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Aplicação Textual

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Curso on-line para Oficiais RM2 (SMV) – Marinha do Brasil

Disciplina: Língua Portuguesa 1


Conteudista: Ma. Fabiana Correa Castagnaro

APLICAÇÃO TEXTUAL

Neste módulo, abordaremos os seguintes tópicos:

 O texto;
 Os sete princípios da textualidade: coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade,
situacionalidade, informatividade e intertextualidade;
 A coesão:
 Coesão sequencial (conexão e justaposição);
 Coesão gramatical (frásica, interfrásica, temporal e referencial (anáfora,
catáfora, elipse));
 Coesão lexical (reiteração e substituição (sinonímia, antonímia, hiperonímia,
hiponímia));
 A coerência (semântica, sintática, estilística, pragmática);
 Regras de coerência (repetição, progressão, não-contradição, relação);
 Língua (falada e escrita);
 Marcadores conversacionais;
 Variações de modalidade expressiva;
 A Gramática;
 Diferenças entre língua falada e língua escrita;
 Registro inadequado;
 Adequação vocabular;
 Variação linguística;
 Níveis de variação: fônico, morfológico, sintático e lexical;
 Tipos de variação: diacrônica (histórica), diafásica (situacional), diatópica
(geográfica), diastrática (social); e
 Exercícios.

O Texto
Um texto é uma unidade de sentido, por isso os elementos que o compõem (palavras,
orações, frases) devem estar harmonicamente relacionados. É preciso que o texto tenha
suficiência de dados e informatividade para que o leitor saiba interpretar as intenções do
emissor.
O texto precisa ter uma espécie de tessitura, isto é, uma rede de relações lógicas que
pode ser chamada de coesão e coerência. O texto ideal é a junção desses dois elementos.
A coesão textual é o elemento facilitador para a compreensão do texto, mas é a
coerência que lhe dá sentido. A coesão diz respeito à organização da superfície linguística, ao
encadeamento dos elementos linguísticos e, a coerência, refere-se ao conteúdo, ao
encadeamento das ideias, situações ou acontecimentos veiculados ao texto, ou seja, a coesão

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se manifesta nas relações semânticas e gramaticais entre as partes do texto, a coerência se


manifesta no plano das ideias, dos conceitos.
A autora Lucília Garcez (2001) afirma, na obra Técnicas de redação: o que é preciso
saber para bem escrever, que “um texto não é uma simples justaposição de frases corretas,
uma após a outra. Exige um entrelaçamento rigoroso das ideias que estão sendo expostas para
que o leitor não se perca e consiga interpretá-lo corretamente”. Essa afirmação vem apenas
esclarecer que um texto há coesão e coerência quando se empregam de modo adequado
conjunções, pronomes e vocabulário para que o texto possa ser interpretado e compreendido
com clareza e concisão.
Pode-se dizer ainda que, ao escrever um texto, o emissor tenha capacidade de
relacionar argumentos e organizar as ideias de forma a extrair conclusões apropriadas, além
de estruturá-lo sintática e semanticamente, conforme a norma-padrão.
As peculiaridades básicas do texto são:
a) Pragmáticas – intenções do produtor; jogo de imagens mentais que cada um dos
interlocutores faz de si, do outro e do outro em relação a si mesmo, ao tema do discurso;
espaço de perceptibilidade visual e acústica comum na comunicação face a face (o que é
pertinente em uma situação pode não sê-lo em outra); contexto sociocultural em que se insere
o discurso, pois é o elemento condicionante do sentido do texto. O aspecto pragmático refere-
se ao seu funcionamento enquanto atuação informacional e comunicativa;
b) Unidade semântica – o texto é um todo significativo (coerência); uma ocorrência
linguística para ser texto precisa ser entendida pelo receptor como um todo de significação; e
c) Unidade formal – os constituintes do texto devem se mostrar reconhecivelmente
integrados de modo a permitir que ele seja percebido como um todo coeso (coesão).

A Textualidade
A textualidade é o conjunto de características que faz com que um texto seja um
texto, e não apenas uma sequência de frases. Em 1983, Beaugrande e Dressler selecionaram
sete características que podem ser encontradas no texto: coesão, coerência, intencionalidade,
aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade.
Os princípios de coerência e coesão são vistos como “unidade de sentido do texto”
(o texto precisa ser entendido pelo receptor como um todo de significação; os elementos do
texto se relacionam para formar uma ideia global) e “ligação das ideias do texto” (as palavras

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que compõem um texto estão inter-relacionadas), respectivamente.A coesão e a coerência são


os principais formadores da textura, ou seja, da qualidade do texto.
Os fatores pragmáticos da textualidade incluem o emissor1 (intencionalidade), que se
empenha em construir um discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem
em mente numa situação sociocomunicativa. Devemos entender que cada texto que
elaboramos, cada gráfico, cada imagem, cada som tem uma finalidade, tem um objetivo a ser
alcançado em relação ao seu receptor2. Quando contamos um caso, temos a intenção
comunicativa de informar, fazer rir, impressionar, etc. Assim, qualquer texto tem uma
intenção comunicativa, um objetivo na comunicação.
A intenção e direção da mensagem é que vai levar à dedução da interpretação da
mensagem determinando sua função (CHALHUB, 2002). As diversas funções raramente
surgem sozinhas num mesmo discurso ─ escrito ou falado ─ sendo que é preciso distinguir a
função predominante para se perceber a função de um discurso.
Segundo Roman Jakobson (2008, apud SANTEEA & TEMER, 2011, p. 80-81), as
funções da linguagem são seis e categorizam as diversas finalidades com que a linguagem
pode ser usada. Vejamos abaixo as funções da linguagem:
1) Função expressiva (ou emotiva): Centraliza-se no emissor, revelando sua
opinião, sua emoção, a sua impressão sobre algo. É um discurso marcado pela subjetividade,
faz uso de adjetivação, interjeições, frases exclamativas e repetições. É comum o uso da
primeira pessoa do singular. Ex.: as cartas de amor, biografias, memórias e poesia lírica.
2) Função informativa (ou referencial/denotativa): Centraliza-se no referente3,
sendo um discurso marcado pela objetividade, neutralidade e imparcialidade, faz uso de pouca
adjetivação e de frases claras do tipo declarativas (também é comum o uso da terceira pessoa
─ ele, elas). Ex.: as notícias jornalísticas e as informações técnicas e científicas.
3) Função apelativa (ou persuasiva/conativa): Centraliza-se no receptor. Procura
influenciar ou convencer, persuadir o receptor a fazer o que o emissor quer, utilizando
vocativos, interjeições e frases do tipo imperativo, assim como usar a segunda pessoa (tu,
vocês). Ex.: a propaganda política, sermões e publicidade.

1
O emissor é aquele que emite/codifica a mensagem.
2
O receptor é aquele que recebe/decodifica a mensagem.
3
O referente é o contexto, o conteúdo, a informação veiculada na mensagem. As atitudes e reações dos
comunicantes são também referentes e exercem influência sobre a comunicação.

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4) Função fática: Centraliza-se no canal4 de comunicação, procurando estabelecer,


prolongar ou verificar o contato. Ex.: Quando se testa um microfone ou telefone; em
saudações militares e afins.
5) Função poética (ou estética): Centraliza-se na mensagem5; as marcas que
apresenta são as palavras usadas com outros sentidos, vocabulário selecionado, rima, ritmo e
sonoridade. Ela é afetiva e metafórica. As palavras e suas combinações são valorizadas nesta
função. Ex.: provérbios, slogans, lengalengas populares e em todas as obras de arte; e
6) Função metalinguística: centraliza-se no código6, ou melhor, utiliza a linguagem
para falar dela própria, procurando definir os signos por meio de outros signos. Ex.: a poesia
que reflete sobre a poesia e o poeta; textos de teoria literária ou linguística; dicionários.
Do outro lado, está o receptor (aceitabilidade), que espera que o conjunto de
ocorrência com que se defronta seja relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimento ou a
cooperar conhecimentos com os objetivos do produtor.
Situacionalidade é o elemento responsável pela pertinência e relevância do texto
quanto ao contexto a que alude, ou seja, sua adequação à situação sociocomunicativa. Esse
fator possui papel importante, pois um texto que é coerente dentro de um contexto pode não
ser em outro. Ex.: Falar de morte no dia de um nascimento.
A intertextualidade é a relação de um texto com outros previamente existentes
produzidos. Ela pode ser: interna (quando o autor cita a si próprio) e externa (quando cita
outro(s)autor(es)). A externa subdivide-se em: explícita (direta - citação na íntegra de uma
frase, um verso, um fragmento de texto) e implícita (indireta - citação parcial, modificada).
Na intertextualidade explícita, temos a citação do texto usado como referência no
material produzido, ou seja, são fornecidos elementos que vão ajudar a identificar a presença
desse “texto base”. Ex.: Segundo Faraco (2008, p. 189), “a entrada dos linguistas
brasileiros nos debates sobre o ensino do português se deu intensamente na década de
1980”. Neste exemplo, ocorre a cópia de forma integral, idêntica ao texto de origem. Neste
caso, deve-se citar o último nome do autor, o ano de publicação da obra e o número da página
de onde o trecho foi extraído. Além disso, o autor deve destacar a citação com aspas duplas.
Esse tipo de intertextualidade pode ser usado em resenhas, anúncios publicitários, citações,
etc.

4
O canal é o meio pelo qual circula a mensagem.
5
A mensagem é a forma como ela é transmitida pelo emissor. Não é o conteúdo, mas como o emissor transmitiu
a informação.
6
O código é o conjunto de signos usados na transmissão e recepção da mensagem.

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Já a intertextualidade implícita não estabelece uma relação direta com o texto


fonte. Por isso, ela exige do leitor mais atenção e análise para entender a referência do
conteúdo. Sendo assim, ela é bastante comum em paródias, poesias, músicas, paráfrases e
textos publicitários. Ex.: Segundo Faraco (2008), os linguistas brasileiros começaram a
participar intensamente de debates sobre o ensino de Língua Portuguesa na década de
1980.Neste exemplo, ocorre a paráfrase do texto original, ou seja, o trecho é reescrito com
outras palavras, mas mantendo seu sentido. Pode-se dizer que é uma espécie de tradução
dentro da própria língua. Nesse caso, deve-se citar o último nome do autor do texto e o ano de
publicação da obra. O número da página é opcional (e raramente usado), e as aspas ou o recuo
não são usados.
A informatividade é a medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou
não, conhecidas ou não, no plano conceitual e formal. Ligada a isso, está a suficiência de
dados, pois o texto tem de apresentar todas as informações necessárias para que seja
compreendido com o sentido que o produtor deseja.
A esse conjunto de fatores que formam a situação na qual é produzido o texto,
chamamos contexto discursivo. E ao conjunto da atividade comunicativa, ou seja, o texto e o
contexto discursivo, reunidos, chamamos de discurso.
Assim, discurso é a atividade comunicativa capaz de gerar sentido entre
interlocutores. Além dos enunciados verbais, o discurso engloba outros elementos do
processo comunicativo que também participam da construção do sentido do texto.
Quando se produz um texto, ele é produzido para alguém, que é seu receptor. O texto
falado é recebido ao mesmo tempo que é elaborado. Enquanto o emissor vai construindo o
texto, o receptor vai ouvindo-o.Na escrita, é diferente, pois o texto é lido só depois de ter sido
escrito, depois de estar pronto.
Como vimos acima, a coesão e a coerência são os principais formadores da textura,
por isso, abordaremos,a seguir,alguns pontos relevantes sobre esses dois princípios.

A COESÃO
Ao lado da coerência, a coesão corresponde ao emprego de determinados elementos
da língua que garantem a textualidade, ou seja, é responsável pela boa formação de um texto,
tornando-o compreensível.
Um texto não é construído apenas com uma palavra, pois ele precisará sempre de
outras palavras. E, para tecer um texto, é preciso “amarrar” uma palavra a outra, uma oração a
outra, uma ideia a outra. Ou seja, o texto precisa ser coeso e coerente.

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A coesão pode auxiliar a coerência a se estabelecer, embora, às vezes, a coesão nem


sempre se manifeste explicitamente através de marcas linguísticas, o que faz concluir que
pode haver textos coerentes mesmo que não tenham coesão explícita.
Platão e Fiorin (1996) conceituam coesão textual como a ligação, a relação, a
conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto.
Para Suarez Abreu (1990), a coesão ou conectividade sequencial é o encadeamento
semântico que produz a textualidade (conjunto de propriedades que uma manifestação da
linguagem humana deve possuir para ser um texto). A coesão sequencial é responsável por
criar as condições para a progressão textual. Os mecanismos de coesão sequencial são
utilizados para que as partes e as informações do texto possam ser articuladas e relacionadas.
Cabe destacar que a coesão sequencial não faz referência a outro vocábulo;
apenas conecta (liga) uma ideia a outra, transmitindo a ideia de compensação. O
encadeamento dos segmentos do texto pode ser por:
A) Conexão: É um recurso coesivo diferente dos anteriores porque depende das
relações significativas estabelecidas entre orações, entre períodos ou entre parágrafos. Os
principais elementos conjuntivos são conjunções, locuções conjuntivas, advérbios, locuções
adverbiais, preposições, locuções prepositivas e itens continuativos (ex. a seguir, por
exemplo, daí, então, etc.), que estabelecem, entre orações, enunciados ou partes do texto,
diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas.
Ex.:
 Se aquecermos o ferro, (então) ele se derreterá. – (se p então q) – relação de
condicionalidade.
 O torcedor ficou rouco porque gritou demais. – (p porque q) – relação de
causalidade.
 O jovem envidou todos os esforços (meio) para conquistar o amor (fim) da garota
dos seus sonhos. – relação de mediação.
 Você vai passar o fim de semana em São Pauloou vai descer para o litoral? –
relação de disjunção (ou junção alternativa).
 Logo que o filme começou, ouviu-se um grito na plateia. – relação de
temporalidade.
 O réu agiu conforme o advogado lhe havia determinado. – relação de
conformidade.
 Sem levantar a cabeça, a criança ouvia as reprimendas da mãe. – relação de modo.

