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domingo, 10 de junho de 2018

Alteração climática

Mas afinal que triste terra é esta
Que me atraiu com juras de Verão?
Com este tempo a tímida giesta
Lamenta já o ter florido em vão.

Devia a natureza estar em festa!
Cores e aromas num fulgor pagão,
Em cada arbusto, uma flor mais lesta,
Dormindo só a rosa do Japão.

Não quero o frio e o vento por vizinhos.
Que brilhe o sol sobre o azul sem fim!
Cruzem o céu asas de passarinhos,
 
Cantem rosas e goivos no jardim.
E sem pudor, na berma dos caminhos,
Pintem papoilas assombros de carmim.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A thousand and one dreams

I dream of you who are not here
I dream of you and bring you near
I dream of you and you are well
I dream I’m still under your spell

I dream I’m waiting for your call
I dream that you don’t call at all
I dream that you have gone away
I dream I have so much to say

I dream that I still run to you
I dream that you still want me to
I dream the sweetness of your smile
I dream that it was all worthwhile

My dream tonight was of goodbye
I was with you and saw you die
I never dreamed of this before
I fear I’ll dream of you no more


Não sei porquê, inspirado por esta versão para dois pianos da Scheherazade de Rimsky-Korsakov, por Artur Pizarro e Vita Panomariovaite, ouvida na Antena2.
A propósito, é impressão minha ou raramente se ouve Artur Pizarro na Antena2?

terça-feira, 15 de abril de 2014

Quadrinhas de Primavera

Bom dia Sol,
bom dia luz,
porque te escondes
sob um capuz?

Gosto de sol,
de mar azul:
por isso habito
terras do sul.

Já há papoilas
a baloiçar;
as laranjeiras
perfumam o ar.

Afasta a chuva,
enxota o vento,
despede enfim
o céu cinzento.

Foi-se o inverno,
mudou a hora:
vá o mau tempo
também embora.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Temporal

Chove-me em cima o mundo. Que canseira!
Tenho uma longa viagem por diante
E esta tarde a Via do Infante
Mais que estrada parece uma ribeira.

A água cai como paredes lisas
As árvores vergam ao chicote do vento
Relâmpagos estilhaçam o céu cinzento
Estão no máximo os limpa-pára-brisas. 

Felizmente o casaco tem capuz
Que o guarda-chuva (nem sei onde o pus)
Num dia como este vale zero.

Aumento o som do rádio e assim tempero
Trovões e ansiedade. Já só quero
Chegar a casa enquanto ainda há luz.


Nota: hoje não houve temporal digno desse nome, mas de vez em quando há cada um que quem só conhece o Algarve no Verão não imagina.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Dia de Outono

Este poema de Rainer Maria Rilke é lindíssimo, mas como é possível achar, nas nossas latitudes, o Verão muito grande?

Herbsttag

Herr, es ist Zeit. Der Sommer war sehr gross.
Leg deinen Schatten auf die Sonnenuhren,
und auf den Fluren lass die Winde los.

Befiehl den letzten Früchten, voll zu sein;
gib ihnen noch zwei südlichere Tage,
dränge sie zur Vollendung hin, und jage
die letzte Süsse in den schweren Wein.

Wer jetzt kein Haus hat, baut sich keines mehr.
Wer jetzt allein ist, wird es lange bleiben,
wird wachen, lesen, lange Briefe schreiben
und wird in den Alleen hin und her
unruhig wandern, wenn die Blätter treiben.



Senhor, está na hora. O Verão foi muito grande.
Estende a tua sombra sobre os relógios de sol
e sobre os prados solta enfim os ventos.

Manda amadurecer os derradeiros frutos,
dá-lhes ainda dois dias de suão,
trá-los à maturação e injecta
a última doçura no encorpado vinho.

Quem agora não tem casa, já não constrói nenhuma,
Quem agora está só, assim ficará muito tempo,
há-de acordar, ler, escrever longas cartas
e de um lado para outro nas alamedas
caminhar intranquilo, enquanto as folhas caem.


A tradução é minha. Mais Rilke, aqui.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Depressão

Mais que apagada e vil*, esta tristeza
É uma manta mansa, larga, densa,
Que cobre o que se diz e o que se pensa
E extingue sem remorso a chama acesa

Da esperança. Estende devagar
Os dedos de silêncio em cada canto,
Esmorece a raiva, o sonho e o pranto
E parece que come o próprio ar.

