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As Variações Linguísticas em Livros Didáticos Do Ensino Médio
As Variações Linguísticas em Livros Didáticos Do Ensino Médio
As Variações Linguísticas em Livros Didáticos Do Ensino Médio
Resumo: O objetivo deste artigo é de analisar as variações linguísticas presentes nos livros
didáticos (LD), “Português: Trilhas e Tramas” e “Ser protagonista: língua portuguesa”, do 1º
ano do Ensino Médio, ambos indicados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD,
2018). O trabalho fundamenta-se nos pressupostos teóricos da Sociolinguística, especialmente, à
luz da Sociolinguística Variacionista, contribuindo para a discussão sobre a heterogeneidade
linguística e sobre a influência dessas atividades para a formação linguística dos alunos. Para
isso, o estudo caracteriza-se como documental de cunho qualitativo. Quanto à seleção dos LD
do 1º ano do Ensino Médio, a escolha se fez em virtude de o assunto “variações linguísticas” ser
trabalhado nesse ano. Foi selecionada amostra representativa de três atividades que parecem
refletir postulados teóricos metodológicos da Sociolinguística. Os resultados apontam para o
ensino da língua em sua concepcção orientada para o uso, ligando-se à fundamentação teórica
da Sociolinguística. Porém, são necessárias discussões mais aprofundadas em relação às
percepções das questões sociais que envolvem a língua.
Palavras-chave: Sociolinguística. Variação Linguística. Livro Didático.
Abstract: This work aims to analyze the linguistic variations present in textbooks, "Português:
Trilhas e Tramas" and "Ser protagonista: língua portuguesa", from the 1st grade of High School,
both indicated by the National Textbook Program (PNLD, 2018). This research is based on the
theoretical assumptions of Sociolinguistics, specially, related to Variationist Sociolinguistics,
contributing to the discussion about the linguistic heterogeneity and the influence of the
classroom activities (from the textbooks) for the linguistic formation of the students. For that,
the study is characterized as documental and qualitative. The textbook selected for this study
was due to the subject "linguistic variations" to be taught to the 1st graders. It was selected
substantial sample of three activities which seems to reflect on theoretical postulates
methodologies of Sociolinguistics. The results point to the teaching of the language in its
conception oriented to the use, linking to the theoretical foundation of Sociolinguistics.
However, there is a need for more discussions regarding the perceptions of social issues
involving language.
Keywords: Sociolinguistics. Linguistic Variation. Textbook.
1
E-mail: adriana.gomes@ifto.edu.br
2
E-mail: deapilati@hotmail.com
3
Professora do Programa de Pós-Graduação em Letras, Campus de Porto Nacional, da Universidade
Federal do Tocantins, UFT. E-mail: angelafuza@mail.uft.edu.br.
Submetido em 05/12/2019.
Aprovado em 17/03/2020.
Introdução
uma vez que se nota, ainda, uma educação calcada em muitos modelos pré-
determinados de ensino. Ao adotar como referência o padrão culto, esses modelos
desqualificam e excluem expressões “naturais” e legítimas de seus falantes, ao atribuir o
conceito de “certo” ou “errado” para as suas manifestações de expressão comunicativa.
Conforme discorrido nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o
Ensino Médio (BRASIL, 2016, p.72), considera-se a “Língua Portuguesa como fonte de
legitimação de acordos e condutas sociais e representação simbólica de experiências
humanas, manifestadas nas formas de sentir, pensar e agir na vida social”. Ressalta-se,
assim, a importância de apresentar aos alunos as diversas possibilidades de uso da
língua e a premissa da heterogeneidade inerente às múltiplas variedades e estilos de uma
mesma língua para que o processo de aprender se torne algo mais significativo e
próximo de sua realidade. Além disso, com a Base Nacional do Ensino Médio
(BRASIL, 2018), na área de Linguagens e Tecnologias, a competência quatro trata
justamente do foco na variação:
resolvidos por uma visão discreta da estrutura linguística. Nas palavras de Labov (2008
[1972], p.13-14):
situações descontraídas. Não se deve confundir o estilo formal e informal com língua
escrita e falada, pois os dois estilos ocorrem em ambas às formas de comunicação.
3 Metodologia
Ao refletir sobre o uso do LD, pensou-se em tê-lo como objeto de análise para
verificar e analisar como a variação linguística é apresentada nas atividades, discutir
sobre a importância do trabalho com a diversidade linguística ao abordar o papel
preponderante dos fatores sociais na explicação da variação linguística. Acredita-se que
essa discussão é relevante pelo reconhecimento da importância de trabalhos que
utilizam dados que refletem o uso da língua em um contexto social heterogêneo, não
estigmatizando as diversas formas de se falar a língua, contribuindo para a formação
cidadã dos alunos.