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 Tinha todos os requisitos para ser um homem feliz. Mas vivia só e deprimido. –
relação de contrajunção (ou junção contrastiva).
 Deve ter faltado energia por muito tempo, pois a geladeira está totalmente
descongelada. – relação de explicação.
 João é um indivíduo perigoso. Portanto, fique longe dele. – relação de conclusão.
 Muitos de nossos colegas estão no exterior. Pierre, por exemplo, está na França. –
relação de exemplificação.
B) Justaposição: A justaposição entre orações e períodos está, muitas vezes,
implícita, sem a interferência de conectivos. Quando o texto se organiza sem sequenciadores,
cabe ao leitor reconstruir, com base na sequência, os operadores discursivos que não estão
presentes na superfície textual. No lugar do conector, é colocado sinal de pontuação
(vírgula, ponto e vírgula, ponto, dois pontos).
Ex.: Preciso sair agora. Tenho uma reunião. (No lugar do ponto final, teríamos o
conector PORQUE, pois a segunda oração indica a causa da necessidade de sair “agora”.)

No nível microtextual, pode-se estudar a coesão gramatical (expressa através da


gramática) e lexical (expressa através do vocabulário). Vejamos o esquema abaixo:

1.1) Frásica
1) Gramatical 1.2) Interfrásica
1.3) Temporal
1.4) Referencial
MECANISMOS DE COESÃO

2.1)Reiteração
2) Lexical
2.2)Substituição

1) Na coesão gramatical, estuda-se a coesão frasal, interfrasal, temporal e


referencial.
1.1) A coesão frasal preocupa-se com a ligação entre os componentes da frase,
com base na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre
o sujeito e seus predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e
verbal. Ou seja, designa os processos de sequencialização que asseguram, a nível

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sintagmático e oracional, uma ligação significativa entre os elementos linguísticos que


ocorrem na superfície textual.
Ex.1: Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, rústicas e
sofisticadas.
Concordância nominal: substantivo praias adjetivos desertas, agitadas,
rústicas, sofisticadas.
Concordância verbal: sujeito Florianópolis verbo tem.

Ex2.: Estou fazendo um livro para a editora, que me ocupa o dia todo.
Quanto à ordem dos vocábulos na oração, os deslocamentos de vocábulos ou
expressões dentro da oração podem levar a diferentes interpretações de um mesmo enunciado.
A posição em que foi colocada a vírgula causa ambiguidade, pois “que me ocupa o dia todo”
tanto pode se referir ao livro como à editora. Para deixar claro um ou outro sentido, é preciso
alterar a ordem dos vocábulos. Para evitar a ambiguidade, podemos reescrever de duas
maneiras: Estou fazendo um livro para a editora que me ocupa o dia todo./ Estou fazendo um
livro que me ocupa o dia todo para a editora.

Ex.3: A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas de samba.


Em relação à regência verbal, a coesão pode ficar prejudicada se não forem
tomados alguns cuidados. Há verbos que mudam de sentido conforme a regência, isto é,
conforme a relação que estabelecem com o seu complemento. Por exemplo, o verbo assistir é
usado com a preposição a quando significa ser espectador, estar presente, presenciar.

Ex.4: A liquidação da fábrica foi realizada no fim do inverno.


No que diz respeito à regência nominal, há também casos em que os enunciados
podem ter a mais de uma interpretação. Se dissermos A liquidação da fábrica foi realizada no
fim do inverno, podemos entender que a fábrica foi liquidada, foi vendida ou que a fábrica
promoveu uma liquidação de seus produtos. Isso acontece porque o nome liquidação está
acompanhado de outros termos (da fábrica). Dependendo do sentido que queremos dar à frase,
podemos reescrevê-la de duas maneiras: A fábrica foi liquidada no fim do inverno. / A fábrica
promoveu uma liquidação no fim do inverno.

1.2) A coesão interfrasal ou junção determina que a ocorrência dos elementos


linguísticos se processe por sequencialidade, na superfície textual. Essas relações são

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expressas pelos conectores, operadores discursivos ou por meio de pausas (ponto, ponto e
vírgula, vírgula, etc.).
Ex.1: “A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o corpanzil em forma de
arco e desaparece um instante. Sua cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água como se
fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia dura segundos, porém tão grande é a
baleia que parece um balé em câmera lenta.” Revista VEJA, n°30, julho/97.
e – liga argumentos;
então – operador que serve para dar continuidade ao texto;
como, tão ...que... – indicam uma comparação;
porém – indica uma contraposição.

Ex.2: “Na verdade, muitos habitantes de Aparecida estão entre a cruz e a caixa
registradora. Vivem a dúvida de preservar a pureza da Casa de Deus ou apoiar um
empreendimento que pode trazer benesses materiais. (...) O shopping da fé também contará
com um centro de eventos com palco giratório.” Revista VEJA, n°27, julho/97.
Na verdade – expressa uma amplificação;
ou – apresenta disjunção argumentativa, uma alternativa;
também – operador para reforçar/incluir mais um argumento apresentado.

Para Othon Garcia (2006), a ordem de colocação é indispensável à coerência, mas


não é suficiente. É preciso cuidar também da transição entre as ideias, da conexão entre elas.
É importante concatenar as palavras para se obter uma unidade de comunicação eficaz.
Em situações complexas, a presença dos conectivos e partículas de transição se torna
quase sempre indispensável para entrosar orações, períodos e parágrafos.Na lista abaixo,
elaborada por Othon Garcia (2006), há alguns desses organizadores textuais, ou melhor,
partículas de transição que exemplificam melhor o assunto.
a) Prioridade, relevância: em primeiro lugar, antes de mais nada, primeiramente,
acima de tudo, precipuamente, mormente, principalmente, primordialmente, sobretudo.
b) Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade,
simultaneidade, eventualidade): então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após,
a princípio, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por
fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, às vezes,
eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo,

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simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, enquanto isso – e as conjunções


temporais.
c) Semelhança, comparação, conformidade: igualmente, da mesma forma, assim
também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de
maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo
ponto de vista – e as conjunções comparativas.
d) Adição, continuação: além disso, ademais, outrossim, ainda mais, ainda por
cima, por outro lado, também – e as conjunções aditivas (e, nem, não só...mas também, etc.).
e) Dúvida: talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, não
é certo, se é que.
f) Certeza, ênfase: de certo, por certo, certamente, indubitavelmente, sem dúvida,
inegavelmente, com toda a certeza.
g) Surpresa, imprevisto: inesperadamente, inopinadamente, de súbito,
imprevistamente, surpreendentemente.
h) Ilustração, esclarecimento (estas partículas, ditas “explicativas”, vêm sempre
entre vírgulas, ou entre uma vírgula e dois pontos): por exemplo, isto é, quer dizer, em
outras palavras, ou por outra, a saber.
i) Propósito, intenção, finalidade: com o fim de, a fim de, com o propósito de,
propositadamente, de propósito, intencionalmente – e as conjunções finais.
j) Lugar, proximidade, distância: perto de, próximo a ou de, junto a ou de, dentro
fora, mais adiante, além, acolá – outros advérbios de lugar, algumas outras preposições, e os
pronomes demonstrativos.
k) Resumo, recapitulação, conclusão: em suma, em síntese, em conclusão, enfim,
em resumo, portanto – e as conjunções conclusivas.
l) Causa e consequência: daí, por consequência, por conseguinte, como resultado,
por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato, com efeito – e as conjunções causais,
consecutivas e explicativas.
m) Contraste, oposição, restrição, ressalva: pelo contrário, em contraste com,
salvo, exceto, menos – e as conjunções adversativas e concessivas.
n) Referência em geral: os pronomes demonstrativos “este” (o mais próximo),
“aquele” (o mais distante), “esse” (posição intermediária; o que está perto da pessoa com
quem se fala); os pronomes pessoais; repetições da mesma palavra, de um sinônimo,

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perífrase7 ou variante sua; os pronomes adjetivos último, penúltimo, antepenúltimo, anterior,


posterior; os numerais ordinais (primeiro, segundo, etc.).
1.3) A Coesão temporal preocupa-se com a ordenação dos acontecimentos. A
correlação entre os tempos verbais e a localização temporal expressa através da morfologia
verbal, de verbo auxiliar, de grupos preposicionais e adverbiais, de oração temporal são
algumas características dessa coesão. Os operadores de sequenciação podem marcar a
sequência temporal, através de
morfologia verbal: A Maria está em casa;
verbo auxiliar: A Maria vai estar em casa;
grupos preposicionais e adverbiais: A Maria está em casa agora; e
oração temporal: A Maria nasceu quando os alemães entraram em Paris.
1.4) Coesão referencial: Areferênciaou o referentediz respeito aos termos que
se relacionam a outros necessários à sua interpretação, ou seja, referência pode ser definida
como um movimento de recuperação de elementos. Tais elementos podem estar tanto dentro
(endofóricos), como fora (exofóricos) do texto. Para esta referência, são empregados os
pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos) e os demais pronomes (possessivos,
demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos), os diversos tipos de numerais,
advérbios pronominais (aqui, ali, lá, aí), artigos definidos; ou por intermédio de recursos de
natureza lexical, como sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos (coisa, pessoa, fato,
fenômeno), descrições definidas; ou, ainda, por reiteração de um mesmo grupo nominal ou
parte dele; e, finalmente, por meio de elipse.
Ex.: Fabiana chegou atrasada. Ela quase nunca faz isso.
Na segunda oração (Ela quase nunca faz isso.), há dois pronomes que se
destacam. O primeiro (Ela) retoma o nome Fabiana (referente que está na primeira oração) e
o segundo (isso) retoma o evento “chegar atrasada” (que também está na primeira oração).
1.4.1) Referência exofórica ou dêitica8 (extratextual): É quando o referente
se acha expresso fora do texto. Diz-se isso porque a remissão é feita a algum elemento que
não se encontra no texto propriamente, mas na situação comunicativa.

7
Não confunda o conceito de paráfrase(é um recurso reiterativo que propicia a clarificação de um conceito) com
o de perífrase (é o emprego de muitas palavras quando se poderia dizer a mesma coisa com poucas).
8
Em linguística pragmática, exófora é a referência a algo extralinguístico. Exóforia pode ser dêixis, em que
palavras ou marcações gramaticais são usadas para fazer referência a algo no contexto do enunciado ou do
falante. Ou melhor, dêixis designa o conjunto de palavras ou expressões (elementos dêiticos) que têm como
função “mostrar”, “apontar” para o contexto situacional de uma dada interação. Por isso, é comum dizer que a
propriedade dêitica das expressões linguísticas permite que elas “apontem” para o que está fora do texto.

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Ex1.: Você não se arrependerá de ter lido este anúncio. (O termo “você” diz
respeito a cada leitor desse enunciado, e não a algum termo do texto.)
Ex2.: Eu comprei este celular pela internet. (A forma pronominal “este”
também faz referência a algo. Neste caso, o pronome “este” indica que o item comprado pela
internet (o celular) está próximo ao enunciador (ao “eu”).
1.4.2) Referência endofórica (intratextual): É quando o referente se acha
expresso no próprio texto. Se o referente precede o item coesivo, tem-se a anáfora; se vem
após, tem-se catáfora.
a) Anáfora: É um mecanismo linguístico por meio do qual um termo
recupera outro termo (referente) que o antecedeu no texto, isto é, o referente precede o item
coesivo.
Ex.: Pedro(referente) convidou João para ir comer com ele. (ele é o item
coesivo que retoma o termo Pedro).
b) Catáfora: É um mecanismo linguístico no qual o referente aparece depois
do item coesivo. Realiza-se através de pronomes demonstrativos ou indefinidos neutros (isto,
isso, aquilo, tudo, nada) ou de nomes genéricos, mas também por meio das demais espécies
de pronomes, de numerais e de advérbios pronominais.
Ex.: O incêndio havia destruído tudo (item coesivo): casas, móveis,
plantações. (O pronome tudo aparece antes dos referentes casas, móveis e plantações que o
retomam.)
c) Coesão por elipse: Numa cadeia anafórica, o termo anafórico é
sintaticamente uma categoria vazia. Consiste na omissão de um termo recuperável pelo
contexto.
Ex.: Como estávamos com pressa, preferi não entrar.
Nessa frase, houve a omissão dos pronomes “nós” e “eu”, sujeitos,
respectivamente, de “estávamos” e “preferi”. Essa omissão não dificulta a compreensão da
frase, já que os verbos flexionados indicam as pessoas a que se referem.
Um caso especial de elipse é o zeugma, que consiste na omissão de um termo
já mencionado anteriormente.
Ex.: Vamos jogar, só nós dois? Você chuta para mim e eu para você. (=... e eu
chuto para você).

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2) Coesão lexical: As expressões que entram numa relação de coesão lexical


caracterizam-se pela co-presença de traços semânticos (total ou parcialmente) idênticos ou
opostos.
2.1) Coesão por reiteração: Consiste na repetição do mesmo item lexical, a fim
de não causar ambiguidade.
Ex.: Pedro convidou João a ir comer com ele. João entrou...

2.2) Coesão por substituição:A substituição é a colocação de um item lexical no


lugar de outro(s) ou no lugar de uma oração. A substituição deve ser feita usando termos
pertencentes a um mesmo campo significativo. Podem-se substituir substantivos, verbos,
períodos ou largas parcelas do texto por conectivos ou expressões que resumem e retomam o
que já foi dito.
Ex.: Fabiana comprou um carro e Daniela também.
A coesão por substituição pode ser também por meio de:
2.2.1) Sinonímia: Seleção de expressões linguísticas que tenham a maior parte
dos traços semânticos idênticos.
Ex.: “Depois do ciclo Romário, o Flamengo entra na era Sávio. Pelo menos é
essa a intenção do presidente Kleber Leite. O dirigente nega a intenção do clube em fazer
de seu atacante uma moeda de troca.” Jornal dos Sports, 24/08/97 (Sávio = atacante,
presidente Kleber Leite = dirigente).
2.2.2) Antonímia: Expressões linguísticas que têm traços semânticos
diferentes.
Ex.: “Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais
belas paisagens catarinenses.” JB, Caderno Viagem, 25/08/93.
João jurava à esposa que dizia a verdade, mas ela sabia que ele mentia.
2.2.3) Hiperonímia e hiponímia: A primeira expressão mantém com a
segunda uma relação de classe-elemento. Por hiponímia, designa-se o caso inverso: uma
relação de elemento-classe.
Ex.1: “Mesmo entre os instrumentos de trabalho mais corriqueiros, também
há escassez brutal, e a maioria dos assentados não dispõe nem mesmo de uma pá ou de uma
picareta. Entre eles, ainda que os sem-terra tenham escolhido a foice como um dos seus
símbolos de luta pela reforma agrária, o instrumento mais comum ainda é a velha enxada.”
Revista VEJA, n°29, julho/97.(Hiperônimo = instrumentos, hipônimos = pá, picareta, foice e
enxada.)

