Science">
Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos: Soraia Aparecida Roques Pereira Nataniel Dos Santos Gomes

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos

A SOCIOLINGUÍSTICA
NO LIVRO DIDÁTICO LEITURA DO MUNDO
Soraia Aparecida Roques Pereira (UEMS)
soraiarpereira@hotmail.com
Nataniel dos Santos Gomes (UEMS)
natanielgomes@hotmail.com

1. Introdução
O ensino da língua padrão é tido pelas escolas como um instru-
mentos de suma importância para promover a diminuição das desigual-
dades sociais e para isso tem-se utilizado uma metodologia de ensino
centrada nas teorias gramaticais transmintindo a ideia de que aprender a
língua significa ter o domínio da gramática padrão, que previlegia o uso
da escrita em detrimento á fala.
Considera-se que para o pleno exercício da cidadania faz-se ne-
cessário o domínio da palavra e que, de acordo com os Parâmetros Cur-
riculares Nacionais – PCN (1997, p. 32) “cabe a escola ensinar o aluno a
utilizar a linguagem oral em diversas situações comunicativas, especial-
mente nas mais formais.”
Observar-se que a competência da fala precisa ser trabalhada
constantemente para que o discente desenvolva suas habilidades de ex-
pressão na sociedade. Diante desta problemática, procede-se à análise do
livro didático Leitura do Mundo, de língua portuguesa voltado para o 6º
ano do ensino fundamental, a fim de certificar a maneira como a autora
Lucia Teixeira e Norma Discini propõe o trabalho com a expressão oral.
O objetivo desse artigo é de instigar os docentes para que façam
uma crítica sobre o material didático de que dispõe, a fim de que procu-
rem apoio em outros materiais caso o seu livro didático não aborde de
maneira satisfatória a expressão oral bem como as variantes da língua.
A intenção aqui é fazer um pequeno estudo da língua direcionada
para a linguagem verbal falada; a partir da análise da proposta de expres-
são oral do livro didático Leitura do Mundo, pela conclusão que apresen-
ta os resultados obtidos, destacando que o trabalho não tem como meta
avaliar os materiais estudados.

108 Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr. 2013 – Suplemento.
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
2. Breve história da sociolinguística
Sociolinguística é uma das subáreas da linguística e estuda a lín-
gua em uso no seio das comunidades de fala, procura investigar e corre-
lacionar aspectos linguísticos e sociais. Essa ciência se faz presente num
espaço interdisciplinar, na fronteira entre a língua e sociedade, focaliza
os empregos linguísticos concretos, em especial os de caráter heterogê-
neo.
No meados do século XX, a área da linguística sofre mudanças
significativas. É nesse momento que ocontece a chamada virada para-
digmática, ou seja os estudos linguísticos passam a se interessar não so-
mente pelo sistema da língua em si, mas pelo seu uso. A partir daí sur-
gem diversos campos de investigação que promovem uma relação inter-
disciplinar.
A linguística, então passa a articula com outras ciências como a
filosofia, a sociologia, a antropologia, a psicologia, a neurociência, etc.
Para nós tal junção permitiu o surgimento da sociolinguística. O termo
“sociolinguística” apareceu pela primeira vez em 1953, num trabalho de
Haver C. Currie.
O estudo dessa disciplina desenvolveu-se nas décadas de 50 e 60,
nos Estados Unidos, e o interesse despertado pela pesquisa deve-se à
grande divulgação dos estudos de comunicação; à necessidade de maior
aproximação com outros povos, ou de conhecimento melhor da própria
comunidade; à divulgação dos estudos de sociologia e linguística.
São considerados sociolinguistas todos aqueles que entendem por
língua um sistema de comunicação, de informação e de expressão entre
os indivíduos da espécie humana (TARALLO, 1982).
William Labov linguista americano, é o precursor da sociolinguís-
tica variacionista. Pois ele inicia os estudos da Teoria da Variação em
1963, quando analisa o inglês falado na ilha de Martha’s Vineyard, no
estado de Massachusetts (EUA). Depois desta pesquisa, outras surgiram,
como a estratificação social do inglês falado na cidade de Nova York
(1966); a língua do gueto, entre outros.
Labov começa uma vertente de estudos de orientação antisaussu-
riana, ou seja, contrária à corrente dominante e que deu origem ao Curso
de Linguística Geral. Assim, ao invés da langue – língua, como fez Sau-
ssure, Labov centra seus estudos na parole – fala/uso. E ainda enfoca o
estudo da fala/uso de um ponto de vista social e não individual. Diferen-

Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr.2013 – Suplemento. 109
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
temente das propostas vigentes da época sobre as teorias linguísticas em
meados do século XX, pois neste período a língua é vista como um sis-
tema homogêneo, unitário, enquanto que a sociolinguística percebe a lín-
gua como um sistema heterogêneo e plural, ou seja, a língua se apresenta
de diversas maneiras e vai depender do uso feito pela comunidade lin-
guística.
O objeto da sociolinguística é a língua falada, observada, descrita
e analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. Uma
comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se constituir por pes-
soas que falam do mesmo modo, mas por indivíduos que se relacionam,
por meio de redes comunicativas diversas, e que orientam seu compor-
tamento verbal por um mesmo conjunto de regras.
Logo todas as línguas apresentam um dinamismo próprio, o que
significa dizer que elas são heterogêneas. Encontram-se assim, formas di-
ferentes que, em princípio, se equivalem semanticamente no nível do vo-
cabulário, da sintaxe e morfossintaxe, do subsistema fonético-fonológico
e no domínio pragmático-discursivo.
Na perspectiva da sociolinguística, o ser humano é por natureza
plurilíngue, ou seja, que faz uso de várias línguas. Mesmo quando usa-
mos a nossa língua, ela se apresenta de diversas maneiras: por exemplo,
em casa, usamos o idioma familiar; na escola, com os amigos, com pro-
fessores modificamos o nosso jeito de usar a língua e interagimos de ma-
neiras diferentes, então tudo vai depender do meu intelocutor, do contex-
to, do lugar que falo e para quem falo. A linguística volta-se para todas
as comunidades com o mesmo interesse científico e a sociolinguística
considera a importância social da linguagem, dos pequenos grupos soci-
oculturais a comunidades maiores.
Os sociolinguistas têm-se voltado para a análise dessas relações e
o preconceito linguístico tem sido um ponto muito debatido na área, pois
ainda predominam as práticas pedagógicas assentadas em diretrizes ma-
niqueístas do tipo certo/errado, tomando-se como referência o padrão
culto. Toda língua apresenta variantes mais prestigiadas do que outras.
Os estudos sociolinguísticos oferecem valiosa contribuição no
sentido de amenizar, acabar o preconceitos linguísticos e de relativizar a
noção de erro, ao buscar descrever o padrão real que a escola, por exem-
plo, procura desmerecer, e banir como expressão linguística natural e le-
gítima.

110 Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr. 2013 – Suplemento.
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
Embora os julgamentos de valor não se apliquem, os padrões lin-
guísticos estão sujeitos à avaliação social positiva e negativa e, nessa
medida, podem determinar o tipo de inserção do falante na escala social.
Toda língua portanto apresenta variantes mais prestigiadas do que outras.

3. Caráter dinâmico e evolutivo da língua


As pesquisas na área da linguagem tem mostrado que todas as lín-
guas vivas são peças de um lento processo evolutivo. Tem-se que a atra-
vés dela, assim, como do indo-europeu gerou o latim, este gerou o portu-
guês. Por sua vez, sendo uma língua viva, o português, tem seu caráter
dinâmico como todas as outras, de acordo com Cunha apud Luft:
Criação da sociedade, não pode (a língua) ser imutável; ao contrário, tem
de viver em perpétua evolução, paralela à do organismo social que a criou. [...]
A petrificação linguística é a morte do idioma. A linguagem é por excelência,
uma atividade do espírito, e a vida espiritual consiste num progresso constan-
te. (2000.p.40).

O que, ao longo de sua existência, tornou a língua portuguesa sus-


cetível a influências de fatores geográficos, culturais e sociais, os quais
são responsáveis tanto pelo seu comportamento como pelo surgimento de
algumas variantes. Possenti reforça: “Não há língua que permaneça uni-
forme. Todas as línguas mudam. Esta é uma das poucas verdades indis-
cutíveis em relação às línguas, sobre a qual não pode haver nenhuma dú-
vida. (2001, p. 38)
Infere-se de tal afirmação que, a língua portuguesa no Brasil de-
senvolveu características próprias, baseada nos costumes do nosso povos.
Nesta era da globalização e dos grandes avanços tecnológicos nas comu-
nicações, a nossa “língua brasileira” está sendo constantemente “bom-
bardeada” por novas informações, as quais, acrescidas a elementos de or-
dem sócio econômica, logo torna-se favoravél o surgimento de outras va-
riantes dessa língua.

