Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Mostrar mensagens com a etiqueta povos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta povos. Mostrar todas as mensagens

domingo, 29 de janeiro de 2017

Ciganos

Cada vez que há um doente cigano internado e o clã inteiro invade o terreno do hospital lembro-me das razões por que não gosto de ciganos: essencialmente porque não se lavam, porque não recolhem o lixo que fazem, porque vivem à margem mas aproveitam os nossos impostos, porque descuidam os cavalos e os cães, porque não estudam e não deixam as raparigas estudar.

(Faro, Janeiro 2017)

Mas hoje perguntei-me: que raio de sociedade é a nossa, especificamente a nossa, portuguesa, que não consegue convencer estas pessoas a integrar-se na nossa cultura, acrescentando-lhe as eventuais mais-valias da sua própria tradição? E apercebi-me de que conheço muito mal a realidade cigana actual no nosso país, pelo que decidi ir à procura e encontrei online este Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas, que li e recomendo a quem tiver a mesma curiosidade que eu.

Não respondeu a todas as minhas perguntas, confirmou praticamente todas as minhas ideias, mas pôs-me outras questões. Levou-me a perceber melhor que temos, "nós", os gadjos, responsabilidades na discriminação mas que "eles", os ciganos ou roma, também põem barreiras à integração: afinal, há medo de parte a parte, e cada parte se defende como sabe, uma excluindo, a outra manipulando.
Talvez haja, e espero que haja, desde que alguns de "nós" tomaram consciência dos problemas deste relacionamento e que já alguns d'"eles" os encaram também, maneira de os solucionar, mas vai ser preciso tempo, esforço e motivação.

Se gosto mais dos ciganos depois de ler este estudo? Não sei. Gostava que, para começar, apanhassem o lixo em vez de o deixarem para os funcionários do hospital.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Queimada galega

Ontem tive amigos cá em casa a pretexto de uma queimada galega.
É um rito com ares de antigo mas que parece ser afinal bastante recente e no entanto ganhou foros de tradição na Galiza; nele se invocam os elementos (terra, ar, água e fogo) para afastar o mal e os bruxedos e propiciar a amizade.
A receita que usámos ontem continha aguardente, açúcar, limões cortados em gomos e grãos de café, tudo colocado num recipiente próprio de barro e mexido com uma concha igualmente de barro. O fogo é ateado a uma pequena porção contida nesta concha e nesta transplantado ao recipiente. O ideal é fazer isto ao ar livre e sem vento, mas as noites ainda estão frias e éramos todos adultos e cuidadosos, pelo que trouxemos a parafernália para dentro.


Vai-se mexendo sempre com a concha, criando cascatas de chamas e recitando este esconxuro:

Mouchos, curuxas, sapos e bruxas.
Demos, trasgos e diaños, espíritos das neboadas veigas.
Corvos, píntegas e meigas:
feitizos das menciñeiras.
Podres cañotas furadas, fogar dos vermes e alimañas.
Lume das Santas Compañas,
mal de ollo, negros meigallos, cheiro dos mortos, tronos e raios.
Ouveo do can, pregón da morte; fociño do sátiro e pé do coello.
Pecadora lingua da mala muller casada cun home vello.
Averno de Satán e Belcebú, lume dos cadáveres ardentes,
corpos mutilados dos indecentes,
peidos dos infernais cus,
muxido da mar embravecida.
Barriga inútil da muller solteira,
falar dos gatos que andan á xaneira,
guedella porca da cabra mal parida.
Con este fol levantarei as chamas deste lume que asemella ao do Inferno,
e fuxirán as bruxas da cabalo das súas vasoiras,
índose bañar na praia das areas gordas.
Oíde, oíde! os ruxidos que dan as que non poden deixar de queimarse na augardente
quedando así purificadas.
E cando esta beberaxe baixe polas nosas gorxas,
quedaremos libres dos males da nosa alma e de todo embruxamento.
Forzas do ar, terra, mar e lume,
a vós fago esta chamada:
se é verdade que tendes máis poder que a humana xente,
eiquí e agora, facede que os espíritos dos amigos que están fóra,
participen con nós desta queimada.


Quando a chama se apagar, tendo consumido a maior parte do álcool, deita-se a bebida em tijelinhas de barro e vai-se bebendo e conversando noite adiante. Sabe a limão, caramelo e chocolate, e tem a grande vantagem de se poder conduzir a seguir a um deleitoso serão!

