenia e eosinopenia, pode aparecer em 20% dos casos.
Na bioquímica sérica, pode-se verificar elevação leve a moderada na concentração
da fosfatase alcalina, alanina animotransferase e aspartato aminotransferase em mais de
66% dos gatos com hipertireoidismo e a bilirrubina total sérica está aumentada em pequena
porcentagem dos casos. Se a atividade das enzimas hepáticas for superior a 500 UI/L, uma
avaliação detalhada do fígado é recomendada. Além disso, aumento na lactato
desidrogenase sérica pode ocorrer. Elevações nas concentrações séricas de uréia e
creatinina (~30%) e hiperfosfatemia (~20%) são relativamente comuns e devem ser levados
em conta ao se instituir o tratamento.
Na urinálise de gatos hipertireóideos, a densidade urinária pode variar de 1006 a
acima de 1050, ficando acima de 1035 na maioria dos casos, auxiliando na diferenciação
entre azotemia pré-renal (se elevada) e primária. Adicionalmente, a citologia aspirativa por
agulha fina (CAAF) é válida como diagnóstico diferencial das massas cervicais. Além de
dados de patologia clínica, o diagnóstico por imagem pode ser de grande utilidade na
confirmação do diagnóstico de hipertireoidismo, através da exploração minunciosa da
glândula tireóide e como auxílio no procedimento de biopsia percutânea.
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Muitos fatores podem interferir nas dosagens séricas basais dos hormônios da tiróide
e nos resultados dos testes de estimulação. Na maioria das vezes, estes fatores reduzem a
concentração basal dos hormônios tireóideos, podendo resultar em diagnóstico falso de
hipotireoidismo em animais eutireóideos ou mascarar um hipertireoidismo.
Os valores de referência de cada laboratório e as diferenças de idade, sexo e raça
devem ser levados em conta para uma correta interpretação dos testes de função tireóidea.
Os valores de testes de tireóide dos Greyhounds e de T4 total sérica de Whippets são
fisiologicamente mais baixos que outras raças. Cães de raças pequenas apresentam
concentrações de T4 sérica menores que as raças grandes. Ela está elevada em jovens e
diminuída em idosos. A progesterona presente durante a gestação pode agir aumentando
seus níveis séricos.
Alterações nas concentrações dos hormônios tireóideos em resposta a doenças não
relacionadas à glândula tireóide (síndrome do enfermo eutireóideo) podem ocorrer em cães
e gatos. Diabete melito, hiperadrenocorticismo, insuficiência renal crônica, doença hepática
e neoplasias sistêmicas podem diminuir a quantidade de hormônios da tireóide circulantes.
Hipoproteinemia pode resultar em decréscimos nos níveis séricos de T4, mesmo em animais
eutireóideos. Isso ocorre devido à diminuição de proteínas de ligação associada às doenças.
Em uma observação inicial, doenças não-tireóideas significativas (neoplasia, infecção
generalizada, falência de órgãos) podem mascarar a magnitude do aumento nos níveis
séricos de T4 no hipertireoidismo, reduzindo-os para valores normais ou levemente
aumentados. As concentrações basais de hormônio tireóideo retornam ao normal assim que
a doença concomitante for eliminada.
Certas drogas também podem produzir diminuição nos valores séricos dos
hormônios tireóideos, particularmente se administradas por um longo período, como
glicocorticóides, anticonvulsivantes (fenobarbital e difenilhidantoína), antiinflamatórios
(fenilbutazona), drogas antitireoidianas (profiltiouracil e os corantes para contraste
radiológico) e outras drogas como a furosemida, salicilatos e sulfametoxazol/trimetoprim.