3.1. As gramáticas possíveis em uma língua


Quando fala-se sobre o ensino da língua materna nas escolas, en-
fatizamos que existe uma preocupação excessiva com “a escrita correta”,
faz com que os alunos entendam a língua como “um conjunto de regras”
e que qualquer tentativa de produção usando outras variantes será tacha-

Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr.2013 – Suplemento. 111
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
da de “adequado” ou “inadequado” “certo” ou “errado” em detrenimento
ao domínio efetivo da língua na comunicação.
A palavra gramática significa, segundo Possenti (2001, p. 64)
“conjunto de regras” que pode ser entendida como (2001, p. 65) [...] que
devem ser seguidas; [...] que são seguidas; [...] que o falante da língua
domina”. Pode-se entender que na tentativa de uniformização, sempre
houve uma preocupação em eleger a língua de maior prestígio social, no
caso a língua culta como sendo ideal, a meta a ser atingida por aqueles
que almejam ascensão social, sobre a qual se constituíram as “regras que
devem ser seguidas” da gramática normativa.
Por outro lado, temos uma gramática descritiva elaborada com ba-
se na observação dos atos da fala de uma mesma língua, por que, apesar
da gramática normativa ditar as regras que devem ser seguidas, é a fala
que determina o uso efetivo da língua, “as regras que são seguidas”, por
exemplo, palavras que caíram em desuso e novas palavras que estão sen-
do incorporadas na língua. A questão é que não existe língua sem gramá-
tica, pois ela é o alicerce sobre o qual serão formuladas todas a situações
aceitáveis na língua. Pois segundo Luft (2000, p. 11):
Não há língua sem gramática. Amar uma língua é amar sua gramática [...]
a autêntica gramática, a vital, verdadeira: conjunto de regras que sustentam o
sistema de qualquer língua, com ela nascem, evoluem e morrem. (LUFT,
2000, p. 11).

Logo, se toda língua é dinâmica e se toda língua contém a sua


“gramática verdadeira”, então, esta não pode ser estática. Assim, como a
língua, o homem esta em constante evolução, o que torna cada ser huma-
no particularizado, com costumes próprios e, portanto, com uma língua
própria baseada “nas regras que o falante domina”
O conjunto dessas regras forma a grámatica natural ou internali-
zada, que retrata o conhecimento implícito que norteia a comunicação do
indivíduo no seu cotidiano. O falante não tem noção de tais regras, ela
não são evidentes, são de ordem mental, e por isso o seu uso é espontâ-
neo.

3.2. Um equívoco no ensino da língua portuguesa


Acredita-se que a criança ao ingressar na escola, traga consigo
vontades, sonhos de aprender a ler e a escrever e falar corretamente. Po-
rém, a discriminação acontece quando a criança fala. É lamentável, mas é

112 Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr. 2013 – Suplemento.
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
nesse primeiro contato entre as duas formas de comunicação que surgem
os conflitos e a criança é rotulada: ou fala com “erros”, é carente e vai
apresentar dificuldades no desempenho cognitivo; caso fala “certinho”,
será um sucesso. Mesmo sem perceber, a escola já está determinando,
dessa forma, o fracasso ou o sucesso escolar de seus discente.
A escola considera que o aluno não sabe a língua materna ao
adentrar no ensino fundamental, uma vez que não domina a leitura e a
escrita. Dessa forma, inicia-se num processo em que o aprendizado se re-
sume na busca obsessiva da ortografia correta, como se o domínio de
uma língua estivesse restrito á sua estrutura gramatical.
Este ensino através da gramática se dá de uma forma fechada, im-
posta dentro de um conjunto fixo de regras, cuja função é a de corrigir as
imperfeições dos alunos, priorizando a assimilação das suas nomenclatu-
ras em detrenimento à aplicação desta na comunicação, o que só provoca
a sua rejeição por partes dos discentes. Para Perini:
O ensino de gramática tem três defeitos, que o inutilizam enquanto disci-
plina: primeiro, seus objetivos estão mal colocados; segundo, a metodologia
adotada é seriamente inadequada; e terceiro, a própria matéria carece de orga-
nização lógica. (PERINI, 1997, p. 49).