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Ex.2: “Entre as linhas que fomos forçados a abandonar estão vários


instrumentos de sopro (pistons, clarinetes, saxofones) e de cordas (violões, cavaquinhos).”
(http://www.sosamba.com.br)
Observe que o hiperônimo instrumentos engloba os hipônimos de sopro e de
corda. E que, por sua vez, de sopro e de corda são hiperônimos dos hipônimos “pistons,
clarinetes, saxofones” e “violões, cavaquinhos”, respectivamente.

A COERÊNCIA
No nível macrotextual, o texto precisa ser entendido pelo receptor como um todo de
significação. É preciso que o texto apresente relações lógicas, logo, chamamos de coerência.
A coerência ou conectividade conceitual é a relação que se estabelece entre as
partes de um texto, criando uma unidade de sentido. Ela está ligada à compreensão, à
possibilidade de interpretação daquilo que se diz ou escreve. É fundamental, no
estabelecimento da coerência, o nosso conhecimento de mundo. E esse conhecimento é
acumulado ao longo de nossa existência, de maneira ordenada. Se o texto houver muitas
informações novas, ele pode se tornar incoerente devido a não familiaridade do ouvinte/leitor.
Isso normalmente ocorre quando o texto é muito técnico.
É preciso que no seu desenvolvimento não se introduza nenhum elemento semântico
que contradiga um conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência anterior. As ideias
devem ser contínuas, dando “vida” ao texto.
Observe os exemplos abaixo, retirados do site da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ):
1. a) Todo mundo destrói a natureza menos eu.
b) Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo.
A frase de letra “a” é facilmente compreendida e tem coerência. Já a frase de letra
“b” apresenta problema de compreensão. Pois há uma restrição, porque o vocábulo menos
indica exclusão de uma parte do grupo, portanto, neste caso, não pode ser combinado com
todo mundo, que indica o grupo inteiro.
Essas observações mostram que a coerência de uma frase não se define apenas pelo
modo como os elementos linguísticos se combinam; depende também do conhecimento do
mundo partilhado por emissor e receptor, bem como do tipo de texto em questão.
Outro fator importante que estabelece coerência é a inferência, que é a capacidade
que temos de deduzir mensagens com base em conhecimentos prévios:

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Ex.: A – Você deixou o armário aberto!


B – Estou ao telefone.
A – Tá bom.
Quando o interlocutor A diz que “você deixou o armário aberto”, há implicitamente
uma ordem para que o interlocutor B o feche. No entanto, quando este afirma estar “ao
telefone”, indica que não poderá fechá-lo por estar ocupado. O significado deste diálogo foi
pressuposto pelo leitor, o qual utilizou a inferência para resgatar as informações da
mensagem.
Para Van Dijk e Kintsch (1983), a coerência pode ser local ou global. A primeira se
refere às partes do texto e a segunda se refere ao texto como um todo. Acontece de, em um
mesmo texto, ocorrerem partes ou passagens com problemas de incoerências, locais no caso.
Isso acaba fazendo com que o leitor não compreenda aquela passagem.
Os autores apontam alguns tipos de coerências, a saber: semântica, sintática,
estilística e pragmática.
1) Semântica: Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em
sequência; a incoerência aparece quando esses sentidos não combinam, ou quando são
contraditórios.
Ex.: Educação, problema universal que por direito todo indivíduo deve ter acesso.
A inadequação se deve ao fato de não ficar claro qual é o antecedente do pronome
que. Da maneira como foi escrita a frase, o antecedente é problema universal, e, neste caso, a
incoerência semântica está na nãocombinação entre os sentidos de ter acesso e problema. Um
problema precisa ser resolvido, solucionado, mas não ser alcançado, que é sentido de ter
acesso. É muito mais provável que o autor desta frase tenha pensado que todo indivíduo deve
ter acesso à educação, mas, da forma como ordenou as palavras, causou ambiguidade com
relação ao antecedente do que.
2) Sintática: Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência
semântica: conectivos, pronomes, etc.
Ex.: Na verdade, essa falta de leitura, de escrever, seja porque tudo já vem pronto,
mastigado para uma boa compreensão, não precisando pensar.
Há, nessa frase, vários problemas que prejudicam a sua coerência. O primeiro é o não
paralelismo entre leitura (nome) e escrever (verbo); seria desejável, por exemplo, dizer falta
de ler, de escrever, ou falta de leitura, falta de treino na escrita. Depois foi empregada a
conjunção seja, que geralmente se usa para apresentar mais de uma alternativa: seja porque
tudo já vem pronto, seja porque não há estímulo por parte dos professores; usada

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isoladamente, ela perde o seu sentido alternativo. Talvez o autor estivesse querendo dizer seja
porque tudo já vem mastigado; a elipse da conjunção na segunda expressão foi inadequada.
Percebemos, ainda, que o sujeito essa falta de leitura acabou não se juntando a nenhum
predicado, e a frase ficou fragmentada. Por último, não foi explicitado o termo que pode
preencher essa função.
3) Estilística: Esse tipo de coerência não chega a perturbar a interpretabilidade de um
texto. É uma noção relacionada à mistura de registros linguísticos. Ou seja, é desejável que
quem escreve ou lê se mantenha num estilo relativamente uniforme.
Ex.: “Teresa, se algum sujeito bancar o
Sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um
Bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredita não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA.”
(Manuel Bandeira)

O autor procede como se estivesse falando, aconselhando alguém, advertindo sobre


uma possível “cantada”. Há mistura de tratamento (tu/você), mistura de registros, pois o autor
utiliza várias expressões da língua oral, como “do tamanho de um bonde”, “se ele se rasgar
todo”, “cai fora”, ao mesmo tempo em que emprega o futuro do subjuntivo, tempo mais
comum num registro mais cuidado.
4) Pragmática: Refere-se ao texto visto como uma sequência de atos da fala. Para
haver coerência nessa sequência, é preciso que os atos da fala se realizem de forma
apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez de falar, deve conjugar o seu discurso ao do
seu ouvinte.
Ex.: A: Você pode me dizer onde fica a Rua Alice?
B: O ônibus está muito atrasado hoje.

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A resposta está desconectada do tema da pergunta, essa sequência seria considerada


incoerente.

Regras de coerência textual:


A exposição das ideias de forma lógica e coerente deve satisfazer a quatro
metarregras:
1) Repetição: Ao longo de um texto coeso, há a retomada de elementos (palavras,
frases e sequências) que exprimem fatos ou conceitos, por meio de pronomes e terminações
verbais ou ainda por palavras ou expressões equivalentes ou sinônimas que já foram citados
anteriormente.
2) Progressão: Num texto coeso, o conteúdo deve sempre progredir. Em outros
termos, devem-se acrescentar novas informações ao que já se citou. A progressão
complementa a repetição: a primeira assegura que o texto não se limite a repetir
indefinidamente o que já se disse; a segunda garante a retomada e a recuperação de elementos
passados. Procura-se equilibrar o que se disse com o que se vai dizer, buscando
acontinuidade do tema e a progressão do sentido. A progressão e a repetição ocorrem
simultaneamente: o surgimento de novas informações é acompanhado pela retomada de
elementos já citados anteriormente.
Ex.: “Um homem de grandes artes tinha na sua companhia um sobrinho que
lheguardava a casa enquanto ele dormia. De uma vez, [-] deu-lhe duas chaves e [-]
recomendou:
– Estas chaves são daquelas duas portas. Não as abra por nada deste mundo,
senão morres.
O rapaz, assim que [-] se viu sozinho [-] não se lembrou mais da ameaça e [-]
abriu uma das portas.”(O aprendiz de feiticeiro – Contos populares portugueses)
3) Não-contradição: Num texto coerente, não devem surgir elementos que levem à
contradição informações já fornecidas. Deve-se evitar que o texto destrua a si mesmo. Isso
pode ocorrer quando se toma como verdadeiro o que é falso ou vice-versa.
Ex.: “Foi com Gil Vicente que nasceu o teatro em Portugal. As manifestações teatrais
anteriores a este autor, de caráter religioso e profano, dirigidas ao povo ou à corte, eram
rudimentares.”

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Esse texto é contraditório, porque se afirma que Gil Vicente é o pai do teatro em
Portugal e, em seguida, é citada uma característica das manifestações teatrais anteriores à
época do autor.
4) Relação: Fatos e conceitos devem estar relacionados para que se torne coerente
um texto. Para tanto, é preciso organizá-los num esquema, antes de escrever. Ou seja, essa
relação se refere à maneira como os argumentos se organizam e se entrelaçam. Por isso é que,
em um texto, uma expressão vai dando acesso a outra ou a outras seguintes, de forma que
tudo vai constituindo uma cadeia, um todo, de fato, interligado.
Assim, se tivermos as três frases seguintes:
1 - A Fabiana foi estudar.
2 - A Fabiana vai fazer um exame.
3 - O circuito de Interlagos agradou aos pilotos de Fórmula 1.
A sequência formada por 1+2 surge-nos, desde logo, como sendo mais congruente do
que as sequências 1+3 ou 2+3. Nos discursos naturais, as relações de relevância factual são,
na maior parte dos casos, manifestadas por conectores que as explicitam semanticamente.
Ex.: A Fabiana foi estudar porque vai fazer um exame.
Ou também: A Fabiana vai fazer um exame, portanto foi estudar.
A impossibilidade de ligar duas frases por meio de conectores constitui um bom teste
para descobrir uma incongruência.
Ex.: A Fabiana foi estudar, logo o circuito de Interlagos agradou aos pilotos de
Fórmula 1.
Esses quatro itens podem ajudar a avaliar o grau de coesão dos textos. A
configuração final do texto depende ainda de outros fatores, como do canal de comunicação,
do perfil do receptor e das finalidades pretendidas pelo emissor.
Agora, encerraremos a parte de Linguística Textual e iniciaremos os estudos de
Linguística e Sociolinguística Variacionista.

Língua
Para Ferdinand Saussure9, a língua é a “parte social da linguagem”, exterior ao
indivíduo; não pode ser modificada pelo falante. Ela é um aspecto da linguagem. Trata-se de
um sistema de natureza gramatical, pertencente a um grupo de indivíduos, formado por um

9
Ferdinand de Saussure foi um linguista e filósofo suíço, cujas elaborações teóricas propiciaram o
desenvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma. Seu pensamento exerceu grande influência sobre o
campo da teoria da literatura e dos estudos culturais. Fonte: Wikipedia.

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conjunto de sinais (as palavras) e de regras. É, portanto, uma instituição social de caráter
abstrato, que somente se concretiza através da fala, que é um ato individual de vontade e
inteligência.
O caráter social da língua é facilmente percebido, pois ela existe antes mesmo de nós
nascermos: cada um de nós já encontra a língua formada e em funcionamento, pronta para ser
usada.A língua é nosso principal veículo de comunicação e necessária a nossa existência,
além de ser o veículo através do qual toda a cultura se consolida, se intercambia e se
transmite.É um símbolo de identidade cultural de um povo e uma forma cognitiva, com a qual
podemos expressar nossos sentimentos, ideias, ações e representar o mundo.
As línguas variam e alteram-se, mudam. Apresentam variações geográficas
(diatópicas) no espaço e se transformam com o tempo (diacrônicas).
Ex.:
1) diatópica - variação lexical: tangerina, bergamota, mexerica (varia conforme o
lugar).
2) diacrônica: Vossa Mercê > Vosmecê>Você>Ocê>Cê (variação do termo “você”
– da forma mais antiga para a mais atual).

Língua Falada
A fala é o lado privado e individual da linguagem humana.
A língua falada é a verdadeira língua natural, é a língua que cada pessoa aprende
com sua mãe, seu pai, seus irmãos, sua tribo, seus grupos sociais, etc.
Ela é a língua viva,está em constante transformação, ou seja, ela não tem regras, é
“relaxada”, não tem compromisso com a gramática ou com qualquer outra afirmação
preconceituosa e anticientífica desse gênero.
Os níveis de fala também são chamados de níveis de linguagem. Vejamos abaixo:
a) Nível coloquial-popular: É o que a maioria das pessoas utiliza em seu dia a dia,
sobretudo nas situações informais. É caracterizado pela espontaneidade. Nesse caso, o falante
não está preocupado com o que é “certo” ou “errado”, segundo as regras ditadas pela
comunidade;
b) Nível formal-culto: Como o próprio nome indica, é o nível de fala utilizado pelas
pessoas escolarizadas em situações formais. Caracteriza-se por um cuidado maior com o
vocabulário e com as regras de utilização da língua ditadas pela comunidade. É o nível

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utilizado pelos órgãos oficiais e pela maioria dos órgãos de comunicação escrita (jornais e
revistas);
c) Nível técnico ou profissional:Trata-se do jargão, ou seja, da linguagem
específica de alguns grupos profissionais como os economistas, advogados, analistas de
sistemas, médicos, etc.;e
d) Nível artístico ou literário:Ocorre quando se utiliza a língua com finalidade
expressiva, ou seja, não apenas como veículo de comunicação, mas com função estética,
visando emocionar o receptor. É a matéria-prima dos artesãos da língua, poetas, romancistas,
contistas, etc.

Marcadores Conversacionais
Os marcadores conversacionais são elementos que, mesmo não pertencendo ao
conteúdo cognitivo do texto, ajudam a construir e dar coesão e coerência ao texto falado. Eles
funcionam como articuladores não só das unidades cognitivo-informacionais do texto como
também dos seus interlocutores, relevando e marcando, de uma forma ou de outra, as
condições de produção do texto, naquilo que ela, a produção, representa de interacional e
pragmático.
São inúmeros os procedimentos e as expressões que fazem parte apenas da
linguagem oral, como processos de reformulação, repetições, hesitações, paráfrases, uso de
marcadores conversacionais, como: né?, tá?, sabe?, então, né.., aí..., é..., arran..., quer dizer.
Por não se enquadrarem nos critérios de classificação das dez classes de palavras
descritas na Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), alguns desses elementos receberam a
classificação de “palavras denotativas”, “partículas expletivas”, “partículas de realce”.

