School Work">
Neocolonial
Neocolonial
Neocolonial
So Carlos
2008
M395d
AGRADECIMENTOS
Quando uma pessoa treina uma vez, nada acontece. Quando uma
pessoa fora a si mesma fazer algo centenas ou milhares de vezes, ento
certamente ela se desenvolver de maneiras diferentes alm da fsica. Est
chovendo? Isso no importa. Estou cansado? Isso no importa tambm.
Neste ponto, vontade no ser um problema
(Emil Ztopek)
Deus criou este mundo de maneira a que ele pudesse ser visto; em seguida
deu-nos a palavra para que pudssemos comunicar entre ns, falar do
que vemos; mas com todas essas palavras fabricmos histrias, e
acabmos por acreditar que a pintura servia para as ilustrar. Ora, na
verdade a pintura antes a procura das memrias de Deus, com a
finalidade de se ver o universo tal como Ele o v.
(Orhan Pamuk)
Uma carta no se exprime apenas pelas palavras escritas. Para ler uma
carta, assim como um livro, preciso tambm senti-la, toc-la, manipulla. por isso que os mais hbeis dizem: Ora vejamos o que me diz esta
carta, e os imbecis contentam-se me dizer: Vejamos o que est aqui
escrito. A arte de saber ler no s a escrita, mas o que vem com ela.
Portanto, escutai o que diz tambm a carta de Shekur...
(Orhan Pamuk)
RESUMO
As manifestaes da arquitetura neocolonial em vrias cidades do interior
paulista, no perodo de 1920 a 1950, o tema central desta tese. Realiza pesquisas e
reflexes acerca da ascendncia do movimento neocolonial, tomando Ricardo Severo
como intelectual que recebeu grande influncia do ambiente cultural portugus.
Explora a ocorrncia dessa arquitetura na esfera institucional e particular, em obras
oficiais, institucionais, religiosas, assistenciais, educativas, recreativas, residenciais e
comerciais. Verifica que a difuso se deu, em grande medida, pela atuao de
profissionais que estavam em contato com os debates que se desenrolavam na capital
paulista e pela implantao de obras emblemticas em cidades do interior do estado.
Verifica tambm que parte significativa da produo de baixo padro ou simplificada
da arquitetura que pretendia expressar a tendncia neocolonial foi de
responsabilidade de profissionais diplomados. Utiliza o mtodo de levantamento de
processos de aprovao de obras, arquivados em prefeituras municipais, levantamento
de dados em museus e outras instituies e levantamentos fotogrficos para registrar e
analisar a produo de interesse. Representa uma contribuio para o conhecimento
da arquitetura neocolonial fora da capital paulista.
ABSTRACT
This thesis investigates expressions of the neo-colonial architecture, in
several cities within the State of So Paulo during the period of 1920 to 1950. The
research takes into account the intellectual influence of Ricardo Severo in the rise of
neo-colonial movement, nevertheless inspired by the Portuguese cultural atmosphere.
The diffusion of this architectural style is explored through private exemplars, such as
homes, offices and shops along with institutional materializations; public and religious
buildings, schools, social welfare bureaus and recreational facilities. The research
reveals a link between the hinterland spread of this architecture, empowered by a
symbolic drive, and the effort of professionals that were in contact with the intellectual
debates taking place at the State capital. By analysing the construction licenses
approved by Municipal Halls, we have verified that a significant part of the simplified
and low standard production was made under certified professionals responsibility. In
addition, we have expanded the investigation by data collected in museums and other
institutions plus photographic surveys to record and analyse this architectonic
production. This thesis represents a contribution to the comprehension of the neocolonial architecture outside the city of So Paulo.
Key-words: Neo-colonial architecture So Paulos Architecture
agriculture colleges public architecture institutional architecture residential
architecture spread
LISTA DE FIGURAS
CAPTULO 1 - ASCENDNCIA DO MOVIMENTO TRADICONALISTA NO BRASIL
Figura 1 - Francisco Martins Sarmento. Clich de Ricardo Severo tirado na casa da Ponte,
em Briteiros, em Junho de 1897............................................................................................... 197
Figura 2 Lista de obras que haviam pertencido ao engenheiro Ricardo Severo, incluindo
obras do prprio engenheiro. .................................................................................................. 197
Figura 3 Processo para requerimento de licena para construo. Casa do engenheiro
Ricardo Severo, localizada Rua do Conde (atual Rua Ricardo Severo), Porto,
Portugal, 1902. ........................................................................................................................ 198
Figura 4 Fotos da casa do engenheiro Ricardo Severo tiradas por ele, provavelmente, logo
que a construo ficou pronta, pois foram publicadas na verso revisada do
artigo de Rocha Peixoto A Casa Portugueza........................................................................ 200
Figura 5 Fotos da arquitetura portuguesa vernacular, tiradas por Rocha Peixoto, por volta
de 1905, e publicadas no seu mesmo artigo A Casa Portugueza onde foram
publicadas as fotos da casa de Severo. .................................................................................... 201
Figura 6 Aspecto geral da cidade do Porto, com suas tradicionais construes em banda
(geminadas). ............................................................................................................................ 202
Figura 7a Cartaz do Museu de Fafe mostrando as casas dos brasileiros. ........................................... 202
Figura 7b Exemplo de uma casa de brasileiro construda em Fafe em 1882. Notar os
azulejos aplicados na fachada e a influncia da arquitetura ecltica...................................... 202
Figura 8 Prancha 42 de Jean-Baptiste Debret mostrando a planta de uma casa colonial.
Notar a semelhana com a planta da casa de Severo no Porto. ............................................... 203
Figura 9 Projeto do Escriptrio Technico Ramos de Azevedo Severo & Villares para o
hospital a Sociedade Portugueza de Beneficncia de Santos, de 1936.................................... 204
Figura 10a Em muitos casos os Solares Portugueses dos sculos XVII e XVIII so
exemplos da aplicao da arquitetura barroca na arquitetura civil. So
possveis referncias para a arquitetura de Ricardo Severo. Notar os pinculos
no telhado e os beirais de telha capa e canal. Exemplar Casas Novas,
localizado em Baio, Santa Maria do Zzere. ..................................................................... 206
Figura 10b Neste exemplar vemos a simetria da fachada, os pinculos e o fronto, muito
comuns em edifcios neocoloniais. Casa dos Calainhos, localizada em
Valpaos, Fornos do Pinhal................................................................................................. 206
Figura 10c Exemplar que tem as arcadas como elemento marcante, alm dos telhados em
ponta, muito usados pelo arquiteto Raul Lino e tambm encontrados na
difuso dos movimentos tradicionalistas. Casa da Bacalhoa, Setbal,
Azeito. ............................................................................................................................... 206
Figura 10d Notar as arcadas e a aplicao de azulejos no Palcio dos Marqueses de
Fronteira, em Lisboa.......................................................................................................... 206
Figura 10e Fronto, pinculos, beirais entre outras caractersticas na Casa de Campo de
Besteiros, Tondela, Campo de Besteiros. .......................................................................... 206
Figura 11 Casa Monsalvat, do arquiteto Raul Lino, construda em Monte Estoril para o
pianista Alexandre Rey Colao, em 1901. Beirais, arcos e azulejos em
associao com elementos da arquitetura rabe. ................................................................... 207
Figura 12 Casa do Conde Armand, do arquiteto Raul Lino, construda na Quinta da
Comenda, Setbal, no incio do sculo XX. A integrao na paisagem uma
forte caracterstica dessa edificao e uma das quais Lino vai priorizar
durante toda sua carreira. Arcadas e terrao moda rabe tambm so
recorrentes nas obras do arquiteto. ........................................................................................ 208
Figura 13 Duas edificaes na cidade de vora. Notar como algumas das caractersticas
se repetem na arquitetura de Raul Lino e outras, annimas. ................................................. 210
Figura 14 Vista do Palcio Nacional de Sintra na paisagem, com suas grandes chamins,
e entrada do palcio, com arcos ogivais e traos da arquitetura manuelina.
Notar a semelhana com a arquitetura de vora e com a produzida por Raul
Lino. ......................................................................................................................................211
Figura 15 Entrada e vista do ptio interno da Casa do Cipreste. Notar semelhana do
fronto da entrada com o da Casa de Campos de Besteiros (Figura 10a) e das
aberturas triangulares, como na edificao em vora (Figura 13). .......................................212
Figura 16 Casa do Sr. Albino Caetano da Silva, cujo projeto, de Raul Lino, foi publicado
em 1909. Construda em Coimbra. Mesmo numa fachada estreita, vemos os
traos da arquitetura tradicionalista.......................................................................................213
Figura 17a Plano Diretor da Costa do Sol. Alfred Agache, 1936. ......................................................... 217
Figura 17b Plano de Remodelao do Estoril. Alfred Agache, 1936..................................................... 217
Figura 18a Plano de Urbanizao da Costa do Sol, Cascais. Etienne de Grer, 1948. .......................... 218
Figura 18b Plano de Urbanizao de Lisboa, Cascais. Etienne de Grer, 1948..................................... 219
Figura 19a Fachada da edificao ganhadora do Prmio Valmor de 1910, do arquiteto
Ernesto Korrodi. Fronto e beirais que remetem arquitetura barroca civil dos
solares portugueses. ............................................................................................................. 220
Figura 19b Processo para requerimento de licena para construo da casa projetada por
Ernesto Korrodi (Figura 20a)............................................................................................... 220
Figura 20 Vista da edificao projetada pelo arquiteto lvaro Machado e ganhadora do
Prmio Valmor de 1914. Notar as vrias caractersticas da arquitetura
tradicionalista, especialmente, da janela de canto, envidraada. .......................................... 222
Figura 21 Vista da casa projetada por Raul Lino e ganhadora do Prmio Valmor em 1930.
Notar a abundante decorao que remete arquitetura barroca............................................ 223
Figura 22 Processo para requerimento de licena para construo da casa projetada pelo
arquiteto Tertuliano de Lacerda Marques, em 1930, em Lisboa, Avenida
Columbano Bordalo Pinheiro, 50. ....................................................................................... 224
Figura 23a Vista da obra que recebeu o Prmio Valmor em 1939. Os arquitetos foram os
irmos Carlos e Guilherme Rebelo de Andrade, inspirados na arquitetura da
poca de D. Joo V. ............................................................................................................. 226
Figura 23b Processo para requerimento de licena para construo da casa projetada pelos
irmos Rebelo de Andrade e vencedora do Prmio Valmor de 1939. ................................ 226
Figura 24 Vista da obra de Carlos Chambers Ramos, vencedora do Prmio Valmor de
1946. A fachada foi alterada para receber a Embaixada da Arglia. .................................... 230
Figura 25 Processo para requerimento de licena para reforma de uma casa no Porto, em
1921, cujo projeto de Carlos Chambers Ramos. Mantm a mesma esttica da
casa portuguesa.................................................................................................................... 230
Figura 26a Placa informativa do histrico do atual Pavilho Carlos Lopes originalmente
Palcio das Indstrias de Portugal da Exposio Internacional de 1922, RJ
reconstrudo no Parque Carlos VII, Lisboa. O histrico informa que o projeto
de autoria dos irmos Carlos e Guilherme Rebelo de Andrade. ....................................... 232
Figura 26b Vista do Palcio das Indstrias de Portugal na Exposio Internacional do Rio
de Janeiro em 1922. Notar a mesma inspirao dos irmos arquitetos para a
concepo do pavilho na arquitetura da poca de D. Joo V. ........................................... 233
Figura 27 Aspecto recente do Pavilho Carlos Lopes originalmente Palcio das
Indstrias de Portugal da Exposio Internacional de 1922, RJ. Notar a
decorao, os painis de azulejo e o estado geral da obra, que denota o
abandono. No consta como imvel protegido pelo Instituto Portugus do
Patrimnio Arquitectnico (IPPAR). Na Direco Geral dos Monumentos e
Edifcios Nacionais (DGEMN) no havia mais informaes disponveis. .......................... 234
Figura 28 Capa do Guia Oficial da Exposio Portuguesa em Sevilha, com vista e planta
do Pavilho Portugus projetado pelos irmos Rebelo de Andrade. ..................................... 236
Figura 29 Fachada do Colgio Pedro II, em Belo Horizonte. Notar semelhana com o
Pavilho das Indstrias de Portugal da Exposio Internacional do Rio de
Janeiro, 1922. ........................................................................................................................ 238
Figura 30 Projeto do arquiteto Vasco de Moraes Palmeiro (Regaleira) publicado em 1937
na revista Aquitetura. Permanecem traos da arquitetura tradicionalista
portuguesa, embora a volumetria e as linhas marcadamente horizontais
pertenam esttica modernista............................................................................................ 238
Figura 31 Duas edificaes, na Avenida de Berna, Lisboa, com caractersticas da
arquitetura tradicionalista. Possivelmente, tenham existido, nessa avenida,
vrios outros exemplares de mesma tendncia arquitetnica................................................ 240
Figura 32 Processo para requerimento de licena para construo da casa projetada pelo
arquiteto Srgio Botelho de Andrade Gomes, em 1949. Mais um exemplo de
edificao que mistura elementos da linguagem tradicionalista e modernista. ..................... 242
Figura 33 Projeto de Raul Lino no Porto, 1930. .................................................................................... 243
Figura 34 Processo para requerimento de licena para construo de uma casa no Porto,
sob a responsabilidade do mestre-de-obras Antonio Rodrigues de Carvalho.
Notar a abundante decorao inspirada na arquitetura tradicionalista. ................................. 244
Figura 35 Processo de 1922, para requerimento de licena para construo de uma casa
no Porto, antiga Rua do Conde, mesma rua onde est localizada a casa de
Ricardo Severo...................................................................................................................... 245
Figura 36 Processo de 1922, para requerimento de licena para construo de uma casa
no Porto. Notar semelhana com a arquitetura produzida pelo arquiteto Raul
Lino. ...................................................................................................................................... 246
CAPTULO 3
Figura 44 Fotografia do agrnomo Fernando Costa. Fonte: lbum Comemorativo do TriCentenrio de Taubat (1945)................................................................................................261
Figura 45 Escultura do personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato. Situada em Taubat,
em frente praa da Estao Ferroviria. ..............................................................................261
Figura 46 Vista do prdio principal da Escola Nacional de Agronomia, atual Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro. ...........................................................................................262
Figura 47 Painel de azulejos, encontrado na Escola Nacional de Agronomia, de autoria da
artista plstica portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992). ................................264
Figura 48 Aspecto atual da Escola Agrcola de Barbacena, notar as linhas eclticas ............................264
Figura 49 Imagens dos prdios do Instituto Agronmico do Norte, atual Universidade
Federal Rural da Amaznia. Notar que a imagem recente mostra que um dos
prdios da escola exibe linhas neocoloniais...........................................................................265
Figura 50 Exemplos de reportagens de jornais referentes nomeao de Fernando Costa
para Interventor do Estado de So Paulo e sua poltica relacionada educao
agrcola ..................................................................................................................................266
Figura 51 Mapa do Estado de So Paulo com a localizao das cidades que, segundo o
projeto do interventor Fernando Costa, receberiam as Escolas Prticas
Agrcolas em 1942................................................................................................................. 268
Figura 52 Fotos da Escola Prtica de Agricultura Paulo de Lima Correia, de
Guaratinguet, tiradas em dezembro de 1949........................................................................ 269
Figura 53 Fotos da Escola Prtica de Agricultura Paulo de Lima Correia, antes de sua
transformao em Escola de Especialistas de Aeronutica.................................................... 270
Figura 54 Vrios aspectos da recm construda Escola Prtica Agrcola Dr. Fernando
Costa de, Pirassununga. Podemos ver o portal de acesso, o edifcio principal
ainda com pouca vegetao em seu entorno, o salo social, casas de professores
e funcionrios, estbulo e alunos trabalhando em meados de 1940....................................... 271
Figura 55 Registros do evento de lanamento da pedra fundamental da Escola Prtica de
Agricultura Gustavo Capanema de Bauru, no dia 19 de abril de 1942, com a
presena do interventor Fernando Costa e outras autoridades. .............................................. 272
Figura 56 Prdio do Instituto Biolgico, na cidade de So Paulo, de autoria do engenheiro
Mario Whately....................................................................................................................... 274
Figura 57 Imagem do prdio do Instituto Penal Agrcola Dr. Javert de Andrade, de So
Jos do Rio Preto ................................................................................................................... 274
Figura 58 Fotografias da formatura da primeira turma da Escola Prtica de Agricultura
Gustavo Capanema, de Bauru, em 26 de junho de 1949. Foram encontradas
no mesmo antigo lbum sobre a escola.................................................................................. 275
Figura 59 Projeto da Diretoria de Obras Pblicas, realizado pelo arquiteto Hernani do Val
Penteado, em 1939, para a Escola Profissional Joaquim Ferraz do Amaral, de
Ja.......................................................................................................................................... 276
Figura 60 Projeto para a implantao do campus da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, realizado em 1938, pelo arquiteto ngelo Murgel ................................................... 277
Figura 61 Exemplos de jardins ingleses, com seu traado irregular e sinuoso e vista de um
recanto de um jardim ingls. Presena do esprito romntico na paisagem
pitoresca................................................................................................................................. 278
Figura 62 Projeto do jardim da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em
Piracicaba, concebido pelo arquiteto paisagista belga Arsenio Puttemans e
implantado em 1907. Notar a semelhana com os jardins ingleses ....................................... 280
Figura 63 Barreiras de acesso, necessrias ao atual presdio, desconfiguraram o projeto
original do ajardinamento e arruamento definido para a Escola Prtica de
Agricultura Gustavo Capanema, de Bauru. Vemos o projeto das barreiras, de
1976, e vistas atuais das mesmas ........................................................................................... 281
Figura 64 Projeto original do ajardinamento e arruamento da Escola Prtica de
Agricultura Gustavo Capanema, de Bauru, realizado pelo escritrio
Construtora de Jardins So Paulo, na poca da construo da escola ................................ 282
Figura 65 As duas primeiras pranchas so do projeto de Hernani do Val Pentedao para o
primeiro andar do prdio de escola e administrao da Escola Prtica de
Agricultura Gustavo Capanema, de Bauru. As demais pranchas so de
levantamentos posteriores feito pelo Instituto Penal Agrcola e de outros
equipamentos da poca da Escola.......................................................................................... 283
Figura 66 Foto area do atual Instituto Penal Agrcola Prof. No de Azevedo, de Bauru.
Tambm vemos claramente as barreiras impostas ao projeto original de
ajardinamento da antiga Escola Prtica de Agricultura Gustavo Capanema. .....................287
Figura 67 Imagens da construo da Escola Prtica de Agricultura Gustavo Capanema,
de Bauru, em 1944. Podemos ver alguns dos materiais e tcnicas de construo
empregados. ...........................................................................................................................288
Figura 68 Alojamento para operrios da construo da Escola Prtica de Agricultura
Gustavo Capanema e paiol, ambos em madeira .................................................................290
Figura 69 Porto de entrada da Escola Prtica de Agricultura Gustavo Capanema,
Bauru. Mesmo projeto que para o porto da Escola Prtica de Agricultura
Getlio Vargas, Ribeiro Preto...........................................................................................291
Figura 70 Vistas da fachada do prdio principal da Escola Prtica de Agricultura
Gustavo Capanema, Bauru. Semelhana com a Escola Prtica de Agricultura
Getlio Vargas, Ribeiro Preto...........................................................................................292
Figura 71 Fotos do interior da Escola Prtica de Agricultura Gustavo Capanema,
Bauru. Podemos ver que alguns mveis originais ainda se conservam no local e
que as propores de alguns elementos, como decorao de bandeiras de portas
e corrimos de escada, so exagerados ..................................................................................293
Figura 72 Aspectos externos e internos da antiga casa do diretor da Escola Prtica de
Agricultura Gustavo Capanema. Muita madeira foi utilizada nos acabamentos
internos. Tambm podemos ver que os vidros das portas so decorados com
motivos agrcolas ...................................................................................................................294
Figura 73 Outras casas para funcionrios e professores da Escola Prtica de Agricultura
Gustavo Capanema, Bauru. Todas exibem traos neocoloniais .........................................296
Figura 74 Prdios prximos ao prdio principal da Escola Prtica de Agricultura
Gustavo Capanema, atualmente utilizados como presdio, pelo
aproveitamento das alas de dormitrios.................................................................................297
Figura 75 Caixa dgua prxima s residncias para funcionrios e professores da da
Escola Prtica de Agricultura Gustavo Capanema. Mesmo esse edifcio no
prescindiu de um frento sobre a porta de acesso ..................................................................297
Figura 76 Prdios destinados a estbulos, matadouros, criadouros de porcos ou bezerros
da Escola Prtica de Agricultura Gustavo Capanema. Notar a presena de
estilemas neocoloniais. ..........................................................................................................298
Figura 77 Planta de situao geral da Escola Prtica de Agricultura Getlio Vargas,
Ribeiro Preto, mostrando ajardinamento e arruamento e planta de situao do
prdio principal, do arquiteto Hernani do Val Penteado ........................................................299
Figura 78 Fotos areas da Escola Prtica de Agricultura Getlio Vargas, Ribeiro Preto,
mostrando o partido do prdio principal e o acesso a um prdio prximo.............................300
Figura 79 Projeto do porto de entrada da Escola Prtica de Agricultura Getlio
Vargas, Ribeiro Preto, tambm de autoria de Hernani do Val Penteado, com
data de 1943. Notar semelhana com porto da escola de Bauru. Fonte:
Arquivo da C.P.O.S. ..............................................................................................................301
Figura 80 Vrios projetos para a Escola Prtica de Agricultura Getlio Vargas, Ribeiro
Preto: projeto para um mirante, para placa de entrada decorada com azulejos,
para detalhes de janelas e outros elementos decorativos e para uma das
residncias de professores......................................................................................................301
Figura 95 Imagens das alas de dois pavimentos com arcos fechados por meias-luas
sobrepostas, muito semelhantes s arcadas de outras Escolas Prtica de
Agricultura .............................................................................................................................318
Figura 96 Vistas internas do prdio principal da Escola Prtica de Agricultura Fernando
Costa, Pirassununga. Vemos os acabamentos em madeira e detalhes do
corrimo e dos guarda-corpos de dimenses monumentais ...................................................319
Figura 97 Casas construdas para funcionrios e professores da antiga Escola Prtica de
Agricultura Fernando Costa, Pirassununga. Notar o emprego de estilemas
neocoloniais ...........................................................................................................................320
Figura 98 Vistas do campo de futebol com a arquibancada protegida da Escola Prtica de
Agricultura Fernando Costa, Pirassununga. Cachorros nos beirais, volutas e
janelas quadrilobadas .............................................................................................................321
Figura 99 Caixa dgua, em seu aspecto atual, e outras edificaes no identificadas da
Escola Prtica de Agricultura Fernando Costa, Pirassununga. Como os
demais prdios da escola, segue a tendncia neocolonial ......................................................322
Figura 100 Atual Edifcio "Prof. Dr. Joo Soares Veiga" da FZEAUSP. Anteriormente,
mais um edifcio da Escola Prtica de Agricultura Fernando Costa,
Pirassununga. Neocolonial ...................................................................................................323
Figura 101 Vrias outras instalaes da antiga Escola Prtica de Agricultura Fernando
Costa que, atualmente, servem de estbulo, matadouro, laticnio, laboratrios,
fbrica de rao e equideocultura da FZEAUSP ..................................................................324
Figura 102 Foto area do Centro de Eventos da Escola Prtica de Agricultura Fernando
Costa. Telhados movimentados e volumetria simtrica Fonte: Arquivo da
USPFZEA. Outras fotos do exterior e interior do prdio mostram estilemas
neocoloniais..........................................................................................................................325
Figura 103 Painis de azulejo no fronto de entrada e no marco comemorativo de
inaugurao da Escola Prtica de Agricultura Fernando Costa,
Pirassununga. .......................................................................................................................326
Figura 104 Projeto de levantamento da antiga Escola Prtica de Agricultura Dr. Carlos
Botelho, realizado pela C.P.O.S. em fevereiro de 2002 para fins de reforma.
Prancha de situao, de plantas e de fachada do prdio principal. .......................................327
Figura 105 Acesso ao prdio principal da Escola Prtica de Agricultura Dr. Carlos
Botelho. Notar o pequeno canteiro e as vias de forma arredondada...................................329
Figura 106 Fotos das placas comemorativas de inaugurao da Escola Prtica de
Agricultura Dr. Carlos Botelho, Itapetininga. Fachada, detalhes internos e
externos do prdio principal.................................................................................................330
Figura 107 Arcadas das alas de dois pavimentos da antiga Escola Prtica de Agricultura
Dr. Carlos Botelho, Itapetininga. Notar a utilizao dos guarda-corpos
fechados por meias-luas sobrepostas, tal como em outras escolas analisadas.
Nessa caso, essas alas parecem no utilizadas atualmente. ..................................................334
Figura 108 Fronto do prdio principal com painel de azulejos azul e branco mostrando
uma cena agrcola, realizado pelo Liceu de Artes e Ofcios.................................................335
Figura 109 Observao na prancha de projeto para a Escola Prtica de Agricultura de
Bauru, cuja autoria do Hernani do Val Penteado, informando que o mesmo
uma adaptao do projeto dos Engenheiros Mario Whately & Cia, que
acreditamos ser o projeto para a Escola Nacional de Agronomia do Rio de
Janeiro.................................................................................................................................. 335
Figura 110 Vrios projetos para a Diretoria de Obras Pblicas para grupos escolares, de
autoria de do arquiteto Jos Maria da Silva Neves, da dcada de 1930. Todos
de linhas modernistas. .......................................................................................................... 336
Figura 111 Projeto para o Frum de Taubat, de 1944, de autoria do arquiteto Vicente
Leme Zammataro. Obra da Diretoria de Obras Pblicas ..................................................... 338
Figura 112 Imagens atuais do Frum de Taubat .................................................................................. 340
Figura 113 Imagens da Casa da Lavoura de Taubat na poca de sua inaugurao e atuais.
Obra da Diretoria de Obras Pblicas.................................................................................... 341
Figura 114 Projeto da fachada da Escola de Cadetes de Campinas, de autoria de Hernani
do Val Penteado. Obra da Diretoria de Obras Pblicas. ...................................................... 342
Figura 115 Projetos para a torre de vigia e para o porto da Escola de Cadetes de
Campinas, este ltimo realizado em 1970, por Hernani do Val Penteado. .......................... 343
Figura 116 Fotos da construo da Escola de Cadetes de Campinas, por volta de 1944. ...................... 344
Figura 117 Fotos atuais da Escola de Cadetes de Campinas. Vemos a implantao, onde
aparece o ptio interno, similar a um claustro, e a fachada que apresenta
caractersticas neocoloniais.................................................................................................. 345
Figura 118 Edifcio antigo da instituio Escolstica Rosa, em Santos, projetada pelo
escritrio Ramos de Azevedo, de linhas eclticas................................................................ 346
Figura 119 Fotos atuais da escola Escolstica Rosa, em Santos, depois da reforma que
atribuiu a ela o aspecto neocolonial. Fonte: fotos V. Benincasa, fevereiro de
2005. .................................................................................................................................... 346
Figura 120 Vistas do interior da capela da escola Escolstica Rosa, em Santos. A capela
foi construda durante as reformas. Notar o retbulo neocolonial........................................ 348
Figura 121 Projeto para o prdio da administrao da Escola de So Manoel,
desenvolvido pelo arquiteto Hernani do Val Penteado. ....................................................... 349
Figura 122 Projeto do arquiteto Hernani do Val Penteado para sua residncia na Praia do
Boqueiro, em So Vicente. Ausncia de decorao neocolonial, mas
manuteno de beirais tradicionalistas................................................................................. 350
Figura 123 Projeto do arquiteto Hernani do Val Penteado para Hospital de Guarant.
Tambm mantm os beirais tradicionalistas. ....................................................................... 351
Figura 124 Casa da administrao da Fazenda Santa Helena, em Pindamonhangaba, de
1960, projetada pelo arquiteto Hernani do Val Penteado. Beirais no telhado e
pedras no muro e na chamin marcam a tendncia tradicionalista, mas no se
encontram estilemas neocoloniais........................................................................................ 353
Figura 125 Perspectiva de Hernani do Val Penteado para o prdio da Santa Casa de Ja,
de caractersticas j totalmente modernistas.. ...................................................................... 354
Figura 126 Fotos antigas do Seminrio Frei Galvo, em Guaratinguet. Notar, no lado
direito do prdio, a ausncia do muro em curva j existente nos registros
fotogrficos atuais................................................................................................................ 356
Figura 127 Fotos areas do Seminrio Frei Galvo, em Guaratinguet. Notar a presena
de dois claustros laterais igreja. ........................................................................................ 357
Figura 128 Vistas do lado externo do Seminrio Frei Galvo, em Guaratinguet. O
porto de entrada tambm ostenta linhas curvas.................................................................. 358
Figura 129 Vistas do lado interno do Seminrio Frei Galvo. Notar, num dos claustros,
as arcadas que parecem ter sido fechadas e revestidas com pedras em reforma.
No outro claustro, ausncia de arcadas e simplicidade da estrutura da
cobertura da galeria interna. ................................................................................................ 359
Figura 130 Vista interna da igreja do Seminrio Frei Galvo que se mostra bastante
despojada: os adornos principais so os vitrais e parte do piso, que se
conservou original aps reforma.......................................................................................... 360
Figura 131 Fotos da poca da construo do Seminrio Santo Antonio, de Agudos.
Vemos vrias fases de construo: primeiro, as alas posteriores; em seguida,
os claustros j fechados e as torres da igreja em construo; e, finalmente, o
seminrio terminado. ........................................................................................................... 361
Figura 132 Perspectiva do arquiteto Joaquim Bezerra da Silva para o prdio do Seminrio
Santo Antonio, de Agudos. Vemos no projeto que o nome do seminrio est
equivocado........................................................................................................................... 362
Figura 133 Vrias fotos da mostrando a construo do Seminrio Santo Antonio, de
Agudos, mostrando tambm um pouco dos materiais de construo utilizados. ................. 363
Figura 134 Fotos de 1955, provavelmente, publicadas em 1975 na revista Vida
Franciscana. ....................................................................................................................... 364
Figura 135 Aspectos do lado externo do Seminrio Santo Antonio, de Agudos.
Destaque para o porto de entrada decorado por vrias pequenas volutas e
pedras aplicadas aos muros. A igreja no eixo de simetria. Vemos tambm
outros aspectos das fachadas anteriores e posteriores.......................................................... 365
Figura 136 Aspectos do lado interno do Seminrio Santo Antonio. Notar as arcadas dos
claustros, muito semelhantes s arcadas das Escolas Prticas de Agricultura.
