Testes Preliminares para Obtenção de Um Protocolo de Fabricação de Filmes de Amido Com Adição de Cera de Carnaúba
Testes Preliminares para Obtenção de Um Protocolo de Fabricação de Filmes de Amido Com Adição de Cera de Carnaúba
Testes Preliminares para Obtenção de Um Protocolo de Fabricação de Filmes de Amido Com Adição de Cera de Carnaúba
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
ENG07053 - TRABALHO DE DIPLOMAÇÃO EM ENGENHARIA
QUÍMICA
Te ste s p re l i m i n a re s p a ra
o b te n çã o d e u m p ro to c o l o d e
fa b r i ca ç ã o d e f i l m e s d e a m i d o
co m a d i çã o d e c e ra d e
ca r n a ú b a
Banca Examinadora:
Prof. Dr., Nilson Romeu Marcilio, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre
2021
ii Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Profª. Dra. Isabel Cristina Tessaro e à minha co-orientadora Cláudia
Luchese pela oportunidade de realizar este trabalho, pela orientação, pela amizade e por
todo o auxílio e disposição.
Muito obrigada!
DEQUI / UFRGS – Gabriela de Andrade Monteiro iii
RESUMO
ABSTRACT
The use of plastic materials for the production of goods has been increasing every year,
especially for packaging production. Aiming to minimize the dependence on non-renewable
fossil resources for the production of plastics and the amount of waste generated after the
use of these products, research on biodegradable packaging produced with renewable raw
materials has been gaining attention. Some substances present in renewable sources have
film-forming capacity through polymeric bonds. Starch is a polysaccharide widely found in
food sources, such as legumes, roots and cereals, which has this property and will be the
main component for the development of the films in this work. However, starch films have
undesired results of water barrier properties, indicating their affinity with water, which
compromises their performance for use in packaging. Therefore, in this work, the
incorporation of carnauba wax as a hydrophobic component to decrease the water affinity
of starch films will be evaluated. In addition, the methodology used to form a homogeneous
film will be evaluated to avoid aqueous and oil phases separation. The films were obtained
through a gelatinized starch solution with a plasticizer, the glycerol. Carnauba wax was
added to the gelatinized starch solution through an emulsion of carnauba wax with a
surfactant component, Tween 80, and with ethanol to achieve satisfactory results in terms of
film continuity and homogeneity. Different contents of the emulsion were added to the
samples of gelatinized starch solution separately to evaluate the visual aspect of each one.
The solutions were cast in Petri dishes in two different weights. Then, the Petri dishes were
placed in an oven. The films containing lower levels of carnauba wax emulsion and lower
weights presented satisfactory visual aspects in terms of continuity and homogeneity of the
aqueous phase with the oil phase. The bench test performed by dropping a drop of water
onto the film to assess the contact angle between the drop and the film, indicating its
hydrophobicity, and to check whether the drop would be instantly absorbed by the film as it
occurs in films containing only starch in its formulation also showed satisfactory results.
Therefore, the addition of carnauba wax to starch films showed satisfactory results and the
segment of this study through this formulation is indicated. The methodology also proved to
be a promising alternative, given the ease of incorporating wax into the starch solution and
also the homogeneous aspect of the films, with no visual separation of the aqueous and oil
phases.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
PHA – polihidroxialcanoato
viii Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
SUMÁRIO
1 Introdução 1
1.1 Objetivo geral 2
1.2 Objetivos específicos 2
2 Revisão Bibliográfica 3
2.1 Problemas ambientais gerados pelo descarte incorreto de materiais não
biodegradáveis 3
2.2 Utilização de biopolímeros provenientes de fontes renováveis 5
2.3 Obtenção dos filmes biodegradáveis a partir de fontes amiláceas 7
2.3.1 Amido 7
2.3.2 Plastificante 8
2.3.3 Formação de filmes pelo método de casting 8
2.4 Limitações do uso do amido e incorporação de compostos hidrofóbicos 8
2.5 Cera de carnaúba 10
2.6 Filmes e coberturas com adição de compostos lipídicos 10
2.6.1 Filmes e coberturas com adição de cera 14
2.7 Considerações finais 16
3 Materiais e Métodos 19
3.1 Matérias-Primas 19
3.2 Testes para Determinação do Protocolo de Preparo dos Filmes 19
3.3 Caracterização das Amostras 21
4 Resultados e Discussão 23
5 Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros 29
REFERÊNCIAS 30
DEQUI / UFRGS – Gabriela de Andrade Monteiro 1
1 Introdução
Os plásticos são um dos tipos de materiais mais consumidos na vida diária da sociedade.
Algumas propriedades desses materiais como o baixo custo, elevada resistência à
degradação solar, química e microbiana, impermeabilidade à água e baixo peso são as
principais razões da sua popularidade, visto que oferecem diversos benefícios e facilidades à
rotina dos consumidores. Porém, os impactos ambientais causados pela produção e
disposição incorreta desses componentes oriundos de fontes fósseis causam sérias
preocupações relacionadas com o futuro do nosso planeta.
Estima-se que são gerados aproximadamente 34 milhões de resíduos plásticos por ano
em todo o mundo, sendo que cerca de 90% desse total acaba sendo disposto em aterros e
nos oceanos (EMADIAN, ONAY, DEMIREL, 2017; PATHAK, SNEHA, MATHEW, 2014). Por esse
motivo, alternativas sustentáveis que buscam substituir, mesmo que parcialmente, o uso de
fontes fósseis pela utilização de recursos naturais para produzir materiais plásticos
biodegradáveis têm sido alvo de pesquisas (DE OLIVEIRA, 2017). Esses bioplásticos estão
sendo desenvolvidos principalmente para aplicação como embalagens para alimentos e
filmes comestíveis para revestimento de frutos minimamente processados, tendo em vista o
crescimento exponencial da utilização de embalagens descartáveis para esses fins (ASSIS et
al., 2017; CARPINÉ, 2015). A dificuldade de reciclagem do material plástico ao ser
transformado em resíduo e a necessidade de prolongar a vida útil de alimentos perecíveis
como frutas, leguminosas e hortaliças, impulsiona ainda mais a realização de pesquisas
nessa área (PATHAK, SNEHA, MATHEW, 2014).