Variações de Modalidade Expressiva


Os níveis de linguagem, mencionados no ponto anterior, existem em duas variantes:
a língua falada e a língua escrita; que são, em si, variações de modalidade expressiva. No
entanto, esses tipos de variações são, talvez, mais observados ao nível das linguagens
especiais: gíria, calão, regionalismos e linguagem técnico-científica.
A gíria é uma variante da língua padrão utilizada por indivíduos de um grupo social
ou profissional em circunstâncias especiais. Cada grupo distinto tem sua própria gíria, daí
encontramos vários tipos delas: a dos malandros, a dos jovens, a dos surfistas, a do futebol.

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A gíria de certos grupos profissionais é chamada de jargão. Nesse caso, ela visa à
precisão técnica e, normalmente, aparece também na forma escrita em publicações
especializadas. A gíria foi criada para algumas finalidades: mostrar-se diferente dos demais
grupos (jovens, surfistas, etc.), impedir que pessoas de outro grupo entendam o sentido das
mensagens (gíria dos malandros e presidiários).
O calão diz respeito a um tipo de linguagem comum nas classes mais baixas, sendo
conhecida como uma "línguade rua" (português de rua, inglês de rua, francês de rua, etc.).
Os regionalismos estão intimamente ligados à variação diatópica (geográfica), sendo
vocábulos e expressões características de uma dada região.
A linguagem técnico-científica diz respeito a um discurso que faz uso de um
vocabulário específico e rigoroso usado por certa ciência ou técnica para descrever situações
que lhes digam respeito.

Língua Escrita
A escrita representa um estágio posterior de uma língua, ou seja, ela será sempre
secundária. No entanto, muitas pessoas utilizam a língua sem saber utilizar a forma escrita,
como por exemplo, os analfabetos. Há, ainda, muitas línguas ágrafas, isto é, línguas que não
são representadas por nenhuma forma de escrita. Existem, no mundo, aproximadamente três
mil línguas, das quais apenas 110 possuem escrita.
Haja vista que a língua escrita conserva o patrimônio científico, cultural, intelectual
de um povo, transmitindo-o de uma geração para a outra.Escrita é, pois, todo sistema gráfico
de notação da linguagem verbal, ou seja, toda representação de palavras ou ideias por meio de
símbolos gráficos.

A Gramática
O termo Gramáticaé o conjunto sistemático de regras de combinação das palavras
de uma língua, ou seja, o conjunto de regras, internalizadas pelos falantes desde tenra idade,
que lhes permite construir e decodificar frases possuidoras de sentido. Na verdade, esse
conjunto de regras internalizadas permite criar não somente frases, mas também textos
complexos, uma vez que as frases se combinam em unidades maiores (o texto ou discurso
linguístico), através de elementos como a argumentação, a coesão, a coerência, etc.

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Da observação das regularidades existentes na língua, o falante vai construindo sua


própria gramática. O conhecimento da gramática internalizada é, portanto, independente da
escolarização.
As frases construídas, segundo essas regras internalizadas pelos falantes, são
chamadas de gramaticais e de agramaticais àquelas que não obedecem a tais regras.
Por exemplo: Fazem dois anos que ele saiu.
Assisti o jogo.
Me disseram a verdade.
Essas frases devem ser julgadas gramaticais, embora não aceitas pela gramática
normativa, que costuma chamá-las de gramaticalmente incorretas. Segundo essa gramática, as
formas corretas deveriam ser:
Faz dois anos que ele saiu.
Assisti ao jogo.
Disseram-me a verdade.
Já uma frase como: “Nos aquele engordou homem meses muito últimos” é
agramatical, porque as palavras, por não estarem combinadas segundo as regras gramaticais
intrínsecas da língua, geram uma frase incapaz de ser entendida pelo falante. Se a combinação
fosse: “Aquele homem engordou muito nos últimos meses”, teríamos evidentemente uma
frase gramatical, pois a combinação dos elementos que a constituem se fez em consonância
com a gramática internalizada da língua.
A Gramática (normativa) é um sistema estruturado de uma língua: fonologia,
morfologia, léxico, sintaxe e semântica; descrito por um linguista, além de ser um compêndio
que contém regras a serem observadas no falar e no escrever.
A norma gramatical não é intrínseca à língua, portanto não é natural. Essa norma é
ditada de fora para dentro. É um uso que se quer impor aos demais. Num sentido amplo, a
gramática deveria se preocupar com as leis naturais que regulam a língua, ou seja, com
aquelas regras intrínsecas que nos permitem usá-la com finalidade comunicativa.
Relembramos que essas leis naturais não são aprendidas na escola: todo falante de uma língua
já as conhece desde tenra idade, embora não saiba explicá-las. São essas leis naturais (regras
intrínsecas) que nos permitem construir e decodificar enunciados significativos.

As diferenças entre a língua falada e a língua escrita

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Há diferenças entre a língua falada e a língua escrita. Na língua falada, há entre


falante e ouvinte um intercâmbio direto, o que não ocorre com a língua escrita, na qual a
comunicação se faz geralmente na ausência de um dos participantes; na fala, as marcas de
planejamento do texto oral é pontilhado de pausas, interrupções, retomadas, correções, etc.
Isso não se observa na escrita, porque o texto apresenta-se acabado, houve um tempo para a
sua elaboração. É bom lembrar ainda que não se deve associar língua falada à informalidade,
nem língua escrita à formalidade, porque tanto em uma quanto em outra modalidade se
verificam diferentes graus de formalidade. Podem existir textos muito formais na língua
falada (ex. palestras) e textos completamente informais na língua escrita (ex. mensagens de
WhatsApp).

Norma-padrão e Variedades Linguísticas


A gramática normativa, procurando estabelecer, entre vários, um determinado uso,
que se convencionou denominar de padrão ou culto, não nos mostra a língua como ela é, mas
sim como deveria ser. Norma, portanto, é um conjunto de regras que impõem um padrão de
linguagem a ser seguido pelos falantes.
Dado o caráter estático da norma e o caráter dinâmico da fala, a distância entre
ambas é, em cada momento, maior. A fala, por ser a realização concreta da língua,
representando sua diversidade, evolui a cada instante, acompanhando a evolução da sociedade
que a criou. A transformação de uma língua opera-se pelo constante contato com outras
línguas ou mesmo com as suas variantes regionais e sociais. E esse processo é inevitável,
porque nenhum povo vive isolado. Do contato com outras línguas, surgem os empréstimos.
Quando a fonte do contato é de origem interna, ou seja, entre variedades regionais ou sociais
de uma mesma língua, dizemos que ocorreram transferências.
Somente as línguas mortas não se alteram. A norma, por representar um uso pretérito
consagrado, é estática. O fato de a fala se alterar constantemente e a norma quase não se
alterar acaba por determinar que aquilo que se estabelece como norma está cada vez mais
distante daquilo que se fala. Ademais, é importante observar que a norma, por estar baseada
na produção literária, distancia-se do uso, uma vez que, dentre os usuários da língua, uma
minoria é produtora de textos literários.
Toda língua, qualquer língua, em qualquer momento histórico, em qualquer lugar do
mundo, nunca será compacta, uniforme. A principal característica das línguas humanas é sua
heterogeneidade.

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Se empreendermos uma grande viagem pelo Brasil, de Norte a Sul e de Leste a


Oeste, recolhendo os modos de falar das pessoas de todas as regiões, de todos os estados, das
principais cidades, da zona rural, etc., vamos perceber que existem diferenças nesses modos
de falar, diferenças que podem ser fonéticas, sintáticas, morfológicas, lexicais, semânticas,
pragmáticas, etc. Há muita semelhança, também, mas são as diferenças que chamam mais a
atenção e que permitem classificar esses variados modos de falar. Quando
conseguimosidentificar os traços característicos de um determinado modo de falar a língua,
podemos chamá-lo de variedade.
A variedade falada apresenta diferenças que correspondem às diferenças que existem
entre as pessoas, vejamos abaixo os fatores que influenciam para que ocorram a variação e a
mudança linguística:
1) A região onde nasceu: variação regional – vogais pretônicas abertas em algumas
cidades, o “S” chiado do carioca e o “S” sibilado do mineiro;
2) O status socioeconômico: variação social – o meio social em que o indivíduo foi
criado e em que vive. No Brasil, a distribuição de renda é muito desigual. As diferenças de
status socioeconômico representam desigualdades na distribuição de bens materiais e de bens
culturais;
3) O grau de escolarização: os anos de escolarização de um indivíduo e a qualidade
das escolas que frequentou também têm influência no seu repertório sociolinguístico;
4) O gênero (sexo): homens e mulheres falam de maneiras distintas. As mulheres
costumam usar mais diminutivos ou marcadores conversacionais (‘né?’, ‘tá?’, etc.). Já os
homens usam palavrões e gírias mais chulas em sua linguagem;
5) A faixa etária: a linguagem dos jovens é diferente da dos adultos;
6) O mercado de trabalho ou a profissão que exerce: variação profissional. Ex.:
jargão policial, linguagem médica, linguagem marinheira;
7) Momento histórico: surgimento de novos vocábulos; e
8) A rede social: cada um de nós adota comportamentos muito semelhantes ao das
pessoas com quem convivemos na nossa rede social.
Síntese de características da Norma-Padrão e Norma Não-Padrão
Norma-Padrão Norma Não-Padrão
artificial natural
adquirida transmitida
aprendida apreendida

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redundante funcional
conservadora inovadora
tradição escrita tradição oral
prestigiada estigmatizada
oficial marginal
falada pelas classes dominantes falada pelas classes dominadas
Conhecer uma língua é saber tirar dela todas as possibilidades para uma
comunicação ampla em qualquer situação. É ter consciência de que ela é
um fato social (não existe sociedade sem língua), que existe independente de
nós. Conhecer uma língua é poder tomar contato com o pensamento dos
outros, adquirindo cultura. Ernani Terra.

REGISTRO INADEQUADO
Aqui faremos uma observação quanto ao registro inadequado das palavras. Ele ocorre
quando a palavra escolhida é inadequada ao grau de formalidade exigido pela situação
comunicativa em que o texto é produzido ou ao gênero textual a que ele pertence. Pode-se
dizer que o excesso de oralidade na escrita formal não é adequado.
Exemplo: ˗ Isso não seria impedimento para Fabiana “arrumar” um trabalho ˗ disse o
médico. (Situação: O marido de Fabiana conversou com o médico dela sobre o fato de ela não
estar trabalhando por ter um filho recém-nascido.)
Nesse exemplo, verifica-se que há vocabulário informal em situação formal. Cabe
destacar que pode o contrário também acontecer.
Para evitar o uso inadequado de palavras e para ampliar o vocabulário, é
recomendável que o autor do texto/o falante faça uso abusivo de dicionário e leia bastantes
textos diversos.

ADEQUAÇÃO VOCABULAR
A adequação vocabular é o emprego de uma palavra adequada de acordo com a
necessidade do momento em que o falante se encontra. Podemos optar por dois tipos
diferentes de registros da Língua Portuguesa: a variedade padrão e a variedade popular. Cada
uma dessas variedades deve ser empregada em situações específicas de comunicação.
Vamos analisarosexemplos a seguir:

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Figura 1 (Fonte: Diário de Sorocaba. Disponível em:


<https://www.diariodesorocaba.com.br/noticia/241575>. Acesso em: 18 nov.2019).

Figura 2 (Fonte: Curso Enem Gratuito. Disponível em:


<https://cursoenemgratuito.com.br/norma-culta-e-lingua-falada/>. Acesso em:
18 nov.2019).

Na figura 1, podemos verificar que a fala do médico, ao se comunicar com o


paciente dele, está compatível com a situação em que eles se encontram. Já na figura 2, o
aluno contraria a língua padrão, ao conversar com a professora dele, não fazendo uso da
adequação linguística. Ele usou uma linguagem informal, numa situação formal.
Nas duas situações (consultório e sala de aula), não é normal que a coloquialidade
seja adotada no discurso pelos falantes. Cabe salientar que em situações que exigem um
discurso mais formal, devemos evitar gírias e outras expressões próprias da coloquialidade,
preferindo a variedade padrão.
Outro exemplo a se destacar é o conflito semântico entre as palavras: Os Estados
Unidos têm mais turistas do que o Brasil.Nesse exemplo, podemos verificar que um país não
tem nem possui os turistas que o visitam; simplesmente, recebe-os.
Então, o redator/falante deverá ter o cuidado para não usar inadequadamente as
palavras, tanto na escrita quanto na fala, ocorrendo assim maior aceitabilidade do
leitor/ouvinte do que foi escrito/falado.

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VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Fonte: Blog do Xandro. Tirinha nº5218. Disponível em:<http://blogdoxandro.blogspot.com/2013/11/tiras-n5218-


turma-do-chico-bento.html>. Acesso em: 13 nov.2019.