Transforma as cores todas em cinzento,
Fecha à chave as portas e janelas
Num quase imperceptível movimento.

Põe selos, puxa fitas, ata os nós:
Ficam fora todas as coisas belas
E dentro, embrutecidos, estamos nós.




* como dizia Luiz de Camões, in Os Lusíadas, Canto X, 145


Nota: Ninguém se aflija, por favor: este é um poema político, não pessoal.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Juillet

Le solstice est passé. Le soleil brûlant
Se lève un peu plus tard chaque matin
Il brûle tout droit dans mes yeux
Sur le chemin
De mon travail.
Il me dit: je suis là,
Profite donc de moi
Dans trois mois tu regretteras
Ne pas avoir été dehors toutes les heures
De ton été
Sous mon regard
Hors de ta porte
Hors de ton coeur
Hors de ton malheur.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Moved

We are moved by beauty
- whatever we see as beauty -
Gladly
we jump right in
never thinking to ask
to what
end

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Daqueles que perdemos

Voices

Voices, loved and idealized,
of those who have died, or of those
lost for us like the dead.

Sometimes they speak to us in dreams;
sometimes deep in thought the mind hears them.

And with their sound for a moment return
sounds from our life's first poetry -
like music at night, distant, fading away.

C. P. Cavafy, Collected Poems, Princeton, New Jersey, 1992

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Escherichia Coli Parte II

Escherichia ou Beatriz, que importa o nome
Se ambos me soam igualmente belos?
A prometida morte nos consome
Como flor prometida nos carpelos.

Assim tu, Escherichia, és meu tormento
E nocturno tremor, Beatriz funérea!
Quem nasceu para casto fingimento
Afinal pode amar uma bactéria.


Vitorino Nemésio, Limite de idade, Lisboa, 1972

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Saudades do verão

Idade

Conheci dias duradouros,
o sol tão longo entre manhã e tarde.
Um levantar súbito de luz
por trás da crista das heras no muro velho,
e depois descer no verão entre grades verdes
e para além do portão como a cair no Hades,
no inverno. Não havia tempo
nos dias longos, mas a passagem diária
do sol abençoado.


Fiama Hasse Pais Brandão, in Três Rostos, Lisboa, 1989

encontrado aqui, na sequência desta conversa.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Canção da crise

Com que então preocupado
Porque além do outro lado
Do mundo um operário
Vive e morre escravizado
Com trinta euros por mês
Sem folgas e sem horário
Sem direitos laborais
Sem protecções sindicais
A produzir esses bens
Que ficam por dois vinténs
E matam a comp'tição,
Deixando por sua vez
Sem ter alma ou coração
O Ocidente enrascado

Lembre-se do que estudou
Do tempo do bisavô
Quando a Europa crescia
E se industrializou
A mão-de-obra da altura
Labutava a pão e vinho
Sem direitos sem ventura
Sem saúde ou luz do dia
Assim foi duzentos anos
Quem dera que os humanos
Aprendessem mais depressa
A China na sua pressa
Vai seguindo p'lo caminho
Que a Europa já trilhou

Melhor fora que pensasse
No desolador impasse
Da vida que o arrasta
De casa para o trabalho
Do trabalho para casa
Sem o menor golpe de asa
A pagar a prestações
Férias e televisões
E o colégio das crianças
Sem tempo para pensar
Sem poder dizer já basta
'té ao dia em que as finanças
o retiram do baralho
num tremendo desenlace

Vai para o desemprego
Põe umas coisas no prego
Mas não deixa de fumar
À espera que a crise passe
Como se ela passasse
Só por você desejar
Mas quando se senta à mesa
As notícias não são boas
Andam doidas as pessoas
O governo desgoverna
Tentando passar a perna
Aos mercados.
     Sem pensar
Compra na loja chinesa
Um vago desassossego.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A partida do deus

Notícia do Corriere della Sera:

Il caso - Il commissario straordinario: progetto redatto da chi mi ha preceduto
Pompei tra ruspe, cavi e mattoni
Contestato il restauro del Teatro

