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Sexualidade e Neurociência

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Sexualidade e neurociência

Noelle Tavares Ferreira (11911PSI055)

1- Leia com atenção as reportagens especiais sobre as novas sexualidades e responda:

a) Qual o papel do cérebro na definição da sexualidade? Como as questões evolutivas


e adaptativas poderiam explicar parte do comportamento sexual? Argumente de
maneira crítica considerando também o impacto que outros fatores nessa definição e
expressão.
Há uma enorme complexidade quando estudamos os sistemas envolvidos no
comportamento sexual dos animais, desde comportamentos expressivos para atração do
parceiro até a amamentação de filhotes. Uma vez que o comportamento depende da estrutura
e da função do sistema nervoso, podemos imaginar e elaborar teorias de que o sistema
nervoso de machos e fêmeas não é igual, tanto na forma anatômica como também nas
atividades fisiológicas. Isto fica ainda mais claro quando imaginamos que estruturas corporais
exclusivas de machos ou fêmeas possuem mecanismos de regulação cerebral distintos,
próprios de cada um dos sexos (Dennis, 2004).
A primeira suspeita do que levaria o cérebro ao sexo masculino ou feminino estaria
nos hormônios esteróides, diferencialmente produzidos em ambos os sexos: testosterona no
sexo masculino, estradiol no feminino. Tem havido crescente evidência de que as flutuações
nos níveis hormonais nos adultos estejam relacionadas a diferenças anatômicas das estruturas
cerebrais em ambos os sexos. A idéia inicial é a de que a ausência de testosterona durante
períodos críticos de desenvolvimento do sistema nervoso central levaria à formação de
circuitos neurais diferentes no cérebro feminino, comparado ao masculino.
Assim os hormônios promovem a diferenciação sexual de uma estrutura do cérebro,
chamada hipotálamo. Nesta estrutura cerebral também estão localizados os núcleos nervosos,
que controlam as nossas funções vitais, como fome, saciedade, temperatura corporal,
batimentos cardíacos, além do nosso comportamento sexual. Há muito sabemos que a
administração de testosterona, em uma rata no início de sua vida, fará com que assuma um
comportamento como se fosse macho durante toda a sua existência. Desta forma, levantou-se
mais provas de que realmente se há uma diferença significativa na anatomia dos hipotálamos
nos sexos.
Importante ressaltar, que a influência hormonal na diferenciação e expressão sexual é
importante, mas o processo de socialização do indivíduo é reconhecidamente fundamental
para a construção da sua sexualidade e terá implicações na expressão sexual. Nos primeiros
anos de vida a construção da sexualidade está vinculada à influência dos pais, cuidadores,
professores, colegas de grupo, os quais instigam a criança a assumir o papel e induzem-na às
preferências relacionadas a seu gênero. A criança começa a entender o que é homem ou
mulher e esse conhecimento motiva-a a imitar o seu sexo. Assim, a sociedade contribui/
encoraja grandemente a expressão típica do modo masculino ou feminino de ser. Entretanto,
nas meninas sujeitas a ambiente intrauterino hiperandrogênico, o esforço dos pais em fazer
com que elas tenham comportamento feminino, principalmente na escolha dos brinquedos é
falha e sofrível, o que indica ser o imprinting hormonal um determinante do gênero (Hines,
2010) Entretanto, em meninas com identificação de gênero assegurada é importante o reforço
dos pais ou cuidadores para a socialização da criança dentro do seu gênero, para que ela
assuma o papel típico do seu gênero.
Podemos encarar os seres vivos, aqui não apenas como indivíduos e sim como espécie,
como tendo uma programação (instinto) básica de sobrevivência e perpetuação da espécie,
como um programa ou sistema operacional, fazendo-se uma analogia com a linguagem da
computação. A vida tem sido definida como a soma de propriedades pelas quais um
organismo se desenvolve e se reproduz, adaptando-se ao seu meio ambiente, qualidades essas
que o diferem de corpos orgânicos mortos ou de corpos inorgânicos. Estes seres vivos (ou
Sistemas Adaptativos Complexos), desde a mais simples forma orgânica até a complexidade
observada nos primatas, segue sua evolução respeitando a égide do Imperativo Reprodutivo,