(Albufeira, Março 2015)

sábado, 3 de janeiro de 2015

Os belgas

Não sei se os belgas existem - eles também não* - mas só uma gente especial construiria uma igreja torta para não alterar o curso de uma ribeira:


e lhe cortaria mais tarde um canto para criar mais passeio para os peões:

(Bruxelles, Novembro 2014)

Por outro lado, se isto não é arte na Bélgica, sê-lo-ia certamente em Nova Iorque:

(Antwerpen, Novembro 2014)

Já este parque de estacionamento, se não fosse flamengo, só poderia ser holandês (o que, queiram eles ou não, é parecido):

(Gent, Novembro 2014)


*Mas César sabia, e dizia deles que eram os mais valentes dos povos que habitavam a Gália, porque viviam mais longe da civilização e estavam continuamente em guerra com os Germanos. Como o tempo pode mudar a geografia!

domingo, 3 de novembro de 2013

Portugal em Veneza

Assumo que quando vou para fora não quero saber do que cá fica: não quero comer em restaurantes portugueses nem ouvir música portuguesa (ouviria de boa vontade a Maria João Pires, a cujos concertos aqui nunca consigo assistir) nem comentar política portuguesa nem ver arte contemporânea portuguesa.

Dito isto, acho simpático ver referências positivas a Portugal. Assim, em Veneza, ainda no vaporetto entre o aeroporto e a cidade, deparar-me com o pavilhão português da Bienale:


ou, a encher a Piazza San Marco, este anúncio:

(Venezia, Outubro 2013)

o qual seria mais interessante se não existisse aquele primeiro ponto no texto.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Schuld

Em alemão a palavra que traduz a nossa “dívida” é a mesma que diz a nossa “culpa”

António Guerreiro in Expresso
, via Domadora de Camaleões

Isto explica realmente muitas coisas.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pátios andaluzes

Há valores de que os espanhóis não prescindem: falar alto, cervejas ao fim da tarde, a siesta e os pátios andaluzes.
Bem hajam.

(Ronda, Novembro 2011)


(Cordoba, Novembro 2011)

A crise em Espanha

A taxa de desemprego em Espanha é superior a vinte por cento. E note-se que desempregado é aquele que procura emprego através de instituições públicas, porque se não o fizer chama-se inactivo e não conta para esta estatística. A bolha imobiliária é evidente, sobretudo no sul, na região de Marbella, onde, como cá, ainda mais do que cá, se construiu desalmadamente na convicção de que para tudo o que se construísse haveria compradores. Assim, há aldeias completamente descaracterizadas, às quais só restam as excursões de velhotes que vão admirar a vista e fotografar os burros.


(Mijas, Novembro 2011)

Em Novembro a marina de Puerto Banús é como a de Vilamoura: um deserto, ainda que com barcos e lojas de outro escalão, pelo que imagino que a clientela em Agosto também seja diferente.

(Puerto Banús, Novembro 2011)

No entanto não há quem lhes roube a boa disposição nem o amor pela rua. Em Cáceres o fim-de-semana medieval parecia ter atraído meia Extremadura, e dir-se-ia que ali não há quebra de natalidade.

(Caceres, Novembro 2011)

sábado, 30 de abril de 2011

Ainda?

Imagem © Patrick McDonnell para Mutts

Recebi hoje por email (recebo uma tira todos os dias) e achei que podia aplicar-se a muita gente:
  • à chamada troika FMI-FEEF- BCE;
  • ao desgoverno do sr. José Sousa;
  • a certos partidos que só aparecem em tempo de eleições;
  • aos dinossauros da política;
  • aos portugueses;
  • etc. (aceitam-se sugestões na caixa de comentários)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

E por falar em Antero

Dera-se, com efeito, durante o século XVI, uma deplorável revolução nas condições económicas da sociedade portuguesa, revolução sobretudo devida ao novo estado de coisas criadas pelas conquistas. O proprietário, o agricultor, deixam a charrua e fazem-se soldados, aventureiros: atravessam o oceano, à procura de glória, de posição mais brilhante ou mais rendosa. Atraída pelas riquezas acumuladas nos grandes centros, a população rural aflui para ali, abandona os campos, e vem aumentar nas capitais o contingente da miséria, da domesticidade ou do vício. A cultura diminui gradualmente. Com essa diminuição, e com a depreciação relativa dos metais preciosos pela afluência dos tesouros do Oriente e América, os cereais chegam a preços fabulosos. O trigo, que em 1460 valia 10 réis por alqueire, tem subido, em 1520, a 20 réis, 30 e 35! Por isso o preço nos mercados estrangeiros, nem sequer pode cobrir o custo originário: a concorrência doutras nações, que produziam mais barato, esmaga-nos. Não só deixamos de exportar, mas passamos a importar.

