Borges Da Silva Sujeitos 33 Tese Mesrado UFG 2014
Borges Da Silva Sujeitos 33 Tese Mesrado UFG 2014
Borges Da Silva Sujeitos 33 Tese Mesrado UFG 2014
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GOIÂNIA
2014
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GOIÂNIA
2014
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Dedicatória,
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Agradecimentos
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Deixo aqui meu carinho especial aos meus familiares. Agradeço aos
meus pais e meus irmãos por todo apoio, amor e compreensão nos momentos
carecidos.
Não há como deixar de falar um pouco dos amigos e das amigas que
construí na pós. O convívio com eles certamente tornou essa jornada ainda
mais grandiosa, obrigado Simone, Raclene, Samara, Jouber, Adriano, Rafael,
Marcello, Gabi’s e Dione.
Resumo
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Abstract
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The idea that urban violence associated with drug trafficking spread for
almost the whole population of Goiás. The institutions responsible for public
security, for all the difficulties in the investigation of the crimes, and the
television media, mostly the police’s TV show, propagate the speech that
increased rates of homicides in recent years is due to the proliferation of drug
trafficking in the Metropolitan Region of Goiânia. These lines, when reproduced,
feed on the practice of punishment’s policies to counter drug trafficking and,
with it, build the social imaginary accusatory speeches that identifies some
subject as more predisposed to selling drugs than others.
In addition, the accusatory process obscures the multiplicity of
arrangements and of individuals who are behind these practices criminalized.
And in Goiás no scientific studies on the subject and, therefore, the research
presented here is a pioneer in the quest for understanding this phenomenon.
To develop this study , we conducted a purposeful journey through the
ethnographic method , in-depth interviews and analyzed records and police
inquests of prisoners in order to understand the dynamics of commercialization
and the processes of territorialization of the illegal drug market in the
Metropolitan Region of Goiânia. At the same time, committed itself to identify
who are the subjects that are entered into this market and what moral aspects
and the meanings they attach themselves and criminalized activities that
practice. And finally, check when violence, specifically murder, is used as a
regulatory tool in conflict resolution and trade disagreements.
LISTA DE GRÁFICOS
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GRÁFICO 1: Sexo dos (as) condenados (as) pelo crime de tráfico de drogas do
Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia/GO ...................................................... 41
GRÁFICO 2: Estado civil dos (as) condenados (as) pelo crime de tráfico de drogas do
Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia/GO....................................................... 42
GRÁFICO 3: Grau de instrução dos (as) condenados (as) pelo crime de tráfico de
drogas do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia/GO ...................................... 43
GRÁFICO 4: Uso de arma pelos (as) condenados (as) pelo crime de tráfico de drogas
do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia/GO no momento de suas prisões ... 50
GRÁFICO 5: Equandramento tipologico dos (as) condenados (as) pelo crime de tráfico
de drogas do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia/GO ................................. 87
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Aspectos demográficos dos municípios da Grande Goiânia e nível de
integração ao polo ...................................................................................................... 19
QUADRO 2: Estruturas de comercialização do mercado ilegal das drogas da Grande
Goiânia ....................................................................................................................... 72
QUADRO 3: Justificativas morais de adesão ao mercado ilegal das drogas da Grande
Goiânia ..................................................................................................................... 139
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Idade dos (as) condenados (as) pelo crime de tráfico de drogas do
Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia/GO....................................................... 38
TABELA 2: Circunstâncias dos homicídios e da tentativa de homicídios dos casos de
presos condenados por essas modalidades de crimes do Complexo Prisional de
Aparecida de Goiânia/GO ......................................................................................... 168
LISTA DE MAPAS
MAPA 1: Espacialidade do mercado ilegal das drogas a partir do Ato de Prisão em
Flagrante da Polícia Militar em Goiânia no ano de 2013 ........................................... 113
MAPA 2: Espacialidade do mercado ilegal das drogas e homicídios em Goiânia a partir
dos dados do Ato de Prisão em Flagrante da Polícia Militar e da Delegacia de
Homicídios referente ao ano de 2013 ....................................................................... 165
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LISTA DE FOTOS
FOTO 1: Presídio Odenir Guimarães (POG) do Complexo Prisional de Aparecida de
Goiânia/GO................................................................................................................. 35
FOTO 2: Unidade Prisional de Trindade/GO ............................................................... 35
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Modelo de organização e sistematização dos dados – aspectos subjetivos
................................................................................................................................... 38
FIGURA 2: Modelo de organização e sistematização dos dados – dinamicas e
moralidades ................................................................................................................ 39
FIGURA 3: Modelo de organização e sistematização dos dados – conflitos e predídios
................................................................................................................................... 40
FIGURA 4: Estruturas de comercialização dos mercado ilegal das drogas da Grande
Goiânia ....................................................................................................................... 70
FIGURA 5: Rota do produtor-fornecedor do mercado ilegal das drogas da Grande
Goiânia ....................................................................................................................... 76
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 15
CAPÍTULO 1 .............................................................................................................. 24
1.1 O modelo artesanal de pesquisa ....................................................................................... 25
1.2 As viagens propositadas .................................................................................................... 29
CAPÍTULO 2 .............................................................................................................. 45
2.1 O traficante de drogas como uma categoria de acusação ................................................ 46
2.2 Os sujeitos do 33 e o problema da acusação .................................................................... 54
2.3 O mercado ilegal das drogas ............................................................................................. 64
2.3.1 O produtor-fornecedor ............................................................................................... 75
2.3.2 O tráfico organizado................................................................................................... 79
2.3.3 O tráfico associado ..................................................................................................... 86
2.3.4 O tráfico atomizado.................................................................................................. 108
2.4 A dimensão socioespacial ............................................................................................... 112
2.4.1 A territorialização ..................................................................................................... 112
2.4.2 As disputas de territórios ......................................................................................... 119
2.4.3 As mercadorias políticas........................................................................................... 124
2.4.4 A cadeia e a rua ........................................................................................................ 133
2.5 As justificativas morais de adesão .................................................................................. 138
2.6 Outros aspectos morais................................................................................................... 147
2.5.1 A família.................................................................................................................... 148
2.5.2 Os ganhos e os gastos .............................................................................................. 151
2.5.3 Respeitar a palavra ................................................................................................... 156
INTRODUÇÃO
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Introdução
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separa e distingue o que pode e o que não pode ser tolerado numa relação de
troca (MISSE, 1997). Ao mesmo tempo, as múltiplas e complexas redes sociais
que se formam pela teia dos ilegalismos se desenvolvem utilizando estratégias
legais e ilegais, estratégias essas que relacionam “’mundos’ que o imaginário
moral prefere considerar como inteiramente separados entre si” (MISSE, 1997,
p.02).
Dando ênfase nas fronteiras porosas entre o legal e ilegal, Ruggiero e
South escrevem em 1997 “The late city as bazar: drug markets, illegal
enterprise and barricades”, neste artigo os autores lançam a metáfora da
cidade contemporânea como um bazzar, em que os mercados formais e
informais, legais e ilegais se sobrepõem. O “bazzar metropolitano”, dizem os
autores, começou a ganhar forma em meados da década de 1980. No caso da
Inglaterra e dos Estados Unidos, o momento da virada conservadora de
governos que fizeram por desmanchar direitos e garantias sociais foi o ponto
de arranque da precarização do trabalho e a redefinição dos mercados urbanos
de trabalho.
Em termos gerais, anos de reestruturação produtiva e da chamada
flexibilização das relações de trabalho que terminou por esfumaçar as
diferenças entre trabalho, desemprego e expedientes sociais de sobrevivência,
dado principalmente pelas redes de subcontratação e formas diversas de
mobilização do trabalho precário (RUGGIERO; SOUTH, 1997).
Assim, descreve Nain (2006), que essas novas formas de trabalho que
são projetadas na ponta do capitalismo que reproduz como nunca o “trabalho
sem forma”, fazendo, ao mesmo tempo, generalizar os circuitos ilegais de uma
economia cada vez mais globalizada dentro do processo de liberalização
financeira, abertura dos mercados e a diminuição do poder e do controle
estatal, colocando em xeque a binaridade legal/ilegal ou lícito/ilícito, tornando
essas fronteiras tênues e frágeis.
