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Ia 235 Pimenta

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Informe Agropecurio

Uma publicao da EPAMIG


v.27 n.235 nov./dez. 2006 Belo Horizonte-MG

Sumrio
Editorial ........................................................................................................................... Entrevista ......................................................................................................................... Importncia econmica, perspectivas e potencialidades do mercado para pimenta Jos Luis dos Santos Rufino e Daniel Camargo Salim Penteado ....................................... 3 4

Apresentao
O cultivo de pimentas, considerado at pouco tempo uma atividade secundria tem sofrido grandes transformaes e assumido maior importncia no Pas. Essas transformaes visam atender s demandas internas e externas do mercado consumidor. Hoje, o agronegcio de pimentas est entre os melhores exemplos de integrao entre todos os atores dessa cadeia produtiva. Pois, grande nmero de produtores familiares, de pequeno porte, faz conservas de pimentas e comercializa diretamente em feiras livres, mercados de beira de estrada, pequenos estabelecimentos comerciais e atacadistas. Por outro lado, em geral, empresas de porte mdio comercializam conservas, molhos, gelias, conservas ornamentais em supermercados, lojas de convenincia e de produtos importados e at em lojas de decorao. Grandes empresas exportam a pimenta na forma desidratada, pprica, pasta e conservas ornamentais. Apesar de sua reconhecida importncia econmica e social, a cultura da pimenta pouco estudada no Brasil, em todas suas fases do sistema de produo. A busca por melhor qualidade, preos e custos tem exigido dos produtores maior eficincia tcnica e econmica na conduo dos sistemas de produo. Este nmero do Informe Agropecurio procura preencher importante lacuna na literatura brasileira. Trata-se no s de uma coletnea de informaes, destinada a selecionado grupo de pesquisadores, mas tambm de um manual de elevado nvel tecnolgico dirigido a agricultores, empresrios, profissionais liberais do setor agrcola, estudantes e toda a sociedade que tem interesse no cultivo e nos produtos da planta de pimenta. Cleide Maria Ferreira Pinto Derly Jos Henriques da Silva

Espcies e variedades de pimenta Gisele Rodrigues Moreira, Fabiano Ricardo Brunele Caliman, Derly Jos Henriques da Silva e Cludia Silva da Costa Ribeiro ............................................................................. 16 Produo de sementes de pimentas Warley Marcos Nascimento, Denise Cunha Fernandes dos Santos Dias e Raquel Alves de Freitas .......................................................................................................................... 30 Clima, poca de semeadura, produo de mudas, plantio e espaamento na cultura da pimenta Cleide Maria Ferreira Pinto, Mrio Puiatti, Fabiano Ricardo Brunele Caliman, Gisele Rodrigues Moreira e Robert Nunes Mattos ....................................................................... 40 Nutrio mineral e adubao para pimenta Cleide Maria Ferreira Pinto, Paulo Csar de Lima, Lus Tarcsio Salgado e Fabiano Ricardo Brunele Caliman .................................................................................................. 50 Irrigao da cultura da pimenta Waldir Aparecido Marouelli e Henoque Ribeiro da Silva ................................................. 58 Manejo de plantas daninhas na cultura da pimenta Izabel Cristina dos Santos, Cleide Maria Ferreira Pinto e Francisco Affonso Ferreira ....... 68 Pragas associadas cultura da pimenta e estratgias de manejo Madelaine Venzon, Cludia Helena Cysneiros Matos de Oliveira, Maria da Consolao Rosado, Angelo Pallini Filho e Izabel Cristina dos Santos ................................................ 75 Principais doenas da cultura da pimenta Margarida Gorete Ferreira do Carmo, Francisco Murilo Zerbini Jnior e Luiz Antnio Maffia ............................................................................................................................... 87 Colheita e manejo ps-colheita da pimenta Fernando Luiz Finger e Vicente Wagner Dias Casali ......................................................... 99 Coeficientes tcnicos, custos, rendimento e rentabilidade das pimentas Nirlene Junqueira Vilela e Keize Pereira Junqueira ......................................................... 104

ISSN 0100-3364

Informe Agropecurio

Belo Horizonte

v. 27

n. 235

p. 1-108

nov./dez.

2006

1977

EPAMIG

ISSN 0100-3364 INPI: 006505007 CONSELHO DE DIFUSO DE TECNOLOGIA E PUBLICAES Baldonedo Arthur Napoleo Luiz Carlos Gomes Guerra Manoel Duarte Xavier lvaro Sevarolli Capute Maria Llia Rodriguez Simo Artur Fernandes Gonalves Filho Jlia Salles Tavares Mendes Cristina Barbosa Assis Vnia Lacerda DEPARTAMENTO DE TRANSFERNCIA E DIFUSO DE TECNOLOGIA Cristina Barbosa Assis DIVISO DE PUBLICAES EDITOR Vnia Lacerda COORDENAO TCNICA Cleide Maria Ferreira Pinto e Derly Jos Henriques da Silva REVISO LINGSTICA E GRFICA Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira NORMALIZAO Ftima Rocha Gomes e Maria Lcia de Melo Silveira PRODUO E ARTE Diagramao/formatao: Maria Alice Vieira, Fabriciano Chaves Amaral, Letcia Martinez Capa: Letcia Martinez Foto da capa: Anna Wolniak PUBLICIDADE Dcio Corra Av. Jos Cndido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG Telefone: (31) 3488-8565 publicidade@epamig.br

Informe Agropecurio uma publicao da Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais EPAMIG
proibida a reproduo total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorizao escrita do editor. Todos os direitos so reservados EPAMIG. Os artigos assinados por pesquisadores no pertencentes ao quadro da EPAMIG so de inteira responsabilidade de seus autores. Os nomes comerciais apresentados nesta revista so citados apenas para convenincia do leitor, no havendo preferncias, por parte da EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citao de termos tcnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo. O prazo para divulgao de errata expira seis meses aps a data de publicao da edio. Assinatura anual: 6 exemplares Aquisio de exemplares Setor Comercial de Publicao Av. Jos Cndido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte - MG Telefax: (31) 3488-6688 E-mail: publicacao@epamig.br - Site: www.epamig.br CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047

Informe Agropecurio. - v.3, n.25 - (jan. 1977) Horizonte: EPAMIG, 1977 . v.: il.

. - Belo

Cont. de Informe Agropecurio: conjuntura e estatstica. - v.1, n.1 - (abr.1975). ISSN 0100-3364 1. Agropecuria - Peridico. 2. Agropecuria - Aspecto Econmico. I. EPAMIG. CDD 630.5

O Informe Agropecurio indexado na AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Governo do Estado de Minas Gerais Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuria e Abastecimento Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuria - EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV A EPAMIG integra o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuria, coordenado pela EMBRAPA

Governo do Estado de Minas Gerais

Acio Neves
Governador Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

Marco Antonio Rodrigues da Cunha


Secretrio

Futuro promissor para a cultura da pimenta


Desde os primrdios da civilizao, a pimenta tem sido utilizada para tempero, conservante de alimentos, planta ornamental e fins medicinais. Cerca de um quarto da populao mundial consome pimentas nas formas fresca ou processada. A maior concentrao de cultivos de pimentas em todo o mundo est no Continente Asitico, tendo como principais pases produtores ndia, Coria, Tailndia, China, Vietn, Srilanka e Indonsia. No Brasil, a produo de pimentas vem crescendo muito nos ltimos anos, com mercado estimado em mais de R$ 100 milhes ao ano. Os cultivos concentram-se em regies de clima subtropical, como no Sul, ou de clima tropical, como no Norte e Nordeste. As principais regies produtoras de pimenta so a Sudeste e a Centro-Oeste, tendo como maiores produtores os estados de Minas Gerais, Gois, So Paulo, Cear e Rio Grande do Sul. Em 2005, o volume das exportaes brasileiras de Capsicum atingiu 9.222 toneladas, no valor de US$ 23.478,00, fazendo com que as pimentas se posicionassem como a segunda principal hortalia exportada. A Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S/A (CeasaMinas), ao longo da ltima dcada, comercializou, anualmente, em mdia 200 mil kg de pimenta. Os meses de maior oferta so novembro e dezembro, quando comercializam-se, aproximadamente, 28 toneladas do produto. Esses dados mostram que a pimenta tem grande importncia econmica e social, ao empregar significativo nmero de pessoas, principalmente na colheita. O mercado de pimentas no Brasil est sofrendo grandes modificaes pela explorao de novas variedades e pelo desenvolvimento de produtos com grande valor agregado, a exemplo das conservas ornamentais, gelias exticas e outras formas processadas. Nesse contexto, a pesquisa sobre pimentas deve merecer maior ateno e ser incentivada com vistas a um futuro promissor para todos os envolvidos nessa cadeia produtiva. Esta edio da revista Informe Agropecurio vem atender a esta expectativa, ao apresentar informaes e novas tecnologias sobre pimentas, que visam contribuir para o desenvolvimento dessa cultura no Brasil.
Baldonedo Arthur Napoleo
Presidente da EPAMIG

Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais


Conselho de Administrao Marco Antonio Rodrigues da Cunha Baldonedo Arthur Napoleo Silvio Crestana Maria Llia Rodriguez Simo Osmar Aleixo Rodrigues Filho Dcio Bruxel Sandra Gesteira Coelho Adauto Ferreira Barcelos Willian Brandt Joanito Campos Jnior Helton Mattana Saturnino Conselho Fiscal Carmo Robilota Zeitune Heli de Oliveira Penido Jos Clementino dos Santos Evandro de Oliveira Neiva Mrcia Dias da Cruz Celso Costa Moreira Presidncia Baldonedo Arthur Napoleo Diretoria de Operaes Tcnicas Manoel Duarte Xavier Diretoria de Administrao e Finanas Luiz Carlos Gomes Guerra Gabinete da Presidncia lvaro Sevarolli Capute Assessoria de Comunicao Roseney Maria de Oliveira Assessoria de Desenvolvimento Organizacional Ronara Dias Adorno Assessoria de Informtica Renato Damasceno Netto Assessoria Jurdica Paulo Otaviano Bernis Assessoria de Planejamento e Coordenao Jos Roberto Enoque Assessoria de Relaes Institucionais Artur Fernandes Gonalves Filho Auditoria Interna Carlos Roberto Ditadi Departamento de Transferncia e Difuso de Tecnologia Cristina Barbosa Assis Departamento de Pesquisa Maria Llia Rodriguez Simo Departamento de Negcios Tecnolgicos Artur Fernandes Gonalves Filho Departamento de Prospeco de Demandas Jlia Salles Tavares Mendes Departamento de Recursos Humanos Flvio Luiz Magela Peixoto Departamento de Patrimnio e Administrao Geral Marlene do Couto Souza Departamento de Obras e Transportes Luiz Fernando Drummond Alves Departamento de Contabilidade e Finanas Celina Maria dos Santos Instituto de Laticnios Cndido Tostes Grson Occhi Instituto Tcnico de Agropecuria e Cooperativismo Marcello Garcia Campos Centro Tecnolgico do Sul de Minas Edson Marques da Silva Centro Tecnolgico do Norte de Minas Marco Antonio Viana Leite Centro Tecnolgico da Zona da Mata Juliana Cristina Vieccelli de Carvalho Centro Tecnolgico do Centro-Oeste Cludio Egon Facion Centro Tecnolgico do Tringulo e Alto Paranaba Roberto Kazuhiko Zito

Informe Agropecurio, Belo Horizonte, v.27, n.235, nov./dez. 2006

Pimenta tipo exportao


O produtor rural e empresrio Drio Braga Alvim possui longa experincia na atividade agropecuria, tendo sido produtor de leite e trabalhado com diversas culturas, em Guarani, Zona da Mata de Minas Gerais. Sempre buscando diversificar suas atividades, criou uma empresa, em Belo Horizonte, para comercializar produtos de sua propriedade, como pimenta e fumo. A iniciativa teve sucesso, ocasionando a abertura de novas lojas na Capital e na CeasaMinas. O empreendimento funcionou at 1996, quando foi dissolvida a sociedade familiar e deu-se seguimento industrializao da pimenta. Nesses 10 anos subseqentes, Drio Alvim dedicou-se criao de gado de corte e empresa de industrializao de pimentas. Com orientao da pesquisa, por meio de novas tecnologias, e com o apoio do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Viosa (UFV), Drio Alvim tem obtido bons resultados. Atualmente, os produtos industrializados de pimenta esto sendo registrados nos Estados Unidos, na Food and Drug Administration (FDA), o que tornar ainda mais fcil a exportao para o resto do mundo.

IA - Desde quando o senhor cultiva pimenta na regio de Guarani e como iniciou-se nesta atividade? Drio Alvim - Comecei em 1965, com a experincia de plantio de dez ps de pimenta. Percebi a grande procura por essa cultura e decidi investir nesta produo. Contudo, devido falta de experincia e de informaes sobre o plantio, a iniciativa foi abandonada. Em 1970, com a orientao de outros produtores, retomamos a atividade com um plantio de 5 mil ps e, nesse perodo, at 1985, cheguei a colher 35

toneladas de pimenta, cerca de 2 kg por planta.

mercados, atingindo consumidores diferenciados. A busca por produtos diversificados, por parte dos consu-

IA - Qual a rea plantada com pimenta em sua propriedade? Drio Alvim - Atualmente, em minha propriedade no municpio de Guarani, mantenho uma rea plantada de, aproximadamente, 3 hectares de variedades de pimentas vindas da Coria e do Mxico, que so altamente produtivas. A inteno diversificar e melhorar a produtividade de pimentas e, assim, alcanar maiores e melhores

midores, tem impulsionado para essa tendncia.

IA - Quais as principais dificuldades encontradas no manejo dessa cultura, no que diz respeito a produo de mudas, adubao, irrigao, controle de plantas daninhas, de pragas e de doenas? Drio Alvim - O grande desafio a colheita. O custo alto e chega a ser

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40% do preo bruto da pimenta. Outra dificuldade a divulgao das informaes ao produtor. No h orientaes tcnicas disponveis e as que existem dificilmente chegam aos pequenos produtores, que enfrentam muitos problemas com as doenas causadas por insetos. imprescindvel a pesquisa para produo de pimenta orgnica e o acesso, por parte dos produtores, s orientaes tcnicas para produo dessa cultura, que tem tido grande aceitao e procura em todo o mundo e que garantir um excelente mercado no Brasil e no exterior. IA - Na sua opinio, como a pesquisa pode melhorar esse quadro? E o que precisa ser feito? Drio Alvim - Algumas pesquisas sobre pimenta j foram desenvolvidas sem muito sucesso. Esse insucesso deve-se falta de recursos e ao fato de muitos desses resultados no chegarem ao destino certo. Um dado que consubstancia esta afirmao est em nossa realidade: no mercado no existe nenhum defensivo indicado para pimenta. Deveria existir um convnio com a Universidade Federal de Viosa (UFV), instituio de pesquisa em nossa regio, ou EPAMIG, para se fazer pesquisa na rea de entomologia, relacionada com a cultura da pimenta. Esse convnio deveria reunir a pesquisa e a extenso rural, nesse caso envolvendo a EMATER, e levar, dessa forma, os resultados ao pequeno produtor.

IA - Quais os maiores entraves ao desenvolvimento da pimenticultura da Zona da Mata? Drio Alvim - A mo-de-obra para a colheita um fator preponderante. Entretanto, h diversos entraves para contratao de pessoal, tais como, custos elevados e diversos contratempos advindos dessa relao de trabalho. Acredito que a melhor soluo para isso seria a produo no sistema de economia familiar, com o apoio da assistncia tcnica e a garantia de preos mnimos por parte do governo. IA - Para quais mercados destina-se a produo de pimentas da Zona da Mata mineira? Drio Alvim - Em regra, destina-se a Belo Horizonte. Mas sabe-se que o mercado amplo. H informaes de que 1/4 da populao do mundo consome pimenta. Na realidade, o que falta o apoio aos pequenos exportadores, com reduo da burocracia, o que facilitaria as negociaes. IA - Que dificuldades o senhor tem encontrado na comercializao de seu produto? Drio Alvim - O que eleva nossos custos so as despesas com encargos sociais, impostos, juros altos. Como pagar juros que chegam a 60% ao ano com uma inflao de menos de 3%? Porque os juros que esto disponveis no mercado so de 5%. Juros baixos s so encontrados em um perodo do ano, entre maro e maio. Alm disso, o pro-

dutor tem que oferecer avalistas com exigncias de outorga uxria, o que torna a operao muitas vezes impossvel. IA - Como tem sido a produtividade da pimenta para o produtor e para a regio? Drio Alvim - Infelizmente, a produtividade est muito aqum do que poderia ser. Os motivos so a falta de orientao tcnica, que vai desde a anlise da terra, da formao das mudas, dos riscos de viroses de sementes contaminadas, irrigao malplanejada, adubao qumica sem orientao, defensivos desnecessrios e at por no existir nenhum defensivo com indicao para pimenta no mercado brasileiro. Esse conjunto de dificuldades ocasiona uma produtividade baixssima. IA - Com todos esses problemas, plantar pimenta um bom negcio? Drio Alvim - Mesmo com todos esses problemas, plantar pimenta um bom negcio sim, desde que a atividade seja desenvolvida no sistema de economia familiar. A procura pelo produto muito grande e o mercado crescente, principalmente para o produtor que investir no processamento do produto. A lavoura precisa ser muito bem administrada e conduzida de forma sustentvel. Atualmente, colho, em mdia 2 kg de pimenta-malagueta por planta.
Por Vnia Lacerda

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Cultivo da pimenta

Importncia econmica, perspectivas e potencialidades do mercado para pimenta


Jos Luis dos Santos Rufino 1 Daniel Camargo Salim Penteado 2

Resumo - Desde o incio da civilizao, a pimenta tem sido usada pelo homem como condimento, planta ornamental e para fins medicinais. Esses usos tm evoludo ao longo dos tempos. Hoje, o agronegcio de pimentas um dos melhores exemplos de integrao entre agricultor e agroindstria. Alm de consumidas in natura, as pimentas podem ser processadas e utilizadas em diversas linhas de produtos na indstria de alimentos, para consumo interno e exportao. As perspectivas da pimenta no Pas so alentadoras. Produtos manufaturados como molhos, conservas e gelias de pimenta esto abrindo mais perspectivas de mercado. Palavras-chave: Capsicum. Agronegcio. Economia. Comrcio. Comercializao. Preo. Oferta.

INTRODUO Os registros mais antigos do consumo de pimenta (Capsicum spp.) datam de, aproximadamente, 9000 a.C. e foram encontrados, quando das exploraes arqueolgicas, em Tehuacn, Mxico. No conhecido o padro de uso das pimentas no Novo Mxico, contudo, existem indcios de que, inicialmente, elas foram usadas pelos nativos indgenas como medicamento, prtica comum entre os Maias. Outros stios arqueolgicos, onde tambm foi registrada a presena de pimenta, so conhecidos no Peru, nas localidades de Ancon e Huaca Prieta. Relatos difusos do cultivo de pimentas pelos ndios, entre 5200 e 3400 a.C., no Peru e na Bolvia, comprovam ser uma das plantas cultivadas mais antigas das Amricas. A princpio os indgenas americanos cultivavam a pimenta selvagem Piquin e a selecionaram, chegando a vrios tipos hoje conhecidos. Ao certo, sabe-se que os ndios nativos

das Amricas j utilizavam a pimenta em sua alimentao, de forma contnua, antes mesmo do descobrimento desse continente. A partir de ento, os europeus iniciaram sua domesticao e as pimentas foram disseminadas em todo o mundo. Os espanhis e os portugueses foram os primeiros a ter contato com a pimenta Capsicum , disseminando-a para vrios lugares, onde adquiriu caractersticas e nomes prprios. Conta-se que Cristvo Colombo, em uma das suas viagens histricas para a Amrica, em 1493, foi o primeiro europeu a ter contato com a pimenta Capsicum, identificando nessa cultura, fonte alternativa para a pimenta-do-reino (Piper nigrum), condimento favorito na Europa, naquela poca. No Brasil, quando do seu descobrimento, o cultivo de pimentas era prtica comum de tribos indgenas. Com a imensa variabilidade de pimentas nativas, certamente pode-se supor que diversas tribos

cultivavam e colhiam pimentas. Em 1814, o explorador Alexander Humboldt anotou que as pimentas eram to necessariamente indispensveis para os nativos, quanto o sal para os brancos. Vale destacar que o plantio de pimenta por tribos indgenas continua, at hoje, como entre os ndios Mundurucus, na Bacia do Rio Tapajs. Do ano de 1500 aos dias atuais, as pimentas passaram a ser consumidas por povos de todas as origens, em quantidade crescente e em usos variados. PRODUO DE PIMENTAS NO MUNDO E NO BRASIL No Mundo, de toda a rea cultivada com pimentas, aproximadamente 89% esto no Continente Asitico, com as principais reas de cultivo localizadas na ndia, Coria, Tailndia, China, Vietn, Srilanka e Indonsia. A segunda regio mais importante no

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Engo Agro, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: jlsrufino@vicosa.ufv.br Estudante Engenharia Agronmica, UFV, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: dcspenteado@yahoo.com.br

Informe Agropecurio, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.7-15, nov./dez. 2006

Cultivo da pimenta

cultivo de pimentas compreende os Estados Unidos e o Mxico, com cerca de 7% do total plantado com pimentas em todo o mundo. Do total da rea cultivada com pimenta nesses pases, aproximadamente, 50% vo para o mercado in natura e os outros 50% para processamento industrial, como molhos, picles e desidratados. Finalmente, 4% da rea cultivada est nos pases da Europa, frica e Oriente Mdio. No Brasil, a produo de pimenta vem crescendo muito nos ltimos anos, com cultivos em regies de clima subtropical como no Sul, ou de clima tropical como no Norte e Nordeste. O cultivo de pimenta no Pas de grande importncia, quer por suas caractersticas de rentabilidade, principalmente quando o produtor agrega valor ao produto (conservas, por exemplo), quer por sua importncia social, por empregar elevado nmero de mo-de-obra. As principais regies brasileiras produtoras de pimenta so Sudeste e CentroOeste. Os principais Estados produtores so Minas Gerais, Gois, So Paulo, Cear e Rio Grande do Sul. H grande variedade de tipos, nomes, tamanhos, cores, sabores e ardume. As pimentas Jalapeo e Cayenne so cultivadas, principalmente, em So Paulo, Minas Gerais e Gois. A pimenta-cumari ou Passarinho comum na Regio Sudeste. As pimentas-de-cheiro, as mais cultivadas, especialmente no Norte do Pas, destacam-se pela grande variedade de cores dos frutos, que vo de amarelo, amarelo-leitoso, amarelo-claro, amareloforte, alaranjado, salmo, vermelho e at preto. Com menor produo, mas importantes nessa espcie, existem as pimentas Bode, cultivada principalmente na Regio Centro-Oeste do Brasil, e a Murupi, cujos principais produtores so os estados do Amazonas e do Par. A Malagueta cultivada em todo o Pas, porm destacam-se as produes dos estados de Minas Gerais, da Bahia e do Cear. Neste ltimo Estado, h grandes reas com cultivo da pimenta-tabasco, da espcie C. frutescens a mesma da Malagueta.

MERCADO PARA PIMENTAS H grandes perspectivas e potencialidades do mercado de pimentas pela versatilidade de suas aplicaes culinrias, industriais, medicinais e ornamentais. Apesar disso, as estatsticas mundiais de rea cultivada, produo, exportao e consumo para pimentas so escassas e, geralmente, apresentam-se em conjunto com pimento, dificultando o entendimento das perspectivas para esse mercado especfico. Mercado interno para pimentas in natura O mercado brasileiro para pimentas in natura fortemente influenciado pelos hbitos alimentares de cada regio. No Sul, h baixo consumo de pimentas in natura, havendo preferncia por molhos, conservas e pimentas desidratadas. Nos demais Estados, so consumidas in natura as pimentas Cambuci, tambm denominada God ou Chapu-de-bispo, doce do tipo Americana, a Dedo-de-moa, popularmente chamada pimenta-vermelha, as pimentas Malagueta, Bode, Cumarivermelha, Cumari-amarela ou Cumari-dopar, De-cheiro e a Biquinho. No Nordeste brasileiro, predomina o consumo da Malagueta e De-cheiro e na Regio Norte, as pimentas mais apreciadas so a Murupi, Cumari-do-par e a De-cheiro. A comercializao das pimentas depende do mercado de destino, o qual determina sua forma de apresentao, quantidade e preo. Na forma in natura, as pimentas so comercializadas como as demais hortalias, atravs das Centrais de Abastecimento (Ceasas), que agrupam e redistribuem o produto para o varejo ou para os grandes consumidores, como indstrias e restaurantes. Outras formas de comercializao so as vendas para intermedirios, que compram a pimenta diretamente do produtor, vendem para distribuidores e empacotadores, que embalam com marca prpria e revendem para a rede de varejo. Algumas grandes redes de supermercados tm suas prprias centrais de distribuio de hortalias e comer-

cializam com suas marcas, adquirindo as pimentas diretamente de produtores, fornecedores credenciados ou atacadistas. Na maioria dos mercados atacadistas brasileiros, nas cotaes de preos para as pimentas, no se distinguem os tipos de pimenta. A comercializao d-se na forma de pimenta ou pimenta-vermelha ou ardida. Mercados interno e externo para formas processadas de pimenta O mercado para as pimentas nas formas processadas explorado por empresas, desde familiares ou de pequeno porte at grandes empresas que processam produtos base de pimentas para exportao. Existe grande nmero de pequenos processadores familiares ou de pequeno porte que fazem conservas de pimentas em garrafas de vidro e que comercializam diretamente para consumidores em feiraslivres, mercados de beira de estrada, pequenos estabelecimentos comerciais e atacadistas. As empresas de porte mdio, em geral, tm vrios tipos de produtos, como conservas, molhos, gelias, conservas ornamentais, entre outros, que so comercializados em supermercados, mercearias especializadas, lojas de convenincia e de produtos importados, delikatessens e at em lojas de decorao. As grandes empresas so especializadas no processamento de determinados produtos, como pprica e pasta de pimenta. A pimenta para a fabricao de pprica (pimenta-docevermelha desidratada na forma de p) cultivada e processada por uma grande empresa na regio do Cerrado mineiro que exporta para a Europa grande parte de sua produo. No Cear, uma empresa cultiva a pimenta-tabasco para exportao na forma de pasta, utilizada na fabricao do molho tabasco. O mercado para as pimentas no Brasil est sofrendo grandes modificaes pela explorao de novos tipos de pimentas e pelo desenvolvimento de produtos com grande valor agregado, a exemplo das conservas ornamentais (colorido de pimentas), gelias exticas e outras formas processadas.

Informe Agropecurio, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.7-15, nov./dez. 2006

Cultivo da pimenta

COMERCIALIZAO NAS PRINCIPAIS CENTRAIS DE ABASTECIMENTO Formas de acondicionamento para comercializao Diferentes embalagens so usadas para a comercializao de pimentas no Brasil, de acordo com o tamanho e o tipo de fruto, regio e demanda do mercado. Em geral, os frutos so acondicionados em sacos plsticos grandes com 30 kg, caixas plsticas ou de madeira com 15 kg ou outro tipo de embalagem demandado pelo mercado. Na Companhia de Entrepostos e Armazns Gerais de So Paulo (Ceagesp), em So Paulo, por exemplo, as pimentas com frutos maiores, como Cambuci, Dedo-de-moa e a pimenta-doce do tipo Americana so comercializadas em caixas plsticas ou de madeira do tipo K, contendo entre 12 e 15 kg; as pimentas com frutos menores, como Malagueta e Cumari-do-par tambm so acondicionadas em caixas de papelo (1-2 kg) e sacos plsticos (1, 2, 5 ou 10 kg). Em todos os mercados atacadistas, as pimentas tambm so comercializadas em quantidades menores, utilizando-se como unidade copos de vidro ou latas de 250 a

1.000 mL de capacidade, de acordo com a demanda do cliente. Para as pimentas destinadas indstria de molhos e conservas, so retirados os pednculos dos frutos na lavoura e armazenadas em recipientes plsticos como bombonas ou polietileno tereftato (PETs), contendo salmora (10% p/p) ou lcool. Esse processo reduz problemas de conservao ps-colheita dos frutos de pimenta colhidos, mantidos in natura. No varejo, as pimentas so comercializadas de diferentes formas, sendo a mais comum a granel. Os consumidores selecionam manualmente a qualidade e a quantidade a ser comprada. Nas feiras-livres e mercados menores, a medida adotada um copo de vidro ou lata (250 a 300 mL), sendo possvel mesclar diferentes tipos de pimentas por um mesmo preo. Em supermercados e sacoles, as pimentas tambm so comercializadas em sacos plsticos perfurados de 50 g do produto, bandejas de isopor recobertas com filmes de policloreto de vinila (PVC), contendo de 50 a 100 g, e caixinhas tipo PET de 250 mL de capacidade. As embalagens com filmes ou sacos plsticos so consideradas como as melhores opes de venda, pois reduzem a perda de matria fresca alm de manter a colorao

do pednculo e dos frutos por um perodo maior, principalmente sob refrigerao. Comercializao de pimenta na CeasaMinas A Centrais de Abastecimento de Minas Gerais S/A (CeasaMinas) uma empresa de economia mista, vinculada ao Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA). O entreposto em Contagem, Unidade Grande Belo Horizonte, o mais diversificado do Brasil e ocupa o segundo lugar nacional em vendas de hortigranjeiros. Somando-se todas as unidades, so 703 empresas instaladas e cerca de 12,6 mil produtores cadastrados. Em mdia, aproximadamente, 4 mil produtores rurais comercializam mensalmente sua produo nessa central de abastecimento. O valor comercializado de hortigranjeiros, cereais e produtos industrializados alimentcios e no alimentcios chega a R$ 2,9 bilhes anuais. A CeasaMinas, ao longo da ltima dcada, comercializou anualmente, em mdia, 200 mil kg de pimenta. O ano de maior volume comercializado foi 1996, quando foram negociados quase 320 mil kg desse produto. Por outro lado, o menor volume comercializado, aproximadamente 127 mil kg de pimenta, ocorreu no ano de 2002 (Quadro 1).

QUADRO 1 Ms Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Mdia

Quantidades (kg) mensais de pimentas in natura comercializadas na CeasaMinas, Unidade Grande BH, no perodo 1996 - 2005 Janeiro 21.505 15.981 12.224 17.860 16.405 7.920 14.801 24.590 11.474 27.140 16.990 Fevereiro 30.237 23.748 10.586 12.825 9.010 6.909 14.721 13.984 7.755 21.345 15.112 Maro 35.168 19.489 11.375 23.207 9.835 15.895 11.747 9.888 12.372 17.927 16.690 Abril 33.650 30.255 12.988 16.880 11.291 15.575 7.341 21.032 6.801 7.044 16.286 Maio 33.623 14.131 14.537 14.701 10.470 24.123 7.675 14.447 6.881 21.290 16.188 Junho 11.613 9.840 13.896 11.265 6.185 16.135 6.507 12.381 6.751 28.908 12.348 Julho 18.909 7.840 8.920 12.615 5.576 13.215 5.160 13.345 5.209 11.390 10.218 Agosto 15.590 6.240 13.816 13.210 8.608 12.920 6.082 8.188 5.001 6.703 9.636 Setembro 20.194 8.015 12.460 17.422 7.885 16.215 10.750 1.895 3.031 7.537 10.540 Outubro 36.452 21.075 11.778 15.260 11.760 18.229 15.741 1.638 4.883 18.460 15.528 Novembro Dezembro 34.580 47.050 19.840 26.080 31.216 30.939 18.719 3.703 43.175 33.719 28.902 25.727 35.257 28.365 36.375 16.675 17.005 7.415 22.202 57.591 30.288 27.690 Total 317.248 238.921 170.785 217.700 144.916 195.080 126.659 147.293 170.924 231.751 196.128

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Cultivo da pimenta

Observando-se a distribuio do volume comercializado ao longo do ano (Grfico 1), verifica-se oferta sazonal desse produto, sendo os volumes menores comercializados durante os meses de julho, agosto e setembro, os meses de menor colheita em funo de caractersticas prprias do setor de produo. Os meses de maior oferta so novembro e dezembro, quando, em mdia, comercializam-se 28 t. Nos demais meses do ano, o volume comercializado situa-se em torno de 16 mil kg. No Quadro 2 observa-se, em valores corrigidos, a magnitude dos preos mdios mensais no mercado atacadista de Belo Horizonte durante os ltimos 10 anos. Em termos de mdias anuais, o preo ficou abaixo de R$ 1,00 apenas nos anos de 1999, 2000 e 2002, sendo os menores valores da srie. Ao contrrio, os maiores preos ocorreram nos anos de 1996, 1997 e 2004, quando as mdias ficaram em torno de R$ 1,60 por kg de pimenta. Como resposta sazonalidade de oferta mostrada anteriormente, a evoluo dos preos mdios ao longo do ano apresenta variao bastante acentuada, com uma mdia, em novembro, da ordem de R$ 0,70 por quilo de pimenta. Em alguns anos, esse valor mnimo chegou a menos de R$ 0,50 por quilo

Grfico 1 - Quantidades mdias mensais de pimentas in natura, comercializadas na CeasaMinas, Unidade Grande BH, no perodo 1996 - 2005

do produto (Grfico 2). J os valores mximos ao longo do ano ocorrem, em mdia, durante os meses de maio e junho, quando tem incio a temporada de entressafra para algumas variedades mais comercializadas. Para melhor visualizao da evoluo simultnea das quantidades mensalmente ofertadas e dos preos mdios mensais na CeasaMinas, ao longo dos ltimos 10 anos, foi elaborado o Grfico 3, com o ndice de evoluo desses parmetros, tendo os dados relativos a janeiro de 1996 assumido valores iguais a 100. Ao longo do perodo,

no obstante a variao dos indicadores, observa-se que h tendncia de decrscimo dos preos praticados e das quantidades ofertadas nessa praa. Comercializao de pimenta na Ceagesp A Ceagesp administra um dos maiores centros atacadistas de alimentos do mundo. Por seus portes passam todos os dias cerca de 10 mil toneladas de frutas, verduras, legumes, pescados e flores, vindos de 1.500 municpios brasileiros e de outros

QUADRO 2 - Preos mdios (R$) corrigidos (IGP-DI maio 2006) de pimenta in natura na CeasaMinas, Unidade Grande BH, no perodo 1996 - 2005 Ms Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Mdia Janeiro 2,20 1,97 0,57 2,15 0,48 0,87 0,64 0,53 4,49 1,15 1,50 Fevereiro 2,24 1,57 1,53 0,51 0,61 2,13 0,56 0,72 3,36 1,02 1,43 Maro 3,29 1,84 0,64 0,73 0,65 1,13 0,71 1,00 0,43 0,53 1,10 Abril 2,35 2,69 1,25 0,63 0,78 0,78 0,89 0,53 0,60 2,01 1,25 Maio 2,88 3,37 2,04 0,82 0,81 1,18 1,43 0,51 0,43 1,58 1,51 Junho 2,16 1,89 1,68 1,44 1,61 1,20 1,30 1,86 1,42 0,52 1,51 Julho 1,40 1,39 1,57 1,50 0,86 2,66 1,20 0,68 1,04 1,14 1,34 Agosto 0,73 1,20 0,87 0,95 0,84 0,61 0,99 1,57 1,30 1,43 1,05 Setembro 0,68 0,82 0,91 0,88 1,34 0,65 1,06 1,37 0,75 1,52 1,00 Outubro 0,57 0,75 1,57 0,55 0,66 1,10 0,56 4,62 1,13 0,56 1,21 Novembro Dezembro 0,52 0,51 0,75 0,44 0,67 0,65 0,86 0,72 0,85 0,80 0,68 0,96 0,78 0,61 0,38 1,53 0,61 0,60 0,41 4,25 0,73 1,09 Mdia 1,66 1,57 1,17 0,91 0,90 1,13 0,90 1,21 1,67 1,08 1,22

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Cultivo da pimenta

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Grfico 2 - Mdia mensal dos preos mdios corrigidos1 de pimenta in natura na CeasaMinas, Unidade Grande BH, no perodo 1996 - 2005

Grfico 3 - Evoluo dos ndices de quantidades mensalmente ofertadas e dos preos mdios mensais na CeasaMinas - jan. 1996 = 100

pases. A movimentao de mercadorias beira as 250 mil toneladas por ms e responde por quase 60% do abastecimento de hortcolas da Grande So Paulo. A Ceagesp comercializou, anualmente, nos ltimos oito anos, uma mdia de 330 mil kg de pimenta. Em 1999, ocorreu o menor volume comercializado, aproximadamente 260 mil kg de pimenta, j no ano de 2001, observa-se o maior volume comercializado, quando foram negociadas mais de 370 mil kg desse produto (Quadro 3). No Grfico 4, pode-se observar a distribuio do volume comercializado ao longo do ano. Verifica-se oferta sazonal desse produto, sendo o perodo entre junho e outubro os meses de menores volumes comercializados, coincidindo com a entressafra do produto. Os meses de maior oferta so janeiro, fevereiro e maro, cuja mdia supera 33 mil kg comercializados. Nos demais meses do ano, o volume comercializado situa-se em torno de 26 mil kg. No Quadro 4, observa-se, em valores corrigidos, a magnitude dos preos mdios mensais ocorridos no mercado atacadista paulista entre os anos de 1998 e 2005. Em termos de mdias anuais, o preo ficou abaixo de R$ 1,45 apenas no ano de 2000. Ao contrrio, os maiores preos ocorreram nos anos de 1998, 2004 e 2005, quando as mdias ficaram acima de R$ 1,60 por kg de pimenta.

QUADRO 3 - Quantidades (kg) mensais de pimentas in natura comercializadas na Ceagesp, entreposto de So Paulo, no perodo 1998 - 2005 Ms Ano 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Mdia Janeiro 33.632 28.892 37.566 37.528 38.307 47.182 39.339 34.201 37.081 Fevereiro 24.219 26.414 39.606 40.703 34.008 36.575 41.954 30.520 34.250 Maro 24.546 24.008 42.212 40.285 38.306 35.958 37.753 39.137 35.276 Abril 20.463 25.454 27.917 30.137 32.745 27.635 32.794 31.985 28.641 Maio 19.039 20.656 29.002 18.377 32.529 22.897 25.447 42.073 26.253 Junho 15.022 16.005 19.526 20.993 19.457 22.980 23.101 31.682 21.096 Julho 20.059 14.615 26.091 34.059 24.489 21.780 25.134 25.252 23.935 Agosto Setembro 24.910 15.469 25.243 29.664 23.204 21.731 17.615 25.460 22.912 19.836 22.783 27.510 30.177 22.444 24.449 15.585 22.105 23.111 Outubro Novembro 17.022 19.119 27.428 25.849 28.407 27.401 16.292 26.346 23.483 18.483 24.526 31.603 30.761 34.149 26.769 22.710 24.296 26.662 Dezembro 24.233 22.700 25.878 31.976 28.678 33.041 23.626 31.136 27.659 Total 261.464 260.641 359.582 370.509 356.723 348.398 321.350 364.193 330.358

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Cultivo da pimenta

Grfico 4 - Quantidades mdias mensais de pimentas in natura comercializadas na Ceagesp, entreposto de So Paulo, no perodo 1998 - 2005

A evoluo dos preos mdios ao longo do ano apresenta uma variao compatvel com a variao na oferta do produto, com mdias da ordem de R$ 1,30 por kg de pimenta, no perodo de maior oferta, e valores mximos em torno de R$ 1,70 nos meses de agosto a outubro (Grfico 5). No Grfico 6, observa-se a evoluo simultnea entre as quantidades mensalmente ofertadas e os preos mdios mensais na Ceagesp, o ndice de evoluo desses parmetros tem os primeiros dados da srie assumindo valores iguais a 100. Ao longo do perodo, observa-se que h tendncia sutil de elevao para ambos os

parmetros, o que indica haver tendncia de aumento dos preos praticados e das quantidades ofertadas nessa praa. Comercializao de pimenta na Ceasa-BA Entre janeiro de 1999 e maio de 2006, a Centrais de Abastecimento da Bahia (Ceasa-BA) comercializou, aproximadamente, 172 mil kg de pimenta, em mdia, por ano. O maior volume de comercializao ocorreu no ano de 2001, quando foram negociados cerca de 224 mil kg desse produto. Contudo, o menor volume comercializado ocorreu em 2005, apro-

ximadamente 125 mil kg de pimenta (Quadro 5). No Grfico 7, observa-se a distribuio do volume comercializado ao longo do ano na Ceasa-BA. Verifica-se irregularidade na oferta do produto, sendo o ms de fevereiro com menores volumes comercializados. Os meses de maior oferta so maio e dezembro, quando comercializam-se, em mdia, 18 mil kg de pimenta. Nos demais meses do ano, o volume comercializado situa-se em torno de 13 mil kg de pimenta. No Quadro 6, observa-se a magnitude dos preos mdios mensais observados, em valores corrigidos, no mercado atacadista de Salvador, desde 1999. Em termos de mdias anuais, o preo ficou abaixo de R$ 5,00 apenas no ano de 2001. J os maiores preos ocorreram no ano de 2004, cuja mdia ficou acima de R$ 8,00 por kg de pimenta. Na evoluo dos preos mdios ao longo do ano observa-se variao bastante acentuada, como resposta sazonalidade de oferta mostrada anteriormente, com mdia, nos meses de maio e novembro, de R$ 4,00 por kg de pimenta (Grfico 8). J os valores mximos ao longo do ano ocorrem, em mdia, durante os meses de julho, agosto e setembro, quando tem incio a entressafra de algumas variedades mais comercializadas. No Grfico 9, observa-se a evoluo

QUADRO 4 - Preos mdios (R$) corrigidos (IGP-DI maio 2006) de pimenta in natura na Ceagesp, entreposto de So Paulo, no perodo 1998 - 2005 Ms Ano 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Mdia Janeiro 1,31 1,80 1,11 1,49 1,50 1,45 1,27 1,94 1,48 Fevereiro 1,22 1,65 0,89 1,18 1,33 1,17 1,16 1,81 1,30 Maro 1,44 1,51 0,87 1,32 1,15 1,25 1,20 1,61 1,29 Abril 1,52 1,48 0,81 1,51 1,17 1,44 1,32 1,31 1,32 Maio 1,53 1,44 0,90 1,88 1,29 1,72 1,25 1,53 1,44 Junho 1,60 1,57 1,07 2,10 1,42 1,78 1,65 1,37 1,57 Julho 1,80 1,50 1,59 1,51 1,51 2,17 1,53 1,54 1,64 Agosto 1,97 1,61 1,94 1,33 1,89 1,75 1,90 1,69 1,76 Setembro Outubro 2,06 1,72 1,99 1,49 2,03 1,46 2,28 1,81 1,85 2,22 1,60 1,65 1,33 1,53 1,58 1,98 1,61 1,69 Novembro 2,12 1,42 1,26 1,29 1,31 1,50 1,81 1,61 1,54 Dezembro 1,83 1,50 1,46 1,22 1,63 1,59 2,07 1,60 1,61 Mdia 1,72 1,57 1,29 1,47 1,48 1,57 1,62 1,62 1,54

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Cultivo da pimenta

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simultnea entre as quantidades mensalmente ofertadas e os preos mdios mensais na Ceasa-BA. O ndice de evoluo desses parmetros tem os dados relativos a janeiro de 1999, assumindo valores iguais a 100. Ao longo do perodo, percebe-se tendncia de decrscimo das quantidades ofertadas e elevao dos preos praticados na regio. Comercializao de pimenta na Ceasa-GO, Ceasa-RJ, Ceasa-PR
Grfico 5 - Mdia mensal dos preos mdios corrigidos1 de pimenta in natura na Ceagesp, entreposto de So Paulo, no perodo 1998 - 2005

Grfico 6 - Evoluo dos ndices de quantidades de pimenta in natura mensalmente ofertadas e dos preos mdios mensais na Ceagesp, entreposto de So Paulo - jan. 1996 = 100

Nas Centrais de Abastecimento de Gois S/A (Ceasa-GO) de Goinia, fazemse a discriminao de todos os tipos de pimentas e as cotaes separadamente, talvez pela importncia desse produto para a regio. Nesse mercado, as unidades para a comercializao e cotao em 2005 (mdia anual) foram para pimenta-de-cheiro com o preo mais comum de R$4,00, mximo de R$47,00 e mnimo de R$1,00 o quilo; pimenta-bode R$ 1,00-R$ 3,00-R$ 0,80 a lata com 500 g; pimenta-cumari R$ 3,00-R$ 4,00R$ 1,50 a lata com 500 g; pimenta-malagueta R$ 3,00-R$ 7,00-R$ 2,00 a lata com 700 g; pimenta-god (Cambuci) comercializada a R$ 10,00-R$ 20,00-R$ 3,00 a caixa de 8 kg; pimenta-dedo-de-moa R$1,00-R$ 14,00-R$ 1,00 a lata com 400 g. Nas Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro S/A (Ceasa-RJ)

QUADRO 5 - Quantidades (kg) mensais de pimentas in natura comercializadas na Ceasa-BA, Unidade Salvador, no perodo 1999 - 2006 Ms Ano 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Mdia Janeiro 15.107 24.318 10.845 13.485 17.983 11.165 14.040 14.630 15.197 Fevereiro 4.520 11.840 12.137 12.840 12.923 10.100 9.625 15.285 11.159 Maro 13.935 11.530 12.520 11.115 11.001 19.770 12.140 9.145 12.645 Abril 9.990 14.093 21.421 15.354 10.957 18.421 9.510 3.900 12.956 Maio 14.178 12.773 29.107 20.753 13.436 25.200 13.810 8.675 17.242 13.239 15.313 14.188 13.866 16.282 15.594 18.528 Junho 14.080 7.204 19.810 12.252 13.340 9.980 16.010 Julho 12.050 15.210 23.748 18.276 21.110 7.810 8.990 Agosto Setembro 14.500 14.285 22.470 16.025 14.935 11.340 5.760 21.830 15.606 11.910 18.449 14.860 10.110 4.300 Outubro 23.530 17.875 15.350 21.001 21.740 9.120 5.360 Novembro Dezembro 18.206 11.690 22.104 12.426 12.020 17.120 15.595 21.220 21.695 22.790 11.490 17.480 24.310 10.710 Total 183.146 178.119 224.212 183.466 181.785 174.446 125.850 51.635 171.869

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Cultivo da pimenta

Grfico 7 - Quantidades mdias mensais de pimentas in natura, comercializadas na Ceasa-BA, Unidade Salvador, no perodo 1999 - 2006

do Rio de Janeiro, os preos so cotados para o produto pimenta, sem explicitar tipo ou variedade. Nesses mercados, os preos de janeiro a dezembro de 2005 variavam de R$ 7,32 a R$ 9,61/kg. O preo mais baixo foi em fevereiro (R$ 7,03) e mais alto em agosto (R$ 25,42). Nas Centrais de Abastecimento do Paran S/A (Ceasa-PR) de Curitiba, os preos tambm so cotados para o produto pimenta, sem explicitar tipo ou variedade. Nesses mercados, os preos de janeiro a dezembro de 2005 para caixa de 10 a 13 kg variaram de R$ 11,37 a R$ 9,17. O preo mais baixo foi em abril, R$ 6,65, e mais alto em novembro, R$ 25,00.