Os estudos iniciais acerca das embalagens biodegradáveis são feitos a partir da formação
de um filme polimérico, onde a estrutura e as propriedades mecânicas, físico-químicas e de
barreira são avaliadas. Com a avaliação das propriedades e da estrutura dos filmes é possível
prever a efetividade da formulação estudada para a utilização em embalagens. As vantagens
da utilização de polímeros biodegradáveis provenientes de fontes renováveis são a não
utilização de recursos oriundos do petróleo, a diminuição da emissão de gás carbônico na
atmosfera e a biodegradabilidade do material que consiste no fechamento do ciclo de vida
quando os materiais se tornam resíduos e são dispostos no meio-ambiente (PATHAK,
SNEHA, MATHEW, 2014). Dentre os recursos renováveis existentes, o amido surge como
uma boa alternativa, pois tem a capacidade de formar ligações poliméricas, está disponível
em elevadas quantidades no mundo, visto que é proveniente de diferentes fontes vegetais,
além de possuir baixo custo (HENRIQUE, CEREDA, SARMENTO, 2008; DE OLIVEIRA, 2017).
Contudo, para que um filme de amido atenda às especificações necessárias para
desempenhar as funções de embalagens plásticas, de filmes plásticos ou de coberturas
comestíveis é necessário que haja a incorporação de outros componentes na sua
formulação, como agentes plastificantes que conferem melhores propriedades mecânicas
aos filmes. Uma característica que afeta significativamente a qualidade dos filmes
produzidos a partir do amido é a sua afinidade com a água. O contato do filme de amido
com a água compromete sua estrutura devido à elevada hidrofilicidade e pode dificultar a
manutenção da qualidade do produto durante o armazenamento (DE OLIVEIRA, 2017;
SYAHIDA et al., 2020). Para remediar esse problema, muitos estudos são feitos adicionando-
se na formulação dos filmes componentes hidrofóbicos, sendo mais comumente utilizados
os compostos lipídicos (SYAHIDA et al., 2020).
2 Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
A cera de carnaúba pode ser estudada como componente lipídico adicionado à solução
polimérica com o objetivo de diminuir a hidrofilicidade dos filmes. A cera de carnaúba é
composta de ácidos graxos de cadeia longa, assim como todas as ceras, o que lhe confere
propriedades hidrofóbicas (SYAHIDA et al., 2020). Além disso, pode ser encontrada
facilmente no Brasil, pois sua extração é feita das palmeiras de Copernica cerifera, árvore
nativa brasileira (WELLER, GENNADIOS, SARAIVA, 1998). Sua incorporação no filme é feita
com a adição de um agente surfactante que possibilita maiores interações entre as fases
aquosa e oleosa do filme.
Portanto, neste trabalho será incorporada a cera de carnaúba nos filmes biodegradáveis
à base de amido para minimizar a afinidade pela água. Para a obtenção de um filme
homogêneo, contínuo e com aspecto visual satisfatório, serão testadas metodologias para a
elaboração dos filmes de acordo com os estudos e pesquisas realizados na literatura. Para
uma análise mais adequada e representativa dos filmes desenvolvidos, as suas propriedades
físico-químicas e mecânicas devem ser averiguadas, porém, devido à pandemia ocasionada
pelo Coronavírus, os testes não puderam ser realizados como desejado inicialmente.
No entanto, é importante comentar que não é fácil, nem sequer simples, encontrar
alternativas viáveis para a destinação correta dessa substancial quantidade de resíduos.
Durante o processo de incineração de materiais plásticos podem ser originados compostos
residuais tóxicos, tanto gasosos quanto sólidos (cinzas). Os aterros controlados construídos
de forma adequada são limitados e algumas técnicas de reutilização desses materiais
envolvem elevados custos em virtude do alto consumo energético. Em alguns casos também
há dificuldade de separação dos materiais poliméricos, inviabilizando o processo de
reciclagem (PATHAK, SNEHA, MATHEW, 2014). Atualmente, o Brasil produz cerca de
11 milhões de toneladas de lixo plástico por ano e, somente 1,2% destes resíduos é enviado
para usinas de reciclagem. Esse percentual é expressivamente inferior à média mundial de
materiais plásticos reciclados, correspondente a 9%. Em países desenvolvidos como
Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, esse índice alcança valores de 30% (WWF, 2019).
Assim, grande parte desses resíduos plásticos não biodegradáveis é enviada para aterros
sanitários, sendo incinerada ou, então, em um cenário ainda pior, permanece disposta no
meio ambiente por períodos bastante longos. No Brasil, das 11 milhões de toneladas de lixo
plástico geradas por ano, aproximadamente 7,7 milhões de toneladas são enviadas para
aterros sanitários e mais de 1 milhão de toneladas não são recolhidas/recuperadas (WWF,
2019). Diferentemente do Brasil, em países como Japão, Alemanha e China, a incineração é
uma prática comumente adotada. Porém, esta tecnologia deve ser utilizada de forma
adequada e controlada, visto que a queima de materiais plásticos libera gases tóxicos na
atmosfera prejudiciais à saúde humana, à fauna e à flora, promovendo alterações climáticas,
e, contribuindo para a deterioração da camada de ozônio, devido à geração de gases do
efeito estufa. Desta forma, é necessário um rígido controle operacional, assim como a
4 Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
utilização de filtros especiais para evitar a liberação de material tóxico (NAÇÕES UNIDAS,
2019).
