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OS TRATADOS DO SÉCULO XX-Arqurb5 07 Artigo Fernando Vazquez

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OS TRATADOS DO SCULO XX:

EDIES ESPECIAIS.
Fernando Guillermo Vzquez Ramos*

THE TREATIES OF THE TWENTIETH CENTURY: SPECIAL ISSUES.

Resumo: Os tratados de arquitetura ressurgiram com o Renascimento e se espalharam por todo o


planeta, mantendo sua preeminncia para geraes de arquitetos. Porm, no sculo XIX a crtica ao
classicismo destruiu essa tradio. No sculo XX, foram as revistas que assumiram esse papel, trans-
mitindo o conhecimento da arquitetura. As edies monogrficas se apresentam como os tratados
do sculo XX. A difuso de Wright no teria sido possvel sem o portfolio publicado por Wasmuth
(1910), ou a obra de Mies, sem o nmero de LArchitecture dAujourdhui (1958) atravs do qual as
imagens de uma arquitetura poderosa daria volta ao mundo.

Palavras-chave: Representao, tratados de arquitetura, revistas de arquitetura.


*Arquiteto (Univ. de Buenos Aires, 1979),
Mestre em Esttica e Teoria das Arte
(Instituto de Esttica de Madrid, 1989), Abstract: The treatises on architecture have been reborn with the Renaissance, and spread throughout
Doutor Arquiteto (Univ. Politcnica de
the world keeping its preeminence for generations of architects. However, in the 19th century the criti-
Madrid, 1993). Professor assistente do
Programa de Ps-Graduao Strictu que of classicism destroyed this tradition. In the 20th century were the magazines that have assumed
Sensu em Arquitetura e Urbanismo e this role in transmitting the knowledge of architecture. Monographic editions are presented as the tre-
do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade So Judas Tadeu. Pesqui-
aties of the 20th century. The diffusion of Wright would not have been possible without the portfolio
sa sobre representaes e processos published by Wasmuth (1910), or the work of Mies without the number of Larchitecture daujourdhui
de projetao em arquitetura. Curador (1958) through which the images of a powerful architecture would give around the world.
da exposio: Mies van der Rohe (1999)
e autor do livro-catlogo, publicado
pela editora Blau. Keywords: Representation, treatises on architecture, architectural magazines.

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1. Os historiadores sustentam que o trata- Os tratados de arquitetura so peas tpicas do Renascimento, renasceram com ele. S temos noticias de
do de Vitrvio certamente continha dese-
um tratado sobre arquitetura da antiguidade, trabalho do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio (90 a.C.
nhos, mas que se perderam. difcil saber
a verdade sobre o assunto, contudo o im- 20 a.C.), que permaneceu perdido por centrias, para ser reencontrado num mosteiro alpino nos alvores
portante que ele chegou ao sculo XV do sculo XV. Certamente, achamos o que buscamos, e o Renascimento buscava esse reencontro como
sem os desenhos, abrindo o texto ima-
ginao dos humanistas, que recriaram
o mundo Antigo. O tratado de Vitrvio, De Architectura libri decem (~27ac), foi inspirao para o primeiro
inmeras suposies de como esses de- tratado de arquitetura da poca moderna: o De Re aedificatoria libri decem (1452, publicado em 1485), obra
senhos seriam, abrindo o campo das pos- de Leon Battista Alberti (1404-1472). A partir dessa obra germinal, os tratados foram aparecendo paulatina-
sibilidades da concepo arquitetnica.
2. Em castelhano existem muitas tra- mente at se converterem no veculo privilegiado da transmisso do conhecimento sobre a arte de projetar: a
dues. Para este trabalho no entanto arquitetura. Ainda que o tratado de Alberti no possusse desenhos, como de fato tampouco os possua, no
nos centraremos nas feitas em Buenos
de Vitrvio1, a incluso de ilustraes foi rpida. Antonio di Pietro Averlino, o Filarete (c. 1400-1469), contem-
Aires entre 1945 e 1955, pela editora
Construcciones. A ltima edio em porneo de Alberti, j incluiu desenhos em seu Libro architettonico (Codex Magliabechiano, cpia datada de
castelhano dessa serie foi de 1955. Ver c. 1565). Ainda que o Libro de Filarete no possa ser considerado um tratado per si, ele certamente abriu
Viola, G. Tratado de los cinco ordenes
o caminho para os grandes tratados do sculo seguinte.
de arquitectura. Buenos Aires: Editorial
Construcciones Sudamericanas, 1948.
Usaremos esta edio em especial,
pois foi a primeira revisada.

Fig. O1: Medalha comemorativa com a


imagem de Leon Battista Alberti, fundi-
da por Matteo dPasti, c. 1446. Fonte:
coleo Medieval e Renascentista do
Victoria & Albert Museum (sala 64), Lon-
dres. Ver: http://collections.vam.ac.uk/.

