Linguistica Bantu 1
Linguistica Bantu 1
Linguistica Bantu 1
EXERCÍCIO E À DISTÂNCIA
LINGUÍSTICA BANTU
MÓDULO 01
Ficha Técnica:
Consultoria :
• Rachael Elizabeth Thompson
Direcção:
• Maria da Graça Eugénio Simbine da Conceição Brás - Directora do IAP
Coordenação:
• Luís João Tumbo - Chefe do Departamento Pedagógico do IAP
Digitação:
• Fátima Nhantumbo
• Filomena Paulino Uamusse
• Hermínio Banze
Ilustração:
• Bié Artes
Maquetização:
• Hermínio Banze
• Moisés Ernesto Magacelane
Impressão :
• Carlos Mundau Cossa
• Esperança Pinto Muchine
2
Como estudar o módulo
3
CURSO MÉDIO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRIMÁRIOS EM
EXERCÍCIO E À DISTÂNCIA
(10ª + 2)
LINGUÍSTICA BANTU
MÓDULO-01
Elaboração:
4
Prezado professor
Colocamos em suas mãos mais uma disciplina importante para a sua formação
geral: a Introdução à Linguistica Bantu. Esta disciplina com 3 módulos auto –
instrucionais irá fornecer-lhe conhecimentos que permitirão ter domínio da estrutura
das línguas bantu de Moçambique com vista a trabalhar com uma relativa facilidade
e segurança com crianças que tenham dificuldades de aprender na língua
portuguesa. Para estes casos o professor vai precisar de recorrer muitas vezes ao
uso de uma ou mais línguas bantu para auxiliar as crianças na sua aprendizagem,
uma vez que a língua portuguesa não tem capacidade de traduzir fielmente a
riqueza e complexidade da nossa cultura, pois, é nas línguas bantu onde residem,
se preservam e se transmitem os principais elementos constitutivos da identidade
cultural moçambicana. Embora não seja a língua o único veículo de transmissão,
recepção e conservação da cultura, ela é o único meio capaz de se debruçar sobre
todas as outras manifestações culturais de um povo.
Mãos à obra!
Vamos iniciar o nosso estudo neste módulo introdutório com o tema a família das
línguas bantu.
5
objectivos em vista quando se desenvolve um determinado estudo da língua. Três
exemplos de tais disciplinas são:
Família
Sub – família
Grupo de línguas
Línguas
Dialectos
6
A linguística, ciência que estuda a linguagem, nasceu no século XIX
(dezanove).
Amigo professor, os exemplos que se seguem são muito engraçados, pois, ilustram
a semelhança morfológica da palavra que significa “homens”, “gente” ou “povos” em
algumas línguas moçambicanas, com relativas diferenças ao nível dos sons que
podem ser explicadas em termos históricos. É da semelhança entre essas palavras
que se formou o termo “bantu”. Assim temos:
Kiswahile: Wa – tu
Ciyao : Va – ndu
Shimakonde: Va – nu
Emakhuwa: A – thu
Cinyanja: A – nthu
Cinyungwe: Wa – nthu
Cishona: Va – nhu
Xichangana: Va – nhu
Gitonga: Ba - thu
Esta lista, amigo professor, poderia ser mais longa e sempre se verificaria que as
duas partes do vocábulo seriam constantes em todas as línguas, ou seja, um prefixo
(de classe 2) “ba –“ (Wa -, va -, a - ) (isto no caso do plural, pois se fosse no singular
teríamos “mu”) e um tema nominal “-ntu” (-ndu, -nhu, -thu, - tu).
7
• Critérios principais
• Critérios subsidiários
Comecemos então por estudar os critérios principais das línguas bantu que
consistem em:
II. Deve ter um vocabulário comum a outras línguas, a partir do qual se pode
formular uma hipótese sobre a possível existência de uma língua ancestral
comum.
1. Ter um conjunto de radicais (RAD) invariáveis a partir dos quais a maior parte
de palavras se forma por aglutinação de afixos, apresentando os seguintes
traços:
8
Veja agora o exemplo na língua Ciyao:
Kugava – dividir
cv c
Porém, esta estrutura, apesar de ser a estrutura básica, não é rígida, pois há casos
em que ela não ocorre.
m a n j a. mão
cvccv
m p e e m e – tipo de árvore
ccvvc v
Esta palavra é mais um exemplo da não rigidez das línguas bantu à estrutura cvc,
pois na palavra mpeeme por exemplo, temos a estrutura: consoante-consoante-
vogal-vogal-consoante.