Alguns pensadores da educação concordam que o aluno só assimi-


la uma matéria se ela de algum a forma despertar a sua motivação. Para
que isso aconteça, ele necessita saber a importância e a aplicação do con-
teúdo.

3.3. A importância da fala na sociedade


A expressão oral que é inata ao ser humano, em conformidade
com isso, afirma Bechara (1997, p. 5) “recebendo o aluno já possuidor de
um saber linguístico prévio limitado à oralidade, a escola não o leva a
desenvolver esse potencial”, desprezando o fato de que no Brasil temos
uma língua falada (a língua materna) que difere do português (da escrita
culta), embora ambas sejam parecidas.
A essência da língua está na oralidade, como enfatiza Luft (2000,
p. 39) “A verdadeira linguagem é a fala”. Portanto, a escrita tem a função
primária de registrar o que já foi e o que pode ou vai ser dito. Como pro-
va disso temos o exemplo das línguas àgrafas, que estão restritas à fala.
Inicialmente a gramática de qualquer falante esta condicionada ao
meio em que ele foi criado; pois a criança só fala palavras que já ouviu e

Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr.2013 – Suplemento. 113
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
elabora suas estruturas frasais estabelecendo uma relação com as frases
que foram ditas no seu meio social.
Naturalmente, há variantes de gramáticas, conforme a origem, a idade, o
grau de cultura ou nível sociocultural do falante; mas todas elas, mesmo as de
nível mais baixo, são completas em si, dispõem de todos os elementos neces-
sários para fazer frases e comunicar-se (LUFT, 2000, p. 37).

As pessoas utilizam a fala a todo instante, na sua casa com famí-


liares, na rua, no trabalho com os colegas e em diversas outras situações.
Em todas essas relações de comunicação elas estabelecem uma troca de
informações, acrescentando novos termos, não necessariamente aceitos
pela gramática normativa ao vocabulário da sua gramática internalizada.
Luiz Carlos Cagliari escreveu sobre essa característica da lingua-
gem, segundo ele a convencionalidade da linguagem não rege só as rela-
ções entre signos linguísticos e o mundo, mas está presa a valores soci-
ais, econômicos, ideológicos, políticos, religiosos, dependendo de con-
textos, o próprio sentido literal das palavras mudam (2007).
Já para Labov a linguagem determina a que grupo pertence o fa-
lante e a qual classe social está inserido, determina “quem é” e a que ní-
vel socioeconômico pertence tal pessoa.

3.4. A expressão oral em sala de aula


Ressaltando a importância da escola no aprimoramento da compe-
tência verbal, quanto a oralidade, Lo Cascio (apud BECHARA, 1997, p.
45) diz que “seria necessário que se propusesse inicialmente ensinar a
“falar”, não só como instrumento de expressão, mas também como is-
ntrumento social de comunicação para todas as ocasiões”. Daí porque as
escolas devem desenvolver mais atividades de expressão oral visando
não só a fala e a verbalização como também o senso crítico e a organiza-
ção lógica do pensamento por parte dos alunos.

4. Análise da proposta de expressão oral do livro didático de língua


portuguesa: Leitura do Mundo
O livro Leitura do Mundo da Editora do Brasil, edição 2005, esta
dividido em nove unidades, sendo que somente as seis primeiras unida-
des possuem na sua abertura a seção “Hora de falar” dedicada á expres-

114 Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr. 2013 – Suplemento.
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
são oral. A maioria das seções utiliza uma epigrafe e uma gravura, que
abre a unidade respectiva, para trabalhar as suas questões propostas.
As epigrafes são de autoria diversas como: Mário Quintana, La
Fontaine, Ítalo Calvino, Guimarães Rosa e outros. Já as gravuras são di-
recionadas a ilustrar as epígrafes, razão pela qual fica difícil interpretá-
las isoladamente.
As atividades “Hora de falar” propõe questões cujas respostas po-
dem estar; na interpretação da epigrafe, nos conhecimentos internaliza-
dos do aluno ou na sua visão pessoal de mundo, a qual poderá ser utiliza-
do pelo professor para um conhecimento mais aprofundado do aluno.
As atividades de expressão oral, trabalham com temas, que abor-
dam problemas da adolescência; que despertam o interesse pelas ciên-
cias; com reflexões sobre ecologia; que envolvem a linguagem poética;
que retratam a realidade social e, por fim, que instigam a procura do auto
conhecimento por parte do discente.
Denota-se a relevância do parecer pessoal do aluno diante das
questões propostas. Há uma preocupação, por parte das autoras, em agu-
çar o senso crítico do aluno, assim como, o apronfundar o assunto trata-
do. Desta maneira, a proposta das autoras é que os alunos façam um re-
trato dos problemas da sociedade urbana moderna e enfoquem as dife-
renças existentes no aspecto social, enfatizando que, quanto à possibili-
dade de variações da língua, as autoras utilizam construções frasais fa-
zendo uso da linguagem figurada e incetiva os alunos em decodificarem
as significações.
Este livro está de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacio-
nais – PCN. As autoras mencionam a preocupação em contribuir para a
formação de cidadãos conscientes e capazes de se expressar como mem-
bros atuantes na sociedade.