A partir da análise da tira acima, pode-se perceber que na fala do personagem Chico
Bento há um exemplo de variação linguística. Essa variabilidade é um processo intrínseco a
uma língua natural. A comunicação precisa ser estabelecida e, para isso, não podemos
prescindir de um sistema linguístico determinado por certas regras que visam a possibilitar a
comunicação. Contudo, o que o desenhista da tira fez pode ser compreendido como
expressividade de um determinado falar, já que ele reproduziu, para a modalidade escrita, a
variação linguística presente na modalidade oral.
Diante disso, pode-se dizer que a variação linguística é um movimentocomum e
natural de uma língua, que varia por diversos fatores que estão relacionados às vivências
particulares de cada falante, como:fatores socioeconômicos; fatores profissionais; fatores
subjetivos; fatores regionais; e fatores situacionais.
Em razão da pluralidade cultural e das condições socioeconômicas no Brasil, é
preciso refletir sobre os conceitos adotados em relação ao que é linguagem certa ou errada.
Pessoas que consideram a linguagem culta como a única aceita socialmente, muitas vezes,
poderão agir de maneira preconceituosa e intolerante, sem levar em consideração o próprio
conceito de língua, assim como o seu uso. Por isso, os linguistas afirmam que não existe certo
ou errado. O que existe é o uso da norma padrão (norma culta) ou não padrão (norma
popular).
A linguagem pode ser classificada como qualquer sistema que auxilie na efetividade
da comunicação. Portanto, devemos ter cuidado para não agirmos de forma preconceituosa
em relação à linguagem utilizada por um determinado grupo.
As variações que distinguem uma variante de outra se manifestam em quatro planos
distintos, a saber: fônico, morfológico, sintático e lexical. Vejamos a seguir esses quatro tipos
de variação:

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1) Variações fônicas: São as que ocorrem no modo de pronunciar os sons


constituintes da palavra. Exemplos:
 Deslocamento do “r” no interior da sílaba: cardeneta, estrupo, preguntar;
 Queda do “r” final dos verbos: falá, curti, vendê;
 Acréscimo de vogal no início de certas palavras: o passarinho avoa, eu não me
alembro;
 Redução de proparoxítonas a paroxítonas: porva (pólvora), pêsgo (pêssego),
Petrópis (Petrópolis);
 Pronúncia do “l” final de sílaba como “u” ou como “l” ou como “r”: faróu,
farór, farol; quintau, quintar, quintal.
2) Variações morfológicas: São as que ocorrem nas formas constituintes da
palavra. Exemplos:
 Omissão do “s” como marca plural de substantivos e adjetivos: os amigo
bonito, as obra indicada, as manhã quente;
 Uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o superlativo dos
adjetivos: um rapaz super-humano (humaníssimo), um teste hiperdifícil
(dificílimo);
 Conjugação de verbos regulares pelo modelo dos irregulares: negoceia
(negocia), vareia (varia);
 Conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regulares: ele interviu
(interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir);
 Uso do verbo no modo indicativo em vez do verbo no modo subjuntivo: Se eu
estava (estivesse) lá, eu não deixava acontecer.

3) Variações sintáticas:Ocorrem quando variam a construção frásica ou a regência


de um verbo ou a concordância, ou melhor, dizem respeito às correlações entre as palavras da
frase. Exemplos:
 Uso de pronome pessoal do caso reto com função de objeto: encontrei
ele(encontrei-o);
 Uso do pronome lhe como objeto direto: eu lhe vi de manhã (eu o vi de
manhã);
 Mistura do tratamento entre tu e você, ao conjugar os verbos no
imperativo:Fala baixo que a sua voz me ensurdece (Fala baixo que a tua
voz me ensurdece);

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 Ausência de concordância do verbo com o sujeito: As crianças chegou cedo;


 Ausência da preposição adequada antes do pronome relativo em função de
complemento verbal: Este é o melhor filme que eu assisti (a que assisti);
 Preferência da construção com gerúndio no Brasil, enquanto, em Portugal,
usam o verbo + preposição + infinitivo: Estou trabalhando (Brasil) x Estou
a trabalhar (Portugal);
 Preferência da ordem dos pronomes oblíquos inversa no começo de frases: Me
dá a bola! (Dá-me a bola!).

4) Variações lexicais:Ocorrem quando as palavras são escritas de maneira diferente,


porém possuem o mesmo significado. Exemplos:
 Uso do adjetivo maior em vez do advérbio muito para formar o grau
superlativo dos adjetivos: A viagem foi maior legal;
 Diferenças lexicais entre regiões ou países: cueca (Brasil) x calcinha
(Portugal); camisola (Brasil) x suéter (Portugal); bergamota (Rio Grande
do Sul e Santa Catarina) x mexerica/tangerina (Nordeste e Sudeste).
Designações das Variantes lexicais:
 Arcaísmo: diz respeito às palavras que já caíram de uso. Ex.: um
homem bonito era chamado de pão, algo excelente era chamado de
supimpa;
 Neologismo: diz respeito às palavras recém-criadas, muitas das quais
nem entraram no dicionário. Ex.: deletar, printar, mixar;
 Estrangeirismo: diz respeito ao emprego de palavras emprestadas de
outra língua, que ainda não foram aportuguesadas. Ex.: feeling
(“sensibilidade”), jingle (mensagem publicitária em forma de música).
 Jargão: diz respeito ao léxico típico de uma área profissional. Ex.:
AVC ou Acidente Vascular Cerebral (derrame cerebral – medicina),
jacuba (suco – militar).
 Gíria: diz respeito ao léxico de um grupo que não deseja ser entendido
por outros(as) grupos/pessoas. Ex.: ir pro brejo (fracassar), pega visão
(prestar atenção).
 Preciosismo: diz respeito ao uso do léxico erudito. Ex.: procrastinar
(adiar), discrepar (discordar).

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 Vulgarismo: diz respeito ao uso do léxico vulgar, grosseiro. Ex.: saco


cheio (aborrecido), cagar (defecar).
A seguir, estudaremos sobre as principais variações.

TIPOS DE VARIAÇÃO:
A) Diacrônica (histórica): Em razão de as línguas não serem estáticas, fixas, elas
se alteram com o passar do tempo e com o uso. A mudança na forma de falar mudam as
palavras, a grafia e o sentido delas.
Ex.: Pharmácia (forma antiga) x Farmácia (forma atual); Vossa mercê (forma
antiga) x Você (forma atual).
B) Diafásica (situacional): Ela ocorre em função do contexto comunicativo,
influenciando e determinando a maneira como as pessoas se dirigem ao interlocutor, adotando
uma linguagem formal (também chamada de "culta" e está pautada no uso correto das
normas gramaticais, bem como na boa pronúncia das palavras) ou informal (ou coloquial,
representa a linguagem cotidiana, ou seja, trata-se de uma linguagem espontânea, regionalista
e despreocupada com as normas gramaticais). Em outras palavras, é quando a mesma pessoa
altera sua maneira de falar dependendo do ambiente no qual ela se encontra (informal ou
formal).
Ex.:
Texto formal
Doutor Bruno seguiu até a esquina para encontrar o filho que chegava da escola,
enquanto Sofia, sua esposa, preparava o almoço.
Quando chegaram a casa, Bruno e seu filho encontraram Dona Sofia na cozinha
preparando uma das receitas de família, o famoso bolo de cenoura com calda de chocolate, a
qual aprendera com sua avó Maria.
Texto informal
O Doutor Bruno foi até a esquina esperá o filho que chegava da escola. Nisso, a
Sofia ficou em casa preparando o almoço.
Quando eles chegarão em casa a Sofia tava na cozinha preparando a famosa
receita da família boa pra caramba o bolo de cenoura com calda de chocolate.
Aquele que ela aprendeu cum a vó Maria.

C) Diatópica (geográfica):A variação geográfica é a mais conhecida e fácil de


identificar, é a variante de uma determinada região, chamada também de variação diatópica.

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É marcada por distinções na pronúncia das palavras, no uso de diferentes vocabulários e nas
estruturas sintáticas.
Além disso, há outro fator importante a ser verificado na variação diatópica: os casos
de contato linguístico. A proximidade geográfica facilita o intercâmbio entre os falantes e,
assim, promove o contato entre os falares de regiões distintas e, muitas vezes, até entre
culturas muito diferentes como é o caso das áreas de fronteira do Brasil.
Quando ouvimos músicas sertanejas, do interior de Minas Gerais, São Paulo ou
Goiás, ou nordestinas (ex. forró), é comum percebermos que o sotaque10 não é o mesmo que
os de outras partes do país. O mesmo acontece, por exemplo, quando ouvimos funk ou samba
carioca e os comparamos a uma música típica do Sul do Brasil. Essas diferenças na pronúncia
e no ritmo das palavras respondem pelos falares das diferentes regiões brasileiras e, ainda,
pelos falares que podem ser encontrados dentro da mesma região.
Por outro lado,podemos analisar os falares do Brasil e de Portugal. As variantes
fonético-fonológicas, lexicais, morfológicas e sintáticas entre esses falares ressaltam o quanto
o espaço geográfico impacta e marca comunidades linguísticas.
Por exemplo, podemos citar a diferença na pronúncia tanto das vogais átonas quanto
das tônicas que no Brasil são claramente pronunciadas e, em Portugal, costuma-se "eliminar"
as vogais átonas, pronunciando apenas as vogais tônicas, como em esperança > esp'rança.
Outro típico caso de variação fonética ocorre com o “s” em final de sílabas e de
palavras. Talvez, o caso mais famoso seja o do “s” chiado, comparado por muitos ao ruído de
uma panela de pressão e presente no falar carioca. Curiosamente, o “s” chiado não é
exclusividade do Rio de Janeiro e é comum também em Belém do Pará e em Florianópolis.
Além desse uso, há também o “s” sem o chiado, pronunciado em cidades do Rio Grande do
Sul e de São Paulo, por exemplo.
Ademais, na variedade não-padrão do português do Brasil, há uma simplificação da
morfologia verbal que fica reduzida a duas pessoas: a 1ª do singular e as demais à 3ª do
singular, como em: eu comoe tu/ele/nós/vós/eles come, enquanto que, em Portugal, mantém-
se uma morfologia mais variada/diversificada.
No que se refere à sintaxe, em Portugal, usam-se, com mais frequência, os pronomes
clíticos (eu o promovi), enquanto, no Brasil, é mais comum o uso do pronome pessoal
nominativo em função acusativa: eu promovi ele.
Com relação a variantes lexicais, ressaltamos as do tipo:

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Sotaque é uma maneira particular de determinado locutor pronunciar determinados fonemas em um idioma ou
grupo de palavras. Fonte: Wikipedia.

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Brasil Portugal
banheiro casa de banho
trem comboio
moça rapariga
ponto de ônibus paragem

As diferenças lexicais são, possivelmente, as que mais chamam a nossa atenção


quando viajamos para outras regiões do Brasil. Quem já comeu macaxeira ou aipim no Norte
e Nordeste e mandioca no Sudeste percebeu essa propriedade da nossa língua.

D) Diastrática (social):A variação social ou diastrática constitui um dos tipos de


variação linguística a que os falantes são submetidos. Há diferenças entre os estratos
socioculturais (nível culto, nível popular, língua padrão), ou seja, são as variações que
acontecem de um grupo social para outro. Esta variação relaciona-se a um conjunto de fatores
que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da
comunidade de fala.
Assim, é possível apontar alguns fatores relacionados às variações de natureza social:
a) classe social;
b) idade; e
c) sexo.
Exemplificando o que foi mencionado acima, podemos desdobrar a variação social
no plano fonético, como em “Craudia”, no plano lexical, por exemplo, “presunto” para
identificar “corpo de uma pessoa assassinada” e no plano sintático, como em “nós vai”,
variante de “nós vamos”.
No plano fonético, podemos comparar “demorô” com “demorou”, no plano lexical,
“caô” com “mentira”, no plano sintático a marca de concordância entre “os amigo” com “os
amigos”.
Além desses exemplos, destacamos as variantes no nível fonético-fonológico
“vamos” e “vamo” ou “cantar” e “cantá” em que a última, a princípio, era alvo de
preconceito linguístico, mas que hoje já se encontra praticamente disseminada em toda
comunidade linguística do português do Brasil. Trata-se de um fenômeno muito conhecido da
variação diacrônica, chamado “apócope”, que designa a supressão de fonema no fim da
palavra.No caso da apócope, a supressão do “s” final, além de indicar/marcar a prevalência da

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paroxítona na língua portuguesa e o consequente apagamento da sílaba átona final, o


apagamento é enfatizado pela redundância do plural como em “nós vamos” por “nós vamo”.
Apesar de a alternância já não ser alvo de muita estigmatização social, os resultados
também apontaram para a mistura, socialmente estigmatizada, da concordância com tais
variantes: “a gente vamos” e “nós vai”.
A ocorrência do tipo “a gente vamos” poderia ser interpretada como um caso de
hipercorreção, em que o falante percebe a noção de plural em “a gente” e faz a concordância
plural no verbo. Já a concordância do tipo “nós vai” poderia ser interpretada como uma
questão de economia, pelo fato de o falante já usar e perceber a marca de plural no pronome
“nós” sem que tenha que aplicá-la também ao verbo.
Do ponto de vista sociolinguístico, devemos entender as variantes lexicais, fonéticas
e sintáticas relacionadas a fatores sociais. A partir disso, entendemos que todos os usos que os
falantes fazem da língua não são caóticos, e, sim, sistemáticos, previstos pelo próprio
funcionamento da língua, que, pelo seu dinamismo, interage e sofre influências de aspectos
internos e externos ao sistema. Embora todos os usos sejam legítimos, há casos em que as
variantes lexicais, fonéticas e/ou sintáticas acabam sendo alvo de julgamentos e avaliações
qualitativas, o que gera preconceito linguístico.
Como vimos, isso resulta, na maioria das vezes, de questões sociais e econômicas
mais amplas que acabam sendo transferidas para o uso linguístico que determinados grupos
apresentam. Como a língua é cultura e identidade, é importante não assumir uma postura
preconceituosa, e, sim, descritiva e interpretativa, a fim de que possamos compreender os
fatores tanto linguísticos quanto extralinguísticos que condicionam as variações e
impulsionam as mudanças na língua.

EXERCÍCIOS

Após a leitura do texto, responda às questões de 01 a 07.

O TEXTO ESCRITO

A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muito
especial. Em geral, eles não apresentam dificuldades em se expressar através da fala
coloquial. Os problemas começam a surgir quando este aluno tem necessidade de se expressar
formalmente e se agravam no momento de produzir um texto escrito. Nesta última situação,
ele deve ter claro que há diferenças marcantes entre falar e escrever.