que seria deixar cópias gênicas da melhor qualidade possível. Lembrando que essa
programação básica de fato está impressa em todos os seres vivos.
Do ponto de vista evolucionista, a existência de dois sexos e de suas características e
funções distintas é considerada apenas mais uma tática em prol da sobrevivência e da
perpetuação da espécie. Assim, a reprodução sexual foi uma melhoria evolutiva, com objetivo
de gerar indivíduos com características levemente distintas de seus ancestrais. Essas novas
combinações garantiriam uma maior variabilidade de combinações genéticas aos indivíduos,
para que alguns desses pudessem adaptar-se às intempéries e pressões do meio ambiente e
pudessem repassar a herança genética (as informações básicas da vida) para as futuras
gerações. Importante inferir que a seleção Natural corresponde exatamente às pressões
seletivas, do meio ambiente, exercidas sobre os seres vivos, que então precisaram ajustar-se e
adaptar-se para sobrevivência. Como exemplo, tomemos o tipo de bico de alguns pássaros
(tentilhão). Em determinados ambientes, o bico curto pode ser menos adaptativo na coleta de
alimentos. Desta forma, o pássaro que apresentar este tipo de bico vai ter mais dificuldade de
se alimentar, morrendo com mais freqüência do que outra ave de mesma espécie, de bico
longo. Assim, a seleção natural favorece o animal de bico longo, e quem o possuir
sobreviverá mais e terá a chance de passar seus genes e suas características mais adaptadas
para as futuras gerações.
Já a seleção sexual está relacionada à ideia de que a reprodução sexual requer a união
de gametas masculinos e femininos (e de seus hospedeiros) para a procriação. Mas como
identificar e selecionar o melhor gameta/ hospedeiro para união? As evidências sugerem que a
seleção sexual não ocorre ao acaso, e sim sob o domínio de algumas leis e mecanismos
psicológicos dependentes de um aparelho que evoluiu segundo as regras universais que geram
todos os sistemas biológicos (Seleção Sexual). Aparentemente, sentimos desejo sexual por
determinados sujeitos, ou seja, nossas escolhas não são necessariamente conscientes e sim
regidas também por um aparato instintual e biológico, que permitiu aos nossos ancestrais
perpetuação da espécie.
Desta forma pode-se estabelecer, que só há seleção sexual quando existe uma
variabilidade de características entre indivíduos de mesma espécie que possibilite seleção de
um em detrimento de outro. Assim, quanto maior a capacidade de sinalizar boa qualidade,
maior chance de ser selecionado e de ter grande número de filhotes, aumentando a
probabilidade de transmitir para as futuras gerações tais características adaptativas. A seleção
sexual é responsável, então, pela evolução de características que dão aos organismos
vantagens reprodutivas, em contraste com as vantagens de sobrevivência. Assim, pode-se
explicar por que alguns traços, como ornamentos coloridos em pássaros ou plumagens
coloridas da cauda de pavões, são preferidos pelas fêmeas, apesar de não indicarem nenhuma
vantagem adaptativa para a sobrevivência. A seleção natural por si só teria excluído tais
características, se não fossem de alguma forma importantes. Entretanto, a sinalização da
qualidade de um indivíduo como parceiro sexual está vinculada a esses sinais. Por exemplo, a
plumagem colorida de um pavão macho chama muito mais atenção de predadores que a
plumagem mais opaca. Esperar-se-ia que tal característica não passasse para as gerações
futuras, por indicar uma desvantagem desse indivíduo na sobrevivência, que talvez fosse
morto antes da idade reprodutiva. No entanto, os machos que sobrevivem apesar do
ornamento vistoso demonstram muito mais valor reprodutivo (capacidades e resistência),
pistas mais honestas de uma boa genética a ser transmitida para a prole. Corroborando
fortemente na teoria de que o sexo ou a atividade sexual vem cumprindo, então, essa função
adaptativa.
Para concluir, é importante deixar claro que no ser humano, no entanto, o ato sexual
não é, como em outros animais, um ato puramente biológico. Ele envolve sentimentos,
experiências anteriores, história familiar, orientação sexual, características físicas e até
espiritualidade; todos esses aspectos influenciam a percepção sexual das pessoas e sua
maneira de envolvimento com o ato sexual.