Grandes exemplos desse tipo de produto cultural so: I Sette libri dell'architettura (publicados de for-
ma irregular desde 1537), trabalho de uma vida de Sebastiano Serlio (1475-1554); o influente Regole
delle cinque ordini d'architettura (1562), de Giacomo Barozzi da Vignola (1507-1573), ver fig. 02, cujas
re-edies chegaram at o sculo XX2; e, ao colossal I quattro libri dell'architettura (1570), de Andrea
Palladio (1508-1580). Contudo, os tratados dos Padres Fundadores da arquitetura moderna circularam

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pela Europa na forma de manuscritos e cpias das mais variadas qualidades. No sculo XV, a inveno da
imprensa de tipos mveis e o aperfeioamento do trabalho com gravuras em metal permitiram que os trata-
dos fossem impressos sob a superviso dos respectivos autores, melhorando a qualidade das imagens, ao
mesmo tempo em que ficava garantida a legitimidade da mensagem textual. Os tratados se espalharam por
toda Europa nos sculos XVI e XVII, chegaram ao novo mundo cedo tambm, e mantiveram sua preeminn-
cia como fonte de inspirao para geraes e geraes de arquitetos no mundo todo.

Fig. 02: Giacomo Barozzi da Vignola,


Regola delli cinque ordini darchitettura,
Roma 1562. Arcada de ordem drica.
Fonte: Evers, 2003, p. 90.

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Nesse sentido, interessante entender que a publicao desses tratados foi feita at meados do sculo XX,
como amparo s necessidades tcnicas e estticas dos estudantes e dos professores de arquitetura e de outras
disciplinas afins. O prlogo edio castelhana do tratado de Vignola, impresso em Buenos Aires em 1948, diz:

Com a apario deste volume, fruto de dois anos de intenso trabalho, a empresa editora considera-se ampla-
mente satisfeita ao ver cumprido seu desejo de oferecer aos estudantes das faculdades, escolas tcnicas e
academias de Belas Artes, e a quem ministra aulas nesta matria, uma obra tecnicamente insupervel que h de
permitir-lhes sanar os inconvenientes de toda ordem que derivam dos textos j conhecidos. (VIOLA, 1948, p. 3)

A fora dessas publicaes estriba, justamente, nesse amparo tcnico e na preciso de suas informaes. A
edio acima referida foi, segundo diz o Editorial, o resultado empreendido pela editora de dedicar-se com
afinco tarefa, por certo rdua, de revisar e executar novamente todos os desenhos que compem a parte
grfica deste estudo (Idem, p. 03). E, de fato o resultado de Viola, como popularmente conhecido o tra-
tado, magnfico, (ver fig. 03). As lminas so impecveis, e o tratamento das partes sombreadas e dos textos
apresenta-se com uma definio apurada para um texto feito com as tcnicas de impresso do sculo XX.

Fig. 03: Estudio de las sombras de la


arcada toscana com pedestal. Tratado
de los Cinco Ordenes de Arquitectura.
Fonte: Viola, 1948, p 23

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Ainda que o Estudo das Cinco Ordens da Arquitetura deva ser considerado como best-seller, vrios ou-
tros tratados proliferaram nos sculos seguintes tambm. E o fizeram de uma forma acumulativa. Isto , os
novos tratados se manifestavam como continuaes ou comentrios dos tratados anteriores, criando uma
corrente de pensamento que se pode remeter at o sculo XV quando no, at o sculo I A.C, se conside-
ramos que o De Architectura o tratado seminal originrio, ao qual, todos os outros tratados, de forma direta
ou indireta, se referem.

O sculo XVIII, por exemplo, nos presenteou com obras magnficas, como o Prcis ds leons darchitecture
(1802-1805)3, de Jean-Nicolas-Louis Durand (1760-1835), que influenciaram todo o desenvolvimento da ar-
quitetura da primeira metade do sculo XIX. Esse trabalho importante no plano doutrinrio, pois expe a
ideia de uma estandardizao ou de uma esquematizao do projeto arquitetnico (EVERS, 2003, p. 328),
que se estende, sem dvida, pelo menos do ponto de vista conceitual, at o sculo XX. Estudos crticos
sobre o projeto, como os de Corona Martnez, citam profusamente Durand, e no o fazem de um ponto
de vista historicista, mas como uma referncia viva. Corona pergunta como o processo da projetao que
continuamos praticando, aquele que est implcito em todos os estilos que tm se sucedido por duzentos
anos? (CORONA MARTINEZ, 1998, p. 241), e responde citando amplamente Durand:

Temos visto que, quando desejamos expressar graficamente um pensamento em arquitetura, temos que comear
por fazer uma planta que representam a disposio horizontal dos objetos que devem entrar na composio de
um edifcio ou de uma parte de um edifcio; depois o corte que expressa sua disposio vertical, finalmente sua
elevao ... (DURAND apud CORONA MARTNEZ, 1998, p. 241-242)4