Vemos as torres da igreja e os jardins dos claustros com piso de mosaico
portugus. Notar tambm os corrimos da escada do salo nobre, de
dimenses pouco monumentais, e as portas de ferro trabalhado. ........................................ 366
Figura 137 O interior da igreja do Seminrio Santo Antonio se apresenta pouco
decorado, com janelas de vidros coloridos e piso de mosaico de mrmore e
granito. Vemos tambm o rgo construdo por um dos freis, na dcada de
1940. .................................................................................................................................... 367
Figura 138 Aqui vemos os vrios painis de azulejos encontrados no Seminrio Santo
Antonio. O painel com cenas da vida do santo a quem o seminrio
dedicado, projetado pelo professor do Liceu de Artes e Ofcio de So Paulo,
A. Oliani e executado por C.Mancini. O painel da fachada da igreja,
provavelmente, do mesmo perodo e, outros painis, realizados mais
recentemente........................................................................................................................ 368
Figura 139 - Igreja de Jesus, em Roma, que teve parte do projeto realizado por Vignola em
fins do sculo XVI e fachada construda por Giacomo della Porta no mesmo
perodo................................................................................................................................. 369
Figura 140 Trs arcos comuns na arquitetura neocolonial de toda a Amrica Latina............................ 369
Figura 141 Convento Santo Antonio, localizado no Largo da carioca, no Rio de Janeiro,
construdo entre 1748 e 1780. ............................................................................................. 370
Figura 142 Mosteiro da Luz, So Paulo................................................................................................. 371
Figura 143 Fotos Convento Nossa Senhora do Amparo, So Sebastio, sculo XVII. ......................... 371
Figura 145 Antiga capela da parquia de Santo Antonio em Agudos. Em seu lugar foi
construda a atual igreja da parquia de Santo Antonio. ..................................................... 372
Figura 146 Construo de um anexo posterior atual igreja da parquia de Santo
Antonio................................................................................................................................ 373
Figura 147 Fotos atuais da igreja da parquia de Santo Antonio, em Agudos. Notar
semelhana com a igreja do Seminrio Santo Antonio.................................................... 374
Figura 148 Fotos antigas da igreja de Nossa Senhora das Graas, de Guaratinguet. ........................... 375
Figura 149 Foto area da igreja de Nossa Senhora das Graas, de Guaratinguet, com o
claustro lateral e o ptio frontal. .......................................................................................... 376
Figura 150 Interior da igreja de Nossa Senhora das Graas, efusivamente decorada com
pinturas, frisos, forro, vitrais, iluminao e retbulo ricos em detalhes. ............................. 377
Figura 151 Painel pintado por trs da imagem de So Francisco de Assis no ptio frontal
da igreja de Nossa Senhora das Graas, Guaratinguet....................................................... 378
Figura 152 Algumas imagens do claustro da igreja de Nossa Senhora das Graas. .............................. 378
Figura 153 Projeto do engenheiro Joo Maurcio Sampaio para a capela do Cemitrio dos
Passos, de Guaratinguet. .................................................................................................... 379
Figura 154 Fotos da construo e da fachada da capela do Cemitrio dos Passos, de
Guaratinguet. ..................................................................................................................... 380
Figura 155 Levantamento mtrico da igreja da Parquia de Santo Antnio, de So Carlos.
Projeto original do engenheiro Durval Duarte, 1943........................................................... 381
Figura 156 Igreja da Parquia de Santo Antnio, So Carlos. Notar caractersticas da
vertente misses da arquitetura neocolonial e a porta principal, em madeira
entalhada.............................................................................................................................. 382
Figura 157 Aspectos internos da igreja da Parquia de Santo Antnio. Vemos a antiga
pintura exposta, os vitrais, a envazadura da porta de arco trilobado e porta em
ferro com motivos decorativos. ........................................................................................... 383
Figura 158 Igreja do Rosrio, de Santos. Primeira foto de 1926, anterior a sua reforma.
Segunda foto, outubro de 1930, ano e ms de sua inaugurao. ......................................... 384
Figura 159 Registros da Igreja do Rosrio de Santos em seu aspecto atual........................................... 385
Figura 160 Aspecto interno da Igreja do Rosrio de Santos e detalhes dos forros e do piso. ................ 386
Figura 161 Fachada do Santurio de Santo Antonio do Valongo, Santos, sculo XVII. .......................387
Figura 162 Interior da igreja do Santurio de Santo Antonio do Valongo, com seus
retbulos barrocos, pinturas de estncil e painel de azulejos azul e branco, de
1940, de autoria do pintor Cndido da Silva Jnior.............................................................387
Figura 163 Uma imagem da antiga Igreja Matriz de Taubat................................................................388
Figura 164 Fachada principal e outros detalhes do exterior da Catedral Diocesana de So
Francisco das Chagas, de Taubat. ......................................................................................389
Figura 165 Registro fotogrfico do interior da Catedral Diocesana de So Francisco das
Chagas. Vemos a riqueza da decorao neocolonial neste exemplar. .................................390
Figura 166 Fachada da Sede do Hospital da Beneficncia Portuguesa, em Bauru,
inaugurado em 1928. Projeto de Ricardo Severo. Notamos elementos vazados
no muro e nos corrimos da escada similares s meias-luas sobrepostas. ...........................391
Figura 167 Aspectos externos do prdio da Maternidade Gota de Leite, de Araraquara,
cujo projeto atribudo ao arquiteto Jos Maia da Silva Neves. Vemos
algumas estilemas neocoloniais como os telhados, os guarda-corpos com
elementos vazados em forma de meias-luas e as janelas de arcos abatidos.........................391
Figura 168 Fachada do Hospital da Irmandade Santa Casa de Misericrdia, de
Itapetininga. Fronto neocolonial sobre a entrada principal. ...............................................392
Figura 169 Fachada do Hospital e Maternidade Frei Galvo, de Guaratinguet, em 1999....................393
Figura 170 Imagem do primeiro prdio do Orfanato Santa Vernica, em Taubat, com sua
capela central, inaugurado em 1927. Arquitetura de tendncia ecltica no final
da dcada de 1920................................................................................................................393
Figura 171 Fachada do pavilho Patronato Cardoso Ribeiro do Orfanato Santa
Vernica, em Taubat. Inaugurado em 1940 segundo projeto neocolonial
realizado pela Companhia Predial de Taubat.....................................................................394
Figura 172 Prdio que abriga o Centro Cultural e Histrico de Itapetininga, localizado na
Praa Marechal Deodoro da Fonseca, direita, na esquina. Vemos a
volumetria simples, o telhado de quatro guas e o fronto em destaque sobre a
entrada principal. .................................................................................................................395
Figura 173 Exterior do Centro Cultural e Histrico de Itapetininga. Notar os elementos
decorativos aplicados fachada e as paredes revestidas com acabamento de
aspecto rstico. Sobre a porta a data de 1878. .....................................................................395
Figura 174 Painis de azulejos com motivos pitorescos aplicados fachada do Centro
Cultural e Histrico de Itapetininga.....................................................................................396
Figura 175 Interior do Centro Cultural e Histrico de Itapetininga, com suas portas e
pilares de propores exageradas e decorao em madeira. ................................................397
Figura 176 Projeto do arquiteto Hernani do Val Penteado, de 1949, para um Colgio de
Freiras, que se localizaria na Ponta da Praia, em Santos. Provavelmente
demolido ou no construdo.................................................................................................398
Figura 177 Foto do prdio da Creche Anita Costa, em So Carlos. Destaque para o
torreo circular no centro da edificao...............................................................................400
Figura 178 Fonte com trs quedas revestida de pedras e com painel de azulejos azul e
branco na Creche Anita Costa. ............................................................................................401
Figura 179 Projeto, de 1922, do Escritrio Tcnico Sampaio & Machado para o edifcio
do Araraquara College. A aplicao de pedras nos cunhais, na base e nas
fachadas, de forma esparsa, mostra a influncia da tendncia neocolonial. ........................ 402
Figura 180 A primeira foto de 1934 e mostra a construo da Piscina Municipal de So
Carlos; a segunda mostra as instalaes j prontas em 1940; e, a terceira, de
1957, mostra que as caractersticas do prdio j esto diferentes da foto
anterior, indicando que passou por reforma na qual adquiriu feies
neocoloniais......................................................................................................................... 403
Figura 181 Aspecto atual da Piscina Municipal de So Carlos. Telhados com beirais e
telhas capa e canal, arcos com paredes laterais alargadas na base, pedras
esparsas nas fachadas entre outros estilemas remetam influncia da vertente
misses nesse prdio. .......................................................................................................... 404
Figura 182 Alguns detalhes do interior do prdio da Piscina Municipal: aberturas em
arco, portas de ferro com motivos decorativos, balco em madeira. ................................... 405
Figura 183 Detalhes do prdio e da rea externa da Piscina Municipal de So Carlos,
mostrando volutas, estrutura aparente do telhado, espaos de estar com
caramancho, muros e escadas revestidos com pedras........................................................ 406
Figura 184 Imagens de 1945 do Taubat Country Club. Ao fundo vemos um muro de
linhas curvas e telhas capa e canal assentadas no topo como decorao.
Vemos tambm parte do prdio com parte do telhado com beiral, janelas
redondas e sacada com msulas. .......................................................................................... 407
Figura 185 Vista da fachada do Tubat Country Club nos anos de 1940 e foto recente do
interior do prdio mostrando arco e decorao com pedras na fachada e
colunas salomnicas na janela............................................................................................. 408
Figura 186 Foto, provavelmente da dcada de 1940, mostrando o prdio principal do atual
Itaguar Country Clube de Guaratinguet. As demais fotos mostram o mesmo
prdio na dcada de 1990, antes das ltimas obras de restauro. .......................................... 409
Figura 187 Levantamento mtrico da planta do prdio principal do Itaguar Country
Clube de Guaratinguet realizado pelos arquitetos Regina Maia Galvo e
Renato Guimares para realizao de projeto de restauro, na dcada de 1990.................... 410
Figura 188 Projeto para a Estao e Passageiros do Aeroclube de Rio Claro, de 1948,
realizado pelo engenheiro Minton Silveira. O desenho assinado, mas est
ilegvel. Talvez se deva ao autor do desenho o aspecto neocolonial da
construo............................................................................................................................ 411
Figura 189 Imagens de outras instalaes do Aeroclube de Rio Claro.................................................. 412
Figura 190 Vista dos atuais alojamentos do Aeroclube de Rio Claro, provavelmente,
utilizados com outro uso nas dcadas de 1940 e 1950. Suas linhas
neocoloniais sugerem que foram construdas na mesma poca em que o foi a
Estao de Passgeiros. ......................................................................................................... 413
Figura 191 Fachadas do prdio do Clube Ararense, no centro da cidade de Araras. Exibe
traos neocoloniais marcantes. ............................................................................................ 414
Figura 192 Mapa de Taubat publicado no Relatrio de Contas da Companhia Predial de
Taubat de 1938 mostrando os prdios construdos pela companhia na cidade
at aquele ano. ..................................................................................................................... 415
Figura 193 A primeira foto mostra a residncia de Eleozippo S. Pinto, construda pela
Companhia Predial de Taubat, nessa mesma cidade. A segunda, a residncia
Figura 212 Projeto para duas residncias e uma fbrica de mveis em So Carlos, de
autoria do engenheiro civil Djalma Ferraz Kehl, de 1948, retratando um caso
de edificao destinado ao uso industrial e de caractersticas neocoloniais. ....................... 434
Figura 213 Foto atual da fbrica de mveis em So Carlos, de autoria do engenheiro civil
Djalma Ferraz Kehl. ............................................................................................................ 435
Figura 214 Residncia da senhora Nara Herfer, construda na cidade de Catanduva, a Rua
Aracaj esquina com a Rua Cear, em 1946, pelo construtor Elias Nechar.
Notar a presena de armrio embutido e decorao em madeira no interior da
casa. ..................................................................................................................................... 436
Figura 215 Residncia inspirada na da senhora Nara Herfer, construda pelo mesmo
construtor Elias Nechar, em Catanduva............................................................................... 437
Figura 216 Projeto para a residncia do senhor Geraldo Paolillo, construda na Vila Nery,
So Carlos. Notar as linhas arquitetnicas da vertente misses. ......................................... 438
Figura 217 Foto da residncia do senhor Geraldo Paolillo, onde se v a substituio da
torre circular por um ambiente de planta retangular............................................................ 440
Figura 218 Projeto do arquiteto ngelo Murgel para a residncia do engenheiro Djalma
Ferraz Kehl, que data de 1944, situada a Rua So Sebastio, em So Carlos. .................... 440
Figura 219 Fotos atuais da residncia do engenheiro Djalma Ferraz Kehl, projetada por
ngelo Murgel. ................................................................................................................... 442
Figura 220 Projeto, de 1944, do engenheiro Djalma Ferraz Kehl para residncia para
Alberto Martins, a Rua Marechal Deodoro, em So Carlos. Nesse e nos
prximos projetos podemos verificar a influncia do arquiteto ngelo Murgel
sobre a produo do engenheiro socarlense....................................................................... 443
Figura 221 Projeto de reforma da residncia de Jorge Angelino, de 1946, pelo engenheiro
Djalma Ferraz Kehl, a rua D. Pedro II, em So Carlos. Adio de estilemas
neocoloniais......................................................................................................................... 444
Figura 222 Projeto para a residncia para Vicente Gagliardi, de 1946, a Rua XV de
Novembro, So Carlos, de autoria do engenheiro Djalma Ferraz Kehl. Notar
semelhana dessa residncia com a prpria residncia do engenheiro................................ 445
Figura 223 Projeto do engenheiro Djalma Ferraz Kehl, tambm de 1946, para a residncia
de Samuel de Oliveira, a Rua 9 de Julho, em So Carlos.................................................... 446
Figura 224 Mais um projeto de Djalma Ferraz Kehl com caractersticas que evidenciam
sua adeso arquitetura neocolonial aps a construo de sua prpria casa.
Trata-se da residncia para Luiz Valentie de Oliveira, tambm a rua 9 de
Julho, em So Carlos, que tambm data de 1946. ............................................................... 448
Figura 225 Projeto do engenheiro Djalma Ferraz Kehl, de 1940, ou seja, anterior
construo de sua casa, mostrando que o profissional j havia tomado
conhecimento da tendncia neocolonial, possivelmente, antes de se radicar em
So Carlos. .......................................................................................................................... 449
Figura 226 Algumas fachadas, projetadas pelo engenheiro Augusto Schmidt Filho, em
1947, para um conjunto de sete casas de sua propriedade, situadas em Rio
Claro, provavelmente para aluguel...................................................................................... 450
Figura 227 Projeto para seis residncias, de autoria do engenheiro Rodolpho Fehr para o
proprietrio Gelsomino Saia, em So Carlos, que data de 1940. Trs tem
fachadas de tendncia art dco e trs, de tendncia neocolonial, demonstrando
que as opes eram questo de gosto. So, tambm, casas para aluguel,
provavelmente. ....................................................................................................................451
Figura 228 Projeto para duas casas de padro mdio, de 1938, tambm de autoria e
propriedade do engenheiro Augusto Schmidt Filho, provavelmente para
aluguel ou venda, situadas em Rio Claro.............................................................................452
Figura 229 Conjunto de trs casas formando uma pequena vila, de autoria do engenheiro
Augusto Schmidt Filho, para o proprietrio Fernando Guerreiro, a serem
construdas em Rio Claro, em 1941. So residncias de mdio padro,
provavelmente, destinadas venda ou aluguel. ...................................................................453
Figura 230 Projeto de reforma de autoria do construtor Octvio Daltro, que data de 1950,
para a fachada da residncia de Eugenio Ruegger, na cidade de Araras. Notar
o acrscimo de um fronto que evoca a tendncia neocolonial. ..........................................454
Figura 231 Projeto de reforma de autoria do construtor Flvio Santomauro, de 1943, para
uma residncia, em Rio Claro, construda ainda no alinhamento da calada
como a maior parte das edificaes eclticas anteriores aos cdigos
sanitaristas. Na reforma, foram anexados estilemas neocoloniais. ......................................455
Figura 232 Projeto de reforma, de 1950, de autoria do engenheiro Abraho Schevz
executado pelo construtor Humberto Sorregotti, em So Carlos. Essa
edificao tambm ganhou frontes e volutas, mostrando mais uma vez que a
tendncia neocolonial nessas dcadas de 1930 e 1940 era bastante usual. ..........................456
LISTA DE TABELAS
SUMRIO
Volume 1
INTRODUO
................................................................................................................................. i
1.1.
1.2.
............................. 1
23
24
27
36
38
41
2.1.
2.2.
2.3.
2.4.
43
49
52
56
76
87
3.1.
3.2.
3.3.
3.4.
3.5.
4.1.
4.2.
4.3.
5.1.
5.2.
CONSIDERAES FINAIS
129
133
135
148
157
160
162
167
172
174
176
179
................................................................................................................ 185
Volume 2
CAPULO 1 - IMAGENS ....................................................................................................................
195
215
259
355
TABELA 1 -
TABELA 2
..................................................................................................................................... 457
- .................................................................................................................................... 483
REFERNCIAS .................................................................................................................................
486
INTRODUO
Nem todo o conjunto est preservado; muitas construes foram j demolidas. Na ltima visita ao local,
em 2003, a igreja estava em boas condies, bem como portal do campo de futebol.
II
decidimos trabalhar predominantemente com Severo devido sua rea de atuao, que
coincide com a rea de interesse da pesquisa: o Estado de So Paulo. Assim, dentro
desses limites, iniciamos os primeiros levantamentos de campo, em conjunto com a
reviso bibliogrfica.
Novas Necessidades e Novas Perspectivas
No decorrer da primeira fase dos nossos trabalhos, anteriormente descrita, duas
novas necessidades se impuseram. Uma, dizia respeito ampliao da rea delimitada
no incio, pois esta no contemplava cidades em que sabamos existir exemplares muito
significativos da tendncia neocolonial do interior paulista, como Pirassununga e
Ribeiro Preto. Nesse momento, compreendemos que, apesar de a delimitao estar, j,
pr-definida, no poderamos deixar de incluir, no mbito de nossa pesquisa, os prdios
da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, e os da Faculdade de Medicina
ambas da Universidade de So Paulo , o que, pouco mais tarde, levou-nos ao estudo
das Escolas Prticas de Agricultura, implantadas pelo Interventor do Estado, Fernando
Costa, em 1942. Dessa forma, inclumos, em nosso trabalho, tambm as cidades de
Pirassununga, Ribeiro Preto, Bauru, Guaratinguet e Itapetininga, a fim de podermos
analisar exemplares fundamentais, na difuso da arquitetura neocolonial no interior
paulista. O estudo de tais exemplares, mesmo que situados em cidades externas ao
recorte inicial, mostrou-se indispensvel, pois nos despertou para aspectos no
previstos, da difuso neocolonial, e de extrema importncia.
Outra necessidade, especialmente ligada ao campo terico, dizia respeito a uma
compreenso mais ampla do movimento neocolonial. Na trajetria do portugus
Ricardo Severo, que defendia o resgate da tradio brasileira, em termos de arquitetura,
havia uma ligao muito forte com questes arqueolgicas, etnogrficas e outras, a elas
relacionadas, as quais ele, evidentemente, no havia abordado apenas no Brasil.
Tambm tnhamos conhecimento sobre o arquiteto portugus Raul Lino, representante
de um movimento similar e contemporneo ao neocolonial em Portugal. Perguntamonos, ento, o que haveria em comum entre esses profissionais. E, mais, o que haveria,
no movimento neocolonial, em comum com o momento cultural portugus? Seria
possvel encontrar mais esclarecimentos sobre o nosso movimento arquitetnico,
conhecendo mais do contexto portugus onde Severo e Lino formaram seus
pensamentos? Essas inquietaes nos levaram a Portugal, onde, como espervamos,
conseguimos situar o movimento neocolonial num contexto mais amplo, o que
III
IV
bem como nos trabalhos de William Morris, Richard Norman Shaw, John Ruskin, entre
outros. Essa arquitetura foi construda nos subrbios de Londres e em distritos
industriais, desde os finais do sculo XIX at a atualidade, em novas verses inspiradas,
ainda, na tendncia citada. Na Frana, o esprito Beaux-Arts produziu conjuntos
arquitetnicos que podem ser associados s reformas haussmannianas e arquitetura
ecltica, que abarca diversas referncias histricas, incluindo as manor houses e os
chaletts alpinos, que se tornaram uma das mais populares referncias para a arquitetura
residencial, e continua a ser reproduzida em vrios e diferentes locais. Na Alemanha, as
referncias arquitetnicas foram retiradas principalmente dos perodos medievais
Gtico e Romnico. Na Hungria, desde o incio do sculo XIX, a busca por uma casa
tpica hngara estava presente nas publicaes dos intelectuais. Na Polnia, no mesmo
perodo de passagem do sculo, surgiu um movimento similar, baseado em duas fontes
diferentes: a vernacular e a erudita. A ltima, representada pela arquitetura gtica, e a
primeira pela tipologia das manor houses, difundida como um modelo suburbano de
habitao, cercado por jardim. O nome desse movimento, Vstula Bltico, associava
uma regio geogrfica a determinadas caractersticas vernaculares. Outros exemplos de
movimentos similares podem ser citados, como o que ocorreu na Finlndia, chamado
Romantismo Nacional, ou como o movimento Basco. Outras expresses, no mesmo
sentido de afirmao de identidades, podem ser verificadas em pavilhes de diversos
pases, desenhados e construdos para as Exposies Internacionais da poca. Em
Portugal, desde os primeiros anos do sculo XX ensaiava-se o que seria a casa
portuguesa, com a construo da casa de Ricardo Severo, no Porto, e, posteriormente,
com a emergncia de Raul Lino como representante mximo desse movimento. Fora da
Europa, nos Estados Unidos da Amrica- e tambm no mesmo perodo- ocorreu um
movimento similar, motivado, principalmente, pela busca de um vernaculismo
pioneiro mtico. Tal caracterstica estava associada imagem dos camponeses que se
aventuraram na conquista das terras selvagens americanas, e ao seu modo de vida
rstico. De fato, a rusticidade como referncia a uma arquitetura ideal ou, uma
rusticidade romantizada comeou a aparecer na produo do arquiteto Kirtland Cutter
(1860-1939), principal representante do movimento americano.
No contexto latino-americano, especificamente no Brasil, verificamos que a
influncia do romantismo, na formao dos intelectuais e dos profissionais da
arquitetura, tambm foi decisiva. Ricardo Severo, com a componente romntica em sua
VI
em alguns desses arquivos, fizemos uma varredura nos processos de 1920 a 1950, a
princpio. Depois dos primeiros levantamentos, percebemos que entre 1920 e 1930,
prevalecia ainda a produo ecltica e, portanto, nos concentramos nos processos de
1930 a 1950. Em outros desses arquivos, como no de Araras, encontramos dificuldades
tais como a inexistncia de documentao preservada anterior a 1949 perdidas durante
uma enchente, segundo o funcionrio que nos atendeu e a preservao de poucos
processos referentes ao perodo por ns estudado, como no de Ja e de Araraquara.
Devido extenso da pesquisa, algumas vezes, funcionrios dos arquivos nos
solicitavam que especificssemos quais os processos gostaramos de consultar, atravs
do fornecimento dos endereos das respectivas obras, como nos arquivos municipais de
So Carlos e Rio Claro. Essa no foi uma estratgia que adotamos, pois nos interessava
observar o conjunto da produo neocolonial, embora soubssemos de antemo que
especificamente algumas iriam nos interessar. O levantamento extensivo tomou bastante
tempo e foi muito trabalhoso para ns e para os funcionrios que tiraram das
prateleiras e deslocaram at o local de consulta, caixas e caixas de documentos , o que
gerou alguma dificuldade, porm o resultado dele foi precioso. Houve casos em que
necessitamos fazer uma espcie de perseguio por determinados projetos, como no
caso de projetos produzidos pela Diretoria de Obras Pblicas (D.O.P.) de So Paulo. Por
exemplo, depois de constatar que os projetos originais no se encontravam nas
dependncias do que haviam sido as Escolas Prticas de Agricultura (com exceo dos
projetos encontrados na antiga Escola Prtica de Agricultura Gustavo Capanema de
Bauru), nos dirigimos ao Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, que tambm no
detinha esses projetos. Por indicao de um funcionrio, soubemos que, possivelmente,
os projetos estariam na Companhia Paulista de Obras e Servios (C.P.O.S.), em So
Paulo, detentora de parte do esplio da antiga D.O.P. Finalmente, l encontramos
projetos originais importantssimos para nossa pesquisa, embora no todos os que
espervamos.
Aplicamos a mesma estratgia de busca por data nos arquivos municipais
visitados em Portugal, como os do Porto e de Cascais, nos quais a dificuldade foi a
mesma: o volume de processos a serem consultados. Devido ao nosso tempo mais
restrito em Portugal, pois os estgios l realizados foram relativamente curtos no
Arquivo Municipal de Cascais, trabalhamos por amostragem, ou seja, consultamos as
caixas de processos de aprovao de obra referentes ao incio da dcada, ao meio da
VII
dcada e ao final da dcada: 1925, 1930, 1935, 1940 e 1945. Aplicamos a mesma
estratgia no Arquivo Municipal do Porto, combinando a busca por nomes de arquitetos
tambm, pois o arquivo possibilitava esse recurso (parte do ndice de documentos, j
disponvel em forma digital, permitia a busca por nome de autor). Nossa grande
dificuldade foi a pesquisa no Arquivo Intermdio parte do Arquivo Municipal de
Lisboa que guarda os processos de aprovao de obras. Nesse local, o acervo no est
organizado por data, mas por endereo, o que impossibilitou a aplicao de nossa
estratgia principal. A cada endereo correspondem todos os processos de obras, desde
a primeira edificao at a mais recente, o que significava ser necessrio consultar
vrios pacotes de documentos at encontrarmos aquele referente data que nos
interessava, e que, possivelmente, no era de interesse para a pesquisa. Atravs do
sistema de busca eletrnico do arquivo, selecionamos, ento, algumas ruas e ruas de
bairros nos quais sabamos existirem obras relevantes para a pesquisa. Nessas ruas,
selecionamos a numerao de endereo que englobava determinada obra de interesse e
solicitvamos as caixas dos processos. Essa estratgia foi combinada tambm com a
busca no sistema por nomes de arquitetos. Assim, conseguimos contornar a
impossibilidade da aplicao de nossa estratgia de pesquisa principal e localizamos
projetos de grande interesse para o estudo. Por fim, a pesquisa no esplio do arquiteto
Raul Lino, guardada pela Fundao Calouste Gulbenkian, foi mais controlada no
sentido de que j sabamos onde estavam os projetos, porm, foi mais exigente. Pela
grande quantidade de projetos deixados pelo arquiteto mais de 630 foi necessrio
que fizssemos uma seleo. Eliminamos os projetos de pequenas obras (bancos de
parca, portes, caixas dgua, tmulos etc.) e os projetos de reformas, pois nos
interessava analisar determinados aspectos da linguagem desenvolvida e utilizada por
Lino. Depois, fizemos uma classificao por uso (comercial, residencial, misto,
institucional, religioso etc.) e por data para proceder anlise. Mesmo depois da
eliminao e classificao, a quantidade de projetos a serem analisados era extensa e,
portanto, deveramos ser geis na leitura dos mesmos, que se deu atravs de uma
mquina leitora de microfilmes (esplio totalmente microfilmado). A fim de agilizar a
leitura, desenvolvemos uma tabela de registros de caractersticas, onde constava a data
do projeto, caractersticas de fachada, planta, relao com a paisagem e vocabulrio
arquitetnico relativo arquitetura tradicional, barroca, rabe etc. Essa foi, portanto,
uma estratgia de abordagem de um arquivo diferente da que vnhamos fazendo: j
sabamos onde se encontravam os projetos que buscvamos, foi apenas necessrio fazer
VIII
Reviso
Bibliogrfica
Levantamento
em Fontes
Primrias
Instituio Pesquisada
Local
Material Encontrado
Campus USP So
Carlos
Centro de Documentao do
Depto. de Arquitetura e
Urbanismo da EESC-USP
Campus USP So
Carlos
So Carlos
Biblioteca da FZEA-USP
Campus USP
Pirassununga
Campus USP So
Paulo
Campus USP So
Paulo
Campus UFSCar So
Carlos
Campus USP
Pirassununga
So Carlos - SP
Araras - SP
Processos de aprovao
Ja - SP
Processos de aprovao
Rio Claro - SP
Processos de aprovao
Araraquara - SP
Agudos - SP
Agudos - SP
Taubat - SP
Taubat - SP
Arquivo da Escola de
Especialistas aa Aerontica
Guaratinguet - SP
Guaratinguet - SP
Arquivo Municipal de
Guaratinguet
IX
dos Passos
Levantamento
de Campo
Bauru - SP
So Paulo - SP
So Paulo - SP
Pirassununga - SP
So Carlos - SP
Araras - SP
Ja - SP
Rio Claro - SP
Araraquara - SP
Agudos - SP
Catanduva - SP
Taubat - SP
Guaratinguet - SP
Bauru - SP
Itapetininga - SP
Reviso
Bibliogrfica
Levantamento
em Fontes
Primrias
Instituio Pesquisada
Local
Material Encontrado
Biblioteca da Universidade do
Minho
Guimares - PT
Braga - PT
Biblioteca da Sociedade
Martins Sarmento
Guimares - PT
Biblioteca Nacional - BN
Lisboa - PT
Biblioteca da Fundao
Calouste Gulbenkian
Lisboa - PT
Lisboa - PT
Porto - PT
Lisboa - PT
Setor de Peridicos da
Biblioteca Pblica de Braga
Braga - PT
Lisboa - PT
Biblioteca da Sociedade
Martins Sarmento
Guimares - PT
Lisboa - PT
Cascais - PT
Porto - PT
Braga - PT
Santurio da Peneda
Gers PT
Guimares - PT
Coimbra - PT
Ftima - PT
Aveiro - PT
Mafra, Alcobaa - PT
Lisboa - PT
XI
O Contedo da Tese
Dessa maneira, deparamo-nos com um aspecto da pesquisa, mais ampliado, que
procurou situar o movimento neocolonial num enquadramento que considerou as
contribuies do Romantismo e, por essa via, suas conexes com o ambiente cultural
portugus, e com um aspecto mais centralizado, que buscou conhecer a difuso da
arquitetura neocolonial no interior paulista, e explorar seu significado. Assim, nosso
primeiro captulo - Ascendncia do Movimento Tradicionalista do Brasil trata da
atuao de Ricardo Severo e de Raul Lino em Portugal, das relaes entre os
movimentos brasileiro e portugus. No segundo captulo Um Paralelo: Difuso em
Portugal tratamos de evidncias de que houve, assim como no Brasil, especificamente
no interior paulista, difuso da arquitetura tradicionalista portuguesa, produzida no
mesmo perodo, sob as mesmas circunstncias. No terceiro captulo O Neocolonial na
Historiografia fizemos uma reviso dos autores que trataram sobre o tema do
movimento e da arquitetura neocolonial, por perodos, desde seu aparecimento at a
atualidade, procurando evidenciar aspectos sobre a complexidade cultural das primeiras
duas dcadas do sculo XX, investigando se a esfera da oficialidade dessa arquitetura j
havia sido anteriormente abordada, e pesquisando, ainda, sobre a tratada difuso.
Emergiu, dessa reviso, que no poderamos continuar interpretando o neocolonial
segundo premissas modernistas e que, atualmente, existe uma abertura bem maior, na
historiografia, para a incluso de temas antes preteridos. No quarto captulo
Arquitetura Neocolonial Paulista: Imagem Oficial tratamos da apropriao, pelo
Estado, da linguagem da arquitetura neocolonial para a construo de obras oficiais,
especialmente das Escolas Prticas de Agricultura, j mencionadas. No quinto e ltimo
captulo Apropriao e Recriao da Arquitetura Neocolonial na Difuso Paulista
abordamos a difuso da arquitetura neocolonial em obras institucionais e particulares,
em suas verses comerciais e residenciais. Procuramos interpretar se o contedo
ideolgico do movimento ainda se fazia presente nessas esferas, e mostramos que
mesmo parte da difuso mais simplificada, muitas vezes foi realizada por profissionais
eruditos, ou seja, diplomados, e no por profissionais sem formao. Finalmente,
procuramos mostrar imagens e projetos que encontramos em diversos arquivos
municipais, e fotos onde registramos exemplares de interesse.
