Artigo ABCiber - Algoritmização Do Cotidiano
Artigo ABCiber - Algoritmização Do Cotidiano
Artigo ABCiber - Algoritmização Do Cotidiano
Mirian Meliani2
PUC-SP/ECA-USP
Renê Eduardo Arruda3
PUC-SP
Roseni Moraes4
PUC-SP
Resumo
A partir de estudos dos processos de criação em ambiente digital, o artigo propõe uma
reflexão sobre o avanço da algoritmização na comunicação do cotidiano, influenciando
comportamentos, consumo e produção de sentidos. Parte-se do pressuposto de que no
ecossistema digital, cuja lógica central é recortada pelo uso mercadológico dos
algoritmos, as reapropriações comunicacionais se estabelecem a partir de relações
intercambiadas entre o humano e o maquínico, que por sua vez devem ser
compreendidas em suas potencialidades e limites. A reflexão parte da intersecção de
estudos desenvolvidos no âmbito do Grupo de Pesquisa InterLab CCM/CNPq, da PUC-
SP.
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XV Simpósio Nacional da ABCiber
Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Curando Causas: Educação, trabalho e diversidade na era dos dados
Online – 7 a 9/12/2022
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Artigo completo na página do The Guardian. Disponível em:
<https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/mar/12/tim-berners-lee-web-weapon-regulation-open-
letter>. Acesso em: jan. 2023.
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sendo aplicadas para fazer frente aos processos de algoritmização impostos de forma
hierarquizante e vertical pelas grandes plataformas.
Se o alcance é sempre restrito e não substitui, de forma alguma, as medidas necessárias
para uma política macro, capaz de fazer frente ao poder desproporcional das
plataformas transnacionais, a ação localizada cumpre um papel imprescindível ao
apontar caminhos originais e criativos, baseados em espaços de afeto e reconstrução.
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Os Assistentes de Voz (AV) estão cada vez mais presentes nas ações do cotidiano
atuando como facilitadores nas interações com sistemas computacionais, através das
possibilidades criadas pela popularização da sensorização de objetos que são usados no
dia a dia. Segundo pesquisa realizada, em 2021, pela Juniper Research 8, de maneira
geral o uso de comandos de voz aumentou desde a pandemia da COVID-19, uma vez
que 52% dos usuários de assistentes de voz disseram usar essa tecnologia várias vezes
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Disponível em: https://www.juniperresearch.com/whitepapers/ok-google-show-me-the-money. Acesso
em 11/01/2023.
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ao dia ou quase todos os dias, em comparação com 46% antes da disseminação global
do novo coronavírus.
O aumento da utilização da inteligência artificial na vida cotidiana ajuda a incrementar a
criação de aplicativos de voz, pois o uso de objetos sensorizados, em constante
expansão, oferece aos assistentes de voz uma importância significativa na vida de um
usuário conectado. Os microfones estão se espalhando por toda parte e o acesso a
assistentes torna-se onipresente, com empresas B2C e B2B ansiosas para monetizar essa
tendência.
O desenvolvimento da tecnologia de voz como resultado da pandemia da COVID-19,
também resultou em mais participantes nesse segmento, pois à medida que a pandemia
criou uma necessidade de menos toque e mais aplicativos de voz, mais organizações
surgiram para oferecer esses serviços. Dessa forma, o cenário de fornecedores de
sistemas interativos de voz torna-se mais fragmentado, com um número crescente de
assistentes específicos. Neste momento, de um modo geral, o cenário brasileiro dos AV
pode ser dividido em duas categorias: a) assistentes internos de marca, tais como a Aura
(VIVO), a K (SKY), a NAT (NATURA), a BIA (BRADESCO) etc., que fornecem
recursos limitados às empresas que representam; b) plataformas de uso mais amplo, que
incluem as gigantes da tecnologia Amazon, Google e Apple, que oferecem desde
funcionalidades de assistentes pessoais até o controle de casas inteligentes.
Diante desse panorama, podemos dizer que o crescimento da popularidade dos AV é
impulsionado por sua capacidade de facilitar as interações humano-computador sem
toque, de maneira “natural” e intuitiva, numa tentativa de simular as conversas entre
seres humanos. Destacamos que o acesso aos sistemas sensorizados por meio dos
Assistentes de Voz possibilita a amplificação da nossa relação com as informações,
pois sua agência tende a desencadear um processo complexo e hipermidiático que pode
se desdobrar, ir, vir e ser retomado indefinidamente.