3. No existem tradues nem ao cas-


telhano, nem ao portugus desse texto A fundamentao dos tratados, como fonte de conhecimento, se amparou sempre no seu apelo verdade
de Durand, mas isto no tira dele a pos- incontestvel que se exprimia na arquitetura antiga. Os tratados eram manifestos vivos da permanncia da
sibilidade de ter influenciado, e muito,
arquitetos dessas lnguas, uma vez que verdadeira arquitetura, aquela que mais perto estava da natureza, como demonstrao de uma origem divi-
o francs foi lngua internacional, do s- na. Neste sentido, o conhecimento neles exposto pretendia revelar ao iniciante os caminhos da verdadeira
culo XVIII at o sculo XX, quando foi
arquitetura. No entanto, na segunda metade do sculo XIX, a crtica ao classicismo levada adiante por au-
substitudo pelo ingls. A edio que
ns usamos a de 1823, mas h muitas tores to equnimes como John Ruskin (1819-1900), ou Eugne Emmanuel Viollet-le-Duc (1814-1879), ps
outras. Corona Martnez, por exemplo, em questo esta forma de difuso do conhecimento da arquitetura.
usa a de 1819. (2000:197)
4. Usamos o texto na sua edio em
castelhano, pois a edio em portugus Esses autores questionaram a verdade intrnseca assegurada pela tradio na arquitetura clssica. O prin-
(CORONA MARTNEZ, 2000) no traz cipal questionamento partiu da crtica, uma instncia cultural inexistente nos sculos anteriores. A crtica de
esse captulo.

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arquitetura nasceu como reivindicao de uma nova esttica capaz de atender sensibilidade romntica,
como aconteceu com o livro The Seven Lamps of Architecture, 1849, de Ruskin, por exemplo, que permitiu
uma nova interpretao da natureza, como fonte de inspirao direta para o homem moderno, sem a inter-
mediao cultural das normas impostas pelos tratados.

Fig. 04: Mercado coberto sobre pilares


de ferro, Eugne E. Viollet-le-Duc, Fon-
te: Evers, 2003, p. 345.

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A historiografia fez o mesmo, defendendo a igualdade de interesses sobre a produo arquitetnica do
homem, equiparando a produo gtica clssica. (ver fig. 04), defendendo um classicismo gtico em um
sentido amplo, como fica plenamente demonstrado no trabalho do Dictionnaire raisonn de larchitecture
franaise Du XI au XVI sicle5, de Viollet-le-Duc, por exemplo. A substituio6 da tratadsitica tradicional pela
historiografia e pela crtica, no entanto, no eliminou a forma de transmisso do conhecimento arquitetni-
co atravs de fontes documentais que combinavam imagem e texto, nos mesmos moldes propostos pelos
5. Os diferentes volumes do enorme grandes tratados dos sculos anteriores. Os manuais de arte gtica e de decorao, as incipientes publica-
trabalho de Viollet-le-Duc foram publi-
es de arte e arquitetura, os catlogos da produo artesanal ou industrial, se apropriaram deste campo
cados entre os anos de 1854 e 1868,
ainda que constem diversas publica- da transmisso e da afirmao do conhecimento, o qual foi capaz de impor as formas eclticas criadas na
es de edies posteriores. Inglaterra vitoriana ou na Frana haussmaniana por toda Europa e alm mar.
6. O termo substituio necessita ser
esclarecido, uma vez que o sculo XIX
continua produzir tratados, s que estes O sculo XX recebeu essa herana nos moldes de uma abertura das possibilidades que o ecletismo permitiu
procuram novas fontes de inspirao e e respondeu, multiplicando ainda mais as alternativas. A difuso das novas ideias requeria tambm novos
de justificao da arquitetura. Ver, por
exemplo, os livros de Gottfried Semper meios de transmisso do conhecimento. Esse sculo rebelde, descrente de toda tradio, abandonou defini-
(Die vier Elemente der Baukunst. Ein tivamente os tratados como referncia e como meio de comunicao e de preservao da arte. Questionou
Beitrag zur vergleichenden Baukunde,
tambm o livro, o texto extenso e elaborado, preferindo e adotando a forma de manifesto, texto curto e
1851) ou de Heinrich Hbsch (In wl-
chem Style sollen wir bauen?, 1828). polmico, carregado de novas intenes que se apresentavam cruamente, sem mediao.

Fig. 05: Capa do livro Vers une Archi-


tecture, de Le Corbusier, publicado em
1923. Fonte: http://www.ozanne-rare-
books.com/vers-une-architecture.html.