Foi também a partir da década de 1980 que as atividades ilícitas
mudaram de escala, se internacionalizaram e se reorganizaram sob formas
polarizadas entre, de um lado, os empresários do ilícito, em particular do tráfico
de drogas e que, a cada local, irão se conectar com a criminalidade urbana
comum, e, de outro, os pequenos vendedores de rua, que operam nas
margens da economia das drogas e transitam o tempo todo entre a rua e a
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CAPÍTULO 1
O MODELO ARTESANAL
DE PESQUISA E AS VIAGENS
PROPOSITADAS
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O texto escrito pelo cientista social seria a ponte entre os dois “mundos”.
Cabe a ele observar, interpretar e descrever para os que não pertencem àquele
“mundo” as situações vivenciadas nesse outro lado obscuro pelas conjunturas
da ilegalidade que emergem em suas práticas cotidianas. Ou seja, o objetivo
então nesse modelo de pesquisa é desfazer construções simbólicas,
principalmente aquelas enviesadas por padrões midiáticos, e iluminar as
relações vivenciadas por esses outros sujeitos a partir de suas próprias falas e
de suas rotinas.
Foram as “viagens propositadas” no cotidiano dos sujeitos estudados
que contribuíram para que eu pudesse criar estratégias e, até mesmo, me
possibilitou certa malicia investigativa para atingir os fins almejados. Afinal, são
diversos os problemas e as dificuldades encontradas em campo, pois só de
estudar grupos à margem da lei, que enfrentam perseguição policial e
problemas com a justiça, diversos riscos e problemas surgem e que não estão
dentro da previsão do pesquisador, porque a “arte de se relacionar e a
criatividade em fazer as perguntas certas a pessoas certas não se aprende em
textos acadêmicos, mas na experiência vivida” (ZALUAR, 2009; p. 568).
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para tentar amenizar e evitar qualquer risco que este tipo de pesquisa poderia
proporcionar, desde horários delimitados, lugares escolhidos para os
encontros, preservar o anonimato dos sujeitos da pesquisa nas mais diversas
situações, deixar avisado outras pessoas de confiança onde eu estava e que
horas voltaria, entre outros.
Por mais que estivesse próximo de indivíduos que participavam da
comercialização de drogas, nunca tive real conhecimento sobre as atividades
ilegais que eles praticavam. Apesar de esses indivíduos serem familiares ao
meu cotidiano, as atividades praticadas por eles me apresentavam como
desconhecidas. Gilberto Velho em 1987 já alertava sobre os panos que as
vezes encobre a nossa visão sobre o social, assim:
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1
O modelo bola de neve funciona a partir da compreensão de que você inicia o campo por meio de um entrevistado
que tem o papel de indicar outros sujeitos que possam dar informações importantes para a pesquisa e, com isso,
constrói-se uma rede de contatos de indivíduos que formam o perfil necessário para formar o quadro de participantes
de uma determinada pesquisa.
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De inicio deixava claro que meu interesse não era saber nomes de
pessoas, mas sim entender a experiência de vida de cada um deles. Em alguns
momentos a confiança foi estabelecida imediatamente e em outras ocasiões
não consegui ter acesso a informações que me eram cessadas ou, até mesmo,
não tinha capacidade naquele momento de compreender o que se passava.
Como era um estranho ali, apesar das tênues fronteiras, era preciso mais
tempo para poder experimentar dos mesmos significados, gestos, códigos e
símbolos dos grupos que estava tentando me inserir.
Como não dava para participar ativamente do cotidiano dos meus
entrevistados, o processo de elucidação de campo requeria mais tempo do que
tinha para a produção final dessa dissertação. Então no processo de escrita
deste trabalho me inquieto porque tenho mais dúvidas do que esclarecimento
para apresentar, pois ainda existem pontos que devem ser ligados e nós que
devem ser desembaraçados que apenas o tempo permitirá e me dará tais
condições. Afinal, uma pesquisa de dissertação na acaba quando você passa
pela banca de defesa, ela precisa ser continuamente revisitada e, até mesmo,
para dialogar e ajudar a entender as transformações no mundo social.
Além disso, essa dinâmica comprovou que não existem roteiros lineares
no desenvolvimento da pesquisa. Houve momentos que precisei ficar calado,
para evitar qualquer tipo de confusão, sobretudo quando acompanhei algum
dos entrevistados em alguma entrega de drogas, pois acreditei ser melhor que
a informação de que eu era um pesquisador ali ficasse apenas entre eu e ele,
por isso, para ambas as partes, era melhor evitar colocar as cartas na mesa,
tanto para preservar o meu sujeito naquele momento quanto a mim e, também,
para poder ter certeza que não teria outros problemas naqueles momentos das
minhas viagens ao campo.
Sobre o campo, a primeira parte foi então realizada no período de março
de 2012 até junho de 2014 com indivíduos que atuam no mercado das drogas
e que, no momento da pesquisa, se encontravam em liberdade e em plena
atividade ilegal. Com esses sujeitos foi possível participar de festas, sentar em
mesas de bares, conversar em praças e, em algumas ocasiões, quando
possível, pude visitar e conhecer bocas.
Em diversos momentos tive certa preocupação com o que poderia
acontecer em campo, ainda mais depois de ouvir algumas questões de
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O campo, por sua vez, só consegui começar em janeiro de 2014 e foi até o final
do mês de maio do mesmo ano, com visitas de 2 a 3 vezes por semana, e com
revezamento entre os dois presídios.
Diferentemente do que ocorreu com os sujeitos em liberdade, as
entrevistas com os indivíduos encarcerados tiveram registro de gravação,
porém, da mesma forma que antes, não foi necessária a assinatura do termo
de consentimento, pelo mesmo fato de preservar os participantes da pesquisa.
A aproximação com os sujeitos pesquisados no ambiente prisional só foi
possível porque em ambos os lugares havia conhecidos que trabalhavam
diretamente com os detentos, a intermediação dessas pessoas foi
imprescindível para o desenvolvimento da pesquisa. Afinal, elas tiveram o
papel de explicar e convencer tais sujeitos para que eles participassem da
pesquisa. A relação de confiança e a clareza de que as informações passadas
ficariam em total sigilo contribui muito para o sucesso das entrevistas que, com
o desenvolvimento da pesquisa, quebrou todos os receios anteriores.
Em ambos os presídios, para se evitar qualquer constrangimento, as
entrevistas foram realizadas em salas isoladas e somente com a minha
presença e do participante da pesquisa. No começo, por mais receoso que o
participante estivesse, procurei construir uma relação amistosa entre as partes
até deixar claro que o objetivo maior era ouvir a experiência deles sobre as
atividades criminalizadas que os levaram ao encarceramento. Para não ir
diretamente ao assunto, busquei construir uma relação mais amigável por meio
de questões que envolvia seu histórico familiar, a infância e a adolescência, até
eles mesmos, sozinhos, chegarem ao assunto do tráfico de drogas.
Acredito que ter dado voz aos atores que atuam nesse mercado ajudou
no entendimento dos sentidos que eles atribuem às situações vivenciadas e
aos símbolos que os circundam e que dão forma àquilo que constroem seu
mundo social, colaborando na compreensão das camadas mais profundas do
mundo dos símbolos, dos significados, da subjetividade e da intencionalidade
e, ao mesmo tempo, questões mais amplas que envolvem economia, política,
justiça e segurança pública.
Além da etnografia, o segundo recurso metodológico que utilizei foi a
coleta de informações em prontuários de presos e presas pelos crimes de
tráfico de drogas, tentativa de homicídio, homicídio e latrocínio da POG e do
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3
Na tese “Os dados sobre homicídio doloso em Goiás como um problema sociológico” Michele Cunha
Franco (2015) descreve bem o problema de produção de dados sobre crimes em Goiás, no caso da tese
o homicídio. Contudo, podemos levar essa produção de dados da Secretaria de Segurança Pública de
Goiás para a relação de produção de dados de outros crimes, como o tráfico de drogas por exemplo.
Assim, entre os seus achados, pela falta e os problemas de produção de dados destaco: a) não havia
uma articulação institucional no âmbito da Secretaria de Segurança Pública, quer quanto à produção ou
quanto à utilização e intercâmbio dos dados gerados pelas polícias Civil e Militar; b) o acesso e até
mesmo a produção dos dados pareciam dependentes mais de características idiossincráticas daqueles
incumbidos da produção ou que poderiam possibilitar esse acesso do que a regras claramente definidas.