Os detritos de lixo plástico são causa da morte de várias espécies marinhas. Os animais
acabam sendo enredados e/ou aprisionados e, acabam não conseguindo desempenhar suas
funções vitais. Outra questão que deve ser considerada é que esses animais ficam suscetíveis
à ingestão acidental desses materiais plásticos, inserindo-os na cadeia alimentar e, assim,
atingindo diversos seres vivos, pois o plástico sintético não se desintegra em substâncias
orgânicas, naturalmente (re)absorvidas pelo meio ambiente. Esse tipo de material é
fragmentado em pedaços cada vez menores, os microplásticos, incluindo todas as partículas
menores do que 5 mm, que são originados de pela degradação fotoquímica e pala abrasão
devido aos fenômenos climáticos. Essas minúsculas partículas podem se tornar tão
pequenas quanto algas e plâncton, base da alimentação de diversas espécies marinhas
(SOBRAL, FRIAS, MARTINS, 2011). A presença indiscriminada de plásticos na natureza é
motivo de preocupação, pois além de seus componentes poliméricos principais, os plásticos
são compostos por aditivos químicos que lhes conferem melhores propriedades mecânicas,
como o plastificante di-(2-etil-hexila), ftalatos e adipatos utilizados em filmes flexíveis de
poli(cloreto de vinila) usados para o armazenamento de alimentos gordurosos. Sendo
potencialmente cancerígenos, esses aditivos podem migrar para o alimento, provocando
sérios problemas à saúde, caso sejam ingeridos. Da mesma forma, a presença dos
microplásticos nos oceanos também representa um potencial vetor de transferência de
compostos orgânicos com elevada toxicidade (BARROS, 2010).
Conforme mencionado, sabe-se que existem alguns fatores que dificultam a cadeia
produtiva de reciclagem de resíduos plásticos. As diferentes resinas plásticas, quando
misturadas (intencionalmente ou não) no processo de reciclagem, dão origem a produtos de
baixa qualidade, com especificações técnicas inadequadas, devido à incompatibilidade
química entre elas. Ou seja, para evitar esse problema, é necessária a realização de um
processo de triagem não trivial e consideravelmente minucioso. Por exemplo, embalagens
plásticas do tipo filme podem ser produzidas com diferentes polímeros, tais como:
polietileno, polipropileno, poli(cloreto de vinila) ou com uma mistura destes e outros
polímeros. Ao passarem pelo processo de reaproveitamento industrial esses materiais
DEQUI / UFRGS – Gabriela de Andrade Monteiro 5
Apesar dos impactos ambientais causados pela disposição do plástico no meio ambiente,
esses polímeros trouxeram grandes facilidades e progresso para a humanidade. Com baixo
custo, elevada durabilidade e alta resistência, o plástico vem sendo escolhido como matéria-
prima para fabricação de diversas utilidades que têm funcionalidades cruciais na vida
humana, como nos setores de embalagens, equipamentos espaciais, instrumentos médicos,
vestuário, meios de transporte, entre outros. Portanto, soluções que resolvam, mesmo que
parcialmente, os problemas causados pelo excesso de resíduos plásticos não biodegradáveis
gerados diariamente, principalmente pela ampla utilização de produtos descartáveis, estão
sendo constantemente avaliadas. Atualmente, uma das alternativas mais promissoras
envolve a produção de plásticos biodegradáveis a partir de recursos renováveis (PATHAK,
SNEHA, MATHEW, 2014).
compostagem, a matéria orgânica é degradada e, portanto, pode ser usada como adubo
para o cultivo de novas fontes de matéria-prima para produção de novos plásticos
biodegradáveis, finalizando o ciclo e iniciando-o novamente (PATHAK, SNEHA, MATHEW,
2014).
2.3.1 Amido
O amido é um polissacarídeo largamente utilizado para produção de materiais
biodegradáveis devido ao seu baixo custo e alta disponibilidade (JIANG et al., 2019;
HENRIQUE, CEREDA, SARMENTO, 2008; DE OLIVEIRA, 2017). O amido pode ser obtido a
partir de diversas fontes vegetais como trigo, milho, batata, arroz e mandioca, podendo
também ser modificado por tratamentos físicos, químicos e/ou enzimáticos a fim de obter
melhores propriedades de compatibilização e formação da matriz polimérica (DE OLIVEIRA,
2017).
2.3.2 Plastificante
O plastificante ideal para cada formulação pode ser escolhido dependendo das
características do polímero e das propriedades físico-químicas e mecânicas desejadas. Os
polióis, como o glicerol, o sorbitol e o glicol, são os plastificantes mais indicados para serem
empregados em filmes à base de amido (CARPINÉ, 2015; DE OLIVEIRA, 2017). Neste
trabalho, o glicerol, C3H5(OH)3, foi o plastificante utilizado. O glicerol, glicerina ou
propanotriol, é um composto orgânico pertencente ao grupo álcool. Na temperatura
ambiente (25 °C), o glicerol é um líquido higroscópico, inodoro, viscoso, de sabor adocicado
e completamente solúvel tanto em água quanto em álcool (CARPINÉ, 2015; DE OLIVEIRA,
2017).
A transferência de água através do filme ocorre na parte hidrofílica pelas zonas amorfas.