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7. Existem vrias recompilaes de Temos inmeros exemplos desse tipo de trabalho. Evidentemente os de Le Corbusier (1887-1965) so os
textos que contm os manifestos mais
importantes do sculo XX, dentre elas
mais representativos, por serem tambm os mais difundidos, por ele mesmo e pelos historiadores do sculo
recomendamos a j lendria de Ulrich XX. Livros como Vers une architecture (1923), (fig. 05) impactaram o universo da arquitetura ocidental e cria-
Conrads (1973), de 1964; a impecvel ram uma fileira de seguidores que se espalharam pelo mundo, da Argentina aos Estados Unidos, e do Japo
antologia de M. de Benedetti e A. Prac-
chi (1988), de 1988; e a mais recente e ndia at o Brasil. Mas, existem outros tantos7 que fizeram jus ao nome da vanguarda: Larchitettura fu-
compilao de P. Hereu, J. M. Montaner turista. Manifesto (1914)8, de Antonio SantElia (1888-1916) e Filipo Tommaso Marinetti (1876-1944); Glasar-
e J. Oliveras (1999), de 1994.
chitektur (1914)9 , de Paul Scheerbart (1863-1915); Ornament und Verbrechen (1912)10, de Adolf Loos (1870-
8. Este texto foi publicado de forma ama-
dora em Milo em 11 de julho de 1914. 1933); To teen beeldende architectuu (1923-1924)11, de Theo Van Doesburg (1883-1931), entre outros.
Posteriormente foi publicado na revista
LEsprit Nouveau, n. 26 out. 1924, pp. 176-
Em geral, esses textos, alm de ter em comum sua veemncia, tm tambm o fato de terem sido publica-
177, editada por Le Corbusier e Ozenfant.
9. Publicado na revista Der Sturm, em 1914. dos em revistas: Der Sturm12, Les Cahiers dAojourdhui13 ou De Stijl14. Assim, o lugar onde o texto curto,
10. Publicado inicialmente na revista quase sempre inflamado e provocativo, se encontrava a gosto foi o espao das revistas de arquitetura, que
Der Sturm em 1912, ainda que s al-
cance notria publicidade depois de
assumiram o papel de porta vozes da nova esttica, ou, em outras palavras, das novas estticas, das muitas
ser publicado em francs na revista Les estticas possveis em anos carregados de novidades e de experimentao. As revistas apresentaram ao
Cahiers dAujourdhui em 1913. pblico as propostas de uma nova forma de conceber e de fazer arquitetura. Esse pblico, alvo das pu-
11. Texto publicado na revista De Stijl em
1924, escrito em Paris em 1923, por con- blicaes de vanguarda, no se restringe necessariamente aos arquitetos. As publicaes so dirigidas por
ta da exposio: Les architectes du Grupe artistas, literatos e intelectuais de vrios setores da produo cultural da poca, e esto dirigidas s camadas
De Stijl, realizada naquele ano na galeria
mais amplas possveis, eram vendidas na rua e nas academias, nos bares e nas estaes de trem. Ainda que
Leffort Moderne de Lonce Rosenberg.
12. Revista publicada em Berlim, entre com tiragem reduzida, as informaes veiculadas por elas passavam de mo em mo, criando verdadeiras
os anos de 1910 e 1932, foi canal pri- correntes de dados que se espalhavam pelas cidades mais importantes da Europa continental.
vilegiado das posies do Expressio-
nismo alemo e de outros movimentos
vanguardistas. Foi dirigida por Herwar-
th Walden (1878-1941) e por August
Stramm (1874-1915).
13. Revista publicada em Paris entre
1912 e 1924, dirigida por George Bes-
son (1882-1971).
14. Revista publicada na Holanda, em
Weimar e em Paris, entre 1917 e 1931, foi
o canal de difuso do pensamento de seu
editor, Theo Van Doesburg, assim como
do Neoplasticismo e do Elementarismo.

Fig. 06: Capa do primeiro nmero da revis-


ta De Stijl, outubro 1917. Fonte: http://sdrc.
lib.uiowa.edu/dada/De_Stijl/index.htm.

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15. Publicao oficial do Deutschen As revistas assumiram assim, sem dvida, o papel que os tratados antigos tinham exercido nos tempos anterio-
Werkbundes de 1925 a 1933. Para uma
res s publicaes de massas, transformando-se nos tratados do sculo XX. A influncia que esses meios de
viso ampla do publicado nesse presti-
gioso veculo ver CONRADS, 1969. comunicao exerceram na formao profissional e na crtica da poca foi enorme. Revistas como Die Form15,
16. Foram publicadas os seguintes tex- por exemplo, foram um canal privilegiado de apresentao de projetos e de crticas de arquitetura que con-
tos: Zum neuen Jahrgang (1927, n.
1); Einleitung (1927, n. 9); Die neue
solidaram o pensamento e a construo da Arquitetura Moderna. Os primeiros projetos de Mies van der Rohe
Zeit. Mies van der Rohe auf der Wiener (1886-1969)16, assim como alguns de seus primeiros textos foram publicados aqui. Revistas como Ma Aktivista
Tagung des Deutschen Werkbundes Folyoirat17, (ver fig. 07), editada pelo agitador cultural e artista Lajos Kassk18 (1887-1967), entre 1916 e 1924,
(1930, n. 15). E as seguintes obras:
Werkbund-Ausstellun: Die Wohnung circulavam na Europa Central desde Budapeste at Berlim, e eram parte dos intercmbios que os diferentes
(1927, n. 2; Die Wohnung 1927, n. 9); editores realizavam constantemente, no s para conseguir material novo, mas tambm para incrementar a
Die Wohnung, Stuttgart 1927 (1928, n.
discusso e o dilogo entre as diferentes correntes que se estavam gestando naqueles tempos tempestuosos.
4); Mies van der Rohes Reichpavillon
in Barcelona (1929, n. 16); Das Haus
Tugendhat in Brnn (1931, n. 9); Kann
man im Haus Tugenthat wohnen? (1931,
n. 10); Das Haus Tugendhat. Grete und
Fritz Tugendhat (1931, n. 11).
17. Referncias a essa importante re-
vista podem ser encontradas em BEN-
SON, 2002.
18. Kassk foi poeta, novelista, ensas-
ta, pintor, tradutor e editor de revistas de
vanguarda, tanto Ma (Hoje), editada pri-
meiro em Budapeste e depois em Viena,
como de sua antecessora Teet (Ao),
editada em Budapeste de 1912 at 1916.