QUADRO 6 - Preos mdios (R$) corrigidos (IGP-DI maio 2006) de pimenta in natura na Ceasa-BA, Unidade Salvador, no perodo 1999 - 2006 Janeiro 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Mdia 4,81 3,64 5,40 12,19 10,55 4,36 6,28 5,81 6,63 Fevereiro 6,68 4,08 3,68 4,77 13,80 5,84 8,20 5,16 6,52 Maro 4,55 5,52 7,51 3,82 10,14 3,50 5,20 7,73 6,00 Abril 4,80 3,60 6,95 6,28 5,63 5,21 4,73 10,98 6,02 Maio 4,61 4,74 2,88 3,77 3,50 6,44 5,51 5,50 4,62 Junho 4,98 8,31 4,01 4,96 4,51 6,46 5,49 _ 5,53 Julho 6,65 9,02 2,95 5,46 3,84 12,77 9,40 _ 7,16 Agosto Setembro 5,46 8,70 3,85 5,52 4,91 16,93 11,65 _ 8,15 5,02 6,32 5,44 4,97 5,11 14,92 10,22 _ 7,43 Outubro 5,77 3,75 4,25 2,97 2,99 9,94 6,86 _ 5,22 Novembro Dezembro Mdia 3,78 3,60 3,35 3,18 3,45 7,31 5,13 _ 4,26 3,30 5,53 8,24 6,52 4,29 5,62 9,44 _ 6,13 5,03 5,57 4,88 5,37 6,06 8,28 7,34 7,04 6,14

quase impossvel conhecer a realidade da comercializao das pimentas por meio das informaes disponveis nas centrais atacadistas, principalmente considerando-se que grande parte da venda direta entre produtor e varejo e isto no computado nas estatsticas. CONSIDERAES FINAIS Os trs maiores mercados CeasaMinas, Ceagesp e Ceasa-BA formam magnitudes distintas com relao aos volumes de pimenta comercializados, tendo comportamento mdio e evoluo de quantidade e preos bem distintos. A Ceagesp comer-

Grfico 8 - Mdia mensal dos preos mdios corrigidos1 de pimenta in natura, na Ceasa-BA, Unidade Salvador, no perodo 1999 - 2006

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Cultivo da pimenta

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anual.html>. Acesso em: 10 set. 2006. CEASA-PR. Estatsticas dos produtos comercializados . Disponvel em: <http:// www.pr.gov.br/ceasa/estatist.html> Acesso em: 12 set. 2006. CEASA-RJ. Sistema de consulta de preos. Disponvel em: <http://www.ceasa.rj.gov.br/ consultas/consultas.htm>. Acesso em: 12 set. 2006. CEASAMINAS. Oferta e preo mdio de produtos . Disponvel em: <http://www. ceasaminas.com.br/boloferta.asp>. Acesso em: 10 set. 2006. EMBRAPA HORTALIAS. Capsicum: pimentas e pimentes no Brasil. Disponvel em: <http:// www.cnph.embrapa.br/capsicum/cultivo.htm>. Acesso em: 12 jul. 2006. GONALVES, E.M.D. Produo de pimenta em assentamentos rurais no municpio de Campo Florido-MG. In: ENCONTRO DO AGRONEGCIO PIMENTAS (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS DERIVADOS, 1., 2004, Braslia. Anais... Braslia: Embrapa Hortalias, 2004. 1 CD-ROM. HENZ, G.P. Perspectivas e potencialidades do mercado para pimentas. In: ENCONTRO DO AGRONEGCIO PIMENTAS (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS DERIVADOS, 1., 2004, Braslia. Anais... Braslia: Embrapa Hortalias, 2004. 1 CD-ROM. NASCIMENTO, W.M. Mercado de sementes de pimentas no Brasil. In: ENCONTRO DO AGRONEGCIO PIMENTAS (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS DERIVADOS, 1., 2004, Braslia. Anais... Braslia: Embrapa Hortalias, 2004. 1 CD-ROM. PIMENTA. Disponvel em: <http://pt.wikipedia. org/wiki/pimenta>. Acesso em: 15 jun. 2006. PIERRO, A.C. Mercado mundial de sementes de Capsicum. In: ENCONTRO DO AGRONEGCIO PIMENTAS (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS DERIVADOS, 1., 2004, Braslia. Anais... Braslia: Embrapa Hortalias, 2004. 1 CD-ROM. SCHNEID, L.F. Produo de pimenta tipo calabresa em Turuu-RS. In: ENCONTRO DO AGRONEGCIO PIMENTAS (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS DERIVADOS, 1., 2004, Braslia. Anais... Braslia: Embrapa Hortalias, 2004. 1 CD-ROM.

Grfico 9 - Evoluo dos ndices de quantidades de pimenta in natura mensalmente ofertadas e dos preos mdios mensais, na Ceasa-BA, Unidade Salvador jan. 1999 = 100

cializou volume mdio anual de, aproximadamente, 330 t, enquanto que a comercializao na CeasaMinas foi da ordem de 196 t e a da Ceasa-BA em torno de 172 t. A evoluo dos volumes comercializados tambm guarda ntida diferena. Em So Paulo, na ltima dcada, a quantidade comercializada e o preo praticado tm tendncia levemente crescente. Em Minas Gerais, preo e quantidade so decrescentes e o decrscimo de quantidade mostra-se mais acentuado. Na Ceasa-BA, o preo crescente enquanto o volume decrescente. Alm das diferenas nas quantidades totais comercializadas, vale destacar que a distribuio desse volume ao longo do ano guarda significativas diferenas entre os trs mercados, com o conseqente diferencial no comportamento de preos. Ou seja, os perodos de maiores ou menores preos no ocorrem simultaneamente nas trs centrais de abastecimento. Vale destacar a elevao do preo praticado no mercado de Salvador, quando comparado com o dos dois outros mercados. Enquanto que em Salvador, o preo mdio anual da ordem de R$ 6,14, em Belo Horizonte e So Paulo de, respectivamente, R$ 1,22 e R$ 1, 54, ou seja, apenas 20% do preo praticado na capital baiana.

Assim, de acordo com as particularidades de cada mercado em relao s preferncias por determinado tipo de pimenta, cabe aos produtores ficarem atentos s distintas oportunidades oferecidas pelos trs mercados, j que possuem caractersticas nitidamente diferenciais em relao aos preos praticados nos diversos perodos. No contexto apresentado, vale destacar as oportunidades oferecidas pela Ceasa-BA, com preos nitidamente mais remuneradores e o cuidado com o decrscimo do mercado de Belo Horizonte. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ABREU, F.R. Produo de pimenta tabasco em agricultura familiar no estado do Cear. In: ENCONTRO DO AGRONEGCIO PIMENTAS (CAPSICUM SPP.), 1.; MOSTRA NACIONAL DE PIMENTAS E PRODUTOS DERIVADOS, 1., 2004, Braslia. Anais... Braslia: Embrapa Hortalias, 2004. 1 CD-ROM. CEAGESP. Cotaes. Disponvel em: <http:// www.ceagesp.gov.br/economia>. Acesso em: 10 set. 2006. CEASA-BA. Preos . Disponvel em: <http:// www.ebal.ba.gov.br/CeasaNew/Consulta Precos.htm>. Acesso em: 28 jun. 2006. CEASA-GO. Cotao anual. Disponvel em: <http://www.ceasa.goias.gov.br/cotacoes/

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Cultivo da pimenta

Espcies e variedades de pimenta


Gisele Rodrigues Moreira 1 Fabiano Ricardo Brunele Caliman 2 Derly Jos Henriques da Silva 3 Cludia Silva da Costa Ribeiro 4

Resumo - Pimentas so importantes para a produo de condimentos alimentares em funo da cor, aroma e sabor dos frutos. A cor determinada predominantemente por carotenides. As diferenas no ardor (sabor, pungncia) dos frutos so atribudas aos alcalides capsaicinides. Tais alcalides so produzidos na placenta e liberados quando o fruto sofre qualquer dano fsico, ao que se chama pungncia do fruto. O gnero possui 35 espcies e o Brasil o centro secundrio da espcie domesticada C. chinense. As espcies e grupos de cultivares de interesse comercial so: C. frutescens Malaguetas (Malagueta, Malaguetinha, Malagueto e Malagueta-amarela) e Tabasco; C. chinense pimenta-de-cheiro, pimenta-bode, Cumari-do-par, Biquinho, Murupi e Habanero;C. annuum var. annuum pimenta-doce, Jalapeo, Cayenne, Serrano e Cereja; C. baccatum var. pendulum Dedo-de-moa e Cambuci; C. baccatum var. baccatum e C. baccatum var. praetermissum Cumari. O germoplasma de pimenta tem sido conservado em bancos de germoplasma como o Banco de Germoplasma de Hortalias (BGH) da UFV, Centro Tecnolgico da Zona da Mata (CTZM) da EPAMIG e Embrapa Hortalias. No melhoramento dessas espcies, os principais mtodos utilizados so: genealgico, Single Seed Descent (SSD), retrocruzamento, seleo recorrente e Inbred Backcross Line System (IBLS). Palavras-chave: Capsicum. Planta para condimento. Pungncia. Melhoramento.

INTRODUO As pimentas constituem importante segmento do setor de hortalias, tanto para a agricultura, quanto para a indstria alimentcia. So especiais para a produo de condimentos, devido a caractersticas como cor dos frutos e princpios ativos, que lhes conferem aroma e sabor. Do ponto de vista social, o agronegcio da pimenta tem importncia, principalmente, em funo de requerer grande quantidade de mo-deobra, em especial durante a colheita. Alm disso, o mercado de pimenta abrange a

comercializao de frutos para consumo in natura e conservas caseiras at a exportao de pprica, p de pimento ou pimenta doce madura vermelha. Os frutos de pimentas picantes podem ser desidratados e comercializados inteiros, em flocos (calabresa) e em p (pprica picante) ou, ainda, em conservas e em molhos lquidos. A pprica utilizada principalmente como corante natural na indstria de alimentos, em embutidos de carne, sopas de preparo instantneo, molhos, rao para

aves e tambm como condimento. No desenvolvimento de cultivares de pimenta doce para pprica, a colorao dos frutos maduros a principal caracterstica considerada. Quanto maior o teor de pigmentos vermelhos, mais intensa a colorao do p. A maioria dos pigmentos carotenides e, em ordem de importncia, tm-se: Capsantina, Capsorubina, Caroteno, Zeantina e Criptoxantina, sendo os dois primeiros vermelhos e os demais amarelos (CASALI; STRINGUETA, 1984). Os teores desses pigmentos so influen-

Eng a Agr a, D.Sc., Prof a Adj. UFP - Dep to Informtica, Rod. BR 135, km 3, CEP 64900-000 Bom Jesus-PI. Correio eletrnico: grmoreira@yahoo.com.br
2 3 4

Engo Agro, Doutorando Fitotecnia UFV, CEP 36571-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: frcaliman@yahoo.com.br Engo Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia,CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: derly@ufv.br Enga Agra, M.Sc., Pesq. Embrapa Hortalias, CEP 70359-970 Braslia-DF. Correio eletrnico: claudia@embrapa.cnph.br
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ciados por vrios fatores como gentico, grau de amadurecimento dos frutos e condies climticas. As diferenas no ardor dos frutos so atribudas aos alcalides denominados capsaicinides (ISHIKAWA et al., 1998), especialmente a capsaicina e a diidrocapasaicina (ZEWDIE; BOSLAND, 2000; BOSLAND, 1993). Tais alcalides so produzidos na placenta e liberados quando o fruto sofre qualquer dano fsico, conferindo o que se chama pungncia do fruto (sabor ardido ou efeito picante), caracterstica exclusiva do gnero Capsicum. A maioria das variedades produz frutos com o caracterstico sabor pungente, enquanto que as sem pungncia so classificadas como doces. Existe grande variabilidade gentica entre as espcies do gnero Capsicum, observada principalmente nos frutos que podem apresentar diferentes formatos, colorao, tamanho e pungncia. H frutos de pimenta de vrias coloraes, desde vermelha (a mais comum), at preta, mas tambm ocorrem as cores amarela, creme e alaranjada. As pimentas tm uso bastante variado. Algumas cultivares ou tipos varietais so mais consumidas na forma de saladas, cozidos ou recheados, outras, mais utilizadas como condimentos, em molhos ou em conservas. As pimenteiras tambm esto sendo utilizadas como plantas ornamentais, em razo da folhagem variegada, do porte ano e dos frutos com diferentes cores no processo de maturao. Alm disso, tambm so atribudas s pimentas algumas propriedades medicinais (GOVINDARAJAN, 1991). Os capsaicinides esto sendo utilizados na composio de medicamentos para aliviar dores musculares, reumticas, inflamaes, queimaduras, nevralgias, lumbago, torcicolo, etc. (BIANCHETTI; CARVALHO, 2005). A maioria das sementes das variedades de pimenta produzida pelos prprios agricultores ou extrada de frutos maduros adquiridos em feiras e outros locais de comrcio. As pimentas Malagueta, Dedo-de-moa, Cambuci, Doce e

Jalapeo podem ser obtidas de empresas produtoras de sementes. ESPCIES DE PIMENTA Pimentas do gnero Capsicum possuem a seguinte classificao taxonmica: Diviso: Spermatophyta Filo: Angiospermae Classe: Dicotilednea Ramo: Malvales-Tubiflorae Ordem: Solanales (Personatae) Famlia: Solanaceae Por muito tempo, o gnero Capsicum foi motivo de confuses taxonmicas no que se refere evoluo da forma do fruto nas espcies cultivadas (MCLEOD et al., 1979). O gnero Capsicum composto por cerca de 35 txons (espcies e suas variedades). Os txons so classificados de acordo com o nvel de domesticao. Dessa forma, o gnero constitudo por cinco txons domesticados, cerca de dez semidomesticados e 20 silvestres (BIANCHETTI; CARVALHO, 2005) (Quadro 1). Segundo Nuez Vials et al. (1996), as espcies do gnero Capsicum tiveram origem no Continente Americano. Uma das hipteses sobre o surgimento e a evoluo dessas espcies sugere que a maior parte do gnero originou-se no sul da Bolvia e, ento, migrou para os Andes e terras baixas da Amaznia, onde surgiram novas espcies. O Brasil o centro secundrio de diversidade da espcie domesticada C. chinense que tem a Bacia Amaznica como rea de maior diversidade. As espcies semidomesticadas e silvestres, por sua vez, restringem-se regio andina (ArgentinaVenezuela, at a Amrica Central) e regio litornea brasileira. O maior nmero de espcies silvestres est no Brasil, especialmente na Regio Sudeste e nas regies de Mata Atlntica, principal centro de diversidade delas (REIFSCHNEIDER, 2000). Segundo Bianchetti (1996), o Rio de Janeiro importante centro de diversidade do gnero com grande nmero de espcies silvestres.

Bianchetti (1996), ao estudar a morfologia e a ecologia das espcies silvestres brasileiras, obteve resultados distintos daqueles encontrados para as espcies andinas. A maioria destas espcies andinas vegeta em ambientes abertos e secos, apresenta frutos eretos, ovalados, vermelhos, com sementes claras e dispersadas por pssaros. Enquanto que a maioria das espcies brasileiras vegeta em ambientes fechados e midos, tem frutos pendentes, globosos, verde-amarelados, sementes escuras e, provavelmente, no so dispersadas por pssaros e sim por outro dispersor (BIANCHETTI; CARVALHO, 2005). As diferentes espcies e variedades de pimenta podem ser discriminadas por caractersticas morfolgicas visualizadas nos frutos e, principalmente, nas flores. No Brasil, as espcies mais cultivadas so: Capsicum frutescens, Capsicum chinense, Capsicum annuum e Capsicum baccatum. VARIEDADES DE PIMENTA A maioria das cultivares de pimentas plantadas no Brasil considerada variedade botnica ou grupo varietal, com caractersticas de frutos bem definidas (RIBEIRO, 2004). As principais so: a) C. frutescens: Malaguetas (Malagueta, Malaguetinha, Malagueto e Malagueta-amarela) e Tabasco; b) C. chinense: pimenta-de-cheiro, pimenta-bode, Cumari-do-par, Biquinho, Murupi e Habanero; c) C. annuum var. annuum: pimentadoce, Jalapeo, Cayenne, Serrano e Cereja; d) C. baccatum var. pendulum: Dedode-moa e Cambuci; e) C. baccatum var. baccatum e C. baccatum var. praetermissum : Cumari. Malaguetas A Malagueta plantada praticamente em todo o Brasil e a pimenta mais cultivada na Zona da Mata mineira, cuja

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Cultivo da pimenta

QUADRO 1 - Distribuio das espcies do gnero Capsicum em diferentes categorias, de acordo com o grau de domesticao Grau de domesticao Domesticadas
(1) (1) (1) (1)

Espcies C. annuum var. annuum

C. baccatum var. pendulum C. chinense C. frutescens

C. pubescens Semidomesticadas
(1) (1) (1)

C. annuum var. glabriusculum

C. baccatum var. baccatum

C. baccatum var. praetermissum

C. chinense (forma silvestre) C. frutescens (forma silvestre) C. cardenasii C. eximium C. tovarii C. chacoense C. galapagonense Silvestres
(1) (1)

C. buforum

C. campylopodium

C. chacoense var. tomentosum C. ciliatum C. coccineum C. cornutum C. dimorphum


(1)

C. dusenii C. flexuosum

produo destinada tanto para o consumo in natura, quanto para a fabricao de molhos e de conservas. As plantas so arbustivas, vigorosas com altura de 0,9 a 1,2 m e bastante ramificadas, principalmente quando o trato cultural de cortar o pice da planta utilizado, eliminando, assim, a dominncia apical. Os frutos so, geralmente, filiformes com 1,5 a 3 cm de comprimento e 0,4 a 0,5 de largura. So de colorao verde, quando imaturos, passando diretamente para a colorao vermelha, quando maduros. Geralmente, existem dois a cinco frutos por insero, os quais so muito picantes. A colheita inicia-se aos 110-120 dias aps a semeadura. Aps esse perodo, os frutos comeam a perder gua intensamente, exibindo murchamento e at deformaes (SOUZA; CASALI, 1984). As pimentas Malaguetinha, Malagueto e Malagueta-amarela so variaes da Malagueta (Fig. 1), quanto ao tamanho e colorao dos frutos e assemelham-se quanto pungncia. A Malaguetinha possui frutos de tamanho reduzido (1,5 cm de comprimento por 0,3 a 0,4 cm de largura), enquanto os frutos da Malagueto so maiores, com tamanho que varia de 3 a 4 cm de comprimento a 0,8 a 10 cm de largura. Os frutos da Malaguetaamarela so amarelos, ao invs de vermelhos, quando maduros. As pimentas Malaguetas so utilizadas principalmente para consumo fresco, no preparo de conservas e molhos. 'Tabasco' A pimenta-tabasco (Fig. 2) a mais conhecida nos Estados Unidos e tem sido cultivada no estado do Cear, para exportao, na forma de pasta. Distingue-se da Malagueta pela colorao dos frutos durante a maturao, passando de verde para amarela ou alaranjada e s depois para vermelha. Os frutos so picantes, com 2,5 a 5 cm de comprimento e 0,5 de largura. Pimenta-de-cheiro As pimentas-de-cheiro pertencem espcie C. chinense, considerada a mais

Silvestres

(1)

C. geminifolium C. hookerianum C. minuflorum C. lanceotatum


(1)

C. mirabile C. parvifolium C. schottianum

(1)

(1)

C. scolnikianum
(1)

C. villosum

FONTE: Carvalho et al. (2003). (1)Espcies encontradas no Brasil.

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Os frutos da pimenta-de-cheiro (Fig. 3), cultivada em maior escala nas Regies Centro-Oeste e Norte do Pas, so de formato campanulado, com peso mdio de 12 g, colorao verde, quando imaturos, passando para laranja-plida ou vermelha, quando maduros. muito apreciada pelos consumidores por apresentar frutos com aroma acentuado e doces ou pouco picantes, sendo utilizada como tempero em arroz, saladas e, especialmente, no preparo de peixes e frutos do mar. Quanto pungncia, esta pode ser suave ou ausente, porm, podem ser encontrados frutos com pungncia alta (CARVALHO et al., 2003). Pimenta-bode A pimenta-bode muito comum na Regio Centro-Oeste do Pas (REIFSCHNEIDER, 2000). Na culinria goiana usada como tempero no preparo de carnes, arroz, feijo, pamonha salgada e at em biscoitos de polvilho (CARVALHO et al., 2003). Os frutos apresentam formatos arredondados ou achatados, com cerca de 1 cm de comprimento e dimetro, com colorao amarela (Fig. 4) ou vermelha (Fig. 5) e pungncia elevada. Assim como a pimenta-de-cheiro, a pimenta-bode possui aroma caracterstico. Os frutos imaturos so comercializados in natura, enquanto os maduros (amarelos ou vermelhos) so utilizados, principalmente, em conservas de frutos inteiros (em vinagres ou em azeite) e em molhos. Cumari-do-par A Cumari-do-par (Fig. 6) possui frutos de formato triangular, com 3 cm de comprimento e 1 cm de largura, colorao amarela, quando maduros, aromticos e com elevada pungncia. mais comum nos estados do Par e Amazonas, mas tambm so cultivadas em Gois e Minas Gerais e consumidas, principalmente, na forma de conservas. Biquinho A pimenta-doce biquinho, tambm conhecida pelo nome pimenta-de-bico, pertence espcie Capsicum chinense e

Figura 1 - Pimenta-malagueta (Capsicum frutescens)

Figura 2 - Pimenta-tabasco (Capsicum frutescens)

brasileira. Segundo Reifschneider (2000), a rea de maior diversidade dessa espcie est na Bacia Amaznica, havendo indcio de que tenha sido domesticada pelos ndios da regio. Essas pimentas possuem grande va-

riabilidade no formato e no tamanho dos frutos, que so de 1,5 a 4 cm de comprimento e 1 a 3 cm de largura, e na colorao, que pode ser amarelo-leitosa, amarelo-forte, alaranjada, salmo, vermelha e preta.

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Figura 3 - Pimenta-de-cheiro (Capsicum chinense)

Figura 4 - Pimenta-bode amarela (Capsicum chinense)

Figura 5 - Pimenta-bode vermelha (Capsicum chinense)

Figura 6 - Pimenta cumari-do-par (Capsicum chinense)

considerada um tipo varietal relativamente novo. cultivada principalmente na regio do Tringulo Mineiro, no estado de Minas Gerais, sendo consumida mais na forma de conservas. Esta pimenta ganhou, rapidamente, expresso nacional por

apresentar frutos doces, extremamente saborosos e aromticos. Possui frutos de formato triangular com a ponta bem pontiaguda, formando um biquinho (Fig. 7), com 2,5 a 2,8 cm de comprimento e 1,5 cm de largura, de colorao vermelha,

quando maduros, aromticos e sem ardor, embora existam cultivares picantes desta pimenta. Murupi A pimenta-murupi muito conhecida e

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Cleide Maria Ferreira Pinto

Cleide Maria Ferreira Pinto

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Figura 7 - Pimenta-biquinho ( Capsicum chinense)

Figura 8 - Pimenta-murupi ( Capsicum chinense)

centes espcie C. annuum. Deste grupo, a pimenta Jalapeo a mais cultivada no Brasil, especialmente nos estados de So Paulo, Minas Gerais e Gois. considerada uma das melhores pimentas para molhos, devido boa quantidade de polpa que produz. Os frutos tambm so consumidos in natura, em conservas (em vinagre ou no azeite) e desidratados inteiros ou em p (condimentos). Os frutos geralmente possuem formato cnico, com cerca de 5 a 8 cm de comprimento, 2,5 a 3 cm e peso mdio de 45 g. Apresentam parede espessa e estrias suberizadas na epiderme (Fig. 10). Quando imaturos, os frutos so verdeclaros ou verde-escuros, passando para vermelho, quando maduros. Possui pungncia mdia e aroma acentuado. O ciclo mdio de 95 dias.

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consumida na Regio Norte do Brasil. comumente comercializada em feiras, in natura ou preparada artesanalmente, como molho de pimenta, a partir do tucupi (manupueira, extrada da mandioca) ou em conservas base de vinagre, leo e soro de leite (CARVALHO et al., 2003). Os frutos so alongados com colorao verde, quando imaturos, passando a amarelo-plida (Fig. 8), amarelo-intensa ou forte ou vermelha, quando maduros. So conhecidas, ainda as variedades de pimentas Murupi, a Murupizinho, a Murupi-comum e a Murupi-grande, que se diferenciam quanto ao tamanho, formato, cor e pungncia. A Murupizinho possui tamanho de 2 a 4 cm de comprimento e apresenta aroma e pungncia mais acentuados que as demais; a Murupi-comum possui de 3,5 a 6 cm; e a Murupi-grande pode chegar a 9 cm de comprimento. Habanero A pimenta-habanero possui frutos pendentes e em forma de lanterna, outros so afilados na ponta. Os tipos caribenhos desta pimenta so achatados nas pontas e assemelham-se a um bon ou gorro. A Habanero originria da pennsula do Yucat, entre o Mxico e Belize, e foi recen-

temente introduzida no Brasil. conhecida desde o Caribe at o Brasil, sendo considerada uma das pimentas mais picantes. Os frutos so retangulares, com 2 a 4 cm de comprimento e 2 a 6 cm de largura, verdes, quando imaturos, e tornam-se vermelhos, laranjas (Fig. 9), amarelos, brancos ou at mesmo de cor prpura e marrom, quando maduros (CARVALHO et al., 2003). So preferencialmente consumidos in natura.
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Figura 10 - Pimenta-jalapeo (Capsicum annuum var. annuum)

Outras cultivares de pimenta-jalapeo so descritas no Quadro 2. Cayenne A pimenta-cayenne, tambm conhecida como pimenta-vermelha, altamente picante e pode ser consumida in natura, mas geralmente, utilizada na forma desidratada ou em p. O fruto, de colorao vermelha, quando maduro, geralmente

Figura 9 - Pimenta-habanero (Capsicum chinense)

Jalapeo A pimenta-jalapeo, junto com a Cayenne, Serrano e Cereja, constitui um grupo de pimentas picantes perten-

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QUADRO 2 - Caractersticas de cultivares de pimentas disponveis no mercado brasileiro

Cultivares

Ciclo (dias) Planta Formato Cor do fruto Outras caractersticas Empresa de sementes

Incio de colheita (dias aps semeadura) Peso mdio de fruto/Tamanho (dimetro x comprimento)

Tipo Malagueta 110-120 100-120 100-120 100 110-120 90-100 _ Verde/vermelho Cilndrico curto 0,4 x 0,5 cm _ Verde/vermelho Alongado 2,5 x 3,5 cm _ Verde/vermelho Piramidal 0,5-1,0 x 2-5 cm Picante Muito picante Muito picante Arbustiva Verde/vermelho Alongado 0,6-0,7 g / 0,5 x 2,0 cm Muito picante Vigorosa Verde/vermelho Filiforme 2-3 cm Picante e produtiva Vigorosa Verde /vermelho Alongado 0,6-0,8 x 3-4 cm Ardida Sakata Horticeres Agristar/ Topseed Isla Feltrin Feltrin

Malagueta

Malagueta

Malagueta

Malagueta

Malagueta

Malaguetinha

Tipo Dedo-de-Moa 100-120 Arbustiva Verde/vermelho Cilndrico 1 x 13 cm Saborosa e picante Agristar/ Topseed

Dedo-de-Moa

Tipo Cambuci 90 (vero) 110-130 100-120 100-110 _ Verde-claro Achatado Arbustiva Verde/vermelho Achatado 4 x 6 cm Vigorosa Verde-claro Achatado _ Verde-claro Achatado 4-6 x 3-5 cm 30-40 g / 6-7 x 5-7 cm _ Sabor bem adocicado Doce Levemente picante Doce Isla Sakata Agristar/ Topseed Feltrin

Chapu-de-Bispo

Cambuci

Chapu-de-Bispo

Cambuci/ Chapu-de-Bispo

Tipo Jalapeo (picante) _ _ Vigorosa Verde/vermelho Cnico Vigorosa Verde/vermelho Cnico 45 g / 3,5 x 9,0 cm 3-4 x 8-9 cm Resistente a TMV Alta Produtividade Agristar/Topseed Seminis

Jalapeo

95

Hbrido Mitla

70-85

Outros tipos 110-120 90 (vero) 100-150 80-130 120-140 115-125 _ _ Compacta Compacta Arbustiva e ereta _ _ _ _ _ Verde/vermelho Verde/vermelho Verde/amarelo Verde/vermelho Verde/vermelho Amarela Verde/vermelho Verde/vermelho Cilndrico comprido _ Oblongo Redondo Cilndrico curto Cnico Cnico Cnico 8 x12 cm 1,2 x 8-10 cm 2,0 x 1,5 cm 1,0 x 0,7 cm 2,5 x 5,0 cm _ 10 x 9 mm 15 x 15 mm Picante Picante Picante Doce Picante Sabor picante Muito picante Picante Feltrin Isla Feltrin Feltrin Feltrin Agristar/Topseed Agristar/Topseed Agristar/Topseed

Cayenne

De Cayenne

Luna (Cumari-do-Par)

De Bico ( Biquinho)

Vulco (Ornamental)

Amarela Comprida

Pimenta para vaso

Redonda para vaso

Cultivo da pimenta

Informe Agropecurio, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.16-29, nov./dez. 2006

NOTA: As informaes contidas neste Quadro so provenientes de catlogos e sites das empresas de sementes Sakata, Horticeres, Agristar/Topseed, Isla, Feltrin e Seminis.

(1)Em 2007, a Isla lanar trs novas variedades de pimenta: a Pirmide Ornamental, a Espaguetinho Ornamental e a Hbrida Grisu F1.

Cultivo da pimenta

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apresenta a superfcie muito enrugada (Fig. 11). O formato pode ser alongado ou em meia lua, cujo comprimento varia de 13 a 25 cm e a largura de 1,2 a 2,5 cm. comercializada na frica, na ndia, no Mxico, no Japo e nos Estados Unidos. Serrano A pimenta-serrano, tambm chamada pimenta-verde, originria do Mxico (Fig. 12). mais pungente que a Jalapeo. Os frutos so alongados, possuem parede fina a mediana, cerca de 5 a 10 cm de comprimento e 1 cm de largura. Os frutos imaturos variam de verde-claro a verdeescuro e, quando maduros, podem apresentar colorao vermelha. O consumo dessa pimenta quase exclusivo na forma de fruto fresco e em estdios imaturos. Cereja Os frutos da pimenta-cereja so pequenos, redondos (Fig. 13) e levemente achatados, de colorao verde, quando imaturos, e vermelha, quando maduros. Podem ou no ser pungentes, dependendo da cultivar. So usados para a produo de picles e tambm consumidos frescos em saladas. Assim como as pimentas Cayenne e Serrano, a Cereja pouco difundida no Brasil. Dedo-de-moa A Dedo-de-moa uma das pimentas mais consumidas no Brasil, especialmente nos estados de So Paulo, Rio Grande do Sul e Gois. As plantas so arbustivas, com cerca de 1 m de altura. Os frutos so alongados, de colorao vermelha, quando maduros, e medem cerca de 1-1,5 cm de dimetro e 8-10 cm de comprimento. A pungncia suave (Fig. 14). Este tipo de pimenta pode receber outros nomes, dependendo da regio e dos diferentes usos, tais como Chifre-de-veado, por apresentar frutos de maior tamanho e, s vezes, de colorao vermelha mais intensa, sendo muito utilizada para confeco
Figura 12 - Pimenta-serrano (Capsicum annuum var. annuum)
Cleide Maria Ferreira Pinto

Figura 11 - Pimenta-cayenne (Capsicum annuum var. annuum)

de molhos, e pimentas Vermelha ou Calabresa, quando utilizadas desidratadas na forma de flocos com sementes.
Cleide Maria Ferreira Pinto

Cambuci A pimenta-cambuci, tambm chamada Chapu-de-bispo ou Chapu-de-frade, apresenta frutos em formato campanulado, de tamanho mediano e, geralmente com 4 cm de comprimento e 7 cm de largura; a colorao do fruto verde ou verde-clara,

Figura 13 - Pimenta-cereja ( Capsicum annuum var. annuum)

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Cludia Silva da Costa Ribeiro

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Cultivo da pimenta

Cleide Maria Ferreira Pinto

Figura 14 - P i m e n t a - d e d o - d e - m o a ( Capsicum baccatum var. pendulum) Figura 15 - Pimenta-cambuci (Capsicum var. pendulum)

quando imaturo, e vermelha aps a maturao (Fig. 15). Os frutos so considerados doces (ausncia de pungncia), porm podem ser encontrados no mercado cultivares levemente picantes (RIBEIRO, 2004). Cumari A Cumari, tambm conhecida como Cumari-verdadeira, pimenta-passarinho, Cumari-mida, Comari ou Pimentinha, possui frutos pequenos, eretos, de formato arredondado com cerca de 0,5 cm de dimetro ou ovalado com 0,6 a 0,7 cm de comprimento e 0,5 cm de dimetro (Fig. 16). Possui aroma suave, pungncia elevada e utilizada em conservas. Geralmente, os frutos so comercializados verdes (imaturos), pois, quando maduros, por desprenderem-se facilmente da planta, servem de alimento para pssaros como o bem-te-vi, sabi e sanhao. A nica diferena entre C. baccatum var. baccatum e C. baccatum var. praetermissum est na colorao das flores. A primeira apresenta flores brancas com manchas esverdeadas nas bases, enquanto a segunda possui uma faixa lils-violeta na margem das ptalas. A maior variabilidade de C. baccatum

mente Minas Gerais (Tringulo Mineiro) e tambm no Centro-Oeste. Poucas companhias existentes no Brasil comercializam sementes de pimenta e aquelas que o fazem restringem-se a alguns tipos especficos, como cultivares de pimenta do tipo Jalapeo (sementes importadas), Cambuci ou Chapu-de-frade, Malagueta, Dedo-de-moa (Quadro 2). Pimenta-de-mesa Alm das variedades citadas, a espcie C. annuum var. glabriusculum, conhecida na Regio Norte do Brasil como pimentade-mesa, tem sido utilizada, principalmente, como ornamental, em razo da folhagem variegada, do porte ano e dos frutos com diferentes cores no processo de maturao (Fig. 17). Geralmente, as plantas apresentam uma flor por n, de cor branca, violeta, roxa ou branca com manchas violetas difusas e pedicelos eretos. Os frutos so pequenos, com formas ovaladas a cnicas, eretos, verdes ou roxos-escuros, quando imaturos, e vermelhos, quando maduros. Pimenta-doce A pimenta-doce, tambm conhecida
Joo Aguiar Nogueira Batista

Figura 16 - Pimenta-cumari ( Capsicum baccatum var. baccatum e C. baccatum var. praetermissum)

var. baccatum encontrada na Bolvia, enquanto C. baccatum var. praetermissum exclusiva do Brasil. Porm, ambas so encontradas no Brasil, sendo a variedade baccatum mais comum na Regio Sul e a variedade praetermissum comumente encontrada na Regio Sudeste, especial-

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Cultivo da pimenta

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como pimenta-verde ou pimenta-americana, assim como o pimento, pertence espcie C. annuum. Este tipo de pimenta, por no possuir pungncia, tem boa aceitao entre os consumidores que a utilizam no preparo de pratos da culinria brasileira, substituindo, muitas vezes, o pimento-verde tradicional (Fig. 18). Existem no mercado, alguns hbridos de pimenta-doce tipo americana, que so cultivadas principalmente nos estados de So Paulo e Bahia (Quadro 3). A cultivar de pimenta-doce mais conhecida a Agronmico 11, cujas plantas so de fcil cultivo, vigorosas e tm elevada produo. Os frutos so de formato alongado (3,5 a 4,5 cm de dimetro e 16 a 19 cm de comprimento), peso mdio de 50 a 60 g e colorao verde-clara. Outra caracterstica dessa cultivar a resistncia ao vrus PVY (Vrus Y da batata). A colheita inicia-se aos 110-130 dias aps a semeadura. MELHORAMENTO DE PIMENTA Para o sucesso de um programa de melhoramento de fundamental importncia que haja progresso gentico. No entanto, a obteno de plantas superiores depende da existncia de variabilidade gentica no germoplasma analisado. As variaes tm que ser estveis, independentemente dos diferentes ambientes, onde a nova cultivar for plantada e avaliada. A anlise das variaes genticas intra e interespecficas possibilita o conhecimento da organizao e estrutura das relaes evolucionrias ocorrentes no gnero. Alm disso, so de grande importncia em programas de melhoramento a utilizao de hibridaes, por fornecerem parmetros para a identificao de genitores que, quando cruzados, aumentam as chances de recuperao de gentipos superiores nas geraes segregantes. O gnero possui ampla variabilidade gentica, evidenciada pela grande variedade de espcies. Parte desse germoplasma tem sido conservado em bancos de germoplasma, tais como as colees do Banco de Germoplasma de Hortalias

Figura 17 - Pimenta-de-mesa (Capsicum annuum var. glabriusculum)

Figura 18 - Pimenta-doce (Capsicum annuum)

(BGH), da Universidade Federal de Viosa (UFV), do Centro Tecnolgico da Zona da Mata (CTZM), da EPAMIG, e da Embrapa Hortalias, dentre outros (Fig. 19). Entretanto, para que haja maior uso desses

recursos, de fundamental importncia o conhecimento e a organizao dessa variabilidade gentica existente. Os programas nacionais de melhoramento de pimentas so restritos em

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Cludia Silva da Costa Ribeiro

Cludia Silva da Costa Ribeiro

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Cultivo da pimenta

QUADRO 3 - Caractersticas de cultivares e hbridos de 'Pimenta-doce' ou 'Pimenta-americana' disponveis no mercado brasileiro Hbridos/ Cultivares Ciclo (dias) Incio da colheita (dias aps semeadura) 110-130 Peso mdio de fruto e dimetro x comprimento 110-130 g 20-22 cm comp. Empresa de sementes

Planta

Cor do fruto

Formato

Outras caractersticas Resistente a PVY (estirpe 1-2) e ToMV

Hbrido Dirce R

Vigorosa

Verde

Alongado

Sakata

Hbrido Lipari

Verde-escuro/ vermelho

Alongado

130 g 5 x 27 cm

Resistente a TMV Resistente a TMV e PVY

Clause Tezier

Hbrido Dnamo

Verde

Alongado

Clause Tezier

Hbrido Pinquio

Verde-escuro/ vermelho

Alongado

130 g

Alta produtividade

Sakama

Hbrido Fushimi Amanaga

Verdebrilhante

Alongado

6 cm

Alto pegamento seqencial dos frutos

Sakama

Hbrido Housan Shishitou Hbrido Foulki

Verdebrilhante

Alongado

Muito produtiva

Sakama

100

Porte mdio

Verde-escurobrilhante Verde mdiovermelho

Cnico

180-200 g

Resistente a TMV

Agristar/ Topseed

Hbrido Thas

110

Cnico-longo

5-6 x 20-23 cm

Feltrin

Doce Comprida Agronmico 11

110-120 100-130

_ Vigorosa e produtiva

Verde-claro Verde-claro

Cnico Alongado

45-55 g (12 x 4 cm)

Feltrin Sakata

50-60 g e 3,5-4,5 x Resistente a 16-19 cm comp. PVY Sabor adocicado

Amarela Alongada

100

Verde-claro/ amarelo

Comprido

10-15 cm comp.

Isla

Doce Italiana

100-110

Vigorosa

Verde/ vermelho

Cnico

200 g 5 x 18 cm

Sabor suave

Agristar/ Topseed

NOTA:As informaes contidas neste Quadro so provenientes de catlogos e sites das empresas de sementes Sakata, Clause Tezier, Sakama, Agristar, Topseed, Feltrin e Isla.

funo, principalmente, do pouco interesse das companhias de sementes em comercializar sementes de pimenta. Alm de a rea cultivada com pimenta, no Brasil ser, ainda, relativamente pequena, caracteriza-

se pelo plantio de um grande nmero de tipos varietais. Devem ser consideradas, tambm, a dificuldade de manusear as pequenas flores para a execuo dos cruzamentos e multiplicao das sementes, a

produo escassa de sementes por frutos, uma vez que estes normalmente so muito pequenos e, ainda, a ardncia extrema dos frutos, dificultando a extrao das sementes.

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Figura 19 - Alguns acessos de pimenta do banco de germoplasma da EPAMIG-CTZM


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Fotos: Arquivo EPAMIG

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Cultivo da pimenta

So cultivados no Brasil diferentes tipos varietais pertencentes s quatro espcies domesticadas de Capsicum e, pelo menos, trs espcies semidomesticadas ( C. annuum var. glabriusculum , C. baccatum var. praetermissum e C. baccatum var. baccatum ). Para serem aceitos comercialmente, cada tipo de pimenta deve manter as caractersticas de frutos do seu grupo. Dessa forma, para o desenvolvimento de novas cultivares, o melhorista deve considerar o grupo de pimentas que est trabalhando e as exigncias e preferncias do mercado. um processo trabalhoso e que leva muito tempo. Algumas caractersticas, como pungncia, so difceis de ser manipuladas em funo da sua grande instabilidade. Produtores rurais, processadores e consumidores tm demandas muito especficas em termos de pungncia esperada para diferentes tipos de pimentas e de produtos base de pimenta. Alm disso, a produo e concentrao de capsaicinides na placenta de frutos de pimenta varia tanto em funo do gentipo quanto das condies ambientais em que as plantas esto sendo cultivadas. crescente o interesse dos mercados nacional e internacional por cultivares de pimentas-doces para processamento industrial, na forma de p (pprica). No desenvolvimento de cultivares de pimentadoce para pprica, a colorao dos frutos maduros a principal caracterstica considerada. Quanto maior o teor de pigmentos vermelhos, mais intensa a colorao do p. Os teores destes pigmentos so influenciados por vrios fatores como gentico, grau de amadurecimento dos frutos e condies climticas. O carter espessura de parede e o teor de slidos solveis nos frutos tambm devem ser levados em conta no melhoramento de pimentadoce para produo de pprica, pois influenciam diretamente no rendimento industrial e na reduo do consumo de energia necessrio para a desidratao dos frutos. H mais de duas dcadas, o Programa de Melhoramento da Embrapa Hortalias

tem-se concentrado principalmente na resistncia mltipla a doenas como murchade-fitftora (Phytophthora capsici), odio (Leveilula taurica), mancha-bacteriana (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria), murcha-bacteriana ( Ralstonia solanacearum ), Potyvrus (PepYMV), Tospovirus (TSWV, GRSV, TCSV, CSNV) e, mais recentemente, Geminivrus. Como resultado deste trabalho, foram liberadas linhagens que esto sendo utilizadas tanto no Brasil como no exterior, a exemplo da linhagem CNPH 148, resistente murchade-fitftora, e da linhagem CNPH 703, padro mundial de resistncia estvel e durvel a Xanthomonas campestris pv. vesicatoria (REIFSCHNEIDER, 2000). Os principais mtodos de melhoramento usados no desenvolvimento de cultivares de pimenta so: a) mtodo genealgico ou pedigree: baseia-se na seleo individual de plantas superiores e cuja performance avaliada por meio de testes de seus descendentes, as prognies; b) mtodo descendente de uma nica semente - Single Seed Descent (SSD): onde as geraes so avanadas, tomando-se uma nica semente de cada indivduo em cada gerao, at chegar a um nvel satisfatrio de uniformidade; c) retrocruzamento: envolve o cruzamento de uma cultivar selecionada com um genitor que possua uma ou poucas caractersticas de grande interesse; d) seleo recorrente: consiste em repetidos ciclos de seleo e recombinao de indivduos superiores selecionados; e) mtodo de retrocruzamento de linhagens - Inbred Backcross Line System (IBLS): uma mistura dos mtodos de retrocruzamento e SSD; f) hibridao: consiste no cruzamento de dois genitores, geneticamente distintos e com caractersticas com-

plementares, que resulta em indivduos hbridos. CONSIDERAES FINAIS O gnero Capsicum possui ampla variabilidade, quer seja dentre as espcies com variedades cultivadas, quer seja entre as espcies silvestres. Dessa forma, diversas cultivares podem ser obtidas associando caractersticas comerciais das cultivares com resistncia a doenas e a pragas das espcies silvestres. Por outro lado, o mercado de especiarias como pimentas com ou sem ardor tem aumentado continuamente. Diversas variedades existem disposio do consumidor, entretanto muito deve ainda ser feito para que se possam satisfazer as tendncias de mercado. REFERNCIAS
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Cultivo da pimenta

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Cultivo da pimenta

Produo de sementes de pimentas


Warley Marcos Nascimento1 Denise Cunha Fernandes dos Santos Dias2 Raquel Alves de Freitas3

Resumo - Para obteno de uniformidade de emergncia e vigor das plntulas, a implantao de uma cultura demanda sementes de boa qualidade. No entanto, no caso da pimenta, devido ao mercado limitado e a aspectos peculiares da produo de sementes, existe, at ento, um certo desinteresse por parte das empresas de sementes pelo desenvolvimento de novas cultivares, pela produo e at mesmo pela comercializao de sementes. De forma que muitos produtores utilizam sementes prprias e muitas vezes essas so produzidas sem critrios na escolha da rea de produo. Alm disso, a produo de sementes requer tratos culturais prprios do sistema, o ponto de colheita dos frutos tambm interfere na qualidade das sementes, assim como, os processos de extrao, secagem, beneficiamento, tratamento, acondicionamento e armazenamento das sementes. Palavras-chave: Capsicum. Pimenta. Semente. Dormncia. Mercado. Qualidade.