XII
XIII
Captulo 1
ASCENDNCIA DO MOVIMENTO
TRADICONALISTA NO BRASIL
Esse primeiro captulo de nossa tese resulta de uma parte da pesquisa realizada
em Portugal. Em certa altura do trabalho, motivados pela necessidade de visualizar o
movimento neocolonial num mbito maior, que nos permitisse dimensionar o
significado da figura de seu principal precursor Ricardo Severo , conectando-o s
condicionantes de seu pas de origem, realizamos um estudo sobre temticas pouco
comuns, na nossa historiografia. Assim, nosso interesse voltou-se para o contexto do
qual emergiu esse engenheiro portugus, sob a perspectiva de que, provavelmente,
Portugal tambm experimentasse, no mesmo perodo, uma nsia de busca de identidade
e de elementos culturais e tradicionais que, ento, caracterizavam sua nacionalidade.
Algumas referncias confirmaram essa suposio e indicaram o arquiteto portugus
Raul Lino como um pensador nacionalista da arquitetura (KESSEL, 2002;
RIBEIRO, 1994; LINO, 1972; LINO, 1933). Assim, foram encontrados dois
profissionais da arquitetura, de mesma nacionalidade, de mesmo vis de pensamento a
preocupao com as origens e mesma fonte de inspirao a arquitetura tradicional
portuguesa atuando, contemporaneamente, um em Portugal e outro no Brasil.
Portanto, as evidncias apontavam uma origem comum para o movimento neocolonial e
para o movimento da casa portuguesa, que o que vamos explorar a seguir. Alm
disso, procuramos observar se em Portugal, tal como no Brasil, ter-se-ia dado a difuso
da arquitetura nascida do movimento da casa portuguesa. A suspeita foi confirmada e
pudemos apurar um processo de reaportuguesamento da arquitetura (de onde
surgiram exemplares neobarrocos e outras vertentes tradicionalistas) e, alm das
identificaes entre traados urbanos com influncia da teoria cidade-jardim e casas
tradicionalistas, tivemos tambm a oportunidade de levantar exemplares semelhantes
aos neocoloniais brasileiros.
Observamos qual o papel do engenheiro portugus Ricardo Severo na origem
dos movimentos tradicionalistas brasileiro e portugus que repercutiram na produo
arquitetnica daquelas dcadas, assim como o do arquiteto de mesma nacionalidade,
Raul Lino, na liderana do movimento portugus. Assim, cientes da existncia de
estudos mais profundos sobre a biografia de ambos, vamos, aqui, traar apenas algumas
linhas, em funo do assunto que nos interessa.
Antnio Augusto da Rocha Peixoto (1866-1909). Naturalista, etnlogo e arquelogo, foi uma das
figuras marcantes na vida cultural portuguesa na transio do sculo XIX para o nosso sculo. Em 1891
secretaria a "Revista de Portugal" fundada por Ea de Queiroz e onde j colaborava. Organizou o
Gabinete de Mineralogia, Geologia e Paleontologia da Academia Politcnica do Porto. Colaborou nos
jornais "O Sculo" e "O Primeiro de Janeiro" e em 1889, como redator chefe, um dos impulsionadores
da revista "Portuglia", conhecida pela sua alta erudio nos domnios da arqueologia, da histria, da
antropologia e da etnografia. Foi diretor da Biblioteca Pblica e Museu Municipal do Porto.
http://www.cm-pvarzim.pt/Turismo/HistoriaTradicoes/Poveiros%20Ilustres.htm. Acesso: 13/04/2006.
2
Francisco Martins Sarmento (1833-1899). Disponvel em: http://www.csarmento.uminho.pt/sms_41.asp
Acesso: 03/07/2006.
3
Revista de Guimares, rgo da Sociedade Martins Sarmento, fundada em 1884, sendo uma das mais
antigas e prestigiadas publicaes, de carter cientfico, portuguesas.
http://www.csarmento.uminho.pt/sms.asp - Acesso: 03/07/2006.
4
Severo, R., Cardoso, A. F. Notcia arqueolgica sobre o Monte da Cividade. In: Revista de
Guimares, Guimares: Martins Sarmento, v. 3, p. 137-145, 1886.
5
Portuglia: materiais para o estudo do povo portugus. Ao contrrio da primeira iniciativa editorial,
nesta nova revista o vnculo imediato entre o propsito cientfico e o ideal nacionalista em Portugal era
claramente assumido no seu prprio subttulo. (Silva, 2005, p.44).
outro, sob uma vertente romntica que justifica o interesse pelas tradies, pela etnia e
pelo nacionalismo. Esse interesse pode
ser identificado no trabalho de Severo ou de seus contemporneos, fosse
tratando de arqueologia, histria ou arquitectura (). Tratava-se de voltar
para as origens da nao e de seu povo, para suas tradies, para a partir
dela projetar um futuro radiante promissor (MATOS, p.39, 2005).
Exemplares encontrados num Alfarrabista do Porto: Livraria Manuel Ferreira, que afirma ter comprado
os livros da biblioteca de Ricardo Severo.
7
No h consenso se o engenheiro teria chegado em 1891 ou 1892, no Rio de Janeiro ou em So Paulo,
porm certo que j se encontra na cidade de So Paulo em 1892. (Silva, 2005, p.54).
8
Segundo Segawa (1997, p.36), Jos Mariano Filho (1881-1946), mdico e historiador de arte, foi o
responsvel pela denominao neocolonial ao movimento.
Conforme podemos verificar pelo projeto e pelas fotos, esto presentes, nela,
elementos tais como balco com muxarabi, nicho para santo e chamins pronunciadas,
como as do Sul do pas, que fazem da casa uma reunio de caractersticas da arquitetura
portuguesa, um museu de pormenores, como foi descrito (FIGURAS 3 e 4).
Entretanto, dentre todas as caractersticas da casa, a que mais se destaca a
planta, pois existe uma clara semelhana com a planta da casa registrada por JeanBaptiste Debret (1768-1848) em sua Prancha 42 (FIGURA 8). Quem chama a ateno
para o fato de esse artista francs ter-se tornado uma fonte de informaes Pinheiro
(2005, p.7):
A despeito de suas breves anlises arquitetnicas, o fato que Debret ()
pela escassez de outros estudos a respeito - tornou-se referncia para todos
aqueles que voltaram seus olhos para a arquitetura colonial brasileira (),
a comear por Ricardo Severo e Jos Mariano Filho, passando por
Alexandre Albuquerque e tantos outros.
12
Sobre o assunto ver: Monteiro, Miguel. 1991. Fafe dos Brasileiros- (1860-1930) - Perspectiva
Histrica e Patrimonial. Fafe, Ed. Autor; Lima, Roberto Pastana Teixeira. 2001. Modelos Portugueses e
a Arquitetura Brasileira: catlogo e anlise das formas arquiteturais paulistanas e lusitanas no
oitocentos. Tese (Instituto de Filosofia e Cincias Humanas) - Universidade Estadual de Campinas,
p.175-188
Quando volta ao Brasil, em 1908, Severo torna-se scio do escritrio Ramos de Azevedo em So
Paulo, de maneira que todos os projetos aqui citados so posteriores a essa data.
claro para Severo que outras razes tambm plausveis, como as indgenas no so exactamente
tradicionais; ou seja, no geraram verdadeiros estilos arquitectnicos ou artsticos, reportando-se a um
uso decorativo: o ser autctone no se confunde com o ser tradicional, constituindo assim um primeiro
argumento que afasta, da fonte nacional brasileira, as manifestaes artsticas anteriores colonizao
(Milheiro, 2005, p.181).
passa a ser Academia Real, em 1862, tendo nascido como Casa do Risco, em 1755
envia a Paris, em 1865, os primeiros bolsistas, o que significa que o ensino em Portugal
seguia a escola francesa15. Contrariando a tendncia corrente do momento, Lino foi
mandado para a Inglaterra e para a Alemanha, provavelmente em decorrncia, como j
dissemos, da rea de atuao do pai, que tambm intencionava estimular, nos filhos, o
desenvolvimento das habilidades artsticas. Na Alemanha, contudo, Lino no vai para
um curso superior, mas freqenta cursos livres, que no lhe do o grau acadmico de
arquiteto. Ou seja, Lino no vai para a academia, mas vai para o exterior, outro fator
indicativo da preocupao das famlias ricas em conseguir para os filhos uma formao
melhor que aquela existente em Portugal, na poca. O arquiteto somente recebe seu
ttulo em 1926, de uma forma quase honorfica (RIBEIRO, 1994, p.27).
Essa trajetria diferenciada marcou, do incio ao fim, o trabalho de Raul Lino.
Sua formao cultural e profissional tem razes no centro da Europa, no ambiente
cultural e nas idias que circulavam nessa regio, na virada do sculo. Recebeu grande
influncia do movimento Arts and Crafts, qual se pode atribuir sua postura em defesa
do artesanato e contra a standatizao e a industrializao. Em outras palavras, defendia
o amor pelo fazer (PIMENTEL, 2006). influncia desse movimento tambm se
podem atribuir suas idias acerca da recuperao e da valorizao de certos aspectos da
arquitetura tradicional e vernacular. Em sua biblioteca podem ser encontrados livros
tais como os de Mackintosh, de Ruskin e de Bailey Scott16 e revistas de artes e
arquitetura como Deutsch Kunst Deco, Racion, Studio e publicaes sobre a Sesseo
Vienense (PIMENTEL, 2006). Encontra-se no trabalho de Vogliazzo (1988) uma
aproximao entre as obras de Muthesius, Das Englische Haus (1904), e Lino, A Nossa
Casa (1918), concluindo-se que o ltimo teria, muito provavelmente, lido o primeiro,
devido s caractersticas presentes nas idias e no trabalho do arquiteto portugus. Foi
marcado tambm pela cultura alem de fins do sculo XIX e incio do XX: pelo
Jugendstil, pela obra global, quando, em Hannover, trabalhou com o professor Albrecht
Haupt17, estudioso da arquitetura portuguesa dos sculos XIII ao XVII, a quem dedicou
15
grande estima e a quem se referia como querido mestre18. Sua inclinao pela msica
o fez grande admirador de Wagner e das grandes encenaes, o que acabou por se
refletir em suas obras arquitetnicas mais significativas, nas quais se verifica um grande
cuidado com os sons dos ambientes.
Essa sua formao deriva da cultura romntica, bem como sua tendncia busca
das tradies e da identidade nacional, embora se tenha mantido sempre longe da
poltica. Ribeiro afirma que, alm de todas essas caractersticas de sua formao,
tambm teve influncias da literatura e da msica portuguesa, formando
o seu prprio modelo de romantismo, afinal um dos vectores estruturais da
sua personalidade, intuitiva, intimista e diletante, de alguma forma
paternalista e aristocrtica, dentro desse contexto cultural de nacionalismo
quase mtico (RIBEIRO, 1994, p.31).
Seu perfil contrasta, portanto, com o da maioria dos portugueses eruditos e o dos
arquitetos que se formavam no perodo, e que produziam a arquitetura ecltica dos
revivalismos historicistas e dos chals (RIBEIRO, 1994, p. 28).
De volta a Portugal em 1897, Lino sem demora inicia seu trabalho. Uma de suas
primeiras obras, e tambm uma das mais conhecidas, a casa Monsalvat, de 1901,
construda no Monte Estoril para o pianista Alexandre Rey Colao (FIGURA 11). Sua
bagagem cultural adquirida no exterior, na qual esto as principais convices que
nortearam seu trabalho, associada s inquietaes acerca de seu pas, especialmente no
que diz respeito arquitetura, levaram-no a realizar outras viagens e a tomar uma
postura prpria. Assim, Lino desenvolveu um posicionamento diferenciado, com relao
a vrias correntes de pensamento que caracterizaram a produo arquitetnica dos
princpios do sculo XX, e que acabou florescendo devido s condies propcias do
perodo, j aqui citadas, e que foram os debates intelectuais por uma arquitetura
genuinamente portuguesa. Por um lado se opunha ao academicismo afrancesado e ao
ecletismo que considerava como influncias estranhas s razes portuguesas e, por
castelos ao modo de seu tempo, construiu casas municipais e restaurou igrejas na Alemanha. Foi
viajador por toda a Europa e escreveu mais de uma dezena de livros sobre arte. Quedou-se em Portugal
durante alguns anos, percorreu-o quase todo procura de nossa arte sobre a qual publicou dois
volumes: Die Baukunst der Renaissance in Portugal, Ester Band, Frankfurt A.M., Heinrich Keller, 1890;
idem, Zweiter Band, 1895 (158 pp. E 171pp.) Esta rpida biografia foi tirada da Introduo Crtica
que acompanha a edio portuguesa: Haupt, A. A Arquitectura do Renascimento em Portugal. Traduo:
Margarida Morgado, Introduo crtica e reviso de texto: M. C. Mendes Atanzio. Lisboa: Ed. Presena,
1986.
18
Tratamento retirado da correspondncia trocada entre Lino e Haupt (Documentos encontrados no
Acervo da Famlia Lino).
10
Nesse caminho muito prprio que Raul Lino traou que no seguia nenhuma
das tendncias predominantes da poca, mas coincidia com o movimento tradicionalista
que se fortalecia, e do qual ele viria a ser a figura mais importante possvel
identificar algumas vertentes arquitetnicas que faziam parte do que ele considerava
como componentes da arquitetura portuguesa, tais como a rabe, a manuelina e a
barroca.
Pode-se considerar que foi o mestre Haupt, atravs de seu trabalho e de seu
convvio, quem despertou em Lino o interesse pela busca dos componentes culturais da
arquitetura de seu pas. importante, aqui, nos demorarmos um pouco mais sobre a
influncia de Haupt em Lino, lembrando que esse estudioso alemo, como j foi
mencionado, viajou por toda a Europa, principalmente por Portugal, durante o final da
dcada de 1880, inclusive, saliente-se, pelo Norte portugus (Haupt, 1986, p. III, IV e
V). Na Introduo Crtica que se encontra na edio portuguesa do livro do mestre,
Baunkunst Der Renaissance in Portugal, de 1986, h informaes pertinentes
compreenso dessa influncia.
Em primeiro lugar, Atanzio autor da introduo crtica e da reviso de texto
da edio citada esclarece que, embora a obra e seu ttulo queiram se referir
19
O barroquismo, neste caso, significa que Lino se absteve dos excessos, da profuso de decoraes.
11
arquitetura do renascimento em Portugal, para ele [Haupt], tal conceito vai do sc.
XIV, ou XIII, pelo sc. XVI e at XVII, misturando Barroco e Maneirismo, e ContraReforma (Haupt, 1986, p. II). Analisando a obra, o crtico afirma que Haupt
deu muito valor aos trabalhos em talha, sobretudo quando os encontrou nos
coros das igrejas, catedrais, armrios de sacristia, retbulos de altar, nos
tectos e nalgumas superfcies murria em decorao escultrica luxuosa,
toda dourada (HAUPT, 1986, p. II).
12
13
caracterizam como sendo prprio de uma nao, como se pode deduzir pelo trecho de
sua autoria:
o autor tendo ouvido alomear que o arco de ferradura
autenticamente rabe, ltima hora resolve imprimir um par de ferraduras
no meio da fachada, para que de arqueologia no deixe de haver tambm
sua pitadinha Bravo! Est terminada a obra; s lhe falta falar. Mas a
obra no diz nada, parecendo tudo consentir. Saxa loquuntur mentira
como todas as figuras de retrica (LINO, 1993, p.69).
Pelo exposto, nota-se que a inteno de Lino, enquanto arquiteto, ampla. Esteve
sempre preocupado alm de sua inquietao acerca das origens culturais com a
qualidade do espao. Segundo seu neto, o tambm arquiteto Diogo Lino Pimentel, Raul
Lino no buscava um estilo e no propalava, em suas obras tericas, que o estilo era
importante. Ao contrrio, seu intuito era o de indicar o que era importante numa casa,
para se viver de maneira agradvel. Nunca quis disseminar receitas, pois para ele
importava a expresso cultural prpria de cada poca e, mais que tudo, a qualidade do
espao. No desenvolvimento dos seus projetos, ainda segundo as palavras de Diogo
Lino Pimentel, fossem de edificaes ou de objetos, as caractersticas no eram as da
forma pela forma, mas da forma que nascia de dentro, das necessidades internas20.
Alguns autores21 entendem que a atitude projetual do arquiteto era, j, um tanto
moderna, como menciona o Professor Engenheiro Costa Lobo, quando relembra a
postura sempre aberta ao novo e muito modernista22 de Lino, nas reunies da Junta
Nacional de Educao23. Nesse mesmo sentido, recordamos que o ltimo inqurito
arquitetura portuguesa afirma que Lino valoriza uma postura terica to inovadora
quanto moderna, baseada no entendimento do stio, na reinveno dos materiais
tradicionais e na importncia da vivncia domstica (TOSTES, 2006, p. 18).
Como essa caracterstica era compatvel com seu tradicionalismo? Aqui, mais
uma vez se evidencia o aspecto ambguo dos pensamentos desses intelectuais das
20
Entrevista com o arquiteto Diogo Lino Pimentel, neto do arquiteto Raul Lino, realizada em 28/01/2006,
na Casa do Cipreste, projetada por Raul Lino em Sintra.
21
Almeida, Pedro Vieira de. Raul Lino ensina a Olhar. Mesa Redonda: 28/10/2005, 17h Palcio
Vilaas, Sintra.
22
Conversa com o Professor Engenheiro Costa Lobo no dia 28/01/2006.
23
O Prof. Dr. Costa Lobo esclareceu que a Junta Nacional de Educao (4. Subseco da 2. Seco) foi
a instituio que deu origem ao IPPC Instituto Portugus do Patrimnio Cultural que, mais tarde, se
transformou no atual IPPAR Instituto Portugus do Patrimnio Arquitectnico. Acrescentou que l na
Junta - o arquiteto Carlos Ramos trabalhou com Raul Lino e eram, os dois, as principais figuras das
reunies, mas o primeiro no era seguidor ou discpulo do segundo. Informaes retiradas tambm da
nota 10.
14
primeiras dcadas do sculo XX, que viveram entre a necessidade de afirmao de uma
identidade e o avano da modernidade, que pretendia se desligar da tradio cultural e
olhar para o futuro. Os descendentes de Lino argumentam que ele defendia no deitar
fora o que fosse bom da casa portuguesa e conjugar essas qualidades com as boas
novidades, no seu entender. O Dr. Martinho Pimentel bisneto de Raul Lino
exemplifica que
a Casa do Cipreste no exactamente uma casa portuguesa, mas os
elementos que a ela podem ser atribudos l esto presentes. Afirma
tambm que a preocupao do bisav era a de no perder as razes, ou
melhor, perceber as razes para no esquecer do ponto de partida, mas sem
deixar de andar para a frente; no estava pensando em buscar a identidade
nacional (PIMENTEL, 2006) (FIGURA 15).
claro que este vem a ser um ponto bastante discutvel, embora seja tambm um
dos que fazem de Raul Lino uma figura de grande interesse, para se compreender a
arquitetura do perodo e, inclusive, de perodos posteriores, tanto que um dos trabalhos
mais completos sobre o arquiteto e seu pensamento, de autoria de Irene Ribeiro, leva o
nome de Raul Lino, pensador nacionalista da arquitectura (RIBEIRO, 1994).
certo que sua sensibilidade para produzir uma arquitetura de qualidade, a
despeito das crticas de que foi alvo, pode ser atribuda sua formao romntica, ao seu
convvio com Haupt que desenhou e fotografou enorme quantidade (mais de 300) de
objetos e edificaes portuguesas de vrias pocas e, claro, sua tendncia natural.
Seus descendentes asseguram que estava sempre atento, dava muito valor ao sentido da
observao e desenhava assiduamente. Lino recusou-se ao uso da mquina fotogrfica,
preferindo desenhar, sobretudo, a fim de conhecer, compreender e aprender sobre a
construo, alm de preocupar-se com o registro e com o domnio das dimenses. Como
exemplo de seu estudo atravs da observao e do desenho, o arquiteto Diogo Pimentel
conta que foi olhando e desenhando inmeras janelas, portuguesas, mouriscas, alems,
entre outras, que Lino descobriu a origem genovesa dos cogumelos das janelas do
Palcio Real de Sintra (PIMENTEL, 2006). Alm disso, os descendentes falam tambm
em reinterpretao pelo desenho. Dessa maneira, no podia haver colagem ou cpia
nas obras de Lino: ele observava, desenhava, reinterpretava e se expressava. assim
que, mesmo que se possa identificar as suas referncias ou influncias, em suas criaes
se nota, sempre, a sua maneira de fazer. Como exemplo disso, seu neto menciona as
15
curvas, que so caractersticas dos trabalhos de Lino: seja nos telhados, nos candelabros
ou em outros objetos, so sempre curvas suaves. Afirma, inclusive, que entre seus
estudos, deixados no arquivo da famlia, possvel encontrar desenhos de caractersticas
barrocas, especialmente de objetos, mas que eram feitos com o mesmo intuito, o de
conhecer. E salienta que Lino no produziu nada que se referisse a tal estilo
(PIMENTEL, 2006)24. Foi fundamental, portanto, para sua expresso e seu raciocnio,
essa experincia proporcionada pelo desenho e, ao certo, da provm a importncia que
Lino atribua proporo, que uma das caractersticas marcantes dos seus projetos e de
suas recomendaes tericas. Associada a outros componentes de sua forma de projetar,
a proporo ajudava a compor um aspecto especial, em suas obras, para cuja definio
Ribeiro (1994, p.37 e 38) emprega o termo cenogrfico. Lino tambm chegou a
estudar Botnica, o que lhe serviu para aprender com a natureza, especialmente nas
pequenas viagens que fazia pelo interior da serra de Sintra (PIMENTEL, 2006).
Certamente, essa ateno ao entorno natural inspirou a grande importncia que dava
relao de suas obras com a paisagem, com os elementos vegetais e o modo como
resolvia a implantao.
Ainda relacionada questo da proporo est a relao de Lino com a msica.
A visita Casa do Cipreste, para entrevista com os descendentes do arquiteto, foi
valiosa, pois proporcionou a percepo de como Lino trazia seu conhecimento musical
para a arquitetura (PIMENTEL, 2006). Seu bisneto Martinho Pimentel, que atualmente
quem vive na casa, descreveu suas impresses com relao aos sons da mesma. De
incio, contou que para Raul Lino o barulho da porta de entrada importantssimo, numa
moradia: seria como um aviso, que transmite ou no segurana, e d a conhecer aos
moradores quem chega, pelo modo como um ou outro abre e fecha a porta. Mencionou,
ainda, como sente que a proporo e a escala so extremamente importantes para dar a
noo de espao uma vez que essa noo est ligada aos sons dentro dos ambientes
que transmite a sensao de segurana, de conforto, de interioridade, e at mesmo de
calor. Depois mostrou, na Casa do Cipreste, que a sala de estar tem uma acstica
excelente e est totalmente adequada aos recitais, como os que aconteciam na casa, na
poca em que l vivia Raul Lino. As paredes no so paralelas; o forro apresenta vrios
24
Notou-se, durante a conversa, certa recusa em aceitar que Raul Lino tenha posto em suas obras,
caracteres que remetam ao Barroco. Talvez devido ao fato de ser, este estilo, muito criticado,
especialmente pela gerao modernista, em Portugal (da mesma forma que, no Brasil, a mesma gerao
negou tudo o que se referia ao Ecletismo).
16
planos inclinados; e, finalmente, o ambiente possui uma caixa de ressonncia uma sala
semelhante, no piso de baixo, que, quando as portas esto fechadas, proporciona sala
de cima um desempenho acstico timo. No existe reverberao de som nessa sala, de
modo que uma conversa pode se manter clara, mesmo num tom baixo. Em contraste, na
sala de jantar o trabalho com os sons diferente. Nessa sala acha-se uma nica e grande
mesa, ao redor da qual se espera que as pessoas se renam para as refeies. Segundo
Martinho Pimentel, a inteno do arquiteto, nesse espao, a de que todos participassem
da mesma conversa. Trata-se de um ambiente oval, em planta, cujas paredes
acompanham a forma, fazendo com que os sons se propaguem de maneira que tudo o
que se diz de um lado audvel do outro. Na entrada, no hall, uma canalizao de gua,
que provm da Serra de Sintra, foi concebida para formar uma bica que faz
constantemente barulho de gua corrente (PIMENTEL, 2006). No mais, a casa apresenta
outras caractersticas prprias de Lino, como, por exemplo, a ligao com o movimento
Arts and Crafts, visvel na forma como comparecem os traos da arquitetura tradicional
portuguesa, os nichos, os armrios embutidos, tambm presentes, e a preocupao com a
insero na paisagem e com o usufruto da mesma. A sala de estar tem uma parede com
aberturas que oferecem uma viso privilegiada do Palcio Real de Sintra, to caro ao
arquiteto. Assim, a formao e as convices de Lino traduziram-se numa linguagem
muito particular e rica, na qual podem ser lidas diversas influncias.
Por seu profundo envolvimento na prtica da arquitetura25, assim como pela
produo de uma obra terica cujo intuito era orientar a construo de edifcios
residenciais dentro dos cnones da boa arquitetura portuguesa, Lino foi reconhecido
como o precursor e lder do movimento da casa portuguesa. Ribeiro (1994, p.93)
mostra a importncia de seu papel nesse processo e, ao mesmo tempo, afirma que seus
esforos foram engolidos pelos novos e modernos tempos, que j se anunciavam: A
casa portuguesa no passava afinal de uma fico. Raul Lino tinha dado vida a um
sonho.
1.3 Sntese das Trajetrias de Severo e Lino
Como sntese dessa breve descrio das trajetrias de Severo e Lino, vamos
estabelecer uma linha de anlise a partir de Silva (2005). Essa autora levanta a
25
O arquiteto tambm produziu obras institucionais e comerciais, alm das residenciais, muito
desconhecidas. Encontramos em seu esplio, na Fundao Calouste Gulbenkian, 39 projetos
comerciais/industriais; 20 religiosos e 46 institucionais, entre outros de outras naturezas.
17
possibilidade de Severo ter sido influenciado por Lino e pelo movimento da casa
portuguesa, quando retorna a Portugal, em 1897:
o retorno [de Severo] ao Porto coincidiu com o surgimento em Portugal de
um movimento nacionalista de revivescncia da casa portuguesa,
capitaneada pelo arquiteto Raul Lino (...): O movimento arquitetnico, que
se opunha ao ecletismo ao propor a retomada de uma arquitetura
autctone, pode ter de algum modo influenciado Severo, que anos depois
encetaria uma campanha semelhante no Brasil (SILVA, 2005, p. 56).
E continua, conjeturando que a casa no Porto teria sido a primeira vez [em que
o engenheiro] experimentou o desafio de harmonizar as referncias da arquitetura
portuguesa com as exigncias de conforto da casa moderna (SILVA, 2005, p. 56).
Segundo nossa anlise anterior, Lino havia sado do pas ainda muito jovem e teria
retornado a Portugal, coincidentemente, no mesmo ano em que o fez Severo, 1897.
Nesse momento, como vimos, a inquietao intelectual em favor do fortalecimento da
nacionalidade, das tradies e do republicanismo j havia sido deflagrada, e vinha
amadurecendo desde 1890, data do Ultimato Ingls. Severo esteve muito envolvido
nesse processo, portanto acreditamos que estava, j, completamente imbudo de um
esprito capaz de mover um movimento relativo arquitetura, alm do que, tinha 27
anos de idade e, provavelmente, idias muito amadurecidas sobre seus interesses. Ao
contrrio, Lino no participara de tais movimentaes. Quando retorna a Portugal tem
apenas 17 anos e uma bagagem cultural que abrangia Ruskin e o movimento Arts and
Crafts. Comeou logo a realizar suas obras, mas ainda no era o notvel arquiteto de
casas verdadeiramente pertencentes cultura de seu pas. Em 1902, quando Severo
comea a construir sua casa no Porto, Lino est em digresso pelo Marrocos, ainda em
busca de afirmao quanto aos aspectos formadores da arquitetura tradicional
portuguesa. A publicao de um projeto seu para uma residncia em Coimbra, na revista
A Architectura Portuguesa, de 1909, d mais fora idia de que Lino comea a ganhar
visibilidade, ao final dessa dcada: apezar de Raul Lino ser um artista novo, estes
esforos [busca de elementos originais para compor arquitetura portuguesa] j so
antigos; pois elles lhe teem consumido patrioticamente toda a actividade artstica. (...).
A Raul Lino se deve uma creao artstica nova a casa portugueza (A Casa..., 1909,
p.29). (FIGURA 16). O arquiteto passou a ser reconhecido como expoente do
movimento da casa portuguesa somente depois da publicao das suas obras, a partir de
18
26
A Nossa Casa: Apontamentos sobre o Bom Gosto na Construo das Casas Simples (1918); A Casa
Portuguesa (1929); A Casa Portuguesa: Alguns Apontamentos sobre o Arquitectar das Casas Simples
(1933)
27
Bernardo Lino Pimentel, bisneto do arquiteto Raul Lino, e sua esposa, Madalena Pimentel, guardam
parte do esplio deixado por Raul Lino, onde esto os seus desenhos e estudos de artes decorativas e as
suas correspondncias pessoais, em sua residncia em Lisboa. Foi-nos gentilmente permitida uma visita a
esse arquivo em Fevereiro de 2006.
19
20
Captulo 2
UM PARALELO: DIFUSO EM PORTUGAL
O Prmio Valmor um prmio pecunirio a ser dividido entre o arquiteto e o proprietrio da obra,
concedido anualmente pela Cmara Municipal de Lisboa. Os fundos para o prmio foram deixados em
testamento pelo Visconde Valmor Fausto Queiroz Guedes. atribudo por um jri de trs arquitetos
nomeados pela Cmara Municipal e foi associado, a partir de 1982, ao Prmio Municipal de Arquitetura.
23
pas, que corresponde dcada de 1940. A partir do final da dcada de 1930, o Estado
entra na sua fase mais alinhada ao fascismo, diminuindo as possibilidades de
modernizao da arquitetura portuguesa. Deu-se um retorno s caractersticas
preconizadas pelo movimento da casa portuguesa, e uma simpatia pela arquitetura
neoclssica fascista (TOSTES, 2002, p.350). As orientaes oficiais para a construo
instruam que os grandes edifcios pblicos deveriam aproximar-se da arquitetura
clssica e da sua monumentalidade claramente, uma orientao que se coadunava com
a arquitetura fascista. Os edifcios menores, situados nas pequenas localidades,
deveriam empregar elementos de raiz cultural rural e regional e, quanto aos mdios,
estes deveriam apresentar um aspecto hbrido entre os dois primeiros (Pereira, 2000,
p.33-39); estes hbridos resultaram no chamado portugus suave (FERNANDES, 2003,
As caractersticas mais comuns dessa linha arquitetnica so a monumentalidade, a
simetria e o ritmo dos corpos e das fachadas associados a pinculos nos telhados, telhas
capa e canal e beirais tradicionalistas. O arquiteto que mais produziu durante esse
perodo, em Portugal, e que desenvolveu uma linguagem dentro dessa tendncia, foi
Lus Cristino da Silva.
24
25
2.2 Lisboa
Os Prmios Valmor
A anlise das obras ganhadoras dos Prmios Valmor mostrou que durante um
longo perodo, que vai de 1910 a 1946 perodo de interesse para nossa pesquisa a
tendncia oficial era a de incentivar a produo de uma arquitetura tradicionalista na
cidade de Lisboa, o que acaba se refletindo em municipalidades prximas, devido
atuao dos mesmos profissionais em diversas localidades.
Em 1910 e 1919 o ganhador do Prmio Valmor foi Ernesto Korrodi, um
arquiteto de origem sua, naturalizado portugus. Foi autor de obras de caractersticas
romnticas e eclticas, e tambm de restauraes de palcios e castelos. Entre 1921 e
1934 exerceu a funo de diretor de obras de uma comisso subordinada DirecoGeral dos Edifcios e Monumentos Nacionais (DGMN), um dos principais rgos de
preservao do patrimnio portugus. Ganhou tambm Meno Honrosa, do prmio, no
ano de 1917, com uma obra de telhados tradicionalistas, situada Rua Viriato, 5.
