Antologia Erotica Os Dramatikos
Antologia Erotica Os Dramatikos
Antologia Erotica Os Dramatikos
AS MULHERES GULOSAS
As mulheres gulosas
que chupam picol
- diz um sbio que sabe -
so mulheres carentes
e o chupam lentamente
qual se vara chupassem,
e ao chup-lo j sabem
que presto se desfaz
na falcia do gozo
o picol fuginte
como se esfaz na mente
o imaginrio pnis.
Um passarinho cantava,
bem dentro da rvore, dentro
da terra, de mim, da morte
O captulo do ser
o mistrio de existir
o desencontro de amar
radiante de pedrarias
e de dios apaziguados
e o espasmo vinha na brisa
e me tornava disperso
todo em circulos concntricos
na fumaa do universo
Beijava o membro
beijava
e se morria beijando
a renascer em setembro
A LNGUA LAMBE
A lngua lambe
Intervalo amoroso
O que fazer entre um orgasmo e outro,
quando se abre um intervalo
sem teu corpo?
Teu sexo
orqudea entreaberta
perfumava a noite e meu corpo apascentava.
III (Hilda hilst)
III
Araras versteis
Araras versteis. Prato de anmonas.
O efebo passou entre as meninas trfegas.
O rombudo basto luzia na mornura das calas e do dia.
Ela abriu as coxas de esmalte, loua e umedecida laca
E vergastou a cona com minsculo aoite.
O moo ajoelhou-se esfuando-lhe os meios
E uma lngua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um xtase de gosmas e de lrios
Quando no instante algum
Numa manobra gil de jovem marinheiro
Arrancou do efebo as luzidias calas
Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii...
E gozaram os trs entre os pios dos pssaros
Das araras versteis e das meninas trfegas.
"Perdoa-me Cordlia,
Mas ao no ser tu
Minha irm e to bela
No tive o ntido e
Premente desejo
Por mulher alguma
Mas sempre gosto de
Ser chupado
Ento s vezes seduzo
algumas com a
beiolinha revirada.
Mas o falo na rosa,
Nas mulheres s em
Extremes.
H em todas as mulheres
um angor, um largar-se
que me desestimula.
Gosto de corpos duros,
esguios, de ndegas
iguais aqueles gomos
ainda verdes
Grudados tenazmente
a sua envoltura.
Eu gosto de cu de homem
Cus viris
Com os plos negros ou
aloirados a sua volta
Contrair-se
Um fechar-se
cheio de opinio
Bunda de mulher?
Deve dar bons bifes,
no caso de desastre na neve
Leste sobre os tais
que comeram os amiguinhos
e amiguinhas
congelados?
Voltando as ndegas
As tuas, douradas
e frescas
Tu foste nica
tuas ndegas tambm
Firme, altas
Perfeitas como
as de um rapaz (...)"
Primeira histria
O sapo Liu-Liu tinha muita pena de seu cu. Olhando s pro cho!
Coitado! Coitado do cu do sapo Liu-Liu! Ento ele pensou assim:
Vou fazer de tudo pra que um rainho de Sol entre nele, coitadinho!
Mas no sabia como fazer isso. Conversando um dia com a
minhoca La, contou tudo pra ela. Mas La tambm no sabia
nada de cu. Vivia procurando o seu e no achava.
- T bem, v, ento c no tem esse problema, disse Liu-Liu.
- Mas no fica bravo, Liu-Liu, eu vou me informar. Vou saber
como voc pode fazer pra que um rainho de sol entre no teu fiu-
fiu.
- Que beleza, La! Fiu-fiu um nome muito bonito e original!
- No seja bobo, Liu, todo mundo sabe que cu se chama fiufiu.
- Ah, ? Pois eu no sabia.
Ento La viajou pra encontrar a coruja Fofina que tinha fama de
sabida. Fofina pensou pensou pensou, abriu velhos livros,
consultou manuscritos, enquanto La dormia toda enrolada.
- Acorda, La! Achei! disse Fofina.
A minhoca La ficou toda retesada de susto.
- Relaxa, relaxa! disse Fofina.
- Olha, La, Liu-Liu tem que aprender uma lio l na ndia disse
Fofina.
- Eu tenho medo de ndio, disse a minhoca La.
- No seja idiota, ndia uma terra que fica longe daqui.
- Ah, ento t bom, disse La.
- Olha, La, l na ndia eles se torcem tanto que engolem o
prprio cu.