INTRODUO As pimentas ( Capsicum spp.) so cultivadas em diferentes regies do Brasil, seja de clima subtropical, como no Sul, seja de clima tropical, como no Norte e Nordeste. O cultivo de pimentas, considerado at pouco tempo como uma atividade secundria, tem sofrido grandes transformaes e assumido grande importncia para o Pas. Essas transformaes visam atender s demandas internas e externas do mercado consumidor. A agregao de valor ao produto, seja na forma de molhos, conservas, gelias, pimenta desidratada em p (pprica), dentre outras, tem contribudo para ampliao do setor. Alm disso, apresenta-se ainda como um segmento de grande importncia social, pois trata-se de uma cultura que utiliza elevada mo-de-obra, ca-

racterizando-se tipicamente como agricultura familiar. O cultivo de qualquer espcie de planta propagada sexualmente, incluindo as pimentas, deve comear com a utilizao de sementes de boa qualidade. A semente , portanto, um insumo de grande relevncia no processo produtivo. Desde a fecundao do vulo at o momento da semeadura, a semente est sujeita a uma srie de condies adversas que determinam sua qualidade, refletindo positiva ou negativamente na produtividade da cultura. A qualidade de um lote de sementes compreende uma srie de caractersticas ou atributos que determinam o seu valor para a semeadura. Esses atributos referem-se sua qualidade gentica, fsica, fisiolgica e sanitria. A alta qualidade da semente reflete-se diretamente na cultura, resultando em maior uniformidade na emer-

gncia e no vigor das plntulas e pode tambm interferir na produtividade final. Assim, a utilizao de semente de alta qualidade fundamental para obteno de hortas e/ou lavouras uniformes e produtivas. MERCADO DE SEMENTES NO BRASIL So cinco as principais espcies botnicas cultivadas no Brasil: Capsicum frutescens (Malagueta, Malaguetinha, Malagueto e Tabasco); Capsicum baccatum (Dedo-de-moa, Chifre-deveado, Chapeu-de-frade, Cambuci e Sertazinho); Capsicum chinense (Bode, De-cheiro e Murici); Capsicum praetermissum (Cumari e Passarinho) e Capsicum annuum (pimenta-doce e pimenta-verde). As pimentas mais cultivadas

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Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortalias, Caixa Postal 218, 70359-970 Braslia-DF. Correio eletrnico: wmn@cnph.embrapa.br Enga Agra, D.Sc., Prof a UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: dcdias@ufv.br Enga Agra, Pesq. Embrapa Hortalias, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Braslia-DF. Correio eletrnico: raquel@cnph.embrapa.br
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Cultivo da pimenta

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no Pas, como a Malagueta, Bode, Decheiro, Dedo-de-moa e Cumari so, na verdade, nomes populares e consideradas variedades botnicas ou grupos varietais. E isso, s vezes confunde no s produtores, mas tambm tcnicos da cadeia produtiva, o que torna um problema para a produo, comercializao e fiscalizao das sementes. Cada regio tem um nome popular para cada tipo de pimenta, o que dificulta a identificao correta da cultivar. Apenas como exemplo, a cultivar Chapude-bispo, Chapu-de-frade ou Cambuci comercializada como pimenta por uma empresa de sementes e, como pimento, por outra. Existem poucas cultivares comerciais desenvolvidas no Brasil por meio dos raros programas de melhoramento gentico, como por exemplo, aquelas cultivares do Instituto Agronmico de Campinas (IAC). A Embrapa Hortalias tambm vem desenvolvendo cultivares de pimenta, tanto destinadas ao mercado in natura, como para processamento. Por outro lado, apenas para citar o grupo das Malaguetas, existem registradas no Servio Nacional de Proteo de Cultivares (SNPC) do Ministrio de Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA), cerca de 58 cultivares provenientes de diferentes obtentores nacionais ou estrangeiros. Diferentemente do pimento, a maioria das cultivares de pimenta comercializadas no Pas de polinizao aberta. Dados recentes do mercado de sementes j apresentam pequenas quantidades de sementes hbridas sendo comercializadas. Devido ao mercado limitado e a aspectos peculiares da produo de sementes de pimenta, como baixo rendimento, dificuldade de extrao, problemas relacionados com qualidade fisiolgica, dentre outros, existe, at ento, um certo desinteresse por parte das empresas de sementes pelo desenvolvimento de novas cultivares, pela produo e at mesmo pela comercializao de sementes. Alm disso, o mercado de sementes de cultivares de polinizao aberta de pimenta pode ser limitado, uma vez que os produtores podem

produzir sua prpria semente, pois as pimentas no so protegidas pela Lei de Proteo de Cultivares (BRASIL, 2006) e, teoricamente, o manejo e as caractersticas de um campo de produo de sementes no diferem muito daquele destinado produo comercial de pimentas. Assim, apesar de o Brasil ser o centro de origem e diversidade do gnero Capsicum e um grande consumidor de pimentas nas diferentes culinrias regionais e tambm um exportador, o mercado formal de sementes de pimenta bastante pequeno, mas com tendncia de crescimento. Em 2003, o valor de comercializao de sementes de pimenta no Brasil foi de R$ 233.174,00, representando apenas 0,1% do mercado de sementes de hortalias. O preo pago por quilo de sementes em nvel de produtor tem variado entre R$ 40,00 (Cambuci) a R$ 400,00 (De-cheiro). Alm da produo interna de sementes de pimentas que realizada no Pas em diferentes Estados (principalmente no RS, MG, GO e PE), (Fig. 1 e 2), o Brasil recorre importao para atender demanda interna. Apenas em 2002, o Pas importou cerca de 191 kg de sementes no valor de US$ 20.943. possvel que esses valores sejam maiores, uma vez que de 2002 a 2003 foram importadas grandes quantidades de se-

mentes de pimento e, assim, provavelmente includas sementes de pimenta ou Capsicum. O mercado brasileiro de sementes de pimenta dividido entre empresas nacionais ou grandes grupos multinacionais, sendo a comercializao das sementes feita por distribuidores ou revendas para atendimento em todo o territrio nacional. Atualmente, com a utilizao cada vez mais freqente da Internet, podem-se observar diferentes sites brasileiros que disponibilizam informaes de cultivares e vendas de sementes de pimenta. Com algumas excees, o cultivo de pimentas nas diferentes regies do Pas ainda feito por pequenos agricultores, em

Figura 1 - Produo de sementes de pimenta-de-cheiro (Capsicum chinense), em Petrolina, PE

Figura 2 - Produo de sementes de pimenta-amarela (Capsicum frutescens), em Orizona, GO

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um sistema de agricultura familiar. Nesse sistema, para a implantao dos campos de pimenta, vrios produtores tm utilizado sementes prprias, ou seja, obtidas na prpria lavoura, sem uso de tecnologias adequadas para sua produo. A utilizao de sementes provenientes de frutos adquiridos em mercados e feiras tambm tem sido verificada. Com isso, obtm-se sementes de baixa qualidade. ASPECTOS RELACIONADOS COM A PRODUO DE SEMENTES Forma de polinizao As pimentas apresentam flores perfeitas (hermafroditas) e reproduzem-se preferencialmente por autofecundao. Entretanto, a quantidade de polinizao cruzada natural pode variar com a cultivar, local, poca, condies climticas, populao de insetos, etc. (TANKSLEY, 1984; GEORGE, 1985). Estudos tm mostrado que a polinizao cruzada pode ocorrer em uma faixa de 2% a 90% (TANKSLEY, 1984; PICKERSGILL, 1997). Por exemplo, as flores de algumas cultivares de pimentas ardidas possuem um estilete mais comprido e, assim, a possibilidade de autopolinizao menor em detrimento de uma maior polinizao cruzada. Odland e Porter (1941), em um estudo com Capsicum frutescens, verificaram taxa de cruzamento natural, de 9% a 38%, dependendo da cultivar testada. Portanto, o isolamento e/ou a colocao de barreiras naturais importante durante a produo de sementes de duas diferentes cultivares de pimenta. Esse isolamento funciona como um mecanismo de controle da qualidade gentica das sementes. O isolamento dos campos de produo de sementes de diferentes cultivares deve respeitar uma distncia mnima de 300 m para a classe certificada. Na produo de sementes hbridas, apesar de a polinizao artificial ser realizada antes da abertura das flores femininas maduras, recomenda-se manter a separao fsica de campos de outros gentipos, devido ao risco de con-

taminao gentica por insetos (microhimenpteros), que perfuram botes florais em busca de plen e nctar. Germinao e dormncia Sementes de diversas espcies so capazes de germinar logo aps a colheita, basta, para isso, que sejam fornecidos requisitos bsicos para a germinao, principalmente suprimento adequado de umidade, temperatura e oxignio. Para outras espcies, entretanto, a germinao desuniforme ou simplesmente no ocorre, mesmo que as condies de ambiente sejam favorveis (Fig. 3). Tais sementes so ditas dormentes, pois embora estejam vivas e sob condies de ambiente que normalmente favorecem o processo de germinao, no germinam por terem alguma restrio interna impedindo o desenvolvimento do embrio. Nessas sementes, a germinao s ocorrer quando tal restrio for naturalmente superada, o que pode levar dias, meses ou anos, dependendo da espcie, ou ento, se forem

utilizados tratamentos especficos capazes de promover a superao da dormncia. Sementes recm-colhidas de espcies do gnero Capsicum, no qual se incluem o pimento e as pimentas, podem apresentar dormncia (LAKSHMANAN; BERKE, 1998; BOSLAND, 1999; NASCIMENTO et al., 2006). H diversos relatos evidenciando que a emergncia das plntulas de pimentas lenta e irregular mesmo sob condies favorveis (GERSON; HONMA, 1978; RANDLE; HONMA, 1981; EDWARDS; SUNDSTROM, 1987; LAKSHMANAN; BERKE, 1998). Para Randle e Honma (1981), ao avaliarem sementes de 19 cultivares representantes de quatro gneros, foram necessrios de 14 a 23 dias para obter 50% de emergncia das plntulas. Por sua vez, Belletti e Quagliotti (1989) relatam que alta a porcentagem de sementes que no germinam at os 14 dias, aps a semeadura, podendo ser necessrio um perodo de at 45 dias para que a maioria das sementes de um lote germine satisfatoriamente. Assim, em

Figura 3 - Desuniformidade de germinao de sementes de pimenta


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algumas situaes, o atraso na germinao e as redues no estande final tm sido atribudos ocorrncia de dormncia nas sementes. No entanto, o perodo de durao dessa dormncia relativamente curto, no mximo trs meses, de modo que o intervalo de tempo compreendido entre a colheita das sementes e a semeadura suficiente para que, por ocasio do plantio, no tenham mais dormncia. Para se ter garantia de uma emergncia rpida e uniforme das plntulas, recomenda-se que, aps a colheita dos frutos, extrao e secagem das sementes, estas sejam mantidas armazenadas, em condio de ambiente, por um perodo de, pelo menos, seis semanas, para que a dormncia seja totalmente superada (RANDLE; HONMA, 1981). Portanto, o agricultor no precisa utilizar, antes da semeadura, tratamentos para a superao da dormncia, desde que no utilize sementes recm-extradas do fruto. Em geral, por ocasio do plantio, a dormncia j foi naturalmente superada com o armazenamento das sementes. importante ressaltar, no entanto, que apesar dos relatos sobre a ocorrncia de dormncia em sementes de pimenta (RANDLE; ROMA, 1981; EDWARDS; SUNDSTROM, 1987), h tambm referncias que mencionam sucesso no estabelecimento de plntulas em casa de vegetao, quando as sementes de determinadas cultivares so extradas de frutos completamente maduros e semeadas em seguida (BOSLAND, 1999). Randle e Honma (1981) verificaram, em trabalho com diferentes cultivares representantes dos gneros C. annuum L., C. frutescens L., C. chacoense Hunz. e C. microcarpum Cav., que o gentipo e a idade do fruto influenciam na intensidade de dormncia das sementes. Os autores afirmam que sementes extradas de frutos supermaduros germinam mais rapidamente, havendo aumento da intensidade de dormncia com o decrscimo da idade do fruto. Vale ressaltar que h diferenas entre os gentipos quanto velocidade de germinao e intensidade de dormncia nas sementes (LAKSHMANAN; BERKE, 1998). A porcentagem de germinao e a

velocidade de emergncia em pimentamalagueta (C. frutescens L.), geralmente, so menores do que em outros tipos de pimenta (RIVAS et al., 1984; EDWARDS; SUNDSTROM, 1987). De modo geral, as sementes de pimentas tm um prolongado perodo de germinao, sendo cerca de 30oC a temperatura tima recomendada para a germinao. Segundo Nascimento et al. (2006), a temperatura mais adequada para a germinao pode variar entre os diferentes tipos de pimenta. As sementes da maioria das espcies de Capsicum spp., desde que no estejam dormentes, germinam adequadamente sob temperatura constante na faixa de 25oC a 30oC. Contudo, temperaturas alternadas, na faixa de 15oC-30oC, por 8 horas e 16 horas, respectivamente, a cada 24 horas, promovem a germinao de sementes dormentes de C. baccatum, C. chinense, C. frutescens e C. pubescens (GERSON; HONMA, 1978). Esses resultados indicam que o choque trmico temse mostrado benfico para a superao da dormncia das sementes de diversas espcies de pimenta. Segundo Bosland (1999), o melhor regime de temperatura para promover a germinao de sementes dormentes de pimentas 30oC-15oC (16 h - 8 h), durante 14 dias. Lotes de sementes recm-colhidas enviados para anlise em laboratrio, muitas vezes, necessitam de tratamentos especiais para a superao da dormncia, para obter informaes referentes ao real potencial de germinao do lote. Assim, as Regras para Anlise de Sementes (RAS) (BRASIL, 1992) recomendam, para a realizao do teste de germinao de sementes de vrias espcies de pimentas, o uso de temperatura alternada de 20oC-30oC e, para a superao da dormncia, o emprego de luz e o umedecimento do substrato com soluo de KNO3 a 0,2%. Em recente estudo, Soares et al. (2006) observaram que o umedecimento de substrato com KNO3 a 0,2% foi o tratamento que proporcionou uma germinao mais rpida e pode ser utilizado para melhorar a germinao e/ou superar a dormncia de sementes de pimenta-cumari ver-

dadeira ( Capsicum baccatum var. praetermissum). Dosagens superiores de KNO3 (0,2% a 0,8%) tambm podem ser utilizadas com sucesso para melhorar a germinao dessa espcie (dados no publicados). No entanto, Queiroz et al. (2001) verificaram que essa soluo no foi eficiente para a superao da dormncia de sementes de C. frutescens L., recomendando a imerso em hipoclorito de sdio a 1%, por 15 minutos, ou a lavagem das sementes em gua corrente por 2 horas, para obter o potencial mximo de germinao. O hipoclorito de sdio, alm de promover uma desinfeco superficial das sementes, pode atuar aumentando a disponibilidade do oxignio para o embrio e/ou reduzindo a concentrao de compostos inibidores presentes na semente. Segundo Zaidan e Barbedo (2004), a imerso em hipoclorito de sdio, nitrato de potssio ou gua oxigenada prtica comum nos laboratrios de anlise de sementes para superar a dormncia, acrescentando que estes agentes qumicos podem atuar em vrios processos do metabolismo das sementes, como nos processos oxidativos, no ciclo das pentoses e na respirao. J a lavagem em gua corrente tem sido recomendada para promover a lixiviao de inibidores da germinao, que, geralmente, so solveis em gua. Para a definio do mtodo ideal na quebra da dormncia, alm de informaes na literatura especializada, algumas observaes podem fornecer importantes subsdios para a escolha do tratamento a ser utilizado, tais como, caractersticas do ambiente, onde a espcie ocorre naturalmente, sua regio de origem, formas de disperso, dentre outras. importante ressaltar que os estudos referentes dormncia em sementes de pimentas ainda no so conclusivos. No se pode deixar de considerar tambm que a aplicao de tratamentos para a superao da dormncia em sementes de pimenta s se faz necessria, quando h interesse na avaliao do potencial mximo de germinao de sementes recm-colhidas, as

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quais podem apresentar dormncia. Uma vez constatada a ocorrncia de dormncia, as sementes devero ser armazenadas por determinado perodo, geralmente de trs a quatro meses, para que o fenmeno seja superado. Assim, a semeadura de sementes de pimenta recm-extradas do fruto pode representar um risco para a obteno de estandes uniformes, contribuindo para a elevao do gasto de sementes. Tratamentos de hidratao e desidratao, conhecidos como condicionamento osmtico (priming) das sementes, tambm melhoram a performance durante a germinao. Essa tcnica consiste em prembeber as sementes em gua ou em uma soluo osmtica por perodo e temperatura determinados, de modo que restrinja a quantidade de gua absorvida. Assim, as sementes absorvem gua at um nvel que permita a ativao de eventos metablicos essenciais germinao sem, contudo, emitir a raiz primria (KHAN, 1992; NASCIMENTO, 1998). Sementes osmocondicionadas de pimenta germinam mais rpido, principalmente em condies subtimas de temperatura (10oC-15 oC) (RIVAS et al., 1984). Sundstrom et al. (1987) observaram que o condicionamento osmtico acelerou a velocidade de germinao de sementes de Capsicum frutescens. Produo de mudas e transplantio A produo de mudas deve ser encarada como uma etapa inicial do processo produtivo e, atualmente, tem-se tornado uma atividade de alta tecnologia. No sistema de produo de mudas, a emergncia das plntulas maximizada, devido s melhores condies de germinao e facilidade na realizao dos tratos culturais no incio do estabelecimento das plntulas. Alm disso, o transplantio das mudas permite a implantao de campos com alta uniformidade, alm de reduzir os riscos do perodo inicial do desenvolvimento da cultura, garantindo o espaamento e/ou estande mais adequado. Esse sistema de produo elimina a prtica do desbaste

(FARIA JNIOR, 2004; NASCIMENTO, 2005). A qualidade da semente utilizada no processo de produo um dos principais fatores a ser considerado para a implantao do campo de produo. Assim, a semeadura deve ser realizada com sementes de boa qualidade, levando-se em conta os atributos de qualidade gentica, fsica, fisiolgica e sanitria. Mesmo assim, o tratamento qumico uma prtica indispensvel nesse momento. Deve-se preferir bandejas multicelulares, que contenham substrato comercial adequado para a produo de mudas. As bandejas mais utilizadas ainda so as de poliestireno expandido (isopor), mas as plsticas de polietileno vm ganhando cada vez mais espao no mercado. A profundidade da semeadura deve ser de no mximo 1 cm. As bandejas devem ser mantidas preferencialmente em telados protegidos por telas antiafdicas, evitando-se, assim, a entrada de insetos-vetores de viroses. Devem-se manter os telados livres de plantas daninhas, pois estas podem favorecer a proliferao de patgenos e de insetos-vetores de doenas. A irrigao deve ser realizada com gua de boa qualidade, evitando utilizar gua que escorra de lavouras contaminadas por doenas. So necessrias de 100 a 200 g de sementes, dependendo da espcie, para suprir a necessidade de mudas para um hectare. essencial a adoo de prticas de segurana fitossanitria, para evitar a contaminao das mudas com patgenos e insetos. O transplantio das mudas para o local definitivo deve ser realizado, quando as mudas apresentarem de seis a oito folhas (10 a 15 cm de altura), o que corresponde a 30 a 45 dias para o pimento e 50 a 60 dias para a maioria das pimentas (FINGER; SILVA, 2005). Escolha da rea A produo de sementes de pimentas pode ser desenvolvida nas prprias regies e sob semelhantes condies de clima e

solo recomendadas para a produo de frutos. desejvel, portanto, buscar uma poca do ano com temperaturas e umidade relativas mais baixas. O clima seco e ameno, alm de minimizar o problema de incidncia de doenas, no prejudica a produo e contribui para a obteno de sementes de alta qualidade, com menores riscos de perda de produo. Entretanto, temperaturas baixas na poca da florao podem reduzir a produo. A rea destinada produo de sementes certificadas deve variar de um mnimo de 0,2 hectare a um mximo de 2 hectares, ser de fcil acesso, bem localizada, plana ou suavemente inclinada, arejada, de preferncia no cultivada recentemente com outras solanceas. Deve apresentar solo leve, profundo, bem drenado, rico em matria orgnica e nutrientes e estar livre de plantas daninhas, pragas e doenas limitantes para a cultura de pimenta. Instalao do campo de produo de sementes O preparo do solo deve ser bem-feito, comeando pelo enterramento profundo dos restos da cultura anterior. O espaamento entre fileiras pode ser at 50% maior do que o comumente utilizado na produo de frutos, permitindo maior facilidade na execuo dos tratos culturais, maior espao para a observao das plantas durante as inspees de campo (roguing) e alterao do microclima em favor da cultura. Espaamentos menores (abaixo de 0,5 m) podem favorecer a ocorrncia e transmisso de pragas e doenas entre as plantas, alm de dificultar as inspees no campo de produo de sementes. Tratos culturais O cultivo de pimentas destinadas produo de sementes segue as mesmas exigncias e tratos culturais do cultivo de pimentas para comercializao. Semeadura, obteno de mudas, transplantio, adubao, controle de pragas, doenas e de plantas espontneas so prticas similares. A adubao deve-se basear na anlise

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de solo. importante salientar que o estado nutricional das plantas reflete-se na composio qumica das sementes em desenvolvimento, e que os nutrientes armazenados na semente iro suprir os elementos necessrios para o estabelecimento da plntula, em seus estdios iniciais (CARVALHO; NAKAGAWA, 2000). As pulverizaes devem ser efetuadas sempre que necessrias, para manter as plantas livres de pragas e doenas. Sabese que importantes doenas que ocorrem na cultura podem ser transmitidas pelas sementes, como a antracnose ( Colletotrichum spp.), a manchabacteriana ( Xanthomonas campestris pv. vesicatoria ) e o cancro bacteriano ( Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis) (LOPES; VILA, 2003). Para fins de extrao de sementes, deve-se evitar a colheita de frutos em plantas com sintomas dessas doenas. O sistema de irrigao deve ser preferencialmente por infiltrao e/ou gotejamento. A asperso deve ser evitada, reduzindo, assim, a incidncia de doenas pelo contato direto da gua com as folhas e frutos. Alm dos tratos culturais normais, algumas prticas especficas devem ser aplicadas produo de sementes. O estaqueamento das plantas evita o seu tombamento e garante nveis mais elevados de qualidade fitossanitria nas sementes. A desbrota das primeiras ramas laterais contribui para ventilar o colo das plantas e permite economizar energia para a formao das sementes. Em se tratando de produo de sementes, a prtica de inspeo ou roguing, torna-se obrigatria. Esta operao consiste na eliminao de plantas atpicas e doentes da mesma espcie ou de outras espcies silvestres e cultivadas, visando, portanto, garantia da pureza gentica e sanitria das sementes. Assim, durante o ciclo da cultura nos diversos estdios de desenvolvimento (vegetativo, florescimento e frutificao) so imprescindveis as inspees de campo. Devem-se observar

caractersticas da planta, flores, tamanho, formato e colorao dos frutos, o que permitir obter sementes de alta qualidade gentica, fisiolgica e sanitria (GEORGE, 1985). Colheita dos frutos As pimentas so plantas de crescimento indeterminado com florao contnua, apresentam, na poca de colheita, frutos e, em conseqncia, sementes em diversos estdios de desenvolvimento e graus de maturidade fisiolgica. A maturidade fisiolgica da semente tem sido definida como a ocasio em que cessa o fluxo de substncias fotossintetizadas da planta para a semente, ou seja, quando o contedo de matria seca mximo (CARVALHO; NAKAGAWA, 2000). Esta caracterstica o melhor e mais seguro indicativo da ocorrncia da maturidade fisiolgica. Em geral, o ponto mximo de germinao e vigor ocorre, quando a semente atinge o mximo contedo de matria seca. Isso verificado principalmente nas espcies cujas sementes esto contidas em frutos carnosos, como o caso das pimentas. Assim, o reconhecimento prtico da maturidade fisiolgica assume grande importncia, pois caracteriza o momento em que a semente deixa de receber nutrientes da planta e passa a sofrer influncia do am-

biente. Inicia-se, ento, um perodo de armazenamento no campo que pode comprometer a qualidade da semente, j que ela fica exposta s intempries, o que se agrava quando o final da maturao coincide com perodos com alta incidncia de chuvas. Em espcies onde o florescimento contnuo, como nas pimentas, a mesma planta apresenta frutos em diferentes estdios de maturao, o que dificulta determinar a poca ideal para a colheita, visando obteno de sementes de alta qualidade (Fig. 4). Contudo, um perodo de repouso ou armazenamento dos frutos aps a colheita, antes da extrao das sementes, permite que estas, ainda no totalmente maduras, completem sua maturao, enquanto as j maduras tero sua qualidade preservada por manterem-se em equilbrio osmtico dentro do fruto, ou seja, com alto grau de umidade. Dessa forma, o emprego adequado dessa tcnica pode permitir colheitas precoces, diminuindo o tempo de permanncia no campo, a fim de evitar riscos com possveis condies desfavorveis. Alm disso, este procedimento reduz o nmero de colheitas, colhendo-se simultaneamente frutos em diversos estdios de maturao, extraindo imediatamente as sementes dos frutos maduros e submetendo os demais a um perodo adequado

Figura 4 - Desuniformidade na maturao dos frutos de pimenta

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de armazenamento. O armazenamento dos frutos deve ocorrer em um ambiente arejado e protegido dos raios solares. De acordo com Pinto et al. (1999), o repouso dos frutos de pimentas por trs dias suficiente. A idade e a colorao dos frutos tm sido os principais parmetros empregados para identificar em campo no s a ocorrncia da maturidade fisiolgica das sementes, mas tambm o ponto ideal para a colheita. Para algumas cultivares, a colheita podese iniciar, aproximadamente, aos 60 dias aps o florescimento ou quando mais de 80% dos frutos estiverem mudando de cor. Essa alterao indica que foi atingido o ponto de maturidade fisiolgica das sementes, quando so observados nveis mximos de germinao e vigor e nveis mnimos de deteriorao. importante salientar que frutos imaturos, de colorao verde, geralmente produzem sementes com baixo vigor e poder germinativo ou at infrteis. As principais caractersticas a serem selecionadas e mantidas na fase de colheita, visando qualidade total, so o tamanho, o formato caracterstico dos frutos da cultivar, a ausncia de defeitos e a boa condio fitossanitria. Extrao das sementes A extrao das sementes de pimenta pode seguir dois mtodos: extrao a seco e por via mida. O primeiro processo pode ser conduzido manualmente, sendo mais indicado para obteno de sementes em pequena escala. Sementes extradas manualmente podem apresentar colorao indesejada, ou seja, mais escuras e manchadas (LOBO JNIOR et al., 2000). Para extrao de pimentas ardidas, como a Malagueta, recomenda-se um moedor de carne, utilizando-se um disco com perfurao adequada que permita a livre passagem das sementes, sem lhes causar danos (Fig. 5). A extrao por via mida feita mecanicamente e requer equipamentos para o esmagamento dos frutos, sendo mais utilizada em escala comercial (GEORGE, 1985). O repouso dos frutos aps a colheita,

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restos de polpa so lavados em gua, para separao das sementes. Essa separao ocorre por diferena de densidade: as sementes boas, de maior densidade, sedimentam no fundo do recipiente; ao passo que as chochas, pedaos de polpa e outros materiais mais leves flutuam e so facilmente removidos ao inclinar o recipiente. O procedimento deve ser repetido diversas vezes at que os resduos sejam completamente eliminados. Essa etapa pode ser considerada em um pr-beneficamento das sementes. Secagem das sementes O processo de secagem exige cuidados especiais, principalmente para as sementes extradas por via mida, pois, aps a lavagem, as sementes atingem elevados graus de umidade (acima de 40%). Depois de drenadas, as sementes devem ser colocadas em peneiras de nylon em finas camadas para secar, sombra, em ambiente ventilado, perdendo lentamente a umidade superficial para o ambiente (Fig. 6). Devem-se revolver as sementes nessa fase inicial, para que sequem de modo uniforme. A temperatura no deve

Figura 5 - Extrao de sementes de pimenta por meio de moedor de carne

alm de uniformizar a maturao das sementes, facilita a triturao dos frutos (PINTO et al., 1999). A escolha do mtodo e da seqncia de operaes para a extrao de sementes depende das caractersticas do fruto, da finalidade da polpa e do volume a ser extrado (SILVA, 2000). Aps a extrao, as sementes e os

Figuras 6 - Secagem natural de sementes de pimenta


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ultrapassar os 30oC, sob pena de danificar o sistema de membranas das clulas embrionrias. Esse processo de prsecagem lenta pode ser efetuado tambm em salas adequadas, equipadas com resistncias eltricas e ventiladores, ou ainda utilizando-se estufas eltricas com ar forado, reguladas temperatura de 30oC. Uma vez eliminada a umidade superficial, as sementes devem ser transferidas para estufas eltricas reguladas a 38oC, onde devem permanecer de 24 a 48 horas at atingir um grau de umidade prximo a 6%. Beneficiamento das sementes Conforme j mencionado, aps a extrao e lavagem das sementes, realiza-se uma limpeza no lote de sementes, eliminando quase a totalidade das impurezas. Mesmo assim, os lotes podem apresentar pequena quantidade de impurezas (restos de placenta e de polpa) e sementes de qualidade inferior (imaturas, chochas, deformadas, etc.), sendo necessrio operaes de limpeza para o aprimoramento do lote no que se refere qualidade fsica e fisiolgica da semente. O beneficiamento de sementes de pimenta pode ser efetuado em mesa de gravidade e/ou soprador pneumtico. Rendimento de sementes O rendimento de sementes varivel em funo do clima, do solo, do manejo da cultura, da cultivar e se a espcie do tipo pungente ou doce. Segundo George (1985), os tipos pungentes geralmente alcanam maiores produtividades que os tipos doces. Materiais do tipo pungente produzem de 25 a 100 g de sementes por quilo de frutos, enquanto que naqueles do tipo doce, o rendimento de 5 a 50 g de sementes por quilo de frutos. Segundo o autor a produo satisfatria est entre 100 e 200 kg de sementes por hectare. Para pimentas do tipo Jalapeo, tm sido obtidas produes de 3 kg de sementes por 100 kg de frutos (LOBO JNIOR et al., 2000). Cada grama de sementes de Capsicum

annuum e de Capsicum frutescens contm de 150 a 165 sementes (BRASIL, 1992). O peso de 100 sementes variou de 0,15 g (Cumari-do-par) a 0,68 g (Cambuci) (SOARES et al., 2005). Tratamento das sementes O tratamento das sementes visa reduzir possveis infeces e/ou infestaes de microrganismos nas sementes, alm de proteger a planta na fase inicial do estabelecimento da cultura. Esse perodo considerado crtico, pois as plantas apresentam, nesta fase, sistema radicular e parte area reduzida, de forma que a incidncia de microrganismos pode causar danos considerveis e reduo no estande. O tratamento de sementes destinadas ao comrcio formal realizado em tratadores mecnicos de fluxo contnuo, que adicionam doses corretas de produto qumico s sementes de maneira automtica, permitindo uma cobertura uniforme da sua superfcie. A produtividade desses equipamentos geralmente bem maior do que o da betoneira ou tambor rotativo, cujo processo intermitente, menos eficiente e eficaz. O tratamento pode ser feito com produtos de amplo espectro de ao (por exemplo: Thiram ou Captan), na dosagem de 2 a 3 g de produto comercial por quilo de sementes. Alm do tratamento qumico, as sementes podem receber tratamento fsico, como a termoterapia. Grondeau e Samson (1994) sugerem como medida de controle da mancha-bacteriana (Xanthomonas campestris pv. vesicatoria) em pimento, o tratamento das sementes com gua quente (52C por 30 min). importante ressaltar que esse tipo de tratamento requer rigoroso controle do binmino temperatura e tempo de exposio. Alm disso, sementes tratadas por termoterapia apresentam maior taxa de deteriorao durante o armazenamento em comparao s sementes no tratadas (MACHADO, 2000). Embalagem e armazenamento das sementes A semente um ser vivo que requer

condies adequadas para preservar sua qualidade at o momento do plantio. A embalagem utilizada est entre os fatores que influenciam sua conservao no decorrer do armazenamento. O acondicionamento das sementes em embalagens adequadas contribui para a preservao da qualidade original do lote, fazendo com que este chegue perfeito ao destino e apresente um bom desempenho na nova semeadura. Assim, a embalagem das sementes importante no apenas para o transporte, armazenamento e comercializao, mas tambm para a conservao da qualidade sob determinadas condies ambientais de temperatura e umidade relativa do ar (POPINIGIS, 1985). O tipo de embalagem utilizada exercer grande influncia na preservao da qualidade da semente durante o armazenamento. As sementes de pimenta devem ser acondicionadas em embalagens hermticas (latas ou sacos de papel aluminizado), atentando-se para o fato de que para esse tipo de embalagem, o grau de umidade das sementes deve estar prximo de 6%. O teor de gua das sementes e a temperatura de armazenamento so os dois fatores fsicos que mais afetam a qualidade das sementes durante o armazenamento e, quando elevados, aceleram o processo de deteriorao das sementes. Sementes armazenadas em ambiente com nveis elevados de umidade relativa e/ou temperaturas altas ou oscilantes esto tambm mais predispostas ao de microrganismos, como as espcies de fungos pertencentes aos gneros Aspergillus e Penicillium, os quais tambm deterioram as sementes, reduzindo sua germinao e vigor. No entanto, os fungos causadores de deteriorao em sementes armazenadas podem-se associar s sementes ainda no campo (MACHADO, 2000). Quanto maior o grau de umidade da semente armazenada, maior ser o nmero de fatores adversos conservao da sua qualidade. O baixo grau de umidade das sementes um dos fatores mais importantes na manuteno da germinao e vigor das sementes, uma vez que quanto menor o grau de umidade,

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menor ser a atividade dos agentes deterioradores. Apesar de o teor de gua da semente ser considerado o fator mais importante, uma vez que seu aumento eleva a atividade metablica das sementes, a temperatura de armazenamento contribui significativamente, afetando a velocidade dos processos bioqumicos e interferindo indiretamente no teor de gua das sementes. Conseqentemente, o perodo de viabilidade da semente pode ser aumentado no somente pela reduo da umidade, mas tambm pela reduo da temperatura de armazenamento. Este deve ser feito de preferncia em ambiente refrigerado, com temperatura prxima a 4oC, se as sementes estiverem acondicionadas em embalagens hermticas. Secas e resfriadas, as sementes reduzem a atividade metablica, consomem menos energia pela respirao e mantm sua viabilidade por perodos mais prolongados. Avaliao da qualidade das sementes A avaliao da qualidade das sementes realizada em amostra representativa do lote de sementes constitui um fator fundamental e de grande valia para os diversos segmentos que compem o sistema de produo de sementes. As sementes devem ser enviadas para laboratrios credenciados pelo MAPA para determinao da sua qualidade. As RAS (BRASIL, 1992) prescrevem todos os procedimentos e informaes para os diferentes testes e determinaes da qualidade das sementes, funcionando como um guia para os laboratrios. As anlises de pureza fsica e da qualidade fisiolgica, esta ltima determinada pelo teste de germinao, so essenciais e exigidas pela fiscalizao para a comercializao das sementes. As RAS estabelecem procedimentos para outros testes e determinaes, como o grau de umidade das sementes e o teste de sanidade. Este ltimo permite identificar e quantificar a incidncia dos microrganismos associados s sementes. Embora

as RAS ainda no tenham descrito testes para detectar o vigor de sementes, essa avaliao tornou-se rotina nas companhias produtoras de sementes e tem evoludo medida que os testes disponveis vm sendo aperfeioados, permitindo a obteno de resultados consistentes e reproduzveis, facilitando, assim, a tomada de decises durante o manejo dos lotes de sementes. Esses testes so, portanto, componentes essenciais de programas de controle de qualidade, tendo em vista evitar o manuseio e a comercializao de sementes de qualidade inadequada. Em pimento, os testes de envelhecimento acelerado e deteriorao controlada so os mais indicados para a classificao dos lotes de sementes em funo dos nveis de vigor (PANOBIANCO; MARCOS FILHO, 1998; TORRES; MINAMI, 2000). O teste de envelhecimento acelerado (com soluo salina), a 38oC e 41oC, por 72 horas, demonstrou eficincia para detectar nveis de qualidade fisiolgica de sementes de pimenta-malagueta (TORRES, 2005). CONSIDERAES FINAIS A qualidade das sementes um fator de extrema importncia para o processo produtivo. A utilizao de sementes prprias, ou seja, obtidas na prpria lavoura, sem utilizao de tecnologias adequadas para a produo, leva obteno de sementes com menor qualidade gentica, fsica, fisiolgica e sanitria. importante ressaltar que os estudos referentes dormncia em sementes de pimentas ainda no so conclusivos. Entretanto no se pode deixar de considerar que a aplicao de tratamentos para a superao da dormncia em sementes de pimenta s se faz necessria, quando h interesse na avaliao do potencial mximo de germinao de sementes recm-colhidas, as quais podem apresentar dormncia. Uma vez constatada a ocorrncia de dormncia, as sementes devero ser armazenadas por determinado perodo, geralmente de trs a quatro meses, para que o fenmeno seja superado. Assim, a semeadura de sementes de pimenta recm-extradas do fruto pode representar

um risco para a obteno de estandes uniformes, o que contribui para a elevao de seus gastos. REFERNCIAS
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Clima, poca de semeadura, produo de mudas, plantio e espaamento na cultura da pimenta


Cleide Maria Ferreira Pinto 1 Mrio Puiatti 2 Fabiano Ricardo Brunele Caliman 3 Gisele Rodrigues Moreira 4 Robert Nunes Mattos 5

Resumo - No Brasil, as pimentas so cultivadas do Rio Grande do Sul at Roraima, sendo Minas Gerais, Gois, So Paulo, Cear e Rio Grande do Sul os principais produtores. O clima exerce influncia na germinao, no desenvolvimento e na frutificao das plantas de pimenta. Trata-se de uma cultura de clima tropical sensvel a baixas temperaturas e intolerante a geadas e, por isso, deve ser cultivada nos meses quentes do ano. As temperaturas mdias mensais ideais situam-se entre 21oC e 30oC, sendo a mdia das mnimas ideal de 18oC e das mximas, em torno de 35oC. A poca de semeadura condicionada s peculiaridades climticas locais. Em regies serranas, a semeadura feita de agosto a fevereiro e, naquelas de baixa altitude, pode ser o ano todo. A semeadura realizada em bandejas de isopor de 128 clulas com substrato comercial, em ambiente protegido. As mudas so transplantadas dos 50 a 60 dias aps a semeadura, para a maioria das espcies, em sulcos ou covas. Os espaamentos so definidos de acordo com a cultivar, o manejo cultural, a regio de plantio ou o ciclo da cultura, sendo utilizados de 0,33 a 1,00 m entre plantas e de 0,80 a 1,50 m entre fileiras. Palavras-chave: Capsicum. Cultivo. Trato cultural. Temperatura.

INTRODUO No Brasil, as pimentas esto difundidas em todas as regies, sendo as principais produtoras as Regies Sudeste e CentroOeste. Os principais Estados produtores so Minas Gerais, Gois, So Paulo, Cear e Rio Grande do Sul. H grande variedade de tipos, nomes, tamanhos, cores, sabores e ardume (pungncia, picncia). As pimentas Jalapeo e Cayenne (Capsicum annuum) so cultivadas, principalmente,

em So Paulo, Minas Gerais e Gois. A pimenta-cumari ou pimenta-passarinho (C. baccatum var. praetermissum) comum na Regio Sudeste. As pimentas-de-cheiro (C. chinense ), as mais cultivadas, especialmente no Norte do Pas, destacam-se pela grande variedade de cores dos frutos que vai do amarelo, amarelo-leitoso, amarelo-claro, amarelo-forte, alaranjado, salmo, vermelho e at preto. Com menor produo, mas importantes nessa espcie, existem as pimentas-bode, cultivada prin-

cipalmente na Regio Centro-Oeste do Brasil e a Murupi, cujos principais produtores so os estados do Amazonas e do Par. Na espcie C. frutescens, a principal pimenta a Malagueta, sendo cultivada em todo o Pas, porm destacamse as produes dos estados de Minas Gerais, da Bahia e do Cear. Neste ltimo, h grandes reas com cultivo da pimentatabasco, tambm da espcie C. frutescens. Os fatores do clima exercem grande influncia na germinao das sementes, no

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Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAP/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: cleidemaria@vicosa.ufv.br Engo Agro, Dr., Prof Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: mpuiatti@ufv.br Engo Agro, Doutorando Fitotecnia UFV, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: frcaliman@yahoo.com.br

Eng a Agr a, D.Sc., Prof a Adj. UFP - Dep to Informtica, Rod. BR 135, km 3, CEP 64900-000 Bom Jesus-PI. Correio eletrnico: grmoreira@hotmail.com
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Engo Agro, Mestrando Fitotecnia UFV, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: rnmattos@gmail.com
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desenvolvimento e na frutificao de plantas de pimenta. Trata-se de uma cultura de clima tropical sensvel a baixas temperaturas e intolerante a geadas e, por isso, deve ser cultivada nos meses de temperaturas mais altas. A temperatura afeta a qualidade dos frutos da pimenta, especialmente o teor de acares e de vitamina C, bem como a intensidade das cores vermelha e amarela, que so maiores em temperaturas elevadas. Baixas temperaturas podem afetar tambm a pungncia (ardume) dos frutos. EFEITO DA TEMPERATURA NA GERMINAO DAS SEMENTES A germinao das sementes de pimenta dependente da espcie, cultivar, qualidade da semente, substrato utilizado e da temperatura. Sementes de algumas espcies de Capsicum recentemente colhidas podem exibir dormncia, requerendo cerca de seis semanas em temperatura ambiente, aps amadurecimento, para super-la (RANDLE; HOMNA, 1981). A alternncia de temperatura 30oC-15oC (16 h/8 h), por 14 dias (RANDLE; HOMNA, 1981), ou tratamentos com nitrato de potssio ou cido giberlico (BOSLAND; VOTAVA, 2000) so mais eficientes na quebra da dormncia. De maneira geral, temperaturas entre 20oC e 30oC favorecem a germinao, enquanto temperaturas abaixo de 15oC ou acima de 35oC resultam em inibio da germinao. De acordo com Berke et al. (2005), as sementes podero germinar em 13 dias temperatura de 20oC e, em 25 dias, a 15oC. Em baixa temperatura, o tratamento com osmocondicionantes (seed priming) tem sido eficiente para acelerar e melhorar a germinao (BOSLAND; VOTAVA, 2000). EFEITO DA TEMPERATURA NO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS A pimenteira requer temperatura relativamente elevada durante o crescimento e desenvolvimento, sendo as cultivares

tardias mais exigentes em calor que as precoces (BOSWELL et al., 1964). No estdio de mudas, a faixa de temperatura ideal de 26oC a 30oC, com melhor crescimento obtido em temperatura diurna de 27oC. Em temperaturas mais baixas pode haver estiolamento e crescimento lento da planta. A faixa de temperatura diurna considerada mais favorvel para o cultivo das pimentas de 20oC a 30oC. Temperaturas abaixo de 15oC ou acima de 32C durante longo perodo, causam reduo da produo (NUEZ VIALS et al.,1996; BERKE, et al., 2005). Para o adequado desenvolvimento das plantas, a temperatura diurna tima deve estar entre 23oC e 27oC e a noturna entre 5oC e 9oC abaixo da temperatura mdia diurna (NUEZ VIALS et al.,1996; FINGER; SILVA, 2005). Temperaturas inferiores a 12oC retardam ou inibem o desenvolvimento da planta. EFEITO DA TEMPERATURA NO FLORESCIMENTO, FRUTIFICAO, PRODUO E NA QUALIDADE DE FRUTOS Espcies de Capsicum so consideradas de clima quente, todavia h pouca informao sobre o efeito da temperatura no florescimento, frutificao, produo e qualidade dos frutos de pimenta. Sero descritas, a seguir, algumas informaes existentes para a cultura do pimento ( Capsicum annuum ), por pertencer ao mesmo gnero. Apesar de as pimentas englobarem vrias espcies, informaes sobre a cultura do pimento podem auxiliar o produtor no manejo da cultura da pimenta. Alta temperatura pode causar significativa perda na produo de muitas espcies, devido reduo no nmero de sementes e aumento da absciso de flores (WHEELER et al., 2000). Apesar da existncia de frutos sem sementes e partenocrpicos em Capsicum, normalmente poucos so os frutos que apresentam tal diferenciao (BOSLAND; VOTAVA, 2000). As sementes exercem efeito no desenvol-

vimento e crescimento do fruto, contudo, quando o nmero de sementes aumenta em um fruto, h efeito inibitrio sobre a frutificao e o crescimento dos frutos posteriores (MARCELIS; BAAN HOFMANEIJER, 1997). Temperatura baixa durante o dia ou alta durante a noite favorece a ocorrncia de frutos partenocrpicos e esses, normalmente, apresentam deformaes (BOSLAND ; VOTAVA, 2000). Temperatura noturna superior a 24oC pode causar queda de flores em pimentas, possivelmente pela reduo da viabilidade do plen, visto que a temperatura do ar tima para germinao do gro de plen est entre 20oC - 25oC (BOSLAND; VOTAVA, 2000). Observaes em campo e ambiente controlado constataram que em plantas de Capsicum annuum ocorre abortamento de botes florais, quando expostos a temperaturas diurnas maiores que 34oC ou temperaturas noturnas maiores que 21oC por longo perodo (COCHRAN, 1936 apud ERICKSON; MARKHART, 2002; RYLSKI; SPILGELMAN, 1982). Erickson e Markhart (2001), em experimento com Capsicum annuum em condies controladas, com plantas expostas temperatura constante de 33oC, com e sem aumento do dficit de presso de vapor, concluram que a reduzida frutificao era conseqncia da elevada temperatura e no do dficit de presso de vapor. Posteriormente, Erickson e Markhart (2002) concluram que a temperatura elevada inibe o desenvolvimento do gro de plen resultando em gros estreis. Como conseqncia, a baixa viabilidade do gro de plen reduz o tamanho e o vingamento dos frutos. Para pimento (C. annuum), temperaturas entre 21oC e 27oC proporcionam maior produo de flores, porm pode haver maior porcentagem de queda destas (RYSLKI; SPIGELMAN, 1982). Em temperaturas mdias de 15oC a 20oC, as flores apresentam pedicelos maiores, caracterstica associada ao maior pegamento ou vingamento do fruto (COCHRAN, 1932) e, sob temperaturas baixas, de 10oC - 15oC,

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h menor queda, porm com reduo do nmero de flores emitidas. Comparadas ao pimento, a maioria das pimentas mais tolerante a altas temperaturas, apresentando, nestas condies, menor intensidade de queda de flores e maior vingamento de frutos (BOSWELL et al., 1964). Aps a florao, temperatura noturna de 20oC acelera o crescimento do fruto de pimento (RYLSKI, 1973; RYLSKI; HALEVY, 1975; RYLSKI; SPIGELMAN, 1982); de modo geral, temperatura diurna de cerca de 21oC mais apropriada para a frutificao (CASALI et. al., 1979). Em C. annuum, Couto (1960) observou que a temperatura noturna ideal para a frutificao e produo variou em funo da idade da planta, sendo de 21oC aos 90 dias, de 16oC aos 105 dias, de 12oC aos 120 dias e de 9oC aos 150 dias aps a semeadura. Temperaturas muito elevadas, em especial associadas umidade relativa baixa, geralmente induzem queda de flores e de frutos recm-formados. Quando o fruto est em fase avanada de desenvolvimento, torna-se menos sensvel a tais efeitos (THOMPSON; KELLY, 1957 apud NUEZ VIALS et al., 1996). Temperaturas baixas inviabilizam a produo, provocam queda de flores e de frutos (CROCHRAN, 1932) e, ainda, exercem influncia negativa na pungncia e na colorao dos frutos, fatores esses responsveis pela reduo do valor comercial, principalmente do produto destinado industrializao. Pesquisas comprovam que frutos de pimenteira cultivada na primavera-vero so mais pungentes que os de planta cultivada no outonoinverno (CURRY et al, 1999; ESTRADA 1999; KIRSCHBAUM-TITZE et al., 2002). E frutos de plantas cultivadas em condies de temperaturas mais altas apresentam cor vermelha ou amarela mais intensa (CRUZ, 2004). EFEITO DA TEMPERATURA NO ARMAZENAMENTO DOS FRUTOS So poucas as informaes disponveis

sobre a temperatura ideal de armazenamento para cada tipo de pimenta cultivada no Brasil. Como recomendao geral, as pimentas devem ser armazenadas entre 7oC e 10oC e umidade relativa do ar entre 90% e 95%. Como esta condio de umidade do ar dificilmente obtida na maioria das unidades comerciais de refrigerao ou em refrigerador domstico, poder ocorrer a desidratao rpida dos frutos. Isso pode ser minimizado pelo uso de filmes plsticos (FINGER; VIEIRA, 1997). O acondicionamento de frutos de pimentas Decheiro e Bode em sacos plsticos perfurados, mantidos a 23 oC - 25 o C ou embalados em filmes de policloreto de vinila (PVC) em temperaturas de 12oC - 15oC, permitiu boa conservao por cinco e dez dias, respectivamente (CRUZ; MAKISHIMA, 2004). As pimentas Murupi, Cumari-do-par, Bode-vermelha e Bode-amarela foram conservadas durante 22 dias a 8oC, acondicionadas em bandejas de isopor envoltas com filme de PVC (GRAVINA et al., 2004). Apesar de o armazenamento sob baixa temperatura ser indicado, h resposta diferencial entre as variedades de pimentas, sobretudo quanto tolerncia injria por frio. Frutos armazenados s temperaturas de 5oC e 10oC em embalagens perfuradas de polietileno tereftato (PET), dos acessos BGH 1646, 4366, 6029 (C. baccatum), BGH 4213 e 6371 (C. chinense) e das cultivares Mirassol e New Mexican (C. annuum) apresentaram, ainda dentro da cmara e em ambas as temperaturas, exceo da BGH 6029 e da Mirassol, pequenas manchas superficiais esbranquiadas dispersas na superfcie do pericarpo de fruto. Esses sintomas so tpicos de injria pelo frio e surgiram primeiro nos frutos do acesso BGH 4366 armazenados a 5oC, aos seis dias aps o incio do armazenamento. temperatura de 10oC, os sintomas apareceram primeiro no acesso BGH 1646 aos 12 dias de armazenamento, enquanto que frutos do acesso BGH 6029 e da cultivar Mirassol no apresentaram sintomas de injria pelo frio, mesmo aps 30 dias de armazenamento (MARQUES et al., 2005).