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Na linguagem oral, o falante tem claro com quem fala e em que contexto. O
conhecimento da situação facilita a produção oral. Nela, o interlocutor, presente fisicamente, é
ativo, tendo possibilidade de intervir, de pedir esclarecimento, ou até de mudar o curso da
conversação. O falante pode ainda recorrer a recursos que não são propriamente linguísticos,
como gestos ou expressões faciais. Na linguagem escrita, a falta destes elementos
extratextuais precisa ser suprimida pelo texto, que se deve organizar de forma a garantir a sua
inteligibilidade.
Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. O fato de um texto escrito
não ser satisfatório não significa que seu produtor tenha dificuldades quanto ao manejo da
linguagem cotidiana e sim que ele não domina os recursos específicos da modalidade escrita.
A escrita tem normas próprias, tais como regras de ortografia – que, evidentemente,
não é marcada na fala –, de pontuação, da concordância, de uso de tempos verbais. Entretanto,
a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta não garante o sucesso
de um texto escrito. Não basta saber também que escrever é diferente de falar. É necessário
preocupar-se com a constituição de um discurso, entendido aqui como um ato de linguagem
que representa uma interação entre o produtor do texto e o seu receptor; além disso, é preciso
ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para qual o texto foi produzido.
Para que esse discurso seja bem-sucedido, deve constituir um todo significativo e não
fragmentos isolados justapostos. No interior de um texto, devem existir elementos que
estabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos significativos que confiram coesão ao
discurso. Considera-se coeso o texto em que as partes referem-se mutuamente, só fazendo
sentido quando consideradas em relação umas com as outras.
Regina H. Durigan

1ª Questão
No que diz respeito ao mecanismo de coesão utilizado, a(s) palavra(s) retomada(s)NÃO
está(ão) indicada(s)corretamente na opção:
( a ) “Em geral, eles não apresentam dificuldades em se expressar através da fala coloquial.”
– os alunos.
( b ) “Nesta última situação, ele deve ter claro que há diferenças marcantes entre falar e
escrever” – este aluno.
( c ) “Entretanto, a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta não
garante o sucesso de um texto escrito.” – ortografia, pontuação, concordância, e uso de
tempos verbais.

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( d ) “O falante pode ainda recorrer a recursos que não são propriamente linguísticos, como
gestos ou expressões faciais.” – elementos extratextuais.
( e ) “Nesta última situação, ele deve ter claro que há diferenças marcantes entre falar e
escrever.” – os problemas começam a surgir.

2ª Questão
A escrita tem normas próprias, tais como regras de ortografia – que, evidentemente, não é
marcada na fala –, de pontuação, da concordância, de uso de tempos verbais. Entretanto, a
simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta não garante o sucesso
de um texto escrito. Nessa passagem, o termo sublinhado fica ERRADAMENTE substituído
por
( a ) porém.
( b ) mas.
( c ) embora.
( d ) todavia.
( e ) contudo.

3ª Questão
Assinale a alternativa que indica a ideia de adição.
(a) “Nela, o interlocutor, presente fisicamente, é ativo, tendo possibilidade de intervir, de
pedir esclarecimento, ou até de mudar o curso da conversação.”
(b) “No interior de um texto, devem existir elementos que estabeleçam uma ligação entre
as partes, isto é, elos significativos que confiram coesão ao discurso.”
(c) “Os problemas começam a surgir quando este aluno tem necessidade de se expressar
formalmente (...).”
(d) “(...) a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta não garante
o sucesso de um texto escrito.”
(e) “(...) além disso, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para
qual o texto foi produzido.”

4ª Questão
Assinale a alternativa em que há uma partícula de transição de esclarecimento.
(a) “Em geral, eles não apresentam dificuldades em se expressar através da fala
coloquial.”

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(b) “No interior de um texto, devem existir elementos que estabeleçam uma ligação entre
as partes, isto é, elos significativos que confiram coesão ao discurso.”
(c) “(...) além disso, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para
qual o texto foi produzido.”
(d) “Não basta saber também que escrever é diferente de falar.”
(e) “Nela, o interlocutor, presente fisicamente, é ativo, tendo possibilidade de intervir, de
pedir esclarecimento, ou até de mudar o curso da conversação.”

5ª Questão
Assinale a alternativa que NÃO indica ideia de sequencialidade.
(a) “Não basta saber também que escrever é diferente de falar.”
(b) “Os problemas começam a surgir quando este aluno tem necessidade de se expressar
formalmente (...).”
(c) “Nela, o interlocutor, presente fisicamente, é ativo, tendo possibilidade de intervir, de
pedir esclarecimento, ou até de mudar o curso da conversação.”
(d) “Para que esse discurso seja bem-sucedido, deve constituir um todo significativo e não
fragmentos isolados justapostos.”
(e) “(...) este aluno tem necessidade de se expressar formalmente e se agravam no
momento de produzir um texto escrito.”

6ª Questão
Assinale a alternativa em que APARECE um termo anafórico, sintaticamente, de categoria
vazia.
(a) “Para que esse discurso seja bem-sucedido, deve constituir um todo significativo e não
fragmentos isolados justapostos.”
(b) “(...) é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para qual o texto foi
produzido.”
(c) “Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos.”
(d) “A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muito
especial.”
(e) “Não basta saber também que escrever é diferente de falar.”

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7ª Questão
Em: "O fato de um texto escrito não ser satisfatório não significa que seu produtor tenha
dificuldades quanto ao manejo da linguagem cotidiana (...)". Pode-se afirmar que no trecho
em destaque HÁ UM CASO de
( a ) catáfora.
( b ) disjunção.
( c ) elipse.
( d ) retomada.
( e ) temporalidade.

8ª Questão
(FAEPESUL –Pref. Lauro Muller-SC Auxiliar Administrativo – 2016)
Observe o texto a seguir:
“Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte


Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei

(...) É preciso amor


Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir (...)”.
(Tocando em frente, de Almir Sater)

A linguagem é uma forma de sintonia com o mundo, pois através dela conseguimos nos
expressar e comunicar de diferentes formas. Como há diferentes formas, também há

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diferentes intenções e, por isso, diferentes funções. Qual função da linguagem é predominante
no texto acima?
( a ) Funçãoemotiva.
( b ) Funçãoapelativa.
( c ) Funçãometalinguística.
( d ) Funçãoreferencial.
( e ) Funçãopoética.

9ª Questão
Leia a tirinha a seguir:

Fonte: Portal da Aprendizagem. Disponível em: <http://marciasibelle.blogspot.com/2011/10/atividades-meu-


amigo-gibi_7144.html>. Acesso em: 18 nov.2019.

Em relação à variedade linguística empregada pelo personagem Zé Lelé, analise as


afirmações abaixo:
I. A língua sofre uma variação linguística em razão das
diferenças de lugar ou região.
II. Há na fala do personagem a presença do dialeto caipira,
como em “qui vô tirá”. Do ponto de vista sociolinguístico, essa fala é considerada
errada e não é aceita.
III. De acordo com a norma-padrão a fala do personagem
ficaria assim: “Sorriam, pois eu vou tirar o retrato!”.
IV. A tira perderia a expressividade com o emprego da
norma-padrão, pois não haveria compatibilidade entre o perfil do personagem e a
linguagem que ele utiliza.
Pode-se afirmar que

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(a) apenas a opção I está correta.


(b) apenas a opção II está correta.
(c) apenas as opções I, III e IV estão corretas.
(d) apenas as opções I, II e III estão corretas.
(e) nehuma opção está correta.

10ª Questão
Com relação ao texto retirado do Whatsapp, assinale a alternativa CORRETA.
Vc viu como ele xegô em cs hj? Perguntei se tava bem e ele respondeu blz!

(a) Não pode ser considerado um texto, visto que não cumpre sua função comunicativa.
(b) Mesmo por se tratar de linguagem abreviada, cumpre sua função comunicativa, mas só
deve ser utilizada em situações informais como internet, celular etc.
(c) Por ter palavras abreviadas em excesso, está contrariando totalmente as regras da
gramática, logo não é um texto.
(d) Esse tipo de escrita é valorizado em qualquer meio de comunicação formal.
(e) Essa mensagem pode ser usada em qualquer situação comunicativa.

11ª Questão
Assinale a alternativa que contém uma informação FALSA em relação ao fenômeno da
variação linguística.
( a ) A variação linguística consiste num uso diferente da língua, num outro modo de
expressão aceitável em determinados contextos.
( b ) A variedade linguística usada num texto deve estar adequada à situação de comunicação
vivenciada, ao assunto abordado, aos participantes da interação.
( c ) As línguas são heterogêneas e variáveis e, por isso, os falantes apresentam variações na
sua forma de expressão, provenientes de diferentes fatores.
( d ) O aprendizado da língua portuguesa deve estar restrito ao ensino das regras.
( e ) A variação linguísticaé um movimentocomum e natural de uma língua.

12ª Questão
Vimos que existem diferenças entre a modalidade falada e a modalidade escrita da língua.
Com base nisso, faça o que se pede a seguir:

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Coloque F para a modalidade falada e E para a modalidade escrita diante de cada uma das
especificidades.

(___) Possibilita ampla reformulação do discurso, tanto pelo codificador quanto pelo
decodificador.
(___) A formação do sentido se apoia no contexto interacional e situacional.
(___) Costuma apresentar maior seletividade lexical.
(___) Predominam frases curtas, simples ou coordenadas.
(___) Possibilita fazer revisão, a fim de operar correções.

Marque a alternativa CORRETA:


( a ) F, F, E, F, E.
( b ) E, E, F, E, F.
( c ) F, E, F, E, F.
( d ) F, E, E, F, E.
( e ) F, F, F, E, F.

13ª Questão

Com relação aos textos abaixo, assinale a alternativa CORRETA.

(1)
Fonte: Mensagem de WhatsApp.
–Vc foi pra escola ontem? Preciso copiar a matéria q perdi! Vc pode me emprestar o seu
Kadernu?!

(2)
Fonte: Falante lê a "primeira leitura" na Missa de Domingo.
–Leitura do Livro do Profeta Isaías: 4Dizei às pessoas deprimidas: "Criai ânimo, não
tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele
que vem para nos salvar". Palavra do Senhor.

( a ) O texto ( 1 ) não pode ser considerado um texto, visto que seus elementos não estão
harmonicamente relacionados.
( b ) Por ter palavras abreviadas em excesso no texto ( 1 ), o discurso pode ser considerado
incoerente e incapaz de ser aceito pelo receptor.

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( c ) Nos textos ( 1 ) e ( 2 ), verifica-se que não se deve associar língua falada à


informalidade, nem língua escrita à formalidade, porque tanto em uma quanto em outra
modalidade se verificam diferentes graus de formalidade.
( d ) O texto do falante ( 1 ) pode ser considerado conservador, natural e estigmatizado.
( e ) O texto do falante ( 2 ) pode ser considerado elaborado, não-planejado e completo.

14ª Questão
Leia atentamente os textos abaixo.
Texto 1

Fonte: Veredas da Língua. Disponível em:<http://veredasdalingua.blogspot.com/2018/06/variedades-linguisticas-12-questoes-


com.html>. Acessado em: 05 out. 2018.

Texto 2

... — Até agora, falamos das variedades geográficas: a variedade


portuguesa, a variedade brasileira, a variedade brasileira do Norte, a
variedade brasileira do Sul, a variedade carioca, a variedade
paulistana... Mas a coisa não para por aí. A língua também fica
diferente quando é falada por um homem ou por uma mulher, por uma
criança ou por um adulto, por uma pessoa alfabetizada ou por uma
não-alfabetizada, por uma pessoa de classe alta ou por uma pessoa de
classe média ou baixa, por um morador da cidade e por um morador
do campo e assim por diante. Temos então, ao lado das variedades
geográficas, outros tipos de variedades: de gênero, socioeconômicas,
etárias, de nível de instrução, urbanas, rurais, etc.
Fonte: BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 15. ed. São Paulo: Contexto, 2006, p.
20.
Texto atualizado, conforme as regras do Novo Acordo Ortográfico.

A partir da leitura dos textos apresentados, enumere as alternativas de acordo com as


informações expressas abaixo, assinalando a alternativa CORRETA.
1. Variedade geográfica.
2. Variedade socioeconômica.
3. Variedade por faixa etária.
4. Variedade por gênero.

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5. Variedade por nível de instrução.

a) ( ) Crianças e adolescentes não falam do mesmo modo como as pessoas mais velhas,
assim como as pessoas idosas não falam da mesma maneira que as pessoas de gerações
anteriores.
b) ( ) A língua varia de um lugar para o outro. Assim, a fala característica das diferentes
regiões brasileiras, dos diferentes estados ou diferentes áreas geográficas dentro de um mesmo
estado não é igual de um lugar para o outro. Outro aspecto importante é a origem rural ou
urbana das pessoas.
c) ( ) O acesso maior ou menor à educação formal e, com ele, à cultura letrada, à prática
da leitura e aos usos da escrita, é um fator muito importante na configuração dos usos
linguísticos dos diferentes indivíduos.
d) ( ) As pessoas que têm um nível de renda elevado não falam do mesmo modo das
que têm um nível de renda muito baixo, e vice-versa.
e) ( ) Homens e mulheres fazem usos distintos dos recursos que a língua oferece.

( a ) 4, 1, 5, 3, 2.
( b ) 3, 1, 5, 2, 4.
( c ) 1, 3, 2, 4, 5.
( d ) 1, 2, 3, 4, 5.
( e ) 3, 2, 4, 1, 5.

15ª Questão
Assinale a alternativa INCORRETA.
( a ) No Brasil, em que a língua portuguesa é o único idioma oficial, a língua pode sofrer
diversas alterações feitas por seus falantes. O português que é falado no Nordeste do Brasil
pode ser diferente do português falado no sul do país.
( b ) Uma língua não permanece a mesma em toda a extensão territorial. Nesse sentido, a
origem geográfica de uma falante é certamente um dos traços mais marcantes de sua
identidade.
( c ) A variação geográfica é a mais conhecida e fácil de identificar, é a variante de uma
determinada região, chamada também de variação diastrática.
( d ) A transformação de uma língua opera-se pelo constante contato com outras línguas ou
mesmo com as suas variantes regionais e sociais.

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( e ) A variação social relaciona-se a um conjunto de fatores que têm a ver com a identidade
dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade de fala.

16ª Questão
Leia o fragmento e responda o que se pede:
...Pode até ser — comenta Emília enquanto as quatro se sentam num grande
banco de madeira sob um caramanchão. — Mas ela fala tudo errado. Isso
para mim estraga qualquer sabedoria.
— Eu tive de me segurar para não rir quando ela disse aquelas coisas na
mesa — acrescenta Sílvia.
— Que coisas? — quer saber Vera.
— Ah, sei lá... agora não me lembro — responde Sílvia.
— Eu me lembro — adianta-se Emília.
— Ela disse “os probrema”, “os fósfro”, “môio ingrês”...
— É mesmo — confirma Sílvia —, e a mais engraçada foi: “percurá os
hôme”... Sílvia ri, e Emília a imita.

