Discurs Estigmatizdos o LD de LP
Discurs Estigmatizdos o LD de LP
Discurs Estigmatizdos o LD de LP
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
REVISTA QUERUBIM
Letras – Ciências Humanas – Ciências Sociais
Ano 11 Número 25 Volume 2
ISSN – 1809-3264
NITERÓI RJ
Revista Querubim – revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências Humanas e
Ciências Sociais – Ano 11 Nº25 v.2– 2015 ISSN 1809-3264
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Conselho Científico
Alessio Surian (Universidade de Padova - Italia)
Carlos Walter Porto-Goncalves (UFF - Brasil)
Darcilia Simoes (UERJ – Brasil)
Evarina Deulofeu (Universidade de Havana – Cuba)
Madalena Mendes (Universidade de Lisboa - Portugal)
Vicente Manzano (Universidade de Sevilla – Espanha)
Virginia Fontes (UFF – Brasil)
Conselho Editorial
Presidente e Editor
Aroldo Magno de Oliveira
Consultores
Alice Akemi Yamasaki
Andre Silva Martins
Elanir França Carvalho
Enéas Farias Tavares
Guilherme Wyllie
Janete Silva dos Santos
João Carlos de Carvalho
José Carlos de Freitas
Jussara Bittencourt de Sá
Luiza Helena Oliveira da Silva
Marcos Pinheiro Barreto
Paolo Vittoria
Ruth Luz dos Santos Silva
Shirley Gomes de Souza Carreira
Vanderlei Mendes de Oliveira
Venício da Cunha Fernandes
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Ciências Sociais – Ano 11 Nº25 v.2– 2015 ISSN 1809-3264
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Resumo
A sociolinguística como método de pesquisa considera a diversidade linguística em função da
relação linguagem e sociedade. Diante disso, propomos problematizar a questão da diversidade
linguística a partir da análise de textos e atividades de leitura de livros didáticos de Língua
Portuguesa. Tal análise foi orientada conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais tendo em
vista que se trata de coleções didáticas distribuídas nacionalmente. Os dados indicam que a temática
da diversidade linguística está incluída em alguns textos dos livros didáticos, mas que ainda observa-
se a presença de discursos estigmatizados sobre as variedades linguísticas.
Palavras-chave: livro didático, Língua Portuguesa, diversidade linguística.
Abstract
The sociolinguistics as a research method considers linguistics diversity and in the language and
society relation. Therefore, we propose in this paper to discuss the subject of linguistics diversity
based on texts and reading activities of Portuguese textbooks. Such analyzes was guided by
National Curriculum as it the textbooks are distributed throughout the national territory. The data
indicate that the issue of linguistics diversity is included in the textbook but that is still observed
some stigmatized discourses about linguistics variety.
Keywords: textbook, Portuguese language, linguistics diversity.
Introdução
O livro didático, doravante LD, como material para o ensino de línguas continua sendo
objeto de pesquisa nas diferentes perspectivas teóricas, uma vez que, de modo geral, acaba sendo a
principal fonte disponível para leitura de alunos e professores (FREITAG, MOTTA, COSTA,
1997; BALADELI, 2014). As produções científicas sobre o livro didático revelam que o poder e o
status deste no ambiente escolar tem sido legitimado entre outros fatores pela falta de uma formação
adequada do professor que possibilite problematizar seus conteúdos. Além disso, cumpre
compreendê-lo como um artefato cultural, produzido sob determinadas.
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Feita esta breve introdução ao tema, a partir da próxima seção propomo-nos analisar o
tratamento dado à questão da variação linguística em livros didáticos para o ensino de Língua
Portuguesa para o (6º ano). Devido ao fato de as coleções didáticas serem distribuídas em todo o
território nacional, a referida análise partiu dos pressupostos apresentados no documento oficial
para a disciplina no âmbito nacional, ou seja, com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCNs (3º e 4º ciclos).
Conforme Alkmim (2005); Mollica (2010); Von Borstel (2012) e Tagliamonte (2012), a
sociolinguística valoriza a diversidade da linguagem e os usos diferenciados dos grupos sociais
tendo como objeto de estudo a língua falada e observada in locu.