Fig. 07: Capa do primeiro nmero da re-


vista Ma (Hoje), novembro 1916. Fonte:
http://www.kettererkunst.de/.

Mas, dentre as revistas, as edies monogrficas se apresentam como as herdeiras diretas da tradio tra-
tadstica. Os nmeros monogrficos no so, contudo, comuns nos primeiros anos do sculo XX. Primeiro
existiram os nmeros temticos, que pretendiam mostrar o estado da arte em aspectos particulares. Por

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exemplo, o problema da cozinha19, tratado por Die Form, ou o problema da nova arquitetura20, em De Stijl.
Esta ltima e outras revistas similares desenvolveram verdadeiras campanhas propagandsticas a favor da
arquitetura moderna especificamente. Pensamos em revistas como LEsprit Nouveu (1920-1925), editada por
Le Corbusier (1887-1965) e Amde Ozenfant (1886-1966), que publicara um nmero quase monogrfico21
sobre a Bauhaus (1919-1933) e a arquitetura moderna na Alemanha, com textos do prprio Walter Gropius
(1883-1969). Ou a experimental e vanguardista G (Material zur elementaren Gestaltung22 (1923-1926), (ver
fig. 08), editada por Hans Richter (1843-1916), Werner Grff (1901-1978) e Mies van der Rohe, onde este
ltimo apresentou seus projetos utpicos.
19. Ver Meyer, Edna: Die Kchenpro-
blem auf der Werkbund-Ausstellung, in
Die Form, 1927, n. 10, p. 299-307.
20. Para ver os nmeros de De Stijl
visitar http://sdrc.lib.uiowa.edu/dada/
De_Stijl/index.htm.
21. Trata-se do n. 27, Nov. 1924. Com
artigos de Paul Boulard (pseudnimo de
Ch. E. Jeanneret) sobre a arte na Alema-
nha (p. 234-245); Walter Gropius, D-
veloppement de lesprit architectural
moderne em Allemagne (p. 246-251);
Editorial, LEsprit Nouveau apporte son
appui au Bauhaus de Weimar (p. 252-
253).
22. A revista que inicialmente usava o
subttulo de Material quando era s
uma folha A2 dobrada para formato
A4, a partir do n. 3, jun. 1924 mudou
para um formato convencional de revis-
ta (25.1 x 17.5 cm) e passou a usar o
subttulo de Zeitschrift fr elementare
Gestaltung.

Fig. 08: Capa (folha nica) do primeiro


nmero da revista G, Material zur ele-
mentaren Gestaltung, julho de 1923.
Fonte: http://www.moma.org/collection.

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Os anos 1920 foram palco de variadas publicaes de pequeno formato que multiplicavam os pontos de vista
e as informaes sobre os diferentes movimentos, submovimentos e supra-movimentos, que estavam acon-
tecendo naquele perodo na Europa, especialmente na Europa Central. Publicaes como ABC Beitrge zum
Bauen (1924-1928), editada em Berlim e dirigida por Emil Roth (1893-1980) e na qual publicaram artigos e
obras de artistas como Hans Schmidt (1893-1972), Mart Stam (1899-1986), El Lissitzky (1890-1941) e Hannes
Meyer (1889-1954); Das Neue Frankfurt (1926-1931), dirigida por Ernst May (1886-1970), posiciona as expe-
rincias urbansticas e arquitetnicas realizadas na cidade de Frankfurt no centro da manualstica moderna
alem sobre ambos os temas. Na Frlicht (1920-1922), dirigida por Bruno Taut (1880-1938), rgo de difuso
no s do Expressionismo e da Glserne Kette (Corrente do Cristal), mas tambm do construtivismo, foram,
por exemplo, publicadas obras de Vladimir Tatlin (1885-1953). Na Punct (1924-1925), publicada em Bucares-
te, dirigida pelo escritor Scarlat Callimachi (1896-1975) e editada pelo pintor Victor Brauner (1903-1966), foi
um jornal de promoo do construtivismo e de outras correntes vanguardistas, como Dada, difundidas por
Tristan Tzara (1896-1963). Mas tambm publicaram artigos Theo Van Doesburg, Kurt Schwitters (1887-1948)
e Herwart Walden. Contimporanul (1922-1932) foi outra revista da Romnia, dirigida pelo poeta Ion Vinea
(1895-1964). Preocupada inicialmente com arquitetura, terminou se transformado num veculo da arte de
vanguarda, especialmente do Surrealismo.