É importante compreender também que flutuações ao acaso dos hormônios da
tireóide durante o dia podem ocorrer em cães com hipotireoidismo, cães eutireóideos com
doença concomitante e mesmo em cães saudáveis. Isso torna as concentrações de T 4
sérica problemáticas quando próximas (acima ou abaixo) do limite mínimo de referência,
sendo clinicamente relevantes em amostras quando dosadas ao acaso de cães
eutireóideos. Em animais com hipotireoidismo, essas flutuações não costumam atingir níveis
de normalidade (>1,5 µg/dl). Em dois a 10% dos gatos com hipertireoidismo, os valores de
T4 sérica podem flutuar para dentro dos valores de referência.
Ocasionalmente, pacientes com sinais clínicos de hipotireoidismo podem apresentar
incompatíveis níveis séricos dos hormônios da tireóide no limite máximo dos valores de
referência ou aumentados. Isto pode ocorrer em casos de tireoidite imunomediada, em que
se desenvolvem auto-anticorpos contra os hormônios da tireóide, que podem afetar a
sensibilidade e a especificidade do radioimunoensaio e resultam num falso valor sérico
elevado dos hormônios. Nestes casos, pode ser usado um teste para anticorpos
antitireoglobulina, precursores da formação dos autoanticorpos, presentes em 50% dos cães
com hipotireoidismo que apresentam destruição imunomediada da tireóide.
Se as concentrações séricas de T4 e de fT4 estão abaixo dos valores de referência,
há presença de sinais clínicos compatíveis e não há indícios de doença extratireoidal, pode-
se iniciar um período de tratamento para hipotireoidismo, adicionalmente ou não aos testes
de estimulação. O diagnóstico terapêutico é indicado em gatos com sinais clínicos
sugestivos de hipotireoidismo iatrogênico. O tratamento é feito através da suplementação
hormonal, desde que não represente riscos ao animal. Se a resposta à terapia com tiroxina
sintética (levotiroxina sódica) for positiva, esta deve ser descontinuada gradualmente assim
que os sinais desaparecerem. Caso ocorrer recidiva, o hipotireoidismo é provável.
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pura pode ocorrer em casos de hiperventilação (perda pelo sistema respiratório) ou na febre.
A desidratação também pode ativar o Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona que
promove reabsorção de sódio e água, no entanto se não houver presença de hormônio
antidiurético (ADH) suficiente (como em casos de Diabete Insipidus), não vai reabsorver
água adequadamente, causando hipernatremia. O uso de diuréticos osmóticos também
inibe a reabsorção de água. Em casos de acidose ruminal, onde ocorre o acúmulo de ácido
lático no rumem e conseqüente movimento de água para o interior deste órgão, também
pode ocorrer hipernatremia.
Outra situação para o desenvolvimento de hipernatremia é o excesso de sódio que
ocorre quando há uma excessiva ingestão deste com acesso restrito à água. O excesso
deste íon também ocorre na administração de salina hipertônica ou bicarbonato de sódio.
A hiponatremia (diminuição do sódio sérico) pode ocorrer quando há perda de sódio
pelo trato alimentar, como em vômitos ou diarréias, onde a perda de sódio é maior que a
perda de água. Outro caso de hiponatremia ocorre na diluição do plasma quando há
ingestão excessiva de água ou retenção renal de água por ação do ADH.
Perda renal de sódio também ocorre no hipoadrenocorticismo, onde a insuficiência
da glândula Adrenal causa uma diminuição da aldosterona circulante, o que provoca uma
diminuição de sódio pelos rins. Casos de diurese prolongada causam depleção de sódio e
água, levando à hipovolemia, o que ativa o ADH para promover reabsorção de água,
diluindo ainda mais a concentração sérica de sódio. Além disso, doenças renais como
doença tubular renal e pielonefrites promovem excesso de excreção de sódio e diminuição
da reabsorção deste.
Em casos de cetonúria pode haver hiponatremia, porque o aumento da excreção de
corpos cetônicos aumenta a presença de ânions não absorvíveis no lúmem tubular renal,
obrigando a excreção de cátions, o que aumenta a excreção renal de sódio.