- Credo! E como que o cu sai?
Bem, isso outra histria que eu tenho que estudar, mas o Liu-
Liu tem que ficar com a cabea pra baixo, e as pernas de trs pra
cima. Assim
Fofina ficou vermelha como um peru e no consegiu mostrar o
exerccio pra minhoca La, mas La entendeu, e foi ventando
contar tudo a Liu-Liu. demorou trs dias, mas chegou. Foram
meses muito difceis para o sapo Liu-Liu, Mas toda a sapaiada
ficou torcendo pra ele. E quando o primeiro rainho de sol entrou
no fiu-fiu de Liu-Liu foi aquela choradeira de alegria. E o pas do
Cu-quente, onde mora o Liu, desde ento uma festa! Do dia ao
poente!
Segunda Histria
Quando o cu do Liu-Liu olhou o cu pela primeira vez, ficou bobo.
Era lindo! E ao mesmo tempo deu uma tristeza! Pensou assim: eu
fiu-fiu, que no sou nada, sou apenas um cu, pensava que era
Algo. E nos meus enrugados, at me pensava perfumado! E s
agora que eu vejo: quanta beleza! Eu nem sabia que existia
borboleta! Fechou-se ensimesmado. E fechou-se tanto que o sapo
Liu-Liu questionou: ser que o sol me fez o cu fritado?
VINCIUS DE MORAES A AUSENTE
A ausente
Rio de Janeiro , 1954
Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu corao bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham ideia dos meus.
Em algum lugar tuas mos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, ltima doura
A tranquilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. S meu ventre
Te espera, cheio de razes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez absoluta
Meus olhos so espelhos para o teu desejo
E meu peito tbua de suplcios
Vem. Meus msculos esto doces para os teus dentes
E spera minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...
Moa na cama
Adlia Prado
Papai tosse, dando aviso de si,
vem examinar as tramelas,
uma a uma.
A cumeeira da casa de peroba do campo,
posso dormir sossegada. Mame vem me cobrir,
tomo a bno e fujo atrs dos homens,
me contendo por usura, fazendo render o bom.
Se me tocar, desencadeio as chusmas,
os peixinhos cardumes.
Os topzios me ardem onde mame sabe,
por isso ela me diz com cimes:
dorme logo, que tarde.
Sim, mame, j vou:
passear na praa em ningum me ralhar.
Adeus, que me cuido, vou campear nos becos,
moa de moos no bar, violo e olhos
difceis de sair de mim.
Quando esta nossa cidade ressonar em neblina,
os moos marianos vo me esperar na matriz.
O cu aqui, mame.
Que bom no ser livro inspirado
o catecismo da doutrina crist,
posso adiar meus escrpulos
e cavalgar no topor
dos monsenhores podados.
Posso sofrer amanh
a linda ndoa de vinho
das flores murchas no cho.
As fbricas tm os seus ptios,
os muros tem seu atrs.
No quartel so gentis comigo.
No quero ch, minha me,
quero a mo do frei Crisstomo
me ungindo com leo santo.
Da vida quero a paixo.
E quero escravos, sou lassa.
Com amor de zanga e momo
quero minha cama de catre,
o santo anjo do Senhor,
meu zeloso guardador.
Mas descansa, que ele eunuco, mame.
Adlia Prado
Objeto de amor
De tal ordem e to precioso
o que devo dizer-lhes
que no posso guard-lo
sem a sensao de um roubo:
cu lindo!
Fazei o que puderdes com esta ddiva.
Quanto a mim dou graas
pelo que agora sei
e, mais que perdo, eu amo.
outra cama
outra mulher
mais cortinas
outro banheiro
outra cozinha
outros olhos
outro cabelo
outros ps e dedos.
todos procura.
a busca eterna.
A fmea camafeu
E pra voc fazer com que ela aparea
Voc precisa de dois nomes de mulheres
Muito brancas, muito louras
E famosas, de televiso
Ou de cinema
Voc tem que transformar os nomes delas
Os nomes tm que ser meio parecidos,
Como se fosse um espcie de semi-anagrama-pop - quase isso
Pra virar mantra
E a voc vai com as 105 crianas falando esse anagrama
Pra poder passar pelo pntano, passar pelos subrbios
Chegar na plancie dos danados e conseguir que ela aparea e
pegar nosso arsenal.
-Ento vai!
E l fui eu com as 105 crianas orientais.
Meu Deus quem? Qual das duas?...