Fig. 09: Capa da revista Wendingen, n.


8, 1924, dedicado a Willem Marinus Du-
dok. Fonte: http://www.zuidelijkewan-
delweg.nl/architectuur/wendingen.htm.

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23. L'Architecture vivante en Hollande. Le Seguiram a essas revistas temtica os nmeros especiais que tratavam de obras especficas ou de arquitetos
Groupe "De Stijl" et l'cole d'Amsterdam,
consagrados. Destacam-se a j mencionada Die Form, com suas edies de 1927 (n. 2 e n. 9, op. cit.) para
1927. Inclui 50 lminas ilustrativas como
obras de Mies van der Rohe, Theo Van apresentar a Waissenhofsiedlung (1927); as edies temticas realizadas pela revista francesa LArchitecture
Doesburg, Gerrit Rietveld e textos de Vivante (1923-1932), dirigida pelo arquiteto Jean Badovici (1893-1956), entre as quais se destacam a dedi-
Piet Mondrian, Theo van Doesburg, Adolf
Loos e Jean Badovici. L'Architecture vi-
cada Waissenhofsiedlung (Primavera/Vero, 1928), e os nmeros especiais sobre o estado da arquitetura
vante en Hollande, 1933. Inclui 25 lminas na Alemanha (1931) ou da Holanda (1927 e 1933)23; alm dos nmeros dedicados obra de Le Corbusier 4 e
e texto de J.J.P. Oud. Frank Lloyd Wright (1930) 25. A famosa revista holandesa Wendingen (1918-1932) 26 publicou vrios nmeros
24. Por exemplo: L'Architecture Vivante:
Le Corbusier et P. Jeanneret, 1929, 48 especiais sobre arquitetos, entre os que se destacam, nos nmeros de: 1921 (n. 4), Hendrik Petrus Berlage
pginas, inclui planos (1 em cores), ele- (1856-1934) e Frank Lloyd Wright; 1924 (n. 7), Michel de Klerk (1984-1923); de 1924 (n.8) sobre Willem Mari-
vaes, mais 50 lminas das quais duas
nus Dudok (1884-1974). (ver Fig. 09); e de 1925 (nos. 3 e 9) Frank Lloyd Wright.
so coloridas; L'Architecture Vivante:
Le Corbusier et P. Jeanneret, 1930. 49
pginas incluem 25 lminas das quais
uma colorida; L'Architecture Vivante:
Le Corbusier et P. Jeanneret, 1932. 31
pginas incluem 25 lminas com plan-
tas e elevaes de projetos completos
25. L'Architecture vivante: Frank Lloyd Wri-
ght, 1930. 25 lminas em branco e preto.
26. A revista foi o rgo da associao
Architectura et Amicitia e seu Editor
chefe foi o arquiteto H. Th. Wijdeveld
(1885-1987).

Fig. 10: Wasmuth Portfolio, 1910, dedicado


a Frank Lloyd Wright. Fonte: http://www.
steinerag.com/flw/Books/a0087.htm.

Justamente sobre Wright destaca-se sem dvida, como um antecedente importante, o nmero monogrfico
que sob o nome de Ausgefhrte Bauten und Entwrfe von Frank Lloyd Wright (Edifcios concludos e projetos
de Frank Lloyd Wright), foi publicado pelo editor alemo Ernst Wasmuth em 1910-11, e que ficou conhecido
como Wasmuth Portfolio, atravs do qual os arquitetos europeus conheceram e estudaram a obra do mestre
norte-americano. A difuso da obra de Wright, e de seu prestgio, no teriam sido possveis sem esse n-

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mero monogrfico, que apresentou a gramtica moderna para vidos artistas rfos de modelos a utilizar,
ou a reinventar. O alemo apresentou a obra do grande mestre em dois cadernos, contendo 100 litografias,
onde o prprio arquiteto se apresentava, com desenhos prprios e de seus colaboradores, obras constru-
das ou projetadas entre 1893 e 1909, incluindo, entre outras, Winslow House (River Forest, 1893) (ver fig.
11), Susan Lawrence Dana House (Springfield, 1902-1904), Edwin H. Cheney House (Oak Park, 1903), Larkin
Administration Building (Buffalo, 1904), Thomas P. Hardy House (Racine, 1905), Unity Temple (Oak Park,
1905), William R. Heath House (Buffalo, 1904-1905), Darwin D. Martin House Complex (Buffalo, 1903-1905),
Avery Coonley House (Des Plaines River, Riverside, 1907-1908), Park Inn Hotel e o National Bank (Mason
City, 1908), Frederick C. Robie House (Chicago, 1908), Burton J. Westcott House (Springfield, 1908), Orchard
Summer Colony (Darby, 1909).

Fig. 11: Wasmuth Portfolio, 1910, L-


mina I, Winslow House.Fonte: http://
content.lib.utah.edu/cdm4/docu-
ment.php?CISOROOT=/FLWright-
-jp2&CISOPTR=133.