Com a incorporação de lipídeos, essa taxa de transferência tende a diminuir. Portanto, a
redução da transferência de água pelo filme é influenciada pela razão entre os componentes
hidrofílicos e hidrofóbicos presentes na matriz polimérica. Porém, esta razão deve ser
controlada, pois a adição de quantidades muito elevadas de lipídeos também pode
apresentar algumas desvantagens como aumento da opacidade (reduzindo a transparência
dos filmes) e enfraquecimento das propriedades mecânicas. A eficácia da adição de lipídeos
dependerá da natureza do composto (tamanho da cadeia de ácidos graxos, organização dos
cristais, ramificações da cadeia, saturação), do seu estado físico, da interação destes lipídeos
com os demais componentes da solução e do método utilizado para a sua incorporação na
matriz polimérica (CARPINÉ, 2015; GARCÍA, MARTINO, ZARITZKY, 2000).
Assim, o filme será constituído por duas fases: a hidrofílica polar representada pela
solução filmogênica de amido, e a hidrofóbica apolar representada pelo componente
lipídico. Sabe-se que essas fases são essencialmente imiscíveis, portanto, a adição de um
surfactante se faz necessária para que sejam obtidos filmes homogêneos, sem que haja
separação das fases aquosa e oleosa (CARPINÉ, 2015; DE OLIVEIRA, 2017).
alguns surfactantes pode não desempenhar a função esperada, visto que depende da
estrutura de cada filme e da sua afinidade com os compostos adicionados. São utilizados
principalmente como surfactantes não iônicos, o Tween 80 e o Span 80, além destes,
experimentos são realizados com componentes naturais, como lecitina de soja, Yucca
schidigera e óleo de girassol saponificado (CARPINÉ, 2015; DE OLIVEIRA, 2017; SONG, ZUO,
CHEN, 2018).
quanto do sorbitol, contribuiu para a redução da PVA devido à redução de poros e rupturas
na matriz observadas pelas imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). A
incorporação do óleo de girassol nos filmes também potencializou a redução dos valores de
PVA. A redução foi de aproximadamente 30% (0,63 para 0,44 g mm m-2 h-1 kPa-1) quando
2 g L-1 de óleo de girassol foram adicionados em filmes contendo sorbitol como plastificante.
Esses resultados demonstraram que o efeito da incorporação do composto hidrofóbico em
filmes e coberturas biodegradáveis foi alcançado conforme desejado (GARCÍA, MARTINO,
ZARITZKY, 2000).
Song, Zuo e Chen (2018) estudaram os efeitos da adição do óleo de limão e dois
surfactantes, Tween 80 e Span 80, em filmes de amido de trigo e de milho. Para esta
avaliação, foram elaborados filmes com diferentes concentrações (0,5, 1 e 2%) de óleo de
limão e filmes com concentração fixa (1%) de óleo de limão contendo: (a) 0,1% de Tween 80
e (b) 0,1% de Span 80. Além de determinar os valores de PVA, o teor de umidade nos filmes
e a solubilidade dos filmes em água também foram analisados. Essas três propriedades
apresentaram valores inferiores se comparadas com os resultados dos filmes usados como
controle (sem composto lipídico e sem surfactante), ou seja, quanto maior o teor de lipídio
no filme, menores os valores de PVA, umidade e solubilidade. A PVA apresentou redução
aproximada de 16% para o filme com 2% de óleo de limão comparado com o filme controle
(1,32 para 1,11 g mm m-2 h-1 kPa-1). Nesta pesquisa, o fator que causou maiores alterações
nos resultados foi o tipo de surfactante usado nas formulações. O Tween 80 é considerado
mais hidrofílico, enquanto o Span 80 é mais hidrofóbico. Portanto, as propriedades de PVA,
conteúdo de umidade e solubilidade em água dos filmes contendo Span 80 apresentaram
menores valores. A PVA nos filmes com 1% de óleo e 0,1% de Span 80 apresentou redução
aproximada de 16% em relação ao filme controle (1,32 para 1,11 g mm m-2 h-1 kPa-1), já o
filme com 1% de óleo de limão e 0,1% de Tween 80 apresentou valores 11% menores em
relação ao filme controle (1,32 para 1,18 g mm m-2 h-1 kPa-1). No entanto, a solubilidade dos
filmes aumentou com a adição dos surfactantes. Esse fenômeno foi justificado pelos autores
pela formação de uma estrutura mais porosa, pois a adição do surfactante na matriz reduziu
as forças de interação do óleo com o amido, promovendo a ocorrência de separação das
fases aquosa e oleosa (SONG, ZUO, CHEN, 2018).
Syahida et al. (2020) elaboraram os filmes com gelatina e cera de palma como composto
lipídico. Foram elaborados filmes com diferentes concentrações de cera de palma (15, 30, 45
12 Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
e 60%). A PVA foi 14% menor somente nos filmes com adição de 15% de cera em relação ao
filme de controle (0,43 para 0,37 g mm m-2 h-1 kPa-1). Os filmes fabricados com maiores
concentrações de cera não apresentaram melhores resultados, indicando que pode existir
um limite máximo a ser incorporado. Os autores reportaram que houve separação das fases
aquosa e oleosa durante a etapa de secagem. Provavelmente esse efeito ocorreu em virtude
do diferente grau de imiscibilidade entre a cera de palma e a gelatina, o que impede a
ocorrência de interações entre esses dois componentes. Isso também pode ser justificado
pelo fato de que em altas concentrações, os lipídeos que em condições ambiente
permanecem em estado sólido, como é o caso das ceras, podem causar interferências na
matriz dos filmes, promovendo a formação de uma estrutura mais porosa, originando
espaços vazios na interface proteína/cera, facilitando a permeação ao vapor de água através
dos filmes. Além disso, também foi verificado que quanto maior a concentração de cera,
menor o teor de umidade dos filmes. A solubilidade apresentou comportamento similar:
quanto maior a concentração de cera, menor a solubilidade em água, devido à presença de
longos grupamentos álcool e alquenos das ceras. A adição de compostos hidrofóbicos
permite reduzir as ligações e os espaços vazios entre as moléculas de água. Além das
propriedades citadas, também foi medido o ângulo de contato. Todos os filmes
apresentaram ângulos de contato maiores que 90°, indicando que eles possuem
propriedades hidrofóbicas, porém a amostra que apresentou maior ângulo de contato com a
superfície foi aquela fabricada com concentração de cera de 15%. Todos os filmes em que
houve a incorporação de cera apresentaram maior ângulo de contato que o filme controle
(SYAHIDA et al., 2020).