Ou seja: c) . praticamente inexiste uma articulação interna na Secretaria de Segurança Pública, quer
entre Policia Militar Polícia Civil , quer entre delegacias da Polícia Civil, e que essa articulação inexiste
entre a Secretaria de Segurança Pública e o Ministério Público, e entre este e o Poder Judiciário.
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Adesão O
trabalho
Perfil
Motivo De que
forma Como
trabalh
a?
Quando Sozinho
Em equipe
Idade - começou
Escolaridade - Financeir
Estado civil - o -Status Como
e poder - começou Motivo -
Infância e Varejo ou
adolescência - Uso de Quem Em Boca De outra
drogas atacado - forma
Religião - colocou Quais drogas
Trabalho - Quantidade
Dificuldade
s iniciais e valor - Em
qual lugar
Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
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O comércio
Ganhos e gastos As moralidades
O cliente O fornecedor O A
As drogas traficante alteridade
Como
gastava
Com o que
gastava
As farras
Para quem O que é ser
vendem Como As mulheres traficante?
adquiere as
Quem são drogas - Se considera
os clientes? Quantidade traficante? Famílai e
Quais drogas? Estrategias que compra - drogas
Tráfico é
Qual preço? de venda e Onde compra trabalho? A violência
Como vendem entrega (Ex: - O preço - e o tráfico
moto-táxi) Bom ou mau?
Roubo de A
carro e legalização
drogas
Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
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Mercado das
drogas
(conflitos e
presídios)
Os conflitos Armas
Presídio
Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
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Tabela 1 – Idade dos condenados pelo crime de tráfico de drogas no Complexo Prisional
de Aparecida de Goiânia
Frequência Percentagem
18 - 24 nos 175 43,4
25 - 31 anos 115 28,5
32 - 38 anos 71 17,6
39 ou mais 42 10,4
Total 403 100,0
Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
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Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
Constatei também que a maior parte dos sujeitos condenados por tráfico
de drogas tem pouco grau de instrução educacional. Os dados apontam que
35,2% deles possuem apenas o ensino fundamental incompleto e 22,5% o
ensino médio completo. Esses números se confirmam mais ainda ao verificar
que as ocupações deles fora do tráfico demandam pouco conhecimento técnico
e são consideradas profissões marginalizadas e mal remuneradas, como
servente de pedreiro, costureiro, serralheiro, serviços gerais etc.
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CAPÍTULO 2
O MERCADO ILEGAL
DAS DROGAS E OS
SUJEITOS DO 33
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grande interesse da mídia e, com isso, acaba causando maior reação moral e
social.
Ao escrever sobre o conceito de sujeição criminal, Misse procura
elucidar que as representações feitas aos pobres acabam os colocando como
culpados pela criminalidade urbana. Em outras palavras, o bandido é sempre o
pobre, mesmo que a maioria dos pobres não cometem crimes. Ao mesmo
tempo, alerta o autor que por mais que indivíduos que não são pobres
cometam crimes jamais serão representados como bandidos.
Assim, procurando mostrar que o crime é uma construção social, Misse
argumenta que o crime não deriva de fatos objetivos, e sim fruto de
interpretação que nasce a partir de um determinado acontecimento social.
Portanto, o crime deve ser visto como um complexo e específico processo de
construção social.
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Foi nesse contexto que se forjou a imagem que se atribui aos traficantes.
Eles são considerados sujeitos “sem nenhum limite moral, que ganha a vida a
partir dos lucros imensuráveis à custa da desgraça alheia, que age de forma
violenta e bárbara” (D’ELIA FILHO, 2007, p.118). São indivíduos que não
possuem história, são bandidos por excelência, estão concentrados em nossas
periferias e devem ser combatidos a qualquer preço. As suas mortes são
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comemoradas nos noticiários, não causam comoção e não tem porque serem
investigadas. O traficante virou uma categoria única e universal, atua nas
periferias das cidades e se comportam de forma homogênea.
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Pra vocês isso não é serviço, mas pra nós é. A gente fica de noite, a
gente fica de madrugada na rua, a gente chega em casa cansado,
você pensa que não cansa? Cansa, a gente cansa. A gente paga
aluguel, água, energia, farmácia, tem despesas. Às vezes isso pra
você não é trabalho, mas pra mim é. Não é tão fácil. A gente rala de
madrugada, a gente leva tapa na cara, a gente leva tiro, a gente sai
pra rua arriscando de perder a nossa vida. Pra quem tá do lado de
fora acha fácil, mas não é. (Homem, 30 anos)
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P – A TV fica falando que traficante tem que ser preso e que são todos
pessoas más. Você acha que esse aumento da violência que eles
colocam é responsabilidade do tráfico?
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A identidade de traficante também não lhes cabe por acharem que ela
não serve para explicar o seu lugar no tráfico, pois o traficante sempre é
alguém que está acima deles na cadeia de distribuição das drogas. A relação
entre identidades e posições no mercado das drogas se dá por meio de
negociações estratégicas que dinamiza o próprio funcionamento desse
mercado e que serão analisadas cuidadosamente à frente e à parte.
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Mesmo que volta e meia neguem a identidade de traficante para si, eles
compreendem que praticam a mesma atividade ilegal daqueles que eles
denominam como traficantes, e, por isso, acabam aceitando a ideia de que de
uma forma ou de outra também são traficantes. Quando isso acontece, eles
procuram argumentar que existem traficantes e traficantes e que, portanto, é
preciso se distinguir do estigma que eles próprios compartilham do que seria
um traficante de drogas.
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Pra pegar lá embaixo tem que ser no dinheiro. Agora aqui, se eu não
quero descer, pra ficar uns 30 dia, 40 dia, não, eu não vou descer, vou
ligar pra ter a droga aqui na minha mão, dando exemplo, ai ligo pro
senhor e falo “e ai, bem? Como tá a família? Como tá o senhor?”
“Bem” “Bem, então, tô precisando de umas” ele falava “quantas
peças tá querendo?” ai eu “não tenho dinheiro, quero pegar fiado,
você vai fazer a quanto?” “ah, eu vou fazer a 8, vou fazer a 7, quanto
que você quer?” “desce 5 peças de roupa”, ai ele desce e a gente vai e
revende pra poder pagar ele, ai já é fiado. Mas já quando a gente
desce lá embaixo ai já é dinheiro. Uma porque o preço é barato e outra
é que a gente é do Estado do Goiás e os caras da Bolívia, Paraguai, os
caras tão lá. E maconha lá com 50 reais você pega 5 quilos, aqui da
um pedaço pequeno, lá da uma bolsa [...] [...] Vou lá no Paraguai e
pego, é melhor do que pegar na sua mão, se você pegar de 1 mil e
passa a valer 7 mil e vou passar por 10, sendo que posso pegar lá de 1
mil sem precisar de você, posso descer e pegar de 1 mil, e vender por
10 e ganhar 9 mil. (Homem, 21 anos)
Teve uma época, foi 1 ano que eu fui direto, depois eu parei porque
pagava quase o mesmo preço aqui, porque a gente vai conhecendo o
esquema, é melhor pegar aqui na porta. (Homem, 17 anos)
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Você fica sabendo que em tal lugar tem várias bocas, entendeu? Então
cê vai naquele lugar e fica sabendo qual a melhor droga, cê começa a
pegar com um e já conhece o outro ao redor e assim vai entrando.
Geralmente é assim, geralmente assim, que através de um cê conhece
outro que vende mais, uma droga mais barata, uma qualidade melhor,
mas às vezes. (Homem, 34 anos)
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que são compartilhadas apenas por quem eles acham que estão envolvidos
totalmente no crime, como um dos entrevistados explica. As relações
construídas no tráfico de drogas, entendendo ele como parte de quem vive do
crime, se dão principalmente pelos interesses financeiros e menos por relações
afetivas.
P – Você disse que no tráfico tem sempre que estar atento e disse que
utilizou armas, como que é isso?
R – Então, o tráfico movimenta tudo, ele vende droga, ele vende arma,
ele vende carro.
P – Mas como você conseguiu adquirir a arma?
R – Por meio das drogas, você vende e compra.
P – Mas é fácil comprar?
R – É ué, você tem uma relação com o crime. É tipo você estar dentro
de um hospital, você está na sua área, então tudo ali é mais fácil, se
você pegar um leigo, ele não vai saber pegar esses medicamentos e
distribuir esses medicamentos pras pessoas certas. O tráfico é isso, é
doutorado no sistema. (Homem, 30 anos)
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mercado criminalizado que é visto pelos bairros, praças, bares, nos noticiários
e nas políticas ostensivas da polícia, e que, por isso, a parte que há a maior
apreensão de sujeitos envolvidos nessa atividade.