Pudemos localizar, no Arquivo Intermdio, os projetos referentes sua obra premiada
em 1910, situada na Avenida Fontes Pereira de Melo, 30, Lisboa, a qual apresenta
caractersticas eclticas, com gradis tendentes ao Art Nouveau, e um telhado com beiral
em curva. No memorial descritivo do processo submetido Cmara Municicpal, o
arquiteto faz o seguinte comentrio sobre a linguagem da casa:
26
27
28
Atualmente Pavilho Carlos Lopes. Carlos Alberto de Sousa Lopes foi um importante atleta olmpico
portugus, tendo se destacado em corridas de longa distncia, nas dcadas de 1970 e 1980.
29
Azevedo, R. M. Las ideas de Ricardo Severo y la relacin com el cademicismo. In: Amaral (1994, p
249-258), este autor no afirma que o projeto do Pavilho seja de Severo, mas inclui uma imagem do
mesmo em meio a vrios outros projetos de autoria do engenheiro; j Silva (2005, p.66) afirma a autoria
do Pavilho por Severo.
6
Nesta mesma pgina, Severo d mais detalhes sobre os detalhes ornamentais do Pavilho das Indstria,
citando a autoria e descrevendo as cenas dos painis de azulejo empregados no edifcio, Jorge Colao.
30
nossa posio, quando afirma que Severo apenas acompanhou a construo do Pavilho
e, por conseguinte, est mais alinhado postura de que a autoria no necessariamente
desse engenheiro, mas dos irmos Rebelo de Andrade, como afirmam os pesquisadores
portugueses: O Pavilho das Grandes Indstrias de Portugal, que s foi aberto
visitao s vsperas do encerramento da Exposio, teve a fase final da sua
construo supervisionada por Ricardo Severo, e evocava a poca de D. Joo IV.
(FIGURA 27).
Jos Augusto Frana (1981) alerta-nos para o fenmeno do aparecimento de um
gosto barroquizante, na dcada de 1920. Esse autor faz duras reflexes ao gosto pelas
caractersticas da arquitetura barroca que reaparecem fora de seu tempo, atravs do
trabalho de vrios arquitetos:
31
32
Ao analisarmos a obras de Raul Lino, por exemplo, muitas vezes nos deparamos com desenhos e
elementos que, claramente, fazem referncia arquitetura barroca, como nas FIGURAS 010c e 015. Essa
idia de associar Lino arquitetura barroca, porm, no foi bem aceita nem pelos pesquisadores nem
pelos descendentes do arquiteto, com os quais conversamos. Lino tambm foi alvo de duras crticas
provenientes de postura modernista, mas recentemente tem sido reabilitado e reconhecido como um
importante arquiteto de produo profcua; ver na sua obra caractersticas barrocas no contribui para sua
valorizao, talvez porque a prpria arquitetura barroca portuguesa ainda carea de reconhecimento.
8
Destacamos a legenda das fotos dos prdios do pavilho portugus e do edifcio escolar, na FIGURA 25,
sem nmero de pgina. (Pinheiro, 2005).
9
SILVEIRA, Victor. (1926). Minas Gerias. Belo Horizonte: Imprensa Oficial. P543/4.
33
Gomes, que mostra certo hibridismo entre o apego s tradies e a reserva em apostar,
inteiramente, na esttica modernista. A esse meio caminho recorriam vrios
profissionais, como se pode ver, por exemplo, pelo projeto publicado na revista
Aquitectura, de 1937, do arquiteto Vasco de Moraes Palmeiro (Regaleira): o tipo
arquitectnico desta casa absolutamente moderno, sem contudo perder o carcter
nacionalista (COLAO, 1937, p.170-171) (FIGURA 30).
Lisboa, como uma cidade muito antiga, apresenta um panorama arquitetnico
diversificado, com obras que testemunham vrios perodos histricos, como as da regio
da Baixa Pombalina, do sculo XVIII; o Mosteiro dos Jernimos, importante exemplar
da arquitetura manuelina, iniciado em 1502; o palcio Nacional de Sintra, iniciado pelos
mouros; e, o Castelo de So Jorge, provavelmente, do sculo II a. C., para citar alguns
exemplos emblemticos. Assim como em outras cidades portuguesas, pudemos verificar
que as edificaes cuja linguagem est ligada ao movimento da casa portuguesa e
outras vertentes tradicionalistas comeam a aparecer com maior freqncia a partir de
1930. Isso ficou mais claro com os levantamentos de processos de licenas para
construo no Arquivo Intermdio. Antes, desde fins do sculo XIX, muito comum
encontrarmos conjuntos e exemplares importantes da arquitetura ecltica, que convivem
na paisagem com as construes altas, de fachada estreita e em banda (geminadas).
Os chalets eclticos, tambm desse perodo, se diferenciavam por estarem isolados nos
lotes. Na Avenida de Berna, nas proximidades do local onde foram fotografados alguns
exemplares de interesse (FIGURA 32), encontramos um projeto de 1945, no nmero 22,
referente Central Telefnica do Campo Pequeno (Anglo Portuguese Telephone Co.
Lda.), do arquiteto Fernando de Castro Freire, com todas as caractersticas do
movimento da casa portuguesa, j mencionado.
A maior concentrao de projetos de interesse est na Rua D. Francisco de
Almeida, situada nas proximidades da Torre de Belm, j no limite oeste de Lisboa,
regio de habitaes de alto padro, onde atualmente se encontram embaixadas e outros
edifcios oficiais, como, alis, tambm ocorreu no Jardim Amrica, em So Paulo. Essa
Rua D. Francisco de Almeida parte de um plano urbanstico da dcada de 1940 e teve
influncia das idias do urbanista Etienne de Grer. A maior parte dos projetos a
localizados segue a esttica da casa portuguesa, incluindo o Prmio Municipal de 1946,
do arquiteto Carlos Chambers Ramos. Algumas de suas caractersticas mais comuns so
as telhas de marselha com beirais revirados em telhas portuguesas para efeito
34
decorativo, arcos, vergas retas nas janelas, chamins pronunciadas, painis de azulejos,
floreiras. Outros arquitetos, autores de habitaes de mesmas caractersticas, nessa
localidade, so:
Srgio Botelho de Andrade Gomes: de sua autoria a obra localizada Rua D.
Francisco de Almeida, 25, cujo processo de aprovao de obras datado de 1949. A
edificao apresenta telhados com beirais e chamins tradicionalistas, associados a
linhas retas. Os guarda-corpos das varandas, com seu desenho retilneo e limpo,
conferem horizontalidade ao conjunto da obra e j remetem esttica modernista.
Utilizou-se concreto armado na construo (FIGURA 31).
Lus Bevilaqua e Eurico Pinto (projeto de 1939); Lus Mateus Jnior (projeto da
dcada de 1940, em cujo memorial descritivo h um trecho que demonstra uma
preocupao com o aspecto rstico da obra); Jos Almeida Segurado (projeto de
1949); Raul Tojal, (projeto de 1942); Joo Simes (dois projetos de 1943); Jorge
Segurado (projeto de 1944); Lus Mateus Jnior (projeto de 1948); Lus Xavier (projeto
de 1949). O memorial descritivo deste ltimo projeto diz que o arquiteto lanou mo de
alguns elementos da construo rstica, tais como um pouco de movimento no
telhado, umas varandas, tapa-luzes nas janelas e um soco rstico; tambm est
descrito que o telhado leva telha de Marselha com beiral portuguesa.
Encontramos uma exceo a esse padro que se estabeleceu na regio da Rua D.
Francisco de Almeida, que o projeto para a prpria casa do arquiteto Incio Ramon
Toms Peres Fernandes, modernista. Isso sugere que, apesar da tendncia e apesar, at,
das orientaes oficiais para se construir portuguesa, foi possvel o uso de outras
orientaes estilsticas. A opo por um determinado estilo era uma questo que
envolvia diversas motivaes, que iam desde o gosto dos clientes talvez, mais
predispostos a aceitar um aspecto tradicional para suas residncias at
aconselhamentos oficiais, possibilidades tcnicas etc.
2.3 Porto
A paisagem predominante na regio mais antiga da cidade do Porto composta
pelas edificaes em banda, de fachadas estreitas a altas (trs a quatro pisos),
configurando um espao de alta densidade, como j foi mencionado (FIGURA 6). Essa
tambm a paisagem que se v a partir do Rio Douro. So marcantes, tambm, as
35
igrejas, em geral localizadas em largos que aliviam a densidade, sendo, muitas delas,
barrocas, e dentre as quais algumas so obras do mais importante construtor e arquiteto
do sculo XVIII, no local, Nicolau Nasoni, um italiano. Assim, quando, no incio do
sculo XIX, Severo constri sua casa, as caractersticas que mais a diferenciam so o
isolamento no lote e a linguagem diferente da ecltica.
A pesquisa no Arquivo Municipal indicou que at, aproximadamente, 1930, a
tradicional configurao em banda permaneceu, associada ou no a uma linguagem
ecltica, como no caso de outras cidades. Dentre os arquitetos mais conhecidos e que
trabalharam com a tendncia tradicionalista, encontramos, no arquivo do Porto, um
projeto de Raul Lino, que data de 1930 - e, naturalmente, apresenta a linguagem do
movimento da casa portuguesa (FIGURA 33) - e um de Carlos Chambers Ramos - para
a reforma de uma habitao, que data de 1921 (FIGURA 25). Existe a possibilidade de
haver mais projetos cujos autores trabalharam, tambm, no Sul do pas, mas no perodo
e regies do Porto pesquisadas por ns, localizamos apenas os dois, acima citados.
Os processos de interesse, anteriores a 1925 so, em sua maioria, de autoria de
mestres-de-obras. O maior nmero de processos cujos projetos apresentam a tendncia
tradicionalista so os de Francisco do Santos Silva, Manoel Francisco Rodrigues e
Antonio Rodrigues de Carvalho (FIGURA 34). Um projeto, do mestre Jos Francisco
Duarte, de 1925, destina-se a uma edificao geminada, de fachada estreita,
diferentemente dos demais projetos encontrados, porm com decoraes
portuguesa. Um arquiteto, Aucindio Ferreira dos Santos, aparece, nessa poca, com
projetos de mesma tendncia. Trs processos que datam de 1922, mas cuja autoria no
foi possvel identificar, tambm esto alinhados esttica da casa portuguesa. Um deles
est localizado na mesma rua onde Severo construiu sua casa (FIGURA 35) e tem
algumas caractersticas que a ela se assemelham, como os recuos e os telhados. Outro,
que pode ser considerado como difuso da linguagem de Lino (FIGURA 36), tem
telhado em ponta e janelas em forma de ferradura, de tendncia arabizante. O terceiro
um projeto para um bairro operrio, que se constitui de um grupo de casas
portuguesas pitorescas, como consta na memria descritiva, de dois pavimentos,
geminadas e com telhados portuguesa (FIGURA 37).
A partir de 1926, aumentou o nmero de processos de interesse para a pesquisa
De alguns deles no foi possvel identificar a autoria. Dentre os projetos de autoria
identificada, os arquitetos que mais aparecem so: Serafim Martins de Sousa, com dois
36
projetos de 1929 (FIGURA 38); Manuel Marques, com projetos nos anos de 1934, 1937
e 1938 (FIGURA 39); e Joo Queirs, com projeto de 1943, na freguesia de Lordelo do
Ouro, no Porto, regio onde vrias edificaes apresentam a esttica da casa
portuguesa.
No Porto, existiu uma Comisso de Esttica, desde 1917, cujas atribuies
eram as de emitir pareceres sobre projetos a construir ou reformar, sobre o valor
histrico e/ou artsticos de edificaes, monumentos ou espaos pblicos, decidindo-se,
a partir da, sobre a permisso para demolio, e promovendo a conservao dos
mesmos (Regulamento da Comisso de Esttica da Cidade). Em 1938 j tinha passado a
ser Conselho de Esttica e Urbanizao do Porto e aprovava projetos portuguesa,
como foi observado no processo 579/1938, referente a uma obra localizada Rua Fonte
da Arcada, no qual se encontrou um parecer aprovando o projeto, cuja descrio
semelhante casa de Ricardo Severo.
37
fachada, a fim de faz-la portuguesa (FIGURA 41). Outro projeto para reforma, de
sua autoria, publicado na revista A Arquitetura Portuguesa, fez surgir, de uma
38
39
Captulo 3
O NEOCOLONIAL NA HISTORIOGRAFIA
41
Sociedade de Cultura Artstica. Conferncias 1914 1916. So Paulo, Tipografia Levi, 1916, p. 4647.
42
Christiano Stockler das Neves (1889-1982). Arquiteto brasileiro formado na Pennsylvania State
University, nos Estados Unidos da Amrica. Foi o fundador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Mackenzie, em 1947, e foi tambm prefeito de So Paulo no mesmo ano.
3
Jos Marianno Carneiro da Cunha Filho (1881-1946). Mdico e intelectual nascido no Recife e radicado
no Rio de Janeiro. Interessado por artes plsticas e arquitetura, principalmente, do perodo colonial.
Principal expoente da campanha neocolonial no Rio de Janeiro. Sobre sua trajetria, ver: Kessel (2002).
43
e ao esprito da raa. Em uma palavra nem tradicionalista nem antitradicionalista. (AZEVEDO4, 1926 apud KESSEL, 2002).
44
Esse debate continuou durante mais de nove meses, perodo em que Lucio
Costa permaneceu na diretoria da ENBA, envolvendo, inclusive, manifestaes de
Mrio de Andrade e Manuel Bandeira, em apoio a Lucio Costa (KESSEL, 2002, p.179184).
Em 1931, portanto, ainda se discutia, na esfera erudita, qual das correntes iria
se estabelecer, sinal de que, como movimento, o neocolonial ainda transmitia
enfaticamente seus valores e idias, ao menos no Rio de Janeiro e atravs de Mariano
Filho, muito embora a sensibilidade de alguns, como Lucio Costa, j estivesse inclinada
a reconhecer as limitaes do estilo tradicionalista. Em meio ao debate, entre
esclarecimentos e reconhecimentos, Lucio Costa aconselha insistentemente a
Mariano Filho que desistisse do propsito de ficar sozinho pregando o seu evangelho
no deserto, atitude excessivamente melodramtica9 (COSTA10, 1931 apud KESSEL,
2002, p.183). Enquanto isso, inmeras obras neocoloniais continuaram a ser construdas
no Rio, em So Paulo e em muitas outras localidades brasileiras; eruditas ou no, tais
obras iam contribuindo para a difuso do estilo.
Para exemplificar as duas fases do debate pblico em torno do neocolonial,
uma em oposio ao ecletismo e outra, mais tardia, em oposio arquitetura
modernista, tomamos Mrio de Andrade, em fins da dcada de 1920 e de 1930. Em sua
crnica, intitulada O Grande Arquiteto, de 1927, o autor faz uma crtica bem-humorada
arquitetura ecltica, mostrando um dilogo com um arquiteto que se considera muito
competente, mas que, ao longo do texto, expe suas limitaes e, mesmo, sua
cegueira em relao s novas tendncias que se impunham e j superavam o
ecletismo. Ao final, o arquiteto conta como conseguira fazer um material como a
7
45
madeira ser tomada pelo nobre mrmore e declara, expondo um resumo do seu
pensamento:
Nisso que est a fantasia. No fazer essas loucuras que os arquitetos
futuristas esto fazendo. Alis nem sei o que eles esto fazendo porque no
tenho nenhuma dessas revistas nem livros de agora. Aprendi arquitetura em
Roma e em Paris. Tenho muito boa escola para estar perdendo tempo com
essas bobagens dos moos de hoje. Eles s querem ser originais e no
conseguem! Originalidade o senhor vai ver mais neste hall! E o grande
arquiteto abriu a porta que comunicava com o hall. Gritei: Santa
Maria, que isso? Ah!... meu caro, este hall a reproduo exatinha da
gruta de Fingal! (ANDRADE, 1976, p.69-71).
Uma dcada depois, em 1937, esse mesmo autor deixa mais evidente o seu
pensamento sobre o neocolonial, numa carta que envia a Paulo Duarte, tambm
analisada por Pinheiro (2005, p.113). A autora destaca que Mrio de Andrade fazia um
balano do neocolonial, apontando seu lado pouco positivo, mas tambm o seu mrito:
o de ter iniciado a campanha pelo registro e documentao da arquitetura colonial:
Alm disso creio que os mais verdadeiramente culpados de descaso sero os
leigos. Alguns anos atrs, ningum ignora a campanha to convincente que
se fez em prol de uma arquitetura brasileira. Disso resultou o bem menos
convincente neo-colonial. Mas o espantoso que ningum cuidasse ento,
organizadamente, de preservar o colonial verdadeiro... Despargiu-se no
corpo das nossas colinas paulistanas uma quantidade de... de chalets
decorados colonial, desvirtuando profunda, intimamente o esprito, a
expresso, a necessidade dos tipos coloniais da nossa arquitetura. O que
46
Alm do julgamento feito por Mrio de Andrade nesta carta, podemos observar
tambm que, segundo as consideraes do escritor, em 1937 o movimento neocolonial
j tinha cessado, pois afirma que a convincente campanha tinha sido realizada h
alguns anos atrs.
Segundo nos parece, esse um indicativo de que na dcada de 1930, e at
alguns anos antes, mesmo na capital paulista a proliferao do estilo j se dava sem
considerar o contedo ideolgico do movimento, salvo, talvez, em alguns casos eruditos
e no das obras do prprio Severo. H que se considerar, inclusive, que a difuso
descomprometida tenha sido desencadeada pelas obras de Felizberto Ranzini11 (1927) e
de Jos Wasth Rodrigues12 (1944), a ltima j bastante tardia em relao campanha
ideolgica, primeiras obras que fizeram circular, entre profissionais da construo civil
e entre leigos, as caractersticas da arquitetura colonial. Azevedo (1994, p.252) concorda
que especialmente o trabalho de Wasth Rodrigues
fue utilizado como catlogo o repertorio de motivos o elementos aptos a ser
colocados sin critrio ni distincin en contrucciones que, de esse modo,
11
12
Ranzini, Felisberto. 1927. Estylo Colonial Brasileiro. So Paulo: Amadeu de Barros Saraiva.
Rodrigues, Jos Wasth. 1944. Documentrio Arquitetnico. So Paulo: Livraria Martins Editora.
47
13
48
Em suas palavras notamos que, numa situao ideal, a lgica modernista, nesse
caso aplicada ao urbanismo, superaria facilmente os conflitos gerados pelo choque com
49
contra
pittoresco
lanadas
pelos
modernos
(PINHEIRO;
DAGOSTINHO, 2004, p.122) que, no sendo, embora, uma crtica direta, atingiu a
arquitetura neocolonial em seus traos e intenes pitorescas.
Luiz Saia publicou as suas Notas sbre a Evoluo da Morada Paulista em
1957. Nessa contribuio historiografia, o autor abrange um grande perodo, que se
estende desde a casa bandeirista at a arquitetura moderna, mas o importante sua firme
postura crtica, evidenciada pela afirmao de que
um engano (...) pensar que a arquitetura possa ser tratada como um
assunto estanque; e engano maior pretender individualiz-la com base na
anlise formal, desvinculando-a de seus fundamentos econmicos, polticos
e sociais (Saia, 1957).
50
14
Palestra proferida por Paulo Santos, na Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de
Janeiro), em comemorao ao 4 Centenrio da Cidade do Rio de Janeiro, posteriormente transcrita e
publicada em 1965. As outras duas edies datam de 1977 e 1981. Utilizamos a edio de 1981.
51
Gonalves, Ana Maria do Carmo Rossi (1977). A Obra de Ricardo Severo. So Paulo: FAUUSP;
Costa, Jose Horacio de Almeida Nascimento (1978). Sobre o Neocolonial. So Paulo: FAUUSP.
16
Prmio Heitor de Mello, para o projeto de um solar brasileiro em dois pavimentos para centro de
grande parque. Nele Jos Mariano fez constar tambm a obrigatoriedade de inspirao das linhas
gerais do projeto e todos os motivos e detalhes na arquitetura tradicional (colonial) sacra ou civil. O
projeto vencedor de ngelo Bruhns atendia ao programa luxuoso, que Mariano pretendia materializar
para sua prpria moradia no extenso terreno que adquirira anos antes s margens da Lagoa Rodrigo de
Freitas, e onde plantara dezenas de rvores de espcies nativas. Entretanto, a construo pautou-se
pelas prprias idias do proprietrio, que aproveitou tambm solues criadas pelos concorrentes
classificados em segundo e terceiro lugar (respectivamente, Lcio Costa e Nereu de Sampaio) e com o
auxlio de um desenhista deu forma final ao que chamou de Solar Monjope, homenageando a antiga
propriedade familiar em Pernambuco (Kessel, 2002, p.110). Grifo nosso.
52
53
Bruan, Yves. (1981). Arquitetura Contempornea no Brasil. So Paulo: Perspectiva. Traduo da tese
de doutorado do mesmo autor Larchitecture Contemporaine au Brsil, Paris, 1971.
54
eram mistura de estilos e fantasia pitoresca (BRUAND, 1981, p.53), e que esse
arquiteto teria sofrido um retrocesso patente, devido sua personalidade muito
influencivel e () mentalidade muito ecltica (BRUAND, 1981, p.54). Atualmente,
podemos perceber a clara desqualificao do arquiteto e sua obra, por pertencerem
cultura ecltica e, mais que isso, uma interpretao do neocolonial como sinnimo de
ecletismo pois, sob tal perspectiva, somente mentes eclticas poderiam t-lo praticado.
O autor argumenta, ainda, que apesar de ter-se iniciado em So Paulo, o movimento e a
produo neocolonial aqui no alcanou grande expanso e importncia em termos
histricos (BRUAND, 1981, p.54), pois, entre outros fatores, no existia nessa cidade
uma elite intelectual sensvel ao estudo do passado. Mrio de Andrade, Monteiro
Lobato e o prprio Severo no seriam alguns exemplos de representantes dessa elite
intelectual? No foi um jornal paulista O Estado de So Paulo que publicou um
debate em srie sobre o tema, em 1926 com textos escritos por outros representantes
da intelectualidade paulista ao qual j nos referimos? Sobre isso, Pinheiro (2005)
tambm nos reafirma o equvoco de Bruand (1981) mostrando um indicativo da
importncia da elite intelectual de So Paulo: a realizao, em 1922, da Semana de Arte
Moderna, solenemente ignorada no Rio de Janeiro, na ocasio e que um fato
amplamente comprovado pelo exame da imprensa da poca que a intelligentsia carioca
via-se a si mesma como o prprio sol irradiando para o restante do pas (PINHEIRO,
2005, p.46).
Essa argumentao de Bruand (1981), portanto, se ope justamente aos
propsitos da investigao que apresentamos, ou seja, os de mostrar que a arquitetura
neocolonial em terras paulistas foi muito expressiva, inclusive no interior do Estado, e
com relevante significado histrico. Retomando, para o autor em questo as vicissitudes
pelas quais passou a arquitetura brasileira desde o perodo ecltico, tendo sido uma
delas o neocolonial, s comearam a ser superadas com as primeiras obras modernistas,
a partir de 1930.
Em 1979, aparece a obra de Carlos Lemos, Arquitetura Brasileira18. Da mesma
forma que Bruand (1981), Lemos (1979, p. 130) entra num impasse classificando o
neocolonial como vertente ecltica e, ao mesmo tempo, colocando-o no captulo
intitulado Tempos Recentes, que trata da arquitetura do sculo XX, ou seja, da
arquitetura moderna. Isso denota o conflito dos autores ao considerarem o neocolonial:
18
55
ainda vinculado arquitetura ecltica alvo de crticas , porm com caractersticas que
se podem considerar modernas.
19
necessrio considerar que talvez o texto tenha sido publicado anteriormente, como alerta o autor
Marcelo Puppi na nota n 3, da pgina 20, de sua publicao de 1998, Por uma histria no moderna da
arquitetura brasileira.
20
Amaral, Aracy (coord.). (1994). Arquitectura Neocolonial: Amrica Latina, Caribe, Estados
Unidos. So Paulo: Memorial, Fondo de Cultural Econmica
21
Nicola Gordon Bowe (ed.), Art and the National Dream. The search for vernacular expression in turnof-the century design. Dublin, Irish Academic Press, 1993 (copyright), pp. 69-80. Rosmaninho, Nuno.
56
Estados Unidos pas que ya desde princpios del siglo era un exportador vigoroso de
las modas arquitectnicas de ciertas regiones de su territorio de clima agradable
(AMARAL, 1994, p.14). Afirma que essa influncia era exercida atravs das revistas de
arquitetura e filmes norteamericanos que difundan ampliamente el estilo del cio, la
escenografa del turismo y de la fantasia (AMARAL, 1994, p.13). Assim, reala o tom
de modismo como impulsionador da disseminao da arquitetura neocolonial ,desde
muito cedo, em detrimento da ideologia de recuperao da tradio e afirmao da
identidade, apenas atribuindo valor aos esforos de reconhecimento e registro da
produo colonial, no caso do Brasil, como, ademais, a postura de vrios autores
durante vrias dcadas de historiografia. Alm disso h, no texto da autora, uma ateno
especial mudana de eixo de influncia sobre os pases americanos, que se desloca da
Europa para a Amrica do Norte, apoiada pela observao de Ramn Gutirrez de que
el neocolonial es, em realidad, la primera seal de que los modelos que inspiraban a
los arquitectos de nuestro continente se desplazan de Europa para los Estados Unidos
(AMARAL, 1994, p.15). Acrescentando a esta postura que, ao menos no Brasil, a
campanha de Ricardo Severo representou ainda uma continuidade da influncia
europia, uma vez que ele defendia que a tradio da arquitetura brasileira descendia da
portuguesa. Ao final do texto, relembrando que
la arquitectura moderna na Brasil haya surgido solo em los aos 20, para
afirmarse em los aos 30, em la mayor parte de los pases latinoamericanos,
despus de la oleada del neocolonial, el estilo de la modernidad (...), slo
prenetrara en los aos 50 (AMARAL, 1994, p.15),
57
24
58
nem vivncia da arquitetura colonial. Uma ressalva, nesse sentido, deve ser feita a
Severo, pois tinha amplo conhecimento da arquitetura portuguesa. E, mesmo que esses
arquitetos conhecessem muito bem a arquitetura produzida no perodo colonial, ainda
assim, sua produo no seria autntica colonial. Alm disso, essa arquitetura colonial
tinha sido banida, por representar um passado pobre em relao s novidades europias
que inundaram os principais centros urbanos do pas a partir do incio do sculo XIX.
Podemos citar alguns autores que trabalharam essa questo como, por exemplo, Lemos
(1985, p.160): Realmente acreditamos que devemos repartir entre Ricardo Severo e
Victor Dubugras o mrito de introduo do novo estilo entre ns, embora nenhum dos
dois, na verdade, tenha se inspirado em nossa verdadeira arquitetura colonial;
Amaral (1994, p.11-18), em seu artigo la invencin de un pasado, cujo ttulo, por si
s, bastante esclarecedor, mas do qual podemos destacar o trecho:
la arquitectura de prcticamente todos los pases de Amrica Latina, com el
objetivo de rememorar un pasado muchas veces inexistente, a travs de la
manipulacin nostlgica de un mundo remoto () com el cual resta poca
afinidad a princpios del siglo XX (AMARAL, 1994, p.11);
59
seus equvocos25, tal insistncia tambm pretende exaltar a liberdade que, naquele
momento, podia ser exercida no ato de projetar e construir, liberdade que estava ligada
idia de modernidade e, por isso, obteve grande aceitao. Nas palavras de Lemos
(1985, p.163) a modernidade estaria na libertao do jugo vignolesco em favor de
uma prtica improvisativa em que, por acaso, os elementos vocabulares eram os
tradicionais, no os do Brasil, mas aqueles de uma semntica portuguesa barroca, ou
ento aqueles outros simplesmente inventados. Assim necessrio, ao se investigar as
vrias facetas do neocolonial, considerar que todas elas so parte do contexto complexo
que permitiu a esse movimento expressar a modernidade atravs da liberdade com que
trabalhava um passado imaginrio, no um passado real. Como, devemos relembrar, o
ecletismo j havia feito. Nesse sentido, a produo foi legtima, bem como sua difuso.
Ao final da dcada de 1980 surgiu a dissertao de mestrado de Carlos Alberto
Ferreira Martins, intitulada Arquitetura e Estado no Brasil, que trata da obra de Lucio
Costa e dedica um captulo s questes relacionadas com o movimento neocolonial.
Assim como outros autores, Martins (1987) considera que a arquitetura neocolonial no
estava embasada fielmente no passado, como demonstram suas palavras ao descrever,
por exemplo, as primeiras obras de Ricardo Severo no Brasil:
ficam claros ao mesmo tempo sua preocupao com uma leitura
arqueolgica da tradio construtiva brasileira e a liberdade com que
articula plantas livres e recursos compositivos (...) que a simplicidade
estrutural da arquitetura tradicional no podia permitir (MARTINS, 1987,
p.132).
Demolies e reformas de edifcios autnticos coloniais para substituio por neocoloniais, o que
representou a destruio de exemplares significativos, como por exemplo, a Faculdade de Direito de So
Paulo, episdio j estudado por PINHEIRO (2005); linguagem decorativa que no inovou no programa
ou na tcnica; pastiche; entre outros equvocos descritos pela historiografia.
60
61
Essa resistncia se explica como herana das disputas e das lutas pela conquista
de um espao hegemnico, entre as vrias correntes da arquitetura, afinal ocupado pela
corrente modernista, essencialmente erudita. O clima de combate atravessou dcadas de
histria, apenas permitindo olhares mais isentos, para as diversas produes
arquitetnicas fossem eclticas, neocoloniais, annimas ou outra qualquer, produzida
nas primeiras dcadas do sculo XX em fins dos anos 80 e incio dos 90.
Referimo-nos inusitada dissertao de mestrado produzida, em 1985, por
Rodrigues, As Fachadas na Arquitetura Paulistana: O Estilo Misses. A leitura das
primeiras pginas do trabalho revela uma postura ainda totalmente alinhada
historiografia dominante. O autor, ao reproduzir uma entrevista com o arquiteto
Eduardo Kneese de Mello, em que este questionado sobre a fase em que produzia
arquitetura neocolonial e misses, expressa sua impresso ao afirmar que
h uma grande preocupao por parte dos arquitetos em esconder um
perodo de mais de trinta anos de produo arquitetnica, apenas pelo fato
dessa produo ter sido inconseqente e leviana em face da arquitetura
contempornea (RODRIGUES, 1985).
62
63
64
II Congresso Nacional de Histria da Arte, Rio de Janeiro, setembro de 1984. (Fabris, 1987).
65
Por ltimo, pode-se depreender desse trabalho que existiu uma associao entre
traados urbanos referentes teoria cidade-jardim e o estabelecimento, neles, de uma
arquitetura ciosa da relao com a paisagem, onde o ajardinamento um elemento
importante e onde se busca, deliberadamente, a qualidade de pitoresco. Certamente,
essa associao dada pela influncia das teorias urbansticas inglesas do perodo que,
alm do traado levavam em considerao, tambm, os elementos da envolvente, para
66
criar um ambiente integrado. Em ltima instncia, essa associao dada tambm por
mais uma manifestao da influncia do esprito romntico na arquitetura.