Nos filmes produzidos por Galus e Kadzińska (2015), óleo de amêndoas e óleo de nozes
foram incorporados na matriz polimérica proteica de soro de leite e os efeitos dessa adição
nas propriedades foram avaliados. Concentrações de óleo de 0,5% e 1% foram utilizadas nas
formulações. A PVA diminuiu com a incorporação dos compostos hidrofóbicos. Quanto
maior a quantidade de óleo adicionada, menor a permeabilidade. Os filmes que
apresentaram melhores resultados continham óleo de nozes na composição. Houve uma
redução da PVA de aproximadamente 49% nos filmes com 1% de óleo de nozes em relação
ao filme controle (0,72 para 0,37 g mm m-2 h-1 kPa-1) e de aproximadamente 36% nos filmes
com 1% de óleo de amêndoas (0,72 para 0,46 g mm m-2 h-1 kPa-1). Os autores também
relatam que quanto menor o tamanho da partícula lipídica, menor a PVA, assim como
quanto maior a homogeneização das partículas, menores serão os valores dessa
propriedade. Por esses resultados, é possível inferir que não somente a quantidade e a
concentração da solução hidrofóbica adicionada, mas também a sua distribuição na matriz
polimérica, que é dependente do seu processo de elaboração, irá influenciar nas
propriedades finais do material. A umidade do filme foi menor com a adição dos óleos,
diminuindo proporcionalmente com o aumento da concentração de óleo. A diminuição mais
significativa no conteúdo de umidade ocorreu com a adição do óleo de amêndoas, devido ao
seu caráter hidrofóbico, promovendo a criação de interações intermoleculares entre a
matriz proteica e o óleo. A solubilidade em água também apresentou resultados
satisfatórios, sendo que não houve desintegração dos filmes após 24 horas em contato com
a água. Porém, a adição dos óleos não contribuiu para melhorar significativamente os
resultados em comparação com o filme controle. Somente o filme proteico contendo 1% de
óleo de nozes apresentou resultados de solubilidade em água significativamente inferiores
aos do filme controle. Os autores atribuíram essas diferenças nos resultados à composição
DEQUI / UFRGS – Gabriela de Andrade Monteiro 13
química do soro e dos óleos utilizados, assim como às interações entre os componentes
(GALUS, KADZIŃSKA, 2015).
abelha, os valores de PVA não foram ainda mais reduzidos, permanecendo inferiores em
comparação com o filme controle. Comparando com os filmes com adição de cera de
carnaúba, a maior redução da PVA foi de aproximadamente 15% em relação ao filme de
controle (1,3 para 1,1 g mm m-2 h-1 kPa-1) nos filmes com 10% de cera de carnaúba. As
concentrações de 5% e 15% não apresentaram reduções significativas. Os autores
justificaram que os filmes com cera de abelha apresentaram melhores resultados em relação
aos filmes com cera de carnaúba pelo fato de que a emulsão com a cera de abelha
apresentou maior caráter hidrofóbico do que a emulsão com a cera de carnaúba. Este
resultado foi verificado nas imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura, visto que
incorporação da cera de carnaúba ocasionou maior quantidade de poros na estrutura
formada do que a adição da cera de abelha. A solubilidade dos filmes reduziu com o
aumento da concentração tanto da cera de abelha quando da cera de carnaúba, com
redução de aproximadamente 60% em relação ao filme controle nas amostras com 15% de
cera de abelha e, aproximadamente, 30% para os filmes com 15% de cera de carnaúba
(ZHANG, SIMPSON, DUMONT, 2018).
Nesse contexto, o amido se apresenta como uma matéria-prima promissora, pois além
de ser biodegradável, é abundante, produzido em larga escala, possui baixo custo e pode ser
encontrado em diversas fontes naturais, como mandioca, trigo e milho. O amido apresenta
elevada capacidade de formação de filmes, visto que durante o processo de gelatinização
ocorre a formação de uma estrutura tipo gel. Nesse processamento, a estrutura cristalina do
amido é desconfigurada para a formação das ligações intermoleculares, seguido pelas etapas
de espalhamento e secagem para remoção do solvente.
Ao serem comparadas com óleos essenciais, por exemplo, as ceras apresentam-se como
uma alternativa promissora para reduzir a interação dos filmes de amido com a água, pois,
além de apresentar menor valor de mercado, as ceras possuem cadeias de ácidos graxos
longas conferindo maior hidrofobicidade aos materiais, obtendo filmes com menores valores
de PVA, solubilidade em água e teor de umidade em comparação com as amostras controle.
Essas propriedades são essenciais para o setor de embalagens e, portanto, são comumente
medidas para avaliar a afinidade do filme com a água. No entanto, é importante ressaltar
que a efetividade da formulação também é dependente da interação dos compostos
lipídicos incorporados com a matriz polimérica selecionada para elaboração dos filmes.