Por outro lado, o atacado é mais complicado, pois segue roteiros mais
silenciosos e que poucas vezes se escuta falar, uma parte mais complexa de
ser entendida e enfrentada. Os casos de apreensão de grupos que atuam no
atacado quase sempre só ocorrem após meses e, até mesmo, anos de
investigação, visto que são estruturas que agem de forma estratégica e com
menos relações de comercialização, porém movimentam maior quantidade de
mercadorias e dinheiros em suas transações.
Até mesmo para o desenvolvimento da pesquisa houve dificuldades
maiores para se atingir os dados sobre o atacado das drogas. Primeiro pelo
fato de existir menor número de casos apreendidos e as informações mais
difíceis de serem acessadas e, com isso, de encontrar os sujeitos do 33 que
estejam inseridos nesse contexto do tráfico de drogas. Em segundo, pelo fato
desses sujeitos, quando encontrados, se silenciarem por estarem ainda
vinculados a esquemas de comercialização de drogas que exige um tipo de
fidelidade em que a caguetagem tem um alto custo, mesmo sabendo que as
informações passadas seriam confidenciais.
Enfim, é importante salientar que os arranjos construídos nesse mercado
ganham contornos diferenciados a partir das próprias características
socioeconômicas e socioespacial por onde ocorrem as comercializações dos
entorpecentes e, ao mesmo tempo, as características de cada tipo de droga e
do mercado consumidor envolvido contribuem no processo de territorialização
das drogas que vai além da perspectiva física.
Nesses itinerários de drogas e dos sujeitos do 33 que é possível
perceber semelhanças e diferenças nas dinâmicas de comercialização nas
áreas mais e menos abastadas. Na ponta inicial de distribuição das drogas, o
atacado, o percurso das distintas drogas acaba se assemelhando, as
diferenças começam a serem evidenciadas com a distribuição das drogas que
vai passando por uma diversidade de relações de compra e venda até chegar
ao seu consumidor final.
A comercialização das drogas constrói quatro tipos de estruturas
diferentes e que se articula com a própria dinâmica do mercado ilegal das
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Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
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Tipos de
Atacado Atacado/Varejo Varejo/Atacado Varejo
atuação
Relações
Relações hierárquicas horizontais e
Tipos de Relações hierárquicas Relações hierárquicas
sem caráter momentâneas com
relações de caráter empregatício de caráter empregatício
empregatício a própria rede
social.
Patrões e aviãozinhos,
São múltiplos atores que São múltiplos atores que as funções são O indivíduo atua
Tipos de
vão desempenhar vão desempenhar distribuídas a partir do sozinho e
atores e
funções a partir das funções a partir das fornecimento das desempenham
funções
habilidades técnicas habilidades técnicas drogas e das relações todas as funções.
de confiança.
sustentar as relações comerciais que, por sua vez, criam relações morais de
respeito e confiança dentro desse mercado. As relações de confiança entre os
sujeitos do 33, como trataremos no decorrer do texto, ocorrem por meio de
apelos morais de honra e de respeito aos acordos, pois elas são as formas de
se garantir que os comportamentos dos envolvidos não extrapolem para
condutas mais agressivas.
A flexibilidade desse mercado não apenas dinamiza as relações, mas
também as próprias estruturas em que os sujeitos do 33 estão inseridos. Esses
arranjos estão diretamente relacionados com os tipos de drogas e o contexto
social onde elas são comercializadas. Da mesma forma, a própria separação
dessas quatro estruturas do mercado ilegal das drogas é mais uma ferramenta
didática e elucidativa para apresentar as dinâmicas construídas pelos sujeitos
do 33, pois essas estruturas também estão em jogo dependendo dos objetivos
empreendidos e, também, a partir do histórico de sucesso e de fracasso. Dito
de outra forma e exemplificando, é comum que os indivíduos que agem
isoladamente no tráfico atomizado comecem a construir uma estrutura mais
complexa na medida em que o sucesso vai sendo alcançado, podendo ou não,
dependendo dos interesses e das estratégias adotadas, chegar a outros
modelos de tráfico, como o associado ou organizado.
Da mesma forma, existem casos de pessoas que atuam no tráfico por
associação ou no tráfico por organização que, por levar um grande prejuízo ou
com a desestruturação de um grupo ou de uma boca, precisam se reerguer e,
por isso, podem ou não recomeçar no empreendimento de forma
individualizada até conseguir atingir os seus objetivos. Mais ainda, é comum
que outros tipos de atividades criminosas sejam utilizados para reverter essas
situações e, até mesmo, pra sanar dívidas que ficaram pendentes, assim, os
roubos e assaltos são as medidas criminosas mais recorrentes. Isto é, os
próprios arranjos estão de acordo com os históricos de sucessos ou fracassos
desses sujeitos e os interesses que os guiam dentro do tráfico.
As histórias de sucesso e fracasso não apenas ajudam compreender os
arranjos construídos para empreenderem as comercializações, mas também a
própria territorialização desse mercado. A territorialização não pode ser
entendida apenas como espaço físico por onde circulam as drogas, mas,
também, como espaço simbólico por onde percorrem os sujeitos do 33.
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2.3.1 O produtor-fornecedor
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Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
Na figura 2 é possível perceber que cada uma das drogas possui uma
rota de comercialização até chegar ao varejo do tráfico na Grande Goiânia. A
principal produtora de pasta base é a Colômbia e a Bolívia que revendem para
o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, mas elas também podem ser
adquiridas nesses outros dois Estados, justamente por ser fronteiriços, e
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O mais comum é que a pasta base seja refinada após ser vendida para
pessoas do tráfico organizado ou do tráfico associado, ganhando assim dois
mercados distintos, o do crack e o da cocaína. Outro fator problemático
encontrado nessa relação de compra do produtor-fornecedor é a falta de
segurança em adquirir a droga, apesar da certeza dos bons lucros ao comprar
diretamente da fonte, corre-se o risco de ter o dinheiro ou a droga roubada,
além da própria possibilidade de ser pego pela polícia no carregamento das
substâncias ilícitas.
P – Vocês tinha contato com o cara do Paraguai lá né?! Mas vocês iam
buscar ou ele trazia. Ah não você falou que tinha um aviãozinho
R – É. Eles que traziam, era muito arriscado né, ai deixava mais pra
eles. (Mulher, 20 anos)
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mas sim pelas relações de confiabilidade para exercer atividades que não
podem ser delegadas a qualquer um, como, por exemplo, a função de
tesouraria.
Da mesma forma que o produtor-fornecedor das drogas, existe certa
dificuldade em encontrar sujeitos do 33 que estejam envolvidas no tráfico
organizado e, com isso, conseguir informações mais precisas sobre as
dinâmicas de funcionamento desse tipo de estrutura. Ainda mais, muitos
patrões envolvidos nessa estrutura de tráfico possuem vida social de classe
média e classe média alta, tendo influência até mesmo nos meios políticos.
Além disso, muitos desses chefes também não se envolvem diretamente nos
esquemas, ficando a cargo de pessoas de sua confiança coordenar os
esquemas de comercialização desse mercado.
Outro fator que dificulta é que, mesmo com a possibilidade de entrevistar
alguns sujeitos que estejam presos e que fazem parte dessa estrutura de
tráfico, eles possuem uma conduta de silenciarem, pois existe muito medo de
serem considerados delatores e, ainda, pelo fato de que o grupo do qual
participam continua a atuar na comercialização das drogas e a pagar suas
despesas dentro do presídio e com advogados.
Uma coisa que é passível de ser identificada é que a estrutura do tráfico
organizado se torna cada vez mais evidente no mercado ilegal das drogas.
Como veremos no processo de territorialização dele na Grande Goiânia, exerce
papel importante de controle comercial sobre determinados espaços das
cidades. Em um dos casos recentes, a operação “O poderoso chefão”, teve a
apreensão de um grupo composto por cinco pessoas coordenadas por um
indivíduo que já se encontrava preso no Complexo Prisional de Aparecida de
Goiânia e que ordenava todas as atividades da organização de dentro do
presídio.