Fonte: BAGNO, M. A Língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2006, p.13-14.

Analise as afirmativas abaixo:


I. O fator regional NÃO contribui para que a personagem Eulália, criticada pelas demais
personagens, fale dessa forma.
II. A linguagem utilizada pela personagem criticada, Eulália, no texto adequa-se à norma-
padrão.
III. As variações linguísticas ocorridas num mesmo país NÃO contribuem para que a
língua venha sofrer diversas alterações na fala.
IV. A variação linguística consiste no fator histórico e cultural.

Pode-se afirmar que


(a) UMA alternativa está certa.
(b) UMA alternativa está errada.
(c) TRÊS alternativas estão certas.
(d) DUAS alternativas estão erradas.
(e) Todas alternativas estão erradas.

17ª Questão
Relacione os números entre parênteses, de acordo com as diferenças diatópicas abaixo:
( 1 ) Diferenças fonéticas
( 2 ) Diferenças sintáticas
( 3 ) Diferenças lexicais

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( 4 ) Diferenças semânticas
( 5 ) Diferenças no uso da língua

a) ( ) Em algumas regiões, alguns falam “tu vai”, em outras regiões é usado “você vai”.
b) ( ) Um português chama sua amiga Sílvia para jantar: “a Sílvia janta conosco?” Um
brasileiro pode não entender muito bem, pode interpretar que o convite tenha sido
feito a outra Sílvia. Por que o brasileiro não faria o convite dessa forma: “Sílvia,
você quer jantar com a gente?”.
c) ( ) Podemos encontrar variações entre o português do Brasil e o português de
Portugal. Na palavra “coração”, em Portugal, fala-se “curação”.
d) ( ) Cuecas em Portugal são as calcinhas das brasileiras. Imagine uma mulher entrar
numa loja de São Paulo e pedir cuecas para ela usar! Vai causar o maior espanto!
e) ( ) Em Portugal, o termo usado para nomear um homem do campo, do interior, é
“salaio”. No Brasil, chamamos esse homem de “caipira”. A palavra “salaio” não
faz parte do léxico brasileiro.

Assinale a opção CORRETA:


( a ) 1, 3, 5, 2, 4.
( b ) 2, 5, 1, 3, 4.
( c ) 2, 4, 3, 1, 5.
( d ) 2, 5, 1, 4, 3.
( e ) 4, 2, 1, 3, 5.

18ª Questão
(ENEM–2010)
O Flamengo começou a partida no ataque, enquanto o Botafogo procurava fazer uma forte
marcação no meio campo e tentar lançamentos para Victor Simões, isolado entre os zagueiros
rubro-negros. Mesmo com mais posse de bola, o time dirigido por Cuca tinha grande
dificuldade de chegar à área alvinegra por causa do bloqueio montado pelo Botafogo na
frente da sua área.
No entanto, na primeira chance rubro-negra, saiu o gol. Após cruzamento da direita de Ibson,
a zaga alvinegra rebateu a bola de cabeça para o meio da área. Kléberson apareceu na jogada
e cabeceou por cima do goleiro Renan. Ronaldo Angelim apareceu nas costas da defesa e
empurrou para o fundo da rede quase que em cima da linha: Flamengo 1 a 0.

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Disponível em: http://momentodofutebol.blogspot.com (adaptado)

O texto, que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de futebol, realizado em
2009, contém vários conectivos, sendo que
( a ) após é conectivo de causa, já que apresenta o motivo de a zaga alvinegra ter rebatido a
bola de cabeça.
( b ) enquanto tem um significado alternativo, porque conecta duas opções possíveis para
serem aplicadas no jogo.
( c ) no entanto tem significado de tempo, porque ordena os fatos observados no jogo em
ordem cronológica de ocorrência.
( d ) mesmo traz ideia de concessão, já que “com mais posse de bola”, ter dificuldade não é
algo naturalmente esperado.
( e ) por causa de indica consequência, porque as tentativas de ataque do Flamengo
motivaram o Botafogo a fazer um bloqueio.

19ª Questão
(CEITEC 2012 – FUNRIO – ENSINO MÉDIO – TAO-ADMINIS)

“Chega o Ano Novo, mas os nossos grandes problemas estão nos velhos hábitos situados
naquela zona malandra centrada entre o Estado (essa milionária máquina gerencial pública
com suas regras opostas ao bom-senso) e a sociedade. Nós, os cidadãos comuns que não
recebemos milionários auxílios-residência, não temos licença-prêmio ou atrasados a receber e
nem fomos eleitos para algum cargo público com o propósito de usá-lo para virarmos nobres
e, melhor que isso, ficarmos fora do alcance da lei. Nós, os comuns, não temos emprego -
temos impostos e trabalho!”
(Roberto DaMatta. O Globo. 04/01/2012)

Levando em conta as relações de coesão estabelecidas pelas palavras destacadas nas


alternativas abaixo, assinale a afirmativa INCORRETA:
( a ) “isso” refere-se, anaforicamente, ao termo “virarmos nobres”.
( b ) “(l)o” recupera, anaforicamente, o termo “cargo público”.
( c ) “nós” refere-se, cataforicamente, ao termo “cidadãos comuns”.
( d ) “que” retoma, anaforicamente, o termo “cidadãos comuns”.
( e ) “suas” remete, cataforicamente, ao termo “regras opostas”.

20ª Questão

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(Fundação Getúlio Vargas (FGV) – 2018 – Câmara de Salvador/BA – Analista Legislativo


Municipal)
Texto 2 – “A sociedade é que produz cultura. O Estado não pode produzir cultura, nem
substituir a sociedade nessa tarefa. Mas ao Estado cabe o papel de animador, de difusor
e promotor da democratização dos bens culturais.” (Celso Furtado)
“A sociedade é que produz cultura. O Estado não pode produzir cultura, nem substituir a
sociedade nessa tarefa. Mas ao Estado cabe o papel de animador, de difusor e promotor da
democratização dos bens culturais”.
Em termos de língua culta, a substituição do termo sublinhado é INADEQUADA em:
( a ) “é que produz cultura” / é que a produz;
( b ) “não pode produzir cultura” / não a pode produzir;
( c ) “nem substituir a sociedade” / nem substituí-la;
( d ) “Mas ao Estado cabe” / Mas lhe cabe;
( e ) “cabe o papel de animador” / cabe-lhe.

21ª Questão
(Fundação Getúlio Vargas (FGV) – 2018 – Câmara de Salvador/BA – Assistente Legislativo
Municipal)
Texto 2 – Violência: O valor da vida
Kalina Vanderlei Silva / Maciel Henrique Silva, Dicionário de conceitos históricos. São
Paulo: Contexto, 2006, p. 412.
A violência é um fenômeno social presente no cotidiano de todas as sociedades sob
várias formas. Em geral, ao nos referirmos à violência, estamos falando da agressão física.
Mas violência é um categoria com amplos significados. Hoje, esse termo denota, além da
agressão física, diversos tipos de imposição sobre a vida civil, como a repressão política,
familiar ou de gênero, ou a censura da fala e do pensamento de determinados indivíduos e,
ainda, o desgaste causado pelas condições de trabalho e condições econômicas. Dessa forma,
podemos definir a violência como qualquer relação de força que um indivíduo impõe a outro.
Consideremos o surgimento das desigualdades econômicas na história: a vida em sociedade
sempre foi violenta, porque, para sobreviver em ambientes hostis, o ser humano precisou
produzir violência em escala inédita no reino animal.
Por outro lado, nas sociedades complexas, a violência deixou de ser uma ferramenta
de sobrevivência e passou a ser um instrumento da organização da vida comunitária. Ou seja,
foi usada para criar uma desigualdade social sem a qual, acreditam alguns teóricos, a

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sociedade não se desenvolveria nem se complexificaria. Essa desigualdade social é o


fenômeno em que alguns indivíduos ou grupos desfrutam de bens e valores exclusivos e
negados à maioria da população de uma sociedade. Tal desigualdade aparece em condições
históricas, constituindo-se em um tipo de violência fundamental para a constituição de
civilizações.

A forma verbal “complexificaria” aparece sublinhada de vermelho no corretor de texto, o que


mostra que não é uma palavra dicionarizada; isso significa que essa palavra:
( a ) não deve ser usada.
( b ) mostra erros em sua estrutura.
( c ) deve ser um arcaísmo.
( d ) pode tratar-se de um neologismo.
( e ) representa uma variação coloquial de linguagem.

22ª Questão
(Universidade Estadual Paulista (VUNESP) – 2018 – Polícia Civil/SP (PC/SP) – Investigador
de Polícia)
Leia a tira.

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Em conformidade com a norma-padrão, os termos que preenchem as lacunas são,


respectivamente,
( a ) estes … Devem … tem
( b ) esses … Devem … têm
( c ) estes … Deve … têm
( d ) aqueles … Devem … tem
( e ) esses … Deve … tem

23ª Questão
(NUCEPE – 2014 – Prefeitura de Parnarama – MA – Fiscal de Tributos)
Vivemos o fim do futuro: O sociólogo polonês denuncia a perda de referências políticas,
culturais e morais da civilização e diz que só os jovens, com sua indignação, poderão resistir à
banalização.
Época: Os jovens podem mudar e salvar o mundo? Ou nem os jovens podem fazer algo para
salvar a história?
Bauman: Sou tudo, menos desesperançoso. Confio que os jovens possam perseguir e
consertar o estrago que os mais velhos fizeram. Como e se forem capazes de pôr isso em
prática, dependerá da imaginação e da determinação deles. Para que se deem uma
oportunidade, os jovens precisam resistir às pressões da fragmentação e recuperar a
consciência da responsabilidade compartilhada para o futuro do planeta e de seus habitantes.
Os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real.
(Trecho de uma entrevista concedida à Revista Época (nº 819, de 10 de fevereiro de 2014, p. 68-70), pelo sociólogo polonês e professor
universitário, Zygmunt Bauman. Título da entrevista: Vivemos o fim do futuro).

O texto lido acima é caracterizado como pertencente ao gênero entrevista. Considerando-se as


condições a partir das quais essa entrevista foi realizada e veiculada, pode-se afirmar que a
linguagem utilizada
( a ) é formal, mas não é adequada aos padrões de escrita.
( b ) apresenta características fundamentalmente de oralidade.
( c ) apresenta características de informalidade, essencialmente.
( d ) é inadequada para um evento da natureza que uma entrevista requer.
( e ) é formal, adequada à modalidade de escrita culta.

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24ª Questão
(CEFET BAHIA – 2019 – Metrô Recôncavo Norte – BA (MRN/BA) – Médico Especialista
em Endocrinologia)
Em seguida, aparecem as funções em que o trabalhador permanece por longos períodos na
mesma posição. A alternativa que contém o item coesivo que substitui o destacado no trecho
acima é
( a ) que.
( b ) em cujo.
( c ) em quais.
( d ) naquelas.
( e ) nas quais.
25ª Questão
(Fundação Getúlio Vargas (FGV) – 2017 – Prefeitura de Salvador/BA – Técnico de Nível
Médio II)
Em São Paulo diz-se “bexigas”, enquanto no Rio de Janeiro diz-se “balões”. Essa diferença é
um exemplo de
( a ) linguagem coloquial.
( b ) gíria.
( c ) regionalismo.
( d ) linguagem erudita.
( e ) arcaísmo.

26ª Questão
(ENEM– 2010)
Venho solicitar a clarividente atenção de Vossa Excelência para que seja conjurada uma
calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me,
senhor presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças,
atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a
mulher não poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio
fisiológico das suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe. Ao que me
dizem os jornais, no Rio de Janeiro, já estão formados nada menos de dez quadros femininos.
Em São Paulo e Belo Horizonte também já estão se constituindo outros. E, neste crescendo,
dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes
femininos de futebol: ou seja: 200 núcleos destroçados da saúde de 2,2 mil futuras mães, que,

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além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos
rudes e extravagantes.
Coluna Pênalti. Carta Capital. 28 abr. 2010

O trecho é parte de uma carta de um cidadão brasileiro, José Fuzeira, encaminhada, em abril
de 1940, ao então presidente da República Getúlio Vargas. As opções linguísticas de Fuzeira
mostram que seu texto foi elaborado em linguagem
( a ) regional, adequada à troca de informações na situação apresentada.
( b ) jurídica, exigida pelo tema relacionado ao domínio do futebol.
( c ) coloquial, considerando-se que ele era um cidadão brasileiro comum.
( d ) culta, adequando-se ao seu interlocutor e à situação de comunicação.
( e ) informal, pressupondo o grau de escolaridade de seu interlocutor.
27ª Questão
(CCV – UFC – 2016 – UFC – Auxiliar em Administração)
Os dialetos sociais são variações linguísticas definidas por critérios, tais como região
geográfica, classe social ou nível cultural do falante. O dialeto social cultoCORRESPONDE
ao que se denomina língua padrão que se caracteriza por
( a ) não se preocupar com regras gramaticais.
( b ) ser empregada por literatos e cientistas.
( c ) utilizar uma sintaxe mais simplificada.
( d ) corresponder a subpadrão linguístico.
( e ) incorporar gírias e internetês.

28ª Questão
(ENEM– 2010)
Carnavália
Repique tocou
O surdo escutou
E o meu corasamborim
Cuíca gemeu, será que era meu, quando ela passou por mim? [...]
ANTUNES, A.; BROWN, C.; MONTE, M. Tribalistas, 2002 (fragmento).

No terceiro verso, o vocábulo “corasamborim”, que é a junção coração + samba + tamborim,


refere-se, ao mesmo tempo, a elementos que compõem uma escola de samba e à situação

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emocional em que se encontra o autor da mensagem, com o coração no ritmo da percussão.


Essa palavra corresponde a um(a)
( a ) estrangeirismo, uso de elementos linguísticos originados em outras línguas e
representativos de outras culturas.
( b ) neologismo, criação de novos itens linguísticos, pelos mecanismos que o sistema da
língua disponibiliza.
( c ) gíria, que compõe uma linguagem originada em determinado grupo social e que pode
vir a se disseminar em uma comunidade mais ampla.
( d ) regionalismo, por ser palavra característica de determinada área geográfica.
( e ) termo técnico, dado que designa elemento de área específica de atividade.