Dentre os diversos tipos de ceras, a cera-de-carnaúba apresenta-se como um componente
lipídico com elevado potencial para ser incorporada nos filmes biodegradáveis visando à
diminuição dos valores de PVA, da solubilidade em água e do teor de umidade diante dos
resultados satisfatórios reportados na literatura.
Além disso, o método escolhido para incorporação dos compostos lipídicos também
determinará as propriedades das amostras: quanto menores forem às gotículas de lipídeo
incorporadas, melhor será a homogeneização na matriz polimérica, evitando que haja
separação das fases aquosa e oleosa, sendo possível, portanto, evitar que ocorra a formação
de irregularidades, como poros ou espaços vazios nos filmes, ou seja, minimiza a formação
de pontos de descontinuidades que facilitam a passagem do vapor de água.
3 Materiais e Métodos
Neste capítulo serão apresentadas as principais matérias-primas utilizadas, assim como o
processo de obtenção dos filmes. O trabalho experimental foi desenvolvido nos laboratórios
LATEM (Laboratório de Tecnologia de Embalagens e Desenvolvimento de Membranas) e
LASEM (Laboratório de Processos de Separação por Membranas) pertencentes ao
Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
3.1 Matérias-Primas
Os filmes foram elaborados à base de amido de mandioca comercial (conteúdo de
umidade igual a 14% e teor de amilose equivalente a 27% (LUCHESE, SPADA e TESSARO,
2017) adquirido em mercado local, marca Fritz e Frida (Ivoti, RS, Brasil). O glicerol (grau PA,
Nuclear, SP, Brasil) foi utilizado como plastificante. A cera de carnaúba, cuja faixa de
temperatura de fusão varia entre 78 e 86 °C (LI, PARISH, 1997; ZHANG, SIMPSON, DUMONT,
2018), foi o lipídeo escolhido para conferir hidrofobicidade ao filme. Para facilitar a fusão da
cera e, consequentemente, a homogeneidade da solução filmogênica, foi utilizado o
surfactante Tween 80 (Dinâmica, Brasil). O álcool etílico PA (Dinâmica, Brasil) foi adicionado
à mistura de cera fundida com Tween 80 para viabilizar a formação da emulsão. Todas as
matérias-primas foram armazenadas na temperatura ambiente (aproximadamente 25 °C)
até sua utilização.
A fim de fundir a cera completamente, um novo procedimento foi testado. Foi possível
verificar que a cera de carnaúba fundida apresentou características mais homogêneas
quando comparada à fusão da cera de abelha. Para esse ensaio, as matérias-primas foram
novamente pesadas em balança analítica (Bel Engineering M214Ai, Brasil) conforme segue:
cera de carnaúba e surfactante Tween 80 na proporção mássica de 10:90 (cera de carnaúba:
Tween 80). A solução foi homogeneizada com auxílio de uma espátula de metal, em agitador
magnético (FISATOM, Brasil) na temperatura de aproximadamente 90 C (visto que faixa de
fusão da cera de carnaúba varia de 78 a 86 °C) (LI, PARISH, 1997; ZHANG, SIMPSON,
DUMONT, 2018) até que o processo de fusão da cera estivesse visualmente completo
(aproximadamente 10 minutos foi o tempo necessário para obter a cera fundida).
Esse mesmo procedimento foi feito com a outra parte da solução, porém, antes de
distribuir a solução nas placas Petri, foi proposto testar a utilização de um sistema para
remoção da espuma, submetendo à solução ao processo de vácuo (Bomba a vácuo isenta de
óleo TE-058, Tecnal, Brasil). No entanto, mesmo após a remoção da espuma da solução, os
filmes obtidos não apresentaram características satisfatórias, visto que houve separação das
fases aquosa e oleosa.
Neste contexto, foi preparada uma nova emulsão em ultraturrax (5 min) usando 10 g da
solução de cera fundida com Tween 80 e 50 mL de etanol a fim de avaliar a influência da
quantidade de emulsão (quantidade limite) que poderia ser adicionada na solução
filmogênica de amido, a fim de garantir que não houvesse separação das fases aquosa e
oleosa nas amostras após a secagem. Para tanto, foram preparadas 4 soluções com
diferentes teores da emulsão (cera de carnaúba, Tween 80 e etanol), conforme especificado
na Tabela 4. É importante ressaltar que cada solução foi espalhada em, pelo menos, cinco
placas de Petri (para as diferentes gramaturas testadas), a fim de garantir a consistência e a
reprodutibilidade dos resultados.
Tabela 4: Formulações utilizadas para o preparo de filmes à base de amido com teor de
glicerol fixo (0,6 g por 100 mL; 30% em relação ao teor de amido) e diferentes teores da
emulsão (cera de carnaúba, Tween 80 e etanol).
Formulações
Matéria-prima SOLUÇÃO 1 SOLUÇÃO 2 SOLUÇÃO 3 SOLUÇÃO 4
Amido (g) 2 2 2 2
Glicerol (g) 0,6 0,6 0,6 0,6
Água (mL) 100 100 100 100
Emulsão: cera de
carnaúba + Tween 80 1 3 5 10
+ etanol (mL)
Além disso, foi realizado um teste qualitativo de inspeção visual para avaliar a influência
da incorporação da cera (composto hidrofóbico) na solução hidrofílica de amido, a fim de
22 Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
examinar a interação do filme quando em contato direto com água. Para a realização desse
teste, duas gotas de água (volume aproximado de cada gota igual a 10 μL) foram
cuidadosamente depositadas, com auxílio de uma pipeta Pasteur, na superfície do filme da
solução 2 (gramatura 0,53 g cm-2), durante aproximadamente 10 minutos.