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Os critérios adotados para a seleção das coleções e dos textos foram; ser LD para o 6º ano;
conter 1 (uma) unidade dedicada ao tema variação linguística e abordar a temática a partir da leitura
do texto multimodal. Assim, selecionamos 4 (quatro) coleções com 1 (um) texto cada para
refletirmos sua adequação aos princípios constante no documento nacional para o ensino de Língua
Portuguesa – os PCNs (BRASIL, 1997).
O texto faz parte da coleção Diálogo: língua portuguesa de autoria de Beltrão e Gordilho
(2009) desta análise trata-se de uma Tirinha, subgênero das HQ. A coleção didática em que consta
esta Tirinha Figura 01 é Diálogo: língua portuguesa, organizado por Eliana Beltrão e Tereza Gordilho,
livro este destinado ao 6º ano. O autor da Tirinha é Cedraz e apresenta na caracterização da
personagem Xaxado a figura de um nordestino. A Tirinha em 2 quadros ilustra um diálogo entre
uma personagem falante de uma variante linguística do campo e Xaxado, protagonista das tirinhas
de Cedraz. As perguntas que se seguem requerem do aluno a retomada da leitura da Tirinha para
relacionar o tema desta com o módulo 5 do LD destinado ao estudo do tema esporte. A tirinha
apresenta dois personagens conversando, Xaxado, menino com chapéu de cangaceiro e seu colega
Zé pequeno.
Quadro 01 –
Zé pequeno-Eu pidi um poquim de coro de vaca pra fazê uma bola, mas aquele
açoguero casquinha só me deu o coro da cabeça!
Xaxado-E deu pra fazer a bola?
Quadro 02-
Zé pequeno- De dá, deu...Mas tem qui chutá com cuidado!
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Essa Tirinha está presente na seção Trabalhando a gramática em que se propõe o estudo do
artigo definido e indefinido. A única questão de leitura relacionada ao tema variação linguística é a
atividade 1b. A história se passa num ambiente rural, no campo. Que elementos visuais e linguísticas comprovam
isso?
Excetuando a questão acima que requer do aluno a leitura inferencial do texto verbal,
explorando as características físicas dos personagens que remetem aos falantes da área rural de oura
variedade que não da norma-padrão. O tema diversidade linguística não é retomado ao longo a
coleção, tal fato parece indicar que as Tirinhas são inseridas em livros didáticos como chamariz para
o trabalho com a norma. Por essa razão, a atividade de leitura proposta para este texto parece
distanciar-se dos pressupostos da Sociolinguística e dos PCNs para o ensino de Língua Portuguesa.
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3. A língua portuguesa que falamos no Brasil não é igual em todo lugar. Nessa tira, por
exemplo, Chico Bento e Rosinha, por viverem no campo, falam o ―dialeto caipira‖,
isto é, um português diferente daquele que é usado em outros lugares. Se você fala de
modo diferente do deles, então que palavras utilizariam no lugar de:
a) ‗frô‘
b) ‗laranjera‘
c) ‗ocê‘
4. A língua usada por Chico Bento e Rosinha é diferente daquela utilizada por jornais,
revistas e livros. Apesar disso, é possível compreender o que eles dizem?
5. Se você e sua família vieram de uma região do país diferente daquela em que você
mora atualmente, comente com os colegas: Que diferenças há entre o português
falado naquela região e o falado na cidade em que você vive hoje? Cite alguns casos
(CEREJA e MAGALHÃES, 2009, p. 44).
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fatores extralinguísticos que podem influenciar a fala de Chico Bento e de Rosinha. Um aspecto a
ser destacado refere-se à assertiva da homogeneização da fala do morador da área rural como se
todos praticassem a variante caipira de Chico Bento. O último texto selecionado trata-se de uma
canção folclórica apresentada na coleção Português: para viver juntos é de autoria de Costa; Marchetti;
Soares (2009).
Cuitelinho
Cheguei na beira do porto
onde as ondas se espaia.
As garça dá meia volta
e senta na beira da praia.
E o cuitelinho não gosta
que o bota de rosa caia, ai, ai.
Ai quando eu vim
da minha terra
despedi da parentaia.
Eu entrei no Mato Grosso
dei em terras paraguaia.
Lá tinha revolução,
enfrentei fortes bataia, ai, ai.