E aquelas 105 crianas orientais com cruzes de bambu, cheias de
pokemons crucificados, esperando a minha ordem.
E eu ali com aquelas 105 crianas,
quando, muito perto do pntano das pestes, eu consegui!
E a eu comecei a falar, e pedi: - 105 crianas orientais falem
comigo!
Falem comigo!, repitam:
Nicole Nicole Kidman
Kidman Kidman Nicole
Nicole Nicole Kidman
Caroline Dickman Dickman
Dickman Caroline Nicole
Nicole Caroline Dickman...
E foi aquele anagrama,
Aquele anagrama pop!
E as 105 crianas orientais falando,
olhando pros cus e falando:
Nicole Nicole Caroline Caroline
Kidman Kidman Dickman...
E fomos,
Atravessamos o pntano das pestes
E nenhum verme,
Nenhuma bactria chegou perto de ns
E atravessamos os subrbios de Van Gogh
Cheios de casas abandonadas, plantaes
Cheios de Holifields* angustiados nos subrbios de Van Gogh
E nenhum dos Holifields chegou perto da gente...
E at que chegamos na plancie dos danados -
onde todo mundo tava se matando, uma coisa terrvel -
e todo mundo ali:
Nicole Kidman Nicole Kidman
Caroline Dickman Dickman
Caroline Dickman
...E apareceu a fmea de camafeu
Fado de Fada
(Pedro Rocha)
O reizinho gay
Mudo, pintudo
O reizinho gay
Reinava soberano
Sobre toda nao.
Mas reinava...
APENAS....
Pela linda peroba
Que se lhe advinhava
Entre as coxas grossas.
E de muitos maridos
Sabiches e bispos
Escapou-se um grito.
Da em diante
Sempre que a multido
Se mostrava odiosa
Com a falta de palavras
Do chefe da Nao
O reizinho gay
Aparecia indmito
Na rampa ou na sacada
Com a bronha na mo.
E eram s agudos
Dissidentes mudos
Que se ajoelhavam
Diante do mistrio
Desse rgio falo
Que de to gigante
Parecia etreo.
Mas um dia...
Acabou-se da turba a fantasia.
O reizinho gritou
Na rampa e na sacada
Ao meio-dia:
Ando cansado
De exibir meu mastruo
Para quem nem russo.
E quero sem demora
Um bocado negro
Para raspar meu ganso.
Quero um cu cabeludo!
E foi assim
Que o reino inteiro
Sucumbiu de susto
Diante de tal evento...
Moral da histria:
a palavra necessria
diante do absurdo.
Hilda Hilst
O ano triste
De pau em riste
O ano Cido
Vivia triste.
Alm do chato de ser ano
Nunca podia
Meter o ganso na tia
Nem na rodela do negro.
que havia um problema:
O porongo era longo
Feito um basto.
E quando ativado
Virava... a terceira perna do ano.
Um dia... sentou-se o ano triste
Numa pedra preta e fria.
Fez ento uma reza
Que assim dizia:
Se me livrasses, Senhor,
Dessa estrovenga
Prometo grana em penca
Pras vossas igrejas.
Foi atendido.
No mesmo instante
Evaporou-se-lhe
O mastruo gigante.
nenhum tico de pau
Nem bimba nem berimbau
Pra cont o ocorrido.
E agora
Alm do chato de ser ano
Sem mastruo nem fole
Foi-se-lhe todo o teso.
Um douto bradou: cus!
Por que no pedido que fizeste
No especificaste pras Alturas
Que lhe deixasse um resto?
Porque pra Deus
O ano respondeu
Qualquer dica
compreenso segura.
Ah, , nego? Ento procura.
E at hoje
Sentado na pedra preta
O ano procura as partes pudendas...
Olhando a manh fria.
Moral da histria:
Ao pedir, especifique tamanho
Grossura quantia.
POESIAS
BALADA DO MANGUE
Oxford , 1946
Pobres flores gonoccicas
Que noite despetalais
As vossas ptalas txicas!
Pobre de vs, pensas, murchas
Orqudeas do despudor
No sois Llia tenebrosa
Nem sois Vanda tricolor:
Sois frgeis, desmilingidas
Dlias cortadas ao p
Corolas descoloridas
Enclausuradas sem f,
Ah, jovens putas das tardes
O que vos aconteceu
Para assim envenenardes
O plen que Deus vos deu?