Os desenhos apresentados incluem plantas e fundamentalmente perspectivas, muitas delas areas (vo de
pssaro), como a Lmina VII: Lexington Terraces, Chicago.

S tem um par de cortes, nas lminas XII, v. 1 (Studie zu einem Bankgebaude in beton - Perspektive und
Grundriss); e LXIII, v. 2 (Aufriss und querschnitt vom Unity Tempel, Oak Park, Ill.).

Tem outro par de perspectivas de interiores nas lminas XXXIII, v. 1 (Verwaltungsgebaude fur The Larkin
Company Grundriss und Perspektive) e LVI, v. 2 (Wohnzimmer fur Herrn Coonley, Riverside,Illinois).

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E, finalmente, alguns detalhes decorativos ou construtivos, como nas lminas I, v. 1 (Villa fur Herrn Winslow In
River Forest, Illinois, Eingangsdetail); IV, v. 1 (Perspective und grundriss der Stadtischen villa fur Isidor Heller,
Chicago. detail vom Husser-haus, Chicago); V, v. 1 (Francis Mietshaus, Chicago); VI, v. 1. (Atelier des Herrn
Frank Lloyd Wright, Oak Park, Illinois); XXII, v. 1 (Wohnzimmer im Vorstadthause des Herrn B. Harley Bradley,
Kankakee. Ills.); XXXI, v. 1 (Inneres des Festsaales fur Frau Dana); LVII, v. 2 (Landhaus fur Avery Coonley, Ri-
verside, Ill); LXII, v. 2 (Atelier in Beton fur Herrn Bildhauer Richard Bock, Oak Park, Illinois).

Fig. 12: Wasmuth Portfolio, 1910, L-


mina LXII, Atelier in Beton fur Herrn
Bildhauer Richard Bock, Oak Park, Illi-
nois. Fonte: http://content.lib.utah.edu/
cdm4/document.php?CISOROOT=/
FLWright-jp2&CISOPTR=133

Os desenhos no tm texto explicativo, salvo os das legendas indicativas das plantas (quase sempre a plan-
ta do andar principal e a dos dormitrios). As perspectivas no apresentavam qualquer tipo de indicao ou
comentrio. As plantas no possuem cotas ou qualquer outro tipo de indicao de medidas ou dimenses,
no apresentam tampouco escala grfica.

Pareceria ser que, salvo pelo texto inicial escrito pelo prprio Wright, onde ele explica sua viso da arqui-
tetura, a proposta do mestre resumia-se a que a arquitetura deveria poder explicar-se por si, sem interme-
diao de textos ou referncias de outra ndole. O poder do desenho deveria ser suficiente para mostrar, e
demonstrar, a arquitetura. Esses desenhos lembram os do tratado Architettura e Prospecttiva (1740), (ver
fig. 13), de Giuseppe Galli Bibiena (1695-1757)27, que foi o primeiro tratado no qual se apresentavam, como
27. Se podem ver desenhos dos Bibie-
na em Les Dessins dArchitecture au nica explicao da arquitetura, s desenhos sem textos de apoio, como tinha sido costume nos trezentos
XVIII Sicle, de Daniel Rabreau. anos anteriores. Os desenhos do tratado de Bibiena so tambm majoritariamente perspectivas, as plantas

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encontram-se ao servio das perspectivas. Ainda que no tratado barroco as perspectivas sejam mais interio-
res que exteriores. A insistncia de Wright na utilizao da perspectiva a vo de pssaro pareceria tambm
querer informar sobre a totalidade do desenho e, consequentemente, do projeto, tentando abarc-lo numa
s viso. A preocupao evidentemente a de impressonar o observador e de cativ-lo com uma nova
forma de pensar arquitetura.

Fig. 13: Castrum Doloris, 1715. Archi-


tettura e Prospectiva, Giuseppe Galli Bi-
biena. Fonte: Evers, 2003, p. 159.

A proposta certamente foi eficiente, haja vista a quantidade de arquitetos que enveredaram pela trilha wrightiana.
S como exemplo, poderamos citar Casa Heide (1915-1919), de Robert Vant Hoff (1887-1979), ou a obra de
W. M. Dudok, especialmente sua obra mais importante, o Raadhuis (Pao Municipal), de Hilversum (1928-1931),
que uma expressiva releitura de todos os preceitos wrightinos apontados nos desenhos do Wasmuth Portfolio.

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Outro exemplo importante, para entender como funciona esse novo mecanismo de apresentao e difuso
de obras, poderia ser o famoso nmero monogrfico de LArchitecture dAujourdhui de setembro de 195828
(ver fig. 14), dedicado obra de Ludwig Mies van der Rohe (Loeuvre de Mies van der Rohe). O nmero
apresenta 43 projetos do arquiteto, incluindo os projetos do perodo europeu que ocupam um quinto das
100 pginas dedicadas ao trabalho do mestre alemo. Alexandre Persitz apresenta uma cronologia completa
de Loeuvre de Mies van der Rohe (p. 2-5), em que ficam evidentes alguns anos claves para entender sua
obra. Assim, 1927, ano da exposio Weissenhofsiedlung, requer maior ateno, seguido pelos anos de
1929-1930, por conta do Pavilho Alemo para Barcelona e da Casa Tugendhat. O perodo norte-americano
de 1940 a 1942 leva a maiores explicaes, por conta do trabalho desenvolvido no Illinois Institute of Tech-
nology, mas os anos finais, 1953 a 1958, so os que acumulam maior quantidade de obras.