O trabalho de Bortolucci (1991) contribuiu com, pelo menos, trs aspectos
inditos, que so os seguintes: a) tratar do ecletismo, b) tratar do ecletismo no interior
do Estado de So Paulo e c) registrar a ocorrncia da arquitetura neocolonial fora dos
grandes centros. Nos ltimos dois aspectos, o autor aborda a questo da difuso de
linguagens, o que tambm foi indito, no contexto que privilegiava o estudo de obras
eruditas. Alm disso, pe em evidncia a contribuio da mo-de-obra imigrante,
especialmente a italiana, na construo de um espao urbano que se caracterizou pela
linguagem ecltica que, apesar de no ter sido suntuosa, na regio, foi a que
caracterizou o perodo:
as manifestaes eclticas socarlenses se apresentaram de forma tardia e
superficial. Sem maiores consideraes de ordem filosfica, por exemplo, as
diversas tendncias estilsticas puderam se exprimir, bastando para isso a
justaposio, aos mesmos arcabouos construtivos, de uma decorao
classicizante, art-nouveau ou at neocolonial (BORTOLUCCI, 1991, p.379).
67
68
annimos (Puppi, 1998, p.21), fazendo, dessa maneira, uma crtica sutil, mas
eficiente, ao movimento neocolonial. Ao elogiar arquitetura annima colonial em
detrimento da obra de Aleijadinho, e ao conden-la como decorativa, Lucio Costa ao
mesmo tempo validava as razes da arquitetura modernista e atingia o cerne do
movimento neocolonial, pois este movimento havia revalorizado a arte e a
arquitetura coloniais, reservando ao Aleijadinho um lugar de destaque. A decorao de
origem barroca e rococ era a mais concorrida, no meio da qual o artista mineiro
sobressaa-se (PUPPI, 1998, p.21). Assim, Lucio Costa, em 1929, quando ainda no
havia abandonado sua posio a favor da campanha tradicionalista, j havia lanado
mais uma boa razo para a historiografia considerar o fenmeno neocolonial com
muitas reservas. Se a prpria fonte inspiradora da campanha era criticada como
decorativa, restaria algum valor ao produto de sua inspirao?
Mais um ponto muito importante levantado por Puppi (1998), e que s poderia
ter sido apresentado numa interpretao de fins dos anos 90, que, ao fim e ao cabo, o
problema-chave enfrentado tanto pela arquitetura neocolonial como pela modernista era
o mesmo, e estava relacionado questo de sintetizar tradio e modernidade. O
problema foi resolvido favoravelmente pela arquitetura modernista, ao se evitar repetir
formas pertencentes ao passado pelo que o neocolonial foi duramente criticado,
embora se afirmasse repetidamente que os arquitetos no conheciam o passado ao qual
se referiam, como j dissemos , o que no evitou, contudo, que o problema
permanecesse no momento da realizao arquitetnica. O autor recorre a Paulo Santos
para demonstrar que, para neutralizar a ambincia fria das formas industriais eleitas para
a arquitetura modernista e, ainda, cas-las tradio, muitas vezes, os arquitetos
recorreram aos mesmos recursos empregados na arquitetura neocolonial:
mveis, prataria, porcelanas, tapetes, azulejos e portas de almofadadas
obtidas em demolies (uma delas usada por Alcides Rocha Miranda na
capelinha da casa Almeida Braga Rua Icat), telhes de loua esmaltada
(empregados por Lucio Costa na casa da baronesa de Saavedra em
Itaipava) (SANTOS, 1981, p.94).
69
70
anteriormente pelo autor, na primeira parte de seu trabalho. Esse, porm, um problema
intrincado, capaz de revelar a complexidade do quadro que estamos abordando. Como
j foi evidenciado, a historiografia, ao considerar o neocolonial como uma vertente
ecltica, prejudicou o aprofundamento de sua compreenso, pois atirou-a para o campo
da produo arquitetnica desprezvel. Ao considerarmos as palavras de Puppi (1998,
p.126), notamos que Bruand (1981) foi contraditrio e simplificador, pois mesmo
limitando-se a situar o neocolonial no ecletismo, acabou por escrever
uma histria do estilo to herica quanto deformada: de um lado o
neocolonial desmedidamente alado a um movimento com ares de
vanguarda; de outro, o ecletismo tido como estrangeiro, reduzido a um
fato meramente negativo (PUPPI, 1998, p.126).
71
deixou de ter valor arquitetnico, ou seja, que seja desprovida de importncia no que se
refere construo do espao e representao de um perodo histrico.
Retomando, Puppi (1998) analisa, por fim, outros trs autores, quais sejam
Carlos Lemos, Mario Barata e Giovanna del Brenna. Sua viso sobre Lemos27 que o
autor totalmente filiado ao esquema de pensamento de Lucio Costa, ou, em outras
palavras, para ele a arquitetura ecltica um puro intervalo estrangeirizante entre
momentos da entre momentos [colonial e moderno] de produo artstica genuinamente
local (PUPPI, 1998, p.131). Isso, porm, no impediu que Lemos fosse o responsvel
por vrias pesquisas importantes sobre o ecletismo e sobre o neocolonial,
principalmente em So Paulo, tanto as de sua prpria autoria como as realizadas sob sua
orientao28, algumas das quais j abordamos aqui, e outras mais recentes, que vamos
discutir adiante. De algum modo, portanto, consideramos que a atuao de Lemos
proporcionou tambm a realizao do nosso trabalho, cujo enfoque segue a mesma linha
de desdobramentos.
O trabalho de Mrio Barata, como destaca Puppi (1998), traz a mesma viso
negativa do ecletismo, mas, por ser um historiador da arte, no interpreta o seu objeto
da maneira determinista como fariam os arquitetos tericos (PUPPI, 1998, p.145),
acabando por atribuir o valor de renovao a essa manifestao arquitetnica, pois ela
correspondia perfeitamente s demandas do insipiente progresso nacional, entre os
anos de 1890 e 1930, e dele parte constitutiva e inseparvel (PUPPI, 1998, p.155).
Uma viso de grande interesse, pois atrela a produo da arquitetura ao
desenvolvimento de um quadro mais amplo, onde atuam variveis como os aspectos
histricos, sociais e econmicos. Puppi (1998) no identifica nos textos que analisa,
desse autor A Arquitetura Brasileira dos Sculos XIX e XX29, As Artes Plsticas de
1808 a 189930 e Sculo XIX. Transio e Incio do Sculo XX31 nenhuma considerao
importante sobre o neocolonial. Tampouco Giovanna del Brenna, segundo a reviso de
Puppi (1998, p.157), escapa seduo das grandes linhas interpretativas do
pensamento nacional, as quais so tambm incorporadas s suas reflexes histricas,
27
Afora algumas diferenas (Puppi, 1998, p.130), a opinio sobre a postura do autor Carlos Alberto
Cerqueira Lemos, embora em sua obra Puppi (1998) analise somente o Arquitetura Brasileira, de 1979.
28
Lista de alguns: Lemos (1985, 1987, 1994); Bortolucci (1991); DAlambert (2003); Homem (1996);
Wolff (1998).
29
Jornal do Comrcio, Rio de Janeiro, 1952.
30
In: Histria Geral da Civilizao Brasileira. So Paulo: Difel, 1967, t.2, v.3, p. 409-424.
31
In: Zanini, W. (1983). Histria Geral da Arte no Brasil. So Paulo: Inst. Moreira Salles, 2 v., p.377451.
72
73
Goodwin, Philip L. 1943. Brazil Builds. Architecture Old and New: 1652/1942. New York: MMA.
Mindlin, Henrique E. 1956. Modern architecture in Brazil. New York: Reinhold Pub. Corp.
74
75
Ver a esse respeito: Andrade, Mrio de (1981). Mrio de Andrade, cartas de trabalho:
correspondncia com Rodrigo Mello Franco de Andrade (1936-1945). Braslia: Ministrio da Educao e
Cultura, Secretaria do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, Fundao Nacional Pr-Memria.
76
77
As questes em aberto que o autor vai abordar so vrias, trs delas aqui j
mencionadas. Uma o combate do neocolonial ao ecletismo j aventado por Puppi
(1998), que teria sido uma motivao inflamada por Mariano Filho, aps o ponto de
partida de o movimento ter sido a retomada da tradio arquitetnica , considerado
pelo autor como reao inicial para a constituio do movimento (KESSEL, 2002,
p.239). Outra a tomada da arquitetura neocolonial por mais uma opo ecltica, bem
descrita pelo autor como:
inegavelmente, a relao do Neocolonial com o ecletismo, na medida em
que o seu surgimento estaria ligado ao esgotamento dos modelos
historicistas importados da cole des Beaux Arts parisiense, e se constituiria
numa reao ao fazer arquitetnico do incio do sculo. Ao mesmo tempo,
como vimos, difundiu-se a noo de que esta reao teria terminado por
amalgamar-se com o prprio objeto de oposio, criando mais um estilo (ou
pseudo-estilo) historicista, mero revival destitudo de densidade (KESSEL,
2002, p.22).
79
80
Novamente, lembramos aqui a postura de Bruan (1981), que ajuda a propagar a idia do atraso
intelectual e artstico da sociedade paulista, j anteriormente discutida.
81
82
Universidade Federal da Bahia. A autora diz que foi nas dcadas de 20 e 30 que
floresce a maior parte da produo construda, adotado em residncias, escolas, clubes
e outros projetos pblicos (BREITEMBACH, 2005), evidenciando o aspecto oficial
do neocolonial baiano e considerando tambm a esfera da difuso, ao dizer que foi
interpretado e contextualizado (BREITEMBACH, 2005).
tambm de 2005 a dissertao de mestrado Nacionalismo e Arquitetura em
Ricardo Severo, Porto 1869 So Paulo 1940, de Joana Mello de Carvalho e Silva.
Nessa investigao encontramos um vasto levantamento sobre a figura de Ricardo
Severo, contemplando diversos aspectos de sua trajetria, como o de sua formao
erudita, de seus interesses e de seu papel no movimento neocolonial. Tem como um de
seus principais objetivos desmistificar a imagem histrica construda a seu respeito,
geralmente, em relao ao arquiteto Victor Dubugras, como descreve a autora:
a falta de originalidade e de expresso da arquitetura de Severo era
explicada, de um lado, pelo fato do engenheiro no gostar de desenhar nem
possuir atributos excepcionais como arquiteto (...) por outro lado, a
preocupao quase obsessiva e xenfoba de Severo em realizar projetos
que nada mais eram que estilizaes do mais puro barroco lusitano das
casas solarengas do norte de Portugal (SILVA, 2005, p.28).
Milheiro, Ana Vaz. 2005. A Construo do Brasil: Relaes com a Cultura Arquitectnica
Portuguesa. Porto: FAUP Publicaes. Sobre Ricardo Severo, Raul Lino e o Neocolonial ver: p. 133-229.
83
84
para moradias, enquanto os edifcios comerciais adotavam o art dco, para comunicar
um desejo de progresso (FERRAZ, 2003, p.47).
Como pano de fundo, mas no menos importante, coloca-se a convergncia de
nosso entendimento sobre o movimento neocolonial com a interpretao de Puppi
(1998). A parte I desta pesquisa, realizada em Portugal, como vrios outros trabalhos,
indica que o movimento brasileiro foi uma manifestao conectada a outras
semelhantes, e que suas motivaes foram, tambm, fruto de idias romnticas, como
aconteceu com outros movimentos semelhantes, surgidos por toda a Europa.
Curiosamente, o romantismo foi associado apenas a tendncias arquitetnicas
anteriores, como o fez Santos (1981, p.65-69) e outros pesquisadores. Diferentemente,
Puppi (1998, p. 91) afirma que o estilo tinha clara conotao nacionalista desde cedo,
mas ela estava associada mais ao pitoresco que a uma grande causa. Essa grande
causa seria o combate ferrenho ao ecletismo, que teria sido despertado por Mariano
Filho (PUPPI, 1998, p.91), mas que no estava na base da valorizao da cultura
tradicional e, portanto, no nasceu com o movimento. Essa idia reforada pelo fato
de Ricardo Severo bem como outros profissionais envolvidos em outros movimentos
tradicionalistas, como Raul Lino, por exemplo ter recebido, em sua formao, a
herana da cultura romntica, como mostram respectivamente Silva (2005) e Ribeiro
(1994), em seus trabalhos sobre as personalidades citadas, e ratificada, tambm, pelo
prprio Severo, ao recomendar que no se revoltem os profissionais do ecletismo
artstico, supondo que esta orientao injustamente condena as suas obras; pelo
contrrio, louva-as quando so expresses perfeitas de real beleza esttica
(SEVERO37, 1917 apud FABRIS, 1987, p. 287).
37
85
Captulo 4
ARQUITETURA NEOCOLONIAL PAULISTA:
IMAGEM OFICIAL
87
Dados sobre as cidades retirados da IBGE (1957 a 1964). Enciclopdia dos Municpios Brasileiros. Ed.
IBGE, DVD (2000).
88
dependentes
das
cidades
polarizadoras2
(SO
PAULO
(ESTADO).
Verificamos, entre outros dados relevantes, que em 1947, no governo estadual de Adhemar de Barros
(1947-51), foi dada ateno maior para o Departamento de Imigrao e Colonizao, que passa para a
Secretaria da Agricultura. Nesse momento, a nfase do discurso [poltico] dada s migraes, que
deveriam suprir a carncia de mo-de-obra na cidade. .
3
Benedito Calixto (1853-1927) foi um importante pintor paulista, atuante entre fins do sculo XIX e
incio
do
XX
em
vrias
cidades
do
Estado
de
So
Paulo.
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Benedito_Calixto&oldid=4552319. Acessado em 26/03/2007.
4
Ainda hoje sua populao de 70mil habitantes, aproximadamente (IBGE,
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php, consulta 28/03/2007).
89
cidade de Bauru, por exemplo, continuou seu desenvolvimento, tendo passado por uma
produo arquitetnica que contempla a tendncia art dco, neocolonial e modernista,
como mostra Ferraz (2003).
Assim, em linhas gerais, esse o panorama arquitetnico do interior paulista
at 1950, aproximadamente: nas cidades pequenas e mdias menos provvel
encontrarmos uma produo neocolonial expressiva, a no ser naquelas em que houve
condies especiais para o seu desenvolvimento; nas cidades maiores que superaram a
crise caf-ferrovia, certamente a produo neocolonial foi importante. De acordo com o
recorte aplicado nossa pesquisa, j exposto anteriormente, contemplamos as cidades
de nossa regio e aquelas que apresentaram as condies especiais a implantao de
obras importantes, pblicas e neocoloniais para o florescimento da arquitetura
tradicionalista de Severo, fossem de pequeno ou mdio porte. Para a anlise das
edificaes que encontramos nas cidades abordadas pela nossa investigao, o critrio
foi agrup-las por grau de erudio e funo ao qual o espao se destinou, a fim de,
posteriormente, passar anlise das obras de difuso.
90
91
Na
produo
arquitetnica
estava
presente
esprito
de
92
93
94
Foi nesse perodo, tambm, que apareceram as primeiras aes do poder pblico
em relao conservao dos recursos naturais e criao das primeiras reservas
florestais e parques regionais (COSTA, 1939a, p.434). A rigor, as primeiras
preocupaes, no sentido de registrar as potencialidades dos recursos no Brasil, ainda
sem vistas proteo dos mesmos, mas como legado que colaborou para a formao de
um pensamento preservacionista, vm de longa data e tm suas razes nos sculos
XVI e XVII [que] foram marcados pela produo literria das ordens
religiosas (...) na medida em que os religiosos constituam o contingente
mais intelectualizado que aqui se estabelecera. (...) Vindas de autores
jesutas, franciscanos, carmelitas e capuchinhos, muitas foram as obras
atravs das quais foi possvel posteriormente conhecer (...) aspectos da
natureza local e as formas de sua apropriao (SANTOS, 1999, p.78).
Dessa maneira, Santos (1999) nos mostra um longo processo, que culminou com
as primeiras medidas do governo no sentido de preservar os recursos naturais, com
muito atraso, na dcada de 1930:
outra vez o pensamento preservacionista se anteciparia ao do Estado,
sempre moroso em relao s propostas que implementassem uma poltica
95
embora a proposta de criao desse parque date de 1913 e tenha sido novamente
enfatizada como necessria em 1922 (Santos, 1999, p.171). Assim, fez parte da poltica
de Vargas a concretizao de medidas para a criao de parques nacionais de
preservao da natureza. Em 1939 foi criado o Parque Nacional da Serra dos rgos.
Dois anos depois da entrada de Fernando Costa no Ministrio da Agricultura foi criado
o parque nacional de Iguass e, em 1948, o de Paulo Afonso (SANTOS, 1999, p.208;
COSTA, 1941, p.27).
E foi a partir desse novo impulso que vemos vrios prdios, que serviram de
sede educao e s pesquisas na rea, tomarem o aspecto neocolonial, at mesmo no
Parque Nacional do Itatiaia, onde edificaes neocoloniais foram levantadas segundo o
desenho do arquiteto ngelo Murgel. Talvez esteja nesse momento a raiz da associao
entre o ambiente rural e a arquitetura neocolonial, atravs do conceito desenvolvido por
Murgel, a partir de 1937, quando foi contratado como servidor do Ministrio da
Agricultura e teve de desenvolver projetos para implantao de ncleos urbanos em
reas rurais (LIMA, 2005, p.12). Segundo esse autor, o conceito se constitua na
busca de adaptao s circunstncias locais, tendo em vista as imposies da
natureza, pelo uso de tecnologias e materiais disponveis na regio (LIMA, 2005,
p.15-16).
A Escola Nacional de Agronomia tem suas origens em 19107, mas teve sua
instalao definitiva no prdio atual da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O
local foi finalmente, escolhido margem da estrada Rio - So Paulo (COSTA,
1939a, p.141) em 1938; no ano seguinte foi iniciada a construo do prdio (FIGURA
46 e 47). No relatrio de 1940, do Ministrio da Agricultura ao Presidente da Repblica,
Fernando Costa refere-se Escola Nacional de Agronomia nos seguintes termos:
A Escola Nacional de Agronomia, que est sendo construda em Santa Cruz,
no quilmetro 47 da estrada de rodagem Rio - So Paulo, uma das
maiores realizaes do Ministrio da Agricultura, por isso que se trata de
um estabelecimento bsico para formao de valores indispensveis ao
desenvolvimento racional das nossas riquezas naturais. Obra grandiosa, j
7
Decreto 8.319 de 20 de Outubro de 1910: Cria o ensino agronmico e aprova o respectivo regulamento
Disponvel em: http://www6.senado.gov.br/sicon/ExecutaPesquisaLegislacao.action Acesso em:
07/01/2008.
96
97
98
99
Foram lanados concursos para a construo das novas escolas, cuja principal
exigncia era que o estilo arquitetnico do projeto inscrito seguisse os preceitos
neocoloniais, sob pena de serem eliminados do concurso (KESSEL, 2002). Assim,
foram construdas nove escolas, das quais
se destacam as Escolas Argentina, Uruguai, Prado Jnior, Estados Unidos e
Soares Pereira. Todas com a exceo da ltima, projetada por Jos
Amaral Nieddermeyer em terreno doado prefeitura de autoria dos
arquitetos Nereu Sampaio e Gabriel Fernandes.
10
Lembrar que o discurso de Ricardo Severo, em 1914, tido como marco inicial do movimento
neocolonial.
11
Amaral Jr, Amadeu. Uma Escola Profissional em Cada Cidade. In: O Dia. So Paulo, 06/06/1941.
Folha da Noite. O Ensino Rural ser Objeto de Espacial Ateno. So Paulo, 12/06/1941.
O Estado de So Paulo. O Programa de Governo do Interventor Fernando Costa. Instruo Pblica e
Ensino Rural O Financiamento da Produo Agropecuria e a Reforma do Banco do Estado. So
Paulo, 17/06/1941.
Folha da Noite. Assistncia Tcnica aos Lavradores Formao do Operariado Rural Uma Escola
Profissional para Cada Cinco Municpios. So Paulo, 23/06/1941.
100
E o artigo finaliza prenunciando o que seria feito, no prximo ano, pelo novo
interventor: dividindo-se o Estado em blocos de cinco ou seis municpios, bastariam
cinqenta agrnomos para formar uma rede completa. No ano seguinte, Fernando
Costa lana um projeto que dividiria o Estado em regies e instalaria, em cada uma,
uma escola agrcola.
Essa nova estratgia de desenvolvimento da zona rural contrastou com a que era
utilizada para a monocultura cafeeira. Como sabido, o governo Vargas foi voltado
industrializao do pas, e esse foi, inclusive, o momento em que a influncia norteamericana passa a ser mais significativa, sendo que tais aspectos atingiram e comearam
a mudar, tambm, as condies da zona rural. Segundo Vieira (2005), a nova estratgia
poltica voltada para o campo
visava superar as condies de atraso da agricultura (). Para tanto, havia
a necessidade de educar o povo rural para que ele passasse a adquirir
equipamentos e insumos industrializados necessrios industrializao de
sua atividade agropecuria, passando com isso do atraso para a
modernidade. () modelo tecnicista, isto , com estratgias de
desenvolvimento e interveno que levam em conta apenas os aspectos
tcnicos da produo, sem observar as questes culturais, sociais ou
ambientais (VIEIRA, 2005, p.6).
101
imagem de um tipo brasileiro generalizado. Dois autores, Vieira (2005, p.5) e Caporal
(1991, p.41), concordam em que o marco inicial desse processo de influncia norteamericana no esquema de produo rural brasileira foi a Escola Superior de
Agricultura e Veterinria do Estado de Minas Gerais, em Viosa, inaugurada em 28 de
agosto de 1926, pelo ento Presidente da Repblica, Arthur Bernardes. A direo da
escola ficou a cargo do norte-americano, bacharel em agricultura e professor, Peter
Henry Rolfs, que implantou a filosofia dos Land Grant Colleges, que associava teoria,
cincia e prtica. Desenvolveram-se, a partir de ento, especialmente na Era Vargas,
dois parmetros que orientam a atuao de Fernando Costa com relao implantao
das escolas agrcolas, primeiro no Brasil, quando Ministro da Agricultura e, depois, pelo
territrio paulista, quando Interventor do Estado: a necessidade de educar o campons
supostamente atrasado e de disseminar o nacionalismo forjado pela mquina oficial de
propaganda. COSTA (p.4, 2001) confirma essa poltica: nos pases latino-americanos,
a extenso rural comeou a se desenvolver na dcada de 40, tendo maior nfase na
dcada de 50. Alm da implantao das Escolas Prticas de Agricultura, ainda na
dcada de 1940, o Ministrio da Agricultura e as Secretarias de Agricultura dos Estados
construram tambm Casas da Lavoura, promoveram as Semanas Ruralistas e
implantaram os Postos Agropecurios, medidas tomadas para orientar os produtores, e
que atestam a poltica mais abrangente do Estado no sentido de desenvolver a zona
rural, agora sob novos parmetros.
No dia trs de junho de 1942, portanto, o Decreto-Lei Estadual n 12742
determinou a criao das Escolas Prticas de Agricultura12. Fernando Costa colocou em
prtica seu projeto, seguindo a inteno de estabelecer uma escola em cada uma das
zonas administrativas nas quais o Estado de So Paulo foi dividido, zonas que contavam
com uma mdia de cinco municpios cada (FIGURA 51). Em 1945, cinco das Escolas
Prticas de Agricultura foram inauguradas: as de Bauru, de Guaratinguet, de
Itapetininga, de Pirassununga e de Ribeiro Preto. Embora Teles & Iokoi (p.64, 2005)
afirmem que as demais no chegaram a ser construdas, em parte pelos problemas
relacionados Segunda Guerra Mundial e crise do Estado Novo, consta que, em 18 de
12
Decreto-Lei 12742, de 03.06.1942: Dispe sobre a criao de Escolas Prticas de Agricultura. Fonte:
Assemblia Legislativa do Estado de So Paulo. Acesso em 03.04.2007. Disponvel em:
http://www.al.sp.gov.br/portal/site/alesp/menuitem.f737045a72a1eec53700aa5cf20041ca/?inicio=0&fim
=10&texto=&idTpLei=&nrLei=12742&dtLei=&nrAnoLei=1942&tipoBusca=avancada#noWhere
102
Assim, observamos que toda a criao e construo das escolas agrcolas, nas
dcadas de 1930 e 1940, est envolvida pela ideologia nacionalista, que se refletiu,
13
Decreto-Lei 14139, de 18.08.1944: Dispe sobre desapropriao de imveis, situados em Rio Preto,
necessrios s instalaes da Escola Prtica de Agricultura. Fonte: Assemblia Legislativa do Estado de
So Paulo. Acesso em 03.04.2007. Disponvel em:
http://www.al.sp.gov.br/portal/site/alesp/menuitem.f737045a72a1eec53700aa5cf20041ca/?inicio=0&fim
=10&texto=&idTpLei=&nrLei=14139&dtLei=&nrAnoLei=1944&tipoBusca=avancada
14
Informao retirada de (consulta: 13 de Maro de 2007):
http://www.sap.sp.gov.br/common/unidprisionais/ipa/sao_jose_da_rio_preto_dr_javert_de_andrade.html
103
inclusive com muita expressividade, na arquitetura, visto que para a totalidade delas foi
adotada a linguagem neocolonial, certamente escolhida por ser a mais adequada aos
propsitos oficiais da poca. O interventor Fernando Costa havia lanado um grande
projeto, para o qual foram necessrios os trabalhos da antiga Diretoria de Obras
Pblicas do Estado de So Paulo.
Segundo Loureno (1999, p.192,) esse foi o rgo responsvel pela construo
das instalaes da Escola Prtica de Agricultura Getlio Vargas, de Ribeiro Preto,
atual Campus da Universidade de So Paulo, cujo projeto do arquiteto Hernni do Val
Penteado. O processo de extino da Escola Prtica de Agricultura de Ribeiro Preto
deu-se entre 1952 e 1954. Inicialmente15, parte do prdio da escola agrcola foi cedida
para uso da Universidade de So Paulo e, finalmente16, dois anos mais tarde, recebeu a
Faculdade de Medicina desta universidade, criada antes da extino da Escola Prtica de
Agricultura, em 194817.
A Escola Prtica de Agricultura Paulo de Lima Correia18, de Guaratinguet,
foi inaugurada em 1945. Foi doada Unio em 195019 e, posteriormente, transformada
na Escola de Especialistas de Aeronutica. O processo de mudana, porm, ocorreu sob
protestos dos moradores da cidade, como mostra o artigo do jornal Dirio de So Paulo,
de 29 de outubro de 1949. O artigo, intitulado Contrrios Transferncia da Escola
Prtica de Agricultura, traz a notcia de que a populao se organizou e realizou um
abaixo-assinado de 450 assinaturas, pedindo Assemblia Legislativa do Estado que
no prive esta localidade, e mesmo toda a zona, de to til, valioso e necessrio
15
Lei 2029, de 24.12.1952: Cesso, Universidade de So Paulo, do uso de parte do imvel onde
funciona a Escola Prtica de Agricultura de Ribeiro Preto. Fonte: Assemblia Legislativa do Estado de
So Paulo. Acesso em 04.04.2007. Disponvel em:
http://www.al.sp.gov.br/portal/site/alesp/menuitem.f737045a72a1eec53700aa5cf20041ca/?inicio=0&fim
=10&texto=&idTpLei=&nrLei=2029&dtLei=&nrAnoLei=1952&tipoBusca=avancada
16
Lei 2844, de 07.12.1954: Inclui, no quadro da Universidade de So Paulo, cargos da Secretaria da
Agricultura (Escola Prtica de Agricultura de Ribeiro Preto, extinta). Fonte: Assemblia Legislativa do
Estado de So Paulo. Acesso em 04.04.2007. Disponvel em:
http://www.al.sp.gov.br/portal/site/alesp/menuitem.f737045a72a1eec53700aa5cf20041ca/?inicio=0&fim
=10&texto=&idTpLei=&nrLei=2844&dtLei=&nrAnoLei=1954&tipoBusca=avancada
17
Lei 161, de 24.09.1948: Dispe sobre a criao de estabelecimentos de ensino superior no interior do
estado. Ensino superior / Universidade de So Paulo - USP / Escola de Engenharia de So Carlos /
Faculdade de Farmcia e Odontologia de Bauru / Faculdade de Farmcia e Odontologia de Taubat /
Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto / Faculdade de Direito de Campinas / Faculdade de Filosofia,
Cincias e Letras de Limeira. Fonte: Assemblia Legislativa do Estado de So Paulo. Disponvel em:
http://www.al.sp.gov.br/portal/geral/ddilei/DdiLeiListaDetalhe.jsp?idLgLei=30284&textoBusca Acesso
em 04.04.2007
18
Paulo de Lima Correia foi Secretrio da Agricultura quando Fernando Costa era Interventor do Estado.
19
Lei 696, de 05.05.1950: Autoriza a doao da escola prtica de agricultura de Guaratinguet Unio.
Fonte: Assemblia Legislativa do Estado de So Paulo. Acesso em 03.04.2007. Disponvel em:
http://www.al.sp.gov.br/portal/site/alesp/menuitem.f737045a72a1eec53700aa5cf20041ca/?inicio=0&fim
=10&texto=&idTpLei=&nrLei=696&dtLei=&nrAnoLei=1950&tipoBusca=avancada
104
105
cumprimento final de pena, segundo nos informou o funcionrio Sr. Slvio Padim20.
Encontramos, no arquivo do atual presdio, a planta do primeiro andar do prdio de
escola e administrao, projetada pelo arquiteto Hernani do Val Penteado, com uma
observao importante, ao final da prancha: adaptao do projeto dos Engos Mario
Whately & Cia. (FIGURA 65). Segundo nos consta, o engenheiro Mario Whately foi
professor da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo, ministrando a cadeira de
Pontes e Grandes Estruturas, desde 193521; foi, tambm, autor dos projetos dos edifcios
do Parque da gua Branca22 e do Instituto Biolgico, em So Paulo, este ltimo, um
projeto art dco (FIGURA 56) (REBOUAS, 2006, p.65). Encontramos, ainda, nos
arquivos do instituto penal, o projeto de paisagismo da antiga Escola Prtica de
Agricultura, realizado pelo escritrio Construtora de Jardins So Paulo. Por ser um
escritrio situado na cidade de So Paulo, e no em Bauru, local da escola, talvez tenha
realizado projetos para outras Escolas Prticas Agrcolas, o que no foi possvel
confirmar (FIGURA 64).
A Escola Prtica Agrcola Dr. Javert de Andrade, de So Jos do Rio Preto,
foi apenas parcialmente construda, pois em 1949 suas instalaes foram finalizadas
pelo ento governador Adhemar de Barros23; porm, ao que parece, nunca chegou a
funcionar. No Dirio Oficial do Estado de So Paulo, do dia 28 de novembro de 1951,
encontramos o protesto do deputado Alberto Andal, natural de So Jos do Rio Preto,
contra a instalao de um presdio agrcola nas dependncias do que deveria ter sido a
Escola Prtica Agrcola daquela cidade:
verificamos o caso como realmente ele se apresenta. Existem 3 prdios
semi-construdos pelo interventor Fernando Costa, nos terrenos da Escola
Prtica de Agricultura. (...) Agora vai ser reformado o prdio o ltimo
prdio como ns o chamamos e, ento, iro para l (...) trinta ou quarenta
condenados [que] posteriormente iro reformar o outro prdio (...) situao
maravilhosa: Rio Preto perdeu os terrenos; perdeu aquilo que era
produo imediata para o consumo da cidade, perdeu a Escola Prtica de
20
106
24
107
planejadas
somente
foi
realizada
metade.
Cada
escola
levou
aproximadamente trs anos para ser concluda de 1942 a 1945 todas estavam em obras
e formaram as primeiras turmas por volta do final da dcada de 1950, quando os grupos
dirigentes haviam sido mudados e, com eles, a poltica para essas escolas rurais, que
entraram, ento, em processo de extino. A formatura da primeira turma da Escola
Prtica de Agricultura Gustavo Capanema, de Bauru, por exemplo, aconteceu em
junho de 1949 (FIGURA 58). Portanto, o que deveria ter sido um projeto de longo
prazo, pelos altos recursos e tempo investidos, e pelas variveis envolvidas, agonizou
em, praticamente, cinco anos. Como disseram Teles & Iokoi (2005, p.84), Retornava a
metfora do Jeca Tatu. Em resumo, duas escolas foram transformadas em campi de
universidade, duas em institutos penais, e uma, aps ter sido instituto penal por um
tempo, tornou-se escola tcnica. Todavia as construes foram preservadas e nos do
um testemunho eloqente da adoo da linguagem arquitetnica neocolonial naquele
perodo.