2- Com base na vídeo aula, bem como pelas suas leituras e reflexões em grupo, explique
como o psicólogo clínico pode utilizar os conhecimentos da neurociência para ajudar
pessoas com queixas na esfera sexual. Argumente com exemplos.

A sexualidade poderia ser definida como manifestação de um estado interior que


impulsiona o indivíduo para a vida. É a forma de sentir o corpo, de comunicar-se, de
manifestar afeto e expressar sentimentos, desejos e prazeres corporais e emocionais. É a
energia que motiva o indivíduo a buscar o contato, a intimidade, a ternura, o amor,
evidenciando-se nos movimentos das pessoas, ou seja, como elas tocam e são tocadas. É uma
qualidade individual e também relacional. Está no toque, no olhar, no aroma, no timbre da
voz, no abraço, no beijo, em qualquer carícia, como também nas relações sexuais, tais como o
coito em suas centenas de posições, autoerotização, fantasias sexuais (Tozo, 2011).
Ao longo dos tempos, a sexualidade humana tem constatado sua influência como parte
integrante da identidade do indivíduo, em seus aspectos físicos e psicológicos, seja através da
repressão e negação ou da exposição e exploração. Assim, o desenvolvimento biopsicossocial
do indivíduo aflora os aspectos da sua sexualidade, pois, ela é uma parte integrante da vida
(Bonzon, 2004). A sexualidade é singular a cada pessoa, pois seus aspectos são individuais,
psíquicos, sociais e culturais. Estes aspectos trazem consigo uma historicidade, práticas,
simbolizações e atitudes. Esta área compreende que se há uma dificuldade sexual ela pode
interferir diretamente no bem-estar biopsicossocial do indivíduo, fazendo muitas vezes
necessária a procura da psicoterapia para lidar com tais incômodos (Moizés & Bueno, 2010).
De acordo com o sexo do indivíduo espera-se comportamentos normativos e taxados
pela sociedade, assim como para subculturas distintas. Caballo (2003), acrescenta que as
mulheres tendem a sofrer pressões do tipo que: o casamento é sinônimo de felicidade, caso a
mulher seja solteira há uma lacuna em sua vida, além de que, espera-se que estas sejam mais
passivas quanto a expor manifestações de interesse por sexo. Enquanto homens, tendem a ter
a representação social de que ser solteiro é ser feliz e realizado sexualmente. Além do mais, é
incutido ao homem a necessidade de tomar iniciativa e de que a sua masculinidade é posta em
causa considerando o tamanho, grossura e dureza do seu pénis, assim como o seu
funcionamento constante (Caballo, 2003).
Nesta perspectiva, a capacidade adaptativa e o funcionamento intelectual do indivíduo
têm a função de estabilizar/adaptá-lo ao comportamento socialmente aceitável e aos valores
embutidos neles. Por muitas vezes essa busca pelos ideais sociais de relação sexual perfeita
levam as pessoas a se sentirem insatisfeitas na prática real e muitas vezes deprimidas
(Caballo, 2003). Portanto, para avaliar a “normalidade” de padrões comportamentais sexuais é
fundamental levar em consideração a moral, os costumes e principalmente o contexto em que
o indivíduo está inserido. Deste modo, o Psicólogo teria como função principal a
desmistificação das crenças que o/a paciente adquire ao longo da vida. Beck (2013) aponta
que as crenças começam a ser construídas na infância, quando as crianças desenvolvem suas
percepções acerca do mundo, de si própria e do futuro. Assim, essas crenças são ideias que os
indivíduos têm como verdades e caracterizando-se habitualmente como globais, rígidas e
super generalizadas.
No caso de pacientes homosexuais, o psicólogo não deve negar que existe sofrimento
psíquico no momento em que o sujeito se percebe com práticas sexuais consideradas
diferentes daquelas que são apresentadas como usuais, principalmente em uma sociedade que
historicamente aponta dificuldades em dispor sobre a sexualidade humana. É importante
inferir ao paciente que tais diferenças fazem parte da integralidade humana, composta por
vários fatores e diversidades, como cor, raça, etnia e religiosidade, entre outros. Deste modo,
o sofrimento do sujeito não pode ser embasado na suposição de que o ser humano fez uma
escolha errada, diante de uma orientação sexual que não pode ser considerada como opção e