5. Considerações finais
Neste breve artigo, vimos a importância que os professores devem
dar ao desenvolvimento da oralidade em sala de aula, para que seus alu-
nos saibam como atuar em cada situação de fala objetivando uma comu-
nicação efetiva. Faz-se necessário que o docente reconheça que as crian-
ças, ao chegarem a escola, já possuem uma gramática internalizada, uma
gramática natural processada a partir de suas próprias experiências lin-

Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr.2013 – Suplemento. 115
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
guísticas. Sabe-se, também, que a criança não é uma “tabula rasa”, des-
provida de conhecimento. a experiência de mundo trazida pelo individuo
faz parte da construção do conhecimento.
A nossa pequena análise foi fundamentada sobre o livro de língua
portuguesa Leitura do Mundo, direcionada ao 6ª ano do ensino funda-
mental, com a intenção de averiguar de que forma é abordada a questão
da fala, ou seja, a “expressão oral”. O principal objetivo do trabalho não
foi a crítica dessa obra, mas verificar se há a preocupação das autoras em
dedicar conteúdos ao desenvolvimento dessa habilidade que é essencial
para que o aluno exerça o pleno domínio da língua, e se este objetivo foi
alcançado.
Com isso se enfatiza a necessidade do professor avaliar se os li-
vros didáticos adotados pela a escola em que trabalha traz conteúdos que
atentam para o desenvolvimento do discente enquanto “individuo pen-
sante”, pois sabe-se que é aguçando os seus sentidos e provocando-o a
fim de que, também busque o conhecimento de forma autônoma.
Portanto, ainda que seja a principal ferramenta utilizada no pro-
cesso de ensino e aprendizagem pelo sistema público de ensino, os do-
centes não podem se deixar conduzir pelos livros didáticos e sim fazer
deles um instrumento de apoio a ser somado a outras fontes do saber,
sem desprezar o conhecimento prévio do aluno e o contexto de que faz
parte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Pau-
lo. 2001a.
______. O preconceito linguístico: o que é, como se faz. 12. ed. São Pau-
lo: Loyola, 2002.
______ Português ou brasileiro? um convite à pesquisa. São Paulo: Pa-
rábola, 2001b.
BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? São
Paulo: Ática, 1997.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora?
Sociolinguística e educação. São Paulo: Parábola, 2005.

116 Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr. 2013 – Suplemento.
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação
fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa.
Brasília, 1997.
CAGLIARI. Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipio-
ne, 2007.
FIORIN, José Luiz. Política linguística no Brasil. Gragoatá, n° 9, 2°
sem. 2000, volume Línguas e variação linguística no Brasil. Niterói:
Eduff, 221-231, 2000.
LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. São Paulo: Ática, 2000.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. O português são dois...: novas fron-
teiras, velhos problemas. São Paulo: Parábola, 2004.
MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza (Orgs.), Introdução à
pesquisa sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2003,
MONTEIRO, José Lemos. Para compreender Labov. Petrópolis: Vozes,
2000.
PERINI, Mário. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 1997.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campi-
nas: Mercado de Letras, 2001.
SOARES, Magda. Linguagem e escola. Uma perspectiva social. São
Paulo: Ática, 1987.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática,
1988.
TEIXEIRA, Lucia; DISCINI, Norma. Leitura do mundo, 6º ano. São
Paulo: Editora Brasil, 2005.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta meto-
dológica de ensino de 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 2001.

Revista Philologus, Ano 19, N° 55. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr.2013 – Suplemento. 117

Você também pode gostar