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Reconhecimento Da Intenção Comunicativa Dominante No Texto - 1

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O Texto

Introduo
O texto, considerado como um todo organizado de sentido, a unidade bsica com que
devemos trabalhar no processo de ensino da Lngua Portuguesa, porque no texto que o usurio da
lngua exercita a sua capacidade de organizar e transmitir idias, informaes, opinies em
situaes de interao comunicativa.
Tradicionalmente, entende-se por texto um conjunto de enunciados inter-relacionados
formando um todo significativo, que depende da coerncia conceitual, da coeso seqencial entre
seus constituintes e da adequao s circunstncias e condies de uso da lngua.
O conceito de texto, sob o ponto de vista das modernas teorias lingsticas, pode ser
entendido de maneira mais abrangente. Ao ampliar esta noo, duas esferas devem ser
consideradas: a primeira mantm-se numa perspectiva ainda estritamente lingstica; a segunda se
estende para outras linguagens alm da verbal. Da podermos falar de texto verbal, texto visual,
texto verbal e visual, texto musical, texto cinematogrfico, texto pictrico, entre outros.
Encarar o texto como um produto histrico-social, relacion-lo a outros textos
armazenados na memria textual coletiva, admitir a multiplicidade de leituras por ele ensejadas
so desafios permanentes para um ensino conseqente da Lngua Portuguesa.
Nesta unidade, abordaremos o conceito de texto e as condies que permitem que um
conjunto de enunciados constitua um todo organizado de sentido, atendendo s necessidades
pragmticas da situao de interao lingstica na qual o texto foi gerado. Analisaremos textos das
diferentes disciplinas do curriculum de segundo grau Matemtica, Qumica, Fsica, Biologia,
Literatura, Histria, Filosofia e Geografia , objetivando evidenciar o que existe de comum e de
especfico em cada um deles, em funo do tipo de contedo e da inteno comunicativa
predominante.

1. Texto como unidade de sentido
Essa unidade de sentido pressupe que:
1. O significado de uma parte no autnomo, mas depende das outras partes com que se
relaciona;
2. O significado global do texto no o resultado de uma mera soma de suas partes, mas de uma
certa combinao geradora de sentidos.

1.1 Conceitos de texto:
A. Segundo Koch e Travaglia
" O texto ser entendido como uma unidade lingstica concreta, que tomada pelos usurios da
lngua, em uma situao de interao comunicativa especfica, como uma unidade de sentido e como
preenchendo uma funo comunicativa reconhecvel e reconhecida, independentemente da sua
extenso. " (Koch e Travaglia, 1989)
B. Segundo M.H. Duarte Marques
Do ponto de vista lingstico, que nos interessa nessa unidade, adotamos, como ponto de
partida, as consideraes de Marques (1990). Na sua abordagem, textos so conjuntos de unidades
dircursivas estruturadas, no apenas de acordo com padres sinttico-gramaticais, mas tambm
inter-relacionadas segundo princpios lgico-semnticos, de que a gramtica no d conta.
" As unidades discursivas inter-relacionadas de acordo com princpios lgico-semnticos constituem
textos. Textos caracterizam-se, assim, pela coerncia conceitual, pela coeso seqencial de seus
constituintes no plano do significado, pela adequao s circunstncias e condies de uso da lngua.
O conceito que normalmente temos de texto emprico. Diante de uma srie de enunciados no inter-
relacionados dentro desses princpios lgico-semnticos, numa dada situao de uso da lngua,
sabemos que no estamos diante de um texto. Para que identifiquemos como texto uma srie de
enunciados encadeados, preciso que a seqncia de enunciados forme um todo significativo,
constitua uma unidade de sentido, nas circunstncias de uso em que ocorrem.
Um texto pode ser, portanto, escrito ou falado , apresentar extenso ou durao variveis,
concretizar-se em qualquer registro , ou modalidade de uso, da lngua.
Um texto pode ser uma passagem escrita, em verso, ou em prosa, um provrbio, uma legenda de
fotografia, uma simples exclamao, a totalidade de um livro, um artigo de peridico, uma crnica, um
verbete de dicionrio, uma reportagem, um anncio. Um texto pode ser uma seqncia de atos de fala,
um dilogo, uma conversa telefnica, uma conferncia, uma aula, um simples grito, longas discusses
acerca de um tema, comentrios, informes, notcias veiculadas oralmente."
C. Segundo Fiorin e Savioli
Embora as definies de texto sejam muitas, repetimos aqui as palavras de Fiorin e Savioli
(1996), por considerar que se trata de uma definio bastante abrangente:
" Um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por um sujeito num dado
espao e num dado tempo."