EFEITO DO FOTOPERODO Pimentas, assim como os pimentes, no apresentam fotoperiodismo, ou seja, no h efeito do fotoperodo no florescimento e na frutificao dessas espcies (BERKE et al., 2005). No entanto, Demers et al. (1998) obtiveram, em plantas de Capsicum annuum cultivadas em casa de vegetao, maior crescimento das plantas e produo de frutos, quando estenderam o fotoperodo para 16 e 20 horas. EFEITO DA INTENSIDADE DE LUZ A luz, presena ou ausncia, parece no ser fator limitante para germinao de sementes de Capsicum (BOSLAND; VOTAVA, 2000). Entretanto, Deli e Tiessen (1969) observaram que plantas de pimenta expostas a 8.608 lux produziram maior nmero de flores que plantas expostas intensidade de 17.216 lux, em decorrncia do aumento de ramificao. Com relao qualidade dos frutos, reduo de 50% da radiao solar promoveu aumento da massa fresca do pednculo, pericarpo, placenta e sementes; todavia, a massa seca destes componentes e os contedos de capsaicina e de cido ascrbico no foram influenciados pelos nveis de radiao solar. Portanto, quanto maiores a luminosidade e a temperatura e menor umidade, maior ser a expresso da pungncia (CURRY et al., 1999). EFEITO DA UMIDADE RELATIVA A combinao de umidade relativa baixa com temperatura alta causa transpirao excessiva, o que pode levar ao dficit de gua na planta e promover queda de gemas e de flores e formao de frutos de tamanho reduzido (CHILE, 1976). Se a umidade relativa do ar for muito baixa, aliada temperatura acima de 35oC e ventos secos, o vingamento dos frutos de pimenta bastante prejudicado (BOSWELL et al., 1964). Baer e Smeets (1978) relatam haver aumento do peso e do brilho do fruto e reduo do tempo entre a polinizao e a colheita sob condies de umidade relativa acima de 95%.

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SEMEADURA No Brasil, as pimentas so cultivadas tanto em regies de clima quente quanto de clima frio. A poca de semeadura condicionada s peculiaridades climticas locais. Nas regies serranas, com altitude acima de 800 m e temperatura amena, a semeadura feita nos meses de agosto a fevereiro; entretanto, a poca mais conveniente de setembro a novembro em razo da exigncia da espcie por temperaturas elevadas. Nas regies que apresentam inverno ameno, principalmente aquelas de menor altitude (inferior a 400 m), a semeadura pode ser feita o ano todo. Recomenda-se a produo de mudas em estufa, sobretudo, nas regies e/ou pocas em que predominam baixas temperaturas. Nas regies produtoras de pimenta do Sul e do Sudeste do Pas, temperaturas elevadas, consideradas ideais, acontecem na primavera e vero, sendo os meses de agosto a janeiro indicados para semeadura. No municpio de Turuu, na regio de Pelotas, RS, a semeadura de pimenta-dedode-moa (pimenta-vermelha) realizada no ms de agosto. Nos municpios de Jales e Estrela do Oeste, So Paulo, a semeadura ocorre no incio da primavera. Nessas regies, localidades com altitudes inferiores a 400 m e inverno ameno, o ciclo da cultura estende-se por todo o ano, sem restries de poca de plantio. Nas regies produtoras de pimenta do estado de Minas Gerais com temperatura amena, a semeadura ocorre de agosto at fevereiro, embora o perodo mais indicado seja de setembro a novembro. No Centro-Oeste, no havendo restrio de temperatura, o cultivo das pimentas De-cheiro, Bode-vermelha, Bode-amarela, Cumari-do-par e Malagueta pode ser realizado o ano todo, com irrigao suplementar no perodo seco. Normalmente, a semeadura feita em novembro, mas pode estender-se at o final de janeiro. Em Catalo, GO, a semeadura de pimenta-jalapeo feita em fevereiro/ maro. A semeadura direta de pimenta-doce

para pprica na regio de Brasilndia de Minas, MG, ocorre de maro a abril. Na Regio Nordeste deve ser evitado o plantio na estao chuvosa, por dificultar o preparo do solo, tratos culturais e o controle fitossanitrio. Em Petrolina, PE, as semeaduras podem ser realizadas a partir de janeiro, mas a preferncia a partir de maro (CRUZ; MAKISHIMA, 2004). A tcnica de cultivo protegido (em casa de vegetao) utilizada em locais ou pocas, quando as condies climticas, principalmente variaes das temperaturas noturna e diurna, distribuio e intensidade das chuvas e ainda direo e velocidade dos ventos, podem interferir no desenvolvimento das plantas ou na qualidade dos produtos. PRODUO DE MUDAS A produo de mudas de hortalias, etapa inicial do processo produtivo, uma atividade que requer tecnologia apropriada. A produo de mudas com qualidade, para garantir plantas saudveis e produtivas, implica na necessidade de especializao do viveirista, que deve executar essa atividade com profissionalismo. A produo de mudas pelo prprio agricultor s se justifica em casos especiais e, mesmo assim, o produtor deve contratar profissionais especializados e adotar prticas rgidas de segurana fitossanitria, para evitar contaminao das mudas com patgenos e insetos nocivos. Existe, atualmente, tecnologia bastante diversificada a servio do viveirista, que, quando bem utilizada, resulta em mudas de alta qualidade. Algumas dessas tcnicas, no entanto, embora j consagradas fora do Brasil, ainda encontram rejeio por parte dos produtores. Um exemplo a produo de mudas de tomate em bandejas com 450 clulas (FARIA JNIOR, 2004). Muitos produtores ainda acreditam que o volume de substrato no torro determina a capacidade de pegamento da muda e o potencial produtivo da planta. Na verdade, no o volume de torro e sim o balano adequado entre volume de razes e rea

foliar fotossinteticamente ativa. Mudas pequenas, porm com tecidos firmes e bom volume de razes ativas, certamente tm capacidade de gerar plantas produtivas (FARIA JNIOR, 2004). Para que o viveirista consiga produzir essas mudas, ele precisa de conhecimento e equipamentos adequados, alm de aperfeioamento constante. Se a produo de mudas requer tantos cuidados, por que utilizar mudas e no a semeadura direta? Minami e Puchala (2000) enumeram alguns motivos que justificam a utilizao de mudas: produo mais precoce, uniformidade na produo, geralmente, o produto de melhor qualidade e o custo elevado da semente. Alm disso, mudas bem produzidas so sadias e sem injrias, bem formadas, isentas de patgenos, pragas e de plantas daninhas. Um grama de semente de pimenta contm, aproximadamente, 220 unidades. Para o plantio de um hectare, so necessrios cerca de 80 g de sementes, considerando a populao de 15 mil plantas/ha, assumindo 90% de germinao, e que 90% das mudas produzidas tenham boa qualidade. Mudas em bandejas de poliestireno (isopor) ou bandejas plsticas de polietileno injetado Para produzir mudas de pimenta, recomenda-se a semeadura em bandejas de isopor de 128 clulas, preenchidas com substrato comercial, em que so distribudas duas ou trs sementes por clula para garantir que no haja clula ociosa. Todavia, caso as sementes sejam muito caras, recomenda-se colocar apenas uma por clula. As bandejas devem ser colocadas em ambiente protegido, com cobertura de plstico e lateral telada, para evitar a entrada de insetos, e ser mantidas acima do solo (cerca de 80 cm de altura), suspensas em estrado de madeira ou de arame. Alm de facilitar a realizao das prticas culturais, as bandejas suspensas favorecem a poda do sistema radicular pelo ar

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(poda natural), que ocorre quando a raiz principal atinge o fundo das clulas e cessa o seu crescimento. A partir da, ocorre secamento natural que causa morte desta raiz principal, o que estimula a emisso de razes secundrias, proporcionando equilbrio entre a parte area e o sistema radicular. Alm disso, o no desenvolvimento das razes abaixo da bandeja facilita a retirada das mudas por ocasio do transplante, evita injrias s razes novas e surgimento de condies favorveis infeco por fungos e bactrias do solo (ANDRIOLO, 2000; MINAMI, 1995, PINTO et al., 2004). Apesar de as bandejas de isopor ainda serem as mais utilizadas, as de plstico de polietileno injetado, j utilizadas na produo de mudas de tomate, tm boa aceitao no mercado, havendo tendncia cada vez maior de substituir o poliestireno pelo polietileno injetado (FARIA JNIOR, 2004). Tais bandejas tm a vantagem de no ser porosas, o que evita contaminaes qumicas e biolgicas. De material resistente, as bandejas podem ser lavadas com gua em alta presso e em menor volume, com maior eficincia. Podem, inclusive, ser desinfestadas com gua quente, evitando produtos qumicos, como feito atualmente. O ndice de reposio de bandejas cai para nveis prximos de 2% ao ano, ou menos. Alm disso, o material reciclvel, diferentemente do poliestireno que, por ser de difcil reciclagem, uma vez quebrado queimado, causando graves prejuzos ao ambiente. Os modernos viveiros de mudas tm procurado o maior ndice possvel de automao dos servios, utilizando semeadoras a vcuo, mquinas lavadoras de bandejas e cmaras de germinao. O ambiente , normalmente, escuro (na fase de germinao), com temperatura e umidade relativa do ar mantidas sob controle, dentro de limites estabelecidos para a espcie que se cultiva. Mantendo as bandejas nesse ambiente controlado, o viveirista garante germinao mxima possvel, aliada grande homogeneidade na emergncia das plntulas. Na falta da cmara de ger-

minao, as bandejas podem ser empilhadas e cobertas com lona plstica preta e mantidas em abrigo. Quando colocadas para germinar diretamente nas estufas, o cuidado no manejo de gua deve ser redobrado at a completa emergncia das plantas. Pinto et al. (2004) avaliaram a produo de mudas de pimenta-malagueta em diferentes recipientes (bandeja de 128

clulas, copo plstico de 150 mL e canteiro) nos substratos: hmus (H), substrato comercial (SC) e mistura de trs partes de substrato comercial e uma parte de vermiculita (M) (Fig. 1) e concluram que, inicialmente, as mudas produzidas em copo plstico, independente do substrato, apresentaram maior desenvolvimento. No entanto, 30 dias aps o transplantio, as plantas produzidas em bandeja com

H - Hmus M - Mistura de trs partes de substrato comercial e uma parte de vermiculita SC - Substrato comercial

B
Figura 1 - Formao de mudas de pimenta EPAMIG-CTZM, 2003 NOTA: A - Mtodos de formao de mudas de pimenta-malagueta; B - Detalhe do sistema radicular das mudas formadas nos diferentes mtodos.
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Fotos: Cleide Maria Ferreira Pinto

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substrato e as produzidas com hmus em copos apresentavam desenvolvimento semelhante, sendo superiores s produzidas em bandejas com mistura de substrato e vermiculita e s produzidas em canteiro. Tratos culturais das mudas nas bandejas Quando as mudas apresentarem pelo menos duas folhas definitivas, deve-se fazer o desbaste, com tesoura, eliminando-se as menos vigorosas, deixando-se apenas uma plntula por clula. Evitar arrancar as mudas excedentes, o que pode abalar as razes daquela que deve permanecer. Durante a permanncia das mudas nas bandejas, devem ser feitos os tratos culturais, em particular a irrigao e a adubao de cobertura. A irrigao deve ser uniforme, a pouca altura e com gotas pequenas, preferencialmente por microasperso ou nebulizao. Deve-se manter o nvel adequado de umidade, realizando trs ou mais irrigaes por dia, sobretudo, nas pocas mais quentes e/ou de baixa umidade relativa. O excesso de gua deve ser evitado, pois lava os nutrientes do substrato e pode favorecer o crescimento de algas, musgos e o aparecimento de doenas. A falta de gua provoca aumento da salinidade, endurecimento do substrato e, em casos severos, morte das plntulas. No caso de viveiros automatizados, utilizam-se barras mveis de irrigao, em substituio aos tradicionais chuveiros ou sistemas fixos de microasperso. A barra mvel um equipamento com trao prpria, para aplicao de gua, soluo nutritiva e defensivo e corre em trilhos suspensos na estrutura da estufa ou em corredor no solo, em velocidade varivel de acordo com a necessidade das mudas. Na adubao de cobertura das mudas, normalmente, utiliza-se adubo nitrogenado (sulfato de amnio ou nitroclcio) diludo na dose de 50 g por 10 L de gua, fazendose a rega sobre as mudas. Logo em seguida, devem-se lavar as folhas das mudas com outra rega, usando gua pura, para evitar a queima (MINAMI, 1995). A primeira apli-

cao deve ser aos dez dias aps a germinao; a segunda, dez dias aps a primeira, a terceira, dez dias aps a segunda, se necessrio. Pode-se adubar com Ouro Verde 3 H, ou equivalente, na dose de 3 g/L de gua (REIFSCHNEIDER, 2000). Com relao ao controle de pragas e doenas, nos sistemas mais modernos de produo de mudas, a pulverizao dos defensivos feita por meio das barras mveis de irrigao. A barra, nesse caso, possui dois sistemas independentes, um para irrigao e outro para pulverizao. Dosadoras acopladas s barras injetam o defensivo no sistema, e a aplicao feita sem o contato direto do aplicador. O sistema permite grande segurana para o trabalhador, cobertura perfeita da rea total do viveiro e margem de erro mnima. Alm da aplicao de defensivos em carter preventivo feita, tambm, a preveno no controle de entrada de pessoas e de veculos na rea do viveiro, por meio do uso de rodolvios e de pedilvios com solues desinfestantes base de amnia quaternria, produto rotineiramente utilizado na desinfestao de sala de ordenha. Recomenda-se tambm, em cultivo protegido, colocar caixa contendo cal virgem para desinfestao dos calados (LOPES, 2004). Algumas tcnicas preventivas contra fungos de solo tm sido usadas com sucesso. o caso da inoculao do substrato com o fungo benfico Trichoderma sp. Este microrganismo impede o desenvolvimento de outros fungos patognicos, entre os quais Rizoctonia spp. e diversos outros fungos causadores de tombamento (FARIA JNIOR, 2004). Segundo este autor, o uso do Trichoderma , hoje, obrigatrio nos viveiros de fumo no sul do Brasil. Mudas em recipiente Saco de plstico ou de papel A produo de mudas tambm pode ser feita em sacos de papel ou de plstico, com volume entre 150 e 250 cm3, preenchidos com mistura de trs partes de solo e uma

parte de esterco bovino curtido; o solo deve ser previamente corrigido com calcrio, se necessrio, aps a anlise qumica. Distribuem-se duas ou trs sementes por recipiente para evitar que estes sejam perdidos por problemas de germinao das sementes. Os recipientes devem ser mantidos em ambiente protegido para evitar a entrada de insetos-praga e excesso de gua de chuva. Em copo plstico descartvel Outro tipo de recipiente que pode ser usado na produo de mudas de pimenta so copos de plsticos descartveis de 100 ou 200 mL. Devem ser feitos furos no fundo dos copos para drenagem do excesso de umidade. Assim como as bandejas, os copos devem ser preenchidos, preferencialmente com substrato comercial. Devem ser colocados em ambiente protegido, para evitar a entrada de insetospraga e excesso de gua de chuva e mantidos sobre estrado de madeira ou de arame, a fim de que as razes no se exponham e no sejam danificadas por ocasio do transplantio. Tratos culturais das mudas em recipientes Nas mudas produzidas tanto em sacos de papel ou de plstico quanto em copos plsticos descartveis, devem ser feitos os tratos culturais, como irrigao, desbaste, adubao de cobertura entre outros, conforme o recomendado para as mudas produzidas em bandeja. Mudas em sementeiras (canteiros) A produo de mudas em sementeira um dos mtodos mais antigos e baratos, restando poucos agricultores que ainda produzem mudas nesse sistema. Porm, alm da maior exposio das mudas ao ataque de insetos e da incidncia de doenas, este mtodo provoca maior estresse das mudas na ocasio do transplante, o que pode prejudicar o desenvolvimento inicial no campo.

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Na produo de mudas em sementeiras, utilizam-se canteiros, que devem ser preparados com revolvimento do solo, destorroamento e correo da fertilidade, caso necessrio, com base na anlise qumica do solo. Em canteiros de 1,0 a 1,2 m de largura, de 0,20 a 0,25 m de altura e com comprimento que no dificulte o manejo, so distribudas as sementes, uniformemente, em sulcos transversais ao canteiro. Esses sulcos devem ter de 1,5 a 2,0 cm de abertura e 1,0 a 1,5 cm de profundidade e distanciados 10 cm uns dos outros. As sementes devem ser bem distribudas no canteiro para evitar o desbaste em excesso e a formao de mudas estioladas; para isso utilizam-se, em mdia, de 2 a 3 g de sementes por metro quadrado de canteiro. Aps a distribuio, as sementes devem ser cobertas com uma fina camada de solo. A colocao de uma cobertura com saco de aniagem, palha, capim seco e picado, sobre o canteiro evita que o impacto das gotas da gua de irrigao ou de chuva desenterrem ou cubram em demasia as sementes, o que pode prejudicar a germinao e a emergncia das plntulas. Todavia, se resistente passagem das plntulas, essa cobertura deve ser retirada ao iniciar a emergncia delas. As mudas devero ser protegidas do sol forte, por meio de cobertura com malhas sombreadoras ou com folhas de palmeira ou de bananeira de modo que promova a reduo de cerca de 50% da radiao incidente. Deve-se retirar esta cobertura de forma gradativa, medida que as mudas vo crescendo, para que essas adaptemse a pleno sol. Tratos culturais das mudas nos canteiros Tratos culturais como irrigao, adubao de cobertura e outros devem ser realizados, conforme recomendado para produo de mudas em bandejas e recipientes. Como as mudas no so produzidas em ambiente protegido, o controle de pragas e doenas, normalmente, deve ser mais rgido.

AQUISIO DE MUDAS PRONTAS EM VIVEIROS COMERCIAIS Atualmente, possvel adquirir mudas ou contratar a produo delas a profissionais que se dedicam a esta atividade. Esse sistema recomendado para cultivo em reas maiores e apresenta, como principais vantagens, rapidez na obteno das mudas e boa qualidade delas. O produtor pode fornecer ao viveirista suas prprias sementes ou indicar a cultivar ou variedade que deseja plantar, ficando a compra das sementes a cargo do viveirista. Existem viveiros comerciais nos quais so empregados nvel elevado de tecnificao, com semeadura de preciso, fertirrigao e controle de incidncia de irradincia totalmente automatizados. PLANTIO DAS MUDAS NO LOCAL DEFINITIVO (TRANSPLANTE) De 7 a 10 dias antes do transplante, deve-se efetuar o endurecimento das mudas. Esse processo consiste na reduo gradativa da gua aplicada e, se possvel, no aumento da insolao at atingir plena luz do sol. Esse procedimento tem o objetivo de adaptar melhor as mudas s condies do local de cultivo definitivo, contudo no pode ser muito prolongado, pois poder dificultar a recuperao posterior das plantas. A reduo da irrigao eleva o teor de massa seca na planta, o que favorece a retomada do desenvolvimento aps o estresse provocado pelo transplante. A diminuio na turgescncia tambm facilita o manuseio das mudas e reduz os danos mecnicos. Deve-se fazer uma irrigao imediatamente antes do transplante, com as mudas ainda na bandeja e/ou logo aps o transplante, com as mudas j no solo. O ideal que o transplante seja feito quando as mudas apresentarem de seis a oito folhas definitivas, cerca de 10 a 15 cm de altura, o que acontece, aproximadamente, de 50 a 60 dias aps a semeadura, para a maioria das espcies de pimenta.

Entretanto, mudas de bandejas so transplantadas com menor tamanho, mais novas, pois sua permanncia na bandeja por tempo prolongado pode promover a exausto de nutrientes no substrato, alm do estiolamento em razo da limitao de espao fsico. Em alguns casos, o transplante de mudas mais novas pode ser vantajoso. Mudas de pimenta-de-cheiro (C. chinense), transplantadas com 35 a 42 dias aps a semeadura, apresentaram crescimento mais rpido e maior produo que aquelas transplantadas com 49 dias (NORMAN, 1977). A retirada das mudas das bandejas e dos copos plsticos feita segurando a muda pelo colo e puxando-a para fora. Todo o substrato dever sair aderido s razes. Quando produzidas em sacos plsticos ou de papel, corta-se o plstico ou o papel e procede-se o plantio do torro. As mudas formadas em sementeira devem ser transplantadas com o mximo de solo aderido s razes. O plantio da pimenta pode ser feito tanto em covas como em sulcos; todavia, o plantio em sulcos proporciona maior facilidade de aplicao e incorporao dos fertilizantes. Os sulcos de plantio feitos em nvel tambm ajudam no controle da eroso do solo e auxiliam no caso de irrigao por sulco. Ao serem transplantadas, as mudas devem ser enterradas, no sulco, na mesma profundidade, em que se encontravam antes, em relao superfcie do solo. ESPAAMENTO Os espaamentos dos sulcos de plantio ou das covas so definidos em funo do tipo de crescimento da planta de pimenta, regio ou poca de plantio e/ou ciclo da cultura (Quadro 1). Em geral, menores espaamentos resultam em plantas com menor biomassa de folhas e de caule, todavia essas so mais altas e resultam em maior produo de frutos, em nmero e massa, por hectare, apesar da menor produo por planta; a maior populao com-

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QUADRO 1 - Espaamento, poca de plantio e ciclo de cultivo dos principais tipos de pimentas em diferentes regies do Pas Regio Tipo de pimenta Dedo-de-moa De-cheiro, Bode Cumari-do-par Malagueta Jalapeo Malagueta Dedo-de-Moa Tabasco Espaamento (m x m) 1,50 x 1,00 1,20 x 0,80 1,20 x 0,80 1,50 x 1,00 1,00 x 0,33 1,00 x 0,80 0,80 x 0,50 1,20 x 0,60 Populao (no plantas/ha) 6.500 10.400 10.400 6.500 30.000 12.500 25.000 13.889 poca de semeadura Dezembro a janeiro Novembro a janeiro Novembro a janeiro Novembro a janeiro Fevereiro a maro Dezembro Agosto Agosto a maro Ciclo da cultura 12 meses 12 meses 12 meses 12 meses 6 a 7 meses 12 meses 8 meses 8 meses

So Paulo Gois e DF Gois e DF Gois e DF Catalo-GO Paraopeba MG Pelotas RS Cear FONTE: Cruz (2004).

pensa a menor produo por planta, visto que a largura e o tamanho de frutos no so afetados, resultando em maior produo por rea (BOSLAND; VOTAVA, 2000). Em regies de inverno rigoroso, a cultura eliminada em meados de abrilmaio com, aproximadamente, 150 dias de ciclo de cultivo. O mesmo acontece com as culturas de pimentas destinadas industrializao para pprica, quando o campo eliminado aps duas a trs colheitas. Em regies onde o ciclo da cultura pode ser prolongado por at um ano, necessrio garantir espao adequado para o crescimento vegetativo da planta de pimenta. A determinao da densidade tima (populao) e o espaamento mais adequado devem ser funes das caractersticas de cada explorao, ou seja, da variedade a ser plantada (variedades mais vigorosas, de porte alto, requerem menores densidades de plantio do que as de porte baixo), sistema de irrigao, mecanizao etc. (NUEZ VIALS et al., 1996). Por exemplo, Suso e Pardo (1993), trabalhando com duas variedades de pimenta, em condies homogneas, chegaram a distintas densidades timas, ou seja, de 250 mil plantas/ha para a variedade Buketen e 125 mil para a variedade Pico. Considerando que a pimenteira pode ser conduzida como um arbusto semi-

perene, com ciclo maior que 12 meses, e que h pimenteiras de altura e dimetro de copa diversos, o espaamento tem de ser maior, variando de 1,20 a 1,50 m entre fileiras e de 70 a 100 cm entre plantas. Espaamentos muito estreitos conservam mais umidade entre plantas e diminuem a incidncia de pragas principalmente caros. Por outro lado facilitam o ataque de doenas e dificultam os tratos culturais e a colheita. Pinto e Casali (1982) observaram que, apesar de menores espaamentos entre

plantas e entre fileiras (0,4 x 1,0 m; 0,6 x 1,0 m; 0,4 x 1,2 m e 0,6 x 1,2 m) terem proporcionado maiores produtividades de frutos de pimenta-malagueta (13 t/ha), espaamentos maiores entre plantas (0,8 a 1,0 m) e maiores entre fileiras (1,2 m) proporcionaram maior facilidade na conduo da cultura e na colheita. Na Zona da Mata de Minas Gerais, so utilizados espaamentos de 1,20 a 1,50 m entre fileiras e de 0,80 a 1,00 m entre plantas no plantio de pimenta-malagueta (Fig. 2).

Figura 2 - Pimenta-malagueta cultivada nos espaamentos de 1,20 a 1,50 m entre fileiras e de 0,80 a 1,00 m entre plantas EPAMIG-Fazenda Experimental do Vale do Piranga (FEVP), 2003

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CONSIDERAES FINAIS O clima fator fundamental para o cultivo das pimentas, pois exerce influncia na germinao, no desenvolvimento e na frutificao das plantas. Por serem espcies tropicais, sensveis s baixas temperaturas e intolerantes a geadas, as pimentas devem ser cultivadas nos meses mais quentes do ano ou em ambiente protegido. A tcnica de cultivo protegido utilizada em pocas ou locais onde as condies climticas, principalmente temperatura, distribuio e intensidade das chuvas e velocidade dos ventos, podem afetar o desenvolvimento das plantas ou a qualidade do produto. Todavia, dada s caractersticas continentais do territrio brasileiro, seu cultivo realizado praticamente o ano todo, estando a poca de semeadura condicionada s peculiaridades climticas locais. A implantao da cultura pode ser por semeadura direta ou, preferencialmente, por transplantao. As mudas podem ser produzidas em diversos sistemas, sendo a semeadura em bandejas de isopor ou em bandejas plsticas (450 clulas) de polietileno injetado, a mais recomendada. Os espaamentos so definidos de acordo com a cultivar, manejo cultural, regio de plantio e ciclo da cultura, sendo utilizados de 0,33 a 1,00 m entre plantas e de 0,80 a 1,50 m entre fileiras. REFERNCIAS
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Nutrio mineral e adubao para pimenta


Cleide Maria Ferreira Pinto 1 Paulo Csar de Lima 2 Lus Tarcsio Salgado 3 Fabiano Ricardo Brunele Caliman 4

Resumo - A pimenta extrai do solo e exporta considerveis quantidades de nutrientes em suas partes comerciveis, em razo de suas exigncias peculiares e, principalmente, de sua grande capacidade de produo. H perdas de nutrientes minerais por eroso, lixiviao, volatilizao e interaes de alguns elementos, por adsoro no solo, o que faz com que alguns fertilizantes sejam aplicados em doses maiores do que as reais exigncias da pimenteira. importante salientar que o solo para o cultivo de pimenta necessita receber calcrio, adubao orgnica, macronutrientes e micronutrientes. Como so escassos os trabalhos de adubao da pimenteira do gnero Capsicum, com vistas a relacionar produo com teores de nutrientes disponveis no solo, o que tem ocorrido so tentativas de integrar o conhecimento existente para culturas semelhantes, como a do pimento, com experincias de profissionais da rea agrcola, com o objetivo de aumentar a eficincia de utilizao dos fertilizantes e da produtividade dessa hortalia. Palavras-chave: Capsicum. Nutriente mineral. Manejo do solo. Calagem.

INTRODUO A pimenteira do gnero Capsicum cultivada no Brasil, desde o Rio Grande do Sul at Roraima, por pequenos, mdios e grandes produtores individuais ou integrados s agroindstrias. As grandes empresas do ramo das pimentas possuem extensas reas de cultivo, prprias ou em parcerias, e empregam nmero significativo de pessoas, principalmente na colheita. Apesar de sua reconhecida importncia econmica e social, a cultura da pimenta pouco estudada no Brasil, especialmente, no que diz respeito adubao. Por serem culturas semelhantes, quase sempre sugerido que sejam aplicadas, em pimenta, as mesmas quantidades de nutrientes sugeridas para pimento.

A recomendao de calagem concentrase na elevao dos nveis de saturao por bases com ateno especial aos teores de magnsio do solo. A adubao orgnica nas covas ou nos sulcos de plantio muito importante, sendo recomendada, 30 dias antes do plantio, a aplicao de estercos curtidos de bovino ou de aves, composto orgnico ou, ainda, torta de mamona fermentada. Na adubao mineral com nitrognio (N), fsforo (P2O5) e potssio (K2O), a recomendao utilizar fertilizantes solveis em sistemas convencionais de produo. Porm, para pimenta as adubaes em cobertura com apenas nitrognio e potssio so realizadas em maior nmero de vezes do que normalmente feito para pimento, em razo do maior perodo de permanncia da cultura.

ASPECTOS DA NUTRIO MINERAL DE PLANTAS EM PIMENTEIRAS H associao entre a absoro de nutrientes e o desenvolvimento da planta. Muitas vezes, a fase de rpido desenvolvimento da cultura acompanhada por grande aumento na absoro de nutrientes, que declina quando a taxa de crescimento diminui. Marcussi et al. (2004) observaram que o perodo de maior extrao de nutrientes em plantas de pimenta-doce ocorreu entre 120 e 140 dias aps o transplantio (DAT), coincidindo com o maior acmulo de biomassa seca. O maior acmulo de magnsio (Mg) e de clcio (Ca) ocorreu nas folhas, enquanto, nitrognio (N), potssio (K), enxofre (S) e o fsforo (P) foram mais

Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: cleidemaria@vicosa.ufv.br Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: plima@epamig.ufv.br Engo Agro, M.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: lsalgado@epamig.ufv.br Engo Agro, Doutorando Fitotecnia UFV, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: frcaliman@yahoo.com.br
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acumulados nos frutos. Apenas 8% a 13% da quantidade total dos macronutrientes acumulados aos 140 DAT foram absorvidos at os 60 DAT. Dos 61 aos 100 DAT, o potssio foi o macronutriente mais absorvido (60% do total acumulado no ciclo); P, Ca e S foram mais absorvidos no final do ciclo. Os macronutrientes mais absorvidos, em gramas por planta, foram: N (6,6) > K (6,4) > Ca (2,6) > Mg (1,3) > S (1,1) > P (0,7). Em alguns estudos com pimento foi observada uma relao entre crescimento e absoro de nutrientes (FERNANDES, 1971; HAAG et al., 1970; MILLER et al., 1979). O maior acmulo de N, P, K, Ca e Mg, por grama de matria seca de planta, por dia, ocorreu nos estdios iniciais do ciclo da planta at o aparecimento dos primeiros frutos. A maior taxa absoluta de absoro daqueles nutrientes, em kg/ha/dia, ocorreu quando a maioria dos parmetros de crescimento tambm apresentava-se nos seus mximos. Em condies de campo, entretanto, foram observados que a partir de 75 dias a absoro de nutrientes acentuava-se (HAAG et al., 1970). Os elementos mais absorvidos pelos frutos foram o K e o N, seguidos de P, S, Ca e Mg. O N, P e K acumularam-se na parte vegetativa e nos frutos, enquanto somente 6% do Ca total absorvido pela planta e 17% de Mg encontravam-se nos frutos. As extraes de boro, cobre, ferro, mangans e zinco por plantas cultivadas em areia irrigada com soluo nutritiva, foram 11,8; 44,3 e 12 g/ha, respectivamente (OLIVEIRA et al., 1971). Em condies de campo, por sua vez, valores de 27, 452, 114 e 99 g/ha so citados para o cobre, ferro, mangans e zinco, respectivamente (FERNANDES , 1971). A demanda de nutrientes em cada etapa do crescimento e do desenvolvimento de uma planta informao essencial para aplicao eficiente dos fertilizantes. O conhecimento prvio da demanda essencial no planejamento do parcelamento das adubaes, principalmente para elementos mveis no solo e na planta, como o N e o K. O fsforo, embora seja considerado mvel na planta, todo aplicado no plantio,

devido a sua baixa mobilidade no solo e elevada capacidade de adsoro pelos minerais de argilas em solos altamente intemperizados. A falta de nutrientes minerais na fase de maior demanda da planta induz s desordens fisiolgicas e s alteraes morfolgicas, que acabam apresentando sintomas de deficincia em alguma parte da planta. H tcnicas e processos recomendados para a avaliao do estado nutricional das plantas. Essas tcnicas, quando empregadas no momento certo, podem ser teis para corrigir desequilbrios e deficincias nutricionais antes que os problemas sejam visualmente manifestados. Por sua vez, os sintomas visuais de deficincias minerais apresentados pe-

las plantas podem constituir-se em observaes importantes para o dignstico do estado nutricional em condies de campo. So poucas as referncias sobre os sintomas de deficincia de nutrientes em pimenteiras. Contudo, alguns desses sintomas manifestam-se de forma geral nas culturas, conforme Figura 1, o que ajuda nas avaliaes de campo. importante, todavia, que se considerem particularidades das espcies e mesmo entre cultivares de uma dada espcie, no que tange ao desenvolvimento e aos sintomas de deficincia mineral. No caso de pimenteiras, alguns sintomas mais especficos ( F O N T E S ; M O N N E R AT, 1 9 8 4 ; BALAKRISHNAN, 1999) sero apresentados a seguir:

Folhas velhas

Folhas novas

Folhas velhas e novas

Gemas terminais

N, P, K, Mg, Mo

S, Fe, Mn, Cu

Zn

Ca, B

Com necrose nas bordas

Com necrose nas bordas

Nervuras verdes

Nervuras amarelas

K, Mo

N, P, Mg

Fe, Mn

Fe, Mn

Nervuras verdes

Nervuras amarelas

Mg

Figura 1 - Fluxograma de identificao de sintomas de deficincia de nutrientes minerais FONTE: Reddy e Reddi (1997 apud KANT; KAFKAFI, 2006).

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a) nitrognio (N): os sintomas caractersticos de deficincia de N so o amarelecimento uniforme das folhas, incluindo as nervuras, sendo mais pronunciados nas folhas mais velhas. Com a persistncia da deficincia, as plantas apresentam crescimento reduzido, com folhas de tamanho reduzido e mais estreitas. Pode tambm ocorrer amarelecimento das folhas mais novas, comeando pela base, partindo da nervura principal e expandindo-se para toda a folha com o passar do tempo. Com o avano da deficincia, todas as folhas tornam-se amareladas. H reduo da florao e da frutificao. Plantas deficientes apresentam tambm sistema radicular pouco desenvolvido. Teores elevados de N podem provocar desenvolvimento excessivo da parte area da planta, chegando a induzir o aparecimento de podrides apicais nos frutos, particularmente nos perodos mais quentes; b) fsforo (P): com a deficincia de P, as folhas podem ficar de tamanho reduzido e de cor verde mais intenso (verde-azuladas), com necroses internervais na parte mediana de folhas completamente desenvolvidas. Tambm pode ocorrer bronzeamento das partes inferiores das plantas e reduo do crescimento do sistema radicular. H relatos de plantas mais baixas, com menor nmero de folhas em relao s normais. Com o avano da deficincia de P, aparecem interrupes irregulares no limbo foliar, as bordas das folhas mais velhas tornam-se clorticas e ocorre queda acentuada de folhas. H nmero reduzido de frutos em conseqncia de queda da maioria das flores; c) potssio (K): os sintomas na deficincia de K so plantas mais baixas, com menor nmero de folhas

em relao s no deficientes. As folhas do tero superior tornam-se compactamente arranjadas no caule. H aparecimento de clorose e de pontuaes necrticas entre as nervuras, iniciando-se na extremidade final das folhas medianas. Com o avano da deficincia, surgem necroses nas bordas terminais das folhas mais novas, expandindose at o pecolo, ocasionando queda de folhas em solos arenosos ou com baixa capacidade de troca catinica (CTC), o K liberado para a soluo do solo pode sofrer maiores perdas por lixiviao, o que causa deficincia nas plantas e, conseqentemente, senescncia prematura de folhas, falhas na pigmentao do fruto e maior sensibilidade da planta a estresse hdrico. Seu excesso reduz a absoro de clcio e magnsio, que tornam os frutos mais sensveis necrose apical; d) magnsio (Mg): as plantas com deficincia de Mg so de tamanho reduzido em relao s normais. As folhas completamente desenvolvidas do tero superior apresentamse clorticas e as mais novas com enrolamento do limbo em torno da nervura principal, com a face adaxial para dentro. Com o avano da deficincia, pode haver necrose entre as nervuras e leses corticosas, de cor palha, no limbo foliar, principalmente prximo das nervuras das folhas mais novas, as folhas baixeiras tornam-se clorticas e as nervuras permanecem verdes. Os frutos apresentam-se reduzidos em nmero e tamanho. O sistema radicular de plantas deficientes no se desenvolve normalmente; e) clcio (Ca): as plantas com deficincia de Ca so mais baixas, compactas e com pequeno nmero de folhas. As folhas novas apresentam desenvolvimento reduzido, tornando-se encarquilhadas e

enroladas, clorticas na base e entre as nervuras. Com o avano da deficincia, as folhas tornam-se necrticas e caem, pois h necrose do pednculo. Pode haver queda total das flores e, conseqentemente, no h frutificao. H reduzida formao de frutos pequenos e de colorao marrom na regio estilar; f) enxofre (S): as plantas com deficincia de S so mais baixas que as normais (pouco maiores que as deficientes em N). Ocorre amarelecimento das folhas comeando pela base, expandindo-se gradativamente para a extremidade final da folha. Com o avano da deficincia, todas as folhas tornam-se amareladas e no h formao de frutos. O limbo foliar tem aspecto ondulado, como se fosse um crescimento desigual de nervuras e do tecido internerval. Os frutos formados apresentam colorao verdeclara; g) boro (Bo): as plantas com deficincia de Bo so mais baixas que as no deficientes, compactas, devido morte do ponto de crescimento. As folhas velhas tornam-se curvadas para dentro e as novas so de tamanho reduzido, enrugadas na base, translcidas e aparentemente mais grossas. O caule e as folhas tornam-se quebradios. Pode haver abortamento total das flores e a no formao de frutos. O sistema radicular severamente afetado, sendo pouco desenvolvido, com necrose nas extremidades; h) zinco (Zn): as folhas do pice da planta com deficincia de Zn permanecem pequenas e mais estreitas e os fololos mostram leve descolorao entre as nervuras. Pode ocorrer reduo no alongamento da parte area e formao de rosetas de pequenas folhas nas extremidades de ramos jovens; i) ferro (Fe): nas plantas com de-

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ficincia de Fe ocorre amarelecimento das folhas mais novas semelhana da deficincia do S e N, entretanto, as nervuras do limbo foliar so mais verdes e as plantas apresentam altura e nmero de folhas maiores do que na deficincia desses nutrientes. Com o avano da deficincia, todas as folhas tornamse clorticas. Os frutos formados so de cor amarelo-esbranquiado. A diagnose, em campo, de sintomas de desequilbrio nutricional, utilizando o mtodo visual, nem sempre fcil e precisa. Em funo de adubaes, muitas vezes desordenadas, pode ocorrer mais de um sintoma ao mesmo tempo, podendo ser de toxidez ou de deficincia, o que dificulta a avaliao. Outros processos diretos e indiretos podem ser utilizados na avaliao do estado nutricional das plantas. Entre os diretos esto as anlises foliar e da seiva. Os procedimentos indiretos so vrios, sendo analisados sintomas que reflitam o estado nutricional da planta, como determinadas caractersticas fitotcnicas, fisiolgicas, enzimticas, o teor de clorofila nas folhas entre outras (FONTES, 2001). Entre os diferentes mtodos utilizados no diagnstico do estado nutricional das plantas est a anlise foliar. Entende-se por anlise foliar a determinao, em laboratrio, da composio mineral de amostras de parte da planta coletada em determinado estdio de crescimento, utilizando-se tcnicas padronizadas. A interpretao da anlise foliar consiste na comparao dos valores das concentraes dos nutrientes na amostra-problema, com os valores padres publicados em tabelas ou verificados em plantas normais, decidindo se h ou no deficincia do elemento analisado (FONTES, 2001). Referncias sobre teores de nutrientes em pimenteira podem ser observadas no Quadro 1. ESCOLHA DA REA E PREPARO DO SOLO PARA O PLANTIO DA PIMENTA Em regies de relevo acidentado, as

QUADRO 1 - Dados interpretativos de teores foliares de nutrientes sugeridos para pimenteiras (Capsicum annuum) Nvel Nutriente Baixo Macronutrientes (dag/kg) N P K Ca Mg Micronutrientes (mg/kg) B Cu F Mn Zn 23 - 24 4 - 5 50 - 59 40 - 49 18 - 19 25 - 75 6 - 25 60 - 300 50 - 250 20 - 200 > 75 > 25 > 300 > 250 > 200 3,0 - 3,49 0,18 - 0,21 3,0 - 3,49 1,0 - 1,29 0,26 - 0,29 3,5 - 5,0 0,22 - 0,7 3,5 - 4,5 1,3 - 2,8 0,3 - 1,0 > 5,0 > 0,8 > 4,5 > 2,8 > 1,0 Suficiente Alto

FONTE: Jones Jnior et al. (1991). NOTA: - poca de amostragem: no tero final do ciclo. - Nmero de folhas: 25 (coletar folhas de plantas alternadas, caminhando em zigue-zague no campo, dentro de reas homogneas). - Localizao e tipo de folha: parte superior da planta e folha completamente expandida.

reas indicadas para cultivo da pimenta so as de meia-encosta, de pequena declividade. importante que os solos sejam profundos, livres de cascalhos e mataces e que no se compactem com facilidade. Camadas impermeveis no solo dificultam a drenagem, o que prejudica o sistema radicular da pimenta que sensvel asfixia. Considerando que a pimenta no cresce bem em solos muito pesados ou compactados, os mais indicados so aqueles de textura mdia (argilo-arenoso), devendo-se evitar solo argiloso ou arenoso. Do ponto de vista fitossanitrio, por ser uma cultura muito suscetvel ao ataque de pragas e doenas, no aconselhvel seu plantio em reas que tenham sido cultivadas, no ano anterior, com tomate, batata, berinjela, jil ou pimento, que so da mesma famlia da pimenta. Da mesma

forma, deve-se evitar o plantio em reas anteriormente cultivadas com abbora, moranga e abobrinha, que tambm podem ser fontes de pragas e de doenas. O plantio em reas prximas dessas culturas, assim como o plantio por anos seguidos no mesmo local tambm devem ser evitados. Deve-se dar preferncia rotao de culturas com feijo, milho ou arroz de sequeiro em anos alternados. O bom preparo do solo facilita o enraizamento e o pegamento das plantas. No preparo do solo deve-se demarcar, no terreno, curvas de nvel espaadas uma da outra de 20 a 30 m; realizar a arao sempre paralelamente s curvas de nvel; uma ou duas gradagens para quebrar os torres; abrir sulcos de plantio, espaados de 1,20 a 1,50 m, com 20 cm de profundidade, tambm paralelos s curvas de nvel, o que

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ajuda no controle da eroso. Se for utilizado o arado de trao animal para o sulcamento, a terra retirada do sulco dever ser acumulada do lado de baixo do sulco. Prticas de preparo do solo como a subsolagem so recomendadas para o cultivo de pimenta por Nuez Vials et al. (1996). Na subsolagem, se necessrias, so abertas galerias de 50 a 70 cm de profundidade no solo com objetivo de romper as camadas compactadas, visando facilitar a drenagem e evitar o encharcamento do solo. Esta operao deve ser realizada em solo seco, antes do plantio. Aps a subsolagem, normalmente feita a arao e a gradagem do solo. Na ocasio do transplantio das mudas, abrem-se sulcos no solo, ou covas, que iro receber a adubao de plantio e as mudas. CALAGEM Em quase todo o territrio brasileiro, os solos so geralmente mais cidos que a faixa ideal para o desenvolvimento da pimenteira, que exige pH entre 5,5 e 6,5. A acidez elevada do solo pode causar uma srie de problemas para a lavoura, tais como: teores elevados de alumnio e/ou de mangans, o que reduz drasticamente a produo; deficincia de clcio, magnsio, fsforo e de outros nutrientes indispensveis para o bom crescimento, desenvolvimento e produo das plantas. comum o descaso dos produtores de pimenta no que diz respeito calagem, da mesma forma que no fazem a anlise qumica do solo. Em contrapartida, nota-se o costume de aplicar pesadas adubaes minerais em reas excessivamente cidas, comprometendo o bom aproveitamento dos nutrientes fornecidos, o desenvolvimento das plantas e onerando o custo de produo. A recomendao de calagem, com base na anlise qumica do solo, deve ser feita por um agrnomo. Aplica-se calcrio para elevar a saturao por bases a 70% - 80% e o teor mnimo de magnsio a 0,8 - 1,0 cmolc/dm3 (CASALI; FONTES, 1999; FONTES; RIBEIRO, 2004). Os calcrios dolomticos

apresentam mais MgO na sua constituio que os magnesianos e estes mais que os calcticos. O calcrio deve ser aplicado, em solo mido, cerca de 15 dias, antes do plantio, uniformemente espalhado sobre a rea a ser plantada, por meio de mquinas prprias ou manualmente, e incorporado com arado e grade na camada de 15 a 20 cm. Para doses superiores a 2 toneladas por hectare, recomenda-se aplicar 50% do total de calcrio antes da arao e 50% aps a arao, antes da gradagem e, para doses inferiores a 2 toneladas por hectare, todo o calcrio deve ser aplicado antes da arao. Quanto mais fina for a granulometria e maior o valor neutralizante do calcrio, maior o poder relativo de neutralizao total (PRNT) e mais rpido sero os efeitos quanto correo da acidez. ADUBAO O manejo adequado e preciso da adubao para qualquer cultura beneficia o meio ambiente, por causar menores nveis de acidificao do solo, eutroficao das guas, poluio do lenol fretico e salinizao das reas (FONTES, 2001). Em sistemas convencionais de produo de pimenta, as fontes de adubos mais solveis so as preferidas, destacando-se: uria, sulfato de amnio, nitroclcio, superfosfatos simples e triplo, mono e diamnio fosfato, cloreto de potssio e nitrato de potssio. A utilizao do superfosfato simples e do sulfato de amnio fornece tambm o enxofre. O fornecimento dos micronutrientes pode ser feito pela utilizao de fontes inorgnicas (xidos e sulfatos de Cu e Zn, brax, cido brico, molibdato de sdio e amnio), dos quelatos orgnicos ou sintticos principalmente o cido etilenodiaminotetraactico (EDTA) e de Fritted Trace Elements (FTE) (FONTES, 2005). Normalmente, os fertilizantes so colocados no momento do transplante das mudas e so feitas aplicaes complementares ao longo do ciclo da cultura. O parcelamento justificado pela possibilidade de altas concetraes

de nitrognio e potssio aumentarem, momentaneamente, a concentrao salina da soluo do solo que pode ser danosa s mudas recm-transplantadas. Alm disso, nitrognio e potssio so passveis de ser lixiviados ou arrastados da rea por precipitao intensa ou irrigao mal-executada. Os micronutrientes, no entanto, que podem ser misturados aos adubos NPK, so aplicados na totalidade no sulco de plantio, imediatamente antes do transplantio das mudas. Nas aplicaes de cobertura, os adubos devero ser distribudos na projeo da copa das plantas. Quando possvel, uma irrigao controlada solubiliza o fertilizante e promove uma leve incorporao, o que diminui as perdas. comum constatar, principalmente na Zona da Mata mineira, que o produtor de pimenta aplica certos nutrientes em excesso ou utiliza adubaes desequilibradas, o que pode provocar perdas de adubos, bem como ocasionar problemas ambientais. Adicionalmente, so aplicados diversos adubos foliares contendo nitrognio o que tem causado grandes desequilbrios nutricionais na cultura. As necessidades de fertilizantes para a cultura da pimenta devem ser calculadas com base nas caractersticas qumicas do solo, no tipo de irrigao utilizado e na produtividade esperada. Com relao a esta ltima, devem-se levar em conta as quantidades de nutrientes extradas pela cultura. Como tais quantidades extradas so, na maioria das vezes, desconhecidas, dados de vrios autores so utilizados como referncia para a adio de nutrientes na cultura. Em uma tonelada de fruto de pimento foram estimadas as extraes de: 4,0-9,0 kg de N; 1,0-2,5 kg de P2O5; 5,017,0 kg de K2O; 0,7 a 4,5 kg de MgO e de 3,0 a 3,5 kg de CaO (BATAL; SMITTLE ,1981; LORENZ; MAYANARD, 1980; MAROTO, 1990; SIVIERO; GALLERANI, 1992; SOMOS, 1984; ZAPATA et al., 1992 apud NUEZ VIALS et al., 1996). Tais quantidades de nutrientes referem-se a um cultivo irrigado por infiltrao. Na irrigao por gotejamento ou localizada, as doses

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de fertilizantes devem ser reduzidas metade ou a um tero, em razo da menor perda por lavagem. Devem-se tambm reduzir as doses de fertilizantes caso se incorpore esterco no solo. Ressalta-se que os contedos de nutrientes dos estercos variam com o tipo de rebanho, alimentao dos animais, forma de explorao e estado de fermentao do esterco. Muitas vezes, a quantidade de adubo a ser aplicada no plantio determinada com base em boletins publicados para alguns Estados ou regies (Quadro 2). Como na maioria desses boletins no existem recomendaes para pimenta, utilizam-se estas para o pimento. Apesar de as aproximaes auxiliarem o produtor, quanto s quantidades e tipos de adubos a serem utilizados, este ter maiores chances de acerto, ao fazer a anlise qumica anual de solo, dois a trs meses antes do plantio (FONTES; RIBEIRO, 2004). A quantidade de fertilizantes indicada dever ser distribuda uniformemente no sulco ou na cova de plantio. Nos latossolos da regio do Distrito Federal, recomenda-se a adubao orgnica com 30 t/ha de esterco de curral ou 10 t/ha de esterco de galinha no sulco e na adubao mineral adota-se a recomendao do Quadro 2, conforme a anlise do solo (EMATER-DF, 1987). Tambm so sugeridos de 2 a 4 kg/ha de boro, 2 a 3 kg/ha de zinco e 10 a 30 kg/ha de enxofre. A adubao de plantio com N, P e K pode ser feita misturando-se os adubos que contm cada um desses nutrientes ou adquirindo o adubo formulado no comrcio. Em cobertura, at a fase de florescimento, as adubaes so feitas com adubo nitrogenado e durante a frutificao com uma mistura de adubo nitrogenado com potssico, em intervalos de 30-45 dias. No caso das pimentas, em que a colheita pode prolongar-se por mais de um ano, as adubaes de cobertura devem ser feitas at o final do ciclo com base em observaes no crescimento ou aparecimento de sintomas de deficincias nutricionais. Normalmente, utilizam-se, por aplicao,

QUADRO 2 - Doses de N P2O5 e K2O (kg/ha) recomendadas na adubao de plantio da pimenteira no Distrito Federal, em So Paulo e Zona da Mata de Minas Gerais Estado ou Regio
(A)

N 150

(1)

Nvel

P2O5 400 - 600 200 - 400 100 - 200 50 600 320 160 300 240 180

K2O 150 - 200 100 - 150 50 - 100 _ 180 120 60 240 180 120

Distrito Federal

Baixo Mdio Bom Muito Bom

(B)

So Paulo

40

Baixo Mdio Bom

(C)

Zona da Mata de Minas Gerais

60

Baixo Mdio Bom

FONTE: (A) EMATER-DF (1987), (B) Raij et al. (1996) (C) Pinto et al. (1999). (1)Nvel de P e K de acordo com a anlise do solo.