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destes sistemas só ocorrem quando o pH do meio está adequado para a ação das enzimas.
Além disso, alterações de pH podem provocar interações dos íons H+ excedentes com as
proteínas celulares, alterando a estrutura e funções destas. A manutenção do pH também é
importante para o equilíbrio de todos os eletrólitos. O pH é determinado pela concentração
de H+.
Vários processos metabólicos, como glicólise aeróbia e anaeróbia, oxidação de
aminoácidos, oxidação incompleta de ácidos graxos, hidrólise de fosfoproteínas e ácido
nucléico afetam direta ou indiretamente a concentração de íons H+. O excesso destes íons
deve ser eliminado do organismo diretamente por excreção renal, indiretamente pelo
sistema respiratório, ou será neutralizado pela ligação a tampões sistêmicos como HCO 3-,
PO4, NH3, sulfatos, hemoglobina e albumina.
A. Acidose metabólica
A acidose metabólica ocorre devido ao acúmulo de H+ ou por uma diminuição na
concentração de bicarbonato.
O acúmulo de H+ pode ser por excesso na formação ou por diminuição da excreção
renal de H+. Excesso na formação de H+ ocorre em bovinos alimentados com alimentos ricos
em carboidratos, que são fermentados no rúmem produzindo uma grande quantidade de
ácido lático, desenvolvendo acidose lática. Em animais com Diabete Melitus não controlada,
ocorre o desenvolvimento de cetoacidose, que é um outro caso de excesso de formação de
H+. A diminuição na excreção renal de H+ ocorre em casos de falência renal, uroperitônio e
acidose tubular distal.
A diminuição na concentração de bicarbonato pode ocorrer por perda deste através
do trato gastro-intestinal (diarréia, perda de saliva em ruminantes com obstrução esofágica)
ou por perda renal. Estas perdas ocasionam diminuição da capacidade tamponante do
bicarbonato, gerando um acúmulo de H+.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
B. Acidose respiratória
A acidose respiratória ocorre por desordens respiratórias que provocam uma
diminuição na expiração de CO2, ocasionando acúmulo de H+ no sangue. Em casos de
hipoventilação alveolar, o organismo continua gerando H+, mas sistema de tamponamento
do HCO3- é ineficiente, pois a excreção de CO2 está prejudicada.
Distúrbios que resultam em Acidose Respiratória:
Distúrbios no centro respiratório: drogas, como anestésicos; trauma; tumor ou
inflamação, podem ocasionar uma depressão respiratória.
Distúrbios da função pulmonar: pneumonia; pneumotórax; obstrução vias aéreas;
edema pulmonar; hidrotórax; deficiência diafragmática.
C. Alcalose metabólica
A alcalose metabólica ocorre por uma depleção do H+ na circulação sanguínea ou
por um aumento na concentração de bicarbonato. Pode ser produzida por perda gástrica ou
renal de H+, ocasionando um acúmulo de bicarbonato.
Perda de H+ pode ser por perda gástrica através de vômito ou obstrução do piloro; e
a perda renal ocorre secundária à acidose respiratória quando o rim está procurando
eliminar o excesso de H+ retido na circulação.
A administração de bicarbonato também provoca a diminuição da concentração
sanguínea de H+.
D. Alcalose respiratória
A alcalose respiratória ocorre por desordens respiratórias que causam diminuição do
CO2 e consequente depleção do H+. Na hiperventilação alveolar há uma expiração
excessiva de CO2, o que causa remoção do H+ da circulação sanguínea.
Um dos mecanismos que podem levar à alcalose respiratória é a hipoxia, onde
ocorre estímulo de quimiorreceptores periféricos para iniciar uma hiperventilação,
ocasionando a perda CO2 e consequentemente perda H+. Casos de acidemia também
podem estimular o centro respiratório causando hiperventilação na tentativa de eliminar os
íons H+ excedentes na circulação. Em animais assistidos por mecanismos ventilatórios pode
ocorrer perda excessiva de CO2, com perda de H+.