Exemplo do Cisena:
- famb - a - anda
base verbal
Exemplo do Cibalke:
- mbzeng – a - esquiva
base verbal
9
c) Juntando-se-lhes sufixos lexicais (sfn) devem formar temas nominais, isto é,
os prefixos lexicais são aqueles que se juntam ao radical para formar temas
nominais, ou seja substantivos, vejamos os exemplos seguintes:
Exemplo do Xichangana:
Mi – rim – i - Camponês
Tema nominal
Exemplo do Cindau:
Tema nominal
Exemplo do Xirhonga:
Exemplo do Gitonga:
Ku – reng – is - a - vender
End -a - vai
Radical sufixo
10
O radical “end” deve, portanto, aparecer sem afixos, neste caso o sufixo “ – a”
É importante que você saiba que o sistema de classes não é característica exclusiva
das línguas bantu, mas é nelas que ele é mais desenvolvido e mais regular.
O termo classe é por vezes empregue para designar pares de classes em oposição
singular/plural, a que se chama género.
exercícios:
Teste agora a sua aprendizagem realizando os seguintes exercícios
I. A Linguística Comparada é uma das disciplinas auxiliares da Linguística e faz o
estudo comparado aplicando alguns métodos.
11
a) Quais são os dois métodos da linguística comparada que você
aprendeu?
1. -----------------------------------------------------
2. -----------------------------------------------------
II. Assinale com X as afirmações que constituem os critérios principais das línguas
bantu.
IV. É, por exemplo, da semelhança entre as seguintes palavras que nas respectivas
línguas significa povos, homens, pessoas, gente, que se formou o termo bantu.
Assim, relacione a coluna da esquerda com a direita para estabelecer ligação
correcta entre a língua e palavra que signifique povos, etc.
12
a) Cishona 1. Wa – tu
b) Emakhuwa 2. Wa –nthu
c) Kiswahili 3. a – nthu
d) Xichangana 4. Va – nhu
e) Shimakonde 5. a – thu
f) Ciyao 6. Va – nu
g) Gitonga 7. ba – thu
h) Cintungue 8. Va – nhu
i) Cinyanja 9. Va - ndu
Questão I
Questão II
Questão III
13
que foi com base na análise dos dados empíricos das diferentes
línguas faladas na região Sul do continente africano que se constatou
existir algumas semelhanças entre elas, mas é falso em relação à
questão colocada, pois nesta afirmação não nos dá o significado do
termo bantu.
Questão IV
a) 8
b) 5
c) 1
d) 4
e) 6
f) 9
g) 7
h) 2
i) 3
14
Veja no mapa que se segue a distribuição das famílias das línguas africanas pelo
continente africano. Verá também aqui onde se falam as línguas bantu.
Como é que as línguas bantu chegaram a todos esses países onde se falam hoje?
15
adoptaram a criação de gado bovino e ovino, bem como o cultivo de certos cereais,
sobretudo o sorgo. É quase certo que nesta fase, os povos falantes das línguas
bantu já tinham adquirido as técnicas de produção de utensílios de metal.
Os falantes das línguas bantu mencionados na fase (2a), os tais que se tinham
deslocado para o oriente a partir dos Camarões, fundaram uma cultura da Idade de
Ferro Inferior na região de Entre Lagos.
Alguns dos povos que se tinham estabelecido entre os flancos da floresta equatorial
e as zonas de savana do Sul deslocaram-se para o ocidente rumo ao Baixo Congo,
onde foram responsáveis pela introdução de muitos aspectos da cultura da Idade de
Ferro Inferior, junto de outros grupos de falantes de línguas bantu referidos em (2b)
que se tinham deslocado directamente dos Camarões para a região do Baixo
Congo. Esta fusão deu subsequentemente a vaga ocidental da Idade de Ferro
Inferior.
Uma dispersão para o Sul do grupo do ocidente, trouxe a cultura da Idade de Ferro
Inferior para o Baixo Congo através da Angola, para o Norte da Namíbia,
acompanhado de falantes das línguas bantu do grupo das Terras Altas Ocidentais.
A vaga oriental da Idade de Ferro Inferior daqueles povos, que não se tinham
deslocado para o ocidente rumo ao Baixo Congo, deslocou-se em direcção ao Sul e
ao oriente, a partir da região lacustre (à margem de um lago) da costa do Sul do
Kenya e Norte da Tanzânia. As línguas destes povos e de outras comunidades da
vaga oriental eram relacionadas com as línguas bantu faladas pelos povos que se
tinham deslocado para o oriente, tal como foi notado na Fase 2 a.