2. Condies de textualidade:
Ao descrever os mecanismos de estruturao textual, Mira Mateus et alii (1983) denominam
textualidade o "conjunto de propriedades que uma manifestao da linguagem humana deve
possuir para ser um texto" e consideram esse conjunto formado das seguintes propriedades:
conectividade, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, intertextualidade, informatividade.
Conectividade a interdependncia semntica de ocorrncias textuais. Essa interdependncia
se estabelece a partir dos mecanismos de coeso e coerncia. Intertextualidade a relao
entre um texto e outros textos que constituem a experincia compartilhada pelo autor e pelo
receptor. Informatividade diz respeito seleo e apresentao das informaes que o texto
veicula.
Embora os elementos de textualidade sejam tratados e exemplificados um a um, preciso
ter em mente que cada fator depende dos demais, no podendo ser entendido de forma isolada.


2.1 Conectividade
2.1.1 Coerncia
A coerncia ou conectividade conceitual a relao que se estabelece entre as partes de
um texto, criando uma unidade de sentido. Ela o resultado da solidariedade, da continuidade do
sentido, do compromisso das partes que formam esse todo. Est, pois, ligada compreenso,
possibilidade de interpretao daquilo que se diz, escreve, ouve, v, desenha, canta, etc.
A coerncia caracteriza-se, portanto, por uma interdependncia semntica entre os
elementos constituintes de um texto. Ela o resultado de processos mentais de apropriao do real
e da configurao dos esquemas cognitivos que definem o nosso saber sobre o mundo.
Alguns estudiosos de Lingstica Textual (Koch e Travaglia, 1990) ampliam o conceito de
coerncia, considerando-a condio fundamental para a construo do texto. Apresentam a
coerncia como decorrente de fatores das mais diversas ordens: lingsticos, discursivos, cognitivos,
culturais e interacionais.
A relao entre o texto e o contexto, entendido como a unidade maior em que a unidade
menor est inserida, relevante para a depreenso das relaes de sentido que compem a
globalidade do texto. Elas devem obedecer a condies cognitivas gerais, satisfazendo aquilo que se
sabe serem as relaes lgico-semnticas entre estados de coisas, como por exemplo relaes de
ordenao temporal e espacial, relaes de causalidade e outras. Essas relaes se exteriorizam de
diversas formas, entre elas o vocabulrio, a combinao dos tempos verbais, a ordem de
apresentao do contedo, a adequao dos campos semnticos.
essencial que seja trabalhada, pedagogicamente, a noo de que a coerncia conceitual
um dos requisitos fundamentais para a construo de qualquer texto -- seja ele um texto literrio,
jornalstico, cientfico ou at mesmo uma conversao espontnea.
2.1.2 Coeso
A coeso, ou conectividade seqencial, a ligao, o nexo que se estabelece entre as
partes de um texto, mesmo que no seja aparente. Contribuem para esta ligao elementos de
natureza gramatical (como os pronomes, conjunes, preposies, categorias verbais), elementos
de natureza lexical (sinnimos, antnimos, repeties) e mecanismos sintticos (subordinao,
coordenao, ordem dos vocbulos e oraes). um dos mecanismos responsveis pela
interdependncia semntica que se instaura entre os elementos constituintes de um texto.
A coeso, , pois, uma relao semntica entre um elemento do texto e algum outro
elemento fundamental para a sua interpretao. Cada um destes recursos chamado lao ou elo
coesivo. O uso de elos coesivos d ao texto maior legibilidade, contribuindo para esclarecer os
diferentes tipos de relaes entre os elementos lingsticos que compem esse texto.
essencial que seja trabalhada, pedagogicamente, a noo de que a coeso seqencial um
dos requisitos fundamentais para a construo de qualquer texto -- seja ele um texto literrio,
jornalstico, cientfico ou at mesmo uma conversao espontnea.

2.2 Intertextualidade
Considerada por alguns autores como uma das condies para a existncia de um texto, a
intertextualidade se destaca por relacionar "um texto concreto com a memria textual coletiva, a
memria de um grupo ou de um indivduo especfico" (Mira Mateus et alii, 1983)
Trata-se da possibilidade de os textos serem criados a partir de outros textos. As obras de
carter cientfico remetem explicitamente a autores reconhecidos, garantindo, assim, a veracidade
das afirmaes. Nossas conversas so entrelaadas de aluses a inmeras consideraes
armazenadas em nossas mentes. O jornal est repleto de referncias j supostamente conhecidas
pelo leitor. A leitura de um romance, de um conto, novela, enfim, de qualquer obra literria, nos
aponta para outras obras, muitas vezes de forma implcita.
A nossa compreenso de textos (considerados aqui da forma mais abrangente) muito
depender da nossa experincia de vida, das nossas vivncias, das nossas leituras. Determinadas
obras s se revelam atravs do conhecimento de outras. Ao visitar um museu, por exemplo, o nosso
conhecimento prvio muito nos auxilia ao nos depararmos com certas obras.
A noo de intertextualidade, da presena contnua de outros textos em determinado texto,
nos leva a refletir a respeito da individualidade e da coletividade em termos de criao. Neste
sentido, Fiorin e Savioli (1996) afirmam:
" Todo texto produto de criao coletiva: a voz do seu produtor se manifesta ao lado de um coro de
outras vozes que j trataram do mesmo tema e com as quais se pe em acordo ou desacordo."
J vimos anteriormente que a citao de outros textos se faz de forma implcita ou explcita.
Mas, com que objetivo?
Um texto remete a outro para defender as idias nele contidas ou para contestar tais idias.
Assim, para se definir diante de determinado assunto, o autor do texto leva em considerao as
idias de outros "autores" e com eles dialoga no seu texto.
Ainda ressaltando a importncia da intertextualidade, remetemos s consideraes de Vigner
(1988): "Afirma-se aqui a importncia do fenmeno da intertextualidade como fator essencial
legibilidade do texto literrio, e, a nosso ver, de todos os outros textos. O texto no mais
considerado s nas suas relaes com um referente extra-textual, mas primeiro na relao
estabelecida com outros textos".