O grupo era investigado a mais de um ano pela polícia civil goiana, além
do líder do grupo, as demais pessoas ocupavam funções que iam desde os
cuidados financeiros do grupo, gerência do tráfico, repasse das drogas até
chegar aos “químicos” que, por sua vez, as refinavam e, posteriormente, eram
repassadas às bocas. No total foram apreendidas 14 armas de alto calibre, 451
quilos de pasta base que, segundo os dados da polícia, iriam gerar
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P – Mas nisso você vendia direto pra outra traficante? Não era no
varejo não né, pouquinha quantidade pra um e pra outro?
R – Não, não, eu só entregava acima de 10 quilos. Então eu já sabia
pra quem eu ia entregar.
P – Então você vendia pras bocas né?
R – Exatamente. Eu vendia pra uma boca X e ai se ramificava,
entendeu? (Homem, 43 anos)
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drogas nas áreas mais nobres quanto nas periferias da Grande Goiânia, o que
varia são os tipos e as qualidades de substâncias comercializadas.
É preciso entender que os grupos do tráfico organizado geralmente
surgem a partir de uma tendência que se deve ao crescimento de grupos do
tráfico associado em que os chefes ou donos de bocas deixam de trabalhar no
varejo do tráfico e começam a atuar no atacado, e as suas antigas bocas e as
novas que se abrem passam a ser controladas por seus antigos aviãozinhos,
que viram os novos donos das bocas, e aquela relação anterior passa ocorrer
principalmente pelo fornecimento das drogas, em que se exige uma relação de
fidelidade entre o tráfico organizado e o tráfico associado, caso contrário pode
existir uma relação conflituosa em que o primeiro, se achar necessário, toma a
boca para si e coloca outra pessoa pra comandar.
Uma das entrevistadas, que comandava um grupo com estrutura de
tráfico organizado, diz ter começado os corres como aviãozinho para uma
boca, com os constantes lucros e o crescimento das vendas decidiu montar
sua própria boca, e assim, seu antigo fornecedor, além de sustentar as drogas
da própria boca, começou a fornecer a ela quantidades maiores e, dessa
forma, ela já foi colocando outras meninas e meninos para trabalhar como seus
aviãozinhos. Durante esse período ela conheceu outro traficante com quem
manteve um relacionamento amoroso e, depois de algum tempo, decidiram
expandir os negócios. Eles deixaram de atuar na boca e seus aviãozinhos
começaram a montar pequenas bocas e, assim, ela e o marido, por sua vez, se
tornaram os fornecedores das drogas dessas pequenas bocas, deixando o
varejo e passando a atuar no atacado. Mesmo assim, nessa transição, eles
decidiram continuar utilizando estrategicamente alguns aviãozinhos para fazer
esse tráfico direto no varejo e, em algumas festas particulares, eles mesmos
vendiam as mercadorias.
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R – Fornecia
P – A quantas bocas que vocês forneciam?
R – Quatro. Que a gente buscava, fornecia pras quatros, e os quatros
liberavam para os outros meninos. (Mulher, 20 anos)
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Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
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P – Como que é?
R – Quando você entra numa boca você já vê, o que sempre te recebe
é o soldado, o que está sentado é o gerente e o que recebe o dinheiro
é o traficante. Então eu chego na boca aqui, então eu vou compro essa
pedra aqui, antes de eu pegar ela eu pago, pago pra você ai já pego e
saio. (Homem, 18 anos)
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estratégicos, que vai desde cruzamentos entre avenidas, boates, bares e até
pontos comerciais. Enquanto a boca normalmente é uma casa alugada e,
portanto, fixa a um determinado espaço, os aviãozinhos são as peças móveis
que dinamizam o tráfico associado, e ambos vão se territorializar de acordo
com os interesses do patrão e o crescimento da boca.
P – Você falou que vocês faziam muito em festa. Que tipo de festa?
R – Essas festas que rolam som automotivo, sertaneja, essas festas,
todas essas que a gente ia a gente levava cocaína. (Homem, 16 anos)
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É possível dizer que a maior parte dos sujeitos que fazem os corres no
mercado ilegal das drogas se encontram na estrutura do tráfico associado, até
porque ela é a parte que tem maior facilidade de adesão e que, normalmente,
começa ainda na fase de criança para a adolescência e por meio dos serviços
de aviãozinho.
Tudo começou quando tava com 10 anos de idade. Meu pai era um
verdadeiro pé-de-cana, a gente tinha muita dificuldade financeira
dentro de casa, faltava alimentação e roupa. Sempre desejei ter as
coisas, mas era impossível. A grana dos meus pais era muito curta e
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acordo com os seus interesses em jogo, que estão de acordo com os motivos e
as justificativas que os levam a aderirem ao 33.
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Ao mesmo tempo em que esse estudo foi realizado, a minha colega Marcilaine Martins da Silva
Oliveira está desenvolvendo o trabalho intitulado de “‘Donas da boca?’ Um olhar sobre a presença das
mulheres no tráfico de drogas”, cujos resultados mostram que a adesão de mulheres no mercado ilegal
das drogas tem se tornado muito frequente. Se antes a adesão delas ocorria a partir de relações afetivas
com pessoas que eram envolvidas no tráfico, hoje o número de mulheres que se envolvem por decisões
próprias se tornou mais frequente, um processo que tem acompanhado o surgimento de certo
protagonismo feminino na criminalidade urbana.
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Ai teve até um certo ponto que parei de pegar a pedra com ele picado e
comecei a pegar no pedaço, já pegava pra mim mesmo. (Homem, 34
anos)
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não trás ninguém aqui”, “eu posso confiar nele”, “se a polícia
pegar ele, ele vai apanhar na rua e inventar qualquer outra
história ou falar alguma coisa”, “a polícia tortura ele, bate nele, mata
ele, mas não dá nada pra mim”. (Homem, 33 anos)
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determinam o sentido atribuído às suas próprias ações que, por sua vez,
estarão relacionadas com os “vínculos de acordo com o grau de importância
em sua vida, seja por proporcionar ajuda financeira, sobrevivência,
suporte material ou de serviço, solidariedade, apoio social, afetivo,
emocional e econômico” (MEDEIROS, Regina, 2008, p. 02). Contudo, para que
esse tipo de relação tenha durabilidade é necessário que se respeite os
compromissos e, sobretudo, a palavra no “mundo bandido”, porquanto ela
quem separaria os homens dos meninos no tráfico.
Além disso, a forma de repasse das drogas do patrão para os
aviãozinhos fideliza a relação entre as partes, uma vez em que se compreende
que essas transações quase sempre ocorrem de maneira fiada e com prazos
determinados a serem cumpridos. Dito em outras palavras e exemplificando, o
patrão coloca nas mãos de um de seus aviãozinhos certa quantidade de
drogas e o pagamento delas deve ser realizado no prazo de uma semana, caso
contrário, se não existir uma argumentação contundente que justifique o atraso
da dívida, as relações entre eles se desgastam e, dependendo do grau e dos
acúmulos de problemas, medidas mais rigorosas podem ser tomadas por parte
do patrão. As relações conflituosas no mercado ilegal das drogas serão
tratadas especificamente no terceiro capítulo.
Fui pego dentro da boca da minha irmã pitando crack, eu tava fumando
janjão, ai de repente bateu uma lombra, tinha um quilo de maconha em
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Não da pra você montar de vender drogas num lugar, ter um comércio
ali, e ficar ali pro resto da vida. (Homem, 26 anos)
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Esse aviãozinho trabalha com um patrão que mantém uma boca numa
área pobre da região leste de Goiânia. Nas noites de sexta-feira ele começou a
frequentar a Praça Universitária, que fica numa região nobre de Goiânia, para
ver os amigos se apresentar em batalhas de raps. Toda vez ele levava consigo
uma pequena porção de maconha para usar com os amigos. Devido o
crescimento do movimento cultural começou a ter uma demanda de outros
conhecidos pela maconha. Com isso, aos poucos ele começou a levar maiores
quantidade e revendê-las, até que houve um momento que chamou mais dois
amigos pra ajudá-lo a agir mais fortemente na comercialização da maconha na
praça.
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noite, o aviãozinho que acompanhei falou que ao chegar à sua casa olharia a
quantidade que tinha vendido para fazer o acerto no outro dia com o patrão.
Ele ainda contou que pegava a mercadoria num valor menor e revendia sempre
mais cara, mas no começo o patrão passava certa quantidade de drogas e,
encima daquela quantidade, que ele tirava a sua droga.