20-50 kg/ha de N e 20-50 kg/ha de K2O (FONTES; RIBEIRO, 2004). No estado de So Paulo, os fertilizantes so aplicados dez dias antes do transplante das mudas, no sulco de plantio, em quantidades conforme anlise do solo e recomendaes do Quadro 2. Aplica-se de 10 a 20 t/ha de esterco curtido de bovino ou 1/4 dessas quantidades de esterco curtido de galinha, 1 kg/ha de boro, 3 kg de zinco e de 10 a 30 kg/ha de enxofre. Em cobertura, recomenda-se aplicar de 80 a 120 kg/ha de N e de 80 a 120 kg/ha de K2O, parcelando em quatro a seis vezes. As quantidades menores ou maiores dependero da anlise de solo, anlise foliar, cultivar, produtividade esperada e sistema de cultivo (protegido ou campo aberto) (RAIJ et al., 1996). Na Zona da Mata mineira, sugerem-se aplicar 20 t/ha de esterco bovino curtido ou 5 t/ha de esterco de galinha curtido no sulco de plantio. Na adubao mineral com NPK, utiliza-se a recomendao do Quadro 2 (PINTO et al., 1999). Certos nutrientes, como o potssio e principalmente o nitrognio, esto sujeitos a perdas no solo

algum tempo aps a sua aplicao. Por isso, recomenda-se a adubao nitrogenada e potssica de forma parcelada, para aumentar a sua eficincia. As adubaes nitrogenadas devem ser feitas com a terra mida, aplicando-se de cada vez 60 kg/ha de N, o que corresponde a 300 kg/ha de sulfato de amnio ou 140 kg/ha de uria, nas seguintes pocas: a) no florescimento; b) na maturao dos primeiros frutos; c) aos 30 a 45 dias da maturao dos primeiros frutos; d) aos 30 a 45 dias da terceira aplicao, podendo esta ltima ser suprimida, se as plantas apresentarem bom desenvolvimento e ausncia de amarelecimento das folhas mais velhas. Aplicar 50 kg/ha de K2O, o que corresponde a 80 kg/ha de cloreto de potssio, junto com a primeira adubao de nitrognio de cobertura. Os fertilizantes mais utilizados so: sulfato de amnio ou uria, como fonte de nitrognio, e cloreto de potssio, como fonte de potssio. For-

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mulaes comerciais como 20-0-20 ou 200-15 tambm so utilizadas. Na Fazenda Experimental do Vale do Piranga (FEVP) da EPAMIG, no municpio de Oratrios, Zona da Mata mineira, foram avaliadas em pimenta-malagueta duas doses de N no plantio, mais cobertura (30+90 kg/ha) e (60+180 kg/ha), duas de P2O5, apenas no plantio, 120 kg/ha e 240 kg/ha, e duas doses de K2O no plantio mais cobertura 60+25 kg/ha e 120+50 kg/ha nas densidades de 6.667 plantas/ha e de 10.417 plantas/ha (Fig. 2). A mdia das produes de frutos de pimenta dos tratamentos que receberam a menor dose de N (30 kg/ha no plantio mais 90 kg/ha em cobertura), nas duas populaes de plantas, foi de 12.873 kg/ha e a dos tratamentos que receberam o dobro da dose desse nutriente foi de 15% superior. Com relao ao fsforo, a produo mdia dos tratamentos que receberam a menor dose de P2O5 foi de 13.385 kg/ha e o dobro dessa dose proporcionou acrscimo de 7% na produo de frutos.

Para potssio, a aplicao do dobro da dose proporcionou um decrscimo de 5,8% na produo de frutos em relao produo mdia de 14.255 kg/ha proporcionada pela menor dose desse nutriente. Assim, pode-se entender que a cultura da pimenta foi mais responsiva aplicao de nitrognio, seguida do fsforo e que a falta de resposta elevao da dose de potssio, no aumento da produo, foi possivelmente, devido ao teor de potssio no solo estar em nvel bom (131 mg/dm3). O efeito de doses crescentes de N (0; 75; 150; 225; 300; 375 e 450 kg/ha) foi avaliado em pimenta cv. Tabasco McIlhenny (Capsicum frutescens L.), nas condies edafoclimticas de Pentecoste, CE. A dose de 450 kg/ha de N proporcionou produtividade de 16,5 t/ha, porm todas as doses de N apresentaram valores positivos, evidenciando a viabilidade econmica do N na cultura da pimenta (CHAVES et al., 2006). Segundo esses au-

tores, os produtores de pimenta do Cear esto utilizando doses de at 250 kg/ha de N. Em pimentas-de-cheiro (C. chinense), Souza (1998), utilizou a dose de 335 kg/ha de N. Outra adubao sugerida para pimento, de acordo com Casali e Fontes (1999), a aplicao de uma primeira parcela dos fertilizantes com NPK no sulco, por ocasio do transplantio das mudas. O restante dos fertilizantes com nitrognio e potssio aplicado em cobertura, a cada 15 dias aps o transplantio. Assim, na adubao mineral com NPK, utilizam-se 150 kg/ha de N; 50, 100, 240 e 300 kg/ha de P 2 O 5 para disponibilidades muito boa, boa, mdia e baixa de P no solo, respectivamente, e doses de zero, 80, 180 e 240 kg/ha de K2O, para disponibilidade muito boa, boa, mdia e baixa de K no solo, respectivamente. Esses autores recomendam aplicar 20% da dose total de N no plantio, 10% na primeira e na segunda cobertura, 15% na terceira e quarta, 20% na quinta e 10% na sexta

Figura 2 - Adubao com NPK e duas densidades de plantio de pimenta-malagueta - EPAMIG - Fazenda Experimental do Vale do Piranga (FEVP), 2003
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Fotos: Cleide Maria Ferreira Pinto

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cobertura. O fsforo deve ser aplicado na dose total recomendada no plantio. Para potssio, aplicam-se 20% da dose recomendada no plantio; 10% na primeira, segunda e terceira cobertura, 15% na quarta, 20% na quinta e 15% na sexta. As deficincias de zinco e de boro, caso ocorram, podem ser corrigidas pela adubao foliar da pimenteira, sendo recomendada aplicao de 300 g de sulfato de zinco para cada 100 L de gua, caso a deficincia seja de zinco, ou de 100 g de cido brico para 100 L de gua, se a deficincia for de boro. Ocorrendo sintomas de deficincia dos dois nutrientes, pode-se fazer a mistura de 300 g de sulfato de zinco mais 100 g de cido brico para 100 L de gua. Uma alternativa para o fornecimento de boro e de zinco, alm de cobre, via foliar, por meio de pulverizaes com a calda viosa, que pode ser aplicada uma vez por semana at o incio de formao dos frutos. As plantas tratadas com essa calda, alm de melhor nutridas, tm demonstrado maior tolerncia ao ataque de fungos e de bactrias, causadores de doenas. Outra forma de aplicao de adubos na cultura da pimenta a fertirrigao, processo de aplicao de fertilizantes via gua de irrigao, prprio para uso em sistemas por asperso tipo piv central e, principalmente, por gotejamento. CONSIDERAES FINAIS A principal preocupao no manejo de corretivos e fertilizantes na busca de sua mxima eficincia a criao de melhores condies para a disponibilidade dos nutrientes para as plantas de pimenta, no momento certo, e de evitar perdas, por lixiviao e por volatilizao. O uso de corretivos e de fertilizantes agrcolas representa, naturalmente, custo significativo na produo das culturas. Dessa forma, devese visar a utilizao eficiente desses insumos buscando maior relao benefcio/ custo possvel. Certamente, alm do aspecto econmico, h que se considerar tambm os aspectos sociais e ambientais envolvidos nesse processo, visto que so

de vital importncia para a harmonia e a sustentao do sistema produtivo. Vale relembrar, nesse contexto, que aumentar a produtividade agrcola pelo uso racional de insumos significa evitar a necessidade de abertura de novas reas. REFERNCIAS
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Irrigao da cultura da pimenta


Waldir Aparecido Marouelli 1 Henoque Ribeiro da Silva 2

Resumo - Muito embora apresente tolerncia moderada seca, irrigaes oportunas so decisivas para o sucesso da produo comercial da pimenteira. A planta particularmente sensvel falta de gua durante a florao e frutificao. J condies de excesso de gua favorecem as vrias doenas de solo. As irrigaes podem ser realizadas pelos sistemas sulco, asperso ou gotejamento, sendo a asperso convencional o mais utilizado. Para o manejo de gua em tempo real, so apresentados valores de tenso-limite de gua no solo e de coeficientes de cultura para diferentes sistemas de irrigao. Para a produo em pequena escala, descrito um procedimento alternativo, que no requer clculos complicados e uso de equipamentos e permite estimar a freqncia entre irrigaes e a evapotranspirao da cultura durante cada estdio de desenvolvimento da pimenteira. So abordados aspectos gerais sobre a aplicao de fertilizantes via gua de irrigao. Palavras-chave: Capsicum. Manejo de gua. Sistema de irrigao. Evapotranspirao. Fertirrigao.

INTRODUO A produo de pimenta, no Brasil, pode ser realizada sem o uso da irrigao em regies com chuvas regulares e abundantes. J em locais com precipitao escassa ou mal distribuda, como nas regies Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a irrigao fundamental para a produo comercial. A deficincia de gua, especialmente durante a florao e a frutificao, reduz a produtividade e a qualidade de frutos. No obstante, plantas submetidas a condies de dficit hdrico moderado produzem frutos mais pungentes, com maior teor de slidos solveis e de matria seca (SOMOS, 1984; BOSLAND; VOTAVA, 1999; ESTRADA et al., 1999). Similarmente falta de gua, o excesso tambm pode comprometer a produo. Irrigaes em demasia, especialmente em solos com drenagem de-

ficiente, prejudicam a aerao e favorecem doenas de solo, como as causadas por Pythium spp., Phytophthora spp. e Rhizoctonia solani (NUEZ VIALS et al., 1996; BOSLAND; VOTAVA, 1999; LOPES; HENZ, 2004). Assim, apesar de a pimenteira poder ser cultivada em diferentes tipos de solos, aqueles com melhor drenagem natural devem ser preferidos (SOMOS, 1984). Alm do fornecimento de gua no momento e na quantidade adequada, a forma de aplicao tambm determinante para o sucesso da cultura. Em geral, os sistemas por asperso favorecem doenas da parte area, enquanto os sistemas superficiais, como por sulcos, favorecem doenas de solo. Entre os problemas freqentemente observados em campos de produo relacionados com a irrigao inadequada destacam: baixa eficincia no uso de gua,

de energia e de nutrientes, maior incidncia de doenas fngicas e bacterianas, baixa produtividade e baixa qualidade de frutos. SISTEMAS DE IRRIGAO Embora possam ser usados diferentes sistemas de irrigao (SMITH et al., 1998), a pimenteira no Brasil irrigada notadamente por asperso, seguidos pelo sistema por sulco e, em muito menor escala, por gotejamento. A seleo do sistema deve levar em considerao fatores como: custo inicial e de manuteno do sistema, tipo de solo, topografia, condies climticas, rendimento da cultura, quantidade e qualidade da gua disponvel, uso de mo-de-obra, de gua e de energia, e incidncia de pragas e de doenas. No Quadro 1, so apresentadas caractersticas operacionais dos principais sistemas de irrigao.

1 2

Engo Agrcola, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortalias, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Braslia-DF. Correio eletrnico: waldir@cnph.embrapa.br Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Hortalias, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Braslia-DF. Correio eletrnico: henoque@cnph.embrapa.br
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QUADRO 1 - Eficincia de irrigao, custo inicial de aquisio, gasto de energia e de mo-de-obra para diferentes sistemas de irrigao Sistema
(1)

Eficincia (%) 40 - 70 60 - 75 60 - 75 70 - 85 60 - 70 75 - 90 75 - 95

Custo (R$/ha) 800 - 1.500 1.000 - 2.000 1.500 2.500 3.000 - 5.000 2.000 - 3.000 2.000 - 3.500 3.000 - 6.000

Energia Mo-de-obra (kWh/mm/ha) (h/ha/irrigao) 0,3 - 3,0 3,0 - 6,0 3,0 - 6,0 3,0 - 6,0 6,0 - 9,0 2,0 - 6,0 1,0 - 4,0 1,0 - 4,0 1,5 - 3,0 0,7 2,5 0,2 - 0,5 0,5 - 1,0 0,1 - 0,7 0,1 - 0,3

(2)

gao por sulco pode favorecer ainda a disseminao de patgenos ao longo dos sulcos, caso a gua de irrigao esteja contaminada. Sistema por gotejamento Alguns produtores de pimentamalagueta, no estado do Cear, recentemente tm optado pelo uso do gotejamento. A principal vantagem do sistema consiste na aplicao da gua de forma localizada, na zona radicular, sem que essa atinja as folhas e frutos, reduzindo a ocorrncia de doenas da parte area e as perdas por evaporao. Por irrigar um menor volume de solo que os sistemas por asperso e sulco, ser um sistema fixo e minimizar a incidncia de doenas da parte area, no sistema por gotejamento as irrigaes devem ser realizadas em regime de alta freqncia. A conservao de gua e energia (20%40%) e a fertirrigao fazem do gotejamento um sistema atrativo para a cultura de pimenta. Fertilizantes, a exemplo dos nitrogenados e potssicos, podem ser aplicados parceladamente via gua de irrigao, de modo que atendam s necessidades da cultura, minimizando perdas de nutrientes e maximizando a produtividade de frutos. As duas principais desvantagens do gotejamento so o alto custo e o risco de entupimento. O custo est diretamente relacionado com o espaamento entrelinhas de plantio, que determina maior ou menor gasto com as linhas de gotejamento. Assim, o sistema mais indicado para as pimentas cultivadas com espaamento entrelinhas acima de 100 cm, como a Malagueta, e que apresentam alto retorno econmico. A presena de partculas slidas e orgnicas na gua, assim como de carbonatos, ferro e bactrias, e a formao de precipitados insolveis dentro da tubulao so as principais causas de entupimento de gotejadores. Esses problemas podem ser contornados, utilizando-se sistemas de filtragens e realizando-se o tratamento qumico da gua.

Sulco Convencional porttil Convencional semiporttil Convencional fixo Autopropelido Piv central Gotejamento

FONTE: Dados bsicos: Marouelli e Silva (1998). (1)A eficincia pode ser consideravelmente menor em sistemas com problemas de dimensionamento e/ou de manuteno. (2)Para altura de recalque entre 5 e 50 m. Para estimar gasto com diesel (L/mm/ha), dividir por 3,2.

Sistema por asperso Os sistemas por asperso mais utilizados na cultura de pimenta so os convencionais: porttil, semiporttil e fixo. No sistema porttil, a motobomba, as tubulaes e os aspersores so deslocados manualmente dentro da rea a ser irrigada. O sistema apresenta custo relativamente baixo, mas requer uso intensivo de mo-de-obra para as mudanas dos componentes. J no sistema fixo os componentes permanecem fixos, o que reduz o uso de mo-de-obra, mas aumenta o preo do sistema. No semiporttil, os aspersores e/ou linhas laterais so deslocados manualmente, enquanto parte ou os demais componentes permanecem fixos. Para a produo de pimenta em larga escala, a exemplo da pprica, tem sido utilizado o sistema de piv central. Este sistema apresenta como vantagens o menor uso de mo-de-obra, a maior uniformidade na distribuio de gua e o menor gasto de energia, relativo aos demais sistemas por asperso. A principal vantagem da asperso, no sistema por sulco, a possibilidade de ela ser utilizada nos mais diversos tipos de solo e topografia, alm de ter menor custo que o sistema por gotejamento. Favorece, todavia, maior incidncia de doenas da parte

area, pois alm de lavar os agrotxicos aplicados, proporciona condies de alta umidade no dossel, sobretudo quando as regas so freqentes (NUEZ VIALS et al., 1996). Sistema por superfcie Dentre os sistemas por superfcie, o por sulco o mais indicado, sendo utilizado, sobretudo, por pequenos produtores. Uma das principais vantagens o custo inicial baixo, muito menor que os sistemas por asperso e por gotejamento. Outro benefcio o de molhar somente a superfcie do solo, o que reduz problemas de doenas da parte area. Como desvantagem, o sistema no indicado para solos com alta permeabilidade, como os arenosos, terrenos com declive ou ondulao acentuada. Outros sistemas por superfcie, como o por faixas e inundao, mesmo que temporria, no devem ser empregados, pois a pimenteira no tolera solos encharcados. Por no molhar a parte area das plantas, o sistema por sulco, a exemplo do gotejamento, pode beneficiar a proliferao de caros e insetos, a exemplo de pulges, os quais so agentes transmissores de viroses, alm de odio, que em alguns casos pode causar srios danos cultura. A irri-

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NECESSIDADE DE GUA DA CULTURA Como a maioria das hortalias, a pimenteira tem seu rendimento comprometido tanto sob condies de deficincia quanto ao excesso de gua no solo (BOSLAND; VOTAVA, 1999). A necessidade total de gua da cultura varivel, pois alm das condies climticas, depende do tipo de pimenta e da durao do ciclo de desenvolvimento. Em termos gerais, varia de 500 a 800 mm, podendo ultrapassar os 1.000 mm para cultivares de ciclo longo. A necessidade diria de gua, chamada evapotranspirao da cultura, engloba a quantidade de gua transpirada pelas plantas mais a gua evaporada do solo, variando de 3 a 10 mm/dia no pico de demanda da cultura. Similar a outras solanceas, o ciclo fenolgico da pimenteira no segue o modelo clssico das hortalias, em que dividido em quatro estdios distintos com relao s necessidades hdricas (inicial, vegetativo, frutificao e maturao), pois nesta espcie os estdios de frutificao e de maturao sobrepem-se. Assim, existem ao mesmo tempo plantas em pleno florescimento, com frutos em desenvolvimento e com frutos maduros. Ademais, o ciclo da pimenteira pode-se estender por perodos de at cinco ou mais meses, o que vai depender principalmente da sanidade das plantas. A durao de cada estdio depende da cultivar, das condies climticas e do sistema de cultivo. No caso do estabelecimento da cultura a partir de mudas, ter-se-ia, antes do estdio inicial, um quinto estdio, o de formao de mudas. Estdio de formao de mudas Estende-se da semeadura at as mudas estarem prontas para o transplante, o que ocorre quando as plantas apresentam de quatro a seis folhas (cerca de 10 cm de altura).

A formao de mudas pode ser em sementeira, em copinhos de papel ou em bandejas. Em qualquer caso, irrigaes leves e freqentes, de forma que evite falta ou excesso de gua, so decisivas para obteno de mudas de qualidade. A gua deve ser de boa qualidade, pois, quando proveniente de fontes contaminadas, pode transmitir doenas s mudas. A sementeira deve ser em terreno com boa drenagem natural, de preferncia em solo de textura mdia, sem torres, com boa fertilidade e bom teor de matria orgnica. Para melhorar a drenagem do solo, os canteiros devem ter em torno de 25 cm de altura, podendo ser mais altos durante o perodo chuvoso. Antes da semeadura, os canteiros devem ser regados at o solo atingir umidade entre 80% e 100% da gua disponvel na profundidade at 30 cm. Na primeira semana aps a semeadura, as regas devem ser leves e freqentes; em geral, duas vezes por dia, uma pela manh e outra tarde. Sob condies de clima ameno e solo com alta capacidade de reteno de gua, uma irrigao por dia deve ser suficiente. Com o crescimento das mudas, as regas devem ser dirias ou em dias alternados, sempre no perodo da tarde, evitando-se excesso ou falta de gua. A freqncia de irrigao pode ser determinada no Quadro 2 em funo da textura do solo e da evapotranspirao de referncia (ETo3 ). Para minimizar os efeitos prejudiciais do impacto de gotas ao solo, aconselha-se recobrir a superfcie dos canteiros com uma fina camada de palha. No caso de sementeiras, as mudas devem ser retiradas com torro, a fim de evitar danos s razes e possibilitar melhor pegamento. Para tanto, o canteiro deve ser previamente irrigado para facilitar a retirada das mudas. A produo de mudas em bandejas deve ser preferencialmente em ambiente protegido. As bandejas, normalmente, com

128 clulas ou mais, devem ser preenchidas com substrato comercial ou com misturas preparadas na propriedade. As regas, de preferncia nas horas de temperaturas mais amenas, devem ser de uma a trs vezes por dia. A quantidade de gua por irrigao deve ser suficiente para iniciar escorrimento na parte inferior da bandeja. Devido ao pequeno volume de substrato disponvel para cada muda, o controle adequado da irrigao muito mais importante que no sistema de produo de mudas em sementeira. Estdio inicial O estdio inicial de estabelecimento da cultura, no caso de semeio direto no campo, vai da semeadura at as plantas atingirem quatro a seis folhas definitivas. No caso de mudas, a durao vai do transplante at o pleno pegamento, o que leva cerca de uma semana. A deficincia de gua pode prejudicar a germinao de sementes e o pegamento de mudas e, dessa forma, comprometer o estande e a produtividade de frutos. Irrigaes em excesso nesse estdio e nos subseqentes favorecem uma maior incidncia de doenas. A primeira irrigao antes da semeadura ou do transplante das mudas deve ser suficiente para elevar a umidade do solo at a capacidade de campo nos primeiros 30 cm do solo. A lmina de gua a ser aplicada depende da textura e da umidade inicial do solo, variando de 15 a 25 mm para solos de textura grossa at 30 a 50 mm para solos de textura fina. Da semeadura direta no campo at a emergncia de plntulas, as irrigaes devem ser leves e freqentes, procurando manter a umidade da camada superficial do solo (0 a 15 cm) prxima capacidade de campo. Nesse perodo, as regas devem ser a cada um a quatro dias, dependendo da textura do solo e das condies climticas (Quadro 2). Em solos arenosos e sob con-

3 Evapotranspirao de um cultivo padro (grama batatais). Usado para estimar o consumo de gua de uma cultura especfica por meio de coeficientes tabelados.

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QUADRO 2 - Turno de rega (dias) durante os estdios de formao de mudas em sementeira e inicial da cultura de pimenta, e nmero de dias, antes da colheita, para se paralisar as irrigaes em funo da textura do solo e da evapotranspirao de referncia (ETo), para irrigao por asperso e sulco ETo < 5 mm/dia Fases da cultura Grossa Formao de mudas em sementeira Inicial: transplante de mudas e semeadura at a emergncia de plntulas Inicial: aps a emergncia de plntulas Paralisao das irrigaes FONTE: Marouelli et al. (2001). (1)Considerar o menor turno de rega no perodo entre a semeadura e 5-10 dias aps a emergncia. 2 3 3 7 4 10 1 2 2 5 3 7 1-2 x dia 1 Textura Mdia 1-2 2 Fina 1-2 3 Grossa 2-3 x dia 2 x dia ETo > 5 mm/dia Textura Mdia 1-2 x dia 1 Fina 1-2 2

dies de alta temperatura e baixa umidade relativa do ar, assim como antes da emergncia das plntulas, podem ser necessrias de uma a duas irrigaes por dia. No caso de mudas, as regas devem ser a cada um a trs dias at o completo estabelecimento delas; em solos arenosos podem ser necessrias mais de uma irrigao por dia (Quadro 2). Para gotejamento, as irrigaes devem ser mais freqentes que para asperso e sulco; como proposta, sugere-se um turno de rega em torno de 50% maior do que aqueles apresentados no Quadro 2. Estdio vegetativo O estdio vegetativo compreende o perodo entre o estabelecimento inicial das plantas e o florescimento pleno. Limitao drstica no desenvolvimento vegetativo das plantas resultantes da ocorrncia de dficits hdricos durante a fase de rpido crescimento vegetativo tem efeito negativo na produo da pimenteira (BOSLAND; VOTAVA, 1999), mesmo que o suprimento de gua no estdio de frutificao seja adequado. No obstante, deficincia moderada de gua favorece maior crescimento do sistema radicular das plantas, o que conveniente, haja vista o aumento da capa-

cidade de absoro de gua e de nutrientes pelas plantas. Irrigaes excessivas, tanto nesse quanto nos estdios seguintes, favorecem maior ocorrncia de doenas, alm de aumentar a lixiviao de nutrientes, em especial de nitrognio na forma de nitrato. Estdio de frutificao O estdio de frutificao vai da florao plena at o incio da maturao de frutos. comum, entre os diferentes tipos de pimentas, a ocorrncia de um perodo em que h flores, frutos verdes e maduros, o que requer a realizao de vrias colheitas. Nesse caso, o trmino do estdio de frutificao deve ser por ocasio do incio da maturao das pimentas que sero colhidas na penltima colheita. O estdio de frutificao o mais crtico deficincia de gua, em especial durante a florao plena e o pegamento de frutos. A deficincia de gua pode provocar a queda e o abortamento de flores e frutos, alm de reduzir o tamanho de fruto maduro (NUEZ VIALS et al., 1996; SMITH et al., 1998). Ademais, a falta de gua durante o estdio inicial de frutificao pode restringir a translocao de clcio e favorecer a ocorrncia de podrido apical (BOSLAND; VOTAVA, 1999).

Irrigaes excessivas em terrenos com drenagem deficiente reduzem a aerao no solo e favorecem doenas de solo, o que compromete a produtividade de frutos. Irrigaes freqentes por asperso devem ser evitadas em condies favorveis ocorrncia de doenas da parte area. Estdio de maturao O estdio de maturao vai do perodo entre o incio da maturao4 de frutos e a ltima colheita. um estdio menos sensvel deficincia de gua no solo. Irrigaes freqentes, principalmente quando realizadas por asperso, favorecem maior incidncia de podrido de frutos. Maior pungncia em pimentas picantes, maior teor de slidos solveis em pimentas para molhos, maior teor de matria seca e melhor colorao em pimentas para pprica e maior concentrao na maturao de frutos podem ser alcanadas pelas plantas em condies de dficit moderado de gua no solo. Isto obtido irrigando-se mais espaadamente do que durante o estdio de frutificao e antecipando a data da ltima irrigao. Adicionalmente, irrigaes menos freqentes durante o estdio de maturao possibilitam frutos mais vermelhos e maior uniformidade de maturao (BOSLAND;

No caso de vrias colheitas, considerar o incio da maturao dos frutos a serem colhidos na penltima colheita.

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VOTAVA, 1999). No Quadro 2, apresentada uma sugesto de poca de paralisao das irrigaes em funo da textura do solo e demanda evaporativa da atmosfera. MANEJO DA GUA DE IRRIGAO O fornecimento de gua s plantas no momento e na quantidade correta envolve parmetros relacionados com a planta, o solo e o clima. Existem vrios mtodos para o controle da irrigao; todos com vantagens e desvantagens. Embora o murchamento das folhas no incio da tarde seja um sinal da necessidade de irrigao (BOSLAND; VOTAVA, 1999), existem critrios mais precisos para indicar quando irrigar. Mtodos que permitem um controle adequado e em tempo real da irrigao, como os do balano de gua no solo e da tensolimite matricial, baseiam-se no conheci-

mento das propriedades fsico-hdricas do solo, das necessidades hdricas especficas da cultura e/ou de fatores climticos usados na determinao da evapotranspirao (MAROUELLI et al., 1996). Esses mtodos requerem o uso de equipamentos para o monitoramento do status de gua no solo 5 (tensimetros, blocos de resistncia eltrica etc.) e/ou para estimativa da evapotranspirao (tanque Classe A, termmetros, higrmetros, radimetros etc.), alm de mo-de-obra qualificada. A seguir apresentado passo a passo o mtodo do turno de rega simplificado, um procedimento alternativo que no requer clculos complicados e o uso de equipamentos. O mtodo, descrito por Marouelli et al. (2001), possibilita estimar valores de turno de rega e lmina de irrigao, para cada estdio de desenvolvimento da cultura, em funo das con-

dies climticas histricas da regio (normais de temperatura e umidade relativa mdia do ar), da textura do solo e da profundidade efetiva do sistema radicular da cultura. Sistemas por asperso e sulco 1 o passo Determinar, por meio do Quadro 3, a evapotranspirao de referncia (ETo), em funo de dados histricos mensais mdios de temperatura e umidade relativa do ar disponveis na regio. Os dados podem ser obtidos, muitas vezes, no Servio de Extenso Rural disponvel da regio. 2 o passo Determinar, por meio do Quadro 4, o coeficiente de cultura6 para cada estdio de desenvolvimento.

QUADRO 3 - Evapotranspirao de referncia (ETo), em mm/dia, em funo da temperatura e umidade relativa mdia do ar Umidade relativa (%) 40 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 5,5 6,1 6,7 7,3 8,0 8,6 9,4 10,1 10,9 11,7 12,5 45 5,0 5,5 6,1 6,7 7,3 7,9 8,6 9,3 10,0 10,7 11,5 50 4,6 5,0 5,5 6,1 6,6 7,2 7,8 8,4 9,1 9,7 10,4 55 4,1 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,6 8,2 8,8 9,4 60 3,7 4,0 4,4 4,9 5,3 5,8 6,2 6,7 7,3 7,8 8,4 65 3,2 3,5 3,9 4,3 4,6 5,0 5,5 5,9 6,4 6,8 7,3 70 2,7 3,0 3,3 3,6 4,0 4,3 4,7 5,1 5,4 5,8 6,3 75 2,3 2,5 2,8 3,0 3,3 3,6 3,9 4,2 4,5 4,9 5,2 80 1,8 2,0 2,2 2,4 2,7 2,9 3,1 3,4 3,6 3,9 4,2 85 1,4 1,5 1,7 1,8 2,0 2,2 2,3 2,5 2,7 2,9 3,1 90 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,6 1,7 1,8 1,9 2,1

Temperatura (oC)

FONTE: Marouelli et al. (2001). NOTA: Valores de ETo nos intervalos de umidade relativa e temperatura do ar obtidos por interpolao linear

Status de gua no solo diz respeito ao estado energtico (tenso matricial) ou frao de gua no solo (porcentagem de umidade). Kc um coeficiente que incorpora as caractersticas da cultura, sendo utilizado para estimar a evapotranspirao da cultura durante um estdio de desenvolvimento especfico, a partir da evapotranspirao de referncia.
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3o passo Determinar a evapotranspirao da pimenteira (ETc) para cada estdio da cultura, pela seguinte expresso: ETc = Kc x ETo em que: ETc = evapotranspirao da cultura, mm/dia; Kc = coeficiente de cultura, adimensional; ETo = evapotranspirao de referncia, mm/dia. 4 o passo Determinar, por meio do Quadro 4, a profundidade efetivada do sistema radicular da cultura (Z), para cada estdio de desenvolvimento. Para fins de irrigao, no se considera todo o perfil do solo explorado pelas razes, mas apenas a profundidade efetiva, onde se encontra cerca de 80% do sistema radicular. Para uma rpida estimativa, recomenda-se fazer uma avaliao visual do sistema radicular em uma trincheira aberta perpendicular fileira de plantas. 5 o passo Determinar a textura do solo. Dentre os fatores que afetam a capacidade de armazenamento de gua do solo (textura, estrutura, tipo de argila, teor de matria orgnica etc.), a textura o mais importante. Para fins de uso deste mtodo simplificado, a caracterizao do solo feita de acordo com a classe textural, como a seguir: a) textura fina: franco-argilo-siltoso, franco-argiloso, argila arenosa, argila siltosa, argila, muito argiloso; b) textura mdia: franco, franco-siltoso, franco-argilo-arenoso, silte (solos de cerrado de textura fina devem ser considerados, para efeito dos clculos de irrigao, como de textura mdia); c) textura grossa: areia, areia franca, franco-arenoso.
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QUADRO 4 - Coeficiente de cultivo (Kc) para sistemas de irrigao por asperso, sulco e gotejamento, e profundidade efetiva do sistema radicular (Z) nos diferentes estdios de desenvolvimento da cultura de pimenta Kc Estdio Asperso /Sulco Formao de mudas
(1)

Z (cm) Gotejamento _ 0,65 0,50 1,00 0,80 5-10 5-10 15-25 30-40 30-40

1,10 0,85 0,60 1,05 0,85

Inicial

Vegetativo Frutificao
(2)

Maturao

FONTE: Dados bsicos: Doorenbos e Kassam (1986) e Nuez Vials et al. (1996). (1)No caso de semeadura direta no campo, usar Kc de 0,35 para asperso/sulco e de 0,40 para gotejamento, da emergncia de plntulas at o final do estdio inicial. (2)Para a produo de pimentas em que o teor de matria seca e/ou de slidos solveis seja importante, como para pprica e molhos lquidos, reduzir o valor de Kc para 0,75, no caso de asperso e sulco, e para 0,70, no caso de gotejamento.

Muitas vezes, o produtor dispe da classe textural do solo por ser uma informao requerida por alguns bancos, para o financiamento agrcola. Caso no disponvel, a anlise pode ser feita a preos acessveis na maioria dos laboratrios de anlise de solo. 6 o passo Determinar o turno de rega (intervalo entre irrigaes consecutivas) para cada estdio da cultura, em funo da evapotranspirao, textura do solo e profundidade efetiva das razes. Utilizar o Quadro 2 para os estdios de formao de mudas e inicial e o Quadro 5 para os demais estdios. 7o passo Determinar a lmina de gua real necessria por irrigao pela seguinte expresso: LRN = TR x ETc em que: LRN = lmina de gua real necessria, mm.

8o passo Determinar a lmina de gua total necessria em funo da eficincia de irrigao do sistema e da necessidade de lixiviao pela expresso: LTN = em que: LTN = lmina de gua total necessria, mm; Ei = eficincia de irrigao, % (Quadro 1); LR = frao de lixiviao requerida, decimal. Em regies semi-ridas, principalmente, o solo pode conter altas taxas de sais solveis e a gua de irrigao pode ser salina e prejudicar a cultura pelo efeito dos ons presentes. Sob tais condies, deve-se aplicar uma frao adicional de gua para lavar os sais e evitar que se acumulem no solo, que pode ser computada por (AYERS; WESTCOT, 1989): LR = CEa 15 - CEa 100 x LRN Ei x (1 - LR)

em que: CEa = condutividade eltrica da gua de irrigao7 , dS/m.

Expressa, de forma indireta, a quantidade de sais dissolvida na gua.

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QUADRO 5 - Turno de rega (dia) para a cultura de pimenta irrigada por asperso ou sulco em funo da evapotranspirao da cultura (ETc), profundidade de razes, textura do solo e estdio de desenvolvimento das plantas Profundidade efetiva de razes (cm) ETc (mm/dia) Grossa 10 Textura Mdia Fina Grossa 20 Textura Mdia Fina Grossa 30 Textura Mdia Fina Grossa 40 Textura Mdia Fina

Estdios vegetativo e de maturao 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 3 2 1 1 1 2 x dia 2 x dia _ _ _ _ 7 3 2 2 1 1 1 _ _ _ _ 10 5 3 3 2 2 1 _ _ _ _ _ 3 2 2 1 1 1 1 1 1 2 x dia _ 7 5 4 3 2 2 2 2 1 1 _ 10 7 5 4 3 3 3 2 2 2 _ 5 4 3 2 2 2 1 1 1 1 _ 11 7 5 4 4 3 3 2 2 2 _ 15 10 8 6 5 4 4 3 3 3 _ 7 5 4 3 2 2 2 2 1 1 _ 14 10 7 6 5 4 4 3 3 3 _ 20 13 10 8 7 6 5 4 4 3

Profundidade efetiva de razes (cm) ETc (mm/dia) Grossa 10 Textura Mdia Fina Grossa 20 Textura Mdia Fina Grossa 30 Textura Mdia Fina Grossa 40 Textura Mdia Fina

Estdio de frutificao 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 3 2 1 1 1 1 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 5 4 3 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 8 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 4 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 2 x dia 2 x dia 8 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 12 8 6 5 4 3 3 3 2 2 2 2 2 5 4 3 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 11 7 5 4 4 3 3 2 2 2 2 2 2 16 11 8 6 5 5 4 4 3 3 3 2 2

FONTE: Dados bsicos: Marouelli e Silva (2004). NOTA: 2 x dia = 2 irrigaes por dia.
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Quando a gua no apresenta problemas de salinidade (CEa < 0,7 dS/m) no se faz necessrio aplicar a frao de lixiviao; portanto, usar LR = 0. 9 o passo Calcular o tempo de irrigao. Para asperso convencional, o tempo necessrio para aplicar a quantidade de gua necessria determinado por: Ti = em que: Ti = tempo de irrigao, min; Ia = intensidade de aplicao de gua do sistema, mm/h. A intensidade de aplicao de gua pelo sistema de irrigao varia com o dimetro de bocais, presso de servio e espaamento entre aspersores, podendo ser obtida de catlogos tcnicos dos fabricantes de aspersores. No dispondo dessas informaes, a intensidade de aplicao pode ser obtida em testes de campo por: Ia = em que: Q = vazo do aspersor (m /h); Ea = espaamento entre aspersores ao longo da lateral (m); El = espaamento entre linhas laterais (m). No caso de piv central, deve-se selecionar a velocidade de deslocamento, em porcentagem, que seja suficiente para que o sistema aplique uma lmina igual ou ligeiramente superior a LTN, conforme tabela fornecida pelo fabricante do piv ou avaliada no campo. Para irrigao por sulco, o tempo de irrigao deve ser igual ao tempo necessrio para a gua atingir o final do sulco mais o tempo suficiente para infiltrar a lmina de gua requerida pelas plantas (LRN). O comprimento do sulco e a velocidade de infiltrao so dependentes do tipo de solo, devendo ser avaliados em testes de campo.
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Sistema por gotejamento 1o ao 5 o passo Determinar a evapotranspirao de referncia, o coeficiente de cultura, a evapotranspirao da cultura, a profundidade efetivada do sistema radicular da cultura e a textura do solo, conforme recomendado para sistemas por asperso e sulco. 6 o passo Determinar, por meio do Quadro 6, o turno de rega para cada estdio da cultura. 7o e 8 o passos Determinar a lmina de gua real e total necessria por irrigao, conforme recomendado para sistemas por asperso e sulco. 9o passo Determinar o tempo necessrio para cada irrigao pela seguinte expresso. Ti = 6.000 x em que: Sl = espaamento entre laterais, m; Sg = espaamento entre gotejadores, m; Vg = vazo do gotejador, L/h; Ei = eficincia de irrigao, %. A eficincia de irrigao depende das caractersticas do sistema, do solo e do manejo de gua, principalmente, devendo ser avaliada diretamente no campo. Em termos gerais, considerar Ei entre 80% e 85%, para solos arenosos, e entre 90% e 95%, para solos argilosos. Para sistemas com problemas de dimensionamento e/ou de entupimento, Ei pode atingir valores inferiores a 50%, o que ir comprometer o rendimento da cultura. Para irrigao por gotejamento da pimenteira, LR pode ser estimado por (AYERS; WESTCOT, 1989; NUEZ VIALS et al., 1996): LR = 0,06 x CEa TR x ETc x Sl x Sg Vg x Ei x (1 - LR)

Outros mtodos para o manejo de irrigao Para a produo de pimenta em larga escala aconselhvel adotar um mtodo de manejo com melhor preciso do que o apresentado anteriormente, como do balano de gua no solo ou da tenso-limite matricial. Maiores informaes sobre a utilizao de tais mtodos so apresentadas em Marouelli et al. (1996). A preciso do mtodo do turno de rega simplificado pode ser melhorada calculando-se a evapotranspirao da cultura em tempo real (diariamente). Nesse caso, o valor de ETc deve ser igual mdia da evapotranspirao ocorrida no perodo entre duas irrigaes consecutivas. Um mtodo simples para estimar a ETo o do tanque de evaporao Classe A (MAROUELLI et al., 1996). Como qualquer outro mtodo para estimativa da ETc, o tanque Classe A apresenta desvantagens e requer cuidados especiais. O mtodo FAO Penman-Monteith o considerado padro para a estimativa diria de ETo em todo o mundo (ALLEN et al., 1998). Outro processo para realizar o manejo de irrigao por meio do uso de sensores para a medio direta ou indireta tenso matricial, ou seja, a fora com que a gua retida pela matriz do solo. Dessa forma, pode-se determinar o momento exato de irrigar e a quantidade de gua a ser aplicada por vez. Para a cultura de pimenta irrigada por asperso ou sulco, a tenso-limite recomendada varia entre 25 e 30 kPa, durante o estdio de frutificao, e entre 50 e 60 kPa, durante os estdios vegetativo e de maturao. Para gotejamento, a tensolimite deve ser mantida entre 10 e 15 kPa, sendo o menor valor para solos de textura arenosa (SOMOS, 1984; NUEZ VIALS et al., 1996; MAROUELLI; SILVA, 2004). O sensor mais comumente utilizado para medio direta da tenso matricial o tensimetro. Recentemente, foi desenvolvido pela Embrapa Hortalias um sensor de tenso denominado Irrigas (CALBO; SILVA, 2006), que apresenta custo reduzido, baixa manuteno e de fcil utilizao. O sensor

60 x LTN Ia

1000 x Q Ea x El

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QUADRO 6 - Turno de rega (dia) para a cultura de pimenta irrigada por gotejamento em funo da evapotranspirao da cultura (ETc), profundidade de razes e textura do solo Profundidade efetiva de razes (cm) ETc (mm/dia) Grossa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 x dia 3 x dia 3 x dia 4 x dia 5 x dia _ _ _ _ _ _ 10 Textura Mdia 2 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia 3 x dia _ _ _ _ _ _ Fina 2 1 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia _ _ _ _ _ _ Grossa 2 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia 3 x dia 3 x dia 3 x dia 4 x dia 4 x dia 5 x dia 5 x dia 20 Textura Mdia 3 2 1 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 3 x dia 3 x dia 3 x dia Fina 5 2 1 1 1 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia Grossa _ 1 1 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia 3 x dia 3 x dia 3 x dia 3 x dia 3 x dia 30 Textura Mdia _ 2 2 1 1 1 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia Fina _ 4 2 2 1 1 1 1 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia Grossa _ 2 1 1 1 1 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 2 x dia 3 x dia 40 Textura Mdia _ 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 2 x dia Fina _ 5 3 2 2 2 1 1 1 1 1 1

FONTE: Dados bsicos: Marouelli e Silva (2004). NOTA: 2 x dia = 2 irrigaes por dia.

no fornece leituras contnuas de tenso, mas indica se a tenso est abaixo ou acima de seu valor de referncia. Atualmente, o sensor est disponvel para as tenses de referncia de 10, 25 e 45 kPa. Sensores com diferentes valores de referncia podem ser instalados lado a lado para melhor monitorar a tenso matricial. FERTIRRIGAO Fertirrigao o processo de aplicao de fertilizantes via gua de irrigao. O processo prprio para uso em sistemas por asperso tipo piv central e, principalmente, por gotejamento. Pela facilidade de aplicao, os fertilizantes podem ser injetados na tubulao de forma parcelada, visando atender s necessidades das plantas. O parcelamento permite manter a fertilidade no solo prxima ao nvel timo requerido durante todo o ciclo da cultura, o que possibilita incrementos de produtividade e minimiza a lixiviao de nutrientes (BOSLAND; VOTAVA, 1999).