Antero de Quental, Causas de Decadência dos Povos Peninsulares, Lisboa, 2010, pg 37

Substitua-se as conquistas pelo turismo, a afluência dos tesouros do Oriente e América pela facilidade de crédito e pela inundação de papel-moeda, e parece-me que a actualidade deste discurso proferido em 1871, na sessão inaugural das "Conferências Democráticas", não deixa dúvidas.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Terroristas à Portuguesa

Notícia do Público:

Cimeira da Nato
Dois detidos na fronteira do Caia com armas brancas e panfletos anarquistas e anti-polícia
16.11.2010 - 13:59 Por Lusa
A GNR deteve hoje de madrugada na fronteira do Caia (Elvas) duas pessoas que tinham armas brancas e vários panfletos com mensagens anarquistas e anti-polícia, disse à Lusa fonte daquela força de segurança.
Segundo a mesma fonte, os dois cidadãos, um homem de nacionalidade espanhola e uma mulher portuguesa, foram detidos cerca das 4h45 na fronteira do Caia.
A GNR encontrou no interior do carro armas brancas, designadamente uma navalha, uma catana de 40 centímetros e um estilete, e vários panfletos com mensagens anarquistas e anti-polícia, adiantou.
(...)


Oh pr'ós perigosos terroristas, com uma navalha, um estilete e uma catana de quarenta centímetros. Oh pr'ás nossas forças de segurança a fazer notícia. Oh pr'á Europa a olhar-nos cheia de respeito:

Portugal, dizia-se há anos, é o país mais liberal da Europa! A Europa, diziam os correspondentes dos jornais provincianos, inveja a nossa sorte, e acha-a única! A Europa, diziam no Grémio os jogadores de bilhar, estuda com afinco as nossas instituições, e duvida se chegará a imitá-las! A Europa quase que não compreende a nossa fenomenal liberdade de pensamento! Somente, meus senhores, ninguém se lembrava de pensar.

Antero de Quental, Carta ao Ex.mº Senhor António José d'Ávila, Marquês d'Ávila, Presidente do Conselho de Ministros

Já então era assim. O resto da carta é uma resposta maravilhosamente bem escrita à portaria com que o marquês proibira as "Conferências Democráticas" de que Antero era promotor, portaria que Antero definiu como um acto contrário à lei e ao espírito da época, e um acto tolo. A carta acaba asssim:

(...) supondo por um momento que alguma destas coisas possa passar ao século xx, folgo de deixar aos vindouros com este escrito a certeza duma coisa: que em 1871 houve um ministro que fez uma acção má e tola, e um homem que teve a franqueza caridosa de lho dizer.

O que, diz o Paulo, é uma maneira elegantíssima de mandar o marquês à merda.

sábado, 30 de outubro de 2010

Little Portugal

Em Toronto há bairros para todos os gostos, desde a mais sofisticada Yorkville até à inevitável Chinatown e, para os nostálgicos do Portugal dos anos sessenta, o bairro português com lojas chamadas Lanalgo ou Nazaré.

A pastelaria Nova Era serve uns simpáticos pastéis de nata que são apreciados mesmo fora da comunidade portuguesa. Aí se pode igualmente comer um prego tradicional ou, se se preferir, já modificado ao gosto do Novo Mundo.




Noutra zona bem diferente, encontrei numa liquor store (no Canadá só se vendem bebidas alcoólicas em lojas especializadas) uma pequena mas boa selecção de vinhos portugueses.

(Toronto, Outubro 2010)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Oficialmente analfabeta

Notícia do Telegraph:

Cleverest women are the heaviest drinkers
Women who went to university consume more alcohol than their less-highly-educated counterparts, a major study has found.
By Roger Dobson
Published: 10:15AM BST 04 Apr 2010

(...)
The findings come from a comprehensive study carried out at the London School of Economics in which researchers tracked the lives of thousands of 39-year-old women and men, all born in the UK during the same week in 1970.
The report concludes: "The more educated women are, the more likely they are to drink alcohol on most days and to report having problems due to their drinking patterns.
(...)