4 Resultados e Discussão
Neste capítulo serão apresentados os resultados e as discussões com base nos
experimentos realizados utilizando o protocolo descrito para obtenção de filmes à base de
amido contendo cera de carnaúba. Ainda, é importante ressaltar que esses resultados foram
avaliados levando em consideração as informações referenciadas no capítulo de Revisão
Bibliográfica e Fundamentos Teóricos.
O aspecto visual das amostras obtidas a partir de cada solução, conforme apresentado
na Tabela 4, usando diferentes gramaturas de espalhamento (0,35 g cm2 e de 0,53 g cm2)
pode ser visualizado nas Figura 3 e Figura 4.
24 Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
Figura 3: Aspecto visual das amostras após permanecer na estufa a 35 C com convecção
de ar forçada por 24 h: (a) filme obtido a partir da solução 1 com gramatura de
espalhamento equivalente a 0,35 g cm-2 (A) filme obtido a partir da solução 1
com gramatura de espalhamento igual a 0,53 g cm-2 (b) filme obtido a partir da
solução 2 com gramatura de 0,35 g cm-2 (B) filme da solução 2 com gramatura
de 0,53 g cm-2.
(a) (A)
(b) (B)
DEQUI / UFRGS – Gabriela de Andrade Monteiro 25
(d) (D)
A análise por inspeção visual permitiu concluir que os filmes obtidos a partir das
soluções 1 e 2, usando a gramatura de espalhamento correspondente a 0,35 g cm-2 foram os
que apresentaram resultados mais satisfatórios em termos de homogeneidade e
continuidade da matriz polimérica.
26 Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
A adição de maiores teores da solução de cera de carnaúba com Tween 80 e etanol deu
origem a filmes com duas fases visualmente perceptíveis, com a formação de uma película
oleosa nas placas Petri (soluções 3 e 4). Syahida et al. (2020) também constataram
visualmente a separação de fases nos filmes que continham concentrações muito altas de
cera de palma (entre 30% e 60%). Estes filmes também apresentaram resultados mais
elevados de PVA (SYAHIDA et al., 2020). No estudo de Assis et al. (2017) foi constatado
através de imagens de MEV a presença de maior quantidade de poros nos filmes em que
foram adicionadas maiores concentrações de licopeno (8%) (ASSIS et al., 2017). Além disso,
os resultados de PVA dos filmes elaborados por Zhang, Simpson e Dumont (2018), por Dos
Santos et al. (2017) e por García, Martino e Zaritzty (2000) em que foram adicionadas
concentrações intermediárias do componente hidrofóbico em relação as concentrações
avaliadas em cada estudo foram menores e, portanto, mais satisfatórios (ZHANG, SIMPSON,
DUMONT, 2018; DOS SANTOS et al., 2017; GARCÍA, MARTINO, ZARITZKY, 2000).
Quanto a escolha da gramatura, Mali et al. (2017) em seu estudo sobre filmes de amido
biodegradáveis citaram a espessura dos filmes como um fator que influencia suas
propriedades mecânicas e na permeabilidade: quanto maior a espessura dos filmes, maior
será a sua resistência a perfurações, porém maior será a permeabilidade. Sendo a gramatura
a razão entre a massa de solução filmogênica adicionada ao recipiente e a área do recipiente
usada no espalhamento, verifica-se que, quanto menor a gramatura, menor será a espessura
do filme, em geral, os filmes de gramatura menores terão melhores resultados de PVA
(MALI, GROSSMANN, YAMASHITA, 2010). No entanto, é importante encontrar um equilíbrio
entre a permeabilidade e a resistência das amostras, visto que são propriedades
essencialmente dependentes da espessura e decisivas para aplicações na área de
embalagens. As maiores gramaturas dos filmes, correspondentes ao valor de 0,53 g cm-2,
deram origem a filmes descontínuos, com rachaduras, sendo possível observar visualmente
a separação das fases aquosa e oleosa. Silva (2011) em seu estudo sobre filmes
biodegradáveis de amido de pinhão citaram a diferença de espessura como fator importante
para determinação da homogeneidade dos filmes (SILVA, 2011). Nesse trabalho não foi
possível medir a espessura dos filmes após a secagem, não sendo possível constatar se
houve diferença significativa de espessura a fim de relacionar essa informação com a
homogeneidade dos filmes. Porém, pode-se atribuir a presença de maiores
descontinuidades nos filmes cujos valores de gramatura eram maiores ao fato de que existe
mais solução filmogênica em uma mesma área quanto maior for o valor de gramatura.
Portanto, o tempo para a completa evaporação do solvente (água) também será maior.
Além disso, a temperatura de evaporação da água (100 °C) é maior do que a temperatura de
solidificação da cera de carnaúba (aproximadamente 70 °C). Como a temperatura de
secagem utilizada foi de 35 °C, a hipótese mais provável é que a cera tenha sido solidificada
antes da evaporação do solvente, dificultando a formação e a organização das ligações na
matriz filmogênica e, portanto, originando estruturas descontínuas, sendo possível observar,
em alguns casos, separação das fases aquosa e oleosa.