Apesar do desfecho pouco feliz, a trajetria histrica do projeto para as Escolas
Prticas de Agricultura nos forneceu indicaes sobre a relao do poder pblico do
108
26
Decreto-Lei
n.
2584,
de
17
de
setembro
de
1940.
Disponvel
http://terra.espcex.ensino.eb.br/nova_internet/escola.php?w=232 Acesso em: 30/03/2008.
109
em:
trabalhavam, ou teria sido opo pessoal? As respostas nos remetem, novamente, para a
questo da complexidade que fez parte do pensamento e do ambiente cultural das
primeiras dcadas do sculo XX. Afinal, como vimos, existiu um mal estar, entre os
arquitetos, em admitir que tivessem aderido ao movimento neocolonial durante certo
tempo, mas, por outro lado, existiam outros motivos para continuar aplicando essa
linguagem em determinadas obras. Procuramos, assim, identificar alguma dessas
causas, de forma a obter maior clareza sobre a fase intermediria de difuso do
neocolonial, uma fase oficial e nacionalista.
110
que, quando no podiam ser trazidos de redes prximas, deviam ser produzidos no
local, atravs de geradores e poos. Assim, podemos deduzir que a construo do
projeto das Escolas Prticas de Agricultura demandou grandes esforos e recursos, de
forma alguma condizentes com o tempo em que funcionaram a contento. Perguntamonos se o projeto foi mal dimensionado pelo interventor do Estado, que precisava
responder s exigncias da populao, como mostravam os jornais da poca, e de um
governo voltado ao desenvolvimento a qualquer custo, ou se aos seus sucessores no
interessava dar continuidade a tal obra. Possivelmente, havia os dois motivos e outros
mais, porm no vamos nos alongar nessa questo que foge ao escopo da nossa
pesquisa.
As instalaes das Escolas Prticas de Agricultura, alm de inclurem campos
para cultivo, criao de animais e represas, eram formadas por um conjunto de
edificaes, entre as quais as destinadas ao prdio principal, aos alojamentos, ao ginsio
de esportes, ao salo social, aos laboratrios, aos estbulos, ao laticnio, ao matadouro,
s casas para funcionrios e professores etc. possvel que em algumas das escolas nem
toda a estrutura prevista tenha sido construda, como no caso da de So Jos do Rio
Preto, onde a funo original nunca foi implantada, e a de Itapetininga que, pelo que nos
mostram as informaes que levantamos, possui apenas o prdio principal com os
alojamentos e alguns outros poucos edifcios (FIGURA 88).
Essa estrutura, em cada unidade, era envolvida por um planejamento
paisagstico que se assemelha ao projeto de Murgel para a Escola Nacional de
Agronomia que, de acordo com Lima (2005, p.17), definiu para as reas de implantao
assimtricas um traado de bairro-jardim (FIGURA 60). Porm, nos projetos
paisagsticos para as Escolas Prticas de Agricultura e, inclusive, naquele para a Escola
Nacional de Agronomia, podemos identificar, tambm, elementos dos jardins ingleses
pitorescos, fruto de um movimento marcante na Inglaterra a partir do sculo 16 que
passou a valorizar o campo e a paisagem em verses distantes das agruras concretas
do cotidiano campesino em detrimento do novo e impactante aspecto urbano gerado
pelo crescimento e industrializao de Londres (SEGAWA, 1996, p.28). Trata-se,
portanto, da construo de uma paisagem onde est presente o esprito romntico e o
conceito de pitoresco, tendo, este ltimo trao, sido trazido pelo precursor dos jardins
ingleses, William Kent. Segundo Mercadal (1949, p.160), o gnio criador de Kent
procede de su formacin de pintor y de su compresin pictrica del paisaje e
111
impresionado por las descripciones literarias de Addison y de Pope, intenta crear sus
parques como pinta sus cuadros. Assim, enquanto o jardim francs era marcado por
su planimetria, su rectitude, siendo todo regular y digno como en fachada de un
edifico (Mercadal, 1949, p.148), o ingls se compone de paseos sinuosos, arroyos
describiendo meandros y estanques de bordes irregulares (MERCADAL, 1949,
p.160) (FIGURA 61). Um dos jardins realizados no Estado de So Paulo segundo as
premissas dos jardins ingleses o da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,
em Piracicaba, concebido pelo arquiteto paisagista belga Arsenio Puttemans28, com
auxlio do professor dessa mesma instituio, Luiz Teixeira Mendes, e implantado em
1907 (LIMA, 1987, p.21) (FIGURA 62). Assim, esse e outros jardins da tradio
inglesa podem ser tomados como referncias para os projetos paisagsticos das Escolas
Prticas de Agricultura. Caractersticas como as de grandes gramados, tanques de gua,
traados sinuosos e caminhos com bifurcaes para favorecer certas visuais so
encontradas nos projetos paisagsticos para as Escolas Prticas Agrcolas. Um trao
recorrente o acesso por caminhos que nunca vo diretamente at a edificao
principal, mas, num dado momento, abrem-se e circundam pelas laterais de um gramado
frontal, em formas ovais ou elpticas (FIGURAS 64, 77, 90).
Os traados paisagsticos para as Escolas Prticas de Agricultura diferem,
porm, dos jardins ingleses, no emprego de alguma simetria, como no caso da Escola
Prtica de Agricultura Dr. Fernando Costa, de Pirassununga, que exibe um eixo
frontal edificao principal, embora, de uma perspectiva mais ampla, os traados de
cada lado do eixo sejam diferentes (FIGURA 90). No caso da Escola Prtica de
Agricultura Gustavo Capanema, de Bauru, existe simetria em frente a cada edificao,
mas o traado geral assimtrico e sinuoso. O responsvel por esse projeto foi Joo
Schmid, vinculado Construtora de Jardins So Paulo, que ficava Rua Tutoya,
343, como se verifica na prancha de projeto (FIGURA 64). Atualmente, parte do
traado est descaracterizada. Desde que passou a ser utilizada como instituto penal,
houve a necessidade de fazer adaptaes. Encontramos um projeto, da dcada de 1970,
28
Arsenio Puttemans tambm foi responsvel pelo projeto do jardim do Ipiranga, o da Praa da
Repblica e da Vrzea do Braz, em So Paulo, bem como aquele da Praa de So Bento em Niteri, o do
Parque Philippe Westin Cabral de Vasconcelos hoje a nica que permanece praticamente inalterada
(Lima, 1987, p. 22). Este ltimo parque o parque da Esalq. Os jardins do Museu do Ipiranga foram
ampliados em 1922, segundo o projeto de Reynaldo Dierberg, paisagista ascendncia alem, muito
atuante no estado de So Paulo nas dcadas de 1920 e 1930. Dierberger, Reynaldo. Arte e jardim. So
Paulo: Dierberg, 1928. Dierberger foi ainda responsvel pelos jardins do claustro da Escola Nacional de
Agronomia, RJ (Rumbelapager, 2005, p.105).
112
Apesar da clara referncia arquitetura barroca, feita nos prdios das Escolas
Prticas de Agricultura, o mesmo no se deu em seus projetos paisagsticos. Poderamos
supor, seguindo a mesma lgica, que o traado para esses espaos fosse inspirado na
simetria e no emprego de desenhos geomtricos dos jardins franceses que coincidem
com o perodo Barroco29. Porm, a identidade com o aspecto romntico e pitoresco
prevaleceu na composio geral dos traados para os entornos dessas escolas,
implantadas em meio a projetos que remetem ao jardim ingls e teoria cidade-jardim.
Talvez isso se tenha dado, inclusive, pelo fato de as escolas se situarem em reas rurais,
condicionante ligada idia romntica de idealizao do campo, alm do que os
prdios, em sua concepo neocolonial, tambm esto associados ao esprito romntico
e pitoresco.
Uma caracterstica comum a todos os prdios principais das Escolas Prticas de
Agricultura a simetria, mas cada um deles possui suas particularidades. Essa
caracterstica tambm aparece em outros prdios importantes da escola, como o prdio
para o Centro de Educao Fsica da escola de Ribeiro Preto (FIGURA 81 e 83).
Pudemos identificar dois tipos de projetos, entre as Escolas Prticas de Agricultura:
aqueles cujos prdios principais possuem dois pavimentos, e aqueles em que possuem
apenas um. Bauru e Ribeiro Preto receberam o projeto com dois pavimentos e
assemelham-se no destaque do volume central, que avana em relao fachada, por
onde se d o acesso principal (FIGURA 70 e 82). No prdio principal da escola de
Bauru, um grande fronto tripartido, com volutas e coruchus nas laterais, sobrepe-se a
trs aberturas de arco abatido e a trs arcos plenos. Uma das aberturas uma portabalco, cuja sacada semicircular possui uma balaustrada com elementos que evocam as
madeiras
torneadas,
itens
muito
utilizados nas
manifestaes
arquitetnicas
29
Por haber nascido en Inglaterra se le conoce [ao jardim paisagstico, de traado irregular] por jerdn
ingls, reservando la denominacin de jardn fracs, al de trazado regular del siglo XVII Mercadal
(1949, p. 161).
114
30
31
115
116
117
118
(1989, p.67), foi com Barco que a arte do azulejo se ligou arquitetura barroca em
Portugal: Com a produo figurativa de Barco, o azulejo alcanou uma teatralidade
barroca atravs da grandiosidade de algumas concepes, reforadas pelas paisagens
distantes, os elementos de arquitectura monumentais, cortinados e outros acessrios.
A utilizao do azulejo nesse pas tambm est ligada tradio islmica
(BACKHEUSER, 2006). Os temas geomtricos eram oriundos, justamente, dessa
tradio, enquanto os das cenas e das paisagens estiveram presentes desde os tempos
dos azulejos holandeses, enquanto as figuras tornaram-se mais populares no sculo
XVIII. Ora, desde o sculo XVI at o XIX, o Brasil importou os azulejos portugueses,
sendo que at o sculo XVIII os navios que partiam vazios das terras lusitanas, para
voltarem carregados de produtos locais, costumavam levar grandes quantidades destes
azulejos para servir de lastro (BACKHEUSER, 2006). O perodo tambm coincidiu
com a produo barroca e colonial brasileira e, logo, se tornou um elemento apropriado
pelos construtores brasileiros. Como nos mostra Backheuser (2006), o azulejo consistiu
num exemplo da efetiva transculturao e numa curiosa inverso de influncias na
utilizao de um material de construo to portugus que tambm se provou muito
brasileiro. Assim, sua utilizao como decorao, especialmente em painis retratando
cenas e figuras, muitas vezes numa atitude romntica, nacionalista e/ou pitoresca,
reaparece na produo arquitetnica neocolonial, inclusive na arquitetura neocolonial
oficial, como o caso das escolas aqui tratadas. Antes de sua utilizao nas Escolas
Prticas de Agricultura, temos notcia do emprego de um painel decorativo de azulejos
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, obra de autoria da artista plstica
Vieira da Silva32 (KESSEL, 2002, p.215) (FIGURA 47). Comprovadamente, receberam
painis e outros detalhes decorativos em azulejos, produzidos pelo Liceu de Artes e
Ofcios de So Paulo, as escolas de Pirassununga e Itapetininga, em cujos elementos
pudemos verificar a marca de origem. Na escola de Pirassununga, um grande painel, de
aproximadamente nove metros de largura, preenche o fronto de entrada do prdio
principal, mostrando uma cena buclica, em que um trabalhador conduz uma parelha de
bois a arar a terra, nas cores azul e branco (FIGURA 103). Abaixo, entre os pilares,
outros adornos quadrilobados tambm so preenchidos com azulejos; esse tipo de
detalhe decorativo se repete em vrios outros prdios da escola, como o do Centro de
Eventos e habitaes, e no porto de entrada, ora como decorao, ora como forma das
32
Maria Helena Vieira da Silva (1908 1992) foi uma pintora portuguesa, naturalizada francesa em
1956; viveu no Brasil durante e no ps Segunda Guerra Mundial.
119
Frum de Taubat
O prdio do frum de Taubat, em plena construo no ano de 1945, mais um
exemplo de obras neocoloniais realizadas pela Diretoria de Obras Pblicas do Estado de
33
120
121
paulista, a de Taubat que uma organizao que tem por finalidade prestar
assistncia tcnica e material lavoura da extensa regio do Vale do Paraba
(LBUM..., 1945, p.183) (FIGURA 113). Foi inaugurada no dia 3 de fevereiro de 1944,
no local onde anteriormente havia existido o Teatro So Joo, na atual Praa 08 de
Maio, e funcionou at 197934. A volumetria da edificao paralelepipdica, com um
volume central de dois pavimentos. Assemelha-se s Escolas Prticas de Agricultura de
apenas um pavimento, pois simtrica e possui destaque na poro central, embora esta
no avance como um antecorpo, como nas escolas. Possui tambm um grande fronto
curvo com volutas e coruchus nas laterais, onde sentimos a falta do painel de azulejos,
que neste prdio est ausente. Os trs arcos abaixo do fronto, por onde se faz o acesso,
e os cunhais, so decorados com aplicao de pedras. Trs janelas de vergas retas e
adornadas com frisos, localizadas a cada lado da fachada, e tambm nas fachadas
laterais, completam a simetria do conjunto. Os telhados so de telhas capa e canal com
beirais levemente revirados. Pode-se supor que tenha sido mais uma obra realizada pela
Diretoria de Obras Pblicas em cujo projeto esteve envolvido o arquiteto Hernani do
Val Penteado, devido data de sua implantao e s caractersticas neocoloniais de sua
arquitetura. possvel que existam outras Casas da Lavoura, em outras regies do
interior paulista, que tenham sido implantadas no mesmo perodo, e cuja arquitetura seja
semelhante. Procuramos, no arquivo da Companhia Paulista de Obras e Servios, por
esses projetos, que talvez tivessem sido implantados nas mesmas cidades onde foram
implantadas as Escolas Prticas de Agricultura, porm nada encontramos, o que leva a
pensar que isso no ocorreu. Pesquisas futuras podem trazer mais informaes.
Escola Preparatria de Cadetes de Campinas
Outro prdio oficial, construdo no interior do Estado paulista pela Diretoria de
Obras Pblicas, durante o mandato de Fernando Costa como interventor do Estado,
segundo projeto do arquiteto Hernani do Val Penteado, foi a Escola Preparatria de
Cadetes de So Paulo35. Segundo consta na prancha de desenho da fachada da escola, o
projeto data do ano de 1944 (FIGURAS 114 a 117). Alm desse desenho, encontramos
projetos da adaptao de alguns espaos, do ano de 1955, e o projeto para uma torre de
vigia, elaborado mais tarde, j em 1970, todos realizados, ainda, pelo mesmo arquiteto,
34
Informaes anotadas no verso da foto da Casa da Lavoura, de 1944, quando estava recm-inaugurada.
Foto localizada no Museu da Imagem e do Som de Taubat, em 17/04/2007.
35
No dia 23 de janeiro de 1959, a sede da Escola era transferida para a cidade de Campinas, passando
a se chamar Escola Preparatria de Cadetes de Campinas. Disponvel em:
http://terra.espcex.ensino.eb.br/nova_internet/escola.php?w=232 Acesso em: 30/03/2008.
122
123
ocasio, em 1939, uma capela neocolonial (FIGURA 120). Nesse caso, no podemos
afirmar que a reforma tenha sido de responsabilidade da Diretoria de Obras Pblicas do
Estado de So Paulo, porm, devido ao convnio, data em que o mesmo se firmou e
tendncia arquitetnica empregada a neocolonial , acreditamos haver a possibilidade
de, tambm essa reforma, ter sido realizada pela diretoria citada. Na dcada de 1980, o
instituto foi fechado, e suas instalaes foram alugadas pelo Estado. Em 2004, o prdio
foi restaurado e nele instalou-se a Escola Tcnica Escolstica Rosa36. Um dos traos
neocoloniais do prdio da Escola Tcnica Escolstica Rosa, muito semelhante aos
encontrados em outras obras oficiais, o grande fronto central ornamentado com o
painel de azulejos brancos e azuis, retratando uma cena relacionada funo do
edifcio: uma mulher com duas crianas a caminho de um edifcio, presumidamente, um
orfanato. A reforma preservou a simetria, volumetria, o nmero de pavimentos e o ritmo
de aberturas do prdio original de Ramos de Azevedo; acrescentou-lhe uma cobertura,
diante do acesso principal, que avana at a calada e encimada por um fronto curvo,
volutas e coruchus laterais, e tambm, nas laterais do fronto de azulejos, dois outros
frontes curvos menores e, em cada extremidade da fachada do prdio, um fronto
semelhante. As janelas ganharam arcos abatidos com cimalhas e lembram as janelas do
Frum de Taubat; os telhados foram acrescidos de beirais pronunciados, com
cachorros e coruchus sobre os cunhais. Um muro baixo, revestido com pedras, cerca a
edificao (FIGURA 119). Infelizmente, no pudemos ter acesso aos projetos da
reforma da dcada de 1930, pois, ao contrrio do projeto original, de Ramos de
Azevedo - que est sob os cuidados do Centro de Memria da escola os posteriores j
no constam em seu acervo. Assim, no nos foi possvel confirmar se a autoria foi,
realmente, do Departamento de Obras Pblicas.
Muitos dos desenhos para os edifcios oficiais estudados, que foram elaborados
e construdos pela Diretoria de Obras Pblicas do Estado de So Paulo, levam a
assinatura do arquiteto Hernani do Val Penteado. Assim, o arquiteto esteve envolvido
no desenvolvimento de muitos projetos neocoloniais oficiais que foram implantados
pelo inteiro paulista, como vimos e, tambm, por outros de mesma tendncia esttica,
36
124
37
38
125
E abre uma exceo que vem bem a calhar, parecendo, mesmo, uma justificativa
ao prdio da Escola Nacional de Agronomia39 e s futuras Escolas Prticas de
Agricultura: smente nas escolas isoladas, perdidas nas fazendas poderamos adoptalo, fazendo o pittoresco e ingenuo decorao luxuosa e freiratica (SO PAULO
(Estado). Secretaria dos Negcios da Educao e Sade Pblica, 1936, p.63). No
obstante a posio de alguns arquitetos, como a de Neves, na Diretoria de Obras
Pblicas, o neocolonial continuou a ser utilizado, tanto nas escolas rurais como em
prdios pblicos, como o fruns e as casas da lavoura (FIGURA 110).
Voltando ao arquiteto Hernani do Val Penteado, a transio entre estilos
parece ter acontecido durante um tempo significativo de sua carreira, que vai at 1950,
aproximadamente. A partir de fins dos anos de 1940, o arquiteto parece abandonar o
neocolonial, passando para uma linguagem modernista, como mostram os seus projetos,
inclusive um para a sua prpria residncia, em So Vicente, na praia do Boqueiro, que
data de 1950. Neste projeto, mantm grandes beirais e cachorros aparentes, mas no
existe decorao semelhante do neocolonial (FIGURA 122); j para o Hospital de
Guarant, so projetadas linhas mais simples e retas, porm com beirais, 1954
(FIGURA 123); para a casa da administrao da Fazenda Santa Helena, em
Pindamonhangaba, que data de 1960, continua utilizando pedras e beirais.
significativo esse projeto, j que a associao entre a arquitetura colonial e o ambiente
rural desaparece (FIGURA 124). Finalmente, percebemos a predominncia da tendncia
modernista, numa fase mais tardia da carreira do arquiteto, com um projeto para a Santa
Casa de Ja, tambm de sua autoria, cuja data, certamente, posterior a 1950, pois o
desenho j segue totalmente os preceitos modernistas, com linhas retas, marquise,
terrao-jardim, janelas corridas e jardins de traado orgnico (FIGURA 125). Apesar
disso, percebemos que para conjuntos arquitetnicos neocoloniais o arquiteto daria
preferncia a seguir essa mesma linha de arquitetura neocolonial em prdios
adicionais, como o fez na Escola Preparatria de Cadetes de Campinas, mesmo mais de
duas dcadas depois, em 1970, como vimos. Verificamos, assim, observando a trajetria
profissional de Hernani do Val Penteado, que as tendncias neocolonial e modernista
eram praticadas concomitantemente, por motivos como exigncias de uma orientao
oficial e/ou opo pessoal, mesmo no interior do Estado de So Paulo, e atravs dos
anos de 1930 e 1940, perodo que pode ser considerado tardio, com relao ao
39
O projeto para a Escola Nacional de Agronomia foi aprovado pelo presidente Getlio Vargas em 18 de
dezembro de 1948 e a construo foi iniciada no ano seguinte. (Rumbelapager, 2005, p. 94)
126
40
Para outros tantos como Eduardo Kneese de Mello como vimos no captulo 3 (Rodrigues, 1985) era
inconcebvel continuar produzindo qualquer outra linha depois de terem tomado contato com a lgica
modernista. Assim, abandonavam o neocolonial como uma fase vergonhosa de suas carreiras. Talvez, a
complexidade continuasse a se expressar de maneira sutil em alguns projetos, mas a reao primeira era
de rejeio, pois no era simples lidar de maneira coerente com tendncias to opostas. Essa uma
questo que demanda estudos mais aprofundados.
127
Captulo 5
APROPRIAO E RECRIAO DA ARQUITETURA
NEOCOLONIAL NA DIFUSO PAULISTA
129
Por exemplo: Bortolucci, Maria ngela P. C. S. (1991). Moradias Urbanas Construdas em So Carlos
no Perodo Cafeeiro. Tese (Doutorado) FAUUSP; DAlambert, Clara Correia (2003). Manifestaes da
Arquitetura Residencial Paulista entre as Grandes Guerras. Tese (Doutorado) FAUUSP.
2
Instruo, conhecimento ou cultura variada, adquiridos especialmente por meio da leitura.
INSTITUTO ANTNIO HOUAISS DE LEXICOGRAFIA (2001).
130
131
132
fiis, e nos quais a arquitetura foi utilizada como recurso de persuaso. Evidentemente,
estamos aqui nos referindo arquitetura barroca religiosa, que floresceu dentro das
fronteiras criadas por esse grande movimento eclesistico ps-tridentino que se
chama () Contra-Reforma (CARPEAUAX, 1990, p.8-9). Segundo Carpeuax (1990,
p.8-9), as fronteiras geogrficas do estilo barroco parecem coincidir com as
fronteiras das religies no sculo XVII e de acordo com Pevsner (1982, p.273)
nem a Frana nem a Inglaterra (e tampouco o Norte da Alemanha,
Holanda, Dinamarca e Escandinvia) jamais aceitaram o barroco com
todas as suas implicaes. Seu mundo e, em certo sentido, o mundo
moderno pertence ao protestantismo.
133
Seminrios Franciscanos
Devido pesquisa realizada sobre a Escola Prtica de Agricultura Paulo de
Lima Correia, de Guaratinguet (FIGURAS 84 a 89), verificamos a existncia, nessa
cidade, de um seminrio franciscano cuja arquitetura exibe uma linguagem neocolonial
muito expressiva. J atravs de nossa pesquisa em Bauru e tambm em Ja, tivemos
notcia de um seminrio, pertencente tambm Ordem Franciscana, localizado na
cidade de Agudos, a 25 km de Bauru; uma rpida pesquisa sobre esse ltimo confirmou
que, tambm ele, fora construdo segundo a tendncia neocolonial e, assim, conclumos
que ambos os Seminrios, encontrados em Guaratinguet e em Agudos, poderiam ter
grande significado, no contexto que estamos abordando, o da produo neocolonial no
interior paulista. Portanto, inclumos as cidades onde esto localizados, no programa de
pesquisa que, a princpio, no contemplava essa, por assim dizer, surpresa. Encontramos
informaes em visita aos prprios seminrios e, principalmente, na Sede Provincial da
Ordem Franciscana, em So Paulo, onde est localizado o arquivo de documentos da
ordem.
O Seminrio Frei Galvo, de Guaratinguet, comeou a ser construdo em
1941 e levou trs anos para ser finalizado (SANSO, 1961, p.50) para atender os
interessados no estudo religioso, no s os da regio, mas tambm os de outros estados
(FIGURA 126). Situado no permetro urbano e a trs quilmetros do centro da cidade,
no bairro de So Bento,
o terreno est com as frentes para a antiga estrada So Paulo-Rio, e seus
fundos alcanam o rio Paraba; de permeio chcara passa e Estrada de
Ferro Central do Brasil. A rea de 6 alqueires, num total de 144.000
metros quadrados (SANSO, 1961, p.60).
134
O programa previa cinco amplas salas para estudos, aulas, leitura, msica e
recreio, capela, enfermaria, dormitrios, refeitrio, reitoria, prefeitura, galerias,
corredores, dependncias sanitrias, lavatrios e lava-ps, ocupando dois teros da
edificao, sendo o tero faltante ocupado pelo convento, com celas, claustro, biblioteca
e outras acomodaes necessrias (FIGURAS 128 a 130). Seu projeto original,
provavelmente da autoria de certo3 Dr. Arantes, sofreu modificaes, em planta, no
ato da construo, realizadas pelo construtor Frei Edgar (SANSO, 1961, p.50).
Aproximadamente 15 anos depois da construo do seminrio, mas antes de 1961, o
edifcio passou por uma reforma, tendo sido realizada
grande melhoria na cozinha e no refeitrio dos padres, bem como no dos
alunos. Os ladrilhos do piso foram substitudos por cermica, removidas as
mesas de marmorite e colocadas treze mesas forradas de frmica.
Remodelaram-se os sanitrios de tda a casa, fazendo-se outro tanto com os
lavatrios, lava-ps e chuveiros com capacidade para 14 duchas (SANSO,
1961, p.51).
Uma descrio rpida registra a cor das paredes externas e das janelas, por volta
de 1960, e a vista que se tem a partir da rodovia:
O telhado do edifcio parece emergir do verdor acariciante das folhagens,
enquanto a ramaria do arvoredo procura abraar as paredes cr de ocre
(...). De longe, ao passar pela via Dutra, o caminhoneiro se defronta (...)
com a fachada do Seminrio. As trs janelas de frente, de ombreiras
pintadas de branco, lembram olhares sorrindo de aceno para uma visita
(SANSO, 1961, p.53).
No conseguimos identificar quem foi o Dr. Arantes mencionado no documento escrito por SANSO,
1961.
135
reportagem na referida revista: na alma de muita gente calha bem essa linguagem
muda do prdio (SANSO, 1961, p.53). Talvez tenha sido esse um dos motivos pelos
quais a linguagem neocolonial foi escolhida para esse seminrio e para o de Agudos.
Verificamos que alta a ocorrncia da arquitetura neocolonial em edifcios religiosos,
especialmente num perodo em que era muito comum lanar mo da linguagem ecltica
na verso neogtica para a aplicao em igrejas. Pareceu-nos que a referncia
arquitetura barroca seria algo inerente a tais prdios, uma vez que a ela foi
majoritariamente religiosa. Porm, nos questionamos sobre a possibilidade de essa
predileo ter sido, tambm, devida a uma nostalgia da arquitetura jesutica, ou seja, de
um perodo muito significativo da presena da Igreja no Brasil. Devemos recordar
tambm que Severo, em sua conferncia de 1914, ratifica a arquitetura jesutica como
uma das primeiras arquiteturas tradicionais a se estabelecerem no Brasil:
os jesutas missionrios, que se espalhram pelo vasto domnio colonial
portuguez se devem os principaes edifcios religiosos que se encontram nas
possesses da ndia, da frica e do Brasil (SEVERO, 1914, p.50)
Alm disso, uma pergunta se coloca: por quais motivos o chamado estilo
misses ou californiano associado somente s evocaes da arquitetura missionria
a que emergiu na Califrnia e no Mxico? Vamos retomar essa questo adiante, na
anlise do partido dos seminrios aqui apresentados.
136
O decreto que cria as Escolas Prticas de Agricultura do dia 03/06/1942, como verificado no captulo
anterior.
6
Disponvel em: http://www.franciscanos.org.br/fraternidades/casas/guara_post/historia.php Acesso em:
17/01/2008.
137
138
139
Foram ento tentadas diferentes estratgias para evitar uma evaso drstica do
nmero de vocaes:
por esse tempo tambm se falou muito que a melhor vocao seria a adulta,
isto , aquela que surgisse depois do homem maduro, j profissionalizado e
experimentado no mundo (...). Nossa Provncia transformou o seminrio de
Guaratinguet e o reservou para as chamadas vocaes adultas (PRIM,
1975, p.18).
140
Informao concedida pelo Frei Rafael Spricigo em visita ao Seminrio Santo Antonio em
04/04/2007.
141
todo o prdio envolve um ptio interno central (...) este ptio circundado
por galerias que funcionam como circulao do edifcio em arcos plenos
ritmados, o que faz lembrar os antigos claustros dos colgios e conventos
jesutas.
142
143
ficam baixos em ralao altura da fachada da igreja. Esta composta por duas torres
de bases quadradas e encimadas por cpulas de cebola. So mais altas que o fronto
central e conferem a essa fachada uma horizontalidade acentuada, ainda, pela marcao
dos cunhais e pelas janelas alongadas (FIGURA 135). Trata-se uma caracterstica que
remete, de certa forma, arquitetura de inspirao maneirista das misses jesutas,
porm, a maior parte das igrejas missioneiras possua apenas uma torre ou
campanrio, que se localizava independentemente no lado oposto ao batistrio
(CUSTDIO, 2006, p.16). O fronto curvo tripartido possui cimalhas e volutas e um
painel de azulejos no centro. Abaixo, uma porta-balco de arco abatido com portal de
cimalha interrompida, onde foi aplicada uma crtula de rolos e uma pequena abertura
com curvas; possui sacada e guarda-corpo com balastres. Nas laterais, duas janelas de
arco abatido e quadros decorados. Ao nvel do cho, trs arcos plenos do acesso porta
de entrada da igreja. As alas laterais apresentam duas seqncias de janelas de vergas
retas no primeiro e segundo pisos. A no ser pelas torres laterais e os trs arcos de
entrada, encimados pelo fronto, semelhante tipologia destinada s Escolas Prticas
de Agricultura de Bauru e Ribeiro Preto (FIGURA 70 e 81). Tal combinao de
elementos de linguagem recorrente na arquitetura neocolonial de toda a Amrica
Latina, como vemos em Amaral (1994) (FIGURA 140). As fachadas dos dois
seminrios citados tambm evocam a arquitetura do Convento Santo Antonio,
localizado no Largo da carioca, no Rio de Janeiro, construdo entre 1748 e 17808
(FIGURA 141). O Mosteiro da Luz, em So Paulo, que tem ligaes com o seminrio
de Guaratinguet, pois foi erguido em fins do sculo XVIII e inaugurado em 1774
(TOLEDO, 2007, p.49) pelo frei que deu nome instituio do Vale do Paraba, mais
uma possvel referncia inspiradora para edifcios franciscanos construdos no incio do
sculo XX (FIGURA 142). Mesmo o Convento de Nossa Senhora do Amparo9, da
Ordem Franciscana, localizado em So Sebastio, fundado no sculo XVII e tombado
pelo CONDEPHAAT, pode ter sido referncia para edificaes posteriores, como
veremos a seguir (FIGURA 143). E, certamente, se continussemos a observar esse
aspecto, outros edifcios religiosos do perodo colonial poderiam surgir para reforar a
idia de que foram recorrentemente utilizados como inspirao.