nem tampouco naturalizada como patológica, principalmente diante de uma sociedade que
durante anos fortaleceu condutas excludentes. Além disso, é importante acolher esse paciente
e lhe assegurar que a homossexualidade, assim como a heterossexualidade, são manifestações
da sexualidade humana resultantes da "história da sexualidade" de cada indivíduo. A rigor,
deveríamos falar de homossexualidades e de heterossexualidades, no plural, posto que embora
a "orientação sexual" seja a mesma - homo ou hetero - os caminhos identificatórios que as
sustentam nunca são os mesmos, pois cada ser humano é único.
Esse embasamente teórico e desmistificação é essencial, logo que há muitos que
acreditam que a homossexualidade é uma patologia e esperam conseguir mudar a direção da
sua sexualidade, podendo gerar grandes danos psicológicos. Colocando-se em um impasse no
qual, não conseguindo esta pretendida mudança, serão conduzidos ao desespero por se
considerar pessoas doentes e inferiores. Além disso, entende-se que crenças distorcidas a
respeito de sexo, bem como a forma como o indivíduo interpreta as situações sexuais, tem
impacto direto na maneira como a pessoa se sente, em como o organismo se prepara para a
relação e também no comportamento sexual. Com ajuda do psicólogo, essas pessoas vão
tomando consciência sobre suas crenças e padrões distorcidos e aprendendo como modificá-
los na prática, rumo a uma vida sexual satisfatória.
Ao longo da terapia, o paciente vai experimentando novas formas de agir, ganhando
controle sobre os pensamentos que distraem a atenção na hora do sexo (em especial de
disfunção erétil), aprendendo a se comunicar com o parceiro e a entender melhor as próprias
necessidades e as do outro. A disfunção erétil de origem emocional é mais frequente em
jovens, devido a insegurança, medo de falhar, autoimagem negativa. Ou pode advir de algum
conflito relacionado à orientação ou à identidade sexual. Nessas circunstâncias, o jovem acaba
liberando altas concentrações de adrenalina na circulação, o que prejudica o preenchimento
dos corpos cavernosos do pênis, ocasionando dificuldade de ereção. Assim, o papel do
terapeuta é fundamental e para isso ele precisa estar antenado com as crenças da sociedade e
suas próprias crenças a fim de não prejudicar o processo terapêutico do seu paciente.
Outras disfunções sexuais como impotência ou Disfunção Erétil (incapacidade
persistente ou repetida de manter o pênis ereto), Ejaculação Precoce (quando a ejaculação é
mais rápida do que o desejado), Desejo Sexual Hipoativo ou Inibido (diminuição ou ausência
total de fantasias e desejo de ter atividade sexual), Aversão Sexual (o sexo é evitado, com
sentimentos de repulsa, ansiedade e medo), Anorgasmia ou Inibição do Orgasmo
(incapacidade de atingir o orgasmo. Ocorre atraso, ausência repetida ou persistente do
orgasmo, mesmo com estímulo sexual), dentre outros. Em todos esses casos será necessário
fazer uma psicoeducação anteriormente citadas, além de aplicação de técnicas específicas
para cada caso.

Referências:
Bozon, M. (2004). Sociologia da Sexualidade. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
Recuperado de https://www.scielo.br/pdf/csc/v9n4/a31v9n4.pdf
Caballo, V. E. (2003). Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais. São Paulo:
Livraria Santos Editora. Recuperado de http://books.scielo.org/id/krj5p/pdf/valle-
9788598605999-04.pdf

Dennis C. The most important sexual organ. Nature 2004;427:390-3. doi: 10.1038 / 427390a.
Hines M. Sex-related variation in human behavior and the brain. Trends Cogn Sci.
2010;14(10):448-56. doi: 10.1016/j.tics.2010.07.005
Moizés, J. S., & Bueno, S. M. V. (2010). Compreensão sobre sexualidade e sexo nas escolas
segundo professores do ensino fundamental. Revista da Escola de Enfermagem da USP,
44(1), 205-212. http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342010000100029.

Tozo, I. M. (2011). Avaliação da intervenção psicológica na sexualidade de mulheres


analisadas antes e após histerectomia total abdominal por leiomioma uterino. Tese de
Doutorado, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo.
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-72032009001000006

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