Os principais dispositivos de injeo de fertilizantes so os do tipo Venturi, tanque de diferencial de presso e bombas injetoras (diafragma e pisto). Todos os dispositivos podem ser utilizados em sistemas por gotejamento, sendo a bomba de pisto a melhor opo para piv central. O injetor do tipo Venturi o mais utilizado em sistemas por gotejamento, devido principalmente ao baixo custo. Para asperso convencional, o tanque de diferencial de presso um dos mais utilizados. Os nutrientes mais comumente aplicados por fertirrigao so os de maior mobilidade no solo, como o nitrognio e o potssio. A ocorrncia de podrido apical e a necessidade de pulverizaes foliares com clcio podem ser eliminadas, aplicando-se parte do clcio via fertirrigao durante o florescimento e a frutificao. Os demais nutrientes, a exemplo do fsforo, devem ser fornecidos, preferencialmente, como adubao bsica no sulco de plantio.

Para gotejamento sugere-se aplicar de 10% a 20% da recomendao total de nitrognio e de potssio em pr-plantio. Tal estratgia tem por objetivo formar uma reserva no solo suficiente para o desenvolvimento inicial das plantas. O restante fornecido via fertirrigao, medida que as plantas se desenvolvem (Quadro 7). Para solos arenosos, as fertirrigaes devem ser realizadas a cada um a trs dias e, para solos argilosos, pode-se adotar freqncia semanal. Para asperso, deve-se aplicar um tero do nitrognio em pr-plantio e parcelar o restante via gua de irrigao a cada duas ou trs semanas. As aplicaes devem comear aos 30 dias aps o plantio e ir at o incio da maturao. O potssio e o clcio, embora menos utilizados, tambm podem ser aplicados via gua. A adoo da fertirrigao em sistema por asperso vivel desde que a uniformidade de distribuio de gua do sistema seja superior a 65%.

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QUADRO 7 - Dosagens relativas (%) de nitrognio, potssio e clcio para fornecimento por fertirrigao ao longo do ciclo da cultura de pimenta, em relao ao total recomendado Ciclo relativo da cultura (%) Plantio 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70 70-80 80-90 90-100

Textura

Nitrognio/Potssio Grossa Fina 10 20 5 5 5 5 5 5 Clcio Todas 50 0 0 5 10 10 15 10 0 0 10 10 15 15 15 15 20 20 10 5 5 0

FONTE: Dados bsicos: Nuez Vials et al. (1996).

Os principais fertilizantes aplicados por fertirrigao so: uria, cloreto de potssio, nitrato de clcio, nitrato de potssio, sulfato de amnio, sulfato de potssio e cloreto de clcio. O clcio no deve ser aplicado em gua contendo bicarbonato (acima de 400 mg/L) ou ser injetado simultaneamente com fertilizantes base de sulfatos ou fosfatos, sob o risco de precipitar e causar o entupimento de gotejadores. Vrios outros cuidados, especialmente relacionados com a qualidade da gua, devem ser tomados para evitar problemas de entupimento em sistemas por gotejamento. CONSIDERAES FINAIS O uso da irrigao fator determinante na produo comercial da pimenteira em regies com precipitao escassa ou mal distribuda. As plantas so particularmente sensveis falta de gua durante a florao e a frutificao. No obstante, gua em excesso, especialmente em solos com problema de drenagem, favorece vrias doenas de solo. Assim, as regas devem ser realizadas, visando atender demanda hdrica das plantas, nunca em demasia ou carncia. Analogamente ao verificado em toda a agricultura irrigada no Brasil, a irrigao da pimenteira realizada de forma emprica e ineficiente, em geral, com grande desperdcio de gua e prejuzos produtividade e qualidade de frutos. Isto ocorre, devido

utilizao de sistemas com baixa eficincia, do manejo inadequado de irrigao ou at mesmo pelo conceito errneo de que gua um recurso abundante e inesgotvel. Tal situao pode ser revertida por meio do simples uso de tecnologias e das informaes disponibilizadas no presente artigo, muitas delas de fcil adoo pelos produtores. De modo geral, as informaes disponveis na literatura sobre irrigao para as diferentes variedades de pimentas, e at mesmo espcies do gnero Capsicum, so escassas e incompletas. Estudos tm sido realizados, em todo o mundo, especialmente para pimento (Capsicum annuum var. annuum), razo de sua maior importncia econmica. Assim, ainda existem inmeras questes a serem respondidas pela pesquisa no que tange irrigao da pimenteira. REFERNCIAS
ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop water requirements. Rome: FAO, 1998. 328p. (FAO. Irrigation and Drainage Papers, 56). AYERS, R.S.; WESTCOT, D.W. Water quality for agriculture. Rome: FAO, 1989. 174p. (FAO. Irrigation and Drainage Paper, 29). BOSLAND, P.W.; VOTAVA, E. Peppers: vegetable and spice capsicums. Wallingford: CAB, 1999. 204p. CALBO, A.G.; SILVA, W.L. de C. e. Gaseous irrigation control system: descriptions and physical tests for performance assessment. Bragantia, Campinas, v.65, n.3, p.501-510, 2006.

DOORENBOS, J.; KASSAM, A.H. Yield response to water. Rome: FAO, 1986. 193p. (FAO. Irrigation and Drainage Paper, 33). ESTRADA, B.; POMAR, F.; DAZ, J.; MERINO, F.; BERNAL, M.A. Pungency level in fruits of the padrn pepper with different water supply. Scientia Horticulturae, Amsterdam, n.81, p.385-396, 1999. LOPES, C.A.; HENZ, G.P. Doenas e mtodos de controle. In: COSTA, C.S.R. da; HENZ, G.P. (Ed.). Cultivo das pimentas . Braslia: Embrapa Hortalias, 2004. (Embrapa Hortalias. Sistemas de Produo, 4). Verso eletrnica. Disponvel em: <http://www.cnph.embrapa.br/sistprod/ pimenta/doenas.htm>. Acesso em: 11 jul. 2006. MAROUELLI, W.A.; SILVA, H.R. Pimenta: como, quando e quanto irrigar. Cultivar: hortalias e frutas, Pelotas, v.4, n.24, p.10-13, 2004. _______; SILVA, W.L.C. Seleo de sistemas de irrigao para hortalias . Braslia: EMBRAPA-CNPH, 1998. 15p. (EMBRAPACNPH. Circular Tcnica, 11). _______; _______; SILVA, H.R. Irrigao por asperso em hortalias: qualidade da gua, aspectos do sistema e mtodo prtico de manejo. Braslia: Embrapa Informao Tecnolgica/ Embrapa Hortalias, 2001. 111p. _______; _______; _______. Manejo da irrigao em hortalias . Braslia: EMBRAPA-SPI/ EMBRAPA-CNPH, 1996. 72p. NUEZ VIALS, F.; GIL ORTEGA, R.; COSTA GARCIA, J. El cultivo de pimientos, chiles y ajies. Madrid: Mundi-Prensa,1996. 607p. SMITH, R.; HARTZ, T.; AGUIAR, J.; MOLINAR, R. Chile pepper production in California . Oakland: University of California, 1998. 4p. (Vegetable Production Series. Publication, 7244). SOMOS, A. The paprika. Budapest: Akadmiai Kiad,1984. 302p.

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Manejo de plantas daninhas na cultura da pimenta


Izabel Cristina dos Santos 1 Cleide Maria Ferreira Pinto 2 Francisco Affonso Ferreira 3

Resumo - No ecossistema agrcola a planta de pimenta convive com a comunidade de plantas daninhas formada pelo banco de sementes do solo. Este sempre alterado por disporos produzidos na safra anterior e na entressafra, pela introduo de novas espcies e, principalmente, pelo manejo dado cultura. A estratgia de manejo da comunidade de plantas daninhas deve incluir mtodos que dificultem a germinao e a emergncia dessas plantas, que evitem a introduo de espcies-problema e que reduzam o crescimento das espcies j estabelecidas, na tentativa de diminuir a interferncia imposta cultura da pimenta. Palavras-chave: Capsicum. Planta invasora. Manejo ecolgico. Controle integrado.

INTRODUO A agricultura moderna pressupe a sustentabilidade, a diversidade e o equilbrio do agroecossistema. Neste contexto, desejvel o manejo ecolgico das plantas daninhas, visando no apenas o seu controle, mas tambm a proteo do solo contra a incidncia direta do sol e da chuva, a reciclagem de nutrientes e o incremento da biodiversidade do sistema, contribuindo indiretamente para o manejo ecolgico de pragas e doenas das plantas cultivadas. Os sistemas de manejo de plantas daninhas visam deixar o ambiente propcio ao desenvolvimento da pimenteira e menos favorvel sobrevivncia e multiplicao das plantas daninhas, por meio da utilizao isolada ou combinada de mtodos de controle culturais, mecnicos, qumicos ou biolgicos. Os mtodos de controle interferem no ciclo de vida da populao de plantas daninhas em reas agrcolas e alteram o balano competitivo a favor da cultura.

Nos sistemas agroecolgicos geralmente so utilizadas combinaes de mtodos que causem impacto mnimo no sistema como um todo. Assim, devem-se buscar a convivncia com as plantas daninhas e a valorizao de suas caractersticas favorveis, dentro de um limiar de dano econmico aceitvel no contexto da sustentabilidade do agroecossistema. A interferncia das plantas daninhas reduz, em mdia, 20% a 30% da produo agrcola (LORENZI, 2000). Os ciclos vegetativo e produtivo longos justificam a adoo de mtodos de controle das plantas daninhas para maior produo e qualidade dos frutos. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS A estratgia de manejo das plantas daninhas na cultura da pimenta deve incluir mtodos que favoream o estabelecimento da pimenteira e que desfavoream a germinao, a emergncia dos disporos e o

crescimento de plantas daninhas presentes no solo, de modo que diminua a interferncia (ao conjunta da competio e da alelopatia) imposta pelas plantas daninhas cultura. Na escolha dos mtodos h que se considerar a infra-estrutura e a mo-de-obra disponveis na propriedade. Para isso, deve-se utilizar uma combinao de mtodos de manejo, que podem ser preventivos, culturais, mecnicos, qumicos ou biolgicos, e que interfiram no ciclo de vida das plantas daninhas, alterando o balano competitivo a favor da cultura. Normalmente, realizado o controle mecnico ou manual das plantas daninhas, uma vez que no h registro de herbicidas para a cultura da pimenta. MTODOS PREVENTIVOS As premissas do manejo preventivo so evitar a introduo e o estabelecimento de espcies-problema, a exemplo de Cyperus rotundus, e impedir que as populaes de plantas daninhas tenham suas densidades

Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: icsantos@epamig.ufv.br Enga Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: cleidemaria@vicosa.ufv.br Engo Agro, Ps-Doc, Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: faffonso@ufv.br
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aumentadas, drasticamente. Neste sentido, recomendam-se sementes de boa procedncia, livres de propgulos de plantas daninhas; limpeza de caminhes, mquinas e implementos agrcolas que tenham sido utilizados em outras propriedades ou em reas com espcies daninhas-problema; certificao da origem de adubos orgnicos, especialmente esterco de animais; no usar material proveniente de reas infestadas com tiririca ou de pastagens onde tenha sido usado o herbicida Tordon (2,4-D + picloram). Resduo de picloram no esterco pode afetar o desenvolvimento inicial de algumas hortalias. A prtica da adubao verde nos perodos de entressafra tambm uma importante ferramenta no manejo preventivo das plantas daninhas, uma vez que as coberturas verdes sombreiam o solo enquanto vivas e formam cobertura morta aps o corte. Alm disso, contribuem para a fertilizao do solo e para a melhoria de suas caractersticas fsicas, fsico-qumicas e biolgicas. Em sistemas de cultivo ecolgico ou orgnico, esses mtodos devem ser privilegiados por serem menos impactantes para o meio ambiente. MTODOS CULTURAIS Os mtodos culturais caracterizam-se pela eficiente ocupao do espao agrcola pela cultura desfavorecendo o estabelecimento das plantas daninhas. Assim, todas as prticas culturais que favoream o rpido estabelecimento da cultura da pimenta, como bom preparo do solo, adubao e espaamento adequados, irrigao direcionada e utilizao de mudas sadias e vigorosas, contribuem para o manejo das plantas daninhas. A rotao de culturas deve ser includa no plano de manejo, para proporcionar mudanas no ambiente onde a lavoura conduzida (ALVES; PITELLI, 2001), modificando a dinmica do banco de sementes e, por conseqncia, da comunidade de plantas daninhas, por proporcionar diferentes modelos de competio, dis-

trbios do solo e ao aleloptica (BUHLER et al., 1997). Se a rea ficar simplesmente em pousio, espcies que so favorecidas pelas condies edafoclimticas da entressafra da pimenta podero aumentar muito sua populao, alterando a dinmica da populao de plantas daninhas. A utilizao de cobertura morta proporciona efeitos fsicos, qumicos e biolgicos sobre as plantas daninhas (ALVES; PITELLI, 2001): a) efeito fsico: a barreira fsica formada pela cobertura morta dificulta a emergncia das plantas daninhas, porque aumenta o tempo para que tenha acesso luz e inicie o processo germinativo, o que pode esgotar suas reservas, diminuindo sua chance de sobrevivncia; alm disso, impede ou diminui a penetrao da luz solar, o que dificulta a germinao de sementes fotoblsticas positivas e das sementes que requerem determinado comprimento de onda de luz. A cobertura morta diminui as amplitudes dirias das variaes trmica e hdrica na superfcie do solo, o que reduz a germinao das sementes de algumas espcies; b) efeito biolgico: a cobertura morta proporciona ambiente favorvel para a proliferao de diversos organismos que podem utilizar as estruturas de propagao das plantas daninhas como fonte de energia e matria, provocando sua deteriorao e perda de viabilidade; c) efeito qumico: a lixiviao e a decomposio da cobertura morta originam compostos qumicos que so liberados no meio e podem exercer efeito aleloptico sobre as plantas daninhas. Alelopatia tem sido definida como qualquer efeito prejudicial, direto ou indireto, de uma planta sobre outra pela produo de compostos qumicos, normalmente designados aleloqumicos, que so liberados no meio

(PUTNAM, 1985; PUTNAM; TANG, 1986). Por meio dos aleloqumicos, organismos de uma espcie afetam o crescimento, o estado sanitrio, o comportamento ou a biologia da populao de organismos de uma outra espcie. Alm disso, com a repetio dessa prtica, a decomposio da cobertura vegetal aumenta o teor de matria orgnica do solo, o que contribui para melhoria de propriedades fsicas, qumicas e fsicoqumicas do solo. Pelo fato de a pimenteira apresentar ciclo longo e ser cultivada com espaamentos mais largos entrelinhas de plantio, a consorciao com adubos verdes pode ser uma alternativa para o manejo de plantas daninhas, para a proteo do solo nas entrelinhas e para o fornecimento de nutrientes para a cultura. Se o adubo verde for manejado, logo no incio do florescimento, pode fornecer nutrientes no mesmo ciclo de cultivo, especialmente nitrognio, caso seja usada espcie com boa capacidade de fixao biolgica desse elemento e de rpida decomposio. O desenvolvimento da planta e a produtividade da pimenta-malagueta (Capsicum frutescens), consorciada com espcies de adubos verdes, foram avaliados por Santos et al. (2004a). Foram comparados os adubos verdes de ciclo anual crotalria (Crotalaria breviflora Roth), lab-lab (Dolichus lablab) e mucuna-an (Stizolobium deeringianum Bort.) e os de ciclo perene puerria (Pueraria phaseoloide Hoxb.) e calopognio (Calopogonium mucunoides L.) e, ainda, uma testemunha sem adubo verde (Fig. 1). Todos os tratamentos receberam a mesma adubao no plantio. A parcela testemunha foi mantida no limpo por meio de capina com enxada e somente ela recebeu adubao de cobertura, com 120 kg/ha de uria, parcelada em quatro vezes. Os adubos verdes de ciclo anual foram cortados 110 dias aps o transplante das mudas de pimenta e semeados, novamente, 20 dias depois nas mesmas parcelas. J os adubos verdes de ciclo perene foram apenas mane-

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cnico sobre as plantas daninhas perenes baixa (PEREIRA, 2004). CAPINA Este mtodo ainda amplamente utilizado em pequenas propriedades. O perodo crtico de cerca de dois teros do ciclo da cultura da pimenta, que de 12 meses para a Malagueta (C. frutescens) e para as pimentas-de-cheiro (C. chinense) e de oito meses, para a Tabasco ( C. frutescens) e para a Dedo-de-moa (C. baccatum var. pendulum) (CRUZ, 2004). Para a pimenta-tabasco, no Cear, so utilizados, por hectare, 90 servios com capinas (CEAR, 2005). A capina com enxada pode afetar o sistema radicular das plantas de pimenta e favorecer a eroso do solo, devendo ser realizada em dias mais secos para obter melhor eficincia. CEIFA Em culturas que requerem espaamentos largos entrelinhas de plantio, uma alternativa de manejo das plantas daninhas a ceifa ou roada, realizada com foice ou com mquinas. A eficincia da ceifa depende das espcies e do estdio de desenvolvimento das plantas daninhas na rea e, ainda, da freqncia da ceifa (DURIGAN, 1984; DEUBER, 1992). Dentre os mtodos

B
Figura 1 - Adubos verdes na entrelinha da cultura da pimenta - EPAMIG - Fazenda Experimental do Vale do Piranga (FEVP), 2003 NOTA: A - Calopognio; B - Puerria.

jados de forma que no venha a invadir as linhas de plantio da pimenta. Concluiu-se que puerria e calopognio so promissores para uso em consrcio com a pimenta, por proporcionarem maior dimetro da copa (Quadro 1) e maior produo de frutos (Quadro 2), em relao aos demais adubos verdes. Por serem perenes, proporcionam cobertura do solo durante todo o ciclo da pimenta, o que reduz ou elimina a necessidade de capinas, protege o solo e dificulta a emergncia e o estabelecimento das plantas daninhas. Alm disso, promovem a reciclagem de nutrientes e aporte de matria orgnica. Sendo espcies forrageiras, suportam bem o pisoteio na ocasio das colheitas. MTODOS MECNICOS O cultivo mecnico mais eficiente, quando as plantas daninhas esto ainda

pequenas, com quatro a oito folhas definitivas. Nesse estdio, as plantas daninhas podem ser removidas facilmente sem causar dano cultura. A eficincia do controle me-

QUADRO 1- Mdias de altura da planta (ALP), dimetro da copa paralelo (DCP) e dimetro da copa transversal (DCT) linha de plantio, de pimenta-malagueta consorciada com adubos verdes, aos 68 e 208 dias aps o transplante - EPAMIG - Fazenda Experimental do Vale do Piranga (FEVP), 2004 ALP (cm) 68 (DAT) 208 (DAT) Testemunha Puerria Calopognio Crotalria Lab-lab Mucuna Mdia 54,5 53,5 45,3 54,0 49,1 48,0 50,73 99 96 90 94 81 95 92,5 DCP (cm) 68 (DAT) 58,5 60,5 57,8 61,2 49,5 50,6 56,35 208 (DAT) 104 102 98 98 80 88 95,00 DCT (cm) 68 (DAT) 60,1 59,6 58,8 54,3 47,5 42,6 53,82 208 (DAT) 111 109 108 97 87 90 100,33

Tratamento

NOTA: DAT - Dias aps o transplante.


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QUADRO 2 - Produo por colheita e produo acumulada (g/planta) de frutos de pimenta malagueta, consorciada com adubos verdes - EPAMIG - Fazenda Experimental do Vale do Piranga (FEVP), 2004 Dias aps o transplante (DAT) Tratamento 148 Testemunha Puerria Calopognio Crotalria Lab-Lab Mucuna Mdia 71,29 47,53 51,80 47,64 37,01 52,08 51,22 169 84,28 100,63 94,93 55,04 22,98 35,72 65,59 190 46,28 64,62 50,84 19,71 9,18 10,84 33,58 215 237,77 171,61 19,50 63,14 30,77 42,09 94,15 230 208,93 126,97 117,64 78,54 51,03 49,46 105,43 239 112,00 97,00 139,33 82,50 91,00 64,83 97,78 Produo acumulada 760,55 608,36 474,04 346,57 241,97 255,02 447,75

perimento, aspecto importante no sistema orgnico de cultivo. Apesar de preliminares, com base nos resultados deste experimento, estes autores recomendam no mximo, 25% de cobertura do solo com plantas daninhas. CULTIVO COM IMPLEMENTOS No preparo do solo com implementos agrcolas, o controle de plantas daninhas ocorre pela exposio do sistema radicular das plantas ao sol e enterrio de estruturas vegetativas e reprodutivas. Entretanto, este mtodo favorece a eroso do solo, fator importante no cultivo da pimenta, que realizado, preferencialmente, em reas de encostas. Posteriormente, plntulas de espcies daninhas anuais ou perenes, oriundas de sementes, podem ser controladas mecanicamente com cultivadores, os quais, basicamente, rompem o contato ntimo da plntula com o solo, provocando sua morte ou retardando seu crescimento inicial. Plntulas mais desenvolvidas, com maior acmulo de reservas, podem sobreviver ao impacto do cultivo e voltar a crescer. Desse modo, essa operao deve ser realizada no momento certo, visando garantir eficincia no controle (ALVES; PITELLI, 2001). Espcies perenes que se propagam vegetativamente, como o caso das trapoerabas (Commelina spp.), requerem maior ateno, pois podem ser favorecidas pelo cultivo mecnico. A eficcia do controle mecnico depender, ento, da quantidade de reservas armazenadas nas plantas daninhas no incio das operaes, das condies climticas aps o cultivo e da capacidade destrutiva do mtodo e do implemento utilizado. Por isso, a eficcia do primeiro controle deve ser acompanhada, visando decidir qual estratgia deve ser adotada a seguir, a qual se pode basear em dois princpios: a) realizao de sucessivos cultivos mecnicos em curtos intervalos de tempo, o que fora novas brotaes, exaurindo ao mximo as reservas da

mecnicos, a ceifa, provavelmente, seja o que causa menor impacto ao ambiente, pois, alm de no causar distrbios na superfcie do solo, proporciona a formao de camada de cobertura vegetal morta que protege o solo contra incidncia direta do sol e da chuva. Durante a decomposio da cobertura vegetal, podem ser liberados compostos (aleloqumicos), que exercem efeito qumico benfico no controle de algumas espcies daninhas. Alm disso, Alves e Pitelli (2001) ressaltam que a reduo do distrbio do solo, por si s, proporciona reduo temporria das populaes de plantas daninhas nos agroecossistemas. O simples fato de no movimentar o solo com aradura e gradagem no seu preparo, diminui a germinao de espcies dependentes de luz para o processo germinativo como, por exemplo, Bidens pilosa, Galinsoga parviflora e Portulaca oleracea (BLANCO; BLANCO, 1991) e, em trs anos, reduz em at 94% as manifestaes epgeas de Cyperus rotundus, pois sem o uso de implementos para a movimentao do solo no ocorre a diviso dos tubrculos, a quebra da dormncia e da dominncia apical (JAKELAITIS et al., 2003). O manejo das plantas daninhas por meio da ceifa especialmente interessante em cultivos orgnicos, pois mantm a

diversidade da vegetao, um dos preceitos da agricultura orgnica. Santos et al. (2004b) avaliaram o desenvolvimento da planta de pimenta em sistema orgnico de cultivo, no qual realizou-se a ceifa peridica das plantas daninhas, que foram mantidas formando faixas de cobertura do solo nas entrelinhas de plantio nas seguintes porcentagens: 0% (testemunha mantida no limpo), 25%, 50%, 75% e 100% de cobertura da entrelinha (Fig. 2). Aos 68 dias aps o transplante (DAT), no havia diferena entre tratamentos quanto altura de plantas, ao dimetro da copa no sentido da linha de plantio e ao dimetro da copa transversal linha de plantio. Mas aos 208 DAT, as maiores mdias para as caractersticas citadas foram do tratamento mantido com 0% de cobertura, seguido pelo tratamento mantido com 25% de cobertura. A produtividade obtida no tratamento 0% de cobertura foi de 7.326 kg/ha de fruto, enquanto a mdia geral de produtividade no experimento foi de 3.726 kg/ha. Apesar da queda na produtividade, h que se considerar na anlise do resultado, a economia de mo-de-obra com capina e os benefcios proporcionados pelas plantas daninhas em termos de cobertura do solo e de abrigo para inimigos naturais de pragas da pimenta, uma vez que no foi utilizado qualquer tipo de defensivo sinttico no ex-

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E
Figura 2 - Faixas de cobertura do solo nas entrelinhas da cultura da pimenta em cultivo orgnico NOTA: A - Vista geral do experimento; B - 0%; C - 25%; D - 50%; E - 75%; F - 100%.

planta, impedindo-a de voltar a acumul-las (ALVES; PITELLI, 2001); b) retirada do material propagativo da rea por meio do arranquio manual das plantas-problema, o que s se aplica em pequenas reas. Os implementos para o controle mec-

nico podem ser tracionados por tratores ou por animais, dependendo da convenincia e da infra-estrutura disponvel. CONTROLE QUMICO Como no h registro de herbicidas para a pimenteira, muitos agricultores utilizam, erroneamente, herbicidas recomendados

para outras culturas, correndo o risco de intoxicar a planta e a si mesmo, alm de contaminar o ambiente. Com o objetivo de dar subsdio ao estudo de seletividade de herbicidas pimenta-malagueta, Santos et al. (2004c) avaliaram 11 herbicidas comerciais, em casa de vegetao (Fig. 3). Os herbicidas Trifluralin (Premerlin) na

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Figura 3 - Efeito de herbicidas em plantas de pimenta, 74 dias aps aplicao (DAA) de Trifluralin, Metribuzin e Metolachlor em prplantio e incorporado (PPI) e 44 DAA dos demais herbicidas EPAMIG-CTZM, Viosa-MG, 2003 NOTA: A Testemunhas; B Testemunha x Trifluralin PPI; C Testemunha x Clethodim; D Testemunha x Metribuzin PPI; E Testemunha x Metolachlor PPI; F Testemunha x Fluazifop-p-butyl; G Testemunha x Metsulfuron methyl; H Testemunha x Metribuzin (0,7 L/ha ps-emergncia); I Testemunha x Sethoxydim; J Testemunha x Flazasulfuron; K Testemunha x Carfentrazone; L Testemunha x Halosulfuron.
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Fotos: Izabel Cristina dos Santos

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dose de 2,0 L/ha, e metolachlor (Dual), na dose de 2,5 L/ha, foram seletivos, quando aplicados logo aps o enchimento dos vasos e incorporados ao substrato, antes do plantio das mudas de pimentamalagueta. Em ps-emergncia, aos 30 dias aps o transplante das mudas, os graminicidas fluazifopp-butil (Fusilade), na dose de 1,5 L/ha, e sethoxydim (Poast), na dose de 1,0 L/ha, tambm no causaram intoxicao s mudas de pimenta. Apesar do potencial de uso na cultura da pimenta, tais herbicidas s devem ser recomendados aps a extenso de uso pelo Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA). CONSIDERAES FINAIS As plantas daninhas interferem diretamente no desenvolvimento da pimenteira, competindo com esta por gua, nutrientes e luz, reduzindo a produtividade e a qualidade dos frutos. O controle qumico no recomendado para a cultura de pimenta, em razo da falta de registro de herbicidas junto ao MAPA. A eficincia do controle depender do estdio de desenvolvimento, do grau de infestao e da agressividade das espcies de plantas daninhas; das condies climticas; do tipo de solo e da disponibilidade de mode-obra e/ou de equipamentos. Preferencialmente, deve-se lanar mo de diferentes mtodos para aumentar a eficincia do controle.
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Pragas associadas cultura da pimenta e estratgias de manejo


Madelaine Venzon 1 Cludia Helena Cysneiros Matos de Oliveira 2 Maria da Consolao Rosado 3 Angelo Pallini Filho 4 Izabel Cristina dos Santos 5

Resumo - A identificao dos principais insetos e caros passveis de causarem dano econmico cultura da pimenta a primeira etapa para o sucesso no manejo dessas pragas. A utilizao de medidas de controle preventivas deve ser considerada desde o plantio e, quando necessrio, deve ser utilizado o controle complementar das pragas. Palavras-chave: Capsicum. caro. Inseto. Variedade resistente. Produto alternativo. Controle cultural. Controle qumico. Controle biolgico. Controle mecnico.

INTRODUO A cultura da pimenta hospeda vrios insetos e caros-fitfagos. No entanto, poucos podem ser considerados pragas da cultura, quer seja pelo tipo de dano ocasionado, quer seja pelos nveis populacionais reduzidos. Alm dos fitfagos, no agroecossistema da pimenta esto presentes vrios inimigos naturais que atuam na regulao populacional desses organismos. O sucesso do manejo de pragas da pimenta depende da correta identificao desses artrpodos e da associao de estratgias de controle preventivas e complementares a serem utilizadas no caso de ocorrer aumento populacional das pragas. Neste artigo so abordadas as principais caractersticas das pragas mais importantes da pimenta e as estratgias de controle com resultados referendados pela pesquisa.
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PRAGAS DA PIMENTA caros O caro-branco, Polyphagotarsonemus latus (Banks) (Acari: Tarsonemidae), uma das principais pragas da pimenta e de ocorrncia freqente na maioria das reas produtoras de pimenta do Brasil. Ocorre nas regies tropicais e subtropicais, tendo sido registrado em um amplo espectro de hospedeiros, incluindo culturas de importncia econmica como algodo, mamo, feijo, tomate e pimento, alm da pimenta (GERSON, 1992; SILVA et al., 1998; VIEIRA; CHIAVEGATO, 1998; COLIER et al., 2004). As fmeas de P. latus medem cerca de 0,17 mm de comprimento por 0,11 mm de largura (Fig. 1). Os machos so menores, medem cerca de 0,14 mm de comprimento, por 0,08 mm de largura e possuem o quarto par de pernas avantajado, o que lhes per-

mite carregar a pupa da fmea para que a cpula seja garantida no momento da emergncia. Devido ao seu tamanho diminuto, a presena do caro-branco freqentemente despercebida no campo, sendo detectada somente quando a populao j atingiu nvel de dano econmico, danificando severamente s plantas. O caro-branco vive na face abaxial das folhas da regio apical das plantas, as quais se tornam curvadas para baixo, ressecadas e bronzeadas e podem cair prematuramente (Fig. 2). Alm disso, pode causar deformidades e queda nas flores e frutos (SCHOONHOVEN et al., 1978; GERSON, 1992). O desenvolvimento de P. latus favorecido pela combinao de temperatura e umidade altas, associadas baixa luminosidade. Sua disseminao feita pelo vento, por estruturas vegetais infestadas e transportadas de uma rea para

Enga Agra, Ph.D., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: venzon@epamig.ufv.br

Biloga, D.Sc., Pesq. UFRPE - Unidade Acadmica de Serra Talhada, Fazenda Saco, s/n, CEP 56900-000 Serra Talhada-PE. Correio eletrnico: ccyne@hotmail.com.br
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Enga Agra, Mestranda, UFV - Depto Biologia Animal, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: mcrosado@insecta.ufv.br Engo Agro, Ph.D., Prof. UFV - Depto Biologia Animal, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: pallini@mail.ufv.br Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Caixa Postal, 216, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: icsantos@epamig.ufv.br

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Figura 1 - caro-branco Polyphagotarsonemus latus

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Tetranychus evansi Baker and Pritchard (Acari: Tetranychidae). Fmeas de T. urticae apresentam o corpo ovalado e os machos possuem a extremidade posterior do corpo mais estreita. Os adultos medem cerca de 0,3 mm de comprimento, possuem colorao geral esverdeada e, nas fmeas, observa-se a presena de duas manchas dorsais verde-escuras. Os adultos de T. ludeni possuem colorao vermelhaintensa; as fmeas (0,45 mm de comprimento por 0,23 de largura) so maiores que os machos (0,26 mm de comprimento por 0,15 mm de largura). Fmeas adultas de T. evansi medem cerca de 0,5 mm de comprimento, possuem o corpo ovalado, de colorao laranja-avermelhada, com duas manchas laterais escuras (Fig. 3). Os machos so menores e de colorao alaranjada.

Madelaine Venzon

Figura 3 - caro-vermelho Tetranychus evansi

Figura 2 - Planta de pimenta infestada pelo caro-branco

outra, de forma natural pelo contato entre a folhagem das plantas e ainda pela relao fortica com pulges e com a mosca-branca (HUGON, 1983; FAN; PETITT, 1998; PALEVSKY et al., 2001).

Outras espcies de caros que ocorrem na cultura da pimenta, porm com importncia secundria, so o caro-rajado Tetranychus urticae Koch e os carosvermelhos Tetranychus ludeni Zacher e

O caro-rajado e os caros-vermelhos vivem na pgina inferior das folhas, onde tecem teias e depositam os seus ovos. Temperaturas elevadas e baixo teor de umidade favorecem o seu desenvolvimento. Os danos causados por essas espcies so semelhantes (FRANA et al., 1984): clorose generalizada das folhas, sendo as nervuras mantidas mais verdes; aparecimento de teia

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envolvendo uma ou mais folhas; queda acentuada das folhas e morte das plantas, em ataques severos. Insetos Pulges As principais espcies de pulgo, que ataca as plantas de pimenta, so o pulgoverde, Myzus persicae Shulzer, o pulgodo-algodoeiro, Aphis gossypii Glover, e o pulgo-das-solanceas, Macrosiphum euphorbiae (Thomas) (Homoptera: Aphididae). A primeira espcie polfaga, cosmopolita e pode transmitir mais de 100 vrus em diversas culturas (BLACKMAN; EASTOP, 1984). Os adultos de M. persicae medem cerca de 2 mm, sendo a forma ptera de colorao geral verde-clara (Fig. 4) e a forma alada de colorao verde, com cabea, antena e trax pretos. As ninfas so de colorao verde a marrom-avermelhado. O pulgo A. gossypii apresenta ampla distribuio mundial e encontra-se associado a culturas de grande importncia econmica. tambm uma espcie polfaga e capaz de transmitir mais de 50 vrus de plantas (BLACKMAN; EASTOP, 1984). So insetos pequenos (1-2 mm), de colorao que varia do amarelo-claro ao verde-escuro. O pulgo das solanceas, M. euphorbiae, o maior das trs espcies que ocorrem na pimenta. Tem sido encontrado em 50 tipos de plantas e vetor de mais de 40 vrus. As formas pteras medem cerca de 3,5 mm, apresentam colorao verde-claro e possuem as pernas e os sifnculos com as extremidades escurecidas. As formas aladas so maiores (cerca de 4 mm), de colorao verde-claro a verde-escuro, com antenas ultrapassando o tamanho do corpo. As trs espcies de pulgo atacam as folhas e os ramos novos das plantas de pimenta, sendo que A. gossypii ataca tambm os botes florais e as flores. As folhas tornam-se enroladas, encarquilhadas e os brotos ficam curvos e achatados. Devido suco contnua de seiva, pode ocorrer o retardamento do crescimento da planta. A suco contnua dos pulges pode provocar tambm a eliminao de um lquido aucarado deno-

Figura 4 - Pulgo-verde Myzus persicae

minado honey-dew, o qual deixa as folhas pegajosas e meladas. Nesse meio, h o desenvolvimento de fungos, principalmente do gnero Capnodium, que podem recobrir folhas e ramos, conferindo-lhes um aspecto de fuligem escura, a fumagina. Essas plantas podem reduzir a produo, devido diminuio da taxa fotossinttica. Alm desses danos, os pulges podem transmitir o vrus do mosaico-do-pimento. As plantas infectadas por esse vrus apresentam reduo no crescimento, folhas encrespadas com mosaico acentuado, reduo da qualidade dos frutos e prejuzos na produo (FRANA et al., 1984). Tripes As principais espcies de tripes associadas cultura da pimenta so Thrips palmi Karny e Frankliniella schultzei Trybom (Thysanoptera: Thripidae). O tripes T. palmi ataca solanceas, cucurbitceas e plantas ornamentais. So insetos de colorao amarelada a marrom-claro, cujos adultos possuem asas franjadas e medem cerca de 1 mm de comprimento. A espcie F. schultzei considerada uma das espcies de tripes mais importantes em vrias regies do Brasil (NAGATA et al.,

1999). Ataca, alm das solanceas, algodo, amendoim, sorgo, cebola e diversas plantas ornamentais (PALMER et al., 1989). Possui colorao varivel de marrom a preto e mede cerca de 1,4 mm de comprimento. As formas jovens possuem colorao mais clara que a dos adultos. Os tripes so insetos raspadoressugadores. Sugam a seiva das folhas, das brotaes e dos botes florais. Em conseqncia da sua alimentao, ocorre o superbrotamento da planta, encarquilhamento das folhas e quedas das flores; os frutos atacados ficam deformados, sem brilho e speros. Alm desses danos diretos, os tripes podem causar danos indiretos atravs da transmisso do vrus do vira-cabea-do-tomateiro. Os sintomas mais comuns dessa virose so (FRANA et al., 1984): mosaico amarelo, faixa verde nas nervuras e anis concntricos nas folhas, paralisao do crescimento e deformao dos frutos. Os prejuzos variam de acordo com a poca de ataque. Plantas infectadas na sementeira ou logo aps o transplantio tm a produo totalmente comprometida. Plantas infectadas tardiamente tm sua produo quantitativa e qualitativa menos afetadas.

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Mosca-branca A mosca-branca, Bemisia tabaci (Genn.) (Homoptera: Aleyrodidae), ataca uma ampla diversidade de hospedeiros, dentre estes incluem-se solanceas, cucurbitceas, brssicas, leguminosas, algodo, mandioca, alface e quiabo, alm de plantas ornamentais, daninhas e silvestres (VILLAS BAS et al., 1997). So insetos pequenos de 1 mm de comprimento, com quatro asas membranosas recobertas com pulverulncia branca. Os ovos so colocados na pgina inferior das folhas e as ninfas passam a sugar a seiva das folhas. Os danos causados pela mosca-branca podem ser diretos, devido suco de seiva e ao favorecimento do aparecimento da fumagina (semelhante aos pulges), e indiretos, devido transmisso de viroses. Broca-do-ponteiro e do frutoda-pimenta Esta broca, Gnorimoschema barsaniella (Lepidoptera: Gelechiidae), uma das pragas mais importantes da pimenta. Ocorre na maioria das regies produtoras e causa srios prejuzos na produo. Os adultos so mariposas de cor cinza-escuro e cabea marrom-claro, cujo comprimento pode alcanar at 6 mm. A postura feita no interior dos botes florais ou extremidade das brotaes e ponteiro, isoladamente ou em grupos de dois e trs ovos (FRANA et al., 1984). As lagartas so de colorao rosada e medem de 5 a 7 mm. Vivem no interior das hastes ou ponteiro e no interior de flores e frutos. Nestes, alimentam-se das sementes. Segundo Frana et al. (1984), os frutos atacados pela praga desprendem-se das plantas, to logo iniciada a maturao e, em certos casos, h formao de uma camada bastante espessa de frutos cados sob a copa das plantas. Os frutos danificados que conseguem manter-se na planta, mesmo os maduros, ou aqueles que so colhidos enquanto colonizados pelas lagartas, concorrem para a deteriorao de lotes inteiros de frutos colhidos e embalados, causando grandes prejuzos (Fig. 5). Mosca do pimento A mosca Neosilba sp. (Diptera: Lonchaeidae) oviposita nos orifcios de sada das lagartas da broca-do-fruto-da-pimenta. Os adultos so moscas de colorao pretobrilhante e medem cerca de 6 mm de comprimento (Fig. 6). As larvas so brancas, vermiformes e medem de 7 a 9 mm de comprimento. Alimentam-se do interior dos frutos, o que favorece o apodrecimento destes (Fig. 5). Os prejuzos so os mesmos causados pela broca-do-fruto-dapimenta. Lagarta-rosca Os adultos de Agrotis ipsilon (Hufnagel) (Lepidoptera: Noctuidae) so mariposas (35 mm de envergadura) de asas anteriores marrons com manchas pretas e posteriores semitransparentes. As lagartas podem atingir 45 mm de comprimento e possuem colorao pardo-acinzentadaescuro. Possuem hbito noturno, quando cortam as plantas ao nvel do solo. Durante o dia ficam abrigadas no solo, prximas s plantas cortadas. O perodo mais prejudicial s plantas de pimenta logo aps o transplantio, quando as plantas esto em fase de pegamento. No entanto, seus danos podem tambm ser observados em plantas maiores, atravs do corte dos ponteiros (FRANA et al., 1984). No caso de ataques iniciais intensos, pode haver necessidade de replantio. Outros insetos Alm dos insetos citados, outros podem ocasionalmente causar danos cultura da pimenta. Ressalta-se, porm, que sua importncia secundria e no necessria a utilizao de medidas de controle.
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Figura 5 - Frutos de pimenta danificados pela broca-do-fruto-da-pimenta Gnorimoschema barsaniella e pela mosca Neosilba sp.

Figura 6 - Mosca-do-pimento Neosilba sp.

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Algumas espcies de colepteros podem danificar as razes e folhas da pimenta. Normalmente, os danos s razes so de pouca importncia; j a desfolha provocada pela alimentao dos adultos pode ser significativa, quando ocorrer em plantas nas sementeiras ou nas recm-transplantadas para o campo (FRANA et al., 1984). A vaquinha Diabrotica speciosa (Germ.) (Coleoptera: Chrysomelidae) e o burrinho Epicauta suturalis (Germ.) (Coleoptera: Meloidea) so as espcies mais comuns que podem causar esse tipo de dano pimenta. Outros colepteros com potencial de dano cultura da pimenta so os broqueadores de caule. As espcies mais comuns so Agathomerus flavomaculatus (Klug) (Coleoptera: Megalopodidae), Faustinus cubae (Boheman) e Heilipodus destructor Olin. (Coleoptera: Curculionidae). Larvas dessas espcies vivem dentro das razes, caules e hastes da pimenta, abrem galerias em conseqncia da sua alimentao. As plantas atacadas ficam amareladas, enfraquecidas e podem morrer. Em ataques de A. flavomaculatus pode-se observar o corte dos ramos. Algumas espcies de moscasminadoras ( Liriomyza spp.) podem, ocasionalmente, causar danos cultura da pimenta. As larvas dessas moscas fazem minas serpenteadas nas folhas, o que provoca secamento e queda foliar. As plantas e frutos atacados apresentam regies clorticas. Segundo Frana et al. (1984), algumas espcies de percevejos como Acroleucus coxalis Stal. (Hemiptera Lygaeidae), Phthia picta ( D r u r y ) e C o r e c o r i s f u s c u s (Thumberg) (Hemiptera, Coreidae), Corythaica cyathicollis (Costa) e C. monacha (Stal) (Hemiptera, Tingidae) podem, eventualmente, causar danos pimenta. Esses so devidos suco dos frutos e da planta pelas ninfas e adultos dos percevejos. Alm da depreciao, devido alimentao desses insetos, os frutos danificados so mais facilmente colonizados por fungos, levando-os ao murchamento e apodrecimento.