Ora eu raramente bebo álcool, pelo que suponho que só não me devo remeter à minha decretada ignorância por não ter nascido no Reino Unido e na semana em questão.

Nunca percebi a relação dos ingleses com o álcool. Nós, latinos, bebemos para acompanhar a conversa enquanto eles conversam para acompanhar a bebida. Enquanto para nós hoje em dia a Quaresma é simplesmente o período entre o Carnaval e a Páscoa, para eles é o mês em que dão descanso ao fígado. Suspeito que as autoras deste estudo, Francesca Borgonovi e Maria Huerta, das duas uma: ou estavam bêbadas ou nunca foram à escola.

sábado, 11 de julho de 2009

Luvas


Não sei onde foram fabricadas estas luvas cirúrgicas, mas não me parece que se destinassem ao mercado português...




(Faro, Março 2003)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Trolls noruegueses / Norwegian trolls III


Outro exemplo de troll norueguês é o peão de Oslo que precisa de dois sinais encarnados nos semáforos para perceber que deve parar.

(Oslo, Junho 2009)

Another example of a norwegian troll is the Oslo inhabitant who needs two red traffic lights to understand he must stop.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Trolls noruegueses / Norwegian trolls II

Exemplos de trolls noruegueses:
  1. funcionários do aeroporto de Oslo que se agarram às regras quando confrontados com factos;
  2. lavadores de janelas que trabalham em dias de chuva;
  3. pais que levam bebés ao Vigeland Park em dias de chuva
  4. jovens que fumam e falam alto à porta das discotecas às três da manhã;
  5. limpadores de ruas que passam em carros barulhentos às três e meia da manhã para limpar a porcaria deixada pelos trolls anteriores

(Oslo, Junho 2009)


Examples of norwegian trolls:

  1. airport officials who cling to rules when confronted with facts;
  2. window cleaners who work in the rain;
  3. parents who take babies to Vigeland Park on rainy days;
  4. young people who smoke and talk noisily outside discos at three in the morning;
  5. street cleaners who drive their noisy cars at three thirty in the morning to clean the mess left by the previous trolls

Trolls noruegueses / Norwegian trolls I

troll
Um troll é uma figura da mitologia norueguesa: vive em cavernas, é horrendo, mau e estúpido.
É igualmente uma auto-representação dos noruegueses. Eu, que os achei simpáticos, educados, prestáveis, e até em vários casos bonitos, temo que lá no fundo tenham realmente um bocadinho de troll.

(Bergen, Junho 2009)

A troll is a character in Norse myth: it lives in caves, is heinous, evil and stupid.
It is also a norwegian self-representation. I, who found them pleasant, polite, helpful and even, in several cases, handsome, am afraid they may at the bottom be something of a troll.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sari(lhos)

Notícia do Telegraph:

Saris banned in Indian nightclubs
Nightclubs in New Delhi have banned women from wearing traditional saris and curly-toe jooti shoes because they believe revellers wearing them will lower the tone.
By Dean Nelson in New Delhi
Last Updated: 4:17PM GMT 17 Feb 2009

The ban, which also includes men wearing traditional kurta pyjamas and Gandhi-style chappal sandals, emerged yesterday when an Army officer revealed how he and his wife were denied entry to a nightclub on the outskirts of Delhi because she was wearing a sari.
(...)
According to Mr K N Umesh, manager of Black, a discotheque in the Ghaziabad suburb, women may wear saris to weddings, but not at nightclubs. They may wear salwar kameez – long baggy collarless shirts with cotton pyjama trousers, Nehru-style sherwani long-coats or any other traditional Indian clothes, but they have no place in a sophisticated nightclub.
(...)


É surrealista. As mulheres indianas vestem sari e salwar kameez, ou punjabi, em todo o lado, nas bermas da estrada, nos mercados, no Taj Mahal e em casamentos em hotéis de cinco estrelas. Acho-os lindos, e lindas as mulheres que os vestem.

(Varanasi, Novembro 2006)

sábado, 3 de janeiro de 2009

Discordia mundi

Montar um armário para guardar baldes e vassouras parece ser fácil para todos os povos cuja língua entendo menos para os franceses.

Quanto aos russos e gregos, só pelo tempo que levam a ler as instruções deve compensar pagar a alguém para fazer a montagem...

(Hoje, no Leroy Merlin da Guia)