Distúrbios que resultam em Alcalose Respiratória:
Distúrbio a nível central que causam estimulação do centro respiratório: ansiedade,
dor ou lesões patológicas.
Hipoxia, que ocorre na anemia severa ou na insuficiência cardíaca congestiva.
Ventilação mecânica excessiva.
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MÓDULO 3: CITOLOGIA
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A. Obstrução linfática
A obstrução linfática influencia este processo em duas vias. Inicialmente a obstrução
linfática impede o retorno do líquido tissular para a circulação, resultando no aumento
gradual e contínuo de líquidos no tecido conjuntivo. Isto aumenta a pressão hidrostática do
líquido tissular. Ocorre também uma acumulação progressiva de proteínas no tecido
conjuntivo. As proteínas elevam a pressão coloidosmótica do tecido conjuntivo, resultando
numa tendência para atrair e reter mais água. As causas podem incluir linfangite e
linfadenoma, tumores e/ou metástases, abcessos e extirpação cirúrgica de cadeia linfática.
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
A. Transudato puro
Características: límpidos e incolores (cães e gatos), amarelados (herbívoros), pequena
quantidade de proteína total (<2,5g/dL), poucas células nucleadas (CTCN<1.500/µlL), pH
alcalino, densidade (<1.017), células predominantes: mesoteliais, poucos linfócitos e
neutrófilos íntegros e raros macrófagos e hemácias.
TABELA 13.2. Nomenclatura dos líquidos cavitárias de acordo com o local de formação
Cavidade abdominal Hidroperitônio ou ascite
Cavidade pleural ou torácica Hidrotórax
Pericárdio Hidropericárdio
Cavidade articular Hidroartrose
Bolsa escrotal Hidrocele
Espaço subaracnóide nervoso Hidrocéfalo,líquor ou líquido céfalorraquidiano
Tecido conjuntivo Edema
B. Transudato modificado
A citologia do transudato modificado depende da sua origem, mas geralmente
apresenta neutrófilos não degenerados em pequena quantidade, células mesoteliais
reativas, pequenas quantidades de linfócitos e macrófagos, poucas hemácias. Pode ser
denominado de acordo com o local de formação (tabela 11.3).
Características: leve a moderadamente turvo, quantidade de proteína total moderada (2,5 a
7,0g/dL), baixa a moderada celularidade (CTCN 1.000–7.000/µL), células predominantes:
mesoteliais, poucos linfócitos e neutrófilos íntegros, macrófagos e hemácias.
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Causas: aumento da presssão hidrostática capilar: estase venosa portal, ruptura de bexiga,
ureter e uretra, insuficiência cardíaca, ruptura do ducto biliar, neoplasias, hemorragias intra-
cavitárias, bloqueio das veias que drenam os tecidos, torção pulmonar. Bloqueio do sistema
linfático: massas, tumores e outros.
Peritonite Infecciosa Felina (PIF): aguda: pouco quimiotactante - fluído com poucas
células, alta proteína, incolor, viscoso, neutrófilos degenerados, macrófagos, plasmócitos,
céls. mesoteliais e linfócitos; crônica: menor quantidade de neutrófilos, maior de outras
células
C. Exsudato
O exsudato possui formação ativa e origem inflamatória, com presença de substâncias
vasoativas e quimiotáticas, que aumentam respectivamente o conteúdo de proteínas e
células do líquido que são as substâncias vasoativas - aumento da permeabilidade vascular
( proteína), e substâncias quimiotactantes - aumento de células.
Características: turvos, cor: branca, rosa, âmbar, vermelha, etc, proteína total (>3,0g/dL),
densidade (>1020), pH ácido, células nucleadas (CTCN>7.000/µL), geralmente coagulam,
citologia: predominância de neutrófilos, macrófagos e células mesoteliais; bactérias podem
estar presentes. Exsudatos podem ser divididos em:
A - Sépticos: agentes bacterianos, fúngicos, etc.
