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Do letramento aos multiletramentos: superando a redação das férias

2020, 6º Encontro Anual de Iniciação Científica, Tecnológica e Inovação

Este estudo apresenta a pesquisa de Iniciação Científica Voluntária "O letramento e a escola: refinando o olhar", desenvolvida no período de 2019/2020, e objetiva relacionar a teoria dos multiletramentos à prática de produção de textos vinculada à sala de aula. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica segundo as teorias de letramentos e multiletramentos, que consideram o texto a partir das práticas sociais e como lugar de interação entre autor e leitor. Tendo em mente que muitos professores empregam, ainda, a abordagem estruturalista em relação ao texto, salientamos os estudos da Linguística Textual, especificamente os fatores de textualidade e os gêneros discursivos. Em vista disso, elaboramos uma proposta de roteiro de aula que envolve uma viagem de estudos e a produção de anúncios publicitários em formato de vídeo por meio da ferramenta Movie Maker e da plataforma virtual PadLet. Evidenciamos, portanto, a necessidade do desenvolvimento dos multiletramentos em ambiente escolar, deixando de considerar o texto como mera redação para correção de erros gramaticais, mas como objeto imerso em um contexto sócio-histórico-cultural que requer conhecimentos além da codificação e decodificação.

Do letramento aos multiletramentos: superando a redação das férias Juliana Caroline Kissler (ICV/Unioeste), Mirian Schröder (Orientadora), e-mail: juliana_kissler@hotmail.com. Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras/Marechal Cândido Rondon, PR. Área/subárea: Linguística, Letras e Artes/Linguística Palavras-chave: Produção textual, Ensino, Interação. Resumo Este estudo apresenta a pesquisa de Iniciação Científica Voluntária “O letramento e a escola: refinando o olhar”, desenvolvida no período de 2019/2020, e objetiva relacionar a teoria dos multiletramentos à prática de produção de textos vinculada à sala de aula. Para tanto, foi realizada pesquisa bibliográfica segundo as teorias de letramentos e multiletramentos, que consideram o texto a partir das práticas sociais e como lugar de interação entre autor e leitor. Tendo em mente que muitos professores empregam, ainda, a abordagem estruturalista em relação ao texto, salientamos os estudos da Linguística Textual, especificamente os fatores de textualidade e os gêneros discursivos. Em vista disso, elaboramos uma proposta de roteiro de aula que envolve uma viagem de estudos e a produção de anúncios publicitários em formato de vídeo por meio da ferramenta Movie Maker e da plataforma virtual PadLet. Evidenciamos, portanto, a necessidade do desenvolvimento dos multiletramentos em ambiente escolar, deixando de considerar o texto como mera redação para correção de erros gramaticais, mas como objeto imerso em um contexto sócio-histórico-cultural que requer conhecimentos além da codificação e decodificação. Introdução A internet vem ganhando espaço na vida das pessoas e, consequentemente, adaptando o modo de se comunicar e de acessar conteúdos informativos e culturais. Em vista disso, é essencial que a escola também atualize a abordagem dos conteúdos, a fim de melhor atender alunos que se encontram, constantemente, conectados ao universo virtual e expostos, em demasia, a todo tipo de informação, desde os conteúdos confiáveis até os conteúdos dissimulados como, por exemplo, as fake news. Nesta pesquisa qualitativa, exploratória e bibliográfica, discutimos a necessidade de abordar os multiletramentos em aulas de produção textual. Para tanto, elegemos como fundamentação teórica estudos dos letramentos e multiletramentos, conforme Silveira et al. (2012) e Rojo e Moura (2012), bem como estudos da Linguística Textual (Koch, 2000), de Gêneros Discursivos (Bakhtin, 1997; Marcuschi, 2008) e da produção de textos em ambiente escolar (Costa-Hübes, 2012). A fim de demonstrar a aplicação das teorias estudadas, elaboramos uma proposta de roteiro de aula, sugerindo uma viagem de estudos e o trabalho com o gênero discursivo Anúncio Publicitário em formato de vídeo. Revisão de Literatura Imersos em sociedade, os seres humanos enfrentam o desafio da comunicação. É necessário saber falar, ouvir, interpretar e, em sociedades letradas, urge ler e escrever. A leitura e a escrita, assim como a comunicação entre falantes, exigem conhecimentos linguísticos, ideológicos, contextuais e culturais para que a compreensão ocorra. Não basta codificar e decodificar, é preciso reconhecer informações ocultas no texto. As mais diversas situações que envolvem a leitura (eventos de letramento) estudadas a partir de 1980 por pesquisadores do grupo New Literacy Studies possibilitaram a ampliação do conceito literacy, antes