P – E como foi esse lance de vender, você foi subindo aos poucos?
R – Eu comecei vender dolinha, eu pegava de traficante e vendia
dolinha. Larguei da dolinha e comecei a vender pedaço. Larguei do
pedaço e comecei a vender na grama. Larguei a grama e fui vender a
quilo. (Homem, 21 anos)
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certinho o patrão que, por sua vez, vai liberando cada vez mais drogas na mão
desse aviãozinho. Nesse processo, muitos aviãozinhos derramam a droga, isto
é, eles as usam e, com isso, não quitam a dívida com o patrão.
O problema da dívida, além de invalidar a relação de confiança com o
patrão, pode causar danos maiores ao aviãozinho. Não é a divida em si que
motivaria uma atitude mais violenta, como veremos sobre as regras morais,
mais sim a quebra da palavra que assegura as relações comerciais no
mercado ilegal das drogas.
A questão da confiança é fundamental nas relações comerciais no tráfico
de modo geral, mas no tráfico associado ela é imprescindível para que os
aviãozinhos e os patrões obtenham o sucesso no empreendimento ilegal. Além
da necessidade do dinheiro das vendas das drogas serem repassados de
forma correta para o patrão, que a cada nova comercialização aumenta a
relação de confiança, outros fatores se tornam importantes para que o vínculo
de confiabilidade desenvolva.
Um dos garotos que trabalha de aviãozinho diz que começou aos
poucos a ajudar o patrão de uma boca de forma indireta, sem nem um vínculo
concreto. Quando chegava algum usuário perto de onde ele morava querendo
comprar drogas, ele mesmo dava um jeito de ir até a boca e, com o dinheiro do
cliente, comprava e tirava uma parte da droga ou do dinheiro para si.
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dias depois, o chamou pra ser bebê dele e fazer pequenos corres pela região
onde a boca estava instalada.
Outro elemento igualmente importante, e que faz parte das regras
morais do mercado ilegal das drogas, é de não entregar o patrão. Dito de outra
forma, como os aviãozinhos é quem faz esses corres nas ruas se torna mais
comum deles serem pegos pela polícia. Quando isso acontece, a polícia vai
apertá-los para que entreguem o patrão. Se eles não caguetar quem é o chefe
e assumir a responsabilidade para si, certamente o nível de confiança vai
aumentar e, mesmo caindo na mão da polícia e ficando preso, ele vai ter um
bom retorno por parte do patrão.
Quando um dos meninos é pego pelos vermes e não dão pra trás, não
cagueta, eu vou ajudar ele, vou fortalecer ele, se for preso vou ver que
posso fazer, se sair eu vou dar um agrado maior quando ele for pegar
droga, pô, o muleque não entregou, sinal que tem palavra, e isso tem
que acontecer pra ficar grande e não cair. (Homem, 21 anos)
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P – Quem ficou com a sua boca depois que você foi preso? Eles
tomaram conta?
R – Foi por isso mesmo. Não ganhei nada e eles tão ai só engordando.
(Homem, 21 anos)
Por outro lado, e mais comum, é que o aviãozinho cresça junto com o
patrão. Afinal, o crescimento no tráfico associado pode ocorrer de forma mútua,
enquanto o aviãozinho aumenta o faturamento na venda das drogas, o patrão
começa a fornecer mais mercadorias e, ao mesmo tempo, cresce a relação de
confiança.
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passagem entre o tráfico associado para o tráfico organizado e, com isso, toda
dinâmica passa a operar a partir de uma nova estrutura.
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alguém de sua rede conheça esse possível cliente para que a negociação seja
realizada.
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2.4.1 A territorialização
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Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
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Antes eu tinha boca, mas hoje ele lance de boca pra mim acabou. Hoje
você eu pego é setor, hoje tem um monte de setor que eu entrego.
(Homem, 30 anos)
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Nos casos onde não ocorre o acordo acontece realmente uma disputa
sangrenta pelo território, principalmente quando tem questões de honra
envolvidas, como no caso acima mencionado. A honra ela é um importante
componente para se entender a violência no mercado ilegal das drogas, tanto
pelo ethos da masculinidade que se vincula aos homens do tráfico quanto ao
aspecto cultural do mundo rural que se renova e ganha novos sentidos nas
cidades goianas.
Outro caso de disputa de território foi exemplificado por outro chefe de
um grupo do tráfico organizado que tinha por objetivo dominar toda uma região
de Goiânia e, com isso, se tornar o principal fornecedor de pasta-base.
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P – Você falou que foi pega duas vezes com arma né. E é difícil
conseguir arma?
R – Não, hoje em dia nada é difícil, qualquer lugar, qualquer esquina
que você chegar ai com dinheiro “eu quero comprar um revolver, quero
comprar drogas” “é em tal lugar, vamos ali que eu vou te levar”.
(Mulher, 35 anos)
P – Você teve que usar arma por causa de alguma coisa assim?
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compensava, até porque o cara era farda preta (ROTAM), isso impõe
respeito e o retorno é garantido. (Homem, 22 anos)
P – Você disse que teve muito conflito com a polícia, mas arrego já
houve?
R – Pagar pra eles?
P – É.
R – Demais da conta. É o que mais tem, a noite é o que mais tem.
Durante o dia 40 viaturas no bairro, durante a noite, que paga propina,
é 5 viatura no total. Então, ou seja, a noite eles quer o que? Dinheiro.
Eles nem desce do carro e te pega você e já fala “tá armado?”, ai falo
“tô”, ai “tem quanto pra passar pra nós?”, já fala desse jeito.
Antigamente eles pegava, prendia, dava aquela pressãozinha em você
pra você falar, e ai depois rolava algo. Hoje não, hoje ele chega em
você e fala “você tem quanto?” “tá armado?” “Tá com droga?”, se
você falar que não tem, ele vai falar “eu vou revistar, se eu
achar vai ter arrego não, vai ter dinheiro não”, ai já falo logo “tenho”, ai
ele “quanto você tem pra passar pra nós?” “aqui no bolso o que tenho é
mil”.
P – Mas tinha valor por semana, um contrato, coisa assim?
R – Não, esse trem eu não faço não, na minha biqueira não faço
contrato com policial assim não. Esse lance de pagar pau pra policial,
não, porque policia não tem segurança nenhuma. Polícia é uma ilusão,
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eles são mais corruptos que nós. Então esse negócio de pagar por
semana, por mês, tem não. No dia que me pegar em flagrante eu pago.
(Homem, 30 anos)
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P – Quando você comprava dos caras lá, como que era? Comprava a
vista ou já ficou devendo?
R – Já fiquei devendo. Assim, porque eu ficava devendo essas
pessoas porque eu comprava pouco. A maior parte que eu vendi na
minha vida, que eu peguei de droga pesada, mas eu comprava era da
policia mesmo, tá ligado? Então eu comprava deles, comprava de
preço barato e eu tinha o tempo de vender. Uma vez eu ganhei um
calote muito grande na droga, ai falei pros caras que eu tinha que
receber, “deixa isso pra lá que isso vai dar BO”, as vezes pra ele
mesmo.
P – Quem falou isso?
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R – A polícia.
P – Ele também tem essa coisa de vender, né? Sai bem mais barato
que outros fornecedores?
R – Ah sim.
P – E quanto sai mais barato?
R – Ah, isso depende né? Sabe como é?
P – Eles apreendem uma droga e tiram uma quantidade pra eles?
R – Não, na maioria das vezes teve isso ai, eles apreende ela, recebe
um acerto, solta os caras e ficam com as drogas, fica com tudo.
(Homem, 34 anos)
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É nesse contexto social que o mercado ilegal das drogas se enreda pela
Grande Goiânia em que fluxos de dinheiro, de mercadorias, de produtos ilegais
e ilícitos se entrelaçam nas dinâmicas cotidianas, sobretudo nas periferias. No
caso do tráfico organizado e, principalmente, do tráfico associado as práticas
podem apresentar contornos mais violentos, chegando até mesmo a
execuções e extermínios de pessoas envolvidas.
Cara, a cadeia não segura a pessoa não. Porque na cadeia tem gente
que tem o poder, e se ela tem o poder pode mandar fazer o regaço lá
fora, mandar matar família, mandar matar quem ele quiser. (Homem,
33 anos)
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que operavam na Grande Goiânia a partir das ordens de seus líderes que se
encontravam aprisionados no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
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P – Mas foi alguém, por exemplo, algum dos seus ex-maridos que te
influenciou?