Uma grande expansão da vaga oriental da região à margem do lago para o Sul
passou pelas terras altas do Lago Niassa em direcção a Transval. O facto de
passar por regiões infestadas pela mosca tsé-tsé no Sul da Tanzânia, parece ter
impedido que estes fossem até ao Sul com o seu gado.
16
Fase 7b, cerca de 300 – 400, n.e;
Uma expansão paralela rumo ao Sul a partir das planícies da região oriental do
Lago Niassa, levou gente ao Sul de Moçambique e a Transval Oriental.
Veja-se no mapa que se segue a ilustração das fases 1 (desde cerca do ano 1000 a
.n.e.) até à fase 7b(por volta dos anos 300 – 400 da n.e.) aqui descritas:
As sete fases apresentadas neste mapa foram seguidas de outras que são as
seguintes:
17
Ocorrência em Shaba de um aumento substancial de povos da Idade de Ferro
Inferior, ao mesmo tempo assistia-se a um desenvolvimento económico, tecnológico
e sócio–político, permitindo mais tarde a prática de culturas de Idade de Ferro
Inferior pelos povos bantu do grupo das Terras Altas Orientais.
Expansão de falantes das línguas das Terras Altas Orientais de Shaba introduziu a
cultura da Idade de Ferro Superior na metade oriental do sub–continente.
Este mapa ilustra as fases 8 a 10 das migrações dos povos bantu. vê-se que o
núcleo 9 constitui o ponto de chegado dos povos que se deslocam do ocidente e,
mais tarde para o Norte, o oriente e o Sul.
18
Mais detalhes sobre a expansão bantu, consulte o módulo 01 da disciplina de
História.
Bem! Você aprendeu as línguas bantu no geral; o que será que acontece então com
as línguas bantu de Moçambique?
Amigo professor, que tal agora ficarmos a saber onde se fala o quê? Boa ideia não
é? Então vamos a isso.
19
dos falantes desta língua em Moçambique encontra-se na província de Niassa e
Cabo Delgado. A província de Niassa é aquela que é considerada como sendo o
“habitat” natural dos falantes desta língua, pois é considerada o berço do povo Yao.
Que tal amigo professor? Qual é a sensação de saber que essas línguas são
faladas nessas locais e por esse número de pessoas? Curioso não é?
A zona coberta por esta língua vai desde o rio Púngué (localidade de
Senyammutamba), ao sul da Serra Shôa, a Oeste do distrito de Guro, ao Norte e
Leste do distrito de Gorongosa. Não é possível determinar o número de falantes,
pois o censo populacional de 1997 não faz referência a esta língua, talvez por ser
considerada um dos dialectos do Shona, língua falada por cerca de 15.000 pessoas
na região.
20
Cimanyika é falado ao longo da região fronteiriça da província de Manica com a
República do Zimbabwe, nos distritos de Mossurize, Manica, Bárwe e Sussundenga.
Também é falada a leste da República do Zimbabwe. Segundo o censo de 1997,
existem 121.993 falantes de Cimanyika em Moçambique.
Já viu amigo professor, como o nosso país tem muitas línguas? É mesmo motivo
para nos orgulharmos.
21
Veja agora o mapa linguístico de Moçambique (Nelimo, 1989), para melhor
visualizar a localização das línguas bantu de Moçambique.
Doke, por exemplo, considera que as línguas bantu distribuem-se em zonas, que
são áreas caracterizadas por fenómenos linguísticos uniformes ou semelhantes.
Dentro de cada zona há grupos, os grupos são conjuntos de línguas com traços
comuns ao nível dos sons e gramatical, mais ou menos salientes e têm um alto grau
de intercompreensão. Esta classificação feita por Doke é fundamentalmente
geográfica.
22
Mas Guthrie, amigo professor, vai ainda mais longe, pois, faz uma classificação que
não se limita só ao nível geográfico, mas atinge o genealógico (relações
estabelecidas através de gerações). Ele agrupa as línguas em 15 zonas codificadas
por letras maiúsculas, a saber: A,B,C,D,E,F,G,H,K,L,M,N,P,R,S como está
representado na figura.
23
Atenção! Caro professor preste atenção à seguinte explicação:
Não se assuste, senhor professor, isto não é difícil, pois o que acontece é o
seguinte:
As línguas que constituem cada grupo são, por sua vez codificadas através de
unidades dentro desse número decimal. Por exemplo, a língua Shimakonde tem o
código 3 dentro do grupo 20, da zona P. Assim, P23 significa (na classificação de
Guthrie ora em estudo) língua Shimakonde do grupo Yao da zona P.