utilizado apenas para a noção de alfabetização. A partir dos estudos de letramento como prática social, o grupo atribuiu-lhe novo significado. De acordo com Street (2003b apud Silveira et al. , 2012, p. 71), o conceito de letramento refere-se menos a uma tecnologia da mente ou a um conjunto de habilidades técnicas que podem ser transmitidas àqueles que não as possuem [...] e mais à prática social, o que inclui reconhecer que existem diversos tipos de letramento em uma comunidade, e que, portanto, os letramentos são múltiplos. Isso envolve pensar também que as práticas e os eventos de letramento presentes nessa comunidade têm base sócio-histórica, logo, variam no tempo e no espaço, e estão sujeitos às relações de poder que se materializam em contextos locais e globais. O crescimento e a expansão da tecnologia ao longo dos últimos anos contribuíram significativamente para a evolução do letramento e de suas práticas, ampliando-o para letramentos e, em especial, a multiletramentos. Estes são caracterizados pela multiplicidade de culturas e de linguagens (Rojo; Moura, 2012), carregam consigo elementos multimodais e compreendem ferramentas e plataformas do meio digital. Com o amplo acesso à internet e, consequentemente, ao excesso de informações disponíveis em ambiente virtual, surge a necessidade de abordar os novos letramentos em sala de aula. A pedagogia dos multiletramentos busca formar usuários funcionais, criadores de sentidos, analistas críticos e transformadores (Rojo, 2012), ou seja, usuários da língua capazes de utilizarem a leitura e a escrita de forma significativa, levando em conta todos os fatores internos e externos que fazem parte destes processos. Apesar dos estudos da Linguística Textual considerarem o texto como lugar de interação entre autor e leitor, ainda é comum observarmos, em sala de aula, abordagens estruturalistas, em que o texto não passa de uma redação a ser entregue ao professor, com o único objetivo de corrigir erros gramaticais ou, quiçá, seguir uma composição textual prototípica. Para uma produção textual ser considerada um texto, é necessário que apresente fatores de textualidade. Beaugrande e Dressler (1981 apud Koch, 2000) apontam sete critérios de textualidade, sendo estes a coesão, a coerência, a informatividade, a situacionalidade, a intertextualidade, a intencionalidade e a aceitabilidade, em que os dois primeiros referem-se às informações apresentadas no texto e os demais critérios estão centrados na interação autor-texto-leitor. Explicitar os fatores de textualidade aos estudantes, certamente, contribuirá para a formação de escritores que compreendam a função social do texto e, consequentemente, tenham maior cuidado e prazer ao produzir textos. Neste linha, o ensino de língua requer o emprego de gêneros discursivos: “tipos relativamente estáveis de enunciados” (Bakhtin,1997, p. 279), que carregam conteúdo, estilo e composição prototípicos e que são capazes de “refletir a individualidade de quem fala” (p. 283). No gênero anúncio publicitário em formato de vídeo, eleito para esta pesquisa, o conteúdo corresponde à divulgação de uma ideia ou um produto por meio da escolha de recursos lexicais atrativos e convincentes para o interlocutor em que a estrutura pode possuir sequência expositiva, narrativa, descritiva, argumentativa e injuntiva, que é utilizada conforme a intenção do autor. Além disso, é preciso levar em consideração o suporte do gênero, que é definido por Marcuschi (2008, p. 174) como “um lócus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado”. Nesta proposta específica, tem-se o suporte virtual e um gênero multimodal definidos. Resultados e Discussão Considerando os fatores de textualidade e os multiletramentos, elaboramos a proposta de um roteiro de aula, para turmas de 9º ano do Ensino Fundamental II, visando uma viagem de estudos, com posterior publicação de anúncios publicitários em formato de vídeo em ambiente virtual, utilizando a ferramenta Movie Maker e a plataforma PadLet. A escolha de um gênero em formato digital permite a abordagem dos multiletramentos que, segundo Rojo (2012), é essencial devido ao fortalecimento das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) e da ampla variedade cultural presente nas escolas. Tendo em consideração que nós, pesquisadores, vivemos na região Oeste do Paraná, sugerimos como destino a cidade de Foz do Iguaçu, rica em atrações turísticas e culturais, entretanto, o projeto apresentado pode ser adaptado para qualquer viagem escolar a ser realizada. Conforme a proposta, antes do passeio, a turma deve conhecer o gênero discursivo e estar ciente da produção final de um Anúncio Publicitário em formato de vídeo, que exige a realização de filmagens e observação de cada ponto turístico, a fim de obter informações pertinentes para