ESTRATGIAS PARA O MANEJO DE PRAGAS DA PIMENTA Controle biolgico O controle biolgico natural das pragas da pimenta realizado por diversas espcies de inimigos naturais. Os caros-predadores da famlia Phytoseiidae so os principais inimigos naturais dos caros-fitfagos (MORAES, 2002). Na cultura da pimenta, diversas espcies de caros-predadores so encontradas, sendo Amblyseius herbicolus (Chant) (Acari: Phytoseiidae) uma das mais abundantes na Zona da Mata mineira (Fig. 7). Esse predador tem uma alta capacidade de consumo de P. latus em plantas de Capsicum spp. De acordo com Matos (2006), uma fmea adulta de A. herbicolus capaz de predar em mdia 51,75 a 66,6 ovos e 34,2 a 40,5 adultos de P. latus por dia. Vrias espcies de insetosentomfagos esto associadas aos pulges M. persicae, A. gossypii e M. euphorbiae. Os predadores Cycloneda sanguinea L. (Fig. 8), Eriopis connexa (Germar) (Coleptera: Coccinellidae) (Fig. 9), Chrysoperla externa (Hagen) (Fig. 10),

Ceraeochrysa cubana (Hagen) (Neuroptera: Chrysopidae) e sirfdeos tm sido encontrados com freqncia em plantaes de pimenta da Zona da Mata de Minas Gerais, especialmente onde o uso de defensivos reduzido ou ausente. Algumas dessas espcies alimentam-se tambm de caros e de tripes. Dentre os parasitides mais importantes associados aos pulges, esto Aphidius colemani Viereck e Lysiphlebus testaceipes (Cresson) (Hymenoptera: Aphidiidae) (RODRIGUES; BUENO, 2001; SAMPAIO et al., 2001). Para a manuteno e aumento dos inimigos naturais no agroecossistema da pimenta, so necessrias prticas que favoream o aumento de suas populaes. Essas prticas incluem a diversificao da vegetao nos plantios, atravs da utilizao de espcies fornecedoras de alimento alternativo (ex. crotalria) (VENZON et al., 2006a); a manuteno de reas de vegetao natural prximas aos plantios; a utilizao criteriosa de defensivos, os quais s devem ser utilizados como estratgia complementar s outras prticas de controle de pragas. Ressalta-se que, ao

Figura 7 - caro-predador Amblyseius herbicolus

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se diversificar o plantio, devem ser escolhidas plantas que no hospedem as mesmas pragas da pimenta ou que no ofeream ambiente que favorea o seu desenvolvimento. Em experimento realizado na Zona da Mata mineira, verificou-se que, dentre vrios adubos verdes testados para a diversificao dos plantios de pimenta-malagueta, o calopognio (Calopogonium mucunoides) foi a nica espcie que proporcionou aumento na porcentagem de frutos danificados pela broca-do-fruto-da-pimenta G. barsaniella e pela mosca Neosilba sp. (Grfico 1). Variedades resistentes Trabalhos com pimenta, visando resistncia de pragas, so escassos. No caso especfico de caros, as informaes resumem-se apenas a listas das espcies possivelmente resistentes a esses organismos, sem relatar as possveis causas dessa resistncia (ECHER et al., 2002; LIMA et al., 2003). A arquitetura e caractersticas fsicas das folhas podem ser elementos associados ao processo de resistncia na pimenta. As plantas de Capsicum variam consideravelmente quanto s caractersticas de suas folhas, havendo desde espcies com folhas glabras a espcies cobertas por tricomas (Quadro 1 e Fig. 11). A presena de domcias nas folhas tambm importante. Essas estruturas so representadas por tufos de plos localizados na juno das nervuras principal e secundrias, na face abaxial das folhas. Servem como local de oviposio para caros-predadores e fungvoros, atuando como refgio contra seus inimigos naturais e favorecendo a sobrevivncia dos predadores (KARBAN et al., 1995; NORTON et al., 2001; MATOS et al., 2004). A resistncia de determinadas espcies de plantas ao ataque de caros pode estar associada presena e densidade de tricomas e de domcias nas suas folhas. Folhas de Capsicum totalmente lisas classe de pilosidade 1 (Quadro 1) proporcionaram uma reduo na taxa de crescimento populacional do caro-branco P. latus, sendo observado o mesmo em folhas

Figura 8 - Predador Cycloneda sanguinea

Figura 9 - Predador Eriopis connexa

Figura 10 - Larva-do-predador Chrysoperla externa

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totalmente pilosas - classe de pilosidade 5 (Quadro 1 e Fig. 11). As maiores taxas de crescimento populacional desse caro foram observadas nas espcies de Capsicum, com pilosidade intermediria classes de pilosidade 2 e 3 (Quadro 1 e Fig. 11) (MATOS, 2006). Produtos alternativos Extratos de plantas com potencial inseticida tm sido utilizados em sistemas de produo onde no permitido o uso de agrotxicos, como na produo orgnica. Uma das espcies de planta mais pesquisada para o controle de pragas a Meliaceae Azadirachta indica A. Juss, conhecida como nim. A azadirachitina, encontrada principalmente nas sementes e em menor quantidade na casca e nas folhas do nim, o principal composto responsvel pelos efeitos txicos aos insetos

Grfico 1 - Porcentagem total de frutos de pimenta-malagueta danificados pela brocado-fruto-da-pimenta (Gnorimoscherma barsaniella) e pela mosca Neosilba sp. em plantio diversificado com adubos verdes e em parcelas adubadas com N mineral FONTE: Dados bsicos: Venzon et al. (2004b).

QUADRO 1 - Caractersticas das folhas de Capsicum spp. quanto presena de tricomas e domcias
Caractersticas da folha Classificao

Nome cientfico

Nome comum

Tricomas (densidade/5 cm2)

Domcias Total de tricomas (densidade/5 cm2) (limbo+nervura+ domcias) Classes de tricomas

Caracterizao geral

Limbo

Nervura

Densidade/ 15cm2 0C

No de plos/ domcia 0E

(1)

C. baccatum

Dedo-de-moa

0B

0D

0D

Folha totalmente glabra, sem domcias nem tricomas no limbo ou nervuras.

(1)

C. frutescens

Malagueta

0B

0,5 D

5,16 B

8,22 D

8,72 D

Folha glabra com domcias apresentando tricomas esparsos sem formar uma cavidade definida.

(2)

C. chinense

Bode

0,28 B

45,83 C

5,36 B

26,68 C

73,61 C

Folha glabra com domcias definidas formando cavidades parcialmente recobertas por tricomas.

(1)

C. annuum

Chapu-de-bispo

1,65 B

179,05 B

5,4 B

31,00 B

211,70 B

Folha glabra apresentando tricomas apenas ao longo da nervura central; domcias definidas formando cavidades fechadas, obstrudas por tricomas.

(2)

C. praetermissum

Cumari

604,45 A

235,85 A

8,15 A

59,88 A

900,18 A

Folha coberta por tricomas, tanto no limbo como ao longo das nervuras principal e secundrias; domcias formando cavidades fechadas, obstrudas por tricomas.

FONTE: Matos (2006). NOTA: Mdias seguidas de letra maiscula na coluna no diferem a 5% de probabilidade pelo teste Tukey. (1)Gentipos comerciais. (2)Gentipos provenientes do banco de germoplasma da EPAMIG-CTZM, Viosa-MG.

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D
Figura 11- Aspecto das folhas de pimenta quanto s caractersticas morfolgicas NOTA: A - Capsicum baccatum ; B - Capsicum frutescens ; C - Capsicum chinense ; D - Capsicum annuum ; E - Capsicum praetermissum

E
(SCHUMUTTERER, 1990; MORDUE; NISBET; 2000). Os efeitos da azadirachitina sobre os insetos incluem repelncia,

deterrncia alimentar, interrupo do crescimento, interferncia na metamorfose, esterilidade e anormalidades anatmicas

(SCHUMUTTERER, 1990; MORDUE; NISBET, 2000; MARTINEZ; EMDEN, 2001). Alm disso, os produtos derivados

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Fotos: Cludia Helena Cysneiros Matos de Oliveira

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do nim tm as vantagens de ser praticamente no txicos ao homem e rapidamente degradados no solo e nas plantas (ISMAN, 2006). O extrato de semente de nim (NeemAzalTM T/S que contm 10 g/L de azadirachitina) teve efeito inseticida sobre o pulgo M. persicae, quando pulverizado em plantas de pimenta. Em experimento de laboratrio, foi verificada alta mortalidade de adultos e ninfas do pulgo em plantas previamente pulverizadas com 0,5% e 1% do extrato (VENZON et al., 2004a). O extrato aquoso de sementes de nim causou alta mortalidade de ninfas de A. gossypii e reduziu a sobrevivncia e a fecundidade dos adultos do pulgo (SANTOS et al., 2004). Alm desses efeitos letais e subletais, possvel tambm que haja reduo significativa na transmisso de viroses por pulges, quando as plantas so tratadas com produtos base de azadirachitina, como demonstrado pelos trabalhos de Heuvel et al. (1998) e Nisbet et al. (1996). Para o caro-branco P. latus, doses crescentes do extrato de semente de nim (NeemAzalTM T/S) provocaram reduo da taxa instantnea de crescimento populacional, sendo que valores negativos foram obtidos, quando a concentrao do produto foi acima de 0,13 g de azadirachitina por litro, o que significa que a populao est-se extinguindo (Grfico 2) (ROSADO et al., 2004). A azadirachitina tem sido relatada tambm como eficiente no controle de caros tetraniqudeos, como o carorajado T. urticae (MAKUNDI; KASHENGE, 2002). Existem no mercado nacional, vrios produtos base de nim. O extrato de semente de nim pode tambm ser produzido de forma simples e a baixo custo. Segundo Martinez (2002), o processo de preparao do extrato de nim consiste em triturar 30 a 40 g de sementes secas de nim em um litro de gua. Posteriormente, a mistura deve descansar durante 12 h. O lquido obtido filtrado e est pronto para uso. O leo emulsionvel retirado das sementes, que tm 40% de leo. De cada 4 kg de sementes

Grfico 2 - Taxa instantnea de crescimento populacional de Polyphagotarsonemus latus em plantas de pimenta tratadas com diferentes concentraes do extrato de semente de nim (NeemAzal)

descascadas e prensadas obtm-se 0,5 L de leo inseticida, com 0,1 % de azadirachitina. Outras plantas da famlia Meliaceae tambm possuem atividade inseticida. Souza e Vendramim (2001) verificaram que os extratos dos frutos e das folhas de cinamomo Melia azedarach e dos ramos de Trichilia pallida tiveram ao inseticida sobre ovos e ninfas da mosca-branca B. tabaci. Alm dos extratos de plantas, outros produtos alternativos que podem ser utilizados para o controle de pragas e doenas so as caldas fitoprotetoras. A calda sulfoclcica a 0,3% foi eficiente em reduzir, em laboratrio, a populao de P. latus em plantas de pimenta (VENZON et al., 2006b). As propriedades acaricidas e inseticidas da calda sulfoclcica so resultantes da reao dos compostos da calda aplicada sobre a planta com a gua e o gs carbnico, resultando em gs sulfdrico e enxofre coloidal. Segundo Penteado (2000), para o preparo de 100 L da calda, devem-se misturar 25 kg de enxofre ventilado com gua quente at adquirir consistncia pastosa. Posteriormente, adicionam-se pasta de enxofre, 80 L de gua e aquece-se a mistura at cerca de 50oC, quando devem

ser adicionados 12,5 kg de cal virgem. Aps o incio da fervura, mexer durante uma hora e sempre completar com gua fria at o nvel de 100 L. Quando a colorao da calda tornar-se pardo-avermelhada retirar do fogo e deixar esfriar. Finalmente, deve-se coar em pano de algodo, diluir e aplicar. O uso de concentraes muito altas da calda deve ser evitado, devido aos problemas de fitotoxicidade e ao efeito adverso sobre os caros-predadores (VENZON et al., 2005). A calda viosa, uma mistura de sulfato de cobre, cal e micronutrientes, mostrou eficincia na reduo populacional de P. latus, tanto no laboratrio, como no campo, quando pulverizada sobre plantas de pimenta-malagueta (VENZON et al., 2006b). Essa calda recomendada para pimenta no controle de doenas como a cercosporiose, alm de ter ao complementar na nutrio da planta. Segundo Penteado (2000), o processo de preparao de 100 L da calda viosa consiste nos seguintes passos: dissolver 500 g de sulfato de cobre (25% de Cu), 300 g de sulfato de zinco (21,9% de Zn), 200 g de sulfato de magnsio (16-17% de MgO), 400 g de sulfato de potssio (50% de K2O) e 100 g de cido brico (17,5% de B) em 50 L de gua. Em outro recipiente, com 50 L de gua, dissolver 500 g de cal

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virgem (88% de CaO) at formar o leite de cal; despejar o contedo do primeiro recipiente sobre o leite de cal. Misturar bem at a colorao tornar-se azul-celeste. Embora no existam resultados cientficos sobre o efeito dos produtos alternativos citados para outras pragas da pimenta, alm dos caros e pulges, possvel que esses produtos sejam eficientes tambm para o controle de outros insetos e caros. Alm da eficincia para o grupo de pragas relatado, os produtos alternativos possuem custo reduzido, so de fcil obteno pelos produtores, de baixa toxicidade ao homem e ao meio ambiente. No entanto, dependendo da dosagem e formulao, alguns desses produtos podem apresentar fitotoxicidade e afetar negativamente algumas espcies de inimigos naturais. Assim, recomenda-se o uso criterioso dos produtos alternativos dentro das especificaes tcnicas para cada espcie de pragas e em poca de ocorrncia de populaes crescentes delas, evitandose o uso desses produtos preventivamente. Controle cultural e mecnico A rotao de culturas, a erradicao de plantas que sejam hospedeiras das mesmas pragas da pimenta em rea prxima ao plantio e a destruio de restos culturais so medidas importantes que contribuem para a reduo populacional de diversas pragas da pimenta, especialmente os insetos-vetores de viroses. Para auxiliar o controle de pulges e tripes, recomenda-

se fazer a sementeira em local limpo e utilizar cobertura de casca de arroz, a qual tem efeito repelente. Uma medida eficiente para reduzir as populaes da broca-do-frutoda-pimenta e da mosca-do-pimento a catao e destruio dos frutos encontrados debaixo das plantas. Para impedir ou retardar a entrada de adultos da mosca-branca e de insetosvetores de viroses na cultura da pimenta, podem ser utilizadas barreiras vivas. Segundo Villas Bas (2005), as barreiras devem ser perpendiculares direo predominante do vento e, quando possvel, rodear a lavoura. Podem ser utilizadas plantas como sorgo forrageiro, milho e cana-de-acar. Controle qumico Inseticidas e acaricidas devem ser utilizados somente quando a populao de pragas atingir nveis capazes de ocasionar dano econmico. A simples presena da praga ou do seu dano na planta no determina que se aplique agrotxico. Para se aplicar um agrotxico, deve-se proceder antes amostragem das pragas no campo e comparar a populao encontrada com a densidade populacional que causaria dano econmico. Deve-se fazer aplicao antes da praga atingir o nvel de dano econmico. O agricultor deve estar ciente que um certo dano em algumas poucas plantas no significa dano econmico. O dano econmico aquele no qual o custo da operao de controle (custo do agrotxico, da

mo-de-obra de aplicao, do valor do produto agrcola no mercado) no seja superior ao dano causado pela praga. Existem poucos produtos registrados no Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA), para o controle de pragas da pimenta (Quadro 2). Esses devem ser utilizados, considerando-se as doses recomendadas, os perodos de carncia e as demais informaes contidas nos rtulos dos produtos. Os defensivos devem ser armazenados em lugar adequado e durante a aplicao dos produtos indispensvel o uso de equipamentos de proteo individual (EPI). O produtor deve fazer uso dos agrotxicos apenas com a devida receita expedida por um engenheiro agrnomo. CONSIDERAES FINAIS A cultura da pimenta tem crescido em importncia econmica no estado de Minas Gerais e no Brasil. Com isso, as reas de cultivos tm aumentado e reas de plantio contnuos tm-se avolumado dando origem a monoculturas em algumas regies. Como em toda monocultura, a natureza da rea de explorao simplificada, devido eliminao da diversidade de outras plantas e com isso ocorre diminuio de inimigos naturais e aumento de pragas especialistas na cultura. Isso o que vem acontecendo em reas onde se explora continuamente a cultura da pimenta. Neste trabalho foram relatadas espcies de insetos e caros que j causam considervel dano em algumas

QUADRO 2 - Inseticidas e acaricidas registrados no Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento para o controle de pragas da pimenta - 2006 Nome tcnico Nome comercial Indicao Dose Carncia (dias) 3 Classe toxicolgica II

Carbaryl

Sevin 480 SC

Lagarta-rosca, tripes, vaquinhas e percevejos

225 mL/100 L de gua

Enxofre

Thiovit Sandoz

caro-branco e caro-vermelho

200 g/100 L de gua

Sem restries

IV

Pirimicarb

Pi-rimor 500 PM

Pulges

100 g/100 L de gua

II

NOTA: I - Extremamente txico; II - Altamente txico; III - Medianamente txico; IV - Pouco txico.
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regies. Algumas espcies j desenvolveram resistncias a agrotxicos comumente utilizados na regio. O produtor, para ter uma cultura lucrativa, precisa saber manejar o agroecossistema explorado e tentar aumentar a diversidade de plantas e da entomofauna. Para isso, imperativo conhecer o ciclo biolgico dos potenciais artrpodos que ocorrem na localidade e manejar o meio de maneira que permita a sustentabilidade do sistema, que garantida com medidas que foram aqui apresentadas como o controle biolgico, uso de variedades resistentes, uso de prticas culturais e mecnicas e uso de produtos alternativos no controle das pragas listadas. Essas medidas todas devem ser priorizadas antes de lanar mo do uso dos agrotxicos. Portanto, o agricultor tem como conviver com as pragas sem deix-las atingir o nvel de dano econmico. Mas, para isso, ele deve planejar a explorao de sua lavoura com o preparo do solo para plantio. nessa hora que se deve escolher qual a melhor variedade para ser usada na propriedade, os cuidados no preparo das mudas isentas de infestao e contaminao por agentes patognicos e os demais tratos culturais que adviro com o desenvolvimento da cultura. Planejando e conhecendo o agroecossistema, o produtor ter em suas mos o manejo adequado das pragas. REFERNCIAS
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Principais doenas da cultura da pimenta


Margarida Gorete Ferreira do Carmo 1 Francisco Murilo Zerbini Jnior 2 Luiz Antnio Maffia 3

Resumo - Entre as vrias doenas relatadas na cultura da pimenta no Brasil, destacam-se a antracnose, a murcha-de-fitftora, o odio, a mancha-bacteriana e as viroses causadas por PVY e PepYMV, o TMV, o CMV e tospovrus. Para a maioria dessas doenas, h poucas informaes na literatura. As disponveis baseiam-se em conhecimentos relatados para a cultura do pimento, como ocorrncia, importncia e epidemiologia de doenas. O nmero reduzido de pesquisas aplicadas, como caracterizao de cultivares quanto resistncia s principais doenas ou desenvolvimento de cultivares resistentes, tambm dificulta definir as recomendaes mais especficas. Medidas como o uso de sementes e mudas sadias, reduo da densidade de plantio, plantio em perodos mais secos, em reas bem drenadas e com solos leves, diversificao e rotao com espcies no hospedeiras, adubao equilibrada e eliminao de espcies invasoras, podem auxiliar no controle da maioria das doenas da cultura de pimenta. Palavras-chave: Capsicum. Doena. Antracnose. Requeima. Odio. Mancha-bacteriana. Murcha-bacteriana. Vrus. Etiologia. Epidemiologia. Controle.

INTRODUO So escassas as informaes sobre a ocorrncia e a importncia econmica de doenas nas espcies de pimenta, no Brasil. Na maioria das vezes, as informaes baseiam-se em conhecimentos disponveis para a cultura do pimento. Da mesma forma, so raros os artigos publicados que abordam aspectos relativos da etiologia, da epidemiologia e do controle de doenas em pimentas, o que sugere ser esse um campo vasto para pesquisas, dada a crescente importncia do cultivo dessa solancea no Brasil. H vrias doenas relatadas na cultura. Entre as de etiologia fngica destacamse a antracnose, a murcha ou requeima e o odio. Entre as de etiologia bacteriana destacam-se a mancha e a murcha-bacteriana. Entre as viroses, h relatos de infeco

natural de plantas de pimenta por mais de vinte espcies de vrus, sendo os mais importantes no Brasil, o PVY e PepYMV, o TMV, o CMV e os tospovrus. Sero discutidos neste artigo aspectos relacionados com as doenas da cultura da pimenta no Brasil, paralelamente cultura do pimento. Considerando que as doenas de etiologia fngica e bacteriana tm peculiaridades, as medidas de controle sero apresentadas individualmente. Para as viroses, que tm vrios aspectos etiolgicos e epidemiolgicos em comum, sero apresentadas medidas de manejo em conjunto. DOENAS CAUSADAS POR FUNGOS Antracnose A antracnose das solanceas

causada por Colletotrichum gloeosporiodes (Penz) Sacc, apesar de haver relatos de antracnose em frutos de pimenta, pimento e jil, causada por C. acutatum (TOZZE JUNIOR et al., 2004). Colletotrichum gloeosporiodes relatado como patognico a diferentes espcies de importncia agronmica. Em solanceas, ocorre em tomate, (Lycopersicon esculentum Mill.), jil ( Solanum gilo Raddi), berinjela (S. melongena L.) e em C. annuum, C. frutescens e C. chinense, mas pode ocorrer especializao em relao espcie hospedeira (FERNANDES, 1997). O patgeno infecta, principalmente, frutos, mas pode infectar folhas e tambm estar associado ocorrncia de tombamento de mudas. Porm, a importncia do fungo reconhecida quase que exclusivamente pelas leses que provoca em

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Enga Agra, Dra, Profa Adj. UFRRJ - Depto Fitotecnia, CEP 36890-000 Seropdica-RJ. Correio eletrnico: gorete@ufrrj.br Engo Agro, Ph.D., Prof. Associado UFV - Depto Fitopatologia, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: zerbini@ufv.br Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitopatologia, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: lamaffia@ufv.br

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frutos, no campo ou em ps-colheita (LOPES; HENZ, 2004). Essas leses so freqentemente observadas em frutos maduros. So de colorao escura, formato circular, deprimidas e de dimetro varivel (Fig. 1). Sob condies de alta umidade, ocorre intensa produo de condios que resultam na formao de uma massa de colorao rsea no centro das leses. O patgeno pode ser transmitido por sementes infectadas e ser facilmente disperso pelos respingos de gua de chuva ou irrigao por asperso. Em geral, a severidade da doena maior nos cultivos de vero. O controle da doena pode ser otimizado, utilizando-se prticas simples como uso de sementes e mudas sadias, reduo da densidade de plantio, por facilitar o arejamento da cultura, uso de irrigao localizada, plantio em perodos mais secos, destruio de restos culturais, diversificao e rotao com espcies no hospedeiras e aplicao de fungicida base de cobre. O uso de resistncia gentica, apesar de ser sempre uma prtica recomendvel, fica restrita pela no disponibilidade de cultivares comerciais resistentes. Esta caracterstica, porm, est presente em gentipos das diferentes espcies hospedeiras. Pereira (2005) avaliou 90 acessos de C. annuum, 30 de C. baccatum, 16 de C. chinense e um de C. frutescens, quanto reao a quatro isolados de Colletotrichum sp., obtidos de frutos e folhas de pimento e pimenta. Foram identificados acessos de C. annuum, de C. baccatum e dois de C. chinense como resistentes. Requeima ou murcha-defitftora A murcha, requeima ou podrido-decolo-da-raiz de pimenta causada por Phytophthora capsici Leonian que pertence ao filo Oomycota, cujos membros so mais relacionados taxonomicamente com algas que com fungos verdadeiros (RISTAINO; GUMPERTZ, 2000). Alm das pimentas e do pimento, o patgeno tem vrios outros hospedeiros, incluindo

Figura 1 - Fruto de pimenta-dedo-de-moa com leso necrtica causada por antracnose

outras espcies de hortalias como: quiabo ( Abelmoschus esculentus L.), cebola (Allium cepa L), couve-flor ( Brassica oleracea var. botrytis L.), melancia ( Citrullus lunatus Thunb.), melo (Cucumis melo L.), pepino (C. sativus L.), moranga ( Cucurbita maxima Dene), abbora (C. moschata), abobrinha-italiana (C. pepo), ervilha (Pisum sativum L.), feijode-vagem (Phaseolus lunatus L.), rabanete (Raphanus sativus L.), cenoura (Daucus carota L.), tomate ( Lycopersicon esculentum Mill.), berinjela ( Solanum melongena L.) (ERWIN; RIBEIRO, 1996) e jil (Solanum gilo Raddi) (CARVALHO et al., 2005). As plantas de pimenta so suscetveis a P. capsici em qualquer estdio de desenvolvimento. Os rgos mais freqentemente infectados so as razes e a regio do colo, apesar de o patgeno poder infectar qualquer parte da planta, especialmente quando predominam condies de ambiente favorveis. Em condies de viveiro, o patgeno pode causar morte das sementes e reduzir a porcentagem de emergncia ou necrose das razes ou do colo e requeima das folhas, o que resulta em tombamento das mudas. Em condies de campo, o

patgeno causa o apodrecimento da regio cortical do colo e das razes, o que resulta em murcha e morte rpida das plantas (BERKE et al., 2005) (Fig. 2). As razes necrosadas desprendem-se facilmente das plantas e no colo podem ocorrer leses de cor marrom-escuro, com presena freqente de massa cotonosa formada pelo miclio branco e esporngios do patgeno. Os sintomas tambm podem ocorrer na parte area, especialmente durante o perodo chuvoso. Nas hastes, os sintomas assemelham-se queles que ocorrem na regio do colo e h amarelecimento, bem como queda e seca das folhas. Quando as infeces ocorrem nas folhas, formam-se, inicialmente, leses sem contorno definido e de aspecto encharcado, que evoluem para a cor marrom e culminam com a desfolha. Nos frutos, inicialmente, as leses tm aspecto encharcado, de cor verde-escuro e h apodrecimento e mumificao deles. Sob condies midas, pode-se observar a presena de mofo cotonoso, formado por miclio e esporngios do patgeno. Em viveiro, as infeces podem-se iniciar a partir de inculo primrio presente no substrato, nas bandejas ou mesmo na superfcie de bancadas. Esta ltima ocorre quando as bandejas estiverem diretamente

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Figura 2 - Planta de pimenta com murcha acentuada provocada por Phytophthora capsici

sobre as bancadas. No campo, a doena pode iniciar-se a partir de mudas infectadas e/ou de inculo presente em restos culturais de plantas infectadas ou de estruturas de sobrevivncia (osporos) presentes no solo, remanescentes de cultivos anteriores ou introduzidos por mquinas e implementos, durante o preparo do solo. A infeco das razes e da parte basal do colo ocorre pelo seu contato direto com estruturas do patgeno presentes no solo. As infeces na parte area iniciam-se a partir de zosporos presentes na superfcie do solo e dispersos por respingos de gua de chuva ou de irrigao. A penetrao de P. capsici ocorre atravs de aberturas naturais ou de ferimentos. A colonizao dos tecidos d-se pelo desenvolvimento de hifas nos espaos inter e intracelular e leva ao aparecimento de sintomas e de sinais (miclio e esporngios) aps cinco a oito dias do incio do processo de infeco. A liberao e a germinao dos zosporos so favorecidas por temperaturas entre 20 oC a 24oC e a germinao dos esporngios pode ocorrer entre 10oC a 24oC. A disperso dos propgulos pode-se dar pelo escoamento da gua no solo, por respingos ou pelo revolvimento do solo

durante os tratos culturais. Ao final do ciclo da cultura ocorre a sobrevivncia do patgeno nos restos culturais remanescentes ou na forma de osporos, que se formam, quando esto presentes strains compatveis (A1 e A2). O patgeno pode tambm sobreviver em restos culturais infectados desde que exista a presena de umidade (ERWIN; RIBEIRO, 1996). Quando os restos culturais de Capsicum annuum so incorporados ao solo, a viabilidade do miclio, esporngios e zosporos de P. capsici de no mximo 75 dias, enquanto que a dos osporos de 210 a 240 dias (ANSANI; MATSUOKA, 1983), mas h relatos de sobrevivncia do patgeno por perodos de trs a cinco anos (MONTEIRO et al.,2000). A fase sexuada do ciclo do patgeno no solo, quando so formados os osporos, a principal fonte de inculo primrio para a ocorrncia de epidemias, seja pela germinao direta deste, seja pela formao de esporngios e zosporos. Ao longo do ciclo da cultura, segue a formao de esporngios e a liberao de zosporos em ciclos repetidos que so responsveis pelos ciclos secundrios da fase assexuada da doena (RISTAINO; GUMPERTZ, 2000). O desenvolvimento da doena favo-

recido por condies de ambiente em que predominam temperaturas de 22oC a 29oC e alta umidade (MATSUOKA et al., 1996). Chuvas ou irrigaes por perodo prolongado, especialmente em solos pesados, favorecem o desenvolvimento da doena, pois ocorre saturao de gua no solo, o que favorece o desenvolvimento, disperso e sobrevivncia do patgeno. Ademais, diferentes fatores e prticas culturais que provocam injrias, como ventos e chuvas fortes, ataque de insetos e prticas culturais adotadas desde o transplante, cultivo e colheita, podem contribuir para aumentar a suscetibilidade das plantas e a severidade da doena (ADORADA et al., 2000). Os ferimentos aumentam a predisposio da planta por favorecer a atrao quimiosttica e encistamento de zosporos, que, posteriormente, germinam e penetram diretamente por ao enzimtica e degradao da parede celular (COFFEY; WILSON, 1983). Plantios adensados e cobertura do colo da planta podem tambm favorecer o desenvolvimento da doena. O controle da requeima em pimentas deve ser feito com base em uma srie de medidas preventivas, como: a) evitar plantio em solos com histrico de ocorrncia da doena; b) plantar, preferivelmente, em reas bem drenadas e com solos leves e com boa aerao; c) plantar em canteiros mais elevados, para evitar o acmulo de umidade em reas de baixada, especialmente em perodos chuvosos; d) utilizar mudas sadias; e) adotar maiores espaamentos, para facilitar o arejamento da cultura; f) irrigar por gotejamento, quando possvel; g) manejar corretamente a adubao, evitando excessos, especialmente de nitrognio; h) efetuar rotao de culturas com gramneas ou outra espcie no hospedeira por perodos superiores a trs anos;

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i) no realizar a cobertura da regio do colo da planta com cobertura morta ou solo. Embora no existam relatos de cultivares comerciais de pimenta resistentes a P. capsici, esta possibilidade precisa ser considerada nos programas de melhoramento. Ribeiro et al. (1997) relatam a existncia de resistncia em gentipos de Capsicum na fase juvenil e Ribeiro et al. (2002) avaliaram 387 gentipos de espcies de Capsicum e identificaram fontes de resistncia a P. capsici somente dentro de C. annuum e em um acesso silvestre de C. parviflorum. Os autores ressaltam a importncia da busca de novas fontes de resistncia, seja para o melhoramento de pimento, seja para o de pimentas. A solarizao do solo outra medida citada como auxiliar no controle da doena, especialmente em ambiente protegido. Marque et al. (2002) relatam a eficincia da solarizao do solo com plstico transparente de 75 m, em ambiente protegido, no controle de P. capsici. O controle qumico tem eficincia varivel, em vista das dificuldades em estabelecer o momento de aplicao (MONTEIRO et al., 2000). Matheron e Porchas (2002) apontam para a viabilidade do uso de produtos indutores de resistncia, especialmente em cultivares com resistncia parcial. Alternativa que deve ser investigada, especialmente por ser uma cultura que pode ter ciclo longo, a enxertia em porta-enxertos resistentes, vivel tecnicamente, segundo Santos e Goto (2004), para o cultivo de pimento. Odio O odio uma doena importante em plantas do gnero Capsicum , especialmente em cultivos protegidos. A ocorrncia da doena em plantas de Capsicum foi relatada no Brasil por Boiteux et al. (1994) e associada a Leveillula taurica (Lv.) G. Arnaud (=Oidiopsis taurica (Arn) Salmon), sendo muitas vezes referida como odio das solanceas. Porm, segundo Caf Filho et al. (2001), apesar de a maioria dos autores referir-se ao agente causal do odio em

Capsicum spp. como L. taurica, a fase teleomrfica somente foi encontrada em alcachofra (Cynara scolymus L.), erva-desanta-maria (Chenopodium ambrosioides L.), tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.) e Onobrychis viciifolia Scop, no tendo sido ainda relatada em pimento ou em outra planta de espcies de Capsicum. Apesar de o relato de odio em espcies de Capsicum ser recente no Brasil, sua ocorrncia, atualmente, generalizada em cultivos de pimento, principalmente em ambiente protegido (CAF FILHO et al., 2001). Entretanto, no h informaes precisas sobre a importncia da doena em cultivos de pimenta. O patgeno tem mais de 750 hospedeiros includos em cerca de 60 famlias, inclusive em solanceas, particularmente espcies de Lycopersicon e Capsicum (WEHT, 2001). H relatos de L. taurica em diferentes espcies de Capsicum, como C. annuum, C . baccatum, C. chinensis e C. frutescens, mas a maioria das informaes disponveis refere-se doena em pimento (C. annuum) (CAF FILHO et al., 2001). Segundo esses autores, um isolado de C. annuum, coletado na regio de Braslia, foi patognico a diferentes espcies: alcachofra ( Cynara scolymus), bico-de-papagaio (Euphorbia

pulcherrima ), quiabo ( Abelmochus esculentum), berinjela (Solanum melongena), pepino (Cucumis sativus), jil (S. gilo), alm das invasoras, erva-desanta-maria (Chenopodium ambrosoide) e jo-de-capote (Nicandra physaloides). A doena inicialmente percebida pela ocorrncia de sinais na face inferior das folhas mais velhas, caracterizados pela presena de miclio, condios e conidiforos, que formam uma massa cinza-claro, seguido do aparecimento nesses pontos de leses clorticas na face superior (Fig. 3). Com o desenvolvimento da doena, as leses coalescem e comeam a surgir pontos necrticos. Podem aparecer, tambm, sinais na face superior das folhas. Em plantas jovens de Capsicum, no ocorre infeco, e sintomas mais severos so observados em plantas adultas, em fase de frutificao (CAF FILHO et al., 2001; SOUZA; CAF FILHO, 2003). A doena, em geral, inicia-se no campo, a partir de inculo (condios) oriundo das diferentes espcies hospedeiras. Os condios so facilmente dispersos pelo vento, especialmente em condies secas, e a doena favorecida por condies de ambiente, em que predominam umidade relativa de 50% -70% e temperatura de 20oC

Figura 3 - Manchas clorticas em folhas de pimenta provocadas por odio


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a 25oC (WEHT, 2001) e com irrigao por mtodos que no promovam o molhamento foliar, como o gotejamento ou sulco. O controle do odio deve-se basear em medidas preventivas, como: evitar o plantio escalonado das espcies suscetveis; efetuar rotao e diversificao de culturas com plantas no hospedeiras, plantar em perodos menos favorveis e efetuar adubao equilibrada. Aps aparecimento de sintomas, podem-se adotar medidas como a aplicao de fungicidas, incluindo aqueles base de enxofre. Produtos alternativos como fosfato monopotssico e bicarbonato de clcio e de sdio tambm so relatados como eficientes no controle da doena, desde que no usados em excesso pois podem causar sintomas de fitotoxidez (CAF FILHO et al., 2001). A irrigao por asperso tambm pode ser usada como estratgia complementar no controle da doena, por promover a lavagem e remoo das estruturas superficiais do patgeno. No h relatos de cultivares de pimenta resistentes e sabe-se que a maioria do germoplasma do gnero Capsicum moderada a altamente suscetvel a L. taurica. Porm, h vrios gentipos imunes, alta ou moderadamente resistentes, principalmente entre os de C. baccatum, C. frutescens e C. chinensis (CAF FILHO et al ., 2001; SOUZA; CAF FILHO, 2003). Para Paz Lima et al. (2004) e Blat et al. (2005b) tambm citam que as melhores fontes de resistncia a L. taurica foram identificadas nas espcies de C. chinense, C. frutescens e C. baccatum e que a herana e os mecanismos dessa reao nessas espcies so desconhecidos. Segundo Blat et al. (2005a) C. chinense considerada uma das mais resistentes ao odio dentro do gnero Capsicum. Outras doenas fngicas Alm das doenas j referidas, outras tambm podem causar perdas em cultivos de pimenta como tombamentos, cercosporiose e a murcha-de-esclercio. O tombamento em mudas de pimenta (Fig. 4) pode ser causado por Rhizoctonia solani, Phytophthora spp., Pythium spp.

Figura 4 - Tombamento muda com a base apodrecida pelo ataque de fungos de solo

e Colletotrichum spp. Normalmente, a ocorrncia do tombamento est associada ao uso de sementes de baixa qualidade sanitria, uso de substratos, bandejas ou bancadas infestadas e favorecida por condies em que predominam excesso de umidade, sombreamento e alta temperatura. A mancha-de-cercospora, causada por Cercospora capsici Heald & Wolf, mais freqentemente observada no campo, principalmente nas folhas, onde ocorrem leses circulares concntricas e de bordas escuras, e nas hastes e pednculos, onde se formam leses mais alongadas. Os condios so facilmente dispersos por respingos de gua de chuva ou irrigao e pelo vento. O desenvolvimento da doena favorecido por temperaturas moderadas, 18oC a 25oC, e umidade relativa acima de 90%. Ao final do ciclo da cultura, o patgeno pode sobreviver nos restos culturais. O controle da doena deve envolver medidas preventivas como o uso de mudas sadias, rotao de culturas, eliminao de restos culturais, irrigao por gotejamento e pulverizao com fungicidas. DOENAS CAUSADAS POR BACTRIAS Mancha-bacteriana A mancha ou pstula bacteriana em

pimentas causada por Xanthomonas axonopodis pv. vesicatoria (Doidge) Dye (JONES et al., 1998) (= Xanthomonas campestris pv. vesicatoria). Como esta fitobactria teve sua taxonomia revista nos ltimos anos, fica difcil estabelecer sua gama de hospedeiras. Sabe-se que h raas que infectam tomate e pimento e, outras, apenas o tomate ou o pimento, classificadas como X. vesicatoria e X. axonopodis pv. vesicatoria, respectivamente (JONES et al . , 1998). Entre as espcies de Capsicum, C. annuum e C frutescens so consideradas como hospedeiras (JONES et al., 1998). Os sintomas so mais visveis em plantas adultas e nas folhas mais velhas. As leses tm formato irregular, de cor verde-escuro e aspecto encharcado (Fig. 5). Sob condies favorveis, as leses coalescem e formam manchas grandes e com aspecto melado nas folhas. As folhas doentes amarelecem e caem e ocorre desfolha de baixo para cima na planta. Nos frutos, ocorrem manchas similares a verrugas, inicialmente esbranquiadas e depois com os centros escurecidos (LOPES; HENZ, 2004). A doena pode iniciar-se no viveiro, a partir de sementes infectadas, e no campo, a partir de inculo oriundo de mudas

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iniciam com o levantamento do histrico da rea e da origem da gua a ser usada na irrigao, a restrio movimentao de mquinas e implementos que possam transportar solo contaminado, arranquio e queima de plantas infectadas, alm de evitar o cultivo em solos pesados ou encharcados, principalmente nos perodos mais quentes do ano. No h cultivares resistentes no mercado e o controle qumico no vivel. Talo-oco
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Figura 5 - Folhas de pimenta com mancha-bacteriana, apresentando leses encharcadas

infectadas, de culturas prximas, restos culturais ou outro hospedeiro. A bactria facilmente dispersa pelos respingos de gua de chuva ou irrigao por asperso, especialmente quando acompanhados por rajadas de vento (CARMO et al., 1996). A penetrao ocorre atravs de aberturas naturais, como estmatos, hidatdios e lenticelas ou por ferimentos causados pelo vento, chuvas ou insetos (KIMURA, 1984). Em perodos chuvosos, as infeces so mais abundantes e as leses desenvolvemse mais rapidamente em nmero e tamanho, o que leva desfolha intensa e precoce da planta (CARMO et al.,1996). A mancha-bacteriana de difcil controle no campo, principalmente em vista da baixa eficincia dos antibiticos e da predominncia de estirpes resistentes a sulfato de estreptomicina e a produtos base de cobre (AGUIAR, 1997; CARMO et al., 2001; MCMANUS et al., 2002). Por exemplo, em pimento, normalmente recomenda-se a aplicao de fungicidas cpricos ou cuprorgnicos que, em geral, no diferem entre si (MARCO; STALL, 1983), exceto quando da ocorrncia de estirpes resistentes ao cobre (AGUIAR et al., 2003). Porm, ocorre variao na eficincia desses

produtos de acordo com a regio e a poca do ano (CARMO et al., 2001). Outras medidas importantes de controle so o uso de sementes e mudas sadias, destruio de restos culturais e rotao com gramneas. Evitar o cultivo em perodos chuvosos e a irrigao por asperso , tambm, essencial no controle da doena. A resistncia gentica pode vir a ser uma medida importante, principalmente em vista dos custos, risco potencial de resduos qumicos nos frutos e da resistncia da bactria aos pesticidas utilizados (COSTA et al., 2002). No h cultivares comerciais resistentes, mas fontes de resistncia foram relatadas em plantas de C. annuum, C. chacoense, C. pubescens (COSTA et al. , 2002) e C. chinense (SOUZA; MALUF, 2000, 2003). Murcha-bacteriana A murcha-bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum, ocorre com maior freqncia em regies quentes e midas. A bactria sobrevive no solo por vrios anos e tem uma vasta gama de hospedeiros, incluindo vrias outras espcies de solanceas. Para seu controle deve-se adotar uma srie de medidas preventivas, que

O talo-oco ou podrido-mole causada por Erwinia spp. Normalmente, a doena mais severa no vero, em condies de alta umidade. Pode incidir na haste (onde h apodrecimento da medula e seca) e nos frutos (onde ocorre podridomole) (Fig. 6). Como a bactria penetra por ferimentos, deve-se evitar ferir as plantas e os frutos (em pr ou ps-colheita). Outras medidas de controle recomendadas so: evitar excesso de umidade para a planta, principalmente no vero; efetuar adubao balanceada e armazenar os frutos em condies de baixa umidade (LOPES; HENZ, 2004). DOENAS CAUSADAS POR VRUS A pimenta infectada naturalmente por mais de 20 espcies de vrus, incluindo o tobamovrus Tobacco mosaic virus (TMV), os tospovrus Tomato spotted wilt virus (TSWV), Groundnut ringspot virus (GRSV) e Tomato chlorotic spot virus (TCSV), o cucumovrus Cucumber mosaic virus (CMV) e seis vrus do gnero Potyvirus: Potato virus Y (PVY), Tobacco etch virus (TEV), Pepper mottle virus (PepMoV), Pepper veinal mottle virus (PVMV), Chili veinal mottle virus (ChiVMV) e Pepper yellow mosaic virus (PepYMV) (BRIOSO, 1996; CARANTA et al., 1997; DOGIMONT et al., 1996; INOUE-NAGATA et al., 2002). No Brasil, os vrus de importncia econmica so o PVY e PepYMV, o TMV, o CMV e os tospovrus. Os sintomas indu-

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Figura 6 - Frutos de pimenta-bode apodrecidos pelo ataque da podrido-mole NOTA: A doena iniciou-se com ferimentos provocados por larvas de insetos

zidos por esses vrus so semelhantes e incluem mosaico e distoro foliar. Os tospovrus podem causar nos frutos manchas em forma de anel. Essas manchas so mais evidentes em frutos maiores, como os de pimento, e mais difceis de ser observadas em frutos de pimenta. Assim, identificar o vrus no campo difcil e, na maioria das vezes, impossvel. A identificao por meio de testes de laboratrio essencial para a recomendao de medidas adequadas de controle. Diversos laboratrios em instituies pblicas e particulares em Minas Gerais fazem a diagnose, inclusive a Clnica de Doenas de Plantas do Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Viosa (UFV). PVY/PepYMV No Brasil, o PVY foi relatado pela primeira vez em pimento, em 1950, j causando srios prejuzos. Embora no haja relatos especficos para a cultura da pimenta, segundo observaes de campo, a incidncia do PVY nessa cultura tambm alta. Em vista das perdas causadas pela virose em pimento, Nagai (1968) iniciou um programa de melhoramento, visando incorporar genes de resistncia ao PVY, o que originou a srie de cultivares Agro-

nmico. A resistncia ao PVY introduzida nas cultivares da srie Agronmico foi bastante eficiente, pois impediu a disseminao das estirpes do vrus, ento presentes no Brasil. At pouco tempo, o PVY era nico potyvrus relatado em espcies de Capsicum no Brasil (BRIOSO, 1996). Em 2002, relatouse a ocorrncia de uma nova espcie de potyvrus em pimento. Anteriormente considerada uma estirpe severa do PVY (PVYM), essa nova espcie foi denominada Pepper yellow mosaic virus (PepYMV) (INOUE-NAGATA et al., 2002). Como o PepYMV infecta cultivares e hbridos de pimento resistentes ao PVY, tornou-se a espcie de potyvrus predominante no pimento no Brasil (CUNHA et al., 2004; TRUTA et al., 2004). Em pimenta, no h cultivares com genes de resistncia ao PVY e possvel que ambos os vrus ocorram com a mesma prevalncia. Deve-se ressaltar que o PVY e o PepYMV causam sintomas idnticos em pimenta e so relacionados sorologicamente (TRUTA et al., 2004), embora possam ser diferenciados por alguns testes sorolgicos, como DASELISA (CUNHA et al., 2004). Testes moleculares so a forma mais segura de diferenciar os dois vrus.