L’Osservatorio del patrimonio culturale scrive al ministro Bondi: «La cavea costruita ex novo, un fatto grave»

dal nostro inviato ALESSANDRA ARACHI
(...) I martelli pneumatici diventano quasi un dettaglio nel terribile cantiere del Teatro Grande di Pompei, invaso da betoniere, bob kart, ruspe, cavi, levigatrici e chi più ne ha ne metta.(...)
(...) Scrive Antonio Irlando, responsabile dell’Osservatorio, al ministro: «La gravità è facilmente e banalmente dimostrabile, in particolare della cavea, che, rispetto ad una qualsiasi foto o disegno di diversi momenti della vita degli scavi, risulta completamente costruita ex novo con mattoni in tufo di moderna fattura». (...)


É difícil acreditar que Pompeia se esteja a transformar em mais uma fancaria em betão, mas é o que o repórter denuncia. Vi na Grécia tais restauros, desde o teatro e o hipódromo de Rhodes ao palácio de Knossos. O pessoal anda por ali, tem mais facilidade em perceber como eram as coisas, mas juro que falta a presença do génio do lugar que, amargurado, se terá mudado para outras paragens.

(Rhodes, Rhodes, Setembro 2005)


The God abandons Antony

When suddenly, at midnight, you hear
an invisible procession going by
with exquisite music, voices,
don’t mourn your luck that’s failing now,
work gone wrong, your plans
all proving deceptive—don’t mourn them uselessly.
As one long prepared, and graced with courage,
say goodbye to her, the Alexandria that is leaving.
Above all, don’t fool yourself, don’t say
it was a dream, your ears deceived you:
don’t degrade yourself with empty hopes like these.
As one long prepared, and graced with courage,
as is right for you who proved worthy of this kind of city,
go firmly to the window
and listen with deep emotion, but not
with the whining, the pleas of a coward;
listen—your final delectation—to the voices,
to the exquisite music of that strange procession,
and say goodbye to her, to the Alexandria you are losing.


C. P. Cavafy, Collected Poems, Princeton, New Jersey, 1992

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Invictus

Que espécie de instituição financeira faz uma campanha publicitária com grandes actores a dizer poemas de grandes autores?


Agradeço à Maria Helena ter-me chamado a atenção para este anúncio pondo-o no Facebook. Vale a pena ver os outros, mas este (também) é o meu preferido.

domingo, 13 de setembro de 2009

Dyonisos em Naxos/Dyonisos in Naxos

(Yria, Naxos, Setembro 2009)

No santuário de Dyonisos em Naxos, onde o deus foi venerado durante séculos, não lhe senti a presença: creio mesmo que depois do encontro com Ariadne, levou consigo toda a sua corte de músicos, dançarinos e folgazões e se mudou de vez para outras paragens.

In the sanctuary of Dyonisos in Naxos, where the god was worshipped for centuries, I did not feel his presence: indeed I believe that after his encounter with Ariadne he took all his retinue of musicians, dancers and revellers and moved permanently elsewhere.

Bacchus and Ariadne

Baco e Ariadne, de Tiziano, imagem daqui

E no entanto:
And yet:

IONIC

That we've broken their statues,
that we've driven them out of their temples,
doesn't mean at all that the gods are dead.
O land of Ionia, they're still in love with you,
their souls still keep your memory.
When an August dawn wakes over you,
your atmosphere is potent with their life,
and sometimes a young ethereal figure,
indistinct, in rapid flight,
wings across your hills.

C. P. Cavafy, Collected Poems, Princeton, New Jersey, 1992

sábado, 4 de abril de 2009

Envelhecer


BODY, REMEMBER

Body, remember not only how much you were loved,
not only the beds you lay on,
but also those desires that glowed openly
in eyes that looked at you,
trembled for you in the voices -
only some chance obstacle frustrated them.
Now that it's all finally in the past,
it seems almost as if you gave yourself
to those desires too - how they glowed,
remember, in eyes that looked at you,
remember, body, how they trembled for you in those voices.


C. P. Cavafy, Collected Poems, Princeton, New Jersey, 1992

rose_20032009
rose_27032009
rose_03042009
Sempre a mesma rosa, no meu jardim, ao longo de duas semanas