B - Assépticos: uroperitônio, peritonite biliar, pancreatite necrótica e neoplasias.
127
Manual de Patologia Clínica Veterinária
13. 4. Abdominocentese
A Abdominocentese é um exame clínico complementar, de grande valia para
estabelecimento de um diagnóstico. Porém, assim como outros exames, não deve ser
executada sem prévio exame clínico completo, pois o insucesso em uma colheita não
significa ausência de anormalidades, e, ao contrário, pode ser um sinal para a realização de
outros exames clínicos complementares.
Por se tratar de um exame relativamente fácil de ser efetuado, o clínico veterinário
deve se habituar à sua realização e ter sempre à mão os equipamentos necessários à
colheita e acondicionamento do conteúdo abdominal, para encaminhamento laboratorial.
Por meio de uma abdominocentese é possível diagnosticar vários tipos de alterações
do líquido abdominal, podendo ser de origem traumática (sangue, conteúdos digestivos,
urina), infecciosa (conteúdo purulento), inflamatória (fibrina), entre outras. Este exame
é mais comumente utilizado para confirmação do diagnóstico de peritonite, contribuindo
também para o estabelecimento do prognóstico. Para a execução de uma
abdominocentese, é necessário que se tenha uma boa contenção do animal pois o local de
eleição para a colheita é a região xifóide, podendo ocorrer acidentes tanto para o veterinário
e seus auxiliares, quanto para o animal.
Pequenos animais
A paracentese abdominal em pequenos animais com propósito diagnóstico tem sido
muito utilizada, e possui uma taxa de sucesso em torno de 50%. Freqüentemente a agulha
entope com o contato de vísceras ou omento. Assim, somente grandes volumes de fluído
abdominal (5 a 7mL) podem ser detectados por este método. Para otimizar este meio
diagnóstico, é utilizado a diálise ou lavagem abdominal com auxílio de um cateter especial.
128
Manual de Patologia Clínica Veterinária
Com esta técnica, o índice de sucesso em detectar o fluído aumenta para em torno de 80%,
podendo detectar volumes de 1,0mL/kg PV. Além do aumento de volume de trabalho, o
cateter tem vantagem na retirada do líquido porque possui calibre maior, e com fenestrações
laterais na porção final.
A parede abdominal do paciente deve ser tricotomizada, e pode ser aplicado
anestésico local. Com o paciente em decúbito dorsal, realiza-se uma incisão na linha alba
com auxílio de bisturi, caudalmente ao umbigo uns 2 a 3cm, aproximadamente. O cateter é
então introduzido através da parede abdominal, na direção caudal, utilizando-se uma
seringa de 20mL para retirada do material. Se não for obtido aspirado com este
procedimento, 22 mLl/kg de solução fisiológica pode ser infundido para o abdome. O
paciente pode ser levemente movimentado para os decúbidos laterais para que o fluído se
disperse. O lavado final é colhido por drenagem gravitacional, não sendo necessário a
colheita do total de líquido infundido.
Grandes animais
Deve-se ter em mente que os bovinos tem uma capacidade muito acentuada de
restringir processos inflamatórios a nível abdominal, levando, na maioria das vezes, a
quadros circunscritos de peritonite, dificultando a colheita deste material. Ao contrário, nos
eqüinos a peritonite tende a ser difusa, mas mesmo assim a grande deposição de fibrina
pode “impedir” a saída de conteúdo representativo. Após a contenção, deve-se efetuar
tricotomia (± 20 x 20cm) e após antissepsia do local, com tintura de iodo, iodo povidine ou
outro desinfetante disponível. Pode ser feita uma anestesia local ao redor da região, porém
dependendo da índole do animal pode não ser preciso.