Em função desse panorama, entendemos ser necessária uma reflexão sobre a relação da
hipermídia e o uso dos AV no cotidiano, tendo como referentes a Alexa (Amazon), a Siri
(Apple) e o Google Assistente. Nossa escolha tem como critério principal a
popularidade desses AV no Brasil, além do fato de estarem disponíveis em smartphones,
assim como em vários outros objetos do dia a dia, tais como caixas de som, televisores,
aparelhos de ar-condicionado, geladeiras, máquinas de lavar e até em carros.
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Para obtermos a resposta desejada, a pergunta deveria ter sido feita de outra forma, ou
seja, “Como se desenvolve um artigo?”. Porém, ainda assim, a fonte da busca seria
decidida pelo AV sem que saibamos qual é o critério de escolha, a não ser que seja feito
um pedido específico pelo usuário. Vale relembrar que o objetivo do AV é facilitar a
busca sem toque. Contudo, os AV ainda não estão aptos a entender perguntas longas ou
complexas.
O que devemos pensar com mais relevância, diz respeito ao fato de que é preciso dar
mais atenção aos pequenos vestígios de que estamos sendo vigiados, seguidos,
controlados e por vezes conduzidos pela algoritmização do nosso cotidiano. Entregamos
dados, aceitamos respostas prontas, seduzidos pelos apelos mercadológicos que podem
nos convencer que um AV pode ser nosso amigo, acender ou apagar as luzes para ajudar
ou pode cuidar da nossa agenda.
Lembremos que para Santaella (2022), o “neo-humano” pode ser resultado de um
processo evolutivo “das formas comunicacionais e cognitivas” criadas por ele e apoiado
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Considerações finais
Procuramos compreender, ao longo deste artigo, os movimentos das políticas
algorítmicas implementadas pelas grandes plataformas digitais que se impõem no
cotidiano com sua lógica de mercado: nos discursos de ódio e desinformação que
ganham destaque e atingem o dia a dia de populações periféricas e comunidades
fragilizadas; repercutem nas instituições, no debate público e político, constituindo-se
muitas vezes em fenômenos contemporâneos de negacionismos e conspiracionismos; e
tornam-se presentes de forma quase invisível, em “interfaces transparentes” como
aquelas representadas pelos Assistentes Virtuais dentro do avanço das tecnologias de
IoT.
A infraestrutura comunicacional não é neutra, e propõe diagramas de ação e de interação
intencionais e não intencionais cujos resultados políticos podem ser desastrosos para os
sistemas políticos democráticos representativos atuais. A compreensão destes
fenômenos é crucial para que seja possível construir democraticamente um futuro
inclusivo e próspero.
No balanço entre potencialidades e limites, percebemos como o uso das redes e
plataformas digitais, em diferentes dimensões, desenham um panorama de inquietação
política, de avanço dos discursos patrocinados por grupos que impõem seus interesses
econômicos e propagam teorias de deslegitimação da ciência e do jornalismo, causando
instabilidades aos regimes democráticos.
Em contrapartida, dentro de um jogo de reapropriações socioculturais, percebemos que
não apenas é possível, como de fato urgente e necessário, privilegiar processos criativos
capazes de enviar suas próprias respostas sensíveis, permeadas pela diversidade dos
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atores envolvidos, fazendo uso dos mais diversos aparatos tecnológicos em suas
dimensões comunicacionais e educacionais.
Referências Bibliográficas
BERNERS-LEE, Tim. The web can be weaponised – and we can't count on big tech to
stop it. The Guardian, 12 mar. 2018. Disponível em
<https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/mar/12/tim-berners-lee-web-
weapon-regulation-open-letter>. Acesso em: jan. 2023.
BUCCI, Eugenio. News não são fake -- e fake news não são news. Em: Pós-verdade e
fake News. Reflexões sobre a guerra das narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó Ed., p. 37-
48. 2019.
MELLO, Patrícia Campos. A máquina do ódio – notas de uma repórter sobre fake
news e violência digital. 1ª edição. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2020.
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RITCHIE, Hannah. The Biggest fake news stories of 2016. CNBC, 2016. Disponível
em: < https://www.cnbc.com/2016/12/30/read-all-about-it-the-biggest-fake-news-
stories-of-2016.html>. Acesso em 15/01/2023.
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