144
10
Alfredo Oliani o autor (1906 - 1988). Escultor e gravador. de sua autoria a escultura O Ultimo
Adeus, situada no Cemitrio So Paulo, em So Paulo. Mais sobre Oliani em: Pontual, R. (1969).
Dicionrio das artes plsticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira.
145
tempos posteriores construo da mesma, pois exibem outras cores, alm do azul e do
branco, e tambm traos diferentes de desenho (FIGURA 138). Como nas Escolas
Prticas de Agricultura, os painis de azulejos foram utilizados no s como ornamento,
mas para retratar cenas relacionadas s suas atividades, ou seja, como elementos
passveis de sustentar representaes simblicas.
Outros aspectos das edificaes dos seminrios Frei Galvo e Santo
Antonio devem ser, aqui, citados, pelo valor que tm no contexto da arquitetura
neocolonial e pela semelhana que apresentam em relao aos prdios que so nossas
principais referncias, ou seja, o da Escola Nacional de Agronomia e os das Escolas
Prticas de Agricultura, como j deixamos claro. Os telhados do seminrio Frei
Galvo, por exemplo, possuem beirais, mas so retos em sua maior extenso. Na
fachada principal, nas partes visveis, ganhou certa curvatura, e nos cantos recebeu
tratamento decorativo com telhas rabo de andorinha (FIGURA 128), o que remete
diretamente aos solares portugueses e arquitetura construda por Ricardo Severo. Ao
observarmos as guas dos telhados vemos que, certamente, as telhas foram substitudas
em etapas, em obras de reforma ou manuteno do prdio, pois existem trs tipos de
telhas em utilizao: a tipo capa e canal, utilizada originalmente; a tipo romana; e a tipo
francesa, embora esta esteja aplicada apenas no telhado de um prdio anexo (FIGURA
128). No seminrio Santo Antonio, de Agudos, originalmente foram utilizadas telhas
capa e canal e, ao que parece, foram substitudas em algumas partes, mas pelo mesmo
tipo de telhas. As guas dos telhados tm beirais retos e guarnecidos por calhas e
condutores; nos finais dos espiges dos telhados que do para a fachada foram
empregadas tambm telhas rabo de andorinha (FIGURA 35 e 136).
Outros elementos construtivos e ornamentos que compem a linguagem da
arquitetura dos seminrios de Guaratinguet e Agudos podem ser, ainda, observados.
Por exemplo, no caso do Seminrio Frei Galvo a ornamentao geral do edifcio de
pequenas dimenses, quando comparada com a das Escolas Prticas de Agricultura,
onde ocorrem elementos exagerados propositadamente para alcanar um efeito
monumental para os prdios (FIGURA 128). O mesmo se d para o Seminrio Santo
Antonio onde, por exemplo, o corrimo da escadaria do saguo do Salo Nobre
muito menos exagerado, quando comparado aos corrimos da Escola Prtica de
Agricultura de Pirassununga (FIGURA 136). De maneira geral, a ornamentao dos
146
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Brunetta, Mario. (2000). Criao de Uma Parquia no Sculo XXI. Agudos-SP: Grfica Agudos.
148
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150
a uma perda do domnio da tcnica do estncil e outras tcnicas de pintura das paredes.
Assim, quando as pinturas passaram a precisar de manuteno, pela ao do tempo,
tornou-se mais fcil e mais barato recobrir a igreja com uma pintura simples, que
encontrar mo-de-obra que soubesse recuper-la por preo acessvel15.
Provavelmente na mesma poca em que se pretendeu encobrir as pinturas, fez-se
a troca do piso original, que atualmente constitudo por pedaos irregulares de granito.
Muita madeira foi utilizada nos bancos, nas portas e no forro. Todas as janelas possuem
vitrais coloridos. Em 1940,
Esse altar tambm uma obra neocolonial, pois as propores nele utilizadas
so exageradas: possui um grande fronto curvo com coruchus nas laterais, um grande
nicho central com arco curvo, onde est a imagem da santa e, apesar de suas linhas
predominantemente retas, a profuso de detalhes, tpica da arquitetura barroca,
representada por pinturas douradas nas pilastras, formando uma linha de motivos
curvilneos (FIGURA 150). No coro, dois rgos completam a decorao.
Aqui, vamos citar tambm o Cemitrio dos Passos, de Guaratinguet que,
conquanto no seja uma igreja, tambm um espao arquitetnico de cunho
institucional e religioso. Existente desde o final do sculo XIX, faz parte da Irmandade
do Nosso Senhor dos Passos, que detm o patrimnio do cemitrio e do hospital. A
licena para a construo do cemitrio data de 12 de Setembro de 19855 (Livro de
Tombo da Igreja Matriz de Guaratinguet, folha 157); a licena para construo de uma
capela, no cemitrio, foi concedida em 18 de Agosto de 186516. No temos informaes
sobre a primeira capela, mas uma nova capela foi construda na dcada de 1990,
15
Colaboraram para que pudssemos verificar essas possibilidades os colegas Valria Garcia e Mateus
Rosada, cujas pesquisas so referentes arquitetura e s igrejas paulistas.
16
Informao tirada de um documento disponvel no arquivo do Museu Frei Galvo, em Guaratinguet.
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fachada anterior que j era uma reproduo das linhas da velha e demolida Igreja
Matriz na Praa da Repblica, (...) em estilo jesuta ou barroco (FRANCO, [197-?],
p.84). de interesse notar que, apesar de toda a inteno de evocar o passado, o que foi
conseguido atravs da aplicao de uma linguagem, na nova fachada, que est
claramente baseada no s na fachada anterior, mas tambm numa igreja mais antiga e
j demolida, a idia de modernidade que acompanhou a produo neocolonial est
presente tambm na reforma da Igreja do Rosrio, na qual foi preciso realizar
adaptao aos processos modernos da arquitetura, [e ao mesmo tempo] mantm as
linhas gerais de outros tempos (FRANCO, [197-?], p.84). Uma torre baixa, de base
quadrada, continuou ocupando a esquina, e tal qual a anterior, possuindo entrada
independente, uma seqncia de aberturas na vertical e uma cpula arrematada por um
cruzeiro; os cunhais so igualmente marcados e encimados por coruchus. A fachada
principal possui atualmente um fronto curvo tripartido, com cimalha e cruzeiro ao
centro; uma grande janela em curvas sobre trs outras janelas, tambm de linhas curvas,
semelhana das antigas de arco abatido; o portal ficou mais imponente, com cimalha e
uma crtula de rolos ao gosto barroco. As propores da fachada se mantiveram e,
portanto, a reforma no causou grande impacto. A lateral da igreja ganhou uma longa
seqncia de janelas de linhas curvas, como as da fachada, seguindo, talvez, as
aberturas anteriormente existentes (FIGURA 159). Foi decorada internamente por
algumas pinturas e adornos, mas o destaque maior est no retbulo, de granito, linhas
pouco rebuscadas e volutas, e no forro, que ganhou um trabalho minucioso de frisos
enquadadros que se unem em rosetas decoradas com pintura (FRANCO, [197-?],
p.84) (FIGURA 160). Podemos dizer que a Igreja do Rosrio foi mais um exemplar
colonial que, durante as primeiras dcadas do sculo XX, foi transformado em
neocolonial, por fora da necessidade de servios de manuteno e das idias ento em
voga, postas a circular pela movimentao iniciada por Severo.
Outro exemplar da arquitetura religiosa de Santos o Santurio de Santo
Antonio do Valongo merece, aqui, uma pequena considerao (FIGURA 161).
semelhana do exemplar anterior, foi construdo no sculo XVII e passou por algumas
modificaes, como a demolio do convento anexo. No interior da igreja do santurio
encontramos retbulos, altares e diversos outros adornos barrocos, e grandes painis de
azulejo nas paredes laterais do altar, que datam de 1940 e so de autoria do pintor
portugus Cndido da Silva Jnior (FIGURA 162). Esse detalhe mostra que era
155
As informaes constam no verso de uma foto da reforma tirada em 1944 e localizada no Museu da
Imagem e do Som de Taubat.
156
abatidos, em substituio aos antigos arcos ogivais. Aos telhados da catedral foram
aplicados pequenos beirais, com telhas capa e canal (FIGURA 164). O interior da
catedral foi abundantemente decorado com muitos elementos e caractersticas que
evocam as igrejas barrocas. O retbulo, que vai do forro ao piso, exibe grandes msulas
curvas, sobre as quais pousam colunas decoradas; frontes interrompidos e volutas
arrematam a pea, no centro da qual est a imagem de So Francisco das Chagas. Nas
paredes laterais, janelas com vitrais coloridos, pinturas de cenas e frisos com motivos de
conchas; revestimento e bancos de madeira. Os arcos laterais que do para as capelas, e
os falsos arcos adjacentes, possuem molduras com volutas douradas, flores centrais e
cimalha; o coro possui guarda-corpo com balaustrada e dois rgos. Todas as molduras
e frisos so realados por pintura dourada (FIGURA 165).
De modo geral, o que se verificou, com a pesquisa desses exemplares
neocoloniais religiosos localizados em cidades do interior paulista que representam
uma pequena parcela do universo existente , que, por um lado, buscaram inspirao
em sua prpria tradio construtiva religiosa e colonial, que tem origens no sculo XVI
e que, portanto, no se trata apenas de referncias barrocas, mas tambm da cultura
arquitetnica de um perodo anterior, que coincidia com o chamado Maneirismo. Por
outro, tambm retomou a referncia barroca, pois esta parte da tradio arquitetnica
religiosa, mas est muito ligada s referncias do movimento neocolonial. Por serem
edificaes de impacto considervel, na paisagem das cidades, e no imaginrio da
populao, por seu significado, acreditamos terem colaborado na difuso de estilemas e
caractersticas neocoloniais pelo interior do Estado de So Paulo.
Edifcios Assistenciais
Mostramos, anteriormente, o projeto de Ricardo Severo para o hospital da
Beneficncia Portuguesa de Santos, mas sabido que ele tambm realizou projetos para
outros hospitais da mesma instituio, nas cidades de Campinas e de Bauru. Queremos,
aqui, destacar a presena da atuao do engenheiro em cidades do interior paulista, e
chamar a ateno para o significado dessas obras, especialmente a de Bauru, cidade
distante da capital. So obras de autoria erudita, elaboradas pelo principal representante
do movimento neocolonial no Estado de So Paulo e que, por isso, no correspondem,
propriamente, a uma difuso da arquitetura fruto da campanha. So, antes, exemplares
157
da vertente elitista, lembrando Lemos (1985) uma vez mais, localizadas fora dos
centros onde o movimento teve seu incio e onde, tradicionalmente, se considera que
estejam as obras mais expressivas a ele referentes. Devido ao porte e novidade que
representou a linguagem arquitetnica empregada em tais obras, nos anos em que foram
construdas, acreditamos que colaboraram na difuso da arquitetura neocolonial nas
regies onde foram implantadas.
O Hospital da Beneficncia Portuguesa de Bauru (1928), e a Maternidade Gota
de Leite, de Araraquara, so exemplos de duas edificaes de autoria erudita, de
tendncia neocolonial, situadas em cidades distantes daquela onde emergiu o
movimento. Segundo Ghirardello (1992, 149), o Hospital da Beneficncia Portuguesa
teve sua pedra fundamental lanada em 1925 e foi projetado por Ricardo Severo, de
acordo com as recomendaes tradicionais construtivas que ele prprio divulgava:
telhados com beirais, fronto curvo, janelas com molduras decorativas, balaustradas e
guarda-corpos empregando meias-luas sobrepostas, esto entre os estilemas encontrados
nessa edificao e, tambm, em muitas outras posteriores a elas. Ghirardello (1992,
p.152) afirma ainda que esta obra se constituir em marco para a cidade, incio de
uma srie de construes dentro das caractersticas do estilo, construdas
principalmente por imigrantes portugueses (FIGURA 166 e 284). A Maternidade Gota
de Leite, de Araraquara, foi uma instituio instalada com a ajuda do poltico
araraquarense Bento de Abreu. No pudemos precisar a data em que a maternidade foi
projetada e construda, nem confirmar sua autoria que atribuda ao engenheiroarquiteto Jos Maria da Silva Neves pois o processo de aprovao dessa obra, que
constava do acervo do Arquivo Municipal da cidade, est desaparecido. Beirais, janelas
de arco abatido, guarda-corpos com meias-luas, tambm fazem parte das caractersticas
desse prdio situado Rua Carlos Gomes, 1610 (FIGURA 167).
Encontramos, ainda, em duas cidades nas quais foram instaladas Escolas
Prticas de Agricultura, hospitais de tendncia neocolonial, que so o Hospital da
Irmandade Santa Casa de Misericrdia, de Itapetininga, e o Hospital e Maternidade Frei
Galvo, de Guaratinguet. Sobre o primeiro, somente temos o levantamento fotogrfico,
que nos permitiu observar caractersticas de sua arquitetura, como o tpico fronto curvo
com volutas e coruchus nas laterais, a simetria e os beirais (FIGURA 168). O Hospital
e Maternidade Frei Galvo foi idealizado em 1940, quando recebeu um terreno, onde se
ergueriam suas futuras instalaes, do Sr. Acelino Jos de Castro; em 1942 tinha 20
158
leitos ocupados19. Podemos observar, no prdio do Hospital Frei Galvo, atravs de uma
foto do Arquivo Municipal, que a entrada principal se d por um pequeno prtico de
arcos plenos, sobre o qual est um fronto triangular com volutas, decorado com telhas
capa e canal e com uma janela falsa quadrilobada (FIGURA 169). So dois exemplares
de linhas simplificadas, mas indicativos da difuso da tendncia neocolonial no interior
paulista. A sua arquitetura pode no ser, necessariamente, fruto da presena das Escolas
Prticas de Agricultura e, justamente por isso, o assunto dos hospitais construdos no
interior paulista nas dcadas de 1930 e 1940 demanda pesquisas mais aprofundadas.
A histria do Orfanato Santa Vernica, de Taubat, tem origem em 1919,
quando foi instalado num prdio provisrio e foi muito pobre em seu incio, como
geralmente so todas as obras do esprito Franciscano (LBUM..., 1945, p.83). Logo
recebeu, em doao, pela Ordem III de So Francisco, um terreno anexo, onde seriam
construdas novas instalaes. Em 1927 foi inaugurada a capela do orfanato, cuja
arquitetura segue linhas eclticas (FIGURA 170); em 1937, um novo pavilho; e, em
1940, o pavilho chamado Patronato Cardoso Ribeiro, pois foi mandado construir pela
Exma. Sra. D. Eponina Cardoso, cumprindo o caritativo e nobre desejo do saudoso Dr.
Cardoso Ribeiro, cujo nome legou ao prdio (LBUM..., 1945, p.83). Este, sim,
segundo a tendncia neocolonial (FIGURAS 171). Prdio simples, com beirais nas alas
laterais e fileiras de janelas retas, e entrada principal marcada por um fronto curvo
tripartido com volutas, trs janelas, guilhotina de arco abatido e molduras decoradas
com volutas e um portal simples, tambm, decorado com volutas, tendo, a cada lado,
uma janela de forma quadrilobada. Esse corpo saliente de entrada tem os cunhais
marcados e encimados por coruchus. Trata-se de um exemplar neocolonial simples,
mas com que se repetem vrios dos estilemas encontrados em outros, j citados.
Consideramos que seja uma difuso simplificada da tendncia, porm de autoria erudita,
uma vez que a obra foi realizada pela Companhia Predial de Taubat, segundo consta
em seu relatrio de contas, de 1941.
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161
bastante comum, nos prdios de inspirao misses. A base do prdio, bem como o
muro que circunda o terreno da creche, revestido com pedras de formato irregular
(FIGURA 177). Junto a um dos lados do muro, possui uma grande fonte de trs quedas
e o tpico painel de azulejos azul e branco (FIGURA 178). Como exemplar construdo
no incio da dcada de 1950, podemos dizer que uma manifestao tardia.
162
foram acrescentados arcos plenos, incluindo o acesso interno para a piscina, que
anteriormente possua trs aberturas retas, sem nenhum adorno. Esse acesso interno
ganhou um grande arco pleno principal e, em cada lado, uma porta de arco pleno. As
paredes externas do edifcio foram revestidas por uma massa rstica, as bases foram
decoradas por pedras irregulares assim como as fachadas que receberam pedras
esparsas como ornamentao , as paredes laterais aos arcos foram alargadas junto ao
piso e os telhados ganharam beirais com cachorros aparentes. Observamos tambm,
algumas janelas redondas e algumas volutas (FIGURAS 181). No interior, os arcos
tambm foram realizados nas aberturas, e ainda permanecem mveis de linhas curvas
em madeira (FIGURA 182). Cercando as dependncias da piscina, um muro baixo,
revestido de pedras, e escadas de acesso com corrimo de grandes dimenses, com
volutas (FIGURA 183). Observamos que, novamente, o prdio est em obras para se
adaptar a um novo uso, mas, felizmente, as intenes da Prefeitura Municipal so no
sentido de preservar suas caractersticas:
163
21
164
22
Em 1949, Adhemar de Barros elabora o contrato para construo do aeroporto que comea a ser
construdo no mesmo ano. Disponvel em: http://www.adhemar.debarros.nom.br/obras.htm Acesso em:
23/04/2008.
165
166
167
168
inteno plstica, e sua produo estaria, com toda justia, inserida dentro daquilo que
chamamos de arquitetura, como assegurou Lemos (1985, p.169) sobre a arquitetura
neocolonial difundia na cidade de So Paulo.
Devemos considerar que, tambm no interior paulista, a questo da difuso, por
gosto ou por moda, esteve associada influncia da classe dominante sobre as outras,
como j apontaram Lemos (1985) e DAlembert (2003). Assim,
se por razes financeiras esta[s] classe[s] no podia[m] construir da mesma
forma, pelo menos procurava[m] exibir algum elemento de referncia da
arquitetura erudita [ou elitista] nas fachadas de suas moradias, que
simbolizasse
status
almejado
personalizasse
edificao
169
170
171
Companhias Construtoras
Mais um meio, atravs do qual a linguagem neocolonial se propagou, alm
daquele representado pelas obras oficiais e institucionais, pelas revistas e por outros
meios de comunicao, foi a atuao de companhias construtoras. Essas, a exemplo de
alguns engenheiros e arquitetos, trabalharam ao mesmo tempo com vrias tendncias
arquitetnicas, inclusive com a modernista. Em 23 de Agosto de 1931, segundo
Andrade (1998, p.5) foi fundada pelo engenheiro Urbano Alves de Souza Pereira (18871955) e seu cunhado Jos Haroldo de Mattos (1905-1997) e, segundo Ricci (2002, p.2),
por acionistas da Companhia Taubat Industrial, a Companhia Predial de Taubat, que
atuou at fins da dcada de 1960. Foi uma das mais importantes empresas da cidade
naquele perodo, tendo construdo entre 1932 e 1941
cerca de 400 prdios e reformou 50, sendo: 58 casas de alto padro nas
cidades de Taubat, Pindamonhangaba, Trememb e Caapava; prdios
comerciais, de escritrios e de apartamentos; cinema; escola; clube; asilo;
hospital, entre outros (RICCI, 2002, p.2).
172
Eclticas com recuos e com esttica que evoca os chalets. As edificaes eclticas alinhadas calada j
no aparecem entre as obras da Companhia Predial de Taubat.
5
Dados retirados das pranchas 23 e 24, de 1947, livro 16, cujo projeto de responsabilidade do
construtor Jos Arduno. Arquivo Municipal de Ja.
173
Vilas Operrias
Nosso interesse na arquitetura neocolonial, como j tivemos a oportunidade de
mencionar, deu-se pela presena de um ncleo fabril rural em Araraquara, relacionado
ao nosso objeto de pesquisa de mestrado, cujas instalaes foram realizadas de acordo
com essa tendncia arquitetnica. Assim, j alertados para a possibilidade de existncia
de outros ncleos similares, procuramos identific-los nas cidades em que
desenvolvemos nossa pesquisa. Em Taubat, encontramos a Companhia Fabril de Juta
que, segundo Ricci (2002, p.2) foi fundada em 1927, tendo sido suas instalaes
ampliadas em 1931, 1933 e 1943. Em 1941, instalou sees de tecelagem em Caapava,
Pindamonhangaba e Trememb. Estima-se que a unidade de Taubat chegou a abrigar
dois mil funcionrios; passou por uma ampliao, entre os anos de 1943 e 1944, quando
foram construdas mais 258 casas, alm das j existentes (RICCI, 2002, p.2). A primeira
vila teria sido construda nas imediaes da fbrica, enquanto a segunda foi implantada
aproximadamente a um quilmetro de distncia, ambas nas imediaes da cidade
(RICCI, 2002, p.4). O que verificamos atravs do lbum... (1945), que, alm das
casas, a vila operria, construda na dcada de 1940, contava com uma estrutura que
inclua escola, parque infantil e cinema e, atualmente, o bairro denominado Vila So
Geraldo. Tanto as escolas como o cinema exibem frontes curvos, arcos, coruchus e
telhas capa e canal, no telhado e nas decoraes (FIGURA 198 e 199). O cinema,
chamado Cine Boa Vista, tinha capacidade para at mil pessoas e funcionou at a
dcada de 19606. As casas so construdas em blocos nicos, geminadas umas s outras,
com a gua do telhado voltada para a rua; as aberturas so de vergas retas e os
principais adornos so os dois frontes curvos com coruchus nas fachadas principais;
possui cada casa, pequenos jardins de entrada, separados dos vizinhos por um muro
baixo e curvo e, da rua, por um muro constitudo por elementos vazados (tijolos
alternados) (FIGURA 200). No geral, os estilemas que nos permitem caracterizar a vila
como neocolonial so simples e escassos, mas ainda assim mostram certa preocupao
da empresa em oferecer aos seus operrios mais que o mnimo. Ainda que parco,
ofereceu um sentido de esttica que, devido s circunstncias da poca, foi de tendncia
neocolonial.
174
Edificaes Comerciais
Na esfera das obras particulares, a linguagem neocolonial parece ter sido
utilizada, preferencialmente, para prdios residenciais, enquanto a art dco destinou-se
aos comerciais ou industriais. Esse processo faz parte da descrio de Segawa (1997,
p.72), segundo a qual
na segunda metade dos anos de 1930, as arquiteturas cbicas e art dco
disseminavam-se entre os profissionais de vrias regies do Brasil. Em (...)
revistas surgidas nessa poca (...) havia uma convivncia pacfica entre
circunspectas obras tradicionalistas, exticas casas neocoloniais e
geomtricas construes modernizantes em suas eclticas pginas, com leve
predominncia das linhas modernas ampliando-se esse domnio ano a
ano, mais nos programas de mbito coletivo (...) e menos nas obras
residenciais.
176
177
possui uma pequena casa em anexo. O projeto tambm de autoria de Augusto Schmidt
Filho e data de setembro de 1939; o processo foi cancelado em janeiro de 1940, pois a
edificao no foi construda (FIGURA 211).
Alm dos postos de gasolina, existiram outros prdios de estabelecimentos
comerciais ou industriais de tendncia neocolonial, embora tenham ocorrido em menor
nmero que os de tendncia art dco, segundo a amostragem que analisamos. Podemos
tomar como exemplo um projeto para uma fbrica de mveis e duas residncias para o
senhor Aldemar Pcollo, que data de 1948, construdas Rua Marechal Deodoro, em
So Carlos. O projeto de autoria do engenheiro civil Djalma Ferraz Kehl e, tanto na
fachada das casas como na da fbrica, podemos ver estilemas que caracterizam a
tendncia neocolonial, como frontes e telhados com beirais e telha rabo de andorinha.
O aspecto geral simples e despojado de excesso de adornos (FIGURA 212 e 213).
Edificaes Residenciais
Acreditamos que tenha sido no universo da produo arquitetnica residencial
que a difuso da tendncia neocolonial apresentou as mais variadas combinaes de
caractersticas e estilemas, incluindo-se a, traos inventados. Foi tambm nesse
universo que apresentou vrias gradaes, desde as mais rebuscadas s mais
simplificadas. Essas formas de expresso foram sistematizadas por DAlambert (2003),
para o mesmo tipo de manifestao arquitetnica na cidade de So Paulo, ao que a
autora chamou maneirismo paulistano. A seguir, apresentamos um pouco dessa
variedade, encontrada nos processos de aprovao de obras dos arquivos municipais e
registrada em fotografias de uma srie dessas habitaes.
Antes, contudo, devemos nos deter na discusso sobre certos aspectos de alguns
exemplares, pelo que significam no mbito de nossa anlise. Durante a pesquisa, nos
deparamos com alguns casos comprovados de influncia da arquitetura neocolonial da
capital sobre a do interior, e de um profissional, vindo dos grandes centros urbanos,
sobre outro, atuante fora deles. Um desses casos representado pela residncia da
senhora Nara Herfer, construda na cidade de Catanduva, Rua Aracaj, esquina com a
Rua Cear, em 1946, pelo construtor Elias Nechar. Em entrevista com a senhora Nara,
ela nos informou que a casa teve por modelo uma casa mexicana existente na Lapa,
179
em So Paulo, segundo contava seu pai (Informao verbal)8. De fato, a casa possui
estilemas prprios dessa vertente mexicana ou misses, como o telhado movimentado
com telhas capa e canal e beirais com cachorros recortados e, principalmente no
interior, o forro de madeira rusticada, lembrando dormentes, madeira torneada fazendo
o corrimo da escada e a decorao das portas de arco pleno, que lembram lemes.
Porm, sua volumetria cbica, movimentada e assobradada, com janelas de vergas retas,
evoca antes a vertente portuguesa do movimento neocolonial, ligada a Ricardo Severo
ou Victor Dubugras (FIGURAS 214). A senhora Nara nos contou tambm que, depois
de pronta, a sua casa serviu de inspirao para outra residncia na cidade, edificada pelo
mesmo construtor. Trata-se tambm de um sobrado, mas erguido num terreno mais
estreito, o que no permitiu movimentao volumtrica. Os demais estilemas, por outro
lado, so muito semelhantes, como no emprego das pedras para revestimento da
fachada, cunhais e pilares, na utilizao de aberturas de vergas retas e molduras
decorativas com mesmo motivo (FIGURA 215). Este caso retrata como uma influncia
vinda da capital proliferou no interior, e como um exemplar popular ou seja,
construdo por um profissional no diplomado no contexto da cidade, tornou-se uma
obra emblemtica, referencial para outras. Ou seja, foi uma cadeia de influncias.
Na cidade de So Carlos encontramos mais dois, desses casos de influncia, um
exercido pela arquitetura como no caso da casa da senhora Nara e outro, por um
profissional sobre outro. A residncia do senhor Geraldo Paolillo foi construda na Vila
Nery, Rua So Sebastio, esquina com Rua Rodrigues Cajado, tal e qual uma casa que
havia em So Paulo, como ele nos afirmou (Informao verbal)9. Esse um exemplar
tpico da vertente misses, com torre circular com telhado cnico, arcos plenos na
varanda frontal com decorao de pedras esparsas na moldura, e parede lateral alargada
na base, conforme mostra o projeto original. Atualmente, seu aspecto est alterado,
talvez devido a uma reforma que eliminou a torre circular e edificou, em seu lugar, um
novo ambiente de planta retangular. Alguns ambientes internos tambm foram
ampliados, mas sem prejuzo de seu aspecto exterior (FIGURA 216 e 217). Trata-se de
outro caso de exemplar popular de mdio padro, e inspirado num exemplar situado na
capital, mas munido de um conjunto de caractersticas que o tornam emblemtico. O
segundo caso mostra a presena do arquiteto ngelo Murgel em So Carlos, atravs da
8
Informaes gentilmente concedidas em conversa pela senhora Nara, no dia 11/04/2007, em sua casa
em Catanduva.
9
Visita realizada a residncia do senhor Geraldo Paolillo em outubro de 2004.
180
autoria de uma obra, e sua influncia sobre o engenheiro Djalma Ferraz Kehl, autor de
diversas obras na cidade. De acordo com Bortolucci (1991, p.169), Djalma Ferraz Kehl
Foi casado com Diva Murgel, possivelmente irm de ngelo Murgel. Em 1944,
Djalma Ferraz Kehl foi o engenheiro responsvel pela construo de sua prpria casa,
situada Rua So Sebastio, segundo projeto do arquiteto ngelo Murgel. Esse
exemplar assobradado, de volumetria cbica, telhado movimentado, telhas de barro
typo colonial10, revestimento de pedras nas paredes externas e janelas de vergas retas,
parece inspirado na vertente neocolonial de matriz portuguesa ou de referncia na
produo de Victor Dubugras. Por outro lado, os beirais generosos, com cachorros
aparentes de madeira, decoraes com elementos de madeira torneada, e janelas
tripartidas de arco pleno, evocam a vertente misses (FIGURA 218 e 219). um
exemplar erudito e emblemtico, no contexto da cidade, que exerceu influncia atravs
da atuao de Djalma Ferraz Kehl. Essa influncia se evidencia na fbrica de mveis, j
citada, e em outros projetos, como no da residncia para Alberto Martins, Rua
Marechal Deodoro, de 1944 (FIGURA 220); na reforma da residncia de Jorge
Angelino, Rua D. Pedro II, de 1946, que acrescentou beirais na fachada com recuo,
uma proteo de entrada com arco e telhado de telhas capa e canal e telhas sobre as
janelas da fachada com platibanda alinhada Rua (FIGURA 221); no da residncia para
Vicente Gagliardi, Rua XV de Novembro, de 1946, que quase uma miniatura da sua
prpria casa (FIGURA 222); no da residncia para Samuel de Oliveira, Rua 9 de
Julho, tambm de 1946, que j exibe muitos estilemas da vertente misses, como o arco
de entrada com aplicao de pedras esparsas na moldura, vrios arcos plenos e vrias
colunas salomnicas (FIGURA 223); e no da residncia de Luiz Valentie de Oliveira,
tambm Rua 9 de Julho, e tambm de 1946, sobrado de arcabouo e estilemas muito
semelhantes sua casa e ao seu projeto anteriormente citado (FIGURA 224).
10
181
182
construdas Rua 7, em Rio Claro, em 1941. So trs sobrados de mdio padro, com
pequenas diferenas nas fachadas, como na decorao e nos arcos (FIGURA 229).
183
184
CONSIDERAES FINAIS
185
so os casos onde foram construdas edificaes mais recentes como parte do conjunto
neocolonial original, segundo uma arquitetura inspirada naquela existente em seu
entorno. Prescindimos aqui de debater se seriam casos de pastiche, cpia etc., pois nos
interessou antes perceber como o conceito de originalidade pode ser relativo.
Entendemos ainda que, especialmente, nas esferas oficial e institucional, e em
alguns exemplares da esfera privada, existiu um contedo ideolgico que, se no era
exatamente o mesmo que existiu no caso das obras pioneiras, foi baseado nele e
reformulado segundo determinados interesses. Por outro lado, confirmamos que a
ideologia neocolonial no atingiu a esfera da difuso generalizada por diversas razes.
Dificuldades, por parte dos profissionais, em acompanhar os debates que se
desenrolavam na capital paulista e carioca devido distncia; exigncias do mercado
imobilirio, como escassez de materiais exigidos na prtica do ecletismo, anseio da
sociedade por modernidade, anseio das camadas menos favorecidas da sociedade em
aderir aos modelos das mais favorecidas, circulao de informaes facilitada; e, a fcil
aceitao da linguagem neocolonial, foram motivos suficientes para impulsionar a
difuso da tendncia por mais de trs dcadas no interior paulista, chegando a meados
de 1950, prescindindo da retaguarda das idias iniciais.
Especificamente sobre a arquitetura religiosa neocolonial podemos dizer que a
referncia no foi apenas a arquitetura barroca, mas uma arquitetura colonial anterior.