R – Não, senão eu já tinha virado bandida. Depois disso, na cadeia,
você vira bandido. (Mulher, 35 anos)
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P – Nas outras vezes que você foi preso foi fazendo essas trocas de
carro por drogas também?
R – Não, não, dai pra frente, como tava te falando, quando fui preso em
São Paulo ai eu fui transferido pra cá, ai sai da cadeia e já conheci uma
cara aqui de Ribeirão Preto, aqui, aqui dentro, e sai daqui e já fui
traficar com ele em São Paulo. (Homem, 52 anos)
A cadeia, portanto, deve ser vista não isolada do tráfico que ocorre nas
ruas, mas como sua extensão. Na cadeia há o estreitamento das relações
criminais que agencia novos atores para o tráfico e, ao mesmo tempo, espaço
de desenvolvimento de outras atividades criminais. O que acontece dentro da
cadeia tem seu resultado na rua e, consequentemente, na própria dinâmica do
mercado ilegal das drogas.
Agora que se tem uma melhor entendimento acerca da dimensão
socioespacial do mercado ilegal das drogas é importante compreender também
as justificativas construídas pelos sujeitos do 33 no processo de adesão ao
tráfico e os aspectos e as regras morais que compartilham entre si.
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Além da própria dinâmica que os corres configura, ele também faz parte
do processo de adesão pelo qual os sujeitos do 33 precisam passar para entrar
efetivamente nesse mercado. O processo de adesão não imprime apenas uma
nova moralidade com a entrada no crime, mas há também uma negociação
racional com a moralidade dominante para justificar a adesão deles no tráfico
de drogas. Embora a maioria deles argumente que acham errada a
comercialização de entorpecentes, seguindo os valores legais e dominantes,
criam justificativas para amenizar a culpa e, com isso, a sua adesão se tornar
relevada.
A entrada dos aviãozinhos no tráfico associado não deve ser vista
apenas sob a ótica de início deles no crime, mas como o resultado de um
processo que culminou com essa adesão. Procurar compreender essas
justificativas como processo e não como ponto de partida ajuda na percepção
mais ampla sobre o próprio crime, os criminosos e a visão que eles atribuem ao
mundo que vivem.
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mercado ilegal das drogas. De forma geral, acredita-se que a maiorias dos
sujeitos que cometem crimes não aprovam as suas práticas e, portanto,
acabam compartilhando dos mesmos valores das classes dominantes. Dessa
forma, criam-se mecanismos psicológicos de justificação sobre os
comportamentos criminalizados e que, de certa forma, os tornam validos para
eles, mas não para o restante da sociedade. Os mecanismos de justificativas
foram denominados pelos autores como “técnicas de neutralização”, em que
sujeitos que praticam comportamentos criminalizados procuram dar um sentido
racional que amenize a culpa deles nessas práticas.
Problemas familiares;
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Tudo começou quando tava com 10 anos de idade. Meu pai era um
verdadeiro “pé de cana”, a gente tinha muita dificuldade financeira
dentro de casa, faltava alimentação e roupa. Sempre desejei ter as
coisas, mas era impossível. A grana dos meus pais era muito curta e
não dava para as despesas da casa. (Homem, 22 anos)
A minha vida foi diferente. A minha mãe, mãe solteira, tava com 2
filhos e pra cuidar dos 2 tinha que trabalhar. Era pobre e a gente não
via ela. Ela veio de Anápolis pra Goiânia porque tinha uns parentes e ai
podia dar mais força, não tive na escola porque meu irmão tinha
problema mental e ele era mais velho. (Homem, 33 anos)
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Se todo mundo tivesse peito pra ser criminoso, seria criminoso. Mas
nem todo mundo tem peito pra ser criminoso. Eu mesmo não gostei,
não queria entrar no crime, por quê? Porque eu queria ter um pai, um
pai que me ensinasse, que meu pai desse conselho, que meu pai
batesse quando eu tivesse errado, que meu pai colocasse eu na escola
certa, entendeu? Eu queria viver, eu queria ser livre, sei lá, eu queria
ver o mundo, eu queria aprender, entendeu? (Homem, 33 anos)
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Além disso, Alba Zaluar (2004) aponta para o fato de certa privação
relativa que leva os indivíduos a aderirem ao mercado das drogas, pois o
ganho é fácil e consegue saciar os desejos de consumo e propiciar aos jovens
do sexo masculino certa “fama” e “prestígio”, especialmente entre as mulheres.
O segundo conjunto de argumentações utilizado pelos sujeitos do 33
para justificarem e neutralizarem a sua adesão ao mercado ilegal das drogas
passa pela negação da ilicitude.
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Hoje em dia a criminalidade está tão grande, o tráfico está tão grande
porque o governo, o governo e a sociedade e as iniciativas viraram as
costas pra um problema que tá cada dia mais crescente. (Homem, 40
anos)
O estado só vem quando não tem mais nada pra fazer por nós, na
realidade a tendência é ser criminoso. (Homem, 33 anos)
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2.5.1 A família
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inocência, não tem certa malícia. Pra eu não ter esse tipo de
preocupação eu prefiro dessa forma. (Homem, 34 anos)
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drogas eu já não dei pra ela? Eu acho que hoje assim no crime eu acho
que assim o assassino maior é o traficante, não por ele pegar e matar,
pegar uma arma e matar, mas por ele contribuir pela morte das
pessoas. A maioria hoje que você vê na televisão fulano morreu
estava envolvido com droga ou morreu por divida de droga ou fumou
droga de mais e deu overdose, a minha cunhada eu perdi uma
cunhada três semanas atrás policia entrou dentro da casa dela a policia
enfiou a droga nela no estomago dela e com a mangueira do chuveiro
e deu overdose e morreu. (Mulher, 35 anos)
P – E esse dinheiro que você ganhou não daria pra tirar num emprego
comum?
R – Falar pra você, se eu trabalhasse uns 30-40 anos não daria não.
(Homem, 43 anos)
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P – Então é status?
R – Porque se você tiver no meio de 6 ou 7 que usa e você for o que
vende, você é o cara, não adianta. Tem gente que até carrega a
gente nas costas se for preciso. (Homem, 34 anos)
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R – Não, agora falta né eu tô aqui preso, mas quando tava lá fora não
faltava não. A gente viajava, passeava, fazia excursões, enchia os
carros de moleque e de muié. (Mulher, 20 anos)
A ideia de ilusão não ocorre em todo mercado ilegal das drogas, mas
especialmente entre os sujeitos do 33 que ocupam uma posição inferior no
tráfico e quando são pegos pela polícia e, caso não consigam negociar a suas
liberdades, passam por todo processo acusatório até culminar em seus
julgamentos.
Quando os indivíduos atuam em posições mais relevantes no mercado
das drogas, sobretudo na estrutura do tráfico organizado, as diferenças se
apresentam já no próprio consumo.
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No crime a gente não vale nada, mas a palavra tem que valer. Porque
a gente não vale nada pra sociedade, e se a gente também não vale no
crime, então pode morrer. A palavra do homem no crime tem que valer,
se presta ou não presta. “Tal dia vou te pagar”, então tem que ser tal
dia. “Vou te pagar amanhã”, então amanhã você tem que tá com o
dinheiro. Não vem falar que vai pagar amanhã se vai pagar depois de
amanhã, então fala “eu vou pagar depois de amanhã”. No crime a
palavra tem que valer, então não faz curva comigo. (Homem, 30 anos)
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não foi homem de arcar com a sua responsabilidade. Não foi por causa
de dívida de droga não. (Homem, 30 anos)
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CAPÍTULO 3
DROGAS E HOMICÍDIOS:
TIPOLOGIA TRIPARTITE
DE GOLSTEIN
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Fonte: Pesquisa Sujeitos do 33: um estudo sobre o mercado ilegal das drogas e homicídios na Grande Goiânia, 2014
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5
A Ex-Ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
(SDH/PR), entrou, no dia 17/04/2013, com o pedido de federalização dos crimes praticados contra a
população em situação de rua de Goiânia devido a deficiência dos inquéritos da polícia e de
circunstâncias relevantes não denunciadas ao Ministério Público, principalmente pelo fato de ter
agentes policiais como suspeitos dos crimes.