Fig. 14: L'oeuvre de Mies van der Rohe,


in: L'Architecture d'Aujourd'hui, ano 29,
n. 79, setembro 1958.

Curiosamente, as primeiras duas imagens (p. 6) so de obras de outros arquitetos, e devem ser entendi-
das como referncias aos maestros que influenciaram a viso da arquitetura de Mies. So obras de Peter
Behrens (1868-1940), a fbrica de turbinas da AEG (1910), arquiteto, para quem o jovem Ludwig trabalhou
28. Trata-se do n. 79, ano 29 da famosa nos anos 10, e de H. P. Berlage, sua Bolsa de Amsterd (1896-1903), obra que impactou Mies durante sua
revista francesa. visita capital holandesa, tambm em 1912.

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Alm dos projetos de arquitetura, a revista apresenta os mveis (p. 11) criados pelo arquiteto no final da d-
cada de 1920, e que, para os anos 1950, j eram fabricados pela empresa Knoll dos Estados Unidos. A partir
da pgina 26, a revista se debrua sobre a obra norte-americana, apresentando tanto projetos no realizados,
como o de um "Museu para uma pequena cidade" (p. 26), ou o projeto para uma "Sala de Concertos" (1942)
(p. 27). Destaca evidentemente o trabalho realizado no Illinois Institute of Technology, projeto que Mies estava
realizando desde sua chegada a Chicago em 1939, e cujo Master Plan (p. 28) apresentou em 1940. As primei-
ras fotos coloridas da matria so destinadas ao Crown Hall (o edifcio para a Faculdade de Arquitetura, 1955).
Ainda que comparativamente tenhamos mais fotos que desenhos, importante chamar a ateno sobre a pre-
ocupao com os desenhos tcnicos, cortes e detalhamentos construtivos acompanham imagens de detalhes
de arquitetura (como o famoso close da coluna de canto do Alumni Memorial Hall (1945-1946) (p. 31, f. 3). Mas,
as imagens que ficam em destaque so as dos Immeubles dhabitation a Chicago (pp. 50 e 51) situadas nas
pginas centrais do nmero especial, as passarelas do Lake Shore Drive (1951) e a fachada dos Commonwealth
Promenade Apartments (1957). O projeto urbano mais ambicioso encarado por Mies at aqueles anos tambm
est presente. Trata-se de Lafayette Park (1956), em Detroit (p. 72-75), obra que desenvolvera junto com Ludwig
Hilberseimer (1885-1967). O projeto final , evidentemente, o magnfico Seagram Building (1958) (ver fig. 15).

Fig. 15: L'Architecture d'Aujourd'hui, n.


79, set. 1958, p. 91.

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O nmero termina com uma recompilao de textos de Mies, certamente traduzidos do livro que Philip Jo-
hnson (1906-2005) tinha preparado para servir de catlogo exposio sobre a obra de Mies van der Rohe,
que o MoMA havia apresentado em 1947. Fato que introduz um aspecto interessante da difuso do pensa-
mento do Mies, esta foi feita seguindo a interpretao que Johnson achou na poca pertinente, e no ne-
cessariamente do verdadeiro pensamento do alemo. Complementando o material de divulgao com suas
explicaes tcnicas e de dados informativos gerais, o texto inclui alguns trabalhos crticos que discutem em
termos estticos ou culturais a obra do alemo. Peter Blake apresenta o texto Lart difficile detre simple
(p. 24); Reginald Malcolmson comenta Larchitecture de lacier (p. 40), e Christian Norberg-Schulz introduz
uma entrevista com o mestre que fala pouco (p. 40).
A revista, que percorreu o mundo levando as imagens de uma arquitetura poderosa e magnfica, utilizando
ao e vidro, daria lugar ao mais amplo movimento estilstico produzido desde o classicismo: o International
Style. Movimento que se imporia no mundo ocidental de forma contundente durante os anos de ps-guerra,
como uma afirmao da criatividade capitalista e do empreendedorismo norte-americano, graas ao traba-
lho de conscientizao e informao desenvolvido justamente pelas revistas e, especialmente pelos nme-
ros monogrficos.
Escritrios de arquitetura, como C.F. Murphy Associates, Skidmore Owings and Merrill, Harrison, Abramovitz
& Harris, Bregman + Hamann Architects, Pellow + Associates Architects Inc., tm desenvolvido o trabalho
apontado nos anos 1940 e 1950 por Mies, e muitos arquitetos ao redor do mundo tm utilizado as informa-
es contidas nessa revista, e em outras similares, como fonte de inspirao, ou como objeto de desejo do
que podia ser projetado e construdo em meados dos sculo XX.

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