Tendo chegado ao Brasil muito cedo, j no incio do sculo XVI com o descobrimento,
cedo tambm as ordens religiosas jesutica, franciscana e outras comearam a
construir uma arquitetura especfica. Via de regra, assumimos que a arquitetura
colonial, na qual o movimento de Ricardo Severo procurou se pautar foi a barroca ou a
arquitetura civil annima. Contudo, como sabemos, o perodo colonial foi longo e a
produo arquitetnica durante esse perodo tambm passou por adaptaes e
transformaes. Consider-la com um todo homogneo um equvoco, inclusive pelas
especificidades regionais que apresenta. Como exemplo, podemos tomar a arquitetura
religiosa que, em seus exemplares do sculo XVI e XVII primeiros mosteiros,
conventos e redues jesuticas , foram construdos ainda segundo alguns parmetros
maneiristas, s vezes, expressando uma transio para a arquitetura barroca. Assim, essa
arquitetura tambm serviu de inspirao para edifcios religiosos construdos no sculo
XX, cuja herana pode ser percebida em alguns traos como os que identificamos nos
prdios dos seminrios e igrejas neocoloniais analisados.
186
187
devida somente aos profissionais sem diploma e pudemos distinguir qual foi a
contribuio dos diferentes profissionais envolvidos.
Agora, no momento final desta pesquisa, quando olhamos para sua trajetria,
nos damos conta de que o nosso objeto se expandiu muito ampla e deixou margem para
futuros estudos. A principal continuidade seria o aprofundamento das anlises dos
prdios, do ponto de vista da arquitetura, pois diante de tantas obras por ns levantadas,
nos foi impossvel realizar tambm estudos mais pontuais e detalhados. Outro exemplo
de continuidade seria uma pesquisa especfica sobre a produo realizada pela Diretoria
de Obras Pblicas de So Paulo durante 1930 e 1950 pode trazer luz importantes obras
neocoloniais instaladas no interior paulista. Pesquisas sobre a produo de companhias
construtoras que aturam no mbito de determinadas regies paulistas tambm podem ser
relevantes. Instituies assistenciais, clubes ou postos de gasolina neocoloniais
igualmente merecem ateno mais detalhada. Mesmo sobre a arquitetura neocolonial
residencial do interior ainda h muito a ser estudado, inclusive abordando o aspecto do
alcance que a difuso alcanou, pois temos notcias de vrias outras cidades, que no
fizeram parte dessa pesquisa, em que a produo neocolonial est presente. Assim,
apesar de nossa extensa varredura e dos vrios campos abertos para pesquisa,
certamente, ainda existe muito a ser explorado sobre o tema e na regio do interior
paulista.
Finalmente, queremos manifestar nossa motivao pelo tema da pesquisa que,
assim como o prprio objeto da mesma, foi fruto dessa nostalgia inerente pelo passado,
por uma explicao para o que somos, por uma busca pelo incio do fio do novelo...
Talvez tenha sido esse mesmo sentimento o que promoveu a grande adeso pela esttica
neocolonial, mostrada nessa pesquisa. O gosto pelo beiral, pelo arco, pela telha capa e
canal, pelo azulejo e pela curva, de alguma forma, responderam s vozes emanadas dos
tempos coloniais e que ecoam na bagagem cultural do paulista talvez, tambm, na do
brasileiro e mesmo na do latino-americano. No raro encontrarmos venda portas e
janelas coloniais ou nos depararmos com uma casa de estilo colonial, a nos mostrar
que a identidade sempre ser questo presente na arquitetura. Por isso, tempo de
direcionar esforos no sentido de conhecer melhor a arquitetura neocolonial e encar-la
como patrimnio merecedor de salvaguarda. Antes que se transforme num passado sem
testemunhos. Antes que as vozes se calem...
188
So Carlos
2008
M395d
SUMRIO
Volume 1
INTRODUO
................................................................................................................................. i
1.1.
1.2.
............................. 1
23
24
27
36
38
41
2.1.
2.2.
2.3.
2.4.
43
49
52
56
76
87
3.1.
3.2.
3.3.
3.4.
3.5.
4.1.
4.2.
4.3.
5.1.
5.2.
CONSIDERAES FINAIS
129
133
135
148
157
160
162
167
172
174
176
179
................................................................................................................ 185
Volume 2
CAPULO 1 - IMAGENS ....................................................................................................................
195
215
259
355
TABELA 1 -
TABELA 2
..................................................................................................................................... 457
- .................................................................................................................................... 483
REFERNCIAS .................................................................................................................................
486
Captulo 1
ASCENDNCIA DO MOVIMENTO
TRADICONALISTA NO BRASIL
Imagens
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CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
IMAGENS
197
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CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
199
IMAGENS
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CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
IMAGENS
CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
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IMAGENS
CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
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IMAGENS
CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
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IMAGENS
CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
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CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
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IMAGENS
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CAPTULO 1
- ASCENDNCIA
IMAGENS
213
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Captulo 2
UM PARALELO: DIFUSO EM PORTUGAL
Imagens
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CAPTULO 2
U M PA R A L E L O : D I F U S O E M P O R T U G A L
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CAPTULO 2
U M PA R A L E L O : D I F U S O E M P O R T U G A L
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CAPTULO 2
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CAPTULO 2
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CAPTULO 2
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CAPTULO 2
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CAPTULO 2
U M PA R A L E L O : D I F U S O E M P O R T U G A L
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CAPTULO 2
U M PA R A L E L O : D I F U S O E M P O R T U G A L
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CAPTULO 2
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CAPTULO 2
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CAPTULO 2
U M PA R A L E L O : D I F U S O E M P O R T U G A L
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CAPTULO 2
U M PA R A L E L O : D I F U S O E M P O R T U G A L
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IMAGENS
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Captulo 4
ARQUITETURA NEOCOLONIAL PAULISTA:
IMAGEM OFICIAL
Imagens
260
CAPTULO 4
261
Figura 46 (pginas 262 e 263) Vista do prdio principal da Escola Nacional de Agronomia, atual
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Fonte:
Rumbelapager (2005).
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CAPTULO 4
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CAPTULO 4
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CAPTULO 4
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CAPTULO 4
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CAPTULO 4
Figura 74 (acima) Prdios prximos ao prdio principal da Escola Prtica de Agricultura Gustavo
Capanema, atualmente utilizados como presdio.
Vemos tambm a placa comemorativa de lanamento
da pedra fundamental (19/4/1942) Fonte: fotos da
autora, abril de 2007.
CAPTULO 4
300
CAPTULO 4
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CAPTULO 4
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351
352
CAPTULO 4
353
Captulo 5
APROPRIAO, RECRIAO E DIFUSO DA
ARQUITETURA NEOCOLONIAL PAULISTA
Imagens
356
CAPTULO 5
357
CAPTULO 5
359
360
CAPTULO 5
361
362
CAPTULO 5
363
364
CAPTULO 5
365
366
CAPTULO 5
367
368
CAPTULO 5
370
CAPTULO 5
371
372
CAPTULO 5
373
CAPTULO 5
376
CAPTULO 5
377
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CAPTULO 5
380
CAPTULO 5
381
CAPTULO 5
384
CAPTULO 5
385
CAPTULO 5
387
CAPTULO 5
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CAPTULO 5
392
CAPTULO 5
393
CAPTULO 5
Figura 172 (acima) Prdio que abriga o Centro Cultural e Histrico de Itapetininga, localizado na Praa
Marechal Deodoro da Fonseca, direita, na esquina.
Vemos a volumetria simples, o telhado de quatro guas e
o fronto em destaque sobre a entrada principal.
Disponvel em: http://itapetiningasp.uniblog.com.br/.
Acesso em: 23/11/2007.
395
396
CAPTULO 5
397
398
CAPTULO 5
399
CAPTULO 5
401
402
CAPTULO 5
404
CAPTULO 5
CAPTULO 5
407
408
CAPTULO 5
410
CAPTULO 5
Figura 188 Projeto para a Estao e Passageiros do Aeroclube de Rio Claro, de 1948,
realizado pelo engenheiro Minton Silveira. O desenho assinado, mas est ilegvel.
Talvez se deva ao autor do desenho o aspecto neocolonial da construo. Fonte:
Arquivo Municipal de Rio Claro.
411
412
CAPTULO 5
413
414
CAPTULO 5
415
CAPTULO 5
418
CAPTULO 5
419
CAPTULO 5
421
422
CAPTULO 5
423
424
CAPTULO 5
425
426
CAPTULO 5
427
428
CAPTULO 5
430
CAPTULO 5
431
432
CAPTULO 5
433
CAPTULO 5
435
CAPTULO 5
437
438
CAPTULO 5
439
440
CAPTULO 5
441
442
CAPTULO 5
443
444
CAPTULO 5
445
446
CAPTULO 5
447
448
CAPTULO 5
449
CAPTULO 5
451
452
CAPTULO 5
454
CAPTULO 5
455
456
Tabela 1 - Processos de Aprovao de Obras por Data - Comparao natureza e padro da obra
Fizemos uma tabela geral por data do projeto para proporcionar uma visualizao por poca. Uma organizao por cidades seria talvez
menos til, visto que em algumas, os respectivos arquivos no guardavam processos de determinados anos, ou s guardavam processos a
partir de uma data, o que gerou um levantamento desigual em nmero e poderia levar a uma interpretao equivocada do tipo: quantidade
de processos igual a importncia da ocorrncia.
Conforme esclarecemos anteriormente, fizemos uma distino dos profissionais conforme fossem diplomados ou no, com a finalidade de
expor que parte da difuso simplificada da arquitetura neocolonial foi realizada por engenheiros e arquitetos que passaram por uma escola.
Consideramos tambm, nesse contexto, cabvel a existncia de profissionais autodidatas, a quem se atribui o ttulo de engenheiro ou
arquiteto, porm, no pudemos identific-los.
Para selecionar os projetos segundo o critrio padro alto, mdio ou baixo levamos em considerao as dimenses do terreno (terreno
inteiro ou meio terreno); a implantao (geminadas ou isoladas no lote); e, rea construda (dimenses do projeto; dimenses dos
ambientes; nmero de quartos; banheiro dentro ou fora da rea construda principal). O padro est associado classe social.
As indicaes referem-se ao nmero do processo de aprovao de projeto, por ano, nas respectivas Prefeituras Municipais e, por eles que
se localizam cada processo nos respectivos Arquivos Municipais. Indicamos o nmero da FIGURA dos processos que selecionamos para
apresentar ao final do texto.
457
1922
1928
1930
1931
1934
Cidade
Processo*
Endereo
Autor
Categoria
Profissional
Natureza da
Obra
Padro
Uso
Araraquara
Pasta 02
Escritrio
Sampaio &
Machado
Escritrio SP
Erudito
Alto
Internato
Araraquara
College
Pasta 02
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Pasta 03
Av. Feij, 4B
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Pasta 03
Av. Cristvo
Colombo, 48A
Baixo
Residencial
Jos A.
Kleindienst
Arquiteto
Erudito
Mdio
FIGURA 237
Comercial - Posto
para Lubrificao
de Automveis
Erudito
Mdio
FIGURA 238
Residencial
Erudito
Baixo
Residencial
Araraquara
Baixo
Residencial
Araraquara
Araraquara
Pasta 03
Engenheiro Civil
Arquiteto
Pasta 04
Jos A.
Kleindienst
Pasta 04
R. 9 de Julho, 6A
Celso Siqueira
Cabral
Araraquara
458
Engenheiro Civil
Construtor
No Erudito
Baixo
971
Bruno Giongo
Residencial
1099
Conde do Pinhal, 62
Rodolpho Fehr
Engenheiro Civil
Erudito
03
lvaro Botelho
Arquiteto - SP
Erudito
Alto
FIGURA 248
Residencial
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
So Carlos
Ja
1936
1935
Pasta 04
Araraquara
Construtor
Mdio
Residencial
Pasta 04
Av. D. Pedro II
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Pasta 04
R. Carlos Gomes,
117B
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial /
Consultrio
Ja
04
Luciano Terreri
Construtor
No Erudito
Residencial
Araraquara
Pasta 05
Av. Barroso, 48
Jos Barbugli
Engenheiro Civil
Eruditas
Baixo
FIGURA 233
Residencial
Pasta 05
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
459
R. Voluntrios da
Ptria, 111
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
Pasta 05
R. Padre Duarte, 19
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
Escritrio de
Construes A.
Schmidt Filho
Escritrio
Erudito
Mdio
Posto de Gasolina
Henrique
Cristofani
Desenhista
No Erudito
Baixo
Residencial
Erudito
Mdio
Residencial
1936
Pasta 05
212/37
1937
Rio Claro
167
180
Flvio
Santomauro
Construtores
Domingos
Barbugiam
Manuel A.
Carvalho
Construtor
Flvio
Santomauro
Construtor
Pasta 05
Av. 15 de Novembro,
entre ruas 9 e 10
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
FIGURA 239
Residencial
Pasta 05
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
FIGURA 235
Residencial
Araraquara
460
1938
Ja
02
Perino Rocha
Mattos
Engenheiro - SP
Erudito
Residencial
Araraquara
Pasta 06
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
352
Rua 3, 56A
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
399
Av. 9, 24
Milton Silveira
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
404
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Construtores
No Erudito
Mdio
Residencial
Rio Claro
418
1939
Araraquara
Ja
Mdio
Residencial
Flvio
Santomauro
Domingos
Barbugian
06
Av. Feij, 34
Jos A.
Kleindienst
Arquiteto
Erudito
Mdio
Residencial
01
Jos Arduno
Construtor
No erudito
Baixo
FIGURA 246
Residencial
D.O.P. - SP
rgo Oficial
Erudito
Escola
Profissional Joo
Ferraz Amaral
Mdio
Posto de Gasolina
10 e 11
15
Hernani do Val
Penteado
Arquiteto
461
1939
Rio Claro
175/39
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Posto de Gasolina
194/39
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
196/39
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
189/39
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
13/39
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
31/39
Construtores
No Erudito
Baixo
Residencial
Flvio
Santomauro
Joo Caly
81/39
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
109/39
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
159/39
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
462
1939
Av. Brasil, 27
Boaventura
Gravina
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
Pasta 06
R. Padre Duarte, 37
Celso Siqueira
Cabral
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
160/40
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Pasta 06
Escritrio - SP
Erudito
Alto
FIGURA 234
Residencial
Pasta 06
Av. Portugal, 37
Escritrio - SP
Erudito
Mdio
Residencial
Pasta 06
Boaventura
Gravina
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
3321
Camillo Domicci
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
3421
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
Residencial
Rodolpho Fehr
Arquiteto
858
R. Episcopal, 100
Erudito
Residencial
Baixo
Residencial
Araraquara
Rio Claro
Araraquara
1940
Pasta 06
So Carlos
Bruno Giongo
Construtor
1123
R. Paulino Carlos, em
Ibat
Djalma Ferraz
Kehl
Engenheiro Civil
Erudito
4376
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
4281
R. 7 de Setembro, 170
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
463
Baixo
Mdio
Residencial
Residencial
R. Riachuelo, entre R.
Geminiano de Arruda
e R. 13 de Maio
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
Residencial
1014
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
Residencial
01
Rua Quintino
Bocaiva
Jos Arduino
Construtor
No erudito
Mdio
FIGURA 247
Residencial
02
Jos Arduino
Construtor
No erudito
Banco comercial
do Estado de So
Paulo
07
Affonso Galindo
Construtor
No erudito
43/41
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Construtores
No Erudito
Baixo
Residencial
Construtores
No Erudito
Baixo
Residencial
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial /
Comercial
1940
3364
Ja
1941
Rio Claro
122/41
147/41
171/41
Rua 3, 278-290
(Vila dos Alemes)
Rua 2, 1491
Mdio
Residencial
Residencial
Flvio
Santomauro
Manuel Antnio
Carvalho
Flvio
Santomauro
Manuel Antnio
Carvalho
Flvio
Santomauro
464
173/41
Rua 5, 529
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
70/41
Rua 4, 776
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
71/41
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Construtores
No Erudito
Baixo
Residencial
1941
Flvio
Santomauro
104/41
Manuel Antnio
Carvalho
So Carlos
Rio Claro
1942
Av. 16 entre1 e 2
1664
R. Riachuelo, 20 com
R.Geminiano Costa,
41 e 43
Djalma Ferraz
Khel
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
1718
Av. So Carlos, 97
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Mdio
FIGURA 273
Residencial
1559
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Mdio
Residencial
18/42
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
23/42
Rua 6, 1125
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
61
Av. 9, 1072
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
87/42
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
465
109/42
Rua 4, 1908
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
106/42
Rua 9, 649/657
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Gustavo Stein
Construtor
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
Gustavo Stein
Construtor
111/42
1942
132/42
Rua 5, 738
Av. 2, 403
156/42
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
FIGURA 259
Residencial
161/42
Rua 1, 861
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
191/42
Rua 7, 1985
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
202/42
R. do Saibreiro, lote
1, 216
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
156/43
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
466
1942
So Carlos
2243
R. 7 de Setembro, 109
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
Residencial
2099
R. So Joaquim, 26 e
28
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
Residencial
3014
R. D. Pedro II com M.
J. Incio e 7 de set.
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
FIGURA 275
Residencial
Rodolpho Fehr
Arquiteto
1708
R. Major J. Incio,
s/n, entre R. Episcopal
e Av. So Carlos
Erudito
Mdio
Residencial
Bruno Giongo
Construtor
02
Rua Riachuelo
Jos Arduno
Construtor
No erudito
Mdio
Residencial
14
Affonso Galindo
Construtor
No erudito
Mdio
FIGURA 251
Residencial
10/43
Rua 2, 349
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
16/43
Av. 3, 532
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
22/43
Rua 6, 1353
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
46/43
Rua 3, 553
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
FIGURA 254
Residencial
95/43
Rua 3, 568
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
Ja
1943
Rio Claro
467
1943
116/43
128/43
So Carlos
1944
Ja
Rio Claro
Rua 3, 40 e 52
Av. 7, 783
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Gustavo Stein
Construtor
Erudito
Mdio
Residencial
Erudito
Mdio
FIGURA 258
Residencial
1365
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
12
Affonso Galindo
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
14
Rua Marechal
Bittencourt, esquina
com Rua Paissandu
Affonso Galindo
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
18
Luciano Terreri
Construtor
No erudito
Residencial
11/44
Av. 3, 671
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
21/44
Rua 3, 610/618
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
22/44
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
FIGURA 253
Residencial
71/44
Rua 4, 2030
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
FIGURA 256
Residencial
77/44
Rua 7, 2023
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
468
78/44
91/44
Av. 3, 421
R. So Paulo, sn
915
R. Episcopal, 162
1944
1523
1823
R. 7 de Setembro, 120
So Carlos
1331
R. So Sebastio, 87
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Construtores
No Erudito
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Bruno Giongo
Construtor
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Baixo
Residencial
Flvio
Santomauro
Baixo
Residencial
Manoel Antnio
Carvalho
Humberto
Sorregotti
Construtor
ngelo Murgel
Arquiteto
Djalma Ferraz
Kehl
Engenheiro Civil
Baixo
Residencial
Erudito
Baixo
Residencial
Erudito
Mdio
Residencial
Alto
Erudito
Residencial
3703
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
950
R. Marechal Deodoro,
135
Djalma Ferraz
Kehl
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
469
16
Jos Arduno
Construtor
No erudito
Residencial /
Servios
18
ngelo Jos
Terreri
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
137/45
Av. 3
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
71/45
Rua 1, 2279/2287
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
233/45
Francisco de
Godoi
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
FIGURA 261
Residencial
Araraquara
Pasta 07
R. Prudente de
Morais, 796
Vicente Miceli
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
So Carlos
4634
R. Riachuelo com
Geminiano Costa
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Alto
Residencial
1470
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Alto
FIGURA 271
Residencial
1695
R. Aquidaban com
Santa Cruz
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
FIGURA 272
Residencial
3246
R. Conde do Pinhal,
prximo ao 71
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
3937
R. 9 de Julho com
Major J. Incio
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
3940
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Ja
1945
Rio Claro
470
1945
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
4438
Av. So Carlos, ao
lado do cemitrio
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
Residencial
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
4716
R. 9 de Julho, 154
Erudito
Mdio
Residencial
Bruno Giongo
Construtor
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Mdio
FIGURA 279
Residencial
Baixo
Residencial
4641
Araraquara
1946
3997
R. 15 de Novembro,
62
Umberto
Sorregotti
Construtor
4927
R. 9 de Julho,
prximo ao 139
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
1626
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Pasta 07
R. Cruzeiro do Sul,
1657
01
Affonso Galindo
Construtor
No erudito
015
Rua Saldanha
Marinho
Affonso Galindo
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
Construtores
No Erudito
Alto
Residencial
Mdio
Alto
Mdio
Residencial
Residencial
Residencial
Ja
Rio Claro
52/46
Flvio
Santomauro
Batista Rattin
471
1946
105/46
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
180/46
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
FIGURA 260
Residencial /
Comercial
193/46
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
234/46
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
276/46
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Servios
281/46
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
321/46
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Construtores
No Erudito
Alto
FIGURA 262
Residencial
334/46
Flvio
Santomauro
Baixo
Residencial
Batista Rattin
So Carlos
937
R. 9, de Julho, 86
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
939
R. Padre Teixeira,
entre R. So Paulo e
R. Rui Barbosa
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
1546
R. Marechal Deodoro,
142/144
Djalma Ferraz
Kehl
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial e
Fbrica de
Mveis
472
1946
1785
R. 13 de Maio, 138
Ilegvel
Baixo
Residencial
3268
Jdim So Carlos,
entre R. Cde do
Pinhal e 13 de Maio,
rua B
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Baixo
Residencial
3848
Djalma Ferraz
Kehl
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
3410
R. 7 de Setembro, s/n
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
3671
R. 7 de Setembro, 61
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Mdio
FIGURA 276
Residencial
3244
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
4593
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
689
R. 9 de Julho, entre 13
de Maio e Conde do
Pinhal
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Mdio
FIGURA 269
Residencial
1756
R. 15 de Novembro,
s/n
Djalma Ferraz
Kehl
Engenheiro Civil
Erudito
4207
R. 9 de Julho, 155
Djalma Ferraz
Kehl
Engenheiro Civil
Erudito
Alto
Residencial
4964
R. 9 de Julho, 153
Djalma Ferraz
Kehl
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
46-5
R. 13 de Maio, 75
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
473
Mdio
Residencial
1947
Ja
Ilegvel
Engenheiro Civil
Erudito
Residencial
64/47
Juvenal Barros
Machado Campos
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
FIGURA 255
Residencial
105/47
Rua 2, 1026
Francisco de
Godoi
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
FIGURA 257
Residencial
157/47
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
171/47
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
176/47
Francisco de
Godoi
Engenheiro Civil
Erudito
Igreja Parochia
Nossa Sra.
Aparecida
232/47
Rua 3, 462
Jos F. Hermini
Engenheiro Civil
Erudito
339/ 47
Pelgio R. dos
Santos
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
394/47
Pelgio R. dos
Santos
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
401/47
Rua 1, 1846
Pelgio R. dos
Santos
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
297/47
Pelgio R. dos
Santos
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Rio Claro
474
Baixo
Residencial
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
FIGURA 236
Residencial
Pasta 07
Ilegvel
Baixo
Residencial
Pasta 07
R. Cruzeiro do Sul,
entre R. S. Geraldo e
R. C. Colombo
Ilegvel
Baixo
Residencial
904
R. Visconde de
Inhauma, 35A
Baixo
Residencial
1063
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Humberto
Sorregotti
Erudito
Mdio
Residencial
Construtor
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Humberto
Sorregotti
Erudito
Mdio
Residencial
Construtor
1947
Araraquara
Pasta 07
2155
R. D. Alexandrina, 26
So Carlos
1234
1948
Ja
R. Marechal Deodoro,
63
2127
R. Carlos Botelho,
103
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Erudito
Mdio
Residencial
01
ngelo Jos
Terreri
Construtor
No erudito
Mdio
Residencial
02
Baixo
Residencial
03
Rua Francisco
Glicrio
Affonso Galindo
Construtor
No erudito
Baixo
FIGURA 249
Residencial
475
04
ngelo Jos
Terreri
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
05
Rua Saldanha
Marinho
ngelo Jos
Terreri
Construtor
No erudito
Baixo
FIGURA 250
Residencial
06
Rua 13 de Maio
141/48
Rua 2, 1514
Jos F. Hermini
Construtor
No Erudito
298/48
Estrada Municipal,
ruas 4/5-B
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
386/48
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
392/48
Odorico Glria
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
438/48
Odorico Glria
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
445/48
Francisco de
Godi
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
FIGURA 265
Residencial
Milton Silveira
Engenheiro Civil
Erudito
Aeroclube
1948
Baixo
Residencial
Baixo
Residencial
Rio Claro
487/48
Campo de Aviao
Manoel Antnio
de Carvalho
476
Construtor
1948
So Carlos
1177
R. Aquidaban esq.
com R. Major J.
Incio
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
1385
R. Jesuno de Arruda
esq. com R. S.
Joaquim
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Alto
Residencial
2450
R. Tiradentes esq. c/
R. Alexandrina
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
2492
R, 7 de Setembro, 139
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
2648
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
2801
So Carlos
Enio Perillo
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
2951
Theodoro Fehr
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
FIGURA 274
Residencial
3849
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
3870
Prolongamento da R.
So Paulo
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Engenheiro Civil
3871
R. Jesuno de Arruda,
191
Humberto
Sorregotti
Erudito
Mdio
Residencial
Construtor
Erudito
Mdio
Residencial
3903
Estrada de Rodagem,
em So Carlos
477
4114
1948
4594
1949
Araras
Jardim So Carlos,
rua A
Alfredo Borelli
Engenheiro Civil
Escritrio de
Construes
Gelsomino Saia
Escritrio
Alfredo Borelli
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
FIGURA 278
Residencial
Erudito
Baixo
Residencial
4086
R. 9 de Julho, s/n
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
FIGURA 277
Residencial
1273
R. 9 de Julho esq.
com R. 15 de
Novembro
Theodoro Fehr
Engenheiro Civil
Erudito
Alto
FIGURA 270
Residencial
2425
R. Padre. Teixeira,
113
Theodoro Fehr
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
2449
Lafael. Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
897
R. 13 de Maio, junto
ao 2
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
128/49
Chcara Agrcola,
quadra 03, lote 20
Octvio Daltro
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
140/49
R. Nunes Machado,
entre R. C. Colombo e
R. Carlos Gomes
Palmiro Righetti
Construtor
No erudito
Mdio
FIGURA 241
Residencial
244/49
R. Visconde do Rio
Branco, lote A,
quadra 2
Jos Grandi
Construtor
No erudito
Baixo
FIGURA 242
Residencial
478
1949
Rio Claro
462/49
Travessa da R. 13 de
Maio, entre R.
Marechal Deodoro e
R. Amrica
Octvio Daltro
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
476/49
R. Nunes Machado,
s/n
Octvio Daltro
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
489/49
R. Tiradentes, s/n
Octvio Daltro
Construtor
No erudito
Mdio
Residencial
485/49
R. Jlio de Mesquita,
s/n
Octvio Daltro
Construtor
No erudito
Mdio
Residencial
37/49
Francisco de
Godi
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
117/49
Odorico Glria
Construtor
No erudito
263/49
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
328/49
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Baixo
Residencial
344/49
Odorico Glria
Construtor
No Erudito
Mdio
FIGURA 263
Residencial
379/49
Av. 4, 228
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
392/49
Flvio
Santomauro
Construtor
No Erudito
Alto
Residencial
479
Baixo
Residencial
Pasta 07
Av. C. Colombo,
entre S. Bento e Padre
Duarte
Walter Logati
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Pasta 07
R. So Bento esquina
com Av. So Jos
Arquiteto
Erudito
Mdio
Residencial
06
R. Episcopal, s/n
Engenheiro Civil
Erudito
89/50
R. Marechal Deodoro,
542
Octvio Daltro
Construtor
No erudito
Mdio
Residencial
336/50
R. do Patrocnio, lote
2, Chcara Fachini
Octvio Daltro
Construtor
No erudito
Mdio
Residencial
Engenheiro Civil
468/50
R. J. de Mesquita,
entre R. L. Dias e R.
Chico Pinto
Erudito
Mdio
FIGURA 243
Residencial
1949
Araraquara
So Carlos
1950
Araras
Rio Claro
Jos Grandi
Construtor
Residencial
549/50
R. 7 de Setembro, s/n
Octvio Daltro
Construtor
No erudito
Baixo
FIGURA 244
Residencial
58/50
Augusto Schmidt
Filho
Engenheiro Civil
Erudito
Mdio
Residencial
115/50
Francisco de
Godi
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
124/50
Flvio
Santomauro
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
209/50
Flvio
Santomauro
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
480
Rua 7, Av. 11
Flvio
Santomauro
Construtor
No erudito
Baixo
Residencial
356/50
Flvio
Santomauro
Construtor
No erudito
Mdio
FIGURA 264
Residencial
511/50
Jos F. Hermini
Construtor
No erudito
Mdio
Residencial
Pasta 08
R. dos
Expedicionrios, 1159
Hermnio Tecco
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
1135
R. Cde. Do Pinhal,
entre R. 9 de Julho e
R. Episcopal
Henrique
Sorregotti &
Irmos
Construtor
No Erudito
Mdio
Residencial
1205
R. Alexandrina entre
Tiradentes e 28 de
Set.
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
1408
R. Marechal Deodoro,
s/n
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Erudito
Baixo
Residencial
Abraho Schevz
Engenheiro Civil
Humberto
Sorregotti
Construtor
Erudito
Mdio
Residencial
1950
Araraquara
254/50
So Carlos
1139
Av. So Carlos, 95
481
Cidade
Araraquara
So Carlos
Autor
Profissional
Boaventura Gravina
Engenheiro Civil
Engenheiro Civil
Escritrio SP
Hermnio Tecco
Construtor
Jos A. Kleindienst
Arquiteto
Jos Barbugli
Engenheiro Civil
Engenheiro Civil
Escritrio - SP
Vicente Miceli
Engenheiro Civil
Walter Logati
Engenheiro Civil
Abraho Schevz
Engenheiro Civil
Alfredo Borelli
Engenheiro Civil
ngelo Murgel
Arquiteto
483
So Carlos
Ja
Bruno Giongo
Construtor
Camillo Domicci
Construtor
Engenheiro Civil
Enio Perillo
Engenheiro Civil
Escritrio
Lafael Petroni
Engenheiro Civil
Construtor
Rodolpho Fehr
Arquiteto
Theodoro Fehr
Arquiteto
Umberto Sorregotti
Construtor
Affonso Galindo
Construtor
lvaro Botelho
Arquiteto - SP
Construtor
rgo Oficial
Arquiteto
Jos Arduno
Construtor
Luciano Terreri
Construtor
Engenheiro - SP
484
Rio Claro
Araras
Engenheiro Civil
Batista Rattin
Construtor
Domingos Barbugiam
Construtor
Flvio Santomauro
Construtores
Francisco de Godoi
Engenheiro Civil
Gustavo Stein
Construtor
Henrique Cristofani
Desenhista
Joo Caly
Construtor
Jos F. Hermini
Engenheiro Civil
Engenheiro Civil
Construtor
Milton Silveira
Engenheiro Civil
Odorico Glria
Construtor
Engenheiro Civil
Jos Grandi
Construtor
Palmiro Righetti
Construtor
Octvio Daltro
Construtor
485
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Anexos
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Figura 250 Fotos de vrias edificaes de tendncia neocolonial na cidade de Ja. Notar os diferentes estilemas empregados
nos prdios que seguem a vertente misses e nos que seguem
influncia mais associada arquitetura portuguesa. Notar, tambm,
uma residncia com grande telhados de quatro guas, varanda
entalada e janela fechada por peas de madeira numa clara referncia
s casas bandeiristas. Fotos da autora, outubro de 2004.
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