Retomando os pressupostos apresentados nos PCNs (BRASIL, 1997), esta unidade parece
considerar a relação linguagem e sociedade sendo o tratamento dado ao tema apontado como
positivo para o (re)conhecimento por parte do aluno das diferenças linguísticas e do caráter
dinâmico e histórico de toda e qualquer língua.
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Considerações finais
A análise ilustrou que embora a diversidade linguística encontre espaço nos livros didáticos,
estando presente ao longo de unidades inteiras, a elaboração das atividades de leitura que seguem aos
textos nem sempre estão alinhadas a um ensino crítico de línguas que favoreça a reflexão do aluno sobre
as diferenças da fala e da escrita e das situações em que as mesmas são empregadas. Soma-se ainda o
fato de ênfase no dialeto ‗caipira‘ como o único fenômeno que destoa da norma-padrão acaba por
estigmatizar ainda mais os falantes desta variedade, podendo até cristalizar visões distorcidas do aluno
sobre o que os usos da linguagem como se a referência fosse o ‗certo‘ e o ‗errado‘.
Em linhas gerais, algumas das unidades trazidas neste artigo indicam uma maior preocupação
com a abordagem dada ao tema dado que acaba refletindo na elaboração das atividades e nos
encaminhamentos sugeridos no manual do professor. Destacamos também que a sala de aula representa
um lugar privilegiado para desconstrução de preconceitos sejam linguísticos ou de outra espécie e, que
uma abordagem menos atenta a forma como os discursos são apresentados no livro didático pode
resulta na manutenção da estigmatização de certas variantes linguísticas, por isso a necessidade de que o
tema continue sendo pesquisado.
Referências
ALKMIM, Tânia M. Sociolinguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A.C. (orgs). Introdução à linguística:
domínios e fronteiras. v. 1, São Paulo: Cortez, 2005.
BALADELI, Ana P.D. Identidades socioculturais no livro didático: em busca do ensino crítico de
Língua Inglesa. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2014.
BELTRÃO, Eliana; GORDILHO, Tereza. (orgs). Diálogo: língua portuguesa. 6º ano. São Paulo: FTD,
2009.
BORTONI-RICARDO, Stella M. A diversidade linguística do Brasil e a escola. In: BRASIL. Salto para o
futuro – TV Escola. Português: um nome dado, muitas línguas. Ano XXIII, Boletim 08, maio de 2008.
Disponível em: <http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/182411Port_ling.pdf#page=55> Acesso em 12
abr. 2014.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais – 1º e 2º ciclos. Brasília: MEC,
1997.
CEREJA, William R.; MAGALHÃES, Thereza C. (orgs). Português: linguagens. 5. ed. Manual do
professor 6º ano. São Paulo: Ed. Atual, 2009.
COSTA, Cibele L.; MARCHETTI, Greta; SOARES, Jairo J. B. Português: para viver juntos. Manual do
professor 6º ano. São Paulo: Ed. SM, 2009.
DELMANTO, Dileta; CASTRO, Maria C. (orgs). Português: ideias e linguagens. 13 ed. Manual do
professor 6º ano. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009.
FREITAG, Bárbara; MOTTA, Valéria R.; COSTA, Wanderley F. (orgs). O livro didático em questão. 3 ed.
São Paulo: Cortez, 1997.
MOLLICA, Maria C.; BRAGA, Maria L. (orgs). Introdução à sociolinguística: o tratamento da variação.
4 ed. São Paulo: Ed. Contexto, 2010.
TAGLIAMONTE, Sali A. Variacionist sociolinguistics: change, observation, interpretation. UK,
Wiley-Blackwell Publishers, 2012.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. 7. ed. São Paulo: Ed. Ática, 2002.
Von BORSTEL, Clarice N. Sociolinguística: abordagens quantitativa e qualitativa. Revista Línguas &
Letras, v.2, n.1, 2003. p. 165-172.
Von BORSTEL, Clarice N. A diversidade linguística e cultural em contextos escolares diversos. Muitas
vozes, Ponta Grossa, v. 1, n. 1, 2012. p. 109-125. Disponível em:
<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/muitasvozes/> Acesso em: 13 nov. 2014.
Enviado em 30/12/2014/Avaliado em 25/01/2015