3. Texto e Pragmtica
Ao abordar o texto sob um ponto de vista pragmtico, preciso levar em conta todas as
caractersticas do processo enunciativo que o gerou -- visto como um produto de um ato discursivo,
o texto situa-se em um tempo e espao definidos, persegue uma determinada inteno e instaura
uma relao de interao entre produtor e leitor/ouvinte.
" O processo de compreenso do texto obedece a regras de interpretao pragmtica e, portanto, a
coerncia do texto no se estabelece sem levar em conta a interao e as crenas, desejos, quereres,
preferncias, normas e valores dos interlocutores." (Texto e coerncia, Koch e Travaglia, 1989)
Intencionalidade e situacionalidade so, portanto, condies que esto diretamente
relacionadas produo textual.
No processo de interao, tomam parte emissor ( com a inteno de produzir uma
comunicao coerente e coesa ) e receptor ( numa atitude de reconhecer, em uma manifestao
lingstica, o seu sentido, a sua coerncia) -- o emissor utiliza-se de meios para realizar suas
intenes comunicativas, e o receptor manifesta a sua atitude de tomar parte em um discurso,
aceitando ou rejeitando o que foi proposto.
O texto insere-se em uma determinada situao comunicativa, e inmeras so as marcas
lingsticas que garantem a sua adequao a esta situao.
" preciso, ao construir um texto, verificar o que adequado quela situao especfica: grau de
formalidade, variedade dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc. O lugar e o momento da
comunicao, bem como as imagens recprocas que os interlocutores fazem uns dos outros, os papis
que desempenham, seus pontos de vista, objetivo da comunicao, enfim, todos os dados situacionais
vo influir tanto na produo do texto como na sua compreenso." (Koch e Travaglia, 1990)
Textos aparentemente incoerentes, por exemplo, tornam-se compreensveis quando inseridos
em um contexto que os legitime. o caso de certos textos literrios, que s podem ser entendidos
dentro do universo ficcional em que se inscrevem. Textos humorsticos so altamente dependentes
do contexto situacional e, sobretudo, do contexto cultural, sem o que correm o risco de no
produzirem no leitor/ouvinte o efeito desejado.
A lngua falada, mais do que a escrita, muito dependente do contexto situacional, uma vez
que os elementos de situao so decisivos na compreenso do sentido. Isto no significa que na
lngua escrita a situao seja irrelevante. o caso, por exemplo, das sinalizaes, como placas
indicativas de direo, de silncio, de proibido fumar, tradicionalmente conhecidas como frases de
situao, porque s fazem sentido se usadas num contexto adequado.
Reiterando o que foi dito anteriormente, lembramos que o texto o resultado de um ato de
fala, no qual se produz uma mensagem, em determinado lugar e tempo, a partir de um emissor,
que d origem mensagem.


Bibliografia
1. FIORIN, J os Luiz e SAVIOLI, Francisco Plato. Para entender o texto. So Paulo, tica,1991.
2. -------------------------------------------------- Lies de texto: leitura e redao. So Paulo, tica,1996.
3. FONSECA, Fernanda I. e FONSECA, J . Pragmtica lingstica e ensino do portugus. Livraria Almedina,
Coimbra, 1977.
4. GALVES, Charlotte, ORLANDI, Eni P. e OTONI, P. (org.). O texto: escrita e leitura. Campinas, Pontes,1988.
5. KOCH, Ingedore V. e TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerncia textual. Contexto, So Paulo, 1990.
6. -----------------------------------------. Texto e coerncia. Cortez, So Paulo, 1989.
7. KOCH, Ingedore. A inter-ao pela linguagem. So Paulo, Contexto, 1997.
8. MARQUES, M.Helena Duarte. Iniciao Semntica. Rio de J aneiro, Zahar Editores, Rio de J aneiro. 1990
9. MIRA MATEUS, M.Helena et alii. Gramtica da lngua portuguesa. Coimbra, Livraria Almedina,1983.
10. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramtica e interao: uma proposta para o ensino de gramtica no primeiro
e segundo graus. So Paulo, Cortez,1966.

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