Utilizou-se a pesquisa documental, de cunho qualitativo, pois escolhem-se os
livros didáticos de língua portuguesa e, somente depois do conhecimento desses, foram
escolhidas três atividades a serem analisadas, sempre com os olhos voltados aos
postulados teóricos metodológicos da Sociolinguística, especialmente, à luz da
Sociolinguística Variacionista. Ressalta-se a escolha de somente três atividades, visto
que não haveria possibilidade da análise de todos os dois capítulos dos LD por se tratar
de um trabalho de extensão menor.
Para o primeiro passo da pesquisa, foram escolhidos os LD de língua portuguesa
a serem analisados: “Português: Trilhas e Tramas” (2016) e “Ser protagonista: língua
portuguesa” (2016), do 1º ano do Ensino Médio (EM), ambos indicados pelo Programa
Nacional do Livro para o Ensino Médio – PNLEM – para o ano de 2018. A escolha dos
referidos LD se deu pela razão de serem indicações do material didático a fazer parte da
rotina escolar das autoras.
As atividades selecionadas do LD “Trilhas e Tramas” estão no capítulo 17
intitulado “Variedades Linguísticas”. Já as atividades do LD “Ser protagonista: língua
portuguesa” estão no capítulo 10 “Uma língua, muitas línguas”. Ambos os livros são da
1ª série do Ensino Médio. Vale salientar que a temática acerca da variação linguística é
abordada em LD dessa faixa etária ao justificar a sua seleção como instrumento de
análise para este estudo.
“- É comum ouvirmos que o Brasil se fala uma mesma língua de norte a sul do país.
Você concorda? Por quê?
- Que línguas e dialetos contribuíram para a formação da língua que falamos hoje?
- A língua portuguesa de Portugal é a mesma língua portuguesa do Brasil? Podemos
afirmar que falamos uma “língua brasileira”?
- Moradores de áreas urbanas e rurais falam do mesmo modo?
- Médicos, professores, crianças, roqueiros, surfistas, trabalhadores rurais e profissionais
de outras áreas usam a mesma variedade linguística? ”
(SETTE et al., 2016, p. 204).
“Inicie o capítulo propondo aos alunos uma discussão sobre os versos de Oswald de
Andrade, que permitem várias leituras. Por meio deles, o eu lírico parece valorizar a
identidade sociolinguística e o trabalho do povo; questionar aqueles que usam a norma-
padrão teriam a habilidade de construir telhados; defender que, se a variedade usada pode
ser compreendida, ela deve ser aceita e respeitada; levar o leitor refletir que a língua
utilizada pelo falante que tem prestígio social é valorizada em detrimento da língua do
falante sem prestígio social, entre outras possibilidades” (SETTE et al., 2016, p. 204).
“Os textos a seguir apresentam diversas variedades linguísticas que ilustrem a variação
regional e social (por conta de diferenças de faixa-etárias, profissão etc.). Leia-os e, com
base nas informações e nos conceitos aprendidos anteriormente, identifique o tipo de
variação linguística por cada um deles. Registre suas repostas no caderno” (SETTE et al.,
2016, p. 209).
b) Trezentas onças
- Eu tropeava, nesse tempo. Duma feita que viajava de escoteiro, com a guaiaca
empanzinada de onças de ouro, vim parar aqui neste mesmo passo, por me ficar mais perto
da estância da Coronilha, onde devia pousar.
Parece que foi ontem!... Era fevereiro; eu vinha abombado da troteada.
- Olhe, ali, na restinga, à sombra daquela mesma reboleira de mato, que está nos vendo,
na beira do passo, desencilhei; e, estendido nos pelegos, a cabeça no lombilho, com o
chapéu sobre os olhos, fiz uma sesteada morruda. [...]
(LOPES NETO, Simões. Cantos gauchescos&lendas do Sul. Rio Grande do Sul:L&PM
Pocket, v.102, 1998, p.16, apud SETTE et al, 2016, p. 210).
• desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem
discriminação;
• repudiar toda discriminação baseada em diferenças de raça/etnia, classe social,
crença religiosa, sexo e outras características individuais ou sociais;
• exigir respeito para si e para o outro, denunciando qualquer atitude de
discriminação que sofra, ou qualquer violação dos direitos de criança e cidadão;
• valorizar o convívio pacífico e criativo dos diferentes componentes da diversidade
cultural;
• compreender a desigualdade social como um problema de todos e como uma
realidade passível de mudanças;
• analisar com discernimento as atitudes e situações fomentadoras de todo tipo de
discriminação e injustiça social. (BRASIL,1997, p. 143)
Conclusão
arraigado em nossa cultura. Isso não impede que o professor possa gerar discussões
nesse sentido, a partir do que foi apresentado pelos livros, para contribuir para a
formação dos alunos.
Referências
ALKMIN, T. M. Sociolinguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES. (Org.). Introdução à
Linguística: domínios e fronteiras I. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
http://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/pnld/guia-do-livro-
didatico/item/11148-guia-pnld-2018. Acesso em: janeiro de 2018.
MENDES. R. B. Língua e variação. In: FIORIN. José Luiz (Org.) et al. Linguística?
Que é isso? São Paulo: Contexto, 2015.
SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 17. ed. São Paulo: Ed. Ática,
2002.