Durante a colheita, use sempre luvas cirúrgicas, pois além de proteção pessoal, este
procedimento é invasivo e pode levar a uma infecção iatrogênica. Use também agulha e
trocarter estéreis, pelo mesmo motivo. As agulhas devem ser longas e de calibre grosso
(40x15 ou 40x20), podendo também ser usado trocarter ou mesmo uma sonda de teto (com
ponta romba e aberturas laterais), sendo necessário neste caso a perfuração da pele por
meio de um bisturi. Tenha em mãos uma seringa para sucção, pois muitas vezes só assim
se recuperará algum conteúdo. Separe também pelo menos dois vidros pequenos
identificados com etiqueta (um sem anticoagulante e outro com EDTA), para que se possa
visualizar se ocorre ou não coagulação do conteúdo, e também para poder enviar o material
ao laboratório (dentro de isopor com gelo). Se necessário, pode-se efetuar esfregaço em
lâmina, dependendo do aspecto do conteúdo coletado. Não esquecer de referir o uso de
antimicrobianos, caso o material seja enviado para cultivo.
O local exato de colheita deverá ser escolhido em função da observação do animal
(por exemplo: pode haver irregularidades no aspecto do abdome, sugerindo presença de
conteúdo abdominal). Geralmente a colheita é feita tomando-se como referência a cicatriz
umbilical, adiantando-se 4 a 5 dedos e desviando-se para a direita 4 a 5 dedos. Nesta região
as chances de sucesso na colheita são maiores (é a região mais baixa do abdome).
O sucesso da colheita ocorre quando se recupera o conteúdo abdominal. Porém
sabe-se que nos bovinos e eqüinos sadios a quantidade de líquido existente é de apenas
alguns mililitros, sendo, portanto muito frequente a ausência de líquido abdominal no ato da
colheita, sem que isso seja considerado um insucesso.
13.5 Toracocentese
Para remoção do fluido pleural o animal pode estar em pé, sentado ou decúbito
esternal. Realizar tricotomia da área e preparar cirurgicamente a parede torácica, do quinto
ao décimo primeiro espaço intercostal. Injetar anestésico local em uma pequena área, entre
o sétimo e oitavo espaço intercostal. Recomenda-se a utilização de um tubo extensor com
agulha e um registro de três saídas. Para a remoção do fluido pleural. Introduzir a agulha na
parede torácica no local previamente preparado, tomando cuidado para evitar a artéria
intercostal localizada na porção caudal de cada costela.
129
Manual de Patologia Clínica Veterinária
13.6 Pericardiocentese
Para a remoção do fluido do saco pericárdico é necessário sedar o paciente e
realizar o procedimento guiado por ultra-som. Preparar cirurgicamente uma área da parte
baixa à média do quarto espaço intercostal, bilateral. Posicionar o animal em decúbito
lateral. Injetar anestésico local em uma área da junção costocondral ou próximo da linha de
encontro da porção baixa e média do tórax. Utilizar um cateter venoso com registro de três
saídas, acoplar seringa de 10-30mL. Introduzir cuidadosamente a agulha no quarto espaço
intercostal, em direção ao coração. Manter a pressão negativa da seringa durante a
perfusão da parede torácica. Avançar a agulha até que se perceba a resistência do
pericárdio. Deixa de haver resistência quando a agulha penetrar no saco pericárdico.
Concentração de Proteínas
Pode ser estimada por Refratômetro (usado na rotina) ou por métodos bioquímicos.
Deve-se filtrar ou centrifugar o líquido, usando-se o sobrenadante, pois a turbidez pode
mascarar a prova.
Colheita do líquor
Finalidade do exame: Recurso complementar na avaliação do sistema nervoso central
3
Verifique antes se o uso de animais para esta aula possui aprovação no Comitê de Ética da sua Instituição.
130
Manual de Patologia Clínica Veterinária
(SNC).