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quis roubar sua droga e seu dinheiro, que a vítima era viciada em
drogas, e que por mais de 3 vezes a vítima já tinha lhe roubado e a
jogado no chão. (Prontuário 91)
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As Dívidas de drogas;
O Derrame das drogas;
Disputas internas dentro grupo de tráfico;
Disputas pelos territórios de comercialização;
Alcaguetagem;
Vingança;
Grupos de extorsão e extermínio
Queima de arquivo;
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Tem muita mulher gostosa que trabalha ai, eu já matei 3 que se achava
gostosinha, porque tinha silicone e tal, e pensava que a droga é de
graça e ia ficar com o dinheiro, elas pensava “sou bonitinha, sou
gostosa, e ele vai me comer”; (Homem, 30 anos)
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do chão mesmo eu dei, tava assim deitado, tava com medo de morrer,
na angustia, tava com medo mesmo de morrer esse dia. A minha sorte
que eu dei uns 14 tiro, o primeiro tiro que dei pegou na cabeça de um
dos policial civil, que ele capotou. Ai eu vi que tinha derrubado, vi
que tinha matado ele, ai o outro veio correndo atrás de mim dando tiro
e eu dando tiro também. O outro policial, depois que eu saí do hospital,
porque eu fiquei 45 dias em coma, depois que eu sai da UTI ai eu fui
na casa dele e matei ele na casa dele.
P – A Civil não quis te pegar não por conta dessa coisa de honra
deles? Crime de honra?
R – Cara, falar uma coisa pra você, eu fui preso, tanto que quando a
ambulância me pegou eu fui preso, algemado, eu fiquei assim na
maca, na UTI, eu fui preso, puxei 8 anos, mas não foi por causa desse
policia, eu fui absolvido. O policial era mais bandido do que eu, ele já
tinha sido expulso da corporação, já tinha vendido a arma dele pra
traficante, não prestava. (Homem, 30 anos)
Além disso, esses grupos formados por agentes policiais podem agir
com o objetivo de matar traficantes, seja com o intuito de fazer a limpeza na
cidade, ou em busca de tomar a droga e o dinheiro deles e, até mesmo, a
mando de algum outro traficante que queira comandar o comércio de drogas
em determinada região, e esse casos são vistos na formação de grupos de
extermínio.
Os grupos de extermínio ou de traficantes podem provocar a morte de
outras pessoas que não estão envolvidas no tráfico e nem mesmo praticou a
caguetagem, o único problema era estar no lugar errado e na hora errada, são
as vítimas de queima de arquivo.
A queima de arquivo no mercado ilegal das drogas está relacionada às
pessoas que são assassinadas por presenciarem a ação ilegal, violenta ou
não, de traficantes ou grupos de extermínio ou por estar junto a alguma pessoa
que está na mira delas e, antes dessas pessoas terem a possibilidade de
denunciar o crime, são executadas. Um dos casos mais emblemáticos e até
hoje não solucionado é o caso Murilo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Considerações finais
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criminosa é considerada menor do que o objetivo final, como uma vida melhor
para a família, pagar a faculdade e comprar uma casa; d) condenação dos que
condenam – por considerarem que o Estado não garante o direito a todos.
Por fim, a dissertação procurou compreender a relação entre o tráfico de
drogas e homicídios. Parti da compreensão que a violência é um mecanismo
comum dos mercados criminalizados, que, por não possuírem meios legais de
resolução de conflitos, se utilizam de recursos mais radicais para solucionar
desavenças e desacordos comerciais, e o assassinato de pessoas é o mais
extremos deles.
Soma-se ainda, segundo o que se constatou na pesquisa, a presença de
uma cultura criminal machista em que a honra e a virilidade são postas em
desafio quando os acordos são rescindidos alavancam e disseminam a
necessidade de que esses conflitos devem ser solucionados a qualquer preço.
Não são apenas drogas, dinheiro e as pessoas que circulam no tráfico, mas
também a própria identidade sexual masculina que é colocada em evidência.
Quando não se paga uma dívida de droga, ou quando outro indivíduo quer
tomar a boca, não é o valor monetário em si, mesmo que exista e fica evidente,
mas há o aspecto moral da honra desafiada, nesse momento o recurso violento
se faz necessário.
Para entender a relação entre homicídios e drogas utilizei a tipologia
tripartite de Goldstein. Os resultados encontrados mostram que em cada
tipologia tem as suas especificidades, assim: a) o modelo psicofarmacológico:
foi compreendido a partir da mudança de comportamento praticado por algum
indivíduo após o consumo de alguma substância, podendo agir de forma
impulsiva e violenta em relação às outras pessoas. As substancias que se
mostraram com maior poder de alteração para o comportamento violento
foram, sobretudo, o álcool e, posteriormente, o crack e a cocaína; b) o modelo
econômico compulsivo: foi evidenciado nos crimes praticados por usuários de
drogas com o objetivo econômico, como, por exemplo, a prática de roubo,
assalto, latrocínio com o objetivo de conseguir dinheiro ou algum bem para
comprar drogas e; c) o modelo sistêmico: é a violência que se refere aos
padrões específicos de agressividade que são gerados das interações que
ocorrem dentro do sistema de comercialização das drogas, assim constatei que
ela ocorre por diversos meios (dívidas de drogas, derrame de drogas, disputa
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Referências Bibliográficas
205
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_________. Vida sob cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2008.
206
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PAIS, José Machado. Vida cotidiana: enigmas e revelações. São Paulo: Cortez,
2003.
207
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Notícias de jornais
Notícia 1
ALVES, Renato. PF prende suspeitos de integrar grupos de extermínio no
Entorno do DF. Correio Braziliense, 15 fev. de 2011. Disponível em:
<http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/02/15/interna_c
idadesdf,237838/pf-prende-suspeitos-de-integrar-grupo-de-exterminio-no-
entorno-do-df.shtml> Acessado em: 15 de julho de 2014.
Notícia 2
209
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Notícia 3
PINHEIRO, Eduardo; AlVES, Myla. Drogas protagonizam violência. O Hoje, 05
de dez. de 2013. Disponível em:
<http://www.portalohoje.com.br/homologacao_20052013/cidades/drogas-
protagonizam-violencia/> Acessado em: 15 de julho de 2014.
Notícia 4
PIMENTEL, Carolina. Caso de garoto desaparecido após abordagem policial
faz 8 anos. Portal EBC, 22 abr. de 2013. Disponível em:
<http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/04/caso-de-garoto-desaparecido-
apos-abordagem-de-policiais-em-goiania-faz-oito> Acessado em: 15 de julho
de 2014.
Notícia 5
SILVA, Maria José. Desarticulada quadrilha que era comandada do presídio. O
Popular, 19 fev. de 2014. Disponível em:
<http://www.opopular.com.br/editorias/cidades/desarticulada-quadrilha-que-era-
comandada-do-pres%C3%ADdio-1.477511> Acessado em: 15 de julho de
2014.
Notícia6
LIMA, Cristina. Barões que dominam o tráfico. O Hoje, 02 mar. de 2014.
Disponível em:
<http://www.portalohoje.com.br/homologacao_20052013/cidades/baroes-que-
dominam-o-trafico/> Acessado em: 15 de julho de 2014.
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GLOSSÁRIO
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GLOSSÁRIO
Armar casinha – ato de arquitetar um plano para que alguma pessoa vá pega
polícia ou por algum inimigo.
Bala – ecstasy.
Bebê – aviãozinho.
Deduragem – alcaguetagem.
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Gambé – polícia.
Lodim – maconha.
Papel – LSD.
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Pedra – crack.
Pitar – fumar.
Pó – cocaína.
Soldados – aviãozinhos.
Vermes – polícia.
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ANEXOS
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ANEXOS
Roteiro de entrevista
1 – PERFIL
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2 – A ADESÃO AO TRÁFICO
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4 – RELAÇÕES MORAIS
5 – RELAÇÕES CONFLITUOSAS
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Além disso, a gente escuta que existe muita relação da polícia querendo
tirar vantagem sobre quem vende drogas.
o Já aconteceu isso contigo?
o A polícia já fez alguma chantagem?
o Já utilizou da polícia pra fazer cobranças de dividas?
o Se sim, tem alguma vantagem?
A gente escuta muito que existe uma relação da venda de drogas por
toda cidade relacionado ou comandado por alguém dentro do presídio,
você acredita que isso é verdade?
o Já ouviu ou conhece alguma história assim?
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