24
3. Zona N: N30: Grupo Nyanja: N31a: Cinyanja
N.31b: Cicewa
N.31c: Cimangánja
N40: Grupo Nsenga – Sena: N. 41: Cinsenga
N.42: Cikunda
N.43: Cinyungwe
* Citonga
N.44: Cisena
N.45: Ciruwe
N.46: Cipodzo
25
Vamos agora testar a sua aprendizagem realizando os seguintes
exercícios:
I. Assinale com X as afirmações correctas sobre as fases da dispersão bantu
pelo continente africano:
d) Cerca do ano 100 antes de nossa era, uma dispersão para o Sul do
grupo do ocidente trouxe a cultura da idade de Ferro Inferior para o
Baixo Congo através da Angola, para o Norte da Namíbia,
acompanhado de falantes das línguas bantu do grupo das Terras
Altas Ocidentais.
26
d) A língua Emakhuwa é falada por cerca de 3.291.916 pessoas,
portanto, é ao nível nacional a língua com mais falantes.
Questão I
a) Aqui você assinalou X, porque apesar de ser verdade que o termo bantu faz
referência a um grupo de cerca de 600 línguas faladas por perto de 220
milhões de pessoas, não é verdade que isso represente umas das fases da
dispersão bantu.
b) Acertou aqui se assinalou X, pois esta afirmação faz referência a uma das
fases da dispersão bantu pelo continente africano.
d) Aqui sim, se assinalou X está certo, pois fala-se aqui de uma das fases da
dispersão bantu.
e) A sua resposta é correcta se não assinalou X, pois não estamos perante uma
das fases da dispersão bantu.
Questão II
27
b) A sua resposta estará correcta se assinalou F, uma vez que a afirmação
desta alínea não faz referência ao local onde ela é falada.
Questão III
Bem, amigo professor, depois de ter aprendido coisas sobre a família das línguas
bantu no geral e a família das línguas bantu de Moçambique em particular, vamos
agora testar a sua aprendizagem, resolvendo a auto – Avaliação.
Auto – Avaliação
28
II. A linguística, como estudo científico da linguagem, não só é uma disciplina como
também se constitui em conjunto de disciplinas. Assim, preencha os espaços em
branco usando as palavras que estão dentro do rectângulo por forma a completar
o sentido das frases:
Linguística Histórica, Linguística Comparada, Linguística Descritiva
III. Quais são os dois critérios que distinguem uma língua bantu de outras não
bantu?
1. ____________________________________________________________
2. ____________________________________________________________
1. ______________________________________________________________
______________________________________________________________
2. _____________________________________________________________________
_______________________________________________________
29
V. Relacione a coluna da esquerda com a da direita por forma a
estabelecer ligações correctas entre a língua e o respectivo número de
falantes:
Nº de falantes Línguas
a) 3.291.916 1. Echuwabo
b) 233.358 2. Xichangana
c) 350.991 3. Cinyngwe
d) 786.715 4. Shimakonde
e) 581.800 5. Gitonga
f) 298.716 6. Emakhuwa
g) 1.423.327 7. Cindau
Questão I
30
b) Assinalou a alínea b) porque de facto linguística é a ciência da
linguagem, ou estudo científico da linguagem.
Questão II
1- Linguística Comparada;
2- Linguística Histórica;
3- Linguística Descritiva.
Questão III
1. Critérios principais
2. Critérios secundários
Pois, são estes dois critérios que distinguem uma língua bantu de outras não bantu.
Questão IV
31
Questão V
a) 6
b) 4
c) 5
d) 1
e) 7
f) 3
g) 2
Questão VI
d) Você assinalou V aqui, e fez muito bem, pois realmente cada grupo
de língua é codificado por um número decimal sufixado à letra do
código da respectiva zona.
32
BIBLIOGRAFIA
33
CURRÍCULO DO CURSO DE 10ª + 2
1. Português ( 5 módulos )
2. Inglês ( 3 módulos )
3. Linguística Bantu ( 3 módulos )
4. Matemática ( 2 módulos )
5. História ( 2 módulos )
6. Geografia ( 2 módulos )
7. Ciências Naturais ( 4 módulos )
8. Educação Moral e Cívica ( 3 módulos )
9. Educação Visual e Tecnológica ( 2 módulos )
10. Educação Musical ( 2 módulos )
11. Metodologia de Investigação Científica ( 2 módulos )
34
PROPRIEDADE DO IAP – AUTORIZADA A REPRODUÇÃO OU CÓPIA APENAS AO NUFORPE
35