No entanto crispais sorrisos
Em vossas jaulas acesas
Mostrando o rubro das presas
Falando coisas do amor
E s vezes cantais uivando
Como cadelas lua
Que em vossa rua sem nome
Rola perdida no cu...
Mas que brilho mau de estrela
Em vossos olhos lilases
Percebo quando, falazes,
Fazeis rapazes entrar!
Sinto ento nos vossos sexos
Formarem-se imediatos
Os venenos putrefatos
Com que os envenenar
misericordiosas!
Glabras, glteas caftinas
Embebidas em jasmim
Jogando cantos felizes
Em perspectivas sem fim
Cantais, maternais hienas
Canes de caftinizar
Gordas polacas serenas
Sempre prestes a chorar.
Como sofreis, que silncio
No deve gritar em vs
Esse imenso, atroz silncio
Dos santos e dos heris!
E o contraponto de vozes
Com que ampliais o mistrio
Como semelhante s luzes
Votivas de um cemitrio
Esculpido de memrias!
Pobres, trgicas mulheres
Multidimensionais
Ponto morto de choferes
Passadio de navais!
Louras mulatas francesas
Vestidas de carnaval:
Viveis a festa das flores
Pelo convs dessas ruas
Ancoradas no canal?
Para onde iro vossos cantos
Para onde ir vossa nau?
Por que vos deixais imveis
Alrgicas sensitivas
Nos jardins desse hospital
Etlico e heliotrpico?
Por que no vos trucidais
inimigas? ou bem
No ateais fogo s vestes
E vos lanais como tochas
Contra esses homens de nada
Nessa terra de ningum!
Ficamos uma semana sem nos ver. Da, uma tarde, l estava eu
na casa de Lydia, os dois na cama, nos beijando. Lydia desgrudou
de mim.
Voc no entende nada de mulher, n?
Que c quer dizer com isso?
Quero dizer que d pra ver, lendo seus poemas e suas histrias,
que voc no entende nada de mulher.
Fale mais.
Bom, que pra eu me interessar por um homem ele tem que
chupar minha xoxota. Voc j chupou uma xoxota?
No.
Voc tem mais de cinquenta anos e nunca chupou uma xoxota?
No.
Agora tarde.
Por qu?
No d pra ensinar truque novo pra cachorro velho.
Claro que d.
No, agora tarde pra voc.
Eu sempre fui um retardatrio. Lydia levantou e foi at a sala.
Voltou com um lpis e um pedao de papel.
Agora olhe aqui, vou te mostrar uma coisa. Comeou a
desenhar no papel.
, isso uma buceta, e aqui fica um negcio de que voc
provavelmente nunca ouviu falar: o clitris. Aqui o lugar das
sensaes. O clitris se esconde, t vendo? Ele aparece vez por
outra, cor-de-rosa e muito sensvel. s vezes ele se esconde, e
a voc vai ter que achar ele. s tocar nele com a ponta da sua
lngua
T legal eu disse. Entendi tudo.
Acho que voc no vai conseguir. J disse, no d pra ensinar
truque novo prum cachorro velho.
Vamos tirar a roupa e deitar.
A gente se despiu e se esticou na cama. Comecei a beijar Lydia.
Escorreguei dos lbios pro pescoo, e da pros peitos. Ento,
deslizei at o umbigo. Desci mais.
Voc no vai conseguir disse ela. Sai sangue e urina da;
imagine s, sangue e urina
Fui l embaixo e comecei a lamber. O desenho que ela tinha feito
era preciso. Tudo estava onde devia estar. Ouvi sua respirao
ficando pesada; depois, seus gemidos. Isso me excitou. Fiquei de
pau duro. O clitris saiu pra fora, mas no era exatamente rosado
era rosa -prpura. Mexi no clitris. Minaram uns sucos que se
misturaram com os pentelhos. Lydia gemia, gemia. Ento, escutei
a porta da frente se abrindo e fechando. Ouvi passos. Olhei de
baixo pra cima. Um negrinho de uns cinco anos estava ali parado,
ao lado da cama.
Porra, o que voc quer aqui? perguntei.
Voc tem garrafa vazia? ele perguntou.
No, no tenho garrafa vazia nenhuma respondi.
Ele saiu do quarto pra sala, passou pela porta da frente e se foi.
Deus meu disse Lydia pensei que a porta da frente tava
trancada.
Era o garotinho da Bonnie. Lydia se levantou e trancou a porta da
frente. Voltou e se esticou. Eram umas quatro horas da tarde de
sbado. Mergulhei ali de novo.