1. Atingida a cisterna magna o líquor fluirá pela agulha e será acondicionado em três frascos
separadamente. A quantidade de líquor colhida deverá ser aproximadamente de 1mL
para cada 5Kg de peso vivo. Em grandes animais cerca de 5mL são suficientes para
o exame. Remeter o material imediatamente ao laboratório.
2. A colheita do líquor deve ser realizada por profissional experiente, e após adequada
sedação ou tranquilização do animal. Como em parte das vezes, principalmente em
grandes animais, o animal em questão apresenta-se em decúbito e depressão,
normalmente nestes casos uma boa contenção pode ser mais adequada que os
riscos anestésicos.
131
Manual de Patologia Clínica Veterinária
5. O líquor, por conter células e outras estruturas de rápida degeneração, deve ser
processado imediatamente após a colheita, num período máximo em torno de trinta
minutos.
MÓDULO 4: HEMOTERAPIA
14.1. Introdução
Desde os primeiros relatos de transfusões sangüíneas no século XVII, quando se
transfundia sangue heterólogo na tentativa de se alterar o comportamento de quem o
recebia, a medicina transfusional tem evoluído muito. Hoje as indicações para a transfusão
de sangue total ou de um de seus componentes são a necessidade do restabelecimento da
capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue, deficiências na hemostasia,
transferência de imunidade passiva e hipoproteinemia, além da hipovolemia não responsiva
ao tratamento convencional. Atualmente, a terapêutica transfusional com componentes
específicos do sangue é preferida ao uso rotineiro de transfusão com sangue total. Esta
atitude não apenas conserva os estoques de sangue, uma vez que, cada unidade doada
pode beneficiar diversos pacientes, mas também permite que sejam transfundidas grandes
quantidades de um determinado componente que o paciente necessite, diminuindo o risco
de sobrecarga circulatória.
Cães
Foram identificados vários tipos sangüíneos em cães. Estes compreendem os AEC
(antígeno eritrocitário canino) 1 (1.1, 1.2, 1.3), 3, 4, 5, 6, 7, 8. Os tipos sangüíneos que têm o
maior potencial antigênico são o AEC 1.1, 1.2 e 7. Transfusão de sangue tipo AEC 1.1
positivo em um paciente com AEC 1 negativo resulta na formação de aloanticorpos anti-AEC
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Manual de Patologia Clínica Veterinária
1.1, diminuindo a sobrevida das hemácias transfundidas. Além disso, uma segunda
transfusão com AEC 1 positivo, resultará em reação transfusional hemolítica imuno-mediada
aguda severa. Similar a incompatibilidade do AEC 1.1, a transfusão de AEC 1.2 em um cão
negativo para AEC 1, mas que apresenta aloanticorpos contra AEC 1.2, causa uma
diminuição da meia vida das hemácias transfundidas para 12 horas. Em contraste, cães que
são negativos para AEC 7 podem possuir anticorpos naturais contra AEC 7, porém a sua
importância é ainda discutida. Por essas razões o doador ideal seria o cão negativo para
AEC 1.1, 1.2 e 7.
Gatos
Os gatos possuem apenas três grupos sangüíneos: A, B e AB, porém, possuem altos
títulos de anticorpos naturais, sendo estes responsáveis por reações transfusionais
hemolíticas severas na primeira transfusão ou em filhotes de fêmeas primíparas. A
freqüência dos tipos de sangue em gatos varia de acordo com a raça e localização
geográfica, mas a maioria dos animais (>95%) são do tipo A. O tipo sanguíneo B tem uma
prevalência de aproximadamente 5% da população total, porém essa incidência aumenta
em animais de raça pura, sendo que na raça British shorthair há uma prevalência de 77%. A
maioria dos gatos tipo B apresenta grande quantidade de anticorpos contra o sangue tipo A,
sendo que uma transfusão de tipos sanguíneos diferentes nestes animais pode acarretar
uma severa reação hemolítica aguda e irreversível. A meia-vida das hemácias transfundidas
neste caso é de uma hora. Já nos gatos tipo A recebendo sangue tipo B, a meia-vida dessas
células é de dois dias, sendo a transfusão inefetiva. Gatos AB aparentemente, não possuem
anticorpos contra os tipos sanguíneos A e B. É importante lembrar que com o aumento de
gatos de raças a incidência de reações transfusionais imuno-mediadas nesta espécie tende
a aumentar. Desta forma, a tipificação sangüínea e/ou a prova de reação cruzada
constituem procedimentos indispensáveis antes de qualquer transfusão sanguínea nesta
espécie.