29ª Questão
(ENEM–2016)

De domingo
— Outrossim?
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
—É.
— O que que tem?
—Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é óbice.
— “Ônus.
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente…

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— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás, é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer
um que usa “outrossim”.
(VERÍSSIMO. L.F. Comédias da vida privada. Porto Alegre: LP&M, 1996).

No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso
promove o(a)
( a ) marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da
semana.
( b ) tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos
formais.
( c ) caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de
palavras regionais.
( d ) distanciamento entreos interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com
significados poucos conhecidos.
( e ) inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte
de um dos interlocutores do diálogo.

30ª Questão
(ENEM–2016)

Mandinga — Era a denominação que, no período das grandes navegações, os portugueses


davam à costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de feitiçaria porque os
exploradores lusitanos consideram bruxos os africanos que ali habitavam — é que eles
davam indicações sobre a existência de ouro na região. Em idioma nativo, manding designava
terra de feiticeiros. A palavra acabou virando sinônimo de feitiço, sortilégio.
(COTRIM, M. O pulo do gato 3. São Paulo: Geração Editorial, 2009. Fragmento)

No texto, evidencia-se que a construção do significado da palavra mandinga resulta de


um(a)
( a ) contexto sócio-histórico.
( b ) diversidade técnica.
( c ) descoberta geográfica.
( d ) apropriação religiosa.
( e ) contraste cultural.

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Conteudista: Ma. Fabiana Correa Castagnaro

KOCK, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 12. ed.
São Paulo: Contexto, 2001.

_________. A coesão textual. 14. ed. São Paulo: Contexto, 2001.

_________. O texto e a construção dos sentidos. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010. p. 45-58.

Mapa da prova. Disponível em:<http://www.mapadaprova.com.br/>. Acesso em: 23 nov.


2019.

MUSSALIN, Fernanda; BENTES, Anna Cristina (orgs.). Introdução à linguística: domínios


e fronteiras. V.1. São Paulo: Cortez, 2001.

Níveis da linguagem. Disponível em: <http://www.coladaweb.com/redacao/niveis-da-


linguagem>. Acessado em: 13 nov.2019.

OLIVEIRA, Helênio Fonseca da. Ensino do léxico: o problema da adequação vocabular.


Disponível em: <http://www.pgletras.uerj.br/matraga/matraga19/matraga19a03.pdf>. Acesso
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Português – Ensino a Distância. Disponível em: <http://www.pead.letras.ufrj.br>. Acessado


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Qconcursos.com. Disponível em:<https://www.qconcursos.com>. Acesso em: 23 nov. 2019.

RAFAEL, Murilo. Variação Sintática. Disponível em:


<https://portodalinguagem.com.br/variacao-sintatica/>. Acesso em: 22 nov. 2019.

SANTEEA, N. R., e TEMER, A. C. R. P. A Linguística de Roman Jakobson: Contribuições


para o Estudo da Comunicação. UNOPAR Cient., Ciênc. Human. Educ., Londrina, v. 12, n.
1, p. 73-82, Jun. 2011.

TEIXEIRA, Ana Claudia et al. Aula 04 – Variação sociolinguística. Rio de Janeiro: CEDERJ,
2015. 24p.

_________. Aula 05 – Pesquisa da variação sociolinguística diatópica. Rio de Janeiro:


CEDERJ, 2015. 33p.

_________. Aula 06 – Pesquisa da variação sociolinguística diastrática. Rio de Janeiro:


CEDERJ, 2015. 30p.

TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo: Scipione, 1997.

VAN DIJK, T.A.; KINTSCH, W. Strategies in discourse comprehension. New York,


Academic Press, 1983.

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em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Varia%C3%A7%C3%A3o_lingu%C3%ADstica>. Acesso
em: 13 nov.2019.

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Variação linguística – o que é, tipos, características e livros indicados. Disponível em:


<https://www.figuradelinguagem.com/gramatica/variacao-linguistica/>. Acesso em: 22 nov.
2019.

VELLASCO, Ana Maria de Moraes Sarmento. A linguagem e o processo de alfabetização.


Brasília, 2001.

GABARITO EXERCÍCIOS – MÓDULO 06

QUESTÃO ALTERNATIVA COMENTÁRIO


1ª. E A expressão em destaque (Nesta última situação)
retoma ao que foi dito anteriormente, ou seja, a
dificuldade quanto à língua escrita: Os problemas
começam a surgir quando este aluno tem necessidade
de se expressar formalmente e se agravam no
momento de produzir um texto escrito.
2ª. C A conjunção “entretanto” introduz uma oração
coordenada sindética adversativa. As conjunções
porém, mas, todavia, contudo fazem a mesma relação
lógica. A única alternativa que não faz a mesma
relação que as demais é a “C”. Embora é uma
conjunção que estabelece uma relação de
subordinação, isto é, é uma conjunção subordinada
adverbial concessiva.
3ª. E a) Ou: indica ideia de alternância; b) isto é: indica
ideia de esclarecimento; c) quando: indica ideia de
tempo; d) tais: pronome demonstrativo que retoma as
regras mencionadas anteriormente; e) além disso:
indica ideia de adição, acréscimo.
4ª. B a) Em geral: partícula de transição resumitiva; b)
isto é: partícula de transição de esclarecimento; c)
além disso: partícula de transição de adição; d)
também: partícula de transição de adição; e) nela: é a
contração de uma locução prepositiva formada pela
preposição em e pelo pronome pessoal ela. Funciona
normalmente como adjunto adverbial, indicando a
circunstância de lugar; nessa alternativa, nelaretoma a
expressão “na linguagem oral”.
5ª. E Os conectivos também (adição), quando (tempo),
ou (alternância), para que (finalidade) auxiliam na

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articulação das palavras e frases dentro do texto. Eles


dão sequência às ideias. Na alternativa “e”, não
podemos dizer o mesmo, porque “este” é um pronome
demonstrativo que retoma os alunos que enfrentam
com dificuldade à produção de textos escritos.
6ª. A A única alternativa que tem um termo anafórico de
categoria vazia é a “a”. ((Ø) deve – nesse caso o termo
recuperável é “esse discurso”)
7ª. D Na alternativa D, há um caso de retomada, ou seja, a
expressão “seu produtor” retoma a expressão “um
texto escrito”.
8ª. A Como o sentimento é expresso em primeira pessoa,
notamos que há uma impressão do “eu-lírico” (quem
“canta”, quem “declama” um poema em primeira
pessoa) em relação ao tema proposto. Assim, a função
predominante é a emotiva.
9ª. C O item II está incorreto, porque, para a
sociolinguística, a fala do personagem é aceita.A
fala do personagem se refere ao dialeto caipira. Ele é
usado para descrever uma variedade da língua, e
possui uma grande carga de preconceito. Dialeto,
muitas vezes, sugere a fala informal, a fala de grupos
de classe baixa ou oriundos de área rural, como é o
caso de dialeto rural do Brasil. Portanto, o dialeto
caipira é um falar regional e é aceito na comunidade
linguística, por ser seu veículo de expressão e
comunicação.
10ª. B O exemplo da questão é um texto ecumpre sua função
comunicativa, pois mesmo com as palavras
abreviadas, o emissor e o receptor conseguem
estabelecer comunicação. Esse tipo de escrita pode ser
valorizado em qualquer meio de comunicação
informal e não pode ser usado em qualquer situação
comunicativa.
11ª. D O aprendizado da língua portuguesa não deve estar
restrito somente ao ensino de regras. A educação
linguística e a educação, de modo geral, têm de se
fazer com uma visão retrospectiva e prospectiva da
história, da cultura, da sociedade. A tarefa da
educação linguística é reconhecer o senso comum,
analisá-lo e criticá-lo no que tiver de prejudicial ao
bom convívio social e democrático. A escola, como
produtora e reprodutora de conhecimento, tem de se
enraizar na pesquisa científica e na reflexão teórica
bem fundamentada.
12ª. A Características da modalidade falada: é possível o
falante reformular o discurso; o sentido das falas se
apoia no contexto da interação e da situação
sociocomunicativa; nas falas, predominam frases
curtas, simples e coordenadas.

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Características da modalidade escrita: o autor do


texto pode selecionar as palavras que melhor se
adequam ao texto; após o texto pronto, o autor pode
revisar e corrigir o que for necessário, antes de o leitor
ter acesso.
13ª. C O texto 1 pode ser considerado um texto. Embora esse
texto tenha palavras abreviadas, ele é coerente e pode
ser aceito pelo receptor. Além disso, ele pode ser
considerado inovador, natural e estigmatizado. O
texto 2 pode ser considerado elaborado, planejado e
completo. A alternativa “c” é correta porque não
devemos, de fato, associar língua falada à
informalidade, nem língua escrita à formalidade,
porque tanto em uma quanto em outra modalidade se
verificam diferentes graus de formalidade.
14ª. B 1. Variedade geográfica: a língua varia de um lugar
paraoutro.
2. Variedade socioeconômica: as pessoas que têm um
nível de renda elevado não falam do mesmo modo das
que têm um nível de renda muito baixo, e vice-versa.
3. Variedade por faixa etária: crianças e
adolescentes não falam do mesmo modo como as
pessoas mais velhas, e vice-versa.
4. Variedade por gênero: homens e mulheres fazem
usos distintos dos recursos que a língua oferece.
5. Variedade por nível de instrução: o acesso à
escola é um fator muito importante na configuração
dos usos linguísticos dos diferentes indivíduos.
15ª. C A variação geográfica é também chamada de variação
diatópica.
16ª. A I. O fator regional contribui para que a personagem
Eulália fale dessa forma.
II. A linguagem utilizada pela personagem criticada
adequa-se à norma não padrão.
III. As variações linguísticas ocorridas num mesmo
país contribuem para que a língua venha sofrer
diversas alterações na fala.
17ª. D a) Diferenças sintáticas - no modo de organizar as
frases, as orações e as partes que as compõem: tu vai x
você vai. Mistura de tratamento entre tu e você. Em
alguns lugares, o falante prefere o uso do pronome
“tu” usado com o verbo conjugado na 3ª do singular.
Em outros, o falante prioriza o pronome de
tratamento.
b) Diferenças no uso da língua: A Sílvia janta
conosco? x Sílvia, você quer jantar com a gente? Em
Portugal, o falante pergunta ao ouvinte como se
estivesse se referindo a outra pessoa. No Brasil, o
falante faz a pergunta diretamente ao ouvinte. Nós não
temos, como os portugueses, o hábito de falar

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diretamente com alguém como se esse alguém fosse


uma terceira pessoa.
c) Diferenças fonéticas - no modo de pronunciar os
sons da língua: coração (Brasil) x curação (Portugal).
Em algumas palavras, é perceptível a diferença na
pronúncia entre uma variante e outra.
d) Diferenças semânticas– no significado das
palavras: Cuecas, em Portugal, são calcinhas (peça
íntima feminina) e cuecas, no Brasil, são cuecas de
fato (peça íntima masculina).
e) Diferenças lexicais - palavras que existem lá e
não existem cá, e vice-versa: o português chama de
saloio aquele habitante da zona rural, que no Brasil a
gente chama de caipira, capiau, matuto.
18ª. D O advérbio “mesmo” estabelece uma relação de
concessão. No trecho “Mesmo com mais posse de
bola, o time dirigido por Cuca tinha grande
dificuldade de chegar à área alvinegra”, pressupõe-se
que ter mais posse de bola deveria facilitar a chegada
à área adversária. Mas, como isso não ocorria,
emprega-se o “mesmo”, para mostrar que a posse de
bola era insuficiente para ameaçar a equipe rival.
19ª. E “Suas” retoma o termo Estado.
20ª. E Quanto ao item E, não faz sentido usar “-lhe”
(comumente usado para OI).
21ª. D Neologismo: diz respeito às palavras recém-criadas,
muitas das quais nem entraram no dicionário.
22ª. C "estes" - ideia a ser apresentada; "esse" - retoma algo
já comentado.
"Deve" - verbo auxiliar concorda com o verbo
principal, mesmo que esse esteja invariável na
presente situação.
"têm" - não perdeu acento diferencial por se tratar de
uma palavra cujo homônimo no singular pertence à
mesma classe gramatical.
23ª. E Pode-se afirmar que a linguagem usada no texto é
formal e está adequada à modalidade de escrita culta.
24ª. E  Com verbos transitivos diretos, que não pedem
preposição, deverá ser usado o pronome relativo o
qual.
 Com a preposição a: ao qual, aos quais, à qual, às
quais.
 Com a preposição em: no qual, na qual, nos quais,
nas quais.
25ª. C O regionalismo está ligado à variação diatópica
(geográfica), sendo vocábulos e expressões
características de uma dada região.
26ª. D A carta de José Fuzeira a Getúlio Vargas, então
presidente da República, foi escrita na variante culta

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da língua, empregando formas de tratamento


respeitosas e vocabulário requintado, como se espera
de uma situação de comunicação caracterizada pela
formalidade.
27ª. B O dialeto social culto corresponde à língua padrão.
Principais características: é usado para falantes cultos,
empregado em linguagem escrita científica,
acadêmica, literária e profissional. É usado por
cientistas, literatos, acadêmicos e apresenta sintaxe
mais completa; preocupa-se em obedecer a regras
gramaticais e apresenta vocabulário mais rico.
28ª. B “Corasamborim” (junção de “coração”, “samba” e
“tamborim”) é uma criação vocabular dos
enunciadores da canção, portanto um neologismo,
formado por um mecanismo previsto no sistema
linguístico: a composição por aglutinação ou, mais
especificamente, a formação de palavra-valise (refere
a uma palavra ou morfema resultante da fusão de
duas palavras, geralmente uma perdendo a parte final
e a outra perdendo a parte inicial (composição por
aglutinação)).
29ª. B O tom humorístico do texto utilizado na questão é
construído a partir do conceito de uma das variações
linguísticas: a situacional. Ela corresponde às
diferentes formas que o falante escolhe para se
comunicar, dependendo da situação de comunicação.
É a situação que determina, por exemplo, o
vocabulário a ser empregado: Com quem estamos
falando? Em que evento estamos? Em que lugar?
30ª. A A questão aborda a variação histórica da língua
portuguesa. Toda língua natural modifica-se com o
tempo: mudam o modo de falar, a maneira de
estruturar as frases, o vocabulário e, muitas vezes, o
significado das palavras.

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