Truta et al. (2004) caracterizaram 20 isolados de potyvrus obtidos de plantas de pimenta e pimento nos estados de Minas Gerais (17 isolados), Rio de Janeiro (1 isolado), So Paulo (1 isolado) e Esprito Santo (1 isolado). Os isolados foram classificados como PVY com base em propriedades biolgicas e sorolgicas. Entretanto, segundo o seqenciamento da regio codificadora da protena capsidial, seis isolados foram identificados como PepYMV. Segundo os resultados, o PepYMV est disseminado nos campos de produo de Minas Gerais e possvel que o potyvrus predominante em pimenta possa ser, atualmente, o PepYMV. Os sintomas causados nas plantas pelo PVY e PepYMV so idnticos e incluem encrespamento das folhas, desenvolvimento de mosaico com tonalidade verdeamarelada, reduo geral do tamanho da planta e dos frutos e deformao dos frutos (Fig. 7). A intensidade dos sintomas depende da cultivar ou do hbrido plantado, da estirpe do vrus e das condies ambientais (principalmente temperatura). O PVY e o PepYMV so transmitidos por diversas espcies de afdeos (pulges), por enxertia e por meio de ferimentos ou instrumentos de corte. No h relatos de transmisso desses vrus por meio de sementes. A principal forma de disseminao da doena por meio do inseto-vetor (pulgo), o qual, ao alimentar-se por alguns segundos em uma planta infectada, tornase capaz de transmitir os vrus a plantas sadias. Assim, a presena do pulgo e de plantas infectadas em um campo de produo favorece a disseminao da doena dentro do prprio campo e entre campos, pois o pulgo pode voar at os campos vizinhos ou ser transportado pelo vento a longas distncias. Tospovrus (TSWV, GRSV e TCSV) As trs espcies de tospovrus que infectam pimenta e pimento no Brasil causam sintomas virtualmente idnticos, bem como muito semelhantes aos induzidos pelos potyvrus PepYMV e PVY:

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valncia de determinada espcie de vrus em uma regio ou cultura normalmente est relacionada com a espcie predominante de tripes (GROVES et al., 2001; POZZER et al., 1996). TMV O TMV ou vrus do mosaico do fumo infecta naturalmente diversas espcies de Capsicum . Os sintomas podem ser bastante severos, dependendo da estirpe do vrus e da cultivar do hospedeiro, porm assemelham-se queles induzidos pelos outros vrus que infectam a pimenta: mosaico, distoro foliar e de frutos, reduo de crescimento. Estirpes severas do vrus podem causar necrose de nervuras, o que raro. Ao contrrio dos demais vrus que infectam a pimenta, o TMV no tem insetovetor. A transmisso desse vrus ocorre quando uma planta infectada, ferramentas, mquinas e/ou mos contaminadas pelo vrus entram em contato com uma planta sadia. Apesar da ausncia de vetor, a transmisso do TMV pelos meios citados altamente eficiente e sua importncia no deve ser subestimada. Provavelmente, a ausncia de relatos de incidncia de TMV em plantios de pimenta deva-se mais carncia de trabalhos com vrus, de modo geral, nessa cultura, que realidade do campo. Em outras culturas, como o tomateiro, a incidncia de TMV pode ser alta, embora os sintomas sejam freqentemente atribudos a outros vrus. Deve-se ressaltar, que, em tomateiro, o TMV pode ser transmitido pelas sementes, que constituem a principal fonte de inculo primrio na cultura. No h relatos de transmisso desse vrus pelas sementes de pimenta. CMV Normalmente, a importncia econmica do mosaico causado pelo CMV secundria. Segundo relatos no estado de So Paulo, h possibilidade de epidemias em pimento (FRANGIONI et al., 2002). O CMV est distribudo mundialmente, infecta mais de 1.000 espcies de plantas e tem numerosas estirpes que induzem diferentes

Figura 7 - Sintomas de mosaico e distoro foliar causados pelo Pepper yellow mosaic virus (PepYMV), em plantas de pimenta (Capsicum frutescens)

mosaico, distoro foliar e de frutos e reduo de crescimento. A distino entre as trs espcies de tospovrus possvel apenas por meio de DAS-ELISA ou anlises moleculares (VILA et al., 1993). Em frutos de pimento, os tospovrus podem causar manchas em forma de anel, o que difcil de ser observado em frutos de pimenta. A incidncia de tospovrus em plantios de pimento alta no Brasil, normalmente inferior apenas incidncia de potyvrus (VILA et al., 1996; LIMA et al., 2000). Embora no existam dados especficos para a pimenta, razovel supor que a incidncia

desses vrus tambm seja elevada nessa cultura. Os tospovrus so transmitidos naturalmente por diversas espcies de tripes, destacando-se Frankliniella ooccidentalis. A transmisso ocorre de forma circulativa-propagativa e h replicao do vrus no vetor (WIJKAMP et al., 1993). Para haver aquisio e transmisso do vrus pelo vetor, preciso que o inseto alimente-se continuamente por vrias horas nas plantas. A eficincia de transmisso de tospovrus depende das espcies do inseto-vetor. Assim, a pre-

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Fotos: Francisco Murilo Zerbini Jnior

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tipos de sintomas (PALUKAITIS; GARCIA-ARENAL, 2003). Em pimenta, os sintomas variam de mosqueado a afilamento e deformao de frutos. A temperatura afeta a intensidade dos sintomas de CMV, os quais so mais severos em invernos rigorosos e mais fracos ou mesmo ausentes em veres quentes. A umidade relativa e a precipitao tambm correlacionam-se positivamente intensidade da doena. O CMV transmitido por mais de 75 espcies de afdeos (PALIKAITIS et al., 1992). O vrus pode ser transmitido em taxas variveis por sementes de 19 espcies vegetais, inclusive de plantas invasoras (PALUKAITIS et al., 1992), porm no h relatos da transmisso por sementes de pimenta. Com a transmisso via semente de plantas invasoras, h uma fonte de inculo constante nos campos de plantio, a partir do qual o vrus disseminado pelos afdeos vetores. Esses dois fatores, associados s condies climticas, podem ocasionar epidemias severas espordicas do CMV e perdas considerveis. Begomovrus A infeco por begomovrus em pimento foi relatada em 2001 (LIMA et al., 2001), em Pernambuco, e recentemente no estado de So Paulo (NOZAKI et al., 2005) e no Distrito Federal, em plantas de pimenta ( Capsicum baccatum ) (BEZERRAAGASIE et al., 2006). Os sintomas incluem mosaico, amarelecimento e distoro foliar e de frutos. Embora freqentemente severos, os sintomas so semelhantes queles causados pelo PepYMV e por isolados severos de TMV ou CMV e, portanto, difceis de ser distinguidos no campo. Os begomovrus so vrus transmitidos por mosca-branca (Bemisia tabaci). H mais de 130 espcies de begomovrus descritas e diversas infectam pimento e pimenta (STANLEY et al., 2005). No Brasil, a nica espcie j detectada em pimenta o Tomato severe rugose virus (ToSRV) (BEZERRA-AGASIE et al., 2006). Entretanto, outras espcies, como o Tomato rugose mosaic virus (ToRMV) e o Tomato chlorotic

mottle virus (ToCMoV) podem infectar plantas de pimenta e pimento, quando inoculadas artificialmente (AMBROZEVICIUS et al., 2002; FERNANDES et al., 2006). A incidncia de begomovrus em tomateiro no Brasil, relatada pela primeira vez por Matyis et al. (1975 apud RIBEIRO et al., 2003), aumentou vertiginosamente a partir do incio da dcada de 90. Esse aumento foi diretamente relacionado com a introduo do bitipo B de B. tabaci, o qual, ao contrrio do bitipo A (nico presente no Brasil at 1990), coloniza o tomateiro com grande eficincia (LOURENO; NAGAI, 1994). Desde 1994, oito novas espcies de begomovrus foram descritas ao infectar o tomateiro no Brasil (RIBEIRO et al ., 2003). Ainda no se verificou em pimento e pimenta o grande aumento na incidncia e na severidade como o observado em tomateiro. possvel que o bitipo B de B. tabaci presente no Brasil no seja adaptado colonizao de plantas de pimenta. Entretanto, o fato de as espcies de begomovrus, atualmente encontradas em tomateiro, poderem infectar plantas de pimenta preocupante, pois mudanas ambientais ou na estrutura populacional do vetor podem proporcionar condies para aumento da incidncia de begomovrus na cultura da pimenta. Manejo das viroses da pimenta O manejo das viroses que afetam a cultura da pimenta deve sempre levar em considerao o histrico da rea e da cultura instalada, ou seja, relatos da ocorrncia de viroses na rea de cultivo e presena de insetos-vetores (pulges, tripes e moscabranca). Sempre que possvel, o produtor deve plantar cultivares tolerantes ou resistentes (caso existam), plantar em reas livres da doena e que no sejam favorveis ocorrncia dos insetos-vetores e prestar ateno especial produo de mudas, para que cheguem sadias ao campo. Devem-se produzir mudas em telados prova de insetos, de preferncia distantes da rea de cultivo. Mudas produzidas a cu

aberto e prximas a cultivos estabelecidos so infectadas precocemente e perdas severas na produo ocorrero. Plantas invasoras com sintomas tpicos (mosaico, amarelecimento ou distoro foliar), presentes na rea de cultivo ou em cultivos prximos, podem servir como fonte de inculo e devem ser eliminadas. O controle de pulges com inseticidas pouco eficiente no caso das viroses causadas por potyvrus (PVY, PepYMV) e pelo CMV, pois a aquisio e a transmisso desses vrus pelo inseto ocorrem rapidamente, antes que o inseticida possa agir. Por outro lado, o controle qumico de tripes e mosca-branca pode reduzir eficientemente a incidncia de tospovrus e begomovrus, respectivamente, pois a aquisio e a transmisso do vrus pelo vetor dura algumas horas. Outras medidas de controle recomendadas incluem o monitoramento da cultura, quanto presena de plantas com sintomas de mosaico e a imediata eliminao destas. A transmisso do TMV pode ser drasticamente reduzida pela desinfestao constante das ferramentas utilizadas para tratos culturais em soluo diluda de detergente. Como as mos dos trabalhadores podem transmitir esse vrus, devem ser constantemente lavadas com gua e sabo, principalmente no caso de fumantes, pois freqentemente o fumo de rolo est infestado pelo TMV. Recomenda-se sempre a cooperao e a troca de informaes entre os produtores de uma regio, para um monitoramento mais eficiente da presena de viroses na regio e adoo em conjunto das medidas de controle j apresentadas. CONSIDERAES FINAIS Como as informaes sobre a ocorrncia, importncia e epidemiologia de doenas de pimenta so escassas no Brasil, as recomendaes de controle muitas vezes so genricas ou embasadas em informaes registradas para a cultura de pimento. Para recomendaes mais especficas, depara-se, ainda, com o reduzido nmero de trabalhos de pesquisa aplicada, como a caracterizao de cultivares quanto

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resistncia s principais doenas ou o desenvolvimento de cultivares resistentes. bom frisar que, nas diferentes espcies de pimenta, h vrios relatos de fontes de resistncia a doenas importantes, como a antracnose, a murcha-de-fitftora, o odio e a mancha-bacteriana. De forma geral, medidas simples como a seleo do local de plantio, o uso de sementes sadias e de mudas de boa qualidade fisiolgica e sanitria, produzidas em ambiente protegido e distante das reas de cultivo, a reduo da densidade de plantio para facilitar o arejamento da cultura, uso de irrigao localizada, plantio em perodos mais secos e em reas bem drenadas e com solos leves e de boa aerao, destruio de restos culturais, diversificao e rotao com espcies no hospedeiras, adubao equilibrada e eliminao de espcies invasoras podem auxiliar no controle da maioria das doenas. O controle qumico pode ser eficiente para a antracnose e o odio, enquanto que para a murcha-de-fitftora e mancha-bacteriana tem resultados variveis. Aliadas s medidas gerais, podem-se somar medidas especficas como o controle de insetos-vetores, especialmente tripes e mosca-branca, a assepsia de mos e ferramentas usadas nos tratos culturais com detergentes e eliminao de plantas infectadas, para o controle de viroses, ou o uso de enxertias em cavalos resistentes, para o controle da murcha-de-fitftora. Aspecto muito importante no controle de qualquer doena disponibilizar informaes acuradas aos produtores, para se evitarem diagnsticos errneos, uso irracional de defensivos agrcolas e, mais importante, perdas severas na produo. REFERNCIAS
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Colheita e manejo ps-colheita da pimenta


Fernando Luiz Finger 1 Vicente Wagner Dias Casali 2

Resumo - As pimentas so frutos altamente perecveis, devido elevada suscetibilidade aos estresses ps-colheita de naturezas bitica e abitica. Os frutos apresentam comportamento no-climatrico da respirao e completa ausncia da produo autocataltica de etileno durante o amadurecimento. A resposta dos frutos em acelerar a degradao de clorofila, na presena de etileno exgeno, extremamente varivel entre as espcies cultivadas de C. annuum, C. frutescens, C. chinense e C. baccatum e dependente da variedade e no da espcie botnica. Em frutos de C. chinense h correlao positiva entre o aumento da relao superfcie/volume e a taxa de perda de gua e do murchamento das pimentas. Por serem de origem tropical e subtropical, as pimentas desenvolvem sintomas de injria, quando armazenadas a 5oC, devendo ser mantidas em temperaturas prximas a 10oC para evitar danos aos frutos. Palavras-chave: Capsicum . Maturao. Etileno. Perda de gua. Armazenamento. Temperatura.

INTRODUO As pimentas C. annuum, C. frutescens, C. chinense, C. baccatum e C. pubescens so espcies domesticadas com valor comercial e de consumo in natura e tambm para produo de pprica e outros produtos desidratados ou usados como compotas na forma de molhos ou de frutos inteiros. Porm, como todo fruto carnoso fresco, as pimentas sendo organismos vivos, na pscolheita so afetados por agentes diversos de natureza fisiolgica endgena e do ambiente (abiticos ou biticos) durante a comercializao, transporte e o armazenamento. No entanto, mesmo tendo grande importncia econmica no Brasil e no mundo, a maioria dos aspectos relacionados com a fisiologia ps-colheita dos frutos, como o padro de amadurecimento, qualidade e fatores que afetam a conservao, ainda pouco conhecido.

As perdas dos frutos frescos durante a cadeia de comercializao so de natureza cumulativa e resultam da incidncia de um ou mais dos seguintes fatores de deteriorao: a) perda fsica do produto por danos mecnicos, doenas ou insetos; b) perda de gua pelo processo transpiratrio; c) perdas por extremos de temperatura congelamento ou estresse por altas temperaturas; d) reduo da energia armazenada (carboidratos) pelo processo respiratrio; e) perda da qualidade pela degradao de vitamina C e capsaicinas; f) desenvolvimento de distrbios fisiolgicos injria por frio. Considerando as dificuldades de mane-

jo, neste trabalho so abordados os fatores endgenos de natureza fisiolgica, gnica e do ambiente que afetam o amadurecimento e a conservao ps-colheita das pimentas. FISIOLOGIA DO AMADURECIMENTO As fases de desenvolvimento dos frutos so caracterizadas por alteraes, tanto na estrutura como na fisiologia e na bioqumica das clulas que culminam com a maturao, o amadurecimento e finalmente a senescncia. O amadurecimento constitui a fase final da maturao e esta fase caracterizada pelo amolecimento da polpa, alteraes na cor da casca e polpa, desenvolvimento do aroma e do sabor dos frutos. Em frutos da pimenta C. chinense cv. Habanero foram identificados 102 diferentes compostos volteis responsveis

Engo Agro, Ps-Doc, Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: ffinger@ufv.br Engo Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viosa-MG. Correio eletrnico: vwcasali@ufv.br

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pelo aroma dos frutos verde-maduros e maduros, com predominncia de diferentes tipos de lcoois, aldedos e cetonas que conferem aroma distinto para cada estdio de amadurecimento (PINO et al., 2006). Quanto ao comportamento da respirao durante o amadurecimento, os frutos carnosos so classificados em climatricos e no-climatricos, tendo respostas distintas ao do hormnio etileno, com profundas conseqncias sobre a conservao e a qualidade de frutos maduros. O manuseio adequado dos frutos na pscolheita fundamenta-se no conhecimento dos mecanismos de controle da respirao e do amadurecimento, uma vez que a conservao ps-colheita inversamente proporcional taxa respiratria e de produo de etileno. Em pimentas, no entanto, h poucos estudos sobre o comportamento respiratrio e de produo de etileno durante o amadurecimento dos frutos. Gross et al. (1986), ao avaliarem as transformaes bioqumicas de pimentas (C. annuum cv. Chooraehong), verificaram a presena de respirao climatrica duran-

te o amadurecimento, quando os frutos foram colhidos no estdio verde-maduro, porm no foi possvel detectar produo de etileno aps 18 horas de acmulo em frascos selados acondicionados a 20oC (Grfico 1). O pico climatrico da respirao ocorreu estando os frutos com 50% da superfcie vermelha. Porm, para a maioria dos frutos com comportamento tipicamente climatrico, como o tomate, o pico de produo de CO2 coincidente com as fases iniciais da degradao da clorofila e acmulo de pigmentos carotenides (MOURA et al., 2004). Embora tenha ocorrido aumento da respirao durante o amadurecimento, similar respirao climatrica, nos frutos colhidos verdemaduros desta pimenta, no houve produo autocataltica de etileno, a qual sempre acompanha o incremento da respirao dos frutos tipicamente climatricos. A produo autocataltica de etileno resulta do aumento na produo de 1-cido carboxlico-1-aminociclopropano (ACC) e de etileno pela ativao do sistema-2 de produo do hormnio (ALEXANDER;

Grfico 1 - Respirao e produo de etileno em frutos da pimenta Capsicum annuum cv. Chooraehong colhidos no estdio verde-maduro e armazenados a 20oC FONTE: Gross et al. (1986).

GRIERSON, 2002). A passagem do sistema1 ao sistema-2 de produo de etileno pelos frutos climatricos decorre do aumento da expresso das enzimas-chave da rota de biossntese de etileno, a sintase do ACC e a oxidase do ACC, estimulada pelo prprio etileno (FINGER; VIEIRA, 2002). No estudo realizado com 16 acessos e cultivares de pimenta das espcies C. annuum , C. chinense, C. baccatum e C. frutescens, observou-se que a aplicao de 1.000 mg/L de ethephon em frutos verdes-maduros no estimulou a respirao climatrica ou a produo autocataltica de etileno em nenhuma das espcies avaliadas (PEREIRA, 2004). Nos frutos em que houve aumento da respirao ou da produo de etileno, estas ocorreram em frutos completamente maduros e senescentes. Resultados semelhantes foram encontrados por Tian et al. (2004) que observaram elevao da respirao mitocondrial de pimento-verde, quando tratado com 100 mL/L de etileno, porm, a concentrao interna de CO2 do fruto diminuiu, quando o tratamento com etileno foi retirado. Isso indicou, portanto, que o incremento da respirao foi dependente da presena de etileno exgeno. Em outro estudo Barrera et al. (2005) observaram que frutos de pimentas das espcies C. annuum e C. frutescens do banco de germoplasma da Amaznia Instituto Amaznico de Pesquisa Cientfica (SINCHI) da Colmbia tiveram padro no-climatrico da respirao durante o amadurecimento, e a produo de etileno permaneceu sempre abaixo de 0,01 mL/L. Dessa forma, o comportamento da respirao no amadurecimento, a ausncia do sistema-2 de produo de etileno e as respostas dos frutos de pimentas aplicao de etileno exgeno so tpicos de frutos no-climatricos, semelhana do pimento. Pereira (2004) avaliou o efeito do ethephon sobre o amadurecimento de pimentas das espcies C. annuum, C. chinense, C. baccatum e C. frutescens e observou que somente em alguns gentipos houve acelerao da degradao de clorofila e sntese de pigmentos carotenides, antecipando o aparecimento da cor vermelha, laranja ou

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amarela dos frutos maduros (Quadro 1). A induo da degradao da clorofila pelo ethephon provavelmente no est associada espcie ou cor final dos frutos, visto que houve acelerao da degradao em trs gentipos das espcies C. annuum (cv. Mirassol), C. baccatum (BGH 6029) e C. frutescens (BGH 4179), com significativa reduo do nmero de dias at atingir a cor madura final do fruto maduro, respectivamente vermelho, amarelo e vermelho (Quadro 1). Ambos os acessos de C. chinense foram insensveis ao etileno, e a cultivar Mirassol foi a mais sensvel ao do etileno, com antecipao de 45% no nmero de dias at o amadurecimento em relao aos frutos no tratados. Estes resultados evidenciam que a maior ou menor responsividade do fruto de pimenta ao etileno provavelmente est associada va-

riedade e no espcie a botnica. Alm disso, Pereira (2004) observou que no houve influncia do ethephon sobre o acmulo de carotenides nos frutos maduros das pimentas. Em frutos carnosos classificados como no-climatricos, o etileno no participa na induo do amadurecimento deles, embora em algumas espcies a aplicao exgena de etileno possa estimular o acmulo de pigmentos carotenides (GIOVANNONI, 2001). Capsaicinas formam a classe de substncias responsveis pela pungncia dos frutos. Estes compostos so sintetizados por glndulas secretoras localizadas na regio placentria dos frutos, e a quantidade acumulada nos frutos distinta entre variedades da mesma espcie e entre espcies de pimenta (BOSLAND, 1992).

Durante a fase de crescimento do fruto das pimentas h acmulo de capsaicina e dihidrocapsaicina, os dois principais alcalides produzidos pelos frutos, porm, o contedo decresce com o amadurecimento do fruto na planta (CONTRERASPADILLA; YAHIA, 1998). Estes autores observaram que a queda no contedo das capsaicinas teve correlao com o aumento da atividade da peroxidase. O incremento da atividade da peroxidase provavelmente est relacionado com a competio por intermedirios da rota dos fenilpropanides, necessrios na sntese de capsaicinides e de compostos fenlicos componentes da parede celular dos frutos (BERNAL et al., 1995). PERDA PS-COLHEITA DE GUA A colheita interrompe o suprimento de gua do rgo vegetal e, assim, a perda de gua subseqente por transpirao determina, em grande parte, as perdas de ordem quantitativa e qualitativa dos produtos hortcolas. O murchamento e enrugamento da superfcie dos frutos de pimenta so os sintomas iniciais da excessiva perda de gua. Alm disso, a excessiva perda de gua por transpirao pode induzir rpida deteriorao via aumento da taxa de algumas reaes de origem predominantemente catablica, como a degradao de clorofila estimulada pelo etileno. A perda de massa fresca total pscolheita dos produtos hortcolas resultado do somatrio da perda de gua pela transpirao e da perda de matria seca, devida atividade respiratria. Com base nas taxas respiratrias dos produtos frutos, em geral, a perda de massa pela respirao situa-se entre 3% e 5% da perda total de massa na ps-colheita (BENYEHOSHUA, 1987). Portanto, a intensidade da transpirao ocorrida aps a colheita determina, em grande parte, a taxa de perda de massa dos produtos hortcolas frescos. A cutcula consiste na camada cerosa que recobre a superfcie das clulas epidrmicas dos frutos carnosos. As ceras so

QUADRO 1 - Influncia do ethephon sobre o amadurecimento de pimentas armazenadas a 25oC Dias para o fruto maduro Espcie Cor do fruto maduro Controle C. annuum Mirassol New Mexican Vermelho Vermelho 21,5 a 20,3 a 11,8 b 17,7a
(1)

Ethephon

C. chinense BGH 1716 BGH 1723 Laranja Vermelho 7,8 a 14,8 a 7,3 a 18,8 a

C. baccatum BGH 4366 BGH 6029 Vermelho Amarelo 13,0 a 5,3 a 9,0 a 3,5 b

C. frutescens BGH 4179 BGH 4708 FONTE: Pereira (2004). NOTA: Mdias seguidas pela mesma letra, na linha, em cada acesso, no diferem entre si pelo teste-t a 5% de probabilidade. (1)Frutos verdes-maduros imersos em 1.000 mg/L de ethephon por 30 minutos.
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Vermelho Vermelho

12,8 a 16,3 a

8,0 b 17,5 a

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formadas por distintos lipdios esterificados, dificultando a penetrao de patgenos e a passagem de vapor de gua. A estrutura qumica das ceras provavelmente mais importante que a respectiva espessura no controle da difuso do vapor de gua atravs da cutcula. Lownds et al. (1994) observaram que houve at 60% de variao na perda de massa fresca entre nove cultivares de pimento, quando os frutos foram armazenados em temperatura e umidade semelhantes. Essa variao implica na existncia de graus de permeabilidade das cutculas ao vapor de gua entre as cultivares estudadas. As trocas gasosas entre o fruto carnoso e o ambiente so influenciadas pela razo entre a rea e o volume do fruto, ou seja, a superfcie especfica. Logo, a perda de vapor de gua por transpirao ser mais elevada nos produtos com maior relao superfcie/volume (cm2/cm3). Admitindo que a forma do fruto seja constante, a superfcie especfica aumenta com a reduo do volume, logo as pimentas menores so mais suscetveis desidratao desde que sejam colhidas. Em frutos de C. chinense houve correlao positiva entre superfcie/volume e a taxa de perda de massa fresca durante o armazenamento (Quadro 2). Frutos com elevada relao superfcie/volume tiveram menor vida de prateleira, devido maior transpirao. O aumento da relao superfcie/volume de 1,17 para 5,27 elevou a taxa de perda de massa de 0,90%/dia, para 3,25%/dia, antecipando a murcha aparente dos frutos em 5 dias (Quadro 2). TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO Entre os diversos fatores endgenos que afetam o potencial de armazenamento das pimentas, a sensibilidade ao desenvolvimento de injria por frio pode ser considerada como o distrbio de natureza fisiolgica mais importante no armazenamento de frutos carnosos de origem tropical e subtropical. Os sintomas de injria nesta classe de frutos so em geral caracterizados pelo aparecimento de depresses e/ou escurecimento da casca,

QUADRO 2 - Relao superfcie/volume, perda de massa fresca de acessos e dias para murcha aparente em frutos de Capsicum chinense armazenados temperatura de 22oC e umidade relativa de 60% Relao superfcie/volume (cm2/cm3) 1,17 2,78 3,38 5,27 Perda de massa (%/dia) 0,90 1,73 2,63 3,25 Ponto de murcha (dias) 8 5 5 3

Acesso

BGH 6371 BGH 4213 BGH 1716 BGH 1723 FONTE: Cabral (2006).

incapacidade de amadurecer completamente e aumento da incidncia de doenas (PAULL, 1994). O desenvolvimento da injria por frio decorre do armazenamento dos frutos em condies de frio abaixo de determinada temperatura considerada crtica, porm acima de 0oC e inferior a 12oC. Na maioria dos frutos suscetveis ao distrbio fisiolgico, a temperatura mais efetiva em causar injria por frio situa-se prxima a 5oC (WILLS et al., 1998). Entre as principais respostas metablicas dos frutos tropicais e subtropicais ao frio esto as reaes que direcionam ao avano do colapso celular. Segundo Shewfelt (1993), as principais respostas metablicas dos frutos tropicais e subtropicais ao frio esto as reaes que direcionam ao avano do colapso celular, como: a) extravasamento de solutos; b) aumento da respirao; c) acmulo de toxinas; d) desbalano metablico; e) perda da compartimentalizao celular; f) perda da integridade das membranas; g) aumento na produo de etileno; h) reduo no suprimento de energia; i) decrscimo da atividade oxidativa das mitocndrias. Os sintomas visveis da ocorrncia da injria por frio manifestam-se geralmente s aps os frutos terem sido expostos a

temperaturas causadoras da injria. Em pimentas, no entanto, no h estudos sobre a avaliao da sensibilidade dos frutos ao frio nas espcies cultivadas; em geral, os trabalhos tm sido realizados com pimento. Porm, em estudo recente (MARQUES et al., 2005) foram testados sete acessos de C. baccatum (BGH 1646, 4366, 6029) C. chinense (BGH 4213 e 6371) e C. annuum (cvs. Mirassol e New Mexican) quanto sensibilidade dos frutos baixa temperatura. Marques et al. (2005) armazenaram frutos maduros recm-colhidos temperatura de 5oC e 10oC em embalagens perfuradas de polietileno tereftato (PET) para evitar a desidratao excessiva dos frutos. Exceto por dois acessos, um de C. chinense (BGH 6029) e outro de C. annuum (cv. Mirassol), houve induo de sintomas de injria por frio a 5oC e a 10oC, com maior intensidade de sintomas, ainda dentro da cmara, para a temperatura de 5oC. Nesses frutos, os sintomas manifestaram-se, sob a forma de pequenas manchas superficiais esbranquiadas dispersas na superfcie do pericarpo. Os primeiros sintomas surgiram nos frutos armazenados a 5oC no acesso C. baccatum (BGH 4366), aos seis dias aps o incio do armazenamento, porm a temperatura de 10oC, os sintomas apareceram primeiramente aos 12 dias de armazenamento no acesso BGH 1646 da mesma espcie. Os frutos do acesso BGH 6029 (C. baccatum ) e a cultivar Mirassol ( C. annuum) foram resistentes ao aparecimento de injria por frio mesmo aps um ms de armazenamento. Como recomendao geral,

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as pimentas devem ser armazenadas entre 7oC e 10oC e umidade relativa do ar entre 90% e 95%. Porm esta condio de umidade do ar dificilmente obtida na maioria das unidades comerciais de refrigerao ou refrigerador domstico, visto que as unidades no dispem de sistemas de controle de umidade. Nesse caso, poder ocorrer desidratao rpida dos frutos podendo ser minimizada pelo uso de filmes plsticos em especial o policloreto de vinila (PVC), que reduz a condensao de umidade no interior da embalagem (FINGER; VIEIRA, 1997). CONSIDERAES FINAIS A capacidade de armazenamento das pimentas frescas funo da interao de diversos fatores endgenos e do ambiente os quais incidem tanto na pr como na pscolheita dos frutos. O desenvolvimento de sintomas de injria por frio no armazenamento frigorificado, em temperaturas prximas a 5oC, a sensibilidade ao etileno e a taxa de respirao dos frutos so considerados fatores altamente limitantes para o armazenamento prolongado dos frutos. Em pimentas, devido s caractersticas fsicas dos frutos, tais como tamanho, relao superfcie/volume, espessura do pericarpo e composio e integridade da cutcula, a perda ps-colheita de gua torna-se mais importante que o controle da temperatura ambiente durante a comercializao do produto fresco.

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AGRADECIMENTO Coordenao e Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) e Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pelo financiamento de projetos e bolsas de estudos que auxiliam na obteno dos dados de pesquisa com as pimentas do Banco de Germoplasma de Hortalias (BGH) da Universidade Federal de Viosa (UFV).

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Coeficientes tcnicos, custos, rendimento e rentabilidade das pimentas


Nirlene Junqueira Vilela 1 Keize Pereira Junqueira 2

Resumo - As pimentas Capsicum spp. representam importantes fontes de gerao de emprego e renda na agricultura, principalmente para os pequenos produtores. Foram levantados os coeficientes tcnicos e custos de produo das pimentas Jalapeo, na regio de Ouvidor (GO), Tabascos, em Crato (CE), Dedo-de-moa, em Turuu (RS), Malagueta, em Carmpolis (MG) e Piracanjuba (GO). Os sistemas de produo considerados so conduzidos por pequenos produtores e tm como principais caractersticas o emprego intensivo de mo-de-obra. Com exceo da pimenta-jalapeo (industrial), a mo-de-obra o componente que apresenta maior peso no total do custo de produo. Em geral, os processos produtivos so desenvolvidos com especificaes tcnicas simples e os custos de produo so baixos, quando comparados com os de outras hortalias. Apesar disso, todos os sistemas de produo so eficientes do ponto de vista econmico. Portanto, a cultura das pimentas Capsicum spp. representa alternativa rentvel e deve ser recomendada para a agricultura familiar. Palavras-chave: Capsicum. Aspectos econmicos. Custo de produo. Coeficiente tcnico.

INTRODUO As pimentas Capsicum spp. so importantes produtos do agronegcio, tanto em nvel de mercado domstico, como internacional. No ambiente de competitividade, a busca de melhor qualidade, preos e custos tem exigido dos produtores maior eficincia tcnica e econmica na conduo dos sistemas de produo. Nesse contexto, o conhecimento dos coeficientes tcnicos, dos custos de produo e da rentabilidade das culturas cada vez mais importante no processo de tomada de deciso dos agentes do agronegcio. O desempenho produtivo e a rentabilidade de qualquer cultura dependem de uma srie de fatores. Alm das condies climticas e da fertilidade natural do solo, de fundamental importncia a tecnologia

empregada, incluindo o material gentico, a qualidade da semente, as tcnicas de irrigao e o manejo da cultura. Adicionalmente, os preos dos insumos e dos produtos so determinantes da rentabilidade. A melhor combinao dos fatores de produo resulta na explorao racional que pode determinar a elevao da produtividade, cujos efeitos incidem diretamente na diluio dos custos totais de produo. Tendo em vista a elevada importncia socioeconmica da cultura das pimentas Capsicum spp. como geradoras de emprego e renda, principalmente para os pequenos produtores, nesta seo so apresentados os coeficientes tcnicos e as estimativas dos custos de produo e de rentabilidade dos cultivos de pimentas.

CUSTOS DE PRODUO DE PIMENTA As pimentas consideradas neste trabalho foram Tabasco, Malagueta, Dedo-de-moa ou Pimentas-vermelhas (denominao regional) e Jalapeo, que so as mais valorizadas pelo agronegcio. Os coeficientes tcnicos foram levantados por pesquisadores e extensionistas diretamente nas reas de produo de Piracanjuba-GO (Malagueta); Carmpolis-MG (Malagueta); Turuu-RS (Dedo-de-moa); Ouvidor-GO (Jalapeo); Crato-CE (Tabasco). Os custos de produo foram determinados com base nas informaes dos preos de mercado obtidos nos estabelecimentos comerciais das respectivas regies na ocasio da pesquisa. Com base

1 2

Economista Rural, M.Sc., Pesq. Embrapa Hortalias, Caixa Postal 218, CEP 70359-970 Braslia-DF. Correio eletrnico: nirlene@cnph.embrapa.br Enga Agra, Mestranda UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: keize@ufla.br
Informe Agropecurio, Belo Horizonte, v.27, n.235, p.104-108, nov./dez. 2006

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nos coeficientes tcnicos levantados, utilizou-se a anlise econmica pelo mtodo de oramentao parcial (MOP). O MOP um modelo esttico de anlise econmica comumente utilizado em estudos de perfil que fornece como resultados os indicadores econmicos bsicos de determinada explorao, em um perodo especfico. Em geral, aplicado para detectar os diferenciais entre culturas ou sistemas de produo (PERRIN et al.,1985; SCOLARI et al., 1985; SNODGRASS; WALLACE, 1993; LAIARD; GLAISTER, 1996; EMBRAPA, 2002; ANDREWS; REGANOLD, 2004). Custos de produo das pimentas Tabasco e Jalapeo Os custos de produo de pimentas

Tabasco e Jalapeo foram levantados em 2001 e podem ser verificados no Quadro 1. Observa-se que esses custos de produo por hectare, ambos operacionalizados por pequenos produtores, so relativamente baixos, quando comparados aos de outras hortalias. No sistema de produo de pimentatabasco, o item que mais onerou os custos de produo foi o insumo (66,11%). No grupo dos insumos, os adubos qumicos participaram com maior peso nos custos (33,4%), seguidos pelas sementes (20%), que em geral so importadas. Nesse sistema, a margem recebida pelos produtores sobre as vendas de, aproximadamente, 42% e a taxa de retorno de 72%. A produo da Tabasco contratada pelas empresas processadoras que en-

vasam e destinam o produto final em maior parte (80%) ao mercado internacional. As pimentas-jalapeo, tambm conhecidas popularmente como pimentas industriais, em geral, so utilizadas como matria-prima para a produo de pprica e corantes. Os sistemas de produo dessas pimentas so mecanizados e apresentam os insumos como o grupo de maior peso sobre os custos de produo (41,2%). Dentro desse grupo, os componentes que mais oneram os custos de produo so os adubos qumicos (19,3%) e as mudas (12%) que so adquiridas de outros produtores mais especializados na produo deste fator. No grupo de servios destaca-se a participao das mquinas (22%) nos custos totais. Dado o preo recebido pela matria-prima, a margem dos

QUADRO 1 - Coeficientes tcnicos e custos de produo de pimentas 'Tabasco' em Crato (CE) e 'Jalapeo' em Ouvidor (GO), 2001 'Tabasco' Especificao Unidade Quantidade Insumos Sementes Mudas Corretivos de solo Adubos orgnicos Adubos qumicos Herbicidas Inseticidas Fungicidas Espalhante adesivo Subtotal 1 Servios Mo-de-obra Mquinas Subtotal 2 Outros custos Baldes e caixas Energia para irrigao Juros de custeio (8,75%aa.) Transporte (carregamento) Subtotal 3 Custo varivel total = (subtotais 1+2+3) NOTA: Levantamento de coeficientes tcnicos realizados pelo Engo Agro Jos Selvar da Emater (CE). d/H - Dia/homem; h/m - Hora/mquina.
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'Jalapeo' % Quantidade Total (R$) 0,00 483,75 34,00 0,00 764,90 0,00 187,00 161,60 6,00 1.637,25 26,5 62,5 265,00 867,25 1.132,25 1500 0 30 975,00 0,00 192,26 35,10 1.202,36 3.971,86 %

Total (R$) 768,00 0,00 0,00 400,00 1.282,00 0,00 40,00 40,00 10,00 2.540,00

kg mil t t t L kg ou L kg ou L L

1 0 0 2 1,8 0 2 2 2

19,99 0,00 0,00 10,41 33,37 0,00 1,04 1,04 0,26 66,11 23,89 2,60 26,50 1,15 6,25 0,00 0,00 7,39 100,00

0 32,25 2 0 1,9 0 12,5 10,5 2

0,00 12,18 0,86 0,00 19,26 0,00 4,71 4,07 0,15 41,22 6,67 21,83 28,51 24,55 0,00 4,84 0,88 30,27 100,00

d/H h/m

153 4

918,00 100,00 1.018,00

ud
KW

8 1200 0 0

44,00 240,00 0,00 0,00 284,00 3.842,00

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Cultivo da pimenta

produtores sobre as vendas de 42% e a taxa de retorno apropriada pelos produtores de 72%. Ou seja, para cada unidade monetria aplicada nos processos produtivos o produtor recebe 1,74 de rentabilidade. Custos de produo de pimentas dedo-de-moa O levantamento referente aos sistemas de produo de pimenta-dedo-de-moa, popularmente denominada pimentasvermelhas, foi realizado em 2002, na regio de Turuu (RS). A cultura das pimentasvermelhas representa a principal fonte de renda dos pequenos produtores dessa regio. Os sistemas de produo de pimentas-vermelhas so conduzidos de maneira simples, sem muitas especificaes tcnicas, que configuram o baixo nvel tecnolgico empregado, como pode ser observado no Quadro 2. Observa-se que na produo da pimenta-dedo-de-moa, os custos variveis de produo so relativamente baixos, no chegando a R$ 4.000,00. A mo-de-obra o item que mais onera os custos de produo (60,8%). O principal aproveitamento dessa espcie consiste na forma de pimenta moda, denominada Calabresa. Os prprios produtores fazem o processamento que consiste na moagem das pimentas secas que, depois de embaladas em sacos, so comercializadas nos mercados interno e externo. Custos de produo por hectare de pimentamalagueta em Gois As pimentas-malaguetas, embora amplamente utilizadas pelas indstrias farmacuticas para fins medicinais, no Brasil o seu aproveitamento comercial mais comum na forma de molhos e conservas. Os pimentais de Gois, em geral, so explorados por um perodo de dois anos. Tanto no primeiro como segundo ano, so empregadas tecnologias simples e os sistemas so intensivos em mo-de-obra. Assim, este ltimo o item que mais onera os custos de produo no segundo ano de explorao dos pimentais (53,1%). No primeiro ano, o grupo de insumos representa maior peso na composio dos custos (47,2%),

QUADRO 2 - Custos de produo de pimenta-dedo-de-moa na regio de Turuu (RS), 2002 Especificao Insumos Sementes e mudas Corretivos do solo Adubos orgnicos Adubos qumicos Herbicidas Inseticidas Fungicidas Subtotal 1 Servios Mo-de-obra Mquinas Subtotal 2 Outros custos Baldes e sacos (embalagem) leo diesel para irrigao Subtotal 3 Total= (subtotais 1+2+3) 150,00 0,00 150,00 3.817,50 3,93 0,00 3,93 100,00 d/H h/M 110 17,9 1.650,00 671,25 2.321,25 43,22 17,58 60,81 mil t t t L kg ou L kg ou L 15 0,7 8 0,465 0,3 1,26 1,8 180,00 84,00 480,00 452,25 4,20 57,60 88,20 1.346,25 4,72 2,20 12,57 11,85 0,11 1,51 2,31 35,27 Unidade Quantidade Total (R$) Participao (%)

NOTA: Levantamento de coeficientes tcnicos realizado pelo Engo Agro Lauro Schneid da Emater -RS e Andr Machetti, estagirio do Curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS. Trabalho realizado com recursos do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia Agropecuria para o Brasil (Prodetab). d/H - Dia/homem; h/m - Hora/mquina.

destacando-se os adubos qumicos como o item mais caro desse grupo (Quadro 3). As sementes utilizadas na produo de mudas so colhidas nos prprios pimentais destinados produo comercial. Os produtores preparam o produto de acordo com as recomendaes das indstrias, que adquirem a pimenta diretamente das lavouras, na forma de contratao informal de preos e quantidades. Dado o preo pago pelas indstrias, os produtores apropriam a margem lquida de 45% sobre as vendas no primeiro ano e de 55% no segundo ano de explorao dos pimentais. Custos de produo de pimenta-malagueta em Minas Gerais Em meados do ano de 2003, foram estimados os custos de produo por hectare de pimenta-malagueta na regio de Carmpolis (MG). Observa-se, pelo Quadro 4, que no sistema

de produo considerado, a mo-de-obra foi o fator produtivo mais intensivamente utilizado. Este item representou o maior peso sobre os custos variveis da produo, ou seja, 74,1% no primeiro ano e 85,3% no segundo ano de explorao do pimental. Em Minas Gerais, estima-se que cada hectare cultivado de pimenta-malagueta gere de quatro a cinco postos de trabalho apenas durante o processo produtivo. Alm disso, os produtores aumentam a quantidade de mo-de-obra na colheita, que a fase da cultura que absorve maior quantidade de servios temporrios. No total dos custos operacionais da produo, os insumos participam com 21,4% no primeiro ano e 15% no segundo ano de explorao do pimental. Neste grupo, foram os adubos qumicos que mais pesaram sobre os custos de produo total (8,2%). No segundo ano, o produtor tende a renovar o pimental utilizando somente pequenas quantidades de adubos qumicos (12,2%) de inseticidas (1,07%) e fun-

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Cultivo da pimenta

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QUADRO 3 - Custos de produo de pimenta-malagueta em Piracanjuba (GO), 2002 Especificao Unidade Quantidade Total do 1o ano (R$)
(1)

Quantidade

Total do 2o ano (R$)

(1)

Insumos Mudas Corretivos do solo Adubos orgnicos Adubos qumicos Herbicidas Inseticidas Fungicidas Subtotal 1 Servios Mo-de-obra Mquinas Subtotal 2 Outros Baldes e sacos leo diesel Subtotal 3 Total = (subtotais 1+2+3)

mil t t t L kg ou L kg ou L

13,00 1,00 20,00 1,50 0,00 21,00 7,00

260,00 59,00 300,00 674,72 0,00 365,20 218,80 1.877,72 1.104,00 640,00 1.744,00 210,03 150,03 360,06 3.981,78

6,53 1,48 7,53 16,95 0,00 9,17 5,50 47,16 27,73 16,07 43,80 5,27 3,77 9,04 100,00

0,00 0,00 0,00 13,00 0,00 20,50 7,00

0,00 0,00 0,00 29,72 0,00 365,20 218,80 613,72 1.026,00 1.026,00 209,10 83,00 292,10 1.931,82

0,00 0,00 0,00 1,54 0,00 18,90 11,33 31,77 53,11 0,00 53,11 10,82 4,30 15,12 100,00

d/H h/M

92,00 16,00

78,00

183,00

100,00

NOTA: Trabalho realizado com recursos do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia Agropecuria para o Brasil (Prodetab). d/H - Dia/homem; h/m - Hora/mquina. (1)Refere-se participao percentual de cada item no total dos custos. QUADRO 4 - Custos de produo por hectare de pimenta-malagueta na regio de Carmpolis (MG), 2003 Especificao Unidade Quantidade Total do 1o ano (R$) Participao (%) Quantidade Total do 2o ano (R$) Participao (%)

Insumos Sementes Corretivos do solo Adubos orgnicos Adubos qumicos Brometo de metila Inseticidas Fungicidas Espalhante adesivo Subtotal 1 Servios Mo-de-obra Mquinas Subtotal 2 Outros leo diesel Subtotal 3 Total = (subtotais 1+2+3) 8.213,00 L 300,00 270,00 270,00 100,00 d/h h/m 761,00 5,00 6.088,00 100,00 6.188,00 74,13 1,22 75,34 0,00 3,29 3,29 4.015,00 100,00 3.424,00 428,00 3.424,00 85,28 0,00 85,28 0,00 0,00 0,00 kg t t t Lata kg ou L kg ou L L 0,20 2,00 20,00 1,53 10,00 46,00 10,00 2,00 140,00 40,00 400,00 670,00 75,00 335,00 85,00 10,00 1.755,00 1,70 0,49 4,87 8,16 0,91 4,08 1,03 0,12 21,37 3,00 8,00 2,00 43,00 48,00 10,00 591,00 1,02 490,00 12,20 0,00 1,07 1,20 0,25 14,72

NOTA: Custos de produo levantados pelo Engo Agro Jos Salvador Resende da EMATER-MG. Trabalho realizado em parceria com a EMATER-MG. d/H - Dia/homem; h/m - Hora mquina.
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gicidas (1,2%). Assim, nesse perodo os custos caem em, aproximadamente, 50%. Entretanto, a participao da mo-de-obra continua intensiva (85,3%). Nesse sistema, verifica-se que o retorno ao produtor, no segundo ano, de quase 90% (Quadro 4). importante ressaltar que os produtores dessa regio colocam no mercado o produto envazado ou a granel preparado. Considerando o preo recebido pelo produtor por quilo do produto a granel, verifica-se que, nessa regio, a explorao da pimenta-malagueta lucrativa para os produtores. A margem sobre as vendas foi, em mdia, mais de 46% e a taxa de retorno foi 86%, no primeiro ano e, no segundo ano, em razo do pimental exigir menos gastos com tratos culturais, a taxa de retorno foi maior (90%) (Quadro 4).

RENTABILIDADE DA CULTURA Os indicadores bsicos gerados pelas anlises econmicas confirmam que todos os sistemas so eficientes do ponto de vista tcnico-econmico (Quadro 5). A rentabilidade das pimentas em todos os sistemas foi maior do que 1, indicando que para cada unidade monetria (UM) alocada na cultura, os produtores obtiveram retornos que variaram de 1,72 (no caso da Tabasco) a 2,24 (considerando a Malagueta, no segundo ano, em Gois). No caso da Malagueta, no segundo ano, ocorre a explorao final do pimental. Assim, o produtor faz aplicaes mnimas de insumos e o fator mais intensivo a mode-obra para colheita e acondicionamento. Dessa forma, os custos tornam-se menores e so diludos pela produtividade obtida, proporcionando margens de lucro razoveis.

Observa-se pelo ponto de equilbrio da produo comercial que, em todos os sistemas, a produtividade apresentou significativa capacidade de diluir os custos variveis da produo. CONSIDERAES FINAIS Os sistemas de produo predominantes, apesar de empregarem tecnologias simples, so todos eficientes do ponto de vista tcnico-econmico. Entretanto, a utilizao de materiais genticos mais potentes associados inovao da base tcnica dos produtores pode tornar os sistemas de produo ainda mais lucrativos. Observa-se que a explorao comercial das pimentas Capsicum spp. gera empregos e renda em todos os segmentos da cadeia produtiva, tanto a montante como a jusante da produo.

QUADRO 5 - Eficincia tcnico-econmica dos sistemas de produo de Capsicum spp. 'Malagueta' (GO) Indicador 'Dedode-moa' 10.000 3.817 8 1.250 3,05 _ 5,50 6.875 3.057 44,47 1,80 694 80,09 'Tabasco' 'Jalapeo' 1o ano 10.000 3.842 _ _ _ 0,38 0,66 6.600 2.758 41,79 1,72 5.821 71,79 30.000 3.972 _ _ _ 0,13 0,23 6.900 2.928 42,44 1,74 17.269 73,72 4.000 3.982 _ _ _ 1,00 1,80 7.200 3.218 44,70 1,81 2.212 80,82 2o ano 2.400 1.932 _ _ _ 0,80 1,80 4.320 2.388 55,28 2,24 1.073 123,62 1,37 2,54 15.240 7.027 46,11 1,86 3.233 85,56 1,34 2,54 7.620 3.605, 47,31 1,90 1.581 89,79 1o ano 6000 8.213 2o ano 3000 4015 'Malagueta' (MG)

Produtividade de pimenta fresca (kg/ha) Custos variveis totais (R$) Converso matria-prima/Produto (kg/1kg) Produvidade do produto processado (kg) Custo unitrio do produto processado (R$/kg) Custo unitrio de pimenta fresca Preo recebido (pimenta seca) Renda bruta (R$) Renda lquida (R$) Margem de lucro (%) Rentabilidade (UM) Ponto de equilbrio (kg) Taxa de retorno (%)

Na forma processada ou in natura, as pimentas Capsicum spp. so produtos que agregam valor e detm amplas oportunidades de mercado. Portanto, devem ser recomendadas para agricultura familiar como alternativa rentvel para diversificao da produo. REFERNCIAS
ANDREWS, P. K.; REGANOLD, J. P. Research

networking to evaluate the sustainability of horticultural production systems. Acta Horticulturae, Hague, n.638, p. 359-368, 2004. EMBRAPA. Critrios para o levantamento de Sistemas de produo na Embrapa. Braslia: EMBRAPA - SGE, 2002. 17p. LAIARD, R.; GLAISTER, S. Costbenefit analysis. New York: Cambridge, 1996. 486p. PERRIN, R. K.; WIKELMANN, D. L.; MOSCARDI, E. R.; ANDERSON, J. R. Formulacin de recomendaciones a partir de

datos agronmicos: un manual metodolgico de evaluacin econmica. Mxico: CIMMYT, 1985. 56p. (CYMMYT. Folheto de Informacin, 27). SCOLARI, D.D.G.; SOUZA, M.C. de; COSTA, M.E.F. da. Programa de anlise econmica atravs de oramentao parcial (ANECOR). Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1985. 43p. (EMBRAPA-CPAC. Documentos, 13). SNODGRASS, M.M.; WALLACE, L.T. Agriculture economics and resources management. New Jersey: Prentice Hall, 1993. 521p.

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