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134
Manual de Patologia Clínica Veterinária
sangue fresco total pode ser separado em papa de hemácias e plasma por centrifugação.
Após a separação, a papa de hemácias deve ser colocada em temperaturas entre 1o e 6°C,
o mais rápido possível. O sangue total e a papa de hemácias estocados por mais de 14 dias
podem conter concentrações de amônia inaceitáveis para pacientes com doenças hepáticas
severas, recomendando-se a utilização de sangue fresco para transfusão nestes pacientes.
O plasma fresco congelado é o plasma colhido, separado e armazenado a -18°C até
8 horas após a colheita. O congelamento rápido protege os fatores de coagulação lábeis V e
VIII, e, portanto o plasma fresco congelado contém todos os fatores de coagulação, além de
proteínas plasmáticas e imunoglobulinas (Igs). Já o plasma congelado provém de um
sangue que não foi processado rapidamente (período superior a 8 horas). O plasma
congelado conserva concentrações adequadas apenas dos fatores de coagulação
dependentes de vitamina K (II, VII, IX, X), além de proteínas plasmáticas e Igs. O plasma
fresco congelado e o plasma congelado mantêm suas características por um a dois anos,
respectivamente, quando armazenados a -18°C. O plasma fresco congelado ainda pode ser
processado em crioprecipitado e crioplasma pobre. O crioprecipitado é o precipitado obtido
após o descongelamento parcial (a temperaturas entre 1o e 6°C) do plasma fresco
congelado e contém uma alta concentração do fator de coagulação VIII, do fator de Von
Willebrand e de fibrinogênio. Este componente deve ser mantido a -18°C, tendo assim
validade de 1 ano após a colheita. Após a preparação do crioprecipitado, o produto restante
é chamado de crioplasma pobre que é rico em albumina e imunoglobulinas e também pode
ser armazenado por até 1 ano a -18°C. O concentrado de plaquetas pode ser obtido após
centrifugação do plasma fresco. O concentrado de plaquetas deve ser conservado a
temperaturas entre 20 e 24°C e sob movimentação constante durante, no máximo, 5 dias.
Plasma
A quantidade de plasma requerido para tratamento de hipoproteinemia/
hipoalbuminemia pode ser calculada através da fórmula descrita no quadro que segue
abaixo. Porém, este tratamento é considerado uma solução emergencial, não dispensando o
suporte nutricional ao paciente. Ainda, o volume aplicado seguindo-se a fórmula acima pode
resultar em sobrecarga circulatória, uma vez que o líquido aplicado, devido a sua pressão
coloidosmótica, sofre redistribuição para o leito extravascular. Em emergências ou quando o
paciente não responde bem a diuréticos na diminuição do edema periférico pode-se fazer o
uso de 10 – 15mL/kg do plasma, havendo em cães uma resposta imediata satisfatória. Cães
que não ingeriram o colostro podem-se beneficiar com a aplicação de plasma para aumentar
a imunidade passiva na dose de 6 a 10mL/kg em uma única aplicação.
Em pacientes com distúrbios hemostáticos, o objetivo é controlar o sangramento. O
plasma fresco congelado e o plasma congelado são administrados em cães e gatos na dose
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