é possível observar o formato da gota de água pingada sobre o filme após 10 min
(t = 10 min). A partir da Figura 5, foi possível visualizar o formato das gotas de água no filme,
não sendo possível observar visualmente absorção de água instantaneamente, como
observado em filmes de amido, produzidos em trabalhos anteriores nos laboratórios LATEM
e LASEM, sem a adição de compostos lipídicos. Rodrigues (2012), Zhang, Simpson e Dumont
(2018) e Dos Santos et al. (2017) constataram reduções nos valores de solubilidade em água
dos filmes que continham cera de carnaúba em suas formulações. Na maioria dos casos,
quanto maior o teor de cera incorporado, menores os percentuais de solubilidade
(RODRIGUES, 2021; ZHANG, SIMPSON, DUMONT, 2018; DOS SANTOS et al., 2017). No caso
do estudo de Dos Santos et al. (2017) em que foram adicionadas quantidades de cera muito
elevadas em algumas formulações (superiores a 30%) a solubilidade aumentou em relação
ao filme controle, que não contém lipídios em sua formulação, porém com adição de 30% de
cera, foi possível observar a redução dos valores de solubilidade em água dos filmes cerca de
67%. Isso foi atribuído ao caráter hidrofóbico da cera, que dificulta a absorção da água pelos
filmes pela formação de uma camada impermeável à passagem de água (DOS SANTOS et al.,
2017). Foi possível constatar que, diferentemente das amostras produzidas contendo
somente amido, nas quais a gota de água é rapidamente absorvida pelo material em virtude
da elevada afinidade da água com a matriz polimérica hidrofílica, as gotas de água
permaneceram na superfície da amostra, sendo possível visualizar o formato das gotas por
aproximadamente 10 min, tempo no qual o teste foi realizado.
Figura 5: Teste qualitativo para avaliar a interação da amostra de filme obtida a partir da
solução 2 (contendo compostos hidrofóbicos) quando em contato direto com
2 gotas de água, sendo possível observar (a) gota de água logo após ser pingada
com pipeta Pasteur no filme e (b) gota de água pingada depois permanecer
aproximadamente 10 min em contato com o filme.
(a) (b)
Os ângulos de contato obtidos com auxílio do software Image J podem ser observados na
Figura 6. A gota pingada instantaneamente (t = 0 s), representada na Figura 6(a), apresentou
ângulo de contato no valor de 116,91° ao ser realizada a medição em relação à superfície do
lado esquerdo do filme. No entanto, ao realizar a medição em relação à superfície do lado
direito do filme, na Figura 6(b), o valor do ângulo de contato foi de 133,82°. Ressaltamos que
a diferença entre esses valores provavelmente é decorrente da imprecisão da medida
relacionada com a dificuldade de selecionar as superfícies manualmente. A fim de realizar
uma avaliação global desse resultado foi calculado um valor médio do ângulo de contato da
gota, que resultou em 125,37°. A gota de água que permaneceu em contato com a superfície
do filme por aproximadamente 10 min também apresentou características hidrofóbicas. Na
Figura 6(c) é possível observar que o ângulo de contato no valor de 115,79° ao ser realizada
a medição em relação à superfície do lado esquerdo do filme. No entanto, como pode ser
observado na Figura 6(d), ao realizar a medição em relação à superfície do lado direito do
filme, o valor do ângulo de contato foi de 123,50°. Novamente, para uma avaliação global
28 Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
desse resultado foi determinado um valor médio do ângulo de contato da gota, que resultou
em 119,66°.
Figura 6: Medição dos ângulos de contato entre as gotas de água e os filmes contendo
cera de carnaúba com auxílio do software Image J, sendo (a) e (b) ângulos de
contato entre a gota de água recém-pingada e a superfície do filme, (c) e (d)
ângulos de contato entre a gota de água pingada e a superfície do filme após
aproximadamente 10 min.
(a) (b)
(c) (d)
Esses resultados indicam que, sendo verificado por todos os ângulos apresentarem
valores maiores que 90°, o filme apresenta características mais hidrofóbicas. Syahida et al.
(2020) verificou o ângulo de contato dos filmes em seu estudo e todos apresentaram
ângulos de contato maiores que 90°, indicando que eles possuem propriedades hidrofóbicas
(SYAHIDA et al., 2020).
DEQUI / UFRGS – Gabriela de Andrade Monteiro 29
O teste de bancada permitiu constatar a redução da afinidade com a água dos filmes de
amido quando foi incorporada a cera de carnaúba na sua composição, o que é um resultado
muito positivo, apesar de não ser possível medir propriedades importantes para avaliar a
barreira do filme à água. Em estudos anteriores foi possível verificar que apesar da
solubilidade em água e o conteúdo de umidade nos filmes diminuir com a adição do
componente hidrofóbico, a PVA não apresentava o mesmo comportamento ou não obtinha
o decaimento esperado, isso devido ao surgimento de poros e rachaduras nos filmes que
podem ser verificadas através de imagens de MEV. Assim, é importante que as propriedades
que indicam a afinidade da água com o filme como teor de umidade, solubilidade e PVA
sejam medidas e comparadas. Recomenda-se também a realização de imagens por MEV
para avaliar se houve separação de fases em nível microscópico, possibilitando observar o
surgimento de descontinuidades nos filmes que podem não ser perceptíveis por inspeção
visual.
Quanto à metodologia de elaboração dos filmes deste estudo, pode-se constatar que é
adequada, pois possibilitou a formação de filmes contínuos, especialmente aqueles
fabricados na menor gramatura (0,35 g cm-2). Também, é necessário caracterizar as
amostras em relação às propriedades físico-químicas, mecânicas e térmicas a fim de
determinar as características dos materiais e correlacionar os resultados. A emulsão da cera
de carnaúba com etanol e Tween 80 apresentou-se estável, sendo um ponto positivo
alcançado neste trabalho, pois favoreceu a incorporação da cera na solução de amido,
possibilitando a formação de uma mistura mais homogênea. De acordo com a literatura,
quanto menores forem as gotículas do componente hidrofóbico, maior será a
homogeneização das fases oleosa e aquosa do filme e, portanto, mais efetivas serão as
propriedades de barreira do material desenvolvido.
30 Testes preliminares para obtenção de um protocolo de fabricação de filmes de amido com
adição de cera de carnaúba
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