a produção. Logo, são necessários equipamentos de filmagem, como celulares e câmeras. O trabalho deve ser realizado em grupos (separados conforme critérios do docente e tamanho da turma) e pode ser feito um sorteio para distribuição dos pontos turísticos. Alguns exemplos de pontos turísticos em Foz do Iguaçu são as Cataratas do Iguaçu, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, o Parque das Aves e o Marco das Três Fronteiras. Nas aulas posteriores à viagem, deve ser utilizado o laboratório de informática para edição dos vídeos, com a ferramenta Movie Maker. Os critérios a que as publicidades devem seguir podem ser definidos pelo docente, desde que estejam de acordo com as características do gênero. A publicação dos vídeos acontece por meio da plataforma PadLet, que permite a elaboração de um painel virtual de forma individual ou colaborativa. Neste caso, o docente deve criar o PadLet e compartilhar o link com os estudantes, para que eles façam upload do vídeo para a plataforma. Desse modo, todos os vídeos publicitários estarão compilados em um único endereço eletrônico, que poderá ser compartilhado com membros da comunidade escolar e de outras esferas sociais a que os produtores desejarem, além de ser possível adicionar comentários e reações como curtir, votar, dar estrelas ou dar nota. A publicação das produções em ambiente virtual, possibilitando o compartilhamento dos materiais elaborados, é essencial para a formação de escritores reais, capazes de assimilar o conteúdo escolar com os eventos cotidianos. Segundo Costa-Hübes (2012, p. 10), as práticas de produção de texto devem priorizar a interação com outro(s) interlocutor(es). Para isso, o ensino da língua escrita só irá acontecer quando conseguirmos mediar momentos de aprendizagem por meio dos quais o aluno possa “mergulhar” em situações reais de interação. Segundo Santos (2005, p. 17), os gêneros publicitários “têm a finalidade de predispor o receptor a praticar uma ação específica”. Assim sendo, trabalhar o Anúncio Publicitário em formato de vídeo contribui para o aprimoramento das habilidades persuasivas do aluno, que deve ser capaz de escolher informações relevantes, que despertem o interesse do interlocutor. Ademais, Garcia (2012, p. 128) afirma que “o trabalho com multiletramentos forma indivíduos críticos e participativos na sociedade”. Considerando a proposta aqui apresentada, ao adquirir conhecimentos acerca do gênero e sua produção, os estudantes são capazes de selecionar e identificar discursos bem ou mal elaborados, além de compreender a função social do gênero discursivo. Vale ressaltar, ainda, que é função do professor auxiliar os discentes no processo de conhecimento e aquisição de habilidades para manusear as ferramentas digitais. Apesar de nos depararmos com estudantes imersos no mundo virtual, estes raramente conhecem tecnologias voltadas à educação. Portanto, conforme mencionado por Garcia (2012, p. 133), “é papel da escola e dos professores reconhecerem que a virtualidade não abarca unicamente o entretenimento, mas pode educar os estudantes para a ética, a estética e a crítica”. Conclusões O processo de formação de escritores, que acontece na vida escolar dos estudantes, requer situações reais de comunicação, afinal, os textos possuem função social e requerem interação entre autor e leitor. Logo, é fundamental que os professores elaborem encaminhamentos de escrita que cumpram este papel. O roteiro de aula elaborado busca apresentar e estimular novas formas de lidar com o texto, seguindo os estudos da Linguística Textual e dos multiletramentos. Optar por uma viagem de estudos contribui não apenas para as aulas de produção textual mas, também, na abordagem de conteúdos de outras disciplinas, além de favorecer o engajamento dos estudantes. Referências BAKHTIN, M. (1997). Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal (pp. 279-326). São Paulo: Martins Fontes. COSTA-HÜBES, T. C. (2012). Reflexões sobre os encaminhamentos de produção textual: enunciados em diálogo com outros enunciados. Anais do X encontro do CELSUL - Círculo de Estudos Linguísticos do Sul. Cascavel, Paraná, Brasil. KOCH, I. V. (2000). O que é a linguística textual. In: A coesão textual (pp. 11-27). São Paulo: Contexto. MARCUSCHI, L. A. (2008). Gêneros textuais no ensino de língua. In: Produção textual, análise de gêneros e compreensão (pp. 146-225) São Paulo: Parábola Editorial. ROJO, R.; MOURA, E. (orgs.) (2012). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola. SANTOS, G. (2005). Para início de conversa: publicidade ou propaganda. In: Princípios da publicidade (pp. 15-18). Belo Horizonte: UFMG. SILVEIRA, A. P. K. da et al. (2012). A análise dialógica dos gêneros do discurso e os estudos do letramento: glossário para leitores iniciantes. Florianópolis: DIOESC.